Cancioneiro Transmontano 2005

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CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005

FICHA TCNICA:
Ttulo: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e incio dos captulos)
Edio: SANTA CASA DA MISERICRDIA DE BRAGANA
Recolha de textos: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA (2005), BELARMINO
AUGUSTO AFONSO, ELEUTRIO ALVES e NARCISO GOMES EM RAZES DA
NOSSA TERRA CANCIONEIRO TRANSMONTANO (1985)
Transcrio musical: ALBERTO ANBAL FERREIRA
Impresso e acabamento:
Tiragem: 1 000 exemplares
Depsito legal:

ISBN:

NOTAS DO AUTOR
Antes de mais quero agradecer ao Dr. Eleutrio Alves, Provedor da Santa Casa da
Misericrdia de Bragana, por ter tido a viso e a confiana para me deixar elaborar este
Cancioneiro. J no passado, em 1985, a ele coube o sonho de lanar a primeira edio
desta obra. igualmente devido o nosso reconhecimento ao Dr. Eduardo Alves da
SCMB, e a Sandra Rocha, (Estagiria do 5 ano Trabalho Social da UTAD Plo
Miranda do Douro) o nosso muito apreo pelas recolhas efectuadas dentre os utentes da
Santa Casa, bem como ao Professor Lus Canotilho que nos ilustrou o livro.
Embora j desaparecido do nosso convvio (27 de Maio 2004) no quero deixar de
mencionar, hoje, Jos Augusto Seabra, meu mentor intelectual e colega de vrias
iniciativas, que nos ltimos trs anos foi o patrono dos Colquios de Lusofonia
realizados em Bragana. Foi ele que sempre teve o estmulo certo para os momentos de
desnimo, e as palavras de incentivo rumo a uma utopia alicerada nos seus mltiplos
saberes. Foi no seu reinado como ministro da Educao que deu o aval ao Politcnico
de Bragana, onde ainda proferiu a Orao de Sapincia em 2003. Jos Augusto
Seabra, um literato no mais amplo sentido, um homem das Letras, um republicano
indefectvel na senda dos verdadeiros republicanos da I Repblica. Como Embaixador
promoveu a Lngua e a Cultura portuguesas de forma ousada e inovadora nos pases
onde exerceu; como director da Revista Internacional de Lngua Portuguesa das
Universidades da CPLP, editou-a com o labor e a mincia de quem ama a lngua. E falo
desse homem pois foi graas a ele que aprendi a importncia desta terra que em to
pouco tempo me soube cativar, despertando em mim heranas transmontanas
obnubiladas e laos de corao e sangue que eu olvidara. Sim, esta terra que me acolhe
como quem trata um filho emrito, soube adoptar-me engalanada nas suas belezas que
contrastam com a agrura excessiva do seu clima.
A sua qualidade de vida faz corar de inveja os habitantes das grandes urbes
portuguesas pois, Bragana, dispe hoje de bons e modernos equipamentos urbanos,
de um tecido social coeso ainda que diverso, e de uma vitalidade sustentada durante a
maior parte do ano por mais de 6000 estudantes do ensino tercirio e outros tantos do
secundrio. A atmosfera est cheia de contrastes da sua rica histria, do seu comrcio
tradicional e do mais recente.
Tudo isto serve para me encher de orgulho por viver aqui, nesta antiga Cidade de

origem neoltica, posteriormente um importante centro romano localizado na


zona actual da S. s invases brbaras sucederam-se as guerras entre
mouros e cristos que tantas tradies orais deixaram como podemos apreciar
neste volume. Essa Bragana primitiva desapareceu permanecendo enterrada
at hoje, conforme recentes escavaes do programa Polis demonstraram, com
inmeros vestgios que hoje podem ser observados em exposio.
Dentre as lendas mais antigas da cidade est a da visita de S. Francisco de Assis que,
aqui parou quando ia em peregrinao a Compostela e fundou o mais antigo convento
franciscano em Portugal. O Santo de Assis nunca veio Pennsula, mas muito
verosmil que o convento franciscano de Bragana esteja relacionado com um albergue
para peregrinos de Compostela, que j existia no sc. XII. Essa funo de escala no
Caminho de Santiago pode ajudar a compreender a fixao de uma importante colnia
de judeus, cuja actividade foi decisiva para o desenvolvimento econmico da regio.

A paisagem rude e bravia, e numa abordagem fugaz dir-se-ia que aqui s h fraguedo.
Mas numa das mais importantes revolues pacficas que aqui ocorreram, os judeus
plantaram amoreiras nos interstcios dessas fragas e nos sc. XV e XVI, conseguiram o
milagre de fazer de Bragana um importante centro manufactor de veludos, damascos e
outros tecidos de luxo.
Noutro extremo menos agradvel, a Inquisio mostrou-se particularmente activa em
Bragana. Vitimou, ao todo 734, artesos segundo os nmeros averiguados pelo sbio
Abade de Baal. Naturalmente, nem todos se deixaram apanhar e a maioria (trs mil
artesos) fugiu. Os teares fecharam, a produo dos belos veludos de Bragana cessou
por completo e a terra conheceu um longo e sombrio perodo de decadncia.

A Bragana de hoje irm gmea da outra celta e romana, dela tendo herdado
costumes, lngua e artesanato, sempre marcados pela sua importncia militar e
estratgica mas sem jamais perder as suas razes rurais, e reza uma
importante lenda que na Igreja de S. Vicente, se casou clandestinamente o prncipe e
futuro Rei D. Pedro com a dama castelhana Ins de Castro, tema da literatura
portuguesa e universal.
Neste volume pretendemos fazer ouvir a nossa voz, atravs das memrias do passado
para que no desapaream as lendas e tradies que permitiram a Bragana ser uma
terra onde se congregam esforos e iniciativas para manter viva a lngua de todos ns,
sob o perigo de soobrarmos e passarmos a ser ainda mais irrelevantes neste curto
percurso terreno.
Quando aqui cheguei em 2003, sabia apenas que havia fortes laos de sangue que me
prendiam a esta regio. Com um av materno Vimiosense h sculos, uma av materna
e uma me alfandeguenses, recordava daqui as frias de infncia passadas em terras
da vetusta regio de Bragana e Miranda. Havia primos e tios avs que contavam
histrias de outros tempos, e tinham um falar diferente.
Aprendi a liberdade de passear pelos campos at ao pr-do-sol, montado numa burra ou
num macho, sem peias nem fronteiras, por montes e vales, inspirando este ar puro,
experimentando detalhes desconhecidos da natureza que a minha juventude urbana
desconhecia. Em casa ainda no havia luz elctrica que essa s chegaria depois do 25
de Abril, mas os campos j estavam plantados de postes de alta tenso. Das vindimas
apanha da amndoa muitas foram essas recordaes que recuperei. Lembro-me de ver
como no cu havia estrelas em nmero inaudito, estrelas que jamais se podiam observar
nas poludas abobadas das cidades portuguesas. Lembro-me do cheiro a feno na
Eucsia, do chiar dos carros de bois no Azinhoso, dos cortejos pascais engalanados com
as colchas penduradas nas pequenas janelas como seteiras abertas em paredes de
grossa espessura. Lembro-me dos burricos e dos seus cntaros saltitantes a caminho
da fonte, dos jantares luz da vela e do sempre presente petromax. As cavilhas na
central telefnica do Sendim da Ribeira com doze nmeros de telefones que se ligavam
venda onde tudo se comprava. E havia ainda as celebradas danas no salo dos
bombeiros, e as festas tpicas em honra do santo da aldeia, onde conheci um povo que
desconhecia.
Na pequena e ora semi-despovoada aldeia da minha av materna encontrei os rituais
senhoriais da famlia Gama do engenheiro Camilo Mendona onde se ia prestar
vassalagem quando ali chegvamos para frias, ansiosos de beber a fresca gua da
Grichinha, fonte milagreira em plena terra das feiticeiras. Revisito a imagem buclica do

Vale da Lilaria antes da barragem, quando da varanda de casa me deleitava com ela
enquanto devorava os livros de Jules Verne.
Vi rostos e tradies do tempo dos Cristos Novos, ainda hoje envergonhados da sua
herana marrana. H cinquenta anos, ainda existia a vergonha de se dizer que se
descendia dum abade, cnego ou padre, to comum a tantas famlias da regio, numa
mescla de respeito, medo e venerao ao cristianismo que se impusera primeiro aos
mouros da rica Alfandagh, para depois ser temporariamente substitudo pelos judeus
que fizeram desta uma zona bem rica, antes de sofrerem os efeitos da converso
forada e a clandestinidade, quando no a morte, o exlio ou a Santa Inquisio.
Conheci capelas, vi santos milagreiros em altares cobertos de ouro, andei em procisses
e fui a missas onde os importantes da terra tinham as suas cadeiras prprias reservadas
em pleno altar. Tomei banho em tanques improvisados e provei frutas desconhecidas.
Fiquei sempre com esta recordao destas terras e destas gentes e ela me acompanhou
no priplo de mundos e na dispora que me levou a passar metade da vida no Sudeste
Asitico e na Australsia. Essas eram, alis, as nicas recordaes agradveis que
levava do pas onde cresci. Eram to importantes que as utilizei numa entrevista em
1989 para dizer na Austrlia como era belo este pas de bons vinhos e boas comidas, e
paisagens variegadas. Lembrava-me dos fraguedos de Penas Roias (onde fora pela
primeira vez em 1962 num jipe dum primo), e da famosa arca do cura dessa aldeia
esquecida, onde s regressaria no conforto do alcatro em 2004.
No Vimioso percorri as ruas onde o meu av crescera, vi a casa onde a famlia habitara
que permanecia altiva e brasonada. Em Alfndega da F revi os jardins e os parques e
as memrias dum castelo que a minha me sempre referiu nos idos da memria.
Recordei as viagens longas e inesquecveis pelo Douro acima, em comboios que a
estupidez do homem mandou retirar dos carris trocando-os por alcatro.
Recordo com emoo os jantares feitos lareira, em tachos negros como a noite, e
onde os sabores eram bem diferentes. Depois do jantar, sentados no escano,
imaginvamos figuras misteriosas que o fogo e as sombras criavam, antes de nos
confrontarmos com o medo de regressarmos aos quartos, atravessando enormes sales
onde a chama bruxuleante da vela nos desenhava os demnios de que a catequese nos
avisara. Mas, mais terrveis ainda eram as trovoadas em plena poca das sezes,
quando na Quinta da Bendada (hoje em runas e no mais pertena da famlia) nos
anichvamos debaixo da cama, enrolados em cobertores de papa, a rezar a Santa
Brbara.
Foi tudo isto que eu revivi ao editar este maravilhoso Cancioneiro Transmontano 2005.
Foi o facto de saber que no vivi em Portugal os anos suficientes para ter mais
recordaes de histrias e contos dos avs, e de que a minha me hoje com 82 anos
o ltimo elo para tantas dessas histrias e lendas que as tias contavam e cantavam.
Ao sentir que se podem perder esses registos fundamentais duma memria colectiva
resolvi meter as mos obra e preservar em papel aquilo que tantos idosos nos deram.
Sabemos que a lngua e cultura dum povo se preservam sobremodo pela tradio oral,
limitamo-nos a transcrever o que foi possvel ainda recuperar, para que mais tarde, os
vindouros saibam que aqui houve gentes que nos falavam de mouras encantadas
oitocentos anos depois delas terem deixado de aqui viver.
Lamenta-se que mais recolhas no nos tivessem chegado a tempo de as publicar.
Estamos dispostos a guard-las para uma prxima oportunidade se algum as fizer

chegar at ns. Mas para j deixo-vos cerca de duzentas e cinquenta pginas desta
memria transmontana, nas quais mantive os textos, a introduo e o prefcio da
primeira edio publicada em 1985.
Para que os nosso filhos se orgulhem das suas razes e as preservem.
Bragana, Abril 2005
J. Chrys Chrystello

ACERCA DA IMAGEM
A riqueza e a originalidade cultural de Trs-os-Montes, continuam a ser desconhecidas
pelos portugueses e at mesmo prprios habitantes da prpria regio. O inevitvel
progresso da regio, ultimamente, parece limitar-se s principais urbes. Em
consequncia das novas exigncias tcnicas e cientficas, as principais cidades
transmonatanas tm observado uma ocupao extremamente heterogea de pessoas
vindas de outras zonas e pases.
Este aspecto tem vindo a determinar aparecimento de duas culturas a dois ritmos numa
regio to pequena. A cultura citadina que pretende copiar os esteretipos do progresso
de outras culturas em paralelismo com a cultura rural, que a todo o custo prefere manter
a sua ingenuidade, autenticidade, tradies e rituais.
Esta cultura autntica e ancestral, transmitida ao longo das geraes parece querer
manter-se e em alguns casos e afirmar-se a partir dos mais jovens, cada vez esto mais
consciente do seu valor.
Entendo que a sua compreenso jamais poder ser absorvida atravs de uma s
linguagem. A simbiose entre a literatura, a poesia, a pintura e a imagem, permite uma
leitura mais correcta e simples da realidade transmontana. Neste trabalho, fotografia e
pintura, esto intencionalmente ausentes da decorao que a cor possibilita. Pretendese deste modo no sobrevalorizar a imagem em relao ao texto.
Os textos aqui recolhidos, nesta sociedade da imagem e sem fronteiras, s sero
compreendidos atravs de uma leitura paralela da imagem. A iamgem aparece neste
trabalho como que a fotografia do bilhete de identidade de um povo autntico e feliz, por
se sentir orgolhoso das suas tradies e rituais.
Sendo que a inteno desta publicao no se limita ao espao de Trs-os-Montes, ser
sempre difcil num outro ponto do mundo cultural, sem fronteiras, associar a escrita sem
sentir atravs dfa observao das imagems da natureza que moldou esses
pensamentos criativos, o traje, as expresses, a forma dos rituais, a religiodade
associada ao paganismo, as loas, o comportamento comunitrio das populaes, as
festas e as romarias, etc.
Foi portanto inteno colocar a imagem de forma intemporal e no localizadas, muitas
vezes dissociadas do prprio texto. No presente caso, as imagens pretendem percorrer
Trs-os-Montes, durante os doze meses do ano, perseguindo as suas gentes de forma
discreta e violando a sua intimidade cultural. Tal como o texto, a imagem um
patrimnio cultural que no pertence a nenhuma aldeia ou zona transmontana e como
tal esto ausentes de qualquer legendagem. A pintura de Helena Canotilho aparece,
porque a artista seguramente quem melhor tem retratado com rigor as gentes de Trsos-Montes.
Lus Canotilho 2005

INTRITO E PREFACIO EDIO DE 1985


Sempre que abordamos este tema a cultura antropolgica regressamos no tempo
nossa meninice. Em aproximaes sucessivas, as nossas vivncias de ento
corporizam-se. Vemo-nos actores de um processo cultural carregado de tradies.
Trabalhmos no campo. Regmos a horta e apanhmos o feno. Caminhos fora, a cavalo
na burra, com chapu de palha, l amos ter segada. Demos voltas sem fim, em dias
quentes de Julho e Agosto, sobre o trilho que impiedosamente triturava os caules de
trigo e centeio. Com o garotio folgazo fizemos corrimaas no prado baldio, enquanto os
vitelos retouavam calmamente as ervas da pastagem. Atrs dos carros carregados de
lenha ou estrume, ouvamos o chiar desesperado, tapando e destapando os ouvidos,
para melhor contraste de som. E no Inverno, aps a apanha da azeitona, conhecemos o
ambiente tpico do lagar de azeite, tocando o boi, atado ao baldo a puxar
pacientemente as galgas de granito, dentro do farneiro. Num intervalo de mudar a piada,
saborevamos ento uma torrada de azeite virgem feita na fornalha, aquecida com
bagao e toros de sobreiro.
Foi este o ambiente sadio, cheio de tradio, que vivemos por dentro em toda a nossa
juventude. Estamos dentro de todos os ciclos da vida agrcola-pastoril. Desde o linho
que ajudmos tantas vezes a alagar no rio Sabor, tosquia, ao pisar das uvas no lagar,
de tudo partilhmos. Primeiro, por necessidade de braos, que nunca so demais para
as fainas agrcolas, e s depois, com gosto, contente porque a carrada de sacos que
entrava na tulha, bem como a restante colheita, se devia tambm ao nosso esforo. No
se pode compreender a vida de um povo, quando se vive margem dos esquemas
econmicos, religiosos e sociais. Romances e outras manifestaes culturais aqui
inseridas so a consequncia lgica de um modo de estar na vida. Quem no capaz
de penetrar nesse mundo, simultaneamente complexo e simples, no pode compreender
a beleza da construo potica que o povo annimo criou.
O ignorante no o aldeo analfabeto, mas sim o urbano alfabetizado, Ainda bem que
se vai olhando com mais respeito para um saber multissecular, cristalizado em jias
raras da nossa literatura oral. Annimas, chegaram at ns com a mesma frescura que
as viu nascer. Enrazam no comunitarismo agro-pastoril do mundo medieval. Reflectem
os seus problemas, angstias e alegrias.
Se a poesia brota da vida, a literatura popular dela flu como de seio materno. Os
diversos modelos que se seguem, tanto como produes literrias, so factos histricos,
documentos da vida de um povo. Lirismo e misticismo casam-se em simbiose perfeita.
Sirva de exemplo o romance lavrador da arada. A caridade evanglica encontra um
modelo perfeito no pobrezinho que o lavrador leva no seu carro e a quem mandou fazer
a ceia. A referncia tema ao Cristo crucificado no dramtica, mas calma, espiritual.
Assemelha-se aos Cristos medievais, cujo sofrimento fsico fica em segundo plano
perante a divindade que se espelha no rosto. O seu valor mstico reala-se com a
referncia cambraia e prata fina, atributos dignos da divindade. Ao misticismo deste
primeiro romance sucede o tema existencial e dramtico da Nau Catrineta. O romance
muito humano. As referncias ao demnio, escritas, fazem parte de um todo plstico, de
fundo arquitectnico. Encontramo-lo nos capitis medievais, emergindo de um mundo
telrico, cheio de fantasmas.
Quero a tua alma e arrenego a ti, demnio, so duas afirmaes contrastantes,
expressas naqueloutro romance muito comum em Trs-os-Montes, Vozes dava o

marinheiro. A nostalgia do mar e a densidade dramtica do tema explicam a voga deste


romance no interior trasmontano.
"A cano popular portuguesa... a crnica viva e expressiva da vida do povo
portugus", afirma Lopes Graa (A cano popular portuguesa, p. 15). O ritmo do
quotidiano encontra expresso plstica na melodia que ainda hoje o lavrador assobia ou
canta atrs do arado, desventrando as leiras. Mas, o quotidiano tambm se altera, assim
como monotonia do vale se sucede a montanha ou o rio.
A vindicta e barulho rebentam intempestivos e quebram a atonia uniforme dos trabalhos
agrcolas. Apesar dos laos de solidariedade que a estruturam, este drama aparece de
quando em vez, como aragem mais vibrante e sinal de sofrimento, na comunidade.
Amores contrariados como o de D. ngela so de todos os tempos. O poeta, inventor de
msica e letra, certamente, no se esqueceu de terminar em tom moralizador:
Os pais que tm filhos
No lhe tirem o casar.
Morreu esta donzela
Sem seu marido a lograr.
Esta cano exprime sentimentos de alma, individuais, pungentes. uma crnica. A
maldio o castigo do pecado. Nasce da oposio frontal lei divina. um tema que
encontramos tambm nos poemas homricos. Castigo da insolncia, atinge o indivduo
ou a comunidade. Cria um conflito que s sanado com a expiao do culpado. Este
tema evidente no romance Cruel vento. A desonra, o roubo, o homicdio e
simultaneamente sacrilgio, roubaste trs igrejas... e mataste trs sacerdotes
revestidos ao altar so crimes inauditos que trazem como consequncia a esterilidade
da terra, das fontes e do mar. Para uma comunidade agro-pastoril e ribeirinha, no podia
haver maior castigo.
Pela literatura popular, como em pano de fundo, perpassam todos os dramas da vida
humana. A morte, mesmo que ela venha no fim de uma vida longa, um agente
desagregador.
Da igreja vem o velho, outro quadro descritivo, vulgar, cheio de intensidade dramtica.
Nada melhor para mitigar a saudade da ausncia da companheira do que o amparo da
filha mais velha, que vai ocupar o lugar da me.
Oh! Meu pai!
Oh! Valha-o Deus!
Tanto chorar!...
Eu lhos ajudarei a criar.
O romance Girinaldo, nas suas diferentes variantes, mostra-nos como as estruturas
sociais de ento, medievais, no eram to rgidas como se diz. Vejamos parte do texto:
Para matar o Girinaldo...
Criei-o de pequenino
Para matar a princesa...
Fica o reino perdido.

O amor sobrepe-se ao prestgio social e aos compartimentos estanques de lima


sociedade fechada. Aceita o casamento de um plebeu (o criado) com a princesa, filha do
rei. Uma sociedade deve possuir, para funcionar bem, todos os ingredientes. A stira
um desses elementos indispensveis, to do agrado da nossa gente. Modera os
impulsos instintivos, abate o orgulho, estimula. Gera criatividade. A veia satrica cultivouse mesmo antes de a poesia tradicional comear a tomar forma. frequente tanto nas
cantigas como nas quadras.
J tive dezoito amores,
Contigo so dezanove.
Todos me saram prata,
S tu me saste cobre.
Nem sempre a crtica suave como nesta quadra popular. Por vezes grosseira,
acutilante. Rivalidades clnicas ou tribais, so longnquas, prprias de todos os tempos
e de todos os grupos sociais. Encontramo-las ainda expressas nas nossas aldeias. Eram
frequentes no princpio do sculo. Aproveitavam-se as festas tradicionais, e
degeneravam em motins que custavam a vida a alguns contendores. Ainda esto na
memria das pessoas de oitenta anos. A propsito do melhor jogador de barra ou de
ferro, do boi mais valente ou do fadista de veia mais fcil, geravam-se rivalidades que s
o tempo foi diluindo. Os apodos geogrficos, de uma forma ou de outra, contriburam
para caracterizar idiossincrasias.
A fome nasceu em Sendas,
Foi baptizada em Pa.
Sacramentada em Valverde,
E foi morrer em Grij.
Embora a abundncia fosse moeda rara h cem anos atrs, nenhuma aldeia aceitava de
bom grado o cognome de esfomeado.
Adivinhas, provrbios e quadras populares so temas que ao de leve tambm afloram
nesta colectnea. Os jogos de roda alimentaram todo esse lirismo to espontneo e
vibrante do nosso povo. Junto da fonte, no largo principal, ou em frente da escola, foram
danados por crianas e tambm por jovens casadoiros, em tardes domingueiras e
outros dias festivos. Despertaram amores furtivos, e quem sabe, se rivalidades pessoais.
cantarinha de barro,
Quem te leva fonte? Quem?
No vais apenas de carro,
Vais nos braos do meu bem.
E as rondas?! Ainda delas nos lembramos. Em sbado tarde, dias de paga vinho,
quando algum jovem ia para a tropa ou para o Brasil, percorriam as ruas escuras do
povoado. Tambm elas deram o contributo criatividade de verdadeiros rapsodos
homricos. O violo e a guitarra constituam suporte instrumental comum de um estado

de alma to potico como musical.


Quando ouo uma guitarra,
No posso ficar calado.
Logo minha me disse:
Filho, nasceste p'r fado.
Os Reis ainda hoje constituem amostra palpvel da vitalidade de outros tempos.
Viveram e vivem paredes-meias com as festas natalcias. So festas de Inverno.
Reanimam a comunidade mergulhada numa certa letargia atpica. Preparam os jovens
para a responsabilidade necessria que o novo ano lhes confere. Fomentam as relaes
de vizinhana. As nozes, o vinho e o fumeiro, no so apenas pretexto para estas
relaes, mas tambm ocasio de aconchegar o estmago com algo mais que as
simples batatas, po centeio e carne gorda de antanho.
Viva o dono desta casa
Por cima de uma carqueja.
Viva tambm uma rosa
Que recebeu na igreja.
(Alfaio)
Senhora qu'st l dentro
Sentada na cortia,
Deite os olhos ao fumeiro;
D-nos c uma linguia.
(Larinho)
Como sequncia lgica, temos o Carnaval com as manifestaes culturais mais bizarras.
Sem entrar em explicaes acadmicas, apenas registamos o facto. No apenas o dia
de Tera-feira de Carnaval, mas sim um longo calendrio que inclui os compadres, as
comadres, as cacadas, os casamentos ou pulhas (expresso usada no sul do distrito e
comum a Vila Real), a Serra da Velha.
Estes ritos aparecem, e so sempre modos humorsticos, atenuados, indirectos, e
gerais do controle social da vindicta pblica, que por outro lado atestam a unidade e a
coeso do agregado social perante os acontecimentos; representam a voz do povo, a
sua opinio crtica, o seu bom senso, esprito e gosto, numa mistura de elementos
morais, satricos, galhofeiros, e tambm obscenos e escatolgicos, reveladores da sua
vida mental em muitos aspectos. (Ernesto Veiga de Oliveira, Festividades Cclicas em
Portugal, p. 27).
A vida biolgica ou social complexa, mas constitui um todo. Neste, o religioso absorve
a maior fatia. Em todas as manifestaes, mesmo econmicas, se sente a religiosidade
mais ou menos ortodoxa de uma comunidade. Oraes e ensalmos, procuram ser
remdio ou resposta para a insegurana do dia a dia. A noite agoirenta. Oferece
perigos. Recitam-se oraes para melhor passar esse lapso de tempo.

Quatro cantos tem a casa


Quatro cantos tem a lua
Arrebenta da, demnio,
Qu'esta cama no tua.
uma forma de esconjuro muito original, que procura libertar o espao de viver, a casa,
da influncia malfica do demnio. A invocao dos anjos e a presena da luz tornam a
orao que segue mais eficiente.
Quatro cantos tem a casa,
Quatro crios 'sto a arder
Trinta mil anjos m'acompanhem
Na hora em que eu morrer.
Quem no tem ainda na memria estas e outras frmulas que ouviu aos seus pais,
aprendidas simultaneamente com as frmulas ortodoxas do catecismo? So parte muito
complexa e abundante da religio popular. Pequenos apontamentos da alma do nosso
povo, includos neste trabalho, apenas pretendem chamar a ateno para o facto. A
devoo s almas do purgatrio foi o aspecto que mais sensibilizou os informadores.
Olha, cristo, que s terra!
Olha que hs-de morrer!
Do teu bom e mau viver.
Esta repetio do olha como uma admonio sria aos desvios morais e religiosos
do cristo mais desatento. O ambiente religioso das famlias, o toque plangente dos
sinos, as relaes entre dois mundos que necessrio manter em equilbrio, explica
esta insistncia.
Lendas e contos. o tema mais vasto e rico da vida de qualquer comunidade. Falta
ainda fazer aproximaes entre os diversos elementos. A riqueza literria de que so
portadores no constitui o nico interesse para estudar a cultura de um povo.
Aculturaes e enculturaes, documentam-se na leitura de algumas lendas. Formas
vocabulares neles inseridas fornecem pistas seguras para as marcas que todas as
colonizaes: pr-histrica, romana, germnica e rabe, deixaram em todo o distrito de
Bragana. Palavras como penha escrita, castrilho, ciradelha, pedrafita, castelar, fraga
da moura encantada, tributo das donzelas, etc., ajudam a iluminar os perodos menos
claros da nossa histria. Os contos lembram-nos as noites longas de Inverno. Crticos,
cmicos ou moralizantes, adaptam-se a todas as mentalidades. Com uma linguagem
ch, e de vocabulrio reduzido, so sugestivos, crepitantes como as brasas da lareira. A
narrao serve-se de comparaes simples, to ao gosto do auditrio aldeo, que
facilmente entende. Moa teimosa, Histria de um marido rabugento, Conto do Z
Pequeno e Z Grande, Maria de Pedra, so uma pequena amostra, suficientemente rica
para entusiasmar algum que deseje salvar do olvido a memria multissecular de um
povo.
Recolha de Histria e Lendas Populares do Distrito de Bragana, foi o ttulo que a
Delegao da Junta Central das Casas do Povo de Bragana deu a uma tarefa louvvel,

de salvaguarda do nosso patrimnio escrito. Se certo que nem todos responderam


iniciativa, o que dela resultou, esta pequena recolha, justifica de sobejo o seu valor.
Valeu a pena. Este registo grfico jamais se apagar. A industrializao da nossa
agricultura, ora em perodo de acelerao progressiva, vai mudar o modus vivendi das
comunidades. No teremos mais cantigas da segada, geradas e alimentadas em plena
faina agrcola. Mais do que as pessoas, mudam os esquemas de trabalho.
A cano e a poesia fluem do seu ambiente prprio, so respostas adequadas para
exprimir estados de alma. Bem-haja a Delegao da Junta Central das Casas do Povo
de Bragana na pessoa de Eleutrio Alves e Narciso Gomes, respectivamente
responsvel e tcnico de animao cultural, por ter quebrado o ridculo de simples
actividades burocrticas e nos ter proporcionado mais este pequeno cancioneiro.
Amavelmente responsabilizado na tarefa de o organizar, seguimos uma ordem lgica na
disposio da matria. H repeties. Registmos os ttulos que nos deram os
informadores. Preferimos salvaguardar a originalidade deles e sacrific-la a gostos
pessoais. Houve necessidade de corrigir pontuaes, destacar dilogos. Tivemos o
cuidado de no prejudicar em nada a simplicidade dos temas que nos entregaram.
Salvaguardou-se o fundo e a forma. Para as imprecises e deficincias, que so nossas,
esperamos boa compreenso. Para tornar o texto menos pesado, e mais documental,
inclumos nele algumas transcries musicais.
Belarmino Afonso 1985

MODESTO CONTRIBUTO edio 1985


Entre Novembro de 1981 e Fevereiro de 1982, lanou a Delegao da Junta Central das
Casas do Povo, em Bragana, uma Recolha de Histrias e Lendas Populares do
Distrito de Bragana. Visava-se, ento, como objectivos fundamentais:
- Sensibilizar as Casas do Povo para a premncia de acarinhar e defender todo um
vasto e variado patrimnio etnogrfico existente no Nordeste Trasmontano, uma boa
parte do qual sobrevive apenas graas memria popular;
- Empenhar e envolver as prprias pessoas dos meios rurais na Recolha referida,
convidando-as a que fossem elas prprias a passar ao papel aquilo que sabiam ou
ouviam dizer oralmente. Assim se perderia, no o ignoramos, em rigor cientfico; assim
se procurava ganhar em espontaneidade e, sobretudo, investir na chamada de
ateno das populaes para a necessidade de se atribuir o justo valor a esse tipo de
manifestaes da cultura popular, verdadeiro legado que urge receber e transmitir, qual
testemunho de uma caminhada histrica milenar!
- Depois, e caso o material conseguido o justificasse, em qualidade e quantidade,
publicar uma brochura do que de mais significativo se entendesse. notvel, bem o
sabemos, quanto ao seu mbito, qualidade de pesquisa e rigor cientfico, a obra j
realizada por estudiosos insignes do material etnogrfico respeitante ao Distrito de
Bragana. No se tem, pois, em vista, com a pequena brochura que ora se publica,
ombrear com os admirveis trabalhos j feitos sobre a matria.
Deseja-se apenas, e s, dar estampa o que de mais valioso foi reunido, a propsito da
iniciativa atrs referenciada. A generosidade e dedicao de quantos se envolveram
neste processo, impem-no! Assim o prometemos; assim o queremos cumprir.
Entretanto, se o carcter despretensioso que reafirmamos do trabalho que agora
(1985) se apresenta puder, de algum modo, constituir MODESTO CONTRIBUTO para
divulgar, valorizar, preservar esse tesouro imensurvel que constitui parte do substrato

sociocultural das gentes deste nosso Nordeste onde nos inserimos sentir-nos-emos
muito gratificados.
que, tambm a este respeito, a messe grande e os operrios poucos.
Narciso Gomes 1985
AGRADECIMENTOS 1985
Uma publicao, mesmo que pequenina como esta, s possvel devido conjugao
de esforos e boa-vontade de vria ordem e diversa provenincia. No pode, assim, a
Delegao da Junta Central das Casas do Povo, em Bragana, deixar de agradecer
muito reconhecidamente:
- A todos aqueles que, dos vrios pontos do Distrito, se empenharam na Recolha por
ns promovida, quer como fontes, quer como signatrios da mesma.
- s personalidades que integraram o jri de apreciao dos trabalhos recebidos, que
desinteressada e gentilmente aceitaram dar-nos o contributo do seu saber e experincia
na matria, os Ex.mos Senhores: Dr. Carolina Vitria Pires, professora efectiva do
Ensino Secundrio; P. Dr. Belarmino Augusto Afonso, professor de Antropologia Cultural
da Escola do Magistrio Primrio de Bragana; Dr. Manuel Antnio Gonalves, professor
do Ensino Secundrio.
- s pessoas que proporcionaram, com o seu canto, a gravao das vrias cantigas e
outro material cantado, cuja msica publicamos nesta brochura.
- Ao Regente da Banda da Casa do Povo de Vinhais, Sr. Alberto Anbal Ferreira, pelo
trabalho de descodificao das msicas atrs referidas.
- A todas as Casas do Povo do Distrito, Estabelecimentos de Ensino, Procos, Juntas de
Freguesia, Jornal Mensageiro de Bragana, Revista Brigantia, Boletim Povo
Rural, Emissor Regional da RDP, em Bragana, e outros rgos de comunicao
social, pelo papel imprescindvel que lhes devido na divulgao e relevo concedidos
iniciativa.
- Referncia e agradecimento muito particular nos cumprem ainda aqui deixar ao Rev.
P. Dr. Belarmino Augusto Afonso, desta feita pelo trabalho e dedicao que lhe devemos,
de seleco, compilao, ordenao, sistematizao, e nota introdutria desta
colectnea.
A Delegao da Junta Central das Casas do Povo en Bragana

1. ROMANCES POPULARES
LAVRADOR DA ARADA

Vindo um lavrador da arada,


Encontrou um pobrezinho.
E o pobrezinho lhe disse:
- Leva-me no teu carrinho.
Deu-lhe a mo o lavrador,
E no seu carro o metia.
Levou-o para sua casa
Para a melhor sala que tinha.
Mandou-lhe fazer a ceia
Do melhor manjar que havia.
Sentou-o sua mesa,
Mas o pobre no comia.
As lgrimas eram tantas
Que pela mesa escorriam.
Os suspiros eram tantos,
Que at a mesa tremia.
Mandou-lhe fazer a cama
Da melhor roupa que tinha.
Por cima, damasco roxo.
Por baixo, cambraia fina.
J pela noite adiante,
O pobrezinho gemia.
Levantou-se o lavrador
A ver o que o pobre tinha.
Deu-lhe o corao um baque.
Como ele no ficaria!
Achou-o crucificado
Numa cruz de prata fina.

Meu Jesus! Se eu tal soubera,


Que em minha casa Vos tinha,
Mandara fazer preparos
Do melhor que encontraria!
Cala-te a, lavrador,
No fales com fantasia!
No Cu te tenho guardada
Cadeira de prata fina!
Tua mulher, a teu lado
Que tambm isso merecia.
Agora baixou o sol
Louvado seja o Senhor
RECOLHA (1985) de Sebastio Agostinho Gonalves, Gondesende Bragana.

NAU CATRINETA

L vem a nau Catrineta


Que tem muito que contar.
Ouvi agora, senhores,
Uma histria de pasmar.
Passava-se mais de ano e dia
Que iam na vetalta do mar.
J no tinham que comer,
J no tinham que manjar!
Deitaram solas de molho
Para o outro dia jantar.
Mas, a sola era to rija,
Que no a puderam tragar.
Deitaram sortes ventura
Qual se havia de matar.
Logo foi cair a sorte
No capito-general.
- Sobe, sobe, marujinho,
Aquele mastro real.
V se vs terras de Espanha,
As praias de Portugal.
- No vejo terras de Espanha
Nem praias de Portugal.
Vejo sete espadas nuas
Que esto para te matar.
- Acima, acima, gajeiro,
Acima ao topo real.
Olha se enxergas Espanha,
Areias de Portugal.
- Alvssaras, capito!
Meu capito-general,
J vejo terras de Espanha,
Areias de Portugal!
Mais enxergo trs meninas,
Debaixo de um laranjal.
Uma sentada a coser,
Outra na roca a fiar.
A mais formosa de todas
Estava no meio a chorar.
- Todas trs so minhas filhas.

Oh! Quem mas dera abraar!


A mais formosa de todas
Contigo hei-de casar.
- A vossa filha no quero,
Que vos custou a criar.
- Dar-te-ei tanto dinheiro
Que o no possas contar.
- No quero vosso dinheiro,
Pois vos custou a ganhar.
- Dou-te o meu cavalo branco
Que nunca houve outro igual.
- Guardai o vosso cavalo,
Que vos custou a ensinar.
- Dar-te-ei a Nau Catrineta
Para nela navegar.
- No quero a Nau Catrineta
Que no a sei governar.
- Que queres tu, meu gajeiro.
Que alvssaras te hei-de dar?
- Capito, quero a tua alma
Para comigo a levar.
- Arrenego a ti, demnio,
Que me estavas a tentar.
A minha alma s de Deus,
O corpo dou eu ao mar.
Tomou-o um anjo nos braos,
No o deixou afogar.
Deu um estoiro o demnio.
Aclamaram vento e mar,
E noite, a Nau Catrineta
Estava em terra a varar.
RECOLHA (1985) de Sebastio Agostinho Gonalves, Gondesende Bragana.

GASTADOR

Eu casei com uma donzela,


Filha de um lavrador.
Ela era muito rica,
Eu um grande gastador.
Gastei o meu e o dela
E o que nos deu o Senhor.

E depois de tudo gasto,


Aprendi a podador.
A vinha est podada
Esvida tu, meu amor.
- Eu tenho os dedos fininhos,
No posso esvidar, Senhor.
- Meu amor, se fores feira,
L para os lados de Agrocho,
Traz-me fitas e sedas.
Bordaremos um pendo.
Numa ponta pe-se a lua,
Na outra os raios do sol.
L no meio disso tudo,
Jesus Cristo Redentor.
RECOLHA (1985) de Sebastio Agostinho Gonalves, Gondesende Bragana.

D. NGELA
Onde vais, D. ngela,
Onde vais, esposa minha?
Vais vontade de teus pais
Que tua no seria.
L no meio da igreja,
Duas falas ela diria:
-Deixa l que no me louves,
Nem uma hora nem um dia.
-Dali vieram p'ra casa
Com tristeza e no alegria.
Todos comiam e bebiam,
D. ngela no comia.
Levaram-na ao passeio,
A ver se ela distraa.
No meio do passeio,
Morta p'ra trs ela caa.
-Mandaram chamar o mdico,
A ver o que ela tinha.
Tinha o corao virado
Com o debaixo para cima.
Debaixo do corao
Duas letras de oiro tinha
Uma dizia: - Adeus, Joo.

A outra: - Amor da minha vida!


-Os pais que tm filhas,
No lhe tirem o casar.
Morreu esta donzela
Sem seu marido a lograr.
RECOLHA (1985) de Altino do Nascimento Silva Vimioso.

AMOR DE D. JOO

Descala e em cabelo,
Seu rosto alumiara.
- Donde vens, Isabel,
To desprezada?!
- Venho de pedir Virgem,
A Virgem Santa Sagrada
Que te levante dessa cama,
Perdio da minha alma!
- Se eu desta cama me levanto
minha rosa arrosada,
Levar-te-ia igreja
E fazer-te mulher casada.
- Mandaram vir trs doutores
Dos melhores que havia em Granada.
Olharam uns para os outros.
Nem uns nem outros falaram.
E l falou o mais novo
Daquela boda sagrada.
Trs horas s tem de vida
E meia j vai passada...
Uma de despedimento
Da sua querida amada,
E outra testamento.
Deixa bens para a sua alma.
Novas, novas tristes
Me vieram de Granada.
Est D. Joo doente
Com pena da sua amada.
Seus pais lhe perguntaram:
- Tu que tens, meu filho,
Meu filho da minha alma?!
Olha a ver se deves a honra
A alguma menina honrada.

Devo-a a D. Isabel
Que a deixo desgraada
- Paga-lhe tu com dinheiro,
Que tudo paga.
- J l deixei mil cruzados,
A ver se ainda casava.
- Que isso, meu filho,
Para uma menina honrada?
Deixa mais trinta mil
P'ra mesma desgraada.
- Estando eles nesta conversa,
A D. Isabel chegara...
RECOLHA (1985) de Altino do Nascimento Silva Vimioso.

