A Escuta Espiritual e o Divã
A Escuta Espiritual e o Divã
A Escuta Espiritual e o Divã
A ESCUTA
ESPIRITUAL
E O DIV
O valor da escuta no acompanhamento da f
Coordenao editorial Jlio Csar Porfrio
Diagramao Equipe Palavra & Prece
Reviso Milene Albergaria
Capa Srgio Fernandes Comunicao
Imagem: 123RF
Impresso Mark Press Brasil
ISBN 978-85-7763-322-7
1a edio | 2014
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Joseph, Jean Anel
A escuta espiritual e o div : o valor da escuta no acompanhamento da f / Jean Anel Joseph. So
Paulo : Palavra & Prece, 2014.
Bibliografia.
ISBN 978-85-7763-322-7
1. Escuta - Aspectos religiosos - Cristianismo 2. Misses 3. Parquias 4. Pastoral do Acolhimento
I. Ttulo.
14-12796CDD-253.52
ndices para catlogo sistemtico
1. Escuta crist : Teologia pastoral : Cristianismo
253.52
2. Igreja Catlica : Servios de escuta : Trabalho pastoral 253.52
3. Servios de escuta : Igreja Catlica : trabalho pastoral 253.52
AGRADECIMENTOS
SUMRIO
PREFCIO...................................................................................................................................................... 11
O div ou o confessionrio?................................................................................................................ 11
INTRODUO............................................................................................................................................. 15
Captulo I A PSICANLISE E SEU MTODO TERAPUTICO...................................................... 23
Um pouco de histria........................................................................................................................... 25
O Inconsciente...................................................................................................................................... 26
O Inconsciente e seu poder no agir humano................................................................................... 27
O div e o confessor............................................................................................................................. 29
Captulo II RELIGIO E PSICANLISE................................................................................................31
Neurose e religio..................................................................................................................................31
Religio na viso de Freud e de Jacques Lacan................................................................................ 33
A funo do proibido........................................................................................................................... 35
Sacramento da penitncia e sua histria........................................................................................... 36
A confisso como sacramento e ato de f......................................................................................... 37
Captulo III PSICANLISE E CONFISSO CRIST.......................................................................... 41
Na viso de Michel Foucault............................................................................................................... 41
Da mortificao ao bem-estar............................................................................................................ 43
O psicanalista e a f.............................................................................................................................. 46
Abandono do div: de volta ao confessionrio................................................................................ 48
Captulo IV PSICANLISE E ESPIRITUALIDADE........................................................................... 51
Captulo V CRUZAMENTO ENTRE PSICANLISE E CONFISSO............................................ 57
Confisso ou psicanlise na viso de Franois Varillon................................................................ 57
Psicanlise e confisso: diferenas e semelhanas.......................................................................... 59
Psicanlise e a prtica da f................................................................................................................. 62
possvel a f ser compreendida no div?........................................................................................ 63
Captulo VI ANLISE DE TERAPIAS PSICOESPIRITUAIS............................................................ 67
Os riscos do lado do diretor espiritual.............................................................................................. 67
Os ferimentos da vida.......................................................................................................................... 69
O segredo confessional........................................................................................................................ 71
Captulo VII DIFICULDADE ESTRUTURAL DOS PROCESSOS PSICOESPIRITUAIS............ 73
Os perigos.............................................................................................................................................. 73
Vida espiritual e vida psquica............................................................................................................74
Efeitos psicoteraputicos do acompanhamento espiritual............................................................ 76
Diferenciar acompanhamento espiritual e psicoterapia................................................................ 77
Jesus no fala de feridas....................................................................................................................... 79
O homem ferido.................................................................................................................................... 80
Origem da expresso ferida de amor............................................................................................. 82
Captulo VIII A CLIENTELA DO CONFESSOR E SUA POSTURA............................................... 85
Culpa e neurose religiosa.................................................................................................................... 90
Depresso, sentimento de culpa e pecado........................................................................................ 92
Psicanlise: culpa ou pecado?............................................................................................................. 93
Viver prticas naturais......................................................................................................................... 94
Captulo IX O PERDO NOS CULOS DA PSICANLISE............................................................. 99
De onde vem a incapacidade de perdoar?........................................................................................ 99
Vivncia da f e sexualidade............................................................................................................. 105
Captulo X DEPRESSO: ENRAIZAMENTO E ESTRUTURA PSQUICA................................ 109
Captulo XI A DEPRESSO NO CONFESSIONRIO..................................................................... 115
A gnese da depresso e o acolhimento do depressivo................................................................. 115
A psicanlise no confessionrio........................................................................................................117
A superao da depresso em prticas simples............................................................................. 119
O futuro de Deus e est aberto...................................................................................................... 121
No div me vejo.................................................................................................................................. 124
Saber enxergar a realidade como tal................................................................................................ 126
A solidariedade como terapia........................................................................................................... 129
Pode-se ser cristo e seguir a psicanlise?...................................................................................... 131
Captulo XII TICA DO AMOR E DA SEXUALIDADE.................................................................. 133
Leitura da realidade........................................................................................................................... 133
Sexualidade, amor e fecundidade.................................................................................................... 134
A sexualidade e o matrimnio na histria da Igreja..................................................................... 135
O desenvolvimento da criana......................................................................................................... 136
Os mtodos de fertilidade................................................................................................................. 139
Captulo XIII FAMLIA: CONFISSO DO AMOR E DIV DA CONVERSA............................ 141
A infertilidade como causa de depresso familiar........................................................................ 141
O matrimnio no ensinamento da Igreja Catlica....................................................................... 149
CONCLUSO.............................................................................................................................................. 151
MEDITAO DA NOVENA DE SANTA EDWIGES...................................................................... 157
O sofrimento no seu sentido cristo................................................................................................ 157
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS........................................................................................................ 159
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PREFCIO
O div ou o confessionrio?
