Artigo Alex e Eu
Artigo Alex e Eu
Artigo Alex e Eu
Adilson Pereira dos Santos Elaine Cristina Dias da Costa Gecenir Lopes de Melo Geralda Resende de Oliveira
RESUMO
O presente trabalho tem o objetivo de trazer um aprimoramento do que estudamos na disciplina de Psicologia da Cognio ao longo desse semestre, alm de mostrar a importncia da psicologia cognitiva como produtora de conhecimentos cientficos acerca dos processos cognitivos, tanto dos seres humanos quanto dos animais. Escolhemos a abordagem Comportamental como teoria que embasar nosso trabalho por termos uma maior identificao com a mesma e por acreditarmos que essa abordagem traz importantes contribuies para esse nosso trabalho. Utilizaremos os experimentos realizados com Alex, um Papagaio Africano cinzento utilizado pela cientista Irene Pepperberg, cujo relato dos experimentos est descritos em seu livro Alex e Eu. Com a pesquisa realizada com ele, percebemos que aplicao dos pressupostos behaviorista so possveis no somente na observao dos
comportamentos dos primatas, como era realizado quando Irene comeou a pesquisa com Alex , mas como tambm na observao de qualquer comportamento animal.
Palavras-chave:
Neste livro, a cientista descreve o relacionamento de 31 anos que manteve com Alex, um papagaio que sabia mais de cem palavras e que provou ser capaz de somar e entender
conceitos como maior, menor, mais, menos e nenhum. Irene descobriu, por meio de intensa pesquisa, que vivia com uma criatura consciente. Durante o tempo em que Alex esteve ao seu lado, construiu uma amizade e desenvolveu um trabalho que ganhou os jornais, tornando a dupla muito conhecida nos EUA e contribuindo para um entendimento mais amplo das capacidades dessas avesi. Na primeira parte desse trabalho faremos uma distino entre a cognio animal e humana sob a perspectiva da teoria behaviorista. Tal perspectiva nortear nossa exposio sobre os relatos de Irene sobre os experimentos que ela fez com Alex na busca de identificar a os processos cognitivos dos papagaios africanos. Usaremos alguns desses experimentos descritos no livro embasando-os a partir do behaviorismo, justificando o que de fato foi realizado nestes experimentos. Por fim, propomos algumas consideraes a cerca da contribuio dos estudos de Irene sobre cognio de Alex, para o campo da Cincia do Comportamento,
luz da teoria behaviorista, no existe distino entre a cognio humana e a cognio animal. Sobre a existncia de inteligncia animal, defende-se que a cognio no tem qualquer influencia no comportamento humano. Atualmente, as experincias realizadas para determinar a existncia ou no de cognio animal so baseadas em conhecimentos empricos. Em geral, o estudo da cognio animal tem como objetivo a compreenso do
comportamento animal, e atravs do presente, pretendendo saber a evoluo da cognio humana. Gardner (1995), citando Watson (1913), nos fala que a psicologia, tal como o behaviorista a v, uma cincia natural puramente objetiva. Sua meta terica e a previso e controle do comportamento. A introspeco no constitui parte essencial de seu mtodo, eo valor cientifico de seus dados no depende da facilidade com que eles se prestam interpretao em termos da conscincia. O behaviorista, em seus esforos para obter um esquema unificado da resposta animal, no reconhece nenhuma linha divisria entre o homem e os animais. O comportamento do homem, com todo o seu refinamento e complexidade, constitui apenas uma parte do esquema total de investigao do behaviorista (Marx 1963, 242). Como no h a possibilidade de investigao do que est no interior do organismo, ou seja, de sua conscincia, ou para alguns, de sua cognio cabe ao behaviorista identificar o comportamento, tanto animal quanto humano como uma adaptao, uma reao aos estmulos, as alteraes que se processam no ambiente. Cabe ressaltar, que Watson, no descartava a existncia de precesses interna no organismo. Ele apenas considera que tais processos devem ser estudados pela filosofia. 3 Experimentos feitos com Alex luz do Behaviorismo Vimos que ela comea os seus experimentos com Alex por meio de um emparelhamento de um estmulo neutro, que era o papel, com o seu som correspondente, 5 pronunciando a palavra PAPEL. O meu plano era comear por meio de sons identificadores, ou marca para as coisas que ele gostava, achando que isso aceleraria o processo de aprendizado. Descobri ento que ele gostava muito mais das fichas de arquivo que de comida. Mastigava-as com entusiasmo e rapidamente transforma tudo em pedainhos.
