Eixos Cognitivos Do Enem
Eixos Cognitivos Do Enem
Eixos Cognitivos Do Enem
Ministério da Educação
Paulo Renato Souza
Brasília, 2002
Diretoria de Avaliação para Certificação de Competências (DACC)
Equipe Técnica
Apresentação.
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O desenvolvimento das competências que nos permite
conhecer
Contribuição de Piaget
A abordagem Piagetiana analisa a inteligência em sua evolução desde o
nascimento, onde o comportamento se restringe a reflexos, até a adolescência,
quando se constitui o comportamento inteligente abstrato.
Para Piaget (1936), a inteligência é um termo genérico designando as formas
superiores de organização ou de equilíbrio das estruturas cognitivas (...) a inteligência
é essencialmente um sistema de operações vivas e atuantes. Ela é adaptação mental
mais extremada, (p.17). Envolve uma construção permanente do sujeito na sua
interação com o meio físico e social. E sua avaliação cognitiva consiste na
investigação das estruturas do conhecimento, das competências cognitivas.
Segundo Piaget, as operações cognitivas possuem continuidade do ponto de
vista biológico e, embora não apresentem cortes naturais bruscos, podem ser divididas
em estágios ou períodos.
No entanto, os dados empíricos coletados por Piaget mostram que o
comportamento caracterizado pela estrutura que define um estágio pode se revelar
quando a criança lida com certos conteúdos, mas não ser aplicado a outros conteúdos
diferentes.
O autor propõe que o desenvolvimento cognitivo ocorre por meio da interação
do sujeito com o mundo exterior, em um processo de adaptação constituído por dois
pólos: a assimilação e a acomodação. Existe assimilação quando a criança aplica
sobre os objetos os esquemas de que já dispõe ou que já foram adquiridos. Por
exemplo, o esquema de agarrar e morder já adquiridos são aplicados a um novo
objeto a fim de compreendê-lo. A acomodação ocorre quando o ambiente força o
aparecimento de uma nova resposta. Assim, se um objeto não pode ser assimilado
pelos esquemas que a criança possui, ela modificará a resposta para alcançar o
objeto, ocorrendo então a acomodação.
São três os fatores que, para Piaget, influenciam o desenvolvimento cognitivo.
O primeiro fator é a maturação biológica. Para a criança evoluir de um estágio para
outro, é necessário uma base biológica e a maturação do sistema nervoso. O segundo
fator é constituído pelas influências do ambiente que tanto podem ser do ambiente
físico (organização dos próprios objetos), quanto do ambiente social (estimulação dos
indivíduos e transmissão social e educativa). O terceiro fator, a equilibração,
caracteriza toda a teoria Piagetiana e preconiza que, para haver desenvolvimento, é
preciso um equilíbrio entre os fatores internos do sujeito e os fatores do ambiente. O
sujeito deve agir sobre o ambiente e este agir sobre o sujeito em um processo
interativo caracterizado por desequilíbrios e busca de novos equilíbrios.
Assim, para a teoria Piagetiana, o conhecimento não se adquire a partir
somente do sujeito e nem só do ambiente; é na interação entre os dois que se
processa a auto-regulação do desenvolvimento cognitivo.
Os quatro estágios ou períodos propostos por Piaget para descrever o
desenvolvimento cognitivo iniciam-se com o sensório-motor. Este período abrange os
dois primeiros anos da vida da criança, terminando com o aparecimento da
permanência do objeto quando a criança começa a ser capaz de utilizar
representações que permitirão a constituição da função simbólica e o desenvolvimento
da linguagem.
No segundo estágio, o pré-operatório, dos dois aos sete anos
aproximadamente, tem como característica mais distinta o desenvolvimento da "função
simbólica", isto é, o desenvolvimento da capacidade de representar, mentalmente,
uma situação vivida mas não mais presente.
No terceiro estágio surgem as operações mentais, raciocínio lógico
caracterizado pela reversibilidade e pela estrutura de agrupamento. A criança de 7 a
11-12 anos vai sendo capaz de seriar, classificar e entender o todo como o resultado
da aditividade das partes. Concebe o número como aditivo e multiplicativo. Os
conceitos de espaço e tempo são adquiridos. E a conservação de substância, peso e
volume sucessivamente se consolidam. No entanto, embora já tenha adquirido o
raciocínio lógico e seja capaz de operações, a criança ainda tem seu pensamento
limitado aos dados do mundo real, não sendo ainda capaz de considerar todas as
possibilidades. Também as operações não são generalizadas a todos os conteúdos, o
que leva a decalagem horizontal.
Finalmente, na adolescência (entre os 11-12 e os 15-16 anos) chega-se ao
período das operações formais, no qual a criança ou adolescente desenvolve o
raciocínio hipotético dedutivo. É nesse período que o pensamento científico torna-se
possível, manifestando-se pelo controle de variáveis, teste de hipóteses, verificação
sistemática e consideração de todas as possibilidades ao analisar um fenômeno.
Para Piaget, ao atingir o período das operações formais, o sujeito passa a
considerar o real como uma ocorrência dentre múltiplas e exaustivas possibilidades,
em lugar de considerar o possível como uma mera extensão do real. Esta inversão
entre o real e o possível constitui a base do pensamento hipotético dedutivo próprio
das operações formais.
Outra importante característica deste período reside no fato de que o raciocínio
do adolescente pode agora ser exercido sobre enunciados puramente verbais ou
sobre proposições. Cabe aqui lembrar que, como afirmam Inhelder e Piaget (1955) "O
próprio da lógica de proposições não é, apesar das aparências e das opiniões
correntes, ser uma lógica verbal: ela é, sobretudo, uma lógica de todas as
combinações possíveis do pensamento, sejam combinações urgidas a propósito de
problemas experimentais ou a propósito de problemas puramente verbais."(p. 222)
A terceira característica das operações formais proposta por Piaget consiste no
fato de elas serem operações à segunda potência. Enquanto no período das
operações concretas as operações eram efetuadas diretamente sobre os objetos,
estabelecendo relações entre os elementos dados, no período das operações formais
o adolescente torna-se capaz de estabelecer relações entre relações.
Finalmente, a quarta característica das operações formais é que elas
constituem uma combinatória, um aspecto que está relacionado à primeira
característica de subordinação do real ao possível.
Um último aspecto que deve ser apresentado relaciona-se a generalidade das
operações formais. Em muitos de seus trabalhos Piaget enfatizou que, enquanto as
operações concretas se aplicariam a situações e contextos específicos, as operações
formais, uma vez atingidas, seriam gerais e utilizadas na compreensão de qualquer
fenômeno, em qualquer contexto. No entanto, mais recentemente (Piaget 1972),
Piaget admitiu que "é melhor avaliar o indivíduo jovem em um campo que seja
relevante para sua carreira e interesses" (p. 1) e que carpinteiros, ferreiros e
mecânicos, com experiência escolar limitada, não apresentariam pensamento formal
em tarefas escolares mas podem raciocinar formalmente em tarefas relacionadas às
suas profissões.
Em outras palavras, o contexto social no qual os indivíduos vivem,
influencia de maneira importante seu desempenho, determinando os problemas que
são importantes para serem solucionados como também as estratégias apropriadas
para solucioná-los. Conseqüentemente, qualquer sistema de avaliação das
competências cognitivas básicas deve necessariamente levar em consideração os
aspectos contextuais e os significados dos problemas propostos para o indivíduo que
está sendo avaliado.
Os estudos piagetianos proporcionam uma imensa quantidade de análises
sobre o raciocínio de crianças e adolescentes, através de entrevistas onde, em lugar
de apenas determinar se as respostas estão certas ou erradas, como ocorre nos
testes de inteligência inspirados pela Psicometria, o objetivo é compreender os
processos de raciocínio utilizados. Esta abordagem metodológica, conhecida como o
método clínico piagetiano, tem tido grande influência em estudos educacionais,
servindo não apenas como fonte de informação, mas também como oportunidades de
construção de conhecimento para o indivíduo.
Mas a abordagem Piagetiana, como constantemente admitia o próprio Piaget,
ainda não constitui uma teoria completa e acabada. Como veremos a seguir, algumas
críticas têm sido feitas a sua teoria.
O Enem
As competências que dão suporte à avaliação do Enem estão baseadas nas
competências que os indivíduos desenvolvem. Estas competências são descritas nas
operações formais da teoria de Piaget, tais como, a capacidade de levantar todas as
possibilidades para resolver um problema, a capacidade de formular hipóteses,
combinar todas as possibilidades e separar as variáveis para testar a influência de
vários fatores, o uso do raciocínio hipotético dedutivo; aspectos de interpretação,
análise, comparação, e argumentação, e a generalização a diferentes conteúdos.
Ao mesmo tempo, nas avaliações do Enem , a inteligência é encarada não
como uma faculdade mental ou expressão de estruturas cognitivas inatas, porém é
compreendida como o uso de estratégias cognitivas básicas voltadas para a análise
da realidade. E isto em uma situação problema que deve ser elaborada dentro de
um contexto, de modo que se possa avaliar a emergência das habilidades cognitivas,
o "saber fazer".
