Soteriologia Avançada
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GLORIFICAO
INTRODUO
Glorificao o estado ltimo da salvao na vida do cristo; Analisaremos este
assunto, to interessante e to esperado por todos os filhos de Deus, como o fato final do
processo da redeno; discorrer como ser este estado ltimo, suas expresses, seus
acontecimentos, seria falar de algo que a Bblia silencia, sobre como ser a eternidade das
eternidades; Por isso, vamos tratar de Glorificao como o estado final da salvao, sem que
isso defina, do ponto de vista de estado das coisas, como ser o ltimo estado da existncia na
eternidade, imutvel em seu mbito.
J. K. Grider define assim Glorificao:
Esta palavra refere-se especialmente ao tempo em que, na ocasio da parusia, aqueles que
morreram em Cristo, bem como os crentes ainda vivos, recebero a ressurreio do corpo
uma redeno do nosso corpo (Rm 8:23), final e total, preparatria e adequada para o estado
ltimo cristo. Como termo teolgico, sinnimo de imortalidade quando se fala em
imortalidade como a glorificao que os crentes recebero, e no, segundo um conceito
errneo, como simplesmente a existncia contnua dos crentes e daqueles que permanecem
impenitentes at o fim. 1
Iremos encontrar este assunto nomeado e abordado sob vrios nomes: Estado Final,
Eternidade, Imortalidade, Vida Futura, Vida Eterna, Vida aps a Morte, Ordem da Salvao,
Escatologia, Regenerao, Redeno do Corpo, Morte Fsica, Cu, Arrebatamento, entre
outros. Dentro da Ordo Salutis o coroamento de todo o processo de salvao que Deus
proporciona ao ser humano; Em imortalidade, no o incio dela, como em Vida aps a
morte e Vida Futura, no sentido de existncia; Em Estado Final, apenas o incio, entendendo
Estado Final apenas como toda a eternidade...
de importncia crucial se conhecer o que as Escrituras ensinam sobre este assunto,
para escaparmos dos erros que cercam qualquer interpretao doutrinria, sem falar naqueles
que beiram a blasfmia e caem na heresia. A alma dorme na sepultura? H conscincia aps a
morte fsica? Falaremos sobre as vrias interpretaes acerca do Arrebatamento, a Parusia,
os posicionamentos pr, inter e ps-tribulacionistas e o que cada uma destas coisas significa.
O campo escatolgico prdigo em erros, exageros, afirmaes que no passam de mera
conjectura sem bases slidas, discusses s vezes desnecessrias, onde muitos vo alm do
que foi revelado na Escritura para conhecermos (Dt 29:29).
Mas claro que existe uma Escatologia a ser compreendida. Como disse Anthony
Hoekema:
1
J. K. Grider, Enciclopdia Histrico-Teolgica da Igreja Crist (Sociedade Religiosa Edies Vida Nova,
reimpresso de fevereiro de 1992, Vol. II, pg. 202
H uma relao prxima entre soteriologia e escatologia (doutrina das ltimas coisas).
Primeiro, precisamos distinguir entre escatologia inaugurada e futura. Por escatologia
inaugurada entendemos o presente gozo de bnos escatolgicas. A vinda de Cristo terra
inaugurou os ltimos dias, portanto, podemos dizer que as bnos da salvao que
recebemos atravs de Cristo so aspectos escatolgicos que usufrumos ainda nesta vida. O
derramamento do Esprito Santo no Dia de Pentecostes fruto da Obra Completa de Cristo
foi a entrada do futuro dentro do presente. 2 Recebendo o Esprito Santo, os crentes se
tornam participantes de um novo modo de existncia associado com a era futura. O Esprito
a primcia (Rm 8:23) e o depsito ou cauo (2 Co 5.5; Ef 1.14) de bnos futuras, o selo de
garantia de que somos propriedade de Deus (2 Co 1.22), e a garantia de nossa filiao (Rm
8.15-16), a completa riqueza daquilo que no ser revelado at que Cristo venha outra vez
(Rm 8:23). Nesse sentido soteriologia um aspecto de escatologia. 3
I. A ORDEM DA SALVAO
Iniciamos nossa caminhada no entendimento de Glorificao onde ela comea: No
incio do processo da salvao, nominado como ordem da salvao, expresso cunhada em
1737 por Jacob Carpov, telogo luterano. Muitos telogos tm sugerido vrias ordo salutis,
antes e depois do tempo de Carpov. Louis Berkhof define a ordo salutis como
O processo pelo qual a obra da salvao, realizado em Cristo, subjetivamente realizada no
corao e na vida de pecadores. Objetiva descrever em ordem lgica, e em suas inter-relaes,
os diversos movimentos do Esprito Santo na aplicao da obra da redeno. 4
2
3
4
5
Neill Q. Hamilton, citado por Anthony Hoekema, Salvos pela Graa (Editora Cultura Crist, 1a. Ed. 1997, pg.
15)
Ibid., pg. 15
Ibid., pg. 17
Louis Berkhof, Ibid, pg. 17
Neste dilogo com os judeus, Joo registra o termo grego ek, para indicar origem. como
se Ele tivesse dito: A vossa origem de baixo, deste mundo. A minha origem de cima. A
vossa origem deste mundo; A minha origem no deste mundo. A mesma idia
encontrada no cap. 3, onde alguns estudiosos dizem que a afirmao de Jesus que
necessrio, para ver o Reino de Deus, nascer de novo, do Esprito, pode ser traduzida por
nascer do alto. Em Joo 3:31, Joo Batista faz semelhante afirmao, ao dizer que Aquele
que vem de cima sobre todos; aquele que vem da terra pertence terra... e, finalmente,
Jesus diz em Joo 3:13 que Ningum subiu ao cu, seno o que desceu do cu o Filho do
Homem (que est no cu). O que isto significa? Que, para subir aos cus, entrar no Reino
Eterno de Cristo, tenho que de l nascer, originar, ser gerado, para um dia estar na eternidade
glorificado. Realmente, a Redeno do corpo, como ato final, inicia-se na Redeno de nossas
almas. O cu, portanto, no s o nosso destino, mas primeiro foi a nossa origem.
Portanto, ao tratarmos de Glorificao (destino), precisamos falar de salvao (origem), fatos
completamente ligados.
B. O Projeto de Deus
Na eternidade passada, o Senhor criou o universo, onde Seu Filho eterno seria o cabea
desta criao (Cl 1.15-19; Jo 1:1-4). Satans, porm, operando atravs da carne humana,
estabeleceu um sistema rival, conhecido nas Escrituras como o mundo (Gr. cosmos),
este sculo, imprio das trevas (Jo 12.31; 14.30; 16.11; II Co 4.4; Cl 1.13), onde o
prprio Satans tornou-se cabea deste sistema.
