09

EXPERIMENTAR DEUS A Transparncia de Todas as Coisas

Leonardo Boff

Digitalizado por Blac nig!t

INTR"DU#$" O presente texto retoma um escrito produzido em 1974. Muitas coisas mudaram na vida do autor e muitas outras temticas ocuparam seu interesse, especialmente o alargamento da Teologia da Liberta o para dentro da preocupa o ecol!gica. "obres e Terra gritam por#ue est o sendo oprimidos. "obres e Terra devem ser libertados $untos, pois constituem uma %nica e complexa realidade. & #ue n o mudou, entretanto, 'oi a busca da experi(ncia de )eus. *la + o cerne da '+ viva e pessoal e o conte%do principal da teologia, independente de suas tend(ncias e correntes. *xperimentar )eus n o + pensar sobre )eus, mas sentir )eus com a totalidade de nosso ser. *xperimentar )eus n o + 'alar de )eus aos outros, mas 'alar a )eus $unto com os outros. & texto atual 'oi pro'undamente revisto, modi'icado e completado. "raticamente representa uma obra nova. & interesse dele reside em criar espao para #ue cada um possa 'azer sua experi(ncia de )eus. "ara encontrarmos o )eus vivo e verdadeiro a #uem podemos entregar o cora o, precisamos negar a#uele )eus constru,do pelo imaginrio religioso e aprisionado nas mal-as das doutrinas. )epois de termos mergul-ado em )eus e de t(.lo sentido nascendo de dentro de nosso cora o, poderemos, livremente, re.assumir o imaginrio e as doutrinas. *las se despem de sua pretens o de de'inir )eus e se trans'iguram em met'oras com as #uais nos acercamos do Mist+rio para n o sermos #ueimados por ele. *mbora sem nome ade#uado, )eus arde em nosso cora o e ilumina nossa vida. *nt o n o precisamos mais crer em )eus. /implesmente sabemos dele por#ue o ex. perimentamos. Petrpolis, Festa de So Joo Batista, 2002.

%"M" APARE%E DEUS

N" PR"%ESS" DE &IDA'M"RTE'RESSURREI#$" DA LIN(UA(EM

"artimos da constata o de #ue vigora uma vasta crise das imagens de )eus nas religi0es, nas igre$as e nas sociedades contempor1neas. 2lguns apressados proclamaram logo a morte de )eus. &utros tentam superar a crise elaborando imagens mais modernas e ade#uadas 3 nossa percep o atual da realidade. 4 o representa tal procedimento mero trabal-o substitutivo, mantendo a estrutura da crise, pois n o rompe com o mundo das imagens5 Mas - os #ue procuram pensar a partir de uma inst1ncia mais originria do #ue as imagens6 a exist(ncia -umana, -ist!rica, aberta e din1mica, onde, de 'ato, transparece o Mist+rio, a dimens o de iman(ncia e a de transcend(ncia, isto +, a#uilo #ue c-amamos )eus. 4o in,cio de tudo est o encontro com )eus, n o ao lado, dentro ou acima do mundo, mas $untamente com o mundo, no mundo e atrav+s do mundo. )eus somente + real e signi'icativo para o ser -umano se emergir das pro'undezas de sua pr!pria experi(ncia no mundo com os outros. "or ser real e signi'icativo, apesar de ser Mist+rio, gan-a um nome7 pro$etamos imagens dele7 constru,mos representa0es. * a 'orma como concretizamos nossa experi(ncia. Mas + nesse processo #ue se arma um grave problema6 8ue valor dar 3s imagens5 9omo se relacionam com )eus5 "odemos dispensar as imagens5 &s -omens religiosos #ue acumularam experi(ncias com a in. timidade de )eus poder o nos a$udar. 2o testemun-arem )eus, usando o recurso da

linguagem e do imaginrio, eles a'irmam, negam c voltam a a'irmar.1 Traaram.nos um camin-o de tr(s passos, #ue #ueremos tamb+m percorrer.

A) A M"NTAN*A + M"NTAN*A, SABER'IMAN-N%IA'IDENTl.I%A#$"

4um primeiro momento da experi(ncia de )eus, sob o impacto do encontro, damos nomes a )eus6 c-amamo.lo de /en-or, de "ai, de M e, de "edra, de /anto. 2 palavra est a servio do #ue experimentamos de )eus. :ixamos uma representa o. ;nicialmente n o temos ainda consci(ncia de #ue se trata apenas de uma representa o da#uilo #ue n o pode ser representado. )eus + "ai bondoso ou M e de in'inita ternura7 em n,vel de experi(ncia, temos a ver com uma realidade compacta e n o meramente 'igurativa. /abemos sobre )eus por uma ci(ncia experimental, poss,vel de ser traduzida por um discurso $ so'isticado da argumenta o 'ilos!'ico.teol!gica. 2#ui se elaboram conceitos e uma l!gica minuciosa dos meandros do mist+rio divino e de sua comunica o ao universo e aos seres -umanos. )eus + identi'icado com os conceitos #ue dele 'azemos. *le -abita nossos conceitos e nossas linguagens. *laboramos doutrinas sobre )eus e sobre o mundo divino, doutrinas #ue se encontram nos vrios credos e nos catecismos. 9om tal procedimento tentamos enc-er de sentido %ltimo e pleno nossa vida. )eus pode ser encontrado na intimidade do cora o. 9om ele podemos 'alar, rezar, cair de $oel-os, levar nossos #ueixumes e esperar sua graa e salva o. 2 montan-a + montan-a, )eus."ai.e.M e de in'inita ternura.
<=

A M"NTAN*A N$" + M"NTAN*A,

N$"'SABER'TRANS%END-N%IA'DESIDENTI.I%A#$" 4um segundo momento da experi(ncia de )eus, damo.nos conta da insu'ici(ncia de todas as imagens de )eus. Tudo o #ue dele dizemos + 'igurativo e simb!lico. *le est para al+m de todo nome e desborda de todo o conceito. )eus + simplesmente transcendente. >ale dizer, ele rompe todos os limites e est para al+m de todos os con'ins. /empre e sempre. Talvez ten-amos passado por uma pro'unda crise. &s marcos re'erenciais de nosso agir religioso comearam a vacilar. 9omo compreender )eus."ai ao lado da viol(ncia c!smica das galxias #ue se engolem, das devasta0es #ue dizimam grande parte do capital bi!tico da Terra ou simplesmente 'ace ao drama de nossos amigos inocentes #ue 'oram presos e torturados barbaramente por causa de suas convic0es libertrias5 9omo conciliar a bondade de )eus.M e com a esposa amada #ue 'oi seviciada, diante do marido preso, at+ ser morta5 )eus + "ai materno ou M e paterna, mas um outro "ai e uma outra M e. 4 o + um maior, mas um di'erente. 9omeamos a #uestionar todas as nossas representa0es. "ode surgir uma teologia da morte de )eus6 decreta a morte de todas as palavras re'eridas ao )ivino, por#ue elas mais escondem do #ue comunicam )eus. 4 o sabemos mais nada7 desidenti'icamos )eus das coisas #ue dizemos dele. "or a, entendemos o lema dos mestres zen6 /e encontrares o buda mata.o.? /e encontrares o buda, n o + o <uda . + apenas sua imagem. Mata a imagem para estares livre para o encontro com o verdadeiro <uda. 2lgo semel-ante notamos nos grandes mestres espirituais do cristianismo, especialmente em / o @o o da 9ruz, #ue se mostrava -ostil 3s vis0es, aos (xtases e a todas as 'ormas de experi(ncias especiais. A )eus n o + encontradio entre e ao lado das coisas deste mundo. /e o encontrarmos a,, ent o encontramos um ,dolo e n o o )eus vivo e verdadeiro #ue est sempre para al+m dos sentidos corporais e espirituais. 2 montan-a n o + montan-a6 )eus."ai n o + )eus."ai como nossos pais terrestres o s o.

9= A M"NTAN*A + M"NTAN*A,

SAB"R'TRANSPAR-N%IA ' IDENTIDADE

4um terceiro momento da experi(ncia de )eus, reabilitamos as imagens de )eus. 2p!s t(.las a'irmado B2=, t(.las negado B<=, agora criticamente nos reconciliamos com elas. 2ssumimo.las como imagens e n o mais como a pr!pria identi'ica o de )eus. 9ompreendemos #ue nosso acesso a )eus s! pode ser 'eito atrav+s das imagens. 9ome. amos a sabore.las por#ue estamos livres diante delas. *las s o os andaimes, n o a constru o, e as acol-emos como andaimes. 4 o pretendemos nen-uma ci(ncia sobre )eus7 saboreamos a sabedoria de )eus #ue se revela atrav+s de todas as coisas. Tudo pode se tornar transparente a ele, por#ue tudo + 'igurativo. :igurativo de #u(5 )e )eus, de sua sabedoria, de seu amor, de sua bondade e de sua miseric!rdia, etc. Mas isso s! + poss,vel se tivermos passado pelo primeiro e segundo momentos, #uando nos tivermos libertado da simples ?sabedoria da linguagem?B; 9or 1,17= e #uando tivermos $ passado pela ?doutrina da cruz? #ue destr!i a ci(ncia dos cientistas B; 9or 1,1C.AD=. *nt o n o nos preocupamos mais com os antropomor'ismos, por#ue sabemos #ue tudo o #ue dissermos de )eus + antropomor'o. Mas )eus pode ser antropomor'o B3 imagem do -omem= por#ue o -omem + teomor'o B3 imagem de )eus=. D Tudo + simples. 4ada - para se re'letir. <asta ver, mas ver em pro'undidade. )eus, sem se con'undir com as coisas, est presente nelas, por#ue as coisas s o . para #uem v( em pro'undidade . trans. parentes. E a verdade do panente,smo. "or essa palavra #ueremos dizer6 tudo est em )eus, embora nem tudo se$a )eus7 bem como )eus est em tudo, embora )eus n o se$a tudo. @unto com o 9riador est a criatura, vinda dele, mas di'erente dele. 8uem c-egou a este terceiro momento n o deixa nada 'ora7 assume tudo, por#ue tudo + revela o de )eus. ?8uem + o Tao5?, perguntou certa vez um disc,pulo ao mestre zen. * este respondeu6 ?E a mente diria de cada um.? ?8ue + a mente diria de cada um5?, tornou o disc,pulo. 2o #ue o mestre concluiu6 ?8uando 'atigados, dor. mimos7 #uando temos 'ome, comemos.?F "ara #uem percebe #ue )eus est em todas as coisas, tudo + mani'esta o do dom #ue + )eus, da gratuidade #ue + seu amor. *ssa simplicidade reconduz todas as coisas, boas e ms, para a sua unidade em )eus. 2 partir disso "aulo podia admoestar os romanos #ue o'erecessem a vida como -!stia viva, santa e agradvel a )eus, pois nisso consiste o verdadeiro sacri',cio Bc'. Gm 1A,1=7 #uem d, d( com simplicidade7 #uem preside, presida com solicitude7 #uem pratica a miseric!r. dia, 'aa.o com alegria Bc'. Gm 1A,C=7 #uer comamos, #uer bebamos, #uer 'aamos #ual#uer coisa, #ue se$a 'eito tudo para a gl!ria de )eus Bc'. ; 9or 1H,D1=. 8uem experimentou o mist+rio de )eus n o pergunta mais6 vive simplesmente 2 transpar(ncia de todas as coisas e celebra o advento de )eus em cada situa o. 2 experi(ncia de )eus n o se d apenas neste terceiro momento do sabor. *la + uma experi(ncia total #ue inclui o saber, o n o.saber e o sabor. ;mporta n o 'ixar.se em nen-um deles. & terceiro momento torna.se novamente primeiro e inicia o processo onde os nomes de )eus s o a'irmados, negados e reassumidos. Todo esse percurso constitui a experi(ncia concreta, dolorosa e grati'icante de )eus. *le se d e se retrai continuamente7 se re.vela e se vela em cada momento por#ue ele ser sempre o Mist+rio e o nosso eterno :uturo.

MATE AS IMA(ENS/ E DEUS APARE%ER0

2 partir das re'lex0es #ue 'izemos sobre os tr(s passos ao acercamento de )eus pelo camin-o das imagens, de sua cr,tica e seu resgate, 'icou claro #ue 'alar em expe. ri(ncia de )eus -o$e + $ assumir uma postura cr,tica dentro da crise geral de nossas

representa0es sobre o mist+rio de )eus. Epocas -ouve em #ue os -omens 'aziam uma verdadeira experi(ncia de )eus simplesmente colocando.se em contato vital com as doutrinas tradicionais 'ormuladas pela religi o e sancionadas pela sociedade. 4essa me. dia o viviam o imediato do mist+rio de )eus e enc-iam de sentido a exist(ncia. 4ossa +poca se caracteriza por uma suspeita geral contra todos os discursos #ue tentam traduzir o de'initivamente importante e o radicalmente decisivo da vida -umana. 2 cr,tica colocou em xe#ue todas as nossas id+ias sobre )eus. *la gan-ou corpo nas 'amosas cr,ticas 'eitas pelos mestres da suspeita . :reud, Marx e 4ietzsc-e ., pela seculariza o, pela desmitologiza o, pela tentativa de tradu o secular dos conceitos religiosos, pela teologia da morte de )eus, pelo es'oro de desmascaramento da 'un o ideol!gica assumida pelas religi0es, a 'im de $usti'icar o status quo social ou para preservar, nos pa,ses mantidos no subdesenvolvimento, um tipo de sociedade in$usta e discriminat!ria da urg(ncia da revolu o7 gan-ou corpo tamb+m na cr,tica 3s ;gre$as carismticas e populares #ue obedecem 3 l!gica do mercado e veiculam uma religi o mais como entretenimento #ue apelo 3 convers o e 3 interioriza o. :ace a esta crise generalizada, n o s o poucas as vozes #ue admoestam6 ?"aremos um pouco. 4o 1mbito do pensamento.raiz, 'aamos economia da palavra )eus. Iuarde. mos sil(ncio. *xperimentemos a#uele Mist+rio #ue circunda e penetra nossa exist(ncia. /! a partir disso tentemos balbuciar.l-e um nome #ue n o ser o seu nome, mas o nome de nosso amor e de nossa rever(ncia 2#uele #ue + o /em.4ome e o ;ne'vel.? 4 o era outra coisa #ue pedia um 'ino poeta e m,stico crist o italiano, )avid Turodlo, em seu poema ?"ara al+m da 'loresta?6 ?;rm o ateu, nobremente empen-ado na busca de um )eus #ue eu n o sei te dar, atravessemos $untos o desertoJ )e deserto em deserto, ande. mos para al+m da 'loresta das di'erentes '+s, livres e nus rumo ao /er nu. 2li onde a palavra morre, encontrar nosso camin-o seu 'im.? & es'oro do nosso ensaio sobre a experi(ncia de )eus se orienta na busca do sentido originrio da palavra eus, encoberto sob muitos nomes e 'ossilizado nas doutrinas sobre )eus. "ara nos situarmos na via da experi(ncia de )eus, precisamos conscientizar o trabal-o desconstruitivo $ operado em nossa civiliza o concernente a todas as id+ias e representa0es sobre )eus. 4 o superamos a crise das imagens de )eus criando novas e, pretensamente, mais ade#uadas ao esp,rito do tempo. ;sso apenas perpetua a crise por#ue, ingenuamente, se assume a#uela estrutura geradora de imagens de )eus #ue a crise precisamente #uer #uestionar. *ssa estrutura + a vontade de sempre procurar imagens mel-ores sem sair desta l!gica de substitui o de umas imagens por outras. 4 o devemos identi'icar a#uela 'ora originria #ue est a#u+m e al+m das imagens, 'ora #ue nos coloca no encontro vivo com )eus e #ue est sempre na origem de todas as imagens5 *ssa + a #uest o 'undamental. "ortanto, n o + 'ugindo da crise para o mundo anterior a ela #ue superaremos a crise, mas entrando dentro dela e radicalizando.a ainda mais at+ identi'icarmos a experi(ncia originria de )eus. *ntretanto, ten-amos desde o in,cio uma perspectiva correta6 como n o se combatem imagens de )eus com outras imagens, assim tamb+m n o se processa a experi(ncia de )eus negando sistematicamente todas as representa0es de )eus. )evemos atravess. las e assim super.las. *m outras palavras, importa mais 'alar a )eus do #ue 'alar sobre )eus. Mais #ue pensar )eus com a cabea + preciso sentir )eus com o cora o. E o #ue signi'ica experimentar )eus. 9omo se 'ar isso5 *is o desa'io #ue pretendemos abordar em nosso texto.

A)

DEUS T"TALMENTE "UTR", TRANS%END-N%IA

2s pessoas #ue verdadeiramente experimentam )eus sempre testemun-aram6 *le +

superior su!!o !eo, )eus + superior a tudo o #ue podemos imaginar. * o Totalmente rio e o mist+rio de )eus. )eus transcendente + representado como o )eus acima do mundo e, o #ue + pior, 'ora do mundo. * um )eus sem o mundo. & mist+rio vem repre. sentado como um enigma a ser deci'rado. "ara o m,stico, o mist+rio + um acontecimento a ser acol-ido com total disponibilidade. * como tal n o est em oposi o 3 intelig(ncia. 9omo diz,amos, pertence ao mist+rio ser con-ecido mais e mais. Mist+rio #ue vem representado como enigma comea a signi'icar a#uilo #ue n o pode ser alcanado pela raz o. *nt o se envia )eus ao ex,lio da raz o. 2parece como o limite da raz o, #uando, na verdade, ele + o ilimitado da raz o. Gepresentado como totalmente 'ora do mundo, )eus de 'ato n o seria experimentvel. *le + 'eito ob$eto da revela o, a irrup o dentro do mundo da#uele #ue est 'ora do mundo. *nt o ele revela verdades e representa0es de si. /egundo tal compreens o, crer + crer em verdades sobre )eus. )eus se trans'orma em puro ob$eto da '+ intelectual, '+ #ue nada sente de )eus, mas #ue adere a ele num total despo$amento e na assun o de doutrinas e representa0es acerca de )eus. *sse )eus est muito pr!ximo do )eus do de,sta. ?& de,sta + um -omem #ue n o teve ainda tempo de se tornar ateu?., por#ue separou o mundo de )eus. )eus + antes uma pro$e o do -omem do #ue o nome do Mist+rio #ue tudo penetra. )iante de um )eus representado como distante, acima e 'ora do mundo, ningu+m cai de $oel-os, n o $unta as m os, n o abre o cora o para a intimidade amorosa, n o c-ora, n o canta nem dana. *ssa representa o da Transcend(ncia nos impede de valorizar a encarna o de )eus em @esus 9risto. 4 o + um )eus #ue se abaixa com pro'unda simpatia para com o ser -umano. 4 o assume a nadidade -umana. Mas conserva, contrariamente ao #ue diz / o "aulo BdF. :l A,K.7=, sua ma$esttica e transcendente divindade. *nt o representamos @esus 9risto, )eus.encarnado, como a#uele #ue sabe tudo desde o ventre materno, #ue sabia de sua morte desde o in,cio da vida e #ue sabia cada passo de seu camin-o. )estarte, a encarna o como os evangel-os no.la apresentam vem pulverizada de sua densidade pro'undamente -umana. 4 o se entende ent o por #ue @esus 9risto pLde ser verdadeiramente tentado, por#ue ?embora 'osse :il-o teve de aprender a obedecer pelo so'rimento?BMb N,C=. *sta representa o da transcend(ncia divina como dist1ncia do mundo tem conse#O(ncias desastrosas para a vida de '+. "or um lado est o as experi(ncias da vida e do cia de )eus. *le -abita em nossas representa0es, mas est, tamb+m e sempre, para al+m e a#u+m delas.

B)

DEUS RADI%ALMENTE 1NTIM", IMAN2N%IA

2 '+ vivenciada sempre expressou )eus como 2#uele #ue est mais ,ntimo a n!s do #ue n!s a n!s mesmos6 inli!ior inti!o !ieo. )eus est de tal maneira no cora o de todas as coisas #ue, em tudo o #ue pensamos, em tudo o #ue vemos e tocamos, tocamos, vemos e pensamos atemtica c irre'lexamente a )eus. 4ada, nem o pr!prio in'erno, + obstculo 3 sua ine'vel presena. & problema surge #uando tentamos representar a iman(ncia de )eus e identi'icamos a representa o com a presena de )eus. )eus est verdadeiramente presente em tudo, mas n o ani#uila nem substitui o mundo com suas coisas. 9ada #ual possui sua leg,tima autonomia e consist(ncia. *ntretanto, - uma 'orma de imaginar a

atua o de )eus no mundo como se )eus 'ora uma causa segunda como as demais causas imanentes deste mundo. 9oncebemos a "alavra de )eus ao modo das palavras -umanas. 2 vontade de )eus como a vontade -umana, o amor e a $ustia de )eus como o amor e a $ustia -umanas. * uma concep o epi'1nica de )eus pela #ual pensamos ver )eus direta!ente, em tudo. 4essa representa o n o se deixa o mundo ser mundo. 4 o - lugar para uma -ist!ria -umana. Tudo + assumido diretamente por )eus. )eus se trans'orma num 'enLmeno do mundo. *le vem representado como o *nte supremo, in'inito, criador do c+u e da terra. * um *nte ao lado, dentro e no cora o dos demais entes, embora se$a in'inito e onipotente. "ossui todos os atributos positivos dos entes, mas em grau in'inito. "or#ue + um *nte, acredita.se, pode ser experimentado em termos de vis0es, audi0es c consola0es interiores. Mas estamos diante de uma ilus o. & #ue experimentamos n o + )eus, mas nossas imagens de )eus. *ssa compreens o antropom!r'ica de )eus teve conse#O(ncias eclesiol!gicas e pol,ticas pro'undas. 2 lei divina vem entendida no mesmo n,vel #ue a lei -umana. 2 doutrina revelada e as institui0es divinas s o compreendidas no mesmo -orizonte das doutrinas c institui0es -umanas. *ssas identi'ica0es se prestaram 3 manipula o, por parte dos detentores do poder e da interpreta o ortodoxa, em 'avor da situa o estabelecida. & %nico Mist+rio de )eus se desdobrou em muitos mist+rios de '+. 2 %nica "alavra de )eus 'oi 'racionada em muitas palavras divinas das *scrituras. 9erto tipo de teologia apresentou a >ontade de )eus parcelada com in%meras leis, dogmas, #uali'ica0es, c1nones, ordena0es, preceitos cada vez mais minuciosos consoante as necessidades da vida. )e repente, por+m, o 'iel comeou a perguntar6 /er #ue )eus e sua salva o s o t o complicados5 Tudo isso n o + apenas linguagem -umana para traduzir o %nico Mist+rio de )eus #ue n o pode ser identi'icado com os antropomor'ismos de nossa linguagem5 )eus est realmente por todas as partes, mas n o + um 'enLmeno captvel como os demais 'enLmenos intra.mundanos. )eus + Mist+rio #ue sempre se d, mas tamb+m se retrai7 sempre se revela, e ao mesmo tempo se vela7 sempre se comunica, mas n o se con'unde com o mundo. P concep o epi'1nica Bmani'esta o direta=, #ue colocava )eus como um 'enLmeno no mundo, devemos opor uma concep o teol!gica #ue usa media0es, sinais e s,mbolos. )eus est no mundo, mas tamb+m para al+m dele. 2 raz o Blogos= v( )eus atrav+s da realidade do mundo e n o diretamente nele mesmo. )a, necessitar.se de re'lex o, da s+ria a'irma o do mundo, visto ent o como itinerrio da mente para dentro de )eus, t,tulo de um livro m,stico de / o <oaventura6 "tinerariu! rnentis in eu!. 2 dilui o de )eus dentro das categorias do mundo trouxe como resultado uma nega o nova de )eus. )eus n o + uma categoria do poder, da $ustia e do amor -uma. nos #ue pode ser manipulada para manter a situa o privilegiada de alguns ou para revolucionar essa situa o. 2 religi o pode se tornar de 'ato !pio do povo #uando con'unde )eus e as coisas divinas com as institui0es e verdades religiosas. ?Q )eusJ >!s n o sois sen o o amor . mas v!s sois um outro amorJ >!s n o sois sen o a $ustia . mas v!s sois uma outra $ustia?, rezava um dos maiores te!logos cat!licos 'ranceses do s+culo RR. 2 nega o do )eus antropomor'o cria a condi o da possibilidade da experi(ncia do )eus vivo e verdadeiro #ue est no mundo, mas n o se esgota no mundo. 4o transcendentalismo se a'irmava a )eus e se negava o mundo7 no imanentismo se nega a )eus e se a'irma o mundo. "odemos a'irmar tanto a )eus #uanto o mundo5 *sse + o desa'io #ue nos cabe en'rentar e resolver.