ALTA VAI A LUA ALTA 5 (1 verso)


Alta vai a lua alta,
Mais que o sol ao meio-dia.
Mais alta vai a Senhora,
Quando para Belm partia.
Madalena vai trs dela.
Alcan-Ia no podia.
Alcanara-a em Belm,
Onde ela estava parida.
Era tanta a sua pobreza,
Que nem um panal havia!
Botou mos sua cabea
A um vu que ela trazia.
Partira-o em trs bocados,
Onde Jesus envolvia.
Um era para de manh
Outro para o meio-dia.
Outro para a meia-noite,
Enquanto Jesus dormia.
Baixou um anjo do Cu,
Panais de ouro trazia.
Subiu o anjo para o Cu,
Cantando Av-maria.
Perguntando-lhe o Padre Eterno
Como estava a parida:
- A parida ficou boa

Numa sala arrecolhida.


RECOLHA (1985) de Cremilde Amlia Pires, Baal Bragana.

ALTA VAI A LUA ALTA (2 Verso)


6

Alta vai a lua alta


Mais que o sol, ao meio-dia.
Mais alta vai a senhora,
Quando pelo cu subia...
Madalena vai atrs dela,
Alcan-la no podia.
Alcanou-a em Belm,
Onde ela estava parida.
Era l tanta a pobreza,
Que nem um panal havia.
Veio um anjo do cu!
Panais de ouro trazia.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade -Alfndega da F

CONDE NINHO

L vai o Conde Ninho,


O seu cavalo banhar.
Enquanto o cavalo bebe,
Canta um lindo cantar.
Acordou o rei no palcio,
Sua filha foi chamar.
- Levanta-te, minha filha,
Se queres ouvir cantar.
Ou so os anjos no Cu,
Ou a sereia no mar!
- o Conde Ninho
Que comigo quer casar.
- Se isso minha filha,
Eu o mando j matar.
- Se a ele o mandais matar
Mandai-me a mim enterrar.
Enterrai-o a ele na igreja
E a mim ao p do altar.
Morreu um, morreram ambos,

Na igreja os foram enterrar.


Dum saiu uma pomba branca,
Doutro um pombo trocal.
Quando o rei ia para a missa,
Andavam por cima a voar.
Quando o rei ia para a mesa
Nos ombros lhe iam pousar.
Malo haja tanto querer
Malo haja tanto amar
Que nem na vida nem na morte
Se puderam separar.
RECOLHA (1985) de Cremilde Amlia Pires, Baal Bragana.

CRUEL VENTO

vento, cruel vento,


vento ladro maioral.
Roubaste trs igrejas
As melhores de Portugal.
- Se roubei as trs igrejas
Tenho com que as pagar.
- Desonraste trs donzelas,
Todas trs de sangue real.
- Se desonrei trs donzelas
Tenho dote para lhes dar.
- Mataste trs sacerdotes revestidos ao altar.
- Se matei trs sacerdotes,
Deus mo queira perdoar.
- As terras por onde passaste
Nem o fruto ho-de dar
As fontes aonde bebeste,
Depressa se ho-de secar.
O mar por onde passaste,
Em fogo se h-de tornar.
RECOLHA (1985) de Cremilde Amlia Pires. Baal Bragana.

A BELA INFANTA
Estava a bela Infanta
No seu jardim sentada.
Com um pente de ouro na mo

Mui bem que se penteava.


Botou os olhos ao mar,
Viu vir uma grande armada.
E o capito que nela vinha
Trazia-a bem governada
- Por Deus te peo, capito,
Por Deus e por tua alma,
Que me digas se o meu marido
Vem na tua grande armada.
- No o vi nem o conheo
Nem sei que sinas levava.
-Levava cavalo branco
Com sela de prata lavrada.
E na ponta da sua espada,
Uma cruz de ouro levava
- Pelas sinas que dais, senhora,
Morto ficou na batalha
Com sete feridas no peito
E a cabea cortada.
- Ai de mim! Triste coitada!
Que ainda ontem era infanta,
E hoje sou desgraada!
- Quanto deras, infanta,
A quem to trouxera aqui?
- Daria-te tanto dinheiro
Que nunca tivesse fim.
- No quero o vosso dinheiro
Que no me pertence a mim.
Sou capito, vou para a guerra,
No existo mais aqui.
Quanto mais deras infanta
A quem o trouxera aqui?
- As telhas do meu telhado
Que so de ouro e marfim.
- No quero as vossas telhas,
Que me no pertencem a mim.
Sou capito, vou para a guerra,
No existo mais aqui.
Quanto mais deras, infanta
A quem to trouxera aqui?
- Trs filhas que eu tenho

Todas trs tas dou a ti,


Uma para te vestir,
Outra para te calar
A mais bonita delas
Para contigo casar.
- No quero as vossas filhas
Que me no pertencem mais a mim,
Sou capito, vou para a guerra.
No existo mais aqui.
Quanto mais deras, infanta
A quem to trouxera aqui?
- No tenho mais que lhe dar
Nem voc mais que me pedir.
- Ainda tem mais que me dar
E eu mais que lhe pedir
Esse corpinho bem feito
Para consigo dormir,
- Alto! Alto! Meus criados
Venham, acudam-me aqui!
Prendam este malvado
Que me pretendia a mim.
- Alto! Alto! Seus criados,
Seus criados so de mim.
- Se tu eras o meu homem
Para que me tratavas assim?
E o anel de sete pedras
Que eu contigo reparti?
D c o teu metade,
Que o meu j est aqui.
- Ai de mim triste coitado
Que o meu na guerra
O perdi.
RECOLHA (1985) de Cremilde Amlia Pires. Baal Bragana.

DA IGREJA VEM O VELHO

Da igreja vem o velho,


Da igreja de rezar.
Seus filhos traz pela mo,
Sua mulher de enterrar.
Da igreja at casa
No cessava de chorar.

Respondeu-lhe a filha mais velha


Como mulher liboral:
- Porque chora, meu pai?
Oh! Valha-o Deus! Tanto chorar!
- Choro pelos meus filhos.
Quem mos ajudar a criar?
- Os seus filhos, meu pai,
Eu lhos ajudo a criar.
Uns iro a servir o rei,
Outros passaro o mar.
E o mais novo de todos
Ficar pr senhor mandar
RECOLHA (1985) de Cremilde Amlia Pires, Baal Bragana.

PR-DO-SOL

10

Agora que se ps o sol


L por detrs daquela serra,
Levava capa vermelha
Que lha dera Madanela.
Madanela escreveu uma carta a Jesus Cristo,
E o portador que a leva o frade S. Francisco.
So Francisco vai descalo,
Vestidinho de burel.
Vai levar a carta ao Divino Emanuel.
Divino, Divino, Divino Imperador,
Levai as nossas almas quando deste mundo forem.
RECOLHA (1985) de Cremilde Amlia Pires, Baal Bragana.

GIRINALDO (1 VERSO)
11

Girinaldo, Girinaldo,
Criado de El-Rei mais querido.
Queres tu, Girinaldo,
A noite dormir comigo?
- Eu, como criado vosso?..
Senhora, mangais comigo!...
- No te mango, Girinaldo,
Que eu bem deveras to digo.
- Diga-me, minha senhora,
As horas que eu hei-de ir.
- Vai das nove s dez,
Que meu pai j est a dormir.

Ainda no eram as dez,


Girinaldo ao postigo...
- Quem me bate minha porta?
Quem me arromba o meu postigo?
- Sou eu, senhora, que venho ao prometido.
- Traz os sapatos nas mos
Que meu pai no d sentido.
Foram-se deitar cama,
Como mulher e marido.
El-rei sonhou um sonho,
Um sonho descolorido.
Ou que lhe dormiam com a princesa
Ou que lhe arrombaram o postigo.
Fica aqui, meu punhal,
Para que lhe sirva de castigo.
Acordou a princesa
Por achar o ferro frio.
- Acorda, acorda, Girinaldo,
Que meu pai deu sentido.
- Maio haja tal cama
Maio haja tal dormido.
Eu antes queria ser morto
Do que em tal cama ter dormido.
- Cala, cala, Girinaldo.
No sejas to atrevido,
Que meu pai to bom,
Que me casar contigo.
- Donde vens, Girinaldo,
Que me tardaste a vestir?
- Venho de dar gro aos cavalos,
Que ainda no tinham comido.
- No me mintas, Girinaldo,
Que tu nunca me mentiste.
- Donde vens, Girinaldo,
Que me tardaste a vestir?
- Venho de dar de beber aos cavalos
Que ainda no tinham bebido.
- No me mintas, Girinaldo,
Que tu nunca me mentiste.
- Venho de abrir um cofre
Que nunca tinha sido abrido.

- Para matar o Girinaldo...


Criei-o de pequenino!
Para matar a princesa...
Fica o reinado perdido!
Toma tu por esposa,
Ela a ti, por teu marido.
Girinaldo, Girinaldo, criado
De El-rei mais querido.
RECOLHA (1985) de Francisco Baptista, Vilares da Vilaria Alfndega da F.

GIRINALDO (2 VERSO)
Girinaldo, Girinaldo
Pajem do rei mais querido.
Queres tu, Girinaldo,
A noite dormir comigo?
- Quero sim, Real Senhora,
Mas estais mangando comigo?

- No estou, Girinaldo,
No estou mangando contigo.
- Diga-me, Real Senhora:
A que horas devo estar no postigo?

- Das dez para as onze,


Enquanto o rei est dormindo.
Ainda no eram as nove,
Girinaldo ao postigo.
- Quem bate minha porta?
Quem arromba o meu postigo?

- Sou eu, Real senhora,


Que no falto ao prometido.
O rei estava sonhando
Com o que estava acontecido.
Pegou na sua espada
E foi dar volta ao partido.
Encontrou os dois na cama
Como mulher e marido.
- Para matar o Girinaldo...
Criei-o de pequenino.

Para matar a princesa...


Fica o reino perdido.
Meteu-lhe a espada no meio
Para que lhe servisse de castigo...
- Acorda, acorda, Girinaldo,
Que ns estamos perdidos!
A espada do meu pai rei
No meio de ns est metida!
- Onde estavas, Girinaldo,
Quando dei volta ao partido?

- Fui chegar o cavalo a beber,


Que ainda no tinha bebido.
- No me mintas, Girinaldo!
Nunca me tinhas mentido.
- Fui dar de comer rola
Que ainda no tinha comido.
A rola que ds de comer
Criei-a eu com meu trigo
Ama como tua mulher
E ela a ti como teu marido.
RECOLHA (1985) de Artur dos Santos Madureira, Alfaio Bragana.

GIRINALDO (3 VERSO)
Girinaldo, Girinaldo
Criado do rei mais querido.
Bem podias, Girinaldo,
Passar a noite comigo.
- Por eu ser um criado, no esteja
A mangar comigo, diga-me a srio;
- Eu bem a srio to digo.
- Se a senhora mo diz a srio, diga-me
As horas a que hei-de ir,
- Das onze meia-noite,
Que est o meu pai a dormir.
Eram onze horas,
Girinaldo a subir
Com seus sapatos na mo
Para o ningum o sentir.
Ela deu-lhe a mo,
Ajudou-o a subir.

Entraram para o quarto.


Deitaram-se a dormir.
O rei teve um sonho,
Que tinham o palcio roubado.
Encontrou Girinaldo
Com a sua filha deitado.
- No te mates Girinaldo
Criei-te de pequenino,
Que se te matasses, Girinaldo,
Ficava o reino perdido.
RECOLHA (1985) de Cremilde Amlia Pires, Baal Bragana.

VALDEVINOS

12

Trs voltas dei ao castelo,


Sem saber por onde entrar.
Cavaleiro de armas brancas,
Viste-lo aqui passar?
- Esse soldado senhor,
Morto est no areal,
Com o seu corpo na areia,
E a cabea no juncal.
Trs chagas tem no peito.
Todas trs so de mortal.
Por uma entra o sol,
Por outra entra o luar.
Pela mais pequena delas
Um gavio a voar
Com as asas estendidas,
Sem as ensanguentar.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.

INDO EU POR A ABAIXO

13

Indo-me eu por ai abaixo,


Em busca dos meus amores,
Encontrei um laranjal
Carregadinho de flores.
Deitei-me sombra dele,
Para que me no queimasse o sol.

Levantei-me espalvorido,
Ao cantar do rouxinol.
rouxinol que bem cantas,
Onde foste aprender?
- Ao palcio da rainha,
Onde o rei estava a escrever.
O rei estava na varanda,
A rainha no quintal.
Estava a colher laranjas
Do seu rico laranjal.
Umas eram a vintm e outras a real.
As do cimo, a alto preo,
Que ningum lhe podia chegar.
RECOLHA (1985) de Cremilde Amlia Pires, Baal Bragana.

2 POESIA, VERSOS SATRICOS, LOAS,


APODOS, CASAMENTOS, SERRAR A
VELHA, CARNAVAL
1. POESIA
EM BUSCA DOS MEUS AMORES
Em busca dos meus amores
Encontrei um campo cheio de flores
Deitei-me sombra dele
Para que no me queima-se o sol
Levantei-me com o cartar do rouxinol
Rouxinol que bem cantas
Onde foste aprender
Ao palcio da rainha
Onde o rei estava a escrever
O rei estava na varanda
E a rainha no quintal
Atirando um para o outro
Com pedrinhas de cristal

RECOLHA 2005 SCMB Ana Maria Domingues, Idade: 86.


Localizao geogrfica: Mas, ORIGEM + 60 anos.

POEMA 1
triste perder um pai
Como eu perdi o meu
Mas perder a nossa me
perdermos um pedao
Da vida que ela nos deu
minha me, minha me
Musa da minha cano
Deus te guarde l no cu
Como eu te guardei no corao
RECOLHA 2005 SCMB, CNDIDA CARVALHO, Idade: 81.
Localizao geogrfica: BRAGANA ORIGEM + 50 anos.

POEMA 2
Era uma vez um homem
Que trs vezes enviuvou
Casando com mulher pobre
Grande riqueza encontrou
Grande riqueza encontrou,
Grande riqueza veio a achar
Nunca mais quela porta
Uma esmola se viu dar
S na semana santa
E a semana que h-de vir
S ali um pobrezinho
que foi pedir
O homem que era
Dorido do corao
A esmola que lhe foi dar
Foi um bocadinho de po
Saiu a fera de l de dentro
E das mos lho foi tirar

Com a ira que trazia


A caldeira foi deitar
Anda c homem,
Anda c se queres ver
Uma caldeira cheia de sangue
Sem gua a ferver
mulher amaldioada,
Amaldioada de nao
Cobriste-te de dio
Por causa de um pedao de po.
RECOLHA 2005 SCMB, DOMINGOS SARAIVA, Idade: 79.
Localizao geogrfica: MEIXEDO ORIGEM + 50 anos.

POEMA 3
Eram trs comadres
A fazer uma encomenda
Na funo de Santo Andrs
Sarandilha andar, Sarandilha s
Uma levava 9 pes
A cada uma tocou trs
Sarandilha andar, Sarandilha s
Outra levava 30 ovos
A cada uma tocou 10
Sarandilha andar, Sarandilha s
Outra levava um pelhejo de vino
Mientras quando tirou trs
Sarandilha andar, Sarandilha s
Dali a um pouquito
Uma olhava para as estrelas
Pareciam todas ao revs
Outra olhava para a lua
Que parecia Santo Andrs
Dai um pouco chegou o marido da Ins
Palos numa, palos noutra, palos em todas trs
A que levou mais palos foi la pobre Ins
RECOLHA 2005 SCMB, DOMINGOS SARAIVA, Idade: 79.
Localizao geogrfica: MEIXEDO ORIGEM + 50 anos.

POEMA 4

Para onde ides meus meninos


Tantos e to pequeninos
Cheios de vio e frescor
Vamos senhor para acol
Para a casinha que ali est
No meio do arvoredo
Sigam anjinhos ento
Vo ouvir com devoo
O vosso bom professor
Que a vossa escola
fonte de luz e de amor
RECOLHA 2005 SCMB, ENGRCIA NASCIMENTO BRANCO, Idade: 79.
Localizao geogrfica: GUADRAMIL ORIGEM + 60 anos.

POEMA 5
Meu filho respeita os ninhos
Pensa na pena que tem
A pobrezinha da me
Quando se v sem os filhinhos
Por mais a jeito que os encontreis
Tende respeito no os toqueis
As papoilas encarnadas
A brilhar entre os trigais
So to lindas e delicadas
Como as rosas nos rosais
No vero as raparigas
Enfeitam os seus chapus de palha
Com as papoilas amigas
RECOLHA 2005 SCMB, ENGRCIA NASCIMENTO BRANCO, Idade: 79.
Localizao geogrfica: GUADRAMIL ORIGEM + 60 anos.

POEMA 6
Saudades tenho saudades
Desses tempos que l vo
Quando porta do quinteiro
Eu jogava meu pio
que, ento, na terra
Eram venturas para mim

Meu pai me dava biscoitos


Minha me beijos sem fim
Minha av me defumava
De manh com alecrim
Por esses prados amenos
Como contente eu saltei
Com o meu chapu de dois bicos
Que de um papel arranjei
Em grosso pau a cavalo
Mais orgulhoso que um rei
De ser cristo nessa idade
Tenho j nobre altivez
A mitra com que fui bispo
Que o mano Antnio me fez
Ao p da minha Igrejinha
Bispo fui por muita vez
Vs inocentes folguedos
Eu via o tempo a voar
Se um dia vinha um sopapo
Que me obrigava a chorar
Dois de mimos cobertos
Eis a rir, eis a brincar.
Meu peo idolatrado
Que ser feito de ti?
Papagaio da minha alma
Dias h que no te vi.
Doces biscoitos doutrora
Quem nos dera agora aqui
Meigos beijos inocentes
Como ainda me lembrais
Cheirosos defumadouros
Que saudades me inspirais
Meu lindo chapu de bicos

No me enfeitars jamais.
Grosso pau em que me montava
Cinzas talvez sers
A mitra com que fui bispo
Esfarrapada foi j
E a minha bela igrejinha
Em que mos hoje estar?
Da infncia, a negra saudade
Que a desgraa me reduz
A minha alma espevitando
Tem quase apagada a luz
S vivo at que o meu peito
s escuras diga truz.
RECOLHA 2005 SCMB, ANTNIA FARIA, Idade: 94.
Localizao geogrfica: REBORDOS ORIGEM + 60 anos.

POEMA 7
Minha me eu vi um dia
Foi quando meu pai morreu
Que amor de me como o teu
Neste mundo no havia!
J fiz nove anos, querida
E s vezes, a dormitar
Comeo a filosofar
C nestas coisas da vida
Quando tu ontem deitavas
Meu pequenino irmo
E com to meiga afeio
Sorrindo nos abraavas!
E que tu me adorada
Teus dois filhinhos e eu
Para amar tenho de meu
Uma s Me e mais nada.
RECOLHA 2005 SCMB, ANTNIA FARIA, Idade: 94.
Localizao geogrfica: REBORDOS ORIGEM + 60 anos.

POEMA 8

Meu Menino Jesus


Quem te deu a casaquinha?
Foi minha av Santa Ana
Com botes de prata fina.
RECOLHA 2005 SCMB, ANTNIA FARIA, Idade: 94.
Localizao geogrfica: REBORDOS ORIGEM + 60 anos.

POEMA 9
Minha laranja redonda
Que eu no posso cortar mais
J me di o cu-da-boca
E o corao ainda mais
RECOLHA 2005 SCMB, DIAMANTINO FERNANDES, Idade: 72.
Localizao geogrfica: GONDESENDE ORIGEM + 50 anos.

POEMA 10
Oliveira do Adro
O ramo dela tem virtude
Passei por ela doente
e logo tive sade
RECOLHA 2005 SCMB, DIAMANTINO FERNANDES, Idade: 72.
Localizao geogrfica: GONDESENDE ORIGEM + 50 anos.POEMA 11

POEMA 11
que linda bonequinha
Que o pap me deu
Ningum tem um pap
Assim to bonzinho como o meu
Todos os dias de festa
Prendas me tem dado
Mas nenhuma como esta
Tem sido como esta
Linda boneca
Tu s o encanto da minha vida
Oh oh quero-te tanto
Oh oh s minha querida
Oh oh e no peito ters abrigo quando precisares

Oh oh oh oh!
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA ANICETA GONALVES, Idade: 86.
Localizao geogrfica: VILA FLOR ORIGEM + 60 anos.

POEMA 12
Mirandela terra linda
Terra dos meus encantos
Onde lhe do tantos carinhos
Tantos abraos tantos
Vou com isto terminar
Porque o tempo pequenino
Vou em nome de minha me
Dar a todos um beijinho.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA AUGUSTA, Idade: 85.
Localizao geogrfica: BRAGANA ORIGEM + 60 anos.

2. VERSOS SATRICOS
A FOME
A fome nasceu em SENDAS
Foi baptizada em Pa
Sacramentada em Valverde
E foi morrer a Grij.
RECOLHA (1985) de Sebastio Agostinho Gonalves. Gondesende Bragana.

3. LOAS
Os senhores de Carragosa,
No so como pensais.
Abateram um burro
Para dividir pelos demais.
Desculpem, meus senhores,
Desculpem por aqui vir.
O burro que vocs mataram
Aqui estou para o dividir.
Eu venho dos talhos de Mirandela, Rgua e Macedo.
Aos senhores de Carragosa
No lhes dou nem um plo,
Pois bem basta a carne que j comeram.
Aos senhores de Soutelo
Damos-lhe o burro por inteiro

Para que apanhem o carvo


Para a forja do ferreiro.
Aos senhores de Cova de Lua,
Damos-lhe a tripa do cagato
Para que nela levem a plvora
Quando forem para a caleira.
Aos senhores de Vilarinho,
Damos-lhe as tripas delgadas.
Como terra de tocadores,
Servem para cordas de guitarras.
Aos senhores do Parmio,
Damos-lhe uma parte da testa
Para que a ponham de memria
L no cimo da resta.
Aos senhores de Mas,
Que esto para ali escondidos,
Damos-lhe do burro as orelhas
Para tapar os ouvidos.
Ocorreu em Carragosa,
L do velho continente,
Que abateram um burro
Para dividir pela gente.
RECOLHA (1985) de Sebastio Agostinho Gonalves. Gondesende Bragana.

4. APODOS
APODOS 1
Cucos os de Terroso
Carunheiros os de Espinhosela
Rendidos os de Gondesende
Valentes os de Portela
RECOLHA (1985) de Sebastio Agostinho Gonalves, Gondesende Bragana.

APODOS 2
A fome nasceu em Sendas,
Foi baptizada em Travanca,
O pai era de Macedo,
E a me de Vila Franca.
Dali foi para Failde,
Depois viveu em Pa,

Foi morrer em Carrapatas,


Sendo enterrada em Grij.
Deixou os socos aos da Junqueira,
A carapua aos de Agrobom.
A fralda aos da Trindade
E a jaqueta aos de Valbom.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade

Alfndega da F.

APODOS 3
Em Viduedo Caretos
Os de Lano so Casqueiros
Os de Sortes Suviotes
Serapicos. Carvoeiros.
Os de Izeda Tranca Portas,
Em Carozinho so Chedes.
Vila Boa so Pelinchos,
Em Calvelhe Escaravelhos
Os de Valverde Lagartos,
E os da Freixeda Galegos
RECOLHA (1985) de Maria da Assuno P. Rodrigues Serra da Nogueira.

5. CASAMENTOS
Como antigamente demoravam os namoros, ou porque no havia meios de
transporte, pois vinham os namorados s ao domingo a p ou a cavalo, tudo
corria lentamente. Menos de dois ou trs anos, no se realizava o casamento.
As raparigas iam a um silvado. Amarravam uma silva. Prendiam-na na ponta,
para engrossar, em forma de arco. Servia para depois enfeitar com flores,
verduras, fitas e laos. Iam a casa do noivo busc-lo com o arco. sada
diziam-lhe loas:
Do tempo de solteira
No se h-de lembrar,
Pois o senhor fulano
H-de sab-la estimar.
A noiva ia para a igreja debaixo do arco, com o padrinho ou o pai. Ia um homem
com uma espingarda, que aguardava sada da igreja o fim da cerimnia.
sada diziam mais loas noiva:

Aqui tem este raminho


Abanadinho do vento.
Se o queria mais florido,
Casara-se noutro tempo.
senhora Maria Amaral
D boas tbuas
Para fazer uma espadela.
RECOLHA (1985) de Hermnia Trigo, Ferradosa Alfndega da F.

CASAMENTO DA VELHA
Palhas altas leva o vento!
Aqui se faz este casamento
Que por ns foi ordenado.
O ladro que o desfizer
Ficar excomungado.
Com quem ns havemos de casar Mrio dos Santos
- Com Ana bela que bem o h-de estimar.
O que lhe havemos de dar de dote?
- Uma sorte na Devesa para os dois trabalhar.
RECOLHA (1985) de Sebastio Agostinho Gonalves, Gondesende Bragana.

6. SERRA DA VELHA
SERRAR AS VELHAS 1
No Carnaval era hbito tambm serrar as velhas.
Com uma serra e um cortio iam porta das senhoras mais idosas e diziam por
exemplo:
Serramos a tia Emlia,
Por j ser muito velhinha.
A madeira que ela d
S serve para uma aduela.
Mais tarde, em vez de serrar as velhas, comeavam a faz-lo s novas,
cantando ou falando assim:
Agora serramos as novas,
Que as velhas esto carunchosas.
As madeiras que elas do
Servem para casas novas.

Serramos a Francisca,
Por ser rapariga bonita
A Madeira que ela d
Serve para fazer uma pipa.
RECOLHA (1985) de Olinda Pereira, Sambade Alfndega da F.

SERRAR AS VELHAS 2
Ao meio da Quaresma era hbito ir noite porta das mulheres velhas, que j
eram avozinhas. Os rapazes, com um cortio de espadar o linho e uma serra,
chamavam com algazarra:
Vamos serrar esta velha
Que est muito velhinha.
Ela nos vai a dar
Tbuas muito fininhas
Depois gritavam:
Ai minha av!...
Ai minha avozinha!...
Serra, Joo, que eu vou pelo po!...
Serra, Martinho, que eu vou pelo vinho!...
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.

7. CARNAVAL, TESTAMENTO DO ENTRUDO


ATORREAR
Quinze dias antes do Carnaval, iam os rapazes da aldeia para os altos mais
prximos, com funis grandes a que chamavam folhas, e lhes serviam de
altifalantes. Ali chamavam pelas raparigas, e em verso, davam a conhecer a
vida delas. Por vezes, isto irritava-as. (Uma quadra apenas).
fulana?...
Estou metida num poo!
Ainda antes de casar,
Requereste o divrcio.
Isto principiava pelas dez horas e prolongava-se at meia-noite ou mais.
RECOLHA (1985) de Olinda Pereira, Sambade Alfndega da F.

DEIXAS 1
Deixo Beatriz,
Por ser j espigadota,
Um funil e uma azeiteira,
Um fuso e uma roca.
Deixo Maria Cndida,
Por ser uma linda flor,
A caneta do Entrudo
Para escrever ao amor.
Deixo Maria Amlia,
Por ter bom corao,
A sombrinha do Entrudo
Para passear no Vero
RECOLHA (1985) de Olinda Pereira, Sambade Alfndega da F.

DEIXAS 2
Deixamos Maria Antnia
Por morar ao cantinho,
A gravata do entrudo,
Para dar ao Zezinho
Deixamos Angelina
Por ter bom corao,
Uma roca e um fuso,
Para fiar ao sero
Deixamos Aurora,
Por ser boa tecedeira,
Uma albarda sem cornicho,
Para quando for feira.
Essas meninas solteironas
No sei que esto a fazer...
O sol passou pela porta
E j se est a esconder.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.

PULHAS DO ENTRUDO

Maria, esta te quero notar!


J me deram por notcia
Que te ias a casar.
Maria, olha bem para o que fazes!
No deixes o Manuel,
Porque ele um bom rapaz.
Zulmira, raminho de salsa crua!
Quando vai ao p do Serafim
Pareces mesmo uma pirua.
RECOLHA (1985) de Antnio Alberto Cascais. Larinho Moncorvo.

CACADAS
Pelas proximidades do Carnaval havia o costume de pregar uns sustos, s
vezes a pessoas amigas, descuidadas de fechar a porta. Outras vezes, os
rapazes s namoradas, por partida.
Abriam-se as portas das pessoas, de mansinho, e atiravam-se pela casa fora,
coisas que causassem rudo. Usavam-se para isso bulhacos secos, cacos
partidos, e, por considerao, castanhas, amndoas e nozes.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.

ESPANTAR RATOS
Quando havia casamentos, era costume a rapaziada mais jovem juntar -se,
arranjando umas campainhas que os bois costumavam usar ao pescoo,
chocalhos tambm dos gados e latos, onde batiam com paus, e ir rondar a casa
dos noivos onde eles iam ficar, mais ou menos, na hora de tudo se deitar,
fazendo grande barulheira.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.

O CARNAVAL EM SAMBADE
Logo de manh cedo se sentiam as bombas a alertar a chegada do Entrudo.
Sentia-se o chiar dos carros, uns aps outros, muito enfeitados. Atrs deles
vinham rapazes montados em cavalos enfeitados com bexigas de porco, cheias
de vento para bater com elas na cabea das pessoas.

Em seguida, aparecia um rancho de raparigas e rapazes cantando ao som de


msica, muito enfeitados. Os rapazes traziam nas mos saquinhos com farinha
para enfarinhar o rosto das raparigas.
tarde, pelas 4 horas, tocavam os sinos anunciando que iam ler as Deixas do
Entrudo.
As Deixas so uns versos que um rapaz vestido de Carnaval l para toda a
gente ouvir, dedicadas s raparigas. Sobe a uma varanda, e em baixo est toda
a gente ouvindo. Vou escrever algumas delas:
Deixo Maria Antnia
Por ter o olhar fagueiro
As ceroulas do Entrudo
Para oferecer ao testamenteiro.
Deixo Belmirinha
Por andar devagarinho,
O Entrudo j a viu
A namorar num cantinho.
Deixo mais mana
Por se chamar Branca Flor
Os sapatos do Entrudo
Para oferecer ao amor.
Deixo Constncia,
Por ter bom corao
O chapu do Entrudo
P'ra ir feira no vero.
Ao anoitecer, vo enterrar o Entrudo. um boneco de palha dentro de um
caixo. Levam luzes, gua para benzerem o Entrudo. Um rapaz faz de padre,
cantando os responsos. Vai toda a garotada atrs, gritando com fora,
despedindo-se do Entrudo, at para o ano.
RECOLHA (1985) de Judite Morais Moreno, Sambade Alfndega da F.

VERSOS CANTADOS E RECITADOS NO CARNAVAL


Acrisolados irmos,
Em nome de Deus, A me.
Peo-vos toda a ateno.

Eu sou Silvino da Cunha Camelo.


Moro na rua do nunca a vi,
Nmero duzentos e dezadois.
Palavras so rotas
Do captulo catrozeno
Quem no come sarrabulho
No caga moreno.
E para mais certeza do mundo
Quem no sabe nadar
Bate l no fundo.
RECOLHA (1985) de Narciso Joo Torro Vicente Vimioso.

TESTAMENTO DO ENTRUDO 1
Testamento do Entrudo feito dia 26 de Maro do ano de 1952, por um
vimiosense que emigrou para o Brasil.
O Testamento era sempre lido no dia de Carnaval, na Praa desta Vila, frente
do Entrudo.
Durante o ano os acontecimentos de destaque, as cenas, rixas e discusses
passadas entre amigos, famlias e vizinhos, no dia de Carnaval saam para a
rua representadas ao vivo e ningum levava a mal. Como desde h muito se
diz Dia de Entrudo passa tudo.
A 1 parte deste Testamento refere-se chegada ao estrangeiro de um
vimiosense. A recepo que teve por todas as pessoas, principalmente pelo seu
irmo FAGO, o animador, o incentivador dos Carnavais passados nesta Vila e a
crtica a todas as meninas, rua por rua.
A 2 parte inteiramente dedicada a todos os comerciantes, pessoas de
renome nesta Vila.
A 3 parte composta pelo Testamento feito ao Entrudo, toda a sua vida e
profisses, tendo como final a crtica a todas as outras pessoas de Vimioso tais
como, sapateiros, taberneiros, alfaiates, proprietrios de Penses, cortadores,
fogueteiros, etc.
Para concluir e como no podia deixar de ser, um agradecimento a todos os
Coreanos pelo auxlio que deram a todo o grupo que compunha a contradana.
Concluso final; no dia de Entrudo de h mais de 30 (trinta) anos, a todas as
pessoas de Vimioso lhe era dedicada uma quadra. Estes dados foram obtidos
atravs de duas pessoas de Vimioso, com mais de setenta anos de idade.

TESTAMENTO DO ENTRUDO 1 Parte


Ora vivam, meus senhores,
A todos quero abraar,
Porque eu no tinha ideias
De este ano vos vir abraar.
A razo muito simples.
Eu vos a vou a dizer:
No queria vir a esta terra
Para tanta pena no ver.
Eu trago muita tristeza
Dentro do meu corao,
Por encontrar de luto
O meu querido irmo
Eu j estava desconfiado
Que alguma coisa se tinha dado.
Estvamos prximos a este dia
E sem me escrever o meu Fago.
Mas sempre tenho amigos
Que auxiliem meu irmo Fago.
Este ano vim a pedido
Da malta do Z do Telhado
Ele estava a duvidar
Que lhe aconteceria algum perigo.
At vinha receoso
De no ser bem recebido
Mas isso no aconteceu.
Tudo lhe guardou respeito.
Logo assim que chegou,
Ficou muito satisfeito.
O Cames estava alerta,
Com um foguete na mo.
Vai logo o Antnio Fago,
Deita-o que j vi meu irmo.

Ao chegar o grande homem.


Foi uma coisa de espantar!
Logo o Sr. Carvalho, deu ordens
Para a msica tocar.
Ele veio da Argentina,
Dum Pas belo e formoso,
Ver sua terra predilecta
E a gente de Vimioso.
Quando nesta terra entrou,
Ficou todo espantoso
Por ver tantas meninas
S a pedirem-lhe gozo.
to putanheiro
Que se no pode explicar,
Assim que lhe apiscou a uma
Julgou que era para casar.
As outras com inveja
Olham para ele a chorar
Mas ele logo lhe disse:
- Eu com todas no posso casar.
Para evitar questes
E no estar com maada,
Vou pedir informaes
Qual a mais bem comportada.
L vem o Argentinito
Dos centros da Argentina.
S veio a esta terra
Para escolher uma menina.
Logo que chegou aos Barreiros,
Deu ais da sua vida.
A nica que lhe agradava
Disseram-lhe que estava pedida.

Ao chegar Capela,
Junto com os seus companheiros,
Viu umas a namorar,
Outras casadas com pedreiros.
Ali no ficou contente,
Logo deixou tudo em paz.
Seguiu imediatamente
Para a rua de Trs.
Ao chegar rua de Trs
Pintava as trinta mil.
Eu sabia que as havia boas
Mas j se foram para o Brasil.
Ali no ficou contente
Com aquela grande embrulhada.
Logo se foi direito ao Jogo
Que ali s viu canalhada.
Logo que chegou ao Jogo,
C o nosso gigante,
Ouviu certas lnguas.
Pareciam um alto-falante.
Do jogo seguiu para cima.
Para rua da Calada.
Mas ali no lhe agradaram
No quis l demorar nada.
Seguiu para Caleja das Freiras
Muito bem prevenido;
Que no lhe falasse a nenhuma
Seno era atendido.
Olhou para uma janela,
Ficou todo admirado,
Por ouvir a uma menina:
- Queres danar o repassiado?

Espera a, rapariga,
Comigo ters que ter muita cautela.
No me faas saltar muito,
Seno vou-me j para a Portela.
Aqui paro pouco tempo.
Vou-me j para a outra banda.
No quero estas meninas,
Porque so todas da propaganda.
Na rua da Portela,
Delas tem que duvidar.
Podem-lhe dar alguma bebida
Para o obrigar a casar.
At logo saiu
Porque no lhe encontrou graa.
Fugiu directamente
Para o Largo da Praa.
Ao chegar ali,
Viu caras descaradas.
Pois eu a vs no vos quero,
Que j estais reformadas.
Vou-me j daqui embora.
Estas no me interessam nada.
Vou ver se me agrada alguma
Na rua da Malhada.
As raparigas da Malhada
Parecem umas redolhas.
Os rapazes de c no lhe ligam,
Tem que se agarrar aos trolhas.
Vou a partir daqui
Para a rua da Rapadoura.
No quero estas raparigas
Que vo com os rapazes para a manjedoura
Esta rua custa a passar

Por haver muito toleiro.


As meninas que h c
Valem pouco dinheiro.
Estas ainda no lhe servem
Por serem muito impreais.
De tanto que luxam,
J empenharam os casais.
Vou j daqui embora,
No posso mais demorar.
A rapariga do meu ideal
No Fundo da Vila devo encontrar
Estou cheio de percorrer,
At j me sinto cansado,
J corri as ruas todas,
E se mal de carro, pior de arado
At parece impossvel!
Estou mesmo contrafeito.
Correr Vimioso todo
E no encontrar uma menina de jeito.
Rapazes de Vimioso,
Tanto velhos como novos!
No queirais raparigas de c,
Ide por elas aos povos!
Vs no queirais casar c,
Ide por elas s aldeias!
Sois rapazes to pimpes,
E as raparigas todas feias.
Esta vida no me agrada,
No perco mais um instante.
Vou tratar dos meus negcios,
Ali com um comerciante

TESTAMENTO DO ENTRUDO 2 Parte

S veio a Portugal
Para dois negcios tratar.
Viu o comrcio do Morais,
Tratou logo de entrar.
Ali pouco tinha que fazer.
No eram negcios da sua qualidade
Adeus caro amigo,
Vou tratar com o Frade.
Ora viva senhor Frade,
Como est como passou?
Eu trago um bom negcio
Que ainda ningum dele se lembrou.
Bons negcios para mim?
Custa-me a acreditar,
Mas voc parece srio;
Faz favor de se sentar.
Ento que negcio que voc tem
Para ser to encoberto?
Olhe bem para mim,
Que eu tambm sou esperto!
Ao ouvir aquilo,
Deu-lhe um choque o corao.
O negcio que quero fazer
S sendo com o Martins e Irmo
Quando dentro entrou,
Ficou todo admirado.
Disse l para ele:
- No sairei daqui roubado.
Vou-me j embora.
No negoceio em envelopes.
Quero negociar em peles,
Em casa do Antoninho Lopes.

Chegou o Antoninho Lopes,


J ia fugindo o dia.
Com ele no pude negociar,
Porque andava na orgia.
J veio um bocado tarde,
Porque vinha l do fado.
O negcio das ls no comigo,
com o meu empregado Fago.
Se com o Antnio Fago
Safo-me nesta ocasio,
Mas mandaram-me acautelar
Porque ele rouba para o patro
Vou-me j daqui embora.
J no me tenho de p!
Vou a tratar do negcio
Com o Jos Virol.
Antes de entrar para l,
Algum o tinha avisado
Tenha cuidado, amigo,
Que da vai sair roubado
Quando dentro entrou,
Tratou de o cumprimentar.
Diga l em que negoceia
Para comigo tratar?
Negoceio em castanha e po.
Aqui outra coisa no h!
No me serve esse negcio,
Vou-me para casa do Tt.
Ele logo assim que o viu,
Mandou entrar o cavalheiro.
Para negociar comigo,
preciso trazer dinheiro!
O que o senhor quer dinheiro,

J no h que duvidar.
Adeus, caro amigo,
Vou com o Rodrigues falar.
Ao entrar no Jos Rodrigues,
Tudo lhe causou espanto.
Por ver tanto freguesia,
Todas tendeiras do Campo.
Quando viu o grande homem,
Tratou logo de o atender.
Diz logo para a criada:
- Traz-lhe alguma coisa para comer
Obrigado, meu amigo,
J vejo que grande artista!
Vejo j na sua treta
Que parece ser vigarista!
At logo, grande amigo,
J me vou a retirar.
Meteu-se na copofonia,
No o posso aturar.
Ao entrar no Jlio Buga,
Como de nada sabia,
Viu-o andar a passear,
Por no ter freguesia.
Da voltou para trs.
Torceu sua carreira
Para fazer negcio bem feito,
Em casa do Fernando Barreira
Ficou muito admirado
Com a freguesia que tinha.
Mas, no se admira nada,
Que grande treta tem a Isabelinha
Dali retirou logo,
No se fez l muito velho.

