1) A monografia discute a formação do psicopedagogo no Brasil e na Argentina, analisando a história da psicopedagogia e sua atuação profissional atual nos dois países.
2) No Brasil, a formação do psicopedagogo ainda carece de regulamentação clara, enquanto na Argentina existem experiências atuais consolidadas na formação e atuação da profissão.
3) A autora realizou pesquisa bibliográfica para compreender melhor o contexto histórico e atual da psicopedagogia
Direitos autorais:
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1) A monografia discute a formação do psicopedagogo no Brasil e na Argentina, analisando a história da psicopedagogia e sua atuação profissional atual nos dois países.
2) No Brasil, a formação do psicopedagogo ainda carece de regulamentação clara, enquanto na Argentina existem experiências atuais consolidadas na formação e atuação da profissão.
3) A autora realizou pesquisa bibliográfica para compreender melhor o contexto histórico e atual da psicopedagogia
1) A monografia discute a formação do psicopedagogo no Brasil e na Argentina, analisando a história da psicopedagogia e sua atuação profissional atual nos dois países.
2) No Brasil, a formação do psicopedagogo ainda carece de regulamentação clara, enquanto na Argentina existem experiências atuais consolidadas na formação e atuação da profissão.
3) A autora realizou pesquisa bibliográfica para compreender melhor o contexto histórico e atual da psicopedagogia
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2) No Brasil, a formação do psicopedagogo ainda carece de regulamentação clara, enquanto na Argentina existem experiências atuais consolidadas na formação e atuação da profissão.
3) A autora realizou pesquisa bibliográfica para compreender melhor o contexto histórico e atual da psicopedagogia
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LUCIANA DOS SANTOS GONALVES
PSICOPEDAGOGIA: FORMAO, IDENTIDADE E
ATUAO PROFISSIONAL
PUC - CAMPINAS 2007
LUCIANA DOS SANTOS GONALVES
PSICOPEDAGOGIA: FORMAO, IDENTIDADE E ATUAO PROFISSIONAL
Monografia de Concluso de Curso apresentado Faculdade de Educao, da PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE CAMPINAS, como requisito parcial para a obteno do ttulo de Especialista em Educao e Psicopedagogia, sob orientao da Profa. Ms. Maria Regina Peres.
PUC - CAMPINAS 2007
A verdadeira viagem da descoberta no consiste em procurar novas paisagens, mas em possuir novos olhos.
Marcel Proust
Dedico este trabalho especialmente ao meu marido Gabriel e a todos aqueles que de alguma maneira colaboraram para sua execuo e souberam valorizar a sua importncia.
AGRADECIMENTOS
Deus, primeiramente, que pela sua fora me conduziu at o final do curso.
Minha eterna gratido e reconhecimento s pessoas cuja contribuio tornou-se decisiva para a realizao desse trabalho:
A toda equipe de docentes que constituram o curso de Especializao em Educao e Psicopedagogia, em 2007, da Pontifcia Universidade Catlica de Campinas.
Em especial, Mnica Hoehne Mendes, atual presidente da ABPp-Seo So Paulo, pela ajuda e, que generosamente, compartilhou suas experincias cedendo seu trabalho.
Profa. Ms. Maria Regina Peres pelas orientaes e crticas, bem como apoio, dedicao e disponibilidade na elaborao desta pesquisa.
Aos colegas de curso pelos momentos que compartilhamos na busca pelo saber.
Ao meu marido que tive pacincia e entendeu a minha ausncia durante a realizao do curso e que sempre acreditou que eu era capaz, por meio de palavras encorajadoras muito me estimularam.
E a todas as pessoas que, direta e indiretamente, cooperaram para a concretizao desse projeto de pesquisa.