c) DEUS ATRA&+S DE T"DAS AS %"ISAS,

TRANSPAR-N%IA
2s re'lex0es acima deixaram claro6 a a'irma o exclusiva da transcend(ncia de )eus levou a negar o mundo imanente. 2 a'irma o exclusiva da iman(ncia de )eus no mundo conduziu 3 nega o de )eus transcendente. E #ue iman(ncia e transcend(ncia s o 'eitas categorias opostas e excludentes. 2plicadas a )eus, deviam levar 3 nega o ou do mundo ou de )eus. 9omo sair desse impasse5 )eus n o + s! transcendente nem + s! imanente. *le + tamb+m transparente. 9omo diz / o "aulo6 ?M um s! )eus e "ai de todos, #ue est acima de tudo StranscendenteT, por tudo StransparenteT e cm tudo SimanenteT? B*' 4,K=. *xiste uma categoria interm+dia entre a transcend(ncia e a iman(ncia6 a transpar(ncia. *la n o exclui, mas inclui. *la participa de ambas e se comunica com ambas. Transpar(ncia signi'ica a presena da transcend(ncia dentro da iman(ncia. *m outras palavras, signi'ica a presena de )eus dentro do mundo e do mundo dentro de )eus.1 *ssa presena trans'orma o mundo de meramente imanente em trans.parente para a transcend(ncia presente dentro dele. & mundo n o + negado, mas a'irmado. 9ontudo ele n o + apenas mundo7 + o lugar e a pr!pria mani'esta o emergente da#uilo #ue + mais do #ue mundo, isto +, do Transcendente, de )eus. <em o disse Teil-ard de 9-ardin6 ?& grande mist+rio do cristianismo n o + exatamente a 2pari o, mas a Transpar(ncia de )eus no Universo. &-J sim, /en-or, n o s! o raio de luz #ue passa roando, mas o raio #ue penetra. 4 o vossa *pi'ania, @esus, mas vossa )ia'ania.? )eus emerge, aparece atrav+s do -omem e do mundo. *stes se tornam ent o trans. parentes para )eus. )eus + real e concreto, por#ue n o vive acima e 'ora do mundo, mas no cora o do mundo para al+m dele7 dentro, mas sem se exaurir a, e se tornar uma pea do mundo. "or#ue )eus deixou de ser vivido dentro do mundo + #ue 'oi 'ossilizado numa representa o #ue o situava 'ora do mundo. & pr!prio mundo n o est abandonado a si mesmo nos espaos in'initos #ue se expandem na medida em #ue o universo se auto.cria e se distende. *le + ancorado em )eus. E, poder,amos com certa ousadia dizer, o corpo vis,vel de )eus. )e #ue 'orma todas as coisas s o transparentes para )eus5 9omo se d a uni o do mundo e de )eus, sem con'undir )eus com o mundo e o mundo com )eus e sem se negarem mutuamente5 8ual + a dimens o originria #ue nos impede de criarmos ob$etiva0es negadoras de )eus e negadoras do mundo5 @ acenamos anteriormente #ue + pelo panente,smo. & panente,smo B'ilologicamente signi'ica ?tudo com )eus e )eus em tudo?=, #ue n o dever ser con'undido com o pante,smo, a'irma a autonomia de ambos os p!los . )eus e mundo ., mas os coloca um em presena do outro, numa completa inter.retro.rela o Bsemel-ante ao #ue ocorre entre as tr(s divinas "essoas da /ant,ssima Trindade, c-amada pela teologia t+cnica de pericrese ou circuminse o#. 2#ui reside, exatamente, o 'undamento da transpar(ncia. Mas como aparece, em termos de experi(ncia concreta, a verdade do panente,smo, da m%tua presena )eus.mundo5 2 dimens o originria #ue abre esse espao e #ue nos impede de ob$etivarmos )eus para um al+m distante ou de um a#u+m opaco e mundano + a -istoricidade do ser -umano. ;mporta entender bem o #ue se$a -istoricidade, pois embutido nela se encontra a#uilo #ue c-amamos de iman(ncia e transcend(ncia. 2 -istoricidade surge #uando entendemos o processo #ue passaremos a descrever. & ser -umano se descobre numa situa o -ist!rica, datada, pessoal, social e

ecologicamente de'inida, sempre $unto com outros no mundo, situa o 'ace 3 #ual se sente desa'iado a tomar posi o e a assumir decis0es e destarte a constituir.se como pessoa. *le + o %nico ser da cria o #ue n o nasce pronto. Tem #ue se construir e plasmar seu destino inter'erindo no mundo c se relacionando com os outros. 2o assumir radicalmente essa situa o concreta, experimenta de 'ato #uem ele +6 um ser mergul-ado no mundo e nas vrias estruturas e con$unturas, mas tamb+m um ser capaz de elevar.se permanentemente acima delas, de rebelar.se contra elas, de #uestion.las, de elaborar alternativas a elas e de 'azer op0es #ue o de'inem de'initivamente. *le pode ser uma galin-a #ue cisca o c- o de seu cercado como pode ser uma guia #ue ergue vLo e gan-a as alturas. *ssa sua decis o signi'ica existencialmente realiza o ou 'rustra o, 'elicidade ou desgraa, salva o ou perdi o. 2 iman(ncia + a situa o dada. 2 transcend(ncia + a ultrapassagem dela. *las se encontram unidas no mesmo ser -umano concreto. 2 iman(ncia #ue a, emerge e a transcend(ncia #ue a, se anuncia n o s o entidades existentes em si mesmas, como coisas #ue est o a,. 2bsolutamente. ;man(ncia e transcend(ncia s o dimens0es da realidade -umana concreta e -ist!rica. 2 esse processo unitrio e complexo c-amamos de -istoricidade. )eus s! possui um signi'icado real se *le emergir de dentro dessa situa o -ist!rica concreta do ser -umano7 se *le se mani'estar como o /entido radical de sua vida e a Luz pela #ual v( a luz. & )eus do #ual testemun-am as *scrituras $udaico.crist s + o )eus #ue irrompe dentro da -ist!ria -umana, com as caracter,sticas delineadas acima. 4 o podemos, a rigor, 'azer sobre *le uma ci(ncia, como se *le 'osse um ob$eto 'ixo, cu$o comportamento podemos descrever. 2 'un o mais importante da ci(ncia + prever o comportamento 'uturo dos ob$etos #ue s o estudados. /e as previs0es n o se cumprem consoante a teoria cient,'ica, + sinal de #ue a teoria estava e#uivocada e assim n o -avia ci(ncia certa. 4 o podemos prever a interven o de )eus. )a, n o podermos en#uadrar )eus nos moldes de nosso paradigma cient,'ico. 2 rigor n o se poderia 'azer nen-uma teologia. /e ainda assim ousamos 'azer teologia, #ue pretende ser o logos sobre )eus, + por#ue nos sentimos empurrados pela nossa sede de saber #ue n o exclui nada e ningu+m de nossa curiosidade. Mas o 'azemos na consci(ncia de #ue nossas palavras s o simb!licas e meta'!ricas. Mais negamos do #ue a'irmamos, #uando tentamos balbuciar algo consistente acerca de )eus. 2demais, nos damos conta . e isso o mostra a -ist!ria da -umanidade desde os seus prim!rdios - mil-0es de anos . de #ue um mist+rio cerca a nossa exist(ncia. *sse mist+rio #ue se d na -ist!ria 'oi c-amado por mil nomes e resumido no nome )eus. & )eus testemun-ado, por exemplo, pelas *scrituras do "rimeiro e do /egundo Testamento, + apresentado como um )eus -is. t!rico. *le acompan-ava as vicissitudes do povo, em ptria ou no ex,lio. * a, surgia como a "resena concret,ssima B+ o #ue signi'ica em -ebraico @av+=, o 9amin-o, a "edra, a Luz, a :ora, o 9ompan-eiro de camin-ada, o /anto, o :uturo absoluto, etc. 1 P luz dessa leitura de )eus como revela o na -ist!ria, podemos compreender os vel-os textos da '+, escritos durante mais de dois mil anos por a#uele povo #ue tentou sempre descobrir a )eus escondido sob todos os eventos #ue vivia6 o povo de ;srael. /! assim a vida e a -ist!ria se tornam para ele transparentes. Um )eus vivido assim n o + uma id+ia #ue paira sobre a -ist!ria, o termo de um racioc,nio te!rico #ue pudesse ser alcanado independentemente da vida concreta do ser -umano ou do povo. "ensar assim seria recair na problemtica das representa0es estticas, se$a de transcend(ncia, se$a de iman(ncia #ue criticamos antes. )eus + a /uprema Gealidade #ue surge #uando a pessoa radicaliza, #uer dizer, vai at+ 3 raiz da

realidade -ist!rica #ue vive. Mist!ria a#ui n o + a recita o dos 'atos passados, mas a dimens o na #ual a pessoa ou toda uma coletividade vive, luta, se con'ronta, se decide e constr!i um camin-o pessoal ou coletivo. 4a radicalidade dessa dimens o emerge )eus como >ida da vida e :ora na camin-ada. 8uem + esse )eus5 ;sso s! sabemos #uando nos abrimos a *le e nos arriscamos a experiment.lo. Tais a'irma0es n o soam como uma bela teoria ao lado de outras5 "ara deixar de soar como teoria, deve ser reconduzida 3#uela dimens o na #ual se vive6 a experi(ncia. 4a experi(ncia, teoria e prxis se casam e vivem $untas numa unidade 'undamental. 2 teoria n o + mais abstra o e id+ia vazia. *la + explicita o da prxis e a comunica o dela. 2 prxis n o + movimenta o irracional, mas busca a realiza o de sentido. E na experi(ncia radical da realidade #ue )eus emerge na consci(ncia do ser -umano. E pela experi(ncia de )eus buscado e encontrado no cora o da experi(ncia do real #ue este se torna transparente e se trans'igura num grande sacramento comunicador de )eus. 9omo articular essa experi(ncia57

3UE + EXPERI-N%IA4
2 palavra e$perincia % uma das mais discutidas e di',ceis de nossa tradi o ocidental. 4 o poderemos a#ui desdobrar todo o le#ue de seu rico signi'icado. Gestringir.nos.emos 3 perspectiva essencial #ue nos permite articular )eus como experi(ncia dentro de nossa -ist!ria pessoal e coletiva. Talvez a etimologia da pr!pria palavra e$perincia nos 'ornea a primeira ac-ega 3 sua compreens o. &$perincia % a ci(ncia ou o con-ecimento Bci(ncia= #ue o ser -umano experimenta de 'orma dogmtica e 'undamentalista, portanto mani'esta um sa. ber n o veri'icvel, #ue n o subsiste nem re.siste em contato com a realidade experimentada. 2 ci(ncia #ue resulta da e$'peri'ncia n o + mera sensa o de um ob$eto. E a s,ntese de toda uma s+rie de abordagens do ob$eto (peri) ?ao redor de?, ?em torno de?=. @ 2rist!teles notara muito bem #ue a experi(ncia *e!paria# n o resulta de uma percep o isolada, mas constitui uma s,ntese de muitas percep0es e combina0es reunidas, na#uilo #ue possuem de comum, dentro de um modelo es#uemtico BMet. 9CHb=. "ela experi(ncia o ob$eto se 'az cada vez mais presente dentro de #uem #uer con-ecer, na medida em #ue ele se abre mais e mais ao ob$eto c o estuda de di'erentes 1ngulos. Um m+dico experimentado + a#uele #ue se con'rontou muitas vezes com a mesma doena sob os mais di'erentes sintomas, sob 'ormas e circunst1ncias as mais diversi'icadas a ponto de n o mais se surpreender ou se enganar. *le con-ece simplesmente. 4 o tanto por#ue estudou em livros . isso tamb+m ., mas por#ue esteve 3s voltas, concretamente, com a doena e con-eceu.l-e os sintomas. & modelo #ue elaborou da doena, combinando experi(ncia vivida com ci(ncia dos livros, + um modelo testado e veri'icado. @ vimos, da palavra e$'peri'ncia, o sema peri Bao redor de=. :alta.nos analisar o sema e$. &$ + uma preposi o latina #ue signi'ica, entre outros conte%dos, ?estar orientado para 'ora?, ?exposto a?, ?aberto para?. Temos, por exemplo, as palavras6 ex. clama o, ex.posi o, ex.ist(ncia. 4este sentido, e$ exprime uma caracter,stica 'undamental do ser -umano como ex.ist(ncia. *le + um ser #ue ex.iste voltado para 'ora (e$#, em dilogo e em comun- o com o outro ou com o mundo. )a, ser a ex.peri.(ncia n o apenas uma ci(ncia, mas uma verdadeira consci(ncia. & ob$eto se mani'esta 3 consci(ncia, segundo as leis estruturais dessa consci(ncia. 2 ex.peri.(ncia nunca + sem pre.su.posi0es. 2 consci(ncia tem $ pr+.su.posi0es, #ue s o posi0es tomadas

-istoricamente ou -erdadas da cultura dentro da #ual estamos inseridos. 2 consci(ncia n o + vazia, mas toma modelos de interpreta o do passado, da sociedade atual e da pr!pria camin-ada pessoal. *sses modelos povoam sempre a consci(ncia. 8uando a pessoa sai de si (e$# e vai ao encontro dos ob$etos, ela carrega toda essa carga. 2 expe. ri(ncia cont+m, pois, um elemento sub$etivo Ba ex.ist(ncia= e um elemento ob$etivo Bos ob$etos=. 4esse encontro de ambos, na modi'ica o #ue se opera tanto na consci(ncia como nos ob$etos, + #ue se estrutura a experi(ncia. &s modelos $ presentes na consci(ncia s o con'rontados, veri'icados e testados com a realidade. "odem se con'irmar7 mas podem tamb+m ser destru,dos, corrigidos e enri#uecidos. *xperi(ncia envolve todo esse processo doloroso e criativo. Gesumindo, podemos dizer #ue experi(ncia + o modo como interiorizamos a realidade e a 'orma #ue encontramos para nos situar no mundo $unto com os outros. 2ssim entendida, a experi(ncia deve, pois, ser distinguida da viv(ncia. 2 viv(ncia + a situa o psicol!gica, as disposi0es dos sentimentos #ue a experi(ncia produz na sub$etividade -umana. / o as emo0es e valora0es #ue antecedem, acompan-am ou se seguem 3 experi(ncia dos ob$etos #ue se 'azem presentes no interior da psi#ue -umana. >iv(ncia n o + sinLnimo de experi(ncia. E conse#O(ncia e resultado da experi(ncia na psi#ue -umana. *la pertence ao 'enLmeno total da experi(ncia, mas este + mais amplo e pro'undo do #ue a#uele, a viv(ncia. /e experi(ncia + o modo como nos situamos no mundo e o mundo em n!s, ent o ela possui o carter de um -orizonte. Morizonte + uma !tica #ue nos permite ver os ob$etos, um 'ocai #ue ilumina a realidade e nos permite descobrir os distintos ob$etos dentro dela, nome.los, orden.los no rigor de uma sistematiza o. "or exemplo, atualmente na 2m+rica Latina, estamos nos -abituando a ver tudo sob a !tica da liberta o ou da opress o, da inclus o ou da exclus o dos processos globais6 a pedagogia, a teologia, a prega o, os sacramentos, os sistemas pol,ticos e os pro$etos econLmicos. "erguntamo.nos #uase instintivamente6 2t+ #ue ponto essa doutrina liberta ou mant+m o cidad o marginalizado e exclu,do5 2t+ #ue ponto essa op o econLmica re'ora a inser o no processo de globaliza o de 'orma subalterna e assim apro'unda o regime de depend(ncia ou at+ #ue ponto rompe com ele e liberta -istoricamente5 2 liberta o + um -orizonte, uma !tica, uma experi(ncia #ue nos 'az descobrir os ob$etos na sua dimens o de liberta o ou de opress o, de inclus o ou de exclus o.

A EXPERI-N%IA T1PI%A D" N"SS" MUND" M"DERN"

O modo como os seres -umanos se 'izeram presentes no mundo e 'izeram o mundo presente neles variou ao longo da -ist!ria. & -omem m,tico interpretava o mundo dentro de outras categorias, di'erentes das nossas. Tin-a outra experi(ncia. )a mesma 'orma o -omem da meta',sica clssica experimentava o mundo di'erentemente, como uma -ierar#uia de entes dentro de uma ordem, presidida e culminada pelo *nte supremo e eterno. 8ual + o espec,'ico de nossa experi(ncia de mundo5F & t,pico de nosso mundo + o saber cada vez mais minucioso e certo Bcerteza n o + sinLnimo de verdadeJ=. Tudo + ob$etivado, isto +, 'eito ob$eto do saber. & saber l-e con'ere segurana, por#ue saber + poder. "oder + sub$ugar todas as coisas aos interesses do ser -umano, de uma classe, de um pa,s, de uma cultura, de um sistema pol,tico e econLmico. *sse saber ob$etiva tudo6 )eus 'eito ob$eto do saber teol!gico7 o pr!prio ser -umano, ob$eto de estudo de numeros,ssimas ci(ncias7 o universo e a Terra, ob$etos

mximos da pes#uisa cient,'ica. )esse saber nasceram as ci(ncias e sua aplica o concreta, a t+cnica. *las se consideram eminentemente como ci(ncias experimentais e ob$etivas. & nosso mundo + e se entende como mundo t+cnico.cient,'ico, arte'ato da manipula o dos seres -umanos. 4 o admite nen-uma 'ora numinosa e misteriosa limitante. Tudo #uer desvendar7 de tudo #uer con-ecer as leis de 'uncionamento7 experi. menta e controla criticamente a experi(ncia at+ poder estabelecer uma ci(ncia exata e segura. & con$unto dessas op0es e processos constitui a assim c-amada sociedade do con-ecimento, da in'orma o e da comunica o. @ se ultrapassou a ingenuidade -ermen(utica de um tipo de pensar cient,'ico #ue se entendia a si mesmo como pura ob$etividade. & pensamento e a ci(ncia, pensava.se, nada mais s o do #ue o re'lexo da realidade experimentada na consci(ncia. 4a verdade, a pr!pria ci(ncia se deu bem conta de seu estatuto -ermen(utico pr!prio, #uer dizer, de seu alcance e de seus limites. 9on-ecer n o + reduplicar. 2 experi(ncia + sempre 'eita dentro de um modelo pr+vio e de perguntas previamente colocadas. 9on'orme as perguntas, v(m tamb+m as respostas. & modelo cient,'ico pr+vio $ seleciona o #ue se dese$a con-ecer. /! veri'icamos a#uilo #ue procuramos. )a, dizer.se #ue os dados cient,'icos n o s o rigorosamente dados cient,'icos, mas s o 'eitos atrav+s de nossos inevitveis modelos. *m raz o disso, podemos e devemos dizer #ue a ob$etividade cient,'ica inclui a sub$etividade -umana, as op0es sociais e os interesses do grupo. E sempre o ser -umano #ue 'az ci(ncia. * o 'az com tudo a#uilo #ue +, com interesses bem de'inidos e com um sentido #ue con'ere ao seu trabal-o. ;sso determina as perguntas, marca os modelos de anlise e orienta a dire o de seu interesse cient,'ico. )e #ual#uer 'orma a nossa experi(ncia do mundo + marcada pelo carter cient,'ico.t+cnico. ;sso di'erencia o nosso tempo de outros tempos da -ist!ria -umana. 9ontudo, dentro desta experi(ncia do mundo, apontou um elemento importante para o nosso tema da experi(ncia de )eus. 2 ci(ncia da ob$etividade cient,'ica envolve o -omem #ue entra na determina o da#uilo #ue deve ser analisado e pes#uisado, marcando a pes#uisa com o sentido #ue ele l-e d. 4uma primeira dimens o, o ser -umano se preocupa primordialmente em dar uma e$plica+o aos 'enLmenos #ue analisa. *la se processa com o recurso 3s causas imanentes veri'icveis do pr!prio 'enLmeno. )essa 'orma constr!i o edi',cio cient,'ico e a possibilidade de sua utiliza o para trans'ormar o inundo pela t+cnica. *sse complexo + um arte'ato -umano, 'ruto do exerc,cio da capacidade do esp,rito. 4um segundo momento, mais 'undamental #ue o primeiro da explica o, o -omem se pergunta pelo sentido dessas mani'esta0es -umanas. 2 ci(ncia e a t+cnica s o um modo de o -omem se situar no mundo e o mundo no -omem. 8ue signi'icado possuem5 8ue visam eles5 8ue procura o -omem com tudo isso5 "ergunta.se pelo sentido, #ue + mais do #ue uma explica o cient,'ica. 2 pergunta pelo sentido abrange a totalidade do 'enLmeno cient,'ico. 9omo dizia com acerto um dos -omens mais atentos aos prop!sitos da ci(ncia, LudVig Wittgestein6 ?Mesmo #uando tivermos respondido a todas as poss,veis #uest0es cient,'icas, perceberemos #ue nossos problemas vitais nem se#uer 'oram tocados.X 2 pergunta pelo sentido da vida + inarredvel. *la, como notamos acima, $ est impl,cita e latente dentro da pr!pria ci(ncia e da t+cnica. & ser -umano pes#uisa e trans. 'orma o mundo por#ue v( sentido nisso, por#ue se realiza a,, por#ue consegue expressar dimens0es latentes nele. 8ue sentido o ser -umano busca realizar e viver #uando dialoga t+cnico.cienti'icamente com a realidade5 2 anlise desse #uestionamento nos abre para o sentido originrio de )eus, presente tamb+m dentro do mundo moderno.

