Cancioneiro Transmontano 2005
Cancioneiro Transmontano 2005
Cancioneiro Transmontano 2005
FICHA TCNICA:
Ttulo: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e incio dos captulos)
Edio: SANTA CASA DA MISERICRDIA DE BRAGANA
Recolha de textos: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA (2005), BELARMINO
AUGUSTO AFONSO, ELEUTRIO ALVES e NARCISO GOMES EM RAZES DA
NOSSA TERRA CANCIONEIRO TRANSMONTANO (1985)
Transcrio musical: ALBERTO ANBAL FERREIRA
Impresso e acabamento:
Tiragem: 1 000 exemplares
Depsito legal:
ISBN:
NOTAS DO AUTOR
Antes de mais quero agradecer ao Dr. Eleutrio Alves, Provedor da Santa Casa da
Misericrdia de Bragana, por ter tido a viso e a confiana para me deixar elaborar este
Cancioneiro. J no passado, em 1985, a ele coube o sonho de lanar a primeira edio
desta obra. igualmente devido o nosso reconhecimento ao Dr. Eduardo Alves da
SCMB, e a Sandra Rocha, (Estagiria do 5 ano Trabalho Social da UTAD Plo
Miranda do Douro) o nosso muito apreo pelas recolhas efectuadas dentre os utentes da
Santa Casa, bem como ao Professor Lus Canotilho que nos ilustrou o livro.
Embora j desaparecido do nosso convvio (27 de Maio 2004) no quero deixar de
mencionar, hoje, Jos Augusto Seabra, meu mentor intelectual e colega de vrias
iniciativas, que nos ltimos trs anos foi o patrono dos Colquios de Lusofonia
realizados em Bragana. Foi ele que sempre teve o estmulo certo para os momentos de
desnimo, e as palavras de incentivo rumo a uma utopia alicerada nos seus mltiplos
saberes. Foi no seu reinado como ministro da Educao que deu o aval ao Politcnico
de Bragana, onde ainda proferiu a Orao de Sapincia em 2003. Jos Augusto
Seabra, um literato no mais amplo sentido, um homem das Letras, um republicano
indefectvel na senda dos verdadeiros republicanos da I Repblica. Como Embaixador
promoveu a Lngua e a Cultura portuguesas de forma ousada e inovadora nos pases
onde exerceu; como director da Revista Internacional de Lngua Portuguesa das
Universidades da CPLP, editou-a com o labor e a mincia de quem ama a lngua. E falo
desse homem pois foi graas a ele que aprendi a importncia desta terra que em to
pouco tempo me soube cativar, despertando em mim heranas transmontanas
obnubiladas e laos de corao e sangue que eu olvidara. Sim, esta terra que me acolhe
como quem trata um filho emrito, soube adoptar-me engalanada nas suas belezas que
contrastam com a agrura excessiva do seu clima.
A sua qualidade de vida faz corar de inveja os habitantes das grandes urbes
portuguesas pois, Bragana, dispe hoje de bons e modernos equipamentos urbanos,
de um tecido social coeso ainda que diverso, e de uma vitalidade sustentada durante a
maior parte do ano por mais de 6000 estudantes do ensino tercirio e outros tantos do
secundrio. A atmosfera est cheia de contrastes da sua rica histria, do seu comrcio
tradicional e do mais recente.
Tudo isto serve para me encher de orgulho por viver aqui, nesta antiga Cidade de
A paisagem rude e bravia, e numa abordagem fugaz dir-se-ia que aqui s h fraguedo.
Mas numa das mais importantes revolues pacficas que aqui ocorreram, os judeus
plantaram amoreiras nos interstcios dessas fragas e nos sc. XV e XVI, conseguiram o
milagre de fazer de Bragana um importante centro manufactor de veludos, damascos e
outros tecidos de luxo.
Noutro extremo menos agradvel, a Inquisio mostrou-se particularmente activa em
Bragana. Vitimou, ao todo 734, artesos segundo os nmeros averiguados pelo sbio
Abade de Baal. Naturalmente, nem todos se deixaram apanhar e a maioria (trs mil
artesos) fugiu. Os teares fecharam, a produo dos belos veludos de Bragana cessou
por completo e a terra conheceu um longo e sombrio perodo de decadncia.
A Bragana de hoje irm gmea da outra celta e romana, dela tendo herdado
costumes, lngua e artesanato, sempre marcados pela sua importncia militar e
estratgica mas sem jamais perder as suas razes rurais, e reza uma
importante lenda que na Igreja de S. Vicente, se casou clandestinamente o prncipe e
futuro Rei D. Pedro com a dama castelhana Ins de Castro, tema da literatura
portuguesa e universal.
Neste volume pretendemos fazer ouvir a nossa voz, atravs das memrias do passado
para que no desapaream as lendas e tradies que permitiram a Bragana ser uma
terra onde se congregam esforos e iniciativas para manter viva a lngua de todos ns,
sob o perigo de soobrarmos e passarmos a ser ainda mais irrelevantes neste curto
percurso terreno.
Quando aqui cheguei em 2003, sabia apenas que havia fortes laos de sangue que me
prendiam a esta regio. Com um av materno Vimiosense h sculos, uma av materna
e uma me alfandeguenses, recordava daqui as frias de infncia passadas em terras
da vetusta regio de Bragana e Miranda. Havia primos e tios avs que contavam
histrias de outros tempos, e tinham um falar diferente.
Aprendi a liberdade de passear pelos campos at ao pr-do-sol, montado numa burra ou
num macho, sem peias nem fronteiras, por montes e vales, inspirando este ar puro,
experimentando detalhes desconhecidos da natureza que a minha juventude urbana
desconhecia. Em casa ainda no havia luz elctrica que essa s chegaria depois do 25
de Abril, mas os campos j estavam plantados de postes de alta tenso. Das vindimas
apanha da amndoa muitas foram essas recordaes que recuperei. Lembro-me de ver
como no cu havia estrelas em nmero inaudito, estrelas que jamais se podiam observar
nas poludas abobadas das cidades portuguesas. Lembro-me do cheiro a feno na
Eucsia, do chiar dos carros de bois no Azinhoso, dos cortejos pascais engalanados com
as colchas penduradas nas pequenas janelas como seteiras abertas em paredes de
grossa espessura. Lembro-me dos burricos e dos seus cntaros saltitantes a caminho
da fonte, dos jantares luz da vela e do sempre presente petromax. As cavilhas na
central telefnica do Sendim da Ribeira com doze nmeros de telefones que se ligavam
venda onde tudo se comprava. E havia ainda as celebradas danas no salo dos
bombeiros, e as festas tpicas em honra do santo da aldeia, onde conheci um povo que
desconhecia.
Na pequena e ora semi-despovoada aldeia da minha av materna encontrei os rituais
senhoriais da famlia Gama do engenheiro Camilo Mendona onde se ia prestar
vassalagem quando ali chegvamos para frias, ansiosos de beber a fresca gua da
Grichinha, fonte milagreira em plena terra das feiticeiras. Revisito a imagem buclica do
Vale da Lilaria antes da barragem, quando da varanda de casa me deleitava com ela
enquanto devorava os livros de Jules Verne.
Vi rostos e tradies do tempo dos Cristos Novos, ainda hoje envergonhados da sua
herana marrana. H cinquenta anos, ainda existia a vergonha de se dizer que se
descendia dum abade, cnego ou padre, to comum a tantas famlias da regio, numa
mescla de respeito, medo e venerao ao cristianismo que se impusera primeiro aos
mouros da rica Alfandagh, para depois ser temporariamente substitudo pelos judeus
que fizeram desta uma zona bem rica, antes de sofrerem os efeitos da converso
forada e a clandestinidade, quando no a morte, o exlio ou a Santa Inquisio.
Conheci capelas, vi santos milagreiros em altares cobertos de ouro, andei em procisses
e fui a missas onde os importantes da terra tinham as suas cadeiras prprias reservadas
em pleno altar. Tomei banho em tanques improvisados e provei frutas desconhecidas.
Fiquei sempre com esta recordao destas terras e destas gentes e ela me acompanhou
no priplo de mundos e na dispora que me levou a passar metade da vida no Sudeste
Asitico e na Australsia. Essas eram, alis, as nicas recordaes agradveis que
levava do pas onde cresci. Eram to importantes que as utilizei numa entrevista em
1989 para dizer na Austrlia como era belo este pas de bons vinhos e boas comidas, e
paisagens variegadas. Lembrava-me dos fraguedos de Penas Roias (onde fora pela
primeira vez em 1962 num jipe dum primo), e da famosa arca do cura dessa aldeia
esquecida, onde s regressaria no conforto do alcatro em 2004.
No Vimioso percorri as ruas onde o meu av crescera, vi a casa onde a famlia habitara
que permanecia altiva e brasonada. Em Alfndega da F revi os jardins e os parques e
as memrias dum castelo que a minha me sempre referiu nos idos da memria.
Recordei as viagens longas e inesquecveis pelo Douro acima, em comboios que a
estupidez do homem mandou retirar dos carris trocando-os por alcatro.
Recordo com emoo os jantares feitos lareira, em tachos negros como a noite, e
onde os sabores eram bem diferentes. Depois do jantar, sentados no escano,
imaginvamos figuras misteriosas que o fogo e as sombras criavam, antes de nos
confrontarmos com o medo de regressarmos aos quartos, atravessando enormes sales
onde a chama bruxuleante da vela nos desenhava os demnios de que a catequese nos
avisara. Mas, mais terrveis ainda eram as trovoadas em plena poca das sezes,
quando na Quinta da Bendada (hoje em runas e no mais pertena da famlia) nos
anichvamos debaixo da cama, enrolados em cobertores de papa, a rezar a Santa
Brbara.
Foi tudo isto que eu revivi ao editar este maravilhoso Cancioneiro Transmontano 2005.
Foi o facto de saber que no vivi em Portugal os anos suficientes para ter mais
recordaes de histrias e contos dos avs, e de que a minha me hoje com 82 anos
o ltimo elo para tantas dessas histrias e lendas que as tias contavam e cantavam.
Ao sentir que se podem perder esses registos fundamentais duma memria colectiva
resolvi meter as mos obra e preservar em papel aquilo que tantos idosos nos deram.
Sabemos que a lngua e cultura dum povo se preservam sobremodo pela tradio oral,
limitamo-nos a transcrever o que foi possvel ainda recuperar, para que mais tarde, os
vindouros saibam que aqui houve gentes que nos falavam de mouras encantadas
oitocentos anos depois delas terem deixado de aqui viver.
Lamenta-se que mais recolhas no nos tivessem chegado a tempo de as publicar.
Estamos dispostos a guard-las para uma prxima oportunidade se algum as fizer
chegar at ns. Mas para j deixo-vos cerca de duzentas e cinquenta pginas desta
memria transmontana, nas quais mantive os textos, a introduo e o prefcio da
primeira edio publicada em 1985.
Para que os nosso filhos se orgulhem das suas razes e as preservem.
Bragana, Abril 2005
J. Chrys Chrystello
ACERCA DA IMAGEM
A riqueza e a originalidade cultural de Trs-os-Montes, continuam a ser desconhecidas
pelos portugueses e at mesmo prprios habitantes da prpria regio. O inevitvel
progresso da regio, ultimamente, parece limitar-se s principais urbes. Em
consequncia das novas exigncias tcnicas e cientficas, as principais cidades
transmonatanas tm observado uma ocupao extremamente heterogea de pessoas
vindas de outras zonas e pases.
Este aspecto tem vindo a determinar aparecimento de duas culturas a dois ritmos numa
regio to pequena. A cultura citadina que pretende copiar os esteretipos do progresso
de outras culturas em paralelismo com a cultura rural, que a todo o custo prefere manter
a sua ingenuidade, autenticidade, tradies e rituais.
Esta cultura autntica e ancestral, transmitida ao longo das geraes parece querer
manter-se e em alguns casos e afirmar-se a partir dos mais jovens, cada vez esto mais
consciente do seu valor.
Entendo que a sua compreenso jamais poder ser absorvida atravs de uma s
linguagem. A simbiose entre a literatura, a poesia, a pintura e a imagem, permite uma
leitura mais correcta e simples da realidade transmontana. Neste trabalho, fotografia e
pintura, esto intencionalmente ausentes da decorao que a cor possibilita. Pretendese deste modo no sobrevalorizar a imagem em relao ao texto.
Os textos aqui recolhidos, nesta sociedade da imagem e sem fronteiras, s sero
compreendidos atravs de uma leitura paralela da imagem. A iamgem aparece neste
trabalho como que a fotografia do bilhete de identidade de um povo autntico e feliz, por
se sentir orgolhoso das suas tradies e rituais.
Sendo que a inteno desta publicao no se limita ao espao de Trs-os-Montes, ser
sempre difcil num outro ponto do mundo cultural, sem fronteiras, associar a escrita sem
sentir atravs dfa observao das imagems da natureza que moldou esses
pensamentos criativos, o traje, as expresses, a forma dos rituais, a religiodade
associada ao paganismo, as loas, o comportamento comunitrio das populaes, as
festas e as romarias, etc.
Foi portanto inteno colocar a imagem de forma intemporal e no localizadas, muitas
vezes dissociadas do prprio texto. No presente caso, as imagens pretendem percorrer
Trs-os-Montes, durante os doze meses do ano, perseguindo as suas gentes de forma
discreta e violando a sua intimidade cultural. Tal como o texto, a imagem um
patrimnio cultural que no pertence a nenhuma aldeia ou zona transmontana e como
tal esto ausentes de qualquer legendagem. A pintura de Helena Canotilho aparece,
porque a artista seguramente quem melhor tem retratado com rigor as gentes de Trsos-Montes.
Lus Canotilho 2005
sociocultural das gentes deste nosso Nordeste onde nos inserimos sentir-nos-emos
muito gratificados.
que, tambm a este respeito, a messe grande e os operrios poucos.
Narciso Gomes 1985
AGRADECIMENTOS 1985
Uma publicao, mesmo que pequenina como esta, s possvel devido conjugao
de esforos e boa-vontade de vria ordem e diversa provenincia. No pode, assim, a
Delegao da Junta Central das Casas do Povo, em Bragana, deixar de agradecer
muito reconhecidamente:
- A todos aqueles que, dos vrios pontos do Distrito, se empenharam na Recolha por
ns promovida, quer como fontes, quer como signatrios da mesma.
- s personalidades que integraram o jri de apreciao dos trabalhos recebidos, que
desinteressada e gentilmente aceitaram dar-nos o contributo do seu saber e experincia
na matria, os Ex.mos Senhores: Dr. Carolina Vitria Pires, professora efectiva do
Ensino Secundrio; P. Dr. Belarmino Augusto Afonso, professor de Antropologia Cultural
da Escola do Magistrio Primrio de Bragana; Dr. Manuel Antnio Gonalves, professor
do Ensino Secundrio.
- s pessoas que proporcionaram, com o seu canto, a gravao das vrias cantigas e
outro material cantado, cuja msica publicamos nesta brochura.
- Ao Regente da Banda da Casa do Povo de Vinhais, Sr. Alberto Anbal Ferreira, pelo
trabalho de descodificao das msicas atrs referidas.
- A todas as Casas do Povo do Distrito, Estabelecimentos de Ensino, Procos, Juntas de
Freguesia, Jornal Mensageiro de Bragana, Revista Brigantia, Boletim Povo
Rural, Emissor Regional da RDP, em Bragana, e outros rgos de comunicao
social, pelo papel imprescindvel que lhes devido na divulgao e relevo concedidos
iniciativa.
- Referncia e agradecimento muito particular nos cumprem ainda aqui deixar ao Rev.
P. Dr. Belarmino Augusto Afonso, desta feita pelo trabalho e dedicao que lhe devemos,
de seleco, compilao, ordenao, sistematizao, e nota introdutria desta
colectnea.
A Delegao da Junta Central das Casas do Povo en Bragana
1. ROMANCES POPULARES
LAVRADOR DA ARADA
NAU CATRINETA
GASTADOR
D. NGELA
Onde vais, D. ngela,
Onde vais, esposa minha?
Vais vontade de teus pais
Que tua no seria.
L no meio da igreja,
Duas falas ela diria:
-Deixa l que no me louves,
Nem uma hora nem um dia.
-Dali vieram p'ra casa
Com tristeza e no alegria.
Todos comiam e bebiam,
D. ngela no comia.
Levaram-na ao passeio,
A ver se ela distraa.
No meio do passeio,
Morta p'ra trs ela caa.
-Mandaram chamar o mdico,
A ver o que ela tinha.
Tinha o corao virado
Com o debaixo para cima.
Debaixo do corao
Duas letras de oiro tinha
Uma dizia: - Adeus, Joo.
AMOR DE D. JOO
Descala e em cabelo,
Seu rosto alumiara.
- Donde vens, Isabel,
To desprezada?!
- Venho de pedir Virgem,
A Virgem Santa Sagrada
Que te levante dessa cama,
Perdio da minha alma!
- Se eu desta cama me levanto
minha rosa arrosada,
Levar-te-ia igreja
E fazer-te mulher casada.
- Mandaram vir trs doutores
Dos melhores que havia em Granada.
Olharam uns para os outros.
Nem uns nem outros falaram.
E l falou o mais novo
Daquela boda sagrada.
Trs horas s tem de vida
E meia j vai passada...
Uma de despedimento
Da sua querida amada,
E outra testamento.
Deixa bens para a sua alma.
Novas, novas tristes
Me vieram de Granada.
Est D. Joo doente
Com pena da sua amada.
Seus pais lhe perguntaram:
- Tu que tens, meu filho,
Meu filho da minha alma?!
Olha a ver se deves a honra
A alguma menina honrada.
Devo-a a D. Isabel
Que a deixo desgraada
- Paga-lhe tu com dinheiro,
Que tudo paga.