SUMRIO
Introduo........................................................................................................08 Captulo I Aspectos histricos da formao da Psicopedagogia na Argentina e no Brasil.............................................................12 Captulo II Experincias atuais na formao e atuao do Psicopedagogo na Argentina e no Brasil................................26 Captulo III A identidade do psicopedagogo brasileiro.............................46 Metodologia......................................................................................................52 Resultados obtidos e anlises.......................................................................55 Consideraes Finais.....................................................................................59 Referncias Bibliogrficas.............................................................................62 Anexo I.............................................................................................................65 Anexo II............................................................................................................68
GONALVES, Luciana dos Santos. Psicopedagogia: formao, identidade e atuao profissional. Monografia (Especializao em Educao e Psicopedagogia). Pontifcia Universidade Catlica de Campinas. Campinas, So Paulo, 2007. pp. 71.
RESUMO
Este trabalho se prope a pesquisar sobre a formao do profissional em Psicopedagogia, sua identidade e atuao profissional no Brasil e na Argentina. Objetiva-se a reflexo sobre o esboo histrico da Psicopedagogia e sua atual perspectiva. Apresenta-se o percurso argentino entrelaado com a realidade psicopedaggica brasileira. Para a metodologia de trabalho utilizou-se a abordagem qualitativa enfocando a pesquisa bibliogrfica. Utilizou-se como referencial terico um estudo cientfico de vrios profissionais da educao, em especial, de psicopedagogos, acerca da psicopedagogia bem como, as reflexes pessoais sobre o objeto a ser investigado. Tambm se considerou a anlise da construo da identidade do Psicopedagogo nas questes vinculadas a sua ao profissional. Como resultados obtidos, destaca-se a importncia da regulamentao da profisso diante da atuao psicopedaggica, bem como a necessidade de estudos mais aprofundados sobre o tema.
This work is the search on the training of the formation Psychopedagogy professional Psychopedagogy, their identity and professional practice in Brazil and Argentina. The objective is to consider the Psychopedagogy. Historical outline and his current perspective. It presents the Argentine's journey coupled with Brazilian Psychopedagogy's reality. For the methodology of work a qualitative approach was used focusing the research literature. As a benchmark theoretical scientific studies of various professionals in education were used, in particular, the Psychopedagogy Professionals, on the topic as well as the personal reflections on the subject being investigated. It also considered the analysis of the construction of the identity of the Psychopedagogy professional on issues linked to his professional action. As results, it highlights the importance of the profession regulation front of the psychopedagogy performance, and the need for further investigation on the subject.
Key- words: Psychopedagogy, formation, identity, Professional practice, regulations.
8 Introduo
A Psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreenso do processo de aprendizagem e se tornou uma rea de estudo especfica que busca conhecimento em outros campos e cria seu prprio objeto de estudo (Bossa, 2007, p.24.). Ocupa-se do processo de aprendizagem humana: seus padres de desenvolvimento e a influncia do meio nesse processo. Considerando essas idias, dentre outras, esta pesquisa aborda a temtica da formao de psicopedagogos e sua identidade, no contexto das polticas educacionais que tm repercusso nos processos de formao e na atuao profissional dos psicopedagogos. Com isso, este estudo procura refletir sobre a formao do psicopedagogo a partir de dados bibliogrficos, tendo como referencial o estudo da legislao e da reflexo terica no que se refere Psicopedagogia no Brasil como tambm na Argentina. Para atingir os objetivos foram realizadas leituras e pesquisas em livros e artigos publicados em revistas nacionais e estrangeiras. Dentre elas a Revista da Associao Brasileira de Psicopedagogia e a Aprendizaje Hoy da Universidad del Salvador (Usal) da Argentina. Nosso objetivo foi