%"M" APARE%E DEUS

N" MUND" DA TE%N"'%I-N%IA
)eus n o aparece em nosso mundo como um 'enLmeno. /e tal acontecesse, ele tamb+m seria ob$eto de anlise e de ci(ncia. Mas n o seria o )eus divino do Mist+rio, sen o parte deste mundo ob$etivvel, portanto, um ,dolo Bum ob$eto do mundo diante do #ual nos prostramos e adoramos=. 4 o sendo 'enLmeno, a ci(ncia, com raz o, prescinde da -ip!tese )eus, como 'ator explicativo da realidade experimental. <uscar a )eus no n,vel do 'enLmeno signi'ica buscar nada e, se ac-ar, ac-ar um ,dolo. )eus n o surge explicitado e tematizado a,. *le est, no mundo t+cnico.cient,'ico, totalmente ausente. :oi para o ex,lio. Getraiu.se de 'orma completa. Mas essa retra o deu c-ance para #ue aparecesse o ser -umano no cenrio da -ist!ria Ba -istoricidade a #ue nos re'er,amos anteriormente= e tudo o #ue ele pode em termos de saber, de poder e de manipula o do captvel por seus sentidos, ampliados pelos aparatos tecnol!gicos. @ a#ui se anuncia uma pergunta incLmoda para o esp,rito cient,'ico6 )e onde vem o vigor e a 'ora do saber, do con#uistar e do dominar5 & ser -umano se surpreende tomado por esse instinto de saber e de poder. Gesponder #ue isso vem da natureza + dar uma resposta cient,'ica, mas #ue n o sacia a pergunta. "or#ue podemos perguntar adiante6 * de onde o tem a natureza5 )as energias c!smicas #ue atuam a partir do vcuo #u1ntico, sempre saturado de energia5 * essas energias prov(m de onde5 "oderemos levar ao in'inito as perguntas e as respostas evasivas. 4o 'inal o ser -umano dever, -umildemente, recon-ecer6 ?4 o seiJ? 2o responder assim, pode se considerar absolutamente -onesto. E o mximo #ue a perspectiva cient,'ica permitir dizer, mantendo.se dentro de seus limites cient,'icos. Todo o saber e todo o poder est o sustentados, portanto, por um 4 o./aber e por um 4 o."oder. 8ue + esse 4 o./aber e esse 4 o."oder5 4 o + a#uilo #ue c-amamos de Mist+rio5 2 ci(ncia emerge, portanto, de um Mist+rio. *la est 3 merc( de uma 'ora e de um vigor #ue a levam a camin-ar cada vez mais c+lere, exacerbando sua vontade de tudo con-ecer e tudo domesticar. Mas n o pode domesticar e apreender dentro das mal-as de suas ci(ncias e de suas t+cnicas o )e &nde e a &rigem de seu poder e de seu saber. 9omo dizia a sabedoria da antiga ,ndia6 ?2 'ora pela #ual o pensamento pensa, n o pode ser pensada.? 2 l,ngua pode 'alar sobre todas as coisas, mas n o pode 'alar a 'ora pela #ual 'ala. & ol-o pode ver todas as coisas, mas n o consegue ver a si mesmo. & espel-o apenas nos d uma imagem do ol-o, n o o ol-o mesmo. /e #uebro o espel-o #ue espel-a meu ol-o, n o #uebrei com isso o meu ol-o. 8ue + esse ol-o #ue tudo permite ver e n o se deixa ver5 8ue + esse Mist+rio sem nome5 8ue + esse 4 o./aber5 4 o c-amaram todas as religi0es c todos os m,sticos ao ;ne'vel #ue se d e se retrai em nossa exist(ncia, de )eus5 )eus n o + a palavra para dizer o 4 o."alavra5 4 o diz o salmo6 ?*m tua luz, /en-or, ve$o a luz?5 "or isso dizia o /bio6 ?4omear o Tao + nomear a 4 o.9oisa... & Tao + um nome #ue indica sem de'inir. & Tao est para al+m das palavras e para al+m das coisas. 4 o se exprime nem por palavras nem pelo sil(ncio. &nde n o existem nem mais palavras nem o sil(ncio, o Tao + apreendido.?1 & )eus.Mist+rio est no mundo t+cnico.cient,'ico, mas retra,do, olvidado, silenciado. "or#ue n o se 'ala dele n o signi'ica #ue n o este$a presente ou se$a negado. *le est l no pudor do sil(ncio. )eus + como a raiz de uma rvore. >emos a rvore. 2dmiramos sua 'ronde. 9omemos de seus 'rutos. *studamos sua natureza. 2#uilo #ue n o + visto na super',cie da terra, a raiz, isso d vigor e vida 3 rvore. 2 raiz n o aparece

3 primeira vista. *la est recol-ida no sil(ncio da terra. 8uando comemos os 'rutos e descansamos 3 sombra da rvore, n o nos lembramos da raiz . mas + dela #ue vem a seiva e, com a seiva, a vida. )eus + essa raiz e essa seiva oculta. )eus + como o sol #ue bril-a l 'ora na natureza. )a sala iluminada pela luz do sol, n o vemos o sol. 2o enxergarmos, ao trabal-armos e ao movermo.nos 3 luz do sol dentro da sala, raramente recordamos o sol. *le + olvidado c silenciado. 4em por isso deixa de bril-ar sobre a#ue. le #ue dele se es#uece menos ou mais do #ue sobre a#uele #ue dele se lembra e o nomeia em sua vida. )eus aparece assim no mundo t+cnico.cient,'ico6 velado, olvidado e silenciado. Mas como o sol e como a raiz ele est presente, sendo a 'ora e a vida da vontade de saber e de poder. "ara #uem conseguir realizar semel-antes re'lex0es, o mundo, de repente, comea a se trans'ormar num grande sacramento. 2pesar de todo o seu aparato t+cnico, ele remete e aponta para uma realidade 'undante #ue o suporta. 4 o s! algumas coisas do mundo t+cnico.cient,'ico nos en,ia! para )eus, mas tudo se torna ,ia e nos convida para a ,ia-e! para )eus . tanto as positividades #uanto as negatividades, tanto as con#uistas -umanizadoras da t+cnica #uanto suas manipula0es inumanas. Uma e outra s o suportadas pelo mesmo 'undamento. ;sso n o signi'ica #ue )eus + responsvel pelo mal no mundo t+cnico. )eus, $ vimos, n o est presente como uma causa segunda e como um 'enLmeno. E o -omem #ue causa a polui o e monta mecanismos de explora o globalizada. 2 'ora pela #ual ele 'az isso n o + dele, mas l-e 'oi dada. * ele abusou dessa 'ora, por isso a responsabilidade cabe ao ser -umano. 2o inv+s de sentir. se en,iado de )eus e dar.se conta de #ue ele n o + o absoluto de si mesmo, atribui a si o poder 'azer e o poder destruir. 4 o percebe #ue est 3 merc( de 2lgo #ue n o + ele e #ue o transcende continuamente. "or isso n o age con'orme os apelos #ue v(m do Mist+rio, atrav+s de sua consci(ncia, da racionalidade c da 'raternidade, mas obedece 3 voz de si mesmo e de sua desordenada vontade de auto.a'irma o. 2#uele, contudo, #ue conseguir vencer a tenta o #ue o mal no mundo t+cnico representa, para esse, o nosso mundo opaco e -ominizado, onde s! aparece o ser -umano e seu trabal-o, tamb+m se trans'igura e se torna di'ano para a Gaiz #ue secretamente o vivi'ica e para o /ol #ue indiretamente o ilumina6 )eus. 2nteriormente lanamos a pergunta e a deixamos no ar6 8ue sentido o ser -umano busca realizar e viver #uando se relaciona t+cnico.cienti'icamente com a realidade5 & #ue se revela5 2 atividade t+cnico.cient,'ica revela #uem + o ser -umano. *le +, por excel(ncia, um ser aberto para o mundo. <iologicamente + um ser.car(ncia7 n o possui nen-um !rg o especializado7 se #uiser sobreviver, precisa trabal-ar. "elo trabal-o trans'orma o mundo e cria a cultura. 2 ci(ncia e a t+cnica constituem as 'ormas mais re'inadas de relacionamento do ser -umano para com o mundo, 'azendo.o cada vez mais sua posse na satis'a o de suas necessidades e da cria o de sentidos de beleza e de arte. & mundo cient,'ico.t+cnico + a concretiza o da abertura do ser -umano. Mas ele n o est aberto ao mundo assim como o animal. *ste possui !rg os especializados em 'un o de certos ob$etos #ue satis'azem suas necessidades. & animal possui um mundo circunstante #ue + o seu .a/itat & ser -umano, 3 di'erena do animal, n o est aberto para isso ou para a#uilo do mundo, mas simplesmente para o mundo em sua totalidade. 9ontudo . e a#ui aparece algo de novo . o mundo e a cultura t+cnico.cient,'ica n o satis'azem o impulso de abertura do -omem. 4ele - sempre uma plusvalia e um excesso de impulso e de paix o #ue o deixam existencialmente sempre insatis'eito. "or isso est sempre elaborando novos mundos, excogitando novas interpreta0es, inventando novos m+todos de con-ecimento da realidade, criando 'ormas de

sociabilidade e tamb+m contestando modelos sociais. 8ue signi'ica isso5 /igni'ica #ue sua abertura para com o mundo + uma abertura total. *la se concretiza no mundo $unto com outros, mas n o se exaure nessa concre o. & ser -umano + maior do #ue o mundo. 4ele - uma 1nsia in'inita. 4ele arde um princ,pio.esperana #ue o impulsiona sempre a criar e a se re.situar continuamente no mundo, son-ando no sono e na vig,lia com mundos cada vez mais -umanos e 'raternos at+ pro$etar utopias de suma 'elicidade e realiza o. & ser -umano, -omem e mul-er, + um pro$eto in'inito. *is o #ue signi'ica transcend(ncia e iman(ncia do ser -umano. *nraizado Biman(ncia=, se abre ao largo espao in'inito Btranscend(ncia=. 8ue motor + esse #ue o aciona para uma abertura total5 /c o ser -umano + abertura in'inita #ue alcana para al+m do mundo e da cultura, #ual + seu correspondente ade#uado5 /! o in'inito sacia uma 1nsia in'inita. 2 palavra eus exprime o in'inito da abertura in'inita do ser -umano. *ssa palavra s! possui sentido se expressar o correspondente da total abertura do -omem. & mundo t+cnico.cient,'ico, #uando analisado na sua din1mica interna, nos leva a colocar o problema de )eus. 2 abertura para o mundo, encarnada na trans'orma o t+cnica, + um momento #ue concretiza a abertura total do ser -umano, sob a #ual se esconde a abertura para a#uilo #ue c-amamos )eus. 2l+m de um sentido para o pr!prio ser -umano na tare'a de assen-orcar.se da natureza, a ci(ncia e a t+cnica possuem um sentido mais pro'undo6 elas signi'icam a busca secreto, inconsciente e insacivel de uma Gealidade /uprema #ue + mais do #ue a domestica o do mundo. /! percebe isso #uem se enga$a pro'undamente dentro deste mundo, #uem n o teme a mundanidade do mundo, #uem tenta pensar radicalmente c at+ o 'im a#uele sentido #ue est latente dentro da tare'a t+cnica.cient,'ica. 2ssumindo nossa -istoricidade Bepocalidade=, a'irmando.a e'etivamente, comearemos a apreender o sentido originrio de )eus #ue surge do cora o e da lat(ncia dessa mesma -istoricidade. )eus ent o n o est 'ora c sem o mundo7 nem se con'unde com o mundo. Mas emerge como o 'undamento e o sentido escondidos do mundo t+cnico.cient,'ico. E um )eus real e vivo #ue est $unto de nossa camin-ada -ist!rica. *le aparece como a#uele ponto de converg(ncia para onde tendem incansvel c inconscientemente todos os nossos es'oros. 2 1nsia in'inita, por mais in'inita #ue se$a, s! encontra 'initos e s! cria, na sua prxis trans'ormadora, 'inita. 8uanto mais cria e exacerba seu saber e poder, tanto mais percebe #ue o in'inito de sua 1nsia n o + 'act,vel nem 'ruto de seu trabal-o. *ssa realidade vai revelando cada vez mais o in'inito para o #ual a pessoa tende, in'inito #ue n o pode ser reduzido ao ser -umano ou a uma categoria -umana. >ai aparecendo cada vez mais a#uilo #ue n o c -umano, mas #ue + mais do #ue o -umano. *merge a dimens o do Mist+rio como abertura total de compreensibilidade e de 'uturo. 2s religi0es, especialmente o cristianismo, empregaram o nome )eus para designar esse ?Mist+rio supremo e ine'vel #ue envolve nossa exist(ncia?, como diz o 9oncilio >aticano ;; (0oslra Aetate, n. A=. & sentido presente na cienti'icidade de nosso mundo, en#uanto a tare'a do saber cient,'ico e do poder t+cnico implica um sentido realizado pelo ser -umano, signi'ica, na sua pro'undidade, a presena do /entido por excel(ncia, isto +, a presena, retra,da e silenciada, de )eus. E essa presena do /entido dentro do nosso modo pr!prio de sentir o mundo #ue impossibilita uma linguagem do absurdo radical do ser. Toda compreens o absurda da realidade c rigorosamente contradit!ria por#ue tem #ue provar a n o.absurdidade do absurdo. 9om isso a'irma um sentido. )eus n o pode $amais ser

banido nem do mundo nem da linguagem. *le se 'az presente no pr!prio ato de #uerer bani.lo. 2o perguntarmos, como o 'izemos acima, pelo sentido do mundo t+cnico. cient,'ico, n o procurvamos a#uilo #ue n o t,n-amos encontrado. 2 re'lex o nos mostrou #ue $ estvamos dentro do /entido7 s! pod,amos perguntar por #ue $ t,n-amos sido surpreendidos e envolvidos pelo /entido mesmo. 2 re'lex o apenas trouxe 3 mem!ria a#uilo #ue estava dentro dela, mas vivia es#uecido7 'ez.nos recordar #ue a luz prov+m do sol e #ue a rvore vive de uma raiz. 4 o criamos o sol nem inventamos a raiz. *les estavam sempre l. 2 partir dessa experi(ncia de )eus em contato com o nosso mundo, podemos ol-ar com uma !tica di'erente para ele. *le n o + mais o mesmo na sua pro'unda opacidade. *le se torna revelador de )eus e articulador do /entido. *le comea a nos aparecer trans.parente para )eus. *m tudo isso )eus se vela e revela, se d e se retrai e vem misturado com todas as coisas. 2col-er a )eus #ue assim nos visita + abrir.se para a dimens o da '+. E crer. *, crendo, dizemos um sim radical ao /entido latente descoberto no mundo cm #ue vivemos.

%"M" APARE%E DEUS NA M"DERNA %"SM"L"(IA

Um dos campos de con-ecimento #ue mais se desenvolveram a partir dos meados do s+culo RR + seguramente o da moderna cosmologia. 2 cosmologia narra a -ist!ria do nascimento e do desenvolvimento do universo, a partir dos muitos con-ecimentos #ue acumulamos da astro',sica, da ',sica #u1ntica, das ci(ncias do caos e da com. plexidade, da ecologia, da psicologia, da moderna antropologia. *sses con-ecimentos v(m articulados com o passado da -umanidade, com as grandes tradi0es espirituais e religiosas e com os vrios saberes elaborados pelas vrias culturas. Tudo isso vem en#uadrado dentro de uma vis o evolucionista do universo. )a, surge uma nova imagem do universo, #ue mudou pro'undamente nossa percep o das coisas, do ser -umano e tamb+m nossa experi(ncia de )eus. /omos seres -ist!ricos, #ue um dia comeamos e ainda n o estamos prontos. *stamos todos em g(nese, abertos para o 'uturo. )eus emerge de dentro dessa experi(ncia cosmol!gica como o :uturo do mundo, como a Irande "romessa para o cora o -umano, como o Irande 2trator #ue nos c-ama l na 'rente. 2 nova cosmologia parte de um 'ato, talvez o mais signi'icativo da -ist!ria das ci(ncias6 a identi'ica o da data de nosso nascimento. :oi captada, vinda de todas as partes do universo, uma radia o c!smica de 'undo B.D graus Yelvin=. Trata.se de um raio 'ra#u,ssimo, uma esp+cie de ru,do derradeiro, eco da grande explos o primordial, de onde se originaram todas as coisas. * o 'amoso /i-'/an-. 2nalisando.se a radia o das galxias mais distantes, calculou.se #ue essa incomensurvel explos o ten-a ocorrido - 1N bil-0es de anos. * a nossa idade, pessoal e de todo o universo. /em entrar em detal-es e dispensando a 'undamenta o te!rica, coisa #ue 'izemos em nosso livro &colo-ia) -rito da Terra, -rito dos po/res1, podemos sumariar, da seguinte 'orma, os passos do teatro c!smico6 ;nicialmente -avia um pontozin-o #uase impercept,vel, impregnado de energia originria. 4ada existia, nem espao, nem tempo, nem mat+ria organizada. 4um deter. minado momento, sem #ue saibamos o por#u(, a#uela #uietude primordial se #uebrou. &correu uma inimaginvel explos o. Tudo 'oi lanado em todas as dire0es, sob calor de bil-0es de graus e em incontrolvel velocidade. :!tons se irradiaram, inaugurando o

processo de expans o #ue ainda est em curso. 2 energia originria se desdobrou nas #uatro 'oras #ue sustentam tudo6 a gravitacional, a eletromagn+tica, a nuclear 'raca e a 'orte. /urgiram os primeiros seres, os seis tipos de quar2s #ue se estabilizaram e 'orma. ram os pr!tons e n(utrons. Tr(s minutos ap!s a grande explos o (/i-'/an-#, 'ormaram. se os primeiros n%cleos de tomos. /urgiu a primeira s,ntese, o -idrog(nio e o -+lio, encontrveis em todo o espao c!smico. 2p!s esses tr(s minutos, 'ormaram.se grandes nuvens de gases. 2p!s dois a tr(s bil-0es de anos, elas se condensaram e se res'riaram, dando origem 3s grandes estrelas vermel-as. *m seu interior ocorreram 'ormidveis intera0es, permitindo o surgimento de elementos #u,micos mais pesados #ue o -idrog(nio e o -+lio, imprescind,veis para a 'orma o da mat+ria do universo e da vida, como o carbono, o sil,cio, o magn+sio, o oxig(nio, o n,#uel, o 'erro e outros. *ssas gi. gantes vermel-as explodiram e se trans'ormaram em super.novas. *lementos pesados 'oram e$etados ao espao inter.estelar e deram origem 3s estrelas de segunda gera o, como o nosso /ol, os planetas, os sat+lites e os corpos materiais. *sses elementos 'ormaram as galxias, as mol+culas, as c+lulas, as guas, os dinossauros, os papagaios, os cavalos e os seres -umanos. Todos somos inter.retro.conectados, 'ormando o grande sistema do universo, constru,do por a#ueles elementos Bcerca de cem= #ue se 'ormaram em bil-0es de anos de trabal-o c!smico. & universo + mais #ue o con$unto de todos os seres e energias existentes7 + o con$unto das rela0es #ue envolvem todos os seres e os 'azem interdependentes uns dos outros. Um dia estivemos todos $untos, como virtualidade, na#uele n%cleo primordial7 em nossos elementos bsicos, 'omos 'or$ados nas estrelas, depois na >ia.Lctea, no sistema solar e na Terra. /omos todos parentes e irm os. Temos a mesma origem e, seguramente, o mesmo destino. &s cosm!logos re'erem.se n o apenas ao /i-'/an-, mas tamb+m ao vcuo #u1ntico. >cuo n o se$a talvez a palavra mais ade#uada, pois ela sugere o vazio e o nada. Mas a inten o + constatar #ue, com o irromper do /i-'/an-, se mani'estou uma 'onte abissal de energia, o vcuo #u1ntico. *'etivamente, alguns pre'erem c-am.lo de a/is!o ali!entador de tudo (all'nouns.in- a/3ss# por#ue se trata de um vcuo saturado de energia ilimitada. )ele tudo sai . ondas de energia, part,culas elementares . e a ele tudo retorna. 2lgumas energias se estabilizam e aparecem como mat+ria, outras 'ormam campos energ+ticos ou m!r'icos e ent o s o c-amadas de 'un o de onda. Mas em todo esse processo se veri'ica uma minuciosa calibragem de medidas, sem as #uais o universo e n!s mesmos n o estar,amos a#ui para 'alar disso tudo. 8uer dizer, para #ue existisse o c+u sobre nossa cabea e n!s pud+ssemos estar a#ui, 'oi necessrio #ue todos os 'atores c!smicos, ao largo dos 1N bil-0es de anos, tivessem se conectado, se e#uilibrado e convergido. /em essa sin'onia, $amais teria surgido a complexidade, a vida, a consci(ncia e a nossa pr!pria exist(ncia. Tal compreens o sup0e #ue o universo se$a carregado de prop!sito e intencionalidade, implica num 2gente in'initamente inteligente por detrs da ordem universal, apesar de todo o caos e das dizima0es #ue estigmatizaram o universo e a Terra. *ssa ordem 'ascinou cientistas como *instein, <Z-m, MaV[ing, /Vimme e outros. 2 consci(ncia de )eus #uer expressar essa ordem suprema e din1mica, sempre 'eita a partir do caos. )eus estava primeiro no universo, em nossa galxia, em nosso sistema solar, em nosso planeta, 'ormando ordens a partir da desordem. *, por#ue estava l, pLde, num dado momento da evolu o, emergir na consci(ncia dos seres -umanos. 2 -ip!tese do /i-'/an- e do abismo alimentador de tudo sup0e #ue o mundo teve in,cio e #ue uma *nergia poderosa o manten-a continuamente no ser. 8uem deu o

impulso inicial5 8uem sustenta o universo como tudo e cada coisa para continuarem a existir e a se expandir5 & #ue -avia antes do /i-'/an-4 & nada5 /e -avia o nada, como surgiu algo5 )o nada n o vem nunca nada. /e, apesar do nada, apareceram seres, + sinal de #ue 2lgu+m os c-amou 3 exist(ncia e os alimenta permanentemente em seu ser. Talvez com mod+stia e precau o, em respeito ao rigor cient,'ico, possamos responder6 antes do /i-'/an- n o -avia nada do #ue agora existe. "or#ue, se existisse, dever,amos perguntar6 )e onde veio5 & #ue podemos sensatamente dizer +6 *xistia o ;ncognosc,vel, vigorava o Mist+rio. /obre o Mist+rio e o ;ncognosc,vel, por de'ini o, n o se pode dizer literalmente nada. &ra, ocorre #ue o Mist+rio e o ;ncognosc,vel s o os nomes pelos #uais as religi0es c-amaram a )eus. )eus + sempre Mist+rio e ;ncognosc,vel. Mas *le pode ser intu,do pela raz o devota e pode ser sentido pelo cora. o. *nt o, )eus 'oi 2#uele #ue colocou tudo em marc-a e tudo alimenta. "ortanto, )eus emerge n o 'ora do processo cosmog(nico, mas como uma exig(ncia dele. Mas n o basta dizer #ue )eus est na raiz da exist(ncia de todas as coisas. &utra #uest o importante +6 "or #ue exatamente n!s e o universo existimos5 8ue )eus #uer expressar com a cria o5 Gesponder a isso n o + preocupa o apenas da consci(ncia religiosa, mas da pr!pria ci(ncia. /tep-en MaV[ing, em seu 'amoso livro 5!a /re,e .istria do te!po2, revela a inten o de sua pes#uisa cosmol!gica, #ue + con-ecer o #ue )eus tin-a em mente ao criar o inteiro universo. /ucintamente podemos dizer #ue o sentido do universo e de nossa pr!pria exist(ncia consciente + sermos um espel-o no #ual )eus v( a si mesmo. 9ria o universo como desbordamento de sua plenitude de ser, de bondade e de intelig(ncia. 9ria para se auto.entregar a algo distinto dele. 9ria para 'azer outros participarem de sua superabund1ncia. 9ria o ser -umano com consci(ncia para #ue ele possa ouvir as -ist!rias do universo, possa captar as mensagens dos seres da cria o, dos c+us, dos mares, das 'lorestas, dos animais e do pr!prio processo -umano e religar tudo 3 :onte originria de onde procedem. 69 & universo e cada ser dentro dele se encontram em g(nese. 4 o acabaram de nascer. "or isso v(m carregados de virtualidades ainda n o realizadas. & universo e especialmente o ser -umano representam uma promessa e um 'uturo. 2 tend(ncia de tudo + poder realizar.se e mostrar as potencialidades #ue carrega dentro. "or isso, a expans o signi'ica tamb+m cria o. )eus se mani'esta dentro desse processo, animando, atraindo e 'azendo convergir. *le + o "onto &mega, o grande 2trator de todas as energias e de todas as 'ormas de mat+ria para uma culmin1ncia na #ual a promessa se trans'orma em realidade e a virtualidade em ridente concre o. 9omo nomear esse )eus.Mist+rio.;ncognosc,vel a partir de nossa compreens o do universo em expans o5 & primeiro #ue nos ocorre + c-am.lo de *nergia /uprema, consciente, ordenadora, sustentadora, amorosa. "odemos compreend(.lo como "aix o in'inita de comunica o e expans o, pois o universo + c-eio de movimento em e#uil,. brio, criando o tempo, o espao e todos os seres na medida em #ue se dilata inde'inidamente. )eus irrompe como *sp,rito #ue perpassa o todo e cada parte, por#uanto tudo + sutilmente interdependente e apresenta uma ordem #ue continuamente se cria a partir da desordem inicial e #ue se abre para 'ormas cada vez mais abertas e superiores de rela o. *le comparece como o :uturo absoluto, o "onto &mega de realiza o de todas as promessas presentes na cria o. 9omo tudo tem a ver com tudo em todos os pontos e em todas as circunst1ncias, tudo tem a ver com a :onte originadora de tudo. Todas as coisas comungam entre si e comungam com )eus. )eus + um )eus.comun- o. *ssa constata o servir de base para entendermos depois a ex.

peri(ncia crist de )eus como comun- o de "essoas divinas #ue se 'azem presentes dentro do processo da evolu o.