Com isso, Watson nos fala que, na etapa de construo da aprendizagem das palavras, a me ou outro adulto, mostra a criana um objeto, como por exemplo, uma boneca, enquanto repete a silaba apropriada. Assim, desenvolvem-se novas conexes entre os estmulos visuais e os sons correspondentes. O processo ulterior de desenvolvimento da linguagem uma longa e contnua elaborao e refinamento desse processo bsico. Watson nos fala ainda da existncia de outro mecanismo de condicionamento da resposta do indivduo para as palavras, a resposta condicionada circular. A instigao normal para a primeira das emisses vocais por exemplo, o som d , provavelmente, algum estmulo fisiolgico obscuro. Finalmente, uma resposta condicionada circular acaba por se estabelecer em resultada da concorrncia do som d com a sua elocuo. Isto , a criana ouve o d enquanto diz e o prprio som converte-se num estmulo condicionado para a elocuo circular porque se perpetua a si mesmo, obviamente. Deste modo se desenvolve o balbuciar que caracterstico das primeiras vocalizaes; a criana s suspende a seqncia de slabas repetidas quando distrada por algum outro estmulo mais forte ou quando fica cansada. (Marx e Hulix:1963.pp.241). Anos depois passamos a gravar o bl-bl-bl que Alex fazia quando ficava sozinho noite e freqentemente o ouvimos praticando com muita clareza uma palavra que acabara de aprender, mesmo que a tivesse falado de maneira errada no inicio do dia. Irene relata que em menos de duas semanas Alex responde corretamente a pergunta qual e a cor? Quando lhe era apresentada a madeira de cor cinza de quadro, Alex responde cinza. Segundo Marx e Hulix (1963), em tudo isto insiste o behaviorismo em assinalar, nada mais existe que ligaes e religaes cerebrais, no sendo necessrio recorrer a aventos mentais. A criana aprende a dizer blue (azul), red (vermelho) etc. por causa do condicionamento de eventos cerebrais e no por causa da experincia sensoriais, como as 6 sensaes. Em concordncia com a apresentao das frutas, Alex quando aprendeu formular a palavra banareja, a teoria do desenvolvimento da linguagem cita no livro de Marx e Hullix,
que o papel bsico do pensamento behaviorista diz: primeiramente muita silaba distintas so naturalmente produzidas pelo aparelho fonador normal de qualquer criana. A investigao normal para a primeira destas emisses vocais, por exemplo, o som comum da e provavelmente algum estimulo fisiolgico obscuro. Finalmente, uma resposta condicionada, circular acaba por si estabelecer em resultado da concorrncia do som da com a sua elocuo. Isto , a criana ouve da enquanto diz e o prprio som converte-se num estimulo condicionado elocuo. (Marx e Hullix:1963.pp.242). Foi o que aconteceu com Alex. Semelhante a criana que comea a emitir as primeiras silabas e associ-lo. Ele usou uma silaba de banana ba e uma de cereja reja, uma associao incrvel. Quando a cientista Irene Pepperberg mantm certo distanciamento afetivo de Alex podemos observar que esse no envolvimento durante os experimentos e em funo de que esses experimentos se faltavam na observao dos comportamentos objetivos e observveis emitidos por Alex. Segundo Gardner (1995) Watson, ao propor uma psicologia centrada na apreenso desses comportamentos , reformula a viso anterior do que era o tema central da psicologia. A descrio e explicao dos estados e contedos da conscincia deveriam ser substitudos pela previso e finalmente pelo controle do comportamento. A psicologia no mais se preocuparia com o que h supostamente na mente de uma pessoa porque agora os prprios termos mentalistas estavam todos abolidos do vocabulrio do psiclogo. Ao propor um novo modelo de psicologia centrada no condicionamento do comportamento humano, Watson renega a conscincia do individuo como a principal explicao de seu comportamento, uma vez que tais comportamentos passam a ser explicados pela relao estmulo-resposta. Assim, ele nos fala que a verbalizao dos indivduos tambm pode ser justificada por essa relao. No h necessidade alguma de mencionar a via psquica ou a conscincia:
ambas so puras suposies. (...) Dizer fazer isto , comportar-se, falar abertamente ou para ns prprios (pensar) um tipo de comportamento to objetivo quanto o beisebol. (Marx e Hullix pp.230).Podemos observar que os experimentos com Alex expressam-se por comportamentos emitidos como respostas e estmulos apresentados por Irene. 7 Durante o treinamento, por exemplo, Marion e eu ficamos espera de algum tipo de pronuncia com duas silabas semelhante a pa pel pelo menos no ritmo, porque obter o som verdadeiro no era possvel antes de premia-lo com objeto papel. Irene questiona o modelo behaviorista para o estudo do comportamento animal de sua poca, entretanto, pode-se evidenciar em sua pesquisa com Alex que os pressupostos behaviorista se faziam presentes em seus experimentos. Si analizarmos o seu mtodo modelo/rival que foi modificado do modelo original de Dietmar Todt, perceberemos uma forma de condicionamento. Decide ento modificar o mtodo de Todt, colocando, por exemplo, os treinadores A e B em papeis alternados para o pssaro pudesse aprender que os dois papeis eram possveis. Alm disso, a recompensa pela resposta correta poderia ser a posse do prprio objeto. Se Alex identificasse corretamente papel, eu ou minha parceira do daramos para ele. O mesmo se aplicaria a chave, madeira e tudo mais. Dessa forma, o som identificador e o objeto estariam fortemente associados na mente dele. Segundo Rodrigues (1979) o comportamento do modelo (de imitao) inicialmente neutro para o observador em relao as funes tanto de orientao como de instigao. A ocorrncia inicial de uma resposta imitativa do comportamento do observador supostamente uma ocorrncia ocasional e, portanto no instigada pelo ato de ver o comportamento do modelo. A reproduo da resposta do modelo continua at que o reforo se torne inoperante para o observador ( por exemplo, devido associao) ou at que o reforo deixa de ocorrer, (isto , at a extino). (Rodrigues, 1979, pp.103). Sendo assim, a resposta imitativa de Alex quanto ao comportamento do modelo
dependente de um reforo oferecido a ele, mas a fonte de motivao para o surgimento da resposta imitativa no dependente do comportamento do modelo. Irene nos fala de um episdio em que Alex emitiu um comportamento de medo ao ver um casal de corujas. Ela descreve o que ocorreu para que Alex emitisse tal comportamento: quando a imagem das corujinhas penetrou no crebro de Alex, um crebro que ate ento vivia na inocncia, isso trouxe uma mensagem urgente e instintiva: predador, perigo, esconda-se! Uma reao tipicamente atvica, algo impresso no seu DNA. Watson (1913), citado em Gardner (1995), nos chama a ateno para a importncia de observarmos os comportamentos, isentando-os de nossas impresses. Nada mais de impresses ou intenes sentidas: (...) apenas a observao do comportamento explicito era relevante. Moreira e Medeiros (2007), nos fala dos reflexos inatos que possumos e que so 8 importantes nossa sobrevivncia. Todas as espcies animais apresentam comportamento reflexos inatos. Esses reflexos so uma preparao mnima que os organismos tm para comear a interagir com seu ambiente e para ter chance de sobreviver. Em um dos seus experimentos com Alex, Irene relata que, em um teste para observar se ele tinha a representao do numeral seis como equivalente a um conjunto de objetos com seis itens, ela fala que, experimentando um outro tipo de teste, colocaramos um algarismo cinco verde e de plstico prximo a trs blocos azuis de madeira e perguntaramos: Qual cor maior? Materialmente, a coleo de blocos azuis era maior que o algarismo arbico. Se Alex fosse guiado apenas pelo tamanho concreto, dizia azul. Mas no disse. Disse verde. Com alto grau de exatido ele avaliou repetidamente a pergunta de acordo com o algarismo. Em uma outra srie de