Foi logo cumprimentar


O amigo Senhor Coelho.
Nele viu muita seriedade,
No patro Senhor Coelho.
Mas j se via roubado
Pelo caixeiro mais velho.
Diz ele l para o caixeiro:
- Eu em ti j no me finto.
O Patro no quer que roubes,
Vou-me ao comrcio Pinto.
Ao entrar no Antnio Pinto,
Viu que era um grande artista.
Olhou para o Joo Pinto
E tinha cara de contrabandista.
Logo que o viu careca,
Isto no so grandes fins.
Vou-me j a retirar
Para o Alfredo Martins.
Ao entrar no estabelecimento,
Cumprimentou o grande senhor,
E antes de falar mais nada,
Viu que era hipnotizador.
Assim que o cumprimentou,
E via que tinha trabalho,
Venha c grande amigo
Vamos ao caf Carvalho
Ali tomaram cerveja
E mais bebidas do seu agrado.
Vou acabar o negcio
Em casa do Zecas Machado.
J vejo que descarado,
Na sua cara o desengano,
Com o senhor no fao negcio,

Que tem latim de cigano.


Para acabar com tudo,
Vou-me meter no fado.
Mando chamar os coreanos,
E a malta do Z do Telhado.
que bela malta.
Para comigo andar!
Onde moram as nossas raparigas?
Que porta lhes quero ir cantar.
Andamos at altas horas
No fado, linda cano.
O cantar-lhe s raparigas
Consola-me o corao
Por mim no me lembraria
De vos ir apartar.
Mas, esta festa so trs dias,
E mais tempo no pode durar.

TESTAMENTO DO ENTRUDO 3 Parte


Senhores e Senhoras,
Prestem toda a ateno!
Vamos ler o testamento
Que D. Entrudo nos deixou
Senhores, que me ouvem,
Faam favor de escutar
Aquele homem que
Seu testamento vai notar.
Em trs dias se resume
A sua vida folgada,
Por ser amante, de Vimioso,
No abandona a rapaziada.
Seu pai era tocaio,
Sua me Dona Gertrudes.
Todas as suas manas

Senhoras de grandes virtudes


A mais nova, coitadinha,
Gostava dum capito
Foi para o pobre Entrudo
A primeira satisfao.
A segunda mais matreira
Namorou-se dum Doutor.
Foi para o pobre Entrudo
A segunda satisfao melhor.
A terceira era bem boa
Mas era pouco leal
Um rapaz pediu-lhe um beijo
E meteu-o no tribunal
Ora vejam a pouca sorte
Que para mim traz alegria
Ainda para dar mais escndalo
Foi parar moraria.
Para esquecer as melancolias
Destas grandes confuses,
Bebeu durante o dia
Meia dzia de garrafes.
E durante a sua vida,
At morte, coitado,
Com palheto e carrasco
que andava alimentado
Por isso tambm, s vezes,
Lhe doa o corao,
E como no ser assim
Se tinha aguda leso?!
Mas foi o rei da ramboia,
Da pardia foi o rei.
Que houvesse outro melhor,
Nunca no mundo achei

Como ele fosse muito rico,


Tivesse muito dinheiro,
Deu-lhe para viajar
Percorrer o mundo inteiro.
Mas se ele tinha dinheiro
Tambm tinha aptides,
Que a par de bordaleiro
Lhe deram colocaes
Foi ministro, deputado,
Foi notrio, foi doutor;
Foi marinho, foi soldado,
Foi alferes procurador
Foi capito, general
Foi marujo, foi cantor;
Foi na terra o principal,
Chegou a ser prior
Foi abade, sacristo.
Foi polcia carcereiro;
Foi esbirro, foi escrivo,
Lavrador, pantomineiro.
Foi pintor, foi sapateiro.
Danarino e marchante;
Bispo, foi engenheiro,
E tambm negociante.
Foi patife, foi honrado.
Trabalhador e madrao;
Foi caixeiro, foi pastor,
E cozinho de regao.
Ele teve todos os vcios
Como todas as virtudes.
Em casa s ramboia,
Com vinho sempre aos almudes.

J prestes a morrer...
Sinto-me muito agoniado.
O que no posso esquecer-me
Da malta Z do Telhado.
Baltazar e Z Pequeno,
E tambm o Ferrador.
Z do Telhado e Simo
E Srgio o vingador
Agradeo a toda a gente
Que se encontra a meu lado,
Mas acima de todos,
Coreia e Z do Telhado.
Comisso do Carnaval
So homens muito honrados.
Para me trazer a Portugal
Ficaram todos empenhados
Z do Telhado e Z Pequeno
No sei qual o mais planeta.
Um empenhou as tesouras,
E outro empenhou a caneta
O Simo e Baltazar
So muito amantes da farra.
Um empenhou a sobela,
E outro empenhou a guitarra.
O Srgio e o Ferrador,
J no lhe dou mais maada,
Um empenhou a mula velha,
E outro empenhou a enxada.
Aos amigos da terra,
No os quero desprezar,
Vou fazer um testamento
Do que lhe hei-de deixar.
senhora Conceio,

Muita coisa lhe quero deixar.


700 travessas de ferro
Para a casa especar.
Ao senhor Jos Diz,
Tambm o quero auxiliar,
Deixo-lhe a minha criada
Para os hspedes despachar.
Deixo amiga Cesria
A bolsa do meu dinheiro,
Para mandar fazer quartos,
Para o fandango no ir para o palheiro.
Deixo ao amigo Z Toto,
Como a freguesia tanta
O vinho melhor de Sendim
Para que tenha mais garganta
Deixo ao Chico do Barranco,
A todos mais que tudo.
Como tem pouca barba,
Demos-lhe os do Entrudo.
Deixo ao Joo Neto
Uma balana sem pilo,
Para pesar o trigo
E a mulher enterrar a mo.
Deixo tambm ao Izidro
Uma biblioteca sem livros,
Para no andar pelos cabeos
Sacrificar seus filhos.
Ao Amigo Liberdade
Tambm o quero contemplar,
Deixo-lhe uma fragoneta sem motor
Para o filho guiar.
Ao amigo Garra
No o posso desprezar

Deixo-lhe um caixeiro novo


Para os fregueses despachar.
A amiga Procpia,
Tambm lhe quero deixar
5 Reis de pacincia
Para o homem aturar.
Deixo ao Antnio Gigante
As agulhas e seus cordes
Para poder consertar
Albardas molidas e colheres
Deixo ao Manuel X
Um vago de cereal
Para atrair as pombas
Para o seu rico pombal
Tambm deixo ao Duarte
O livro das oraes,
Para ajudar missa
Em certas ocasies
Ao amigo Cames,
Nada lhe posso deixar,
Devido grande indstria
Com o fogo vai acabar
Ao senhor Carvalho e Branquito
Muito tenho que lhe deixar
3500 cadeiras
Para o cliente se sentar.
Ao Anbal Doutor,
Como est para ali sozinho,
Deixo-lhe um ferro para jogar a barra,
Seno, no gasta o vinho
Deixo ao amigo Barroso
As esporas e umas luvas
Para andar pelos povos

A intimar as testemunhas.
Ao amigo Branquito,
Tambm tenho que deixar,
Deixo-lhe a minha espingarda
E o co para caar.
Ao Ferraz e Guarda-rios
No os posso esquecer
Deixo-lhe um peru e um frango
Para com o Bernardino comer.
O Bernardino, desconfiado,
Isto no quis aceitar,
Entrou logo para dentro
E seus objectos foi guardar.
Ao Carr Procpio e Jag,
Emlio, e alguns mais
Deixo-lhe um grande presente
O pipo do Z Morais.
Lico Eduardo e Beiola,
Muito tenho que lhe deixar,
Deixo-lhe um barco bom
Para no Brasil se irem juntar.
Ao amigo Joo Joo
Deixo-lhe a panela e o taxo
E para mais se entreter,
Uma rede e um mingaxo.
Ao Jos Maria pote,
Como homem pacato,
Deixo-lhe para cada dia
3 arrobas de tabaco
Ao meu amigo Xastre,
Tambm tenho que lhe deixar;
Uns culos de meia-idade
Para ver a trabalhar

No posso esquecer
O meu amigo Candidinho,
Deixo-lhe a minha cadela
Para lhe ensinar o caminho.
Tambm deixo ao Mosgata
Como meu inimigo,
Uma espingarda sem canos
Para nunca dar um tiro.
A vs, rapazes solteiros,
Vou dar-vos uma lio:
No namoreis raparigas de menor
Que a vossa perdio.
Elas fazem-se inocentes.
Isto um caso fatal.
Quando lhe chega o aperto,
Vo com vs para o Tribunal.
Ao amigo Joo Costela,
Como o mais impertinente,
Deixo-lhe para matar o bicho
10 litros de aguardente.
Ao Carlos do Z Joaquim,
Tambm lhe deixo uma lembrana,
Por fazer os cales bem feitos
Para a nossa contradana.
Ao meu amigo Petrela,
Tambm no o posso esquecer
Deixo-lhe uma batuta
Para a banda reger.
A contradana, Z do Telhado
No a posso esquecer
Porque muito bem trabalharam
E a todos fizeram ver.

s nossas Coreanas,
Tenho muito que agradecer,
Porque ofereceram um bom presente
Para os da contradana comer.
Ao senhor Manuel Silva,
Muito o tenho que considerar.
Ps a sua casa s ordens,
Para os da contradana se prepararem.
Perdoai-me se vos ofendi?
Mas a vida mesmo assim.
Gozai, enquanto tempo
Porque tudo isto tem fim.
Adeus, rapazes e raparigas,
Chegou a hora da partida.
Para o prximo ano estarei
Nesta terra to querida
E com isto termino,
No vos quero mais maar.
Adeus, at para o ano!
Tenho ideias de c voltar.
RECOLHA (1985) de Narciso Joo Torro Vicente Vimioso.

3 ADIVINHAS
UMA ADIVINHA
Uma filha de D. Afonso Henriques mandou publicar uma ordem.
Casaria com um rapaz que lhe fizesse uma adivinha, que ela no adivinhasse.
Muitos foram e ficaram sem nada. Por acaso, ali numa aldeia, havia uma
mulher que tinha um filho, que no era bem acabado. No entanto, o dito rapaz
soube-o e foi dizer me que queria ir fazer a adivinha filha do rei. Por isso,
que lhe fizesse a merenda.
A me, coitada, tentou desvi-lo de tal lembrana, porque via que ele era tolo.
Mas no houve meio. E foi.
A me fez-lhe a merenda, mas deitou-lhe veneno, para que no fosse a ser mal
tratado e morresse no caminho.
Anoiteceu, e o rapaz deitou-se, no caminho.
Ora a burrinha em que foi a cavalo comeu-lhe a merenda e morreu. Foram trs
ces e morreram tambm. Foram mais sete corvos, e morreram.
Ele que faz?
Abre a burra, tira-lhe uma burriquinha que levava dentro. Tira-lhe uma correia
do lombo, e l foi presena da rainha, a fazer-lhe a adivinha.
Diz-lhe:
- Olhe, menina Maria, (que era a me) matou panda. Panda matou trs. Trs
mataram sete. Ando a cavalo, em quem nunca nasceu. Trago a me na mo.
Ora a rainha no adivinhou, mas como via que era tolinho, mandou-o para a
casa dos bichos. Mas, no caminho encontrou uma velhinha que lhe perguntou:
- Onde vais, rapaz? Disse-lhe tudo, o que se tinha passado, e a velhinha,
deu-lhe uma varinha mgica. Recomendou-lhe que pedisse varinha tudo o
que ele precisasse.
O rapaz, logo que chegou casa dos bichos, pediu varinha, e ps tudo a
dormir.
No fim de trs dias, a rainha j tinha casado com outro. Ele fez acordar o
escaravelho. Ordena-lhe que v noite cama dos noivos, e lhe deitasse os
intestinos fora.
Ora a rainha, desde que se viu naquele estado, desfez o noivado. Mandou-o
para a casa dos bichos e casou com o que supunha tolo.

RECOLHA (1985) de Sinfrsia do Patrocnio Rodrigues Marcos Alfndega da F.

ADIVINHA SEM RESPOSTA


Era uma vez um homem que passava ao p de um rapazito.
Perguntou-lhe:
- Tens pai?
Ele respondeu: - Tenho.
- Ento o que que ele anda a fazer?
O rapaz respondeu-lhe:
- Anda no campo dos arrependidos.
- Tambm tens me?
- Tenho.
- Ento o que ela faz?
- Anda a cozer o po que comemos na semana passada.
- Tens mais irmos.
- Tenho um irmo.
- O que que faz?
- Anda caa. Os que v, mata-os. Os que no v, carrega-os para casa.
O homem foi-se embora pensativo, sem saber o que o rapaz queria dizer com
as respostas que lhe deu.
RECOLHA (1985) de Artur dos Santos Madureira, Alfaio Bragana.

ADIVINHAS 1
meia-noite se levanta o francs.
Sabe das horas, no sabe do ms.
Tem esporas, no cavaleiro.
Tem serra, no carpinteiro.
Tem pico, no pedreiro.
Cava no cho, no acha dinheiro.
Resposta: o galo.
meia-noite se levanta o francs.
Sabe da hora e no sabe do ms.
Tem coroa e no rei.
Tem esporas e no cavaleiro.
Pica na terra e no ganha dinheiro.
Resposta: o galo.
Sou verde por natureza,
E de luto me vesti,
Para dar a luz ao mundo

Mil tormentos padeci.


Resposta: a azeitona.
Tenho um brinco com que brinco.
De tanto brincar me aborreo!
Quanto mais brinco com o brinco,
Mais a barriga lhe cresce.
Resposta: o fuso com a maaroca.
Eu ao mundo dou governo,
Ao mundo governo dou.
Quando se esquecem de mim,
O meu governo acabou.
Resposta: o relgio.
Eu rindo-me, abro a boca,
Deito fora do meu peito
Uma menina mais linda que eu!
Quem a leva vai contente,
Eu fico com quem me deu.
Resposta. o ourio.
Tem asas e no voa,
Tem pernas e no anda.
Tem barriga e no come
E d de comer a quem tem fome.
Resposta: o pote.
s direitas um afecto,
Ora firme ou inconstante.
s avessas cidade
Da Europa muito importante.
Resposta: Roma.
s avessas, ser nome
Bem fcil de decifrar.
As direitas, s noite
Se poder contemplar.
Resposta: Lua.
Marme, se as ondas do mar fadais l
Se um d e um a lhe acrescentais
Certo que adivinhais.
Resposta: marmelada.
Qual o nome duma terra portuguesa e est nas portas?
Resposta: Chaves.
O que que , que mal entra em casa, logo se pe janela?

Resposta: o boto.
RECOLHA (1985) de Judite Morais Moreno, Sambade Alfndega da F.

ADIVINHAS 2
- Sou filho de pais cantantes, minha me no tinha dentes nem nenhum dos
meus parentes, sou todo calvo e o meu corao amarelo.
Resposta: ovo.
- Qual a coisa, qual ela que quanto mais quente est mais fresca ?
Resposta: po.
- Estando os rus na sua casa veio a justia para os prender.
Saram as casas pelas janelas e os rus foram presos.
Resposta: peixes no mar a serem pescados pelas redes.
- Alto est, alto mora, toda a gente o v e ningum o adora.
Resposta: Sino.
- meia hora levanta-se o Marqus,
Sabe da hora e no sabe do ms,
Tem esporas e no cavaleiro,
Cava na terra e no ganha dinheiro.
Resposta: Galo.
- Qual a fmea afamada,
ligeira e bem decidida,
que at mesmo sendo macho
ser fmea toda a vida.
Resposta: Lebre.
- Semeio tbuas, nascem cordas e colho pipotes.
Resposta: abboras.
- A minha madrinha vai de costas,
o meu padrinho vai em cima,
a minha madrinha aberto o tem,
o meu padrinho mete-lo bem.
Resposta: moinho.
- Gado mido, terra mimosa onde pousa deixa uma rosa.
Resposta: a pinga (vinho) no cobertor.
- Uma senhora muito bem assenhorada
nunca sai rua e anda sempre molhada.
Resposta: Lngua.
- D-lhe a riza de dentro para fora do seu peito, do seu dono que o proveito.
Resposta: castanha, castanheiro.
- Saco-to duro
Meto-to brando,
Sai vermelhinho

E respingando.
Resposta: o ferro trabalhado pelo ferreiro.
RECOLHA 2005 SCMB Ana Maria Domingues, Idade: 86.
Localizao geogrfica: Mas, ORIGEM + 60 anos.

ADIVINHAS 3
- Tenho um estenda e encolhe,
s serve para as raparigas,
dou-lhe o que elas querem
e tiro-lhe o que elas tm.
Quando lhes dou o ar
esto-se elas a consolar.
Resposta: leque
- Vamos para a cama
a fazer o que Deus manda,
juntar plo com plo
e o rapadinho no meio.
Resposta: olho.
- Peludo por dentro,
peludo por fora
ala-lhe a perna
e mete-lho agora.
Resposta: meia.
RECOLHA 2005 SCMB Fernanda da Luz Martins, Idade: 78,
Localizao geogrfica: Terroso ORIGEM + 50 anos

ADIVINHA 4
- Verde foi o meu nascimento
E de luto me vesti
Para dar luz ao mundo
Mil tormentos padeci.
Resposta: Azeitona/azeite.
- Alto como o sino,

Verde como o linho,


Doce como o mel
E amarga como o fel.
Resposta: nozes.
RECOLHA 2005 SCMB Margarida Pires, Idade: 70+.
Localizao geogrfica: Conlenlas ORIGEM + 50 anos.

ADIVINHAS 5
- Uma Igreja branca
sem porta nem tranca.
Resposta: Ovo.
- Qual a coisa qual ela que passa o rio e no molha o p.
Resposta: pssaro ou um vitelinho na barriga de sua me.
- Uma meia meia feita
outra meia por fazer,
diga l quantas meias
vo a ser?
Resposta: metade da meia.
RECOLHA 2005 SCMB EDITE DO ESPRITO SANTO GOMES, Idade: 70+.
Localizao geogrfica: VINHAIS ORIGEM + 50 anos.

ADIVINHAS 6
-Porque que os ces malhados correm melhor que os outros?
Resposta: Porque com a malha (tareia) fogem mais rpido.
-De 10 pombas no jardim d-se um tiro a 3, quantas pombas ficam no jardim?
Resposta: As 3 que morreram porque as outras fugiram com medo.
RECOLHA 2005 SCMB, LUS FERNANDES, Idade: 77.
Localizao geogrfica: MOFREITA ORIGEM + 50 anos.

ADIVINHAS 7

- Em cima de ti me ponho,
Em cima de ti me abano,
Seno me meto todo,
Todo me desgrenho.
Resposta: Sapato.
- Muitas meninas numa varanda
Todas choram para a mesma banda.
Resposta: Telhas.
- O que est l no alto todo arreganhadinho? Pergunta o lobo:
Viste passar por aqui 100 meirinhos, 1 periquito e 2 saltes?
Resposta: no alto as castanhas, os 100 meirinhos so ovelhas, o periquito
pastor e os saltes so os ces de guarda.
- Deus vos d bom dia Sra. Viscondessa!
Vistes passar por aqui um senhor da verga tesa?
Deixa-me meter o meu lombo no teu redondo!
Deixava, deixava mas novo e est rapado,
Quando estiver peludo mandarei recado.
Resposta: O senhor o cavalo, o redondo um campo depois da cegada.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA AMLIA MORAIS, Idade: 81.
Localizao geogrfica: SANTA COMBA DE ROSSAS ORIGEM + 50 anos.

ADIVINHA 8
Alto foi o meu nascimento
E de lanas rodeada
Vivi com as minhas irms
Dentro de casa fechada
Mas um dia
Com um belo riso
Minha casa abandonei
Passa ali um viajante
Colhe-me de mo segura
Sem capota nem camisa
lana-me na sepultura
Resposta: Castanha
RECOLHA 2005 SCMB, EURICO FERNANDES, Idade: 71,
Localizao geogrfica: MOFREITA ORIGEM + 50 anos

ADIVINHAS 9
- Qual a coisa qual ela que quanto mais alto est mais se lhe chega?
Resposta: a gua no poo.
- Era uma vez um homem que foi preso e no lhe davam de comer na cadeia.
A sua filha que tinha tido um beb h pouco tempo ia-o visitar todos os dias,
sendo todas as vezes tambm revistada. Os guardas achavam tudo muito
estranho, porque apesar de nunca encontrarem comida levada s escondidas
pela filha, a verdade, que o preso estava sempre a engordar! Nisto os
guardas resolvem perguntar filha como que aquela situao acontecia,
ento a filha diz-lhes que lhes daria a resposta em forma de adivinha, mas que
se no adivinhassem tinham que deixar o pai livre.
A adivinha dizia ento:
J fui filha, agora sou me, ando criando filhos dos outros, maridos da minha
me!
Resposta: a filha amamentava o pai.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA DE LUZ SALES, Idade: 79.
Localizao geogrfica: BEMPOSTA ORIGEM + 50 anos.

ADIVINHA 10
- Somos sete irms, eu a primeira que nasci sou a mais nova como pode ser
assim?
Resposta: A primeira semana das sete da Quaresma quarta-feira de cinzas.
RECOLHA 2005 SCMB, LUCINDA RAMOS, Idade: 88.
Localizao geogrfica: MOREDO ORIGEM + 50 anos.

ADIVINHA 11
Era uma vez um rapaz que foi roubar peras ao quintal do vizinho. Da pereira
comeu, levou e deixou, agora diga l quantas peras l ficaram?
Resposta: uma pra, pois comeu uma, levou outra e ainda l deixou outra.
RECOLHA 2005 SCMB, SALOM DOS ANJOS, Idade: 83.
Localizao geogrfica: ESPINHOSELA ORIGEM + 50 anos.

ADIVINHAS 12
- Qual a coisa qual ela que est na cidade e tambm nas portas.
Resposta: Chave.
- A mulher dura, mais dura que ainda fura, meto o duro no grosso, ficam os
dois pendura.
Resposta: Brinco/orelha.
RECOLHA 2005 SCMB, GRACINDA DOS SANTOS, Idade: 93.
Localizao geogrfica: VINHAIS ORIGEM + 50 anos.

ADIVINHA 13
- O que so 100 meirinhos, 100 maranhes, 1 periquito e 2 saltes?
Resposta: os meirinhos so ovelhas, os maranhes so cordeiros, o periquito
o pastor e os dois saltes so os ces de guarda.
RECOLHA 2005 SCMB, CARLOS ALA, Idade: 92.

Localizao geogrfica: OUTEIRO ORIGEM + 60 anos.

ADIVINHAS 14
- Chamo-me Joo Pesares o mundo de mim se fia, trago os dringos drangos
presos pela barriga.
Resposta: balana.
- Varilha, Varilheta
nem verde nem seca,
nem hoja nem rama,
com um cuchillo se corta
sem ser regada.
Resposta: a colmeia.
RECOLHA 2005 SCMB, ENGRCIA NASCIMENTO BRANCO, Idade: 79.
Localizao geogrfica: GUADRAMIL ORIGEM + 60 anos.

ADIVINHAS 15
Alto picoto
Alto picoteiro
Quando vem o ms de Outubro
D-lhe a risa e cai o dinheiro.
Resposta: Castanheiro.
Abenoada a rvore
Que num ano d quatro frutos
D bugalhos e bugalhos
Bolotas e massacucas.
Resposta: Carvalho.
RECOLHA 2005 SCMB, DIAMANTINO FERNANDES, Idade: 72.
Localizao geogrfica: GONDESENDE ORIGEM + 50 anos.

ADIVINHAS 16
- Peludo por dentro, rapado por fora, ao met-lo no sabe a nada, ao tir-lo
sabe bem.
Resposta: Bota do vinho.

- Fmea nasci, macho vim a ser e fmea vim a morrer.


Resposta: Sal.
- Um nervo teso e duro mete-se num buraco escuro sai de l a pingar e agora o
sol vai secar.
Resposta: Caneta/tinteiro.
- L vem o meu amigo:
- Queres-me aqui ou na cama?
- Quero-te aqui que lhe tenho mais gana.
Resposta: O Sono.
- Dois redondos, um comprido e entre as pernas vai metido.
Resposta: Bicicleta.
- Um pai que tem 12 filhos e 30 netos metade brancos e metade pretos.
Resposta: Um ano, com 12 meses e trinta dias e noites.
- Sento-me no cho, meto-me entre as pernas e com toda a suspeita fico com a
bandeira direita e para me comer tem que me morder.
Resposta: asseiro do linho.
- Tenho muito molho quanto mais me puxa mais eu encolho.
Resposta: peixe no rio.
- Uma casa quadrada com quatro cantos, entra em casa e d volta a todos os
cantos.
Resposta: uma vassoura.
RECOLHA 2005 SCMB, ANTNIO AUGUSTO, Idade: 84.
Localizao geogrfica: GONDESENDE ORIGEM + 60 anos.

4 QUADRAS POPULARES
QUADRAS POPULARES 1
Sei um saco de cantigas,
Ainda mais um guardanapo.
Quem quer vir ao desafio,
Venha, que eu desato o saco

Cantigas ao desafio,
Comigo ningum as cante.
Tenho quem mas ensine;
O meu amor estudante
O meu amor e o teu,
Andam ambos na ribeira.
O meu, anda erva cidra,
O teu, erva-cidreira.
No olhes para mim, no olhes,
Que eu no sou o teu amor.
Eu no sou como a figueira,
Que d fruto sem dar flor.
Aqui estou tua porta.
Como um feixe de lenha!
A espera da resposta,
Que da tua boca me venha.
MaIo haja o gro-de-bico,
E mais o feijo guisado.
MaIo hajam esses olhos,
Que tanto so do meu agrado!
Tenho na minha janela
Tulipas at ao cho.
Quando te vejo falar com outra,
So facadas que me do.
No me namora teu ouro,
Nem os brincos das orelhas.
Namoram-me esses teus olhos,
Por baixo das sobrancelhas.
L te mandei um raminho
De cravos e cravelinas,
Por no te poder mandar
Dos meus olhos as meninas

Tenho dentro do meu peito


Um ramo de violetas
O dia que te no vejo,
De roxas, tornam-se pretas.
Andorinha que esvoaas,
Tem cuidado no subir.
Quem ao mais alto sobe,
Ao mais baixo vem cair.
Uma me que o filho embala
As vezes, pe-se a chorar,
S por no saber a sorte
Que Deus tem para lhe dar.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.

QUADRAS POPULARES 2
Deitei o cravo ao poo
E a rosa ao chafariz.
J foste amada d'outro
J para mim no servis
Deitei o cravo ao poo
Fechado, mas saiu-me aberto.
um regalo na vida
Enganar a quem esperto.
A gua daquela serra
Por canos vem cidade.
Ningum deixe por dinheiro
Amor da sua vontade.
Por cima sega-se o po,
Por baixo fica o restrolho.
Menina, no te namores
Do rapaz que pisca o olho.
RECOLHA (1985) de Altino do Nascimento Silva Vimioso.

QUADRAS POPULARES 3
Foste falar a meu pai
parede do Lameiro.
Se querias casar comigo,
Falavas-me a mim primeiro
A luz daquela candeia
Tem mil cravos no morro.
Tambm eu tenho mil penas
Dentro do meu corao14
Fui fonte p'ra te ver,
Ao rio p'ra te falar.
Nem na fonte nem no rio,
Nunca te pude encontrar.
ferreiro, casa a filha,
No a deixes na janela,
Que anda o magano na rua,
Pois no tira os olhos dela.
As estrelas no cu correm,
Todos numa carreirinha.
Tambm os segredos correm
Da tua boca para a minha.
guia que vais to alta,
Por essas terras alm!
Leva-me ao Cu, onde tenho
A alma de minha me.
Que lindo boto de rosa
Aquela roseira tem!
Debaixo no se lhe chega,
E acima no vai ningum.
O corao e os olhos
So dois amigos leais.

Quando o corao tem penas,


Logo os olhos do sinais.
Oh! Minha me, minha me!
Oh! Minha me, minha amada!
Quem tem uma me tem tudo.
Quem no tem me, no tem nada.
Quem me dera ver agora,
Quem agora me aqui lembrou.
Amorzinho da minha alma,
Que to longe de ti estou!
RECOLHA (1985) de Judite Morais Moreno, Sambade Alfndega da F.

DIA DE S. MARTINHO (11 DE NOVEMBRO)


Neste dia costume algumas pessoas andarem pelas casas, provando os
vinhos novos com castanhas assadas. Quando se sentiam animados com as
provas cantavam assim:
Era o vinho, pois era o vinho
Era a coisa que eu mais adorava!
S por morte, mesmo s por morte,
que o vinho eu deixava.
Ai! Da adega fiz a sepultura
Ai! Do tonel fiz o caixo.
Eu sou o pai da ramboia.,
Quero morrer com o copo na mo.
Como podem as pessoas;
No dia de S. Martinho.
Honr-lo desta maneira:
Com bailes e jarras de vinho!
RECOLHA (1985) de Judite Moreno, Sambade Alfndega da F.

QUADRA ALUSIVA A S. MARTINHO


Meus Senhores, Boa Noite lhes venho dar

festa de S. Martinho, temos muito que festejar


Tambm os senhores da mesa eu quero saudar
Que Deus lhes d muita sade para esta casa orientar
Ns idosos estamos na Terceira Idade
Se no fosse a Santa Casa onde nos iramos arrumar
Porque junto ao fim ningum nos quer aturar
Mas isto uma roda! Roda, roda sem parar
So uns a sair e outros a entrar
Tambm as nossas empregadas eu no quero deixar
Que Deus lhes d muita sade para nos acompanhar
Tambm aos nossos tocadores lhes quero dizer muito obrigado
Que venham por aqui muitas vezes para cantarmos o fado
Agora vou terminar que a garganta no me ajuda
Quero-a mandar limar com uma laranja madura
RECOLHA 2005 SCMB, ABLIO AUGUSTO GONALVES, Idade: 94.
Localizao geogrfica: MS ORIGEM + 50 anos.
(AUTORIA DO SR. ABLIO GONALVES)

A MONDA DOS TRIGAIS

15

Quando a gente precisava de mondar os trigos, isto , tirar-lhe toda a erva,


chamavam-se mulheres para arranc-la.
A dona do trigal j sabia que tinha que ir ver como corria o trabalho.
Cantavam todo o dia, conversavam e criticavam. Dava o tempo para tudo.
Mas elas, de vez em quando, olhavam para o caminho, e mal viam a dona
chegar, comeavam a cantar assim:
Que gente aquela,
Que vem ao pendo?
a menina fulaninha, (diziam o nome)
Com o seu batalho.
Ento faziam um raminho de florinhas que havia no trigal e entregavam dona.
Pois em troca se lhe entregava um pacote de rebuados. J h alguns anos
que este trabalho foi substitudo por curas e assim terminaram as mondas.
Mondai, mondai, mondadeiras!
Cantai as vossas canes,
Que se espalhem pelos ares,

Alegrando os coraes.
RECOLHA (1985) de Judite Moreno, Sambade Alfndega da F.

REIS 1

16

costume nesta aldeia comear a cantar os reis mal principia o ano, includos
nas Boas festas. Renem-se aos grupos, mais velhos ou mais jovens, e
procuram as casas, que melhor vem, que os podem convidar.
Boas festas como estas,
Cantam-se aos Reis e aos fidalgos.
Tambm ns os cantaremos,
A estes senhores honrados.
Quem diremos ns que viva,
Na toninha da cebola?
Viva l o Sr. Manuel,
E mais a sua Senhora.
Quem diremos ns que viva,
Na folhinha do ldo?
Viva l o Sr. Carlos
Que um belo cidado.
Quem diremos ns que viva,
Na folha da salsa crua?
Viva l menina Aurora
Que alumia toda a rua.
Oh! Que lindo pinheirinho!
Onde ele veio nascer!
Vivam os donos desta casa
Que nos ho-de dar de beber.
Levantem-se l, senhores,
Desses seus talhos dourados.
Venham-nos a dar os Reis
Que j os temos bem ganhados.
Vm depois a dar frutas como mas, nozes, figos secos, s vezes chourias,
etc. que o grupo guarda para no fim comerem juntos em qualquer das casas
deles, mais prprias.

Agora j costume dar dinheiro e dar de beber quando querem.


RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.

REIS 2
Quem diremos ns que viva
Na folhinha do loreiro?
Viva l o Sr. Antnio
Que um homem cavalheiro.
Viva l a Sra. Maria,
Raminho de salsa crua.
Quando vai para a igreja,
Alumia toda a rua.
Viva l o Sr. Alberto
Com o seu raminho no chapu.
Quando vai para a igreja
Parece um anjo do Cu.
Senhora que est l dentro,
Sentada no esteiro,
Bote os olhos ao fumeiro
D-nos c um salpico.
Senhora que est l dentro,
Sentada na cortia,
Deite os olhos ao fumeiro,
D-nos c uma chouria.
Senhora que est l dentro,
Sentada na janela,
Deite os olhos ao fumeiro
D-nos c uma morcela.
RECOLHA (1985) de Antnio Alberto Cascais, Larinho Moncorvo.

REIS 3
Aqui vm trs meninos

Preparados p'ra cantar.


Se os senhores nos do licena,
Ns vamos a comear.
Para cantar bem os Reis
Foi preciso sair onte(m).
Embarquemos na ribeira,
Fomos a sair ponte.
Quem vos vem cantar os Reis,
De noite pelo escuro,
Certo que quer provar
Desse seu vinho maduro.
Quem vos vem cantar os Reis,
De noite e pelo toleiro,
Certo que quer provar
Dos chourios do seu fumeiro.
RECOLHA (1985) de Altino do Nascimento Silva Vimioso.

REIS 4
Inda agora aqui cheguei,
Pus o p nesta escada
Logo meu corao disse,
Aqui mora gente honrada.
Coro
Alegres festas ns vimos dar,
E o Deus menino a acompanhar
Alegres festas ns vimos dar,
E o Deus menino a acompanhar.
Quem nos vem cantar os Reis,
De noite pelo escuro,
Certo quer saber,
Se o seu vinho est maduro.
Quem nos vem cantar os Reis,
Pelo buraco da porta,

D-nos c um salpico,
Que a porca j est morta.
Olha o nosso Antoninho
A que porta foi bater?!
porta do Joo Carrio,
Que nos vem dar de beber.
Viva a menina da casa,
Por cima da salsa crua.
Quando se chega janela
Alumia toda a rua.
Viva tambm o Zezinho,
Com seu relgio ao peito.
Quando passa pelas moas,
Pisca-lhes o olho direito.
Viva a Senhora da casa,
Sentadinha lareira,
E mais a sua criada,
Qu uma bela cozinheira.
Esta vai por despedida,
Por cima duma cortia,
Deitem a mo ao fumeiro
E assem uma chouria.
Estes Reis que aqui cantamos,
No soa pagos por dinheiro,
So pagos com vinho fino,
E chourios do fumeiro.
Se nos querem dar os Reis,
No se estejam a demorar.
Ns somos de longes terras,
Temos muito para andar.
Se o grupo bem recebido cantam a despedida.
Esta vai por despedida,

Por cima duma ma.


Passem muito bem a noite,
Adeus at amanh.
Se no do os Reis os cantadores no ficam contentes e cantam:
Os moradores desta casa
No tm nada que nos dar.
S tm uma arquinha velha
Onde os ratos vo mijar.
J no tem coro e fogem rindo a bandeiras despregadas.
RECOLHA (1985) de Maria da Assuno Pereira Rodrigues Serra de Nogueira.

REIS 5
nobre casa, nobre gente,
Senhores desta morada
Escutem e ouviro
Esta nobre embaixada
Diz que no cu apareceu
Uma Senhora coroada
Que a coroaram os anjos
Dia de Pscoa Sagrada
No vos duvida a ningum
J escorreram as notcias
Por esse mundo de alm
Porque chorais minha me
Porque chorais minha mezinha
Choro pelos pecadores
Que nesse mundo havia
Naquele castelo mais alto
Estava l a Virgem Maria
Chorando pelos pecadores
Que nesse mundo havia
RECOLHA 2005 SCMB Maria Teresa Fortunato, Idade: 78.
Localizao geogrfica: Babe ORIGEM + 60 anos.

REIS 6
Estes Reis ns contamos cantados,
Em tom ligeiro do vivas a toda a gente:
garrafa e ao fumeiro,
Trigo e nozes e marmelada,
Lombo de porco, vitela assada,
Po com manteiga, ch ou caf
E o Deus menino nascido
RECOLHA 2005 SCMB Margarida Pires, Idade: 70+.
Localizao geogrfica: Conlenlas ORIGEM + 50 anos.

REIS 7
Viva o dono desta casa
Por cima de uma carqueja.
Viva tambm uma rosa
Que recebeu na igreja.
Coro
Anjos, arcanjos em Jerusalm
O manso cordeiro nasceu em Belm.
Esta vai por despedida
Por cima do meu chapu.
Viva a menina Maria
Que um anjo do cu.
(Segue-se o mesmo coro)
Anjos, arcanjos em Jerusalm
O manso cordeiro nasceu em Belm.
RECOLHA (1985) de Artur dos Santos Madureira, Alfaio Bragana.

NOVE DE ABRIL
Nove de Abril meu amor
Triste data que eu ditei

A carta que te mandei


Minha adorada flor
Laos da minha dor
Fatalidades as minhas
Nem pensas, nem adivinhas
Que por ti sofro querida
Estou entre a morte e a vida
Ao escrever-te estas linhas
Ao escrever-te estas linhas
Chora o meu corao
Por ver que as palavras so minhas
E as letras no o so
Toma e leva minha me
Muitos beijos e carcias
Diz-lhe que de mim tens noticias
Que estou vivo e estou bem
Engana depois tambm minhas pobres irmzinhas
Que inocentes coitadinhas
Sofrem como tu te sentes
Diz-lhes que no s tu que mentes
Porque as palavras so minhas
RECOLHA 2005 SCMB Maria de Lurdes Pires, Idade: 74.
Localizao geogrfica: Frana ORIGEM + 60 anos.

5. PROVRBIOS E DITADOS
DITADOS 1
- Quem d aos pobres, empresta a Deus.
- Vale mais quem Deus ajuda, do que quem muito madruga.
- Quem d o seu a quem o entende, no o d, que o vende.
- No d quem tem, seno quem quer bem.
- Na terra de olhapim, quem tem um olho rei.
- Quem quer mais do que convm, perde o que quer e o que tem.
- Aquele que nada faz, est sempre pronto a criticar os outros.
- Aquele que julga estar seguro, olhe no caia.
- Quem d parece-se com Deus.
- Se no tiveres motivos para sorrir, pelos menos no motivos para outros
chorarem.
- Menina, faz por ser boa, que a tua fama ao longe soa.
- Quem no de boa gente, no se sente.
RECOLHA (1985) de Judite Morais Moreno, Sambade Alfndega da F.

DITADOS 2
Em Janeiro sobe ao outeiro.
Se vires verdejar,
Pe-te a chorar.
Se vires terrear,
Pe-te a cantar.

RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.

DITADOS 3
- O homem pe e Deus dispe.
- Faz bem e no olhes a quem.
- Quem a boa rvore se chega, boa sombra o cobre.
- Antes areias comer, do que vilezas fazer.
- Filho s, pai sers. Como fizeres, assim achars.
- Nem por muito madrugar, amanhece mais cedo.
- Se a paz queres conservar, deves ouvir, ver e calar.
- Cada terra com o seu uso, cada roca com o seu fuso.
- No rias do mal do vizinho, que o teu vem a caminho.
- Se a rico queres chegar, vai devagar.
- A preguia a chave da pobreza.
- Quem d o que tem a pedir vem.
- A cavalo roedor, cabresto curto.
- Tantas vezes vai o cntaro fonte, que no fim l fica a asa.
- Vale mais quem Deus ajuda do que quem muito madruga.
- A mulher e a sardinha, da mais pequenina.
- Para colher preciso semear.
- Semeia e cria, ters alegria.
- Se queres boa colheita, deita boa semente terra.
- Fevereiro quente traz o demnio no ventre.
- Chuva no S. Joo, nem d vinho nem d po.
- Pela palha se conhece a espiga.
- Todo o burro come palha, se lha souberem dar.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.