A primeira criao tornou-se a velha criao. O homem, como afirma Cl 1.13 (Nos
transportou do Imprio das Trevas para o Reino do Seu Filho Amado), estava preso a este
sistema satnico.
Tudo o que pertencia velha criao tornou-se o mundo de Satans. Para nos
transportar para o Seu reino, para uma nova criao, uma nova natureza, Deus teve que fazer
algo novo em ns. Nada da velha criao poderia participar da nova.
C. O que nascido da carne carne
A Bblia afirma que necessrio nascer de novo (Jo 3.3) para ver o reino de Deus. O
que nascido da carne, carne (v.6) e, carne e sangue no podem herdar o reino de Deus,
nem a corrupo herdar a incorrupo (I Co 15.50). A carne, por mais educada, culta e
refinada que seja, continua sendo carne. Aqui encontramos novamente a palavra ek, fora
de. O que determina se estamos aptos para nosso destino de Glria nossa origem. A que
criao estou ligado, por gerao, ir determinar a salvao e o Reino de Deus, ou no.
Salvao, ento, evadir-se da velha criao, do cosmos satnico, atravs do novo
nascimento, e entrar no Reino (escatologia inaugurada). Isto salvao, para redundar na
Glorificao (escatologia futura).
A marca registrada de Paulo a expresso em Cristo (Por exemplo, quase que em todo
o cap. 1 de Efsios ele emprega esta expresso. Outros textos: Rm 8.27; 8.37: I Co 15.57: II
Co 5.17, etc.). Ele a porta (Jo 10.9), porta de sada do imprio das trevas (pela cruz), e porta
de entrada (pela ressurreio), para o reino do Filho Amado (Cl 1.13); o ltimo Ado (I
Co 15.45), o segundo homem (v.47); no poderia ser o segundo Ado; tinha que ser o
ltimo, para pr fim raa decada. Como? Deus reuniu o pecador representado em Cristo,
com todos os seus pecados, e o matou na cruz, colocando um ponto final nesta natureza cada;
e o segundo homem, no o ltimo, mas segundo, para, em contraste com o primeiro,
Ado, terreno cado, na ressurreio, dar incio a uma nova criao, estando a cruz e a tumba
entre a velha e a nova criao. Nada da velha criao passa alm da cruz; Em Cristo, ali tudo
fica para trs, e na tumba ressurge nova vida.
3
S.M.Smith, Enciclopdia Histrico-Teolgica da Igreja Crist, (Sociedade Religiosa Edies Vida Nova,
Reimpresso de Fevereiro de 1992, Vol. II, pg. 72).
Ibid, pg. 73
Ibid, pg.73
Ibid, pg.73
B. A Morte
Alan B. Pierati escreve no livro Imortalidade, dele e de Russell P. Shedd o seguinte:
Diz-se que a conscincia pesada, junto com a culpa que a acompanha, a mais universal das
experincias humanas. Se isso for verdade, ento, em segundo lugar, e quase empatado,
dever vir o horror da morte. 10
Continua ele:
Na Bblia, a morte personificada como terror (J 18.14), caador (Sl 18) e escravizador (Hb
2.15). algo que lana uma sombra sobre a vida (Sl 23.4) e pode escurecer, com desalento
e tristeza, os momentos mais ensolarados de felicidade humana. Paulo disse que Cristo
removeu dos cristos o aguilho da morte. Mesmo assim, a dissoluo da unio entre o
esprito e o corpo no uma coisa natural. A Bblia descreve-a como o retorno ao p (Gn
3.19), a interrupo da respirao (Sl 104.29), o desnudamento do esprito (II Co 5.3,4) e o
distanciamento do corpo (II Co 5:8). 11
Algum disse que o homem morre de medo da morte porque ele no foi feito para
morrer, mas para ser eterno. Seja como for, ela ocorre uma vez (Hb 9.27), inevitvel
(J14.22), ainda que incerta quanto ao tempo (Pv 27.1), universal, ou seja, o
acontecimento mais democrtico do mundo. Seja a pessoa alta, baixa, gorda, magra, rica ou
pobre, branca ou negra, todos passam por ela. de total importncia falarmos da morte,
dentro do alvo de entendermos a glria que espera o cristo. A morte seria a ante-sala do
processo final de redeno por meio da glorificao.
F.R.Harm diz que a causa da mortalidade no est aberta a especulao. O salrio do
pecado a morte (Rm 6.23); Por um s homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a
morte (Rm 5:12). Assim, a mortalidade no um problema biolgico, mas teolgico. 12 O
pecado separou o homem de Deus, a fonte da Vida, colocando um fim sua existncia fsica.
A morte, naturalmente, assunto em qualquer religio ou filosofia:
__Os adventistas entendem que o homem mortal e que a imortalidade outorgada aos
mortos justos na segunda vinda de Cristo. Aquele que continuar impenitente at o fim,
incluindo Satans, ser reduzido a um estado de no-existncia pelo fogo do ltimo dia.
__A Cincia Crist, na moda por causa de astros de Hollywood, entende que a mortalidade do
homem uma iluso. A Sra. Eddy declarou que a nica realidade do pecado, da enfermidade
e da morte o terrvel fato de que essas realidades parecem reais crena humana enganada,
at que Deus remova os disfarces delas.
__O Novo Pensamento entende que a mortalidade do homem real, mas no oferece
nenhuma razo substancial para sua existncia. O pecado apenas um nome errado; no
existem pecados, mas apenas enganos, e nenhum castigo, mas somente conseqncias. Deus
no pune o pecado. medida que corrigimos nossos erros, estamos, na realidade, perdoando
a ns mesmos. 13
Tentando evitar responsabilidades, sem ser possvel ignor-las, a morte abordada de
vrias formas, mas a abordagem Bblica clara: devemos nos preparar para ela.
10 Russel P. Shedd e Alan Pieratt, Imortalidade (Sociedade Religiosa Edies Vida Nova; 1a. edio em portugus:
dez/92, pg. 112
11 Ibid., pg. 112
12 F.R.Harm, Enciclopdia Histrico-Teolgica da Igreja Crist (Sociedade Religiosa Edies Vida Nova; 1a. edio
em portugus: dez/90, pg. 556
13 Ibid., pgs. 556-557
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup (U.S. News and World Report, nov/1990)
revelou que 78 % dos entrevistados acreditam no cu e 60 % acreditam no inferno. Dentre os
que no professam religio, 46 % acreditam no cu e 34 % no inferno, indicando esta
pesquisa que, de um modo ou de outro, a maioria das pessoas acredita no inferno (e no cu),
portanto, em vida aps a morte. Segundo pesquisas recentes nos EUA (no Brasil no h
pesquisa conhecida a respeito), cerca de 11 milhes de americanos j tiveram experincias de
EQM, ou Experincias de Quase Morte, relatos de pessoas que morreram, estiveram do
outro lado da vida, e voltaram para contar o que viram, como o ator alemo Curt Jurgens,
famoso em Hollywood nos anos 40 e 50. Jurgens teve uma experincia negativa, quando seu
corao parou de bater diversas vezes durante uma cirurgia de 4 horas realizada pelo Dr.