buscar uma reviso mais apurada da literatura disponvel na investigao do tema. Tambm foram identificados e estudados os instrumentos legais: leis, pareceres, resolues, sobre a formao do psicopedagogo, em especial os documentos sobre a legislao vigente, tanto no Brasil como na Argentina. Da coleta e anlise dos dados, do estudo da legislao e da reflexo terica referente Psicopedagogia, buscou-se a compreenso crtica da 9 Psicopedagogia na Argentina e no Brasil, a formao do psicopedagogo e sua identidade. Algumas questes nortearam esta pesquisa: Qual a identidade do psicopedagogo? Qual a sua atuao profissional, enquanto psicopedagogo? Como ocorre a formao do Psicopedagogo na Argentina e no Brasil? Existe uma legislao que regulamenta a profisso na Psicopedagogia? Essas interrogaes crescem, exponencialmente, quando voltamos nosso olhar para a realidade da formao do Psicopedagogo, uma vez que no Brasil ainda h poucos registros dedicados a esta temtica. So objetivos desta pesquisa: resgatar o processo histrico da constituio da psicopedagogia; analisar as contribuies da Psicopedagogia Argentina; compreender o contexto atual da Psicopedagogia no Brasil; resgatar atravs da pesquisa bibliogrfica, como esta organizada, a formao do Psicopedagogo na Argentina e no Brasil; analisar o atual contexto da psicopedagogia argentina e a brasileira. Destacamos a relevncia desta pesquisa, uma vez que ela j se inicia a partir do seguinte questionamento. Qual a formao do Psicopedagogo no Brasil?, podemos aqui enunciar o que nos apresenta Bossa (2007:37), O movimento da psicopedagogia no Brasil remete ao seu histrico na Argentina. Isso nos auxiliaria a melhor compreender a atual formao da psicopedagogia no Brasil e suas possveis tendncias. Dessa maneira, importante recorrer ao contexto histrico da Psicopedagogia Argentina, assim uma aproximao inicial a temtica da constituio da Psicopedagogia, nos conduziu a identificao sobre sua trajetria e seu contexto atual. 10 Ao estudar os aportes tericos da psicopedagogia na Argentina, podemos constatar, especialmente, a presena dos trabalhos de autores como: J orge Visca, Alicia Ferndez e Marina Mller. Assim, por exemplo, em seu artigo Perspectivas de la psicopedagogia em el comienzo del milenio, Mller (1995) comenta que na Universidade de Salvador, h cinco dcadas, surgiu a psicopedagogia como uma disciplina. Disciplina esta que trabalha com a aprendizagem, como atividade que inclui a relao entre ensino e aprendizagem, em contextos sistemticos ou no. Deste modo, nasceu a psicopedagogia como carreira universitria de trs anos, no ano de 1956. Ela confluiria da carreira de Psicologia e da Pedagogia. O esboo histrico da psicopedagogia na Argentina e seu atual contexto nos conduziro a uma leitura aprofundada da formao do psicopedagogo no Brasil. Segundo Bossa (2007) A questo da formao do psicopedagogo assume um papel de grande importncia na medida em que a partir dela que se inicia o percurso para a formao da identidade desse profissional. (p. 63)
Na citao mencionada, podemos perceber quo importante identificar a formao do profissional em psicopedagogia. A construo da identidade do psicopedagogo est correlacionada com a prpria identidade da Psicopedagogia. Ampliando as idias anteriores temos as contribuies de Masini (2006) ao enfatizar: A identidade da psicopedagogia no est ainda bem delimitada como rea de estudos, apesar de dcadas de existncia, no Brasil e na Europa, comprovadas em livros e revistas especializadas. Permanecem discusses e em bates com pares, em meio a mal entendidos sobre fins, locais, modalidades e recursos de atuao. (p.249)
11 Diante disto, podemos observar que persistem os questionamentos acerca da identidade da psicopedagogia. Com isto ao tomarmos a psicopedagogia como o fenmeno a ser estudado e analisado nesta pesquisa, temos que esta rea entendida como atividade que abrange a educao, compreendida como prtica social, tanto em seu contexto sistemtico como informal. Logo, o que se pretende entender as perspectivas sobre o psicopedagogo e a Psicopedagogia, para explicar e compreender a formao e a atuao do psicopedagogo, a partir de dados bibliogrficos e da sntese do percurso terico percorrido pelos psicopedagogos nos dois paises citados. Assim, esta pesquisa pretende contribuir para o conhecimento da Psicopedagogia enquanto rea de estudo e atuao relacionada com a aprendizagem e dar-se- por meio da anlise e reflexo da Psicopedagogia no Brasil e seus aportes tericos na Argentina.