Os caminhos da psicologia e da religio se cruzam, mas no se confundem. Se a psicologia organiza uma viso do psiquismo humano, a religio
a reivindica, pretende toc-la. Na verdade, os anjos e os demnios no so
projees de potncias internas que encantam ou assombram o Inconsciente
humano?
Se o conceito de pecado pertence ao domnio religioso, a psicanlise se
interessa com a culpabilidade. Pode-se dizer, portanto, que o div do psicanalista da mesma madeira que o confessionrio?
O analista no um confessor, e o confessor no um analista! O que os
diferencia?
No div ou no confessionrio, as pessoas podem contar sua vida, descarregar uma srie de problemas e tenses, obter aconselhamento espiritual.
O div ou o confessionrio so lugares onde se vive um tempo de escuta.
uma abordagem sacramental, o que significa que a graa de Deus est sempre l, para aqueles que reconhecem seus erros e arrependimentos.
Li com muito gosto este trabalho original bem profundo de Jean Anel.
uma pesquisa bem fundamentada repleta de informaes que alimentam o
conhecimento. Apresento-lhe minhas felicitaes e agradeo-lhe a dedicao e o enorme esforo para colocar disposio de todos ns o resultado de
seu trabalho de pesquisa.
Parabns, querido padre Jean Anel!
Frana, setembro de 2014.
Paul Dossous1
Paul Dossous mestre pela Universidade Catlica de Paris e atual superior geral da Sociedade dos Sacerdotes de So Tiago (SSST).
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INTRODUO
Por fim, como ltima chave, ao fazer entrar o div dentro do confessionrio, tive como objetivo o aprofundamento das ferramentas da psicanlise
no processo do acompanhamento espiritual e no uma intruso na estrutura do ritual sacramental. No entanto, a palavra confisso se refere, neste
livro, ao espao do acompanhamento espiritual e consiste em um processo de converso, de libertao para uma vivncia da f crist, propondo a
imagem verdadeira do Deus misericordioso, compassivo e amoroso.
Com essas trs chaves, podemos iniciar a leitura desta obra com o objetivo de enxergar a liberdade da pessoa como aquilo que a faz crescer na sua
intimidade com Deus e criar perspectivas para a chegada do Reino de paz,
de justia e de felicidade, que nos abre nossa vocao final que estar em
comunho plena com Deus. O bem que incentivamos no acompanhamento
espiritual est intimamente ligado dimenso soteriolgica da caminhada
crist e dinmica da tenso escatolgica do j e do ainda no (le dj l e
le pas encore).
Iniciamos na base desta hiptese: Uma diferena entre a terapia psicanaltica e a confisso se encontra no contedo dos dois: enquanto a primeira
tem como ponto central a investigao do Inconsciente, a confisso s vlida
se tudo o que foi acusado no confessionrio for consciente. Portanto, como
trabalhar a convivncia das duas? Ciente de que as duas fazem parte do aparelho psquico do ser humano, sem querer dividir o homem em gavetas, mas
considerando-o Uno em seu conjunto de ser (Alma, Corpo, Psique), pretendemos trabalhar seu bem-estar e tudo que o impede de chegar felicidade
procurada e desejada, porquanto, sempre atrapalhado com bloqueios, nem
sempre ele consciente das causas reais.
Muitos, como Plato e Santo Toms de Aquino, duvidaram da origem de
algumas doenas. Com as pesquisas e contribuies de Charcot e Breuer,
Freud chegou sntese de sua descoberta, o que ele mesmo chama de um
novo continente: o Inconsciente dinmico. Freud vai descobrindo que o
Inconsciente, em suas manifestaes cotidianas, influencia direta ou indiretamente o nosso agir. No entanto, em que consiste esse novo mtodo de
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O Verbo divino) e entende que esse amor tem sua fonte nele, ultrapassa-o e o
inunda por toda parte. Somente tal atitude pode faz-lo sentir-se gratificado
de maneira profunda e ilimitada. Assim, sua reivindicao, agresso, inveja
no acharo formas de se sustentar.
Nos sexto, stimo e oitavo captulos, procuramos aprofundar os processos que resultam deste cruzamento entre a psicanlise e a espiritualidade.
Analisamos as terapias psicoespirituais, suas dificuldades estruturais at a
investigao da clientela do padre. A psicanlise muito importante para
desatar ns que impedem o crescimento do ser humano. Mas seu papel no
se limita apenas a isso. Ao mesmo tempo, ela no pode ter a pretenso de dar
ao homem toda a sade. Uma filosofia do absurdo a frustrao de todas
as aspiraes espirituais do homem e representa a paralisia do desenvolvimento do amor, pois a relao psquica com a fonte est cortada. O homem,
nessa posio, em que no sabe onde procurar o amor (se ele ignora que
est fora do indivduo), vai procur-lo simplesmente dentro de si mesmo.
Ele o procura frequentemente em vo e sua falha o culpa. Pois, na lgica da
encarnao do Filho de Deus, entendemos que o amor acolhido, e se Ele
est dentro de ns para nos levar a experiment-lO como dom acolhido e
no autodescoberto. Com efeito, talvez sejam as espiritualidades no abertas
ao outro, como lugar de experincia do amor de Deus, que nos levam a essa
sociedade to egosta e fechada em sua capacidade de acolher.
Mas esta a aliana que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz
o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu corao; e
eu serei o seu Deus e eles sero o meu povo. (Jr 31,33)
TAMAYO, Juan Jos. Novo dicionrio de teologia. So Paulo: Paulus, 2009. p. 472.
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