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francisco ramalho capa.
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Francisco Ramalho Jr. ramos Apenas Paulistas francisco ramalho miolo.indd 1 6/10/2009 22:07:50 francisco ramalho miolo.indd 2 6/10/2009 22:07:50 Francisco Ramalho Jr. ramos Apenas Paulistas Celso Sabadin So Paulo, 2009 francisco ramalho miolo.indd 3 6/10/2009 22:07:50 Coleo Aplauso Coordenador Geral Rubens Ewald Filho Governador Jos Serra Imprensa Oficial do Estado de So Paulo Diretor-presidente Hubert Alqures francisco ramalho miolo.indd 4 6/10/2009 22:07:50 Apresentao Segundo o catalo Gaud, No se deve erguer monumentos aos artistas porque eles j o fize- ram com suas obras. De fato, muitos artistas so imortalizados e reverenciados diariamente por meio de suas obras eternas. Mas como reconhecer o trabalho de artistas ge niais de outrora, que para exercer seu ofcio muniram-se simplesmente de suas prprias emo- es, de seu prprio corpo? Como manter vivo o nome daqueles que se dedicaram mais voltil das artes, escrevendo, dirigindo e interpretan- do obras-primas, que tm a efmera durao de um ato? Mesmo artistas da TV ps-videoteipe seguem esquecidos, quando os registros de seu trabalho ou se perderam ou so muitas vezes inacessveis ao grande pblico. A Coleo Aplauso, de iniciativa da Imprensa Oficial, pretende resgatar um pouco da memria de figuras do Teatro, TV e Cinema que tiveram participao na histria recente do Pas, tanto dentro quanto fora de cena. Ao contar suas histrias pessoais, esses artistas do-nos a conhecer o meio em que vivia toda francisco ramalho miolo.indd 5 6/10/2009 22:07:50 uma classe que representa a conscincia crtica da sociedade. Suas histrias tratam do contexto social no qual estavam inseridos e seu inevit- vel reflexo na arte. Falam do seu engajamento poltico em pocas adversas livre expresso e as consequncias disso em suas prprias vidas e no destino da nao. Paralelamente, as histrias de seus familiares se en tre la am, quase que invariavelmente, saga dos milhares de imigrantes do comeo do sculo pas sado no Brasil, vindos das mais va- riadas origens. En fim, o mosaico formado pelos depoimentos com pe um quadro que reflete a identidade e a imagem nacional, bem como o processo poltico e cultural pelo qual passou o pas nas ltimas dcadas. Ao perpetuar a voz daqueles que j foram a pr- pria voz da sociedade, a Coleo Aplauso cumpre um dever de gratido a esses grandes smbo- los da cultura nacional. Publicar suas histrias e personagens, trazendo-os de volta cena, tambm cumpre funo social, pois garante a preservao de parte de uma memria artstica genuinamente brasileira, e constitui mais que justa homenagem queles que merecem ser aplaudidos de p. Jos Serra Governador do Estado de So Paulo francisco ramalho miolo.indd 6 6/10/2009 22:07:50 Coleo Aplauso O que lembro, tenho. Guimares Rosa A Coleo Aplauso, concebida pela Imprensa Ofi cial, visa resgatar a memria da cultura nacio nal, biografando atores, atrizes e diretores que compem a cena brasileira nas reas de cine ma, teatro e televiso. Foram selecionados escritores com largo currculo em jornalismo cultural para esse trabalho em que a histria cnica e audiovisual brasileiras vem sendo reconstituda de ma nei ra singular. Em entrevistas e encontros sucessivos estreita-se o contato en tre bigrafos e bio gra fados. Arquivos de documentos e imagens so pesquisados, e o universo que se recons- titui a partir do cotidiano e do fazer dessas personalidades permite reconstruir sua trajetria. A deciso sobre o depoimento de cada um na pri- meira pessoa mantm o aspecto de tradio oral dos relatos, tornando o texto coloquial, como se o biografado falasse diretamente ao leitor . Um aspecto importante da Coleo que os resul - ta dos obtidos ultrapassam simples registros bio- gr ficos, revelando ao leitor facetas que tambm caracterizam o artista e seu ofcio. Bi grafo e bio- gra fado se colocaram em reflexes que se esten- de ram sobre a formao intelectual e ideo l gica do artista, contex tua li zada na histria brasileira. francisco ramalho miolo.indd 7 6/10/2009 22:07:50 So inmeros os artistas a apontar o importante papel que tiveram os livros e a leitura em sua vida, deixando transparecer a firmeza do pen- samento crtico ou denunciando preconceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando nosso pas. Muitos mostraram a importncia para a sua formao terem atua do tanto no teatro quanto no cinema e na televiso, adquirindo, linguagens diferenciadas analisando-as com suas particularidades. Muitos ttulos exploram o universo ntimo e psicolgico do artista, revelando as circunstncias que o conduziram arte, como se abrigasse em si mesmo desde sempre, a complexidade dos personagens. So livros que, alm de atrair o grande pblico, inte ressaro igualmente aos estudiosos das artes cnicas, pois na Coleo Aplauso foi discutido o processo de criao que concerne ao teatro, ao cinema e televiso. Foram abordadas a construo dos personagens, a anlise, a histria, a importncia e a atua lidade de alguns deles. Tambm foram exami nados o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores, os processos e as possibilidades de correo de erros no exerccio do teatro e do cinema, a diferena entre esses veculos e a expresso de suas linguagens. Se algum fator especfico conduziu ao sucesso da Coleo Aplauso e merece ser destacado , francisco ramalho miolo.indd 8 6/10/2009 22:07:50 o interesse do leitor brasileiro em conhecer o percurso cultural de seu pas. Imprensa Oficial e sua equipe coube reunir um bom time de jornalistas, organizar com eficcia a pesquisa documental e iconogrfica e contar com a disposio e o empenho dos artistas, diretores, dramaturgos e roteiristas. Com a Coleo em curso, configurada e com identida- de consolidada, constatamos que os sorti lgios que envolvem palco, cenas, coxias, sets de filma- gem, textos, imagens e palavras conjugados, e todos esses seres especiais que neste universo transi tam, transmutam e vivem tambm nos tomaram e sensibilizaram. esse material cultural e de reflexo que pode ser agora compartilhado com os leitores de to do o Brasil. Hubert Alqures Diretor-presidente Imprensa Oficial do Estado de So Paulo francisco ramalho miolo.indd 9 6/10/2009 22:07:50 francisco ramalho miolo.indd 10 6/10/2009 22:07:50 Introduo O importante na vida fazer o que se gosta. Caso contrrio, acabaremos todos trabalhando. Conheo Ramalho h tanto tempo que tive de fazer um forte exerccio de memria para tentar me recordar de onde e como nos conhecemos. Sozinho, no consegui. Recorri ao prprio Rama- lho para finalmente me lembrar. Foi em 1979, num cursinho preparatrio para vestibulares chamado Universitrio. No sei se ele ainda existe, mas era um concorrente dos poderosos Objetivo e Anglo, numa poca em que este tipo de escola era muito procurado pela juventude ansiosa em entrar na faculdade. Na ocasio, Ramalho era professor de Fsica e eu era um dos redatores do jornalzinho interno do cursinho, que tinha o prosaico ttulo de A Noz Aberta. No me perguntem por qu. De qualquer forma, mesmo sem ainda nos conhecermos pessoalmente, esta situao nos colocava como colegas de trabalho. Aos 21 anos e apaixonado por Cinema, fiquei fascinado s em saber que um dos professores e scios do Universitrio era cineasta. Respaldado pela con- dio de colega, me aproximei de Ramalho, de alguma forma comeamos a travar uma amizade e claro a conversar muito sobre Cinema. 11 francisco ramalho miolo.indd 11 6/10/2009 22:07:50 No ano seguinte, j como redator, diagramador, proprietrio, reprter, editor e faxineiro do tabloide Em Cartaz (uma pequena publicao distribuda gratuita e heroicamente na porta de alguns cinemas paulistanos), entrevistei Ramalho sobre o lanamento de Paula, a Histria de uma Subversiva. Frequentei esporadicamente a sua produtora, a Oca, na Rua 13 de Maio. Continu- amos conversando sobre Cinema e mais tarde, sem nenhum motivo palpvel, nos distanciamos. Aquelas coisas tpicas da cidade grande, onde pessoas se acham e se perdem com a mesma facilidade. Nossos contatos ficaram restritos a alguns coquetis, pr-estreias, coletivas e outros eventos do mercado cinematogrfico. Um bom tempo depois, durante o Festival de Gramado, Rubens Ewald Filho me conta sobre o projeto da Coleo Aplauso e me convida para ser um dos redatores. Aceito imediatamente, j dizendo: O Ramalho meu! Seria uma tima oportunidade para um reencontro e uma rea- proximao. Como de fato foi. Este livro me proporcionou o imenso prazer de no somente me reencontrar e me reaproximar do antigo amigo professor cineasta como tam- bm o de passar horas ao seu lado, gravador em punho, bebendo de seu conhecimento e de sua generosidade. 12 francisco ramalho miolo.indd 12 6/10/2009 22:07:50 Pelo que sei, este volume foi um dos que mais tempo demoraram para ser escrito, em toda a Coleo Aplauso. Acredito que existam vrios motivos para isso. Um deles: no tive pressa. Dividir a mesa e o gravador com Ramalho no era, para mim, um trabalho jornalstico como tantos outros, repletos de limitaes de tempos e espaos. Pelo contrrio, era um momento mgico que deveria ser sorvido lentamente. Em outras oportunidades, Ramalho me pedia lon- gos tempos de ausncia para pensar, distanciar- -se um pouco de seu prprio passado, refletir ou simplesmente absorver o que ele estava prestes a tornar pblico por meio deste livro. Isso sem contar as vezes em que marcvamos a entrevista, nos encontrvamos, e passvamos quase todo o tempo falando dos novos filmes que haviam entrado em cartaz. O trabalho no andava, eu voltava para casa com poucos mi- nutos de fita gravada, mas em estado de graa. Afinal, como dizia Rossellini, o importante na vida fazer o que se gosta. Caso contrrio, acabaremos todos trabalhando. Todo este tempo, que os editores podem chamar de atraso, mas que eu prefiro classificar como de maturao, acabou desembocando numa feliz efemride. O livro ramos Apenas Paulistas vem a pblico em 2009, exatos 30 anos depois do 13 francisco ramalho miolo.indd 13 6/10/2009 22:07:50 meu primeiro contato com Ramalho. E mais: foi nesse mesmo ano de 1979, no mesmo jornal do Cursinho Universitrio, que eu publiquei minha primeira crtica cinematogrfica remunerada, dando incio assim minha carreira. Alguns podem chamar tudo isso de conjuno de astros. Outros, de mera coincidncia. No importa. Eu chamo de Celebrao da Vida. Celso Sabadin 14 francisco ramalho miolo.indd 14 6/10/2009 22:07:50 Captulo I ramos Apenas Paulistas Confesso que no foi difcil me descobrir como cineasta. Na verdade, acredito que tudo foi uma sucesso muito feliz de eventos que me levaram a essa profisso. Eu era um jovem pobre, de classe mdia baixs- sima, morando na cidade de Pirassununga, in- terior de So Paulo. Morei tambm em So Jos do Rio Preto, Votuporanga, mas a maior parte do tempo, o perodo escolar at o colegial, em Pirassununga. Abandonado pelo pai, ltimo de cinco filhos, todos professores, que mantinham a casa no diria em situao de penria, mas com gastos extremamente controlados. Eu tinha pouco acesso informao. Nessa poca os veculos fundamentais eram o rdio e o jornal, este muito caro. No tnhamos rdio em casa. Lembro-me de comprar jornal apenas em even- tuais oportunidades. E sempre O Estado de S.Paulo. Recordo-me bem das colunas de cinema do Rubem Bifora, que fazia as fichas tcnicas de todos os filmes lanados nos cinemas de So Paulo. Eu gostava muito de ver tambm os anncios de cinema na ltima pgina. E aquelas 15 francisco ramalho miolo.indd 15 6/10/2009 22:07:50 indicaes que eu lia, frase por frase, e nem sabia o que significavam todos aqueles dados. Eu j tinha interesse pelo cinema, sem saber sequer de onde este interesse vinha. Mais ou menos aos 10 ou 11 anos, em Pirassunun- ga, eu fazia um cineminha para os amigos, onde copiava tiras de histrias em quadrinhos, ou desenhava originais em papel-celofane, colado com sabo. Da precisava projetar. J tinha visto projetores de 8mm em casas de famlias ricas, mas eu mesmo acabei inventando uma espcie de retroprojetor rudimentar. Era uma caixa de sapatos com uma lmpada comum, presa e sus- pensa com uma arruela de cortina. Enrolava a tira desenhada em dois lpis, de ponta-cabea (imagem invertida) e pronto! Estava inventado o meu projetor. Eu descobri que uma lmpada comum poderia virar uma lente, se colocasse gua dentro, depois de retirar com cuidado o fi- lamento. Fui a um serralheiro para ele pegar uma lmpada grande e fazer o servio. Pela carretilha de dois lpis passava o material que eu filmava, desenhava tambm um cartozinho, e tudo era projetado na parede. O ingresso cobrado dos colegas era palito de fsforo. Era uma sesso por semana ou a cada quinze dias, dependia da minha capacidade de produzir os filmes, que na verdade eram desenhados em papel. s vezes a 16 francisco ramalho miolo.indd 16 6/10/2009 22:07:50 gente tambm usava o papel-celofane para fa- zer papagaios, pipas. Ali, de forma inexplicvel, nascia o meu interesse em fazer e conhecer ci- nema. J projetava e narrava os filmes. Produzia e exibia, dois passos do processo industrial do cinema. Evidentemente, o terceiro componente, o distribuidor, no era necessrio. Nessa poca, dcada de 1950, eu frequentava a sala de cinema aos domingos, e uma ou outra vez na semana. Mas tinha o interesse de ver filmes de diretores especficos. Em procurava ver os filmes ingleses da Rank, cuja vinheta de abertura era um sujeito grande, me parece que um escravo, batendo num gongo enorme. Lembro-me que eles eram considerados bons filmes. O interesse pelo tema surgia do nada, no havia ningum na famlia para indicar, morava numa cidade que s passava filmes normais ligados a uma nica cadeia de exibio. Em determinado perodo a cidade teve duas salas, e at trs, sendo que esta terceira funcionava na estao de rdio, apro- veitando seu auditrio. Suponho que passassem filmes em 16mm. Em alguns dias da semana eram trs sesses, mas esta sala de cinema no deu certo. Restaram a sala na praa principal e a outra, a uma quadra de distncia. Teatro, ento, era uma coisa rarssima. E s pisei num teatro uma nica vez, no cinema da minha 17 francisco ramalho miolo.indd 17 6/10/2009 22:07:50 cidade, para ver Pega-fogo, com Walmor Chagas e Cacilda Becker, com quem eu vim a trabalhar anos depois. Tinha somente eu e umas dez pes- soas para ver a pea, num domingo noite. E para piorar tinha uma banda tocando na praa, o que impedia o elenco de representar direito. Foi muito triste. 18 francisco ramalho miolo.indd 18 6/10/2009 22:07:50 Captulo II Os Loucos Anos da Politcnica Ao vir para So Paulo em definitivo, pois era eu o ltimo dos filhos e vivia apenas com minha me no interior, desfizemo-nos de nossa casa em Pirassununga. Ela foi morar com minha irm, Maria do Carmo, em Santo Andr, passei um ano fazendo o terceiro colegial e um cursinho preparatrio ao vestibular morando em casa de outra irm, a Neguinha (Maria Aparecida, falecida, como esto falecidos Vera, a irm mais velha, e meu nico irmo, Afonso Celso, apeli- dado Ded). J no interior, quando cheguei ao primeiro ano colegial, descobri intenso amor pela Cincia, em especial Fsica. De forma au- todidata, a estudei at repor toda a Matemtica que eu no tinha aprendido at ento, para poder me dedicar a Fsica. Outra razo para a mudana do interior para So Paulo foi tentar passar no vestibular de Engenharia, porque tinha descoberto que neste curso se estudava Fsica. Quanta ignorncia! Eu nem sabia que tinha uma faculdade, a de Filo- sofia, onde realmente se estudava Fsica. Ento, vim para a Capital, passei no vestibular, tive a felicidade de entrar na Escola Politcnica da USP, 19 francisco ramalho miolo.indd 19 6/10/2009 22:07:50 onde morei numa repblica chamada A Casa do Politcnico, ao lado da prpria Poli, ali na Rua Afonso Pena, perto do parque da Luz (a chamada Poli Velha, pois depois a Politcnica foi para a Cidade Universitria). Optei por estudar Enge- nharia Eletrnica, que era o curso com maior carga de Fsica na grade curricular de Engenha- ria, mais que o prprio curso Eletrotcnico, outro ramo ligado Eletricidade. Em geral, os cursos tm dois anos fundamentais com uma boa base de Matemtica, Clculo Integral e Diferencial, e Fsica. A partir do terceiro ano, em alguns casos no segundo, j comeava a alta especializao. Na Engenharia Eletrnica ainda tinha mais um terceiro ano de Fsica e Matemtica avanada. Nesse perodo eu passo a trabalhar no grmio dos estudantes, mais especificamente na Revista Politcnica (como editor), no Jornal do Politc- nico (como redator-chefe) e no centro cultural da Poli, onde comecei a promover atividades cinematogrficas como ciclos de faroeste, neor- realismo, e vrios outros. Ainda me recordo que matava aula na Poli para ir a uma distribuidora, a Polifilmes, com escritrios prxima faculdade, para pegar al- guns filmes em 16mm e projet-los noite. Eu costumava chegar muito cedo, aguardava abrir a distribuidora e s vezes tinha at de esperar a 20 francisco ramalho miolo.indd 20 6/10/2009 22:07:50 reviso do filme que acabara de chegar de uma locao. Depois, durante o dia, me trancava no meu quarto na Casa do Politcnico e projetava o filme s para mim um monte de vezes para poder memoriz-lo. A tarefa de memorizao e reviso de cenas de um filme atividade constante em minha vida. Ainda os assistia mais uma vez na sesso noturna, pois eu mesmo era o projecionis- ta e promovia debates com os colegas e pessoas que vinham de fora, pois conseguamos divulgar no jornal O Estado de S.Paulo os ciclos de cinema que fazamos. Ali desenvolvamos um tipo de atividade cinematogrfica que chamou a aten- o da Cinemateca Brasileira, que me convidou a trabalhar com eles. Nesse momento, o Curso de Engenharia j estava indo para baixo do tapete. Fiz os cinco anos sem me formar, de 1959 a 1963. Durante o perodo de Politcnica, para obter renda, eu ganhava uma porcentagem dos anncios que vendia na revista e no jornal da Poli. O Grmio Politcnico tinha um cursinho, onde eu tra- balhei como supervisor de provas e dei aulas. Aproveitava todas as oportunidades que apare- ciam. Fui dar aula de Fsica em Santos, que era um assunto