DITADOS 4
- Quando te cheguei a amar,
Melhor era amar um burro,
Porque andavas a cavalo
E ainda no perdia tudo.
- Molhei a meia,

- No casei na minha terra,


- Fui casar terra alheia.
RECOLHA 2005 SCMB Ana Maria Domingues, Idade: 86.
Localizao geogrfica: Mas, ORIGEM + 60 anos.

DITADOS 5
Janeiro jadeiro, Fevereiro felpeiro,
Maro nem o rabo do burro molhado,
Abril guas mil peneiradas por um mandil,
Maio Pardo
S. Joo claro
Valem mais do que os seus bois e os seus carros.
Explicao: Era uma vez um rei que tinha uns bois e um carro de ouro e querialhe dar valor, mas um pobre respondeu-lhe que esta quadra valia mais do que
os seus bois e seu carro.
RECOLHA 2005 SCMB, FERNANDO PIRES, Idade: 62.
Localizao geogrfica: VILARINHO DAS TOUAS ORIGEM + 50 anos.

DITADOS 6
- Quem me dera uma me nem que fosse uma silva, por mais que ela me
picasse eu seria sempre sua filha.
- Eu cantar cantava bem e tinha uma linda voz, mas nem sei quem ma tirou
quando me apartei de amores.
RECOLHA 2005 SCMB, CNDIDA CARVALHO, Idade: 81.
Localizao geogrfica: BRAGANA ORIGEM + 50 anos.

DITADOS 7
- Amores ao longe
Quem quer os tem,
- Amores ao p da porta
No so leais a ningum.

- Rua a baixo, rua a cima


- Toda a gente me quer bem
- S a me do meu amor
- No sei que raiva me tem.
- Da minha casa tua
um salto de uma cobra,
- Quem me dera chamar me
minha sogra.
- O meu amor deu um ai
Atrs daquele cabeo,
- Eu aquele ai bem o conheo.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA AMLIA MORAIS, Idade: 81.
Localizao geogrfica: SANTA COMBA DE ROSSAS ORIGEM + 50 anos.

DITADOS 8
- No canto por bem cantar,
nem por boa fala ter,
canto para dar raivas
a quem me no pode ver.
- que janela to alta
feita de cal e areia,
mal empregada janela
numa macaca to feia.
- No olhes meu amor
que eu no sou como a figueira
que d frutos sem ter flor.
- Que bem fica o ouro no pescoo de uma donzela, mas melhor lhe fica a
honra, menina faa por ela.
- Menina ate o cabelo
no o traga de rolete
que o seu pai no tem tanto alfinete.

RECOLHA 2005 SCMB, SNCIA PATRO, Idade: 93.


Localizao geogrfica: MOREDO ORIGEM + 50 anos.

DITADOS 9
O ourio est com toda a gravidade
Como a moa solteira na flor da sua idade
RECOLHA 2005 SCMB EDITE DO ESPRITO SANTO GOMES, Idade: 70+.
Localizao geogrfica: VINHAIS ORIGEM + 50 anos.

PROVRBIOS
- guas de Abril coadas por um mandril quantas quiserem vir.
- Sol de Maro queima a menina no bero e a dama no palcio
- Ms de Maro tanto durmo como fao.
- Maio pardo S. Joo claro.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA ANICETA GONALVES, Idade: 86.
Localizao geogrfica: VILA FLOR ORIGEM + 60 anos.

6. RELIGIO POPULAR
ENCOMENDAO DAS ALMAS 1
Irmos meus, cuidai da morte
L no dia do juzo,
o inferno muito feio,
Deus nos leve ao paraso.
Recordai, pecadores,
Recordai, no durmais mais,
L no outro mundo tendes
Vossas mes e vossos pais.
Fazem tremer o inferno
Cantando Ave-maria!
Ave-maria de Graa
De graa Ave-maria!
Quantas almas esto clamando,
Dando gritos no inferno,
Pelas nulas confisses
Que neste mundo fizeram.
As almas se esto queixando,
Acho que tm razo.
Olha l no seja ele
Por falta de orao
As contas do meu rosrio
So bocas de artilharia.

Coro
Senhor Deus, Misericrdia
Sua me Maria Santssima
Dai-nos auxlio
Levai-nos Glria.
RECOLHA (1985) de Sebastio Agostinho Gonalves, Gondesende Bragana.

ENCOMENDAO DAS ALMAS 2


almas que estais em penas,
almas que em penas estais,
J vos mando um padre-nosso,
Para que das penas saiais.
Quem das almas se lembrar,
Delas tiver devoo,
Neste mundo ter paz,
No outro a Salvao
RECOLHA (1985) de Artur dos Santos Madureira, Alfaio Bragana.

ENCOMENDAO DAS ALMAS 3


Resgatai as almas,
pastor eterno,
Daquele lugar
Junto ao inferno
Almas que estais dormindo,
Se delas vos no lembrais,
Lembrai-vos pois agora
Que acordados estais.
RECOLHA (1985) de Hermnia Trigo, Ferradosa Alfndega da F.

ENCOMENDAO DAS ALMAS 4

Acordai! Que estais dormindo,17


Nesse sonho em que estais?
Que vos bate Deus porta,
Vs dormis e descansais.
Bem que vos lembreis
Das almas de Mes e Pais,
Com um Padre-nosso
E uma Ave-maria.
Ainda rezaremos mais
Uma Salve-rainha
A Virgem Nossa Senhora,
Para que ela seja nossa advogada
E nossa intercessora
Perdoa, pecador,
Por te acordar a esta hora.
Se te achas ofendido,
Perdoa, que eu vou-me embora
RECOLHA (1985) de Narciso Joo Torro Vicente Vimioso.

ENCOMENDAO DAS ALMAS 5


Acorda, pecador, acorda!
Acorda, no durmas mais
As almas se esto queixando
Que delas vos no lembrais.
Eu no sou anjo do Cu,
Nem a sereia do mar,
Sou uma pobre pecadora
Que vos venho acordar
Perdoai, irmos meus,
Em vos acordar agora.
Ficai-vos com Jesus Cristo
Que eu com Ele me vou embora.

Padrinhos e mais madrinhas


Que nos fizeram cristos
Rezemos-lhe um Padre-nosso,
Que temos de obrigao.
Olha, cristo, que s terra!
Olha que hs-de morrer!
Olha que hs-de dar contas
Do teu bom e mau viver.
RECOLHA (1985) de Antnio Alberto Cascais, Larinho Moncorvo.
(Informaram: Maria Claudina, 79 anos e Leonilda Claudina, 76 anos).

ENCOMENDAO DAS ALMAS 6

18

porta das almas santas,


Bate Deus a toda a hora.
E elas lhe responderam:
- Meu Jesus que quereis agora?
- Quero que deixeis o mundo,
E que vindes para a glria.
Oh! almas que estais em penas!
Almas que em penas estais!
L vos vai um Padre-nosso
Para que de penas saiais.
As almas se esto queixando
Que delas no vos lembrais.
Olhai l no sejam elas
Vossas mes ou vossos pais!
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.

ENCOMENDAO DAS ALMAS 7


porta das almas santas

Bate Deus a toda a hora.


Almas santas lhe respondem:
- meu Deus, que quereis agora?
Quero que vindes comigo
Para a minha Eterna Glria,
P'ra companhia dos anjos
E da Virgem piedosa.
Acorda, cristo, acorda
Desse sono to profundo!
Lembra-te com um Padre-nosso
Das almas do outro mundo.
alma que estas dormindo
Nesse sono do pecado!
Olha l, no amanheas
No inferno sepultado.
Acorda, cristo, que s terra!
Lembra-te que hs-de morrer.
Hs-de ir dar contas a Deus
Do teu bom e mau viver.
Ouo gritos no Calvrio, Madalena!
Que ser?
- Crucificaram a Jesus,
So ais que a senhora d
Ouo gritos no Calvrio, Madalena!
- Que seria?
- Crucificaram a Jesus.
So ais da Virgem Maria!
Ai de ns, que se dilata
A nossa ardente priso!
Quando veremos a Deus,
No reino da Salvao
Bem podiam nossos filhos,
Nossos irmos, nossos pais,
Moderar nossos tormentos,

Dar alvio aos nossos ais!


Dai esmolas duma reza
Que faz para o cu levar.
Almas a quem tanto pesa,
No poder de Deus gozar!
A Jesus e a Maria
Orai todos sem cessar.
Dai esmo/as, ouvi missas,
/de por ns comungar!
Consolai-vos, a/mas santas,
Que em breve ireis descansar.
Ns vamos orar por vs,
Ouvir missas, comungar!
RECOLHA (1985) de Laurentina de S, Vilares da Vilaria Alfndega da F.

SEMANA SANTA
Prenderam a Jesus Cristo,
Estando a orar no horto.
Jesus Cristo da minha alma,
Quem fora preso convosco!
Davam gritos no calvrio.
Madalena: - Quem ser?
Prenderam a Jesus Cristo,
So ais que a Senhora d!
Jesus Cristo est no horto
sombra do arcipreste
Os anjos lhe esto cantando:
- Acorda, divino mestre!
Jesus Cristo est no horto,
sombra do limoeiro
Os anjos lhe esto cantando:
Acorda, manso cordeiro!
RECOLHA (1985) de Antnio Alberto Cascais, Larinho Moncorvo.
Informaram: Maria Claudina, 79 anos e Leonilda Claudina, 76 anos.

ORAES 1
Pai-nosso pequenino,
Pelos montes vai rugindo,
Com as chaves do paraso.
Quem lhas deu que lhas no dera?
Foi Santa Maria Madalena.
Cruzes no monte, cruzes na fonte,
Nunca o demnio comigo se encontre.
Nem de noite nem de dia,
Nem hora do meio-dia.
J os galos pretos cantam,
J os anjos se levantam,
J meu Deus subiu cruz, para sempre
men Jesus.

ORAO 2
Nossa Senhora me disse
Que medo no tomasse
Nem mono nem tona
Nem aquela carcamona
Quatro esquinas tem a casa
Quatro clios esto a arder
Quatro anjos me acompanham
Quatro anjos me acompanham
Na hora em que eu morrer.
RECOLHA 2005 SCMB, SNCIA PATRO, Idade: 93.
Localizao geogrfica: MOREDO ORIGEM + 50 anos.

ORAO 3
Santa Quitria pelo mundo andou
Nem co, nem cadela ladrou
Se algum ladrou com a raiva rebentou
Se s danado tem-te em ti
Que Santa Quitria tem-te entre mim e ti.

RECOLHA 2005 SCMB, SNCIA PATRO, Idade: 93.


Localizao geogrfica: MOREDO ORIGEM + 50 anos.

QUANDO TROVEJA
Santa Brbara se vestiu e se calou.
Ao caminho se deitou,
E com sete anjos se encontrou.
Eles lhe perguntaram:
- Onde vai Brbara?
Eu no vou, nem quero ir,
Mas ao cu quero subir
A amarrar aqueles troves
Que l andam armados.
Pois vai, Brbara,
Amarra-os l para bem longe,
Onde no haja nada que lhes dar,
Seno gua de troves
E o leite de maldio.
Um Pai-nosso Santa Brbara
Que nos livre do trovo.
No Cu ouvi uma voz
Da divina Majestade.
Valha-me o poder divino
E a Santssima Trindade!
Santo Deus, Santo forte
Santo imortal miserere nobis.
Santa Maria, ora pr nobis.
RECOLHA (1985) de Judite Moreno, Sambade Alfndega da F.

SUPERSTIO
Os sacristes deixavam os missais abertos para as bruxas no sarem da
igreja, ou ento metiam as agulhas em gua benta para o mesmo efeito.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA AMLIA MORAIS, Idade: 81.
Localizao geogrfica: SANTA COMBA DE ROSSAS ORIGEM + 50 anos.

REZAS 1
Nesta cama me deito pra dormir e descansar
Se vier a morte pra me levar
Abrao-me ao cravo, abrao-me cruz
Entrego a minha alma ao menino Jesus.
RECOLHA 2005 SCMB, SNCIA PATRO, Idade: 93.
Localizao geogrfica: MOREDO ORIGEM + 50 anos.

REZAS 2
Cerra teus lbios e diz um verbo de amor
Calem-se todos os sbios e fala Tu Senhor
Fala e encanta os pequeninos ainda sem dio a ningum
Branco e lrios campesinos onde a flora cresce bem
Tu s o mestre bendito da nossa infncia final
O ABC mais bonito dos filhos de Portugal.
RECOLHA 2005 SCMB, ENGRCIA NASCIMENTO BRANCO, Idade: 79.
Localizao geogrfica: GUADRAMIL ORIGEM + 60 anos.

7. LENDAS
O REI DE ORELHO
Naquele tempo, andando um rei a caar na serra dos Vales e Franco,
conhecida hoje serra de Santa Comba, encontrou dois pastorinhos que
guardavam o seu rebanho, de nome Comba e Leonardo, seu irmo.
O rei, querendo zombar da jovem menina, pediu para que deixasse deitar a
cabea no seu colo, a fim de o catar. A menina obedeceu, pedindo o auxlio de
Deus.
Levado por uma fora sobrenatural, o rei adormeceu. A menina para se livrar do
seu inimigo, desprendeu o lao do avental e foi-se retirando, ficando o rei com a
cabea apoiada somente no avental.
Quando acordou, foi procurar a jovem menina que ia fugitiva com seu irmo.
Quando se encontrou alcanada, pediu o auxlio de Deus, que a defendesse
das mos de seu algoz. E virou-se para uma fraga que estava no lugar, e pediulhe com todo o seu corao: - Abre, fraga bendita, para entrar Comba catita.

Ora o rei, quando bateu com a lana na fraga, e no atingiu o alvo que mirava,
enfureceu-se e, todo raivoso, virou-se para Leonardo, dando-lhe uma lanada.
Deitou-lhe as tripas de fora, e retirou-se. A jovem menina, quando se viu livre,
levou o seu irmo para junto de uma poa de gua que ali havia, e lavou as
chagas. Recolhendo as tripas ficou sarado.
Ainda hoje se encontram as irms Jesus dos Santos Jovens, no dito lugar.
Santa Comba, numa capelinha junto dita fraga, no pino do cabeo. S.
Leonardo, em outra capelinha, na tal dita poa, onde foram lavadas as suas
chagas. A esttua do rei de Orelho, ao lado de S. Leonardo, montado no seu
cavalo, armado com a lana. A so venerados os dois santos jovens, Santa
Comba e S. Leonardo pela freguesia dos Vales, concelho de Valpaos.
RECOLHA (1985) de Adelino Augusto Fidalgo, Pai-Torto Mirandela.

LENDA DA CAPELA DE NOSSA SENHORA DA VEIGA


Conta a lenda que um lavrador andava a lavrar no lugar, chamado Vale de
Covo, prximo de um grande rochedo. De repente, as vacas espantaram-se e
pegaram a fugir, ficando dependuradas, presas pelo arado.
O lavrador vendo aquela desgraa to grande, contando com as suas vacas
perdidas, ps a vara aos ombros, e olhando para o Cu, invocou o nome de N.
Senhora... Que lhe acudisse naquela aflio.
De repente, sem saber como, viu as vacas salvas. Considerou aquilo como um
milagre, e logo prometeu mandar construir uma capela no lugar da Veiga, que
fica em frente, onde isto aconteceu. Dentro da mesma
Capela ainda hoje existe o quadro da cena que a lenda conta.
RECOLHA (1985) de Artur dos Santos Madureira, Alfaio Bragana.

LENDA DA ESCAPA
Diz-se que nesta terra havia em tempos remotos um destacamento militar que
prestava segurana populao que ento existia.
Em determinada ocasio ou por querer fugir, ou por se sentir perseguido, um
dos soldados sentia-se seguido por colegas e oficiais.
Escondeu-se debaixo da ponte que em dado local se encontrava e escapou
priso.
Da resultou o nome de Escapa dado a uma pequena quinta perto da vila.
RECOLHA (1985) de Victor Manuel Melo Sapage.
Escola de Freixo de Espada Cinta.

A LENDA DO CAVALEIRO CRISTO


Quando os Mouros dominavam quase toda a Pennsula Ibrica e batiam j em
retirada, a norte e nordeste da mesma, havia um cavaleiro cristo, valente e
audacioso. Batalhava com todo o vigor, prprio dos montanheses. Nas pelejas
mais encarniadas, saa pela sua argcia e arte, sempre vitorioso. Isto valia-lhe
do comandante das hostes de Santiago, de tempos a tempos, algumas licenas
para descansar e recompensar dos excessos das suas bravuras.
Como o cavaleiro no era capaz de estar inactivo, aproveitava aquele perodo
de licena, que era um mnimo de seis meses, para ir clandestino sua terra
natal, tendo que atravessar todo o territrio ocupado pelos sarracenos, desde a
costa do Golfo da Biscaia at ao Bairro de S. Miguel, na povoao de Vila
Verde do Vez, que naqueles tempos remotos, pertenceu aos donatrios de
Pvoa Rica (hoje Vila de Vinhais).
Escondido e embuado com trajes regionais daquela poca, no se
esquecendo do arns, do escudo e da espada para uma possvel emergncia,
ia passar o tempo que sobejava das viagens de ida e regresso, junto de seus
avs, pais e irmos, ajudando-os nos pesados trabalhos agrcolas, pois o seu
mister, antes, depois, e nos intervalos das pelejas, era de agricultor.
Ao nascente do referido Bairro de S. Miguel, a cerca de um quilmetro, existia
uma torre fortificada, reduto com barbacs, ameias, fosso profundo a toda a
volta, onde segundo a lenda que verbalmente transmitida de gerao em
gerao, um rei Mouro, dadas as sucessivas derrotas em todas as frentes de
combate, resolveu instalar no seu interior a sua filha predilecta, Ftima-Yusef,
que nascera da sua principal odalisca.
Como squito, seguiu uma escolta de guerreiros experimentados, cujo chefe
estava incumbido de velar pela singular dama que, afinal, era uma princesa de
fina estirpe. Pelas redondezas constou logo a chegada da Moura. O Cavaleiro
Cristo estava cheio de curiosidade. Por isso, pediu a um dos pastores que
apascentava o gado nos terrenos volta da torre, que lhe emprestasse o
capote e o bornal e o deixasse conduzir o gado.
Assim fez dias consecutivos, at que conseguiu avistar a dama, que assomou
s barbacs e s ameias da torre. Aquela, conforme o viu, ficou extasiada com
a beleza do seu semblante, da cor dos seus cabelos louros, dos seus olhos de
ris azul-escuro, dos seus gestos e movimentos msculos e sedutores. Ele,
surpreendido, ficou mais extasiado ainda, pois estava na presena de uma

dama que lhe prendeu todos os movimentos, dada a sua beleza fsica
incomparvel. Ela possua uma tez moreno-trigueiro, cabelos negros, faces um
pouco compridas e acarminadas, olhos de ris negro, em forma de amndoa,
sobrancelhas finas e bem arqueadas. Trajava vestido branco de seda rutilante,
coberto de jias, e na cabea um diadema cravejado de pedras preciosas,
tendo ao alto e ao centro, em prata brilhante, a lua em crescente, smbolo da
sua religio.
O Cavaleiro conhecia perfeitamente a lngua rabe (dado o contacto que tinha
com aqueles que caam prisioneiros) mas estava to perturbado, que no
conseguiu dizer, assim como ela, uma nica palavra. Estavam enamorados,
mas em completa mudez. Ele, por ver na lua em crescente, um credo diferente
do seu, e ela, por visto, pela abertura do capote, num movimento fortuito, a sua
espada com a cruz formada, smbolo da religio Crist. Embora em credos
opostos, continuavam enamorados e mudos. Os anos passavam-se e ele
sempre que tinha licenas, no deixava de visitar os seus familiares e a sua
amada.
Mas... da ltima vez que se ausentou, o pastor que tantas vezes lhe tinha
emprestado o capote a sacola e o gado, invejoso, traiu-o, descobrindo ao chefe
dos guerreiros tudo o que se tinha passado e o que ele prprio tinha
presenciado. O chefe, irritado, saiu com os seus homens de armas e chacinou
toda a famlia do Cavaleiro, arrasando todo o bairro de S. Miguel, incluindo a
sua capelinha.
No regresso torre, o comandante dos guerreiros invectivou a princesa pela
sua maneira leviana de proceder, informando-a que ia lev-la ao rei seu pai, e
que lhe ia contar tudo o que se tinha passado. A princesa no lhe deu resposta
e aguardou a sada com toda a serenidade.
Porm, na retirada, ao passarem por Pena-Cabreira, a arguta donzela,
adiantando-se, escondeu-se num carreiro estreito, abrupto e desconhecido para
todos os guerreiros, apanhando-os de surpresa, e, desde o chefe at ao ltimo
dos seus guardas, foi-os empurrando para o abismo, com mais de 50 metros de
altura, caindo no sorvedouro da cachoeira turbulenta, nas escarpas eriadas da
margem do rio Tuela. Diz a lenda que a princesa, aps o lanamento do ltimo
guerreiro no abismo, desapareceu na gruta de uma fraga e que ali ficou
encantada para sempre, pensando no amor perdido do Cavaleiro Cristo.
Mais consta que, quando o Cavaleiros voltou e vendo os seus desaparecidos e
tudo arrasado, ouvindo o que tinha acontecido, monta num javali, de dentuas

sadas no maxilar superior do focinho (parecidas com as defesas de marfim dos


elefantes, mas em miniatura). Desditoso, procura por todo o termo, tendo em
mente a possibilidade de encontrar a princesa. Em vo vasculhou PenhaEscrita, Matrocos, as grutas de Castrilho, Rigueiro de Ladres, o Castro da
Ciradelha e depois as fragas cinzeladas em baixo-relevo com as figuras do
lagarto, focinho do gato e pata de boi (marcas deixadas pelas legies
Romanas, nas regies desconhecidas, para orientao do exrcito atrasado
que servia de apoio). Chegou na manh de S. Joo gruta onde lhe pareceu
ouvir gemidos longnquos e o chiar de um tear em movimento, na fraga que,
depois o povo, passou a chamar da Moura-Encantada.
voz do povo e com muita convico, que a princesa ainda l est encantada,
e que o Cavaleiro Cristo voltou aos combates, fazendo por morrer, com
propsito deliberado, cheio de cutiladas e de glria, no mais encarniado da
luta e que o javali, fiel ao seu dono, continuou procura da Moura, ficando por
fim petrificado no alto do Castelar, a olhar para a Fraga da Moura Encantada,
que se encontra l no fundo, entre a Torre e Pena-Cabreira.
Na verdade, l est (para autenticar em parte a lenda), ao sul da Costa, no
lugar de Castelar, uma pedra que, vista distncia e do local onde existiu o
Bairro de S. Miguel, com o formato de um javali.
No stio onde foi o referido bairro, so agora umas cortinhas, onde se
encontram muitas pedras midas (por as grandes terem sido baldeadas),
existindo ainda o caminho que formava a rua do antigo bairro.
As pirmides de cantaria da capelinha, resistiram eroso e esto colocadas
na portada do actual cemitrio, assim como alguns perpianhos. Por ter fendido,
a sineta que existiu at ao ano de 1677, foi refundida naquele ano,
encontrando-se at h pouco tempo, no campanrio da igreja paroquial de S.
Miguel, cujo Orago o nome cristo da freguesia de Vila Verde, que
composta por Vila Verde e Prada, tendo a sineta aquela data timbrada.
Os rapazes, mantendo a tradio, continuam na noite de S. Joo, a roubar
todos os asininos existentes no povoado, montando-os em plo, seguindo o
itinerrio percorrido pelo javali e o Cavaleiro Cristo, tomando as orvalhadas e a
ir escutar a Moura a tecer no tear de ouro macio, depois de prenderem pela
arreata, a coluna de burros, volta dos restos onde existiu a antiga torre, que
os vndalos desmoronaram, s deixando umas pequenas paredes, na miragem
de um suposto tesouro.

Lastimamos profundamente que assim tivesse acontecido, pois teramos um


valioso tesouro arqueolgico para estudar, embora na parte existente, haja um
laborioso trabalho a encetar.
Presenciamos, no silncio de uma manh de S. Joo, juntamente com os
companheiros de juventude, de ouvidos postos na entrada da estreita gruta,
que atravessa a fraga, um chiar e martelar, que mais parecia um eco remoto,
igual ao bater dos pedais e movimento dos pentes e lanadeiras dos teares de
madeira, ainda hoje existentes na povoao, e, que a voragem dos tempos, no
conseguiu subverter. A tradio continua todos os anos, revivida na noite de
So Joo pela juventude sonhadora e irrequieta do povoado.
Vila Verde, Vinhais, 26 de Fevereiro de 1982 ANTNIO ALEIXO MORGADO.

LENDA DE CASTRO VICENTE


Conta a lenda que, pelo sculo VIII da era crist, quando os Mouros
dominavam ainda a Pennsula Ibrica, por estas terras do Nordeste
Transmontano, havia um mouro que se encontrava na fortaleza do monte
Carrascal, onde hoje o Santurio de Balsamo da freguesia de Chacim,
concelho de Macedo de Cavaleiros.
Este mouro lanara um odioso tributo o Tributo das Donzelas que conseguiu
impor aos povoados destas imediaes. Consistia o nefando Tributo, em
obrigar todas as donzelas, no dia do casamento, a irem passar a noite de
npcias, no leito do mouro poderoso e sensual.
Aconteceu que uma formosa donzela de Castro foi pretendida pelo filho do
chefe dos Cavaleiros das Esporas Doiradas de Alfndega da F. A jovem
honesta e digna recusava-se ao casamento, para no se sujeitar ao tributo das
donzelas que o infame mouro do monte Carrascal exigia. O noivo garantiu-Ihe
que o mouro no a obrigaria a prestar esse tributo, porque no dia do casamento
mobilizaria os Cavaleiros das Esporas Doiradas, para fazerem frente ao cruel
e tirnico mouro.
Numa manh radiosa, os noivos e muito povo dirigiram-se para a capela do
Santo Cristo da Fraga, onde se realizariam os esponsais. Quando o cortejo
regressava a casa dos pais da noiva, um possante e feroz mouro, cumprindo as
ordens do Emir do monte Carrascal, raptou a Noiva e colocou-a no cavalo,
sendo acompanhado por uma grande e terrvel escolta de soldados mouros.
Ainda no tinham chegado os Cavaleiros das Esporas Doiradas de

Alfndega. Quando chegaram dirigiram-se para o monte Carrascal, seguindo


frente o noivo desorientado.
No sop do monte Carrascal, travou-se um terrvel combate, entre mouros
deste monte e os cristos de Castro, de Alfndega e de mais povoaes
circunvizinhas. No ardor do combate, apareceu no Cu, a imagem branca de
Nossa Senhora, qual Divina Enfermeira, com um vaso de blsamo na mo, a
curar os cristos feridos que, de novo, voltavam para o combate. O noivo
conseguiu penetrar na alcova do cruel e tirnico mouro, o Emir, a quem
decepou a cabea. Ao seu encontro vem a sua querida esposa j desfalecida,
mas ilesa do nefando tributo.
Deste acontecimento resultou o nome de Castro Vicente (em documentos
antigos aparece com a designao de VENCENTE), pela vitria alcanada;
Alfndega, nome de origem rabe (Alfandagh...) recebeu o nome de Alfndega
da F.
A chacina dos mouros deu o nome a Chacim. Diz a tradio que a Capela-Mor
do actual Santurio de Balsemo fora uma antiga Mesquita de mouros; assim
como o Santurio do Santo Cristo da Fraga de Castro Vicente sobranceiro ao
rio Sabor, fora tambm uma Mesquita de mouros que tinha sido conquistada
pelos Cristos, na poca histrica da reconquista, e onde se tinha realizado o
casamento da donzela de que nos fala a Lenda de Castro Vicente.
RECOLHA (1985) de Antnio Neto Pinto Castro Vicente.

COMO NASCEU O NOME DE FREIXO DE ESPADA CINTA


Era uma vez um mouro que apareceu por este lugar, vindo fugido da guerra.
Como vinha muito cansado, resolveu descansar ao p de uma rvore chamada
freixo, que actualmente j no existe, junto da torre onde h outras derivadas
dessa.
Ento o mouro deitou-se a descansar sombra dessa rvore.
Como trazia uma espada, tirou-a da cinta e colocou-a mais ou menos ao meio
do freixo.
Da passou a chamar-se Freixo de Espada Cinta terra onde o mouro
descansava.
RECOLHA (1985) de Hlder Antnio Casado Madeira Escola de Freixo de Espada Cinta-

LENDA RIO BACEIRO TRUTAS DE OURO

Diz uma lenda antiga e pouco conhecida que na margem esquerda do rio
Baceiro, ali pelas imediaes da ponte dos Teixeiras, existiu um moinho, cujo
dono possua duas trutas de ouro autntico que tinham sido herdadas de seu
pai, que fora, em tempos, ourives ambulante. Certa noite surgiu uma
tempestade de tais propores, que as guas do Baceiro subiram ao ponto de
varrer tudo quanto se encontrava nas suas margens.
O moleiro teve tempo de fugir, mas no conseguiu salvar as trutas, que eram
duas barras de ouro macio, esculpido e bem trabalhado em forma
de peixe. Diz ainda a lenda que o moleiro gastou anos procura das suas
valiosas peas de ouro, mas, que se saiba, nunca mais ningum as viu.
RECOLHA (1985) de Augusto Jos Teixeira Lopes

residente em Lisboa.

FREI JOO HORTELO


Pascoal era o nome de baptismo. Nasceu em Valverde e ali guardava gado.
Foi para uma aldeia vizinha, Eucsia. Eram pouco gentis com ele e da dar ao
Felgar. Apresentou-se com o nome de Ildefonso, mas o povo chama-lhe
Alifonso.
Apascentava tambm o gado com a condio de o patro autorizar ir missa.
O patro discordou e deu ordens ao barqueiro de o no passar para c, quando
andasse do lado de l, para ir missa. Ento punha o gado volta do cajado e
deitava a capa na gua e assim conseguia transpor as guas para a outra
margem.
O patro proibiu-o de guardar o gado, mandando-o tratar da horta. Proibiu-o de
ir missa, porque tinha de ficar a guardar os pssaros e as galinhas. Ele batialhes as palmas. Vinham os pssaros e as galinhas e metia-os numa adega. O
patro ao ver neste fenmeno algo de anormal, quis entabular conversa com o
Ildefonso, mas este nada respondia.
Resolveu ir para Espanha e entrar num convento, em Castela. Ali os monges
puseram-lhe o nome de Frei Joo Hortelo, porque quis dedicar-se cultura da
horta. Plantava as couves com a raiz para cima e ia cozinha dizer para ir
colher folhas, que as couves estavam frondosas!
Enviou para Valverde uma linda casula, uma custdia e um sino. Nas trovoadas
iminentes tocam-no, e dispersam-se e nunca deixam prejuzos. Enviou tambm
uma cruz gtica, com trabalho de filigrana, do sculo XV. Para a Eucsia, reza a
lenda, que enviou um sino de cortia, com o badalo de l.

RECOLHA (1985) de Hermnia Trigo, Ferradosa

Alfndega da F.

LENDA DA PIA DOS MOUROS


Em tempos idos, os mouros ocuparam esta regio, onde ainda existem
reminiscncias. Presume-se que ALA, ser de origem MOURISCA (Alla). Existe
no local de Perafita uma fraga enorme que, numa cavidade, em dia de chuva,
armazena muita gua. Diz-se que esse local foi habitado por mouros noutros
tempos. Diz-se tambm que foram os fundadores da povoao de ALA. Perto
da ribeira, existe a chamada PIA DOS MOUROS, feita ou cavada na referida
fraga. Servia para dar de beber aos cavalos, e aos demais animais dos mouros.
As mouras lindssimas eram vistas por cristos, e uma delas, filha do principal
Emir Mourisco, amava um jovem cristo s escondidas de seus pais. Nunca
acedeu a contrair amores com outro jovem mouro, a quem seus pais a
destinavam. Ao tempo j se fazia guerra para a expulso dos Mouros do
territrio nacional. Sentiram os mouros que teriam de abandonar esses locais, e
comearam a retirada.
Numa noite, encontrou-se a linda jovem moura com o seu amado e jovem
cristo. A moura disse para o amado: - Tenho de fugir com os meus pais, pois
sabes que a isso sou forada, e se assim for, jamais nos encontraremos. O que
pensas disto?
Respondeu-lhe o jovem cristo: - Eu no te deixo por nada deste mundo.
A mourinha, encantada com a resposta, disse-lhe:
- Eu no posso c ficar, e tu no podes ir comigo, e eu tambm no quero
deixar-te por nada deste mundo.
- Queres ajudar-me agora a encher a Pia dos Mouros? de noite e ningum
v.
O jovem cristo respondeu que sim. Comearam a encher a pia de gua.
Depois de bem cheia, disse a jovem moura, para o seu amado cristo:
- Nem eu vou com os meus pais, nem tu vais. Vamos selar o nosso amor aqui
mesmo. Depois, afogamo-nos na mesma pia dos mouros, que ser a nossa
cama de npcias.
E assim sucedeu. Quando ao amanhecer, os mouros foram dar de beber aos
seus cavalos, encontraram na pia dos mouros a moura e o cristo afogados, de
mos dadas, e com os lbios colados, dizendo ao mundo, em nome do seu

amor, que em amor no h distino de raas ou religies...


Hoje os mais velhos habitantes desta povoao de Ala, ainda cantam a quadra,
simples, que algum poeta antigo escreveu:
Existe na Perafita,
Uma enorme pia
Que os mouros l fizeram
Para beber sua cria.
RECOLHA (1985) de Judite do Sacramento Rodrigues, Sambade

Alfndega da F.

A LENDA DO REI QUE FOI CAA


Um dia que o rei foi caa, perdeu-se no caminho onde comeou a anoitecer.
Viu ao longe uma luzinha e dirigiu-se para l. Bateu porta e, entrando, contou
o que lhe aconteceu e ali pernoitou. Fizeram-lhe a ceia que foram batatas
cozidas. No fim de as comer disse:
- Estas batatas sabem-me melhor do que faises.
Ao amanhecer, o rei partiu para sua casa, o palcio, agradecendo a boa
vontade em o recolherem. Ento o dono da casa disse para a mulher que ia
levar ao rei uns sacos de batatas visto o rei gostar tanto delas. Partiu, e
chegando ao palcio, o rei o reconheceu e perguntou-lhe:
- O que vens fazer? O homem respondeu:
- Venho trazer estas batatas, visto lhe saberem melhor do que faises.
O rei mandou recolh-Ias, agradeceu e encheu-lhe os sacos de presentes e
dinheiro. Mal chegou a casa contou tudo mulher. Os vizinhos tambm se
aperceberam. Um deles fez logo o mesmo, dizendo para a mulher:
- Se gostou tanto das batatas dele, mais gostar das nossas que so melhores.
Chegando ao palcio disse ao rei que as batatas dele eram melhores do que as
do vizinho, que lhas oferecia. Ento o rei compreendeu a inteno dele e disselhe:
- Se as batatas do teu vizinho me souberam melhor do que faises, porque
tinha fome. Agora sai daqui, porque eu podia castigar-te pela tua m inteno.
O homem saiu envergonhado com o insulto do rei.
inveja, inveja,
Que reinas no mundo assim?!

H muito tempo que existes,


Assim a mostrou Caim.
RECOLHA (1985) de Judite do Sacramento Rodrigues, Sambade

Alfndega da F.

LENDA DAS COMADRES BBADAS


Havia duas comadres, que eram muito bbadas. Um dia, foram para o forno
para cozer o po. O marido de uma delas recomendou-lhes para no beberem
mais do que uma canada de vinho, para no estragarem o po. Mas depressa
esqueceram a recomendao feita pelo homem e beberam at mais no. O
resultado foi que em vez de meterem o po no forno, o atiraram pela janela,
para o curral dos porcos. Qual o espanto do marido, ao chegar, e viu aquele
espectculo! Pegou na mulher, ps-lhe a boca na torneira da pipa e com um
funil, encheu-a de vinho. A seguir deixou-a inanimada. Passado algum tempo,
quando j meio aliviada, gritou pelo marido: - homem, d-me mais uma
funilada!!!
RECOLHA (1985) de Olinda Pereira, Sambade

Alfndega da F.

A LENDA DO PADRE DO MINHO


Veio para esta aldeia, h muitos e muitos anos, um padre minhoto. Este vivia
com uma irm, que segundo diziam dava conversa ao barbeiro do padre. Este,
um dia, no gostando da cortesia do barbeiro, matou a irm e enterrou-a no
adro da igreja. Vrias pessoas lhe perguntavam pela irm, s quais respondia
que tinha ido para a sua terra natal. Mas, passados alguns anos, foi preciso
alargar a igreja. Ao fazer o desaterro, encontraram o cadver intacto. Foi depois
enterrada no altar-mor e considerada santa. O povo indignado fez os seguintes
versos:
Passei por trs da igreja
Cheirou-me a pra madura.
D. Maria Lusa
Metida na sepultura
Passei por trs da igreja
Cheirou-me a pra marmela
D. Maria Lusa
Metida debaixo da terra
RECOLHA (1985) de Olinda Pereira, Sambade

Alfndega da F.

LENDA DO VERO DE SO MARTINHO


S. Martinho, antes de ser Santo, foi soldado do Imperador. Uma vez ia montado
no seu cavalo, num dia tempestuoso de chuva e vento, muito embrulhado na
sua capa de soldado.
Surgiu-lhe num caminho, um pobrezinho de mo estendida muito magra,
seminu, a tremer de frio e tambm de fome. O Moo cavaleiro ficou abalado, e
depois de dar umas moedas ao pobre, desceu do cavalo e com a prpria
espada cortou a capa que trazia ao meio, dando uma parte ao pobre, para ele
se cobrir e ficando com a outra metade para si. Passados momentos, o
temporal amainou, as nuvens foram desaparecendo, transformando-se a
tempestade num dia de sol brilhante, raro na estao do Outono. Eis a Lenda
do Vero de S. Martinho, Santo que comemorado no dia 11 de Novembro,
geralmente com um sero de famlia e amigos.
Diz o ditado: No dia de S. Martinho, prova o teu vinho.
Usana
Junta-se a famlia, convidam-se os amigos e todos se renem lareira, ao
redor de uma boa fogueira. o tempo da apanha das castanhas e nesse dia,
assa-se uma grande poro num assador prprio, feito j para tal, em lato com
buracos no fundo. Pe-se dependurado em cima da fogueira e enquanto
assam, uns conversam, outros vo buscar o vinho. As castanhas depois de
assadas, deitam-se num cesto que se coloca ao centro, para todos lhe
chegarem.
Come-se com fartura, bebe-se bem, juntando-se mais uns petiscos que haja na
ocasio. H risos, histrias e anedotas de vrias espcies.
Uma para exemplo:
Havia uma mulher que gostava muito de vinho e todos os dias ia pipa, mas s
escondidas do marido. Este, um dia morreu e ento a mulher fez-lhe um grande
pranto e nos dias a seguir, a vida dela era acocorada na lareira coberta com um
xaile e com uma bota19 de vinho, sempre metida no regao.
As vizinhas vinham v-Ia e ela sempre a lamuriar-se. Estas diziam-lhe:
- Sai da mulher! Agora queres passar a vida a prantecer!?.. Ela respondia:
- Sem secar estes courinhos no apago as minhas penas, no saio daqui. Ia
bebendo sempre, at a bota ficar vazia e s assim as penas se apagavam.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.

LENDA DO MOURO
Diz-se que uns mouros prenderam, na terra deles, um cristo obrigando-o a
trabalhar durante o dia, prendendo-o numa arca durante a noite. Um dia
viajaram com o cristo transportando-o na arca. Durante a viagem o cristo
prometeu a Nossa Senhora da Ascenso que se o libertasse construa um
poo, visto faltar gua ao p da sua capela. Um dia no caminho ouviu tocar as
campanas e perguntou ao mouro se o que ouvia eram mesmo as campanas,
este perguntou-lhe:
- Na tua terra h campanas?
- Na minha terra campanas h.
- Ento alegra-te que na tua terra estamos.
A Nossa Senhora tinha convertido o mouro, este libertou o cristo e os dois
construram o poo prometido.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA AMLIA MORAIS, Idade: 81.
Localizao geogrfica: SANTA COMBA DE ROSSAS ORIGEM + 50 anos.