- J l deixei mil cruzados,
A ver se ainda casava.
- Que isso, meu filho,
Para uma menina honrada?
Deixa mais trinta mil
P'ra mesma desgraada.
- Estando eles nesta conversa,
A D. Isabel chegara...
RECOLHA (1985) de Altino do Nascimento Silva Vimioso.
CONDE NINHO
CRUEL VENTO
A BELA INFANTA
Estava a bela Infanta
No seu jardim sentada.
Com um pente de ouro na mo
PR-DO-SOL
10
GIRINALDO (1 VERSO)
11
Girinaldo, Girinaldo,
Criado de El-Rei mais querido.
Queres tu, Girinaldo,
A noite dormir comigo?
- Eu, como criado vosso?..
Senhora, mangais comigo!...
- No te mango, Girinaldo,
Que eu bem deveras to digo.
- Diga-me, minha senhora,
As horas que eu hei-de ir.
- Vai das nove s dez,
Que meu pai j est a dormir.
GIRINALDO (2 VERSO)
Girinaldo, Girinaldo
Pajem do rei mais querido.
Queres tu, Girinaldo,
A noite dormir comigo?
- Quero sim, Real Senhora,
Mas estais mangando comigo?
- No estou, Girinaldo,
No estou mangando contigo.
- Diga-me, Real Senhora:
A que horas devo estar no postigo?
GIRINALDO (3 VERSO)
Girinaldo, Girinaldo
Criado do rei mais querido.
Bem podias, Girinaldo,
Passar a noite comigo.
- Por eu ser um criado, no esteja
A mangar comigo, diga-me a srio;
- Eu bem a srio to digo.
- Se a senhora mo diz a srio, diga-me
As horas a que hei-de ir,
- Das onze meia-noite,
Que est o meu pai a dormir.
Eram onze horas,
Girinaldo a subir
Com seus sapatos na mo
Para o ningum o sentir.
Ela deu-lhe a mo,
Ajudou-o a subir.
VALDEVINOS
12
13
Levantei-me espalvorido,
Ao cantar do rouxinol.
rouxinol que bem cantas,
Onde foste aprender?
- Ao palcio da rainha,
Onde o rei estava a escrever.
O rei estava na varanda,
A rainha no quintal.
Estava a colher laranjas
Do seu rico laranjal.
Umas eram a vintm e outras a real.
As do cimo, a alto preo,
Que ningum lhe podia chegar.
RECOLHA (1985) de Cremilde Amlia Pires, Baal Bragana.
POEMA 1
triste perder um pai
Como eu perdi o meu
Mas perder a nossa me
perdermos um pedao
Da vida que ela nos deu
minha me, minha me
Musa da minha cano
Deus te guarde l no cu
Como eu te guardei no corao
RECOLHA 2005 SCMB, CNDIDA CARVALHO, Idade: 81.
Localizao geogrfica: BRAGANA ORIGEM + 50 anos.
POEMA 2
Era uma vez um homem
Que trs vezes enviuvou
Casando com mulher pobre
Grande riqueza encontrou
Grande riqueza encontrou,
Grande riqueza veio a achar
Nunca mais quela porta
Uma esmola se viu dar
S na semana santa
E a semana que h-de vir
S ali um pobrezinho
que foi pedir
O homem que era
Dorido do corao
A esmola que lhe foi dar
Foi um bocadinho de po
Saiu a fera de l de dentro
E das mos lho foi tirar
POEMA 3
Eram trs comadres
A fazer uma encomenda
Na funo de Santo Andrs
Sarandilha andar, Sarandilha s
Uma levava 9 pes
A cada uma tocou trs
Sarandilha andar, Sarandilha s
Outra levava 30 ovos
A cada uma tocou 10
Sarandilha andar, Sarandilha s
Outra levava um pelhejo de vino
Mientras quando tirou trs
Sarandilha andar, Sarandilha s
Dali a um pouquito
Uma olhava para as estrelas
Pareciam todas ao revs
Outra olhava para a lua
Que parecia Santo Andrs
Dai um pouco chegou o marido da Ins
Palos numa, palos noutra, palos em todas trs
A que levou mais palos foi la pobre Ins
RECOLHA 2005 SCMB, DOMINGOS SARAIVA, Idade: 79.
Localizao geogrfica: MEIXEDO ORIGEM + 50 anos.
POEMA 4
POEMA 5
Meu filho respeita os ninhos
Pensa na pena que tem
A pobrezinha da me
Quando se v sem os filhinhos
Por mais a jeito que os encontreis
Tende respeito no os toqueis
As papoilas encarnadas
A brilhar entre os trigais
So to lindas e delicadas
Como as rosas nos rosais
No vero as raparigas
Enfeitam os seus chapus de palha
Com as papoilas amigas
RECOLHA 2005 SCMB, ENGRCIA NASCIMENTO BRANCO, Idade: 79.
Localizao geogrfica: GUADRAMIL ORIGEM + 60 anos.
POEMA 6
Saudades tenho saudades
Desses tempos que l vo
Quando porta do quinteiro
Eu jogava meu pio
que, ento, na terra
Eram venturas para mim
No me enfeitars jamais.
Grosso pau em que me montava
Cinzas talvez sers
A mitra com que fui bispo
Esfarrapada foi j
E a minha bela igrejinha
Em que mos hoje estar?
Da infncia, a negra saudade
Que a desgraa me reduz
A minha alma espevitando
Tem quase apagada a luz
S vivo at que o meu peito
s escuras diga truz.
RECOLHA 2005 SCMB, ANTNIA FARIA, Idade: 94.
Localizao geogrfica: REBORDOS ORIGEM + 60 anos.
POEMA 7
Minha me eu vi um dia
Foi quando meu pai morreu
Que amor de me como o teu
Neste mundo no havia!
J fiz nove anos, querida
E s vezes, a dormitar
Comeo a filosofar
C nestas coisas da vida
Quando tu ontem deitavas
Meu pequenino irmo
E com to meiga afeio
Sorrindo nos abraavas!
E que tu me adorada
Teus dois filhinhos e eu
Para amar tenho de meu
Uma s Me e mais nada.
RECOLHA 2005 SCMB, ANTNIA FARIA, Idade: 94.
Localizao geogrfica: REBORDOS ORIGEM + 60 anos.
POEMA 8
POEMA 9
Minha laranja redonda
Que eu no posso cortar mais
J me di o cu-da-boca
E o corao ainda mais
RECOLHA 2005 SCMB, DIAMANTINO FERNANDES, Idade: 72.
Localizao geogrfica: GONDESENDE ORIGEM + 50 anos.
POEMA 10
Oliveira do Adro
O ramo dela tem virtude
Passei por ela doente
e logo tive sade
RECOLHA 2005 SCMB, DIAMANTINO FERNANDES, Idade: 72.
Localizao geogrfica: GONDESENDE ORIGEM + 50 anos.POEMA 11
POEMA 11
que linda bonequinha
Que o pap me deu
Ningum tem um pap
Assim to bonzinho como o meu
Todos os dias de festa
Prendas me tem dado
Mas nenhuma como esta
Tem sido como esta
Linda boneca
Tu s o encanto da minha vida
Oh oh quero-te tanto
Oh oh s minha querida
Oh oh e no peito ters abrigo quando precisares
Oh oh oh oh!
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA ANICETA GONALVES, Idade: 86.
Localizao geogrfica: VILA FLOR ORIGEM + 60 anos.
POEMA 12
Mirandela terra linda
Terra dos meus encantos
Onde lhe do tantos carinhos
Tantos abraos tantos
Vou com isto terminar
Porque o tempo pequenino
Vou em nome de minha me
Dar a todos um beijinho.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA AUGUSTA, Idade: 85.
Localizao geogrfica: BRAGANA ORIGEM + 60 anos.
2. VERSOS SATRICOS
A FOME
A fome nasceu em SENDAS
Foi baptizada em Pa
Sacramentada em Valverde
E foi morrer a Grij.
RECOLHA (1985) de Sebastio Agostinho Gonalves. Gondesende Bragana.
3. LOAS
Os senhores de Carragosa,
No so como pensais.
Abateram um burro
Para dividir pelos demais.
Desculpem, meus senhores,
Desculpem por aqui vir.
O burro que vocs mataram
Aqui estou para o dividir.
Eu venho dos talhos de Mirandela, Rgua e Macedo.
Aos senhores de Carragosa
No lhes dou nem um plo,
Pois bem basta a carne que j comeram.
Aos senhores de Soutelo
Damos-lhe o burro por inteiro
4. APODOS
APODOS 1
Cucos os de Terroso
Carunheiros os de Espinhosela
Rendidos os de Gondesende
Valentes os de Portela
RECOLHA (1985) de Sebastio Agostinho Gonalves, Gondesende Bragana.
APODOS 2
A fome nasceu em Sendas,
Foi baptizada em Travanca,
O pai era de Macedo,
E a me de Vila Franca.
Dali foi para Failde,
Depois viveu em Pa,
Alfndega da F.
APODOS 3
Em Viduedo Caretos
Os de Lano so Casqueiros
Os de Sortes Suviotes
Serapicos. Carvoeiros.
Os de Izeda Tranca Portas,
Em Carozinho so Chedes.
Vila Boa so Pelinchos,
Em Calvelhe Escaravelhos
Os de Valverde Lagartos,
E os da Freixeda Galegos
RECOLHA (1985) de Maria da Assuno P. Rodrigues Serra da Nogueira.
5. CASAMENTOS
Como antigamente demoravam os namoros, ou porque no havia meios de
transporte, pois vinham os namorados s ao domingo a p ou a cavalo, tudo
corria lentamente. Menos de dois ou trs anos, no se realizava o casamento.
As raparigas iam a um silvado. Amarravam uma silva. Prendiam-na na ponta,
para engrossar, em forma de arco. Servia para depois enfeitar com flores,
verduras, fitas e laos. Iam a casa do noivo busc-lo com o arco. sada
diziam-lhe loas:
Do tempo de solteira
No se h-de lembrar,
Pois o senhor fulano
H-de sab-la estimar.
A noiva ia para a igreja debaixo do arco, com o padrinho ou o pai. Ia um homem
com uma espingarda, que aguardava sada da igreja o fim da cerimnia.
sada diziam mais loas noiva:
CASAMENTO DA VELHA
Palhas altas leva o vento!
Aqui se faz este casamento
Que por ns foi ordenado.
O ladro que o desfizer
Ficar excomungado.
Com quem ns havemos de casar Mrio dos Santos
- Com Ana bela que bem o h-de estimar.
O que lhe havemos de dar de dote?
- Uma sorte na Devesa para os dois trabalhar.
RECOLHA (1985) de Sebastio Agostinho Gonalves, Gondesende Bragana.
6. SERRA DA VELHA
SERRAR AS VELHAS 1
No Carnaval era hbito tambm serrar as velhas.
Com uma serra e um cortio iam porta das senhoras mais idosas e diziam por
exemplo:
Serramos a tia Emlia,
Por j ser muito velhinha.
A madeira que ela d
S serve para uma aduela.
Mais tarde, em vez de serrar as velhas, comeavam a faz-lo s novas,
cantando ou falando assim:
Agora serramos as novas,
Que as velhas esto carunchosas.
As madeiras que elas do
Servem para casas novas.
Serramos a Francisca,
Por ser rapariga bonita
A Madeira que ela d
Serve para fazer uma pipa.
RECOLHA (1985) de Olinda Pereira, Sambade Alfndega da F.
SERRAR AS VELHAS 2
Ao meio da Quaresma era hbito ir noite porta das mulheres velhas, que j
eram avozinhas. Os rapazes, com um cortio de espadar o linho e uma serra,
chamavam com algazarra:
Vamos serrar esta velha
Que est muito velhinha.
Ela nos vai a dar
Tbuas muito fininhas
Depois gritavam:
Ai minha av!...
Ai minha avozinha!...
Serra, Joo, que eu vou pelo po!...
Serra, Martinho, que eu vou pelo vinho!...
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.
DEIXAS 1
Deixo Beatriz,
Por ser j espigadota,
Um funil e uma azeiteira,
Um fuso e uma roca.
Deixo Maria Cndida,
Por ser uma linda flor,
A caneta do Entrudo
Para escrever ao amor.
Deixo Maria Amlia,
Por ter bom corao,
A sombrinha do Entrudo
Para passear no Vero
RECOLHA (1985) de Olinda Pereira, Sambade Alfndega da F.
DEIXAS 2
Deixamos Maria Antnia
Por morar ao cantinho,
A gravata do entrudo,
Para dar ao Zezinho
Deixamos Angelina
Por ter bom corao,
Uma roca e um fuso,
Para fiar ao sero
Deixamos Aurora,
Por ser boa tecedeira,
Uma albarda sem cornicho,
Para quando for feira.
Essas meninas solteironas
No sei que esto a fazer...
O sol passou pela porta
E j se est a esconder.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.
PULHAS DO ENTRUDO
CACADAS
Pelas proximidades do Carnaval havia o costume de pregar uns sustos, s
vezes a pessoas amigas, descuidadas de fechar a porta. Outras vezes, os
rapazes s namoradas, por partida.
Abriam-se as portas das pessoas, de mansinho, e atiravam-se pela casa fora,
coisas que causassem rudo. Usavam-se para isso bulhacos secos, cacos
partidos, e, por considerao, castanhas, amndoas e nozes.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.
ESPANTAR RATOS
Quando havia casamentos, era costume a rapaziada mais jovem juntar -se,
arranjando umas campainhas que os bois costumavam usar ao pescoo,
chocalhos tambm dos gados e latos, onde batiam com paus, e ir rondar a casa
dos noivos onde eles iam ficar, mais ou menos, na hora de tudo se deitar,
fazendo grande barulheira.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.
O CARNAVAL EM SAMBADE
Logo de manh cedo se sentiam as bombas a alertar a chegada do Entrudo.
Sentia-se o chiar dos carros, uns aps outros, muito enfeitados. Atrs deles
vinham rapazes montados em cavalos enfeitados com bexigas de porco, cheias
de vento para bater com elas na cabea das pessoas.
TESTAMENTO DO ENTRUDO 1
Testamento do Entrudo feito dia 26 de Maro do ano de 1952, por um
vimiosense que emigrou para o Brasil.
O Testamento era sempre lido no dia de Carnaval, na Praa desta Vila, frente
do Entrudo.
Durante o ano os acontecimentos de destaque, as cenas, rixas e discusses
passadas entre amigos, famlias e vizinhos, no dia de Carnaval saam para a
rua representadas ao vivo e ningum levava a mal. Como desde h muito se
diz Dia de Entrudo passa tudo.
A 1 parte deste Testamento refere-se chegada ao estrangeiro de um
vimiosense. A recepo que teve por todas as pessoas, principalmente pelo seu
irmo FAGO, o animador, o incentivador dos Carnavais passados nesta Vila e a
crtica a todas as meninas, rua por rua.
A 2 parte inteiramente dedicada a todos os comerciantes, pessoas de
renome nesta Vila.
A 3 parte composta pelo Testamento feito ao Entrudo, toda a sua vida e
profisses, tendo como final a crtica a todas as outras pessoas de Vimioso tais
como, sapateiros, taberneiros, alfaiates, proprietrios de Penses, cortadores,
fogueteiros, etc.
Para concluir e como no podia deixar de ser, um agradecimento a todos os
Coreanos pelo auxlio que deram a todo o grupo que compunha a contradana.
Concluso final; no dia de Entrudo de h mais de 30 (trinta) anos, a todas as
pessoas de Vimioso lhe era dedicada uma quadra. Estes dados foram obtidos
atravs de duas pessoas de Vimioso, com mais de setenta anos de idade.
Ao chegar Capela,
Junto com os seus companheiros,
Viu umas a namorar,
Outras casadas com pedreiros.
Ali no ficou contente,
Logo deixou tudo em paz.
Seguiu imediatamente
Para a rua de Trs.
Ao chegar rua de Trs
Pintava as trinta mil.
Eu sabia que as havia boas
Mas j se foram para o Brasil.
Ali no ficou contente
Com aquela grande embrulhada.
Logo se foi direito ao Jogo
Que ali s viu canalhada.
Logo que chegou ao Jogo,
C o nosso gigante,
Ouviu certas lnguas.
Pareciam um alto-falante.
Do jogo seguiu para cima.
Para rua da Calada.
Mas ali no lhe agradaram
No quis l demorar nada.
Seguiu para Caleja das Freiras
Muito bem prevenido;
Que no lhe falasse a nenhuma
Seno era atendido.
Olhou para uma janela,
Ficou todo admirado,
Por ouvir a uma menina:
- Queres danar o repassiado?
Espera a, rapariga,
Comigo ters que ter muita cautela.
No me faas saltar muito,
Seno vou-me j para a Portela.
Aqui paro pouco tempo.
Vou-me j para a outra banda.
No quero estas meninas,
Porque so todas da propaganda.
Na rua da Portela,
Delas tem que duvidar.
Podem-lhe dar alguma bebida
Para o obrigar a casar.
At logo saiu
Porque no lhe encontrou graa.
Fugiu directamente
Para o Largo da Praa.
Ao chegar ali,
Viu caras descaradas.
Pois eu a vs no vos quero,
Que j estais reformadas.
Vou-me j daqui embora.
Estas no me interessam nada.
Vou ver se me agrada alguma
Na rua da Malhada.
As raparigas da Malhada
Parecem umas redolhas.
Os rapazes de c no lhe ligam,
Tem que se agarrar aos trolhas.
Vou a partir daqui
Para a rua da Rapadoura.
No quero estas raparigas
Que vo com os rapazes para a manjedoura
Esta rua custa a passar
S veio a Portugal
Para dois negcios tratar.
Viu o comrcio do Morais,
Tratou logo de entrar.
Ali pouco tinha que fazer.
No eram negcios da sua qualidade
Adeus caro amigo,
Vou tratar com o Frade.
