Dor em Reumatologia
Dor em Reumatologia
Dor em Reumatologia
Autores:
Jos Canas da Si l va
Vera Las
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A Biblioteca da Dor uma iniciativa editorial que se prope contribuir para um
maior esclarecimento de todas as questes que a problemtica da dor coloca, no
apenas aos profissionais mais directamente envolvidos na sua abordagem como
tambm queles que por algum motivo se possam interessar pelo assunto.
A escassez de publicaes, em lngua portuguesa, sobre este tema, no tem
servido os propsitos de divulgao e de formao que todos os profissionais
da rea tm reclamado, muito especialmente apresentando caractersticas de
publicao regular, com formato de fcil transporte e abordando as mais diferentes
matrias relacionadas com ele.
O desafio que agora se lana, precisamente o de provar que no faltam no
nosso pas autores de qualidade e com experincia suficiente para garantirem a
qualidade desta obra, bem como patrocinadores que vejam nela o mesmo interesse
que os profissionais e se sintam compensados pelo apoio que vierem a prestar.
Nos vrios volumes que ao longo do tempo vierem a ser publicados, podero
ser encontradas respostas para as vrias razes do inadequado tratamento da dor,
para o desinteresse que tem caracterizado a falta de apoio ao aparecimento de
novas Unidades e ao desenvolvimento das existentes, para as insuficincias de pre-
parao de muitos dos profissionais que lidam com ela e at para alguns dos mitos
e preconceitos que caracterizam a forma como a sociedade encara o problema e
as respectivas solues teraputicas, principalmente o uso de opiides.
Na Biblioteca da Dor, o rigor ser uma exigncia e a utilidade um objectivo.
B i b l i o t e c a d a
Coordenador: Dr. Jos Manuel Caseiro
Com mais de 150 trabalhos pu-
blicados em Revistas Nacionais e
Estrangeiros e mais de 300 comu-
nicaes cientificas em Congressos
e Reunies Mdicas, seria imposs-
vel nestas parcas linhas dar uma
viso global do curriculum vitae
do Dr. Jos Canas da Silva e da sua
importncia no contexto da espe-
cialidade que abraou.
Nascido em Lisboa onde se licen-
ciou em 1975, fez a sua formao
em Reumatologia no Hospital de
Santa Maria, sendo Especialista
em Reumatologia desde 1986 e
possuindo ainda a competncia
em Medicina Farmacutica pela
Ordem dos Mdicos.
O Dr. Jos Canas da Silva ac-
tualmente Chefe de Servio de
Reumatologia e Director do Ser-
vio de Reumatologia do Hospital
Garcia de Orta.
Foi Bolseiro dos Servios Cultu-
rais da Embaixada de Frana no
servio de Reumatologia do Hos-
pital Hotel-Dieu em Toulouse,
Frana, e foi Presidente da Dire-
co de Sociedade Portuguesa de
Doenas sseas Metablicas
(SPODOM), Vice-Presidente da So-
ciedade Portuguesa de Reumato-
logia (SPR) e Presidente da Dire-
co do Colgio de Especialidade
de Reumatologia.
Fez parte dos conselhos cientficos
dos Congressos Europeus de Reu-
matologia (EULAR) de 2002 a 2004 e
do Congresso de Sociedade Francesa
de Reumatologia de 2002.
Dirige actualmente a Revista
Geriatrics e Preside ao Conselho
Cientifico da Revista Patient Care.
Por tudo o que se mencionou, foi
uma grande honra para a Bibliote-
ca da Dor contar com a sua pre-
sena como editor do volume de-
dicado Dor em Reumatologia.
Ttulos j publicados
na Biblioteca da DOR:
FisiopatologiadaDor
Jos Manuel Castro Lopes
AnalgesiaemObstetrcia
Jos Antnio Bismark
ASegundaNavegao.