tentativas ns lhe mostramos dois algarismos arbicos de diferentes valores e cores. Perguntamos novamente: Qual cor maior? E outra vez ele respondeu certo. No o treinramos para isso. Ele mesmo chegou concluso de que o algarismo seis representa um conjunto de seis coisas, o algarismo cinco, de cinco coisas e assim sucessivamente. E sabia que seis maior que cinco e tambm maior que os algarismos menores de fileira. (pp. 197). Pode-se dizer que a aquisio de qualquer comportamento instrumental contm elementos de soluo de problema. Millenson (1967) nos fala como os indivduos se comportam diante de um problema, observando a disposio dos estmulos discriminativos (SD) existentes neste problema. Suponha que mostremos a um sujeito um figura de um pssaro, um avio e um balo e pedimos-lhe que identifique (nomeie) o conceito (classe de SD) que eles exemplificam. O sujeito adquiriu h muito tempo atrs o conceito de objeto voador atravs da histria de discriminao com tais objetos. Agora, sua tarefa simplesmente apresentar o comportamento verbal adquirido, dando o nome objeto voador. Em geral, a tarefa do sujeito na identificao de conceitos consiste em examinar um nmero de situaes e induzir o conceito delas (isto , propor um regra geral pra a classe de SD). Ele informado, para cada situao, se esta ou no um caso de classe de SD desconhecida. Nesta tarefa, tipicamente o sujeito emprega estratgias, ou seqncias sistemticas de respostas, que levam identificao correta. (MILLENSON: 1967, pp. 321- 322). Assim ocorre com Alex no experimento supracitado, uma vez que ele j havia aprendido o conceito de conjunto de objetos, onde cada nmero representa uma determinada quantidade de objetos e tambm j havia aprendido o conceito cor, depois foi s emitir o comportamento verbal adquirido.
Consideraes finais
Os experimentos que foram realizados com Alex reforam a viso behaviorista sobre a
possibilidade de explicar os comportamentos dos animais e dos humanos. Com a pesquisa realizada com ele, percebemos que aplicao dos pressupostos behaviorista so possveis no somente na observao dos comportamentos dos primatas, como era realizado quando Irene comeou a pesquisa com Alex , mas como tambm na observao de qualquer comportamento animal. A pesquisa desenvolvida com Alex comprova que, ao estabelecermos as leis de causa e efeitos, ou seja, estmulo-resposta podemos descrever como Alex aprendia diversos comportamentos que eram esperados por Irene ate outros que ele emitia e que surpreendeu a todos pelas respostas que ele emitia. Isso explica o quanto Alex se mostrava autoconfiante, pois a partir dos reforos que obtinha, tanto na presena de noz e tambm do tipo verbal (como muito bem Alex!), Alex compreendia que na presena desses reforos, que eliciavam novos comportamentos, suas respostas eram seguidas de boas recompensas. Assim se confirma os pressupostos de Watson que postulava que o desempenho do individuo, nesse caso, Alex dependia, pois, do modo como meio atuava sobre as estruturas desse individuo, dando nfase no meio como formador do comportamento desse individuo. Percebemos com esse trabalho que a cognio de Alex, sobre a tica da teoria behaviorista, e explicada pela relao estmulo resposta e pelos comportamentos que ele emitia. Essa viso comportamentalista esta na contra mo de outras teorias que aprendemos ao longo desse perodo em que explicam a cognio humana e tambm animal a partir da compreenso dos contedos da conscincia e conseqentemente, como os indivduos formam suas representaes mentais.
Entretanto, observamos o papel determinante que o ambiente tem sobre o comportamento dos indivduos e no caso de Alex isso fica evidente uma vez que no seu habitat natural ele certamente emitiria outras respostas, no sendo condicionado a falar ingls 10 ou contar nmeros e fazer contas.
Referncias bibliogrficas
GARDNER, Howard. Psicologia: O casamento de Mtodos com a substncia. In: GARDNER, Howard. A nova cincia da mente. - Uma histria da revoluo cognitiva. Trad. Cludia M. Caon. - So Paulo: EDUSP, 1995.
MARX, Melvin H, HILLIX, William A. Behaviorismo. In: Marx, Melvin H. HILLIX, William A. Sistemas e teorias em psicologia. 2ed. Trad. lvaro Cabral. So Paulo: Cultrix,1973.
MEDEIROS, Carlos Augusto. MOREIRA, Mrcio Borges. Princpios Bsicos de anlise do comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2007.
MILLENSON, J. R. Princpios de Analise do Comportamento. Trad. Alina de Almeida Souza, Dione de Rezende. Braslia, DF: Coordenada Ed de Braslia, 1967.
Sinopse
do
livro
disponvel
em:
<http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp? sid=20019542812614547926648032&nitem=2818849>