Os Amigos de Jó
Os Amigos de Jó
Os Amigos de Jó
Acredito que este o cerne do livro de J, e o ponto chave para entendermos o eplogo
do livro. Ainda que ns foquemos no sofrimento de J, para Deus este no era o
principal problema na vida de J. Havia algo que precisava ser tratado nele, e o tempo
do sofrimento foi o tempo necessrio para que esse tratamento acontecesse.
Ler Jo 2:11-3:1
Aparentemente os amigos de J vieram com boas intenes. Ficaram sabendo que o
amigo deles estava com problemas, e resolveram prestar condolncias e demonstrar
preocupao com ele. Quem quebra o silencio aps uma semana J, e o discursso
dele mudou radicalmente, passando agora a amaldioar o dia do seu nascimento (3:1112,20). Neste momento toda a serenidade de J foi abalada e ele comea a questionar
Deus.
- Elifaz, o tenamita
Vemos isso pela primeira vez no captulo 4:7-8: "Lembra-te agora qual o inocente
que jamais pereceu? E onde foram os sinceros destrudos? Segundo eu tenho
visto, os que lavram iniqidade, e semeiam mal, segam o mesmo." Em outras
palavras, problema vem para aqueles que pecam, mas os inocentes no perecem. O
sofrimento o resultado do pecado, e a prosperidade o resultado da justia.
O maior problema da teologia de Elifaz que ele anuncia ela de uma forma insensvel e
totalmente superfcial. Ele repreende J (4:5-6) por ser impaciente e por estar
desanimado. "Mas agora, que se trata de ti, es impaciente; e tocando-te a ti, te
desanima. Porventura no o teu temor de Deus a tua confiana, e a tua
esperana a integridade dos teus caminhos?" Esta foi uma repreenso
desnecessria a um homem justo em agonia. Essa a parte insensvel de aplicao
Elifaz.
Em seguida, ele insinua que J no tem realmente buscado a Deus da maneira que
deveria. Ele diz em 5:8, "Porm eu buscaria a Deus; e a ele entregaria a minha
causa.", como se J precisasse aprender com Elifaz como fazer isso! E ele implica que
J (5:18-19) seria liberto se ele se comprometesse o seu caminho para Deus. "Porque
ele faz a chaga, e ele mesmo a liga; ele fere, e as suas mos curam. Em seis
angstias te livrar; e na stima o mal no te tocar." Esta a parte superficial da
aplicao Elifaz. muito simples de dizer, "Apenas se comprometa ao Senhor e
sua sorte ser restaurada."
- Resposta de J
J sabe que o ponto que Elifaz aborda simplista demais e no traz respostas a
questes mais difceis. Por que pessoas sofrem de maneira extraordinria, mesmo sem
terem cometido algum pecado extraordinrio? Por que alguns prosperam de maneira
extraordinria, mesmo cometendo pecados extraordinrios?
O segundo ponto que J era comprometido com Deus e no via falta alguma nele
mesmo. Ele diz "porque eu no tenho negado as palavras do Santo." em 6:10. E
logo em seguida devolve o argumento de Elifaz dizendo: "Ensinai-me, e eu me
calarei; e fazei-me entender em que errei." (6:24).
- Bildade, o suta
Este consegue ser pior e mais duro que Elifaz. Ele aumenta o volume das palavras de
Elifaz e lana as mesmas at mesmo sobre os filhos de J, dizendo: "Porventura
perverteria Deus o direito? E perverteria o Todo-Poderoso a justia? Se teus filhos
pecaram contra ele, tambm ele os lanou na mo da sua transgresso." (8:3-4).
Basicamente, ele estava dizendo que os filhos de J foram destrudos porque eles
tinham algum pecado ou alguma transgresso.
E mais uma vez a culpa lanada sobre as costas de J, onde Bildade afirma que J
no est puro e no tem clamado a Deus como deveria: "Se fores puro e reto,
certamente logo despertar por ti, e restaurar a morada da tua justia. O teu
princpio, na verdade, ter sido pequeno, porm o teu ltimo estado crescer em
extremo." (8:6-7)
- J no se rende
J considera que esta linha de pensamento est totalmente fora de sincronia com a
maneira que
as coisas realmente so. Em 9:22-24, diz ele, " A coisa esta; por isso eu digo que
ele consome ao perfeito e ao mpio. Quando o aoite mata de repente, ento ele
zomba da prova dos inocentes. A terra entregue nas mos do mpio; ele cobre o
rosto dos juzes; se no ele, quem , logo? J no abre mo da sua crena na
soberania de Deus, mas ele sabe que muito simples dizer que as coisas vo melhor
nesta terra para todos os justos.