AspectosClnicosdatica
naDorOncolgica
Manuel Silvrio Marques
DorNeuroptica
Maria da Luz Quintal
AOrganizaodaAnalgesia
doPs-Operatrio
Jos Manuel Caseiro
Opiides
Lus Medeiros
MultidisciplinaridadeeOrganizao
dasUnidadesdeDorCrnica
Zeferino Bastos
Cefaleias
Arantes Gonalves
AViaEpiduralemAnalgesia
Ps-Operatria
Pais Martins
Anestsicos Locais
Lucindo Ormonde
ProtocolosemAnalgesia
Ps-Operatria
Maria Jos Garcia
Outros ttulos a publicar
na Biblioteca da DOR:
TcnicasdeIntervenono
TratamentodaDor
F. Duarte Correia
A Dra. Vera Regina Las especia-
lista em Reumatologia pela Socie-
dade Brasileira de Reumatologia e
Associao Mdica Brasileira, des-
de 1983, e pela nossa Ordem dos
Mdicos desde 1992.
Desde 1984 que exerce no Insti-
tuto de Reumatologia, onde foi
contratada a partir de 1992, tendo
fundado, em 1997, e coordenado
at 2004, o Grupo de Trabalho e
Estudos da Dor Crnica Reumato-
lgica, da Sociedade Portuguesa
de Reumatologia.
Integrou a Direco Clnica do
IPR como Chefe do Sector da Con-
sulta de 1996 a 1998 e foi Vogal da
Direco no trinio de 2002/2004.
Tem tido uma incessante e re-
conhecida actividade em prol da
Dor, tendo, entre outras iniciativas,
participado como investigadora
principal em ensaios clnicos de
diversos frmacos na rea da Reu-
matologia e da Dor Crnica; foi
ainda formadora do Curso Pain da
Fundao Grunenthal desde
2006 e concluiu o Curso de Espe-
cializao em Cincias da Dor da
FML-IFA 2005/2006 com 17 valo-
res, iniciando o Mestrado em Cin-
cias da Dor da FML-IFA em Maro
de 2007.
Coordena desde Fevereiro de 2007
a Consulta de Dor Crnica muscu-
loesqueltica do IPR e presidiu s
XIV Jornadas do IPR em 2006.
Com larga experincia na orien-
tao e formao de internos de
diversas reas como Medicina Fa-
miliar, Fisiatria e at alunos fina-
listas de Psicologia.
Sendo natural o convite que for-
mulmos Dra. Vera Las para ser
co-editora neste volume da Biblio-
teca da Dor, a realidade veio a
mostrar como se revelou decisiva
a sua colaborao.
O Dr. LucIndo Ormonde o ac-
tua PresIdente da SocIedade Por-
tuguesa de AnestesIoogIa e, tam-
bm, a nve nacIona, uma das
fIguras de referncIa nas reas
que ee prprIo h muIto defInIu
como do seu Interesse: a AnestesIa
para CIrurgIa Vascuar e para Obs-
tetrcIa, a MedIcIna da Dor e a
Gesto em Sade.
LIcencIado em MedIcIna pea
Iacudade de CIncIas MdIcas,
possuIdor de um vasto currcuo,
tanto na rea assIstencIa como
na acadmIca e em ttuos que o
coocam na prImeIra Inha dos
que maIs tm, dentro e fora do
Pas, prestIgIado a sua LspecIaI-
dade.
Na vertente assIstencIa, as-
sIstente graduado do ServIo de
AnestesIoogIa do HospIta de
Santa MarIa, onde responsve
pea rea de AnestesIa em CIrur-
gIa Vascuar, Integra a UnIdade
de Dor CrnIca, a SubcomIsso
HospItaar de IarmcIa para a
Dor e a ComIsso de HumanI-
zao HospItaar.
L tambm coordenador do De-
partamento de ObstetrIcIa do Hos-
pIta da Cruz Vermeha.
Na vertente acadmIca, assIs-
tente convIdado da Iacudade de
MedIcIna de LIsboa, coordenador
do GabInete de Mestrados e
Doutoramentos da Iacudade de
MedIcIna de LIsboa, representante
da Area de Iormao em Dor da
IML junto do MInIstrIo da Sade
e coordena o Curso de Ps-Gra-
duao em CIncIas da Dor, da
IML. Coordenou aInda o edIes
do Curso de UrgncIas HospItaa-
res da IML.
De entre os seus ttuos maIs
sIgnIfIcatIvos, para am da j
mencIonada presIdncIa da SocIe-
dade Portuguesa de AnestesIoo-
gIa, Integrou o #OUNCIL da SocIeda-
de LuropeIa de AnestesIoogIa
Ttulos j publicados
na Biblioteca da DOR:
Fisiopatologia da Dor
Jos Manuel Castro Lopes
Analgesia em Obstetrcia
Jos Antnio Bismark
A Segunda Navegao.
Aspectos Clnicos da tica
na Dor Oncolgica
Manuel Silvrio Marques
Dor Neuroptica
Maria da Luz Quintal
A Organizao da Analgesia
do Ps-Operatrio
Jos Manuel Caseiro
Opiides
Lus Medeiros
Multidisciplinaridade e Organizao
das Unidades de Dor Crnica
Zeferino Bastos
Cefaleias
Arantes Gonalves
AVia Epidural em Analgesia
Ps-Operatria
Pais Martins
Outros ttulos a publicar
na Biblioteca da DOR:
Protocolos em Analgesia
Ps-Operatria
Maria Jos Garcia
(LSA), presIdIu ao Congresso da
LSA reaIzado em !unho de zooq
em LIsboa, Integra a DIreco do
Cube de AnestesIa kegIona, coor-
dena a Seco kegIona Su do Co-
gIo de AnestesIoogIa da Ordem
dos MdIcos e adquIrIu a Compe-
tncIa em Gesto em Sade pea
Ordem dos MdIcos.
Fm !893, sar. .|a !' c.. Para../am|
.aaaa/ /rma a|.a/.a (Ia M.vr/a)
Fm 2003, sar. .|a !' c.. Para../am|
.aaaa/ /rma /aj../ac.| (Br/s/|-Mv.rs Sa/||)
3.852.839,66
10 ng/ nl
so/uo ara erfuso PAHACETAmOL
0 p||me||o e uu|co Pa|acelamo| lujeclve|
Ginpleenente una Qranoe incvac
Dor em Reumatologia
Jos Canas da Silva
Chefe de Servio de Reumatologia
Director do Servio de Reumatologia
Hospital de Garcia de Orta, EPE, Almada
Vera Las
Especialista em Reumatologia
IPR, Lisboa
2007 Permanyer Portugal
Av. Duque dvila, 92, 7. E - 1050-084 Lisboa
Tel.: 21 315 60 81 Fax: 21 330 42 96
E-mail: [email protected]
ISBN de coleco: 972-733-133-5
ISBN: 978-972-733-240-4
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qualquer outro mtodo. Todos os comentrios e opinies publicados so da responsabilidade exclusiva dos seus
autores.
Prefcio
A abordagem da Dor uma parte major da clnica reumatolgica e
conhece-se que a dor musculoesqueltica tem uma elevada prevalncia
em todo o mundo, aumentando com a idade.
Por outro lado, toda a clnica da dor crnica tende a ser to subjec-
tiva como ela prpria, no obedecendo ao tradicional modelo biomdi-
co, em que os testes laboratoriais e outros exames complementares de
diagnstico permitem chegar mltiplas vezes ao diagnstico.
Embora a especialidade de Reumatologia utilize, na maioria das
situaes clnicas, aquele tradicional modelo biomdico, tambm tem
que conviver com a subjectividade da dor para poder apreciar as varia-
es relacionadas com o nvel lgico que ocorre durante longos pero-
dos de tempo em mltiplas doenas reumatolgicas, pelo que, nesta
matria, ter que se basear exclusivamente nos relatos do doente, sem
qualquer apoio clnico laboratorial, recorrendo para o efeito a toda a
panplia de inquritos e de escalas de avaliao que as Unidades de
Dor utilizam.
Da o parecer-nos de fundamental importncia o contributo da ex-
perincia dos reumatologistas para a indispensvel multidisciplinarida-
de que aquelas Unidades reclamam.
Confessamos sempre nos ter parecido estranho que, segundo os
nmeros conhecidos de 2005, em cerca de 7.000 membros que se en-
contram inscritos na IASP (International Association for the Study of
Pain) apenas 70 sejam de reumatologistas, da mesma forma que, tanto
quanto podemos saber, tambm na congnere portuguesa APED (Asso-
ciao Portuguesa para o Estudo da Dor) rarssima a sua presena.
Por isso, h muito que mantemos a preocupao de no se perder
o dilogo entre os reumatologistas e os restantes especialistas que se
ocupam da Medicina da Dor.
Demonstrmo-lo quando colabormos na comemorao do Dia
Nacional de Luta contra a Dor no ano 2000, na cidade do Porto, elegen-
do como tema as lombalgias que contou com uma presena marcante da
Reumatologia, para alm, obviamente, de outras especialidades.
.
Porm, ainda no existem na literatura ensaios clnicos controlados e aleatrios
que comprovem a eficcia e a relao risco/benefcio do uso prolongado de
opiides nas doenas reumticas.
A Sociedade Americana de Geriatria define guidelines no tratamento da dor
em idosos, em 1998, e indica o uso de opiides na dor severa
. O Colgio Ame-
ricano de Reumatologia em 2000, emite tambm guidelines no tratamento da
osteoartrose das ancas e dos joelhos, indicando o uso de tramadol em doentes
com dor moderada a severa e que tenham contra-indicaes para uso de AINE
tradicionais ou inibidores selectivos da COX-2
5
.
Os fantasmas e os tabus que acompanhavam a histria dos opiides tm sido
desmontados pela evidncia cientfica que define claramente os seus mecanis-
mos de aco e efeitos adversos. A segurana da sua utilizao e o sucesso
de algumas apresentaes de uso prolongado somam-se no sentido da qualidade de
vida do doente
6
. O acompanhamento protocolado do doente d ao profissional
de sade a segurana necessria para na prescrio. Desta maneira cumpre-se
o binmio mdico-doente.
Bibliografia
1. Coelho P, Las V. A dor em Reumatologia. Qual a sua importncia? Grupo de Estudo da Dor da Socie-
dade Portuguesa de Reumatologia. Acta Reum Port 2001;26:1-9.
2. Fitzcharles M, Almahrezi A, Shir Y. Pain: understanding and challenges for the rheumatologist. Arthri-
tis Rheum 2005;52:685-92.
. Caudill-Slosberg MA, Schwartz LM, Woloshin S. Office visits and analgesic prescriptions for muscu-
loskeletal pain in US: 1980 vs. 2000. Pain 200;109:51-9.
. American Geriatrics Society Clinical Practice Guidelines. The Management of Chronic Pain in Older
Persons. Geriatrics 1998;5 Suppl :S6-7.
5. American College of Rheumatology Subcommittee on Osteoarthritis Guidelines. Arthritis Rheum
2000;(9):1905-15.
Teraputica
Por haver falncia dos AINE em dose mxima e actividade inflamatria intensa,
a corticoterapia est indicada nesta situao, no entanto em baixa dose devido
patologia associada da doente, por exemplo: prednisolona 10 mg/dia.
A doente tem indicao ainda para a utilizao de analgsico simples como
por exemplo o paracetamol 1 g 6/6 horas no mximo, podendo ou no utilizar-se
a associao a um opiide fraco como o tramadol. A teraputica de fundo pode
ter de ser reavaliada caso no haja rpida melhoria.
Evoluo clnica
Trs dias depois, a doente referia melhoria clnica, com artrite apenas dos pu-
nhos mas mantinha dor intensa (EVA: 70), apesar da associao do paracetamol
ao tramadol.
No havendo contra-indicao sua utilizao, o recurso a opiceos fortes
como por exemplo a buprenorfina ou o fentanil transdrmico est indicado
nesta situao, durante um curto perodo.
A doente iniciou buprenorfina transdrmica 25 g/h de trs em trs dias
associado a um laxante.
Aps uma semana, a doente referia melhoria clnica significativa (EVA: 20)
e respondeu buprenorfina, que suspendeu aps alguns dias mantenendo-se
clnicamente bem.
Caso clnico 3
Histria actual
Doente sexo feminino, 75 anos de idade, domstica.
Refere gonalgia esquerda, com cerca de cinco anos de evoluo, de ritmo
mecnico e com incapacidade funcional marcada nos ltimos oito dias. A doen-
te refere igualmente dorsolombalgia crnica de agravamento recente.
Recorreu ao seu mdico assistente que colocou o diagnstico de artrose do
joelho esquerdo e iniciou ibuprofeno, responsvel pelo aparecimento de epigas-
tralgias intensas. A doente parou a teraputica prescrita e refere agravamento
do quadro clnico.
Nega febre ou qualquer outra sintomatologia acompanhante.
Antecedentes pessoais
Diabetes mellitus medicada com antidiabticos orais.
Hipertenso arterial moderada e bem controlada com um diurtico.
Observao
Apirtica. Genus varus marcado esquerda, com artrite do joelho esquerdo.
Palpao dolorosa da regio dorsolombar com dificuldade nos movimentos de
flexo e lateralizao.
5
Diagnstico provvel
Artrose do joelho esquerdo em fase de agudizao (crise de condrlise articular?).
Dorsolombalgia por contractura muscular por provvel aplicao incorrecta
de carga.
Exames complementares de diagnstico
Avaliao analtica normal.
Artrocentese diagnstica com sada de 20 cc de lquido amarelo citrino, com
caractersticas inflamatrias. Exame cultural negativo.
Radiografia do joelho esquerdo demonstrando gonartrose severa.
Radiografia coluna dorsal e lombar com alteraes degenerativas acen-
tuadas.
Teraputica
Tendo em conta a idade da doente, a presena de patologias associadas e a in-
tolerncia aos AINE clssicos, poder ser prescrito um coxibe (p.ex. etoricoxibe
60 mg/dia) associado a um opiceo fraco em doses baixas, como por exemplo
o tramadol 100 mg/dia, formulao retard associado a antiemtico.
Evoluo clnica
Aps dois dias a doente referia melhoria do quadro clnico, mas vmitos e ton-
turas com a toma do tramadol apesar do antiemtico.
Foi prescrita buprenorfina transdrmica na dose de 5 g/h com substituio
de trs em trs dias, associando um laxante e advertindo a doente da demora
do incio de aco, verificando-se ento uma melhoria clnica significativa.
Caso clnico 4
Histria actual
Doente do sexo feminino, de 8 anos de idade, secretria.
Refere desde h cerca de quatro anos, quadro de dor articular e muscular
generalizada com ritmo misto e rigidez matinal de 10 minutos de durao. A
doente refere ainda cansao, dificuldade na realizao das suas actividades di-
rias, sono no-reparador, obstipao e cefaleias. Nega outros sintomas nomea-
damente artrite, febre e perda de peso.
Antecedentes pessoais e familiares
Sndrome depressiva medicada com benzodiazepinas e antidepressivos s oca-
sionalmente.
Sndrome do clon irritvel.
Observao
Humor deprimido.
6
Palpao dolorosa bilateral nas inseres do msculo suboccipital, no pon-
to mdio do bordo superior do trapzio, na juno costocondral da 2.
a
costela,
dois centmetros acima do epicndilo, no quadrante supero-externo da ndega,
na proeminncia trocantrica e acima da interlinha articular do joelho.
Exames complementares de diagnstico
A avaliao laboratorial com hemograma, funo renal e heptica, doseamento
do clcio, fsforo e magnsio, enzimas musculares, reagentes de fase aguda,
funo tiroideia, factores reumatides e anticorpos antinucleares mandatria.
Outros exames complementares de diagnstico, face ausncia de sintomas
sistmicos, no so necessrios.
Diagnstico
A normalidade dos exames laboratoriais requisitados e a presena de dor ge-
neralizada nas duas metades do corpo, acima e abaixo da cintura, e presso
dolorosa em mais de 11 pontos dos 18 fibromilgicos permite estabelecer um
diagnstico de fibromialgia.
Teraputica
A informao e tranquilizao da doente so fundamentais, explicando-lhe a
benignidade do seu diagnstico e a importncia do exerccio fsico, preferencial-
mente em piscina de gua aquecida iniciado de forma gradual.
O uso de frmacos analgsicos (paracetamol, tramadol) e relaxantes mus-
culares pode ser til, porm na maioria das situaes necessrio o recurso a
antidepressivos. A amitriptilina em doses baixas, inicialmente 10 mg/dia com
aumento progressivo at 50 mg/dia tem-se mostrado moderadamente eficaz,
porm tambm aqui essencial a explicao doente dos efeitos adversos
possveis e da demora do incio de aco. A associao da amitriptilina fluo-
xetina 20 mg/dia, tambm tem mostrado benefcio moderado no tratamento
desta patologia, que no entanto se tem revelado de difcil tratamento. Os AINE
tm pouca ou nenhuma eficcia nesta situao clnica e os opiides, para alm
de pouco eficazes, no devem ser usados nestes doentes.
Caso clnico 5
Histria actual
Doente do sexo feminino, de 72 anos de idade, reformada.
Sem queixas at Dezembro de 2005, altura em que sofreu queda de uma
cadeira tendo da resultado fractura vertebral de L1 e permanecendo desde
ento praticamente acamada. Foi medicada com paracetamol g/dia e etorico-
xibe 90 mg/dia.
Por manter um quadro de dor intensa, foi hospitalizada tendo permanecido
deitada com um lombostato. A doente teve alta, com indicao para manter o
lombostato e medicada com um opiceo fraco (tramadol 00 mg/dia).
A doente manteve dor intensa, constante, tipo queimadura e por vezes com
sensao de descarga elctrica nos movimentos de torso, com incapacidade de
7
permanecer sentada ou manter o ortostatismo durante mais de cinco minutos,
motivo pelo qual consultou o reumatologista.
Antecedentes pessoais
Menopausa aos 5 anos, no fez THS por neoplasia da mama em remisso.
Observao
EVA dor: 8/10
Rigidez raquidiana, com distncia dedos-solo de 0 cm. Dor palpao da
coluna lombar e regio paravertebral.
Exame neurolgico normal.
Exames complementares de diagnstico
Avaliao analtica normal.
TC da coluna: evidencia fractura compressiva de L1.
Teraputica
A dor causada por uma fractura vertebral severa, justificando-se, no caso de
falncia dos opiides fracos, a prescrio de um opiide forte.
Nesta senhora idosa, deve ser iniciada por baixas doses de morfina de
libertao prolongada, 10 a 20 mg de manh e noite, eventualmente utili-
zando morfina de libertao rpida nos intervalos comeando com doses
de 5 mg.
A posologia deve ser adaptada de acordo com a avaliao quotidiana da
eficcia do tratamento. Dever ser avaliada a existncia de efeitos adversos
em particular de alucinaes e prevenida a obstipao e o surgimento de
nuseas.
A obteno de uma analgesia rpida deve permitir uma reverticalizao
precoce. O lombostato pode ajudar na manuteno do ortostatismo.
A utilizao da calcitonina frequente neste tipo de situaes, mas no h
provas da sua eficcia e muito dispendiosa.
A vertebroplastia percutnea ou a cifoplastia podem ser propostas aps
vrias semanas de evoluo e no caso de falncia do tratamento mdico. O
tratamento da osteoporose deve ser reavaliado e a doente dever ser educada
no sentido de cumprir a medicao prescrita. A suplementao clcica e em
vitamina D especialmente importante nesta mulher idosa.
Caso clnico 6
Histria actual
Doente do sexo feminino, de 7 anos de idade, secretria.
Refere desde h alguns meses dores nos dedos das mos, sem qualquer
outra sintomatologia acompanhante.
8
As dores evoluem por surtos com vrios dias de durao, acompanhadas de
tumefaco discreta das falanges. Refere alguma dificuldade ao carregar sacos
mas nega impotncia funcional.
A doente pensa tratar-se de alguma tendinite relacionada com o seu trabalho
por utilizao excessiva dos dedos no teclado do computador.
Refere ainda fadiga e o seu ginecologista disse-lhe que est no perodo da
perimenopausa (mas ainda menstruada e no fez doseamentos hormonais).
Antecedentes pessoais e familiares
Me com osteoartose dos dedos das mos.
Observao
Palpao dolorosa das IFP e interfalngicas distais (IFD) de ambas as mos.
Discretos ndulos de Heberden e Bouchard.
Exames complementares de diagnstico
Alteraes degenerativas das IFD nas radiografias simples das mos.
Diagnstico provvel
Trata-se muito provavelmente de osteoartrose digital: a evoluo faz-se por
surtos e apresenta ndulos caractersticos, no h sinovite, nem queixas que
faam indiciar uma doena reumtica inflamatria, existe um factor gentico,
h referncia a excesso de uso das mos e surgiu na idade perimenopusica.
Teraputica
Medidas fsicas como a utilizao de ortteses nocturnas diminuem a dor e as
deformaes e esto indicadas.
O tratamento analgsico deve iniciar-se de preferncia pelo paracetamol na
dose de por g/dia em doses divididas (de 8/8 h), recorrendo aos AINE, por
curtos perodos de tempo, nos surtos inflamatrios.
Nesta situao, e em caso de falncia da teraputica anterior, pode recorrer-
se sinovectomia qumica com corticosterides.
O tratamento com agentes tpicos locais como a capsacina e os AINE
tambm est indicado, e pode originar alvio.