%"M" APARE%E DEUS N" MUND" "PRIMID"

DA

AM+RI%A LATINA

& mundo da tecno.ci(ncia a #ue acenamos na parte anterior constitui o -orizonte mais visto de nossa exist(ncia, situada na 2m+rica Latina. 4ossa -istoricidade aborda cienti'icamente e n o mais m,tica ou meta'isicamente o mundo. Usamos de todas as 'ormas de tecnologia para agilizarmos as 'oras produtivas e acumularmos bens e ser. vios, embora in$ustamente repartidos. )entro desse -orizonte mais vasto se articula, -istoricamente, um outro, a#uele sob o #ual vivemos na 2m+rica Latina. 9omo ele se realiza entre n!s5 2ntes de mais nada, vale constatar #ue predomina na gente de n,vel popular uma interpreta o religioso.m,tica do mundo. Tudo isso possui seu inestimvel valor e representa uma dimens o permanente de todo ser -umano, pois o -omem t+cnico.cient,'ico tamb+m + un sau,a-e ei pri!6i7 nas estruturas 'undamentais de seu saber. 2s vrias experi(ncias #ue 'ez em contato com o mundo . a m,tica, a meta',sica e agora a cient,'ica ., n o devem ser interpretadas diacronicamente. *las s o $anelas da alma -umana pelas #uais vemos a multi'orme paisagem da realidade. )evem pois ser interpretadas sincronicamente como estruturas atuais de nossa mente, pelas #uais nos orientamos no mundo. Tal re'lex o se 'az importante para 'azermos $ustia 3 realidade #ue vivemos no continente latino.americano. *ntretanto, a singularidade + tamb+m para n!s o esp,rito cient,'ico.t+cnico. Mas ele + vivido na 2m+rica Latina sob a 'orma de um drama perverso. & saber cient,'ico e o poder t+cnico n o s o entidades inocentes e neutras. 4em revelam apenas a 'orma como o ser -umano dialoga com a realidade. Mas, -istoricamente, 'oram e s o usados como instrumento de domina o e de opress o de outros povos. 2 2m+rica Latina comparece como um continente subdesenvolvido e retardatrio em rela o aos pa,ses opulentos do -emis'+rio norte. Uma re'lex o s!cio.anal,tica mais vigilante constata #ue esse subdesenvolvimento + o sub.produto do desenvolvimento desses pa,ses, #ue t(m interesse pol,tico em nos manter, por 'ora, no sub. desenvolvimento. >ivemos num verdadeiro regime continental de depend(ncia e de captividade. /omos peri'eria dos grandes centros metropolitanos de decis o #ue se situam em 4ova \or[, Londres, "aris, <onn e n o em <ras,lia, <uenos 2ires, /antiago ou 9idade do M+xico. *ssa manuten o opressiva no subdesenvolvimento + resultado de cinco s+culos de coloniza o, neocoloniza o e -o$e globocoloniza o. /omos atrelados a um sistema global de rela0es econLmico.sociais, -o$e globalizadas, #ue n o controlamos e #ue nos dita o #ue devemos produzir, o #ue consumir e o #ue exportar. 4 o + a#ui o lugar para detal-armos a cr,tica a esse sistema de conviv(ncia -umana e de relacionamento com os bens de produ o e consumo. 9erto + #ue seu esp,rito e as motiva0es predominantes centralizadas na busca do lucro, do proveito e do interesse individual, assentados na propriedade privada dos meios de produ o, no papel -egemLnico do din-eiro.capital, na livre empresa, na comercializa o do trabal-o do -omem, na sistemtica depreda o dos recursos escassos da natureza e na mercantiliza o de tudo, s o terrivelmente inumanos e geram uma #ualidade de vida extremamente pobre, an(mica e violenta. 2 organiza o do poder se articula de tal 'orma #ue corrobora continuamente o 'ortale.

cimento das minorias ricas sobre as maiorias pobres. 2 explora o ou, pelo menos, o uso do -omem pelo outro -omem, assume, muitas vezes, 'ormas desapiedadas com alta taxa de ini#Oidade social. "ara n o sermos abstratos, arrolaremos alguns dados. )os cerca de seis bil-0es de pessoas existentes -o$e, 1,D bil- o vivem com menos de um d!lar dirio e mais de dois bil-0es com apenas dois bil-0es de d!lares, segundo dados do "rograma das 4a0es Unidas para o )esenvolvimento B"4U)= do ano AHHH. &s bens e servios s o pessimamente distribu,dos. &s AH] mais ricos da popula o mundial consomem 9D] de todos os produtos e servios, en#uanto os AH] mais pobres consomem apenas 1,4]. & 'osso entre uns e outros aumenta ao inv+s de diminuir. 2 di'erena entre os AH] mais ricos e os AH] mais pobres do mundo cresceu de DH a 1 em 19KH, para K1 a 1 em 1991 e para 7C a 1 em 1999. &s AAN indiv,duos mais ricos do mundo, dos #uais sessenta s o norte.americanos, t(m uma ri#ueza combinada de mais de um tril- o de d!lares, igual 3 renda anual de 47] da popula o mais pobre do mundo. 2 conse#O(ncia dessa in$ustia #ue clama ao c+u 'az com #ue CNH mil-0es de pessoas passem sistematicamente 'ome e sobrevivam na insegurana alimentar7 um tero destas n o c-ega aos #uarenta anos. 2 contradi o n o se situa mais entre leste.oeste, vale dizer, entre capitalismo e socialismo, mas entre o norte opulento e o sul miservel. &s dados da superexplora o de um lado sobre o outro s o aterradores. & "rograma das 4a0es Unidas para o )esenvolvimento, a #ue $ nos re'erimos, dava conta de #ue em 199H os 'luxos do norte para o sul 'oram da ordem de N4 bil-0es de d!lares na 'orma de investimentos, empr+stimos e a$udas. 2o passo #ue as trans'er(ncias do Terceiro Mundo para o "rimeiro e#uivaleram a #uin-entos bil-0es de d!lares no mesmo ano. * as propor0es at+ o presente s! t(m aumentado.A 2 2m+rica Latina est enc-a'urdada nesse labirinto -ist!rico #ue nunca se resolve.D 4o <rasil, os dados s o tamb+m dramticos. &s 1H] mais ricos concentram NH] da ri#ueza nacional7 os NH] mais pobres det(m apenas 1H]7 4H] da popula o brasi. leira vive abaixo da lin-a de pobreza7 e cin#Oenta mil-0es de brasileiros n o conseguem ter uma alimenta o su'iciente. & <rasil, pelo ol-ar imparcial da &4U, est entre os %ltimos lugares do mundo com re'er(ncia ao ,ndice de )esenvolvimento Mumano. 4 *sse ac-atamento dos salrios encontra sua contrapartida na extrema concentra o da renda em reduzid,ssima parcela da popula o. *ntre 199C e 1999 a propor o de pobres aumentou de DA,7] para DD,9], segundo o 1"*2. & <rasil, sempre batendo recordes, em mat+ria de pobreza e desigualdade, mant+m NN,K mil-0es de brasileiros vivendo com menos de cem reais por m(s. 9erca de tr(s mil-0es tornaram.se pobres no ano da desvaloriza o do real em 199C.N Gelativamente a esses dados, temos #ue NK] da popula o se encontram na 'aixa da marginalidade absoluta Bcapacidade de consumo restrita 3 alimenta o bsica= e 7N] da popula o na 'aixa da marginalidade relativa #ue consiste na capacidade de consumo n o superior ao estrito atendimento das primeiras necessidades.F1 & modelo brasileiro diretamente bene'icia pe#uena margem da popula o, #ue tem suas ri#uezas enormemente aumentadas. 2 participa o no produto social, teoricamente aberta a todos, + 'eita capilarmente por apenas N] da popula o. & desenvolvimento n o + de'inido em termos de independ(ncia e auto. sustenta o a partir das pr!prias 'oras, mas em termos de aproxima o ao paradigma dos pa,ses opulentos do -emis'+rio norte, paradigma #ue, por de'ini o, + inalcanvel, por#uanto em trans'orma o cada vez mais rpida. 9om acerto observou 9elso :urtado, o mel-or economista brasileiro6 2 experi(ncia $ demonstrou #ue, se se aumenta o es'oro para andar mais rpido e reduzir a dist1ncia do alvo perseguido, a de'orma o estrutural se acentua, pois uma acumula o mais intensa em bene',cio de uma parte da

popula o amplia o 'osso #ue existe entre as condi0es de vida da minoria bene'iciada e as da massa, 'osso #ue + a ess(ncia mesma do subdesenvolvimento. 9abe in'erir, portanto, #ue a mel-oria e'etiva das condi0es de vida da massa da popula o dos pa,ses do Terceiro Mundo, particularmente dos de grande dimens o demogr'ica, somente ser alcanada por outros camin-os. 2 ^ndia nunca ser uma /u+cia de um bil- o de -abitantes, nem o <rasil uma reprodu o dos *stados Unidos.7 *sses parcos dados ilustram a elevada taxa de ini#Oidade -umana #ue o sistema capitalista comporta. 4em se#uer arrolamos o desastre ecol!gico, em n,vel mundial, #ue est provocando danos sobre todos os ecossistemas e o sistema Iaia. 2lgo deve estar pro'undamente errado na op o por semel-ante sistema global, #ue se instaurou e est se globalizando em todos os recantos da Terra. *ssa situa o 'az uma provoca o terr,vel para a experi(ncia de )eus. 9omo se revela )eus em semel-ante situa o5 )issemos anteriormente #ue )eus emerge a partir da -ist!ria #ue vivemos. /obre ele n o temos uma ci(ncia previamente constru,da aplicvel 3 nossa situa o. 8ue 'ace mostra )eus dentro de nosso mundo inumano5 M #ue considerar a imagem de )eus vinculada ideologicamente pelo sistema. @usti'ica a situa o. & sistema capitalista apresenta a )eus como a#uele /er /upremo #ue naturalmente estabelece as classes, onde -aver sempre ricos e pobres. "rega um )eus #ue manda observar as leis da natureza, entendendo.se a 'ome pela vantagem pessoal, a concorr(ncia e a livre empresa como decorrentes da lei natural. 2nuncia um )eus #ue manda obedecer 3 ordem estabelecida, n o se perguntando se essa ordem n o poder ser, como e'etivamente est sendo, ordem na desordem e 'ruto do ego,smo de grupos de interesse. Trgica para a '+ se torna a situa o #uando nos damos conta de #ue os pr!prios conceitos 'undamentais do cristianismo 'oram assimilados como suporte $usti'icador do sistema de opress o, como -umildade, obedi(ncia, -onestidade, paci(ncia, carregar a cruz de 9risto, pobreza, ren%ncia, amor incondicional, etc. :reud dizia #ue os crist os estavam mal batizados. ?*st o mal batizados?, comenta Marcuse, ?en#uanto aceitam e obedecem ao evangel-o libertador somente numa 'orma altamente sublimada . #ue deixa a realidade sem liberdade como estava antes.?C @. L. /egundo, te!logo uruguaio e um dos cr,ticos mais l%cidos do camin-o da evangeliza o na 2m+rica Latina, 'azia uma constata o tamb+m dolorosa6 2o revelar o sistema capitalista . no decurso de seu desenvolvimento . toda a sua dimens o de domina o inumana, o crist o n o encontra na experi(ncia de sua vida social nen-um elemento #ue l-e sirva para pensar o )eus #ue se revelou em @esus 9risto. Mais ainda, seu a$uizamento do sistema social o leva necessariamente 3 cr,tica de uma no o de )eus em #ue se pro$eta a 'alsa imagem criada por uma ideologia de domina o. 4esse sentido podemos dizer #ue nunca como -o$e tem sido t o di',cil conceber existencialmente o )eus crist o.9 4 o obstante isso, observamos6 #uem + o )eus crist o n o o sabemos a priori, sen o assumindo os desa'ios dessa situa o de captividade. )entro dela se revelar um rosto novo do )eus de 4osso /en-or @esus 9risto. )eus se 'az presente na 2m+rica Latina por uma dupla aus(ncia extremamente angustiante. 2 depend(ncia opressora, a marginalidade de mil-0es, a mis+ria -umil-an. te, a gan1ncia insacivel de uns poucos, a viol(ncia dos tra'icantes de drogas e armas despertam em n!s sede de $ustia, 'ome de participa o, 1nsia de 'raternidade e dese$o imenso de cria o de estruturas sociais #ue impeam para sempre a explora o do -omem pelo -omem. "or#ue entrevemos a $ustia, so'remos com a in$ustia estrutural.

"or#ue vivemos na 1nsia da solidariedade, penamos sob o regime de discrimina0es. "or#ue estamos ban-ados pelo amor, n!s nos debatemos com a desumaniza o das rela. 0es sociais. 2 $ustia, a solidariedade, o amor est o presentes na aus(ncia deles como 'ato -ist!rico. 4 o + porventura )eus o s,mbolo lingO,stico para dizermos a $ustia, o amor, a participa o, a comun- o, a solidariedade5 )eus s! possui sentido existencial se 'or o p!lo de re'er(ncia da $ustia, do amor, da 'raternidade -umanos. 2dmiravelmente o exprimiu o 'ranc(s M. de Lubac, um dos maiores te!logos do mundo6 _/e eu 'alto ao amor ou se 'alto 3 $ustia, a'asto.me in'alivelmente de v!s e meu culto n o + mais #ue idolatria. "ara crer em v!s, devo crer no amor e crer na $ustia, e vale mil vezes mais crer nessas coisas #ue pronunciar vosso nome. :ora delas + imposs,vel #ue eu alguma vez vos encontre e a#ueles #ue as tomam por guia est o sobre o camin-o #ue os conduz a v!sX. & )eus #ue assim aparece + o eus in,ersus. *le emerge do contraste. 8uanto maiores 'orem as trevas, maior ser o resplendor da Luz. Mas essa Luz nos $ulga e nos condena. 4 o permite #ue 'i#uemos inativos 'ace 3s in$ustias #ue clamam ao c+u e 'ace 3 mis+ria #ue )eus n o ama e por isso n o #uer. & termo se designa cristianismo. 4a verdade este %ltimo, na prxis concreta da experi(ncia da '+, se nega a si mesmo, embora continue a servir.se de toda a linguagem e temtica crist . 2#uele #ue nega o cristianismo sociol!gico na 2m+rica Latina, por#ue 'oi usurpado pelo poder estabelecido como sua legitima o ideol!gica, mas busca a $ustia, a participa o e a liberta o, est mais pr!ximo do cristianismo teol!gico e do )eus vivo e verdadeiro do #ue a#uele outro #ue pro'essa a )eus e @esus 9risto e assume toda a ortodoxia cat!lica, mas 'ec-ou os ol-os e endureceu o cora o 3 dolorosa marginalidade de mil-0es, 3 explora o institu,da em sistema e 3 repress o aceita como legal. *stas a'irma0es, escandalosas para o status quo religioso e social, n o nos devem causar estran-eza. *st o na mel-or tradi o $esu1nica e pro'+tica. 8uando 9risto #uis explicar #uem era o pr!ximo, #uando se admirou da '+ de um seu ouvinte e #uando #uis explanar o #ue + a prontid o obediente, n o tomou exemplos dentre as pessoas piedosas ou dentre as de sua religi o revelada, mas tomou pessoas 'ora desses #uadros o'iciais. 9itou o -erege samaritano, a mul-er pag siro.'en,cia e o estrangeiro centuri o romano. M uma nega o do cristo #ue + uma 'orma de resgatar o sentido originrio e divino do crist o. *stas re'lex0es, parece.nos, se 'azem urgentes e necessrias no contexto latino. americano, dada a manipula o ideol!gica a #ue est su$eito o cristianismo pelas elites dominantes. )eus n o aparece apenas na aus(ncia. *m nosso contexto -umano de subdesenvolvidos se con'igura tamb+m um rosto positivo de )eus. *le emerge a partir do processo de liberta o eletivo, do enga$amento para superar estruturas in$ustas, a comear por a#uelas mais di',ceis de serem superadas, #ue s o as mentais. 2, aparece o signi'icado originrio de )eus. 4o seio dessa dilig(ncia comea a aparecer, como numa clareira, a 'ora #ue sustenta o enga$amento, a luz #ue ilumina a obscuridade das op0es e o sentido de todos os sacri',cios7 comea a emergir 2#uilo #ue + maior do #ue n!s, #ue nos impulsiona como sede de $ustia, 'ome de solidariedade, ang%stia de 'raternidade e #ue se constitui como p!lo de re'er(ncia de nossos anseios. 8uando tal experi(ncia irromper e tiver a capacidade de nos sustentar, ent o emergiu a#uilo #ue c-amamos )eus e experimentamos )eus em sua dia'ania -ist!rica. /e isso n o acontecer, ent o )eus de 'ato n o tem realidade existencial, por#ue n o tem rela o com o ser -umano e com suas buscas. *le est a,, mas sua presena n o + captada e vivenciada.

*ntregar.se, portanto, 3 tare'a da liberta o n o + reduzir o cristianismo a um mero -orizontalismo e traduzir )eus numa mera categoria antropol!gica. 9ontrapor -ori. zontalismo a verticalismo c ob$etivar e -ipostasiar 'ora da vida a#uilo #ue na vida concreta vem sempre $unto. 9om isso torna.se o cristianismo abstrato e, por conseguinte, -istoricamente ine'icaz. 2 vida mesma, a liberta o, #uando a'irmadas radicalmente e assumidas com toda a responsabilidade, mostram a dimens o vertical e -orizontal, a iman(ncia e a transcend(ncia. 8uando captadas $untas, elas nos abrem para a transpar(ncia de )eus no cora o de nossas lutas. "ortanto, s! #uem se entrega de corpo e alma a servio do pr!ximo, -umil-ado e o'endido, comea a perceber uma dimens o #ue transcende o pr!ximo e a ele mesmo. ).se conta de #ue est envolto por uma energia poderosa #ue o circunda, o penetra, o transcende e l-e possibilita a tare'a do amor social, do enga$amento e da liberta o. 2, se veri'ica a verdadeira transcend(ncia e o ortodoxo verticalismo6 emerge o Mist+rio #ue n!s c-amamos )eus. 2 esse Mist+rio podemos nomear, no balbucio reverente e no pudor santo, podemos c-am.lo por a#uele nome #ue resume todos os nossos anseios6 )eus libertador, )eus vivo e vivi'icador, )eus da ternura dos -umildes e da irac%ndia sagrada contra as in$ustias #ue assassinam seus 'il-os e 'il-as. Geverenciamo.lo como 2#uele #ue nos aponta para o 'aturo. 2mamo.lo como a nossa esperana. 2 *le nos agarramos como a 'ora do combate e o consolo no desamparo da repress o. *ssas s o todas as palavras -umanas #ue est o no dicionrio, mas #uerem 'azer presente 2#uele #ue nen-um dicionrio pode conter e nomear, o Mist+rio de )eus, experimentado no concreto da vida e no contexto das tribula0es de nosso continente latino.americano.

%"M" DEUS EMER(E NA %AMIN*ADA PESS"AL

)as re'lex0es #ue articulamos at+ a#ui, deve ter 'icado claro #ue )eus n o constitui um ob$eto entre outros diretamente experiencivel. )eus emerge da radicalidade da experi(ncia do mundo. & discurso sobre )eus + um discurso #uali'icado sobre o mundo, um discurso sobre o mundo en#uanto nos apercebemos #ue ele n o + a %ltima inst1ncia, mas vem sempre remetido e suportado por algo #ue se ilumina dentro dele, mas #ue n o + ele. 9oncretizamos essa abordagem mostrando como )eus surge dentro da experi(ncia de nosso mundo t+cnico.cient,'ico e de nossa realidade latino. americana e brasileira oprimida. 2 pessoa -umana vive circunstanciada dentro desse duplo -orizonte. 4o entanto, ela n o se deixa en#uadrar simplesmente dentro desse mundo acima descrito. "ossui sua camin-ada pessoal. E uma s,ntese %nica e pr!pria da -ist!ria. 4isso resido sua sacralidade e dignidade. E uma e %nica. :az a sua experi(ncia do mundo e, no cora o dele, do mist+rio do mundo, isto +, de )eus. *sta experi(ncia de )eus na dia'ania do mundo 1, n o nos cansamos de repeti.lo, n o + uma viv(ncia de um ob$eto ou uma experi(ncia ao lado de outra experi(ncia. 2 experi(ncia de )eus n o deve ser imaginada como uma experi(ncia de ver um pLr.do. sol e, ao lado disso, como a experi(ncia de uma dor de dente. A /e assim 'ora, )eus seria um 'enLmeno do mundo. )eus n o + encontradio em nen-uma parte. )a, insistirmos #ue )eus s! se torna real e vivo se emergir da radicalidade da experi(ncia do mundo, como sentido, como mist+rio #ue suporta o mundo, como 'ora libertadora dentro de

nosso enga$amento por mais $ustia e -umanidade. 4em a experi(ncia de )eus consiste em ter vis0es, audi0es e enlevos m,sticos. Tudo isso pode existir, mas 'ica no n,vel das viv(ncias sub$etivas do mist+rio de )eus. )eus n o + ?vis,vel?, nem ?aud,vel? nem ?acess,vel? s! na experi(ncia m,stica. /e assim 'ora, )eus seria o privil+gio e o luxo de alguns iniciados e n o o sentido #ue pervade toda a exist(ncia, por mais cotidiana #ue se apresente. )a, poder.se experimentar )eus sempre e em #ual#uer situa o, a partir do momento em #ue atingirmos a pro'undidade da vida, l onde ela mostra uma abertura absoluta #ue ultrapassa todos os limites e #ue, por isso, comparece como o Transcendente em n!s. 9omo se 'az essa experi(ncia de )eus na camin-ada pessoal5 "ode existir uma esp+cie de mistagogia, #uer dizer, uma via de inicia o5 2#ui pisamos terra virgem. ?9amin-ante, n o - camin-oJ & camin-o se 'az camin-ando?, dizia o poeta espan-ol 2ntLnio Mac-ado. 9omo n o podemos substituir ningu+m nem viver a vida de algu+m outro, tamb+m a#ui ocorre algo semel-ante6 cada #ual, na camin-ada de sua exist(ncia, dever 'azer a experi(ncia da raiz #ue l-e alimenta a vida. "odemos, contudo, acenar para a seriedade da vida e convocar para descobrir 2#uilo #ue $ est presente, embora de 'orma oculta, em sua vida. Talvez algu+m se d( conta de #ue a#uilo #ue experimenta na vida nunca 'oi verbalizado em termos de experi(ncia de )eus. /obre )eus, imagina bem outra coisa, pode ser at+ de 'orma errLnea. 2pesar dessa poss,vel 'alsa interpre. ta o, devemos dizer #ue )eus realmente pode ser experiencivel por a#ueles #ue nem presumem isso. Mas eles experimentam o mist+rio da vida, o sentido pro'undo #ue a pervade, o secreto apelo para um Mais em tudo o #ue sentem, vivem e 'azem. /ob essa experi(ncia se esconde a#uilo #ue deci'ramos como sendo )eus. &s acenos a#ui esboados n o pretendem descrever uma experi(ncia de )eus, apenas c-amar a aten o para um poss,vel camin-o a ser aberto no #ual )eus pode irromper.

A) DEUS
&IDA

%"M" EXPERI-N%IA DA B"NDADE E D" SENTID" RADI%AL DA

)eus emerge do cora o da vida, diz,amos anteriormente. *le vem misturado com as coisas. *le + a interpreta o %ltima da#uilo #ue o ser -umano experimenta em sua radicalidade. Mas n o s! a, emerge )eus. 9omo *le est sempre presente em tudo, ent o *le se comunica tamb+m na banalidade da exist(ncia. 2, tamb+m se concretiza o sentido originrio da vida e, por isso, de )eus. Todos 'azemos, por exemplo, a experi(ncia da bondade radical da vida.D *ntregamo.nos con'iantes ao trabal-o e 3s tare'as cotidianas, por#ue possu,mos uma con'iana n o re'lexa nem tematizada na bondade da vida. *sta + dramatizada pelo caos existencial, pela trai o do amigo, pela mentira, pelo !dio, pelas doenas e, 'inalmente, pela morte. Mas apesar de tudo n o desistimos de viver, de nos levantar cada man- e recomear o dia.a.dia. M uma dimens o grati'icante na vida, #ue, apesar das contradi0es, n o pode ser destru,da. * verdade #ue n o podemos de'ini.la exatamente nem circunscrev(.la a algumas situa0es privilegiadas. /empre #ue pretendemos apan-.la, ela nos escapa, pois sua estrutura + a gratuidade e o seu puro acontecer. E por causa dela #ue continuamos a viver, mesmo no meio das piores desgraas, o #ue deslegitima #ual#uer tentativa de suic,dio. & suicida, em seu gesto extremo, busca um sentido #ue a vida l-e nega e #ue ele, atrav+s da morte, presume encontrar. "or isso, para ele, a morte n o + um problema, mas uma solu o. & absurdo absoluto representa uma contradi o l!gica. 2 a'irma o do absoluto absurdo n o passa de um dese$o imposs,vel. 2 a'irma o de um absurdo absoluto n o pode ser

absurda. )eve 'azer sentido. Logo - sempre um super8,it de sentido em tudo o #ue 'azemos e pensamos. * assim + por#ue vigora uma bondade de base no universo e da vida. *ssa bondade da vida nunca pode ser totalmente destru,da nem negada. *la n o + outra coisa sen o )eus mesmo, emergindo dentro da experi(ncia -umana. 2 partir da, podemos dizer6 atrs da d%vida e da nega o de )eus #ue todavia possam existir, - uma outra d%vida mais radical ainda6 *xiste 2lgu+m #ue me aceita totalmente assim como sou5 8uem nega a )eus, n o nega tanto a exist(ncia de uma `ltima Gealidade, mas a possibilidade de ser aceito. 2'irmar a )eus + acol-er implicitamente 2lgu+m maior #ue me aceita e #ue me ama. * este 2lgu+m + o derradeiro consolo e o sentido 'undamental de todo o viver. *ssa bondade 'undamental do viver se apresenta como experi(ncia de sentido. 4 o criamos o sentido. 8uando perguntamos pelo sentido, $ nos descobrimos dentro dele. /omos carregados por ele ao assumirmos com seriedade as pe#uenas e grandes coisas da vida, a rotina do cotidiano, a conviv(ncia com o outro, a responsabilidade da pro'iss o. 2pesar de todas as 'rustra0es, apesar do desmoronamento de todas as seguranas, apesar da destrui o de todas as mscaras, apesar do inevitvel abandono e trai o de valores vitais, apesar de toda a imensid o das negatividades -umanas, triun'a o sentido sobre o absurdo, vence a convic o da ordem 'undamental do mundo sobre o descorooamento e se imp0e a luz sobre o negrume das trevas. E por causa do sentido #ue transcende as 'inalidades imediatas e supera os sentidos captveis #ue o ser -umano sempre retoma a camin-ada da pr!pria -ist!ria e consegue suportar a monotonia do cotidiano e o aparente vazio da rotina do dia.a.dia. 4a verdade, esta se encontra saturada de um sentido latente, sentido #ue a 'az suportvel. )eus deve ser pensado a partir dessa experi(ncia do sentido. *le + a#uela Luz na #ual vemos a luz. )eus emerge nas palavras da prostituta #uando diz6 ?Geze por mim, padre, para #ue tudo d( certo. >ou trabal-ar mais um pouco, vou ainda me vender por um ano. )epois, $ devo ter pago meu apartamento. >ou ser mul-er de um -omem s!. >ou ter meu marido, meus 'il-os. >ou amar e so'rer. Mas irei amar e so'rer como gente. )eus + "ai e vai me a$udar a sair desta vida de mis+ria.? 8uem 'ala assim, 'ala a partir de um pro'undo sentido. "ara a#uele #ue entende, + )eus #ue assim 'az a sua parusia na vida dessa pessoa. & 'avelado trabal-a duro para gan-ar o salrio m,nimo. E tido por um zero econLmico e social. &s 'il-os se multiplicam. 9rescem por a, como bic-in-os. *le sente.se aulado pela pobreza extrema. 2pesar da mis+ria inumana, tem um senso de dignidade #ue transluz no modo como recebe o outro. 4 o perdeu a religi o, a alegria de viver, a sensibilidade pela necessidade do vizin-o doente, a dimens o da solidariedade -umana. M nele uma sabedoria #ue escola alguma, a n o ser a da vida, pode comunicar. ?)eus 'ez o mundo bem 'eito?, diz ele. ?:ez de um $eito #ue, um dia, todos ser o realmente iguais. :ez uma coisa #ue ningu+m pode comprar. & milionrio compra o #ue dese$a e vai para onde #uer. )eus inventou uma coisa #ue 'az com #ue todos se$am iguais e #ue ningu+m pode comprar. ;sso ele manda de graa6 a morte. & milionrio pode comprar um caix o de $acarand. Mas ele tamb+m morre e + enterrado num palmo de terra, igualzin-o ao mais pobre dos pobres. )eus 'ez tudo bem 'eito, com a inven o da morte. "or ela todo o mundo + 'eito igual e irm o. 8uer #ueira, #uer n o.? "oder 'alar assim + viver a partir de uma dimens o de pro'undidade. 2 alegria l-e adv+m. 2 sensibilidade pelo outro e o senso de solidariedade acontecem na vida desse 'avelado. 4 o + )eus #ue se mani'esta5 )eus n o aparece exatamente nessa dimens o5 2 nossa ob$etiva o de )eus como um *nte /upremo impede.nos de ver essas mani'esta0es da vida -umana com advento e evento divinos. Mas devemos -abituar. nos a experimentar )eus #ue nasce assim dentro da vida -umana . mesmo a mais banal.

B)

DEUS %"M" EXPERI-N%IA D" &A5I" DA &IDA

4 o experimentamos a cada momento nossa 'ragilidade5 Tudo o #ue 'azemos e constru,mos, mesmo com a mel-or boa vontade e pureza de cora o, + 'ugaz. "ode estragar.se ou ser mal compreendido. 4ossa -armonia interior est sempre por se elaborar. 4unca + uma con#uista #ue nos satis'aa plenamente. 4o 'undo de todo o nosso agir palpita sempre uma ansiedade #ue nen-um psicanalista pode erradicar, pois ela + ontol!gica. M uma %ltima solid o #ue 'ere o cora o de exist(ncia. Gegi0es e mo. mentos de nossa vida existem em #ue ningu+m pode estar ao nosso lado. * $amais poder estar. )evemos assumir sozin-os, numa radical e solitria responsabilidade, o destino de nosso camin-ar. 2 'initude #ue sentimos s! + poss,vel a partir da#uilo #ue n o + 'initude. /! a partir do ilimitado, sentimos nossa limita o. /! #uem vive a liberdade so're com a escravid o. 8uando sentimos e so'remos o limite, $ estamos tamb+m para al+m dele. /urpreendemo.nos no -orizonte aberto do in'inito. *stamos sempre en#uadrados numa situa o dada, mas ao mesmo tempo nos auto.transcendemos e nos superamos a n!s mesmos. /omos eternos protestantes em 'ace de tudo o #ue encontramos 3 nossa volta ou #ue n!s mesmos temos constru,do. 2 experi(ncia de nosso limite, de nosso muro, de nossa 'ragilidade, numa palavra, de nossa iman(ncia, nos convoca para a experi(ncia do ilimitado, da abertura total e do absoluto. *sta expe. ri(ncia + condi o da#uela. 4 o + porventura a in'initude, o ilimitado, o absoluto o nome #ue damos ao Mist+rio #ue se anuncia dentro dos #uadros de nossa vida5 4 o + a dia'ania so'rida de )eus #ue detectamos5

c) DEUS %"M" EXPERI-N%IA DA PLENITUDE DA &IDA

4 o 'azemos a experi(ncia do amor como experi(ncia da#uilo #ue acontece em n!s, mas #ue + maior do #ue n!s5 /entimo.nos amados pelo outro numa absoluta gratuidade, gratuidade #ue acol-e nossa 'ragilidade e aceita nossa pro'unda limita o #ue, de per si, poderiam matar o amor ou tirar as raz0es para o outro continuar amando. *, contudo, acontece o amor. 4 o amamos tamb+m n!s de uma 'orma #ue n o pode ser $usti'icada por um 'undamento racional, acol-endo a -istoricidade e a pe#uenez do outro, suas negatividades, o 'ato absoluto de #ue ele passou pelo nosso camin-o e se deu o milagre do encontro5 4ingu+m preparou nada. 4ingu+m marcou a encruzil-ada. *, contudo, existe o milagre do encontro surpreendente do amor. /e observarmos bem, o #ue amamos #uando amamos outra pessoa5 E alguma coisa determinvel como a beleza, a intelig(ncia, a meiguice, a bondade, a sintonia com n!s mesmos5 Mas, se assim 'ora, n o amar,amos a pessoa, mas alguma coisa da pessoa. 4a verdade, amamos a misteriosidade da pessoa, misteriosidade #ue se mani'esta em tantos gestos e em tantas dimens0es identi'icveis, mas #ue tamb+m deixam sempre a ser descoberta a realidade intrigante da pessoa amada. *sse mist+rio + vivo e pessoal, transcende totalmente as determina0es e concre0es da pessoa. "or #ue a linguagem dos namorados se aproxima da linguagem do divino, nas $uras de amor eterno, de absoluta 'idelidade e entrega irrestrita5 4 o + por#ue o #ue est em $ogo no amor + o mist+rio do amor, o 'asc,nio da transcend(ncia viva, isto +, )eus mesmo5 & amor -umano + revela o, mais ainda, + comunica o desse 2mor maior. 2 pessoa + o lugar e a mani'esta o encarnada do )eus do amor e do amor de )eus e seu evento de doura na -ist!ria dos -omens. 8uem + )eus na sua %ltima pro'undidade, s! podemos apreend(.lo

a partir da experi(ncia do amor. )essa experi(ncia deu prova o 4ovo Testamento ao a'irmar #ue ?)eus + amor? B; @o 4,C=. "or isso o amor 'az a dolorosa experi(ncia6 o tu -umano n o + a %ltima inst1ncia7 ele n o satis'az a exig(ncia do cora o por um Tu absoluto. & tu -umano se ordena ao Tu absoluto7 + sua presena sacramentai7 + 'igurativo de um outro 2mor. & tu -umano deve $untar.se ao eu amado e, $untos, colocar.se na dire o do Tu absoluto. *nt o o amor se torna per'eito, por#ue morre para si mesmo a 'im de ressuscitar num 2mor maior, #ue + o pr!prio )eus. )eus emerge tamb+m em toda a experi(ncia do outro. )iante do outro n o estou diante de um ob$eto #ue posso logo en#uadrar em algum es#uema. 4 o - 'ic-a #ue possa captar totalmente a pessoa -umana. *la nunca se a$usta ade#uadamente a uma situa o nem pode ser de'inida a partir de suas circunst1ncias. 4o 'undo, cada pessoa + u!a pessoa, %nica e irrepet,vel. *la, pela sua simples presena, signi'ica uma convoca o para a Transcend(ncia viva. & ser -umano, $ o dissemos tantas vezes, re. presenta um pro$eto in'inito e um mist+rio aberto sobre o inteiro universo. *sse mist+rio n o + o res,duo do ainda n o con-ecido ou pes#uisado. Mas + exatamente a#uilo #ue antecede a todo o con-ecimento e se mostra ainda maior ap!s todo o con-ecimento. 8ue + o ser -umano5 4 o + uma pergunta cu$a resposta se exaure pela abordagem da ci(ncia. Trata.se de uma #uest o existencial e n o te!rico.cr,tica. "or isso cada #ual deve responder por si mesmo, ao longo da camin-ada da pr!pria exist(ncia. 2 medida #ue vai camin-ando, tamb+m se vai abrindo o -orizonte da pergunta e se vai construindo a autode'ini o pessoal. 2 experi(ncia %ltima do -omem n o + mais -omem7 + a experi(ncia da#uilo #ue transcende o -omem7 + a experi(ncia do Mist+rio. 9ada -omem, por mais pecador e miservel #ue se$a, n o pode apagar a Transcend(ncia #ue se torna transparente em seu semblante. *le + sempre maior do #ue todos os seus crimes7 maior do #ue todos os seus arroubos de amor e de m,stica. 4ele 'lui uma torrente de bondade, palpita uma pro'undidade misteriosa, irrompe um al%! #ue constitui a permanente dia'ania de )eus no mundo. "or isso, o ser -umano assoma como o maior sacramento de )eus. *is de onde prov+m toda a sacralidade da pessoa -umana7 da, toda a sua respeitabilidade7 da, a identidade a'irmada por 9risto entre o amor ao pr!ximo e o amor a )eus. & amor n o + mandamento meramente voluntar,stico6 assim + por#ue )eus simplesmente o #uer. )eus o #uer por#ue ele + o mais importante #ue existe. * o ser -umano + o lugar de sua apari o e realiza o privilegiada e consciente. @ - muito #ue bi!logos renomados como Mumberto Maturana e :rit$o' 9apra v(m a'irmando a base biol!gica do amor. *le se encontra na estrutura de toda realidade, #ue + sempre urdida de rela0es, de coopera o, de comun- o e de inclus o. & amor + a#uela 'ora #ue tudo liga e religa e #ue permite #ue as coisas 'ormem um cosmos e n o permaneam no caos. "ortanto, o amor possui um 'undamento ontol!gico6 sua inclus o na estrutura da pr!pria realidade ob$etiva. 4o ser -umano, esse dado ob$etivo se trans'orma num pro$eto assumido com consci(ncia e em plena liberdade. 2trav+s do amor, )eus mesmo continua se auto.doando e 'azendo -ist!ria dentro da -ist!ria -umana, pessoal e coletiva. 2mando o outro, na radicalidade, estamos amando a )eus. ?/e viste a teu irm o, ent o viste a )eus?, disse um dos primeiros te!logos crist os, 9lemente de 2lexandria (Stro!ateis 1,19=, ainda no s+culo segundo. 2 experi(ncia de )eus no ser -umano deve, sempre de novo, superar a tenta o de uma compreens o 'ec-ada da realidade -umana. /eguramente o ser -umano + a#uilo #ue dele podemos saber, detectar, analisar, deci'rar com o aux,lio da observa o pessoal

ou com o recurso ao aparato das ci(ncias. Mas nesse es'oro permanece algo n o dito, n o analisado, n o deci'rado no dito, no analisado e no deci'rado. *ssa sobra representa a misteriosidade inalcanvel da realidade -umana. *la 'unda a base para colocarmo. nos diante de )eus, tamb+m experimentado como Mist+rio de sentido, de luz e de enternecimento. "oder,amos alongar.nos inde'inidamente na anlise de situa0es existenciais, nas #uais transparece a realidade divina. Todas essas experi(ncias, #ue se d o na cotidianidade da vida, s o, na verdade, articula0es da %nica experi(ncia unitria, articula0es da#uilo #ue n!s c-amamos )eus. )eus, portanto, n o vem de 'ora, nem se d somente em situa0es privilegiadas da vida, mas est sempre presente na trama de toda a exist(ncia. *merge, torna.se advento e evento. "ode -aver momentos de absoluta gratuidade nos #uais n o se pergunta mais6 sabe.se #ue )eus aconteceu na vida. ;rrompe uma -armonia, uma derradeira #uietude interior, uma unidade de todas as coisas, ligadas a uma %nica raiz de onde vivem, existem e subsistem. "odem acontecer momentos assim na vida. Talvez ap!s um longo processo catrtico7 ap!s penosas crises7 #uem sabe, no cora o de uma vida alienada e pecaminosa. )eus pode emergir n o mais como pergunta nem como resposta ao #uestionar irre#uieto do cora o. & ser -umano experimenta, ent o, sua grandeza in'initamente maior do #ue a#uela do cosmos7 sente.se o sacerdote de toda a cria o7 agradece o 'ato de poder viver7 d graas e canta loas em nome de tudo e de todos7 pode ent o invocar o Mist+rio #ue experimenta6 ?/en-or, apesar de toda pe#uenez, posso deixar #ue tudo penetre em mim, posso distender.me para o mais distante do universo. 4um momento posso tomar tudo em min-as m os e tudo te o'erecer como numa missa c!smica, louvar.te como o /en-or, dar.te graas por#ue posso dar graas e dizer6 2contea o #ue acontecer, das pro'undezas de meu nada e do 'undo dos in'ernos, n o deixarei de te louvar e eternamente te agradecer.? /e isso acontecer, saiba, ent o, #ue )eus ter irrompido em sua vida. *le - de l-e ser mais real do #ue sua pr!pria realidade -umana7 - de existir mais seguramente do #ue voc( mesmo existe. "ois armou tenda em voc( o 2bsoluto. Gevelou.se o #ue l-e concerne de'initivamente e l-e d o sentido de todo o viver. E nessa oportunidade #ue voc( talvez 'aa a experi(ncia mais grati'icante da vida6 sentir a necessidade de agradecer e saber a #uem dirigir.se6 a )eus.

A EXPERI-N%IA %RIST$ DE

DEUS

2t+ a#ui tentamos articular a experi(ncia de )eus #ue se e'etua na vida -umana. 4 o se 'alou propriamente ainda da experi(ncia crist de )eus. M uma experi(ncia tipicamente crist de )eus5 &u mel-or6 9omo se mostrou o )eus do Mist+rio no camin-o de @esus 9risto, 'undamento do cristianismo5 Muito abstratamente podemos dizer6 no cristianismo articulou.se a experi(ncia do Mist+rio como -ist!ria do Mist+rio. & /entido n o 'icou di'uso, pro'uso e con'uso dentro da realidade. *le armou tenda entre n!s e se c-amou @esus 9risto Bc'. So 1,14=. & Mist+rio + t o radicalmente Mist+rio #ue pode, sem perder sua identidade, 'azer.se carne e -ist!ria. *le pode subsistir totalmente num &utro di'erente dele. /e assim n o 'ora, n o mostraria sua onipot(ncia nem seu carter de Mist+rio. *nt o, sendo vida, ele pode morrer. :azendo.se morte, ele pode viver. *le pode, sendo impalpvel, 'azer.se

palpvel7 sendo invis,vel, 'azer.se vis,vel7 sendo 9riador, 'azer.se criatura. )iz o ap!stolo @o o6 ?& #ue ouvimos, o #ue vimos com nossos ol-os, o #ue contemplamos e o #ue as nossas m os apalparam tocando o >erbo da >ida . S...T >ida eterna #ue estava com o "ai e nos 'oi mani'estada . o #ue vimos e ouvimos vo.lo anunciamos...? B; @o 1,1. D=. 2 '+ crist , como mostra esse texto $oaneu, testemun-a a -ist!ria de )eus #ue, sendo ;n'inito e Transcendente, se 'ez 'inito e imanente como uma parte de nosso mundo. 9elebra a absoluta auto.comunica o de )eus7 canta a radical proximidade do Mist+rio7 alegra.se com a benignidade de nosso )eus. 2 benignidade, a proximidade e a auto.comunica o s o experimentadas como amor irrestrito, bondade sem limites, perd o pleno e presena misericordiosa de )eus dentro da pr!pria realidade -umana. *sta se torna di'ana, transparente. 2 vida do -omem @esus + a vida de )eus7 o amor do -omem de 4azar+ s o o perd o e a aceita o de )eus mesmo. 4ele transcend(ncia divina e iman(ncia -umana se encontram, 'azendo #ue ele se$a transparente a )eus. *ssas a'irma0es podem signi'icar um esc1ndalo para todas as 'iloso'ias e teologias apo'ticas, vale dizer, a#uelas #ue negam #ual#uer valor 3s nossas a'irma0es acerca de )eus. "arecem blas'emas para #uem a'irma a total n o.ob$etividade do Mist+rio7 soam idoltricas para #uem a'irma a absoluta transcend(ncia do Mist+rio sem possibilidade de se acercar 3 nossa condi o imanente. 9ontudo nos perguntamos6 /abemos o #ue + o Mist+rio5 & Mist+rio se d no compreens,vel e no incompreens,vel, no al+m e no a#u+m, na -ist!ria e na supera o da -ist!ria. ;sso signi'ica6 pertence ao Mist+rio 'azer.se totalmente outro dele mesmo. & Totalmente &utro do Mist+rio + sua 2%nose, vale dizer, sua auto.nega o e -umil-a o. ;sso + 'azer.se criatura, escravo7 de escravo, um cruci'icado7 de cruci'icado, um condenado aos in'ernos. *sse 'oi o camin-o de @esus 9risto, 'oi o camin-o do eus in,ersus Bc'. :l A,K.C=. 9om isso entrou uma nova possibilidade da linguagem religiosa6 + a linguagem #ue narra a -ist!ria deste evento, do evento da doura e da $ovialidade divinas #ue, por amor ao ser -umano, se -umil-a e vai at+ o 'im Bc'.@o 1D,1=. 9omo ocorreu esta -ist!ria de )eus encarnado no mundo5
2=

2 *R"*G;a49;2 )* )*U/ )* @*/U/ )* 42b2GE

/e )eus emerge de dentro de nosso mundo, como emergiu de dentro do mundo de @esus de 4azar+5 E situando @esus dentro de seu mundo #ue aparece a originalidade de sua experi(ncia de )eus.1 9ertamente o )eus de @esus de 4azar+ + o )eus da experi(ncia dos pais da '+ abra1mica do "rimeiro Testamento. Mas tamb+m + um )eus experimentado de uma maneira pro'undamente diversa, por#ue a encarna o de )eus n o visa sancionar o #ue $ sab,amos dele sen o revelar.nos de'initivamente #uem e como )eus realmente + em si mesmo. 4 o podemos olvidar #ue o m!vel %ltimo da condena o de @esus n o residiu tanto na discord1ncia com os 'ariseus #uanto 3 interpreta o da Lei, mas pelo 'ato de @esus ter apresentado um )eus de amor e de perd o, um "ai com caracter,sticas de m e, portanto, devido a uma experi(ncia di'erente de )eus. a) U6 67ndo opri6ido interior e e8terior6ente & mundo em #ue viveu @esus de 4azar+ era pro'undamente oprimido sob um regime geral de depend(ncia, -erdada de - muito tempo. A 2 "alestina vivia na depen. d(ncia e na peri'eria dos grandes imp+rios, praticamente, desde NC7 a.9. 2t+ NDC a.9, da <abilLnia. 2t+ DD1 a.9, da "+rsia. 2t+ DAD a.9, da MacedLnia de 2lexandre. 2t+ 197 a.9, do *gito dos "tolomeus. 2t+ 1KK a.9, da /,ria dos /el(ucidas. *m K4 a.9. cai sob a

es'era do imperialismo romano. 4o ano 4H de nossa era, Merodes, 'il-o do ministro idumeu de Mircano, 2nt,pater, por decreto do /enado + proclamado rei dos $udeus. *ra um rei pag o, sustentado pelo centro, Goma. *ssa depend(ncia exterior era internalizada pela presena das 'oras de ocupa o, pelos cobradores de impostos, pelo partido dos saduceus #ue 'aziam o $ogo da pol,tica romana. Mas tamb+m pela presena da cultura romano.-elen,stica #ue tornava a opress o mais odiosa e aviltante, dado o carter religioso e segregacionista dos $udeus. )epois da morte de Merodes, o reino + dividido entre seus 'il-os Bc'. Lc D,1.A=7 posteriormente, a @ud+ia passa a ser governada por um procurador romano. /!cio.economicamente, a Ialil+ia, terra de @esus e cenrio principal de sua atividade de pregador ambulante, + uma regi o bem ocupada e trabal-ada pela agricultura. 2 pro'iss o da 'am,lia de @esus era a de um t%2non #ue podia signi'icar tanto carpinteiro #uanto cobridor de tel-ados. Trabal-o -avia para todos, mas o bem.estar n o era grande. )escon-ecia.se o sistema de poupana, de sorte #ue uma carestia ou doena maior provocavam (xodos rurais em demanda de trabal-o. &s diaristas, ent o, se amon. toavam nas praas das cidades Bc'. Mt AH,1.1N= ou se pun-am a servio de um grande proprietrio ate saldarem suas d,vidas. FF 2 lei mosaica #ue dava ao primog(nito o dobro dos demais acarretava, indiretamente, o crescimento de assalariados #ue, n o encontrando emprego, se tornavam um verdadeiro proletariado, composto de mendigos, vagabundos e ladr0es. Mavia ainda os ricos possuidores de terras, #ue espoliavam os camponeses na base de -ipotecas e expropria0es por d,vidas n o pagas. & sistema tributrio era pesado e detal-ado7 -avia imposto para #uase todas as coisas7 sobre cada membro da 'am,lia, terra, gado, plantas 'rut,'eras, gua, carne, sal e sobre todos os camin-os. Merodes, com suas constru0es 'araLnicas, empobreceu o povo de 'orma extremamente sens,vel. 2 domina o estrangeira constitu,a para o povo uma verdadeira tenta o para a '+ nas promessas e no sen-orio de )eus sobre o mundo a partir de @erusal+m. &s vrios movimentos de liberta o, especialmente o dos zelotas, tentavam preparar ou at+ provocar, com a viol(ncia, a interven o salvadora de )eus. 8uanto maior era a depend(ncia e opress o, mais intensa ainda ardia a esperana e a expectativa da interven o iminente de )eus Bc'. Lc D,1N=, exacerbada pela bizarra 'antasia dos apocal,pticos #ue viam 'acilmente sinais em todas as coisas, prenunciando a instaura o do Geino de )eus e a li#uida o de todos os inimigos do povo. 2 verdadeira opress o, contudo, n o residia na presena do poder romano, mas na interpreta o legalista da religi o e da vontade de )eus corroborada especialmente pelos 'ariseus. 2 lei, #ue devia auxiliar a encontrar o camin-o para )eus, degenerara com o peso das tradi0es, das interpreta0es rabul,sticas e das min%cias mes#uin-as, numa terr,vel escravid o imposta em nome de )eus Bc'. Mt AD,47 Lc 11,4K=. 9risto c-ega a desaba'ar6 ?:ico bobo de ver como voc(s conseguem esvaziar o mandamento de )eus, para 'azer valer a tradi o de voc(s? BMc 7,9=J Tudo era medido em termos de lei . #uem + pr!ximo e #uem n o o +, #uem + puro e #uem n o o +, #uais s o as pro'iss0es mal.a'amadas . gerando discrimina0es sociais. &s 'ariseus observavam tudo ao p+ da letra e aterrorizavam o povo, obrigando.o a tamb+m observar tudo estritamente. )iziam6 ?Maldito o z+.povin-o #ue n o con-ece a lei? B@o 7,49=. *mbora per'eit,ssimos, possu,am uma distor o 'undamental, denunciada por @esus6 ?4 o se preocupam com a $ustia, com a miseric!rdia e com a boa '+? BMt AD,AD=. 2 lei, ao inv+s de aux,lio, se tornou uma pris o dourada, mas sempre pris o. 8uerendo se auto.assegurar da salva o, o ser -umano se 'ec-ou sobre si mesmo contra os outros e, por 'im, contra o )eus vivo. "ara o 'ariseu, viva + a Lei e n o )eus. Transmitia um conceito '%nebre de )eus, pois

*le n o se 'azia presente, era como se estivesse morto e tivesse deixado como testamento um amontoado de leis e normas a garantirem a al+m.vida no seio de 2bra o. &s #ue viviam 3 margem dessa compreens o legal,stica se consideravam perdidos, desesperados e abandonados por )eus e, ainda, socialmente di'amados. &s doentes eram instru,dos a interpretar suas doenas como pecados pessoais ou de seus antepassados. Triste e verdadeiramente oprimida era a condi o -umana #uando @esus comeou sua atividade p%blica.

9) De7: e8peri6entado co6o li9erta;<o e a9:ol7to :entido

4esse pano de 'undo deprimente e opressor emerge a 'igura de @esus de 4azar+. )entro dessa situa o ele vive e experimenta )eus. 9omo l-e aparece )eus em sua vida5 )eus nasce em sua experi(ncia como o Libertador dessas opress0es. /ua primeira palavra + de liberta o6 ?& *sp,rito est sobre mim, por#ue me ungiu para proclamar a boa.nova aos pobres. *le me enviou para pregar aos cativos a liberdade, aos cegos a recupera o da vista, para libertar os oprimidos, para anunciar um ano de graa do /en-or? BLc 4,1C.19=.N *le grita para todos6 ?& prazo da espera expirou. & Geino de )eus est a,. Mudem de vidaJ 2creditem nesta <oa 4ot,cia? BMc 1,1N=. *m 'ace de uma situa o global de opress o interior e exterior, @esus encontra )eus como total liberta o. Geino de )eus + a palavra.c-ave #ue exprime sua experi(ncia. )eus resolveu intervir e pLr termo a esse mundo sinistro dominado por 'oras adversas ao -omem e a )eus. Geino de )eus signi'ica o sentido radical para esse mundo, livre do pecado, do !dio, do so'rimento e da morte. 2 utopia, ob$eto de anelo de todos os s+culos, agora se realiza como ridente acontecimento, pois as doenas $ est o sendo curadas Bc'. Mt C,1K.17=, o luto $ se trans'orma em alegria Bc'. Lc 7,11.17=, os elementos da natureza $ n o s o mais inimigos Bc'. Mt C,A7=, os pecados s o perdoados Bc'. Mc A,N=, os demLnios s o exorcizados Bc'. Mt 1A,AC= e a morte est sendo banida para sempre Bc'. Mc N,D9=. )eus, o sentido do mundo, reconciliado e trans'igurado, eis o #ue a express o 9eino de eus #uer signi'icar. "or isso ?'elizes voc(s, pobres, por#ue o Geino de )eus l-es pertence7 'elizes voc(s, #ue padecem 'ome, por#ue ser o 'artos7 'elizes voc(s, #ue agora c-oram, por #ue ir o rir? BLc K,AH.A1=. 4 o se trata mais de liberta0es regionais, se$a pol,ticas, se$a religiosas. 2 cria o toda ser libertada em todas as suas dimens0es. ;sso n o constitui apenas an%ncio pro'+tico e ut!pico7 pro'etas $udeus e pag os de todos os tempos son-aram e pregaram o advento de um novo mundo. 4esse n,vel do an%ncio, @esus se en'ileira na lista dos grandes pro'etas da -umanidade. Mas n o + nisso #ue reside sua originalidade. *le realiza utopia. 4 o diz6 ?& Geino vir?, mas ?o Geino $ 'oi aproximado? BMc 1,1N7 Mt 4,17= e ?$ est em vosso meio? BLc 17,A1=. *le experimenta )eus presente agindo e ultimando sua vit!ria 'inal, atrav+s de sua proclama o e a o de pro'eta, curador e taumaturgo6 ?/e eu expulso demLnios pelo dedo de )eus, sem d%vida, o Geino de )eus c-egou a v!s? BLc 11,AH=. *le se experimenta agindo em nome de )eus, por#ue se sente o mais 'orte #ue vence o 'orte Bc'. Mc D,A7=. 2#ui est a novidade perene de @esus. 9om ele )eus est em nosso meio.

c) De7: e8peri6entado co6o Pai e M<e de infinita 9ondade

*ssa presena do Geino exige total ades o. M #ue estar aberto para o eus presente. Mas #ue 'ace possui esse )eus5 * ainda o )eus da Lei #ue cobra a observ1ncia irrestrita e minuciosa a estilo dos 'ariseus5 &s evangel-os mostram duas dimens0es de @esus totalmente paradoxais6 uma extremamente rigorista e outra liberal. K "or um lado, apresentam @esus #ue em nome de )eus 'az exig(ncias mais duras do #ue a#uelas dos 'ariseus. *le + um rigorista6 n o apenas o matar, mas $ o irritar.se 'az algu+m ser r+u de $u,zo Bc'. Mt N,A1.AA=7 n o apenas o adult+rio consumado, mas $ o ol-ar cobioso 'az algu+m ad%ltero Bc'. Mt N,A7.AC=7 ?se o ol-o direito 'or ocasi o de esc1ndalo, arranca.o e $oga.o para longe7 se a m o direita te escandalizar, corta.a e. atira.a para longe de ti? BMt N,A9.DH=. Todo o teor do serm o da montan-a radicaliza as exig(ncias da Lei, levando a observ1ncia ao n,vel do imposs,vel para o pobre -omem mortal. "or outro lado, os evangel-os mostram um @esus soberano 'ace 3 lei a ponto de ser considerado laxista pelos piedosos do tempo #ue se escandalizavam Bc'. Mt 1D,ND. NC=. 4 o se incomodava com a observ1ncia rigorosa do sbado7 mais importante #ue o sbado + a pessoa -umana B. Mc A,AD.AK7 Lc K,K.1H7 1D,1H.177 14,1.K7 Mc A,A7=. *le e seus disc,pulos n o eram ascetas como os disc,pulos de @o o B9'. Mc A,1C=7 acusavam. no de glut o e beberr o Bc'. Lc 7,D47 Mt 11,19=7 critica a distin o de pr!ximo e n o. pr!ximo Bc'. Lc 1H,A9=, por#ue ?pr!ximo + todo a#uele de #uem eu me aproximo, tanto 'az se $udeu ou pag o, santo ou celciado?7 'ulmina, sobranceiro, as leis de puri'ica o6 n o + o #ue entra, mas o #ue sai do ser -umano #ue o 'az impuro. & #ue entra n o passa pelo cora o, mas passa para o estLmago e acaba parando na privada Bc'. Mc 7,19=. 2col-e todo o mundo, especialmente os #ue eram considerados pecadores p%blicos, como os exatores de impostos, com #uem come Bc'. Lc 1N,A7 Mt 9,1H.11=, doentes e leprosos Bc'. Mc 1,41=, uma -erege samaritana Bc'.@o 4,7=. "re'ere os publicanos, as prostitutas e os pecadores aos piedosos e te!logos Bc'. Mt A1,D1=. 4o *vangel-o de @o o encontramos esta 'rase libertadora de @esus6 ?/e algu+m vem a mim, eu n o o mandarei embora? B@o K,D7=. 9omo se - de entender este paradoxo6 por um lado rigorista e por outro liberal5 /e tomarmos a Lei como medida de $ulgamento, n o conseguiremos entender o para. doxo, por#ue um elemento exclui o outro. *sses dois aspectos opostos s! s o compreens,veis e revelam sua unidade interior se considerarmos a experi(ncia t,pica #ue @esus 'ez de )eus. & rigorismo, na verdade, n o + rigorismo da Lei7 + um rigorismo #ue a$uda a abandonar a absolutiza o da Lei e con'iar.se a um )eus #ue est acima e para al+m da Lei. @esus 'ez a experi(ncia de )eus n o como $uiz vigilante da Lei, mas de )eus como "ai de in'inita bondade. A//a + a ipsissi!a ,o$ :esu Bpalavra #ue vem diretamente da boca de @esus= e #uer dizer ?"apaizin-o?, linguagem 'amiliar e ,ntima, exprimindo toda a intensidade a'etiva da experi(ncia de @esus. ?@esus 'alou com )eus como uma criana 'ala com seu pai, c-eia de con'iana e segura e, ao mesmo tempo, respeitosa e disposta 3 obedi(ncia.?7 9om esse )eus "ai nos relacionamos com incondicional amor e total entrega. 4 o basta cumprir a Lei. & amor n o con-ece limites7 alcana para al+m das leis7 torna estas at+ absurdas, por#ue o amor n o + ob$eto de legisla o. )a, nunca podermos estar satis'eitos no nosso amor para com )eus e para com o pr!ximo. /omos sempre devedores. @esus eliminou de vez a consci(ncia satis'eita de #uem presume ter cumprido todo o dever para com )eus7 a consci(ncia de estar em dia com )eus e de poder cobrar dele a promessa #ue 'ez ao seu povo e aos #ue o amam. @esus dizia6 ?)epois de terem 'eito tudo o #ue est prescrito, voc(s devem dizer6 F/omos simples empregados7 'izemos apenas o #ue era o nosso deverF? BLc 17,1H=. *liminou #ual#uer t,tulo de gl!ria e de m+rito perante )eus, #uando desclassi'icou o 'ariseu #ue se gabava de suas boas obras e deu raz o ao publicano #ue batia no peito e apenas dizia6 ?Meu )eus, ten-a compaix o de mim #ue sou um pobre pecador? BLc 1C,1D=.? "or mais

#ue 'aamos, somos sempre devedores diante de )eus. & rigorismo de @esus se entende n o a partir da observ1ncia da Lei, mas a partir das exig(ncias do amor #ue n o suporta, sem morrer, limites de #ual#uer natureza. & 'ariseu + re$eitado por#ue, 'azendo obras boas, dando esmolas e $e$uando, se $ulga $usto. 4ingu+m deve se reputar $usto e bom. /! )eus Bc'. Lc 1C,19=. )iante de )eus, somos todos publicamos, isto +, pobres pecadores. Gecon-ecermo.nos pecadores, nos 'az $ustos7 recon-ecermo.nos $ustos, nos 'az pecadores. * o #ue nos ensina a parbola do publicano e do 'ariseu Bc'. Lc 1C,9.14=. & rigorismo n o +, portanto, da lei, mas do amor. P luz de )eus como "ai amoroso se entende o liberalismo de @esus. 4 o se trata de desobedi(ncia 3 lei e anar#uia moral. E a 'orma do amor #ue superou as divis0es #ue a lei -avia introduzido entre puros e impuros, pr!ximos e n o.pr!ximos, bons e maus. & amor + irrestrito6 ama tudo e todos. "ois + assim #ue )eus ama6 ?*le + bondoso para com os ingratos e maus? BLc K,DN=. *le ama indistintamente a todos, pois ?'az nascer o sol sobre os maus e bons e 'az c-over sobre os $ustos e in$ustos? BMt N,4N=. "ara o amor n o - mais puros e impuros, n o - mais pr!ximos e n o.pr!ximos, n o - mais bons e maus. Todos s o dignos de amor, por#ue )eus '(.los dignos de seu amor. )a, se entende o apelo de @esus6 ?/ede misericordiosos como vosso "ai + misericordioso? BLc K,DK=. Um dos traos mais caracter,sticos da experi(ncia do )eus de @esus consiste no 'ato de ele ser misericordioso. /er misericordioso signi'ica ter entran-as e um cora o sens,vel como tem uma m e. "or pior #ue se$a seu 'il-o, ela sempre o acol-er e abraar em seu perd o. & #ue saiu de suas entran-as, $amais ser es#uecido e negado. "or isso, as caracter,sticas do A//a, de )eus."ai, s o 'emininas. )eus."ai + somente e plenamente "ai #uando tamb+m + M e de in'inita miseric!rdia e bondade. ;sso nos permite #ue 'alemos de )eus."ai.e.M e ao nos re'erirmos ao )eus da experi(ncia de @esus. @esus n o + liberal e laxista por#ue come com os pecadores, deixa #ue os impuros se aproximem dele e por#ue se det+m a conversar com uma pecadora con-ecida na cidade Bc'. Lc 7,DKss=. 9om essa atitude consciente @esus #uer mostrar o amor #ue )eus tem a todos esses mal.a'amados. *le est amando como o "ai ama, pois ele 'az a experi(ncia de amor e bondade do "ai. /eu )eus + o )eus do 'il-o pr!digo Bc'. Lc 1N,11.DA=, o )eus #ue corre atrs da ovel-a tresmal-ada Bc'. Lc 1N,4.7=, o )eus #ue perdoa os dois devedores #ue n o tin-am com #ue pagar Bc'. Lc 7,41.4D=, o )eus do patr o bom #ue paga bem tanto os #ue trabal-aram mais #uanto os #ue trabal-aram menos Bc'. Mt AH,1.1N=. "ara @esus, pobres n o s o apenas os economicamente pobres, mas todos os #ue so'rem alguma opress o, como as prostitutas e os doentes crLnicos, os #ue n o podem de'ender.se por si mesmos, os desesperanados, os #ue ac-am #ue n o t(m mais salva o.9 Todos esses devem sentir )eus como "ai bondoso e M e misericordiosa #ue perdoa a culpa e convida para a comun- o com *le. @esus n o transmitiu uma doutrina sobre a bondade in'inita de )eus."ai.e.M e. *le mostrou essa bondade sendo ele mesmo bondoso, circulando com os pecadores e dando con'iana aos desamparados social e religiosamente. 4 o 'az isso por puro -umanitarismo, mas como tradu o concreta de sua experi(ncia de )eus como "ai e amor, como graa e perd o. "or#ue se sente totalmente amado e aceito pelo "ai, ele tamb+m aceita e ama a todos6 ?/e algu+m vem a mim, eu n o o mandarei embora? B@o K,D7=.

d) =e:7: po::7>a 76a ?i:<o conte6plati?a do 67ndo

@esus n o se apresenta como um te!logo #ue re'lete e exp0e uma doutrina sobre )eus. *le age com absoluta imediatez e evid(ncia de )eus. )eus n o + 'ruto de racioc,. nios. 4em se c-ega a ele atrav+s de uma inicia o mistag!gica. )eus l-e + transparente, uma evid(ncia experimental, pr!ximo e, ao mesmo tempo, para al+m deste mundo. >( sua a o em todas as coisas e se sente unido a essa a o6 ?Meu "ai continua a trabal-ar at+ agora, por isso eu tamb+m trabal-o? B@o N,17=. *ssa imediatez da experi(ncia de )eus #ue n!s anteriormente c-amvamos de transpar(ncia de )eus con'ere a @esus uma vis o contemplativa da vida. *le n o l( o mundo pro'anamente, mas sempre em sua re'er(ncia a )eus #ue n o est ligado a lugares privilegiados, ao tempo, a a0es lit%rgicas, ou a ora0es, mas est presente em todos os tempos e lugares. *le empapa a realidade com sua misteriosa presena. >( todos os l,rios dos campos, as aves do c+u, a semente #ue + semeada, contempla a videira e um campo cultivado... Mas v( na pro'undidade essas realidades todas. *las recordam )eus #ue veste os l,rios dos campos e alimenta os pardais7 a semente + a "alavra de )eus7 )eus + o agricultor, ele + a videira e n!s somos os ramos. *m tudo l( a vontade de )eus, n o apenas na Lei e nos "ro'etas. /ua experi(ncia de )eus."ai.e.M e presente + t o intensa #ue se abandona inteiramente aos seus cuidados. *le cuida de seus 'il-os e 'il-as, com o comer, o vestir e o morar. 8uer libertar as pessoas das preocupa0es pelo aman- Bc'. Mt K,A4.D4=. "odemos dizer #ue todas as dimens0es da vida, positivas e negativas, s o para ele provoca0es para remeter.se a )eus. &uve, na crLnica da +poca, do des'al#ue de um ge. rente de 'irma e como 'oi esperto para sa'ar.se bem dessa situa o penosa Bc'. Lc 1K,1. 1A=. ;sso l-e serve de compara o para explicar as ocasi0es #ue nos s o o'erecidas para mudar de vida. Um assaltante age de surpresa, sem aviso pr+vio. *ssa constata o l-e sugere a vinda repentina do :il-o do Momem Bc'. Mt A4,4D.44=. 2s parbolas todas evi. denciam como ele sabia tirar uma li o divina dos 'atos mais corri#ueiros da vida. ;sso s! + poss,vel para #uem se dimensiona contemplativamente 'ace 3 vida. *sta n o + vazia nem pro'ana. *la + penetrada pela presena de )eus."ai.e.M e e 2mor. *la n o + nem transcendente nem imanente. *la + transparente para )eus. @esus vivia a imediatez dessa presena. e) De7:'Pai'e'M<e le?a a de:co9rir fil!o: e fil!a: co6o ir6<o: e ir6<: 9omo + de 'ato )eus."ai.e.M e, aparece no relacionamento com as outras pessoas. @esus n o 'ala de )eus em si, como uma grandeza meta',sica e 'ora do mundo, portanto transcendente. Ge'ere.se a *le sempre numa conex o com este mundo, portanto transparente, no interior de uma experi(ncia concreta. 2 realidade de )eus."ai. e.M e emerge #uando o ser -umano se torna capaz de descobrir no outro um 'il-o e uma 'il-a de )eus e um irm o e uma irm sua. 2#ui reside novamente um trao caracter,stico da experi(ncia de )eus 'eita por @esus. *le n o usa a palavra )eus sem vincul.la concretamente ao ser -umano. &s $udeus usavam a palavra )eus $usti'icando com ela o !dio ao inimigo Bc'. Mt N,4D=, as divis0es entre puros e impuros, assim como nos tempos atuais os 'undamentalistas muulmanos usam )eus.2l para legitimar seu terrorismo contra o &cidente. )eus era usado como inst1ncia superior em si, a partir da

#ual $ulgavam a exist(ncia. )eus para @esus emerge exatamente dentro da vida e no relacionamento com os outros. 9ada pessoa vale mais do #ue tudo Bc'. Mt K,AK=7 + mais importante #ue a observ1ncia do sbado pela #ual o povo eleito acreditava participar da celebra o do /bado #ue )eus mesmo com seus an$os celebrava nos c+us Bc'. Mc A,A7=7 cada pessoa + mais importante #ue o culto Bc'. Lc 1H,DH.D7=, #ue o sacri',cio Bc'. Mt N,AD.A47 Mc 1A,DD=7 vale mais do #ue espetaculares ob$etivos revolucionrios Bc'. Mt 11,1A=, mais do #ue ser piedoso e observante das sagradas leis e tradi0es Bc'. Mt AD,AD=. )eus #uer ser servido nos outros e n o tanto em si mesmo. /empre #ue se 'ala do amor a )eus, 'ala.se tamb+m do amor ao pr!ximo Bc'. Mc 1A,D1.DD7 Mt AA,DK.D9 par.=. E no amor ao pr!ximo #ue se decide a salva o. 8uando algu+m pergunta a @esus o #ue se deve 'azer para lograr a salva o, ele responde citando os mandamentos da segunda tbua, todos re'erentes ao pr!ximo Bc'. Mc 1H,17.AA=. @esus increpa os 'ariseus por#ue n o se preocuparam ?com o mais grave da Lei6 $ustia, miseric!rdia e boa '+? BMt AD,AD=. ;sso n o + simplesmente -umanismo secular, como poderia parecer 3 primeira vista. E o %nico e verdadeiro -umanismo, de trans'undo divino, por#ue )eus mesmo se identi'icou com os mais necessitados Bc'. Mt AN,D14N=, com as criaturas mais marginalizadas e desprezadas Bc'. Mt AN,DN.4H=. *las s o a epi'ania de )eus, o lugar onde ele marcou o encontro #ue signi'ica salva o eterna. / o @o o ir traduzir maravil-osamente a unidade do amor ao pr!ximo com o amor a )eus, presente na prega o de @esus6 ?/e algu+m disser6 F2mo a )eusF, mas odeia seu irm o, mente. "ois #uem n o ama seu irm o, a #uem v(, n o + poss,vel #ue ame a )eus, a #uem n o v(. * n!s temos dele este preceito, #ue #uem ama a )eus tamb+m ame o irm o? B; @o 4,AH.A1=. & 'undamento da identidade do amor de )eus com o amor ao pr!ximo n o reside no voluntarismo divino. E assim por#ue simplesmente )eus #uis. *xiste uma raz o mais pro'unda, na ordem mesma do ser6 )eus est presente de tal maneira no mist+rio do -omem #ue amar o outro $ inclui amar a )eus. )esde #ue )eus mesmo se 'ez um pr!ximo, o amor ao pr!ximo + tamb+m amor a )eus. 2 luz disso, entende.se #ue o amor se estenda tamb+m ao inimigo. "or pior #ue se$a uma pessoa, ela n o consegue o'uscar a beleza #ue encerra, pelo 'ato de )eus estar sempre presente dentro dela. E essa presena divina #ue 'az amvel at+ o inimigo, o ingrato e o pecador Bc'. Lc K,DN=.

f) De7: contin7a Pai'e'M<e 6e:6o no e8tre6o a9andono

2 bondade de )eus nada possui do rom1ntico #ue tudo $usti'ica e simplesmente aceita. 2ntes, pelo contrrio6 sua bondade + outra bondade, diante da #ual todos somos imper'eitos. 2pesar de nossa imper'ei o, )eus nos aceita e nos ama. )eus, portanto, se mostra onipotente e todo.poderoso na 'ora #ue possui de suportar e de conviver com o ingrato e mau Bc'. Lc K,DN=. *le serve a toda a -umana criatura, independentemente de seu estado moral. *ssa bondade de )eus + mais 'orte #ue todo o !dio e toda a in$ustia na -ist!ria e no universo. @esus, com sua bondade, concretiza a bondade radical de )eus e nos con'irma #ue ela ter sempre 'uturo. @esus 'ez a dolorosa experi(ncia do 'ec-amento de seus contempor1neos, aprisionados em suas pr!prias seguranas religiosas. 4 o devemos $amais olvidar o 'ato de #ue 'oram exatamente os piedosos #ue li#uidaram @esus. *m nome de )eus ele veio anunciar e presencializar uma total liberta o. 9omo 'oi aceito5 :oi considerado

blas'emo Bc'. Mc A,7=, louco e 'ora de si Bc'. Mc D,A1=, impostor Bc'. Mt A7,KD=, possesso Bc'. Mc D,AA7 @o 7,AH=, -erege Bc'. @o C,4C=, subversivo Bc'. Lc AD,A=. )e todos os modos 'oram contra, at+ decidirem sua li#uida o violenta Bc'. Mc D,K7 @o N,1C7 11,49.NH=. @esus entreviu a morte. *sta l-e pareceu -edionda e absurda Bc'. Mb N,7=, por#ue signi'icava a re$ei o, por parte dos $udeus, da o'erta libertadora de )eus. Mas en'rentou.se com ela com extrema coragem pessoal. 2 grande tenta o do Iets(mani mostra a pro'undidade da ang%stia de @esus e, ao mesmo tempo, sua resolu o6 ?2'asta de mim este clice7 mas n o se$a o #ue eu #uero, sen o o #ue Tu #ueres? BMc 14,DK par.=. Mesmo #ue n o entenda, o "ai o saber7 abandona.se totalmente 3 noite escura dentro da #ual tamb+m est presente o "ai de amor e bondade. 2 tenta o do Iets(mani perdura at+ no alto da cruz6 ?Meu )eus, meu )eus, por #ue me abandonas.te5? BMc 1N,D4=. ?Uma teologia #ue n o leva a s+rio o 'ato de #ue o :il-o de )eus se 'ez -omem, -omem 'raco, -omem mortal, sempre se escandalizar com a FdesesperanaF -umana de @esus. Mas sem essa escurid o n o se entenderia a totalidade da con'iana de @esus no "ai.? 1H 2 desesperana n o 'oi a %ltima atitude de @esus. *le se despo$a radicalmente de si mesmo e se entrega totalmente ao "ai6 ?"ai, em tuas m os entrego o meu esp,rito? BLc AD,4K=. @esus n o renunciou a um sentido absoluto, mesmo 'ace ao absurdo da morte con'erida ao inocente #ue s! amou. 9ontinuou a con'iar e a amar at+ o extremo Bc'. @o 1D,1=. 2 ressurrei o mostrou #ue con'iar assim na absoluta bondade do "ai n o + sem sentido. 2 >ida triun'ou sobre a morte e o 2mor sobre o !dio. 4isto se revelou totalmente #uem + )eus."ai.e.M e6 sua bondade n o se deixa vencer por nada7 ele pLde trans'ormar a cruz num camin-o e num sinal de liberta o. 4o camin-o de @esus de 4azar+, na vida, no so'rimento, na morte e na ressurrei o se revelou )eus assim como *le +. 2 experi(ncia de @esus 'oi o meio dessa revela o. 4ela n o se revelou apenas o "ai7 'oi.nos comunicado o mist+rio absoluto de )eus, subsistindo como "ai, :il-o e *sp,rito /anto. E o #ue consideraremos agora.
B)

A RE&ELA#$" DA NATURE5A 1NTIMA DE DEUS %"M"

%"MUN*$" DE PESS"AS NA EXPERI-N%IA DE =ESUS

E assente para a '+ #ue 'oi @esus 9risto #uem revelou o mist+rio central do cristianismo, a /ant,ssima Trindade, a comun- o do "ai, do :il-o e do *sp,rito /anto. )ada a import1ncia desse mist+rio, esperar,amos #ue 9risto nos comunicasse numa proposi o 'ormal6 ?*u vos ensino o mist+rio absoluto de )eus, uma natureza divina, subsistindo em tr(s "essoas6 "ai, :il-o e *sp,rito /anto.? 4ada disso encontramos no "rimeiro Testamento. 2s poucas '!rmulas trinitrias, particularmente Mateus AC,19 B?;de, pois, 'azei disc,pulos meus todos os povos, batizando.os em nome do "ai e do :il-o e do *sp,rito /anto?=, nunca intencionaram ensinar 'ormalmente uma doutrina sobre a Trindade. *st o sempre dentro de um outro contexto7 neste caso de Mateus AC,19, trata.se de um contexto missionrio e batismal. ;nicialmente o batismo era 'eito em nome do /en-or @esus Bc'. 2t C,1K7 19,N7 ; 9or 1,1D.1N=. Mas os catec%menos, na cate#uese batismal, aprendiam #ue pelo batismo )eus."ai enviaria a seus cora0es o *sp,rito de seu :il-o, a 'im de #ue pudessem exclamar com toda a con'iana6 ?2bba, "ai? BIl 4,K7 Gm C,1N=. 4essa breve '!rmula se re%nem todos os elementos reveladores da /ant,ssima Trindade. *ssa revela o n o se 'ez, entretanto, do modo #ue + comum para n!s, 'ormulando proposi0es verdadeiras e ensinando verdades conceptuais. & mist+rio trinitrio se

revelou no camin-o concreto, na palavra, na atividade e na paix o e ressurrei o de @esus 9risto. 2 re'lex o teol!gica posterior nos grandes conc,lios apenas explicitou numa linguagem pr!pria de seu tempo . a da 'iloso'ia grega com os conceitos de natureza e pessoa . a#uilo #ue $ est claro, mas numa outra linguagem, no "rimeiro Testamento e na gesta de @esus 9risto.1A 2 natureza ,ntima de )eus en#uanto "ai, :il-o e *sp,rito /anto se 'ez vis,vel em @esus de 4azar+. *m sua vida podemos ler a realidade trinitria, #ue n o + a comunica. o de uma curiosidade teol!gica, sem nada compreendermos dela, apenas #ue existe, sen o #ue nos + revelado algo #ue tem a ver com a compreens o pro'unda do universo e do ser -umano e #ue, por isso, est ligado 3 nossa salva o.

a) %o6o na ?ida de %ri:to :e re?elo7 a Sant>::i6a Trindade

*videntemente n o podemos descer a anlises minuciosas para iluminar o camin-o no #ual se deu a revela o trinitria. <asta.nos mostrar a estrutura do processo revelador. 2s re'lex0es acima nos descobriram a intimidade de @esus com o "ai.e.M e. "or um lado, @esus vive uma dist1ncia criacional de )eus."ai.e.M e, pois reza, invoca e louva o "ai Bc'. Mt 11,A7=7 espera e cr( nele com in'inita ternura expressa pela palavra A//a, "apaizin-o. /ente.se, pois, di'erente do "ai e permanentemente diante dele. "or outro, vive a experi(ncia de ser :il-o6 ?Tudo me 'oi entregue por meu "ai, e ningu+m con-ece o "ai sen o o :il-o e a#uele a #uem o :il-o #uiser revel.lo? BMct 11,A77 c'. Mc 1D,DA=. 9omporta.se como o representante de )eus, assumindo atitudes s! compat,veis com )eus, como perdoar pecados c corrigir ou abolir a Lei. "ossui uma consci(ncia messi1nica de tal 'orma n,tida #ue se entendia como o Libertador e condicionava a salva o 3 ades o a sua pessoa Bc'. Lc 1A,C.1H=. *le age n o s! em lugar de )eus, sen o #ue torna palpvel )eus mesmo, sua bondade e perd o. /ua intimidade com )eus."ai.e.M e era t o pro'unda #ue / o @o o podia mais tarde deixar o pr!prio @esus dizer6 ?*u e o "ai somos um? B1H,DH=. 4ota.se, pois, uma identidade e uma di'erena com o "ai. & :il-o revela o "ai. & "ai, por sua vez, revela o :il-o. *ste assume, como dissemos, atitudes divinas. *le exige '+ em sua pessoa. E verdade #ue essa '+ est #uase sempre relacionada com curas e milagres Bc'. Mc A,N7 N,D4.DK7 Lc 17,197 Mc 11,AD7 Mt 17,AH7 A1,A17 Lc 17,K=. Mas nessa '+ espel-a.se o evento revelador da Trindade, especialmente do :il-o em sua dimens o divina. & -omem desamparado e entregue 3 sua pr!pria sorte, v,tima de doenas ou de possess0es, cr( em @esus como #uem tem o poder de )eus #ue sana e salva, ressuscita e perdoa pecados. @esus por sua vez age como #uem tem em si autoridade divina. 4 o suplica para #ue o "ai 'aa o milagre7 ele age miraculosamente. "ercebe.se6 com @esus est presente o poder mesmo de )eus. & #ue era imposs,vel ao -omem, com @esus se torna poss,vel Bc'. Mc 1H,A7=. 2 revela o de @esus como :il-o n o est tanto numa 'ormula o dogmtica, mas encontra.se na atividade mesma de @esus. @esus age como :il-o de )eus #ue representa o "ai e est sempre em comun- o ,ntima com o "ai. 4a atua o do @esus terrestre se revelou tamb+m a terceira "essoa da /ant,ssima Trindade, o *sp,rito /anto. *mbora #uase nunca 'ale do *sp,rito Bexceto os textos $oaneus e apenas uma vez em Mc D,AC.DH=, 9risto aparece nos evangel-os como um carismtico, c-eio do *sp,rito, desde o seu primeiro momento de exist(ncia Bc'. Lc 1,DA.DC.4A.44=. E sobre ele #ue o *sp,rito desce em 'orma corporal Bpomba= e o

consagra para a miss o libertadora BMc 1,9.11 par.=. 4 o + @esus #ue escol-e o camin-o6 o *sp,rito o impele para o deserto Bc'. Mc 1,1A= e o leva a 'azer milagres, curas e gestos libertadores6 ?/e + pelo *sp,rito de )eus #ue expulso os demLnios, ent o + sinal de #ue c-egou a v!s o Geino de )eus? BMt 1A,AC=. 2 virtude divina B*sp,rito= #ue operava em @esus + c-amada de e$us;a Bsoberania= ou d;na!is Bpoder= Bc'. Mc 1,AA.A77 A,1H7 N,DH7 K,A.1N7 9,D97 1A,A47 Lc N,17=. E uma 'ora #ue sai de @esus, surpreendendo a ele pr!prio6 ?* logo @esus percebeu em si mesmo #ue sa,ra dele uma 'ora (d;na!is#, voltou.se para o povo e perguntou6 F8uem tocou min-as vestes5F? BMc N,DH7 Lc C,4K=. Lucas comenta #ue ?todo o povo procurava toc.lo, pois uma 'ora sa,a dele e curava a todos? BK,19=. *ssa 'ora #ue + @esus, mas #ue ao mesmo tempo age independentemente dele, isso + a revela o da#uilo #ue depois, no "rimeiro Testamento, se c-amou de *sp,rito /anto como *sp,rito de @esus. >eri'ica.se tamb+m a#ui uma identidade e uma di'erena. 2 luz da experi(ncia da ressurrei o de @esus e do surgimento de 'enLmenos pneumticos nas primeiras comunidades crist s, a ;gre$a nascente explicitou mais e mais essa revela o da /ant,ssima Trindade, 'eita na vida e na obra de 9risto. "articularmente / o "aulo e / o @o o viram a unidade e a di'erena do %nico mist+rio do "ai, origem de toda a salva o. *le enviou seu :il-o para, na 'ora do *sp,rito /anto, libertar a cria o. 2o lado do "ai est sempre o :il-o. @unto com o "ai e o :il-o est o *sp,rito /anto como presena e realidade, percept,vel at+ pelos sentidos, pois se v(em pobres ouvindo a boa not,cia de sua liberta o, mudos 'alando, doentes sendo curados e mortos, ressuscitados, tudo isso na 'ora do *sp,rito de @esus.1D /er obra imensa da re'lex o teol!gica dos s+culos ;;; e ;> criar uma linguagem ade#uada para a cultura greco.latina, base de nossa cultura ocidental, #ue expressasse o #ue se realizou na experi(ncia de @esus de 4azar+ vivo, morto e ressuscitado. 2 experi(ncia da '+ contemplou o "ai, viu o :il-o e saboreou o *sp,rito /anto, autocomunicando.se por e em @esus. 9-amou aos Tr(s de )eus. 9om isso n o #uis multiplicar )eus, mas mostrar o carter de comun- o, presente na realidade divina. 2 ;gre$a antiga n o se apercebeu logo dos problemas #ue estavam a, implicados, especialmente como combinar a unidade com a trindade. /em a pretens o de apro'undar a #uest o, importa reter esta constata o6 a experi(ncia da '+ n o partiu da unidade de )eus. *xperimentou a diversidade em )eus. >iveu )eus como 'am,lia, como comun- o e inter.retro.rela o de "ai, :il-o e *sp,rito /anto. >enerou os Tr(s como )eus. 4 o especulou ainda em termos concisos o relacionamento entre eles. & credo elaborado nos conc,lios ecum(nicos de 4ic+ia BDAN= e 9onstantinopla BDC1= encontrou '!rmulas #ue se tornaram depois dogmas. & dogma bsico acerca da /ant,ssima Trindade reza assim6 em )eus - uma %nica natureza divina #ue subsiste em tr(s "essoas realmente distintas6 "ai, :il-o e *sp,rito /anto. *ssa 'ormula o abstrata n o #uer exprimir outra coisa sen o a#uilo #ue @esus experimentou6 #ue estava sempre em comun- o com o "ai, se sentia :il-o amado e #ue agia e 'alava com uma :ora #ue o tomava, o *sp,rito /anto. & importante n o + a'irmar os divinos Tr(s. ;sso at+ pode nos levar a uma -eresia, vale dizer, a um erro na compreens o da '+, a -eresia do trite,smo, como se -ouvesse tr(s deuses. 2 centralidade se encontra na rela o entre eles. 2s pr!prias palavras $ sup0em rela o. 2ssim, n o existe pai simplesmente. 2lgu+m + pai por#ue tem 'il-o. 4ingu+m + 'il-o simplesmente. E 'il-o por#ue tem pai. *sp,rito, no sentido originrio, signi'ica sopro. 4 o - sopro sem algu+m #ue assopre. & *sp,rito + o sopro do "ai para o :il-o e do :il-o para o "ai. 9omo se depreende, os Tr(s sempre v(m $untos e se

encontram eternamente entrelaados. *m outras palavras, dizer Trindade + dizer rela. o. 9omo disse o "apa @o o "aulo ;;, #uando esteve pela primeira vez na 2m+rica Latina em 1979, em "uebla, no M+xico6 ?2 natureza ,ntima de )eus n o + solid o, mas comun- o, por#ue )eus + 'am,lia, + "ai, :il-o e *sp,rito /anto.? *sse entrelaamento 'oi expresso pela tradi o teol!gica pela palavra grega pericorese que signi'ica ?a inter. retro.rela o entre as "essoas divinas?. *las s o distintas para poderem se relacionar. * essa rela o m%tua + t o pro'unda e radical #ue elas se uni'icam. *las 'icam um s! )eus.comun- o, um s! )eus.amor, um s! )eus.rela o. "recisamos superar a terminologia tradicional com a #ual se pretendia expressar a natureza ,ntima de )eus. *la +, para nossos ouvidos contempor1neos, demasiadamente 'ormal e abstrata. 4o n,vel da experi(ncia de '+ dir,amos de 'orma mais simples e compreens,vel6 )eus #ue est acima de n!s e #ue + nossa origem c-amamos de "ai.e. M e eternos7 )eus #ue est conosco e #ue se 'az compan-eiro de camin-ada se c-ama :il-o7 e )eus #ue -abita nosso interior como entusiasmo e criatividade se c-ama *sp,rito /anto. 9omo se depreende, n o s o tr(s deuses, mas o mesmo e %nico )eus. comun- o #ue atua em n!s e nos insere em sua rede de rela0es. )entro de n!s se realiza a eterna rela o de amor e de comun- o entre "ai, :il-o e *sp,rito /anto. )eus. comun- o est sempre nascendo dentro de n!s. "or isso somos seres de comun- o e um n! permanente de rela0es. 4o in,cio de tudo est a comun- o dos divinos Tr(s. Mas compreendamos bem essa a'irma o. 4 o signi'ica #ue a comun- o + apenas uma realidade nossa. 4 o. E antes de tudo a realidade divina, pois )eus se mani'estou assim como ele mesmo +, vale dizer, como comun- o de "essoas. 14 )eus + concretamente "ai, :il-o e *sp,rito /anto. 4 o + primeiro uma unidade de natureza #ue depois se desdobra em trindade de pessoas. ;sso constituiria a -eresia modalista, segundo a #ual as divinas "essoas seriam apenas tr(s modos de dizer a mesma coisa, sempre id(ntica a si mesma. 2 doutrina da Trindade a'irma a di'erena entre as "essoas. Uma n o + a &utra. Mas *las est o sempre e eternamente em comun- o entre si. "or isso nada pr+.existe 3 Trindade. *la + a Gealidade Ultima e absolutamente originria. )esde toda a eternidade )eus borbul-a em ser, em amor e em comun- o como de uma %nica 'onte misteriosa #ue somente existe na 'orma de tr(s rios realmente di'erentes #ue comunicam a mesma gua e se c-amam "ai, :il-o e *sp,rito /anto.

B)A e8peri@ncia da Sant>::i6a Trindade e6 no::a e8peri@ncia !76ana

2ssevervamos anteriormente6 a revela o do mist+rio trinitrio n o + uma curiosidade7 diz.nos algo de de'initivamente importante sem o #ual n o realizar,amos nem compreender,amos de modo radical nossa pr!pria -umanidade. Y. Ga-ner, um dos maiores te!logos cat!licos do s+culo RR, a'irmava com acerto6 2 Trindade para n!s n o + puramente uma realidade #ue se possa apenas exprimir doutrinariamente. 2 Trindade mesma ocorre e! nossa e$istncia< como tal, ela pr!pria nos + dada, independentemente do 'ato de a *scritura nos comunicar sentenas a seu respeito. *ssas sentenas, ao contrrio, s o dirigidas a ns, $ustamente por#ue nos 'oi concedida essa realidade mesma, acerca da #ual se pro'erem as sentenas.1N )ito numa linguagem mais simples6 antes de estar em nossa cabea e em nosso cora o, a Trindade, o "ai, o :il-o e o *sp,rito /anto existiam em si e para si. *, ao criarem, passaram seu $ogo de rela0es para todo o universo e para todas as coisas inter.

retro.relacionadas entre si. "or isso, 3 semel-ana do )eus.Trindade.9omun- o, as coisas s o sempre umas pelas outras, com as outras e para as outras. *xatamente assim explica /anto 2gostin-o, o grande te!logo da re'lex o trinitria, as rela0es entre as divinas "essoas6 ?9ada uma das "essoas est em cada uma das outras, e todas em cada uma, e cada uma em todas, c todas est o em todas, e todas n o s o sen o um %nico )eus? B)e7 Tri!;ate, >;, 1H, 1A=. *nt o por#ue as "essoas divinas existiam antes, podem estar em n!s e morar dentro de n!s. /e, de 'ato, + assim, poderemos ent o experimentar a /ant,ssima Trindade5 L!gico #ue podemos experimentar a /ant,ssima TrindadeJ *xperimentamos a Trindade /ant,ssima atrav+s da#uilo #ue a teologia c-ama de vest,gios trinitrios inscritos na cria o e na exist(ncia -umana. @ consideramos a experi(ncia de )eus.Trindade. 9omun- o no processo c!smico da cria o. 4 o precisamos voltar a ela. 8ueremos, sim, nos restringir 3 experi(ncia da Trindade na exist(ncia -umana. *sta se apresenta como uma unidade.,onte originria. 9ontinuamente ela est se revelando, abrindo.se como intelig(ncia e verdade de si mesma, comunicando.se por palavras, por gestos e por todo um universo simb!lico e expressivo. *is a mani'esta o do :il-o em n!s. *m seguida, a vida + dotada de vontade #ue se mani'esta pela decis o, pela capacidade de realizar um pro$eto, pela paix o e principalmente pelo amar. *is a revela o do *sp,rito /anto em n!s. Tanto a express o de si mesma como verdade #uanto o amor 'luem incessantemente do 'undo misterioso da pessoa, 'onte de todos os gestos de comunica o e express o. *sse 'undo misterioso + a apari o do "ai em nossa exist(ncia. &ra, n o dizemos #ue o "ai + por de'ini o 2#uele #ue n o tem origem, o ;nvis,vel do #ual tudo promana5 Tal realidade se re'lete no mist+rio da pessoa, ela mesma pura gratuidade do estar a,, mas da #ual emanam todas as express0es. & :il-o + a "alavra, por ess(ncia a revela o do "ai, a#uele #ue torna o "ai vis,vel Bc'.@o 14,9=. & re'lexo do :il-o em n!s + a palavra e a intelig(ncia pelas #uais se revela a pro'undidade da nossa personalidade. & *sp,rito /anto + o /opro do "ai e do :il-o, o 2mor #ue enlaa os dois. *sse amor se re'lete em nosso amor #ue inunda nossa vontade e #ue nos impulsa para a uni o com a pessoa amada. 9on-ecimento e amor s o distintos no ser -umano, contudo, constituem a unidade 'undamental da pessoa, por#uanto n o + a intelig(ncia que con-ece, nem a vontade que ama, mas a pessoa #ue con-ece e ama. 2 intelig(ncia + intelig(ncia, mas em sua %ltima radicalidade + 'igurativa da ;ntelig(ncia do "ai #ue + o :il-o. 2 vontade + vontade, mas num sentido pro'undo + tamb+m 'igurativa da >ontade do "ai e do :il-o #ue + o *sp,rito /anto. :azer a experi(ncia radical da pessoa + 'azer a experi(ncia da#uela realidade #ue a Trindade signi'ica6 o mist+rio absoluto sem origem, acima de n!s B"ai=, #ue se aproxima de nossa exist(ncia para camin-ar conosco B:il-o= e #ue -abita dentro de n!s dando.nos 'ora, luz e amor, 'azendo #ue tudo se$a vivido em comun- o com a Trindade, com os outros e com o universo B*sp,rito /anto=. 2ten o6 n o deduzimos a /ant,ssima Trindade do ser -umano. "elo contrrio, tentamos compreender o ser -umano a partir da Trindade. *la + a 'undante, o ser -u. mano + 'undado. 2, ele se desvelou como mani'esta o e sacramento da pr!pria Trindade dentro da cria o. 9ada "essoa divina se auto.comunica e se revela ao ser -umano assim como cada uma +6 a auto.comunica o do "ai como `tero e :onte da #ual tudo promana7 a autocomunica o do :il-o como ;ntelig(ncia, >erdade e Mani'esta o do "ai #ue se re'lete no -omem.intelig(ncia, como verdade e

desvelamento do mist+rio da pessoa7 a auto.comunica o do *sp,rito /anto como 2mor e /opro do "ai e do :il-o se con'igura no -omem.vontade como amor e vontade de uni'ica o com o todo e com cada ser. Tudo isso constitui a unidade do mist+rio de )eus, bem como a unidade do mist+rio da pessoa. 2 '+ crist n o + uma religi o de mist+rios, mas de um %nico mist+rio6 do mist+rio da auto.doa o de )eus 3 cria o, especi'icamente, ao ser -umano, como :onte, como >erdade e como 2mor. Urge recuperar a simplicidade originria do cristianismo. 4o ano 1CH o mrtir /peratus respondeu ao cLnsul /aturnino #ue l-e perguntara o #ue era o cristianismo6 ?/i tran#uillas praebueris aures tuas, dico !3steriu! si!pli' citatis.=1> Traduzindo6 ?/e mantiveres os ouvidos atentos, revelar.te.ei o mist+rio da simplicidade.? 8ue + esse mist+rio da simplicidade5 Mist+rio da simplicidade 'oi o nome inicial do cristianismo para testemun-ar o )eus.9omun- o #ue entrou em nossa -ist!ria como "ai.e.M e amorosos, #ue nos entregaram seu :il-o encarnado em nossa mis+ria na 'ora e no entusiasmo do *sp,rito vivi'icador. 2 experi(ncia verdadeira e pro'unda de )eus nos convence de #uanto esse mist+rio divino + simples e como simples n o deve ser nosso relacionamento com ele. *, no 'undo, a experi(ncia radical de n!s mesmos, aberta e possibilitada por )eus mesmo. Gadicalmente somos 'eitos )eus por participa o.

A EXPERI-N%IA DE DEUS NA &IDA RELI(I"SA

M pessoas, em todas as religi0es e principalmente no cristianismo, #ue se dedicam de corpo, alma e tempo inteiro a cultivar o espao de )eus dentro de sua vida. / o os religiosos e religiosas, aos mil-ares do mundo. & "apa "aulo >; os c-amou ousadamente de ?especialistas de )eus?1. / o especialistas n o tanto por#ue estudaram as coisas divinas, mas por#ue se entregaram 3 experi(ncia viva de )eus. /eu carisma pr!prio + con'erir centralidade 3 experi(ncia crist de )eus no seguimento de @esus 9risto, expressa pela consagra o p%blica Bos votos religiosos de pobreza, obedi(ncia e castidade= e vivendo em 'raternidades inseridas no mundo.A A) " CANTUS FIRMUS: A MEMARIA DE DEUS E DE =ESUS %RIST" )ar centralidade 3 experi(ncia de )eus no seguimento de @esus 9risto signi'ica colocar essa experi(ncia como o pro$eto 'undamental da vida, como o p!lo orientador de todas as atividades e o marco para todas as demais re'er(ncias. 2 mem!ria de )eus e de @esus 9risto constitui, para usar uma bela express o do grande te!logo protestante, mrtir da resist(ncia contra Mitler, )ietric- <on-Z''er, o canlus 7ir!us em torno do #ual cantam as outras vozes.D 2 partir de sua experi(ncia de )eus, o religioso e a religiosa contemplam o mundo, os -omens, as tare'as #ue devem assumir dentro da ;gre$a e da sociedade. & cultivo consciente do espao de )eus n o leva o religioso a 'ugir do mundo, mas a con'erir um colorido novo 3 sua rela o para com o mundo. /ua atitude 'undamental dever ser como a#uela de @esus 9risto, uma atitude contemplativa #ue l-e permite ver, viver e saborear em todas as coisas a presena misteriosa de )eus Trino. &s trabal-os #ue exe.

cutar, os enga$amentos #ue assumir, os gestos #ue esboar n o s o como os demais gestos, enga$amentos e trabal-os. /c 'or realmente aut(ntica, sua experi(ncia religiosa os colorir de uma 'orma #ue eles se tornam comunicadores e reveladores dessa experi(ncia de )eus.1 *ssa experi(ncia de )eus, para ser crist , vir calcada na experi(ncia de @esus 9risto. ;sso implicar n o somente a viv(ncia da extrema proximidade de )eus."ai.e. M e, mas tamb+m do acol-imento de toda a dimens o de sombras e de trevas #ue a vida presente pode apresentar. 2 sombra negra #ue sempre nos acompan-a tamb+m + camin-o de encontro com )eus7 a cruz + a 'orma dolorosa como nos encontramos com )eus, no completo despo$amento e na perda de todas as seguranas #ue t(m como contrapartida uma con'iana sem limites na#uele #ue pode trans'ormar a morte em vida e o vel-o em novo.
B)

DESERT" %"M" BUS%A D" PARA1S"

"ara manter 'irme o canto de )eus em sua vida, o religioso deve se submeter a uma cont,nua vigil1ncia, deve buscar com todo o cora o a inoc(ncia matinal perdida, ansiar pela puri'ica o do eu de tal 'orma #ue )eus n o ten-a apenas um lugar na vida, mas ocupe todos os lugares do cora o. 2 tradi o espiritual do &cidente c-amou a isso de deserto, #ue n o + uma categoria geogr'ica, mas espiritual. )eserto exprime o desnudamento interior, a liberta o de tudo o #ue possa apagar, o'uscar a mem!ria de )eus7 o controle sobre todas as imagens e conceitos #ue perturbem a interioridade ou possam 'azer concorr(ncia com o cantus 7ir!us e assim destruir o pro$eto 'undamental #ue + deixar )eus ser o %nico /en-or do cora o. *sse repouso din1mico da contempla o, o religioso e a religiosa o con#uistar o na medida em #ue se entregarem 3 ru!inatio ei Brumina o de )eus= pela ora o, pela medita o, pela vida do servio desinteressado e pelo diuturno es'oro de realizar a experi(ncia de )eus. >iver assim + entrar no para,so . n o o para,so geogr'ico do -omem adam,tico, mas o para,so dentro de si, #ue + a recupera o da reconcilia o e transpar(ncia do )ivino dentro do cora o. *ssa integra o constitu,a a $ustia original e 'oi perdida, ao largo do tempo, por#ue )eus deixou de ser o cantus 7ir!us. 9omo advertia T-omas Merton, o grande m,stico e escritor norte.americano dos meados do s+culo RR6 & para,so ainda n o + o c+u. & para,so n o + a meta 'inal da6 vida espiritual. E, em realidade, apenas uma volta ao in,cio. E comear de novo, gan-ar uma nova c-ance. & monge #ue conseguiu atingir a pureza de cora o e recuperou, em certa medida, a inoc(ncia perdida por 2d o, ainda n o terminou a viagem. *st apenas pronto para inici.la. *st pronto para um novo trabal-o ?#ue ol-o nen-um $amais viu, ouvido nen-um $amais ouviu, nem cora o nen-um pLde conceber?. 2 pureza do cora o + o 'im interm+dio da vida espiritual. & 'im %ltimo, por+m, + o reino de )eus.N 2ntecipar o reino e viver a partir das 'oras do s+culo 'uturo #ue $ se prenunciam dentro do presente, nisso consiste o modo caracter,stico do viver religioso.

%) A%"NSA(RA#$" RELI(I"SA %"M" EXPRESS$" DA RADI%ALIDADE DA EXPERI-N%IA DE DEUS

Todo crist o, por 'ora de sua consagra o batismal, + convocado a viver a experi(ncia de )eus #ue + sempre vida no e segundo o *sp,rito. & religioso e a religiosa se comprometem, na publicidade da ;gre$a, a viver essa vida de 'orma radical e pro'+tica. 2 consagra o pelos tr(s votos de pobreza, obedi(ncia e castidade #uerem detal-ar o %nico voto de consagra o a )eus. 1F 2 compreens o exclusivamente $ur,dica dos tr(s votos nos impediu de ver neles o carter pro'undamente unitrio da consagra o religiosa. *les nada mais intencionam sen o articular, no n,vel da vida concreta, o #ue signi'ica doar.se totalmente a )eus. *ssa doa o n o + abandono do mundo das coisas, da rela o -omem.mul-er e da inser o na sociedade. *la marca por um acento novo estas rela0es 'undamentais nas #uais se articula a vida -umana, voltada aos bens da terra Bpobreza=, 3 rela o -omem.mul-er Bcastidade= e 3 sociedade Bobedi(ncia=. 2 consagra o a )eus ilumina e orienta todas as demais rela0es, agora vistas a partir de )eus e reconduzidas continuamente a )eus. &s tr(s votos gan-am relev1ncia teol!gica, deixam de ser mero camin-o asc+tico e ren%ncia est!ica do mundo, se 'orem express o e conse#O(ncia da radicalidade do compromisso com )eus. 4 o signi'icam ren%ncia, mas uma reassun o nova de todas as coisas, recuperadas na sua orienta o original de reveladoras de )eus e de sendas para o encontro com )eus.
D)

EXPERI-N%IA DE DEUS NA .RATERNIDADE

2 experi(ncia crist de )eus, como $ consideramos, + inseparvel da experi(ncia do irm o. 8uem experimenta )eus como "ai, experimenta o outro como pr!ximo e o pr!ximo como irm o. & carter de 'raternidade da experi(ncia do religioso n o surge pelo 'ato de as pessoas estarem $untas, mas surge no interior da pr!pria experi(ncia de )eus, 'eita com o irm o por#ue em @esus 9risto, )eus mesmo se 'ez nosso irm o. ;sso implica em #ue toda a experi(ncia verdadeiramente crist + experi(ncia de comun- o e de solidariedade7 ao experimentar )eus, experimenta $untamente a comunidade dos 'i+is, a ;gre$a. 2 experi(ncia se insere dentro da vida dessa comunidade #ue n o comea com a min-a experi(ncia, mas #ue a possibilita, por#ue ela carrega dentro de sua -ist!ria a experi(ncia #ue @esus de 4azar+, cm sua santa -umanidade, 'ez de )eus."ai. e.M e e do *sp,rito /anto. 2 experi(ncia do religioso e da religiosa, por mais ,ntima e secreta #ue se$a, deve sempre se con'rontar com a experi(ncia de @esus 9risto e da -ist!ria de sua presena consciente pelos s+culos, isto +, a comunidade eclesial. 2 'orma concreta como isso geralmente acontece + a ades o do religioso e da religiosa ao carisma 'undacional de um camin-o de experi(ncia percorrido de 'orma exemplar pelos 'undadores de &rdens e 9ongrega0es. )entro dessa camin-ada concreta e tamb+m limitada se desvela o ilimitado de )eus e o inexaur,vel do mist+rio de 9risto e de sua presena no mundo.
E) EXPERI-N%IA DE EX%LU1D"

DEUS

NA INSER#$" N" MUND" D" P"BRE E D"

2 consagra o religiosa signi'ica uma reserva total da pessoa para )eus. Mas devemos entender corretamente essa reserva, pois )eus n o necessita para si pessoas e

coisas #ue se reservam a *le. & #ue *le necessita s o representantes seus no mundo. "or isso consagra o implica, al+m de reserva, miss o e envio em nome de )eus. )eus tira do mundo para atirar mais pro'undamente ao mundo. *ste n o + apenas o lugar da realiza o terrestre do ser -umano, tamb+m do religioso e da religiosa. E o lugar onde se veri'ica, isto +, 'ica verdadeira, a aut(ntica experi(ncia de )eus. )a, o religioso e a religiosa desempen-arem, no meio do mundo, uma 'un o pro'+tica e escatol!gica Bescatol!gico + tudo a#uilo #ue tem a ver com o destino terminal do ser -umano=6 vive de um 2bsoluto #ue se mostra como o /entido radical do mundo. 2 partir desse 2bsoluto deve relativizar todos os sucessos -ist!ricos. *les n o s o a meta ansiada, mas passo concreto na consecu o da meta. /e por um lado a consci(ncia do 'uturo absoluto exige uma relativiza o total, por outro, pede abraar seriamente o relativo, por#ue ele constitui o modo como o 2bsoluto se antecipa no tempo e se realiza nas media0es -ist!ricas. 2 concep o de um 'uturo absoluto n o 'ornece nen-um conte%do concreto, de'in,vel e categorizvel7 ela signi'ica antes uma maneira como devemos assumir os conte%dos da -ist!ria e nossos enga$amentos -umanos6 sempre mantendo.se no processo, sem pretender 'ixar.se de'initivamente nos ob$etivos bem logrados. )estarte a pessoa est sempre aberta para o Mais e para o :uturo a partir de onde o cora o pode esperar repouso e pleni'ica o. & -omem contempor1neo, manipulado pela sociedade de consumo e produ o, in'orma o e entretenimento, v(.se, muitas vezes, perdido no emaran-ado das solici. ta0es aos sentidos #ue l-e adv(m por todos os lados. /ente #ue dentro de sua vida se anuncia uma exig(ncia mais alta do #ue a#uela de apenas produzir, trabal-ar e consu. mir. 4 o temos apenas 'ome de p o, #ue + sacivel, como dizia um poeta, mas temos tamb+m 'ome de beleza, #ue + insacivel. 2 vida n o + apenas luta contra a morte. 4ela se desvela tamb+m a dimens o de sentido, de gratuidade, de celebra o e de alegria de viver. &ra, nesse espao se torna signi'icativa a linguagem do )ivino e do Mist+rio. & -omem moderno + racionalista e pro'anizado no 1mbito de suas rela0es com o mundo. Mas se mostra sens,vel para o Mist+rio do 2mor, para o sentido radical do viver, e pode acol-er o inacess,vel 3 discursividade da raz o. & religioso e a religiosa, no meio do mundo, deveriam ser um sinal pro'+tico e um sacramento desta dimens o na #ual )eus emerge como /entido e como a *sperana em plenitude. 9onstatamos 're#Oentemente #ue, #uando um religioso ou uma religiosa realmente se tornam seres de )eus, a eles acorrem as pessoas como a uma 'onte de onde $orra uma gua vivi'icadora. & religioso e a religiosa valem n o tanto por a#uilo #ue eles 'azem, mas muito mais por a#uilo #ue s o6 um sinal de )eus e do /entido buscado, consciente ou inconscientemente, por todos. 8ual + o lugar especial do inserimento religioso no mundo5 *xatamente l onde o mundo + #uestionado e onde ele se sente escandalizado e, por isso, l onde experimenta seus limites e sua poss,vel transcend(ncia. & pobre ocupa esse lugar. & pobre n o + apenas o carente de bens materiais. E antes de tudo o empobrecido, a#uele #ue 'oi 'eito in$ustamente pobre por mecanismos de explora o e exclus o social. 2 exist(ncia do pobre + m consci(ncia para a sociedade por#ue ele + um subproduto de sua ri#ueza e de seu arran$o. )iante do pobre a sociedade + convocada a se abrir e a se modi'icar de 'orma #ue n o -a$a mais lugar para a explora o do -omem pelo -omem. & ideal + gestar uma sociedade na #ual todos possam caber, a natureza inclu,da. * como estamos longe delaJ 2os pobres dirigiu 9risto, com predile o, sua mensagem. "or causa de seu elemento #uestionante, o pobre + por excel(ncia o sacramento de )eus e o enviado de @esus 9risto. "or causa disso, o lugar do religioso e da religiosa + do lado dos pobres. 2 partir do pobre devem se dirigir a todos os demais. *specialmente na 2m+rica Latina,

onde a pobreza + gritante e escandalosa, se imp0e uma releitura da vida religiosa, com a possibilidade de ser reinventada como um sinal pro'+tico e contestador deste tipo de sociedade, cu$o eixo estruturador n o + a pessoa -umana, mas a mercadoria, o mercado e a produ o de bens e servios materiais. /omente rec-aando a pobreza e 'azendo.se pobre para protestar contra ela, poder a ;gre$a Be com muito mais raz o a vida religiosa= pregar algo #ue l-e + pr!prio6 a ?pobreza espiritual?, #uer dizer, a abertura da pessoa e da -ist!ria ao 'uturo prometido por )eus. /! assim ela poder cumprir, -onestamente e com possibilidades de ser escu. tada, a 'un o pro'+tica de den%ncia de toda a in$ustia #ue atente contra o ser -umano e de an%ncio libertador de uma real 'raternidade -umana... "ara a ;gre$a latino.americana Be para a vida religiosa= essa + -o$e uma inilud,vel e urgente prova de autenticidade de sua miss o. 7 2 partir da import1ncia da experi(ncia de )eus do religioso e da religiosa, podemos criticamente perguntar6 2 vida religiosa, como institui o, coloca onde sua preocupa o 'undamental5 *m iniciar os religiosos e as religiosas nas tradi0es, nas piedades, nas constitui0es e nas regras de suas organiza0es ou na cria o de uma atmos'era 'avorvel a uma aut(ntica experi(ncia de )eus5 /em essa experi(ncia de )eus no seguimento de @esus 9risto, a observ1ncia da regra e dos camin-os de per'ei o constitui antes um mart,rio ingl!rio do #ue a express o concreta da experi(ncia de )eus.

%"N%LUS$"
4o termo de nossas re'lex0es uma coisa deve ter 'icado clara6 a experi(ncia de )eus n o constitui um luxo s! de alguns. E a condi o indispensvel para toda a vida de '+. Toda religi o assenta sobre uma experi(ncia de )eus. /em ela os dogmas s o andaimes r,gidos7 a moral, uma couraa opressora7 a ascese, um rio seco7 a prtica religiosa, um des'iar mon!tono de gestos estereotipados7 a devo o, um estratagema para combater o medo7 e as celebra0es, uma ostenta o vazia, sem a graa da vida interior. 2#uele #ue experimentou )eus penetrou no reino da m,stica. 2 m,stica n o assenta sobre o extraordinrio, mas + a trans'igura o do ordinrio. & m,stico + a#uele #ue se 'az sens,vel ao outro lado da realidade. E a#uele #ue capta o mist+rio Bde mist+rio vem m,stica= #ue se revela e vela em cada ser e em cada evento da -ist!ria pessoal e coletiva. * o capta por#ue aprendeu a ser sens,vel ao invis,vel aos ol-os, mas sens,vel ao cora o atento. "or isso, o m,stico aut(ntico n o tem segredos a contar ou con'id(ncias a 'azer. *le v( )eus em todas as coisas en#uanto est sempre em busca de um )eus sempre maior do #ue 2#uele #ue ele $ encontrou. "or#ue )eus perpassa toda a realidade, pode, por isso, ser percebido e experimentado nas mais di'erentes situa0es da vida e em cada detal-e da vida pessoal e do universo. *xperimentar )eus n o + pensar sobre )eus. E sentir )eus a partir do cora o puro e da mente sincera. *xperimentar )eus + tirar o mist+rio do universo do anonimato e con'erir.l-e um nome, o de nossa rever(ncia e de nosso a'eto. *xperimentar )eus + desenvolver a percep o bem.aventurada de #ue, na radicalidade de todas as coisas, )eus, universo, pessoa -umana s o um s! mist+rio de enternecimento e de amorosidade #ue irrompeu em nossa consci(ncia, 'ez -ist!ria, gan-ou sua linguagem e culminou na alegre celebra o da vida.

.i6B

PCg DE F re?i:<o de pala?ra:B