Michael Debakey (mdico dos famosos da poca), em Houston, Texas, para substituir parte
da aorta (principal artria do corao):
Senti que a vida estava se afastando de mim. Tive muito medo. Estava olhando para uma
enorme abbada de vidro na parte superior da sala de cirurgia. A abbada comeou a se
modificar. Em seguida adquiriu uma tonalidade vermelha de carvo em brasa. Vi rostos
retorcidos fazendo caretas para mim l de cima.
Tentei levantar e me defender destes espritos que estavam se aproximando cada vez mais de
mim. No momento seguinte a abbada de vidro transformou-se numa cpula transparente e
descia lentamente sobre mim. Uma chuva de fogo comeou a cair, com pingos enormes, mas
nenhum deles tocava em mim. Batiam ao meu redor, e de dentro deles surgiam ameaadoras e
terrveis lnguas de fogo lambendo tudo em volta.
No pude mais deixar de ver a terrvel verdade: por detrs dos rostos retorcidos que
dominavam aquele mundo incandescente, estavam os rostos dos condenados ao inferno. Senti
um enorme desespero...a sensao de horror foi to grande que me sufocou.
evidente que eu estava no inferno, e as lnguas de fogo poderiam me alcanar a qualquer
momento. Nesse nterim, um vulto negro de uma figura humana materializou-se de repente, e
comeou a se aproximar. Era uma mulher com vu preto, magra, cuja boca no tinha lbios.
Em seus olhos vi uma expresso que fez correr um arrepio gelado pelas minhas costas. Ela
estendeu os braos em minha direo e, puxado por uma fora irresistvel, eu a segui. Um
hlito gelado me tocou e eu penetrei num mundo onde havia dbeis sons de lamentos, embora
no houvesse nenhuma pessoa vista. Perguntei figura quem ela era. Uma voz respondeu:
a morte.
Juntei todas as minhas foras e pensei: No vou segui-la mais, quero viver...
D.L. Moody
A terra recua, os cus se abrem diante de mim!
15
14
Toda citao da at aqui foi extrada do livro do Dr. Maurice R. Rawlings, Eles viram o Inferno (So Paulo,
Editora Multiletra, 1a. edio: 1996). O Dr. Rawlings especialista em molstias cardiovasculares no Centro de
Diagnsticos e nos hospitais de Chattanooga, Tennessee, EUA, diplomou-se com louvor pela escola de Medicina
da Universidade George Washington. Serviu o Exrcito e a Marinha e passou a chefe de cardiologia do 97o.
Hospital Geral em Frankfurt, Alemanha. Foi promovido a mdico particular do Grupo de Oficiais do Estado Maior
do Pentgono, que, entre outros, inclua os Generais Marshall, Bradley, Patton e Dwight Eisenhower antes de ser
presidente dos Estados Unidos. Em seu livro ele relata dezenas de casos que ele chama de positivos (pessoas que
morrem e vem o cu) e casos negativos (pessoas que viram o inferno), tendo ele prprio, um ctico,
experimentado um relacionamento pessoal com Jesus Cristo, aps um curioso incidente com um de seus pacientes
(relato na pgs. 46-48), que teve uma parada cardaca, e durante o processo de ressuscitao, implorou ao Dr.
Rawlings que orasse com ele a Deus, porque estava no inferno; a contragosto, Rawlings orou, e o paciente foi
salvo.
15
Russell P. Shedd e Alan Pieratt, Imortalidade (So Paulo: Sociedade Religiosa Edies Vida Nova, 1a. edio,
1992, pgs. 254, 256.
A concluso que a morte tem um significado especial dentro do processo que leva o
cristo ressurreio. No um papel nico, como sabemos, pois Paulo nos mostra algo que
lhe foi revelado (um mistrio) a esse respeito, de que nem todos dormiremos, mas todos
seremos transformados (I Co 15.51). Calvino diz:
No h temer a morte, ao contrrio, ante a glria da vida futura, acolhida deve ser ela com
vvida expectao, em vista da redeno que nos pressagia. Isto contudo, a monstruosidade se
assemelha, que muitos, que se jactam de ser cristos, em lugar desse anseio da morte, de to
grande pavor lhe sejam possudos que lhe estremeam a qualquer meno, como se de cousa
absolutamente ominosa e infausta.
Ora, Paulo ensina, com muito acerto, que os fiis avanam jubilosamente para com a morte,
no porque queiram ser desvestidos, mas porque desejam ser supervestidos. Porventura, a si
cnscios de sua presente vacuidade, para com o dia final da ressurreio... 16
A . R. Crabtree nos diz que o VT, em geral, no apia o ensino de que a morte um
benefcio humano, de acordo com a ordem da natureza. A morte um mal, uma amargura,
um terror (Dt 30.15; I Sm 15.32; Sl 55:4). Normalmente a vida desejvel, e esse repdio
passagem para o sheol s amainou em funo de que a crena na imortalidade pessoal foi
desenvolvida quase no fim do perodo do VT. 17 Provavelmente por essa razo que Paulo
revela um mistrio: algo que at ento no havia sido revelado, nem aos escritores do VT,
nem a qualquer outro profeta ou outro apstolo, seno ele. Alguns acreditam que o homem
que esteve no terceiro cu (II Co 12) foi o prprio apstolo, e, diante do que viu e do que lhe
foi revelado, Paulo revela com alegria que aquilo que o olho humano no viu, nem ouvidos
ouviram, nem subiu a qualquer corao humano, o que Deus tem preparado para aqueles
que o ama (I Co 2.9). Se foi nessa ocasio ou no que o apstolo dos gentios tenha recebido
essa especial revelao da bem-aventurana da morte, superando a sua percepo angustiada
por parte dos hebreus, no sabemos; Mas algo novo dentro da cosmoviso da Igreja.
C. O Corpo de Glria
Em Mt 17 ns encontramos o relato da Transfigurao de Jesus. Ali o Seu corpo
resplandece, brilha como uma fortssima luz. como se um ambiente espiritual, uma outra
dimenso, tenha se formado no alto daquele monte. Aparecem Moiss e Elias, que so
reconhecidos como tais pelos prprios discpulos. Moiss e Elias conversam com Jesus, para
logo em seguida sarem de cena. Na ressurreio (Mt 28.1-6; Mc 16.1-6; Lc 24:1-6; Jo 20.120), Jesus possui (por hora, usaremos esta expresso) um corpo que no est preso s leis
fsicas da terra, passando por paredes e portas (Jo 20:19), aparecendo e desaparecendo diante
dos olhos das pessoas (Lc 24:31), voando (At 1.9,10), contudo, comendo (Lc 24.41-43),
andando e conversando com os discpulos (Lc 24.13-30; Jo 21), mostrando a eles que o Seu
corpo era de carne e osso, tangvel (Lc 24.39,40). No deixa de causar grande curiosidade e
interesse este fato, pois as Escrituras do a entender que possuiremos um corpo semelhante.
o que Paulo afirma em I Co 15.48,49, quando diz que assim como trouxemos a imagem do
(corpo) terreno, assim traremos tambm a imagem do celestial.