Ora viva senhor Frade,
Como est como passou?
Eu trago um bom negcio
Que ainda ningum dele se lembrou.
Bons negcios para mim?
Custa-me a acreditar,
Mas voc parece srio;
Faz favor de se sentar.
Ento que negcio que voc tem
Para ser to encoberto?
Olhe bem para mim,
Que eu tambm sou esperto!
Ao ouvir aquilo,
Deu-lhe um choque o corao.
O negcio que quero fazer
S sendo com o Martins e Irmo
Quando dentro entrou,
Ficou todo admirado.
Disse l para ele:
- No sairei daqui roubado.
Vou-me j embora.
No negoceio em envelopes.
Quero negociar em peles,
Em casa do Antoninho Lopes.
J no h que duvidar.
Adeus, caro amigo,
Vou com o Rodrigues falar.
Ao entrar no Jos Rodrigues,
Tudo lhe causou espanto.
Por ver tanto freguesia,
Todas tendeiras do Campo.
Quando viu o grande homem,
Tratou logo de o atender.
Diz logo para a criada:
- Traz-lhe alguma coisa para comer
Obrigado, meu amigo,
J vejo que grande artista!
Vejo j na sua treta
Que parece ser vigarista!
At logo, grande amigo,
J me vou a retirar.
Meteu-se na copofonia,
No o posso aturar.
Ao entrar no Jlio Buga,
Como de nada sabia,
Viu-o andar a passear,
Por no ter freguesia.
Da voltou para trs.
Torceu sua carreira
Para fazer negcio bem feito,
Em casa do Fernando Barreira
Ficou muito admirado
Com a freguesia que tinha.
Mas, no se admira nada,
Que grande treta tem a Isabelinha
Dali retirou logo,
No se fez l muito velho.
J prestes a morrer...
Sinto-me muito agoniado.
O que no posso esquecer-me
Da malta Z do Telhado.
Baltazar e Z Pequeno,
E tambm o Ferrador.
Z do Telhado e Simo
E Srgio o vingador
Agradeo a toda a gente
Que se encontra a meu lado,
Mas acima de todos,
Coreia e Z do Telhado.
Comisso do Carnaval
So homens muito honrados.
Para me trazer a Portugal
Ficaram todos empenhados
Z do Telhado e Z Pequeno
No sei qual o mais planeta.
Um empenhou as tesouras,
E outro empenhou a caneta
O Simo e Baltazar
So muito amantes da farra.
Um empenhou a sobela,
E outro empenhou a guitarra.
O Srgio e o Ferrador,
J no lhe dou mais maada,
Um empenhou a mula velha,
E outro empenhou a enxada.
Aos amigos da terra,
No os quero desprezar,
Vou fazer um testamento
Do que lhe hei-de deixar.
senhora Conceio,
A intimar as testemunhas.
Ao amigo Branquito,
Tambm tenho que deixar,
Deixo-lhe a minha espingarda
E o co para caar.
Ao Ferraz e Guarda-rios
No os posso esquecer
Deixo-lhe um peru e um frango
Para com o Bernardino comer.
O Bernardino, desconfiado,
Isto no quis aceitar,
Entrou logo para dentro
E seus objectos foi guardar.
Ao Carr Procpio e Jag,
Emlio, e alguns mais
Deixo-lhe um grande presente
O pipo do Z Morais.
Lico Eduardo e Beiola,
Muito tenho que lhe deixar,
Deixo-lhe um barco bom
Para no Brasil se irem juntar.
Ao amigo Joo Joo
Deixo-lhe a panela e o taxo
E para mais se entreter,
Uma rede e um mingaxo.
Ao Jos Maria pote,
Como homem pacato,
Deixo-lhe para cada dia
3 arrobas de tabaco
Ao meu amigo Xastre,
Tambm tenho que lhe deixar;
Uns culos de meia-idade
Para ver a trabalhar
No posso esquecer
O meu amigo Candidinho,
Deixo-lhe a minha cadela
Para lhe ensinar o caminho.
Tambm deixo ao Mosgata
Como meu inimigo,
Uma espingarda sem canos
Para nunca dar um tiro.
A vs, rapazes solteiros,
Vou dar-vos uma lio:
No namoreis raparigas de menor
Que a vossa perdio.
Elas fazem-se inocentes.
Isto um caso fatal.
Quando lhe chega o aperto,
Vo com vs para o Tribunal.
Ao amigo Joo Costela,
Como o mais impertinente,
Deixo-lhe para matar o bicho
10 litros de aguardente.
Ao Carlos do Z Joaquim,
Tambm lhe deixo uma lembrana,
Por fazer os cales bem feitos
Para a nossa contradana.
Ao meu amigo Petrela,
Tambm no o posso esquecer
Deixo-lhe uma batuta
Para a banda reger.
A contradana, Z do Telhado
No a posso esquecer
Porque muito bem trabalharam
E a todos fizeram ver.
s nossas Coreanas,
Tenho muito que agradecer,
Porque ofereceram um bom presente
Para os da contradana comer.
Ao senhor Manuel Silva,
Muito o tenho que considerar.
Ps a sua casa s ordens,
Para os da contradana se prepararem.
Perdoai-me se vos ofendi?
Mas a vida mesmo assim.
Gozai, enquanto tempo
Porque tudo isto tem fim.
Adeus, rapazes e raparigas,
Chegou a hora da partida.
Para o prximo ano estarei
Nesta terra to querida
E com isto termino,
No vos quero mais maar.
Adeus, at para o ano!
Tenho ideias de c voltar.
RECOLHA (1985) de Narciso Joo Torro Vicente Vimioso.
3 ADIVINHAS
UMA ADIVINHA
Uma filha de D. Afonso Henriques mandou publicar uma ordem.
Casaria com um rapaz que lhe fizesse uma adivinha, que ela no adivinhasse.
Muitos foram e ficaram sem nada. Por acaso, ali numa aldeia, havia uma
mulher que tinha um filho, que no era bem acabado. No entanto, o dito rapaz
soube-o e foi dizer me que queria ir fazer a adivinha filha do rei. Por isso,
que lhe fizesse a merenda.
A me, coitada, tentou desvi-lo de tal lembrana, porque via que ele era tolo.
Mas no houve meio. E foi.
A me fez-lhe a merenda, mas deitou-lhe veneno, para que no fosse a ser mal
tratado e morresse no caminho.
Anoiteceu, e o rapaz deitou-se, no caminho.
Ora a burrinha em que foi a cavalo comeu-lhe a merenda e morreu. Foram trs
ces e morreram tambm. Foram mais sete corvos, e morreram.
Ele que faz?
Abre a burra, tira-lhe uma burriquinha que levava dentro. Tira-lhe uma correia
do lombo, e l foi presena da rainha, a fazer-lhe a adivinha.
Diz-lhe:
- Olhe, menina Maria, (que era a me) matou panda. Panda matou trs. Trs
mataram sete. Ando a cavalo, em quem nunca nasceu. Trago a me na mo.
Ora a rainha no adivinhou, mas como via que era tolinho, mandou-o para a
casa dos bichos. Mas, no caminho encontrou uma velhinha que lhe perguntou:
- Onde vais, rapaz? Disse-lhe tudo, o que se tinha passado, e a velhinha,
deu-lhe uma varinha mgica. Recomendou-lhe que pedisse varinha tudo o
que ele precisasse.
O rapaz, logo que chegou casa dos bichos, pediu varinha, e ps tudo a
dormir.
No fim de trs dias, a rainha j tinha casado com outro. Ele fez acordar o
escaravelho. Ordena-lhe que v noite cama dos noivos, e lhe deitasse os
intestinos fora.
Ora a rainha, desde que se viu naquele estado, desfez o noivado. Mandou-o
para a casa dos bichos e casou com o que supunha tolo.
ADIVINHAS 1
meia-noite se levanta o francs.
Sabe das horas, no sabe do ms.
Tem esporas, no cavaleiro.
Tem serra, no carpinteiro.
Tem pico, no pedreiro.
Cava no cho, no acha dinheiro.
Resposta: o galo.
meia-noite se levanta o francs.
Sabe da hora e no sabe do ms.
Tem coroa e no rei.
Tem esporas e no cavaleiro.
Pica na terra e no ganha dinheiro.
Resposta: o galo.
Sou verde por natureza,
E de luto me vesti,
Para dar a luz ao mundo
Resposta: o boto.
RECOLHA (1985) de Judite Morais Moreno, Sambade Alfndega da F.
ADIVINHAS 2
- Sou filho de pais cantantes, minha me no tinha dentes nem nenhum dos
meus parentes, sou todo calvo e o meu corao amarelo.
Resposta: ovo.
- Qual a coisa, qual ela que quanto mais quente est mais fresca ?
Resposta: po.
- Estando os rus na sua casa veio a justia para os prender.
Saram as casas pelas janelas e os rus foram presos.
Resposta: peixes no mar a serem pescados pelas redes.
- Alto est, alto mora, toda a gente o v e ningum o adora.
Resposta: Sino.
- meia hora levanta-se o Marqus,
Sabe da hora e no sabe do ms,
Tem esporas e no cavaleiro,
Cava na terra e no ganha dinheiro.
Resposta: Galo.
- Qual a fmea afamada,
ligeira e bem decidida,
que at mesmo sendo macho
ser fmea toda a vida.
Resposta: Lebre.
- Semeio tbuas, nascem cordas e colho pipotes.
Resposta: abboras.
- A minha madrinha vai de costas,
o meu padrinho vai em cima,
a minha madrinha aberto o tem,
o meu padrinho mete-lo bem.
Resposta: moinho.
- Gado mido, terra mimosa onde pousa deixa uma rosa.
Resposta: a pinga (vinho) no cobertor.
- Uma senhora muito bem assenhorada
nunca sai rua e anda sempre molhada.
Resposta: Lngua.
- D-lhe a riza de dentro para fora do seu peito, do seu dono que o proveito.
Resposta: castanha, castanheiro.
- Saco-to duro
Meto-to brando,
Sai vermelhinho
E respingando.
Resposta: o ferro trabalhado pelo ferreiro.
RECOLHA 2005 SCMB Ana Maria Domingues, Idade: 86.
Localizao geogrfica: Mas, ORIGEM + 60 anos.
ADIVINHAS 3
- Tenho um estenda e encolhe,
s serve para as raparigas,
dou-lhe o que elas querem
e tiro-lhe o que elas tm.
Quando lhes dou o ar
esto-se elas a consolar.
Resposta: leque
- Vamos para a cama
a fazer o que Deus manda,
juntar plo com plo
e o rapadinho no meio.
Resposta: olho.
- Peludo por dentro,
peludo por fora
ala-lhe a perna
e mete-lho agora.
Resposta: meia.
RECOLHA 2005 SCMB Fernanda da Luz Martins, Idade: 78,
Localizao geogrfica: Terroso ORIGEM + 50 anos
ADIVINHA 4
- Verde foi o meu nascimento
E de luto me vesti
Para dar luz ao mundo
Mil tormentos padeci.
Resposta: Azeitona/azeite.
- Alto como o sino,
ADIVINHAS 5
- Uma Igreja branca
sem porta nem tranca.
Resposta: Ovo.
- Qual a coisa qual ela que passa o rio e no molha o p.
Resposta: pssaro ou um vitelinho na barriga de sua me.
- Uma meia meia feita
outra meia por fazer,
diga l quantas meias
vo a ser?
Resposta: metade da meia.
RECOLHA 2005 SCMB EDITE DO ESPRITO SANTO GOMES, Idade: 70+.
Localizao geogrfica: VINHAIS ORIGEM + 50 anos.
ADIVINHAS 6
-Porque que os ces malhados correm melhor que os outros?
Resposta: Porque com a malha (tareia) fogem mais rpido.
-De 10 pombas no jardim d-se um tiro a 3, quantas pombas ficam no jardim?
Resposta: As 3 que morreram porque as outras fugiram com medo.
RECOLHA 2005 SCMB, LUS FERNANDES, Idade: 77.
Localizao geogrfica: MOFREITA ORIGEM + 50 anos.
ADIVINHAS 7
- Em cima de ti me ponho,
Em cima de ti me abano,
Seno me meto todo,
Todo me desgrenho.
Resposta: Sapato.
- Muitas meninas numa varanda
Todas choram para a mesma banda.
Resposta: Telhas.
- O que est l no alto todo arreganhadinho? Pergunta o lobo:
Viste passar por aqui 100 meirinhos, 1 periquito e 2 saltes?
Resposta: no alto as castanhas, os 100 meirinhos so ovelhas, o periquito
pastor e os saltes so os ces de guarda.
- Deus vos d bom dia Sra. Viscondessa!
Vistes passar por aqui um senhor da verga tesa?
Deixa-me meter o meu lombo no teu redondo!
Deixava, deixava mas novo e est rapado,
Quando estiver peludo mandarei recado.
Resposta: O senhor o cavalo, o redondo um campo depois da cegada.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA AMLIA MORAIS, Idade: 81.
Localizao geogrfica: SANTA COMBA DE ROSSAS ORIGEM + 50 anos.
ADIVINHA 8
Alto foi o meu nascimento
E de lanas rodeada
Vivi com as minhas irms
Dentro de casa fechada
Mas um dia
Com um belo riso
Minha casa abandonei
Passa ali um viajante
Colhe-me de mo segura
Sem capota nem camisa
lana-me na sepultura
Resposta: Castanha
RECOLHA 2005 SCMB, EURICO FERNANDES, Idade: 71,
Localizao geogrfica: MOFREITA ORIGEM + 50 anos
ADIVINHAS 9
- Qual a coisa qual ela que quanto mais alto est mais se lhe chega?
Resposta: a gua no poo.
- Era uma vez um homem que foi preso e no lhe davam de comer na cadeia.
A sua filha que tinha tido um beb h pouco tempo ia-o visitar todos os dias,
sendo todas as vezes tambm revistada. Os guardas achavam tudo muito
estranho, porque apesar de nunca encontrarem comida levada s escondidas
pela filha, a verdade, que o preso estava sempre a engordar! Nisto os
guardas resolvem perguntar filha como que aquela situao acontecia,
ento a filha diz-lhes que lhes daria a resposta em forma de adivinha, mas que
se no adivinhassem tinham que deixar o pai livre.
A adivinha dizia ento:
J fui filha, agora sou me, ando criando filhos dos outros, maridos da minha
me!
Resposta: a filha amamentava o pai.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA DE LUZ SALES, Idade: 79.
Localizao geogrfica: BEMPOSTA ORIGEM + 50 anos.
ADIVINHA 10
- Somos sete irms, eu a primeira que nasci sou a mais nova como pode ser
assim?
Resposta: A primeira semana das sete da Quaresma quarta-feira de cinzas.
RECOLHA 2005 SCMB, LUCINDA RAMOS, Idade: 88.
Localizao geogrfica: MOREDO ORIGEM + 50 anos.
ADIVINHA 11
Era uma vez um rapaz que foi roubar peras ao quintal do vizinho. Da pereira
comeu, levou e deixou, agora diga l quantas peras l ficaram?
Resposta: uma pra, pois comeu uma, levou outra e ainda l deixou outra.
RECOLHA 2005 SCMB, SALOM DOS ANJOS, Idade: 83.
Localizao geogrfica: ESPINHOSELA ORIGEM + 50 anos.
ADIVINHAS 12
- Qual a coisa qual ela que est na cidade e tambm nas portas.
Resposta: Chave.
- A mulher dura, mais dura que ainda fura, meto o duro no grosso, ficam os
dois pendura.
Resposta: Brinco/orelha.
RECOLHA 2005 SCMB, GRACINDA DOS SANTOS, Idade: 93.
Localizao geogrfica: VINHAIS ORIGEM + 50 anos.
ADIVINHA 13
- O que so 100 meirinhos, 100 maranhes, 1 periquito e 2 saltes?
Resposta: os meirinhos so ovelhas, os maranhes so cordeiros, o periquito
o pastor e os dois saltes so os ces de guarda.
RECOLHA 2005 SCMB, CARLOS ALA, Idade: 92.
ADIVINHAS 14
- Chamo-me Joo Pesares o mundo de mim se fia, trago os dringos drangos
presos pela barriga.
Resposta: balana.
- Varilha, Varilheta
nem verde nem seca,
nem hoja nem rama,
com um cuchillo se corta
sem ser regada.
Resposta: a colmeia.
RECOLHA 2005 SCMB, ENGRCIA NASCIMENTO BRANCO, Idade: 79.
Localizao geogrfica: GUADRAMIL ORIGEM + 60 anos.
ADIVINHAS 15
Alto picoto
Alto picoteiro
Quando vem o ms de Outubro
D-lhe a risa e cai o dinheiro.
Resposta: Castanheiro.
Abenoada a rvore
Que num ano d quatro frutos
D bugalhos e bugalhos
Bolotas e massacucas.
Resposta: Carvalho.
RECOLHA 2005 SCMB, DIAMANTINO FERNANDES, Idade: 72.
Localizao geogrfica: GONDESENDE ORIGEM + 50 anos.
ADIVINHAS 16
- Peludo por dentro, rapado por fora, ao met-lo no sabe a nada, ao tir-lo
sabe bem.
Resposta: Bota do vinho.
4 QUADRAS POPULARES
QUADRAS POPULARES 1
Sei um saco de cantigas,
Ainda mais um guardanapo.
Quem quer vir ao desafio,
Venha, que eu desato o saco
Cantigas ao desafio,
Comigo ningum as cante.
Tenho quem mas ensine;
O meu amor estudante
O meu amor e o teu,
Andam ambos na ribeira.
O meu, anda erva cidra,
O teu, erva-cidreira.
No olhes para mim, no olhes,
Que eu no sou o teu amor.
Eu no sou como a figueira,
Que d fruto sem dar flor.
Aqui estou tua porta.
Como um feixe de lenha!