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Situações-problema como recurso de avaliação de
competências no Enem
Márcia Zampieri Torres
Para finalizar este texto julgamos ser importante comentar, ainda que
brevemente, sobre como são propostas as situações-problema nas provas do ENEM.
Nesse sentido, selecionamos duas questões que fizeram parte do ENEM - 2001 sobre
as quais comentaremos. Nosso objetivo, neste caso, é o de apresentar procedimentos
possíveis para suas soluções e analisar brevemente quais competências e habilidades
elas requerem do aluno que realiza o exame.
A questão 5 (ENEM, 2001), que podemos acompanhar a seguir, propõe ao
aluno uma situação-problema na forma de um jogo de apostas.
Trata-se de um cartão de apostas que contém em sua frente cinco linhas
numeradas de 1 a 5, de baixo para cima, nas quais existe um total de 15 espaços
circulares que podem ser raspados. Esses espaços aparecem em quantidades
diferentes a cada linha, de tal modo que nas linhas 5, 3 e 2 existem três em cada uma
delas, na linha 4, quatro e na linha 1, dois.
Pelo enunciado do problema sabe-se também que nos 15 espaços circulares
estão escondidas 7 figuras de bolas de futebol e 8 figuras de "X". As figuras de bolas
de futebol e de "X" obedecem a uma certa distribuição entre os espaços circulares
possíveis.
No verso do mesmo cartão estão colocadas as regras do jogo de apostas, a
partir das quais é possível compreender que o jogador poderá raspar apenas um
espaço por linha, iniciando a raspagem pela linha 1. A condição necessária à
permanência no jogo, ou seja, passar da linha 1 para a 2 e assim sucessivamente, é a
de acertar a cada linha o espaço onde está escondida uma figura de bola de futebol.
Caso o jogador não acerte essa figura e raspe um "X" em alguma das linhas, o jogo
estará encerrado.
Além disso, a questão afirma que a probabilidade de o jogador não ganhar o
prêmio nunca será igual a zero, pois a cada linha sempre haverá pelo menos um
espaço contendo uma figura de bola de futebol.
Por último, o problema informa que tanto na linha 4 como na 5 existem dois
espaços que contém figuras de bolas de futebol, restando ao aluno responder qual é a
probabilidade de um jogador ganhar o prêmio, resposta que ele escolherá entre cinco
alternativas apresentadas na forma de frações.
Dessa maneira, a situação-problema presente na questão 5 caracteriza-se pela
colocação de alguns obstáculos que o aluno precisa superar. Em primeiro lugar, é
preciso que o aluno considere a informação dada sobre as linhas 4 e 5, nas quais
existem duas figuras de bolas de futebol em cada uma, totalizando, portanto, quatro
figuras. A partir dessa informação, e considerando que o total de espaços com figuras
de bolas de futebol é 7, basta dele subtrair 4, sobrando 3 figuras de bolas de futebol.
Como não existem linhas sem figuras de bolas de futebol - o que pode ser deduzido a
partir da informação presente no problema "a probabilidade de um cliente ganhar o
prêmio nunca seja igual a zero" -, as 3 figuras de bolas de futebol estarão
necessariamente distribuídas uma em cada linha restante, ou seja, nas linhas 1, 2 e 3.
Superados os primeiros obstáculos, o aluno terá que levar em conta que o
jogador só poderá raspar um único espaço a cada linha, passando, portanto, ao
cálculo das probabilidades de acertos relativos às figuras de bolas de futebol, e
considerando isoladamente cada uma das linhas. Obterá então a seguinte situação:
duas possibilidades em três para a linha 5, o que é igual a 2/3; duas possibilidades em
quatro para a linha 4, o que corresponde a 2/4; uma possibilidade em três para as
linhas 2 e 3, o que é igual a 1/3 e 1/3; e uma possibilidade em duas para a linha 1, o
que corresponde a 1/2. Uma vez levantadas essas probabilidades, bastará que o
aluno efetue a multiplicação entre as frações, ou seja: 2/3 x 2/4 x 1/3 x 1/3 x 1/2, cujo
produto será 1/54, depois de simplificada a fração 4/216.
Um outro conjunto de obstáculos está contido nas cinco alternativas de
respostas propostas, pois o aluno deve considerá-las enquanto realiza seus
procedimentos de resolução e escolher apenas uma delas ao final. Nesse sentido, não
basta que o aluno apenas leia e compreenda o jogo de informações contidas no texto,
mas é preciso relacioná-las ao conjunto de alternativas de respostas, equacionando-as
e efetuando os cálculos necessários para chegar à única resposta que fecha e resolve
o problema.
Portanto, a superação desse conjunto de obstáculos implica que o aluno
realize uma leitura compreensiva do texto, sabendo interpretar as diversas
informações nele contidas. Para isso, é preciso que ele reconheça a interdependência
entre elas, tratando-as como partes de um mesmo todo ou sistema. Ao ler e interpretá-
las, considerando simultaneamente as várias perspectivas presentes, ele pode inferir
novas informações que não estão escritas no texto do problema e chegar às
conclusões necessárias.
Assim, do ponto de vista das operações mentais, esta situação-problema
implica diferentes qualidades ou formas de raciocínio. Entre elas, destaca-se a
necessidade de um raciocínio por probabilidades. Raciocinar por probabilidades neste
caso significa estabelecer as relações entre prováveis e possíveis em cada linha do
cartão de apostas, considerando como possível o número máximo de bolas de futebol
por linha e como provável a quantificação da probabilidade de se raspar uma bola de
futebol tendo em vista o número de possibilidades de raspagem, ou seja, o número de
espaços circulares. Além de exigir que o aluno saiba interagir com esse jogo de
relações, as características deste problema impõem a necessidade de considerar cada
linha do cartão de apostas como um evento isolado e, ao mesmo tempo, saber como
relacioná-los. Isto porque a pergunta a ser respondida implica reconhecer a
probabilidade de ocorrência das bolas de futebol em cada linha do cartão de apostas
para então poder calcular a probabilidade de ganhar um prêmio, levando-se em conta,
portanto, todas as linhas presentes nesse cartão.
Em poucas palavras, se relacionarmos essas operações mentais à forma como
elas se concretizam podemos dizer que esta situação-problema exige que o aluno
coloque em ação algumas das competências previstas pelo ENEM. A questão 5 foi
elaborada para avaliar a habilidade 15, ou seja, a capacidade do aluno "reconhecer o
caráter aleatório de fenômenos naturais ou não e utilizar em situações-problema
processos de contagem, representação de freqüências relativas, construção de
espaços amostrais, distribuição e cálculo de probabilidades". Tal habilidade contempla
as competências II, III e IV.
Considerações finais
Para concluir o presente texto queremos ressaltar mais uma vez seu objetivo
principal: analisar o papel das situações-problema utilizadas como recurso de
avaliação de competências nas provas do ENEM.
O ENEM, a partir de uma matriz de cinco competências, cujo desenvolvimento
considera essencial em jovens e jovens adultos, utiliza-se de um conjunto de
situações-problema a cada prova. Essas situações-problema são formuladas tendo em
vista as cinco competências e seus desdobramentos em 21 habilidades.
Nesse sentido, pudemos comentar neste texto como essas competências, que
na prática se expressam como habilidades, dependem do desenvolvimento cognitivo
do sujeito, pois são suas operações mentais que dão suporte a elas.
Analisando o que são situações-problema, como elas se caracterizam e o que
exigem do ponto de vista das operações mentais do sujeito, tivemos a intenção de
explicitar o íntimo relacionamento que elas mantêm com as competências e as
habilidades.
Por último, consideramos que nos últimos anos o ENEM consagrou-se, por
meio deste modelo de avaliação, como um importante avanço no âmbito educacional.
Justificamos nossa posição pelo fato de que a formulação de situações-problema, com
o propósito de medir e qualificar as competências de nossos jovens alunos que estão
concluindo ou já concluíram o Ensino Médio, revelou-se como um recurso essencial, à
medida que conseguiu superar os modelos clássicos de avaliação. Além disso, ao
nosso ver, este exame, de caráter nacional, propiciou à escola brasileira a
oportunidade de rever seus modelos pedagógicos, seus procedimentos de ensino e
seus posicionamentos teórico-filosóficos.
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Esquemas de ação ou operações valorizadas na matriz
ou prova do Enem
Lino de Macedo'
Instituto de Psicologia / Universidade de São Paulo
São Paulo, Brasil
1
Professor Titular de Psicologia do Desenvolvimento do Instituto de Psicologia da Universidade
de São Paulo, Instituto de Psicologia. Telefone: (011) 3727-2052. E.mail: [email protected].
Na perspectiva dos professores que propõem e corrigem as questões pode-se
igualmente inferir o quanto estão aplicando na prática de cada prova as competências
e habilidades consideradas na matriz, em termos de referidos domínios.