A indivisibilidade do sma ou melos , palavras gregas para corpo, j era defendida
pelos esticos, com a dicotomia de corpo e alma. Mesmo no Gnosticismo, o corpo tinha um
16 Joo Calvino, As Institutas da Religio Crist (So Paulo: Casa Editora Presbiteriana. 1A. edio, 1989, pgs. 178,
179)
17 A R Crabtree, Teologia do Velho Testamento (Rio de Janeiro: Junta de Educao Religiosa e Publicaes da
Conveno Batista Brasileira-JUERP; 5a. edio, 1991, pgs.273-279)
papel importante na sua cosmoviso de redeno, onde esta operaria atravs da separao de
alma e corpo, este uma priso para aquela 18. Em Paulo, sma tem um significado
especializado no sentido de pessoa. A existncia humana mesmo na esfera de pneuma
(esprito) uma existncia corporal, somtica. contrrio ao pensamento de Paulo
conceber o corpo como mero coadjuvante, um mero meio de expresso, mas a pessoa total 18.
Entende-se a posio Paulina a respeito da ressurreio no clssico texto de I Co 15, onde se
ope tradio grega e reflete a antropologia judaica. A vida humana inconcebvel sem o
corpo. Quando Paulo contrasta o corpo terreno(v.44, sma psychikon) e o espiritual(soma
pneumatikon), ele expe as duas nicas possibilidades que existem para o homem. A primeira
representa a existncia terrena e a ltima a vida depois da ressurreio. No essencialmente as
Escrituras ali se referem a uma existncia fsica, no sentido que concebemos. Fala mais de
uma existncia essencial, ocupando espao e tempo.
A idia de sma tambm coletiva, quando empregada com outro termo grego,
Christou, o Corpo de Cristo, referindo-se igreja. A idia de vida essencial vem do fato de
que esta vida no flui de dentro de ns (falando de vida eterna inaugurada, iniciada a partir
do novo nascimento); no produzimos esta vida. como um ramo ligado ao tronco, que
produz folhas, flores e frutos; no ramo que esta vida aparece, mas ela foi produzida pelo
tronco, pela seiva que transmitiu ao ramo a vida do tronco, da rvore. o que Jesus explica
em Jo 15.1ss, demonstrando que a continuidade da vida, em total expresso corporal e
espiritual, decorrncia de pertencermos a este Jesus coletivo, ao Seu corpo. Assim como
a natureza do corpo, assim essa natureza expressar-se- em seus membros, como o caule em
seus ramos. semelhana de Cristo, ressuscitaremos em corpo glorificado, no mais preso a
leis fsicas como nesta vida terrena, com novas expresses a partir de um corpo, de uma vida
essencial da qual este corpo faz parte.
Donald Guthrie diz:
Quando Paulo volta ao paralelo entre Ado e Cristo, em I Co 15.45, ele estabelece uma
importante distino entre o primeiro Ado como ser vivente e o ltimo Ado como
esprito vivificante 18. Embora alguns tenham suposto que Paulo est refletindo a idia do
homem celestial de Filo, ao referir-se a Cristo como o ltimo Ado, isto pode ser dissipado se
considerarmos que o homem celestial de Filo era o primeiro e no o ltimo Ado..19. O fato
de que Cristo descrito como esprito vivificante no significa que o Cristo ressurreto no
tenha forma fsica. Esta observao tem importncia em nossa considerao do corpo da
ressurreio do crente, pois se Cristo tem poder para dar vida (isto , para ressuscitar vida),
pode-se esperar que d o mesmo tipo de vida que Ele mesmo possui (o itlico meu). Como
ltimo Ado, Cristo o representante de todos os que tm uma medida plena do Esprito.
isto que est em jogo e no um contraste em termos de substncia fsica entre Ado e
Cristo...20
10
Deve-se lembrar, ainda, que vida eterna pressupe vida ininterrupta, como Jesus
declara em Jo 11:25,26: Disse Jesus: Eu Sou a ressurreio e a vida. Quem cr em mim,
ainda que esteja morto, viver; e todo aquele que vive e cr em mim, nunca morrer. Crs
isto? 27
25 S. M. Smith, Enciclopdia Histrico-Teolgica da Igreja Crist (So Paulo: Sociedade Religiosa Edies Vida
Nova, reimpresso: fev/1992 vol. II, pgs. 73,74)
26 E. F. Harrisson, Ibid, vol. III, pgs. 413, 414.
27 Outros textos: Vida ressurreta agora (Rm 6; Ef 2.1ss; Cl 3.1ss); Vida eterna experimentada agora (Jo. 3.36); Os
crentes j passaram da morte para a vida (8.51, 5.24, I Jo 3.14).
11
28
B. Pr-tribulacionismo
Histrico Diz ainda R. G. Clouse que: at o comeo do sculo XIX, aqueles crentes
que discutiam o arrebatamento acreditavam que ele ocorreria junto com a volta de Cristo no
fim do perodo da tribulao. A contribuio de John Nelson Darby escatologia levou
muitos cristos a ensinarem que a volta de Cristo se daria em duas etapas: uma, para buscar
Seus santos no arrebatamento, e a outra, com Seus santos para controlar o mundo no fim da
grande tribulao. Segundo esta interpretao das profecias bblicas, entre estes dois eventos
seria cumprida a septuagsima semana predita por Daniel (9.24-27) e o anticristo viria com
poder. Com a igreja saindo de cena, Deus reativaria naquele tempo Seu tratamento com Israel
(Rm 11.25).
As idias de Darby tiveram ampla influncia na Gr-Bretanha e nos Estados Unidos.
Muitos evanglicos tornaram-se pr-tribulacionistas atravs da pregao dos evangelistas
interdenominacionais nos sculos XIX e XX. A Bblia de Scofield bem como os principais
institutos Bblicos e Faculdades de Teologia tais como o Seminrio Teolgico de Dallas, o
Seminrio Talbot, e o Seminrio Teolgico Grace tambm contriburam para a
popularidade deste ponto de vista. Durante os tempos conturbados da dcada de sessenta,
houve um reavivamento do ponto de vista pr-tribulacionista num nvel popular, atravs dos
livros de Hal Lindsey e dos ministrios dos pregadores e ensinadores bblicos que empregam
os meios eletrnicos de comunicao.