A espera da resposta,
Que da tua boca me venha.
MaIo haja o gro-de-bico,
E mais o feijo guisado.
MaIo hajam esses olhos,
Que tanto so do meu agrado!
Tenho na minha janela
Tulipas at ao cho.
Quando te vejo falar com outra,
So facadas que me do.
No me namora teu ouro,
Nem os brincos das orelhas.
Namoram-me esses teus olhos,
Por baixo das sobrancelhas.
L te mandei um raminho
De cravos e cravelinas,
Por no te poder mandar
Dos meus olhos as meninas
QUADRAS POPULARES 2
Deitei o cravo ao poo
E a rosa ao chafariz.
J foste amada d'outro
J para mim no servis
Deitei o cravo ao poo
Fechado, mas saiu-me aberto.
um regalo na vida
Enganar a quem esperto.
A gua daquela serra
Por canos vem cidade.
Ningum deixe por dinheiro
Amor da sua vontade.
Por cima sega-se o po,
Por baixo fica o restrolho.
Menina, no te namores
Do rapaz que pisca o olho.
RECOLHA (1985) de Altino do Nascimento Silva Vimioso.
QUADRAS POPULARES 3
Foste falar a meu pai
parede do Lameiro.
Se querias casar comigo,
Falavas-me a mim primeiro
A luz daquela candeia
Tem mil cravos no morro.
Tambm eu tenho mil penas
Dentro do meu corao14
Fui fonte p'ra te ver,
Ao rio p'ra te falar.
Nem na fonte nem no rio,
Nunca te pude encontrar.
ferreiro, casa a filha,
No a deixes na janela,
Que anda o magano na rua,
Pois no tira os olhos dela.
As estrelas no cu correm,
Todos numa carreirinha.
Tambm os segredos correm
Da tua boca para a minha.
guia que vais to alta,
Por essas terras alm!
Leva-me ao Cu, onde tenho
A alma de minha me.
Que lindo boto de rosa
Aquela roseira tem!
Debaixo no se lhe chega,
E acima no vai ningum.
O corao e os olhos
So dois amigos leais.
15
Alegrando os coraes.
RECOLHA (1985) de Judite Moreno, Sambade Alfndega da F.
REIS 1
16
costume nesta aldeia comear a cantar os reis mal principia o ano, includos
nas Boas festas. Renem-se aos grupos, mais velhos ou mais jovens, e
procuram as casas, que melhor vem, que os podem convidar.
Boas festas como estas,
Cantam-se aos Reis e aos fidalgos.
Tambm ns os cantaremos,
A estes senhores honrados.
Quem diremos ns que viva,
Na toninha da cebola?
Viva l o Sr. Manuel,
E mais a sua Senhora.
Quem diremos ns que viva,
Na folhinha do ldo?
Viva l o Sr. Carlos
Que um belo cidado.
Quem diremos ns que viva,
Na folha da salsa crua?
Viva l menina Aurora
Que alumia toda a rua.
Oh! Que lindo pinheirinho!
Onde ele veio nascer!
Vivam os donos desta casa
Que nos ho-de dar de beber.
Levantem-se l, senhores,
Desses seus talhos dourados.
Venham-nos a dar os Reis
Que j os temos bem ganhados.
Vm depois a dar frutas como mas, nozes, figos secos, s vezes chourias,
etc. que o grupo guarda para no fim comerem juntos em qualquer das casas
deles, mais prprias.
REIS 2
Quem diremos ns que viva
Na folhinha do loreiro?
Viva l o Sr. Antnio
Que um homem cavalheiro.
Viva l a Sra. Maria,
Raminho de salsa crua.
Quando vai para a igreja,
Alumia toda a rua.
Viva l o Sr. Alberto
Com o seu raminho no chapu.
Quando vai para a igreja
Parece um anjo do Cu.
Senhora que est l dentro,
Sentada no esteiro,
Bote os olhos ao fumeiro
D-nos c um salpico.
Senhora que est l dentro,
Sentada na cortia,
Deite os olhos ao fumeiro,
D-nos c uma chouria.
Senhora que est l dentro,
Sentada na janela,
Deite os olhos ao fumeiro
D-nos c uma morcela.
RECOLHA (1985) de Antnio Alberto Cascais, Larinho Moncorvo.
REIS 3
Aqui vm trs meninos
REIS 4
Inda agora aqui cheguei,
Pus o p nesta escada
Logo meu corao disse,
Aqui mora gente honrada.
Coro
Alegres festas ns vimos dar,
E o Deus menino a acompanhar
Alegres festas ns vimos dar,
E o Deus menino a acompanhar.
Quem nos vem cantar os Reis,
De noite pelo escuro,
Certo quer saber,
Se o seu vinho est maduro.
Quem nos vem cantar os Reis,
Pelo buraco da porta,
D-nos c um salpico,
Que a porca j est morta.
Olha o nosso Antoninho
A que porta foi bater?!
porta do Joo Carrio,
Que nos vem dar de beber.
Viva a menina da casa,
Por cima da salsa crua.
Quando se chega janela
Alumia toda a rua.
Viva tambm o Zezinho,
Com seu relgio ao peito.
Quando passa pelas moas,
Pisca-lhes o olho direito.
Viva a Senhora da casa,
Sentadinha lareira,
E mais a sua criada,
Qu uma bela cozinheira.
Esta vai por despedida,
Por cima duma cortia,
Deitem a mo ao fumeiro
E assem uma chouria.
Estes Reis que aqui cantamos,
No soa pagos por dinheiro,
So pagos com vinho fino,
E chourios do fumeiro.
Se nos querem dar os Reis,
No se estejam a demorar.
Ns somos de longes terras,
Temos muito para andar.
Se o grupo bem recebido cantam a despedida.
Esta vai por despedida,
REIS 5
nobre casa, nobre gente,
Senhores desta morada
Escutem e ouviro
Esta nobre embaixada
Diz que no cu apareceu
Uma Senhora coroada
Que a coroaram os anjos
Dia de Pscoa Sagrada
No vos duvida a ningum
J escorreram as notcias
Por esse mundo de alm
Porque chorais minha me
Porque chorais minha mezinha
Choro pelos pecadores
Que nesse mundo havia
Naquele castelo mais alto
Estava l a Virgem Maria
Chorando pelos pecadores
Que nesse mundo havia
RECOLHA 2005 SCMB Maria Teresa Fortunato, Idade: 78.
Localizao geogrfica: Babe ORIGEM + 60 anos.
REIS 6
Estes Reis ns contamos cantados,
Em tom ligeiro do vivas a toda a gente:
garrafa e ao fumeiro,
Trigo e nozes e marmelada,
Lombo de porco, vitela assada,
Po com manteiga, ch ou caf
E o Deus menino nascido
RECOLHA 2005 SCMB Margarida Pires, Idade: 70+.
Localizao geogrfica: Conlenlas ORIGEM + 50 anos.
REIS 7
Viva o dono desta casa
Por cima de uma carqueja.
Viva tambm uma rosa
Que recebeu na igreja.
Coro
Anjos, arcanjos em Jerusalm
O manso cordeiro nasceu em Belm.
Esta vai por despedida
Por cima do meu chapu.
Viva a menina Maria
Que um anjo do cu.
(Segue-se o mesmo coro)
Anjos, arcanjos em Jerusalm
O manso cordeiro nasceu em Belm.
RECOLHA (1985) de Artur dos Santos Madureira, Alfaio Bragana.
NOVE DE ABRIL
Nove de Abril meu amor
Triste data que eu ditei
5. PROVRBIOS E DITADOS
DITADOS 1
- Quem d aos pobres, empresta a Deus.
- Vale mais quem Deus ajuda, do que quem muito madruga.
- Quem d o seu a quem o entende, no o d, que o vende.
- No d quem tem, seno quem quer bem.
- Na terra de olhapim, quem tem um olho rei.
- Quem quer mais do que convm, perde o que quer e o que tem.
- Aquele que nada faz, est sempre pronto a criticar os outros.
- Aquele que julga estar seguro, olhe no caia.
- Quem d parece-se com Deus.
- Se no tiveres motivos para sorrir, pelos menos no motivos para outros
chorarem.
- Menina, faz por ser boa, que a tua fama ao longe soa.
- Quem no de boa gente, no se sente.
RECOLHA (1985) de Judite Morais Moreno, Sambade Alfndega da F.
DITADOS 2
Em Janeiro sobe ao outeiro.
Se vires verdejar,
Pe-te a chorar.
Se vires terrear,
Pe-te a cantar.
DITADOS 3
- O homem pe e Deus dispe.
- Faz bem e no olhes a quem.
- Quem a boa rvore se chega, boa sombra o cobre.
- Antes areias comer, do que vilezas fazer.
- Filho s, pai sers. Como fizeres, assim achars.
- Nem por muito madrugar, amanhece mais cedo.
- Se a paz queres conservar, deves ouvir, ver e calar.
- Cada terra com o seu uso, cada roca com o seu fuso.
- No rias do mal do vizinho, que o teu vem a caminho.
- Se a rico queres chegar, vai devagar.
- A preguia a chave da pobreza.
- Quem d o que tem a pedir vem.
- A cavalo roedor, cabresto curto.
- Tantas vezes vai o cntaro fonte, que no fim l fica a asa.
- Vale mais quem Deus ajuda do que quem muito madruga.
- A mulher e a sardinha, da mais pequenina.
- Para colher preciso semear.
- Semeia e cria, ters alegria.
- Se queres boa colheita, deita boa semente terra.
- Fevereiro quente traz o demnio no ventre.
- Chuva no S. Joo, nem d vinho nem d po.
- Pela palha se conhece a espiga.
- Todo o burro come palha, se lha souberem dar.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.
DITADOS 4
- Quando te cheguei a amar,
Melhor era amar um burro,
Porque andavas a cavalo
E ainda no perdia tudo.
- Molhei a meia,
DITADOS 5
Janeiro jadeiro, Fevereiro felpeiro,
Maro nem o rabo do burro molhado,
Abril guas mil peneiradas por um mandil,
Maio Pardo
S. Joo claro
Valem mais do que os seus bois e os seus carros.
Explicao: Era uma vez um rei que tinha uns bois e um carro de ouro e querialhe dar valor, mas um pobre respondeu-lhe que esta quadra valia mais do que
os seus bois e seu carro.
RECOLHA 2005 SCMB, FERNANDO PIRES, Idade: 62.
Localizao geogrfica: VILARINHO DAS TOUAS ORIGEM + 50 anos.
DITADOS 6
- Quem me dera uma me nem que fosse uma silva, por mais que ela me
picasse eu seria sempre sua filha.
- Eu cantar cantava bem e tinha uma linda voz, mas nem sei quem ma tirou
quando me apartei de amores.
RECOLHA 2005 SCMB, CNDIDA CARVALHO, Idade: 81.
Localizao geogrfica: BRAGANA ORIGEM + 50 anos.
DITADOS 7
- Amores ao longe
Quem quer os tem,
- Amores ao p da porta
No so leais a ningum.
DITADOS 8
- No canto por bem cantar,
nem por boa fala ter,
canto para dar raivas
a quem me no pode ver.
- que janela to alta
feita de cal e areia,
mal empregada janela
numa macaca to feia.
- No olhes meu amor
que eu no sou como a figueira
que d frutos sem ter flor.
- Que bem fica o ouro no pescoo de uma donzela, mas melhor lhe fica a
honra, menina faa por ela.
- Menina ate o cabelo
no o traga de rolete
que o seu pai no tem tanto alfinete.
DITADOS 9
O ourio est com toda a gravidade
Como a moa solteira na flor da sua idade
RECOLHA 2005 SCMB EDITE DO ESPRITO SANTO GOMES, Idade: 70+.
Localizao geogrfica: VINHAIS ORIGEM + 50 anos.
PROVRBIOS
- guas de Abril coadas por um mandril quantas quiserem vir.
- Sol de Maro queima a menina no bero e a dama no palcio
- Ms de Maro tanto durmo como fao.
- Maio pardo S. Joo claro.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA ANICETA GONALVES, Idade: 86.
Localizao geogrfica: VILA FLOR ORIGEM + 60 anos.
6. RELIGIO POPULAR
ENCOMENDAO DAS ALMAS 1
Irmos meus, cuidai da morte
L no dia do juzo,
o inferno muito feio,
Deus nos leve ao paraso.
Recordai, pecadores,
Recordai, no durmais mais,
L no outro mundo tendes
Vossas mes e vossos pais.
Fazem tremer o inferno
Cantando Ave-maria!
Ave-maria de Graa
De graa Ave-maria!
Quantas almas esto clamando,
Dando gritos no inferno,
Pelas nulas confisses
Que neste mundo fizeram.
As almas se esto queixando,
Acho que tm razo.
Olha l no seja ele
Por falta de orao
As contas do meu rosrio
So bocas de artilharia.
Coro
Senhor Deus, Misericrdia
Sua me Maria Santssima
Dai-nos auxlio
Levai-nos Glria.
RECOLHA (1985) de Sebastio Agostinho Gonalves, Gondesende Bragana.
18
SEMANA SANTA
Prenderam a Jesus Cristo,
Estando a orar no horto.
Jesus Cristo da minha alma,
Quem fora preso convosco!
Davam gritos no calvrio.
Madalena: - Quem ser?
Prenderam a Jesus Cristo,
So ais que a Senhora d!
Jesus Cristo est no horto
sombra do arcipreste
Os anjos lhe esto cantando:
- Acorda, divino mestre!
Jesus Cristo est no horto,
sombra do limoeiro
Os anjos lhe esto cantando:
Acorda, manso cordeiro!
RECOLHA (1985) de Antnio Alberto Cascais, Larinho Moncorvo.
Informaram: Maria Claudina, 79 anos e Leonilda Claudina, 76 anos.
ORAES 1
Pai-nosso pequenino,
Pelos montes vai rugindo,
Com as chaves do paraso.
Quem lhas deu que lhas no dera?
Foi Santa Maria Madalena.
Cruzes no monte, cruzes na fonte,
Nunca o demnio comigo se encontre.
Nem de noite nem de dia,
Nem hora do meio-dia.
J os galos pretos cantam,
J os anjos se levantam,
J meu Deus subiu cruz, para sempre
men Jesus.
ORAO 2
Nossa Senhora me disse
Que medo no tomasse
Nem mono nem tona
Nem aquela carcamona
Quatro esquinas tem a casa
Quatro clios esto a arder
Quatro anjos me acompanham
Quatro anjos me acompanham
Na hora em que eu morrer.
RECOLHA 2005 SCMB, SNCIA PATRO, Idade: 93.
Localizao geogrfica: MOREDO ORIGEM + 50 anos.
ORAO 3
Santa Quitria pelo mundo andou
Nem co, nem cadela ladrou
Se algum ladrou com a raiva rebentou
Se s danado tem-te em ti
Que Santa Quitria tem-te entre mim e ti.
QUANDO TROVEJA
Santa Brbara se vestiu e se calou.
Ao caminho se deitou,
E com sete anjos se encontrou.
Eles lhe perguntaram:
- Onde vai Brbara?
Eu no vou, nem quero ir,
Mas ao cu quero subir
A amarrar aqueles troves
Que l andam armados.
Pois vai, Brbara,
Amarra-os l para bem longe,
Onde no haja nada que lhes dar,
Seno gua de troves
E o leite de maldio.
Um Pai-nosso Santa Brbara
Que nos livre do trovo.
No Cu ouvi uma voz
Da divina Majestade.
Valha-me o poder divino
E a Santssima Trindade!
Santo Deus, Santo forte
Santo imortal miserere nobis.
Santa Maria, ora pr nobis.
RECOLHA (1985) de Judite Moreno, Sambade Alfndega da F.
SUPERSTIO
Os sacristes deixavam os missais abertos para as bruxas no sarem da
igreja, ou ento metiam as agulhas em gua benta para o mesmo efeito.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA AMLIA MORAIS, Idade: 81.
Localizao geogrfica: SANTA COMBA DE ROSSAS ORIGEM + 50 anos.
REZAS 1
Nesta cama me deito pra dormir e descansar
Se vier a morte pra me levar
Abrao-me ao cravo, abrao-me cruz
Entrego a minha alma ao menino Jesus.
RECOLHA 2005 SCMB, SNCIA PATRO, Idade: 93.
Localizao geogrfica: MOREDO ORIGEM + 50 anos.
REZAS 2
Cerra teus lbios e diz um verbo de amor
Calem-se todos os sbios e fala Tu Senhor
Fala e encanta os pequeninos ainda sem dio a ningum
Branco e lrios campesinos onde a flora cresce bem
Tu s o mestre bendito da nossa infncia final
O ABC mais bonito dos filhos de Portugal.
RECOLHA 2005 SCMB, ENGRCIA NASCIMENTO BRANCO, Idade: 79.
Localizao geogrfica: GUADRAMIL ORIGEM + 60 anos.
7. LENDAS
O REI DE ORELHO
Naquele tempo, andando um rei a caar na serra dos Vales e Franco,
conhecida hoje serra de Santa Comba, encontrou dois pastorinhos que
guardavam o seu rebanho, de nome Comba e Leonardo, seu irmo.
O rei, querendo zombar da jovem menina, pediu para que deixasse deitar a
cabea no seu colo, a fim de o catar. A menina obedeceu, pedindo o auxlio de
Deus.
Levado por uma fora sobrenatural, o rei adormeceu. A menina para se livrar do
seu inimigo, desprendeu o lao do avental e foi-se retirando, ficando o rei com a
cabea apoiada somente no avental.
Quando acordou, foi procurar a jovem menina que ia fugitiva com seu irmo.
Quando se encontrou alcanada, pediu o auxlio de Deus, que a defendesse
das mos de seu algoz. E virou-se para uma fraga que estava no lugar, e pediulhe com todo o seu corao: - Abre, fraga bendita, para entrar Comba catita.