LENDA DO TEAR
Havia num certo lugar uns mouros que tocavam num tear de ouro e muitos iam
a esse stio buscar fortunas. Iam, ento, para esse lugar com um padre e gua
benta, fazendo um crculo e dizendo umas rezas. Diz-se que aos ltimos que l
foram no crculo apareceram-lhes umas almas dos mouros a dar-lhes de fumar,
eles ao deixarem de olhar para o padre, foram parar a outros stios esmagados.
No entanto, ainda hoje se diz que ainda se pode ouvir o tear a tocar.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA AMLIA MORAIS, Idade: 81.
Localizao geogrfica: SANTA COMBA DE ROSSAS ORIGEM + 50 anos.

8. CONTOS
O AMO, O CRIADO E O QUEIJO
Havia certo senhor, muito abastado, que tinha numa das suas quintas um
caseiro, por quem tinha uma certa considerao, por este ser muito srio nas
suas contas. Acontecia que, quando o caseiro no podia ir a casa do amo
prestar contas, por afazeres ou qualquer outro motivo, mandava o filho mais
velho, por este tambm j ser competente do que lhe incumbiam. Um dia, o pai
diz ao filho:
- Z, amanh vais levar esta importncia ao amo, e como vais levar-lhe
dinheiro, capaz de te pr de comer. Aceitas, mas se s vezes te puser queijo,
e que esteja inteiro, melhor no o incertares porque parece mal. L
aguentas mais um bocado, e vens comer a casa. Ora isto era o que o amo
queria, pois parece que era mais apertado do que uma abfora. Tantas vezes
o Z foi levar as contas ao amo, como este lhe punha de comer, mas sempre
um queijo inteiro. E o pobre do rapaz, vinha sempre em branco, e como se
costuma dizer com os cantares do Vero. E quando o bom do Z chegava a
casa, o pai lhe perguntava:
- Ento, rapaz, comestes?
Num senhor. O amo pe-me sempre o queijo inteiro, e eu, j se sabe, no lhe
toco, e boa fome que trago.
Diz-lhe o pai:
- Deixa que para a prxima vou l eu.
E assim foi. As prximas contas a prestar, foi l o bom do caseiro. E l estava o
dito queijo inteiro, que o amo lhe ps na frente ao seu fiel criado.
- Coma, diz o amo.
O caseiro, que j estava bem avisado com o que se tinha passado j tantas
vezes com o filho, o que fez?
Pegou no queijo e partiu-o em quatro partes iguais. O amo viu aquilo, e ficou
espantado, dizendo:
- Olha que isso queijo. Resposta imediata do caseiro. Bem o beijo. E comeu a
primeira parte. Pegou na segunda, e o amo mais admirado ficou, e disse:
- Este caro.
O criado respondeu:

- Mas vale bem o dinheiro.


- O amo j nem acreditava no que via, pois o caseiro pegou na terceira parte, e
o amo diz-lhe:
- Olha que s tenho este. P'r agora chega, diz o criado.
- Em face do que o amo estava a ver, foi ao curral onde se encontrava o cavalo
preso, e soltou-o de propsito. Veio junto do criado, que j se preparava para
comer a quarta parte e disse-lhe:
- O cavalo soltou-se e vai-se embora, e j no o agarras. Diz o criado, metendo
a ltima parte ao bolso. Ento vou andando e comendo.
- Este chegou para o amo. Da em diante, o patro j punha de comer aos seus
criados, mas nunca um queijo inteiro.
Ser certo? Talvez! Contada ao sero por minha av materna, em 1932.
RECOLHA (1985) de Maria Assuno Pereira Rodrigues Serra de Nogueira.

CONTO DO Z PEQUENO E Z GRANDE


Era uma vez dois irmos: O Z Pequeno e Z Grande. O Z Grande, um dia,
saiu de casa e foi servir. Encontrou um patro e justou-se.
O patro disse-lhe:
- O primeiro que se negar at cantar o cuco, tira-se-lhe uma correia das costas.
Justou-se com ele.
O patro diz-lhe:
- Vais buscar um carro de lenha da mais torta que houver.
Ele foi e no a encontrou. No outro dia mandou-o a buscar lenha da mais direita
que houvesse; no a encontrou.
O patro diz-lhe: - Ests arrependido?
- O criado disse que sim.
Ento o patro tirou-lhe uma correia das costas e mandou-o embora. Chegou a
casa chorando. Contou o que se tinha passado.
O Z Pequeno disse:
- Agora vou eu e hei-de trazer duas correias, a tua e a dele.
Assim foi. Bateu porta do patro e disse:
- No querem para aqui criados?
- Ns tivemos c um. No se aguentou at cantar o cuco, e foi-se embora.
O Z Pequeno disse:
- Mas eu sou capaz de me aguentar at cantar o cuco.
O patro justou-o e disse-lhe:
- O primeiro que se negar at cantar o cuco tira-se-Ihe uma correia das costas.
O Z Pequeno disse: - Est bem.
Mandou-o jungir os bois, p-los ao carro, e ir buscar lenha da mais torta que

houvesse.
Foi vinha, cortou cepas e levou-as para casa.
Diz -lhe: - J est arrependido?
O patro j estava, mas disse que no. Mandou-o buscar lenha da mais direita
que houvesse. Foi ao pinhal, cortou pinhos dos mais direitos e levou-os para
casa.
Perguntou-lhe:
- J est arrependido?
O patro dizia que no. Como ele era capaz de fazer tudo, um dia, mandou-o
para o lameiro com as vacas. Mandou a mulher a pr-se na ponta dum carvalho
a cantar como o cuco, a ver se ele se arrependia. Ele ouviu. Foi a casa do
patro, que era caador, pediu-lhe a espingarda para matar a cuca que cantava
no carvalho. Ele foi e matou a mulher. Veio para casa e disse:
- J est arrependido, patro?
Ele disse: - Ah ladro que me mataste a mulher. O patro arrependeu-se.
Ento o Z Pequeno disse:
- Vou tirar-te duas correias das costas. Uma para mim e outro do meu irmo e
assim acabou a histria do Z Pequeno e do Z Grande.
RECOLHA (1985) de Fernando dos Santos Esteves, Saldanha

Mogadouro.

MARIA DE PEDRO
Naquele tempo, andando um casal a pedir esmola de povoado em povoado,
por serem muito pobres, deram luz um beb do sexo feminino, a quem foi
posto o nome de Maria de Pedro, servindo de padrinho S. Pedro, que andava
pelo mundo.
Quando os pais morreram, ficou a jovem menina ao cuidado de S. Pedro. Seu
padrinho se encarregou da sua educao. Este, temendo que ela fosse
perseguida, resolveu traj-Ia de rapaz. E aconselhou-a que no se desse a
conhecer a ningum, usando somente o nome de Pedro. Foi-lhe dado um
emprego no palcio, onde ficou ao servio do rei. Sendo um jovem muito digno,
a rainha apaixonou-se por ele. Como no devia nem podia, retirou-se quanto
pode. Esta tomou-lhe dio e foi acus-lo ao rei de ele ter dito que era capaz de
ir buscar uma filha que eles tinham encantada na terra dos mouros. O rei
aproveitou-se do oferecimento e disse: - Pois tem de ir, com pena de morte.
Ele foi tomar o parecer com S. Pedro, seu padrinho que lhe disse:
- Vais, pede-lhe os dois melhores cavalos da cavalaria, um para ti outro para
ela, e dois presuntos que para deitares a dois lees que te embargam a
passagem na entrada do cerco. Deitas um entrada, outra na sada, para se

entreterem enquanto passas.


Os mouros, quando se virem sem o seu encanto, ho-de vir para te matar, mas
levas trs agulheiros que eu te dou. Este de cinza que se forma em nevoeiro
para atirar, quando te vires alcanado. Mas eles conseguem romper. Deitas
este de agulhas que se forma silveiral, mas eles ainda conseguem. Deitas este
de gua que formar um rio, e ento ficas salvo.
Chegou entrada. L estavam os dois lees. Deitou-lhe um presunto e passou.
Quando chegou ao destino, ela j esperava e montou no cavalo que ia
destinado. sada l estavam os lees. Deitou-lhe o outro presunto e
passaram. Quando se viu alcanado pelos mouros, deitou-lhe o agulheiro de
cinza que se formou em nevoeiro, e adiantaram jornada. Mas quando se viram
outra vez alcanados, deitou outro de agulhas que formou silveiral. Mas, como
conseguiram alcan-los outra vez, deitou o de gua que formou um rio. Ento
ficaram livres.
Quando caminhavam, a princesa exclamou:
- Ai! douros! Ai! douros!
Mais adiante, outra vez: - Ai! delas! Ai! delas!
J perto do palcio outra vez: - Ai! drago! Ai! drago!
E no falou mais.
A rainha, com o dio que tinha ao Pedro, foi de novo acus-lo ao rei, que era
capaz de fazer falar a filha. Ento o rei disse que tinha de o fazer, com pena de
morte.
Voltou presena do S. Pedro seu padrinho, e contou-lhe o que se passava. S.
Pedro afirmou:
- Pede para mandar construir um palcio em frente ao outro, com trs patins.
Quando estiver tudo pronto, pegas-lhe na mo e levas a princesa ao primeiro
patim, e perguntas o que significavam aquelas frases: Ai! douros! Ai!
douros! Sobes o segundo patim, e perguntas o que queria dizer: Ai! delas! Ai!
delas! De novo no terceiro patim o que queria dizer: Ai! drago! Ai! drago!
Nessa altura h-de falar. Aproximou-se a altura. O rei deitou um decreto para
toda a gente ouvir falar a filha, e chegou o dia.
Ento seguiu as instrues do padrinho. Pegou-lhe pela mo, e levou-a ao
primeiro patim, e perguntou:
- Quando vnhamos a caminho dos mouros, gritaste: Ai! douros! Ai! douros! o
que queriam dizer aquelas palavras?
Ela respondeu: - Porque j me via livre dos mouros. No segundo patim, mais
frente, outra vez: Ai! delas! Ai! delas! Que querias dizer com isso?
- Porque em cima do cavalo de meu pai vinham duas meninas donzelas.
No terceiro patim e j perto do palcio, outra vez: Ai! drago! Ai! drago!

Que querias dizer com isso?


- , que, se tu fosses homem, j meu pai era cabro.
Ento o rei expulsou a rainha e casou com a Maria de Pedra, que viveram
felizes muitos anos.
RECOLHA (1985) de Adelino Augusto Fidalgo, Pai-Torto Mirandela.

NO TEMPO DA MONARQUIA
Havia um rapaz que disse para a me:
- Minha me, vou moirar.
E a me diz-lhe assim:
- Vai, meu filho.
- Queres a minha bno, ou metade de um po?
E o rapaz diz para a me:
- Eu quero a sua santa bno.
E o rapaz foi ter a casa de um rico. Quando bateu porta, diz ele assim:
- Querem-me aqui para criado?
Estava l um velhote e disse-lhe:
- Podes ficar, rapaz, que eu vou-me embora. Mas olha: Nesta bacia de gua
nunca mexas.
O teu trabalho pouco. s tratar de trs cavalos. Esto ali quele canto trs
aguilhadas. Nunca lhe toques, que eu estou aqui h bastante tempo, e ainda
lhes no toquei. Se pensares em te enforcar, puxa por aquela corda, que est
naquele telhado.
E o velho foi-se embora.
O rapaz esteve l muito tempo, sem mexer na gua. Um dia, o rapaz disse:
- Para que quero aqui esta gua? Vou-me lavar nela. Ao mesmo tempo que
deitou com as mos a gua pela cabea, ficou-lhe o cabelo todo dourado. Em
seguida deu um pontap nas aguilhadas, dizendo:
- Quero ver o que daqui vai sair. Ao mesmo tempo que o fez, saem-lhe trs
gigantes.
- Agora, pelo pouco, vou-me enforcar. E puxou pela corda que estava presa
trave.
Encheu-se o cho de dinheiro.
Depois disseram-lhe os trs gigantes:
- Rapaz, tens que te ir embora, porque nos desencantaste.
Um dos gigantes disse ao rapaz:
- Se um dia te vires aflito, basta-te dizer:
- Valha-me aqui o meu cavalinho de cobre.
O segundo diz-lhe tambm:
- Se precisares de mim, diz:
- Valha-me o meu cavalinho de prata.

Depois, o terceiro:
- Pede-me o que tu quiseres, que te atenderei, dizendo:
- Valha-me o meu cavalinho de ouro.
Depois, o rapaz foi-se embora. Seguia por um vale. Viu um carneiro morto.
Abriu-o e tirou-lhe a bexiga, e p-la na cabea para que lhe no vissem o
cabelo dourado.
Depois foi andando at que foi ter ao palcio do rei. Deu umas voltas em redor
do palcio do rei, at que viu o jardineiro. Ofereceu-se para criado. O jardineiro
aceitou o rapaz para ajudante.
O rapaz, quando lhe apetecia, tirava a bexiga da cabea.
At que um dia, a princesa mais nova o viu. Apaixonaram-se um pelo outro.
O rapaz mandava-lhe todos os dias um raminho de flores.
Um belo dia, o rei pensou em casar as suas filhas e fez umas cavalhadas.
O jardineiro, como era amigo do rapaz, disse-lhe assim:
- Amanh so as cavalhadas da filha mais velha do rei. No queres vir?
O rapaz respondeu-lhe:
- Antes quero ficar ao sol no jardim.
Assim que o velho saiu, o rapaz pediu ao seu encanto:
- Valha-me aqui o meu cavalinho de cobre.
E pediu um bom cavalo e roupa ao consoante, para conquistar a filha mais
velha do rei. O rapaz, quando entrou nas cavalhadas, tudo ficou admirado e a
princesa gostou dele.
Quando o velho chegou ao jardim, j o rapaz l estava deitado ao sol, como
tinha ficado. E o velho, entusiasmado, Ps-se a contar ao rapaz tudo o que viu
na festa e disse-lhe:
- Apareceu l um prncipe com o cabelo de ouro.
E o rapaz respondeu desinteressado:
- A mim o que me importa?
Ao outro dia o rapaz disse para o velho:
- Eu era capaz de pr no cimo do jardim um tanque com quatro bicas de gua a
correr.
O velho foi levar a novidade ao rei. Que era capaz de pr no cimo do jardim
quatro bicas de gua a correr. O rei respondeu-lhe:
- Pois com pena de morte tens que as pr.
O velho foi ter com o rapaz. Aflito, contou-lhe o que tinha dito ao rei, e o rapaz
respondeu-lhe:
- No lhe foras dizer nada. A mim no me importa.
Disse o rapaz:
- Valha-me o meu cavalinho de prata. Quero aqui um tanque com quatro bicas a
deitar gua, amanh de manh.
O rei, quando se levantou e viu aquilo, elogiou o jardineiro.

Depois, o velho disse para o rapaz:


- Queres ir s cavalhadas da filha do meio? So amanh!
O rapaz respondeu-lhe:
- Antes quero ficar aqui a dormir.
O rapaz quando se viu s, pediu ao seu cavalinho de prata. Quero aqui um
cavalo e boa roupa, que quero conquistar a filha do rei.
Assim que o rapaz l chegou, ainda ficou maior espanto nas pessoas que da
primeira vez.
E a filha do rei gostou dele.
Um dia, o rapaz e o jardineiro estavam conversando no jardim.
Diz o rapaz:
- Eu era capaz de pr aqui, de hoje at amanh de manh, em cada canto do
tanque uma laranjeira carregada de laranjas maduras.
O velho, ao ouvir aquilo, foi levar a novidade ao rei:
- Saiba Vossa Real Alteza que eu sou capaz de pr em cada canto do tanque
uma laranjeira carregada de laranjas maduras, de hoje para amanh de manh.
E o rei respondeu-lhe:
- Com pena de morte tens de as pr.
O velho foi para ao p do rapaz e disse-lhe:
- Eu disse ao rei que era capaz de pr as quatro laranjeiras no tanque,
carregadas de laranjas maduras. E ele disse-me, com pena de morte, que tinha
de as pr.
O rapaz disse-lhe:
- Ento, se no s capaz, por que lhe foste tu dizer? Vou-te deixar morrer.
O velho foi-se deitar e o rapaz pediu ao seu encanto:
- Valha-me o meu cavalinho de ouro. Quero aqui em cada canto do tanque uma
laranjeira carregada de laranjas maduras, mas que ningum seja capaz de as
cortar, a no ser eu e a princesa mais nova.
O rei convidou muitos reis e prncipes para ver aquilo. Mas as laranjas, s a
princesa mais nova e o rapaz que as colhiam.
Depois, o velhote disse para o rapaz:
- Queres ir s cavalhadas da filha mais nova do rei, que so amanh?
Eu no quero falhar, diz o velho.
E o rapaz respondeu-lhe: - A essa talvez v, se encontrar quem me empreste
um burro.
Desde que o velho saiu o rapaz arranjou um burro j velho e ps-se a caminho.
Quando chegou a um atoleiro, o burro enterrou-se, e o rapaz comeou-Ihe a
puxar pelo rabo.
Quando passava um, dizia:
- Quando este l chegar j os outros esto de volta. E outros riam-se, dizendo:
- Este tarde h-de chegar s cavalhadas.

Diz o rapaz:
- Valha-me o meu cavalinho de ouro. Quero aqui um cavalo e roupa ao
consoante, para conquistar a filha do rei mais nova.
Quando l chegou ainda foi mais admirado que das outras vezes, e a princesa
tambm gostou dele.
Quando o rapaz saiu, vieram-lhe ao encontro dois prncipes.
- Tu conquistaste as trs princesas mas no podes casar com elas trs.
Escolhe a que gostas mais e cede-nos as outras duas. O rapaz respondeu-lhes:
- Para mim quero a mais nova. Mas, antes que vos ceda as outras duas, tendes
que me deixar selar as vossas nalgas com as patas do meu cavalo.
Quando o rapaz chegou ao palcio, vestiu-se com roupa simples e a bexiga na
cabea.
Deitou-se no jardim ao sol, e o velho foi ter com ele, e contou-lhe:
- Hoje ainda foi mais lindo do que das outras vezes.
O rei mandou chamar os dois prncipes e o rapaz apresentou-se com os trs
cavalos que tinha conquistado as princesas, mas em vez de ir vestido de
prncipe, no foi. Ia de roupa simples e a bexiga na cabea.
O rapaz disse para o rei:
- Saiba Vossa Real Alteza que fui eu quem conquistou as suas trs filhas. Estes
dois prncipes vieram c porque fui eu que lhas cedi. Para prova da verdade
ho-de ter as nalgas com as ferraduras escritas dos meus cavalos.
O rei respondeu-lhe:
- Eu no te dou a minha filha por bem empregue. Vai-te embora tu e ela. E
assim se foram e casaram-se. O rapaz pediu ao seu encanto:
- Valha-me o meu cavalinho de ouro. Quero aqui um palcio muito superior ao
do meu sogro, com quatro bicas de fogo no cimo do palcio.
O rei naquela manh levantou-se tarde, porque a janela do seu quarto naquele
dia no tinha a luz habitual. O rei veio janela e viu aquele palcio superior ao
seu. Mandou perguntar quem l estava.
De l responderam-lhe:
- Se sua Real Alteza quer saber, venha c pelo seu p.
O rei mandou outra vez perguntar quem l estava, se no que lhe declarava
guerra.
- Se sua alteza quer saber, que venha c pessoalmente.
O rei j cheio de medo ps-se a caminho. Qual no foi o seu espanto, quando
viu sua filha e o seu genro. Ficou muito satisfeito e mandaram fazer logo uma
festa e assim acabaram todos felizes.
RECOLHA (1985) de Maria Celeste Fernandes, Pai-Torto, Mirandela.

HISTRIA DA LUTA DOS DOIS CARNEIROS


Dois pastores conduziam o gado para a pastagem e encontram-se ao passar
no campo da bola. Cada um deles tinha um grande carneiro que, ao encontrarse, no resistiram a uma luta e comearam a marrar um contra o outro a ponto
do resto do gado se afastar consideravelmente. Enquanto lutavam aproximouse um lobo faminto e estafado da caminhada, que lhes falou:
- Bom dia compadres carneiros!
E eles responderam:
- Bom dia compadre lobo!
- Venho to cansado e cheio de fome que vou ter de vos comer.
- Tem graa, at estamos de acordo que nos comas, mas tens de nos deixar
definir isto aqui. que temos esta leira para dividir pelos dois e temos de fazer
este trabalho para saber o que toca a cada um.
-Ah! Tendes razo. Ento v, acabem l o servio porque estou com muita
fome.
E diz um dos carneiros:
- Ento tu vais sentar-te aqui, o meu companheiro vai afastar-se at l para trs
e eu vou afastar-me tambm, depois vimos os dois a correr e o primeiro a
chegar aqui porque a leira dele a mais pequena.
O lobo concordou, e ento, os carneiros afastaram-se no sentido oposto e
empreenderam uma feroz corrida, um em frente ao outro. O lobo viu-os vir mas
no teve tempo de os evitar, sendo apanhado no meio da estucada dos
grandes cornos dos carneiros, s se ouvindo um grande estouro do lobo a
arrebentar.
Depois do sucedido, os carneiros olharam-se e concluram:
- Este j se foi!
Seguidamente, largaram a correr para alcanar os respectivos donos e gados.
O lobo meio vivo meio morto, l se foi levantando e cambaleando, chegou a um
lameiro onde pastava uma gua e falou-lhe:
- comadre gua, triste a minha vida, venho to doente, cansado e cheio de
fome, vou ter que te comer!
A gua abalada at concordou e disse:
- Acho at bem que me comas, tambm tens direito a viver, mas olha, tenho um
grande espigo numa pata e tens de mo tirar antes de me comer, seno o
espigo espeta-se-te no cu-da-boca e morres.
O lobo entendeu, ento, que seria prudente tirar mesmo o espigo da pata da
gua antes de a comer e disse:
- Ento ala l a pata que tem o espigo.
A gua manhosa levantou a pata e quando o lobo se preparava para arrancar o
hipottico espigo com os dentes, a gua defere um grande coice que deitou

com o pobre lobo aos tombos pelo vale a baixo. E, assim, a gua escapou aos
dentes do lobo.
Passado um pouco, o pobre animal l se foi endireitando aos poucos e tomou
caminho ao longo de um riacho que chegava ao rio, naquele rio havia um
moinho estava parado mas no estava desactivado.
Assim, o dono do moinho tinha ao lado deste uma casotinha onde guardava
uma porca com algumas crias. O lobo foi-se aproximando da me porca
enquanto as filhinhas pastavam por perto:
- Ol comadre porca.
E responde a porca:
- Viva compadre lobo, o que o trs por estes lados?
- comadre porca! Triste a minha vida, venho cansado e cheio de fome, vou
ter que a comer. O que prefere, que a coma a si ou aos seus leitezinhos?
E a porca responde:
- Antes quero que comas os meus filhos, porque eu sou nova e ainda posso
arranjar outros, mas antes tens de mos deixar baptizar.
O lobo curioso pergunta:
- Ento e como se baptizam?
A porca esperta chama o lobo para a sada da gua do moinho onde se
encontrava o rodzio e, ento, explicou-lhe como se faria o baptismo e como ele
deveria proceder:
- Vais ficar aqui sentado na roda com a boca bem aberta para aquele buraco (a
sada da gua), eu vou por cima e mando um leito de cada vez por aquele
buraco, quando chegar aqui j vem baptizado e tu aboca-lo. O lobo concordou
e sentou-se na roda, entretanto a me porca foi guardar os filhotes na loja e,
depois, foi por cima a abrir o canal para deixar correr a gua, fechando-se em
seguida com os filhos. Quando a gua comeou a cair na roda esta comeou a
rodar e a fazer um barulho caracterstico do prprio movimento. O lobo ao
entrar em rotao agarrou-se ao pau do meio (ao veio), mas no pode parar o
movimento e desatou a gritar:
- Pra rezingo que havemos de baptizar um leito!
Mas como a gua no deixava de correr a roda no parava de rodar e o lobo ia
ficando tonto de tanta volta, acabando a fora da gua por arrast-lo ao longo
do rio.
Da janela da sua loja a comadre porca acena:
- Adeus compadre lobo, boa viagem passe muito bem!
Tontinho de tanto rodar e de tanto tombo dar, foi parar junto de um escanzelado
burro que pastava num lameiro, num lugar chamado Tabuaa. Estava coberto
com uma manta e aproximou-se depois de fazer um grande esforo para se
levantar:
- Viva compadre burro.

E disse o burro:
- Ol compadre lobo!
- Ah compadre burro venho to cansado, cheio de fome, que vou ter que o
comer!
- Ah compadre lobo, no ser grande ideia, no vs que sou s ossos, pareceme que ser melhor, uma vez que est cansado, deitar-se ai ao sol e dormir
uma grande sesta, enquanto eu pasto um pouco e assim j te podes fartar. O
lobo obedeceu, deitou-se e deixou-se dormir. Ao ver o lobo a dormir o burro foi
deitar-se por detrs dele, comeando a mexer-lhe por detrs com o seu
instrumento e o lobo acordou:
- compadre burro, ento isto o que ?
O burro respondeu:
- o canho com que te vou matar!
- Ento e isto aqui?
- Isto so as cartucheiras que esto cheias de balas para te matar.
O lobo levanta-se dum salto e no se lamentou mais do seu cansao e da sua
fome, larga a correr pelo vale fora, acelerando quando olhava para trs e via o
burro a zurrar com o canho armado. Cheio de medo e cego na corrida foi
enfiar-se numa mata de estevas que, naquele tempo, tinham j a cabea de flor
a cair, caindo-lhe no lombo ao passar:
- Fogo l para o burro, que grande canho que ainda chegam aqui os chumbos
frios!
Continuou, assim, o triste lobo pelo monte fora, onde encontrou um leo que lhe
perguntou:
- Donde vens compadre lobo, to cansado e esbaforido, parece que viste o
diabo?!
Respondeu o lobo:
- Ah! Se te acontecesse o que me aconteceu a mim agora ali com um burrito!
- Ento o que foi que te assustou assim tanto?
O lobo contou o que lhe tinha acontecido com o burro, e o leo ficou curioso,
no querendo acreditar que fosse assim:
- Olha vamos l os dois dar cabo dele.
- No vou que estou muito cansado!
Diz, ento, o leo:
- Nesse caso, agarra-te aqui ao meu rabo e vamos ver que tipo de burro esse
que tanto te amedronta.
O lobo acabou por agarrar-se ao rabo do leo com os dentes e deixou-se
arrastar por ele, pois j nem tinha foras para andar batendo com a cabea,
durante o caminho, em troncos e pedras. Ao avistarmos o burro, este voltou-se
para trs e pe-se a exibir o seu grande canho. O leo parou e considerou que
seria melhor no avanar mais, porque de facto aquele canho metia respeito!

Entretanto o lobo de tantos saltos e tombos ter dado j estava meio morto,
mesmo assim, o leo voltou para o monte com o lobo preso cauda. Ao parar e
j cansado de puxar, comenta ao ver o lobo de dentes arreganhados, pois j
estava morto:
- Ai tu ainda te ris? Pois eu no acho piada nenhuma, aquele era um canho de
meter medo a um batalho, larga-me l o rabo que eu quero ir minha vida,
mas o lobo j no abria os dentes estava mesmo morto.
Entretanto o leo passou entre duas rvores muito juntas, tendo o lobo que ficar
mesmo para trs, mas ficou-lhe tambm com metade da cauda. Seguindo
saroto, mas livre o leo atravessou pelo campo da bala, no entanto ditou a sua
pouca sorte que pisasse uma casinha de um grilo, que saiu de l todo chateado
e lhe perguntou:
- Oua l senhor leo saroto, quero saber quem lhe deu autorizao para pisar
a minha casa?
- Queira desculpar-me, meu rei grilo, mas creio que no foi de propsito.
Mas o grilo ainda irritado no aceitou explicaes:
- No aceito desculpas, proponho j uma guerra temos que medir foras.
- Pois se insiste, faamos uma guerra!
Combinaram o dia dos confrontos e cada um reuniu as suas tropas. O leo
convidou elefantes, raposas, rinocerontes, mais lees, enfim animais grandes e
ferozes. O pequeno grilo convidou simplesmente abelhas. Chegando o dia D as
tropas puseram-se frente a frente, os animais da floresta ao ver montinhos de
abelhas agrupados no cho, zombaram logo daquela situao e consideraramse vencedores partida. S que saiu tudo ao contrrio, ordem de ataque as
pequenas mas geis abelhas, num zumbido areo atacaram os adversrios
pelo focinho, picando-os nos olhos, nas patas, na barriga, na cauda, nas
orelhas e por tudo quanto era sitio, at que os fortes animais debandaram
deriva.
O lobo, numa corrida desenfreada sem direco, deparou-se com uma raposa:
- Eh, amigo lobo, que corrida cega essa? Donde vens to furioso?
Quase sem parar de se coar o lobo responde:
- Venho ali da guerra do Leo e do rei Grilo, s que ele tinha l uma tropa de
farda amarela que malharam em ns todos. Eram pequenas, mas agarram-se a
ns num zumbido sem fim picando-nos todos e tivemos de nos render. A raposa
pensando que era mais valente adiantou:
- Ah! Se me apanho l eu com as minhas unhazinhas desfao-as todas!
- Pois vai que ainda chegas a quinho.
Volveu o leo continuando a sua fuga e precipitando-se para o fundo do poo
de onde no conseguia sair. A raposa chegou ao campo de batalha e falou:
- Oh, rei Grilo manda c as tuas tropas que quero medir foras com elas!
O grilo enviou uma mozinha de abelhas que envolveram a raposa, de tal

modo, que ela no teve mais que fazer do que enfiar-se num charco de gua
para que as abelhas a largassem.
A raposa no se atreveu a voltar a trs, ficou-se por ali beira do caminho. Por
aquela hora costumava passar por ali o senhor Nazrio que ia de Pao para
Ms vender sardinhas com um caixote s costas. A esperta raposa ao avist-lo
tomba-se ao longo do caminho, como se estivesse morta, o senhor Nazrio dlhe, ento, um pontap para se certificar que estava morta, pensando lev-la
para lhe tirara pele e vend-la. Assim, agarrou a raposa pelo lombo e atirou
com ela para cima das sardinhas que levava s costas, prosseguindo caminho
sem desconfiar da malandrice da raposa. E que astuta foi a raposa e como
pregou uma partida ao sardinheiro!
Ao longo do caminho foi deitando fora, uma a uma, todas as
sardinhas compassando-as ao longo do caminho. Depois, deixou-se ir mais um
bocado para ficar com espao para quando saltasse do caixote poder correr
sem ser apanhada, tendo a possibilidade de comer as sardinhas todas no
regresso. De um salto s a raposa fugiu e exasperou o sardinheiro:
- Ah! Maldita raposa, filha da me, fez-se morta s para apanhar boleia at
aqui, pois olha, escapaste-te a tempo!
No havia nada a fazer, seguiu o caminho e chegou aldeia comeando, logo
de seguida, apregoar as sardinhas, desceu o caixote e p-lo numa parede, mas
para espanto seu no havia nenhuma sardinha no caixote! Pobre do senhor
Nazrio gelou-se-lhe o sangue, comeou a praguejar contra a raposa, enquanto
pedia desculpas aos clientes da aldeia e, assim, perdeu o dia. Por sua vez, a
raposa, no regresso, foi recolhendo todas as sardinhas retirando-se para o
monte, onde os lobos se criam e dormem, chamado Pena Cova. Ai cruzou-se
com um lobo que ficou espantado ao v-la com tanto peixe:
- comadre raposa, donde vens com tantos peixinhos?
E respondeu a malandra da raposa:
- Olha quem quer peixe molha el culo. Dormi toda a noite no poo do tio
Purezo, quando foi de manh, custou-me a sair com tanto peixe agarrado a
mim.
- comadre raposa, tens de me ensinar onde esse poo que eu tambm
quero l ir dormir.
- Ensino sim senhor, compadre lobo!
Foi ento ensinar ao lobo o lugar que seria de suplcio para ele, explicou-lhe
como devia fazer para se meter no poo na parte que era mais profunda
ficando s com a cabea de fora.
Quando chegou a noite o lobo foi meter-se no poo e como era Inverno a gua
comeou a gelar, e como o gelo, no correr da noite, ia apertando cada vez
mais, o lobo chega a pensar que a raposa tinha razo, pensando que o gelo a
apertar eram os peixes. No entanto, o lobo acabou por no ser capaz de sair do

poo acabando por morrer ali com o gelo. A raposa ao saber da burrice do lobo
ficou-se a rir da sua astcia que saiu vencedora contra a esperteza do lobo.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localizao geogrfica: PAO DAS MS ORIGEM + 60 anos.

HISTRIA DO MAMA NA BURRA, DO ARRASA MONTANHAS


E DO ARRANCA PINHEIROS
Havia numa localidade um casal que em tempo prprio teve um filho e devido
ao estado de debilidade em que ficou a me quando do parto, no pode resistir
e morreu pouco depois. Eles tinham uma burrita para os trabalhos no campo,
acabando esta por criar o menino com o seu leite. Assim, foi crescendo o
menino a mamar leite da burra e por isso as pessoas costumavam chamar-lhe
o mama na burra.
Passados alguns anos, o rapaz exibia uma fora fora do comum e anormal para
a sua idade. Dando-se conta disso e j cansado de ser chamado o mama na
burra, disse, ento, para o pai que pensava ir-se embora da aldeia, porque
seno ainda acabava por destru-la com toda a fora que tinha. Pediu, assim,
ao pai para lhe arranjar um basto de 100 arrobas para ir pelo mundo testar a
sua fora. Deste modo, l foi ele com aquele pesado brinquedo na mo, ao
passar ao lado de um rio avistou um estranho movimento de um indivduo, que
com uma alavanca retirava enormes fragas para fazer uma represa no rio.
Parou e ficou parado a apreciar o exerccio, comentando para consigo mesmo:
- Caramba eu considero-me o homem mais forte do mundo, mas este ainda me
ganha! Vou j ter com ele e convid-lo para se juntar a mim e irmos pelo mundo
fora para mostrar a nossa fora. Como pensou assim o fez, juntos agora
seguiam mundo fora, parando mudos ao ver outro fenmeno como eles.
Sentindo curiosidade foram com ele, para ver a sua habilidade, a uma mata de
enormes pinheiros ficando a olhar. Comeou, ento, por estender as suas
enormes cordas e derrubar, de uma s vez, um pinheiro, fazendo, assim, a sua
carga, enquanto os outros se questionavam:
- Como que ele vai agora meter-se por baixo daquilo tudo e levar tudo s
costas?!
O valento no est com meias medidas, mete o monte de lenha por uma das
pontas, mete-se por baixo e arranca com tudo s costas com grande facilidade.
Ento comentou o mama na burra:
- Pois este ainda nos ganha a ns! Vamos juntar-nos a ele e faremos um trio
invencvel.
Convidaram-no e passaram a andar todos juntos, indo desembocar a um lugar
cujo dono no conseguia nem vender nem alugar. Assim, ao ver aparecer
aquele grupo de valentes logo lhes alugou a casa, ali se instalaram e dela se
serviram.
Um dia saram para caar ficando em casa o arrasa montanhas. Passou-se o
dia, e como os companheiros estavam-se a demorar, ele resolveu preparar o
jantar. Tinha j posto a panela ao lume enquanto descascava as batatas,

quando de repente ouviu no telhado um barulho forte. Ao olhar para cima


procurando perceber o que se estava a passar, abriu-se de repente um buraco
no tecto, donde pende uma pequena perna e se ouve um gemido:
- Ai que eu caio, ai que eu caio!
Ao que sem mais, ele responde:
- Pois cai, podes cair!
Ele caiu mesmo, era uma s perna e ficou de p ao seu lado. Novamente se
deu um barulho forte e um novo gemido:
- Ai que eu caio, ai que eu caio!
A resposta do arrasa montanhas foi a mesma, vindo de l outra perna que cai
ao lado da primeira e fica tambm de p. O forte barulho o gemido torna-se a
repetir num vai e vem, at que acabou por cair um o resto de um corpo de um
garoto que se foi encaixar nas pernas, que tinham cado anteriormente. O
mido comeou a queixar-se do frio e como o lume estava sua frente, o
arrasa montanhas respondeu com desdm:
- No tens a lume? Aquece-te!
O mido chegou-se ao lume destapou a panela e, sorrateiramente, meteu para
dentro um punhado de cinza. Ao ver a cena o arrasa montanhas amarra-se
para apanhar um pau e dar-lhe com ele, mas o pequeno fenmeno ao v-lo
de costas transformou-se num gato bravo, saltou-lhe em cima e arranhou-o
todo desaparecendo num salto.
Quando os companheiros chegaram a casa ao se depararem com ele naquela
figura, inquiriram-no sobre o que se tinha passado.
O arrasa montanhas explicou e logo o arranca pinheiros concluiu:
- Ah no! Ento amanh fico c eu.
Ao outro dia assim foi, o arranca pinheiros ficou a arrumar a casa, enquanto
os companheiros foram caa. Tristemente, a cena repetiu-se da mesma forma
e, apesar de j ter acontecido, este no se preveniu e ficou ainda mais
arranhado do que o seu companheiro.
Quando os outros chegaram noite, pensando que nada de mal teria
acontecido, ficaram horrorizados com o sucedido:
- Mas que diabo se passa aqui? Que vem a ser isto?! Pode ser obra do Diabo?
Combinaram, ento, que desta vez ficava em casa o mama na burra.
Contudo, este agiu com um pouco mais de prudncia e preveniu-se, colocando
perto de si o seu basto de 100 arrobas. Quando a situao se repetiu, ele psse atento, esperando o desenrolar dos acontecimentos, para lhe cair em cima
ao chegar a hora certa. No momento em que o mido foi panela para meter a
cinza, o mama na burra, com um gesto rpido, atira com o seu basto para
lhe acertar, mas no mesmo instante o mido faz um pequeno movimento e s
apanhado numa orelha, esta cai ao cho, conseguindo, assim, o garoto fugir
deixando um rasto de sangue sua passagem.

Entretanto chegaram os companheiros, aos quais o mama na burra pediu que


fossem ao patro solicitar um candeeiro para poderem seguir o rasto de
sangue. Entraram num quarto, seguiram para outro e saram para o exterior,
verificando que o rasto terminava debaixo de um grande sequeiro de lenha. O
mama na burra pediu ao arrasa montanhas que levantasse aquela lenha
para ver o que se escondia debaixo, aparecendo, ento, um buraco que se
prolongava pelo cho. Foram, depois, pedir emprestado uma corda, um caixote
e uma campainha, pretendendo com isto, entrar no esconderijo explorando-o. O
primeiro a entrar foi o arranca pinheiros e, tal como tinham combinado,
quando este tocou a campainha em sinal de perigo, os companheiros iaram o
caixote pela corda. A seguir foi o arrasa montanhas, dando-se o mesmo
procedimento, visto que, ao se deparar com os diabinhos suspensos na parede,
tocou a campainha para que o iassem e nada conseguiu ver. Entretanto, o
mama na burra exclamou:
- Agora quero descer eu! Quanto mais eu tocar a campainha mais me deixais
cair.
Assim, procederam os companheiros, fazendo descer o mama na burra at ao
fundo, no deixando, durante o percurso, de se deparar com uns diabinhos
irrequietos e mafarricos que estavam dependurados nas paredes. Ao se
encontrar naquele espao dirigiu-se a uma porta e ao abri-la saiu de l um
monstro de sete cabeas, com o qual lutou, saindo-se vencedor graas sua
fora e ao seu basto. Ao dirigir-se a outra porta teve surpresa idntica, saiu de
l um leo muito forte, mas foi igualmente vencido pelo mama na burra. Havia
uma terceira porta e a sim estava a surpresa que ele procurava, o Diabo
encostadinho a um canto com medo por ter sido descoberto:
- Ai ests a?! Ento sai c para fora, anda, anda!
O Diabo estava mesmo com medo, mas no queria que o outro percebesse e
mandou-o sair primeiro. Contudo, o mama na burra no caiu na armadilha e
fez sair o diabo na sua frente, no fosse ele saltar-lhe em cima como fez com
os companheiros. Ele saiu obedecendo ao mama na burra, que o fez entrar no
caixote sendo iado pelos outros amigos depois de tocar a campainha. Mas,
quando os companheiros se depararam com o diabo largaram tudo e
desataram a correr sem destino para se esconderem. O mama na burra que
se encontrava ainda no fundo do esconderijo pediu ao diabo para o iar,
quando chegou a cima e deu pela falta dos amigos, logo intimou o diabo para
apresent-los antes que o matasse. O diabo obediente em dois saltos
apresentou os companheiros, no entanto, este resolveu tambm reclamar os
seus direitos pedindo ao mama na burra para lhe devolver a sua orelha,
pedido esse que lhe foi negado, ao que o diabo respondeu:
- Se no ma queres dar, fica com ela e quando precisares algo de mim, mordes
na orelha e eu apareo logo para satisfazer os teus desejos.