Apoiado em Piaget (1977), proponho que as práticas de leitura e escrita, como
qualquer prática, realizam-se através dos dois sistemas cognitivos: o que nos
possibilita compreender e o que é necessário à realização das tarefas. Compreender
refere-se à atribuição de sentido, aos modos como tornamos presentes (via imagem,
representação, toque, olhar, nomeação, etc.) todas as coisas seja para nós mesmos,
os outros ou o mundo. Compreender eqüivale a prender com, reunir, implicar,
relacionar, ligar, organizar, dar uma forma que faça sentido para nós. Explicar seria o
mesmo, mas na perspectiva do outro (incluindo nós mesmos) a quem devemos
comunicar, defender, apresentar alguma coisa por palavras, gestos ou qualquer
indicador ou operador cognitivo. Realizar significa fazer com êxito, ou seja, religar na
prática o círculo aberto pelo triângulo funcional - problema, meios a serem
mobilizados para sua solução e resultados alcançados. Notem que fazer com êxito
não eqüivale, pelo menos em um primeiro momento, ao fazer certo seja na perspectiva
do sujeito que realiza a tarefa ou do observador que, em princípio, pode estar usando
outros critérios ou valores. Por exemplo, o aluno que escolhe uma alternativa, para ele
a melhor dentre as possibilidades oferecidas, está certo e "obteve êxito" quanto ao que
lhe foi proposto como tarefa, mesmo que sua escolha possa não coincidir com aquela
julgada a única certa pelos responsáveis da prova.
Segundo Piaget (1977), os dois sistemas cognitivos, acima referidos,
funcionam, na perspectiva do sujeito que conhece, pela utilização de três sistemas de
esquemas de ação ou operações. Os esquemas de ação expressam, na prática,
tomadas de decisão em favor de um propósito ou intenção. Além disso, expressam
mobilização de recursos de diversos tipos, porque compõem uma estrutura ou gesto,
cujas significações organizaram-se no espaço e no tempo em favor de um objetivo ou
propósito. Além de formarem totalidades organizadas, cujos elementos internos
implicam-se mutuamente, Piaget e Inhelder (1966) afirma que os esquemas são
"aquilo que, em uma ação, é, assim, transponível, generalizável ou diferençável de
uma situação à seguinte, dito de outro modo, o que há de comum às diversas
repetições ou aplicações da mesma ação". Isso significa que, se os esquemas
repetem-se como forma, isto é, têm cada qual sua álgebra ou regularidades que os
definem, atualizam-se enquanto conteúdo ajustando-se ao jogo dos significados em
cada uma de suas aplicações. Em outras palavras, os esquemas enquanto formas
abstraem-se compondo o que é comum, significante ou regular em suas diversas
aplicações. Mas, ao mesmo tempo generalizam-se, diferenciam-se, enquanto
conteúdo, segundo as diversas situações em que se expressam.
As operações correspondem aos esquemas de ações, mas são atos simbólicos
enquanto os esquemas, atos sensório-motores. Do ponto de vista de nosso objetivo no
presente texto, ambos equivalem-se. Segundo Piaget e Inhelder (1966 /1989:82),
As operações, tais como a reunião de duas classes (os pais reunidos às mães
constituem os pais em sentido genérico) ou a adição de dois números são ações,
escolhidas entre as mais gerais (os atos de reunir, de ordenar, etc. intervém em
todas as coordenações de ações particulares), interiorizáveis e reversíveis (à
reunião corresponde a dissociação, à adição a subtração etc). Nunca são
isoladas, porém coordenáveis em sistemas de conjunto (uma classificação, a
seqüência dos números, etc). Também não são próprias deste ou daquele
indivíduo, senão comuns a todos os indivíduos do mesmo nível mental e intervém
não apenas nos raciocínios privados, senão também nas trocas cognitivas, visto
que estas consistem ainda em reunir informações, colocá-las em relação ou em
correspondência, introduzir reciprocidades, etc, o que volta a constituir operações
isomorfas as que se serve cada indivíduo para si mesmo.
Piaget divide os esquemas de ação ou operações do sujeito (Macedo, 2002)
em três tipos: esquemas presentativos, esquemas procedimentais e esquemas
operatórios.
Esquemas presentativos são formas de conhecimentos que correspondem ao
que sabemos fazer, dizer, representar, imaginar, simular, indicar por gestos, imitar,
desenhar ou recorrer para agir, pensar, comunicar ou informar para tornar presente
um objeto, um sentimento, um pensamento ou teoria sobre a realidade, sobre nossas
experiências. Piaget diz que os esquemas são presentativos e não representativos
para incluí-los já no período sensório-motor, quando a criança possui esquemas
presentativos, ainda que não tenha recursos simbólicos ou esquemas verbais para
comunicar suas necessidades ou sentimentos. Por exemplo, todos conhecemos as
diferentes expressões de choro com os significados que as caracterizam (sono, fome,
dor, manha, irritação, estranhamento).
Os esquemas presentativos são muito importantes como organizadores de
nossas relações. Eles dão suporte às tomadas de decisão, pois se referem ao modo
como interpretamos ou atribuímos significações. Referem-se às nossas teorias em ato.
São aquilo que podemos dizer, pensar ou tornar presente. Correspondem às nossas
imagens, ou seja, ao modo como figuramos uma situação ou experiência.
Esquemas procedimentais são formas de conhecimento que correspondem a
um "saber como". Expressam o nível das habilidades para realizar algo em nome de
um objetivo, propósito ou meta. Para isso, temos que saber mobilizar recursos,
considerar o contexto, o espaço e o tempo, tomar decisões. Os esquemas de
procedimento, como os esquemas presentativos, estão presentes em toda a obra de
Piaget e correspondem ao trabalho experimental de observar, analisar etc. os
procedimentos que a criança utiliza para resolver, enquanto procedimentos, os
problemas que lhe são colocados ou que enfrenta. Uma coisa é avaliar o que a criança
sabe sobre história, outra coisa é como estuda história, ou seja, os procedimentos que
utiliza para isso. Como criar situações de aprendizagem que favoreçam o
desenvolvimento de esquemas de procedimento? Como administrar a progressão
dessas atividades?
Os esquemas operatórios são conhecimentos relativos ao "saber porquê" em seus
distintos níveis. Correspondem à própria noção de inteligência em Piaget: saber
coordenar meios e fins (Macedo, 2002a). Enquanto fins implicam o que dá sentido ou
razão, o que relaciona. Os esquemas operatórios coordenam, isto é, articulam de
modo diferenciado e integrado, os indicadores de conteúdos e de formas de expressão
de um certo problema. Com isso, possibilitam, ao mesmo tempo, uma compreensão e
uma explicação do caso em estudo.
Nas práticas de leitura e escrita avaliadas na prova do ENEM espera-se que os
alunos e os proponentes das questões compreendam e realizem as tarefas de modo
irredutível, complementar e indissociável expressando as possibilidades de um diálogo
com milhões de pessoas realizado no contexto dos muitos limites e desafios deste tipo
de prova.
No dicionário 2 competência tem, pelo menos, três significados: certificação
profissional, fatores que competem entre si na realização de alguma coisa e fatores
que favorecem ou promovem. Trata-se, no primeiro caso, de um reconhecimento
institucional que um profissional recebe para realizar as tarefas que lhe competem
fazer. Mas, não basta, sabemos, esse reconhecimento externo se o próprio sujeito não
se sente qualificado para as tarefas requeridas nesta ou naquela ocupação. Por isso,
uma qualificação por competência deve também expressar uma auto-observação, seja
pela decisão de fazer, por exemplo, a prova do ENEM, de usar ou não os resultados
alcançados ou de se sentir bem avaliado pelas respostas dadas. No segundo caso,
competência expressa o fato de que na realização de uma tarefa muitos aspectos
concorrem entre si, dificultando uma certa realização. Competência, neste caso,
explicita o administrar bem ou mobilizar recursos suficientes para dar conta da tarefa.
Reconhecer
Segundo o dicionário, reconhecer é "conhecer de novo (o que se tinha conhecido
noutro tempo); conhecer a própria imagem, em fotografia ou no espelho; identificar,
distinguir por qualquer circunstância, modalidade ou faceta; admitir, ter como bom,
legítimo ou verdadeiro; ficar convencido de; estar certo ou consciente de; considerar
como; afirmar, declarar, confessar; considerar como legal; autenticar, endossar;
aceitar; dar gratificação ou recompensa a; mostrar-se agradecido por; examinar,
explorar, observar; / examinar a forma, o acesso, as condições de (uma posição)."
Destacar
Destacar, entre outros significados que o dicionário apresenta, é "separar (-se);
articular escandindo; dar vulto ou relevo a; pôr em destaque; fazer sobressair;
salientar; separar-se; distinguir-se, sobrelevar, sobressair".
O motivo pelo qual propus as ações ou operações de identificar, reconhecer,
destacar e selecionar, como pertencentes a um mesmo agrupamento, foi que as duas
últimas, fazem parte do conjunto de domínios que possibilitam - no sentido de
mobilização de recursos - a realização das duas primeiras e vice-versa.
Destacar é uma forma de abstração. Ou seja, implica a identificação ou
reconhecimento, em um dado contexto ou domínio da experiência, dos elementos ou
termos (relacionados a uma meta, a um objetivo ou referência), projetando-os e
organizando-os em outro plano. Destacar é valorizar o conjunto dos indicadores que
em um texto ou situação serão base para a inferência, conclusão ou tomada de
decisão. Implica um julgamento sobre o que - em uma dada situação - deve ter
prioridade. Em um item, o que deve ser destacado no enunciado? Como aproveitar o
que foi destacado como indicador ou indicadores para a tomada de decisão sobre a
resposta correta? No conjunto das alternativas, o que deve ser destacado em cada
uma delas para ajudar na tarefa de excluir o que não se aplica, para valorizar o que é
pertinente?