que conhecia e acima de tudo gos- tava. Anos mais tarde, mesmo tendo feito meu primeiro longa-metragem, em momentos muito 21 francisco ramalho miolo.indd 21 6/10/2009 22:07:50 difceis, dei aula em um curso preparatrio ao vestibular, o Curso Universitrio. Eram aulas muito criativas, porque meu conhecimento era muito original. Virei scio do Curso Universi- trio e convivi com pessoas de extraordinria boa ndole e ticos como o Jos Armando de Macedo (que publicou recentemente um belo livro de contos, e ele e sua esposa, Neusa, foram segundos pais para minhas filhas entre tantos segundos pais que tiveram quando me separei da me delas), o Sydnei Cavalante (que fora du- rante anos meu companheiro de quarto na Casa do Politcnico), o Scolfaro, o Aldo, o Idelfonso, o Lapa, o Gerson, o Covre, o Mrio Srgio, tan- tas pessoas geniais como os arquitetos artistas Baravelli, Fajardo e Benetazzo. Ao notar que meu conhecimento da Fsica era original por eu ter sido autodidata, e sabendo que voltaria logo para a atividade cinematogr- fica, escrevi um livro para alunos do colegial, Os Fundamentos da Fsica (Editora Moderna), em parceria com dois colegas, Paulo Antnio de Toledo e Nicolau Gilberto Ferraro. Tristemente, Toledo morreu em 2008. O livro at hoje um best seller na rea do ensino. Na poca eu era casado com a Mary Enice Ramalho de Mendona, j falecida, que era professora da USP, com quem tive duas filhas, Andria e Arina. Quando nos 22 francisco ramalho miolo.indd 22 6/10/2009 22:07:50 separamos, Mary Enice teve uma atitude muito digna (fato que ela sempre foi) e no pediu nenhuma penso. Ento os direitos autorais do livro ficaram para a educao e de propriedade da Andria e Arina. Andria fez vrios cursos superiores, Jornalismo e Psicologia, mas trabalha em cinema comigo. Arina se formou em Psico- logia e exerce a profisso. Quanto aos Funda- mentos da Fsica, o livro, eu nunca fui capaz de fazer suas sucessivas revises, j que abandonei a vida acadmica, mas meus colegas Toledo e Nicolau que so de uma generosidade infinita o revisam de tempos em tempos, conversam co- migo um pouco, mas nunca diminuram a minha porcentagem na obra. Ou seja, a porcentagem das minhas filhas. A obra j ganhou at uma edio eletrnica. Dentro da Politcnica, havia um pequeno grupo de quatro pessoas muito interessado em cine- ma, e trs de ns permaneceram nesta rea: Clvis Bueno, Joo Baptista de Andrade e eu. O quarto membro era Jos Amrico Viana, vulgo Batatais, o nico que continuou na Engenharia e mudou-se para Salvador. Foi e um grande amigo. Para fazer cinema, fundamos o que chamamos de Grupo de Produo Quatro, uma espcie de produtora cinematogrfica (assim sonhvamos) copiando o logo exatamente igual ao da apre- 23 francisco ramalho miolo.indd 23 6/10/2009 22:07:50 sentao do grupo Kadr, a produtora polonesa gerenciada pelo cineasta Andrej Wajda, de quem conhecamos a obra completa. Ns ramos muito influenciados pelo cinema polons, vimos um ciclo muito completo na Bienal, tanto que eu pensei at em estudar cinema na Polnia. Corri atrs desse sonho e cheguei a conseguir uma bolsa de estudos na escola de cinema de Lodz, na Polnia, mas na hora H eu mudei de ideia. Pensei comigo mesmo: eu vou estudar num pas onde o Cinema bastante desenvolvido e com uma cinematografia bancada pelo governo, pas- so alguns anos l, e volto para o Brasil, que nem possui cmeras suficientes? Melhor eu aprender por aqui mesmo. No tapa, autodidaticamente, e prossegui estudando por mim, fato que at hoje continuo a fazer na profisso. Assim, fiquei no Brasil, em So Paulo. De qualquer maneira, os anos de Poli me tor- naram um Homem. Digo isso porque havia no cotidiano da faculdade uma atividade to inten- sa extraengenharia que nos abria a cabea de forma fantstica. Para mim, este o verdadeiro conceito de universidade. Ns tnhamos aula no perodo integral, mas entre meio-dia e duas da tarde no grmio sempre existia uma atividade, geralmente palestras. Muitas delas comeavam ao meio-dia e meia e nos deixavam somente 30 24 francisco ramalho miolo.indd 24 6/10/2009 22:07:50 minutos para almoar. Vi palestras de pessoas como Fernando Sabino, sobre literatura, de quem eu ouvi meus primeiros conceitos sobre criao literria e desenvolvimento de personagens. Ele falava da criao de personagens (de seu romance O Encontro Marcado) e at hoje sigo muitos de seus exemplos. E tambm de Ulisses, de James Joyce, um livro muito difcil que eu tentei ler e no consegui. Naquela poca ainda no havia a traduo em portugus, e eu tentei l-lo numa verso em espanhol, que para mim era mais fcil que o ingls. Eu nunca estudei nenhuma das ln- guas, a no ser de forma autodidata, e no colgio, no ginsio, que eram pblicos, mas de bom nvel, mesmo no interior. Tanto que quando eu vim para a Capital, fiz um cursinho e entrei na Politcnica. Eu estudava muito, me empenhava demais. No ano de cursinho eu fui ao cinema apenas cinco ou seis vezes, seja por falta de dinheiro ou de tempo. At hoje eu me recordo de ter visto naquela poca o Glria Feita de Sangue, do Stanley Kubrick. A Politcnica realmente proporcionava um riqus- simo contato com as mais diversas personalidades da cultura brasileira. O grmio organizava bate- papos e debates com Manuel Bandeira sobre poesia; Francisco Julio sobre ligas camponesas; Vincius de Morais, Marcel Camus e a atriz Mar- pessa Dawn sobre Orfeu Negro e assim por diante. 25 francisco ramalho miolo.indd 25 6/10/2009 22:07:50 Eu me lembro inclusive que no dia do debate o Vincius ficou muito emocionado. O anfiteatro es- tava lotado com uns 200 alunos, gente caindo do teto e pelas paredes, todos perguntando coisas, ele era o foco de ateno, muito mais do que o Camus, e todo mundo estava babando pela Mar- pessa Dawn, uma moa escultural, monumental de bela. No dia seguinte publicado no ltima Hora, o jornal mais lido na poca, o poema Orao aos Politcnicos, que o Vinicius deve ter escrito aquela noite mesmo. Acho que a edio esgotou s com a venda de jornais para os politcnicos. O poema foi um presente do Vinicius para ns, que mostrava a alegria dele com aquele encontro. Outra oportunidade que a Politcnica nos deu, como estudantes de Engenharia, foi trabalhar com Jornalismo. Eu cheguei a imprimir o Jornal da Poli dentro do Correio da Manh, j que precisvamos fazer um jornal com linotipagem. Eu era o redator-chefe e o Jos Amrico, um dos colegas de cinema, era o diretor. Na Revista, in- vertamos os cargos, mas no fundo ramos todos ns juntos fazendo aquelas edies. Antes de assumirmos a direo do Jornal da Politcnica, ele era publicado em papel-cuch e s falava de assuntos da Politcnica. Enfrentando a ira de muitos colegas, decidimos fazer um jornal mais combativo, com assuntos mais amplos e 26 francisco ramalho miolo.indd 26 6/10/2009 22:07:51 que seria impresso em papel-jornal. Eu me lem- bro de ter visto alguns nmeros do Le Monde e comecei a fazer a diagramao do novo jornal mais moderna, criando colunas com mais espaos em branco, linhas dgua em traos verticais, antecipando um tipo de diagramao que anos depois surgiria no Jornal da Tarde, em So Paulo. Ficou bem interessante. A Politcnica tambm tinha acordos que pos- sibilitavam aos alunos ir ao teatro com mais frequncia. Naquela poca, eu ia aos teatros no bairro da Bela Vista para ver Srgio Cardoso e Nydia Licia atuarem. Gostava de ir ao TBC, e ainda presenciei o Arena e o Oficina. Passei tambm a frequentar as bienais de arte, que inclusive faziam ciclos de cinema. Foi por esses ciclos da bienal que tomei contato com grande parte da obra russa e com mais de 40 longas poloneses, inclusive os curtas dos alunos da Escola de Lodz. Eu me lembro que foi numa oportunidade destas que assisti ao curta Dois Homens e um Armrio, do Polanski. Acompanhei tambm mostras de cinema checo, japons, francs... Naquele momento comeavam a passar em So Paulo os filmes da Nouvelle Vague. No Cine Jus- sara houve a projeo de sete longas franceses, 27 francisco ramalho miolo.indd 27 6/10/2009 22:07:51 pelo que me recordo, entre eles estavam Os Amantes, Os Incompreendidos, Ascensor para o Cadafalso, Os Primos e Hiroshima Meu Amor. O Acossado seria lanado mais tarde num cine- ma no meio da Boca do Lixo, o cine urea. No cine Jussara, que ficava ao lado do Olido, numa rua perpendicular Av. So Joo, a Dom Jos de Barros, passavam apenas filmes franceses e pelculas que, quase sempre, tinham censura de 18 anos. Eu e a minha turma corramos para assisti-los porque eram uns filmes policiais bem estranhos que de repente, do nada, mostravam uma cena de strip tease e a garotada adorava tudo aquilo. Naquela poca, quem tinha 18 anos ainda era um moleque impbere. Ns assistimos quele ciclo da Nouvelle Vague tendo em mos as resenhas do Suplemento Li- terrio do jornal O Estado de S.Paulo, em que escreviam Almeida Salles (o eterno Presidente da Cinemateca Brasileira), Dcio de Almeida Prado e Paulo Emilio Salles Gomes com um elevado nvel de crtica, respeitando o leitor, um fato que ficou raro, j que atualmente h crticos que se consideram acima de seu pblico e esto sempre proclamando uma lio. Ou h aqueles que desejam que o filme seja outro, e ficam fazendo proposies sobre o que no existe, se o ator fosse outro, ou o roteiro no fosse como 28 francisco ramalho miolo.indd 28 6/10/2009 22:07:51 est filmado, etc, analisando o que no existe em lugar de se ater ao filme em anlise. Eu e os amigos da Poli ficvamos de queixo cado com a criatividade da Nouvelle Vague, e vimos na Bienal os curtas-metragens daqueles mesmos cineastas, como por exemplo uma bobagem do Godard sobre um casal discutindo a respeito de uma escova de dentes. Diferente do nvel de Les Mistons, do Truffaut, que j era um filme mais elaborado e para mim a origem de Os In- compreendidos, e tambm a obra do Resnais, que j vinha fazendo um trabalho de alto nvel com filmes de mdia-metragem com Toute la Mmoire du Monde (sobre a biblioteca francesa) e Nuit et Broillard, sobre os desastres da guerra e os campos de concentrao, ambos com uma narrativa construda com sucessivos travellings e narrao em off, estilo que viria a estar presente em alguns de seus filmes seguintes (Hiroshima Meu Amor, La Guerre est Finie). Ao ver estes filmes, ns na onipotncia de po- litcnicos, pensamos que se esses caras fizeram esses curtas e da fizeram aqueles longas (aqueles que vimos no cine Jussara), ns tambm pode- mos fazer a mesma coisa. Realmente a faculdade nos deu esse pensamento onipotente. Foi quan- do decidimos: Vamos fazer cinema. 29 francisco ramalho miolo.indd 29 6/10/2009 22:07:51 francisco ramalho miolo.indd 30 6/10/2009 22:07:51 Captulo III Incio de Carreira: Sou Expulso da Sala de um Exibidor A Politcnica de fato favoreceu o surgimento de uma gerao muito diferente, inusitada. E creio que at hoje ela conserva as caractersticas de formar um engenheiro de cabea aberta. A faculdade formou muita gente com mltiplos interesses. ramos to pobres que nunca tnha- mos tido cmera fotogrfica, mas mesmo assim lamos livros tcnicos de fotografia. Na base da teimosia, conseguimos uma cmera de 8mm, muito simples, e tentamos filmar alguma coisa, mas no saiu nada, no tinha foco, luz; enfim, no podia dar outro resultado. Afinal, nem sabamos operar o equipamento. Estudamos um pouco mais, um amigo nos emprestou uma cmera um pouco melhor, tambm de 8mm, e da fizemos um curta-metragem, Menina Moa, uma historinha de amor que demorou meses para ser rodada, j que sempre filmvamos aos finais de semana. A atriz era uma amiga da minha namorada, a Mary, que depois veio a ser minha esposa e ex-mulher, enquanto um amigo, Antnio Benetazzo, foi o ator. O Ben, como ficou conhecido, foi tambm professor no Curso Universitrio, veio a ser posteriormente diretor 31 francisco ramalho miolo.indd 31 6/10/2009 22:07:51 de arte em filmes meus, no Anuska Manequim e Mulher, junto com o Clvis Bueno. Ben era estudante da FAU - Faculdade de Ar- quitetura e Urbanismo se tornou terrorista nos anos de chumbo e foi morto, segundo testemu- nhas, em outubro de 1972, no DOI-CODI de So Paulo. O meu filme Paula A Histria de uma Subversiva dedicado a ele. Eu tive problemas polticos graves, um dos quais por t-lo acoberta- do, e que foi a razo de uma das minhas prises polticas contra a ditadura. Um pouco mais tarde, ingressei na Cinemateca Brasileira, onde pude ler livros de cinema e ver filmes. Minha sala ficava em frente sala do Pau- lo Emlio Salles Gomes, o maior crtico de cinema de minha gerao e um defensor entusiasta do cinema brasileiro. Evidentemente, passava mais tempo na sala dele, sorvendo conhecimentos, aprendendo a ver e a sentir, me alimentando de sua cultura e sabedoria, que me transmitia informalmente e com gosto pelo que amava. Logo consegui investimentos para a produo de filmes em carter mais profissional, meu objetivo princi- pal. Fiz um filme em 35mm; era a primeira vez que trabalhava nessa bitola e numa moviola, mesa de edio com material de imagem em 32 francisco ramalho miolo.indd 32 6/10/2009 22:07:51 cpia chamado copio e som transcrito em fitas magnticas perfuradas para correr paralelamen- te com a imagem do filme em cpia. O filme era uma edio de trechos de outros filmes de cangao para um curso ministrado na USP pelo Paulo Emlio e outros professores, e para o qual tive que ir atrs das permisses de direitos junto a produtores e distribuidores (meus primeiros contatos com eles). Pude editar com um monta- dor profissional que iria trabalhar comigo outras vezes, Silvio Renoldi. Meu primeiro projeto pessoal como diretor foi um documentrio em 16mm financiado pelo CPC Centro Popular de Cultura - que era uma entidade poltica ligada s Unies Nacionais e Estaduais de Estudantes. Era um filme sobre as pessoas que vivem no lixo, em So Paulo. Ele estava em produo quando ocorreu o golpe de 1964, e nunca foi finalizado. At hoje no sei onde esto seus negativos em 16mm. Depois fiz meu primeiro curta-metragem documentrio, tambm em 16mm, Mal de Chagas, que nos obrigou a mover montanhas para montar a produo. O Instituto de Estudos Brasileiros, que dentro da USP, era dirigido poca pelo Prof. Jos Aderal- do Castelo, e que fora o criador do curso sobre cangao que gerou aquele filme anterior, bancou os negativos e laboratrios, e a Reitoria nos em- 33 francisco ramalho miolo.indd 33 6/10/2009 22:07:51 prestou a cmera 16mm e refletores. Foi na USP que conheci o responsvel pelo equipamento de cinema da Reitoria (isso existia na poca), Antonio Plo Galante, que se transformaria em grande produtor, produzindo inclusive trs filmes meus. Tinha ainda um gravador muito estranho, mas que dava para fazer um som guia. Como o filme tinha uma funo poltica, ns nos associamos a uma entidade estudantil, a Liga de Combate Molstia de Chagas, que era uma organizao ligada ao Centro Acadmico da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto. Esta Liga, alm de combater efetivamente a doena, tinha tambm uma atividade poltica, e por causa dessa ligao o filme foi rodado na rea de Ribeiro Preto. O mdia-metragem me permitiu trabalhar com o fotgrafo Waldemar Lima, que veio a fazer a fotografia do meu primeiro longa. Waldemar, que j tinha fotografado Deus e o Diabo na Terra do Sol, foi um companheiro valioso, me ensinou vrios elementos bsicos da direo, como, por exemplo, falsear posies de personagens e ob- jetos em cena. E na produo tambm estavam Joo Baptista de Andrade e Clvis Bueno, ambos ex-politcnicos, alm de Sidnei Paiva Lopes, de So Paulo, mas que estudara cinema em Braslia, e Joo Silvrio Trevisan, que fez posteriormente um filme do chamado Cinema Marginal, e hoje 34 francisco ramalho miolo.indd 34 6/10/2009 22:07:51 um grande escritor e se dedica literatura. Enfim, ramos um conjunto de cineastas inician- tes que formaramos uma produtora a Tecla Produes Cinematogrficas e logo depois integramos uma Distribuidora, a RPI, Reunio de Produtores Independentes, que iria distribuir o meu primeiro longa-metragem. Integravam a RPI Luiz Srgio Person com Glauco Mirko Laurelli, um editor, que assim como o Person tinha estu- dado cinema na Itlia, no Centro Experimental de Cinema, na Cinecitt, em Roma, para onde Rossellini iria trabalhar e se dedicar televiso. Person e Glauco, retornando ao Brasil, formaram a produtora deles, a Lauper Filmes. Completava a RPI o cineasta carioca Iber Cavalcanti. Chega finalmente o to emblemtico ano de 1968, e com ele a realizao do meu primeiro longa-metragem, Anuska Manequim e Mulher. Naquela poca, iniciava-se em So Paulo uma certa atividade poltica no meio cinematogrfico (ainda que de forma embrionria) que acabou gerando a fundao da APAF, a Associao Pau- lista de Autores de Filmes, entidade que pode ser considerada o embrio da ABD e da APACI, que viriam depois. Faziam parte da APAF Lus Srgio Person, Maurice Capovilla, Joo Baptista de An- drade, Roberto Santos e eu, entre outros. Comea a se esboar uma espcie de quem quem tanto 35 francisco ramalho miolo.indd 35 6/10/2009 22:07:51 no cinema brasileiro como no paulista. Naquele momento o cinema brasileiro estava dividido em duas partes: do Rio para cima, incluindo os cineastas baianos; e do Rio para baixo, onde pra- ticamente s havia os paulistas, ainda um pouco chamuscados pela experincia da Vera Cruz. A Vera Cruz tivera sua existncia na dcada dos 50 fazendo filmes de alta qualidade industrial. Vieram ao Brasil inmeros tcnicos estrangeiros que prepararam mo de obra local e que aca- baram se afirmando posteriormente no cinema publicitrio paulistano. A empresa ficou com a marca cinema de qualidade e seus filmes eram assim respeitados e com enorme fora popular, gerando ciclos como o do cangao ou da com- dia leve, do qual nasceu o cmico Mazzaropi. Nelson Pereira dos Santos, paulista, havia ido para o Rio, e entre os mais talentosos sobrou atuando conosco Roberto Santos, que era tam- bm o mais experiente. Lembro-me de ter ficado durante horas e horas, dias e dias, meses, senta- dinho, quietinho, vendo Silvio Renoldi montar A Hora e a Vez de Augusto Matraga, com o Rober- to Santos numa moviola. Eu no dava palpite; ficava olhando e aprendendo; foi um grande aprendizado e incio de uma amizade com muito respeito com o Roberto. No Rio, o Cinema Novo j nascia com fora inovadora e talento. 