Depois disto o diabo foi-se embora, continuando os trs companheiros a viver


na mesma casa sem serem mais apoquentados por aquela criatura.
Passados alguns anos o arranca pinheiros faleceu, pouco tempo depois
morreu tambm o arrasa montanhas, deixando o mama na burra a viver
sozinho naquele casaro.
Num belo dia o mama na burra passeava por um caminho cruzando-se com
ele dois velhinhos que lhe pediram esmola, como levava consigo dois pes e
dois duros, deu s pedintes um po e um duro. Cada um seguiu o seu caminho
e na volta cruzou-se, novamente, com os dois velhinhos aos quais deu o que
lhe restava de po e tostes. Reconhecidos com a sua generosidade, um deles
quis recompens-lo dizendo-lhe que pedisse o que mais quisesse que ele lhe
recompensava. O outro companheiro de estrada So Pedro (incgnito)
segredou ao mama na burra:
- Pede-lhe a salvao, pede-lhe a salvao!
No entanto, o mama na burra no se preocupou com este tipo de pedido,
repelindo So Pedro, exclamou depois de uma pausa:
- Cala-te careca do caraas! Quero que tudo o que veja e que me apetea entre
no meu serro, e quero que, para onde eu deitar o meu chapu, ningum o
consiga levantar a no ser eu.
E Deus, ento, disse:
- Pronto esses poderes te dou.
O mama na burra viveu ainda uns anos sozinho, mandando entrar para o seu
serro tudo o que via e que lhe apetecesse, como fez com um bando de
pombos. Os residentes daquele lugar, quando souberam que o mama na
burra tinha acabado de vez com aquela assombrao sepultando o diabo no
inferno, fizeram uma grande festa. Pois, parecia que ningum nas redondezas
tinha conseguido comprar o casaro, onde morava o mama na burra por ser
habitao do diabo.
Quando o mama na burra morreu, como j sabia o caminho, foi bater s
portas do Inferno, perguntando o diabo de l de dentro:
- Quem ?
Ao que o mama na burra respondeu:
- o mama na burra abre-me a porta!
- Ah! Fechai as portas e os postigos o mama na burra que nos tem a todos
cozidos! Olha, vai para o Cu que h l mais lugar.
Pobre mama na burra velhinho e morto ainda teve mais uma viagem a fazer,
subindo tantos degraus para chegar ao cu.
So Pedro veio at porta perguntar quem era:
- Sou o mama na burra e quero entrar.
- Olha, vai para o Inferno, aqui no podes entrar.
O mama na burra implorou mais um pouco:

- J l fui e no me quiseram. So Pedro, deixa-me ao menos consolar os


olhos, abre s um bocadinho da porta para ver como o cu bonito.
So Pedro comovido com o pedido abriu a porta e o mama na burra, como
tinha o poder (concedido por Deus) de s ele ser capaz de levantar o seu
chapu, fez chantagem com isso, assim quando So Pedro o mandou embora
ele pediu que o deixasse ir buscar o seu chapu. Contudo, So Pedro no era
capaz de lhe dar o chapu, e enquanto discutiam, Deus passou por aquele stio
perguntando o que se passava ali, ao que So Pedro respondeu:
- este senhor mama na burra que morreu e devia ir para o inferno, mas veio
para c, s que no se quer ir embora sem o seu chapu e eu no sou capaz
de lho dar.
Ento Deus na sua bondade mandou que o deixasse entrar e se sentar na
cadeira ao lado da sua. E assim foi que o mama na burra venceu o diabo e
ganhou um lugar no cu.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localizao geogrfica: PAO DAS MS ORIGEM + 60 anos.

A HISTRIA DO CEGO SANTO E SBIO


Era uma vez um prncipe e uma princesa que estavam numa varanda que dava
para a rua, nisto vem uma junta de vacas pela rua a cima, nisto diz o rei:
- Oh! Que linda junta de bois ali vai!
Dizendo, logo de seguida, a rainha:
- Oh! Que linda junta de bois no. Oh! Que linda junta de vacas.
- Palavra de rei no volta a trs, e tu se me mandas repetir mando-te matar. No
entanto, a rainha repetiu:
- Oh! Que linda junta de bois no. Oh! Que linda junta de vacas.
O rei mandou logo chamar os criados para levar a rainha para o meio do mato,
ordenando que lhe levassem a lngua da rainha. Mas os criados tinham uma
cadela que era muito amiga deles e quando viu os criados com a rainha a
cadela acompanhou-os. Eles levaram, ento, a rainha, que estava grvida de
sete meses, para uma ilha rodeada de mar onde viviam muitos macacos. Os
criados em vez de matarem a rainha, mataram a cadela e levaram a lngua da
cadela, o rei quando viu a lngua pensou que era a da rainha. A rainha ficou
sozinha na ilha e um macaco entregou-se a ela, entretanto teve que se habituar
a comer s pssaros, caa e tudo o que encontrasse. Passados uns tempos o
filho nasceu, ela desfazendo os farrapinhos que trazia vestidos, para cobrir o
filho, este comeou a crescer e a vida dele era caar. Um dia o rapaz chegouse beira da ilha, onde estava um brao de mar mais estreito e ps-se a nadar
para o outro lado deixando a ilha. No outro lado encontrou um cinturo cheio,
um co e uma espingarda, assim que pegou neste objecto reparou que era

para atirar, nisto v passar um bando de pombas e disparou sobre elas


matando duas. O co foi busc-las trazendo-lhas mo ficando o rapaz muito
contente com essa e outra caa que conseguiu esse dia, indo depois ter com a
me que lhe explicou o que era tudo aquilo. Ao outro dia voltou ao mesmo stio
com a espingarda e o co, andou um bocado e viu um grande palcio, ele
entrou para o quintal do palcio onde estava um gigante que lhe disse:
- Oh! Que rico franguinho aqui me apareceu.
E nisto vai-se direito a ele para o matar e para o comer, mas o rapaz d-lhe dois
tiros e o gigante cai por terra. O rapaz entrou no palcio para dar a volta quilo
tudo, encontrando um quarto cheio de ossos de pessoas que o gigante tinha
comido. O rapaz foi buscar o gigante atirando com ele para cima dos ossos,
arrecadando, tambm, as chaves todas do palcio para as levar me, tendo
cham-la para o palcio. No dia seguinte quando foi para a caa disse para a
me:
- Minha me tem aqui as chaves dos quartos todos, peo-lhe que no abra
aquele ali.
A me respondeu:
- Ento se tu me pedes tanto no vou abrir.
No entanto, mal o filho virou costas a me foi logo abrir aquele quarto, onde se
encontrava o gigante, ao que a rainha proferiu:
- Ento o que que o senhor est aqui a fazer, est doentinho?
- Olha, foi o teu filho que me deu dois tiros e atirou-me para aqui, mas este
palcio todo meu.
- Mas eu posso tratar de si!
Entretanto a rainha comeou a tratar dele, noite chegou o filho e perguntou
me?
- Me abriu a porta?
A me respondeu que no e o filho ficou todo contente.
No dia seguinte voltou a sair para caar, a me voltou a ir tratar do gigante at
este ficar bem curado, combinando com este matar o rapaz para ficarem os
dois com o palcio.
A rainha disse, ento, para o gigante:
- Ento como vamos fazer para o matar?
- Fazemos muito bem! Quando ele chegar dizes-lhe que ests muito doente e
que precisas de comer peras do pereiro, em tal lugar assim, assim.
Os pereiros estavam encantados, pois se o rapaz tocasse numa das peras
ficava l tambm. Ali perto dos pereiros, havia um cego, santo e sbio, em cuja
casa o rapaz parou quando ia a cavalo para os pereiros. O cego, santo e
sbio tinha trs filhas, dizendo para estas:
- Chamai aquele rapaz que eu quero falar com ele!
O rapaz entrou e disse-lhe o cego, santo e sbio:

- Oh! Rapaz que andas a fazer?


O rapaz contou-lhe que tinha a me muito doente e que no melhorava sem
comer as peras dos tais pereiros, ao que o cego, santo e sbio respondeu:
- Sim, a tua me est muito doente, mas escuta bem aquilo que te vou dizer,
vais l aos pereiros e passas por baixo de todas as peras dos pereiros e no
meio do terreno h uma pereira, da qual tiras quatro peras e voltas para aqui.
Assim fez o rapaz, mas mal este virou costas o cego, santo e sbio disse
para as filhas:
- O rapaz desta salvou-se. Ele est a chegar agora, pegais nas quatro peras
que ele trs e dais-lhe quatro peras das nossas.
Assim aconteceu, levando essas quatro peras trocadas me. Quando cegou a
meio do caminho o gigante deu conta que ele estava de retorno:
- O teu filho no ficou l, ele vem ai.
O rapaz chegou ao palcio e deu as peras me que lhe agradeceu de
imediato, agarrando-se a ele falsamente. Ao outro dia o rapaz voltou para a
caa, dizendo o gigante para a rainha:
- Diz ao teu filho que tu no melhoras sem beber a gua das sete bicas da
fonte.
O rapaz ao retornar da caa, ouviu as queixas da me:
- Oh! Meu filho, eu no melhoro sem beber gua das sete bicas da fonte.
Ao que o rapaz retorquiu:
- Pois minha me eu vou buscar essa gua.
O cavalo do rapaz dirigiu-se, mais uma vez, para a casa do cego, santo e
sbio, este mandou as filhas cham-lo perguntando-lhe depois:
- Ento, como est a tua me?
Ao que o rapaz respondeu:
- Est muito doente, no melhora se no beber a gua das sete bicas da fonte.
- Olha, levas esta cntara, vais por este caminho fora at encontrar uns portais
muito altos e fortes. Mas toma sentido no que te vou dizer, quando estiveres
perto deles, os portais vo-se abrir e tu vais de cntara na mo, s uma das
bicas que vai estar a pingar gua, enchendo a cntara s dessa bica.
O rapaz quando foi colher a gua, ainda se enganou, mas depois ps a
cntara na bica certa, contudo ao sair os portes fecharam-se, no momento em
que ele ainda estava a passar, ficando l entalado o que o levou a ter de rasgar
o casaco. O cego, santo e sbio disse para as filhas:
- Minhas filhas! O rapaz salvou-se! Agora tirais-lhe aquela gua e dais-lhe da
nossa, enquanto eu falo com ele.
Assim, o cego, santo e sbio revelou ao rapaz:
- O gigante e a tua me esto para te matar. A tua me cuidou dele e est muito
mais forte do que estava, ele no est morto. Agora tu vais para o palcio, no
tenhas medo pede tua me que te matem e que te partam s postas e te

metam dentro de um saco, mandando-o num cavalo pelo mundo fora.


O rapaz quando chegou ao palcio l estava a me e o gigante para o
matarem, dizendo o rapaz para a me:
- Ento minha me, tanto que eu lhe queria e fiz por si, e agora quer-me matar?
Respondeu a me:
- No interessa, eu quero-te matar!
- Se quiser me matar, mate! Mas partam-me todo em postas, metam-me dentro
de um saco e prendam-me ao rabo de um cavalo para ir por esse mundo fora.
Mas o gigante queria mat-lo e enterr-lo no quintal, o rapaz voltou a fazer o
pedido me, ao que esta respondeu ao gigante:
- Isso no interessa, vamos mas mat-lo.
Ento, mataram o rapaz e fizeram conforme ele tinha-lhes pedido, e o cavalo foi
direito casa do cego, santo e sbio.
O cego, santo e sbio manda as filhas tirar o saco com o corpo do rapaz,
pedindo que o levassem para casa, dizendo depois para as filhas:
- Agora, minhas filhas ponde o lenol no cho, colocai posta por posta do corpo
do rapaz at ficar perfeito.
Assim aconteceu, faltando s a bicha, a filha mais velha no a quis pr, a do
meio tambm no, mas a mais nova disse:
- uma parte como as outras!
Agarrou nela e colocou-a no devido lugar, de seguida esfregaram-lhe o corpo
com a gua que ele tinha ido buscar e o corpo comeou-se a unir.
O cego, santo e sbio tinha uma moca que pesava 100 arrobas, dizendo s
filhas para partirem a pra, que o rapaz tinha ido buscar, em quatro partes. O
rapaz quando comeu metade da pra exclamou:
- Vou matar o gigante!
O cego, santo e sbio dirigiu-se a ele e disse-lhe:
- Anda c, levanta esta moca!
O rapaz bem tentou, mas no tinha fora para tal.
E o cego, santo e sbio referiu:
- No vais matar o gigante, ainda no tens fora para ele.
Quando o rapaz comeu a segunda parte da pra voltou a jurar morte ao
gigante, mas o cego, santo e sbio voltou a pedir-lhe que levantasse a moca e
como na vez anterior ele no teve fora suficiente, ao que lhe diz o cego, santo
e sbio:
- Ainda no tens fora para ele.
O rapaz quando comeu a terceira parte da pra atirou com a moca para longe e
disse o cego, santo e sbio:
- Agora j podes ir que j tens fora para ele, mas olha que a tua me vai-te
pedir para no a matares, no entanto tambm te matou a ti.
O rapaz j ia perto quando o gigante o v e vai contar rainha que o filho tinha

chegado para os matar. A me implorou que no a matasse, mas o rapaz no


quis saber matando os dois, assim, montou a cavalo e foi para casa do cego,
santo e sbio, dizendo chegada:
- J matei a minha me e o gigante.
E responde-lhe o cego, santo e sbio:
- Fizeste muito bem! Agora esto aqui as minhas filhas escolhe uma para casar.
A mais velha disse:
- Caso eu com ele, pois tenho todo o direito de casar.
A do meio disse o mesmo, e a mais nova reclamou:
- No! Quem lhe ps a bicha fui eu, por isso, sou eu que caso com ele.
O rapaz assim o fez, casou com a mais nova e viveram felizes para sempre.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localizao geogrfica: PAO DAS MS ORIGEM + 60 anos.

A HISTRIA DA FERA
Era uma vez um homem que ia por um caminho fora e encontrou um homem
morto, naquele stio, estava um galgo, um leo, um corvo e uma formiga para
dividirem entre eles, em partes iguais, o homem morto. Ao verem chegar aquele
homem diz o leo para o galgo:
- Olha, vem ali um homem, vamos cham-lo para que nos parta este homem e
ficarmos todos contentes.
O homem partiu o morto dividindo-o pela bicharada, dando a cabea formiga
e dizendo:
- Pega, tens ai muito que comer e casa para viver!
Ao corvo deu-lhe as tripas, ao galgo deu-lhe os quartos e ao leo deu-lhe o
lombo. No final, ficaram todos contentes com a sua parte, ao que o homem
resolve perguntar:
- Ento ficaram todos contentes?
Respondendo o leo:
- Ficamos! Podemos ir embora?
O homem respondeu que sim e foi-se embora, quando j ia um bocado longe,
diz o leo para o galgo:
- Ento, o homem esteve aqui com tanto trabalho a dividir a carne por entre ns
e no lhe pagamos nada?! Tu galgo vais dar uma corrida para o homem voltar
c.
O galgo foi chamar o homem que voltou para trs, dizendo-lhe o leo:
- Ento, estiveste aqui com tanto trabalho e no te pagamos nada?
O homem responde:
- Vs no tendes nada que me pagar!
- Temos sim, tens a uma caixinha?
O homem respondeu que sim, o leo puxou de um cabelo e deu-o ao homem

dizendo-lhe que quando se sentisse aflito para puxar por ele dizendo: valha-me
aqui o rei dos lees, transformando-se, assim, em leo.
O galgo fez o mesmo e disse ao homem:
- Pega l este plo, quando vires alguma coisa que te agrade e que te fuja,
puxas pelo plo e dizes: valha-me o rei dos galgos, transformando-te em
galgo e apanhando tudo.
O corvo arrancou uma pena sua dando-a ao homem:
- Pega l esta pena, quando quiseres agarrar alguma ave puxas pela pena e
dizes: valha-me o rei dos corvos e transformas-te no rei dos corvos,
apanhando o que tu quiseres.
A formiga coitadinha teve de arrancar um corninho e d-lo ao homem:
- Toma l este corninho quando quiseres fugir de algum, puxas por este
corninho e dizes: valha-me a rainha das formigas e transformas-te em
formiga, podendo esconderes-te num buraquinho.
O homem transformou-se em tudo o que lhe disseram e l continuou todo
contente, chegou a um alto onde andavam dois irmos a baterem-se, ao ver
aquilo disse:
- Andais aqui a bater-vos porqu?
- por causa destas botas.
- Ento por causa destas botas preciso baterem-se?!
- Oh! Senhor, estas botas tm muito valor, so mgicas, levam-nos onde ns
quisermos.
Ento, o homem explica-lhes:
- Eu tenho aqui esta bola, quando a atiro pela ladeira abaixo, o primeiro que a
apanhar fica com as botas.
Os irmos concordaram com a proposta, enquanto foram os dois atrs da bola
o homem calou as botas e disse:
- Botas, quero ir para aquele stio.
As botas obedeceram e l o levaram, o homem ficou, assim, muito feliz pelos
novos poderes. O homem foi pesca e apareceu-lhe o rei dos peixes que o
agarrou levando-o ao fundo do mar. Na casa do rei dos peixes o homem abriu a
porta de um quarto e saiu de l uma mulher, com a qual esteve a conversar
muito, e nisto ela diz-lhe:
- Ns nunca vamos sair daqui, porque para sairmos temos que matar uma fera
que h numa serra perto da cidade de Berlim, mas no h ningum que a
consiga matar, porque ela muito grande e come tudo. Depois de a matar sai
de dentro da fera uma lebre a fugir e preciso correr muito para a apanhar, de
dentro da lebre sai, tambm, uma pomba a voar precisando-se apanhar a
pomba e tirar-lhe um ovo que l tem, depois preciso trazer o ovo para a matar
o rei dos peixes e s depois que podemos sair daqui. Diz o homem para a
mulher:

- Pois custe o que custar tenho que arranjar esse ovo.


O homem pediu um ms de licena ao rei dos peixes para o deixar ir cidade.
O rei dos peixes deixou-o sair, mas disse-lhe que tinha s esses dias, tendo
que estar l nessa data para voltar para o fundo do mar.
O rapaz foi logo para a cidade de Berlim, ao chegar l encontrou uma casa para
servir que era de um prncipe, falou com este e ajustou-se para andar l com o
gado.
No entanto, o patro disse-lhe para no ir para a serra com o gado, pois havia
l uma fera que o comia a ele e ao gado. Mas o rapaz no quis saber e foi logo
direitinho a ter com o gado, entrou para a cerca enquanto o gado comia ele foi
para a entrada do buraco a chamar pela fera:
- fera anda c para fora que eu quero lutar contigo. Valha-me aqui o rei dos
lees.
Lutaram, lutaram, at que cada um caiu para o seu lado at que se cansaram e
cada um caiu para o seu lado de cansao.
A fera ia a entrar para o seu buraco dizendo para o leo:
- Se eu tivesse aqui um bocado de po matava-te a ti e ao rei leo.
Respondendo o rei leo:
- Se eu tivesse aqui um beijo de uma donzela, um copo de aguardente e uma
bola quente matava-te a ti serpente.
A filha do prncipe para o outro dia foi atrs dele a espreit-lo para ver
onde ele ia, quando viu entrar o gado ela foi logo para os portes e viu o rapaz
a transformar-se num leo, estando a ver lutar os dois at ao fim, ouvindo
depois dizer fera:
- Se eu tivesse aqui um bocado de po matava-te a ti e ao rei leo.
Respondendo de seguida o leo:
- Se eu tivesse aqui um beijo de uma donzela, um copo de aguardente e uma
bola quente matava-te a ti serpente.
A rapariga ouviu isso tudo quando nisto viu o rapaz a transformar-se outra vez
na pessoa, seguindo para casa.
Pela noite fora a rapariga levantou-se e foi cozer a bola, de manh o rapaz
tinha uma bola quente, um beijo de aguardente e o beijo dava-lho ela.
O rapaz voltou a levar o gado direitinho cerca, a rapariga foi atrs dele com a
aguardente, a bola e o beijo para lhe dar. Quando o leo estava a lutar com a
fera a rapariga aproximou-se do rapaz quando os viu tombar cada um para seu
lado dando o que trazia consigo ao leo, ao recuperar as foras o leo dirigiuse logo fera para a matar.
Depois ele e a rapariga abriram a fera saindo de l uma lebre, ao ver isto o
rapaz puxou do plo que o galgo lhe tinha dado e disse:
- Valha-me o rei dos galgos.
Ele transformou-se num galgo apanhando de seguida a lebre, de dentro desta

saiu uma pomba a voar e ele puxou da pena do corvo e disse:


- Valha-me aqui o rei dos corvos.
E logo apanhou a pomba, mas de dentro dela ainda retirou um ovo, dirigindo-se
depois os dois para casa contando o que se tinha passado ao prncipe, mas
este no queria acreditar na histria. O prncipe queria que o rapaz casasse
com a sua filha, mas este negou visto ter de voltar para casa do rei dos peixes.
O rapaz, quando voltou para o fundo do mar, contou rapariga tudo o que lhe
tinha acontecido at ento e os poderes que tinha arrecadado, foi a que a
rapariga teve uma ideia:
- Ento amanh quando o rei dos peixes vier falar comigo ele fica de p
minha frente, enquanto tu te transformas em formiga e sobes por mim at ao
peito dando-me o ovo para a mo que eu dou-lho com ele na testa para o
matar.
No outro dia o rei dos peixes foi a falar com a rapariga e esta deu-lhe com o ovo
na testa como combinado, fazendo com que o rei dos peixes morresse.
O rapaz e a rapariga foram libertados, querendo esta agora casar com ele, mas
o rapaz tinha outros planos, casando-se sim, mas com a filha do prncipe.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localizao geogrfica: PAO DAS MS ORIGEM + 60 anos.

A HISTRIA DO SAPATEIRO POBRE


Era uma vez um sapateiro pobre, que nada tinha seu a no ser o po do dia,
que ia conseguindo com os pequenos arranjos em calado que fazia e com
outros servios, como ripar sacos de folhas de negrilhos para dar aos animais
dos outros. Um dia estava ele em cima de um negrilho a ripar folhas, quando se
deu conta que trs homens dirigiam-se na sua direco, encaminhando-se para
umas enormes fragas. Os trs homens ao chegar s fragas pararam, falando
um deles:
- Abre-te ssamo.
Espanto do sapateiro, quando viu as fragas a abrirem-se para os lados e os trs
homens entraram, passados poucos minutos, os indivduos saram voltando-se
novamente para as fragas:
- Fecha-te ssamo.
As fragas voltaram a unir-se, de modo que ningum desconfiou que ali havia
algo de anormal. O sapateiro em cima do negrilho puxou por um papel
escrevendo as frmulas que acabara de ouvir. Quando os indivduos se
afastaram ele, movido pela curiosidade, foi tentar fazer o mesmo:
- Abre-te ssamo.
As fragas abriram-se e ele, ficou espantado com a riqueza que viu, meteu,

ento, no saco das folhas uma rasa de libras, pedindo depois s portas para se
fecharem. Regressou a sua casa continuando com os seus afazeres do dia a
dia, no entanto um vizinho rico no deixava de comentar o modo de vida
daquele homem:
- vizinho, estranho como leva a sua vida to pobre e sempre a cantar!
Levanta-se tarde, vai-se embora cedo
Interrompeu o sapateiro:
- Sabe vizinho vale mais quem Deus ajuda do que quem muito madruga!
O seu vizinho rico desfazia-se a trabalhar, levantando-se cedo e fazendo
grandes noitadas, nunca lhes apetecendo cantar. Ao lado da casa do pobre, o
vizinho rico tinha grandes quintas com casas ao fundo. Um dia o sapateiro falou
ao vizinho naquele prdio e ele pediu-lhe muito para o arrendar, mas o
sapateiro queria-lo comprar, o homem ante esta proposta, olha o sapateiro de
alto a baixo, e lana uma gargalhada. O sapateiro, pensando que no se tinha
feito entender, repetiu:
- Eu preciso desta quinta diga-me quanto quer por ela? Eu compro-a.
O rico lanou para o ar um preo, que no sendo o valor real da fazenda, lhe
pareceu que ia assustar o sapateiro, s que enganou-se porque o sapateiro
saca de um grande valor de dinheiro e d-lo ao vizinho:
- Pronto, negcio fechado, a quinta minha. Vamos tratar de a pr em meu
nome.
O rico nem teve tempo de resposta, ficou vencido no conceito que tinha do seu
vizinho sapateiro, este por sua vez sentiu-se mais rico e feliz que o vizinho rico.
O sapateiro tratou em pouco tempo de construir uns celeiros grandes para
recolher os cereais, estaleiros para os animais, uma pocilga para os porcos que
iria vender e aves de capoeira. O resto da populao andava admirado com o
sapateiro pobre que comprou carros, tractores, toda a espcie de mquinas e
quintas por aquelas redondezas. Mas de tanto investir, o dinheiro foi-se
escasseando e o sapateiro pensou em voltar s fragas para ir buscar mais
dinheiro. Ento, o sapateiro muniu-se com a sua caadeira e dirigiu-se para as
fragas, esperou que os trs indivduos chegassem, deixou que eles entrassem
e colocou-se mesmo em cima das fragas, armando a coisa de tal modo que
parecia que trazia consigo um batalho de soldados. Desviou com cuidado
duas telhas e enfiou por l os canos da espingarda, comeando a dar ordens
aos hipotticos soldados para estarem atentos aos movimentos dos homens no
interior do esconderijo. Ao ouvirem as ordens os indivduos desorientaram-se,
matando os trs muito facilmente dentro do buraco. Desceu a casa a buscar a
carrinha e na volta ordenou s fragas:
- Abre-te ssamo!
Ali carregou o carro com tudo o que l havia, agora rico no havia ningum que
pegasse nele. Em casa a mulher e as filhas ficaram admiradas com tudo aquilo,

transformando-se a vida daquela famlia.


RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localizao geogrfica: PAO DAS MS ORIGEM + 60 anos.

A HISTRIA DAS TRS PRIMEIRAS RAINHAS DO SOL


Era uma vez um vendedor de azeite que percorria as aldeias com uma mula,
mas um belo dia o homem teve um acidente com a mercadoria, rebentou-lhe
uma das bilhas em que transportava o azeite. Como no podia fazer nada com
o azeite derramado exclamou:
- Agora que o apanhe quem quiser que eu no o quero.
Vivia naquele lugar uma bruxa, ao saber o que tinha acontecido, pegou num
ovo fez um furo retirando-lhe o interior, indo todos os dias encher o ovo de
azeite acartando-o na cabea. De regresso a casa passava sempre por um
grupo de estudantes, ao verem que a cena se repetia, um estudante decidiu
quebrar o ritual e disse:
- O raio da velha passa por aqui todas as manhs com um ovo cabea,
amanh vou-lhe atirar uma pedra e deito-lhe o ovo ao cho. Assim fez, mas a
bruxa voltou-se e praguejou:
- Oxal Deus queira que no tenhas nem descanso nem sossego sem saber
das trs primeiras rainhas do sol.
O rapaz no mais teve descanso, passado um tempo pediu ao pai que lhe
arranjasse um cavalo bravo para ir em busca das trs primeiras rainhas do sol.
O pai acedeu ao pedido e o rapaz andou a galope durante dias e noites
seguidas, parando num alto monte onde nada se avistava, no entanto viu ao
longe uma luz. O rapaz correu em direco luz e ao alcan-la bateu porta
de uma casa, dela saiu uma senhora de idade (me da lua) que lhe perguntou:
- Ento que faz por aqui um menino a esta hora?
- Ando procura das trs primeiras rainhas do sol.
- Oh! Isso no encontras sem falar primeiro com a minha filha.
- E quem a tua filha?
- a lua! S que no podes estar aqui quando ela chegar, porque se ela cheira
carne humana capaz de te devorar. Mas deixa estar que vou ver se encontro
um quarto escuro para l ficares.
Quando a Lua chegou junta da me logo observou:
- Mam, cheira-me muito a carne humana !
- Ah filha! Foi um rapazinho que passou por aqui procura das trs primeiras
rainhas do sol.
- Para isso ele tem de levar trs papas minhas.
A Lua explicou, depois, tudo me e quando esta compreendeu para que eram
as papas apressou-se a dar-lhe de comer para obter dela o que o rapaz

precisava. Enquanto a filha comia a me perguntou:


- O que ests a comer minha filha?
Sem responder atirou-lhe uma papa para a cara, que mais tarde ela guardou. A
me fez-lhe a mesma pergunta noite e de manh obtendo a mesma resposta
das duas vezes, conseguindo, assim, a velhinha as trs papas para o rapaz,
explicando a este:
- Para atravessares o rio atiras uma papa, o rio seca e tu passas. Depois
aparece-te um leo atiras-lhe outra papa e ele adormece, tu pegas nas chaves
e abres o ouvido direito do leo tirando de l as trs caixinhas que l esto.
Para regressar secas novamente o rio com a ltima papa.
Andou no caminho de regresso e parou junto de uma fonte com curiosidade de
abrir uma das caixas, ao abrir a caixa saiu de l uma menina que lhe pediu:
- D-me pente e gua ou eu morro.
O rapaz assim fez, mas enquanto a rapariga se penteava a fonte secou e ela
morreu.
Ele seguiu caminho sentando-se num tanque de gua, abrindo a segunda caixa
de onde saiu outra menina fazendo o mesmo pedido. Ele deu-lhe o pente e a
gua, mas aconteceu com esta menina o mesmo que com a segunda e morreu.
Mais adiante o rapaz parou beira de um rio, ao abrir a ltima caixa saiu uma
menina com o mesmo pedido:
- D-me um pente e gua seno morro.
O rapaz assim fez e desta vez a rapariga preparou-se seguindo caminho com o
rapaz. Passado muito tempo chegaram a casa do rapaz j com um filho no
colo, mas ao outro dia o rapaz teve de sair deixando a me e o filho ao sol, ao
passar a bruxa pediu para que a menina recostasse a cabea no seu regao e
dormisse. Apesar da menina no querer obedecer, a bruxa insistiu e ela acedeu
ao pedido, a bruxa picou-a com uma agulha e transformou-a numa pomba que
logo levantou voo. A bruxa tomou, ento, o lugar da menina e esperou que o
rapaz regressasse. Ao chegar o rapaz ela apresentou-se como a sua mulher,
mas o rapaz no queria acreditar que ela fosse a sua esposa, no entanto ela
alegou que fora o sol que a tinha transformado, ele l a aceitou e ficou com ela
uns dias. Os criados andavam a lavrar uma propriedade e na hora da merenda
vem uma pombinha que pousou no jugo dos animais e meteu conversa com
eles:
- Boas tardes lavradores.
- Boas tardes pombinha.
- Ento o pap e a mam como andam?
- Bem!
- E ento o menino canta ou chora?
- Umas vezes canta, outras chora!
A pomba bateu asas e exclamou:

- Pobre me por estes montes agora.


Os lavradores ao chegar a casa contaram ao patro o que estava a acontecer
h dois dias. Ento, o patro ordenou que levassem pez para espalhar no jugo,
para apanharem a pomba viva. A velha quando a viu fez-se de doente dizendo
que queria um bocadinho da pomba. Assim, o rapaz ordenou que matassem a
pomba, mas ao irem-na matar acharam o alfinete que a bruxa lhe tinha
espetado e deram o alarme. O marido retirou-lhe o alfinete o que a fez voltar a
ser humana, perguntando-lhe o que se tinha passado com ela, ao que esta lhe
explicou tudo o que a bruxa tinha feito:
- O que havemos de fazer agora com esta bruxa?
A menina respondeu:
- A carne rija-la em azeite e dos ossos faremos umas escadinhas para subirmos
para a nossa cama.
Assim aconteceu e cada vez que ela subia para a cama os ossos chiavam, ao
que a menina respondia:
- Padece que eu j padeci!!!
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localizao geogrfica: PAO DAS MS ORIGEM + 60 anos.

A HISTRIA DOS TRS PRIMOS


Era uma vez um casal muito rico que tinha dois filhos e um sobrinho que era
pobre. Os pais mais ricos puseram os filhos a estudar em Bragana, o sobrinho
como era mais pobre pagaram-lhe tambm os estudos. O mais pobre dando
valor aos estudos aplicava-se, mas os mais ricos eram mais baldas, at que
um dia foram os trs para a tropa. Na tropa o mais pobre como tinha estudos foi
para tenente, enquanto que os mais ricos foram para soldados rasos. O pobre
ficou encarregue da distribuio dos salrios entre os soldados, entretanto os
primos tanto lhe fizeram que o iludiram para desviar o dinheiro para irem para a
batota, levando a que o pobre homem perdesse o dinheiro todo. Aps o
sucedido, combinaram fugir os trs, foram mundo at que encontraram um
palcio, onde ouviram uma voz a cham-los para entrarem para uma sala, para
a qual entraram e encontraram uma mesa grande e bem composta com muita
comida. Ao chegar noite ouviram outra voz:
- O soldado numero tanto vai dormir ao quarto nmero tal.
A voz mandava cada um dormir a seu quarto, mas os dois irmos no quiseram
e dormiram num s quarto. Pela noite dentro apareceu ao pobre uma rapariga
para lutar com ele e disse:
- Tu de manh vais ver o tanque, onde esto trs pombas, duas a brincar na
gua e uma murcha (era a que estava a lutar com ele).
Os dois de manh questionaram-no:

- O que andaste tu a fazer? Lutaste tanto!


Ele negou tudo, porque a rapariga tinha-lhe dito para o fazer. Na noite seguinte,
voltaram os dois irmos a dormir juntos e o primo no quarto indicado pela voz,
voltando a lutar com a rapariga, dizendo-lhe esta:
- Olha amanh vais a cavalo e vais-me a buscar feira dos encantos, mas
quando l chegares l aquilo torna-se num mar, mas tu avanas no tenhas
medo que no gua. Estaro muitos a dizer que os leves a eles, segue, no
entanto, em frente que hs-de me encontrar a mim muito murchinha.
O rapaz montou a cavalo e vieram embora os dois, depois chegaram a um sitio
no qual ela puxou de um anel com o nome dela gravado, dando-o ao rapaz
dizendo:
- Eu quero casar contigo, mas tu tens que ir ter comigo cidade de Tavas.
No caminho o cavalo ficou doente e morreu, tendo que fazer o resto do
caminho a p, encontrando uma velhinha que lhe perguntou para onde ele ia,
ele contou-lhe toda a verdade. A velhinha pegou, ento, numa varinha dando-a
ao rapaz:
- Tu quando precisares de alguma coisa bates com esta varinha trs vezes que
eu apareo e fao o que for preciso.
O rapaz chegou a uma ladeia perto da cidade da rapariga, mas ele com o
cabelo grande, todo esfarrapado e a barba por fazer pediu pousada numa casa
de um alfaiate que l havia. Esse alfaiate estava a fazer o vestido de noiva para
a rapariga, pois tinha prometido casar com outro rapaz e a rapariga nunca mais
aparecia, por isso demorou um ano a preparar o casamento.
O alfaiate que tinha o pano para fazer o vestido mas no sabia fazer o feitio
que a rapariga queria, andando, por isso, aborrecido. Ao contar o seu problema
ao pobre este mandou o alfaiate trazer trigo, nozes e aguardente que ele
fazia-lhe o vestido.
J era quase dia e o rapaz s comia e bebia e o vestido por fazer, ao comear a
ver as horas apertar, resolveu bater com a varinha trs vezes no cho
aparecendo-lhe Nossa Senhora que lhe perguntou o que era preciso e lhe fez o
vestido tal como a rapariga o queria. O rapaz meteu o anel que ela lhe deu num
bolso do vestido e coseu-o, chamando depois o alfaiate que, ao ver o vestido
to perfeito, comeou a dizer que tinha Deus em casa.
A rapariga ao vestir o vestido descobriu o anel que tinha dado ao rapaz que a
desencantou, mandou, ento, chamar o alfaiate perguntando-lhe:
- Quem tem em casa?
- No tenho ningum.
Mas aps muita insistncia da rapariga o alfaiate l lhe disse que tinha l um
velhinho, ao que a rapariga lhe disse para no o deixar sair que ela ia l v-lo.
Ela falou, ento, aos pais para adiarem o casamento quinze dias, mandando
tambm chamar o pobre para casa dela. Contudo, ele disse que s iria se fosse

o pai dela l busc-lo com as tropas, o que aconteceu e o pobre pediu, ento
que o deixasse ir frente do batalho a comandar as tropas, ficando o pai da
rapariga muito admirado com a capacidade do rapaz. Ao chegarem a casa a
rapariga mandou arranjarem o rapaz para o prepararem, apresentou-o aos pais
e disse-lhes que queria casar com ele, eles aceitaram e o casal foi feliz para
sempre.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localizao geogrfica: PAO DAS MS ORIGEM + 60 anos.

A HISTRIA DO SENHOR BARO DO MOINHO


No seu tempo, havia um casal com um filho que viviam no seu moinho, tinham
tambm um jumento que lhes servia para irem buscar o cereal para moer,
levando depois a farinha de volta aos donos. Como tinham j uma certa idade,
os pais do rapaz morreram ficando ele e o seu gato. Um dia o rapaz entendeu
que o moinho no tinha futuro para ele e resolveu ir-se embora. Tinha assim
decidido, quando ao juntar os seus trapinhos o bichano veio chamar-lhe a
ateno para no o abandonar:
- Agora s o baro do moinho, deixa-me ir contigo
O gato insistiu tanto que l acabou por convencer o seu dono de que iria fazerlhe muita falta:
- Ainda te hei-de fazer muito feliz.
Seguiram caminho lado a lado, quando ao entrarem numa povoao dirigiramse ao sapateiro do lugar para fazer uns sapatos ao gato. Os sapatos ficaram
muito bem ao gato e este mandou tambm fazer uma saca de lona. O gato
desatou, ento, a correr por um arrozal com a saca apanhando logo trs
perdizes que entregou a um gigante que vivia ali perto num grande casaro:
- senhor gigante!! O senhor baro do moinho manda-lhe este presente.
- E quem esse baro do moinho?
O gato acalmou-o logo:
- um senhor muito rico e muito seu amigo.
Ao outro dia o gato repetiu a faanha e apareceu em casa do gigante com trs
novas perdizes e com o mesmo recado:
- O senhor baro do moinho manda-lhe este presente.
- Sinto-me lisonjeado e no posso acomodar-me sem agradecer tanta bondade
ao senhor baro do moinho. Tens de me levar at ele para lhe agradecer
pessoalmente.
Logo ali os dois com a cevada do gigante, combinaram ir ver o senhor baro. O
gigante mandou, ento, aparelhar a sua carroa, mas s ele e a criada foram a
cavalo porque o senhor gato ps-se a andar a seu p frente. Pelo caminho

fora encontraram vrias ceifeiras, ao passar por elas o gato foi recomendando
aos grupos de ceifeiras:
- Se vos perguntarem para quem trabalham, digam que andam para o senhor
baro do moinho.
As ceifeiras querendo ser simpticas responderam que sim ao senhor gato.
Por sua vez, o gigante aproxima-se das ceifeiras e pergunta-lhes para quem
trabalham, ao responderem todos que trabalham para o baro, o gigante
exclama assombrado:
- Deve ser um homem muito importante e rico o senhor baro do moinho!
Como o senhor gato ganhou vantagem no caminho, chegou primeiro junto do
baro do moinho com o qual combina o que devem fazer a seguir para
impressionar o gigante. Assim, chamou-o para junto do poo (uma espcie de
lagoa) e pediu-lhe que se despisse e se atirasse gua. O rapaz obedeceu ao
gato esperto, antes que o gigante se apercebesse das manobras, o gato
agarrou na roupa suja do rapaz e foi escond-la, irrompendo, depois, em gritos
de socorro quando viu o gigante prximo:
- Ai que se afoga o senhor baro!
Ao ouvir estes gritos o gigante apertou o passo e saltou da carroa para ir em
socorro do nufrago. Tirou o rapaz da gua facilmente, enquanto o gato andava
tonto s voltas procura das roupas do seu dono. O gigante, para que o baro
no apanhasse um resfriado, acalmou o frenesim do gato:
- Deixa l, roupa o que mais h em minha casa. No percas tempo com o que
no encontras. Vamos para minha casa e resolvemos o problema.
Era o que o gato queria ouvir, volveram de volta casa do gigante com o rapaz
bem vestido para serem recebidos como ilustres convidados para uma refeio
farta. No final da refeio o gato voltou a desafiar o gigante, pedindo-lhe para
lhe mostrar o seu casaro, este acedeu ao pedido, parando, depois, numa
grande sala onde o gato lana uma insinuao ao gigante:
- Ouvi dizer, entre outras coisas, que o senhor apesar de ser gigante capaz de
se transformar num leo?!
- Ah! Isso sou, fao-me num leo.
O gigante transformou-se logo em leo, apanhando o gato um susto tamanho
que de um s salto cravou as unhas ao tecto, ficando l pendurado. Depois de
refeito do susto, o gato ousou desafiar de novo o gigante:
- Ouvi mais, senhor gigante! Mas nesta custa-me a acreditar, como que o
senhor com os ossos to grandes consegue-se transformar num rato?
- Parece-te impossvel bichano gato! Mas olha que sou mesmo capaz de me
transformar num pequeno rato!
Logo num estalar de dedos se fez num rato. O esperto do gato no quis ver
mais nada, num salto cravou as unhas no rato e logo o ingeriu em duas
dentadas, e, assim, se foi o gigante. O gato desceu satisfeito para junto do

baro do moinho e da criada do gigante com as seguintes ordens:


- De hoje em diante esta manso pertence ao senhor baro do moinho. O
gigante j no me mete medo engoli-o, por isso tudo isto agora pertence ao
senhor baro do moinho.
Deu instrues para que casasse com a criada e tomasse conta do casaro,
assim aconteceu vivendo muito felizes com o seu gato.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localizao geogrfica: PAO DAS MS ORIGEM + 60 anos.