Selecionar
Segundo o dicionário, selecionar é "fazer a seleção de; escolher de um número ou
grupo, pela aptidão, qualidade ou qualquer outra característica; encontrar e recuperar
informação específica de uma base de dados; num programa de pintura, definir uma
área numa imagem, geralmente para que seja cortada ou receba um efeito especial."
Tal como o reconhecer é um caso especial do identificar, selecionar é um caso
especial do destacar. Ambos implicam um recurso à lógica das classes, no sentido de
que destacar ou selecionar supõe analisar um aspecto e julgar se pertence ou é
pertinente ao que está sendo tomado como critério ou referência, ou seja, como base
para a tomada de decisão. Regulam-se, igualmente, pela lógica das relações, pois
destacar ou selecionar significa definir a posição ou ordem (antes, depois, acima,
abaixo, etc.) do que está sendo destacado no contexto que lhe serve de referência ou
sentido.
Agrupamento B: analisar / confrontar / comparar / relacionar
Na prova do ENEM, analisar, confrontar, comparar e relacionar são avaliadas nas
habilidades 2, 4, 6, 7, 8, 11, 12, 13, 14, 16, 17, 19 e 20.
Analisar
Perrenoud (1997/1999: 37) comenta que, segundo o dicionário Le Robert, analisar
significa: "fazer a análise de ... . Análise: operação intelectual que consiste em
decompor um texto em seus elementos essenciais, para apreender suas relações e
dar um esquema de conjunto" ou "ato de decompor uma mistura para separar seus
constituintes".
Muitas questões nas provas realizadas pelo ENEM propõem situações-
problema em que analisar é uma tarefa fundamental para a tomada de decisão sobre
a alternativa a ser indicada como correta. Essa análise, conforme o caso, se expressa
como interpretação, outras vezes como discriminação ou reconhecimento de valores,
ou, então como previsão ou proposição de formas de intervenção. Trata-se sempre de
diferenciar algo em um contexto, integrando-o em um outro, pois a análise possibilita a
realização de julgamentos, base de inferências ou conclusões sobre o que está sendo
analisado.
Relacionar (a mesma informação em diferentes linguagens)
Segundo o dicionário, relacionar significa "fazer ou fornecer a relação de; arrolar, pôr
em lista; narrar, expor, descrever, referir; comparar (coisas diferentes) para deduzir
leis ou analogias; fazer relações, conseguir amizades, travar conhecimento."
Confrontar
Confrontar, como indica o dicionário, implica "pôr-se defronte reciprocamente; acarear
(as testemunhas ou os depoimentos, os réus, as vítimas do crime); comparar, cotejar,
conferir, colacionar; defrontar(-se), fazer face".
Em uma situação-problema essa competência é fundamental, pois se trata de
nos diferentes conteúdos (disciplinares ou interdisciplinares) considerar os dados
apresentados no contexto e analisá-los de forma interdependente. A interdependência
(Macedo, 2002ê) supõe considerar as partes que integram um sistema ou todo de
modo indissociável, complementar e irredutível. Confrontar significa considerar o
aspecto irredutível, ou seja, para se por defronte é preciso que cada aspecto seja
considerado independente do outro, com suas propriedades, características etc. Ao
mesmo tempo, é importante que esses aspectos sejam considerados reciprocamente.
Comparar
Segundo o dicionário, comparar consiste em "examinar simultaneamente duas ou mais
coisas, para lhes determinar semelhança, diferença ou relação; confrontar; cotejar; ter
como igual ou como semelhante".
Confrontar e relacionar são formas de comparar, sendo os três, igualmente,
formas de análise.
Agrupamento C: ordenar / organizar / reorganizar / contextuar / compreender
Na prova do ENEM ordenar, organizar, reorganizar, contextuar, compreender são
avaliadas nas habilidades 3, 9, 13, 14 e 21.
Organizar ou reorganizar (as informações)
Organizar é "criar, preparar e dispor convenientemente as partes de um organismo;
dispor para funcionar; estabelecer com base; constituir-se, formar-se; tomar
organização definitiva; arranjar, ordenar, preparar".
Na prova do ENEM, como na vida cotidiana, organizar e reorganizar são ações
fundamentais, pois condicionam nossas realizações ou compreensões de projetos e
tarefas.
Ordenar
Segundo o dicionário, entre outros significados, ordenar é "colocar(-se), dispor(-se) em
ordem; organizar(-se); dar ordem, determinar, mandar que se faça algo; resolver,
decidir-se a; aparelhar-se, dispor-se, preparar-se".
Ordenar, como ação ou operação, supõe tomar decisões ou resolver um
problema em sua perspectiva inclusiva. Ou seja, trata-se de definir a posição de um
termo em relação aos demais. Diferente da lógica das classes, em que o termo é
definido pelo que é, ou não é, comparativamente ao critério ou referência, na lógica
das relações todos os termos estão incluídos, porque são definidos pelo lugar que
ocupam em relação aos outros termos e ao critério que organiza, isto é, dá sentido e
direção ao posicionamento definido pela ordenação. Assim, se na lógica das classes a
tarefa é reunir termos equivalentes entre si com respeito a um dado critério, na lógica
das relações trata-se organizar as diferenças (para mais, menos ou igual, por
exemplo) que presidem as relações entre todos os termos, com respeito a um critério
ou valor. Assim, na lógica das relações um termo é e não é ao mesmo tempo, ou seja,
é mais com referência a outro termo que, na dimensão escolhida, tem menos, e é
menos com referência a outro termo maior.
Compreender
Segundo o dicionário, compreender significa "conterem si, constar de; abranger; estar
incluído ou contido; alcançar com a inteligência; entender; perceber as intenções de;
estender a sua ação a; dar o devido apreço."
Refletindo sobre os significados que o dicionário atribui aos termos organizar e
ordenar, podemos concluir que ambos são formas de se compreender um conjunto de
coisas ou termos. Formas de compreensão porque implicam, na perspectiva do
sujeito, coordenar perspectivas. Segundo Piaget, compreender significa assim
estruturar algo de forma reversível, nos termos que já analisei em outro texto (Macedo,
20029).
Coordenar diferentes perspectivas é uma ação ou operação fundamental. Do
ponto de vista corporal, por exemplo, supõe movimentar braços, pernas, tronco, e
cabeça de formas e ritmos diferentes, articulados, entre outros, com a respiração e
visão tudo isso considerado em favor de um objetivo ou intenção. Significa poder
examinar cada parte em si mesma com suas características, propriedades, formas de
expressão e, ao mesmo tempo, as partes que lhe são complementares e o todo ou
contexto de que fazem parte. Ocorre que, de ordinário, muitas vezes trabalhamos de
um modo indiferenciado, ou seja, confundimos tudo ao mesmo tempo. Outras vezes,
trabalhamos de um modo justaposto, ou seja, em que a união ou integração dos
termos que compõem o sistema se realiza por contigüidade espacial ou temporal, ou
os termos são postos juntos, mas não se coordenam de forma interdependente.
Podemos, igualmente, ao invés de coordenar as perspectivas realizar de modo
sincrético, ou seja, reunir ou fundir os elementos dispersos, mas sem integrar. A
terceira forma, que o desafio proposto em qualquer situação-problema é o da
diferenciação e integração.
Contextuar
Contextuar ou contextualizar significa "incluir ou intercalar em um texto".
Contexto significa o "encadeamento de idéias de um escrito, argumento ou
composição". Encadear significa "ligar com cadeia; acorrentar, prender; coordenar
(idéias, argumentos etc); concatenar; tirar a ação ou o movimento a; cativar, sujeitar;
atrair, ligar por afeto; afeiçoar; formar série, ligar-se a outros; fazer seguir na ordem
natural."
Contextuar corresponde, como nas outras ações ou operações analisadas no
presente agrupamento, a algo inclusivo, que liga, por exemplo, diferentes palavras e
outros indicadores semânticos, compondo uma frase, parágrafo ou texto.
O compromisso contextual está presente em todos os itens da prova do ENEM.
Deve estar presente, igualmente, em qualquer situação-problema, pois é o recorte ou
o contexto em que se realizou que nos permite julgar o valor de uma tomada de
decisão. Por intermédio do contexto, propomos os enunciados dos itens. O objetivo é
propor um problema, tal que as informações mais importantes estão presentes no
enunciado. Com isso, convida-se o aluno a focar-se no próprio texto do enunciado. É
ali que as informações estão dadas. O convite é para que leia o enunciado com
cuidado, que interprete o que está sendo proposto. Que coordene as idéias, os
argumentos apresentados e que interprete a pergunta ou o desafio que o enunciado
faz. Além disso, propõe-se que o aluno articule, como um texto só, as diferentes
respostas apresentadas como alternativas e decida sobre a que melhor corresponda.