36 francisco ramalho miolo.indd 36 6/10/2009 22:07:51 Tendo o Roberto como o grande mentor, este grupo de jovens cineastas paulistas teve acesso ao livro Depois do Sol, de Igncio de Loyola Brando, que alm de escritor trabalhava como jornalista na revista Cludia, na qual o diretor-geral era o Thomas Souto Correia. Thomas era e sempre foi um homem de bem. Uma pessoa de um talento infinito que foi um dos pilares da fundao da Editora Abril. Todas as minhas relaes com o Thomas foram sempre a favor da vida, e ele foi um impulsionador de meu filme inicial, alm de coprodutor. Pois bem, cada um destes cineastas escolheu um conto do livro Depois do Sol, com a inteno de adapt-lo para o cinema. Eu acabei ficando com o conto Ascenso ao Mundo de Anuska, que falava sobre o universo da moda, pelo qual particularmente nunca tivera interesse especfico. Mas me interessei, sim, pela forma pela qual aquele conto vislumbrava o fracasso de certas pessoas que almejavam determinadas coisas, mas que no conseguiam. Ele narrava a histria de um jornalista que quer ser escritor e se envolve com uma modelo, corroendo-se pelos cimes. O prprio Loyola conseguiu de- senvolver uma carreira de escritor paralela de jornalista, e no h como negar que trabalhar na Cludia o colocou em sintonia com o mundo da moda, dos hbitos, do comportamento, e que o conto tinha muito a ver com ele mesmo. 37 francisco ramalho miolo.indd 37 6/10/2009 22:07:51 De qualquer maneira, de todos os contos do livro, apenas o meu vingou. Roberto Santos e Person no conseguiram transformar os contos escolhidos em filmes, e com o passar dos anos desistiram daquele projeto. Para transformar o conto Ascenso ao Mundo de Anuska no fil- me Anuska Manequim e Mulher eu tive uma assessoria fantstica do Thomas Souto Correa, que por ser muito bem relacionado no mundo da moda conseguiu figurinos belssimos para o filme. Tanto que em determinado momento da produo eu cheguei a cogitar em rod-lo em cores, mas isso inviabilizaria o oramento, pois alteraria demasiadamente os custos de negativo, processamento e copiagem. Levantamos os recursos para a produo com um emprstimo no Banco da Nao, que no existe mais, e onde o Thomas Farkas carinhosamente foi o avalista daquele bando de moleques. Fi- zemos parcerias com vrios fornecedores que nos cederam cmeras e equipamentos. Porm, mais do que a prpria produo do filme em si, importante mesmo foi a unio do grupo em torno de uma distribuidora. Vale aqui dar uma breve panormica de como era o mercado cinematogrfico naquela poca. Do finalzinho dos anos 60 at quase o final dos 80, os circuitos de exibio eram todos brasileiros, di- 38 francisco ramalho miolo.indd 38 6/10/2009 22:07:51 vididos no que chamvamos de territrios, termo ainda usado atualmente para designar pases ou conjuntos de pases de atuao de determinada distribuidora. Em So Paulo, por exemplo, havia distribuidoras e tambm exibidores com grandes conjuntos de salas de cinema, entre outras, a Hawa e a Empresa Sul Cinematogrfica. No Rio, os grupos Serrador e Severiano Ribeiro, alm da Art Filmes. O Severiano Ribeiro foi e ainda o mais importante exibidor nacional. Havia um grande grupo baseado em Botucatu com mui- tas salas no Estado de So Paulo e do Paran, o Pedutti. Uma distribuidora importantssima de filmes nacionais e tambm produtora, mas sem salas de exibio, era a Cinedistri, em So Paulo, de propriedade do Osvaldo Massaini. Seu filho, Anbal, prossegue na profisso de cineasta, produtor e diretor. Foi nesse momento, mais precisamente em 1969, que eu, Joo Baptista, Sidnei Paiva Lopes, Person e Glauco abrimos a RPI, uma espcie de resposta paulista ao que j estava acontecendo no Rio de Janeiro, pois ficramos de fora do grupo e da distribuidora que veio a ser conhecida como Difilmes. Grupos cariocas haviam se unido em torno da RFF, uma distribuidora de Roberto Farias e seus irmos, e em torno dela nasceria outra distribuidora, a Difilmes. 39 francisco ramalho miolo.indd 39 6/10/2009 22:07:51 francisco ramalho miolo.indd 40 6/10/2009 22:07:52 Marlia Branco em Anuska francisco ramalho miolo.indd 41 6/10/2009 22:07:52 Marlia Branco em Anuska Marlia Branco e Francisco Cuoco em Anuska francisco ramalho miolo.indd 42 6/10/2009 22:07:54 francisco ramalho miolo.indd 43 6/10/2009 22:07:54 Vrios cineastas cariocas da linha do Cinema Novo e de outras linhas que entenderam ser do Cinema Novo se agruparam em torno da Difilmes, e conseguiram o apoio do Banco Nacional para produo e distribuio de filmes. O banco se tor- na um grande financiador do cinema brasileiro, e a Difilmes se transforma no embrio daquilo que viria a ser a Embrafilme. Em funo da adminis- trao desenvolvimentista do ento presidente Juscelino Kubitschek, nascem ao lado disso os chamados Grupos Executivos, entre eles o Grupo Executivo da Indstria Cinematogrfica, que veio dar origem ao Concine Conselho Nacional de Cinema rgo legislador por excelncia. Nos anos 70, inicia-se o processo pesado da ditadura brasileira, o que significa a ingerncia incisiva do Estado em todas as atividades da na- o, inclusive no cinema. Assim, o Concine passa a determinar cotas mnimas de exibio de filmes brasileiros, punidas com o fechamento puro e simples das salas, caso no fossem cumpridas. E quem eram os responsveis pelo cumprimento da lei e pelo fechamento das salas de exibio? As Delegacias de Polcia de cada cidade onde houvesse um cinema. Ou seja, naquela poca o cinema virou um verdadeiro caso de polcia. Isso d um avano grande exibio do cinema brasileiro, fortalece a Difilmes, no Rio de Janeiro, 44 francisco ramalho miolo.indd 44 6/10/2009 22:07:55 e proporciona o nascimento de um novo mode- lo de cinema no Brasil. E como seria este novo modelo? Ao colocar um filme em distribuio, os exibidores comeavam a investir na pelcula, pois como exibidores e tambm distribuidores teriam que cumprir a cota de tela nacional obri- gatria, e desse modo passam a ser coprodutores de filmes nacionais, para com esses filmes em suas distribuidoras preencheriam as cotas de telas em seus prprios cinemas e em cinemas de outros circuitos. Porm nossa distribuidora, a RPI, entrou em dificuldades por ser pequena e sem recursos, tendo apenas filmes de nossa produo, sem contar com associao e capital dos exibidores e suas distribuidoras. Mesmo assim, por meio da Tecla, Joo Baptista de Andrade faz dois projetos Gamal O Delrio do Sexo e Em Cada Corao um Punhal muito atropeladamente, que no conseguem ser distri- budos de forma apropriada. Ainda conseguimos distribuir Gamal O Delrio do Sexo, mas Em Cada Corao um Punhal, que era muito alter- nativo, ningum quis exibir. Criativo, sim, mas alternativo demais. J o Person teve a ideia de criar um personagem que pudesse se transformar posteriormente numa srie de filmes populares como j existiam os produzidos e estrelados por 45 francisco ramalho miolo.indd 45 6/10/2009 22:07:55 Mazzaropi. Isso poderia garantir uma continui- dade da produo e, consequentemente, da distribuidora. Person fez ento Panca de Valen- te, na tentativa de criar uma espcie de verso cmica de Jernimo, o Heri do Serto. Mas o filme no funcionou, no deslanchou como a comdia que deveria ser. No Rio, Iber Cavalcante faz Um Sonho de Vam- piros, com Ankito, em cores, bem mais caro, que tambm no funcionou. Foi a que comeamos a bater de frente com um srio problema: a falta de produtos para distribuir. Foi muito difcil, mas me deu a vantagem de entrar no cinema conhecendo e atuando no trip completo da indstria: Produo/Distribuio/Exibio. Pouco depois surge outro srio problema para ns na distribuidora: nasce no Rio de Janeiro a Embrafilme, que incorpora a Difilmes e traz dinheiro forte do governo para a produo e, posteriormente, tambm para a distribuio. De fato, havia duas Embrafilme a coproduto- ra patrocinadora e incentivadora da produo, e a distribuidora da prpria Embrafilme, para colocar seus filmes no mercado. Assim, quem apresentasse um projeto para pedir coproduo com a Embrafilme poderia receber 1/3 do custo total, mais 1/3 de avano da distribuio, ou seja, mais de 60% do filme. Com crditos em labora- 46 francisco ramalho miolo.indd 46 6/10/2009 22:07:55 trios, equipamentos em coproduo, salrios deferidos, podia-se produzir um filme tendo a Embrafillme como parceira. Fora dela, nesses anos 70, em funo da obrigatoriedade de exibi- o de filmes brasileiros, surgiu um conjunto de produtores coligados e a servio dos grupos de distribuio e da exibio, que passa a produzir comdias inocentes que acabam gerando a cha- mada pornochanchada, indevidamente rotulada porque na verdade de porn tinha muito pouco. Mas eram filmes que provocavam a libido, pois eles deveriam necessariamente receber a censura de 18 anos, o que a princpio parecia por si s muito estranho. Estranho, porque na medida em que se estuda a Curva de Estatstica de Gauss do pblico que vai ao cinema, percebe-se que ele comea na idade de 10 anos, e segue at os 20 e poucos anos, antes de se casar e assumir outros compromissos que fazem com que o pblico diminua sua frequncia de ida ao cinema, por ter filhos, compromissos profissionais, etc. Mas naquela poca receber um certificado de censura abaixo dos 18 anos significava perder pblico. Hoje, com o mundo mais conservador, um filme pegar 16 anos j significa um corte enorme de pblico. poca, as experincias que se tenta- vam fazer na rea infantil davam quase sempre erradas, com a exceo de filmes ancorados por cmicos de televiso, como Os Trapalhes. 47 francisco ramalho miolo.indd 47 6/10/2009 22:07:55 A Embrafilme tinha tambm capital para lanar os filmes de sua co-produo, bancar a copia- gem, os anncios, etc., os chamados gastos de comercializao, o que ns na RPI no tnhamos e outras distribuidoras particulares nacionais possuam em escala menor. Ganhando fora, a Embrafilme vai produzindo pelculas que no seguem a linha da pornochan- chada. No incio, so 10 ou 12 produes por ano, depois um pouco mais, e estatisticamente alguns filmes conseguem bom pblico. Nascem profissionais com muito talento para distribuir e que esto at hoje no mercado, como Marco Aurlio Marcondes, Rodrigo Saturnino Braga, Jorge Peregrino, Gustavo Dahl, etc. Todos vm da Embrafilme, um grupo pesado, um exrcito de ponta. Quantas e quantas lendas que exis- tem sobre chutes nas portas dos exibidores para abrir as salas para as produes brasileiras! o momento de filmes de sucesso extraordinrio, como Dona Flor e seus Dois Maridos, A Dama do Lotao, Lcio Flavio, o Passageiro da Agonia e outros. Esses filmes at podiam ter uma pitada de erotismo, mas nem de longe tinham algo da pornochanchada. Dona Flor e seus Dois Maridos era um grande romance de Jorge Amado, foi e um filme extraordinrio. Lcio Flvio, a his- tria de um bandido nacional, uma pequena 48 francisco ramalho miolo.indd 48 6/10/2009 22:07:55 obra-prima desse perodo sombrio da histria do cinema brasileiro. H tambm filmes ligando-se a astros de outros meios, como Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, em que um lder musical se transforma em personagem de um filme que rendeu at continuaes. Com uma empresa to forte como a Embrafil- me bancando a distribuio, uma concorrente pequena no tinha mais lugar no mercado. Assim, s chegavam s mos da RPI filmes profundamente alternativos. Era o alternativo do alternativo. Eu me lembro que fui expulso da sala de um exibidor quando eu lhe mostrei Meteorango Kid Heri Intergalctico, de Andr Luiz Oliveira. Ele me botou pra correr dizendo: Voc tem coragem de mostrar isso pra mim? O filme nunca foi lanado. Caveira, My Friend, de lvaro Guimares, outro exemplo. Mesmo assim, a gente consegue ainda apanhar do esplio da Vera Cruz vrios filmes do Ma- zzaropi, o que deu uma sobrevida de um ano distribuidora. Entretanto, a RPI fecha as portas. Tudo fica complicado para ns. Com o nascimento da Embrafilme, a produo em So Paulo, estava difcil, reduzida. A censura nem era um pro- blema to grande. Ela existia, mas o maior problema era mesmo a falta de encaminha- 49 francisco ramalho miolo.indd 49 6/10/2009 22:07:55 mentos da produo para o cinema. Havia uma lei protecionista do cinema paulista que veio a acabar como tantas outras leis do cinema bra- sileiro. Era uma lei de incentivo da prefeitura que premiava os filmes de boa bilheteria.Um adicional de renda, que agora voltou a existir. Ento, grupos de filmes com m bilheteira, ou de cinema marginal, comearam a brigar contra o chamado cinemo, argumentando que os filmes que tinham um bom faturamen- to no precisavam daquele incentivo. Mas ao meu modo de ver essa premiao incentiva o filme que tenha inteno de pblico. Ele pode no acontecer, mas deve necessariamente ter a inteno de pblico, e no uma negao. fundamental o filme brasileiro existir e ocupar parte do mercado brasileiro. Uma luta constan- te e permanente. Com isso, a lei modificada, e devidamente corrigida, colocando-se um li- mite para a receita. Criam-se prmios tambm para qualidade, para aqueles que no foram bastante assistidos, mas benffeitos e de valor. Mas diante de presses e de conflitos, a classe brigando entre si, tudo isso acaba. E, em minha vida profissional, ver e conviver com conflitos dentro da prpria classe sempre foi uma cons- tante: a pobreza dos meios de produo gerou e gera uma classe antropofgica. 50 francisco ramalho miolo.indd 50 6/10/2009 22:07:55 Com a RPI fechada, separam-se os grupos. Person fica muito triste, abandona o cinema e os filmes publicitrios que tambm fazia, e vai para o teatro. Todos ficam um pouco per- didos, e tambm sem pais, na medida em que o cinema que estava comeando a nascer se encontrava no Rio de Janeiro, e no fazamos parte do grupo, do Cinema Novo, no estva- mos na Embrafilme, nada. ramos, digamos assim, apenas paulistas. O curioso que Anuska, que se tornou justamen- te o primeiro filme distribudo pela RPI, foi muito bem preparado, muito bem lanado, inclusive com uma grande ao conjunta com o Jornal da Tarde, uma novidade na poca, que promoveu uma tima campanha de divulgao. Tinha um grande ator o Francisco Cuoco que se disps a ficar dando autgrafos na porta do Cine Olido, para promover o lanamento, e tudo isso acabou se refletindo numa boa bilheteria, comida com os gastos de lanamento. Eu no saberia dizer quantos ingressos foram vendidos, porque na- quela poca no existia um controle eficiente sobre isso. Mas de qualquer maneira o filme foi muito bem. Porm, o que acaba acontecendo dentro da RPI, sem o meu conhecimento, que parte da receita de Anuska foi para financiar filmes como Em Cada Corao um Punhal e Ga- 51 francisco ramalho miolo.indd 51 6/10/2009 22:07:55 mal O Delrio do Sexo, que no tinha nada de sexo, nem de delrio. E a distribuidora, que j no estava conseguindo se segurar financeiramente, fecha em definitivo as portas. Sobram na minha mo dvidas do Anuska, e eu, casado, com duas filhas pequenas, fui dar aulas de Fsica em curso preparatrio para o vestibular para sobreviver, o Curso Universitrio, com o qual tivera relaes desde os tempos de Politc- nica, pois sua fundao sara de um grupo que dava aulas no cursinho da Poli. O Universitrio, inclusive, me emprestara dinheiro para a pro- duo do Anuska. 52 francisco ramalho miolo.indd 52 6/10/2009 22:07:55 Marlia Branco em Anuska francisco ramalho miolo.indd 53 6/10/2009 22:07:55 Marlia Branco em Anuska francisco ramalho miolo.indd 54 6/10/2009 22:07:56 Marlia Branco e Francisco Cuoco em Anuska francisco ramalho miolo.indd 55 6/10/2009 22:07:56 Marlia Branco em Anuska francisco ramalho miolo.indd 56 6/10/2009 22:07:56 Captulo IV Queria filmar Flor da Pele. Filmei Sabendo Usar No Vai Faltar Mesmo atuando como Professor no Curso Univer- sitrio, eu jamais abandonei o Cinema por inteiro. Sem poder viajar por causa das aulas, eu colabora- va como podia nos projetos de Srgio Muniz e de Thomas Farkas, seja editando, seja palpitando em roteiros, ajudando na produo, enfim, continuei mantendo o contato com o Cinema. Participei ativamente de uma experincia muito forte do Thomas Farkas, que envolvia quatro curtas sobre temas diversos. Entre eles Viramun- do, do Geraldo Sarno; Memrias do Cangao, do Paulo Soares; e Subterrneos do Futebol, do Capovilla. Em todos esses filmes eu tive alguma participao, e em alguns deles o meu nome est nos crditos. Depois disso, Thomas produziu uma srie enorme de uns trinta curtas documentrios, com a inteno de vend-los na rede de lojas Fotoptica, da qual ele era o proprietrio. Fiz um pouco de tudo nesses filmes, mas comercial- mente o projeto de Thomas no vingou. At fiz cmera e som num filme de resistncia do Srgio Muniz (s recuperado agora), contra a ditadura, sobre o delegado Fleury e o Esquadro da Morte 57 francisco ramalho miolo.indd 57 6/10/2009 22:07:57 Assumo ento a direo do Museu Lasar Segall, porque um amigo meu, Mauricio Segall, havia sido preso, e o museu nascia com a ideia funda- mental de dar fora ao cinema. Tinha a inteno de fazer uma grande biblioteca, o que de certa forma consegui, pois at hoje a biblioteca do Lasar Segall monumental nesta rea. Estavam instalando o auditrio do museu quando o Mauricio foi preso. Chegou o equipamento e eu terminei o servio da instalao. Quase ao lado do museu existia a Hidroservice, uma grande empresa de engenharia, e eu fiz um acordo para que fossem exibidos filmes ao meio-dia para o pessoal de l, que pagava alguns trocados para que o museu comeasse a existir. Mas eu vivia profissionalmente mesmo como professor de Fsica no Curso Universitrio. Com os colegas magnficos, de uma lealdade muito grande, que me apoiaram muito na vida, e at quando fui preso pela ditadura deram assistncia a minha famlia, foram muito carinhosos, e so at hoje. Lamentavelmente no mantenho mais relaes de amizade com eles, o que me deixa muito triste, pois na vida ficam os amores e a amizade. Consigo retornar definitivamente para o cinema em 1975, ano em que minha amiga Tnia Qua- resma levanta um patrocnio da VASP Viao Area So Paulo e me convida para produzir 58 francisco ramalho miolo.indd 58 6/10/2009 22:07:57 o documentrio Nordeste: Cordel, Repente e Cano. Formamos uma pequena equipe e roda- mos o filme. Durante as filmagens foram criados laos de amizade com pessoas muito agradveis e interessantes, o que nos motivou a abrir uma nova empresa produtora. Assim nasce, na Rua 13 de Maio, a Oca Cinematogrfica, com cinco scios: Lcio Kodato, Diretor de Fotografia; Zetas Malzoni (Roberto Malzoni Filho), um jovem ini- ciante que estava comeando a se formar como diretor de fotografia e veio mais tarde se firmar nesta profisso, mas anos depois abandonou o cinema; Sidnei Paiva Lopes, que eu j conhecia; o mdico Herval Ribeiro, que veio a fazer alguns curtas-metragens na Oca; e eu. A Oca nasce no bairro paulistano da Bela Vista porque ali j estavam localizadas vrias produ- toras de filmes comerciais, que ficavam em torno do laboratrio Lder Cinematogrfica, que tinha sua sede paulista ali. A proximidade da Lder era fundamental, porque os filmes de publicidade eram produzidos em ritmo industrial, e muitas vezes da noite para o dia eles tinham que estar prontos. Quando fizemos o Nordeste: Cordel, Repente e Cano tivemos o apoio fundamental da produtora de comerciais, a FilmCenter, de Slvio Bastos e Enzo Barone, que foram de uma camaradagem imensa! O Enzo est no mercado 59 francisco ramalho miolo.indd 59 6/10/2009 22:07:57 at hoje, e o Slvio sempre foi muito leal comigo na vida, e mais tarde foi at scio do O Beijo da Mulher Aranha. A Oca tinha portas abertas na FilmCenter, uma produtora que nos emprestava negativos, equipamentos, etc. e s se pagava depois. As produtoras de comerciais tinham todo o circo armado cmera, gravadores, conta- corrente aqui e acol e at pequenos estdios e ns chegamos at a usar salas do escritrio da FilmCenter, que acabou sendo coprodutora do filme da Tnia. De qualquer maneira, na salinha da Oca vo acontecer as primeiras reunies daquilo que vai ser chamado de APACI Associao Paulis- ta de Cineastas. Ali se encontravam as pessoas interessadas na Associao, entre elas o mais entusiasmado de todos que era o Egdio Eccio, que morreu lamentavelmente muito cedo, em 1977. Surgem outros colegas como Denoy de Oliveira, Joo Baptista reaparece, e a APACI comea a tomar forma a partir daquelas reu- nies na Oca. A Oca dura de 1976 at 1981, perodo em que produzimos uma quantidade brutal de filmes. Incluindo curtas, amparados por uma nova lei, que exigia a obrigatoriedade de exibio de um curta nacional antes de cada longa estrangeiro. 