(LV) CONTOS DE N'NORI
(LV) CONTOS DE N'NORI
(LV) CONTOS DE N'NORI
quela hora
d
a manh muito cedo, as ruas encontravam-se desertas,
caminhavamos no meio da estrada, porque os passeios estavam cheios de
buracos, sem nos preocuparmos com as raras pessoas que iamos cruzando
n pelo caminho. De uma vez em quando, passava um automvel; tambm nos
cruzvamos com grupinhos de mulheres que levavam balaios na cabea
te cheios de pes quentes, que elas tinham acabado de comprar numa das
padarias novas do centro da cidade. Acho que era naquela ali ao p da cate-
!s dral, que as pessoas chamavam padaria senegalesa. Eles faziam bons pes.
l
s
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Comprmos alguns s senhoras e estavam bem quentnhos. As senhoras
compravam os pes para irem revender nos bairros populares: era assim que
muitas mes ajudavam os maridos a educar e sustentar os filhos.
Virei a cabea para a esquerda e disse: N'Djimb d s ao Ocanti
coro ela bonita.
Ela quem?
A Bamp!
Mas quem a Bamp?
Poxa, j no te lembras, aquela serpente com quem estava a danar, lem-
braste que ta mostrei na festa?
-
A sim! O nome dela Bamp?
- Sim, ela tem um nome muito giro, no ?
. Realmente u nome bonito, s no sei se vai ou no com a pessoa! .
Meteu-se o Ocanti na conversa.
-Pronto, j est o xico esperto com as suas manias de inquisies mal
intencionadas. Foi o N'Dimb quem falou para me defender .
-No ligues, eu sei que isso provocao, - falei nas calmas - e coro eu
no ligo s provocaes, s quero que t lhe expliques que ela uma dou
ra de mulher!
-Mas eu no disse que era feia ou bonita, porque no a vi, agora por amor
de Deus no vo comear o ano a embirrar com tudo que eu digo - defen
deu-se o Ocanti.
-Tudo bem, - acrescentou o N'Djimb, - diz-me s uma coisa, Ocanti,
sabes de onde advm o nome Bamp?
Ocanti aventurou-se a responder, meteu as duas mos nos bolsos e disse
que achava que era de origem balanta, mas que ao certo j no se lembrava
do significado, mas claro ele sabia, mas s que esquecera_
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ras
Vim em socorro do meu amigo que j se estava a lanar num longo dis-
ue
curso para mascarar a sua ignorncia na matria, engajando-se num terreno
falso: a palavra Bamp de origem pepel e no balanta,como ele pretendeu,
nti
e significa "quer mas no obtm" ou seja e misli ma i colcha.
n-
- Sim senhor, - lanou o N'Djimb, - parabns, ests a fazer progressos,
N'Daka, para ser sincero nem eu sabia, s estava a crer meter-me com o
Ocanti, mas t saiste-nos c um par de ases, no Ocanti?
-
A sim! Mesmo eu que falo pepel fluentemente, no sabia, mas como
tinha vergonha de dizer que no conhecia o significado de Bamp na minha
lngua matera , estava a tentar dar-te a volta para me fazer de importante,
! -
mas aqui o apaixonado, deixou-nos cabisbaixos.
a
Parem l com isso, - resolvi cortar a conversa, porque seno ia ser alvo de
gozo at chegarmos a casa. - Ela tem mesmo algo de diferente das outras
u
meninas I se ouvissem a sua voz, to meiga, os seus olhos ... Parece que que-
1-
rem falar, a maneira como olhou para mim quando lhe perguntei o seu
nome ...
lr
1-
Larguei os ombros dos meus dois amigos, dei dois passos rpidos em
frente, virei para eles e comecei a caminhar de costas ao mesmo tempo que
"
explicava e gesticulava com os dois braos no ar, olhando fixamente para os
meus amigos que estavam muito intrigados com o meu entusiasmo e a
tamanha paixo que brilhava nos meus olhos, paixo por uma mulher que
e
s sabia o nome dela, onde trabalha e que me tinha marcado um encontro
a
para segunda-feira, quer dizer, dentro de trs dias, depois do horrio labo
ral normal dos funcionrios pblicos.
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Mas para m, todos os detalhes eram sinais importantes de que aquela
era a mulher com que sempre sonhei, j me sentia feliz s de pensar nela,
imaginava os seus lbios carudos colados aos meus; s de pensar nisso j
tinha gua na boca, poder abraa-la com fora mas sem a sufocar, nem
machucar a minha jia, o meu tesouro ...
o N'Djimb e o Ocanti olhavam incrdulos para m, parecia-lhes que
eu estava a representar uma pea de teatro, faziam mmicas explicativas
para cada palavra de amor que tirava da boca, o meu ar era to convincen
te, que nenhum deles se aventurou a contrariar ou a fazer comentrios a pro
psito das grandes declaraes do meu corao, que visivelmente estava a
treinar-me para o grande dia do encontro na esquina do Banco Nacional.
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tela
Ia,
III
)
j
Primeira segunda-feira do ms de Janeiro, o trio do Liceu parecia uma
em
passarela de modas: as alunas estavam trajadas de roupas novas e os rapa
zes tambm no se faziam de rogados, era como se a festa do Natal e do fim
do Ano continuasse no Liceu Nacional, isso ia durar uma semana, seme-
'ue
Ihana dos outros anos.
'as
m-
O Ocanti e o N'Djimb olhavam furtivamente para o relgio, ao mesmo
:0-
tempo que apreciavam o vai e vem no corredor, algumas pessoas estavam
I a
paradas em frente das portas das suas respectivas salas de aulas, eram gru
pos de cinco ou sete pessoas, a maioria j estava dentro das salas espera do
professor. A campainha tinha acabado de tocar, mas at ento ningum
ainda me tinha visto. O professor devia estar a chegar de um momento a
outro.
O Ocanti sempre mais agitado, disse para O N'Djimb: - Mas onde E que
se meteu o N'Djaka, ele que nunca falta as aulas?!
-
O N'D
j
imb rematou, e
logo hoje no primeiro dia de aulas, depois das frias, no nada bonito, isto
falta de disciplina.
Ocanti filho de um Combatente da Liberdade da Ptria, nasceu na zona
libertada antes da independncia, foi aluno da Escola Piloto, onde lhe foi
inculcada uma grande noo de disciplina colectiva, um respeito e solidari
edade entre os condiscpulos, sobretudo um grande esprito de camarada
gem.
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Lembro-me uma vez, ele contou-me uma histria que me marcou muito,
eu que nasci na cidade de Bissau, era uma coisa jamais imaginvel. Disse-me
que na Escola Piloto todos tnham uma venerao pelo Amcar Cabral, que
tambm fazia tudo por tudo para ser admirado e amado pelas crianas. Foi
ele quem criou a Escola Piloto durante a Luta de Libertao Nacional, isso
foi em 1965, na sequncia do Congresso de Cassac, em 1964.
No decorrer deste histrico congresso do PAIGC, Cabral fixou coro
objectivo a educao dos pioneiros, com vista a superar a falta de quadros
nas fleiras do Partido, entre outros objectivos, e a partir da o ensino passou
a ser um dos principais motores da mquina do Partido, logo a seguir s
Foras Armadas Revolucionrias do Povo (F).
Cabral dizia que a Luta s podia ir avante com muita disciplina entre os
camaradas dirigentes do Partido e nas fileiras das FARP, mas que tambm
no se devia esquecer que as crianas que so os herdeiros naturais e leg
timos da nossa luta, foi assim que escreveu a palavra de ordem que todos
afeiomos: As crianas da nossa terra so as fores da nossa luta.
E coro estava a dizer, a histria que o Ocanti me contou assim: Cada fim
de ano lectivo, fazia-se uma seleco de pioneiros mais disciplinados e com
melhor aproveitamento escolar para uma visita de estudo e formao mili
tante num dos paises dos seus sonhos, URSS oU Cuba. Um dia chegou a vez
do Ocanti ser contemplado com ura visita URSS, ele contou-me que pas
sou dois dias sem dormir quando lhe foi anunciada a deciso, e quando che
gou o dia da partida, pensou que estava a sonhar, nunca tinha visto um avio
de perto, no seu subconsciente tinha uma verdadeira averso aos avies que
eram ura terrvel mquina de matar, isso porque tinha sempre presente na
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ito, alma os bombardeamentos dos avles dos colonialistas portugueses que lar-
me gavam bombas napalms, que causavam muitas baixas aos Combatentes da
jue Liberdade da Ptria e a populao civil, incluindo crianas e mulheres.
Foi
5S0 Foi ento com o corao nas mos que ele caminhou silenciosamente para
o grande pssaro de ferro, seguindo as pegadas dos camaradas que marcha
vam em fla indiana sua frente. Estavam todos vestidos de fardas novas
no dos pioneiros, com um leno amarelo no pescoo, mas a parte da histria do
:os Ocanti que me surprendeu mais foi que, uma vez postos l na URS , foram
ou acolhidos por uma fanarra dos pequenos soldados vermelhos, depois foram
s encaminhados para u grande autocarro verde caqui, com uma estrela ver
melha pintada na porta da frente.
os Levaram-nos para u Centro de Acolhimento especialmente construido
m para receber os pequenos camaradas aficanos vindos da