Em uma visão de sistema e em que o todo é tomado como regulador é
importante que a situação-problema a ser investigada seja uma parte, um recorte, que
expresse o todo ao qual se encaixa. Mas que, enquanto parte, tenha função de todo,
ou seja, que crie um contexto para a tarefa a ser realizada. Aqui a questão é como
escolher ou recortar, por exemplo, do conjunto dos conteúdos trabalhados em uma
disciplina ou conjunto de disciplinas, ou área de conhecimento, situações ou
problemas que sejam significativos para o todo ao qual pertencem e que, como
recorte, haverão de representar em um contexto de avaliação.
O recorte, ao delimitar ou definir um problema, torna possível, ainda que como
fragmento de algo geral, observar ou avaliar, no espaço e no tempo de uma prova,
que deve ser aplicada simultaneamente para milhares de pessoas e que não pode
durar mais do que quatro horas, por exemplo.
O contexto, como mencionado, define em uma situação-problema, o recorte, ou
seja, o que a configura como algo problemático e que demanda uma tomada de
posição (algo a resolver, no sentido de ser definido) e a mobilização dos recursos
disponíveis para isso. O contexto, nesse sentido, representa o todo, pois o contexto -
em seu sentido pleno - dispensa o recurso à memória, etc. O contexto atualiza,
apresenta as informações relevantes a serem traduzidas em conhecimento e que são
base para as tomadas de decisão. O contexto oferece as alternativas e com isso abre
o problema, no sentido, de que convida o sujeito a se posicionar
Agrupamento D: traduzir / interpretar / ler / calcular / inferir / valorizar
Na prova do ENEM traduzir, interpretar, ler, calcular, inferir, valorizar são avaliadas
nas habilidades 1 , 3 , 5 , 1 0 , 1 2 , 1 3 , 1 4 , 1 7 6 2 1 .
Demonstrar (compreensão)
Demonstrar, como explica o dicionário, é "provar com um raciocínio convincente;
descrever e explicar de maneira ordenada e pormenorizada, com auxílio de exemplos,
espécimes ou experimentos; indicar ou mostrar mediante sinais exteriores; manifestar;
dar(-se) a conhecer, revelar(-se)."
Interpretar
Segundo o dicionário, interpretar, entre outros significados, é "aclarar, explicar o
sentido de; tirar de (alguma coisa) uma indução ou presságio; ajuizar da intenção, do
sentido de; reproduzir ou exprimir a intenção ou o pensamento de."
Interpretar é dar sentido à experiência. Aprender a refletir em outro plano. Na
perspectiva de Piaget, interpretar é o mesmo que assimilar, pois implica o trabalho de
traduzir, em termos do sujeito, aspectos do objeto ou acontecimento que estão sendo
objeto de assimilação. Interpretar é avaliar, isto é, atribuir um valor (de sobrevivência
biológica, social, cultural etc.) ao que objeto de interpretação.
A situação-problema recorta, organiza, destaca um aspecto da experiência e
propõe uma reflexão sobre essa parte tomada como significativa do todo a que
pertencia. A situação-problema descreve como algo aconteceu. Apresenta o contexto,
que encaixa e dá sentido e autonomia ao acontecimento. A interpretação questiona o
porquê isso aconteceu. A interpretação apóia-se nos dados da experiência, nos
indicadores ou sinais, que possibilitam a realização de inferências ou julgamentos que
a expressam. Interpretar é também uma forma de generalizar, no sentido de sair de
algo particular e organizá-la como algo geral ou destacado do contexto.
Como aconselham Raths, Jonas, Rothstein e Wassermann (1976: 106), "para
desenvolver a habilidade de interpretar é necessário ter muitos tipos de experiências e
depois ter a prática para ver o sentido de tais experiências". Além disso, ele lembra
que "ao dar oportunidades para que as crianças façam interpretações, o professor
pode usar mapas, tabelas, gráficos e fotografias É importante lembrar que os
dados apresentados na figura devem confirmar a interpretação.
Insisto na importância, ou mesmo a condição, para interpretar de se observar
bem o que é objeto de interpretação, destacar os indícios, sinais, indicadores a serem
usados ou que serão base para o julgamento. Interpretar, assim, será sempre uma
inferência ou conclusão autorizada pelos indicadores. Nesse sentido, a interpretação
tem sempre uma base subjetiva, pois caracteriza uma tomada de decisão ou valor
assumido por uma pessoa ou grupo. Daí a importância de se definir os critérios ou
regras para a interpretação, de se desenvolver controles mútuos, ou seja, de se
objetivar a interpretação. A situação-problema, por tudo o que já comentamos, é um
tipo de tarefa muito interessante para o desenvolvimento dessa competência
transversal.
Para terminar, transcrevo mais um trecho, do texto de Raths, Jonas, Rothstein
e Wassermann (1976: 110):
A operação de interpretação refere-se a inferências e generalizações que
podem ser feitas a partir de descrições. A interpretação não se limita a simples
tradução; está mais próxima da descrição. Interpretar supõe acrescentar
sentido, ler nas entrelinhas, preencher os vazios, e, dentro dos limites de
determinado material, ampliar o seu conteúdo. Interpretar é compreender
relatórios: numéricos, de figuras, gráficos, artísticos e literários.
John Stuart MUI disse certa vez: "O grande problema da vida é fazer
inferências." É difícil imaginar que possamos viver um dia comum sem fazer
interpretações a partir de dados. As vezes, temos tendências para ultrapassar
os dados, e alguns tendem a deformar os dados através de erros grosseiros.
Outras vezes, podemos apresentar excesso de cautela, embora a cautela seja
desejável. Não é pouco comum a incapacidade para interpolar e extrapola, ver
sentido íntimo e sentido ampliado, bem como as limitações dos dados e
reconhecer quando se aplica a probabilidade. Basta dizer que aprender a
correlacionar causa e efeito é uma importante habilidade de pensamento - mas
uma habilidade que parece pouco acentuada nas práticas escolares.
Agir
Agir é o mesmo que tomar providências, fazer coisas que produzam ou tenham um
efeito. Neste sentido, é o mesmo que atuar, trabalhar, exercer uma atividade que
tenha conseqüências. Na prova do ENEM, o aluno precisa agir em muitos sentidos:
organizar-se no espaço e no tempo do exame em função das questões propostas, de
seu número e dificuldades; considerar, no jogo das informações das questões, as
relações propostas, por exemplo, entre um enunciado e as alternativas.
Aplicar
Aplicar significa exercer a atenção, concentrar-se com cuidado, na prática,
empregando o que foi útil a um determinado objetivo ou propósito. Por isso, é o
mesmo que dedicar ou se entregar com afinco a um estudo, trabalho ou ocupação.
Realizar
Realizar, segundo o dicionário, é uma ação ou operação que possibilita que algo seja
feito ou tenha existência concreta. Neste sentido, traduzir, concretizar, efetivar,
transformar em realidade, criar, produzir, juntar, converter, materializar no espaço e no
tempo, cumprir são ações ou operações correspondentes a realizar. Daí decorre o fato
de que, do ponto de vista lingüístico, realizar é o mesmo que atualizar. Essa também é
nossa hipótese: ao realizar uma prova no contexto do ENEM, o aluno tem a
possibilidade de atualizar - nos limites dessa produção e das formas que a
condicionam - seus anos de educação básica e suas esperanças em algo que lhe
faça sentido nas tarefas de adulto. Por extensão, ainda que não utilizado em nossa
língua, do ponto de vista etimológico, a ação ou operação realizar tem o sentido de
"tomar consciência de (um fato, uma situação), estar ciente de". Na presente análise
tal significado é interessante, pois nos lembra que é uma prática de leitura, como a
que ocorre nas questões de múltipla escolha da prova do ENEM, tal forma de
realização é muito importante, e determina muitas vezes o sucesso do aluno em
coordenar as informações contidas nos enunciados das questões e as respostas
disponíveis para a escolha.
Objetivar
Objetivar é uma das formas de realização, pois possibilita a expressão (de uma idéia,
sentimento, acontecimento) de algo experimentável ou que pode ser compartilhado
por outros. Assim, ao dar existência material ou corporificar suas respostas nas folhas
da prova o aluno permite ao professor observar suas conquistas, dificuldades, modos
de interpretação e reação ao que lhes foi proposto.
Elaborar
Elaborar, como o objetivar, é uma forma de realizar, que expressa cuidado, atenção
aos múltiplos aspectos de uma questão ou tema, que possibilita comunicar melhor
algo que queremos compartilhar com outras pessoas. Elaborar, por exemplo, uma
redação é algo que custa esforço dos professores (para decidir a melhor proposta) e
sobretudo dos alunos que devem com muito cuidado apresentarem seus pontos de
vista, proporem soluções ou encaminhamentos para um problema, argumentarem em
favor ou contra uma idéia, enfrentarem com habilidade as situações-problema e
aplicarem com afinco todos os seus recursos.
Agrupamento F: prever / propor / variar / modificar / respeitar / considerar
Na prova do ENEM as ações ou operações de prever, propor, variar, modificar,
respeitar e considerar são avaliadas nas habilidades 10 e 16.
Prever
Segundo o dicionário, prever é "conhecer com antecipação; antever; conjeturar,
supor; profetizar, prognosticar".