Ora o rei, quando bateu com a lana na fraga, e no atingiu o alvo que mirava,
enfureceu-se e, todo raivoso, virou-se para Leonardo, dando-lhe uma lanada.
Deitou-lhe as tripas de fora, e retirou-se. A jovem menina, quando se viu livre,
levou o seu irmo para junto de uma poa de gua que ali havia, e lavou as
chagas. Recolhendo as tripas ficou sarado.
Ainda hoje se encontram as irms Jesus dos Santos Jovens, no dito lugar.
Santa Comba, numa capelinha junto dita fraga, no pino do cabeo. S.
Leonardo, em outra capelinha, na tal dita poa, onde foram lavadas as suas
chagas. A esttua do rei de Orelho, ao lado de S. Leonardo, montado no seu
cavalo, armado com a lana. A so venerados os dois santos jovens, Santa
Comba e S. Leonardo pela freguesia dos Vales, concelho de Valpaos.
RECOLHA (1985) de Adelino Augusto Fidalgo, Pai-Torto Mirandela.
LENDA DA ESCAPA
Diz-se que nesta terra havia em tempos remotos um destacamento militar que
prestava segurana populao que ento existia.
Em determinada ocasio ou por querer fugir, ou por se sentir perseguido, um
dos soldados sentia-se seguido por colegas e oficiais.
Escondeu-se debaixo da ponte que em dado local se encontrava e escapou
priso.
Da resultou o nome de Escapa dado a uma pequena quinta perto da vila.
RECOLHA (1985) de Victor Manuel Melo Sapage.
Escola de Freixo de Espada Cinta.
dama que lhe prendeu todos os movimentos, dada a sua beleza fsica
incomparvel. Ela possua uma tez moreno-trigueiro, cabelos negros, faces um
pouco compridas e acarminadas, olhos de ris negro, em forma de amndoa,
sobrancelhas finas e bem arqueadas. Trajava vestido branco de seda rutilante,
coberto de jias, e na cabea um diadema cravejado de pedras preciosas,
tendo ao alto e ao centro, em prata brilhante, a lua em crescente, smbolo da
sua religio.
O Cavaleiro conhecia perfeitamente a lngua rabe (dado o contacto que tinha
com aqueles que caam prisioneiros) mas estava to perturbado, que no
conseguiu dizer, assim como ela, uma nica palavra. Estavam enamorados,
mas em completa mudez. Ele, por ver na lua em crescente, um credo diferente
do seu, e ela, por visto, pela abertura do capote, num movimento fortuito, a sua
espada com a cruz formada, smbolo da religio Crist. Embora em credos
opostos, continuavam enamorados e mudos. Os anos passavam-se e ele
sempre que tinha licenas, no deixava de visitar os seus familiares e a sua
amada.
Mas... da ltima vez que se ausentou, o pastor que tantas vezes lhe tinha
emprestado o capote a sacola e o gado, invejoso, traiu-o, descobrindo ao chefe
dos guerreiros tudo o que se tinha passado e o que ele prprio tinha
presenciado. O chefe, irritado, saiu com os seus homens de armas e chacinou
toda a famlia do Cavaleiro, arrasando todo o bairro de S. Miguel, incluindo a
sua capelinha.
No regresso torre, o comandante dos guerreiros invectivou a princesa pela
sua maneira leviana de proceder, informando-a que ia lev-la ao rei seu pai, e
que lhe ia contar tudo o que se tinha passado. A princesa no lhe deu resposta
e aguardou a sada com toda a serenidade.
Porm, na retirada, ao passarem por Pena-Cabreira, a arguta donzela,
adiantando-se, escondeu-se num carreiro estreito, abrupto e desconhecido para
todos os guerreiros, apanhando-os de surpresa, e, desde o chefe at ao ltimo
dos seus guardas, foi-os empurrando para o abismo, com mais de 50 metros de
altura, caindo no sorvedouro da cachoeira turbulenta, nas escarpas eriadas da
margem do rio Tuela. Diz a lenda que a princesa, aps o lanamento do ltimo
guerreiro no abismo, desapareceu na gruta de uma fraga e que ali ficou
encantada para sempre, pensando no amor perdido do Cavaleiro Cristo.
Mais consta que, quando o Cavaleiros voltou e vendo os seus desaparecidos e
tudo arrasado, ouvindo o que tinha acontecido, monta num javali, de dentuas
Diz uma lenda antiga e pouco conhecida que na margem esquerda do rio
Baceiro, ali pelas imediaes da ponte dos Teixeiras, existiu um moinho, cujo
dono possua duas trutas de ouro autntico que tinham sido herdadas de seu
pai, que fora, em tempos, ourives ambulante. Certa noite surgiu uma
tempestade de tais propores, que as guas do Baceiro subiram ao ponto de
varrer tudo quanto se encontrava nas suas margens.
O moleiro teve tempo de fugir, mas no conseguiu salvar as trutas, que eram
duas barras de ouro macio, esculpido e bem trabalhado em forma
de peixe. Diz ainda a lenda que o moleiro gastou anos procura das suas
valiosas peas de ouro, mas, que se saiba, nunca mais ningum as viu.
RECOLHA (1985) de Augusto Jos Teixeira Lopes
residente em Lisboa.
Alfndega da F.
Alfndega da F.
Alfndega da F.
Alfndega da F.
Alfndega da F.
LENDA DO MOURO
Diz-se que uns mouros prenderam, na terra deles, um cristo obrigando-o a
trabalhar durante o dia, prendendo-o numa arca durante a noite. Um dia
viajaram com o cristo transportando-o na arca. Durante a viagem o cristo
prometeu a Nossa Senhora da Ascenso que se o libertasse construa um
poo, visto faltar gua ao p da sua capela. Um dia no caminho ouviu tocar as
campanas e perguntou ao mouro se o que ouvia eram mesmo as campanas,
este perguntou-lhe:
- Na tua terra h campanas?
- Na minha terra campanas h.
- Ento alegra-te que na tua terra estamos.
A Nossa Senhora tinha convertido o mouro, este libertou o cristo e os dois
construram o poo prometido.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA AMLIA MORAIS, Idade: 81.
Localizao geogrfica: SANTA COMBA DE ROSSAS ORIGEM + 50 anos.
LENDA DO TEAR
Havia num certo lugar uns mouros que tocavam num tear de ouro e muitos iam
a esse stio buscar fortunas. Iam, ento, para esse lugar com um padre e gua
benta, fazendo um crculo e dizendo umas rezas. Diz-se que aos ltimos que l
foram no crculo apareceram-lhes umas almas dos mouros a dar-lhes de fumar,
eles ao deixarem de olhar para o padre, foram parar a outros stios esmagados.
No entanto, ainda hoje se diz que ainda se pode ouvir o tear a tocar.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA AMLIA MORAIS, Idade: 81.
Localizao geogrfica: SANTA COMBA DE ROSSAS ORIGEM + 50 anos.
8. CONTOS
O AMO, O CRIADO E O QUEIJO
Havia certo senhor, muito abastado, que tinha numa das suas quintas um
caseiro, por quem tinha uma certa considerao, por este ser muito srio nas
suas contas. Acontecia que, quando o caseiro no podia ir a casa do amo
prestar contas, por afazeres ou qualquer outro motivo, mandava o filho mais
velho, por este tambm j ser competente do que lhe incumbiam. Um dia, o pai
diz ao filho:
- Z, amanh vais levar esta importncia ao amo, e como vais levar-lhe
dinheiro, capaz de te pr de comer. Aceitas, mas se s vezes te puser queijo,
e que esteja inteiro, melhor no o incertares porque parece mal. L
aguentas mais um bocado, e vens comer a casa. Ora isto era o que o amo
queria, pois parece que era mais apertado do que uma abfora. Tantas vezes
o Z foi levar as contas ao amo, como este lhe punha de comer, mas sempre
um queijo inteiro. E o pobre do rapaz, vinha sempre em branco, e como se
costuma dizer com os cantares do Vero. E quando o bom do Z chegava a
casa, o pai lhe perguntava:
- Ento, rapaz, comestes?
Num senhor. O amo pe-me sempre o queijo inteiro, e eu, j se sabe, no lhe
toco, e boa fome que trago.
Diz-lhe o pai:
- Deixa que para a prxima vou l eu.
E assim foi. As prximas contas a prestar, foi l o bom do caseiro. E l estava o
dito queijo inteiro, que o amo lhe ps na frente ao seu fiel criado.
- Coma, diz o amo.
O caseiro, que j estava bem avisado com o que se tinha passado j tantas
vezes com o filho, o que fez?
Pegou no queijo e partiu-o em quatro partes iguais. O amo viu aquilo, e ficou
espantado, dizendo:
- Olha que isso queijo. Resposta imediata do caseiro. Bem o beijo. E comeu a
primeira parte. Pegou na segunda, e o amo mais admirado ficou, e disse:
- Este caro.
O criado respondeu:
houvesse.
Foi vinha, cortou cepas e levou-as para casa.
Diz -lhe: - J est arrependido?
O patro j estava, mas disse que no. Mandou-o buscar lenha da mais direita
que houvesse. Foi ao pinhal, cortou pinhos dos mais direitos e levou-os para
casa.
Perguntou-lhe:
- J est arrependido?
O patro dizia que no. Como ele era capaz de fazer tudo, um dia, mandou-o
para o lameiro com as vacas. Mandou a mulher a pr-se na ponta dum carvalho
a cantar como o cuco, a ver se ele se arrependia. Ele ouviu. Foi a casa do
patro, que era caador, pediu-lhe a espingarda para matar a cuca que cantava
no carvalho. Ele foi e matou a mulher. Veio para casa e disse:
- J est arrependido, patro?
Ele disse: - Ah ladro que me mataste a mulher. O patro arrependeu-se.
Ento o Z Pequeno disse:
- Vou tirar-te duas correias das costas. Uma para mim e outro do meu irmo e
assim acabou a histria do Z Pequeno e do Z Grande.
RECOLHA (1985) de Fernando dos Santos Esteves, Saldanha
Mogadouro.
MARIA DE PEDRO
Naquele tempo, andando um casal a pedir esmola de povoado em povoado,
por serem muito pobres, deram luz um beb do sexo feminino, a quem foi
posto o nome de Maria de Pedro, servindo de padrinho S. Pedro, que andava
pelo mundo.
Quando os pais morreram, ficou a jovem menina ao cuidado de S. Pedro. Seu
padrinho se encarregou da sua educao. Este, temendo que ela fosse
perseguida, resolveu traj-Ia de rapaz. E aconselhou-a que no se desse a
conhecer a ningum, usando somente o nome de Pedro. Foi-lhe dado um
emprego no palcio, onde ficou ao servio do rei. Sendo um jovem muito digno,
a rainha apaixonou-se por ele. Como no devia nem podia, retirou-se quanto
pode. Esta tomou-lhe dio e foi acus-lo ao rei de ele ter dito que era capaz de
ir buscar uma filha que eles tinham encantada na terra dos mouros. O rei
aproveitou-se do oferecimento e disse: - Pois tem de ir, com pena de morte.
Ele foi tomar o parecer com S. Pedro, seu padrinho que lhe disse:
- Vais, pede-lhe os dois melhores cavalos da cavalaria, um para ti outro para
ela, e dois presuntos que para deitares a dois lees que te embargam a
passagem na entrada do cerco. Deitas um entrada, outra na sada, para se
NO TEMPO DA MONARQUIA
Havia um rapaz que disse para a me:
- Minha me, vou moirar.
E a me diz-lhe assim:
- Vai, meu filho.
- Queres a minha bno, ou metade de um po?
E o rapaz diz para a me:
- Eu quero a sua santa bno.
E o rapaz foi ter a casa de um rico. Quando bateu porta, diz ele assim:
- Querem-me aqui para criado?
Estava l um velhote e disse-lhe:
- Podes ficar, rapaz, que eu vou-me embora. Mas olha: Nesta bacia de gua
nunca mexas.
O teu trabalho pouco. s tratar de trs cavalos. Esto ali quele canto trs
aguilhadas. Nunca lhe toques, que eu estou aqui h bastante tempo, e ainda
lhes no toquei. Se pensares em te enforcar, puxa por aquela corda, que est
naquele telhado.
E o velho foi-se embora.
O rapaz esteve l muito tempo, sem mexer na gua. Um dia, o rapaz disse:
- Para que quero aqui esta gua? Vou-me lavar nela. Ao mesmo tempo que
deitou com as mos a gua pela cabea, ficou-lhe o cabelo todo dourado. Em
seguida deu um pontap nas aguilhadas, dizendo:
- Quero ver o que daqui vai sair. Ao mesmo tempo que o fez, saem-lhe trs
gigantes.
- Agora, pelo pouco, vou-me enforcar. E puxou pela corda que estava presa
trave.
Encheu-se o cho de dinheiro.
Depois disseram-lhe os trs gigantes:
- Rapaz, tens que te ir embora, porque nos desencantaste.
Um dos gigantes disse ao rapaz:
- Se um dia te vires aflito, basta-te dizer:
- Valha-me aqui o meu cavalinho de cobre.
O segundo diz-lhe tambm:
- Se precisares de mim, diz:
- Valha-me o meu cavalinho de prata.
Depois, o terceiro:
- Pede-me o que tu quiseres, que te atenderei, dizendo:
- Valha-me o meu cavalinho de ouro.
Depois, o rapaz foi-se embora. Seguia por um vale. Viu um carneiro morto.
Abriu-o e tirou-lhe a bexiga, e p-la na cabea para que lhe no vissem o
cabelo dourado.
Depois foi andando at que foi ter ao palcio do rei. Deu umas voltas em redor
do palcio do rei, at que viu o jardineiro. Ofereceu-se para criado. O jardineiro
aceitou o rapaz para ajudante.
O rapaz, quando lhe apetecia, tirava a bexiga da cabea.
At que um dia, a princesa mais nova o viu. Apaixonaram-se um pelo outro.
O rapaz mandava-lhe todos os dias um raminho de flores.
Um belo dia, o rei pensou em casar as suas filhas e fez umas cavalhadas.
O jardineiro, como era amigo do rapaz, disse-lhe assim:
- Amanh so as cavalhadas da filha mais velha do rei. No queres vir?
O rapaz respondeu-lhe:
- Antes quero ficar ao sol no jardim.
Assim que o velho saiu, o rapaz pediu ao seu encanto:
- Valha-me aqui o meu cavalinho de cobre.
E pediu um bom cavalo e roupa ao consoante, para conquistar a filha mais
velha do rei. O rapaz, quando entrou nas cavalhadas, tudo ficou admirado e a
princesa gostou dele.
Quando o velho chegou ao jardim, j o rapaz l estava deitado ao sol, como
tinha ficado. E o velho, entusiasmado, Ps-se a contar ao rapaz tudo o que viu
na festa e disse-lhe:
- Apareceu l um prncipe com o cabelo de ouro.
E o rapaz respondeu desinteressado:
- A mim o que me importa?
Ao outro dia o rapaz disse para o velho:
- Eu era capaz de pr no cimo do jardim um tanque com quatro bicas de gua a
correr.
O velho foi levar a novidade ao rei. Que era capaz de pr no cimo do jardim
quatro bicas de gua a correr. O rei respondeu-lhe:
- Pois com pena de morte tens que as pr.
O velho foi ter com o rapaz. Aflito, contou-lhe o que tinha dito ao rei, e o rapaz
respondeu-lhe:
- No lhe foras dizer nada. A mim no me importa.
Disse o rapaz:
- Valha-me o meu cavalinho de prata. Quero aqui um tanque com quatro bicas a
deitar gua, amanh de manh.
O rei, quando se levantou e viu aquilo, elogiou o jardineiro.
Diz o rapaz:
- Valha-me o meu cavalinho de ouro. Quero aqui um cavalo e roupa ao
consoante, para conquistar a filha do rei mais nova.
Quando l chegou ainda foi mais admirado que das outras vezes, e a princesa
tambm gostou dele.
Quando o rapaz saiu, vieram-lhe ao encontro dois prncipes.
- Tu conquistaste as trs princesas mas no podes casar com elas trs.
Escolhe a que gostas mais e cede-nos as outras duas. O rapaz respondeu-lhes:
- Para mim quero a mais nova. Mas, antes que vos ceda as outras duas, tendes
que me deixar selar as vossas nalgas com as patas do meu cavalo.
Quando o rapaz chegou ao palcio, vestiu-se com roupa simples e a bexiga na
cabea.
Deitou-se no jardim ao sol, e o velho foi ter com ele, e contou-lhe:
- Hoje ainda foi mais lindo do que das outras vezes.
O rei mandou chamar os dois prncipes e o rapaz apresentou-se com os trs
cavalos que tinha conquistado as princesas, mas em vez de ir vestido de
prncipe, no foi. Ia de roupa simples e a bexiga na cabea.
O rapaz disse para o rei:
- Saiba Vossa Real Alteza que fui eu quem conquistou as suas trs filhas. Estes
dois prncipes vieram c porque fui eu que lhas cedi. Para prova da verdade
ho-de ter as nalgas com as ferraduras escritas dos meus cavalos.
O rei respondeu-lhe:
- Eu no te dou a minha filha por bem empregue. Vai-te embora tu e ela. E
assim se foram e casaram-se. O rapaz pediu ao seu encanto:
- Valha-me o meu cavalinho de ouro. Quero aqui um palcio muito superior ao
do meu sogro, com quatro bicas de fogo no cimo do palcio.
O rei naquela manh levantou-se tarde, porque a janela do seu quarto naquele
dia no tinha a luz habitual. O rei veio janela e viu aquele palcio superior ao
seu. Mandou perguntar quem l estava.
De l responderam-lhe:
- Se sua Real Alteza quer saber, venha c pelo seu p.
O rei mandou outra vez perguntar quem l estava, se no que lhe declarava
guerra.