A HISTRIA DA BRANCA FLOR


Eram sete irms, embora fossem todas filhas do diabo, uma delas era Santa
chamada Branca Flor. O diabo tinha um criado chamado Manuel que o ajudava
em casa, fruto da convivncia diria com as filhas, ele tinha um fraquinho pela
Branca Flor, comeando a namorar com ela. O diabo astuto comeou a
desconfiar do namorisco passando, ento, a utilizar uma estratgia malvola
para desanimar o rapaz, procurando que ele se fosse embora. Um dia o diabo
desafiou o Manuel, perto da sua casa passava um rio com um caudal to forte
que metia medo ao mais valento, o diabo mandou o Manuel a buscar o seu
chapu ao rio. Contudo, o rapaz ao perceber-se que no iria conseguir superar
o desafio, comeou a planear a fuga da casa do patro. No entanto, Branca de
Neve saiu-lhe ao caminho e perguntou-lhe: - Onde vais Manuel?
Ele respondeu contando-lhe o que o seu pai lhe tinha pedido e como no se
sentia capaz, ia-se embora desgostoso por a deixar a ela. Mas Branca Flor no
o deixou ir embora, dando-lhe remdio para o desafio com o diabo:
- Vais ter com o meu pai e dizes-lhe que ests disposto a responder ao desafio,
nada de mal te vai acontecer, porque eu trato de tudo para que vs ao rio e
regresses.
O rapaz voltou para trs e foi ter com o patro, este ao v-lo disposto a ir ao rio
esfregou as mos pensando que se ia livrar dele. O diabo atirou o chapu ao rio
e o rapaz foi ao seu enlace, o diabo ao v-lo entrar naquele caudal de gua to
furioso, considerou o rapaz perdido. Mas saiu-lhe o plano furado, quando o viu
sair das guas com o seu chapu, aproximando-se logo dele inquirindo-o: Estiveste com Branca Flor?
- Se eu vi Branca Flor ou se Branca Flor me viu a mim Deus me valha agora
aqui.
O Diabo ao ouvir o nome de Deus deu um grande estouro e vociferou:
- Aqui no se fala em Deus, quem manda aqui o Diabo.
O Diabo no parou de maquinar maldades para fazer com que o rapaz se fosse
embora. Chamou o criado e mandou-o buscar um carro de lenha da mais

direitinha que encontrasse, quando o Manuel ia a sair com a carroa apareceu


Branca Flor que lhe perguntou onde ia, ao que ele respondeu:
- O teu pai mandou-me ir cortar lenha da mais direitinha, mas no sei onde a
hei-de encontrar.
Logo Branca Flor o descansou mandando-o a determinado monte cortar lenha
no pinheiral do diabo, ao apresentar a lenha ao seu patro ele voltou a
perguntar-lhe admirado: - Estiveste com Branca Flor?
- Se eu vi Branca Flor ou se Branca Flor me viu a mim Deus me valha agora
aqui.
O diabo de novo vociferou ao ouvir o nome de Deus, mesmo assim no se dava
por vencido na sua malvadez, desafiando de novo o rapaz a ir buscar mais um
carro de lenha, mas desta vez da mais torta que encontrasse. O Manuel estava
a pensar na ordem do patro quando encontrou Branca Flor, que ao ouvir a
nova ordem do pai mandou o Manuel arrancar lenha da vinha que era da mais
torta que havia. O rapaz assim fez, ficando o diabo de novo furioso ao ver o
servio feito, perguntando-lhe tambm se tinha estado com a filha ao que o
rapaz lhe deu a mesma resposta de sempre, deixando o diabo ainda mais
furioso. O diabo furioso lanou-lhe mais um quebra-cabeas: - Vais arrasar
aquele cabeo, plantas l vinha e noite trazes-me uma garrafa de vinho
dessas uvas.
O rapaz no tinha como responder a esta exigncia absurda, mas mesmo
assim obedeceu porque confiava em Branca Flor que o ajudaria a resolver o
problema. Depois dos dois se encontrarem e do Manuel contar o pedido do pai
dela, foram os dois para o cabeo, onde Manuel deitou a sua cabea no colo de
Branca Flor. O Manuel ao acordar encontrou o servio feito, obra de Branca
Flor, regressando os dois a casa com a misso cumprida. O diabo admirou-se
com tamanha faanha de Manuel e volveu-lhe a mesma pergunta: - Estiveste
com Branca Flor?
O rapaz respondeu do mesmo modo e mais uma vez o Diabo no gostou. O
diabo no parando de maquinar esquemas para expulsar o rapaz, mandou-o
desta vez construir um muro de tbuas de mais de dois metros de altura,
pedindo que deixasse a meio uma frincha por onde pudessem caber os dedos
das mos. Depois chamou as filhas e mandou que metessem os dedos naquela
frincha, para que o Manuel do outro lado identificasse os dedos de Branca Flor.
S que antes de irem para l, ele e Branca Flor encontraram-se combinando
um sinal de identificao:
- Vs neste dedo este sinal, j sabes depois que estes so os meus dedos.
Ao comear o teste o rapaz logo se deu conta onde estava Branca Flor, mas
no se deu por achado vendo com cuidado todos os dedos, identificando no
final Branca Flor. Considerando-se merecedores da astcia do diabo,
resolveram fugir para este no submeter o Manuel a mais trabalhos rduos.

Branca mandou Manuel aparelhar o cavalo mais magrinho que encontrasse,


mas ao chegar junto dos cavalos considerou que o mais magrinho no teria
resistncia para os levar e aparelhou outro. Entretanto Branca Flor deixou
preparado no seu quarto uma tigela de saliva, esta ia respondendo pela vez da
filha s chamadas do pai. Entretanto Branca Flor e Manuel fugiram cavalgando
a toda a velocidade durante toda a noite. Logo de manh o diabo procurou pela
filha e ao no encontr-la, ao descer loja dos cavalos e ao verificar o cavalo
que fugira, montou de imediato noutro cavalo para ir na peugada dos dois
fugitivos. Ao avist-los ao longe Branca Flor concluiu:
- J ai vem o meu pai nossa procura, tu em vez de aparelhares este cavalo
que s foge como o vento devias ter aparelhado o cavalo que foge como o
pensamento, e assim no nos teria alcanado. Mas vamos resolver esta
situao, toma l este punhado de areia, atira-o para trs de ti. Ele obedeceu e
logo se formou uma mata muito densa que o rapaz no foi capaz de romper,
tendo que voltar para trs. Ao chegar a casa disse mulher que no tinha
conseguido alcana-los porque se formou uma mata muito densa, a mulher
incitou-o para voltarem os dois procura da filha. Ao avistar o pai e a me,
Branca Flor combinou com o Manuel uma maneira de se disfararem:
- Paramos j aqui, o cavalo vai-se transformar numa ponte, eu fao-me numa
capela e tu ficas aqui a tocar no sino. Eles vo chegar perto de ti e perguntar se
no viste passar dois num cavalo, tu continuas a tocar no sino e a dizer que
est na hora da missa.
Ao chegar ao local o diabo cansou-se de ouvir a resposta e virou-se para a
mulher:
- Anda vamos embora que ele maluco e no diz nada de jeito.
Logo que o diabo e a mulher viraram costas, a Branca Flor voltou a ser o que
era, o cavalo tambm e tomaram o caminho a galope, at chegarem cidade
de Berlim, vivendo a felizes para sempre.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localizao geogrfica: PAO DAS MS ORIGEM + 60 anos.

A HISTRIA DA TORRE DE BILORNA (QUEM L VAI NO


TORNA)
Uma vez um homem foi pesca com a rede para o mar, lanou a rede e logo
primeira pescou o rei dos peixes, ao puxar o rei para cima este falou-lhe:
- Lana-me de novo ao mar com a rede e vers quando a puxares novamente
que a rede trar tantos peixes quantos buracos ela tem. E assim foi,
regressando a casa com uma grande quantidade de peixe. A mulher abismada

com tanto peixe perguntou como aquilo tinha acontecido, o marido contou-lhe,
ento, que tinha apanhado um peixe com certas caractersticas que lhe fez uma
proposta que o pescador aceitou. A mulher estava grvida e teve o desejo de
comer aquele peixe, mandando o marido ao mar para o pescar. O marido assim
o fez, ao lanar a rede pescou logo o rei dos peixes, que lhe fez as mesmas
recomendaes. S que desta vez o homem no obedeceu ao peixe, dando-lhe
a desculpa de que a mulher o queria comer. Ento, o peixe cedeu mas
recomendou:
- Tu no me comers, levas-me e ds trs partes tua mulher, trs tua cadela
e outras trs enterras no quintal.
Ele foi para casa e fez o que o peixe recomendou, passado algum tempo a
esposa deu luz trs gigantes, a cadela pariu trs lees e no quintal nasceram
trs espadas. Os meninos cresceram e tomaram cada um a sua espada e o seu
leo. Um belo dia combinaram sair e conhecer mundo, saram cada um munido
com a sua espada e o seu leo, seguiram por uma estrada que em determinado
ponto abria em trs, parando ali. Decidiram cada um tomar a sua estrada, mas
deixaram uma garrafa que turvava se algum deles tinha um pecado ou uma
fatalidade, partindo depois aventura. Um deles avistou uma cidade e entrou
por ela a fora, passou por uma casa em cuja varanda havia uma donzela com a
qual meteu conversa. Conversaram durante um tempo, at que ela o convidou
a entrar, combinando encontrar-se, novamente, ao outro dia, sendo a atraco
tal que marcaram casamento. Um dia os dois na varanda avistaram uma
determinada torre e ele perguntou:
- Que torre to imponente aquela?
- a torre de Bilorna, quem l vai j no torna.
O rapaz curioso e valento retorquiu:
- Hei-de l ir e hei-de voltar.
Tomou a sua espada e o companheiro leo, atrevendo-se a procurar a torre. Ao
chegar entrada da torre veio uma velhinha que o cumprimentou e o convidou
a entrar, sugerindo que prende-se o seu amigo numa das argolas de ferro da
parede da torre. Ela, num gesto rpido, arranca um cabelo da sua cabea e d
ao rapaz, para que com ele prenda o leo. Os dois dentro da torre foram
admirando o interior, at que a velhinha convidou o rapaz para uma luta, visto
que, este trazia uma espada consigo. Ele aceitou e os dois comearam a lutar,
ficando depois o rapaz em desvantagem, procurando, ento, chamar pelo leo:
- Avana leo!
- Avanar ou no que do meu cabelo cordas de ferro se faro!
O leo no foi ao seu socorro e o rapaz foi vencido, sendo preso nas
masmorras da torre.
Um dos irmos, ao regressar ao cruzamento, viu a gua da garrafa daquele
lado turva, pensando que o irmo se estava a sentir mal tomou o mesmo

caminho para ir a seu socorro. Ao entrar cidade encontrou a donzela (sua


cunhada) com quem simpatizou de imediato, ela cumprimentou-o pensando
que era o marido. No entanto, o rapaz no revelou a verdade, pensando que
assim descobria o que se tinha passado com o seu irmo, indo, depois,
descansar com a donzela como esposo dela. Na cama o rapaz pe a espada
entre ele e ela o que a faz desconfiar:
- Ento somos casados e fazes isto?
- Deixa l no te aflijas porque venho muito maado amanh tudo estar
normal.
Ao outro dia estando os dois na varanda, o rapaz avistou a torre de Bilorna,
perguntando:
- No vez que a torre de Bilorna, quem l vai no torna, mas tu foste e
voltaste.
O rapaz ficou calado vincando a ideia de que o irmo estava naquele stio:
- Pois eu hei-de l ir e voltar!
- s heri porque j l foste e voltaste
O rapaz tomou o leo e a espada, dirigindo-se a torre. Ao chegar recebeu a
mesma velhinha a qual o recebeu com a mesma simpatia que ao irmo,
convidando-o para entrar. No entanto, ao ver o leo preso torre, o rapaz s
pensava em salvar o irmo. A velha arrancou um cabelo e deu-o ao rapaz que
prendeu o leo como o irmo tinha feito. Dentro da torre a velhinha convida
tambm este para um duelo, mas na luta o rapaz perde e chama o leo para o
salvar, ouvindo da velha a mesma resposta:
- Avanar ou no que do meu cabelo cordas de ferro se faro!
E de facto os acontecimentos repetiram-se e o segundo irmo teve o mesmo
destino que o primeiro. O terceiro irmo ao ver a gua turva no cruzamento foi
de socorro aos irmos, ao chegar cidade foi, tambm ele, calorosamente
recebido pela cunhada que o via como o esposo. Este teve fez os mesmos
procedimentos na cama que o segundo irmo, levando a donzela a fazer a
mesma observao. Na varanda avistou a torre, perguntando o mesmo que os
dois outros irmo, levando a rapariga a reparar na sua valentia, pois o marido j
l tinha estado duas vezes retornando sempre e ainda queria l ir uma terceira:
- Eu hei-de l ir e voltar.
Ao chegar torre, encontra a mesma velhinha simptica, que lhe d um cabelo
para prender o leo, mas o rapaz ao ver os outros lees presos atirou o cabelo
para perto deles fazendo com que fossem libertados. Entretanto, aceitou o
convite da velhinha para lutar e quando estava em apuros chamou o leo, ela
respondeu do mesmo modo, mas desta vez estavam os lees todos soltos e
avanaram sobre ela. A velha ao ver que o seu plano tinha falhado implorou ao
rapaz que ordenasse aos lees que no a matassem. Ele acalmou os lees,
fazendo um acordo com a velha:

- No deixo que os lees te matem, mas liberta j os meus irmos.


Depois deste ultimato, ela no teve alternativa e libertou os dois irmos,
abraaram-se os trs, seguindo caminho para a casa do primeiro irmo. Depois
de contarem tudo o que se tinha passado ao primeiro irmo, de como iludiram a
sua esposa para o salvar, fizeram uma grande festa. Seguiram mais tarde cada
um o seu caminho, sendo muito feliz o primeiro irmo com a sua esposa.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localizao geogrfica: PAO DAS MS ORIGEM + 60 anos.

A HISTRIA DO TOURO AZUL


Era uma vez um casal que tinha uma filha, mas a me morreu passado pouco
tempo ficando s com o pai, que se voltou a casar. Mas a madrasta no
engraava com a filha do marido, maquinando uma maneira de se livrar dela
para ficar sozinha com o marido. Passou, ento, a pr em prtica uma maldade
com a menina, mandava-a todos os dias guardar os animais, enquanto estes
pastavam, mas s lhe dava para merenda as cdeas queimadas do po. A ideia
era matar a menina fome, o que a levava a chorar muito enquanto guardava
os animais. At que um dia um dos seus animais, ao qual chamavam Touro
Azul, meteu conversa com ela:
- O que tens para chorar tanto?
- Tenho muita fome.
Ento o touro tentou acalmar aquele pranto, pedindo menina para meter a
mo na sua orelha direita e tirar um guardanapo. A menina assim o fez,
estendendo-o no cho como o touro lhe pedira, o guardanapo encheu-se de
miminhos que a rapariga comeou a comer at no poder mais. O touro
recomendou-lhe no final que encartasse o guardanapo e o guardasse na orelha
de novo. Esta cena repetia-se todos os dias e a menina em vez de sofrer as
maldades da madrasta ia, pelo contrrio, ficando cada vez mais bonita. A
madrasta ficava por isso cada vez mais irada, o que a levou a ir espreitar o que
se passava l pelos campos, surpreendendo-se ao ver a cena do touro a
proporcionar um rico almoo menina. Quando o marido chegou a casa
convenceu-o a matar o touro azul, mas a menina ouviu tudo e querendo
retribuir o bem que o touro lhe tinha feito resolveu contar tudo a este. Esperou
ento que os pais fossem dormir, descendo depois loja dos animais para ir ter
com o touro, que ao ouvir o que a menina lhe tinha para contar, respondeu:
- Ai sim? Ento vamos j arranjar maneira de lhe tramar o plano. Saram os dois
da loja e o touro pediu menina:
- Encostas-te a a esse muro e sobe para cima de mim!
Dito e feito, os dois tomaram caminho para fugir, at chegarem a um pomar que
tinha outro caminho pelo meio. Antes de entrarem o touro parou para fazer as

seguintes recomendaes menina:


- Vamos atravessar este pomar, mas livra-te de tocar um raminho que seja
destas rvores. Aninha-te bem a em cima e no toques em ramo algum!
Feitas as advertncias atravessaram o pomar, sada apareceu um forte leo
que desafiou o touro para uma luta, obrigando o touro a matar a menina caso
perdesse. O touro ordenou menina que descesse e comeou a luta. O leo
saiu vencido, ento, o touro tomou novamente o caminho com sua menina no
seu dorso, mas percorrido aquele ramal de caminho apareceu outro pomar.
Antes de entrar nele, o touro fez as mesmas recomendaes menina para
no tocar em ramo algum do pomar. Chegando ao termo deste apareceu um
monstro com sete cabeas, que desafiou o touro para um duelo acabando por
sair, tambm ele, vencido. De novo, o leo ordenou menina que subisse para
o seu lombo para seguirem caminho, at chegarem a uma cidade. Antes de
entrarem na cidade, o touro pediu menina que fosse a uma daquelas
primeiras casas pedir uma p e uma picareta. A menina assim o fez, voltando
com as ferramentas, explicando, ento, o touro: - Vais dar-me com este
machado na cabea para me matar.
A menina ao ouviu isto entrou em choro incessante e disse que isso no faria:
- s meu amigo, eu gosto de ti, mas no me podes pedir isso.
- Vs alm aquela casa? a casa do prncipe. Vai ser para l que vais servir
querem-te l muito. Deixo-te esta minha varinha que te vai servir muito, quando
tiveres alguma necessidade bates com a varinha trs vezes em cima da minha
campa, fazendo com que eu aparea para concretizar tudo o que tu pedires.
Ela comeou, assim, a entender um pouco do que ele queria com o seu pedido,
ao voltar a repeti-lo, a menina acedeu sua vontade e matou o touro com o
machado. Enterrou, depois, o touro e partiu em busca da sua nova vida,
oferecendo-se, de seguida, no palcio para servir. Aceitaram-na e o prncipe
arranjou-lhe para vestir uma saia de pau. Sempre que os senhores saam a
Maria saia de pau (alcunha que lhe deram) ficava encostada lareira at que
eles regressassem. Um dia os senhores saram para a missa e a Maria saia de
pau l ficou encostada lareira, mas cansada de ser tratada como a gata
borralheira do palcio decidiu ir ter com o touro azul. Ao bater, como o touro lhe
recomendara, a varinha trs vezes no cho, este saiu da campa e disse-lhe:
- O que precisas de mim?
- Quero que me calces e vistas de ouro e me ds um cavalo de ouro.
O touro fez-lhe a vontade, saindo assim dourada para a missa, onde todos se
admiraram com tanto brilho. No final da missa, ela tomou novamente o cavalo
para regressar, mas deixou cair de propsito um dos sapatos, partindo, de
seguida, a galope. O prncipe tomou o sapato esquecido decretando que
casaria com a donzela a quem servisse aquele sapato. Quando os senhores
chegaram ao palcio de nada suspeitaram, porque a Maria da saia de pau

estava no seu lugar junto lareira. Reuniram-se, naqueles dias, muitas


donzelas das redondezas para calar o sapato, todas elas convencidas que
iriam casar com o prncipe. At que um dia a menina da saia de pau, j cansada
daquele corrupio, encheu-se de coragem e pediu ao prncipe para a deixar
experimentar o sapatinho, no entanto este zombou dela rindo gargalhada:
- Oh! Oh! Oh! At tu gata borralheira, que no tens jeito de gente, queres calar
um sapato de ouro?
Ela, no entanto, insistiu e o prncipe deixou calar o sapatinho, assentando-lhe
este que nem uma luva no p. O prncipe ficou admirado, mas no totalmente
convencido. A menina fez, ento, um pedido ao prncipe:
- Posso ir ao meu quarto?
- Vai
Ela foi e regressou toda vestida de ouro, tal como tinha aparecido na igreja,
dizendo logo o prncipe:
- Foste ento tu que apareceste assim na igreja?
E j convencido que a menina falava a verdade declarou:
- Sers ento a minha mulher.
Para acalmar tantas outras interrogaes do prncipe, a menina contou-lhe
como foi a sua vida desde que a sua me morrera e o seu pai voltara a casar,
at que um dia o touro azul a ajudou deixando-lhe aquela varinha, atravs da
qual conseguiu todo o ouro. E assim casaram e viveram muito felizes para
sempre.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localizao geogrfica: PAO DAS MS ORIGEM + 60 anos.

A HISTRIA DO CRIADO E NO NASCIDO


Era uma vez um reino longnquo, onde existia uma princesa que dizia conseguir
ler o pensamento dos rapazes. O rei props um desafio a todos os rapazes: se
houvesse algum a quem ela no conseguisse ler o pensamento casaria com ela
e a quem ela conseguisse ler o pensamento iria para a forca. No entanto, o
desafio impunha uma condio, os rapazes teriam de passar em casa da
princesa trs dias e trs noites. A princesa como no conseguia ler o
pensamento, fazia as criadas dormir com os rapazes, para que estes
contassem a histria das suas vidas a estas.
Muitos foram os que morreram devido crueldade da menina, at que um dia
pareceu um rapaz que era criado e no nascido (nascido por cesariana), que
tinha um cavalo tambm criado e no nascido. Este resolveu aceitar o desafio
porque pensou que no haveria ningum que adivinhasse a sua condio de
criado e no nascido. Perante a deciso do rapaz, o seu pai que no queria
v-lo enforcado, preparou-lhe uma merenda composta por trs bolos

envenenados. O rapaz ao partir a galope foi seguido pela sua cadelinha


celindra, mas ao ver-se seguido por ela, pensou que teria fome e deu-lhe os
trs bolos, o que fez com que a cadelinha morresse. Ao ver que a cadelinha
tinha morrido em seu lugar, enterrou-a como era o seu dever, mas ao chegar ao
local viu sete aves que sucumbiram pelo veneno, pondo-as num saco e
seguindo logo depois viagem. Durante o caminho ia feliz, ao pensar que a
princesa nunca iria adivinhar que ele e o seu cavalo eram criados e no
nascidos, que trs mataram um e um matou sete.
Durante a viagem o rapaz foi interceptado por catorze lees que queriam comer
o cavalo para saciar a fome, o rapaz, contudo, querendo poupar o cavalo
ofereceu, em sua vez, as aves que foram aceites pelos ladres, que morreram
ao com-las. O rapaz pensou, ento, que depois de todas aquelas peripcias, a
princesa nunca descobriria que ele e o seu cavalo eram criados e no
nascidos, que trs mataram um, um matou sete e que sete mataram catorze.
Ao chegar ao castelo o rapaz instalou-se. Ao chegar a primeira noite foi uma
criada a ter com ele a qual foi recusada, acontecendo o mesmo, assim
sucessivamente, pelas duas noites seguintes, at que o rapaz mandou chamar
quem as tinha enviado. Vendo-se em tal desespero, a rapariga na terceira noite,
aceitava ir dormir com ele, e ao amanhecer depois da princesa ter dormido, o
rapaz cortou um pedao de cada um dos seus vestidos.
Chegado o dia do desafio, a princesa adivinhou toda a vida do rapaz. Ao ser
condenado forca, o rei perguntou se havia alguma coisa que queria dizer
princesa antes de morrer. Este revelou que a princesa adivinhava a vida dos
rapazes graas ajuda das suas criadas que pernoitavam com eles, tendo
como prova um pedao dos vestidos da princesa.
O rei, perante esta situao, ao confirmar a veracidade das provas e da
situao concedeu a mo da filha em casamento ao rapaz. O nascido e no
criado recusou casar-se com a princesa, visto esta ter dormido com ele, o que
o levava a pensar que esta j podia ter dormido com muitos outros. O rei
aceitou a recusa do rapaz, mandando para a forca a filha que acusou de ser
uma falsa e uma assassina. O rapaz voltou para casa fazendo uma grande
festa.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localizao geogrfica: PAO DAS MS ORIGEM + 60 anos.

A HISTRIA DA FNDA MARIA E DE FELMILANDA

Havia uma linda senhora que vivia com a sua filhinha no seu pequeno palcio,
tendo em seus aposentos um grande espelho de touca, ao qual diariamente
perguntava:
- Espelho meu diz-me tu haver outra mais bonita do que eu?
O espelho respondia sempre que no, at que a sua filha cresceu, e se tornou
uma formosa rapariga, resolvendo um dia perguntar ao espelho se havia outra
mais bela que ela, ao que o espelho respondeu:
- At hoje a cara mais bonita que havia nas redondezas era a tua me, mas a
partir de hoje a cara mais bela a tua.
Passado algum tempo, a sua me, sem disto saber, vai novamente estar com o
espelho, fazendo-lhe a pergunta mgica:
- Minha linda senhora, at hoje o seu rosto era o mais bonito, mas apareceu
agora outro ainda mais bonito, o da sua filhinha.
Desconcertada, a senhora maquinou uma forma de tirar da sua frente, quem
lhe roubou a primazia na beleza, acabando por encerrar a sua filha numa torre
muito alta. A menina desesperava e chorava dia e noite, at que um dia passou
por ali um rapaz, que ao ouvi-la gritar, lhe perguntou:
- Fanda Maria, Fanda Maria, que tanto choras? s a cara mais linda do mundo,
mas se visses a cara da Felmilanda que est encantada numa ilha distante,
ento paravas de chorar!
Fanda Maria no sabia como, mas pensou seriamente em sair dali o quanto
antes para desfazer o encanto. Comeou, ento, a escavar uma espcie de
tnel, com as suas prprias mos, para sair daquele stio. Ao conseguir sair da
torre, ps-se a caminho na direco indicada pelo mensageiro, andando alguns
dias sem parar. Chegou, ento, a um lugar onde se deparou com um grande
palcio com vrias salas cheias de encantos. Entrou para uma delas, sendo
logo rodeada por encantos em forma de bichos horrveis, que lhe pediam:
- Leva-me a mim, leva-me a mim, estou fartinho de estar aqui.
Mas Fanda Maria ao v-los respondeu:
- No, eu procuro Felmilanda.
- Oh! Felmilanda a cara mais linda do mundo, para chegar at ela preciso
andar muito.
Passou aquela sala e depois de andar muito chegou a outro palcio e entrou
noutra sala tambm ela cheia de encantos, que ao ouvirem falar de Felmilanda
deram a mesma resposta. A menina caminhou para o terceiro palcio, entrando
numa enorme sala onde, tambm, havia muitos encantos, que se dirigiam a ela
para que os desencantasse, respondendo-lhes que no podia fazer visto estar
s procura de Felmilanda, ao que informaram:
- Encontrars um palcio cheio de outros encantos, mas para que Felmilanda
venha, em barco prprio ao teu encontro, ters que primeiro encher nove bilhas

de lgrimas.
Com os olhos na sua meta, a menina caminhou at encontrar o dito palcio dos
grandes encantos e onde viu escrito o nome de Felmilanda e uma mulata.
Fanda Maria ps-se a encher as bilhas com lgrimas, e quando s lhe faltava
uma a mulatinha ofereceu-se para a ajudar. Enquanto a Fanda Maria enchia a
ultima bilha, viu aproximar-se uma barca com a Felmilanda que ao chegar
perguntou:
- Qual das duas me desencantou?
A mulata antecipou-se e disse que tinha sido ela. Mas para tirar as dvidas e
saber quem falava a verdade, Felmilanda lanou-lhe o desafio do espelho que
estava ali, que tinha duas facas de lado que cortavam a cabea a quem falasse
mentiras. Felmilanda perguntou mulata se queria ir ao espelho, mas esta
recusou o desafio, aceite, depois, por Fanda Maria. Assim, depois de reposta a
verdade, as duas rumaram at cidade de Felmilanda do outro lado do mar.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localizao geogrfica: PAO DAS MS ORIGEM + 60 anos.

A HISTRIA DA TI SOQUINHAS
Era uma vez um homem que deixou a mulher e um filho. Tinha ido para Frana,
onde esteve 37 anos.
A mulher sempre pedia a Nossa Senhor que o marido viesse morrer nas
palhinhas dela.
Passados 37 anos bateu porta mulher.
Na rua perto de casa estava o filho e um senhor.
Dirigiu-se-Ihe e perguntou-lhe:
- Quem o senhor Manuel Antnio Dalges.
O prprio filho respondeu-lhe:
- Sou eu.
O homem disse-lhe:
- Ento o senhor meu pai?
- Pois sou!
O filho levou o pai a casa.
A me como tinha falta de ouvido no queria acreditar que aquele era o seu
homem. Ento ele que levara uns alforges feitas por ela e as guardara,
mostrou-lhas.
- Marquinhas, no te lembras dos alforges que me destes quando me fui para a
Frana?
V-as. Aqui esto elas!
A mulher olhou para o homem e para os alforges, e vendo que era o seu

homem, beijou-o e abraou-o.


RECOLHA (1985) de Helena Maria Pires Alves.
Escola Preparatria de Freixo de Espada Cinta.

MESTRE DOS MESTRES


Quando S. Pedro andava pelo mundo, feito velhinho e trazendo consigo um
burrito, passou num lugar, onde um ferrador estava a ferrar. Aproximou-se,
saudando-o: - Bom dia, mestre. Este, um pouco enfatuado respondeu: - Mestre
dos mestres! Ento o velhinho pediu-lhe se o deixava ali pregar uma ferradura
ao burro, pois lhe tinha cado pelo caminho, ao que o ferrador disse que sim.
O velhinho foi ao burro, cortou-lhe a pata, p-Ia em cima da bigorna, pregou-lhe
a ferradura e foi colocar a pata na perna do animal, que ficou como estava.
Agradeceu ao ferrador e foi-se embora.
O ferrador, que viu o que o velhinho fez, e estava tambm a ferrar um burro,
cortou-lhe a pata. Pregou a ferradura. Mas, quando foi colocar a pata na perna,
esta no segurava.
Muito aflito, foi procurar o velhinho. Pediu-lhe por caridade e misericrdia que
lhe valesse, porque o burro morria! Ento o velho, que era Santo, disse-lhe:
- Vais para casa, que tudo se h-de remediar, mas, nunca mais voltes a dizer,
que s mestre dos mestres, porque acima de ns, h outros de maior poder.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.

A MOA TEIMOSA
Era uma vez um homem que tinha uma filha com quem vivia.
Quando a filha chegou idade de casar, no faltavam pretendentes, porque o
pai possua umas boas terras.
Porm quando vinham pedir a filha, o pai dizia sempre:
- Por mim est bem, mas tenho que lhe dizer, que ela muito teimosa.
Por fim apareceu um, pois os outros desanimavam, que respondeu ao pai:
- Est bem. Olhe, eu tambm sou muito teimoso e ento vamos fazer farinha.
Arranjaram tudo e casaram.
noite, quando se iam deitar, o noivo levou uma arma que colocou ao lado da
cama. A noiva admirada perguntou-lhe para que era a arma, ao que ele disse,
que era sempre bom ter uma defesa ao lado.
Deitaram-se (era no tempo das candeias) e o moo disse para a noiva, que
apagasse a candeia. Ela respondeu que a apagasse ele. Por sua vez teimou

que fosse ela e da uma teimosia entre os dois.


O homem pega na arma e com um tiro, apagou a candeia. A moa to
assustada, no deu mais pio. O homem foi-lhe dizendo:
- assim que eu curo os teimosos... No houve mais barulho e foram felizes.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.

OS DOIS MENTIROSOS
Havia dois irmos que viviam muito pobres e sem meios de ganhar dinheiro, at
que o mais velho, disse para o outro:
- irmo, lembra-me uma coisa. Vamos por esse mundo ele Cristo pregar
mentiras por dinheiro. Um vai adiante e depois vai o outro atrs a confirmar. L
partiram, e ao chegar a uma terra, um segue adiante anunciando:
- Sei uma grande novidade, mas s a digo por dinheiro.
Juntou-se muito povo e comearam a dar-Ihe dinheiro, e ele disse: - Em tal
terra acaba agora de nascer um menino, com sete braos
O Povinho admirado no teve pena do dinheiro e ele foi seguindo caminho.
Apareceu por trs dele o irmo a confirmar. A gente perguntava se era
verdadeira a notcia, ao que este dizia: - Eu no vi o menino, mas vi uma
camisa estendida a enxugar que tinha sete mangas.
Ento ficaram crentes que era verdade e ainda lhe deram mais dinheiro. A este
tempo, j o irmo espalhava noutra terra:
- Grande novidade, minha gente.
Todos acudiam e lhe davam dinheiro, para saber a novidade
Diz ele: - Vi um moinho a andar, em cima de um pinheiro. Todos admirados,
quando apareceu o irmo, perguntavam:
- verdade que est o moinho em cima do pinheiro?
Ele confirmava: - Eu no vi o moinho, o que sei dizer, que vi um macho
carregado com sacos de farinha a subir pelo pinheiro acima.
Ento verdade, dizia a gente, e l iam dando o dinheiro aos homens. Assim
foram correndo o mundo a dizer mentiras para irem vivendo (:::).
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.

HISTRIA DE UM MARIDO RABUGENTO


Uma mulher vivia muito triste com o feitio do seu marido. Quando vinha para
almoar, chegando mesa dizia:

- Este frango podia ter sido assado.


No dia seguinte ao comear a almoar dizia:
- Se fosse guisado era mais saboroso.
A mulher, j muito nervosa, resolveu no dia seguinte pr na mesa o frango
preparado de todas estas maneiras.
Ao chegar, ela diz-lhe:
- Agora aqui tens o frango preparado e variado. Come do que mais gostares.
Mas antes dele chegar, uma galinha tinha subido para cima da mesa e fez l
coc.
A mulher vira a ponta da toalha e cobre-o.
A mulher diz: - Podes escolher o que queres.
Resposta dele:
- Quero mierda. A mulher respondeu:
- Ento a a tens, descobrindo a toalha.
RECOLHA (1985) de Judite do Sacramento Rodrigues, Sambade
da F.

Alfndega

A HISTRIA DA BOLA CENTEIA


Uma mulher muito m tinha uma vizinha a quem tinha inveja.
Um dia estava a fazer bolas no forno e lembrou-se de meter dentro duma
veneno para que ela morresse. Quando as tirou do forno j cozidas, deixou-a
dum lado e saiu para fora. Neste momento entrou um filho.
Viu as bolas quentes e pegou nessa do veneno, que ele no sabia, e comeou
a comer.
Logo caiu morto.
Quando a me chegou, viu o filho assim e a bola encetada e disse:
- Foi o castigo que caiu em mim, pois quem faz o mal para si o faz, como se
costuma dizer.
RECOLHA (1985) de Judite do Sacramento Rodrigues, Sambade

Alfndega da F.

9. HISTRIAS INFANTIS
O RAPAZ E O BURRO

O mundo ralha de tudo tenha ou no tenha razo, quero contar uma histria
prova dessa acepo.
Era uma vez um campnio, do seu monte ao povoado, levava o neto que tinha
no seu burrinho montado.
Depois encontrou um que disse: olha aquele burro que est al, o rapaz que
forte vai no burro montado e o velho vai a p.
Pegam e montam os dois, mas encontraram depois uns que diziam: aqueles
querem com tanto peso matar o burrinho.
Meteram, ento, o burrinho na frente e eles foram a p.
Encontraram outros que disseram: olha aqueles calcando lama, para que serve
o burrinho talvez durma com eles na cama.
Rapaz vamos indo, depois destas lies mais tolo quem d ao mundo
satisfaes!.
RECOLHA 2005 SCMB Ana Maria Domingues, Idade: 86.
Localizao geogrfica: Mas, ORIGEM + 60 anos.

ERA UMA VEZ UMA VELHINHA

Era uma vez uma velhinha, quase cega coitadinha, j mal podendo andar
encostada ao seu bordo sempre olhando para o cho ia na estrada a passar.
Encontrou um co que ladrou, a pobrezinha parou olhando de roda assustada,
quis fugir no conseguiu, tentou correr mas caiu a pobrezinha coitada. Nisto
surge uma menina bem formosa e ladina, que ao v-la cair no cho correu logo
carinhosa e velhinha deu a mo:
- Venha eu levo-a minha casinha! Onde lhe di? Diga que eu vou buscar
qualquer remdio, vou pedir minha me.
- No foi nada meu amor, tu s uma flor. Ajuda-me s a andar, Deus paga pela
bondade com muita felicidade.
RECOLHA 2005 SCMB, FERNANDO PIRES, Idade: 62.
Localizao geogrfica: VILARINHO DAS TOUAS ORIGEM + 50 anos.

CONTO INFANTIL 1

A perinha estava nos ramos da me pereira, mais feliz que uma rainha e mais
oculta que uma freira.
C de baixo foi avistada, c de baixo pela Rosita que diz para a criada: Ai que
pra to bonita!.
A pra muito oculta, verde e ainda muito dura, se a Rosita no a descobre
chegava a mole e madura.
Mas a pra ao cair de cauda jurou vingana cruel: Ainda te vou a sair mais
azeda do que h-de ser o fel. Foi deitar-se a pequenota sentindo j muitas
dores, como ela grita debaixo dos cobertores.
Rosna a perinha judia: Se verde no me comesses nenhum mal te sucedia,
agora tens ainda po para peras.
RECOLHA 2005 SCMB, ABLIO AUGUSTO GONALVES, Idade: 94.
Localizao geogrfica: MS ORIGEM + 50 anos.

CONTO INFANTIL 2

Contam como certa raposa, andando muito esfaimada, viu roxos e maduros
cachos pendentes de alta latada. De bom grado os trincaria, mas sem lhes
poder chegar disse: Esto verdes no prestam, ningum lhes pode tragar.
Caiu-lhe, ento, uma parra conforme seguia o seu caminho, lembrando que era
algum bago volta depressa o focinho.
RECOLHA 2005 SCMB, ABLIO AUGUSTO GONALVES, Idade: 94.
Localizao geogrfica: MS ORIGEM + 50 anos.

MULHER AO RIO

-Havia uma vez um homem cuja mulher se deitou ao rio.


Mais tarde, andava ele sua procura, tendo encontrado algum que lhe
perguntou o que andava a fazer rio acima, ao que ele respondeu:
Afogou-se-me a mulher e ando procura dela
Mas ento procura rio a baixo agora rio acima!!!
Ela tambm fazia tudo ao contrrio dos outros
RECOLHA 2005 SCMB, LUS FERNANDES, Idade: 77.
Localizao geogrfica: MOFREITA ORIGEM + 50 anos.

HISTRIA 1
Um menino ia doutrina e diz-lhe o padre:
- Ento, meu menino tu s cristo?
- No, sou ali um galinhito de S. Ciprio!
Outro menino foi doutrina com a me e diz-lhe o padre:

-Ento, meu menino tu s cristo?