J insiste que no culpado. Ele justo. Ele ora em 10:6-7: "Para te informares da
minha
iniqidade, e averiguares o meu pecado? Bem sabes tu que eu no sou inquo;
todavia ningum h que me livre da tua mo".
- Zofar, o naamatita
Zofar repete a linha de pensamento com mais rigor ainda (captulo 11). Ele repreende
J por
afirmar ser inocente (v. 4-6) e lhe diz para abandonar o seu pecado para que Deus
possa restaurlo (11:14-15): "Se h iniqidade na tua mo, lana-a para lo nge de ti e no deixes
habitar a injustia nas tuas tendas. Porque ento o teu rosto levantars sem
mcula; e estars firme, e no temers." Assim, de acordo com os seus amigos, J
est sofrendo, porque ele se recusa a abandonar a iniqidade.
Ele deseja defender o seu caso com Deus, porque ele sabe que Deus justo e est
convencido de que inocente. "Mas eu falarei ao Todo-Poderoso, e quero defenderme perante Deus." (13:3).
- Os prximos ciclos
O captulo 14 encerra o primeiro ciclo de discusses do livro de J. Os prximos dois
ciclos no revelam mais nenhum argumento novo. Ao contrrio, o que podemos
observar que os amigos de J continuam com a mesma idia de que o sofrimento de
J resultado de alguma transgresso, maldade e impiedade que J tenha cometido. O
que acontece que os argumentos ficam cada vez mais rspidos e duros contra a vida
de J. Exemplos:
Elifaz diz: o mpio que se contorce de dor (15:20).
Bildade: Na verdade, a luz dos mpios se apagar, e a chama do seu fogo no
resplandecer. (18:5).
Zofar: O jbilo dos mpios breve, e a alegria dos hipcritas momentnea (20:5).
No ltimo ciclo, para sustentar a teologia deles, Elifaz chega a atacar J com
brutalidade, claramente mentindo sobre a vida de J no captulo 22:5-11 : "Porventura
no grande a tua malcia, e sem termo as tuas iniqidades? Porque sem causa
penhoraste a teus irmos, e aos nus despojaste as vestes. No deste ao cansado
gua a beber, e ao faminto retiveste o po. Mas para o poderoso era a terra, e o
homem tido em respeito habitava nela. As vivas despediste vazias, e os braos
dos rfos foram quebrados"
Os argumentos comeam a se tornar cada vez mais ridculos, que parece at ser
proposital que no ltimo ciclo de dialogos, Bildade, no captulo 25, fala apenas 6
versculos, enquanto Zofar nem se atreve mais a abrir a boca. Eles simplesmente no
conseguiram sustentar esta teologia furada por muito tempo. J era um homem justo,
era bvio que no tinha cometido faltas graves e se basear em suas aes era um
pssimo argumento para justificar o extremo sofrimento dele. Ele sofre muito mais do
que muitas pessoas ms e mpias que existem, e muitas pessoas ms conquistam
muito mais coisas que pessoas justas.
- Uma mudana em J
Aps a longa sesso de conversas e discusses com seus trs amigos, possvel
notarmos que algo j havia mudado no corao de J. Aquela f que vimos no comeo
do livro de J (Em 1:21, ele disse, "Nu sa do ventre de minha me e nu tornarei
para l; o SENHOR o deu, e o SENHOR o tomou: bendito seja o nome do
SENHOR." Em 2:10 ele disse: "receberemos o bem de Deus, e no receberamos o
mal?") e, como ns vimos a partir do captulo 3, quase se apagou, ganhou uma fora
nova.
Em vrios momentos ns vemos J dizendo que queria morrer, e que a morte seria a
soluo para tudo. Ele realmente desejava isso, desejava a morte:
7:9-10: "Assim como a nuvem se desfaz e passa, assim aquele que desce
sepultura nunca tornar a subir. Nunca mais tornar sua casa, nem o seu lugar
jamais o conhecer."
No captulo 10 ele ainda se mostra desesperado com relao a morte:
10:20-22: "Porventura no so poucos os meus dias? Cessa, pois, e deixa-me,
para que por um pouco eu tome alento. Antes que eu v para o lugar de que no
voltarei, terra da escurido e da sombra da morte; Terra escurssima, como a
prpria escurido, terra da sombra da morte e sem ordem alguma, e onde a luz
como a escurido."