- Se sua alteza quer saber, que venha c pessoalmente.
O rei j cheio de medo ps-se a caminho. Qual no foi o seu espanto, quando
viu sua filha e o seu genro. Ficou muito satisfeito e mandaram fazer logo uma
festa e assim acabaram todos felizes.
RECOLHA (1985) de Maria Celeste Fernandes, Pai-Torto, Mirandela.
com o pobre lobo aos tombos pelo vale a baixo. E, assim, a gua escapou aos
dentes do lobo.
Passado um pouco, o pobre animal l se foi endireitando aos poucos e tomou
caminho ao longo de um riacho que chegava ao rio, naquele rio havia um
moinho estava parado mas no estava desactivado.
Assim, o dono do moinho tinha ao lado deste uma casotinha onde guardava
uma porca com algumas crias. O lobo foi-se aproximando da me porca
enquanto as filhinhas pastavam por perto:
- Ol comadre porca.
E responde a porca:
- Viva compadre lobo, o que o trs por estes lados?
- comadre porca! Triste a minha vida, venho cansado e cheio de fome, vou
ter que a comer. O que prefere, que a coma a si ou aos seus leitezinhos?
E a porca responde:
- Antes quero que comas os meus filhos, porque eu sou nova e ainda posso
arranjar outros, mas antes tens de mos deixar baptizar.
O lobo curioso pergunta:
- Ento e como se baptizam?
A porca esperta chama o lobo para a sada da gua do moinho onde se
encontrava o rodzio e, ento, explicou-lhe como se faria o baptismo e como ele
deveria proceder:
- Vais ficar aqui sentado na roda com a boca bem aberta para aquele buraco (a
sada da gua), eu vou por cima e mando um leito de cada vez por aquele
buraco, quando chegar aqui j vem baptizado e tu aboca-lo. O lobo concordou
e sentou-se na roda, entretanto a me porca foi guardar os filhotes na loja e,
depois, foi por cima a abrir o canal para deixar correr a gua, fechando-se em
seguida com os filhos. Quando a gua comeou a cair na roda esta comeou a
rodar e a fazer um barulho caracterstico do prprio movimento. O lobo ao
entrar em rotao agarrou-se ao pau do meio (ao veio), mas no pode parar o
movimento e desatou a gritar:
- Pra rezingo que havemos de baptizar um leito!
Mas como a gua no deixava de correr a roda no parava de rodar e o lobo ia
ficando tonto de tanta volta, acabando a fora da gua por arrast-lo ao longo
do rio.
Da janela da sua loja a comadre porca acena:
- Adeus compadre lobo, boa viagem passe muito bem!
Tontinho de tanto rodar e de tanto tombo dar, foi parar junto de um escanzelado
burro que pastava num lameiro, num lugar chamado Tabuaa. Estava coberto
com uma manta e aproximou-se depois de fazer um grande esforo para se
levantar:
- Viva compadre burro.
E disse o burro:
- Ol compadre lobo!
- Ah compadre burro venho to cansado, cheio de fome, que vou ter que o
comer!
- Ah compadre lobo, no ser grande ideia, no vs que sou s ossos, pareceme que ser melhor, uma vez que est cansado, deitar-se ai ao sol e dormir
uma grande sesta, enquanto eu pasto um pouco e assim j te podes fartar. O
lobo obedeceu, deitou-se e deixou-se dormir. Ao ver o lobo a dormir o burro foi
deitar-se por detrs dele, comeando a mexer-lhe por detrs com o seu
instrumento e o lobo acordou:
- compadre burro, ento isto o que ?
O burro respondeu:
- o canho com que te vou matar!
- Ento e isto aqui?
- Isto so as cartucheiras que esto cheias de balas para te matar.
O lobo levanta-se dum salto e no se lamentou mais do seu cansao e da sua
fome, larga a correr pelo vale fora, acelerando quando olhava para trs e via o
burro a zurrar com o canho armado. Cheio de medo e cego na corrida foi
enfiar-se numa mata de estevas que, naquele tempo, tinham j a cabea de flor
a cair, caindo-lhe no lombo ao passar:
- Fogo l para o burro, que grande canho que ainda chegam aqui os chumbos
frios!
Continuou, assim, o triste lobo pelo monte fora, onde encontrou um leo que lhe
perguntou:
- Donde vens compadre lobo, to cansado e esbaforido, parece que viste o
diabo?!
Respondeu o lobo:
- Ah! Se te acontecesse o que me aconteceu a mim agora ali com um burrito!
- Ento o que foi que te assustou assim tanto?
O lobo contou o que lhe tinha acontecido com o burro, e o leo ficou curioso,
no querendo acreditar que fosse assim:
- Olha vamos l os dois dar cabo dele.
- No vou que estou muito cansado!
Diz, ento, o leo:
- Nesse caso, agarra-te aqui ao meu rabo e vamos ver que tipo de burro esse
que tanto te amedronta.
O lobo acabou por agarrar-se ao rabo do leo com os dentes e deixou-se
arrastar por ele, pois j nem tinha foras para andar batendo com a cabea,
durante o caminho, em troncos e pedras. Ao avistarmos o burro, este voltou-se
para trs e pe-se a exibir o seu grande canho. O leo parou e considerou que
seria melhor no avanar mais, porque de facto aquele canho metia respeito!
Entretanto o lobo de tantos saltos e tombos ter dado j estava meio morto,
mesmo assim, o leo voltou para o monte com o lobo preso cauda. Ao parar e
j cansado de puxar, comenta ao ver o lobo de dentes arreganhados, pois j
estava morto:
- Ai tu ainda te ris? Pois eu no acho piada nenhuma, aquele era um canho de
meter medo a um batalho, larga-me l o rabo que eu quero ir minha vida,
mas o lobo j no abria os dentes estava mesmo morto.
Entretanto o leo passou entre duas rvores muito juntas, tendo o lobo que ficar
mesmo para trs, mas ficou-lhe tambm com metade da cauda. Seguindo
saroto, mas livre o leo atravessou pelo campo da bala, no entanto ditou a sua
pouca sorte que pisasse uma casinha de um grilo, que saiu de l todo chateado
e lhe perguntou:
- Oua l senhor leo saroto, quero saber quem lhe deu autorizao para pisar
a minha casa?
- Queira desculpar-me, meu rei grilo, mas creio que no foi de propsito.
Mas o grilo ainda irritado no aceitou explicaes:
- No aceito desculpas, proponho j uma guerra temos que medir foras.
- Pois se insiste, faamos uma guerra!
Combinaram o dia dos confrontos e cada um reuniu as suas tropas. O leo
convidou elefantes, raposas, rinocerontes, mais lees, enfim animais grandes e
ferozes. O pequeno grilo convidou simplesmente abelhas. Chegando o dia D as
tropas puseram-se frente a frente, os animais da floresta ao ver montinhos de
abelhas agrupados no cho, zombaram logo daquela situao e consideraramse vencedores partida. S que saiu tudo ao contrrio, ordem de ataque as
pequenas mas geis abelhas, num zumbido areo atacaram os adversrios
pelo focinho, picando-os nos olhos, nas patas, na barriga, na cauda, nas
orelhas e por tudo quanto era sitio, at que os fortes animais debandaram
deriva.
O lobo, numa corrida desenfreada sem direco, deparou-se com uma raposa:
- Eh, amigo lobo, que corrida cega essa? Donde vens to furioso?
Quase sem parar de se coar o lobo responde:
- Venho ali da guerra do Leo e do rei Grilo, s que ele tinha l uma tropa de
farda amarela que malharam em ns todos. Eram pequenas, mas agarram-se a
ns num zumbido sem fim picando-nos todos e tivemos de nos render. A raposa
pensando que era mais valente adiantou:
- Ah! Se me apanho l eu com as minhas unhazinhas desfao-as todas!
- Pois vai que ainda chegas a quinho.
Volveu o leo continuando a sua fuga e precipitando-se para o fundo do poo
de onde no conseguia sair. A raposa chegou ao campo de batalha e falou:
- Oh, rei Grilo manda c as tuas tropas que quero medir foras com elas!
O grilo enviou uma mozinha de abelhas que envolveram a raposa, de tal
modo, que ela no teve mais que fazer do que enfiar-se num charco de gua
para que as abelhas a largassem.
A raposa no se atreveu a voltar a trs, ficou-se por ali beira do caminho. Por
aquela hora costumava passar por ali o senhor Nazrio que ia de Pao para
Ms vender sardinhas com um caixote s costas. A esperta raposa ao avist-lo
tomba-se ao longo do caminho, como se estivesse morta, o senhor Nazrio dlhe, ento, um pontap para se certificar que estava morta, pensando lev-la
para lhe tirara pele e vend-la. Assim, agarrou a raposa pelo lombo e atirou
com ela para cima das sardinhas que levava s costas, prosseguindo caminho
sem desconfiar da malandrice da raposa. E que astuta foi a raposa e como
pregou uma partida ao sardinheiro!
Ao longo do caminho foi deitando fora, uma a uma, todas as
sardinhas compassando-as ao longo do caminho. Depois, deixou-se ir mais um
bocado para ficar com espao para quando saltasse do caixote poder correr
sem ser apanhada, tendo a possibilidade de comer as sardinhas todas no
regresso. De um salto s a raposa fugiu e exasperou o sardinheiro:
- Ah! Maldita raposa, filha da me, fez-se morta s para apanhar boleia at
aqui, pois olha, escapaste-te a tempo!
No havia nada a fazer, seguiu o caminho e chegou aldeia comeando, logo
de seguida, apregoar as sardinhas, desceu o caixote e p-lo numa parede, mas
para espanto seu no havia nenhuma sardinha no caixote! Pobre do senhor
Nazrio gelou-se-lhe o sangue, comeou a praguejar contra a raposa, enquanto
pedia desculpas aos clientes da aldeia e, assim, perdeu o dia. Por sua vez, a
raposa, no regresso, foi recolhendo todas as sardinhas retirando-se para o
monte, onde os lobos se criam e dormem, chamado Pena Cova. Ai cruzou-se
com um lobo que ficou espantado ao v-la com tanto peixe:
- comadre raposa, donde vens com tantos peixinhos?
E respondeu a malandra da raposa:
- Olha quem quer peixe molha el culo. Dormi toda a noite no poo do tio
Purezo, quando foi de manh, custou-me a sair com tanto peixe agarrado a
mim.
- comadre raposa, tens de me ensinar onde esse poo que eu tambm
quero l ir dormir.
- Ensino sim senhor, compadre lobo!
Foi ento ensinar ao lobo o lugar que seria de suplcio para ele, explicou-lhe
como devia fazer para se meter no poo na parte que era mais profunda
ficando s com a cabea de fora.
Quando chegou a noite o lobo foi meter-se no poo e como era Inverno a gua
comeou a gelar, e como o gelo, no correr da noite, ia apertando cada vez
mais, o lobo chega a pensar que a raposa tinha razo, pensando que o gelo a
apertar eram os peixes. No entanto, o lobo acabou por no ser capaz de sair do
poo acabando por morrer ali com o gelo. A raposa ao saber da burrice do lobo
ficou-se a rir da sua astcia que saiu vencedora contra a esperteza do lobo.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localizao geogrfica: PAO DAS MS ORIGEM + 60 anos.
A HISTRIA DA FERA
Era uma vez um homem que ia por um caminho fora e encontrou um homem
morto, naquele stio, estava um galgo, um leo, um corvo e uma formiga para
dividirem entre eles, em partes iguais, o homem morto. Ao verem chegar aquele
homem diz o leo para o galgo:
- Olha, vem ali um homem, vamos cham-lo para que nos parta este homem e
ficarmos todos contentes.
O homem partiu o morto dividindo-o pela bicharada, dando a cabea formiga
e dizendo:
- Pega, tens ai muito que comer e casa para viver!
Ao corvo deu-lhe as tripas, ao galgo deu-lhe os quartos e ao leo deu-lhe o
lombo. No final, ficaram todos contentes com a sua parte, ao que o homem
resolve perguntar:
- Ento ficaram todos contentes?
Respondendo o leo:
- Ficamos! Podemos ir embora?
O homem respondeu que sim e foi-se embora, quando j ia um bocado longe,
diz o leo para o galgo:
- Ento, o homem esteve aqui com tanto trabalho a dividir a carne por entre ns
e no lhe pagamos nada?! Tu galgo vais dar uma corrida para o homem voltar
c.
O galgo foi chamar o homem que voltou para trs, dizendo-lhe o leo:
- Ento, estiveste aqui com tanto trabalho e no te pagamos nada?
O homem responde:
- Vs no tendes nada que me pagar!
- Temos sim, tens a uma caixinha?
O homem respondeu que sim, o leo puxou de um cabelo e deu-o ao homem
dizendo-lhe que quando se sentisse aflito para puxar por ele dizendo: valha-me
aqui o rei dos lees, transformando-se, assim, em leo.
O galgo fez o mesmo e disse ao homem:
- Pega l este plo, quando vires alguma coisa que te agrade e que te fuja,
puxas pelo plo e dizes: valha-me o rei dos galgos, transformando-te em
galgo e apanhando tudo.
O corvo arrancou uma pena sua dando-a ao homem:
- Pega l esta pena, quando quiseres agarrar alguma ave puxas pela pena e
dizes: valha-me o rei dos corvos e transformas-te no rei dos corvos,
apanhando o que tu quiseres.
A formiga coitadinha teve de arrancar um corninho e d-lo ao homem:
- Toma l este corninho quando quiseres fugir de algum, puxas por este
corninho e dizes: valha-me a rainha das formigas e transformas-te em
formiga, podendo esconderes-te num buraquinho.
O homem transformou-se em tudo o que lhe disseram e l continuou todo
contente, chegou a um alto onde andavam dois irmos a baterem-se, ao ver
aquilo disse:
- Andais aqui a bater-vos porqu?
- por causa destas botas.
- Ento por causa destas botas preciso baterem-se?!
- Oh! Senhor, estas botas tm muito valor, so mgicas, levam-nos onde ns
quisermos.
Ento, o homem explica-lhes:
- Eu tenho aqui esta bola, quando a atiro pela ladeira abaixo, o primeiro que a
apanhar fica com as botas.
Os irmos concordaram com a proposta, enquanto foram os dois atrs da bola
o homem calou as botas e disse:
- Botas, quero ir para aquele stio.
As botas obedeceram e l o levaram, o homem ficou, assim, muito feliz pelos
novos poderes. O homem foi pesca e apareceu-lhe o rei dos peixes que o
agarrou levando-o ao fundo do mar. Na casa do rei dos peixes o homem abriu a
porta de um quarto e saiu de l uma mulher, com a qual esteve a conversar
muito, e nisto ela diz-lhe:
- Ns nunca vamos sair daqui, porque para sairmos temos que matar uma fera
que h numa serra perto da cidade de Berlim, mas no h ningum que a
consiga matar, porque ela muito grande e come tudo. Depois de a matar sai
de dentro da fera uma lebre a fugir e preciso correr muito para a apanhar, de
dentro da lebre sai, tambm, uma pomba a voar precisando-se apanhar a
pomba e tirar-lhe um ovo que l tem, depois preciso trazer o ovo para a matar
o rei dos peixes e s depois que podemos sair daqui. Diz o homem para a
mulher:
ento, no saco das folhas uma rasa de libras, pedindo depois s portas para se
fecharem. Regressou a sua casa continuando com os seus afazeres do dia a
dia, no entanto um vizinho rico no deixava de comentar o modo de vida
daquele homem:
- vizinho, estranho como leva a sua vida to pobre e sempre a cantar!
Levanta-se tarde, vai-se embora cedo
Interrompeu o sapateiro:
- Sabe vizinho vale mais quem Deus ajuda do que quem muito madruga!
O seu vizinho rico desfazia-se a trabalhar, levantando-se cedo e fazendo
grandes noitadas, nunca lhes apetecendo cantar. Ao lado da casa do pobre, o
vizinho rico tinha grandes quintas com casas ao fundo. Um dia o sapateiro falou
ao vizinho naquele prdio e ele pediu-lhe muito para o arrendar, mas o
sapateiro queria-lo comprar, o homem ante esta proposta, olha o sapateiro de
alto a baixo, e lana uma gargalhada. O sapateiro, pensando que no se tinha
feito entender, repetiu:
- Eu preciso desta quinta diga-me quanto quer por ela? Eu compro-a.
O rico lanou para o ar um preo, que no sendo o valor real da fazenda, lhe
pareceu que ia assustar o sapateiro, s que enganou-se porque o sapateiro
saca de um grande valor de dinheiro e d-lo ao vizinho:
- Pronto, negcio fechado, a quinta minha. Vamos tratar de a pr em meu
nome.
O rico nem teve tempo de resposta, ficou vencido no conceito que tinha do seu
vizinho sapateiro, este por sua vez sentiu-se mais rico e feliz que o vizinho rico.
O sapateiro tratou em pouco tempo de construir uns celeiros grandes para
recolher os cereais, estaleiros para os animais, uma pocilga para os porcos que
iria vender e aves de capoeira. O resto da populao andava admirado com o
sapateiro pobre que comprou carros, tractores, toda a espcie de mquinas e
quintas por aquelas redondezas. Mas de tanto investir, o dinheiro foi-se
escasseando e o sapateiro pensou em voltar s fragas para ir buscar mais
dinheiro. Ento, o sapateiro muniu-se com a sua caadeira e dirigiu-se para as
fragas, esperou que os trs indivduos chegassem, deixou que eles entrassem
e colocou-se mesmo em cima das fragas, armando a coisa de tal modo que
parecia que trazia consigo um batalho de soldados. Desviou com cuidado
duas telhas e enfiou por l os canos da espingarda, comeando a dar ordens
aos hipotticos soldados para estarem atentos aos movimentos dos homens no
interior do esconderijo. Ao ouvirem as ordens os indivduos desorientaram-se,
matando os trs muito facilmente dentro do buraco. Desceu a casa a buscar a
carrinha e na volta ordenou s fragas:
- Abre-te ssamo!