Uma das características da sociedade atual é a de organizar o presente em
nome de um futuro desejado, planejado e querido. Vivemos, hoje, a cultura do projeto
(Boutinet, 1990). Projetar é organizar e decidir as ações do presente em função de
uma meta a ser alcançada. É defender, valorizar ou dar prioridade a ações em um
contexto em que se têm múltiplas possibilidades de se fazer algo. Prever, hoje, é
fundamental. Prever é antecipar, pré-corrigir erros, adiantar-se sobre as
conseqüências de nossos atos, ponderar os custos de nossas ações sobre a natureza.
Mobilizar os recursos, hoje, para que amanhã uma determinada situação não
desejada, porque prejudicial, aconteça.
Propor
Segundo o dicionário, propor é "apresentar para consideração, discussão ou solução;
apresentar ou oferecer para aceitação ou adoção; expor a exame; submeter à
apreciação; expor, referir, relatar; indicar, lembrar, oferecer como alvitre; sugerir; fazer
o propósito de; prometer; dar como norma ou regra; fazer propósito; formar intento; ter
em vista; ter intenção de; destinar-se a, dispor-se a; projetar, deliberar, projetar;
prometer a si mesmo".
Fundamentar
Fundamentar, segundo o dicionário, significa "lançar os fundamentos ou alicerces de; /
assentar em bases sólidas; estabelecer, firmar; / documentar, justificar com provas ou
razões; / estar fundado; apoiar-se, basear-se."
As tomadas de decisão no contexto de uma situação-problema exigem
fundamentação. Por intermédio dela, podemos justificar nossas decisões, defender as
razões que nos levaram a decidir pelo que decidimos. Por que agir dessa forma? Por
que escolher essa resposta como contendo a justificativa correta? Como provar que a
interpretação que demos do enunciado de um item é a melhor possível?
Considerações finais
3
Coordenadora da Área de Linguagens. Códigos e suas Tecnologias dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio,
Autora da Matriz de Competências do ENEM e Consultora Independente em Educação.
Os códigos são sistemas complexos, construídos nas relações sociais, e
ajudam a expressar experiências, extrair conclusões, ampliar limites, propor
problemas. A aquisição de novos códigos permite o desenvolvimento de novas
motivações para a ação, ampliam-se as relações sociais e a visão de mundo. Um bom
exemplo é o conhecimento da língua escrita. Ele reestrutura formas mentais e
lingüísticas. O ato de escrever possibilita expressar pensamentos para um interlocutor
ausente. Com uma folha de papel e um lápis ultrapassa-se o tempo presente,
registram-se idéias, divulgam-se pensamentos. São as letras organizadas sob forma
de palavras que se articulam, formando textos. Códigos complexos são utilizados em
um simples ato de escrita.
A noção de código implica a convenção de um acordo social por um
mecanismo regido por regras. Não são regras que fecham as possibilidades de uso da
linguagem, mas sim que permitem gerar ocorrências infinitas, tendo em vista o
contrato social estabelecido entre os participantes do processo interlocutivo.
A literatura interessa particularmente por utilizar a língua escrita em sua
produção. Saber produzir um texto literário é muito mais do que saber escrever bem.
O texto literário tem uma representação no mundo da arte. A literatura tem códigos
próprios construídos no campo literário: a escolha de temas, recursos lingüísticos,
tipos de textos, estilos. O teatro, o cinema, a televisão entre outras linguagens
interseccionam linguagens, como a verbal e a visual, e desenvolvem seus códigos
próprios.
Ao final do século XX, uma nova posição pessoal e social se mostra
necessária, para enfrentar os problemas e criar soluções que possam indicar à
sociedade novas possibilidades de convivência. Essa posição passa pelo uso e
conhecimento das linguagens e seus códigos.
Do conhecimento das linguagens articuladas e construídas nas relações
sociais, como a fala e a escrita, com suas inúmeras manifestações, até aquele da
linguagem atualizada por cada indivíduo, em cada momento de vida, todas linguagens
revelam referenciais de troca e interação que devem ser conhecidos:
A área no ENEM
A presença da área no sistema de avaliação do ENEM extrapola os limites de
questões na prova. O ENEM é linguagem e código, um texto construído e construtor
de significados. Para que se possa avaliar o desempenho dos alunos nas múltiplas
linguagens e códigos, não basta pensar apenas em respostas específicas a
determinados testes. As linguagens e códigos são os princípios do ENEM:
Ontem o texto era escolar. Hoje o texto ê a própria sociedade. (...) A história
das andanças do homem através de seus próprios textos está ainda em boa
parte por se descobrir.
(Certeau, 1994)
No quadro referência das competências avaliáveis, a presença das linguagens
e códigos é uma constante:
/. Dominar a norma culta da Língua Portuguesa e fazer uso das linguagens:
matemática, artística e científica.
II. Construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para a
compreensão de fenômenos naturais, dos processos histórico-geográficos, da
produção tecnológica e das manifestações artísticas.
III. Selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informações
representados de diferentes formas, para tomar decisões e enfrentar
situações-problema.
IV. Relacionar informações representadas em diferentes formas, e conhecimentos
disponíveis em situações concretas, para construir argumentação
consistente.
V. Recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola para elaboração de
propostas de intervenção solidária na realidade, respeitando os valores
humanos e considerando a diversidade sociocultural.
Com certeza a área se mostra pelo eixo da competência de leitura, presente
na descrição de todas as competências. O grupo autor da matriz decidiu eleger a
leitura como uma arquicompetência. Esse grupo, formado de professores de várias
disciplinas, indicou que sem o desenvolvimento pleno da atividade leitora todas as
competências e habilidades avaliáveis teriam suas possibilidades reduzidas ou
interrompidas.
Pela primeira vez, em situação de avaliação institucional, assumiu-se o
papel essencial da leitura como pré-requisito básico:
A matriz pressupõe, ainda, que a competência de ler, compreender, interpretar
e produzir textos, no sentido amplo do termo, não se desenvolve unicamente
na aprendizagem da Língua Portuguesa, mas em todas as áreas e disciplinas
que estruturam as atividades pedagógicas na escola. O aluno deve, portanto,
demonstrar, concomitantemente, possuir instrumental de comunicação e
expressão adequado tanto para a compreensão de um problema matemático
quanto para a descrição de um processo físico, químico ou biológico e, mesmo
para a percepção das transformações de espaço/tempo da história, da
geografia e da literatura.
(Documento Básico ENEM. Brasília: INEP, 1999. p. 9)
O exame se propõe a avaliar e analisar a própria operação de ler, seus modos
e tipos que ultrapassam os limites da decifração lingüística e adentram em um campo
semiótico amplo, responsabilizando todos os envolvidos na produção da prova com
essa avaliação.
Ao expor o quadro particular das habilidades, a sinalização se apresenta:
Todas as situações de avaliação estruturam-se de modo a verificar se o aluno
é capaz de ler e interpretar textos em linguagem verbal e visual (fotos, mapas,
pinturas, gráficos, entre outros) e enunciados:
• identificando e selecionando informações centrais e periféricas;
• inferindo informações, temas, assuntos, contextos;
• justificando a adequação da interpretação;
• compreendendo os elementos implícitos de construção do texto, como
organização, estrutura, intencionalidade, assunto e tema;
• analisando os elementos constitutivos dos textos, de acordo com sua natureza,
organização ou tipo; comparando os códigos e linguagens entre si, reelaborando,
transformando e reescrevendo (resumos, paráfrases e relatos).
O ENEM assume a leitura e as leituras como pressuposto inicial e sinaliza para
o trabalho sistemático com essa arquicompetência para o desenvolvimento das
competências e habilidades representadas como necessárias ao final da educação
básica. A avaliação da leitura está presente em toda sua plenitude seja na prova de
múltipla escolha seja na produção do texto escrito. A leitura resume no ENEM os
pressupostos da área Linguagens e códigos.
Mudança Social, Ciências Humanas e ENEM
Raul Borges Guimarães4
O uso do satélite artificial, das fibras ópticas e das redes de computadores está
provocando o desenvolvimento de uma refinada malha de circulação que envolve o
mundo inteiro. Por aí circulam capitais, notícias e cultura. Graças a estes avanços
tecnológicos, hoje dispomos de um extraordinário volume de dados utilizados por uma
quantidade de pessoas e em situações que jamais poderiam ter sido imaginadas
antes: nas escolas, no lazer, em guerras, no cuidado com o ambiente e nos
negócios, para citar alguns exemplos.
O ritmo frenético da inovação tecnológica tem produzido um meio técnico-
científico no qual quase toda a economia mundial está imersa. O encurtamento das
distâncias através da diminuição do tempo de percurso aproxima os lugares, o que
fortalece a idéia de comunidade global.
Mas isso não implica uma homogeneização cultural. Pelo contrário, temos a
afirmação de diferenças e vivemos em um mundo no qual as desigualdades sociais
foram extremamente acentuadas. O três homens mais ricos do planeta possuem mais
renda que os 600 milhões de habitantes mais pobres. Os Estados Unidos têm mais
computadores que todos os outros países juntos e 9 1 % dos usuários da rede mundial
de computadores encontram-se nos 29 países mais ricos.