Embora seja bvia a influncia de Darby no trabalho dos seus sucessores, mais difcil
determinar como ele chegou compreenso do arrebatamento secreto antes da tribulao.
Samuel P. Tregelles, membro do movimento Irmos de Plymonth, assim como Darby, alegou
que o dito ponto de vista teve sua origem num culto carismtico dirigido por Edward Irving,
em 1832. Outros estudiosos afirmam que o novo modo de entender o arrebatamento resultou
de uma viso proftica dada a uma jovem escocesa, Margareth MacDonald, em 1830...
28 Parusia , do grego parousia, apario, manifestao, ou principalmente presena
29 Ou inter-tribulacionistas.
30 R. G. Clouse, Enciclopdia Histrico-Teolgica da Igreja Crist (So Paulo: Sociedade Religiosa Edies Vida
Nova. Reimpresso em maro/93; vol. I, pg. 116).
12
Sua conduta exttica e seus ensinos apocalpticos provocaram uma renovao carismtica
na Esccia. Impressionado pelos relatos de um novo Pentecoste, Darby visitou o cenrio do
reavivamento. De acordo com seu prprio testemunho dado em anos posteriores, ele
conheceu Margaret MacDonald, mas rejeitou as alegaes quanto a um novo derramamento
do Esprito. A despeito da sua oposio abordagem geral de MacDonald, alguns escritores
acreditam que Darby aceitou o conceito dela quanto ao arrebatamento, e o adaptou ao seu
sistema. 31
Este ponto de vista se baseia nos seguintes pontos:
a) A vinda de Jesus ser precedida de sinais apostasia (II Ts 2.3); multiplicao de
religies e prticas demonacas (II Co 4.4; I Tm 4.4); indiferentismo espiritual (II Tm
3.1-6; Jd 1.8); guerras (Mt 24.6); restaurao nacional de Israel (Lc 21.29,30; Is
66.7,8; Am 9:15); Derramamento do Esprito Santo (Jl 2:28).
b) Tipos profticos da Bblia Com significado imediato, memorial, e outro proftico,
futuro. Eis alguns:
b.1 O calendrio religioso das festas judaicas, relatado em Lv 23:1-44. So sete
festas:
IPscoa: A morte do Cordeiro (Cristo)
IIPes Asmos: Cristo no tmulo
III- Primcias: A ressurreio
IVPentecostes: A igreja reunida
VTrombetas: O arrebatamento da Igreja
VIDia do Juzo: A Grande Tribulao
VII- Tabernculos: Milnio
b.2 As sete cartas s igrejas da sia (Ap. caps. 2 e 3):
IIIIIIIVVVIVII-
b.3 A transfigurao. Em Mt 17.1-8, Jesus sobe com Pedro, Tiago e Joo a um alto
monte; ali transfigura-se, assume um corpo de glria, semelhana daquilo que tinha
junto ao Pai, e o corpo de glria que recebeu aps a ressurreio, e apareceram
Moiss e Elias, e falavam com Ele. O significado :
CRISTO, Glorificado e reinando sobre tudo;
O TRS APSTOLOS, representando Israel redimido;
MOISS, representando a Lei e os crentes que morreram na f;
ELIAS, representando os crentes arrebatados e os profetas;
A MULTIDO, que ficou ao p do monte, representando as naes que
sobreviveram Grande Tribulao.
31 Ibid, pgs. 116-117.
13
14
Antnio Gilberto, outro autor pentecostal, faz uma comparao entre arrebatamento e
parusia, para demonstrar o momento da ressurreio:
c.1 Arrebatamento Jo 14.3: E quando Eu for, e vos preparar lugar, voltarei e vos
receberei para mim mesmo, para que onde Eu estiver, estejais vs tambm.
I Ts 4.17: Depois ns, os vivos, os que ficarmos, seremos
arrebatados juntamente com eles, entre as nuvens, para o encontro do Senhor, nos ares, e
assim estaremos para sempre com o Senhor.
I Co 15.52: Num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar
da ltima trombeta; a trombeta soar, os mortos ressuscitaro incorruptveis, e ns seremos
transformados.
c.2 Parusia Cl 3.4: Quando Cristo, que a nossa vida, se manifestar, ento vs tambm
sereis manifestados com Ele, em glria.
Zc 14.4: Naquele dia, estaro os seus ps sobre o Monte das Oliveiras, que
est defronte de Jerusalm, para o oriente....
Mt 24.30: Ento aparecer no cu o sinal do Filho do Homem; todos os
povos da terra lamentaro e vero o Filho vindo sobre as nuvens do cu com poder e grande
glria. 34
Outros textos que mostram a diferena:
Ap 19.7,8 x Ap 19. 11-14 Na 1a. Referncia temos a igreja reunida com Cristo nas Bodas
do Cordeiro, antes de Sua volta pessoal (2a. referncia) para julgar as naes;
I Co 15.51 x Tt 2.13 A fase da vinda de Jesus aqui abordada um mistrio. O
arrebatamento da Igreja no foi revelado aos escritores do Antigo Testamento. Os escritores
do Novo Testamento tiveram a revelao do evento, no dos seus detalhes. J a volta de
Cristo terra um evento detalhadamente descrito em grande parte do Antigo Testamento;
o chamado Dia do Senhor Jeov, to mencionado nos profetas; o dia em que Ele vir
terra, para julgar as naes. J na passagem de Tito a manifestao da glria uma aluso
manifestao pessoal de Cristo, que a Bendita esperana do crente. 35
Um outro argumento em prol do pr-tribulacionismo de que Jesus, ao falar sobre a
consumao de todas as coisas, disse que ...a respeito daquele dia e hora ningum sabe, nem
os anjos do cu, nem o Filho, mas unicamente o Pai (Mt 24.36), coadunando com a idia de
um arrebatamento iminente, onde ningum sabe o momento, diferentemente da Parusia,
onde, acontecendo aps a manifestao do anticristo e a Grande Tribulao, saberia-se
perfeitamente do momento onde haver a restaurao de todas as coisas, quando o cu, que
O contm, se abrir na Sua vinda. (At 3.21). 36
34
Outra obra, que pode ser consultada a respeito da clssica posio pentecostal a respeito do arrebatamento e o
momento da redeno do corpo, o livro de Severino Pedro da Silva, Escatologia Doutrina das ltimas coisas
(Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assemblias de Deus; 1a. edio, 1988)
35
Antonio Gilberto da Silva, O Calendrio da Profecia (Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assemblias de
Deus; 3a. edio, 1986, pgs. 13-21).