Ali carregou o carro com tudo o que l havia, agora rico no havia ningum que
pegasse nele. Em casa a mulher e as filhas ficaram admiradas com tudo aquilo,
o pai dela l busc-lo com as tropas, o que aconteceu e o pobre pediu, ento
que o deixasse ir frente do batalho a comandar as tropas, ficando o pai da
rapariga muito admirado com a capacidade do rapaz. Ao chegarem a casa a
rapariga mandou arranjarem o rapaz para o prepararem, apresentou-o aos pais
e disse-lhes que queria casar com ele, eles aceitaram e o casal foi feliz para
sempre.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localizao geogrfica: PAO DAS MS ORIGEM + 60 anos.
fora encontraram vrias ceifeiras, ao passar por elas o gato foi recomendando
aos grupos de ceifeiras:
- Se vos perguntarem para quem trabalham, digam que andam para o senhor
baro do moinho.
As ceifeiras querendo ser simpticas responderam que sim ao senhor gato.
Por sua vez, o gigante aproxima-se das ceifeiras e pergunta-lhes para quem
trabalham, ao responderem todos que trabalham para o baro, o gigante
exclama assombrado:
- Deve ser um homem muito importante e rico o senhor baro do moinho!
Como o senhor gato ganhou vantagem no caminho, chegou primeiro junto do
baro do moinho com o qual combina o que devem fazer a seguir para
impressionar o gigante. Assim, chamou-o para junto do poo (uma espcie de
lagoa) e pediu-lhe que se despisse e se atirasse gua. O rapaz obedeceu ao
gato esperto, antes que o gigante se apercebesse das manobras, o gato
agarrou na roupa suja do rapaz e foi escond-la, irrompendo, depois, em gritos
de socorro quando viu o gigante prximo:
- Ai que se afoga o senhor baro!
Ao ouvir estes gritos o gigante apertou o passo e saltou da carroa para ir em
socorro do nufrago. Tirou o rapaz da gua facilmente, enquanto o gato andava
tonto s voltas procura das roupas do seu dono. O gigante, para que o baro
no apanhasse um resfriado, acalmou o frenesim do gato:
- Deixa l, roupa o que mais h em minha casa. No percas tempo com o que
no encontras. Vamos para minha casa e resolvemos o problema.
Era o que o gato queria ouvir, volveram de volta casa do gigante com o rapaz
bem vestido para serem recebidos como ilustres convidados para uma refeio
farta. No final da refeio o gato voltou a desafiar o gigante, pedindo-lhe para
lhe mostrar o seu casaro, este acedeu ao pedido, parando, depois, numa
grande sala onde o gato lana uma insinuao ao gigante:
- Ouvi dizer, entre outras coisas, que o senhor apesar de ser gigante capaz de
se transformar num leo?!
- Ah! Isso sou, fao-me num leo.
O gigante transformou-se logo em leo, apanhando o gato um susto tamanho
que de um s salto cravou as unhas ao tecto, ficando l pendurado. Depois de
refeito do susto, o gato ousou desafiar de novo o gigante:
- Ouvi mais, senhor gigante! Mas nesta custa-me a acreditar, como que o
senhor com os ossos to grandes consegue-se transformar num rato?
- Parece-te impossvel bichano gato! Mas olha que sou mesmo capaz de me
transformar num pequeno rato!
Logo num estalar de dedos se fez num rato. O esperto do gato no quis ver
mais nada, num salto cravou as unhas no rato e logo o ingeriu em duas
dentadas, e, assim, se foi o gigante. O gato desceu satisfeito para junto do
com tanto peixe perguntou como aquilo tinha acontecido, o marido contou-lhe,
ento, que tinha apanhado um peixe com certas caractersticas que lhe fez uma
proposta que o pescador aceitou. A mulher estava grvida e teve o desejo de
comer aquele peixe, mandando o marido ao mar para o pescar. O marido assim
o fez, ao lanar a rede pescou logo o rei dos peixes, que lhe fez as mesmas
recomendaes. S que desta vez o homem no obedeceu ao peixe, dando-lhe
a desculpa de que a mulher o queria comer. Ento, o peixe cedeu mas
recomendou:
- Tu no me comers, levas-me e ds trs partes tua mulher, trs tua cadela
e outras trs enterras no quintal.
Ele foi para casa e fez o que o peixe recomendou, passado algum tempo a
esposa deu luz trs gigantes, a cadela pariu trs lees e no quintal nasceram
trs espadas. Os meninos cresceram e tomaram cada um a sua espada e o seu
leo. Um belo dia combinaram sair e conhecer mundo, saram cada um munido
com a sua espada e o seu leo, seguiram por uma estrada que em determinado
ponto abria em trs, parando ali. Decidiram cada um tomar a sua estrada, mas
deixaram uma garrafa que turvava se algum deles tinha um pecado ou uma
fatalidade, partindo depois aventura. Um deles avistou uma cidade e entrou
por ela a fora, passou por uma casa em cuja varanda havia uma donzela com a
qual meteu conversa. Conversaram durante um tempo, at que ela o convidou
a entrar, combinando encontrar-se, novamente, ao outro dia, sendo a atraco
tal que marcaram casamento. Um dia os dois na varanda avistaram uma
determinada torre e ele perguntou:
- Que torre to imponente aquela?
- a torre de Bilorna, quem l vai j no torna.
O rapaz curioso e valento retorquiu:
- Hei-de l ir e hei-de voltar.
Tomou a sua espada e o companheiro leo, atrevendo-se a procurar a torre. Ao
chegar entrada da torre veio uma velhinha que o cumprimentou e o convidou
a entrar, sugerindo que prende-se o seu amigo numa das argolas de ferro da
parede da torre. Ela, num gesto rpido, arranca um cabelo da sua cabea e d
ao rapaz, para que com ele prenda o leo. Os dois dentro da torre foram
admirando o interior, at que a velhinha convidou o rapaz para uma luta, visto
que, este trazia uma espada consigo. Ele aceitou e os dois comearam a lutar,
ficando depois o rapaz em desvantagem, procurando, ento, chamar pelo leo:
- Avana leo!
- Avanar ou no que do meu cabelo cordas de ferro se faro!
O leo no foi ao seu socorro e o rapaz foi vencido, sendo preso nas
masmorras da torre.
Um dos irmos, ao regressar ao cruzamento, viu a gua da garrafa daquele
lado turva, pensando que o irmo se estava a sentir mal tomou o mesmo
Havia uma linda senhora que vivia com a sua filhinha no seu pequeno palcio,
tendo em seus aposentos um grande espelho de touca, ao qual diariamente
perguntava:
- Espelho meu diz-me tu haver outra mais bonita do que eu?
O espelho respondia sempre que no, at que a sua filha cresceu, e se tornou
uma formosa rapariga, resolvendo um dia perguntar ao espelho se havia outra
mais bela que ela, ao que o espelho respondeu:
- At hoje a cara mais bonita que havia nas redondezas era a tua me, mas a
partir de hoje a cara mais bela a tua.
Passado algum tempo, a sua me, sem disto saber, vai novamente estar com o
espelho, fazendo-lhe a pergunta mgica:
- Minha linda senhora, at hoje o seu rosto era o mais bonito, mas apareceu
agora outro ainda mais bonito, o da sua filhinha.
Desconcertada, a senhora maquinou uma forma de tirar da sua frente, quem
lhe roubou a primazia na beleza, acabando por encerrar a sua filha numa torre
muito alta. A menina desesperava e chorava dia e noite, at que um dia passou
por ali um rapaz, que ao ouvi-la gritar, lhe perguntou:
- Fanda Maria, Fanda Maria, que tanto choras? s a cara mais linda do mundo,
mas se visses a cara da Felmilanda que est encantada numa ilha distante,
ento paravas de chorar!
Fanda Maria no sabia como, mas pensou seriamente em sair dali o quanto
antes para desfazer o encanto. Comeou, ento, a escavar uma espcie de
tnel, com as suas prprias mos, para sair daquele stio. Ao conseguir sair da
torre, ps-se a caminho na direco indicada pelo mensageiro, andando alguns
dias sem parar. Chegou, ento, a um lugar onde se deparou com um grande
palcio com vrias salas cheias de encantos. Entrou para uma delas, sendo
logo rodeada por encantos em forma de bichos horrveis, que lhe pediam:
- Leva-me a mim, leva-me a mim, estou fartinho de estar aqui.
Mas Fanda Maria ao v-los respondeu:
- No, eu procuro Felmilanda.
- Oh! Felmilanda a cara mais linda do mundo, para chegar at ela preciso
andar muito.
Passou aquela sala e depois de andar muito chegou a outro palcio e entrou
noutra sala tambm ela cheia de encantos, que ao ouvirem falar de Felmilanda
deram a mesma resposta. A menina caminhou para o terceiro palcio, entrando
numa enorme sala onde, tambm, havia muitos encantos, que se dirigiam a ela
para que os desencantasse, respondendo-lhes que no podia fazer visto estar
s procura de Felmilanda, ao que informaram:
- Encontrars um palcio cheio de outros encantos, mas para que Felmilanda
venha, em barco prprio ao teu encontro, ters que primeiro encher nove bilhas
de lgrimas.
Com os olhos na sua meta, a menina caminhou at encontrar o dito palcio dos
grandes encantos e onde viu escrito o nome de Felmilanda e uma mulata.
Fanda Maria ps-se a encher as bilhas com lgrimas, e quando s lhe faltava
uma a mulatinha ofereceu-se para a ajudar. Enquanto a Fanda Maria enchia a
ultima bilha, viu aproximar-se uma barca com a Felmilanda que ao chegar
perguntou:
- Qual das duas me desencantou?
A mulata antecipou-se e disse que tinha sido ela. Mas para tirar as dvidas e
saber quem falava a verdade, Felmilanda lanou-lhe o desafio do espelho que
estava ali, que tinha duas facas de lado que cortavam a cabea a quem falasse
mentiras. Felmilanda perguntou mulata se queria ir ao espelho, mas esta
recusou o desafio, aceite, depois, por Fanda Maria. Assim, depois de reposta a
verdade, as duas rumaram at cidade de Felmilanda do outro lado do mar.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localizao geogrfica: PAO DAS MS ORIGEM + 60 anos.
A HISTRIA DA TI SOQUINHAS
Era uma vez um homem que deixou a mulher e um filho. Tinha ido para Frana,
onde esteve 37 anos.
A mulher sempre pedia a Nossa Senhor que o marido viesse morrer nas
palhinhas dela.
Passados 37 anos bateu porta mulher.
Na rua perto de casa estava o filho e um senhor.
Dirigiu-se-Ihe e perguntou-lhe:
- Quem o senhor Manuel Antnio Dalges.
O prprio filho respondeu-lhe:
- Sou eu.
O homem disse-lhe:
- Ento o senhor meu pai?
- Pois sou!
O filho levou o pai a casa.
A me como tinha falta de ouvido no queria acreditar que aquele era o seu
homem. Ento ele que levara uns alforges feitas por ela e as guardara,
mostrou-lhas.
- Marquinhas, no te lembras dos alforges que me destes quando me fui para a
Frana?
V-as. Aqui esto elas!
A mulher olhou para o homem e para os alforges, e vendo que era o seu
A MOA TEIMOSA
Era uma vez um homem que tinha uma filha com quem vivia.
Quando a filha chegou idade de casar, no faltavam pretendentes, porque o
pai possua umas boas terras.
Porm quando vinham pedir a filha, o pai dizia sempre:
- Por mim est bem, mas tenho que lhe dizer, que ela muito teimosa.
Por fim apareceu um, pois os outros desanimavam, que respondeu ao pai:
- Est bem. Olhe, eu tambm sou muito teimoso e ento vamos fazer farinha.
Arranjaram tudo e casaram.
noite, quando se iam deitar, o noivo levou uma arma que colocou ao lado da
cama. A noiva admirada perguntou-lhe para que era a arma, ao que ele disse,
que era sempre bom ter uma defesa ao lado.
Deitaram-se (era no tempo das candeias) e o moo disse para a noiva, que
apagasse a candeia. Ela respondeu que a apagasse ele. Por sua vez teimou
OS DOIS MENTIROSOS
Havia dois irmos que viviam muito pobres e sem meios de ganhar dinheiro, at
que o mais velho, disse para o outro:
- irmo, lembra-me uma coisa. Vamos por esse mundo ele Cristo pregar
mentiras por dinheiro. Um vai adiante e depois vai o outro atrs a confirmar. L
partiram, e ao chegar a uma terra, um segue adiante anunciando:
- Sei uma grande novidade, mas s a digo por dinheiro.
Juntou-se muito povo e comearam a dar-Ihe dinheiro, e ele disse: - Em tal
terra acaba agora de nascer um menino, com sete braos
O Povinho admirado no teve pena do dinheiro e ele foi seguindo caminho.
Apareceu por trs dele o irmo a confirmar. A gente perguntava se era
verdadeira a notcia, ao que este dizia: - Eu no vi o menino, mas vi uma
camisa estendida a enxugar que tinha sete mangas.
Ento ficaram crentes que era verdade e ainda lhe deram mais dinheiro. A este
tempo, j o irmo espalhava noutra terra:
- Grande novidade, minha gente.
Todos acudiam e lhe davam dinheiro, para saber a novidade
Diz ele: - Vi um moinho a andar, em cima de um pinheiro. Todos admirados,
quando apareceu o irmo, perguntavam:
- verdade que est o moinho em cima do pinheiro?
Ele confirmava: - Eu no vi o moinho, o que sei dizer, que vi um macho
carregado com sacos de farinha a subir pelo pinheiro acima.
Ento verdade, dizia a gente, e l iam dando o dinheiro aos homens. Assim
foram correndo o mundo a dizer mentiras para irem vivendo (:::).
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.
Alfndega
Alfndega da F.
9. HISTRIAS INFANTIS
O RAPAZ E O BURRO
O mundo ralha de tudo tenha ou no tenha razo, quero contar uma histria
prova dessa acepo.
Era uma vez um campnio, do seu monte ao povoado, levava o neto que tinha
no seu burrinho montado.
Depois encontrou um que disse: olha aquele burro que est al, o rapaz que
forte vai no burro montado e o velho vai a p.
Pegam e montam os dois, mas encontraram depois uns que diziam: aqueles
querem com tanto peso matar o burrinho.
Meteram, ento, o burrinho na frente e eles foram a p.
Encontraram outros que disseram: olha aqueles calcando lama, para que serve
o burrinho talvez durma com eles na cama.
Rapaz vamos indo, depois destas lies mais tolo quem d ao mundo
satisfaes!.
RECOLHA 2005 SCMB Ana Maria Domingues, Idade: 86.
Localizao geogrfica: Mas, ORIGEM + 60 anos.
Era uma vez uma velhinha, quase cega coitadinha, j mal podendo andar
encostada ao seu bordo sempre olhando para o cho ia na estrada a passar.
Encontrou um co que ladrou, a pobrezinha parou olhando de roda assustada,
quis fugir no conseguiu, tentou correr mas caiu a pobrezinha coitada. Nisto
surge uma menina bem formosa e ladina, que ao v-la cair no cho correu logo
carinhosa e velhinha deu a mo:
- Venha eu levo-a minha casinha! Onde lhe di? Diga que eu vou buscar
qualquer remdio, vou pedir minha me.
- No foi nada meu amor, tu s uma flor. Ajuda-me s a andar, Deus paga pela
bondade com muita felicidade.
RECOLHA 2005 SCMB, FERNANDO PIRES, Idade: 62.
Localizao geogrfica: VILARINHO DAS TOUAS ORIGEM + 50 anos.
CONTO INFANTIL 1
A perinha estava nos ramos da me pereira, mais feliz que uma rainha e mais
oculta que uma freira.
C de baixo foi avistada, c de baixo pela Rosita que diz para a criada: Ai que
pra to bonita!.
A pra muito oculta, verde e ainda muito dura, se a Rosita no a descobre
chegava a mole e madura.
Mas a pra ao cair de cauda jurou vingana cruel: Ainda te vou a sair mais
azeda do que h-de ser o fel. Foi deitar-se a pequenota sentindo j muitas
dores, como ela grita debaixo dos cobertores.
Rosna a perinha judia: Se verde no me comesses nenhum mal te sucedia,
agora tens ainda po para peras.
RECOLHA 2005 SCMB, ABLIO AUGUSTO GONALVES, Idade: 94.
Localizao geogrfica: MS ORIGEM + 50 anos.
CONTO INFANTIL 2
Contam como certa raposa, andando muito esfaimada, viu roxos e maduros
cachos pendentes de alta latada. De bom grado os trincaria, mas sem lhes
poder chegar disse: Esto verdes no prestam, ningum lhes pode tragar.
Caiu-lhe, ento, uma parra conforme seguia o seu caminho, lembrando que era
algum bago volta depressa o focinho.
RECOLHA 2005 SCMB, ABLIO AUGUSTO GONALVES, Idade: 94.
Localizao geogrfica: MS ORIGEM + 50 anos.
MULHER AO RIO
HISTRIA 1
Um menino ia doutrina e diz-lhe o padre:
- Ento, meu menino tu s cristo?
- No, sou ali um galinhito de S. Ciprio!
Outro menino foi doutrina com a me e diz-lhe o padre:
HISTRIA 2
Quando ramos mandados pelos espanhis, na Mofreita resolveram mandar
algum para aprender a lngua castelhana. Dai que todos os mais ricos e
letrados queriam ser os eleitos, mas os que mandavam queriam que fosse
algum que j tivesse alguns conhecimentos da lngua.
Entretanto no ajuntamento, enquanto isto se discutia, responde um da
assistncia:
Eu j sei dizer qualquer cousa!