Nós somos tanto participantes quanto observadores desses tempos
turbulentos, que estão alterando hábitos, costumes, padrões, preferências, escolhas,
direcionamentos, condutas. Processo que está minando de modo irreversível o plano
da cultura, da sensibilidade e dos valores humanos.
Num planeta cada vez mais urbanizado, a cultura jovem tornou-se uma das
matrizes dessa mudança social, profundamente associada ao referente da rebeldia.
Os jovens se organizam em torno de movimentos culturais e se apresentam
socialmente como difusores de estilos de vida centrados na música, no lazer e no
consumo de produtos identificados com um estilo moderno e cosmopolita.
Nas décadas de 1980 e 1990, a cultura jovem sofreu enormes transformações
impostas pela expansão da sociedade de consumo e pela globalização da economia.
O mundo da moda e da mídia acabou impondo uma estética internacional, que se
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Professor da UNESP, autor da Matriz de Competências e Habilidades do ENEM
refletiu nos trajes, na utilização ostensiva de automóveis, eletrodomésticos, telefone
celular e redes de informática.
Por outro lado, a sociedade de consumo, que aproximou os jovens de
diferentes níveis sociais ao despertar em todos o interesses pelas mesmas
mercadorias, também gerou a massa crescente dos excluídos dessa "trama global".
Em vista das dificuldades de acesso ao consumo, os jovens das periferias urbanas
têm encontrado formas criativas de inserção na sociedade por meio de inúmeros
movimentos como o punk, skinhead e hip hop, entre outros. A busca da diferença e o
desejo de provocar impacto nas outras pessoas que circulam pela cidade é o que
parece mobilizar estas chamadas "tribos urbanas".
Neste contexto de enormes avanços científicos e tecnológicos, mas também
marcado por angústias e incertezas, situa-se a reforma do ensino básico que vem
sendo implantada no Brasil. A partir de referências importantes encontradas na
Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990), na Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (promulgada em 20 de dezembro de 1996), nos princípios
propostos pela Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI (1998), os
educadores brasileiros participaram de um intenso debate que veio definir os novos
rumos do ensino no país.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (1999) é um dos
principais documentos que sintetiza os princípios norteadores do novo currículo
escolar. De acordo com suas referências, cabe à área de Ciências Humanas as
atividades de observação, identificação, reflexão e explicação dos fenômenos que
envolvem os seres humanos como indivíduos e como seres sociais. Sua tarefa é de
educar o aprendiz para uma maior flexibilidade de pontos de vista no ato de olhar para
o mundo ao seu redor, operando a consciência adquirida pela formulação metódica e
racional de informações adquiridas no contexto social de cada escola. Neste processo
de aprendizado, os jovens se inteiram da sua própria realidade e, ao mesmo tempo,
participam da realidade do outro, elaborando as diferenças entre o individual e o
coletivo.
O professor é o orientador e o mediador da construção do conhecimento do
aluno. Ele deve procurar sistematizar e organizar os conceitos científicos para a
linguagem do educando, respeitando o seu momento de aprendizagem. Além disso,
para propiciar a socialização do conhecimento entre os alunos, o professor deve
garantir um ambiente de oportunidades iguais de falar, pensar e agir.
Isso exige, por um lado, familiaridade com os problemas e questões da nossa
época e, por outro, ousadia no planejamento das atividades didáticas. Esses são
elementos fundamentais para despertar nos alunos a inquietação e, ao mesmo tempo,
a segurança diante de novos conhecimentos.
Mas é claro que, para haver aprendizado, não basta inquietação. É preciso
muita leitura e escrita metódica, além da comunicação entre os alunos e todos aqueles
que podem ajudá-los a encontrar respostas para suas perguntas.
Em consonância com os novos rumos do próprio conhecimento científico, mais
preocupado com a complexidade e a flexibilidade do pensamento, o que está posto
para os educadores é a elaboração e implementação de projetos pedagógicos que
respeitem a diversidade cultural e os valores específicos de cada comunidade. Isso
vem apontando para a necessidade de trazer para escola todas as formas de
conhecimentos, agrupados e reagrupados (a critério da escola) em disciplinas
específicas ou em projetos, programas e atividades que superem a fragmentação
disciplinar.
Trabalhando-se conceitos, atitudes e procedimentos articulados aos conteúdos
da vida dos jovens, a escola brasileira vem procurando avançar nas interfaces entre as
diversas linguagens e buscando novas alternativas metodológicas para facilitar a
interação do conhecimento do aluno e do conhecimento científico. No caso das
Ciências Humanas, temas como tecnologia e cidadania, por exemplo, são
relacionados a processos mais amplos de construção da leitura de mundo, de
problematização dos conteúdos da vida social, desencadeando novas formas de
pensar, novas formas de perguntar pelos fatos e de duvidar deles.
O que se propõe é o desenvolvimento das competências dos jovens com vistas
a elaboração de seu próprio código de ética e moral, de sua autonomia intelectual e
consciência crítica. Por meio do contato com o real complexo, com todos os seus
aspectos de ordem, ruptura, contradições, conflitos, complementaridades e inter-
relações, a área de Ciências Humanas deve alimentar nos jovens os seus próprios
sonhos e desejos de transformação do mundo exterior e interior. Afinal, o
entendimento das questões sociais e a elaboração de um pensar mais flexível passa a
criar maiores canais de acesso entre o que é estudado na escola e os processos de
tomada de decisão existentes na vida pública.
Espera-se que toda esta atitude diante da vida torne possível uma relação com
o conhecimento de modo cada vez mais profundo, reconhecendo nele o
entrelaçamento dos fundamentos e princípios científicos com o discurso ideológico e
com as relações de poder e da informação. Para isto, a área de Ciências Humanas no
Ensino Médio assume a tarefa de refazer as teias de relações das tradições e raízes
culturais e da memória coletiva, assim como a criação de oportunidades para que o
jovem desenvolva sua capacidade de avaliar questões que envolvem valores éticos, a
criatividade e o espírito inventivo. O respeito ao patrimônio cultural, artístico e histórico
também é um valor que tem recebido cada vez mais atenção das escolas.
' Professor da Universidade de São Paulo, Coordenador da Área de Ciências Naturais, Matemática e suas Tecnologias dos
Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio, Autor da Matriz de Competências do ENEM.
Tecnologias e a de Ciências Humanas e suas Tecnologias, como condição de
realização de um projeto pedagógico para a escola de ensino médio que cumpra as
metas formativas propostas para essa etapa escolar.
Noutras palavras, o sentido de existência das Áreas foi interpretado como uma
primeira articulação interdisciplinar, precursora de uma necessária articulação entre as
Áreas. Assim como as disciplinas têm especificidades, as Áreas também têm objetivos
específicos, mas, ao mesmo tempo, há objetivos delas que são convergentes ou
mesmo comuns. Essa convergência que deve ser considerada e reforçada no
processo de ensino e aprendizagem. Isso não é simples exercício de retórica, mas sim
intenção expressa em orientações precisas, no documento dos Parâmetros
Curriculares correspondente à Área das Ciências da Natureza, Matemática e suas
Tecnologias (doravante identificado pela sigla PCN/CNM). Essa convergência entre
disciplinas e entre as Áreas é paralela à perspectiva interdisciplinar expressa pelo
ENEM.
É possível ilustrar esse paralelismo, comparando o rol de competências e
habilidades do ENEM com o quadro síntese de habilidades e competências
daqueles parâmetros. Tal comparação será ainda mais bem compreendida se for
levado em conta que o PCN/CNM, além de apontar seus objetivos mais
específicos, ou seja " Desenvolver a capacidade de questionar processos
naturais e tecnológicos, identificando regularidades, apresentando
interpretações e prevendo evoluções. Desenvolver o raciocínio e a capacidade
de aprender", também explicita a convergência de objetivos, ou as interfaces
com as demais Áreas, ou seja, "Desenvolvera capacidade de comunicação"
assim como "Compreendere utilizara ciência, como elemento de interpretação
e intervenção, e a tecnologia como conhecimento sistemático de sentido
prático."
No que concerne a objetivos mais característicos das ciências da natureza e da
matemática, o quadro síntese do PCN/CNM enuncia um objetivo geral, seguido de seu
detalhamento:
• Desenvolver a capacidade de questionar processos naturais e tecnológicos,
identificando regularidades, apresentando interpretações e prevendo evoluções.
• Desenvolver o raciocínio e a capacidade de aprender.
• Formular questões a partir de situações reais e compreender aquelas já
enunciadas.
• Desenvolver modelos explicativos para sistemas tecnológicos e naturais.
• Utilizar instrumentos de medição e de cálculo.
• Procurar e sistematizar informações relevantes para a compreensão da
situação-problema.
• Formular hipóteses e prever resultados.
• Elaborar estratégias de enfrentamento das questões.
• Interpretar e criticar resultados a partir de experimentos e demonstrações.
• Articular o conhecimento científico e tecnológico numa perspectiva
interdisciplinar.
• Entender e aplicar métodos e procedimentos próprios das Ciências Naturais.