12 Captulo I Aspectos histricos da formao em Psicopedagogia na Argentina e no Brasil
Historicamente, segundo Bossa (2007) os primrdios da Psicopedagogia ocorreram na Europa, ainda no sculo XIX, sustentada pela preocupao com os problemas de aprendizagem na rea mdica. Os primeiros Centros Psicopedaggicos foram fundados na Frana, em 1946, com o objetivo de desenvolver um trabalho voltado para crianas com problemas escolares ou comportamentais atendidos por uma equipe da rea de Psicologia, Psicanlise e Pedagogia. Bossa (2007) apresenta que: A literatura francesa influencia as idias sobre psicopedagogia na Argentina a qual, por sua vez, influencia a prxis brasileiras. A psicopedagogia francesa apresenta algumas consideraes sobre o termo psicopedagogia e sobre a origem dessas idias na Europa, e os trabalhos de George Mauco, fundador do primeiro centro mdico psicopedaggico na Frana, em que se percebem as primeiras tentativas de articulao entre medicina, psicologia, psicanlise e pedagogia, na soluo dos problemas de comportamento e de aprendizagem (p. 39)
Observamos que a Psicopedagogia teve uma trajetria significativa tendo, inicialmente, um carter mdico-pedaggico j que a equipe de trabalho era composta por mdicos, psiclogos, pedagogos, psicanalistas e reeducadores de psicomotricidade e da escrita. Ao final dos anos 60, na Argentina, o trabalho entre os psicopedagogos e a escola e sua relao com os psiclogos e os pedagogos influenciaram significativamente os profissionais argentinos na sua atuao psicopedaggica. Conforme Alicia Fernndez, psicopedagoga Argentina, a graduao em Psicopedagogia passou a existir na Argentina h mais de 30 anos, criada na Universidade de Buenos Aires (UBA). Deste modo, Buenos Aires foi a primeira 13 cidade argentina a oferecer o curso de Psicopedagogia. (apud BOSSA, 2007, p.42-43) Entretanto, na prtica, a atividade psicopedaggica iniciou-se antes da criao do prprio curso. Profissionais que possuam outra formao viram a necessidade de ocupar um espao que no podia ser preenchido pelo psiclogo nem pelo pedagogo. Desta maneira, comearam fazendo reeducao, com o objetivo de resolver fracassos escolares. De acordo com Peres (1998) A Psicopedagogia passa a despertar a ateno de vrios pases que, preocupados com os altos ndices de fracassos escolares passam a buscar novas alternativas de trabalho. Dentre estes pases, na Argentina, a psicopedagogia tem recebido um enfoque especial, sendo considerada uma carreira profissional. (p.42)
Inicialmente, a Psicopedagogia aparece como uma disciplina na Facultad del Psicologa da Universidad del Salvador, Buenos Aires. J em 1956, a Psicopedagogia constitui-se como curso de graduao de trs anos, para formar professores com capacitao em psicologia escolar, na confluncia da psicologia e pedagogia. Segundo Arias (2007), h uma estreita relao histrica entre a Psicopedagogia e a Pedagogia, porm El 2 de mayo de 1956, en la Universidad del salvador y desde el Instituto de Psicopedagoga, ingresa a la enseanza oficial una nueva carrera de grado: la Psicopedagoga.(p.57)
Mller (1995) aborda em seu artigo Perspectivas de la psicopedagogia em el comienzo del milenio, que as novas tendncias do sistema educativo na Argentina, para melhor distribuio de recursos econmicos e humanos, atualmente organiza a estrutura do curso de Psicopedagogia em ciclos, propondo uma carreira de quatro anos. 14 Portanto, estabelecendo uma grade curricular de dois anos de formao bsica compartilhada com a carreira de Psicologia e fixando dois anos de formao psicopedaggica especfica. Existem tambm os cursos de mestrados e doutorados, possibilitando especializao de um ano de durao, como formao acadmica para a docncia superior e pesquisa. Deste modo, como do interior da carreira de Psicologia se criou carreira de Psicopedagogia, que no comeo no tinha carter universitrio, mas, conforme adquiria significado mediante definies e aportes tericos de especialistas, aos poucos, foi se construindo o seu objeto de estudo prprio: o sujeito em processo de ensino-aprendizagem. Em outras palavras, o sujeito como agente da sua prpria aprendizagem. Com isso, a psicopedagogia argentina se origina como um conhecimento emprico, a partir da necessidade de atender as crianas com problemas de aprendizagem escolar. Para Visca (1987), A psicopedagogia nasceu como uma ocupao emprica pela necessidade de atender as crianas com dificuldades na aprendizagem, cujas causas eram estudadas pela medicina e psicologia. Com o decorrer do tempo, o que inicialmente foi uma ao subsidiria destas disciplinas, perfilou-se como um conhecimento independente e complementar, possuidor de um objeto de estudo (o processo de aprendizagem) e de recursos diagnsticos, corretores e preventivos prprios (p.33)
O autor acima citado merece muita considerao neste trabalho, entendendo-se que a psicopedagogia nasceu na Argentina a partir dos seus estudos acerca da epistemologia da psicopedagogia, no que se chamou de epistemologia convergente 1 .
1 Epsitemologia Conversente o resultado da assimilao recproca de conhecimentos fundamentados no construtivismo, no estruturalismo construtivista e no interacionismo. Isto , linha terica que prope um trabalho com a aprendizagem integrado com trs linhas de Psicologia: Escola de Genebra (Piaget), Escola Psicanaltica (Freud) e a Escola de Psicologia Social (Pichon-Rivire). Para uma melhor compreenso a respeito do tema, sugerimos a leitura do livro Psicopedagogia: novas contribuies da autoria de J orge Visca, edies Nova Fronteira, ano de 1991. 15 J orge Visca considerado pela literatura dos profissionais da rea, como pai da psicopedagogia. Estaremos assumindo aqui a definio, de vrios autores, que consideram a Psicopedagogia como uma rea de conhecimento que se dedica ao diagnstico, tratamento e preveno das dificuldades de aprendizagem escolar. Estaremos tambm considerando a Psicopedagogia como rea que trabalha com a aprendizagem no seu sentido mais amplo, possibilitando a todos, principalmente a quem ensina, a oportunidades de lidar com seus prprios processos de aprendizagem como aprendizes. Na realidade, a Psicopedagogia uma rea do conhecimento que se apia nas diferentes Cincias, tais como Pedagogia, Psicologia, Psicanlise, Neurologia, entre outras, integrando seus conhecimentos e princpios coerentemente, tendo como finalidade adquirir uma melhor compreenso a respeito dos diversos processos inerentes a aprendizagem. De acordo com Fernndez (1994), a partir do objeto de estudo da psicopedagogia o processo de aprendizagem ainda no foi possvel construir uma teoria acerca dessa prtica psicopedaggica. Ela menciona que Estamos tentando construir nossa prpria teoria, nosso especfico enquadramento, os rasgos diferenciadores de nossa tcnica e nosso lugar como especialistas em problemas de aprendizagem. (p.102)
Como psicopedagogos nossa tarefa ajudar as pessoas, quer sejam crianas ou jovens, at adultos, a se descobrirem como indivduos criativos, livres, potencializando suas prprias solues diante das dificuldades que encontramos. Do ponto de vista de Mller (1984), ao se referir sobre o objeto de estudo da psicopedagogia, deve-se levar em conta como se desenvolve a aprendizagem. importante, para ela, considerar: 16 Que leis regem estes processos; que dificuldades interferem ou impedem; de que maneira possvel favorecer as aprendizagens ou tratar suas alteraes. (p.7-8)
Para esta autora, a Psicopedagogia liga-se as caractersticas da aprendizagem, como se educa, como se ensina, como se aprende, como surgem os problemas da aprendizagem, quais as propostas para trat-lo, que fazer para preveni-los e promover mudanas nos processos de aprendizagem. O transcurso da prtica profissional desenvolvida durante vrios anos, define um marco contextual terico e elabora a pratica em Psicopedagogia, gerando novos enfoques conceituais no interior de si mesmas. Isto demanda realizar uma anlise dos prprios pressupostos tericos da Psicopedagogia, como por exemplo, a que se dedica um psicopedagogo, qual o campo atual da psicopedagogia na Argentina? A graduao em psicopedagogia surgiu h mais de 30 anos na Argentina, na Universidade de Buenos Aires (UBA). Entretanto, o curso passou por trs instncias em relao ao plano de estudo: nos anos de 1956, 1958 e 1961 a nfase esteve na formao biolgica e psicologica; evidenciava-se a formao instrumental do psicopedagogo nos anos de 1963, 1964 e 1969; Assim, com a criao da licenciatura, o enfoque passou a ser clnico e para a obteno do ttulo de psicopedagogo, a carreira de graduao passou de quatro para cinco anos de durao em 1978, tal como hoje em dia. Bossa (2007), afirma que: Acontece assim, em 1978, o terceiro momento do curso de psicopedagogia, com a criao da licenciatura na matria, tal como existe atualmente, ou seja, uma carreira de graduao com durao de cinco anos. (p. 43)
Durante os trinta anos que se passou desde o seu estabelecimento na Argentina, a Psicopedagogia tem ocupado um significado espao no mbito da educao e da sade. Nesse processo evolutivo, importante destacar um fato 17 relevante que permitiu mudanas na abordagem da Psicopedagogia: da reeducao clnica. Esse fato se relaciona a dcada de 70 em que surgiram, em Buenos Aires, os Centros de Sade Mental, onde atuavam equipes de psicopedagogos que faziam diagnstico e tratamento para os problemas relacionados aprendizagem. Esses profissionais observavam que, depois de um ano de tratamento, quando os pacientes retornavam para controle, haviam resolvido os seus problemas de aprendizagem. Mas, surgiam graves distrbios de personalidade, produzindo-se, pois, um deslocamento de sintoma. A partir da ocorre uma grande mudana na abordagem psicopedaggica. Os psicopedagogos comeam a incluir no seu trabalho a clnica da Psicanlise, resultando no atual perfil do psicopedagogo argentino. Em 17 de setembro de 1982 foi fundada a Federacin Argentina de Psicopedagogos (FAP) por um Colegiado Profissional de Psicopedagogos. E esse dia se estabeleceu como o Dia Nacional de Psicopedagogo. Em 1983 foi criada a Asociacin de Psicopedagogos de Capital Federal - PSP 2 . Mas foi no ano de 1986 que PSP passou a reconhecida juridicamente. uma instituio que vem trabalhando para o auxlio do psicopedagogo universitrio, dos formados em nvel de ps-graduao, defendendo o campo profissional, a tica profissional, preservando e enriquecendo o conceito humano de nossa profisso. De acordo com Lamarra (2007), a legislao referida a Educao Superior consagra a autonomia universitria:
2 Para mais informaes consulte o site da PSP; www.asoc-psicopedagogos.com.ar 18 La Ley Feredal de educacin N o 24.195 3 , sancionada en el ao 1993 y la Ley de Educacin n o 24.521 sancionada emn el ao 1995, regulan el sitema educativo en su totalidad y el sistema de educacin superior, en particular. La Ley de Educacin superior es la primera ley que abarca, en su conjunto, la educacin superior universitaria y no universitaria. Adem, crea la Comisin Nacional de Evaculuacin y Acreditacin Universitaria (CONEAU) como organismo encargado de la evaculacin externa y acreditacin de las carreras de posgrado y de las de grado con ttulos correspondientes a profesiones regulares por el Estado, fija las normas y las pautas para el reconocimiento de las universidades privadas y los regmenes de funcionamiento de las mismas, tanto provisorio como definitivo. (p. 47)