No captulo 14:11-13, ele volta a comentar sobre a morte, falando que ainda existe
esperana para as rvores, pois mesmo cortadas ainda podero se renovar, e se a raiz
envelhecer na terra, ao cheiro das guas brotaria de novo. Contudo, no verso 14 ele faz
a seguinte pergunta: "Morrendo o homem, porventura tornar a viver?"
O tom j mudou um pouco. Agora ele no afirma a morte, mas lana um
questionamento sobre ela. Ser que o homem tornar a viver? Ser que a morte no
seria o fim de tudo? Questionamentos semelhantes acontecem tambm no captulo
17:11-16, onde a morte j no mais um clamor de desespero.
At que finalmente o pensamento dele sobre a morte totalmente diferente quando ele
faz uma das mais belas citaes bblicas, no captulo 19:
Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantar sobre a terra.
E depois de consumida a minha pele, contudo ainda em minha carne verei a Deus,
V-lo-ei, por mim mesmo, e os meus olhos, e no outros o contemplaro; e por
isso os meu corao se consome no meu interior. J 19:25-27
Ele agora sabe que existe vida e luz aps a morte, e no apenas trevas. Mais do que
isso, ele tem f de que ser resgatado de todo o seu sofrimento e misria.
Isso no responde os questionamentos de J, muito menos resolve todos os problemas
que existem nele. Mas j possvel notarmos que Deus esta tratando o carater dele e
que toda esta discusso no em vo.
Ele ainda continuava angustiado, mas a confiana dele na vida aps a morte fortalecia
as bases que J tinha no corao dele: que Deus soberano em poder, que Deus
bondoso e justo e que ainda existia fidelidade no corao dele.
Com isso em mente, J esta convicto que o argumento dos seus amigos fraco e
simplista, e do captulo 26 at o captulo 31 o que ns temos um monlogo, onde
vemos J exaltando o poder e a sabedoria de Deus, e ainda afirmando a integridade
dele mesmo diante do Senhor.
- Cinco Lies
1. Declaraes teolgicas verdadeiras podem ser falsas
2. O sofrimento e a prosperidade no so distribudos no mundo em proporo ao mal
ou ao bem que uma pessoa faz.
3. No entanto, Deus ainda reina sobre todos os assuntos dos homens, desde o maior ao
menor (12:13-16).
4. Existe sabedoria por trs da aparente arbitrariedade do mundo, mas ela est
escondido do homem.
5. Portanto, nos apeguemos firmemente a Deus.
36:7-10
Uma nova perspectiva de sofrimento apresentada: o sofrimento que refina o justo.
Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.
36:15
O principal e grande objetivo de Deus causar contrio e verdadeira humilhao do
nosso eu. Apartar de ns toda a falsa injustia, fazer com que deixemos de confiar em
ns mesmos, apontar a Cristo como o nico e verdadeiro amparo para as nossas
almas.
Deus quer vasos vazios. A maior sabedoria nossa condenarmos a ns mesmos, pois
assim Deus se torna o nico Justificador.
Em que terreno nos encontramos? Ser que realmente temos nos inclinado a Deus em
verdadeiro arrependimento? Temos medido o nosso ser de acordo com a Sua santa
presena? Ou ainda estamos caminhando na nossa prpria justia, na justificao
pessoal?
Uma vez que no existe o eu, no existe justificao pessoal. No sou eu quem vivo,
mas Cristo vive em mim.
- Lies finais
1. Ns somos filhos de Deus, purificados pelo sangue de Cristo, e por meio deste
sangue nos tornamos justos para Deus. Mas isso no nos impede e no nos livra do
sofrimento.
2. O sofrimento no justo no castigo pelo pecado. O nosso castigo foi levado por
Cristo na cruz, foi Ele quem sofreu o nosso castigo.
3. Quando somos castigados, estamos sendo moldados e refinados por Deus e ele no
dado em vo.
4. A santificao vale qualquer dor na terra e se isso no bvio para ns
provavelmente porque no abominamos o pecado como deveriamos, nem apreciamos a
santidade como deveriamos. Sem santidade ningum ver a Deus. melhor sofremos
a dor insuportvel de um olho arrancado, do que sermos consumidos pelo pecado em
nosso corao.