Ento que sabes dizer?
Ns los outros
Nisto responde outro l do fundo do ajuntamento:
Eu tambm sei dizer alguma cousa!
Ento que sabes dizer?
Claro .
Grandes estudantes! Estes j vo. Mais algum sabe dizer umas histrias
daquelas mais antigas espanholas?
Eu ainda sei dizer qualquer cousa.
E o que sabes dizer?
Tem usted muita razon!
Assim, foram os trs estudar para Espanha, indo parar a Catalunha. Ao chegar
tiveram logo a infelicidade de encontrar um homem morto, tiveram d e ficaram
a ver o que lhe passava. Mas, nisto veio a guarda civil espanhola que lhes
perguntou:
Quem matou el hombre?
Ns los outros
Vossotros?
Claro
Si, si mui claro, mas a palisa que vai levar no sabe usted no que se mete!
Tem usted muita razon!
Levaram os pobres portugueses perante as autoridades, dando incio
investigao:
Quem matou el hombre?
Ns los outros
Ento est visto! No temem a palisa (porrada) que vo levar?
Tem usted muita razon!
Desta forma e com a culpa formada dos portugueses os espanhis desataram
porrada neles como era de lei naquela altura. Devolveram-nos depois terra
deles a Vinhais todos esmurrados.
Quando os da Mofreita viram os seus conterrneos todos negros, perguntaram
o que se tinha passado, tendo os guardas respondido que se encontravam
naquele estado por terem confessado um crime.
Os da aldeia pediram para ver os chicotes dos guardas, aproveitando a posse
destes para desatar a bater nos espanhis. Os guardas perguntavam se o povo
no tinha vergonha de bater em autoridades, tendo o povo respondido a esta
provocao com uma aco: despiram as fardas dos guardas, retirando-lhes a
posio de autoridades, at que estes fugiram.
RECOLHA 2005 SCMB, EURICO FERNANDES, Idade: 71.
Localizao geogrfica: MOFREITA ORIGEM + 50 anos.
HISTRIA 3
Uma vez um galinhito foi-se confessar e como j eram tempos dos ninhos,
diz-lhe o padre:
- Ento rapaz quantos ninhos j encontras-te?
- J sei de uns l mais a baixo, onde esto uns negrilhos mesmo para fugir,
tm que se tirar hoje.
- Hoje no! Que dia de confisses, hoje no os tires, amanh j podes!
O cura (padre) que andava com o cavalo foi ver se o rapaz disse a verdade,
HISTRIA 4
Uma vez um moo ao passar por certo caminho viu uma ovelha preta morta.
Quando voltou para a aldeia avisou as pessoas do sucedido, ento o padre
mandou trs homens a buscar a velha morta. O moo bem tentou avisar o
padre que no era uma velha, ao que o padre respondeu:
-Pois seja velha ou nova filha da Santa Madre Igreja.
-Ai no, no !!!
RECOLHA 2005 SCMB, EURICO FERNANDES, Idade: 71.
JOGOS DE RODA 1
Fui-me confessar quela capelinha
O que eu disse ao padre ningum o adivinha
No o adivinha no
O que eu disse ao padre na confisso
Sr. Padre me confesso larau, larau, larito
Eu matei o meu gadito
dar ali um beijito
JOGOS DE RODA 2
A penitncia que eu te dou
Olha a viuvinha alegre
No tem com quem se casar
No tem o que vestir, no tem o que trajar
O seu noivo no quer com ela casar
A viuvinha deita-se a chorar
JOGOS DE RODA 3
Serra deita c gua por um cano de marfim
JOGOS DE RODA 4
Pus o meu p na batateira
Fiz tremer o batatal
O passarinho que repenica o cntico
Vem cantar ao meu quintal
O passarinho que repenica o cntico
Vem cantar ao p de mim.
JOGOS DE RODA 5
Linda borboleta deita-te a voar
A menina Aninhas quer-se j casar
Quer-se j casar, no quer ir para a botica dela
Quer ir morrer vestidinha Conceio
Antoninho vai pegar ao caixo que o mais arranjadinho
A menina Maria vai ser a madrinha que leva o raminho
O menino Joozinho vai ser o padrinho
Vai ser o padrinho por levar a bandeira
E a menina Maria vai ser a cozinheira
A criada vai ser a Teresa
A criada foi por a mesa
Mas manchou os guardanapos
Ponha-se l fora minha malcriada
Que no sabes fazer nada
minha Senhora tenha d de mim
No tenho nem me, nem pai, nem quem olhe por mim
Entre l para dentro v fazer a obrigao
V pegar aos tachos e a abanar ao fogo
Este jogo consiste na disposio de 5 pedras pequenas, das quais uma deve
estar numa das mos enquanto se apanham as outras que podem estar numa
superfcie, como por exemplo, numa mesa. Assim, enquanto se deita a pedra
que se tem na mo ao ar temos que apanhar, nesse curto espao de tempo, as
outras quatro pedras. A pessoa que errar o exerccio primeiro perde.
RECOLHA 2005 SCMB, VIOLANTE AUGUSTA PARREIRA, Idade: 86.
Localizao geogrfica: AVELEDA ORIGEM + 50 anos.
JOGO DA CANTARINHA - 1
cantarinha de barro,
No me leves a sorrir.
Quando vejo o meu amor,
D-me vontade de rir...
Minha me mandou-me gua,
fonte do rosmaninho.
Eu deixei cair a cntara,
E parti-lhe um bocadinho
cantarinha de barro,
Com gua fresca no vero.
Mata a sede ao meu amor,
Que lhe arde o corao.
cantarinha de barro,
Quem te leva fonte? Quem?
No vais apenas de carro,
Vais nos braos do meu bem.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.
JOGO DA CANTARINHA20-2
Formavam-se pelas ruas, ou num largo, uma fila grande de
raparigas, umas atrs das outras, tendo a da frente uma
cantarinha nos braos que ia atirando de trs, e esta por sua
vez, s outras que se iam mudando. Quando a cantarinha se
partia, a causadora tinha de comprar outra, para a vez seguinte,
e havia sempre palmas e uma algazarra amiga. Cantavam:
cantarinha de barro,
Quem te leva fonte? Quem?
No vais apenas de carro,
Vais nos braos do meu bem.
Coro
cantarinha de barro,
No me leves a sorrir!
Quando vejo o meu amor,
D-me vontade de rir...
cantarinha de barro,
Com gua fresca do vero!
Mata a sede ao meu amor,
Que lhe arde o corao.
Minha me, mandou-me gua,
fonte do rosmaninho.
Eu deixei cair a cntara,
E parti-lhe um bocadinho.
RECOLHA (1985) de Branca do Sacramento Rodrigues, Sambade Alfndega da F.
DESFOLHADA
As desfolhadas da aldeia,
So cheias de vida e cor,
Mesmo luz da candeia
O S. JOO
AS VIOLETAS
E o veludo cor-de-rosa,
Oh! Que tanto me agradou!
RECOLHA (1985) de Narciso Joo Torro Vicente Vimioso.
A POMBA SUBIU AO AR
A pomba subiu ao ar,
A pomba ao ar subiu,
Nos braos do meu amor
Agarrei a pomba
E a pomba fugiu.
J se morreu a pombinha,
J no tenho portador.
J no tenho quem me leve,
Oh! Ai! As cartas ao meu amor.
RECOLHA (1985) de Narciso Joo Torro Vicente Vimioso.
ESTA RODA
Esta roda est parada,
Por falta de haver quem cante.
Agora j canto eu,
Siga a roda p'ra diante.
Vamos seguindo em frente,
Caminho da nossa aldeia,
Mostrando as nossas rendas,
Mais a nossa fina meia.
E ns os nossos cales,
Nossos ps to delicados.
Nossos corpinhos bem feitos,
Pelas damas elogiados.
RECOLHA (1985) de Olinda Pereira, Sambade Alfndega da F.
A MARIQUINHAS
PADEIRINHA21
Rua abaixo, rua acima,
Toda a gente me quer bem.
S a me do meu amor
No sei que raiva me tem.
Coro
Ora bate, padeirinha,
Saiba pr, o p no cho,
Ora bate padeirinha
No meu terno corao.
RONDA
11.
LENGALENGAS,
CANTILENAS
LENGALENGA
Era no era,
Andava na serra
Com um boi de palha
E outro de merda.
Quando nisto,
Tristes novas me vieram.
Meu pai era morto,
Minha me por nascer!
Eu pus-me a pensar
Que no meu parecer
Isto no podia ser.
Agarrei nos bois s costas
E pus o arado a comer.
Depois, mais abaixo,
Ao passar um ribeiro,
Enrodilhei a aguilhada cinta
E encostei-me ao tamoeiro.
Depois, mais abaixo,
Ao passar um regato,
Se no fosse um co,
Mordia-me um cajato
Eu vi um homem a fugir
Sentei-me para o agarrar
Peguei nos bois s costas,
Deitei o arado a pastar.
Tenho uma jaqueta nova,
Feita de mil modelos.
No tem mangas, nem costas;
I
CANTIGAS,
CANTILENA 1
CANTILENA 2
Olha o velho,
Olha o velho
Gosta dos figos maduros
Penicados dos pardais
Olha o velho,
Olha o velho atrevido
Disse-me na minha cara
Que queria casar comigo
Se o velho casar comigo,
H-de ser na condio
Que eu durma na cama fofa
E o velho durma no cho
Mais um espantalho
Que na roda entrou
Deixai-o danar
Que ainda no danou
Se ainda no danou
Deixai-o danar
Rapaz deixa a moa
Vai para o teu lugar
RECOLHA 2005 SCMB Fernanda da Luz Martins, Idade: 78.
Localizao geogrfica: Terroso ORIGEM + 50 anos.
Ia um grupo de crianas
Conversando seriamente
Diz o mais velho afinal
Que queria ser um general
Para ser um combatente
Diz o outro com rancor
E eu quero ser aviador
Para ser heri do ar
Diz logo o outro irritante
Eu quero ser almirante
Para conquistar o mar
Logo outro que diz
Eu porm quero ser juiz
Para poder condenar
Diz logo o outro do lado
E eu quero ser advogado
Para o ru poder salvar
E eu quero ser engenheiro
Era todo o meu afecto
Diz o mido do lado
Pequenino e engraado
Eu quero ser arquitecto
Mas outro falou com amor
Eu quero ser professor
De um sentimento profundo
E nesta cano tudo me seduz
Eu queria dar esta luz
E atravs de todo mundo.
RECOLHA 2005 SCMB, EURICO FERNANDES, Idade: 71.
Localizao geogrfica: MOFREITA ORIGEM + 50 anos.
Castanheiro d castanhas
Castanheiro d s uma
Para dar ao meu amor
Que ainda no comeu nenhuma.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA DE LUZ SALES, Idade: 79.
Localizao geogrfica: BEMPOSTA ORIGEM + 50 anos.
CANTILENA 1
Coradinha ol, ol
Coradinha ol, limo
D-me c esses teus braos
Amor do meu corao
Fala para mim sozinha
V l que ficas coradinha
Coradinha ol, ol
Coradinha ol, limo
D-me c esses teus braos
Amor do meu corao
CANTILENA 2
Para avante a caminho da nossa aldeia
Mostrando a nossa renda
A nossa fininha meia
Os nossos novos cales
Os nossos ps delicados
O nosso corpinho bem feito
Os homens so o diabo
Os homens so o diabo
Levados de Belzebu
Por causa de meio tosto
Metem .
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA ANICETA GONALVES, Idade: 86.
Localizao geogrfica: VILA FLOR ORIGEM + 60 anos.
CANTILENA 3
Pus o p na batateira
Fiz tremer o batatal
Passarinho repenica o canto
Vem cantar no meu quintal
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA ANICETA GONALVES, Idade: 86.
Localizao geogrfica: VILA FLOR ORIGEM + 60 anos.
CANTILENA 4
CANTILENA 5
Alargai-vos raparigas
Que o terreiro estreito
Quero dar umas voltinhas
Quero d-las ao meu jeito
CANTILENA 6
Ande roda, ande roda
Ao redor
Quanto mais a roda anda
Mais te quero meu amor
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA ALICE RODRIGUES, Idade: 81.
Localizao geogrfica: BRAGANA ORIGEM + 60 anos.
CANTIGA PASTORIL22
12. RECEITAS
FOLAR 1
Fermento
Farinha
Ovos
Pingo (gordura)
Azeite
Batem-se os ovos mais a farinha, depois aquece-se o azeite mais o pingo e
desfaz-se o fermento na gua quente, misturando-se tudo na farinha. Em
seguida amassa-se tudo deixando duas horas a descansar. Abre-se, ento, a
massa e mete-se a carne entre a massa, levando a cozer durante duas horas.
BOLO DE GUA:
3 colheres de batata desfeita
3 ovos
3 colheres de acar
3 colheres de gua
Farinha
Batem-se os ovos com o acar juntando-se, depois, a batata desfeita, a gua
e a farinha. De seguida leva-se ao forno para cozer durante alguns minutos.
RECOLHA 2005 SCMB, MARIA AMLIA MORAIS, Idade: 81.
Localizao geogrfica: SANTA COMBA DE ROSSAS ORIGEM + 50 anos.
FOLAR 2
Ingredientes:
5 quilos de farinha
5 Dzias de ovos
5 pacotes de manteiga
ECONMICOS
12 ovos
4 kg de farinha
1 l. de leite
1 kg de acar
l de gua ardente
1 pacote de soda
1 colher de fermento
1 pacote de manteiga
l de azeite
Bater os ovos com o acar, deitando-se os restantes ingredientes na mistura.
Ao se formar a massa que se divide em vrias pores que se vo levar ao
forno durante 10 minutos.
RECOLHA 2005 SCMB, TERESA GARCIA, Idade: 96.
Localizao geogrfica: MONTESINHO ORIGEM + 60 anos.
PADEIRINHA
O JOGO DA CANTARINHA
QUADRAS POPULARES
A MONDA DOS TRIGAIS
CANTIGA PASTORIL
GIRINALDO, GIRINALDO
GIRINALDO
NDICE
O mesmo romance, com algumas variantes, encontra-se em Leite de Vasconcelos, Opsculos, Vol. VII, p. 1070; P. Firmino Martins, Folclore de Vinhais, Vol. I, p. 149.
Por diversas recolhas que mandmos fazer, em anos diferentes, a alunos nossos, verificmos que este romance est quase a desaparecer. Confrontar este romance
com as seguintes verses: L. de Vasconcelos, op. cit. p. 1065; F. Pires de Lima, Romanceiro, p. 118; A. Garrett, Romanceiro, Vol II, p. 91; T. Braga, Romanceiro Geral, p. 1
e seguintes.
3
O P. Firmino Martins, no Vol. II p. 70, apresenta-a como Cantiga das Malhas. O informador, em vez de feira de Arago, diz l para os lados de Agrocho.
4
Vide P. Firmino Martins, op. cit, Vol. 11, p. 80.
5
Vide Leite de Vasconcelos. op. cit. p. 1050. Esta verso muito diferente. P. Firmino Martins, op. cit. Vol. I, p. 142; L. Corts Vasquez, Leyendas, p. 134.36; M. Manzano
Alonso, Cancionero Zamorano, p. 455.
Transcrio musical em Anexos.
6
Vide P. Firmino Martins, op. cit. Vol. I, p. 242; Abade de Baal, Memrias, Vol X, p. 581; L. de Vasconcelos, op. cit. p. 1061.
7
O antropnimo Ninho apresenta muitas variantes como Nilo, Aninho. Vide L. de Vasconcelos, op. cit. p. 970; P. Firmino Martins, op. cit., Vol. lI. p. 1 a 4; L. Corts
Vasquez, op. cit., p. 106.
8
Vide P. Firmino Martins, op. cit. Vol. l, p. 219, e Vol. li, p. 26; T. Braga, op. cit., p. 221, L. de Vasconcelos, op. cit. p. 1035.
9
Vide P. Firmino Martins, op. cit. V. I. p. 151; e V. li, p. 6; L. de Vasconcelos. op. cit, p. 984 e 1037.
10
Vide P. Firmino Martins, op. cit. Vol. li. p. 559; L. de Vasconcelos, op. cit. 989.
11
Vide L. de Vasconcelos, op. cit. p. 985-87; A. Garrett, op. cit, Vol. II, p. 195; P. Firmino Martins. op. cit. Vol. I, p. 182: e Vol. II, p. 22; T. Braga, op. cit. p. 201 e 204; F. Pires
de Lima, op. cit. 9.59; Lus Corts Vasquez, op. cit. p. 101-5; Antnio Mourinho, Cancioneiro. p. 161-5: M. Manzano Alonso, op. cit, 437-39: Damaso Ledesma, Cancionero
Salmantino. p. 165; Manuel Fernandes Nufiez, Folklore Leons, p. 93.
Ver a transcrio musical nos Anexos
12
A recolha no trazia qualquer ttulo. Trata-se do romance Valdevinos, incompleto. Verso trasmontana de D. Beltro (vide T. Braga. op. cit. 209); F. Pires de Lima, op. cit.
80; A. Garrett. op. cit. Vol. II. p. 271; P. Firmino Martins. op. cit. Vol. I. p. 182.
13
Vide P. Firmino Martins. op. cit. VoI. I. p. 222. Diferem muito estas duas verses.
14
Transcrio musical em ANEXOS.
15
- Ver a transcrio musical em ANEXOS.
16
Ver a transcrio musical.
17
Ver a transcrio musical.
18
- Ver a transcrio musical em ANEXOS.
19
Bota: vasilha de couro que usam para levar vinho para o trabalho.
20
- Ver a transcrio musical.
21
Ver a transcrio musical.
22
Vide P. Firmino Martins, op. cit., Vol. I, p. 142; L. Corts Vasquez, op. cit, p. 134.
Ver a transcrio musical nos ANEXOS.
1
2