Na Argentina, a especializao em Psicopedagogia tem sido oferecida de forma geral pelos institutos tercirios que no contam com autorizao do Ministrio da Educao, CONEAU, para funcionamento e emisso de certificados com validade acadmica. Lamarra (2007) argumenta que El Sistema de Educacin Superior de Argentina es de carcter binario, es decir est integrado por dos tipos de instituciones: las universidades y los institutos universitarios y los institutos superiores no universitarios (llamados terciarios) que comprende a los institutos tcnicos, de formacin profesional, de formacin docente, etc. Segn informacin suministrada por la Comisin Nacional de Mejoramiento de la educacin Superior (CONEDUS), al ao 2001 existan alrededor de 4.446 carreras universitarias de grado y de pregado (3514 carreras de grado y 932 carreras de pregado) y 6.960 carreras no universitarias. Estas ultimas otorgan ttulos como de psicopedagogo y adems de las de profesor en las carreras de formacin docente. (p. 20-21)
A constituio nacional da Argentina consagra o respeito pelo direito a educao e a autonomia universitria. Porm, no so delegadas funes para o desenvolvimento da educao garantindo a qualidade do ensino. O sujeito-objeto da psicopedagogia o ser humano em situao de aprendizagem, contextualizado. (Mller, 1984)
3 A lei 24.195 foi recentemente revogada a partir da sano da nova Ley de Educacin N o
26.206, a qual inclui muito genericamente a Educao Superior em seu artigo. 19 Numa entrevista realizada por um site 4 , Mnica K. de Rojas Silveyra, psicopedagoga e atual Vice-Presidente da Asociacin de Psicopedagogos de Capital federal, argumenta sobre as questes legais acerca do exerccio da profisso de psicopedagogo na Argentina: En este momento histrico de la Asociacin estamos trabajando conjuntamente con la Federacin Argentina de Psicopedagogos, institucin de 2do. Grado que agrupa a todos los psicopedagogos universitarios del pas, y con la Confederacin de Profesionales Universiarios de la Repblica Argentina (CGP) que agrupa a todos los profesionales (mdicos, psiclogos, psicopedagogos, etc). All se discuten y se defienden en las distintas comisiones los temas relacionados ala problemticas de cada profesin. En cuanto a la Legislatura de la Ciudad de Buenos Aires, se ha presentado un Anteproyecto de Ley n o 4071 del Ejercicio Profesional del Psicopedagogo en el an de 1997, y la suerte corrida es similar. Pero no nos desanimamos, seguiremos y la obtendremos.
Conforme a Resoluo n o 2473/84, as incumbncias profissionais aprovadas pelo Ministrio de Educao Nacional, estabelecem que o psicopedagogo possa atuar na rea da sade e da educao, ao que diz respeito aprendizagem, tendo como intervenes preventivas ou assistenciais. Assim, sua atuao profissional dar-se- em mbito do sistema de sade e no mbito do sistema educativo em seus diferentes nveis ou modalidades na dimenso pblica e/ou privada. A nova Ley de Educacin Nacional, Ley N o . 26.206, publicada no dia 28 de dezembro de 2006, promulga no Captulo V, artigo 34, que: Articulo 34. La Educacin Superior comprende: a) Universidades e Institutos Universitarios, estatales o privados autorizados, en concordancia con la denominacin establecida en la Ley N o 24.521. b) Institutos de Educacin Superior de jurisdiccin nacional, provincial o de la Ciudad Autnoma de Buenos Aires, de gestin estatal o privada. (p.10-11)
No Captulo IV sobre a Educao Secundaria, a Ley de Educacin Nacional tambm estabelece que:
4 http://www.xpsicopedagogia.com.ar/contenido/entrevistas/entrevistas_kerckhaert_matricula.ht ml (Entrevista extrada em 02 de julho de 2007).