60 francisco ramalho miolo.indd 60 6/10/2009 22:07:57 Com a fundao da nova empresa, pensei que era chegado finalmente o momento de concre- tizar uma ideia que eu j tinha h alguns anos: filmar uma pea que eu no tinha visto encena- da, mas que fora um sucesso, chamada Flor da Pele, de Consuelo de Castro. Marquei ento um encontro com Consuelo, fui ao apartamento dela onde expus minha ideia de filmar a pea, mas mudando substancialmente vrias cenas e diversas situaes. Minha ideia era ficar apenas com o segundo ato e reescrever o resto. Quando eu disse isso a ela, a Consuelo, que uma pessoa extremamente talentosa e criativa, mas muito in- tempestiva, simplesmente levantou-se, foi at a porta, abriu-a e pediu que eu me retirasse. Vista hoje, a situao at divertida, mas na poca foi extremamente constrangedor ser colocado pra fora da casa dela, assim dessa forma. Passou-se um tempo, ela conversou com outras pessoas, levantou informaes sobre mim, reconsiderou e pediu uma nova aproximao. Conversamos novamente e ela finalmente autorizou a adap- tao e concordou em me vender os direitos da pea. A veio outro problema: eu no tinha como pagar o valor que ela me pediu. Fiquei bastante abatido com isso, e num determinado dia dividi este abatimento com um grupo de amigos com os quais eu estava jantando. Uma das pessoas mesa, que eu nem conhecia direito, se disps 61 francisco ramalho miolo.indd 61 6/10/2009 22:07:57 ento a bancar este custo para mim, entrando no projeto como produtor associado. Levei o maior susto! Ele era Stefan Burstin, marido de uma amiga, Paquita, um sujeito que trabalhava e ainda trabalha no mercado financeiro. Seu filho, Roberto Burstin, que tambm trabalha no mercado financeiro mas tem muitas amizades no meio artstico, chegou a me emprestar dinheiro quando tive dificuldades de produo no recente O Contador de Histrias, de Luiz Villaa. Famlia do bem e do amor. Feita a compra dos direitos, escrevo o roteiro e comeo a bater na porta dos produtores da chamada Boca do Lixo, em busca de recursos. A Boca era uma opo muito interessante de produo, porque ali conviviam os donos das salas de cinema e suas prprias distribuidoras. Mesmo que os territrios j estivessem divididos (a Hawa exibia filmes da Columbia; a Sul, os da Warner; e assim por diante), a lei da obrigato- riedade de exibio do filme brasileiro fazia com que os prprios donos das salas incentivassem a produo nacional, de modo que eles mes- mos se tornavam produtores. Conheo ento a Servicine, na Rua do Triunfo, empresa de dois produtores extremamente dignos: Antonio Plo Galante e Alfredo Palcios. J conhecia Galante da minha poca de Politcnica, quando eu estava 62 francisco ramalho miolo.indd 62 6/10/2009 22:07:57 tentando fazer meu primeiro curta em 16mm, porque at aquele momento s havia operado com Super 8. Ele trabalhava na Reitoria da Uni- versidade de So Paulo, onde era responsvel por um pequeno departamento de cinema que mantinha boa quantidade de equipamentos prprios. Eles tinham at estdio e uma cmera Arriflex 16 mm ali na Reitoria. Fiz amizade com ele, que desde essa poca passou a me dar uma srie de dicas para fazer meu primeiro filme, desde onde encontrar negativos e equipamentos at como montar um chassis. O Galante tem uma histria maravilhosa: ele comeou como office-boy na Cinematogrfica Maristela, chegou a ser funcionrio da Reitoria da USP, com todos os direitos trabalhistas as- segurados, e depois largou tudo para produzir seus prprios filmes, correndo todos os riscos. At hoje quando eu o vejo tenho vontade de carreg-lo no colo. Ele o pai que eu no tive. E Palcios era uma pessoa cultssima. Entendia de leis como poucos e foi com ele que comecei a me preocupar com essa parte, a legislao e os direitos envolvidos, extremamente complexa at hoje. Galante e Palcios eram pessoas, como se diz, do bem. A Servicine era uma empresa que produzia mui- tos filmes, desde produtos feitos sob medida 63 francisco ramalho miolo.indd 63 6/10/2009 22:07:57 para o gosto dos distribuidores at obras de contedo mais elaborado, dirigidas por Walter Hugo Khoury, Silvio Back, Rogrio Sganzer- la, David Neves e vrios outros. Apresentei o roteiro de Flor da Pele a eles, que acharam o filme um pouco difcil para o mercado, mas no o descartaram, e resolveram me fazer uma contraproposta, para conhecer meu trabalho. Ele me propuseram que eu fizesse um mdia- metragem que faria parte mais tarde de um longa composto por trs segmentos. Aceitei e me tranquei num quarto de hotel em Votupo- ranga durante o carnaval de 1976, para onde tinha ido visitar minha irm Vera e para levar minhas filhas pequenas, Andria e Arina, para viver o carnaval com seus primos numa cidade do interior. Trancado no hotel, fiquei imaginando uma ideia que pudesse render um bom filme, e ela me veio inspirada num conto de Truman Capote que ficara no meu inconsciente sobre um vendedor de sonhos. A literatura sempre fora uma base de criao para mim, pois leio um romance e o desmonto em sua dramatur- gia, vendo os conflitos e seus personagens, seus atos e pontos de virada, elementos que descobri sozinho, e s depois vim a conhec-los catalo- gados em manuais de roteiro. Conversei com meu scio Sidnei Paiva Lopes, que aceitou fazer outro episdio deste longa, e dessa forma a Oca 64 francisco ramalho miolo.indd 64 6/10/2009 22:07:57 entrou como produtora associada Servicine com 2/3 do projeto. Assim nasceu Sabendo Usar no Vai Faltar, cujo ttulo era emprestado de uma campanha publicitria da Sabesp para que a populao economizasse gua. Confesso que at hoje no entendi muito bem a piada deste ttulo, mas enfim o filme tinha trs episdios: o primeiro, dirigido pelo Sidnei, levava o mesmo nome do longa. O segundo Joozinho eu dirigi, e o terceiro Trs Assobios foi dirigido pelo Adriano Stuart. A partir ento de O Vendedor de Sonhos, de Tru- man Capote, desenvolvi a histria de um humilde office-boy (uma maravilhosa interpretao de Ewerton de Castro) de uma produtora de filmes publicitrios que passa a nutrir sonhos erticos por uma belssima modelo (Helena Ramos), que ele v posando nua para uma campanha. Era uma brincadeira que mexia com os elementos sexuais e sensuais que o cinema daquela poca pedia, mas tambm explorava o lado social, mos- trando a solido e a tristeza daquele office-boy, que no fundo era um personagem triste. Joozinho teve problemas com a censura, fui obrigado a fazer vrios cortes que hoje seriam da mais profunda ingenuidade, mas de qualquer maneira eu consigo cumprir o que me foi enco- mendado, que era fazer uma comdia ertica. 65 francisco ramalho miolo.indd 65 6/10/2009 22:07:57 Desde Anuska, vou para o set com a filmagem muito planejada em minha cabea, plano por plano, modificveis claramente nos ensaios pelas contribuies dos atores e tcnicos. Conheo com muita segurana a linguagem cinematogrfica pois sempre estudei os filmes desmontando-os tomada por tomada, estudando a planta baixa de cada cena e, assim, minha direo gera um filme quase que editado. Gosto muito de dirigir atores e fao a encenao para privilegi-los ao mximo em funo da narrativa e de seus conflitos. Um filme narra histrias de conflitos em movimento. Galante e Palcios gostaram do resultado de Joozinho, e aceitam produzir Flor da Pele. A distribuidora Roma Filmes, de Alberto Bitelli, tambm se interessa pelo projeto, e eu vou atrs de amigos para tentar vender cotas do filme para levantar dinheiro. Mas certamente minha maior dificuldade foi encontrar a atriz certa para o papel, obstculo que o Galante j havia me avisado assim que leu o roteiro. Ele tinha toda a razo. Eu estava a poucos dias de comear a filmagem e ainda no tinha a atriz principal. Es- gotei todas as possibilidades de atrizes paulistas, e fui at o Rio de Janeiro pesquisar em teatro. Foi l que finalmente conheci Denise Bandeira, que foi perfeita para o papel. Denise, at hoje 66 francisco ramalho miolo.indd 66 6/10/2009 22:07:57 uma amiga, virou roteirista e poca era casada com o diretor de Marlia e Marina, Luiz Fernando Goulart, de quem fiquei amigo ntimo e um irmo para mim. Ele e outro irmo tambm Luiz, o Villaa, diretor de cinema, e para quem produzi dois filmes so meus companheiros de jornada. Durante todo o processo de filmagem de Flor da Pele eu recebi a colaborao valiosssima do Juca de Oliveira, que o ator principal, e que todos os dias aps o seu trabalho sentava-se comigo e reescrevia dilogos inteiros. Eu ado- rava aquilo porque o conhecimento que o Juca tem de teatro e de dramaturgia ajudou muito no filme. Ele veio se transformar em excelen- te dramaturgo com muitas peas de sucesso, continuando a atuar com o brilho de sempre. Consuelo de Castro tambm deu muitos toques no roteiro e chegou inclusive a me ajudar nos dilogos de Paula. Pensei, desde o incio de Flor da Pele, numa narrativa de uma grande histria de amor. Um professor de dramaturgia e escritor de novelas, em crise em seu casamento, se envol- ve com uma aluna, para quem o amor no tem limites. Alm disso, escrevi o roteiro pensando em sua produo, que sabia ser de baixo custo. Assim, a maior quantidade de cenas se passa num apartamento com algumas sadas que do 67 francisco ramalho miolo.indd 67 6/10/2009 22:07:57 Juca de Oliveira e Denise Bandeira em Flor da Pele francisco ramalho miolo.indd 68 6/10/2009 22:07:58 Srgio Mamberti e Denise Bandeira em Flor da Pele francisco ramalho miolo.indd 69 6/10/2009 22:07:58 uma respirada s cenas em interiores. O dire- tor de fotografia, Lucio Kodato, scio da Oca, ajudou-me demasiadamente em sua velocidade operacional a realizar o filme nas condies que tnhamos (Mais tarde Lucio fotografaria tambm esplendidamente o meu Canta Maria.) O apartamento era de Sidnei Paiva Lopes, tambm scio da Oca e assistente de direo e de som, que transferiu a famlia para um apar- tamento de um familiar seu antigos tempos em que se faziam filmes familiarmente. Hoje, com a profissionalizao, tudo evidentemente encareceu, mas ainda restam atitudes desse tipo como a de meu amigo e produtor executivo, Marcelo Torres, que transferiu o escritrio de produo de A Suprema Felicidade para seu apartamento no Rio, como j o fizera no incio da produo. O esprito guerrilheiro no mor- reu, e fazer cinema continua a ser um ato de coragem e solidariedade. Flor da Pele fica pronto e ganha trs Kikitos no Festival de Gramado: Melhor Filme, Melhor Atriz para a Denise e Melhor Roteiro. Isso d uma grande alavancada ao filme porque na- quela poca, em que os festivais de cinema no Brasil eram poucos e importantes, ganhar uma premiao dessas fazia realmente a dife- rena. Quando eu voltei a So Paulo, vindo de 70 francisco ramalho miolo.indd 70 6/10/2009 22:07:59 Ramalho e Denise Bandeira em Flor da Pele francisco ramalho miolo.indd 71 6/10/2009 22:07:59 Ramalho e Denise Bandeira em Flor da Pele francisco ramalho miolo.indd 72 6/10/2009 22:07:59 Cena de Flor da Pele francisco ramalho miolo.indd 73 6/10/2009 22:08:00 Cena de Flor da Pele francisco ramalho miolo.indd 74 6/10/2009 22:08:00 Gramado, havia jornalistas me esperando no aeroporto para conversar sobre o filme, o que seria impensvel nos dias de hoje. Mais impen- svel ainda: o filme j havia estreado em So Paulo, com resultados fracos, antes de ganhar os prmios em Gramado. Aps o Festival, e graas ao prestgio das premiaes, Flor da Pele no apenas consegue ser relanado em So Paulo, como tambm obtm lanamento nacional. Atualmente, nenhum filme relan- ado. Sempre buscam o que novo. O que aconteceu com Flor da Pele s ocorreu por- que, naquela poca, no havia a banalizao de eventos e festivais de cinema como existe hoje, tanto no Brasil como no mundo. S no Brasil h mais de cem num ano. Naquela poca, ganhar prmios em um festival era realmente um feito de importncia. 75 francisco ramalho miolo.indd 75 6/10/2009 22:08:00 francisco ramalho miolo.indd 76 6/10/2009 22:08:00 Captulo V O Cortio Estava Repleto de Atores Globais... ... o que No Era Importante naquela poca O sucesso de Flor da Pele alavanca imediata- mente a produo de O Cortio. Sou procurado por um rapaz muito ativo, mais jovem do que eu, que diz ter gostado demais de Flor da Pele e me prope rodar O Cortio. Esse rapaz era Edgard Castro, um sujeito de Ribeiro Preto que produzira dois sucessos: a verso 1975 de A Carne e a deliciosa comdia Bacalhau, que era uma pardia de Tubaro. Claro que todo e qualquer cineasta brasileiro gostaria de filmar O Cortio. Da mesma forma que todo e qualquer cineasta brasileiro sabe que a adaptao para o cinema deste clssico de Alusio Azevedo seria extremamente cara, j que envolveria a construo de um cortio cinema- togrfico, pois os cortios no Rio de Janeiro no tinham mais aquela cenografia. No existiam mais no Brasil cortios como aquele descrito no livro. Edgard aceita o desafio, promete levantar o dinheiro que era muito e levanta mesmo! Depois de mais ou menos trs meses escreven- do o roteiro, sa junto com meu assistente de 77 francisco ramalho miolo.indd 77 6/10/2009 22:08:00 direo, Jorge Duran, pesquisando locaes. Tnhamos um serissimo problema tcnico que era encontrar uma pedreira abandonada com sua base grande o suficiente para construir o cortio. Fizemos um levantamento minucioso de todas as pedreiras abandonadas do Esta- do do Rio de Janeiro, pois no haveria como filmar numa pedreira que ainda estivesse em atividade, mas tinha de ser de uma forma que no ficasse muito claro este abandono. E mais: tudo deveria estar numa posio tal que o Sol caminhasse paralelamente pedreira, e no transversalmente; caso contrrio, teramos poucas horas de luz por dia para filmar. At isso precisaria ser pensado. E cada filme que fao sempre possui uma ou mais locaes que se transformam em pesadelos at serem encon- tradas. Achamos finalmente o lugar prximo cidade de Araruama, na regio dos Lagos, no Estado do Rio. Tudo isso demorou mais ou menos seis meses, perodo em que eu escrevia o roteiro bem cedo e ainda dava aulas num curso de produo no MAM, Museu de Arte Moderna do Rio. E finalmente comeamos a filmar, com um elenco que inclua Betty Faria, Mrio Gomes, Armando Bgus (que veio a ser um grande ami- go meu, aparecera como figurante no Anuska e 78 francisco ramalho miolo.indd 78 6/10/2009 22:08:00 viria a trabalhar comigo no Paula, j que gosto de repetir trabalhos com os mesmos atores) e novamente Beatriz Segall, com quem eu j havia trabalhado em Flor da Pele. Eram atores que, na poca, j eram globais, mas isso no tinha muita importncia naquele momento porque o Brasil possua estrelas eminentemente de ci- nema. Casos de Helena Ramos, David Cardoso, Snia Braga e outros que sem muita relao com a TV levavam um grande pblico para as salas de projeo. interessante perceber tambm que, apesar de ter sido lanado em plena ditadura em 1978 , O Cortio era um filme de intensa carga social, e que mesmo assim no teve problemas com a censura. Eu acredito que isso tenha acontecido porque se tratava de um clssico da literatura brasileira, o que fez com que os censores o en- golissem. As cenas de sexo tambm passaram. O livro inclusive no era muito adotado nas escolas porque tratava da literatura de forma naturalis- ta, o que no era muito bem visto pelos olhares conservadores da poca. O Cortio foi uma grata experincia porque foi trabalhoso, difcil de fazer, mas acabou se configurando em grande sucesso de bilheteria. Desde o incio foi pensado em ser um filme rodado na forma mais clssica da narrativa, 79 francisco ramalho miolo.indd 79 6/10/2009 22:08:00 Cena de O Cortio francisco ramalho miolo.indd 80 6/10/2009 22:08:01 com movimentos lentos e no perceptveis pelo espectador. Alis, sempre fao assim. No gosto de firulas de linguagem e nem de mostrar os movimentos de cmera, o que me torna um profundo admirador da obra de John Ford. Tnhamos uma cmera 35 mm com um blimp de som (as cmeras atualmente j so protegidas de rudos em sua estrutura), que era uma enorme capa, que colocada sobre a cmera aumentava seu tamanho vrias vezes, dificultando qualquer deslocamento. Zetas Malzoni, scio da Oca, fez brilhantemente sua estreia como diretor de fotografia e de- pois fotografou Paula comigo. E exatamente naquela poca comea tambm a surgir e a se desenvolver a tecnologia do videocassete, o que foi bastante positivo para o filme. Fe- chamos um bom contrato com a CIC Vdeo, que na ocasio era uma distribuidora das mais atuantes, bastante forte, e o filme acabou se transformando tambm em grande sucesso em VHS, pois foi adotado em escolas secundrias, com o livro. Alm do pblico normal de cinema e, posteriormente, de televiso, O Cortio tam- bm teve um imenso pblico escolar, mediante sua distribuio em vdeo. Lamentavelmente, com o final do VHS e o advento do DVD, o filme acabou se distanciando do pblico esco- lar, pelo menos at seu lanamento em DVD. 81 francisco ramalho miolo.indd 81 6/10/2009 22:08:01 Do lado pessoal, um fato muito marcante que acontece durante as filmagens de O Cortio foi a separao de Mary, minha primeira es- posa hoje falecida. Eu era casado e feliz desde jovem, tive duas filhas maravilhosas com ela, e a separao significou para mim uma perda muito grande, alm da renncia a um modo de vida que eu acreditava muito: o casamento. Vale lembrar que naquele momento o Brasil tinha uma indstria cinematogrfica pouco estabelecida, e mesmo com o sucesso comercial de O Cortio foi muito difcil conseguir financia- mento para fazer um prximo filme. Estvamos ligados a um grupo de produo independente que iria, num primeiro momento, distribuir O Cortio pela Hawa Cinematogrfica, mas depois que a pelcula ficou pronta, optou-se por distribu-la pela Embrafilme, teoricamente mais estruturada para isso. E de fato estava e o lanou muito bem. Mas a Embrafilme estava passando por uma srie de mudanas internas, e naquela ocasio ela decidiu criar um concurso estranhssimo que, na minha opinio, j nascia errado, muito embora o conceito esteja certo: unir cinema e TV. Era o programa Cinema e Televiso, que se propunha a desenvolver projetos especfi- cos para as emissoras de TV brasileiras, mas 82 francisco ramalho miolo.indd 82 6/10/2009 22:08:01 sem jamais ter perguntado a elas que tipo de programao estavam interessadas em exibir. Qual seria o formato? Quantos episdios? Com quantos minutos? Que tipo de teledramaturgia? Nada disso. A Embrafilme simplesmente lana um concurso para produzir 12 ou 13 pilotos que depois seriam apresentados s redes de televi- so, mas sem nenhum tipo de pesquisa prvia. A classe ento se mobiliza para fazer os pilotos, e eu me propus a realizar uma srie. No sei para qual TV, mas uma srie. Fao ento uma parceria com Joo Felcio dos Santos, escritor que havia feito vrios romances histricos, e redigimos juntos um seriado sobre Caramuru. Escrevemos 13 episdios e rodo o primeiro deles em 16 mm, justamente o que mostra como o perso- nagem, interpretado por Walter Marins, acaba se transformando em Caramuru. Neste primeiro episdio utilizamos duas cmeras para agilizar em aproximadamente duas semanas. Lucio Ko- dato atuou de novo na direo de fotografia. Entregamos os negativos Embrafilme e nunca mais ouvimos falar do programa, que morre por a. Foi tambm minha primeira aproximao com tribos indgenas, pois filmamos com ndios de uma reserva prxima a Cananeia. A outra vez foi na Amaznia quando filmei Brincando nos Campos do Senhor. Fiquei amigo deles, e lembro-me que um dos caciques costumava vir 83 francisco ramalho miolo.indd 83 6/10/2009 22:08:01 a So Paulo, e passava o dia, ao meu lado, em silncio, no meu escritrio, vendo-me falar ao telefone, fazer reunies. Era minha alma a me proteger. Ao final do dia ele ia embora, voltan- do alguns dias depois. Um dos scios da Oca era mdico, o Herval Pina Ribeiro, que arranjava amostras grtis de remdios que meu amigo ndio levava para a tribo. Depois de muitas idas e vindas, nunca mais apareceu. Mas ficou seu esprito comigo, para sempre. Set de Caramuru, jamais exibido francisco ramalho miolo.indd 84 6/10/2009 22:08:02 Captulo VI Paula A Histria de uma Subversiva Provou que o Pblico No Estava Interessado em Ver uma Histria sobre a Poltica Brasileira nesse momento que comea a se desenvolver tambm a tola briga entre cariocas e paulistas pelos recursos da Embrafilme. Os paulistas acu- sam a Embrafilme, que ficava no Rio de Janeiro, de bairrista, os cariocas discordam, e nasce assim um tipo de antropofagia do cinema brasileiro, j prenunciada nos tempos da Difilme. A imprensa percebe essa fragilidade, as leis tambm come- am a se fragilizar porque surgem mais candi- datos a beber do mesmo pote, e quando menos se percebe a casa cai. Para tentar contornar a situao nasce um Polo Cinematogrfico em So Paulo sob a gide da Secretaria de Cultura do Estado, e faz uma espcie de parceria de co- participao com a Embrafilme. Alis, at hoje esto a surgir polos para sanar a crnica doena da falta de recursos para a produo. Um polo atual importante o de Paulnia. Assimilada a decepo de jamais ter dado conti- nuidade ao projeto Caramuru, surge a oportu- nidade de produzir Os Amantes da Chuva para 85 francisco ramalho miolo.indd 85 6/10/2009 22:08:02 francisco ramalho miolo.indd 86 6/10/2009 22:08:02 Bete Mendes e Helber Rangel em Amantes da Chuva francisco ramalho miolo.indd 87 6/10/2009 22:08:03 o Roberto Santos dirigir. Eu j era um enorme f de Roberto, pois durante muito tempo tive a chance de ficar sentado, quietinho, s admirando o trabalho de montagem que ele e o Silvio Renol- di fizeram no timo A Hora e a Vez de Augusto Matraga, lanado em 1965. Ficava vendo aquele vai e vem interminvel da moviola e comecei a nutrir um profundo respeito e admirao pelo trabalho do Roberto Santos. E pensei comigo mes- mo que, se algum dia eu viesse a ser um produtor de cinema, iria produzir um filme para ele. Da, anos depois, surge essa histria de Carlos Queirs Telles sobre um casal de namorados apaixonados que, cada vez que se encontra, provoca uma grande chuva. Um filme dificlimo de ser feito, porque alm de ter em seu roteiro vrias chuvas o que j por si s um efeito especial tinha ainda inundaes e tempestades o tempo inteiro! Um inferno! Havia at uma equipe de segunda unidade filmando inundaes em So Paulo para agregar imagens ao que j tinha sido rodado. O filme do Roberto demora muito para ficar pron- to, e enquanto ele est montando Os Amantes da Chuva eu me envolvo num projeto extremamente autoral chamado Paula A Histria de uma Sub- versiva. Por meio do tal Polo Cinematogrfico de So Paulo, pela primeira vez em minha carreira eu escrevo um projeto eminentemente pessoal. No que meus filmes anteriores no tivessem sido pessoais, mas Anuska - Manequim e Mulher foi 88 francisco ramalho miolo.indd 88 6/10/2009 22:08:03 feito a partir de um conto de Incio de Loyola Brando. Flor da Pele baseado na pea de Consuelo de Castro, O Cortio do livro de Alusio Azevedo e Caramuru eu fiz com o Joo Felcio. Sempre fui o roteirista, mas sempre baseado em algo ou com algum. Paula A Histria de uma Subversiva uma amlgama de experincias pr- prias, principalmente as que eu tive por ocasio da minha segunda priso poltica. Eu romanceio essa situao, na qual fui preso em funo de um amigo que estava no Brasil num momento grave da nossa histria, em que os grupos polticos estavam derrotados. Este meu amigo, o Ben, ou Benetazzo da FAU e do Curso Universitrio e do Anuska, estava tentando unificar a luta das esquerdas, e como eu tinha dado cobertura a ele, fui preso por isso. Pego ento esta minha histria pessoal e a reinvento: troco o cineasta por um ar- quiteto, troco a amizade de um amigo pelo amor de uma mulher, e crio a histria deste arquiteto que se envolve por uma aluna que o acaba le- vando para a luta poltica. Invento tambm para esse personagem uma filha que desaparece de maneira que ele precisa ir buscar apoio e fora poltica por intermdio da figura de um delegado. O personagem principal ento tem uma postura ideolgica e tica, mas ao mesmo tempo precisa do Estado para localizar sua filha que talvez es- tivesse envolvida com drogas. Essa foi a armao. O dinheiro sai, baixo, e nesse momento Hector 89 francisco ramalho miolo.indd 89 6/10/2009 22:08:03 Cena de Paula francisco ramalho miolo.indd 90 6/10/2009 22:08:03 Armando Bgus e Walter Martins em Paula francisco ramalho miolo.indd 91 6/10/2009 22:08:04 Regina Braga e Walter Martins em Paula francisco ramalho miolo.indd 92 6/10/2009 22:08:04 Babenco, que queria que eu produzisse para ele o filme Pixote A Lei do mais Fraco, me alerta que o roteiro de Paula no estava bom. Mas a vontade que eu tinha de dirigir um projeto prprio foi mais forte, eu no aceito produzir Pixote, e saio para viabilizar Paula. Foi um desastre! Errei de- mais no casting, por exemplo, ao chamar Walter Marins para ser protagonista, um ator de teatro que, por mais inteligente que fosse, no tinha o brilho necessrio ao papel. O delegado foi Ar- mando Bgus, com quem eu j havia trabalhado em Anuska e em O Cortio. Erro tambm muito na escolha da atriz que faz o papel-titulo, boa atriz, mas sem criar empatia para o papel. Talvez e sim, por minha direo, o filme j nasce meio torto. Filme como um filho: voc vai amar a vida inteira, mas sabe quando ele no est bem. O interessante que, quando o filme fica pronto, ele muito bem recebido pelo circuito exibidor. Estava comeando uma pequena abertura po- ltica no Brasil, e por causa disso os exibidores viram em Paula uma espcie de pioneiro ao tes- tar esse iniciozinho de liberdade de expresso. Mas eles estavam mais interessados na aber- tura que outros filmes propunham na questo sexual, e no na questo poltica. Era a poca tambm de O Imprio dos Sentidos, Calgula e muitos outros filmes de teor sexual e sensual. Num panorama desses, o pblico no estava nem um pouco interessado em ver uma hist- 93 francisco ramalho miolo.indd 93 6/10/2009 22:08:04 Armando Bgus e Walter Martins em Paula francisco ramalho miolo.indd 94 6/10/2009 22:08:05 Sheila Agneli, Armando Bgus e Walter Martins em Paula francisco ramalho miolo.indd 95 6/10/2009 22:08:05 Armando Bgus e Walter Martins em Paula francisco ramalho miolo.indd 96 6/10/2009 22:08:06 ria sobre a poltica brasileira. Resultado: Paula afunda e eu entro numa profunda depresso. Paula e Os Amantes da Chuva acabam saindo da produtora Oca praticamente ao mesmo tempo, em 1979, mas os exibidores aceitam Paula, e no toleram muito bem Os Amantes da Chuva, o que acabou magoando muito o Roberto San- tos. Naquele instante, com o fracasso de Paula e o lanamento minsculo e inexpressivo de Os Amantes da Chuva, a Oca se v numa situao financeira complicadssima. Mesmo porque j havia um conflito interno na empresa, em que um grupo era favorvel produo de filmes publi- citrios, enquanto outro era contra. O favorvel acabou saindo da Oca para fundar a Taba, esta sim direcionada publicidade, mas que acaba no durando muito. O que no impediu que todos ns continussemos amigos. Naquele momento a produtora ganha uma sobrevida realizando curtas-metragens. Como estvamos na poca da lei da obrigatoriedade de exibio de curtas-metragens brasileiros, eu vou ento bater na porta da Paris Filmes para me vender como produtor de curtas, que os exibidores necessitavam para cumprir a cota. A Paris aceita a ideia e a Oca produz para eles mais ou menos uns 15 filmes, tendo o Jayme Monjardim como diretor, e que j fora meu assistente. Jayme queria ir para Recife fazer um curta sobre o artista plstico e es- 97 francisco ramalho miolo.indd 97 6/10/2009 22:08:06 cultor Francisco Brennand. Eu disse para ele: Tudo bem, voc vai, faz o seu curta sobre Brennand, mas aproveita a viagem e faz tambm vrios fil- mes sobre a cultura popular nordestina, Mercado Modelo, artesanato e mais um monte de coisas. Funcionou. Eles ficaram trs meses filmando, e o material obtido resultou num monte de curtas, bancados 50% pela Paris e 50% pela Oca. Se conse- gussemos fazer com que o curta-metragem fosse exibido antes de um blockbuster americano de muito sucesso, o lucro era alto, j que o produtor brasileiro recebia uma porcentagem da bilheteria total daquela sesso. E veja a vida: o Jayme, diretor de sucesso na televiso e com o Olga nas costas, tem um filho, o Jayminho, que ator neste filme de minha produo, A Suprema Felicidade, de Arnaldo Jabor, produzido agora em 2009. As cenas noturnas de Filhos e Amantes foram feitas com lampies, no melhor estilo Barry Lyndon... mas sem as lentes especiais que o Kubrick tinha... Nessa poca, o produtor A. P. Galante me pro- pe que faamos um longa ertico e grandioso, no estilo de Calgula, para aproveitar a abertura poltica do Brasil. Todos ns ento nos metemos nesse projeto que acho que nem ttulo tinha sobre a histria de um industrial paulista que tentava resolver seus conflitos humanos por meio 98 francisco ramalho miolo.indd 98 6/10/2009 22:08:06 de gigantescas orgias. Alexandre Adamiu, da Paris Filmes (que inclusive distribuiu o prprio Calgula e ganhou muito dinheiro com isso), ama a ideia, mas acha tudo muito caro, propondo ento que baratessemos os custos. Para isso, seria necess- rio construir em estdio a faranica manso do industrial, com piscina e tudo, mesmo porque ningum que tivesse uma casa no porte de que precisvamos iria ceder seu imvel para um filme ertico. Comeamos a desenhar as plantas do que seria este set de filmagens, e contratamos Jardel Filho, que estava no auge, para fazer o papel prin- cipal do tal industrial. Quando tudo j est bem adiantado, a Paris sofre um revs financeiro que eu nunca soube direito qual foi e sai do projeto. E logo depois o Jardel morre. Para tudo! Galante chega pra mim e diz que colocara muito dinheiro na produo, que no queria perder tudo agora e que havia uma sobra de verba para tentar fa- zer alguma coisa. E me pede para fazer um filme com aquela sobrinha. O dinheiro era realmente muito pouco, mas cortando aqui e ali dava para fazer alguma coisa. A soluo foi escrever um filme sobre juventude, com atores jovens, sem nenhum figurante, e um cenrio quase nico, se possvel muito bonito, que o Galante sugeriu que fosse em Itatiaia, com serras e um parque nacio- nal muito bonito. E tudo tinha de ser muito gil, pois naquela poca a inflao corroia o dinheiro muito rapidamente. 99 francisco ramalho miolo.indd 99 6/10/2009 22:08:06 Nasce assim Filhos e Amantes, que eu tive de escrever a toque de caixa e por isso mesmo no se configurou num argumento suficientemente amadurecido para render um bom filme. Um conjunto de jovens se encontra na montanha num fim de semana e vrios eventos ocorrem de modo a alterar suas vidas. Mas os personagens e a base argumental ainda no estavam bem estru- turados. Minha filha, Andria, trabalhou profis- sionalmente comigo. Rodamos tudo rapidamente sem sequer contarmos com refletores: filmamos as cenas noturnas com lampies, no melhor estilo Barry Lyndon, s que sem as lentes especiais que o Kubrick tinha, e com uma cmera de segunda. O elenco jovem era bastante interessante, com De- nise Dumont, Lucia Verssimo e Nicole Puzzi, e os experientes Walmor Chagas e Rene de Vielmond fazendo o contraponto. Foi nessa ocasio que conheci Jos Wilker, ento marido de Rene, que muitas vezes visitava as filmagens e com quem eu vim a trabalhar mais tarde em Besame Mucho e Canta Maria. Tambm fizemos juntos uma pea de teatro, A Morte e a Donzela, eu como produ- tor, ele como diretor, e Tony Ramos, Xuxa Lopes e Otvio Augusto no elenco. Filhos e Amantes fica pronto, teve enormes pro- blemas com a censura, em especial com as cenas de drogas, fui inmeras vezes a Braslia para defend-lo com um protetor nato da cultura, o 100 francisco ramalho miolo.indd 100 6/10/2009 22:08:06 advogado Pompeu de Souza, o que sempre era um mal-estar. O filme liberado muito cortado, mal distribudo, no vai bem nem mal de bilheteria, e acaba passando em brancas nuvens. O que chama a ateno so os nmeros daquela poca 1981 ano em que ele foi lanado. S no Cine Marab, no centro de So Paulo, ele faz 15 mil espectadores na primeira semana, mais 12 mil na segunda mas imediatamente tirado de cartaz, porque naquele cinema gigantesco 12 mil pessoas numa semana no eram suficientes para segurar o filme. Consigo na mesma poca ainda escrever o ro- teiro de Escrava do Desejo, sob encomenda do diretor chins radicado no Brasil John Doo. No confundir com o John Woo, que no conheci, mas admiro muito seus filmes. Escrava do Desejo foi lanado em 1982, mas eu nunca o vi. Alis, nunca mais vi o John Doo tambm... Para sobreviver, fao filmes comerciais e insti- tucionais e at um documentrio sobre adubo. Literalmente, um filme sobre a merda. Eram tra- balhos sempre esprios, porque eu no tinha um mostrurio, um portflio de filmes publicitrios, sobrava pra mim a escria da escria, aqueles filmes que ningum queria fazer, aqueles em que o diretor desistia em cima da hora, filmes de varejo, etc. Naquele perodo, eu estava batendo bola onde quer que aparecesse uma bola. 101 francisco ramalho miolo.indd 101 6/10/2009 22:08:06 Enquanto a Oca d seus ltimos suspiros, vou produzir Das Tripas Corao, com direo da Ana Carolina. A experincia foi maravilhosa! Ana uma pessoa deliciosa de se trabalhar, respons- vel, objetiva. Este filme inclusive tem uma histria incrvel que pouca gente sabe: a atriz principal era para ter sido Maria Schneider, estrela inter- nacional de O ltimo Tango em Paris. Ela veio ao Brasil, mas se encontrava numa decadncia deplorvel. Estava tudo acertado para ela fazer o filme, quando numa determinada noite, aps fazer um estrago horrvel no seu quarto no Hotel Copacabana Palace (onde chegou at a quebrar o vaso sanitrio alm de destruir cortinas), ela simplesmente desapareceu. Sumiu completa- mente. Procuramos em todos os lugares, at em Cabo Frio, quando de repente Ana teve a ideia de telefonar para Paris, na possibilidade dela haver regressado. E no deu outra. Telefonamos, ela atendeu ao telefone em Paris, como se nada tivesse acontecido, e ficou tudo por isso mesmo. Samos feito doidos atrs de uma atriz que pudes- se substitu-la em tempo recorde, e quem salvou nossa pele foi a admirvel Dina Sfat. Filmamos Das Tripas Corao num colgio muito bonito no bairro de Higienpolis, durante o pe- rodo de frias escolares, tudo saiu muito bom, e o filme foi uma experincia maravilhosa para toda a equipe. 102 francisco ramalho miolo.indd 102 6/10/2009 22:08:06 De qualquer maneira, naquele instante, mesmo feliz com a experincia de Das Tripas Corao, eu amargava com o Zetas Malzoni as dvidas acumuladas dos fracassos de Paula e Os Amantes da Chuva. Vendemos ento para a Moviecenter, uma locadora de equipamentos, um gerador blimpado alis, o primeiro daquele tipo a ser usado no Brasil quase que a custo zero, s para que eles pagassem as faturas restantes de um emprstimo que fizramos no BNDES, e aos poucos fomos nos desfazendo de todo o equipa- mento da produtora. Fiquei um tempo outsider, sem produtora e sem projetos, sobrevivendo de alguns filmes institucionais como Fertilizantes Ul- trafrtil, por exemplo. Sobrava pra mim o varejo do varejo. Ficava sabendo de um trabalho de manh, para dirigir tarde, e pau na mquina. Nesse momento estava casado pela segunda vez, tambm com uma professora de Histria, mas que abandonou a carreira e entrou no cinema, a Miki Stedile. Precisava ter uma produtora, j que a OCA estava fechada, e necessitava ficar com o patrimnio de meus filmes. Fundo ento, no incio dos 80 com a Miki, a Francisco Ramalho Junior Filmes Ltda., atualmente com o nome fan- tasia, Ramalho Filmes. Anos depois, separado de Miki, Andria, minha filha, entrou na sociedade e est ativa comigo comandando a produtora. 103 francisco ramalho miolo.indd 103 6/10/2009 22:08:06 francisco ramalho miolo.indd 104 6/10/2009 22:08:07 Captulo VII Uma Nova Fase: o Encontro com Babenco Foi nesse momento ento que tive a oportunida- de de estreitar relaes com um velho e querido amigo: Hector Babenco. Eu o havia conhecido por acaso, em 1975, na porta do Cine Belas Artes, onde ele estava fazendo uma exibio privada de O Rei da Noite. Nos apresentamos, conversamos um pouco, e desse encontro nasceu uma amizade muito carinhosa, fraternal e um pouco mais tarde profissional. Mais ou menos em 76 ou 77, ele havia me procurado para pedir emprestada a moviola de nossa produtora, a OCA, que ele precisava para montar Lcio Fl- vio, o Passageiro da Agonia. Nosso contato foi se estreitando, e houve um momento em que, concomitantemente, eu comecei a produzir Pau- la e ele, Pixote. Cheguei a entrar com Hector no projeto de Pixote e passei a produzi-lo tambm. Mas o trabalho foi se acumulando muito e tive de optar. Como eu queria muito dirigir Paula, deixei a produo de Pixote e me dediquei total- mente ao meu filme. Hector me desaconselhou a fazer isso, argumentando provavelmente com razo que o roteiro de Paula ainda no estava maduro o suficiente para ser filmado, que eu precisaria trabalhar mais um pouco nele, e que Com Hector Babenco nos bastidores de Corao Iluminado 105 francisco ramalho miolo.indd 105 6/10/2009 22:08:07 enquanto isso deveria continuar na produo de Pixote para, mais tarde, rodar Paula. No ouvi os bons conselhos de Hector, fui fazer Paula e deu no que deu. Alm disso, houve um conflito triste entre Hector e Zetas. Como Pixote estava sendo produzido dentro da prpria Oca Cinematogrfica, Zetas sups que ele seria o diretor de fotografia do filme, mas Hector opta por Rodolfo Sanches. Isso provoca um forte desentendimento interno que culmina com o rompimento da Oca com a produo de Pixote. Foi uma pena, porque na- quele momento Zetas, sempre carinhoso mas s vezes explosivo, no compreendia que a escolha do diretor de fotografia era um direito total e inalienvel de Hector. E o prprio Hector havia sido de uma generosidade extrema, quando ele socorreu financeiramente a produtora, aps o fracasso de Os Amantes da Chuva. Ele havia ganhado muito dinheiro com Lcio Flvio, e emprestou Oca uma quantia bastante grande. As relaes profissionais foram rompidas, mas as fraternais permaneceram. Enquanto isso Hector finaliza e lana Pixote, que vem a se transformar num gigantesco sucesso nacional e internacional. Eu at o ajudo a filmar um pequeno prlogo do filme, que existe nas cpias internacionais, mas no nas brasileiras. 106 francisco ramalho miolo.indd 106 6/10/2009 22:08:07 uma introduo muito simples, apresentada pelo prprio Hector, explicando ao pblico de outros pases o quanto aquela situao vivida no filme tristemente real no Brasil. O grande sucesso de Pixote incentiva Hector a partir para um novo projeto, que seria a adap- tao para o cinema do livro O Beijo da Mulher Aranha, de Manuel Puig. Naquele momento, ele sabia que eu estava free, mesmo porque sempre mantnhamos contato. Lembro-me inclusive de um dia de Natal, s duas da tarde, em que Hector e eu fomos ao Cine Windsor, no centro da cida- de, assistir ao filme O Poderoso Chefo, e depois fomos tomar caldo de cana e comer pastel na Avenida Rio Branco. Enfim, como nos tornamos amigos e estvamos sempre em contato, o Hec- tor me chama para produzir O Beijo da Mulher Aranha... e comeou ali uma aventura que durou nada menos do que cinco anos! A luta para produzir O Beijo daria outro li- vro. Ns supnhamos que seria muito fcil produzi-lo, depois do estrondoso sucesso de Pixote. Grande engano. Todas as produtoras americanas, as majors, as grandes, as mdias, as pequenas e as independentes disseram no ao filme. Todas! Ningum gostou do roteiro, que no tinha aqueles elementos tradicionais da narrativa convencional. Era simplesmente 107 francisco ramalho miolo.indd 107 6/10/2009 22:08:07 dois sujeitos dentro de uma cela, um contan- do histrias para o outro. E como os dois so marginais um, preso poltico; o outro, homos- sexual ambos perseguidos por preconceitos, ningum queria fazer o filme. E quando eu digo ningum, ningum mesmo! E naquele momento quem iria fazer um dos papis princi- pais era o Burt Lancaster, que vinha do grande sucesso Atlantic City. E mesmo assim ningum queria. Para piorar ainda mais as coisas, Burt Lancaster adoece e sai do projeto. O Hector sugere ento desistir da produo in- ternacional e fazer o filme no Brasil mesmo, com Paulo Jos como ator. Foi quando toca o telefone na casa do Hector e a voz do outro lado da linha fala: Al, aqui William Hurt. Eu queria fazer o papel principal de O Beijo da Mulher Aranha. Hector respondeu que no tinha dinheiro para pagar o cach, e o William argumentava que queria fazer o filme, independente do dinhei- ro. Ele ainda no era conhecido, e havia feito somente Corpos Ardentes e estava na Finlndia filmando Mistrio no Parque Gorki. Tanto que o Hector e eu, no primeiro telefonema, achva- mos que quem estava falando era o John Hurt, e no o William, pois s conhecamos o John. Fato que acabamos fechando com William Hurt, e mudamos at a idade do personagem 108 francisco ramalho miolo.indd 108 6/10/2009 22:08:07 principal no roteiro, j que esse papel seria do Burt Lancaster, e seguindo o livro do Puig havia sido escrito para um ator mais velho. De qualquer maneira, esgotadas todas as possibi- lidades nos Estados Unidos, fomos buscar recursos no Brasil, por meio de investidores e empresrios. William Hurt e Raul Julia entraram no projeto de corao, e aceitaram fazer o filme com uma ajuda de custo minscula e a promessa de um percen- tual de bilheteria. Hector, Puig, Snia Braga e eu tambm trabalhamos na base de percentuais a ser arrecadados na bilheteria. Nessa composio de recursos acabou tambm entrando o produtor americano David Weisman, o que deu ao filme um carter de coproduo brasileiro/americana, o que no exatamente verdade, pois todo o dinheiro captado para o filme foi brasileiro. Da- vid no entrou com dinheiro no filme, excetuado uma pequena quantia de um amigo dele, alm de seu prprio trabalho; logo, do ponto de vista financeiro, o filme praticamente 100% brasilei- ro. William Hurt e Raul Julia trabalharam como associados ao filme, sem receber nada. Conseguimos finalizar O Beijo, ele selecionado para a Mostra Competitiva de Cannes, conquista o prmio de melhor ator para William Hurt, e mesmo assim no consegue distribuio nos EUA. Ento, uma companhia de discos chamada Island 109 francisco ramalho miolo.indd 109 6/10/2009 22:08:07 Records cria uma subdiviso de cinema Island Films apenas para distribuir O Beijo da Mulher Aranha. Com uma estratgia das mais criativas e malucas ao mesmo tempo: o filme estreia nos EUA com uma nica cpia em Nova York, num nico cinema da 3 a Avenida, e com um anncio de pgina inteira no New York Times. Era coisa de louco! Por que anunciar uma pgina inteira num dos jornais mais caros do pas, se o filme s estaria em cartaz num nico cinema? Acontece que a ttica deu certo, e o cinema ficou lotado a semana inteira. Assim, aos poucos, o nmero de salas foi aumentando, aumentando, e o filme acaba ficando quase um ano em cartaz. E mais: a estreia aconteceu em pleno vero de julho, contrariando toda e qualquer estratgia de lanamento que dedica o vero americano aos filmes mais comerciais, dedicados juventude. Com isso, O Beijo da Mulher Aranha acaba con- seguindo quatro indicaes ao Oscar incluindo melhor filme e direo e o William Hurt ganha sua estatueta de melhor ator. Tecnicamente, po- demos afirmar sem sombra de dvida que este o primeiro Oscar recebido pelo Brasil, j que O Beijo da Mulher Aranha de fato totalmente brasileiro, quase que inteiramente rodado nos estdios da Vera Cruz, em So Bernardo do Cam- po, com capital totalmente nacional, registrado pela HB Filmes e distribudo no Brasil pela Embra- 110 francisco ramalho miolo.indd 110 6/10/2009 22:08:07 filme. Existe a cpia original falada em ingls e a cpia distribuda no Brasil que foi totalmente dublada e remixada em portugus num trabalho meticuloso que levou trs meses e teve o Geral- do Del Rey como um dos principais dubladores. O elenco brasileiro Snia Braga inclusive se autodublou totalmente. E veja s como nosso pas: na hora da distribuio, os exibidores bra- sileiros preferiram passar as cpias em ingls no Sul, e no Sudeste, onde existe uma plateia mais colonizada, e as em portugus no Nordeste, para plateias mais analfabetas, poca. O sucesso de O Beijo da Mulher Aranha abriu as portas do mercado internacional para Hector, que foi ento convidado para fazer Ironweed nos EUA. Ele at me chamou para ir junto, mas achei que aquela era a hora de tocar um projeto mais meu, mais pessoal, que viria a ser Besame Mucho. Depois do fracasso de Paula, conheci a pea de Mrio Prata, Besame Mucho, num teatro de So Paulo e me interessei por ela por poder falar de novo dos problemas de minha gerao, s que agora com um sorriso nos lbios. A pea narra a trajetria de dois amigos que namoram e se casam com duas amigas e duran- te 20 anos se encontram vivendo o que estava acontecendo no Brasil. Mas um srio problema na narrativa me impedia primeira vista de 111 francisco ramalho miolo.indd 111 6/10/2009 22:08:07 vislumbrar uma adaptao para o cinema: toda a histria narrada de frente para trs, criando conflitos e interesses que nos levam sempre a desejar que a histria continue caminhando para trs, para o passado, mas sem nunca ser um flash back. Fiquei segurando a opo de levar a pea ao cinema por mais de um ano. Ela foi um estrondoso sucesso em So Paulo, e s quando chegou ao Rio, com outro elenco e outra ence- nao, dei o sim ao Mrio Prata, pois vislumbrara um caminho para escrever o roteiro. Modifiquei muito o carter das personagens femininas de modo a encontrar o toque que o Lubitsch, rei da comdia, tanto falava e que fundamentava toda a histria, pois antes havia elementos demasiadamente banais, alguns apenas para contar uma piada, e com as novas personagens femininas tambm cresceram os personagens masculinos. Depois de escrito, Prata deu uma colaborao reescrevendo os dilogos. Contei com um elenco de primeira, Jos Wilker e Glorinha Pires (a Clo, filha dela, aparece me- nininha brincando na praia e viria a ser a atriz que ), Antonio Fagundes e Christiane Torloni, e em suporte, a Giulia Gam e Paulo Betti. Nos ensaios de leitura de mesa, que ocorrem em todo filme, a Glorinha e a Chris pediram-me para montar para elas um roteiro com a narrativa na ordem cronolgica do passado para o presente, 112 francisco ramalho miolo.indd 112 6/10/2009 22:08:07 para que elas pudessem construir melhor suas personagens. No deu certo. A estrutura do ro- teiro no podia ser modificada. Lembro-me que mostrei ao George Walter Durst, dramaturgo da Globo e muito criativo em roteiros; ele gostou muito do texto e da originalidade da estrutura narrativa do filme, indo da frente para trs, mas vaticinou que jamais o filme poderia passar na TV. Mas como a grande arte sempre se popula- riza (veja que Cidado Kane mal foi visto em sua poca, e hoje inmeros filmes so narrados com aquela estrutura), Besame Mucho no h muito tempo passou na Globo e ainda foi escolhido, pelo pblico, para ser reprisado. O filme estreou e foi um grande sucesso, dando- -me prmios internacionais. A premiao em Huelva me deixou muito feliz como h muito no vivera: o filme recebeu o prmio de Melhor Filme, e vrios outros nesse festival, em Cuba, Cartagena, Portugal, etc. Vale ressaltar que desde a ps-produo de O Beijo, e j no Besame Mucho, estava casado com a Alice (Maria Alice de Mendona Lima), intrprete simultnea de ingls e outras lnguas, com quem vivi meu casamento mais longo, hoje desfeito, e dela tive um filho, Theo, que se trans- formou em meu melhor amigo independente de ser meu filho; tenho uma relao com ele que 113 francisco ramalho miolo.indd 113 6/10/2009 22:08:07 me ensinou a viver e me mantm um lutador. Ele estuda Economia na Getlio Vargas, no Rio, e assim, circunstancialmente, fiquei morando com ele todo o primeiro semestre de 2009 pois estava em produo do filme do Jabor, A Supre- ma Felicidade, no Rio. Cartaz de Besame Mucho francisco ramalho miolo.indd 114 6/10/2009 22:08:08 Captulo VIII Hora de Tocar Projetos mais Pessoais Esse perodo de associao com Hector foi sem- pre marcado por grandes projetos, que consu- miam anos para ficar prontos. Foram os casos de O Beijo da Mulher Aranha, Corao Iluminado, Brincando nos Campos do Senhor, trabalhos que me consumiam at o ltimo fio de cabelo, me deixando sem condies nem fsicas, nem mentais, nem de tempo para eu tocar algum projeto pessoal. E esse foi o motivo essencial da nossa separao, que veio a acontecer em 2001. Eu ainda preparei o projeto de Carandiru para o Hector, mas no o produzi. Eu precisa- va respirar, necessitava tocar ideias minhas. E enquanto isso no acontecia, a HB Filmes e a Ramalho Filmes tocavam alguns trabalhos em parceria, como foi o caso de Besame Mucho. Eu s consegui fazer Besame Mucho, que era um projeto pessoal, porque Hector foi convidado a dirigir Ironweed, nos Estados Unidos, e eu fiquei aqui fazendo o meu filme. Claro que Hector me deu toda a fora e todo o apoio na produo e no lanamento do Besame, mas o filme s foi possvel ser rodado porque ele estava nos EUA por um perodo. 115 francisco ramalho miolo.indd 115 6/10/2009 22:08:08 Tentei alguns projetos, como filmar a pea de Flvio de Souza, Fica Comigo Esta Noite, e um livro de Joo Gilberto Noll, A Fria do Corpo, mas tanto um quanto outro, depois de muitas verses de roteiro, foram abandonados por estarem com roteiros muito ruins. Filmar um bom roteiro, um roteiro em que acreditamos, pode resultar num filme no bom, e imagine partir com um roteiro que, de incio, estou vendo que no bom. Ao lado de Hector, cuja convivncia foi em tudo e por tudo muito boa e enriquecedora, descobri que o seu talento to grande que ele era como uma rvore frondosa cuja sombra me encobria. E eu passei a ser muito mais conhecido como produtor que como diretor que eu havia sido at ento. Muitos se surpreenderam, recentemente, quando comecei a desenvolver Canta Maria. Teve gente que disse: Nossa, o Ramalho tambm dirige? Vale lembrar que foi exatamente no Canta Maria que conheci um homem incomum e especial, o escritor do romance, Francisco J.C. Dantas, com quem gostaria de passar dias e dias, meses e meses bebendo sua cultura e sabedoria. Quanto conciliao de ofcios de diretor e produtor tudo muito coerente, pois afinal de contas eu virei produtor no incio da carreira para poder dirigir meus filmes, e fui me afastando desse propsito. Era preciso retornar em outro caminho, em outra direo. E levei anos para isso. 116 francisco ramalho miolo.indd 116 6/10/2009 22:08:08 Alm disso, no perodo da HB Filmes, vrios pro- dutores estrangeiros comearam a descobrir o Brasil, a querer filmar aqui, e assim Hector e eu comeamos tambm a dar um tipo de assistncia a estes cineastas. Assessoramos, por exemplo, John Boorman a filmar A Floresta das Esme- raldas aqui na Amaznia. Ajudamos Richard Lester num projeto chamado Heavens Sent, que acabou nunca sendo filmado. Assessoramos Bob Rafelson num projeto tambm inacabado chamado Samba, que teria Snia Braga, onde montamos cinco equipes simultneas na Praia de Copacabana para filmar o reveillon do Rio de Janeiro. Fizemos vrias reunies com Rolland Joff, que queria filmar A Misso aqui no Brasil, mas que acabou desistindo em funo das enor- mes complicaes burocrticas do nosso pas. Enfim, estvamos operando como uma espcie de consultores cinematogrficos para resolver os problemas legais de produtores estrangeiros que desejavam filmar no Brasil. Assim, estvamos ficando cada vez mais conhe- cidos no exterior. Naquele momento, aconteceu uma histria interessante. O produtor Saul Za- entz que vinha dos grandes sucessos A Insusten- tvel Leveza de Ser e Amadeus ficou sabendo que existia estrutura para se filmar no Brasil, e quis realizar aqui o filme Brincando nos Campos 117 francisco ramalho miolo.indd 117 6/10/2009 22:08:08 do Senhor, a partir do livro de Peter Matthiessen. Ele contrata ento o Hector para dirigir, e diz a ele que ficou sabendo, l na Inglaterra, que havia no Pas um produtor muito bom, brasileiro, que poderia ajudar a fazer o filme. Saul passa ento para Hector um pedacinho de papel com o nome desse tal produtor. Hector l, e no en- tende, porque Saul havia escrito o nome desse brasileiro de ouvido, do jeito que ele havia escutado. Depois de muita conversa, eles chegam a concluso que o nome do papel era alguma coisa parecida com Francisco Ramalho. E assim o Saul contrata no a HB filmes, mas a mim e ao Hector, individualmente, e l vamos ns dois para mais um filme. Hoje eu posso dizer sem medo de errar que pro- duzir Brincando nos Campos do Senhor mudou minha vida. Eu passei praticamente dois anos na Amaznia, sendo que nos primeiros seis meses ainda ia para l e voltava para So Paulo, mas depois desse perodo fui e fiquei l direto. Varri a Amaznia de lado a lado. Vivi experincias humanas inacreditveis e inesquecveis que mudaram os meus conceitos de vida, de valores e de tica. Conheci mais de 30 tribos indgenas, uma das quais acabara de manter seu primeiro contato com o homem branco. Descobri essa riqueza brasileira, talvez um dos poucos pases 118 francisco ramalho miolo.indd 118 6/10/2009 22:08:08 do mundo a t-la: uma quantidade enorme de tribos indgenas, em graus diferentes de desen- volvimento, desde as j aculturadas a aquelas que estavam entrando pela primeira vez em contato com o homem branco, um tesouro hu- mano atestando o processo civilizatrio. Estive tambm em territrio Ianommi, conheci Davi Ianomni, copiamos no Brincando nos Campos do Senhor suas ocas no desenho da arte do filme, enfim, aprendi outra civilizao, uma riqueza to profunda que, repito, no existe em nenhum outro pas. So valores humanos civilizadores e civilizatrios impressionantes! Paralelamente a essa incrvel experincia no campo profissional, tive tambm uma notcia espetacular no campo pessoal. Aps cinco anos de casamento com Alice, recebo a notcia de que ela estava grvida. E eu, perdido na Amaznia. O fato que enquanto viajava pelo Acre, Rond- nia, Par e Amazonas para produzir Brincando nos Campos do Senhor, ela passava a gravidez praticamente sozinha. Embora eu j tivesse garantido, mediante contrato com Saul Zaentz, um perodo de 20 dias de frias para acompa- nhar o nascimento do meu filho. Num desses golpes de sorte inexplicveis, acontece algo incrvel. Em agosto de 1989, praticamente um ms antes da previso do nascimento, eu perco 119 francisco ramalho miolo.indd 119 6/10/2009 22:08:08 uma importante conexo de voo que atrapalha todo o meu cronograma. Resolvo ento passar o final de semana em So Paulo, para ficar com Alice, j no final de gravidez. E foi justamente nesse dia, num domingo de Dia dos Pais, fora de qualquer previso, fora de qualquer expectativa, que nasce o Theo, o filho que veio pra mudar toda a minha vida. S como base de comparao, vale dizer que, antes do Theo, eu simplesmente ia para casa dormir em dias de jogos do Brasil por qualquer Copa do Mundo de Futebol. Agora, at estdio eu frequento. Inexplicavelmente, Theo j nasceu apaixonado por futebol. E j nasceu palmei- rense! E eu aprendi a acompanh-lo. Ou, pelo menos, estou aprendendo. Certo dia, fomos ao estdio para ver um jogo do Palmeiras e eu es- tranhei muito o fato de os times terem entrado em campo, e nenhum deles estar de camisas verdes. Perguntei a Theo por que o Palmeiras no estava em campo, sem ter a mnima noo que o time tinha um segundo uniforme... de camisas brancas! Assim como um time tem mais de uma camisa, separei-me do Hector continuando no mesmo time, amigo dele, mas produtor em minha pro- dutora, a Ramalho Filmes. 120 francisco ramalho miolo.indd 120 6/10/2009 22:08:08 Fiz com o Luiz Villaa e a Denise Fraga a co- mdia muito humana e graciosa, Cristina Quer Casar, no incio de 2002. Fiquei amigo do casal e do Luiz, um irmo. Esse filme narra uma histria delicada de uma jovem desempregada (Denise Fraga) em busca de emprego e casamento, indo parar numa agncia matrimonial, num tom lrico e cmico. Continuamos a amizade e a profisso, fazen- do em 2008 O Contador de Histrias, no qual conheci o personagem-ttulo, Roberto Carlos Ramos, por quem tenho o maior carinho e que me ensinou e ensina a transformao do mundo e a mim mesmo, objetivo que sempre busco. Uma experincia de vida e de cinema, nicas. No perodo produzi ainda Jogo Subterrneo para Roberto Gervitz, baseado num conto do Cortzar. Este filme me deu a chance de alm de conviver com Roberto conhecer Paulo Brito e Paulo Guaspari (e suas respectivas esposas, ngela e Simone), dois empresrios e homens de cinema por quem tenho grande respeito e amizade. Com eles desenvolvo o projeto Amrica Americana previsto para 2011 ou 2012. Tambm produzi para os Barretos O Casamen- to de Romeu e Julieta, com direo do Bruno, transpondo a tragdia shakespeariana para o 121 francisco ramalho miolo.indd 121 6/10/2009 22:08:08 universo local, o do futebol, o da disputa entre palmeirenses e corintianos. No segundo semestre de 2009 h o lanamento de O Contador de Histrias, praticamente ao mesmo tempo que A Suprema Felicidade, de Arnaldo Jabor, caminha a plena produo, no Rio de Janeiro. Essa experincia com Jabor extremamente criativa em funo de ver nascer e permitir gerar um filme das profundezas de sua memria, de sua mente anrquica e tam- bm racional. 122 francisco ramalho miolo.indd 122 6/10/2009 22:08:08 Captulo IX Profisso, Vida, Amores, Famlia... E este Livro que Eu Queria que No Existisse Tivemos at aqui um texto que versa muito mais sobre a minha profisso de cineasta que a respeito da vida pessoal. Mesmo porque esta ltima ainda se encontra cerrada a chaves, pois estou em pleno processo de criao e trabalho. Muita criao e muito trabalho. Aprendi em Histria que s podemos comentar o passado com fontes sobre esse mesmo passado, e evidentemente tudo o que aconteceu de 2000 para c muito recente. Fica para quando estiver mais maduro esse conhecimento. Ainda vivo diariamente a intensa atividade de fa- zer filmes, o que sempre me transforma, alm de ser transformador, mesmo que em grau pequeno, aqueles que os veem. Exercendo a atividade cine- matogrfica, compreendi melhor o pensamento de um escritor japons contemporneo de que: O ser humano solitrio enquanto existncia, mas se interliga com seus semelhantes no mbito da memria, ao que eu complemento como projeto de minha vida, no mbito da criao e feitura dos filmes e no registro que ficam neles para espec- tadores em qualquer lugar e em qualquer poca. 123 francisco ramalho miolo.indd 123 6/10/2009 22:08:08 Mas no me furto de falar sobre pessoas muito especiais que marcaram e marcam minha vida e minha carreira. Casei-me muito jovem, aos 21 anos, com Mary Enice, que foi de certo modo a minha primeira namorada. Tivemos muito rapidamente duas filhas Andria e Arina (nome inspirado num ro- mance de Dostoievski) hoje duas senhoras que j me deram vrios netos. Andria, dois homens: Ian e Pablo, do marido dela, Silas. Ela namora atualmente o AC, Antonio Carlos, arquiteto msico baterista genial. Da outra filha, Arina e meu genro Paulo, laboratorista de fotografia, nasceram Nina, Caio e Lara. De cada um deles posso escrever um livro. a minha famlia, assim como a nica irm viva atualmente, Maria do Carmo, uma grande mu- lher e grande amiga, seus filhos Eduardo (e sua filha Laura) e Vnia (e seu filho Bernardo) e os sobrinhos mais prximos, Verinha, Pedro Jos, Mauro, ou mais distantes, Heloisa Helena, Gisele, Paulo e Celso. Mary, me de Andria e Arina, era supertalen- tosa, generosa, uma pessoa extremamente boa que comeou sua carreira de professora timi- damente num bairro distante de So Paulo, e que chegou a fazer Doutorado em Histria na 124 francisco ramalho miolo.indd 124 6/10/2009 22:08:08 USP. Aps 13 anos de casamento, nos separamos sem um grande motivo aparente, a no ser o do meu amor por ela ter terminado. No creio que tenha sido da mesma forma para ela. Naquela ocasio, 1976, mudei-me para o Rio de Janeiro onde dava aulas noite e escrevia o roteiro e procurava locaes para O Cortio durante o dia. Mary sofreu muito e enquanto sua vida profis- sional progredia, sua sade se deteriorava. Ela veio a falecer em 2004, enquanto eu filmava Jogo Subterrneo. Aps a separao de Mary vim a me casar com Ema Stedile, mais conhecida pelo seu apelido, Miki. O casamento durou apenas quatro anos, e um dos motivos do trmino, entre outros, foi o fato de ela desejar ter filhos, o que eu no queria, pois tinha Andria e Arina. Miki muda-se ento para os EUA e passa a trabalhar na rea de Cinema, como figu- rinista. L ela se casa novamente e tem o filho que queria ter, Sean. Somos amigos at hoje. semelhana de Mary, Miki tambm era pro- fessora de Histria, e posso dizer que estas duas mulheres acenderem em mim a paixo que eu at hoje tenho pelo estudo de temas histricos. Minha terceira esposa foi Maria Alice, ou sim- plesmente Alice. Ela havia cursado Histria da 125 francisco ramalho miolo.indd 125 6/10/2009 22:08:08 Arte em Londres, vivera a maior parte de sua vida no exterior, e voltou ao Brasil onde passou a trabalhar como professora de Ingls e tradutora, at se profissionalizar em tradues simultneas. Foi um casamento de 23 anos que gerou, como j foi dito, o Theo, que mais novo que dois dos meus cinco netos. Somos tambm muito amigos e a considero muito. As mulheres que passaram pela minha vida foram todas muito fortes. Passei vrios anos casado porque tenho verdadeira necessidade disto. Ser cineasta muito intenso, mas tambm muito vazio. O cineasta convive com sua equipe de filmagem durante quatro ou cinco meses de forma muito intensa. Um sabe tudo sobre o outro at sobre a dor de dentro de um deles. Mas quando o filme acaba, a equipe se dispersa e sobra um vazio muito grande. Isso faz com que eu procure ter no casamento uma espcie de porto seguro, uma afetividade que no se quer ver destruda. Mesmo porque minha tica profissional no permite que eu me envolva com pessoas da produo. No momento em que escrevo este texto final (julho de 2009), estou namorando a Fany, uma arquiteta, formosura de gente. Iluminada. Alma graciosa. Que possa durar. Que se sedimente. 126 francisco ramalho miolo.indd 126 6/10/2009 22:08:08 Em Cinema, h um grande crculo, em que con- vivemos no dia a dia da profisso, mas dificil- mente construmos amizades. Claro, h amigos, os dois Luiz, o Fernando, no Rio e o Villaa, em So Paulo, para mim, irmos. O Hector e o Ja- bor. O Roberto (Gervitz) e o Guilherme Almeida Prado. A Ana Carolina. O Lucio Kodato, diretor de fotografia de meus filmes, e o Paulo Ribeiro, proprietrio da Locall, onde tenho escritrio comercial, que sempre me socorre em todos e muitos momentos de aflio. Tambm vejo com frequncia o Lauro Escorel e o Rodolfo Sanches, diretores de fotografia, o Andr Klotzel, o Manga Campion, editor. Continuam amigos o Sidnei Paiva Lopes e o Zetas Malzoni, antigos integrantes da Oca, mas ainda presentes. E, demasiadamente prximos, a rica (Cardoso) que se desaparecer eu tambm desapareo, o Vav, que, alm de cuidar de todas as finanas de cada filme, um conselheiro de toda hora, o Marcelo Torres, que sempre se senta lado a lado comigo levando a produo executiva de nossos filmes com zelo e competncia, e tantos outros. Tive e tenho muitos amigos fora do crculo de Cinema. Prezo-os e amo-os demais. Celso Nucci e Marlia que vivem (mais ele) em Tiradentes e So Paulo, um dos maiores que tenho. Em So Paulo, o Guilherme (Medina) e a Miriam (Schuartz), o Srgio (Melardi) e a Ana so outros 127 francisco ramalho miolo.indd 127 6/10/2009 22:08:08 entre tantos, e sei que estou magoando muitos amigos dedicados e carinhosos no os citando neste breve texto, mais dedicado vida profis- sional do que uma biografia propriamente dita, e que eu no queria que existisse, pois no gosto de entrevistas, muito menos ser biografado em plena vida e atividade e nem do mundo clere de celebridades. Gosto de um bom livro, dos bons amigos, de um bom vinho, de meus filhos e netos, de um bom filme... Da Praia Vermelha, do Rio, de So Paulo. Talvez o leitor destse texto estranhe que eu tenha me relacionado sempre com pessoas s quais me refiro que so geniais e maravilhosas a meu ver. Mas a pura verdade, pois se existem, e existiram jararacas e crocodilos, eu os deixo na selva, eu sou pela civilizao, acredito no homem e em seu poder em se transformar. E o Cinema, o seu fazer, um meio de transformao. Sem- pre me modifico fazendo um filme e sei que um espectador por mais simples que seja, tambm recebe uma pitada de transformao. E assim caminha a humanidade...., por sinal, um grande filme, no acham? Lembram-se daquela cena do James Dean e a Elizabeth Taylor.... ? 128 francisco ramalho miolo.indd 128 6/10/2009 22:08:08 Captulo X Ramalho: quando os Nomes e Currculos das Pessoas Fsica e Jurdica se Confundem Ramalho confunde-se com o currculo de sua produtora, a Francisco Ramalho Jr. Filmes, ou simplesmente Ramalho Filmes, que existe des- de 1983 em So Paulo, capital, que tem como associados os cineastas Francisco Ramalho Jr. e Andria Ramalho. A empresa gerenciada por Francisco Ramalho Jr., produtor, diretor e roteirista. A Ramalho Filmes sucedeu e ficou depositria patrimonial dos filmes de Francisco Ramalho Jr. realizados antes de 1983, quando da fundao dessa empresa. Ramalho realizou em 1968 seu primeiro longa- metragem como diretor (Anuska Manequim e Mulher) e desde ento tem em seu currculo, como produtor e diretor, vrios filmes; entre eles, O Cortio, Flor da Pele, Besame Mucho, Os Amantes da Chuva, Corao Iluminado, Paula, A Histria de uma Subversiva, etc. Lanou em 2006 Canta Maria, com direo, pro- duo e roteiro de Francisco Ramalho Jr., com Vanessa Gicomo, Jos Wilker, Marco Ricca e grande elenco. O filme foi lanado no novembro 129 francisco ramalho miolo.indd 129 6/10/2009 22:08:08 de 2006, pela California Filmes, e exibido no mer- cado internacional no Chicago Latino Film Festi- val, Shangai Film Festival, Calcuta International Film Festival e Mostra de Cinema de Tquio. A Ramalho Filmes lanou em agosto de 2009 O Contador de Histrias, com roteiro e direo de Luiz Villaa associado a Denise Fraga, como coprodutora do projeto, com a atriz franco- portuguesa Maria de Medeiros em distribuio da Warner Bros Pictures. Durante o fechamento editorial deste livro (se- gundo semestre de 2009) desenvolve a produo de A Suprema Felicidade, com roteiro e direo de Arnaldo Jabor e distribuio da Paramount. O lanamento ser em 2010. Ainda desenvolve, para ser filmado em 2010, Amrica Americana, com roteiro e direo de Ramalho. A Ramalho Filmes foi tambm produtora asso- ciada de O Casamento de Romeu e Julieta, de Bruno Barreto com Luana Piovani e Luis Gustavo (2005, Columbia), associada de Jogo Subterrneo (2004/2005, Columbia), de Roberto Gervitz, com Felipe Camargo, Maria Luisa Mendona, Daniela Escobar e Mait Proena; associada de Cristina Quer Casar (2001/2002, Fox) direo de Luiz Villaa, com Denise Fraga, Marco Ricca e Fbio Assuno. 130 francisco ramalho miolo.indd 130 6/10/2009 22:08:08 Em 1983, Francisco Ramalho Jr. associou-se a Hector Babenco na HB Filmes Ltda., e copro- duziu com este vrios filmes, de 1981 a 1997, entre eles, O Beijo da Mulher Aranha, indicado para cinco Oscar, vencendo na categoria de Melhor Ator. Foi produtor executivo de Saul Zaentz na produo norte-americana rodada na Amaznia, Brincando nos Campos do Senhor. Foi produtor de vrios filmes de Babenco, alm de ter trabalhado como consultor e produtor executivo em vrias produes internacionais que estiveram no Brasil. Durante todo o perodo de associao com Ba- benco, a Ramalho Filmes continuou sua existncia. Excluem-se desta filmografia curtas e mdias- -metragens. Assim, Ramalho tem mais de 40 anos de profis- so e dever ter outros 40, tal a quantidade de projetos que possui. 131 francisco ramalho miolo.indd 131 6/10/2009 22:08:08 francisco ramalho miolo.indd 132 6/10/2009 22:08:09 Cronologia 2009/10 America Americana Direo e roteiro de Francisco Ramalho Jr. , ba- seado em argumento original de Paulo Brito. Produo: Ramalho Filmes. Em desenvolvimento do projeto. 2009 A Suprema Felicidade Direo e roteiro de Arnaldo Jabor, produo de Francisco Ramalho Jr. para a Ramalho Filmes. Filmagens no primeiro semestre de 2009 no Rio, com distribuio da Paramount. Com Marco Nanini e Dan Stulbach. 2008/9 O Contador de Histrias Direo e roteiro de Luiz Villaa, produo de Francisco Ramalho Jr. para a Ramalho Filmes. Com a atriz internacional Maria de Medeiros, e lanado em 7 de agosto de 2009 pela Warner Bros. 2006/7 Canta Maria Direo e roteiro de Francisco Ramalho Jr., ba- seado em romance Os Desvalidos de Francisco Dantas. Produo: Ramalho Filmes. Com Vanes- sa Gicomo, Marco Ricca, Jos Wilker, Edward Dirigindo 133 francisco ramalho miolo.indd 133 6/10/2009 22:08:09 francisco ramalho miolo.indd 134 6/10/2009 22:08:09 Boggiss. Canes originais de Daniela Mercury. Festivais de Calcut, Xangai, Chicago e Japo. 2005 O Casamento de Romeu e Julieta Direo de Bruno Barreto, produo de Luis Car- los Barreto e Paula Barreto, com Luana Piovani, Luis Gustavo, Marco Ricca e Mel Lisboa. Produtor associado: Ramalho Filmes. Executivo: Francisco Ramalho Jr. 2003/5 Jogo Subterrneo Direo de Roberto Gervitz, Produo Vaga- lume Produes Cinematogrficas. Produtor Associado: Ramalho Filmes. Executivo: Francisco Ramalho Jr. Com Felipe Camargo, Maria Luisa Mendona, Julia Lemmertz, Daniela Escobar e Mait Proena. 2002/3 Cristina Quer Casar Direo: Luiz Villaa. Produo NIA Produes Artsticas e Ramalho Filmes. Com Denise Fraga, Marco Ricca e Fbio Assuno. 1997/8 Corao Iluminado Direo de Hector Babenco. Produo HB Filmes e Francisco Ramalho Jr. Representante oficial do Brasil no Festival de Cannes em 1998. Com Dirigindo Vanessa Gicomo em Canta Maria 135 francisco ramalho miolo.indd 135 6/10/2009 22:08:10 Maria Luiza Mendona, Xuxa Lopes, Walter Quiroga. Produtor com Hector Babenco e Pro- dutor Executivo. 1990/1 Brincando nos Campos do Senhor Direo de Hector Babenco. Produo: The Saul Zaentz Company, USA. Produtor Executivo: Francisco Ramalho Jr. Com Tom Berenger, Daryl Hannah, Tom Waits, Katy Bates, Jos Dumont, Nelson Xavier. 1987 Besame Mucho Direo de Francisco Ramalho Jr. Prmio Colom- bo de Ouro de Melhor Filme no Festival Ibero- americano de Huelva, e Meno Honrosa da Radio Espaa no Mesmo Festival (87). Prmio de Melhor Roteiro (escrito por Francisco Ramalho Jr. e Mario Prata) em Cartagena, Colmbia (87) e no Festival de Gramado, Brasil (87). Prmio em Havana. Baseado na pea teatral de Mario Prata, com Jos Wilker, Christane Torloni, Gloria Pires e Antonio Fagundes. Produo: HB Filmes Ltda e Ramalho Filmes como Produtor Majoritrio. 1983 e 1985 O Beijo da Mulher Aranha Direo de Hector Babenco. Produo HB Fil- mes. Vencedor do Oscar de Melhor Ator em 85 136 francisco ramalho miolo.indd 136 6/10/2009 22:08:10 alm de indicaes para Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado. Prmio de Melhor Ator no Festival Internacional do Filme de Cannes, no mesmo ano. Produtor com Hector Babenco, David Weissman e Produtor Executivo: Francisco Ramalho Jr. Com William Hurt, Raul Julia, Snia Braga, Jos Lewgoy. 1981 Das Tripas Corao Direo de Ana Carolina. Produo Crystal Ci- nematogrfica. Produtor Executivo: Francisco Ramalho Jr. Com Antonio Fagundes, Dina Sfat, Miriam Muniz. 1981 Filhos e Amantes Direo de Francisco Ramalho Jr. Roteiro de Francisco Ramalho, produo de A. P. Galante & Francisco Ramalho Jr. Roteiro e argumento de Francisco Ramalho Jr. Com Denise Dummont, Lcia Verssimo, Walmor Chagas e Rene de Vielmond. 1979 Os Amantes da Chuva Direo de Roberto Santos. Produo: Oca Ci- nematogrfica. Produtor, produtor executivo e corroteirista: Francisco Ramalho Jr. Com Helber Rangel, Bete Mendes. 137 francisco ramalho miolo.indd 137 6/10/2009 22:08:10 francisco ramalho miolo.indd 138 6/10/2009 22:08:11 Sheila Agneli, intervalo de filmagem de Paula Walter Martins em Paula francisco ramalho miolo.indd 139 6/10/2009 22:08:11 1978 Paula, a Histria de uma Subversiva Direo, argumento e roteiro de Francisco Ra- malho Jr. Produo da OCA Cinematogrfica. Direitos atuais: Ramalho Filmes. Com Armando Bogus, Regina Braga e Marlene Frana. 1977 Caramuru Direo de Francisco Ramalho Jr. Produo Embrafilme e Oca Cinematogrfica. Telefilme (60 minutos) com argumento de Joo Felcio dos Santos e roteiro de Francisco Ramalho Jr. Com Walter Martins. Direitos autorais: Ramalho Filmes. 1977 O Cortio Direo de Francisco Ramalho Jr. Da obra de Alusio de Azevedo roteirizada por Francisco Ramalho Jr. Produo da Argos Filmes. Direitos autorais: Ramalho Filmes. Com Betty Faria, Ar- mando Bogus, Beatriz Segall. 1976 Flor da Pele Direo de Francisco Ramalho Jr. Premiado em Gramado (77) como Melhor Filme, Melhor Atriz e Melhor Roteiro (Francisco Ramalho Jr). Prmio Air France para Melhor Atriz. Baseado Denise Bandeira em Flor da Pele 140 francisco ramalho miolo.indd 140 6/10/2009 22:08:12 francisco ramalho miolo.indd 141 6/10/2009 22:08:12 em pea de Consuelo de Castro roteirizada por Francisco Ramalho Jr. Produo da OCA Cinematogrfica. Com Juca de Oliveira, Denise Bandeira e Beatriz Segall. Direitos autorais: Ramalho Filmes. 1975 Joozinho Episdio do longa Sabendo Usar no Vai Fal- tar. Direo, roteiro e argumento de Francisco Ramalho Jr. Produo A. P. Galante & Alfredo Palcios e OCA Cinematogrfica. Direitos auto- rais: Ramalho Filmes. Com Ewerton de Castro. 1974 Nordeste: Repente, Cordel e Cano Direo, produo e argumento de Tnia Qua- resma. Direo de Produo : Francisco Ramalho Jr. Documentrio de longa-metragem fotogra- fado por Lucio Kodato. 1968/69 Anuska Manequim e Mulher Direo de Francisco Ramalho Jr. Baseado em conto de Ignacio de Loyola roteirizado por Francisco Ramalho Jr. Produo da Tecla Cine- matogrfica. Prmio APCA melhor trilha musical. Direitos autorais: Ramalho Filmes. Com Francisco Cuoco, Marlia Branco e Armando Bogus. 142 francisco ramalho miolo.indd 142 6/10/2009 22:08:12 ndice Apresentao Jos Serra 5 Coleo Aplauso Hubert Alqures 7 Introduo Celso Sabadin 11 ramos Apenas Paulistas 15 Os Loucos Anos da Politcnica 19 Incio de Carreira: Sou Expulso da Sala de um Exibidor 31 Queria filmar Flor da Pele. Filmei Sabendo Usar No Vai Faltar 57 O Cortio Estava Repleto de Atores Globais... ... o que No Era Importante naquela poca 77 Paula A Histria de uma Subversiva Provou que o Pblico No Estava Interessado em Ver uma Histria sobre a Poltica Brasileira 85 Uma Nova Fase: o Encontro com Babenco 105 Hora de Tocar Projetos mais Pessoais 115 Profisso, Vida, Amores, Famlia... E este Livro que Eu Queria que No Existisse 123 Ramalho: quando os Nomes e Currculos das Pessoas Fsica e Jurdica se Confundem 129 Cronologia 133 francisco ramalho miolo.indd 143 6/10/2009 22:08:12 francisco ramalho miolo.indd 144 6/10/2009 22:08:12 Crdito das Fotografias Acervo de Francisco Ramalho Jr. 68, 69, 80, 84, 90, 91, 104, 132, 134, 138 Acervo de Rubens Ewald Filho 40, 41, 42, 43, 53, 54, 55, 56, 71, 72, 73, 74, 86, 87, 92, 94, 95, 96, 114, 139, 141 A despeito dos esforos de pesquisa empreendidos pela Editora para identificar a autoria das fotos expostas nesta obra, parte delas no de autoria conhecida de seus organizadores. Agradecemos o envio ou comunicao de toda informao relativa autoria e/ou a outros dados que porventura estejam incompletos, para que sejam devidamente creditados. francisco ramalho miolo.indd 145 6/10/2009 22:08:12 francisco ramalho miolo.indd 146 6/10/2009 22:08:12 Coleo Aplauso Srie Cinema Brasil Alain Fresnot Um Cineasta sem Alma Alain Fresnot Agostinho Martins Pereira Um Idealista Mximo Barro O Ano em Que Meus Pais Saram de Frias Roteiro de Cludio Galperin, Brulio Mantovani, Anna Muylaert e Cao Hamburger Anselmo Duarte O Homem da Palma de Ouro Luiz Carlos Merten Antonio Carlos da Fontoura Espelho da Alma Rodrigo Murat Ary Fernandes Sua Fascinante Histria Antnio Leo da Silva Neto O Bandido da Luz Vermelha Roteiro de Rogrio Sganzerla Batismo de Sangue Roteiro de Dani Patarra e Helvcio Ratton Bens Confiscados Roteiro comentado pelos seus autores Daniel Chaia e Carlos Reichenbach Braz Chediak Fragmentos de uma vida Srgio Rodrigo Reis Cabra-Cega Roteiro de Di Moretti, comentado por Toni Venturi e Ricardo Kauffman O Caador de Diamantes Roteiro de Vittorio Capellaro, comentado por Mximo Barro francisco ramalho miolo.indd 147 6/10/2009 22:08:12 Carlos Coimbra Um Homem Raro Luiz Carlos Merten Carlos Reichenbach O Cinema Como Razo de Viver Marcelo Lyra A Cartomante Roteiro comentado por seu autor Wagner de Assis Casa de Meninas Romance original e roteiro de Incio Arajo O Caso dos Irmos Naves Roteiro de Jean-Claude Bernardet e Luis Srgio Person O Cu de Suely Roteiro de Karim Anouz, Felipe Bragana e Maurcio Zacharias Chega de Saudade Roteiro de Luiz Bolognesi Cidade dos Homens Roteiro de Elena Sorez Como Fazer um Filme de Amor Roteiro escrito e comentado por Luiz Moura e Jos Roberto Torero O Contador de Histrias Roteiro de Mauricio Arruda, Jos Roberto Torero, Mariana Verssimo e Luiz Villaa Crticas de B.J. Duarte Paixo, Polmica e Generosidade Org. Luiz Antnio Souza Lima de Macedo Crticas de Edmar Pereira Razo e Sensibilidade Org. Luiz Carlos Merten Crticas de Jairo Ferreira Crticas de inveno: Os Anos do So Paulo Shimbun Org. Alessandro Gamo francisco ramalho miolo.indd 148 6/10/2009 22:08:12 Crticas de Luiz Geraldo de Miranda Leo Anali- sando Cinema: Crticas de LG Org. Aurora Miranda Leo Crticas de Rubem Bifora A Coragem de Ser Org. Carlos M. Motta e Jos Jlio Spiewak De Passagem Roteiro de Cludio Yosida e Direo de Ricardo Elias Desmundo Roteiro de Alain Fresnot, Anna Muylaert e Sabina Anzuategui Djalma Limongi Batista Livre Pensador Marcel Nadale Dogma Feijoada: O Cinema Negro Brasileiro Jeferson De Dois Crregos Roteiro de Carlos Reichenbach A Dona da Histria Roteiro de Joo Falco, Joo Emanuel Carneiro e Daniel Filho Os 12 Trabalhos Roteiro de Cludio Yosida e Ricardo Elias Estmago Roteiro de Lusa Silvestre, Marcos Jorge e Cludia da Natividade Fernando Meirelles Biografia Prematura Maria do Rosrio Caetano Fim da Linha Roteiro de Gustavo Steinberg e Guilherme Werneck; Story- boards de Fbio Moon e Gabriel B Fome de Bola Cinema e Futebol no Brasil Luiz Zanin Oricchio Geraldo Moraes O Cineasta do Interior Klecius Henrique francisco ramalho miolo.indd 149 6/10/2009 22:08:12 Guilherme de Almeida Prado Um Cineasta Cinfilo Luiz Zanin Oricchio Helvcio Ratton O Cinema Alm das Montanhas Pablo Villaa O Homem que Virou Suco Roteiro de Joo Batista de Andrade, organizao de Ariane Abdallah e Newton Cannito Ivan Cardoso O Mestre do Terrir Remier Joo Batista de Andrade Alguma Solido e Muitas Histrias Maria do Rosrio Caetano Jorge Bodanzky O Homem com a Cmera Carlos Alberto Mattos Jos Antonio Garcia Em Busca da Alma Feminina Marcel Nadale Jos Carlos Burle Drama na Chanchada Mximo Barro Liberdade de Imprensa O Cinema de Interveno Renata Fortes e Joo Batista de Andrade Luiz Carlos Lacerda Prazer & Cinema Alfredo Sternheim Maurice Capovilla A Imagem Crtica Carlos Alberto Mattos Mauro Alice Um Operrio do Filme Sheila Schvarzman Miguel Borges Um Lobisomem Sai da Sombra Antnio Leo da Silva Neto No por Acaso Roteiro de Philippe Barcinski, Fabiana Werneck Barcinski e Eugnio Puppo francisco ramalho miolo.indd 150 6/10/2009 22:08:12 Narradores de Jav Roteiro de Eliane Caff e Lus Alberto de Abreu Onde Andar Dulce Veiga Roteiro de Guilherme de Almeida Prado Orlando Senna O Homem da Montanha Hermes Leal Pedro Jorge de Castro O Calor da Tela Rogrio Menezes Quanto Vale ou por Quilo Roteiro de Eduardo Benaim, Newton Cannito e Sergio Bianchi Ricardo Pinto e Silva Rir ou Chorar Rodrigo Capella Rodolfo Nanni Um Realizador Persistente Neusa Barbosa Salve Geral Roteiro de Srgio Rezende e Patrcia Andrade O Signo da Cidade Roteiro de Bruna Lombardi Ugo Giorgetti O Sonho Intacto Rosane Pavam Vladimir Carvalho Pedras na Lua e Pelejas no Planalto Carlos Alberto Mattos Viva-Voz Roteiro de Mrcio Alemo Zuzu Angel Roteiro de Marcos Bernstein e Sergio Rezende Srie Cinema Bastidores Um Outro Lado do Cinema Elaine Guerini francisco ramalho miolo.indd 151 6/10/2009 22:08:13 Srie Cincia & Tecnologia Cinema Digital Um Novo Comeo? Luiz Gonzaga Assis de Luca A Hora do Cinema Digital Democratizao e Globalizao do Audiovisual Luiz Gonzaga Assis de Luca Srie Crnicas Crnicas de Maria Lcia Dahl O Quebra-cabeas Maria Lcia Dahl Srie Dana Rodrigo Pederneiras e o Grupo Corpo Dana Universal Srgio Rodrigo Reis Srie Teatro Brasil Alcides Nogueira Alma de Cetim Tuna Dwek Antenor Pimenta Circo e Poesia Danielle Pimenta Cia de Teatro Os Satyros Um Palco Visceral Alberto Guzik Crticas de Clvis Garcia A Crtica Como Oficio Org. Carmelinda Guimares Crticas de Maria Lucia Candeias Duas Tbuas e Uma Paixo Org. Jos Simes de Almeida Jnior Federico Garca Lorca Pequeno Poema Infinito Roteiro de Jos Mauro Brant e Antonio Gilberto Joo Bethencourt O Locatrio da Comdia Rodrigo Murat francisco ramalho miolo.indd 152 6/10/2009 22:08:13 Leilah Assumpo A Conscincia da Mulher Eliana Pace Lus Alberto de Abreu At a ltima Slaba Adlia Nicolete Maurice Vaneau Artista Mltiplo Leila Corra Renata Palottini Cumprimenta e Pede Passagem Rita Ribeiro Guimares Teatro Brasileiro de Comdia Eu Vivi o TBC Nydia Licia O Teatro de Alcides Nogueira Trilogia: pera Joyce Gertrude Stein, Alice Toklas & Pablo Picasso Plvora e Poesia Alcides Nogueira O Teatro de Ivam Cabral Quatro textos para um tea- tro veloz: Faz de Conta que tem Sol l Fora Os Cantos de Maldoror De Profundis A Herana do Teatro Ivam Cabral O Teatro de Noemi Marinho: Fulaninha e Dona Coisa, Homeless, Cor de Ch, Plantonista Vilma Noemi Marinho Teatro de Revista em So Paulo De Pernas para o Ar Neyde Veneziano O Teatro de Samir Yazbek: A Entrevista O Fingidor A Terra Prometida Samir Yazbek Teresa Aguiar e o Grupo Rotunda Quatro Dcadas em Cena Ariane Porto francisco ramalho miolo.indd 153 6/10/2009 22:08:13 Srie Perfil Aracy Balabanian Nunca Fui Anjo Tania Carvalho Arllete Montenegro F, Amor e Emoo Alfredo Sternheim Ary Fontoura Entre Rios e Janeiros Rogrio Menezes Bete Mendes O Co e a Rosa Rogrio Menezes Betty Faria Rebelde por Natureza Tania Carvalho Carla Camurati Luz Natural Carlos Alberto Mattos Cecil Thir Mestre do seu Ofcio Tania Carvalho Celso Nunes Sem Amarras Eliana Rocha Cleyde Yaconis Dama Discreta Vilmar Ledesma David Cardoso Persistncia e Paixo Alfredo Sternheim Denise Del Vecchio Memrias da Lua Tuna Dwek Elisabeth Hartmann A Sarah dos Pampas Reinaldo Braga Emiliano Queiroz Na Sobremesa da Vida Maria Leticia Etty Fraser Virada Pra Lua Vilmar Ledesma francisco ramalho miolo.indd 154 6/10/2009 22:08:13 Ewerton de Castro Minha Vida na Arte: Memria e Potica Reni Cardoso Fernanda Montenegro A Defesa do Mistrio Neusa Barbosa Gergia Gomide Uma Atriz Brasileira Eliana Pace Gianfrancesco Guarnieri Um Grito Solto no Ar Srgio Roveri Glauco Mirko Laurelli Um Arteso do Cinema Maria Angela de Jesus Ilka Soares A Bela da Tela Wagner de Assis Irene Ravache Caadora de Emoes Tania Carvalho Irene Stefania Arte e Psicoterapia Germano Pereira Isabel Ribeiro Iluminada Luis Sergio Lima e Silva Joana Fomm Momento de Deciso Vilmar Ledesma John Herbert Um Gentleman no Palco e na Vida Neusa Barbosa Jonas Bloch O Ofcio de uma Paixo Nilu Lebert Jos Dumont Do Cordel s Telas Klecius Henrique Leonardo Villar Garra e Paixo Nydia Licia Llia Cabral Descobrindo Llia Cabral Analu Ribeiro francisco ramalho miolo.indd 155 6/10/2009 22:08:13 Lolita Rodrigues De Carne e Osso Eliana Castro Louise Cardoso A Mulher do Barbosa Vilmar Ledesma Marcos Caruso Um Obstinado Eliana Rocha Maria Adelaide Amaral A Emoo Libertria Tuna Dwek Marisa Prado A Estrela, O Mistrio Luiz Carlos Lisboa Mauro Mendona Em Busca da Perfeio Renato Srgio Miriam Mehler Sensibilidade e Paixo Vilmar Ledesma Nicette Bruno e Paulo Goulart Tudo em Famlia Elaine Guerrini Nvea Maria Uma Atriz Real Mauro Alencar e Eliana Pace Niza de Castro Tank Niza, Apesar das Outras Sara Lopes Paulo Betti Na Carreira de um Sonhador Tet Ribeiro Paulo Jos Memrias Substantivas Tania Carvalho Pedro Paulo Rangel O Samba e o Fado Tania Carvalho Regina Braga Talento um Aprendizado Marta Ges Reginaldo Faria O Solo de Um Inquieto Wagner de Assis francisco ramalho miolo.indd 156 6/10/2009 22:08:13 Renata Fronzi Chorar de Rir Wagner de Assis Renato Borghi Borghi em Revista lcio Nogueira Seixas Renato Consorte Contestador por ndole Eliana Pace Rolando Boldrin Palco Brasil Ieda de Abreu Rosamaria Murtinho Simples Magia Tania Carvalho Rubens de Falco Um Internacional Ator Brasileiro Nydia Licia Ruth de Souza Estrela Negra Maria ngela de Jesus Srgio Hingst Um Ator de Cinema Mximo Barro Srgio Viotti O Cavalheiro das Artes Nilu Lebert Silvio de Abreu Um Homem de Sorte Vilmar Ledesma Snia Guedes Ch das Cinco Adlia Nicolete Sonia Maria Dorce A Queridinha do meu Bairro Sonia Maria Dorce Armonia Sonia Oiticica Uma Atriz Rodrigueana? Maria Thereza Vargas Suely Franco A Alegria de Representar Alfredo Sternheim Tatiana Belinky ... E Quem Quiser Que Conte Outra Srgio Roveri francisco ramalho miolo.indd 157 6/10/2009 22:08:13 Tony Ramos No Tempo da Delicadeza Tania Carvalho Vera Holtz O Gosto da Vera Analu Ribeiro Vera Nunes Raro Talento Eliana Pace Walderez de Barros Voz e Silncios Rogrio Menezes Zez Motta Muito Prazer Rodrigo Murat Especial Agildo Ribeiro O Capito do Riso Wagner de Assis Beatriz Segall Alm das Aparncias Nilu Lebert Carlos Zara Paixo em Quatro Atos Tania Carvalho Cinema da Boca Dicionrio de Diretores Alfredo Sternheim Dina Sfat Retratos de uma Guerreira Antonio Gilberto Eva Todor O Teatro de Minha Vida Maria Angela de Jesus Eva Wilma Arte e Vida Edla van Steen Gloria in Excelsior Ascenso, Apogeu e Queda do Maior Sucesso da Televiso Brasileira lvaro Moya Lembranas de Hollywood Dulce Damasceno de Britto, organizado por Alfredo Sternheim francisco ramalho miolo.indd 158 6/10/2009 22:08:13 Maria Della Costa Seu Teatro, Sua Vida Warde Marx Ney Latorraca Uma Celebrao Tania Carvalho Raul Cortez Sem Medo de se Expor Nydia Licia Rede Manchete Aconteceu, Virou Histria Elmo Francfort Srgio Cardoso Imagens de Sua Arte Nydia Licia Tnia Carrero Movida pela Paixo Tania Carvalho TV Tupi Uma Linda Histria de Amor Vida Alves Victor Berbara O Homem das Mil Faces Tania Carvalho Walmor Chagas Ensaio Aberto para Um Homem Indignado Djalma Limongi Batista francisco ramalho miolo.indd 159 6/10/2009 22:08:13 Formato: 12 x 18 cm Tipologia: Frutiger Papel miolo: Offset LD 90 g/m 2 Papel capa: Triplex 250 g/m 2 Nmero de pginas: 164 Editorao, CTP, impresso e acabamento: Imprensa Oficial do Estado de So Paulo francisco ramalho miolo.indd 160 6/10/2009 22:08:13 Coleo Aplauso Srie Cinema Brasil Coordenador Geral Rubens Ewald Filho Coordenador Operacional e Pesquisa Iconogrfica Marcelo Pestana Projeto Grfico Carlos Cirne Editor Assistente Felipe Goulart Editorao Sandra Regina Brazo Selma Brisolla Tratamento de Imagens Jos Carlos da Silva Reviso Wilson Ryoji Imoto francisco ramalho miolo.indd 161 6/10/2009 22:08:13 Imprensa Oficial do Estado de So Paulo Rua da Mooca, 1921 Mooca 03103-902 So Paulo SP www.imprensaoficial.com.br/livraria [email protected] Grande So Paulo SAC 11 5013 5108 | 5109 Demais localidades 0800 0123 401 2009 Dados Internacionais de Catalogao na Publicao Biblioteca da Imprensa Oficial do Estado de So Paulo Sabadin, Celso Francisco Ramalho Jr. : ramos apenas paulistas / Celso Sabadin So Paulo : Imprensa Oficial do Estado de So Paulo, 2009. 164p. : il. (Coleo aplauso. Srie cinema Brasil / Coordenador geral Rubens Ewald Filho) ISBN 978-85-7060-769-0 (Imprensa Oficial) 1. Cinema Brasil Histria 2. Cinema Brasil Produtores e Diretores Biografia 3. Ramalho Jr., Francisco, 1940. I. Ewald Filho, Rubens. II. Ttulo. III. Srie. CDD 791.437 098 1 ndices para catlogo sistemtico: 1. Brasil : Cinema : Produtores e Diretores : Biografia 791.437 098 1 Proibida reproduo total ou parcial sem autorizao prvia do autor ou dos editores Lei n 9.610 de 19/02/1998 Foi feito o depsito legal Lei n 10.994, de 14/12/2004 Impresso no Brasil / 2009 Todos os direitos reservados. Coleo Aplauso | em todas as livrarias e no site www.imprensaoficial.com.br/livraria francisco ramalho miolo.indd 162 6/10/2009 22:08:13 Coleo Aplauso | em todas as livrarias e no site www.imprensaoficial.com.br/livraria francisco ramalho miolo.indd 163 6/10/2009 22:08:13 francisco ramalho miolo.indd 164 6/10/2009 22:08:13 francisco ramalho capa.indd 1 27/10/2009 21:14:28