36
Fica evidente, aqui e em toda a abordagem pr-tribulacionista, o entendimento do assunto por uma tica
cronolgica, talvez o elemento que realmente norteia toda a abordagem dispensacionalista e pr-tribulacionista,
visto ficar subentendido nas Escrituras um plano, um relgio de Deus que segue clere para seu desfecho final,
o que d a este ponto de vista um inegvel perfil de coerncia, j que o ser humano tm tambm essa viso
linear da histria e dos acontecimentos, onde os fatos da vida so concatenados e progressivos.
15
R.G. Clouse, Enciclopdia Histrico-Teolgica da Igreja Crist (So Paulo: Sociedade Religiosa Edies
Vida Nova. Reimpresso em mar/1993- Vol. I, pgs. 117-118).
38
Consultar Louis Berkhof, Teologia Sistemtica, verbete Escatologia Geral; Dicionrio Internacional de
Teologia do Novo Testamento (So Paulo: Sociedade Religiosa Edies Vida Nova; 1a. ed. 1983); George
Eldon Ladd, Teologia do Novo Testamento (Rio de Janeiro: Junta de Educao Religiosa e PublicaesJUERP- 1a. edio em portugus: 1986). Ainda ressaltando a no-necessidade de nos estendermos na
matria, basta ressaltar mais uma vez: O alvo da investigao o tempo quando ocorrer a redeno do
corpo. Por si s esta afirmao j encontra resposta nas Escrituras: apenas o Pai (sabe), disse Jesus (Mt
24:36). Por isso, no nem de longe nossa pretenso estabelecer um momento para a ressurreio; apenas
compreender glorificao dentro da Ordo Salutis, dentro do processo de salvao. Neste aspecto, as
Escrituras demonstram abundante material para, pelo menos, chegarmos perto quanto ao momento da
ressurreio dentro do processo de salvao. Mas estamos naquele terreno onde no podemos dizer com
firmeza aquilo que a Bblia no diz com clareza.
16
D. Ps-Tribulacionismo
Definio
O primeiro conceito bsico dos ps-tribulacionistas no fazer distino entre a Igreja e
Israel. Segundo acreditam, Cristo vir na Parusia para arrebatar os santos e estabelecer o
Milnio, tudo ao mesmo tempo. Argumentam que h avisos e recomendaes nas Escrituras
que no fazem sentido se no forem uma igreja que ter de passar pela tribulao. Citam
como exemplo Mt 24.15-20, onde a ordem fugir para as montanhas quando do
estabelecimento do abominvel da desolao no lugar santo.
Normalmente, o ponto de vista ps-tribulacionista surge em oposio aos dos prtribulacionistas. Argumentam que h srias dificuldades em estabelecer quando as Escrituras,
nas passagens escatolgicas, esto falando de Israel e quando falam da Igreja; defendem que
os santos citados nestas passagens fazem parte do povo de Deus, isto se referindo tanto a
Isarel como igreja, o Israel de Deus, alm de alegarem faltar ensinos explcitos quanto ao
arrebatamento no NT.
Segundo R. G. Clouse
Os defensores da posio ps-tribulacionista diferem entre si quanto aplicao das Escrituras
profticas e aos pormenores da volta de Cristo. John Walvoord detectou entre eles quatro
escolas de interpretao. A primeira delas, o ps-tribulacionismo clssico, representada pela
obra de J. Barton Payne, que ensinou que a igreja sempre tem estado na tribulao e, portanto,
a grande tribulao j foi cumprida, na sua maior parte. O segundo grupo principal dos pstribulacionistas o que mantm a posio semiclssica que se acha na obra de Alexander
Reese. Entre a variedade de crenas sustentadas por estas pessoas, a mais comum a de que
todo o curso da histria da igreja uma era de tribulao, mas que, alm dela, haver um
perodo futuro de grande tribulao. Uma terceira categoria de interpretao pstribulacionista chamada futurista, e apresentada de modo competente nos livros de George
E. Ladd. Aceita um perodo futuro de trs anos e meio, ou sete anos, de tribulao entre a
presente era e a Segunda Vinda de Cristo. Foi levado a esta concluso por uma interpretao
literal de Ap 8-18. Um pr-milenista firme, ele acredita que o arrebatamento prtribulacionista foi um acrscimo s Escrituras 39 que, por isso mesmo, obscureceu o evento
verdadeiramente importante, o prprio aparecimento de Cristo para inaugurar o Seu reino. Um
quarto ponto de vista o de Robert H. Gundry, que Walvoord chama de interpretao pstribulacional dispensacional. Gundry combina de modo original os argumentos prtribulacionistas com a aceitao do arrebatamento ps-tribulacionista. 40
39
40
R.G. Clouse, Enciclopdia Histrico-Teolgica da Igreja Crist (So Paulo: Sociedade Religiosa Edies
Vida Nova; reimpresso em mar/1993 vol. I, pg. 118). Fica a impresso que os pr-tribulacionistas
defendem mais apaixonadamente e mostrando maior convico em suas posies, o que j no
transparece no posicionamento dos mid e ps-tribulacionistas; Nos registros consultados se percebe uma
certa incerteza quanto definio do assunto. claro que a interpretao pr-tribulacionista carregada de
alegorias e atribuies tipolgicas que no esto presentes em uma abordagem mais antioquiana; isto por
si s explica a aparente abundante argumentao pr-tribulacionista, e a tambm aparente escassez das
demais abordagens. Mas tenho por firme opinio que esta preocupao com a interpretao Alexandrina,
alegrica, tm roubado de muitos autores um aprofundamento nas Escrituras em geral e na escatologia,
concordando, porm, que esta ltima um verdadeiro campo minado, mas que isto, por si s, no deveria
ser o freio que aparenta ser nos trabalhos de alguns.