• Compreender o caráter aleatório e não determinístico dos fenômenos naturais e
sociais e utilizar instrumentos adequados para medidas, determinação de
amostras e cálculo de probabilidades.
• Fazer uso dos conhecimentos da Física, da Química e da Biologia para explicar
o mundo natural e para planejar, executar e avaliar intervenções práticas.
• Aplicar as tecnologias associadas às Ciências Naturais na escola, no trabalho e
em outros contextos relevantes para sua vida.
É imediata sua comparação, por exemplo, com as competências II e III do
ENEM:
Construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para a
compreensão de fenômenos naturais, de processos histórico-geográficos, da
produção tecnológica e das manifestações artísticas.
Selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informações
representados de diferentes formas, para tomar decisões e enfrentar situações-
problema;
e com as habilidades a elas associadas como
Dada a descrição discursiva ou por ilustração de um experimento ou
fenômeno, de natureza científica, tecnológica ou social, identificar variáveis
relevantes e selecionar os instrumentos necessários para realização ou
interpretação do mesmo. (Habilidade 1)
Identificar e caraterizar a conservação e as transformações de energia em
diferentes processos de sua geração e uso social, e comparar diferentes
recursos e opções energéticas. (Habilidade 7)
Reconhecer o caráter aleatório de fenômenos naturais ou não e utilizar em
situações problema processos de contagem, representação de freqüências
relativas, construção de espaços amostrais, distribuição e cálculo de
probabilidades. (Habilidade 15)
No que se relaciona com objetivos convergentes entre as ciências da natureza
ou a matemática e a Área de Linguagens e Códigos, o quadro síntese do PCN/CNM
traz:
• Desenvolver a capacidade de comunicação.
• Ler e interpretar textos de interesse científico e tecnológico.
• Interpretar e utilizar diferentes formas de representação (tabelas, gráficos,
expressões, ícones....).
• Exprimir-se oralmente com correção e clareza, usando a terminologia correta.
• Produzir textos adequados para relatar experiências, formular dúvidas ou
apresentar conclusões.
• Utilizar as tecnologias básicas de redação e informação, como computadores.
• Identificar variáveis relevantes e selecionar os procedimentos necessários para a
produção, análise e interpretação de resultados de processos e experimentos
científicos e tecnológicos.
• Identificar, representar e utilizar o conhecimento geométrico para
aperfeiçoamento da leitura, da compreensão e da ação sobre a realidade.
• Identificar, analisar e aplicar conhecimentos sobre valores de variáveis,
representados em gráficos, diagramas ou expressões algébricas, realizando
previsão de tendências, extrapolações e interpolações e interpretações.
• Analisar qualitativamente dados quantitativos representados gráfica ou
algebricamente relacionados a contextos socioeconômicos, científicos ou
cotidianos.
É imediato comparar essa proposição de objetivos com a primeira e a terceira
das cinco competências apresentadas pelo ENEM,
Dominar a norma culta da Língua Portuguesa e fazer uso das linguagens
matemática, artística e científica.
Relacionar informações, representadas em diferentes formas, e conhecimentos
disponíveis em situações concretas, para construir argumentação consistente;
e com habilidades que as compõem como
Em um gráfico cartesiano de variável socieconômica ou técnico-científica,
identificar e analisar valores das variáveis, intervalos de crescimento ou
decréscimo e taxas de variação. (Habilidade 2)
Dada uma situação-problema, apresentada em uma linguagem de determinada
área de conhecimento, relacioná-la com sua formulação em outras linguagens
ou vice-versa. (Habilidade 4)
Confrontar interpretações diversas de situações ou fatos de natureza histórico-
geográfica, técnico-científica, artístico-cultural ou do cotidiano, comparando
diferentes pontos de vista, identificando os pressupostos de cada interpretação
e analisando a validade dos argumentos utilizados. (Habilidade 19)
No que se relaciona com objetivos convergentes entre as ciências da natureza
ou a matemática e as ciências humanas e sociais, o quadro síntese do PCN/CNM traz:
• Compreender e utilizar a ciência, como elemento de interpretação e
intervenção, e a tecnologia como conhecimento sistemático de
sentido prático.
• Utilizar elementos e conhecimentos científicos e tecnológicos para diagnosticar e
equacionar questões sociais e ambientais.
• Associar conhecimentos e métodos científicos com a tecnologia do sistema
produtivo e dos serviços.
• Reconhecer o sentido histórico da ciência e da tecnologia, percebendo seu papel
na vida humana em diferentes épocas e na capacidade humana de transformar o
meio.
• Compreender as ciências como construções humanas, entendendo como elas
se desenvolveram por acumulação, continuidade ou ruptura de paradigmas,
relacionando o desenvolvimento científico com a transformação da sociedade.
• Entender a relação entre o desenvolvimento de Ciências Naturais e o
desenvolvimento tecnológico e associar as diferentes tecnologias aos problemas
que se propuser e se propõe solucionar.
• Entender o impacto das tecnologias associadas às Ciências Naturais, na sua
vida pessoal, nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento
e na vida social.
É fácil perceber a ressonância desses objetivos com várias das
competências do ENEM, por exemplo, com a quinta:
Recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola para elaboração de
propostas de intervenção solidária na realidade, respeitando os valores
humanos e considerando a diversidade sociocultural.
e com habilidades correlatas como
Analisar, de forma qualitativa ou quantitativa, situações-problema referentes a
perturbações ambientais, identificando fonte, transporte e destino dos
poluentes, reconhecendo suas transformações; prever efeitos nos
ecossistemas e no sistema produtivo e propor formas de intervenção para
reduzir e controlar os efeitos da poluição ambiental. (Habilidade 16)
Na obtenção e produção de materiais e de insumos energéticos, identificar
etapas, calcular rendimentos, taxas e índices, e analisar implicações sociais,
econômicas e ambientais. (Habilidade 17)
Suficientemente revelada e ilustrada a coerência de proposição e de propósitos
entre o ENEM e o PCN/CNM, restaria uma consideração final, tratando da perspectiva
interdisciplinar, uma característica presente ou anunciada tanto nos Parâmetros
Curriculares Nacionais, no que se refere às Ciências da Natureza e à Matemática,
quanto no Exame Nacional do Ensino Médio.
É ostensivo o fato de os Parâmetros explicitarem as disciplinas, ainda que as
articule dentro da Área e ainda que busque compor essa última com as duas outras
Áreas, ao passo que o ENEM não faz menção a qualquer disciplina, nem sequer a
áreas de qualquer tipo. Isso pode dar margem a interpretações incorretas de que o
ENEM seja simplesmente mais genérico em sua avaliação, ou de que a proposição
dos parâmetros seja mais conservadora. É preciso ter-se clareza de tais
interpretações resultam de uma falsa contradição.
A construção do conhecimento científico e matemático é claramente disciplinar
e dificilmente se poderia conceber um aprendizado que não o fosse. Especialmente no
ensino médio, relativamente ao ensino fundamental, esse caráter é inequívoco, com a
necessidade de professores especialmente formados para a condução de cada
disciplina. Como então, por um lado, se pode estabelecer a relação interdisciplinar no
aprendizado e, por outro lado, pode-se elaborar um exame, como o ENEM, em que o
sentido disciplinar não esteja grifado? A resposta é simples, ainda que o processo não
o seja: a interdisciplinaridade é também construída, no aprendizado ou no seu exame,
não pela fusão das disciplinas, mas pela realidade das questões e das situações
tratadas, por sua contextualização.
O projeto pedagógico de cada escola deve prover essa orientação para a
condução de cada disciplina e, sempre que factível, para uma articulação
interdisciplinar, possivelmente em fazeres concretos, como projetos de interesse
coletivo ou individual. Quanto ao Exame, precisamente por dar contexto ao que
verifica, mobiliza os saberes disciplinares do aluno, expondo-o a problemas efetivos, a
situações vivenciais, a questões reais, avaliando se, ou em que medida, o aprendizado
disciplinar desenvolveu habilidades e compôs competências. Por ter o caráter que
tem, o ENEM faz dois serviços: permite ao aluno tomar conhecimento do real perfil de
seu aprendizado, saber do que é capaz; sinaliza à escola o que se espera dela, qual o
novo sentido do ensino médio, definido como uma etapa que completa a educação
básica, saída para a vida, não necessariamente entrada, seja para a faculdade, seja
para o emprego. Ambos esses serviços são, hoje, essenciais.
Erros e acertos na elaboração de itens para a prova do
Enem
As Técnicas de Elaboração de Itens e as Questões Objetivas de Múltipla
Escolha do ENEM
Introdução
• pelo domínio dos conteúdos da sua área de atuação, da norma culta da Língua
Portuguesa e do conhecimento básico das diferentes linguagens: matemática,
científica e artística.
• pela aplicação correta dos conceitos da sua área de trabalho e dos conceitos
básicos das outras áreas envolvidas na construção da situação-problema, seu
enunciado e alternativas.
• pela seleção e organização corretas dos dados e das informações
representados nas suas diversas formas, para descrever a situação-problema e o
enunciado da questão.
No que se refere às ferramentas que deve utilizar em seu trabalho, podemos resumir
dizendo que o elaborador necessita de: