PEPP - Metodologia Política Económica
PEPP - Metodologia Política Económica
PEPP - Metodologia Política Económica
(NOTAS METODOLÓGICAS )
Augusto Mateus
(1994)
POLÍTICA ECONÓMICA
INTRODUÇÃO
"Processo pelo qual o governo hierarquiza certos objectivos, à luz dos seus
fins de política económica geral e usa instrumentos ou alterações
institucionais para os alcançar" (KIRSCHEN, 1974);
Estas definições levantam todo um conjunto de aspectos relevantes, bem para além
da tradicional oposição entre abordagem "positiva" (estudo explicativo dos fenómenos)
e abordagem "normativa" (explicitação de conteúdos de intervenção sobre os
mesmos) que, de forma simplista, é frequentemente utilizada para situar a diferença
entre "análise económica" e "política económica".
O INDEPENDÊNCIA O COMPLEMENTARIEDADE
1 1
O O
2 2
O CONFLITUALIDADE O COMPLEMENTARIEDADE
1 1 -> CONFLITUALIDADE
O O
2 2
Funções ECONÓMICO
a) afectação
t
b) redistribuição
c) estabilização (b) Racionalidade política
(maquiavelismo politicista)
AGENTES Estratégias
ECONÓMICOS .
Comportamentos
"CICLOS V (3)
DE VIDA" (2)
CONSUMO
(4)
(Produtos)
FAMÍLIAS
(1) Inovação
(1)
POUPANÇA
(2) Desenvolvimento
(3) Maturação
EMPRESAS INVESTIMENTO (4) Declínio t
[1] A análise das decisões políticas e administrativas dos "policy maker" com base em elementos
de mercado levanta um conjunto alargado de questões polémicas, nomeadamente :
- o "mercado político" difere substancialmente do "mercado económico", na medida
em que os factores de concentração e marginalização se afirmam com muito
maior clareza na ausência da força coerciva da concorrência e no valor estratégico
da informação (acesso, controlo);
- a disputa do eleitorado num quadro de estabilidade política (formação de maiorias)
tende a conferir ao "eleitor mediano" um peso decisivo na formulação dos
projectos políticos contribuíndo para uma atenuação das diferenças entre os
principais partidos ou blocos políticos rivais;
- a regra da opção maioritária não garante nenhum processo de escolhas colectivas
racionais a partir de preferências individuais sempre que os objectivos em causa
sejam múltiplos - inexistência de transitividade com n>2 (ARROW).
(SISTEMA REGULADO)
ECONOMIA
(objectivos)
(instrumentos)
POLÍTICA
ECONÓMICA
(SISTEMA REGULADOR)
Mas, poderá a política económica ser representada como realidade exterior ao sistema
económico e ao sistema político-social ?
ECONOMIA
POLÍTICA
ECONÓMICA
ECONOMIA
POLÍTICA
ECONÓMICA
SISTEMA
POLÍTICO-SOCIAL
[2] O ponto que procuramos estabelecer é o de que só são legítimas as analogias em que o
sistema regulador e o sistema regulado sejam mutuamente dependentes na sua própria
evolução e configuração (e não separados, independentes).
Com efeito, embora seja possível falar a propósito de ambos os sistemas de dois tipos
de "homeostase" (potencial de reequilíbrio), funcional (relativo a perturbações em
variáveis do sistema) e estrutural (relativo a desorganização ao nível dos seus
elementos básicos), os sistemas económicos e sociais comportam duas características
próprias que lhes conferem uma natureza particular :
a) são sistemas com história e não apenas com evolução (sistemas que se
transformam num tempo irreversível);
[3] "Para a sociedade humana a história não é uma sucessão de estados em que os últimos se
geram por transformação dos anteriores. O conceito de "estado" não exige a consciência do
mesmo. Para o sistema social a história é uma sucessão de situações, criadas por forças
sociais, onde efectivamente cada uma delas é gerada como transformação da anterior. A
criação de situações nem sempre é um produto consciente das forças sociais, mas estas
acabam sempre por tomar consciência delas" (MATUS, 1980, p.37).
A política económica pode, assim, ser concebida num contexto bastante amplo onde
se articulam a regulação e a transformação estrutural.
max
depressão recessão
retoma expansão
min
Emprego
min max
L '
C E
4
C
3
C A
2 3
A
1
C A
1 0
A
2
A
4
'
L
V V V V Desemprego
1 2 3 4
Esta articulação pode ser mais ou menos estreita, mais ou menos permanente, mas
encontra-se sempre presente no processo de elaboração de uma política económica
concreta e é através dela que se satisfazem as principais necessidades deste processo.
Estes compromissos são tanto mais difíceis de realizar quanto a própria realidade
evolui e se complexifica com suficiente rapidez para produzir situações em que se
procuram aplicar modelos para descrever realidades que já deixaram de existir ou que
já se transformaram o suficiente para que o modelo seja demasiado simples ou tenha
insuficiente aderência empírica.
[4] "É claro que, dada uma certa fenomenologia, é sempre possível construir um modelo que a
descreva. Noutros termos, se se empregarem os parâmetros suficientes e funções de grau
suficientemente elevado pode-se construir um modelo matemático de qualquer coisa. Mas o
verdadeiro problema não é evidentemente este, ele reside, ao contrário, na construção de
um modelo que não recorra a "demasiadas" entidades matemáticas. Existe, portanto, um
conflito entre a aderência rigorosa aos dados empíricos, isto é, aquilo que os
anglosaxónicos chamam "fit", e o número dos parâmetros que entram no modelo : se se
introduzem muitos parâmetros obtem-se um bom "fit" mas um modelo complicado; se se
introduzem poucos, o modelo simplifica-se mas obtem-se um mau "fit". Os melhores
modelos serão, assim, aqueles que consigam, com alguns compromissos, um bom "fit"
com poucos parâmetros.(R.THOM, Parabole e Catastrofi, Il Saggiatore, Milão, 1980, pp. 98)
tal não é possível - dados (ou variáveis não controladas para a política
económica).
• por outro lado, importa, ao nível das variáveis endógenas, separar aquelas
que são pertinentes para a caracterização do estado do sistema económico -
objectivos - das outras variáveis - não-pertinentes (para a política
económica).
[5] As variáveis não controladas pelos responsáveis pela política económica não
desempenham todas o mesmo papel, nem devem ser assimiladas a variáveis passivas. Em
muitos casos algumas delas podem assumir um protagonismo decisivo surgindo como
representativas de "choques externos" que se podem configurar como restrição prinicipal para
a elaboração da política económica (pense-se, por exemplo, nos diferentes choques
petrolíferos ao longo dos anos 70 e 80).
VARIÁVEIS RELAÇÕES
DEFINIÇÃO
DADOS
(Ex: Yd = Y - T)
EXÓGENAS
INSTRUMENTOS
EQUILÍBRIO
(Ex: Y = D)
TÉCNICAS
OBJECTIVOS
(Ex: Q = f (L, K) )
ENDÓGENAS
NÃO PERTINENTES
RESTRIÇÕES
(Ex: N <= Npe)
Política QUANTITATIVA
(ex: alteração escalões taxa imposto,
desvalorização/revalorização, fixação
norma salarial, contenção despesa pública)
ESTRUTURAS
POLÍTICA SISTEMA
Política QUALITATIVA
ECONÓMICA ECONÓMICO
(ex: reforma fiscal imposto unico, sistema
incentivos investimento, acordo social)
FUNDAMENTOS
REFORMAS
(ex: privatizações, nacionalizações)
Ax = By + z
Isto é, temos :
x = x +
a ... a x b ... b y z
11 1n 1 11 1m 1 1
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
a ... a x b ... b y z
n1 nn n n1 nm m n
x = Cy + d
= x +
x y d
c ... c
1 11 1n 1 1
. . . . .
. . . . .
. . . . .
x c ... c y d
n n1 nn n n
Nesta visão, enquanto a análise económica procura conhecer a evolução das variáveis
que exprimem o estado dos sistemas económicos e o comportamento agregado dos
agentes económicos (onde se incluem os objectivos da política económica), a política
económica procura conhecer, face aos valores fixados para os objectivos, qual o estado
necessário das variáveis que os podem influenciar (onde se incluem os instrumentos da
política económica).
Na realidade não encontramos uma oposição tão radical, sendo fundamental uma forte
articulação das duas perspectivas. As diferenças situam-se muito mais no horizonte
temporal de cada tipo de utilização - o "passado" no caso da análise económica e o
"futuro" no caso da política económica - já que um modelo de política económica deve
integrar, necessariamente, os avanços realizados através de modelos de análise
económica no sentido da "explicação" dos mecanismos de transmissão dos efeitos
contidos nas relações de comportamento.
[6] "O processo lógico que consiste em procurar a melhor política económica, isto é,
determinar de que modo certos instrumentos devem ser usados para alcançar certos
objectivos, é, de certo modo, um processo lógico inverso daquele a que o economista está
habituado. A tarefa da análise económica é a de considerar os dados (incluíndo os
instrumentos da política económica) como determinados ou conhecidos e os fenómenos e
as variáveis económicas (incluíndo os objectivos da política económica) como incógnitas.
Os problemas de política económica consideram os objectivos como dados e os
instrumentos como incógnitas ou, pelo menos, como desconhecidos em parte"
(TINBERGEN, Economic Policy, Principles and Design, 1967).
i) utilização previsional
(C , D)
Y X
_
Utilização previsional : y ; x ?
(C', D')
X Y
_
Utilização decisional : x ; y?
(C'', D'')
P R S F
X,Y X,Y
-P-R S F
Utilização mista : x,y ; x ?,y ?
OBJECTIVOS INSTRUMENTOS
PRINCIPAIS RÍGIDOS
P R
X Y
S F
X Y
OBJECTIVOS INSTRUMENTOS
SECUNDÁRIOS FLEXÍVEIS
OBJECTIVOS INSTRUMENTOS
A gestão das restrições que limitam uma "livre" utilização dos instrumentos
- definindo "fronteiras de possibilidade" mais ou menos apertadas consoante
a complexidade dos problemas e o grau de conflitualidade nos objectivos -
impõe, não uma hierarquização dos instrumentos, mas uma plena avaliação
da maior ou menor rigidez com que podem ser manipulados.
a) função de popularidade
b) função de reacção
[7] As variáveis intermédias com peso na formação da opinião dos eleitores sobre a própria
performance da política económica podem ser, igualmente, aqui incluídas.
V t = V t-1 + a (C t – C*)
("função de popularidade")
I t = I t-1 + b (V t – V*)
("função de reacção")
[8] Esta abordagem não deve conduzir, como vimos, a simplificações inaceitáveis do ponto de
vista da simulação das duas racionalidades aqui presentes, isto é, por exemplo, fazer
depender a popularidade dos governos de factores meramente económicos (excluíndo
determinantes decisivas nos planos político, social e ideológico) ou fazer depender a
manipulação de instrumentos de factores estritamente eleitorais (excluíndo as
determinantes económicas da regulação).
E1 E2 t
"más" sondagens
"boas" sondagens
A definição dos objectivos e a selecção dos instrumentos não configuram, por si só,
uma "política económica".
Como vimos, os objectivos devem ser quantificados em "metas" (num processo de
hierarquização e redução da conflitualidade), enquanto a utilização dos instrumentos só
se tornará efectiva através de "medidas" (alterações do estado das variáveis-
instrumento definidas com rigor e sem ambiguidade num intervalo de tolerância
económica, política e social).
A passagem do par "objectivos-instrumentos" para o par "metas-medidas"
representa um avanço significativo na configuração de uma política económica
concreta mas é, ainda, insuficiente.
INSTRUMENTOS OBJECTIVOS
Medidas Metas
Variáveis intermédias
Indicadores Quase-Objectivos
Princípio de Tinbergen :
A condição necessária para uma solução única num modelo de metas fixas
com n variáveis objectivo independentes é a de que existam pelo menos n
variáveis instrumento independentes disponíveis [9].
[9] Convem notar que a regra de Tinbergen ("counting rule") pressupõe dois planos de coerência.
Um primeiro plano, referido ao modelo no seu conjunto envolvendo todas as variáveis
endógenas (objectivos e variáveis não pertinentes) - nº de equações independentes = nº
incógnitas - e um segundo plano, referido ao subespaço ocupado no modelo pelas variáveis
de política económica (objectivos e instrumentos) - nº de instrumentos >= nº objectivos.
O
1
m=n
O
O
2
1
I
2
I I
O
1 1 O
3
O
2
m<n m>n
O
1 O
1
O
O O
3 2
I I
2 2
r i
P E E
M P C
C
E '
s E
'
'
s
s
Y B
quando a gestão dos equilíbrios interno e externo se torna conflitual ao longo dos anos 60
(gerando um défice de instrumentos e, portanto, uma afectação alternada do mesmo
instrumento a cada um dos objectivos).
x
1
S
A A
x
1
'
S
A ' x
x O
2 2
[11] Um dos exemplos clássicos corresponde à avaliação da situação de uma união aduaneira
("second best"), na impossibilidade de alcançãr o óptimo de primeiro nível da livre circulação
de mercadorias, com claras vantagens sobre uma situação não optimizada de um
somatório de proteccionismos nacionais.
Princípio de Mundell :
[12] Por eficácia de um instrumento, em relação a um dado objectivo, deve entender-se a medida
quamtitativa que relaciona as respectivas variações (intensidade na manipulação do
instrumento e efeito obtido no objectivo).
[13] "O emprego da política fiscal para alcançar objectivos externos e da política monetária para
alcançar objectivos internos viola o princípio da classificação eficiente de mercado, devido a
que o quociente entre o efeito da taxa de juro sobre a estabilidade interna e o seu efeito sobre
a balança de pagamentos é inferior ao quociente entre o efeito da política fiscal sobre a
estabilidade interna e o efeito da política fiscal sobre a balança de pagamentos. (...) O princípio
de Tinbergen refere-se à existência e localização de uma solução do sistema. Não afirma que
qualquer conjunto dado de respostas políticas levará de facto a esta solução. Para afirmá-lo é
preciso investigar as propriedades de estabilidade de um sistema dinâmico. A este respeito o
princípio da classificação eficiente de mercado constitui um companheiro indispensável do
princípio de Tinbergen." (MUNDELL, 1962).
B=0
pe
Y>Y , B<0
pe
Y>Y , B>0
pe
Y=Y
pe
Y<Y , B>0
pe A
Y<Y , B<0
G->Y, i->B afectação convergente
G Y B
m Y
I Y
i
m Y
H B
G B
Y
m Y
X Y
r
m Y
M B
[14] Casos não relevantes para economias suficientemente estruturadas e com capacidade
para desenvolverem políticas de regulação conjuntural com um mínimo de autonomia.
B=0
pe
Y>Y , B>0
pe pe
Y<Y , B>0 Y>Y , B<0
pe
pe A Y=Y
Y<Y , B<0
G
G->Y, r->B afectação convergente
I Y
i
m Y
H B
X Y
r
m Y
M B
[15] Compare-se o declive das rectas B=0 no caso de forte elasticidade dos movimentos de
capitais (afectação i -> B) e no caso de fraca elasticidade dos movimentos de capitais
(afectação i -> Y).
pe pe
Y>Y , B>0 Y=Y
pe pe
Y>Y , B<0 Y<Y , B>0
pe A
Y<Y , B<0 B=0
i
pe
Y=Y
r
pe
Y>Y , B>0
pe
Y<Y , B>0
pe
Y>Y , B<0 B
B=0
pe
A Y<Y , B<0
Princípio de Meade :
B=0
pe
Y>Y , B>0
pe _
Y<Y , B>0 Y>Y, B<0
pe
Y<Y , B<0
A pe
Y=Y
G
Primeiro r -> B => (B+ , Y+) Primeiro G -> Y => (Y+ , B-)
(menor variação dos instrumentos) (maior variação dos instrumentos)
BIBLIOGRAFIA_
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University Press, 1967.
KALECKI, M., "Political aspects of full employement", Political Quarterly, 1943, Vol 14,
pp.322-330.
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NBER, Nova Iorque, 1942.
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MEADE, J.,"The meaning of 'internal balance'", Economic Journal, Vol. 88, Setembro
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MUNDELL, R.A., "The appropriate use of monetary and fiscal policy under fixed
exchange rates", IMF Staff Papers, Vol. IX, pp.70-79, Março 1962.
NORDHAUS W.D., "The political business cycle", Review of Economic Studies, Abril
1975, pp. 168-190._SHONE, R.,Open economy Macroeconomics - Theory, policy and
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TINBERGEN, J., Economic Policy, Principles and Design, North Holland, Amesterdão,
1967.
THEIL, H., Optimal decision rules for government and industry, North Holland,
Amesterdão, 2ª ed.,1968.