17
Calvino afirma que a ressurreio esperana do crente, como sumo bem nosso e de
toda a criao, a unio com Deus, a redeno final. 41 Ele resgata a viso histrica da igreja
primitiva, que olhava para este evento como o de maior importncia, no preocupando-se na
mesma medida com o momento, e sim com o evento, como dissemos. o que Louis Berkhof
diz:
J no primeiro perodo, a igreja estava perfeitamente cnscia dos elementos distintos da
esperana crist, como, por exemplo, que a morte fsica no ainda a morte eterna, que a alma
dos mortos continuam vivendo, que Cristo vir outra vez, que haver uma bendita ressurreio
do povo de Deus, que esta ser seguida por um julgamento geral no qual a condenao eterna
ser pronunciada contra os mpios, mas os fiis sero recompensados com as glrias eternas
do cu. 42
Aqui j temos uma seqncia dos fatos futuros, situando a igreja primitiva, segundo
Berkhof, a vinda de Cristo como nica, sem dois eventos distintos dentro de um
(arrebatamento/parusia), e a ressurreio do povo de Deus. No discutiremos as posies
quiliastas, milenistas, sobre a ressurreio para julgamento e condenao dos mpios;
Portanto, sem entrar no mrito das ressurreies de crentes e mpios serem simultneas ou
no, conclumos algumas coisas a respeito do evento ressurreio:
IV. CONCLUSES
A. o desfecho do plano de salvao
Como abordado no incio, nossa origem determina nosso destino. Dentro da Ordo
Salutis, a redeno do corpo, a ressurreio a finalizao do processo salvfico de Deus para
o homem. Diferentemente de filosofias como a grega, o corpo to importante quanto a
alma/esprito (assim registro, por no discutir pormenorizadamente o assunto dicotomia e
tricotomia do ser humano; pessoalmente, no dogmatizaria o dualismo corpo/alma ou
corpo/esprito; em uma anlise preliminar, a Bblia fala das duas possibilidades). 43
Portanto, se falamos em ressurreio como desfecho do plano de salvao, precisamos
caminhar em perseverana, santidade e justia para alcan-la. Diz Calvino:
Entrementes, vemos que conjuga a ressurreio castidade e santidade, assim como pouco
depois aos corpos estende o preo da redeno (I Co 6.20). Agora, no seria consentneo
razo que o corpo de Paulo, no qual portou as marcas de Cristo e no qual a Cristo glorificou
magnificamente (Gl 6.17), fosse privado do prmio da coroa, de onde tambm essa
exultao aguardamos dos cus o Redentor, que haver de render nosso corpo abjeto
conforme ao corpo de Sua glria(Fp 3.20,21). 44
41
Joo Calvino, As Institutas da Religio Crist (So Paulo: Casa Editora Presbiteriana; 1a. ed. 1989, pg.451).
42
Louis Berkhof, Teologia Sistemtica (Campinas: Luz para o Caminho Publicaes; 2a. edio, 1992, pgs.
668,669).
43
H coisas que no so para nossa avaliao; so para Deus (Dt 29.29). Por exemplo: Podemos avaliar o
quanto o sangue de Cristo suficiente para cobrir nossas manchas? pelo sentir, ver, ou pela f que
aceitamos este fato? Falando de sangue, por ocasio da primeira Pscoa (Ex 12), o sangue passado nos
umbrais e vergas das portas era para o Senhor ver, no para a famlia que estava no interior da casa. A
famlia sabia que o sangue estava l, mas no o via. Vendo o sangue, Deus daria ordem ao anjo destruidor
para passar adiante. Desta forma, somos limitados em nossas avaliaes e compreenses, seja por
raciocnio, sentimento ou imaginao. Nos dito para aceitarmos pela f, sempre, inclusive e
principalmente aquilo que no temos como alcanar.
44
18
A palavra de Deus nos diz que os limpos de corao vero a Deus (Mt 5.8); Segui a
paz com todos, e a santificao; sem a santificao, ningum ver o Senhor (Hb 12.14).
Naturalmente, quando a Bblia fala em santidade, fala de um estado mais amplo que envolve
todos os demais requisitos concedidos pelo Senhor ao cristo, at porque as Escrituras, ao se
referirem ao cristo, usam o termo santo (I Co 1.2: igreja de Deus que est em Corinto, aos
santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo o lugar
invocam o nome do Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso. Ver tambm Rm 1.7; I Co
6.2; Ef. 1.4, etc). Ser santo, ento, implica em posio e conduta.
Isto leva a algo j consagrado na Dogmtica: Para participar da Glorificao,
distinguindo este termo a ressurreio dos justos da dos injustos (No vos maravilheis disto,
pois vem a hora em que todos os que esto nos sepulcros ouviro a sua voz e sairo; Os que
fizeram o bem sairo para a ressurreio da vida, e os que praticaram o mal, para a
ressurreio da condenao. Jo 5.28,29), o candidato tem de pertencer famlia de Deus,
universal assemblia e igreja dos primognitos inscritos nos cus. Tendes chegado a Deus, o
juiz de todos, e aos espritos dos justos aperfeioados (Hb 12.23). Nesse ponto no h muito
o que ponderar.
B. Os mortos em Cristo esto conscientes; assim permanecero, e sero
aperfeioados.
Enquanto aguardam a redeno do corpo, os que morreram na f no Messias vivem.
Como Calvino afirma:
A ressurreio o do corpo, no da alma, que esta no morre, nem o de um corpo novo; de
numerosas passagens da Escritura se evidencia que o corpo da ressurreio o mesmo de
que somos dotados, no um corpo novo. 45
19
Que Jesus a expressa imagem de Deus (Hb 1.3), no fisicamente, mas moralmente,
eticamente e espiritualmente; a mesma idia cabe na afirmao de que somos feitos
imagem e semelhana de Deus (Gn 1.26), imagem no-fsica.
Merece nota tambm certas perguntas que so feitas aos cristos, como por exemplo se
haver lembrana aps a morte e ressurreio. Certo pastor, diante da pergunta, respondeu:
penso que no serei mais ignorante do que sou. Realmente, apesar de textos como Is. 65.17
(No haver lembrana das coisas passadas), o que as Escrituras transparecem que haver
lembrana, sim. Mas o tipo de lembrana de que Jesus fala em Ap 21.4, que no haver mais
lgrimas, nem dor....; lembraremos sim, mas sem dor. No teremos uma amnsia, mas uma
cura das lembranas. como quando passamos alguma situao dolorosa. O Esprito Santo
nos consola e trata das feridas, a ponto de a mgoa, a dor, o medo serem retirados, no a
memria apagada. Lembraremos, mas sem dor. Vemos na Bblia que Jesus, a quem de
forma semelhante seremos ressuscitados, lembrava-se perfeitamente de tudo (Jo 20 e 21;Ap
1.11,17,18, etc). J vimos que pessoas que morreram citadas pela Bblia tm tanto
conscincia quanto memria (Lc 16.19ss; Ap 6.9). Sendo a ressurreio um estado de
consumao e perfeio (at onde nos foi revelado), sem dvida estaremos de posse de todas
as nossas faculdades mentais, emocionais e espirituais. Algum, ento, poderia colocar a
seguinte questo: mas, se eu estiver nos cus e me lembrar que um ente querido morreu sem
Cristo, perdido... isso no me causar dor e tristeza em um lugar onde a Bblia diz que no
haver tais coisas? Bem, minha resposta, em parte, j foi dada a respeito da lembrana sem
dor; tambm acredito que nossa escala de valores, a nossa maneira de pensar, de sentir, enfim,
todo nosso ser sofrer um processo transformador que mudar concepes a tal ponto que, ao
lembrarmo-nos de fatos como o aludido, no teremos dor nem lgrimas.
C. A Ressurreio e a Vida Futura equilibram a vida presente
O apstolo Paulo diz, no texto clssico sobre a redeno do corpo (Rm 8.17,18), que:
Se ns somos filhos, logo somos tambm herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de
Cristo, se certo que com ele padecemos, para que tambm com ele sejamos glorificados.