- No!
- Tu sabes quem Deus? No? Olha que Deus morreu por ns na cruz!
Diz a me toda atrapalhada:
- Ralhe com ele Sr. Padre que ainda ontem noite lhe disse quem eram as
benditas almas!
- Oh rapaz! No vs que Cristo morreu por ns?
- Ai! No sabia Sr. Abade! Olhe que no sabia, como a gente no assina o
jornal, nem tnhamos sabido que tinha estado doente.
RECOLHA 2005 SCMB, EURICO FERNANDES, Idade: 71.
Localizao geogrfica: MOFREITA ORIGEM + 50 anos.

HISTRIA 2
Quando ramos mandados pelos espanhis, na Mofreita resolveram mandar
algum para aprender a lngua castelhana. Dai que todos os mais ricos e
letrados queriam ser os eleitos, mas os que mandavam queriam que fosse
algum que j tivesse alguns conhecimentos da lngua.
Entretanto no ajuntamento, enquanto isto se discutia, responde um da
assistncia:
Eu j sei dizer qualquer cousa!
Ento que sabes dizer?
Ns los outros
Nisto responde outro l do fundo do ajuntamento:
Eu tambm sei dizer alguma cousa!
Ento que sabes dizer?
Claro .
Grandes estudantes! Estes j vo. Mais algum sabe dizer umas histrias
daquelas mais antigas espanholas?
Eu ainda sei dizer qualquer cousa.
E o que sabes dizer?
Tem usted muita razon!
Assim, foram os trs estudar para Espanha, indo parar a Catalunha. Ao chegar
tiveram logo a infelicidade de encontrar um homem morto, tiveram d e ficaram
a ver o que lhe passava. Mas, nisto veio a guarda civil espanhola que lhes
perguntou:
Quem matou el hombre?
Ns los outros

Vossotros?
Claro
Si, si mui claro, mas a palisa que vai levar no sabe usted no que se mete!
Tem usted muita razon!
Levaram os pobres portugueses perante as autoridades, dando incio
investigao:
Quem matou el hombre?
Ns los outros
Ento est visto! No temem a palisa (porrada) que vo levar?
Tem usted muita razon!
Desta forma e com a culpa formada dos portugueses os espanhis desataram
porrada neles como era de lei naquela altura. Devolveram-nos depois terra
deles a Vinhais todos esmurrados.
Quando os da Mofreita viram os seus conterrneos todos negros, perguntaram
o que se tinha passado, tendo os guardas respondido que se encontravam
naquele estado por terem confessado um crime.
Os da aldeia pediram para ver os chicotes dos guardas, aproveitando a posse
destes para desatar a bater nos espanhis. Os guardas perguntavam se o povo
no tinha vergonha de bater em autoridades, tendo o povo respondido a esta
provocao com uma aco: despiram as fardas dos guardas, retirando-lhes a
posio de autoridades, at que estes fugiram.
RECOLHA 2005 SCMB, EURICO FERNANDES, Idade: 71.
Localizao geogrfica: MOFREITA ORIGEM + 50 anos.

HISTRIA 3

Uma vez um galinhito foi-se confessar e como j eram tempos dos ninhos,
diz-lhe o padre:
- Ento rapaz quantos ninhos j encontras-te?
- J sei de uns l mais a baixo, onde esto uns negrilhos mesmo para fugir,
tm que se tirar hoje.
- Hoje no! Que dia de confisses, hoje no os tires, amanh j podes!
O cura (padre) que andava com o cavalo foi ver se o rapaz disse a verdade,

chegando ao tal local e reparando que, realmente, os passarinhos estavam


quase para fugir, resolveu limp-los!
O garoto foi no dia seguinte aos ninhos e estes j no estavam l.
Ento, lembrou-se que s o Padre sabia do local.
O rapaz foi depois confessar-se e o Padre perguntou-lhe:
- Ento rapaz, tu j namoras?
-Sim, j.
- E quem a moa?
- No, no te liquidas que esses no so melros.
RECOLHA 2005 SCMB, EURICO FERNANDES, Idade: 71.
Localizao geogrfica: MOFREITA ORIGEM + 50 anos.

HISTRIA 4
Uma vez um moo ao passar por certo caminho viu uma ovelha preta morta.
Quando voltou para a aldeia avisou as pessoas do sucedido, ento o padre
mandou trs homens a buscar a velha morta. O moo bem tentou avisar o
padre que no era uma velha, ao que o padre respondeu:
-Pois seja velha ou nova filha da Santa Madre Igreja.
-Ai no, no !!!
RECOLHA 2005 SCMB, EURICO FERNANDES, Idade: 71.

Localizao geogrfica: MOFREITA ORIGEM + 50 anos.

10. JOGOS DE RODA E RONDAS

JOGOS DE RODA 1
Fui-me confessar quela capelinha
O que eu disse ao padre ningum o adivinha
No o adivinha no
O que eu disse ao padre na confisso
Sr. Padre me confesso larau, larau, larito
Eu matei o meu gadito
dar ali um beijito

JOGOS DE RODA 2
A penitncia que eu te dou
Olha a viuvinha alegre
No tem com quem se casar
No tem o que vestir, no tem o que trajar
O seu noivo no quer com ela casar
A viuvinha deita-se a chorar

JOGOS DE RODA 3
Serra deita c gua por um cano de marfim

Quero regar esta rosa que est diante de mim


Que est diante de mim, que est no meu poder
Quero beijar uma rosa que est no meu jardim

JOGOS DE RODA 4
Pus o meu p na batateira
Fiz tremer o batatal
O passarinho que repenica o cntico
Vem cantar ao meu quintal
O passarinho que repenica o cntico
Vem cantar ao p de mim.

JOGOS DE RODA 5
Linda borboleta deita-te a voar
A menina Aninhas quer-se j casar
Quer-se j casar, no quer ir para a botica dela
Quer ir morrer vestidinha Conceio
Antoninho vai pegar ao caixo que o mais arranjadinho
A menina Maria vai ser a madrinha que leva o raminho
O menino Joozinho vai ser o padrinho
Vai ser o padrinho por levar a bandeira
E a menina Maria vai ser a cozinheira
A criada vai ser a Teresa
A criada foi por a mesa
Mas manchou os guardanapos
Ponha-se l fora minha malcriada
Que no sabes fazer nada
minha Senhora tenha d de mim
No tenho nem me, nem pai, nem quem olhe por mim
Entre l para dentro v fazer a obrigao
V pegar aos tachos e a abanar ao fogo

JOGO DO SERRA BICO


Serra bico bico
Quem te deu tamanho bico
Foi a vaca chocalheira que andava na ribeira

Sola Sapata, Rei, rainha


Vai ao mar buscar a grainha
Vai l tu que a tua vez
O jogo consiste em cantar esta cantiga enquanto se do beliscos nas mos de
todos os participantes, batendo depois na cabea de todos quando se canta os
dois ltimos versos. Ficando de fora a pessoa na qual se bate por ltimo ao
acabar a cantiga, de forma que esta fica a adivinhar o objecto por o grupo
escolhido.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA AMLIA MORAIS, Idade: 81.
Localizao geogrfica: SANTA COMBA DE ROSSAS ORIGEM + 50 anos.

JOGO DAS PEDRINHAS

Este jogo consiste na disposio de 5 pedras pequenas, das quais uma deve
estar numa das mos enquanto se apanham as outras que podem estar numa
superfcie, como por exemplo, numa mesa. Assim, enquanto se deita a pedra
que se tem na mo ao ar temos que apanhar, nesse curto espao de tempo, as
outras quatro pedras. A pessoa que errar o exerccio primeiro perde.
RECOLHA 2005 SCMB, VIOLANTE AUGUSTA PARREIRA, Idade: 86.
Localizao geogrfica: AVELEDA ORIGEM + 50 anos.

JOGO DA CANTARINHA - 1

cantarinha de barro,
No me leves a sorrir.
Quando vejo o meu amor,
D-me vontade de rir...
Minha me mandou-me gua,
fonte do rosmaninho.
Eu deixei cair a cntara,
E parti-lhe um bocadinho

cantarinha de barro,
Com gua fresca no vero.
Mata a sede ao meu amor,
Que lhe arde o corao.
cantarinha de barro,
Quem te leva fonte? Quem?
No vais apenas de carro,
Vais nos braos do meu bem.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.

JOGO DA CANTARINHA20-2
Formavam-se pelas ruas, ou num largo, uma fila grande de
raparigas, umas atrs das outras, tendo a da frente uma
cantarinha nos braos que ia atirando de trs, e esta por sua
vez, s outras que se iam mudando. Quando a cantarinha se
partia, a causadora tinha de comprar outra, para a vez seguinte,
e havia sempre palmas e uma algazarra amiga. Cantavam:
cantarinha de barro,
Quem te leva fonte? Quem?
No vais apenas de carro,
Vais nos braos do meu bem.
Coro
cantarinha de barro,
No me leves a sorrir!
Quando vejo o meu amor,
D-me vontade de rir...
cantarinha de barro,
Com gua fresca do vero!
Mata a sede ao meu amor,
Que lhe arde o corao.
Minha me, mandou-me gua,

fonte do rosmaninho.
Eu deixei cair a cntara,
E parti-lhe um bocadinho.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.

EU VENHO DALI DE BAIXO

Eu venho dali de baixo,


Ai de regar o laranjal.
At trago uma folhinha,
No lao do avental.
No lao do avental,
No lao do meu vestido.
Uma noite no nada,
Deixa-me ir dormir contigo!
Deixa-me ir dormir contigo,
Uma noite no nada!
Eu entro pelo escuro,
E saio de madrugada!
Nem entro pelo escuro,
Nem saio pela madrugada.
Deixa-me ir dormir contigo
Uma noite no nada!
RECOLHA (1985) de Antnio Alberto Cascais, Larinho Moncorvo.

DESFOLHADA
As desfolhadas da aldeia,
So cheias de vida e cor,
Mesmo luz da candeia

Inspiram trovas de amor


Coro
Ai! As desfolhadas!
Lindas seroadas...
Em que as raparigas
Vo todas lavadas.
Vo todas lavadas
Preparam-se bem,
Porque os seus amores,
L esto tambm.
No quintal da velha casa,
Rapazes e raparigas,
A cantar vo desfolhando,
Louras e belas espigas.

RECOLHA (1985) de Judite Morais Moreno, Sambade Alfndega da F.

O S. JOO

So Joo para ver as moas


Ai! Fez uma fonte de prata.
Ai! As moas no vo fonte,
Ai! So Joo todo se mata.
Ai! Repenica, repenica, repenica.
Ai! So Joo a suar em bica!
Ai! Repapoila, repapoila, repapoila.
Ai! So Joo a comer numa caoila!
Ai! No nada, no nada, no nada.
Ai! So Joo a comer pescada!

Ai! No muito, no muito, no muito.


Ai! So Joo a comer presunto!
Ai! Oh! meu rico So Joo!
Ai! Oh! meu belo marinheiro!
Ai! Levai-me na vossa barca Ai!
L para o Rio de Janeiro!

RECOLHA (1985) de Judite Morais Moreno, Sambade Alfndega da F.

AS VIOLETAS

Anda l para diante,


Que eu atrs de ti no vou.
No me ajuda o corao
Amar a quem me deixou.
Refro
As violetas so lindas, lindas!
Que lindo cheiro as violetas tm!
Passam a vida vigorosas,
Sem dar motim a ningum.
Oh! Que dama to formosa,
Que o caixeiro procurou!
E o veludo cor-de-rosa,
Oh! Que tanto me agradou!
Refro
E o metro, quanto custa,
E o metro quanto custou?

E o veludo cor-de-rosa,
Oh! Que tanto me agradou!
RECOLHA (1985) de Narciso Joo Torro Vicente Vimioso.

A POMBA SUBIU AO AR
A pomba subiu ao ar,
A pomba ao ar subiu,
Nos braos do meu amor
Agarrei a pomba
E a pomba fugiu.
J se morreu a pombinha,
J no tenho portador.
J no tenho quem me leve,
Oh! Ai! As cartas ao meu amor.
RECOLHA (1985) de Narciso Joo Torro Vicente Vimioso.

ESTA RODA
Esta roda est parada,
Por falta de haver quem cante.
Agora j canto eu,
Siga a roda p'ra diante.
Vamos seguindo em frente,
Caminho da nossa aldeia,
Mostrando as nossas rendas,
Mais a nossa fina meia.
E ns os nossos cales,
Nossos ps to delicados.
Nossos corpinhos bem feitos,
Pelas damas elogiados.
RECOLHA (1985) de Olinda Pereira, Sambade Alfndega da F.

A MARIQUINHAS

Oh! Minha saia rodada


Com fitinhas a brilhar,
Foi no adro da igreja,
Que com ela fui danar.
Coro
Mariquinha, arredonda a saia,
Arredonda a saia arredonda-a bem.
Mariquinha, arredonda a saia,
Olha a roda que ela tem...
Oh! minha saia rodada,
Minha saia de balo!
Foi minha saia rodada
Que prendeu teu corao.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.

PADEIRINHA21
Rua abaixo, rua acima,
Toda a gente me quer bem.
S a me do meu amor
No sei que raiva me tem.
Coro
Ora bate, padeirinha,
Saiba pr, o p no cho,
Ora bate padeirinha
No meu terno corao.

Tenho na minha janela,


O que tu no tens na tua,
Cravos brancos e vermelhos,
Viradinhos para a rua.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.

RONDA

Quando ouo uma guitarra,


No posso ficar calado.
Logo minha me me disse:

- Filho, nasceste p'r fado!


Rua abaixo, rua acima,
Sempre com o chapu na mo.
A namorar as casadas,
Que as solteiras minhas so.
RECOLHA (1985) de Hermnia Trigo, Ferradosa Alfndega da F.

11.
LENGALENGAS,
CANTILENAS
LENGALENGA
Era no era,
Andava na serra
Com um boi de palha
E outro de merda.
Quando nisto,
Tristes novas me vieram.
Meu pai era morto,
Minha me por nascer!
Eu pus-me a pensar
Que no meu parecer
Isto no podia ser.
Agarrei nos bois s costas
E pus o arado a comer.
Depois, mais abaixo,
Ao passar um ribeiro,
Enrodilhei a aguilhada cinta
E encostei-me ao tamoeiro.
Depois, mais abaixo,
Ao passar um regato,
Se no fosse um co,
Mordia-me um cajato
Eu vi um homem a fugir
Sentei-me para o agarrar
Peguei nos bois s costas,
Deitei o arado a pastar.
Tenho uma jaqueta nova,
Feita de mil modelos.
No tem mangas, nem costas;
I

CANTIGAS,

Est rota nos cotovelos.


Encontrei-me com dois fidalgos,
Fiz-lhe logo continncia.
Pedi-lhe a cada um seu cigarro.
A mim fez-me boa diferena!
Pergunta requer pergunta.
Porventura me dir:
- Qual o nome de um homem
Com a terminao em a?
RECOLHA (1985) de Artur dos Santos Madureira, Alfaio Bragana.

CANTILENA 1

Entre o farfalho roda


que dana vai levar
Ai, ai, ai que no hs-de achar
Que no hs-de achar
Com quem casar.
RECOLHA 2005 SCMB Ana Maria Domingues, Idade: 86.
Localizao geogrfica: Mas, ORIGEM + 60 anos.

CANTILENA 2

Olha o velho,
Olha o velho
Gosta dos figos maduros
Penicados dos pardais
Olha o velho,
Olha o velho atrevido
Disse-me na minha cara
Que queria casar comigo
Se o velho casar comigo,
H-de ser na condio
Que eu durma na cama fofa
E o velho durma no cho

Levantei-me de manh cedo,


Levantei-me a cozinhar
Encontrei o velho morto
Nas pedrinhas de meu lar
Faz-lhe uma cova bem funda,
Seno pode sair
Que ele muito amiguinho das criadas de servir
RECOLHA 2005 SCMB Maria do Carmo Morais, Idade: 98.
Localizao geogrfica: Espinhosela - ORIGEM + 60 anos.

CANTIGA SEM TITULO 1


Roubei-te um beijo Maria
Desde esse dia morra se eu minto
Uma coisa to pouca que fica na boca
No sei o que sinto
Fazes mal moreninha
O amor de um marinheiro
Sobe e desce como as ondas
como agulha em palheiro
Vira, vira e torna a virar
Rapaz deixa a moa vai para o teu lugar
Que ela nem te ama nem quer amar
A fita da minha blusa j no se usa
Fuja o demnio
Eu no quero a tua riqueza
Quero a pobreza do meu Antnio
Fazes mal moreninha
O amor de um marinheiro
Sobe e desce como as ondas
como agulha em palheiro
Vira, vira e torna a virar

Rapaz deixa a moa vai para o teu lugar


Que ela nem te ama nem quer amar
RECOLHA 2005 SCMB Maria Teresa Fortunato, Idade: 78.
Localizao geogrfica: Babe ORIGEM + 60 anos.

CANTIGA SEM TTULO 2

Amei-te tanto, tanto que talvez enfim


E meu encanto de ver-te sempre perto de mim
Mas certo dia, dia cruel fugiu
A fantasia do amor
Fiquei sozinha e bem triste
Mas quando um dia acabar
Esta maldita paixo
Volta e ters lugar
Dentro do meu corao
No ser para sempre este corao desfeito
bem mais teu do que o que trazes no peito
Esta mulher que te roubou amor
No tens mais do qu na alma do que o sentimento na dor
Tenho a certeza que um capricho banal
Pela crueza ora senti-la fatal
Mas quando um dia acabar
Esta maldita paixo
Volta e ters lugar
Dentro do meu corao
RECOLHA 2005 SCMB Maria Teresa Fortunato, Idade: 78.
Localizao geogrfica: Babe ORIGEM + 60 anos.

CANTIGA SEM TTULO 3

Mais um espantalho
Que na roda entrou
Deixai-o danar
Que ainda no danou
Se ainda no danou
Deixai-o danar
Rapaz deixa a moa
Vai para o teu lugar
RECOLHA 2005 SCMB Fernanda da Luz Martins, Idade: 78.
Localizao geogrfica: Terroso ORIGEM + 50 anos.

CANTIGA SEM TTULO 4

Vai-te casar D. Aila, vai-te casar esposa minha


vontade de teus pais eu j tua no seria
Da Igreja para casa, ela s isto dizia
Queira Deus que me enamore nem uma hora no dia
Veio a hora do jantar D. Aila no comia
Todos comem, todos bebem, meia volta e ao cho caa
Levaram-na a passear para ver que doena tinha
L no meio do passeio meia volta e ao cho caa }bis
Mandaram vir o doutor para ver que doena tinha
Tinha o corao revolto de baixo para cima
E dentro do corao duas letras de ouro tinha
Uma diz adeus Joo e outra amor da minha vida
RECOLHA 2005 SCMB, ALEXANDRINA AMLIA PIRES, Idade: 90 (j falecida).
Localizao geogrfica: Aldeia dos CASARES ORIGEM + 50 anos.

CANTIGA SEM TTULO 5

A morte de Henriqueta foi a me quem lha causou

Estava deitada na cama quando o trabalho a chamou


Levanta-te Henriqueta, levanta-te a preparar
Ao baile dos Matosinhos no se lhe pode faltar
Preparai-vos rapazes que ela agora est a chegar
Somos cinco estudantes chegmos para a estafar
L no meio daquele baile grandes gritos atirou
Disseram uns para os outros Henriqueta rebentou
Senta-te aqui Henriqueta, senta-te aqui sentadinha
A tua me foi para casa matar uma galinha
A minha me foi para casa com a dor no corao
Queira Deus que eu c no volte ao baile da maldio
RECOLHA 2005 SCMB, ALEXANDRINA AMLIA PIRES, Idade: 90 (j falecida).
Localizao geogrfica: Aldeia dos CASARES ORIGEM + 50 anos.

CANTIGA SEM TITULO 6

Antnio levava para a guerra


Um pombo-correio encantador
Para mandar noticias para a terra
E para a sua querida e amada Leonor
Na hora da partida ao juramento
Dizendo a chorar Deus te d sorte
Se morreres na hora de martrio e de tormento
Dizendo a chorar Deus te d sorte
Eu quebrei meu juramento eu bem sei
Mas tu no voltas mais nossa terra
Esquece-te de mim que eu j casei
Adeus e s feliz ai na guerra
Antnio quando recebeu a carta
Teve um grande desgosto com seu amor
Pondo ao peito a bala
Heroicamente morreu ainda a chamar oh Leonor

RECOLHA 2005 SCMB, EURICO FERNANDES, Idade: 71.


Localizao geogrfica: MOFREITA ORIGEM + 50 anos.

CANTIGA SEM TITULO 7

Era o amparo de sua me


Era um rapaz de bem
E amava como ningum
Os seus maiores amores
E era um rapaz muito honrado
Era um nobre soldado
Sentinela nos Aores
Levava seu fardamento
Bonito todo cinzento
Que lhe ficava to bem
A abraar e a sorrir
Tirou antes de partir
O retrato da sua me
Passam dois anos no lar
Volta para sua me abraar
A transbordar de alegria
Quando as vizinhas porta lhe dizem
Que a me est morta sepultada h trs dias
Foi num silncio funrio
Procurar ao cemitrio
A campa de sua me
Logo amarfanhou o fato
Corre a abraar-se ao retrato
Ao cemitrio alm
E o caixo desenterrou a chorar
A ele se abraou ao corpo da me gelado
Disse para a me a sorrir:
Est a chorar junto a ti o teu filhinho adorado
Leva toda a madrugada a chamar pela me amada
No fim calou-se tambm
Que triste quadra aquela
De manh deram com ele morto na campa da me.
RECOLHA 2005 SCMB, EURICO FERNANDES, Idade: 71.

Localizao geogrfica: MOFREITA ORIGEM + 50 anos.

CANTIGA SEM TITULO 8


Um dia sucedeu em Alto Minho
Com a moa mais formosa de todo o monte
Mas uma noite escura e temerosa
Pegou na cantarinha e foi fonte
A fonte era longe e no regato
Ficava junto azenha do moinho
Trs lobos temerosas feras
Trespassaram-lhe a passagem do caminho
No tendo outro caminho para onde seguir
Seguiu-as tambm, no se importou
Talvez que at os lobos murmurassem
Vejam que linda jovem ali passou
Se fossem trs homens o que seria
Ao ver aquela jovem aparecer
Que a tentao da carne tamanha
Alguns homens so lobos por prazer.
RECOLHA 2005 SCMB, EURICO FERNANDES, Idade: 71.
Localizao geogrfica: MOFREITA ORIGEM + 50 anos.

CANTIGA SEM TTULO 9

Aquela menina alm


No sei que mistrio tem
Nunca se chega janela
Nunca se chega janela
Ningum olha para ela
Nem ela para ningum
Chora pelo ente querido
Nem foi noivo nem marido
Todos dizem quem ser
Morre de amor verdadeiro

Se percorrer o mundo inteiro


Outro igual no achar
Procurando as horas mortas
Fechando todas as portas
Ela ao cemitrio vai
Vai toda triste e penosa
Vai desfolhar uma rosa
Sobre a campa de seu pai.
RECOLHA 2005 SCMB, EURICO FERNANDES, Idade: 71.
Localizao geogrfica: MOFREITA ORIGEM + 50 anos.

CANTIGA SEM TTULO 10

Da minha janela tua


Vai uma vara medida
Do meu corao ao teu
Vai uma estrada seguida
E beira do rio nascem
Violetas ao comprido
Ontem noite me disseram
Que no casavas comigo
Se eu soubesse na verdade
Que eu no te tornava a ver
Mandava vir da botica
Remdio para morrer
Prometi-te trs castanhas
Se me deres um castanheiro
Tambm eu era pra ser teu
Se outro no vier primeiro.
RECOLHA 2005 SCMB, EURICO FERNANDES, Idade: 71.
Localizao geogrfica: MOFREITA ORIGEM + 50 anos.

CANTIGA SEM TTULO 11


A moda do bailarico
Nada tem que se saber
andar com um p no ar
E outro no cho a varrer
Dana folia, danar, danar
Haja alegria beira mar
cantar e ser alegre
A tristeza no faz bem
Eu nunca vi a tristeza
Dar de comer a ningum
Dana folia, danar, danar
Haja alegria beira mar.
RECOLHA 2005 SCMB, EURICO FERNANDES, Idade: 71.
Localizao geogrfica: MOFREITA ORIGEM + 50 anos.

CANTIGA SEM TTULO 12

minha costureirinha tens agulha e tens dedal


S te falta a tesourinha pra talhares o avental
minha costureirinha tua agulha picou-me
Foi to grande a picadela que estava a dormir e acordou-me
Foi to grande a picadela que estava a dormir e acordou-me
minha costureirinha tens agulha e tens dedal
S te falta a tesourinha pra talhares o avental
Pra talhares o avental, pra talhares a blusinha
Levanta-te e vem comigo linda costureirinha
RECOLHA 2005 SCMB, EURICO FERNANDES, Idade: 71.
Localizao geogrfica: MOFREITA ORIGEM + 50 anos.

CANTIGA SEM TTULO 13

Ia um grupo de crianas
Conversando seriamente
Diz o mais velho afinal
Que queria ser um general
Para ser um combatente
Diz o outro com rancor
E eu quero ser aviador
Para ser heri do ar
Diz logo o outro irritante
Eu quero ser almirante
Para conquistar o mar
Logo outro que diz
Eu porm quero ser juiz
Para poder condenar
Diz logo o outro do lado
E eu quero ser advogado
Para o ru poder salvar
E eu quero ser engenheiro
Era todo o meu afecto
Diz o mido do lado
Pequenino e engraado
Eu quero ser arquitecto
Mas outro falou com amor
Eu quero ser professor
De um sentimento profundo
E nesta cano tudo me seduz
Eu queria dar esta luz
E atravs de todo mundo.
RECOLHA 2005 SCMB, EURICO FERNANDES, Idade: 71.
Localizao geogrfica: MOFREITA ORIGEM + 50 anos.

CANTIGA SEM TTULO 14

Castanheiro d castanhas
Castanheiro d s uma
Para dar ao meu amor
Que ainda no comeu nenhuma.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA DE LUZ SALES, Idade: 79.
Localizao geogrfica: BEMPOSTA ORIGEM + 50 anos.

CANTIGA SEM TTULO 15


Viva pastorinha que buscas aqui
Eu busco meu gado que o que eu perdi
Seu gado de rosas aqui lho trago
Eu no o apartei para ser seu criado
Se s meu criado eu no lho mandei
Deixa-se o meu gado que eu o guardarei
Olha a pastorinha o que est de pertinente
Seus olhos so lobos que comem a gente
Vamos l embora no lhe d contenta
Que vm meus homens a trazer a merenda
Vamos l para a sombra no com m inteno
Falo-te a verdade que eu sou teu irmo
Se eras meu irmo, porque no me dizias
Eu era novinha no te conhecia.
RECOLHA 2005 SCMB, SNCIA PATRO, Idade: 93.
Localizao geogrfica: MOREDO ORIGEM + 50 anos.

CANTIGA SEM TTULO 16


Foi na vila de Mura de vilo sem caridade
Que o mundo mundo no se viu tamanha maldade
Devia ter 60 anos esse dito professor
Causando s famlias tristeza e terror
Com ameaa soberba aos meninos lhe fazia
Se contassem famlia a vida lhes tiraria
E na vila de Mura de luto muito pesado

A opinio do povo era ser ali queimado


Sers sempre desgraado para sempre temers
Metido nessa priso toda a vida te vers.
RECOLHA 2005 SCMB, SNCIA PATRO, Idade: 93.
Localizao geogrfica: MOREDO ORIGEM + 50 anos.

CANTIGA SEM TTULO 17


caixeirinho do Porto
J no te digo mais nada
No te cases com D. Rosa
Que ela j est enganada
D. Rosa foi para casa
Muito triste e apaixonada
Logo a sua me lhe disse:
filha s desgraada
Anda c minha filha,
Filha do meu corao
Entra pela porta a dentro,
Vai ao teu pai pedir perdo
Perdoa-me meu pai,
Perdoa-me que tenho andado desgraada
Quanto vejo deste mundo
De uma amante abandonada
De uma amante abandonada,
De uma amante aborrecida
No tinha em que me valer
Vali-me da triste vida.
RECOLHA 2005 SCMB, SNCIA PATRO, Idade: 93.
Localizao geogrfica: MOREDO ORIGEM + 50 anos.

CANTIGA SEM TTULO 18


Minha me deixe, deixe, minha me deixe-me ir
Ao arraial de Valpaos eu vou e volto a vir
Eu vou e volto a vir, nem sei se voltarei ou no
Minha me deixe-me ir Sra. da Ascenso
Senhora da Ascenso, Senhora to pequenina
Comadre da minha me, Senhora minha madrinha.
RECOLHA 2005 SCMB, CNDIDA CARVALHO, Idade: 81.

Localizao geogrfica: BRAGANA ORIGEM + 50 anos.

CANTIGA SEM TTULO 19


Estava Maria
beira do rio
Lavando os paninhos
Do seu Bento Filho.
Lavava a Senhora
Jos estendia
Chorava o menino
Com o frio que tinha
Calai meu menino
Calai meu amor
O mundo dos homens
Dos que cortam de dor
Os filhos dos homens
Em bero dourado
E vs meu menino
Em palhas deitado
Em palhas deitado
Em palhas estendido
Filho de uma rosa
De um cravo nascido.
RECOLHA 2005 SCMB, ANTNIA FARIA, Idade: 94.
Localizao geogrfica: REBORDOS ORIGEM + 60 anos.

CANTIGA SEM TTULO 20


Ande Roda ao redor
Quanto mais a roda anda
Mais te eu quero meu amor
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA ANICETA GONALVES, Idade: 86.
Localizao geogrfica: VILA FLOR ORIGEM + 60 anos.

CANTIGA PARA ENCOMENDAR AS ALMAS


porta das almas santas bate Deus a toda a hora
As almas respondem: meu Deus que queres agora?
Queremos que deixeis o mundo
Vamos todos para a glria
meu Deus, meu Senhor vamos j agora
Para ao p dos anjos e na companhia da Virgem Maria
J l tendes vossos pais, vossas mes e uma fazenda
Quem das almas se lembrar e delas tiver devoo
Alcanam na terra a Salvao.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA AMLIA MORAIS, Idade: 81.
Localizao geogrfica: SANTA COMBA DE ROSSAS ORIGEM + 50 anos.

CANTIGA DOS REIS

Aqui chegamos preparados para cantar


Se os Senhores nos derem licena vamos comear
Esta vai por despedida por cima do meu chapu
Passem muito bem a noite at amanh se Deus quiser.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA AMLIA MORAIS, Idade: 81.
Localizao geogrfica: SANTA COMBA DE ROSSAS ORIGEM + 50 anos.

CANTILENA 1
Coradinha ol, ol
Coradinha ol, limo
D-me c esses teus braos
Amor do meu corao
Fala para mim sozinha
V l que ficas coradinha
Coradinha ol, ol
Coradinha ol, limo
D-me c esses teus braos
Amor do meu corao

RECOLHA 2005 SCMB, MARIA ANICETA GONALVES, Idade: 86.


Localizao geogrfica: VILA FLOR ORIGEM + 60 anos.

CANTILENA 2
Para avante a caminho da nossa aldeia
Mostrando a nossa renda
A nossa fininha meia
Os nossos novos cales
Os nossos ps delicados
O nosso corpinho bem feito
Os homens so o diabo
Os homens so o diabo
Levados de Belzebu
Por causa de meio tosto
Metem .
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA ANICETA GONALVES, Idade: 86.
Localizao geogrfica: VILA FLOR ORIGEM + 60 anos.

CANTILENA 3

Pus o p na batateira
Fiz tremer o batatal
Passarinho repenica o canto
Vem cantar no meu quintal
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA ANICETA GONALVES, Idade: 86.
Localizao geogrfica: VILA FLOR ORIGEM + 60 anos.

CANTILENA 4

Nossa Senhora das Terras


Fez um milagre no monte
O menino pediu-lhe gua
Logo lhe abriu a fonte

CANTILENA 5
Alargai-vos raparigas
Que o terreiro estreito
Quero dar umas voltinhas
Quero d-las ao meu jeito

CANTILENA 6
Ande roda, ande roda
Ao redor
Quanto mais a roda anda
Mais te quero meu amor
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA ALICE RODRIGUES, Idade: 81.
Localizao geogrfica: BRAGANA ORIGEM + 60 anos.

CANTIGA PASTORIL22

Deus te salve, Rosa, lindo serafim.


Pastorinha nova, o que fazes aqui?
- Deus te salve, cravo, criado no trono.
Se eu guardo o gado, ele do seu dono.
- Se do seu dono, bem empregado.
Se a menina quiser, sou seu criado.
- Eu no quero criados vestidos
de seda por estas estevas.

V-se da v-se, que eu j o mandei.


Que ho-de dizer meus amos?
Em que me ocupei?
- Se seus amos disserem em que se ocupou,
Foi uma nuvem d'gua que por aqui passou.
- V-se embora, v-se,
Que j lhe estou dizendo.
Que ho-de dizer meus amos?
Em que passeio o tempo?
- Eu j me vou, eu j me vou indo.
Eu me vou chorando, voc se fica rindo.
- Se voc se vai chorando, volte c correndo,
Que o meu amor j se vai rendendo.
Por essa serra acima faz muito calor,
Vamos para a sombra, meu lindo amor.
- Vamos para a sombra, mas com boa inteno,
Porque eu venho jurar-te que sou teu irmo.
- Se tu .s meu irmo, irmo da minha alma,
Por amor de Deus te peo que no digas nada.
- Eu nada no digo, nem no hei-de dizer,
Conta-me a tua vida, que eu a quero saber.
RECOLHA (1985) de Cremilde Amlia Pires, Baal Bragana.

12. RECEITAS

FOLAR 1
Fermento
Farinha
Ovos
Pingo (gordura)
Azeite
Batem-se os ovos mais a farinha, depois aquece-se o azeite mais o pingo e
desfaz-se o fermento na gua quente, misturando-se tudo na farinha. Em
seguida amassa-se tudo deixando duas horas a descansar. Abre-se, ento, a
massa e mete-se a carne entre a massa, levando a cozer durante duas horas.

BOLO DE GUA:
3 colheres de batata desfeita
3 ovos
3 colheres de acar
3 colheres de gua
Farinha
Batem-se os ovos com o acar juntando-se, depois, a batata desfeita, a gua
e a farinha. De seguida leva-se ao forno para cozer durante alguns minutos.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA AMLIA MORAIS, Idade: 81.
Localizao geogrfica: SANTA COMBA DE ROSSAS ORIGEM + 50 anos.

FOLAR 2
Ingredientes:
5 quilos de farinha
5 Dzias de ovos
5 pacotes de manteiga

Uma pitada de sal


150 g de fermento de padeiro
Fazer fermento com massa comprada na padaria
Preparao:
Amolece-se o fermento em gua quente juntamente com o sal. Batem-se os
ovos, passando-se antes cada ovo por um tacho de gua quente para ficarem
mornos, deita-se depois a farinha com a manteiga derretida e o fermento.
Amassa-se tudo e deixa-se levedar durante algumas horas. No fim mete-se a
massa em formas untadas de manteiga, fazendo-se camadas alternadas de
massa e carne picada (chourio, salpico etc.).
Adivinha:
- Somos sete irms, eu a primeira que nasci sou a mais nova como pode ser
assim? Resposta: A primeira semana das sete da Quaresma quarta-feira de
cinzas
RECOLHA 2005 SCMB, LUCINDA RAMOS, Idade: 88.
Localizao geogrfica: MOREDO ORIGEM.

ECONMICOS
12 ovos
4 kg de farinha
1 l. de leite
1 kg de acar
l de gua ardente
1 pacote de soda
1 colher de fermento
1 pacote de manteiga
l de azeite
Bater os ovos com o acar, deitando-se os restantes ingredientes na mistura.
Ao se formar a massa que se divide em vrias pores que se vo levar ao
forno durante 10 minutos.
RECOLHA 2005 SCMB, TERESA GARCIA, Idade: 96.
Localizao geogrfica: MONTESINHO ORIGEM + 60 anos.

13. ANEXOS PAUTAS MUSICAIS


ALTA VAI A LUA ALTA
ENCOMENDAO DAS ALMAS
ENCOMENDAO DAS ALMAS
ENCOMENDAO DAS ALMAS
OS REIS
OS REIS

PADEIRINHA
O JOGO DA CANTARINHA

QUADRAS POPULARES
A MONDA DOS TRIGAIS
CANTIGA PASTORIL
GIRINALDO, GIRINALDO
GIRINALDO

NDICE

O mesmo romance, com algumas variantes, encontra-se em Leite de Vasconcelos, Opsculos, Vol. VII, p. 1070; P. Firmino Martins, Folclore de Vinhais, Vol. I, p. 149.
Por diversas recolhas que mandmos fazer, em anos diferentes, a alunos nossos, verificmos que este romance est quase a desaparecer. Confrontar este romance
com as seguintes verses: L. de Vasconcelos, op. cit. p. 1065; F. Pires de Lima, Romanceiro, p. 118; A. Garrett, Romanceiro, Vol II, p. 91; T. Braga, Romanceiro Geral, p. 1
e seguintes.
3
O P. Firmino Martins, no Vol. II p. 70, apresenta-a como Cantiga das Malhas. O informador, em vez de feira de Arago, diz l para os lados de Agrocho.
4
Vide P. Firmino Martins, op. cit, Vol. 11, p. 80.
5
Vide Leite de Vasconcelos. op. cit. p. 1050. Esta verso muito diferente. P. Firmino Martins, op. cit. Vol. I, p. 142; L. Corts Vasquez, Leyendas, p. 134.36; M. Manzano
Alonso, Cancionero Zamorano, p. 455.
Transcrio musical em Anexos.
6
Vide P. Firmino Martins, op. cit. Vol. I, p. 242; Abade de Baal, Memrias, Vol X, p. 581; L. de Vasconcelos, op. cit. p. 1061.
7
O antropnimo Ninho apresenta muitas variantes como Nilo, Aninho. Vide L. de Vasconcelos, op. cit. p. 970; P. Firmino Martins, op. cit., Vol. lI. p. 1 a 4; L. Corts
Vasquez, op. cit., p. 106.
8
Vide P. Firmino Martins, op. cit. Vol. l, p. 219, e Vol. li, p. 26; T. Braga, op. cit., p. 221, L. de Vasconcelos, op. cit. p. 1035.
9
Vide P. Firmino Martins, op. cit. V. I. p. 151; e V. li, p. 6; L. de Vasconcelos. op. cit, p. 984 e 1037.
10
Vide P. Firmino Martins, op. cit. Vol. li. p. 559; L. de Vasconcelos, op. cit. 989.
11
Vide L. de Vasconcelos, op. cit. p. 985-87; A. Garrett, op. cit, Vol. II, p. 195; P. Firmino Martins. op. cit. Vol. I, p. 182: e Vol. II, p. 22; T. Braga, op. cit. p. 201 e 204; F. Pires
de Lima, op. cit. 9.59; Lus Corts Vasquez, op. cit. p. 101-5; Antnio Mourinho, Cancioneiro. p. 161-5: M. Manzano Alonso, op. cit, 437-39: Damaso Ledesma, Cancionero
Salmantino. p. 165; Manuel Fernandes Nufiez, Folklore Leons, p. 93.
Ver a transcrio musical nos Anexos
12
A recolha no trazia qualquer ttulo. Trata-se do romance Valdevinos, incompleto. Verso trasmontana de D. Beltro (vide T. Braga. op. cit. 209); F. Pires de Lima, op. cit.
80; A. Garrett. op. cit. Vol. II. p. 271; P. Firmino Martins. op. cit. Vol. I. p. 182.
13
Vide P. Firmino Martins. op. cit. VoI. I. p. 222. Diferem muito estas duas verses.
14
Transcrio musical em ANEXOS.
15
- Ver a transcrio musical em ANEXOS.
16
Ver a transcrio musical.
17
Ver a transcrio musical.
18
- Ver a transcrio musical em ANEXOS.
19
Bota: vasilha de couro que usam para levar vinho para o trabalho.
20
- Ver a transcrio musical.
21
Ver a transcrio musical.
22
Vide P. Firmino Martins, op. cit., Vol. I, p. 142; L. Corts Vasquez, op. cit, p. 134.
Ver a transcrio musical nos ANEXOS.
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