Para mim tenho por certo que as aflies deste tempo presente no so para comparar com a
glria que em ns h de ser revelada.
Realmente, se algum tem de forma clara e viva a viso das coisas futuras, seu presente
pode ser de alegria e esperana, mesmo em meio a lutas e aflies. Em funo de uma
superior ressurreio (Hb 11.35), podemos equilibrar-nos em meio s tentaes de viver de
momentos, e no de propsitos. Quando o mesmo Paulo afirma em Fp 3.12-14 que
prossegue para o alvo, esquecendo-se das coisas que para trs ficam, ele fala desta
perspectiva de vida. Ter um alvo: 1) Faz com que algum tenha direo em sua vida. Se no
sei onde chegar, para onde ir, no saberei se tenho que ir para a esquerda ou para a direita;
2)Tendo alvo e direo, tenho convico. E a convico faz o cristo. A convico faz frente
a qualquer inimigo, demnio, barreira que se levante contra o crente. O diabo pode prevalecer
contra um crente forte, mas no prevalecer contra um crente convicto, ainda que o anterior
faz o posterior.
O prprio Paulo, juntamente com Silas, passou uma situao que ilustra este fato. Em At
16 Paulo tentou, por duas vezes, entrar em regies diferentes da sia Menor, e foi impedido
pelo Esprito Santo. Teve, ento, a viso que lhe deu a direo para irem Macednia (vs. 9 e
10). Tiveram algum resultado na pregao, mas ali, na cidade de Listra, aconteceu o famoso
episdio do aprisionamento e da converso do carcereiro. Acusados de provocarem distrbios
na cidade, foram injustamente presos, aoitados e encarcerados com direito ao tronco da cela
mais profunda da cadeia. L pela meia noite, ao invs de lamuriarem-se e baterem a
20
canequinha nas grades da cela, eles cantavam e oravam a Deus. Quem poderia fazer isso, se
no fosse algum que escreveu o que escreveu? Algum convicto, resolvido, com norte em
sua vida. Esse era Paulo. Homem com profundas convices. o que Calvino diz:
Lembremo-nos, por outro lado, de que ningum h sido realmente persuadido da
ressurreio futura, a no ser [aquele] que, arrebatado admirao, sua glria d ao poder de
Deus. Transportado desta confiana, Isaas exclama: Vivero os teus mortos; meu cadver
ressurgir; despertai e louvai, moradores do p (Is 26.19). 46
Ainda segundo Berkhof, Agostinho a princpio seguiu Orgenes, para depois postular o
conceito ortodoxo. Assim foi Jernimo. O Oriente dos dois Gregrios, Crisstomo e Joo de
Damasco espiritualizavam a ressurreio mais que o Ocidente. Na Idade Mdia Tomaz de
Aquino manteve, de certo modo, o conceito vigente, assim como na Reforma. 49 Todas as
grandes confisses que surgiram atestaram a afirmao quanto a:
D.1. A Natureza da Ressurreio
D.1.1. Obra de Deus. Como afirma Calvino:
A ressurreio de nosso corpo obra da Onipotncia de Deus, como o afirma a Escritura,
que nos incita esperana e ao gozo. 50
Deus ressuscita os mortos (Mt 22.29; II Co 1.9); o Filho ressuscita (Jo 5.21,25,28,29;
6.38-40,44,54; I Ts 4.16); obra tambm do Esprito Santo (Rm 8.11).
D.1.2. Fsica. Como j demonstrado anteriormente, Jesus mostrou aos seus
discpulos que Seu corpo glorificado era fsico, tangvel, dizendo aos discpulos que O
tocassem. Veja I Co 6.13-20; 15.20,23; Cl 1.18; Ap 1.5.
46
47
48
49
50
21
CONCLUSO FINAL.
A ressurreio cerne da f crist. Cristo ressuscitou para que ressuscitssemos. A
ressurreio a vitria sobre o ltimo inimigo, a morte. Jesus, para ser Vencedor em todas
as coisas, tinha que vencer este ltimo inimigo, para que, atravs Dele, nos tornssemos
mais que vencedores. Como cabea de uma nova criao, o segundo Homem, e Aquele
que encerrou a velha criao na morte da cruz (o ltimo Ado), Jesus realizou em nosso
favor o que jamais poderamos realizar. Como fisicamente impossvel algum se autocrucificar, tambm o espiritualmente. Como algum afirmou, Se por nascimento torneime escravo do pecado, somente pela morte torno-me livre dele e da sua penalidade. Cristo
morreu a minha morte, para que viva a Sua vida. Na cruz, Jesus tornou-se a porta de sada.
Como? Atravs da morte; na tumba, foi a porta de entrada, entrada para um novo reino,
uma escatologia inaugurada, atravs da ressurreio. Por isso Paulo afirma que, se Cristo
no ressuscitou, v a nossa f. 51
51
22
SOTERIOLOGIA AVANADA
Dr. Heber Carlos de Campos
GLORIFICAO
So Paulo
2000
23
DECLARAO
Eu, Mauro Csar Rossi, mestrando na rea de Histria da Igreja, declaro que
completei a leitura do livro Salvos pela Graa, de Anthony A. Hoekema (So
Paulo: Editora Cultura Crist; 1a. edio, 1997), leitura do mdulo SDG 201
de Soteriologia Avanada, Rev. Dr. Heber Carlos de Campos.
____________________________________
Mauro Csar Rossi
24
SUMRIO
CAPTULO
INTRODUO............................................................................................................ 01
I.
A Ordem da Salvao
A. A Origem determina o Destino
B. O Projeto de Deus
C. O que nascido da carne carne
II.
ESTADO INTERMEDIRIO.......................................................................... 04
A. Definio
B. A Morte
C. O Corpo de Glria
D. O Sono da Alma
III.
ARREBATAMENTO X PARUSIA.............................................................. 12
A. Quando ocorrer a ressurreio do corpo?
B. Pr-Tribulacionismo
C. Inter (ou Mid) Tribulacionismo
D. Ps-Tribulacionismo
IV.
CONCLUSES................................................................................................... 18
A. o desfecho do plano de Salvao
B. Os mortos em Cristo esto conscientes; assim permanecero, e sero
aperfeioados
C. A ressurreio e a Vida Futura equilibram a vida presente
D. O Registro histrico e Bblico afirmam a Ressurreio
D.1. A Natureza da Ressurreio
D.1.1. Obra de Deus
D.1.2. Fsica
V.
CONCLUSO FINAL....................................................................................... 22
DECLARAO DE LEITURA.................................................................................... 24
BIBLIOGRAFIA............................................................................................................ 25
25
BIBLIOGRAFIA
A Bblia Sagrada (So Paulo: Sociedade Bblica do Brasil. Traduzida em portugus por Joo
Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada no Brasil . 2a. edio, em letra Grande, 1996).
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26