20 Articulo 32. El Consejo Federal de Educacin fijar las disposiciones necesarias para que las distintas jurisdicciones garanticen: h) La atencin psicolgica, psicopedaggica y mdica de aquellos adolescentes y jvenes que la necesiten, a travs de la conformacin de gabinetes interdisciplinarios en las escuelas y la articulacin intersectorial con las distintas reas gubernamentales de polticas sociales y otras que se consideren pertinentes. (p.9-10)
Na Argentina, a psicopedagogia tem um carter diferenciado da psicopedagogia no Brasil, pois naquele pas permitida a aplicao de testes, como, por exemplo, as provas de inteligncia, mais conhecidas por teste de Quociente de Inteligncia 5 (Q.I.) pelos psicopedagogo. Enquanto, no Brasil, somente os psicopedagogos com formao em Psicologia podem fazer o uso destes tipos de testes. De acordo com BOSSA (2007) alguns instrumentos de uso freqente por psicopedagogos argentinos no so permitidos aos brasileiros No Brasil no permitido ao psicopedagogo recorrer a muitos dos instrumentos que so de uso do psiclogo. O psicopedagogo, que no tem formao em Psicologia, quando a situao requer, solicita ao psiclogo ou, dependendo do caso, a outros profissionais (neurologistas, fonoaudilogos, psiquiatras), habilitados e de sua confiana, as informaes necessrias para completar o seu diagnostico. (p. 100)
Na dcada de 60, advm a Psicopedagogia no Brasil, surgindo as primeiras iniciativas de atuao psicopedaggica. Neste perodo os problemas de aprendizagem eram associados a uma disfuno neurolgica: disfuno cerebral mnima 6 (DCM). O rtulo DCM foi apenas um dentre os vrios diagnsticos empregados para camuflar problemas de origem sociopedaggicos, termos como Transtorno
5 De acordo com o Dicionrio Tcnico de Psicologia (2001) o Teste de Inteligncia destina-se a avaliar a inteligncia geral ou nvel mental do indivduo; pode, inclusive, avaliar certos aspectos da inteligncia condensados num s resultado, procurando-se, tanto quanto possvel, obter uma avaliao independente dos antecedentes culturais. (p.162)
6 Garcia (1998) diz que durante os anos 50 e 60, considerava a hiperatividade motora como originados por alteraes neurolgicas ou, inclusive, como o extremo ao longo de um contnuo dentro da variabilidade normal. Isto apontou para uma mudana de nome, de leso cerebral mnima at a de disfuno cerebral mnima (...) para Transtorno por Dficit de Ateno e Hiperatividade (TDAH) a partir dos anos 80. (p.74)
21 de Dficit de Ateno e Hiperatividade (TDH/A), dislexia e outros mais, so conceitos usados ideologicamente para esse fim. Em 1958, no Brasil surge o Servio de Orientao Psicopedaggica da Escola Guatemala (Escola Experimental do INEP - Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais do MEC), na Guanabara, atualmente Estado do Rio de J aneiro, tendo como principal objetivo a melhoria da relao professor- aluno. Segundo Peres (1998), acredita-se que a primeira experincia psicopedaggica no nosso pas ocorreu em 1958, com a criao do Servio de Orientao Psicopedaggica (SOPP) da Escola Guatemala na ento Guanabara. O SOPP tinha como meta desenvolver a melhoria da relao professor-aluno e criar um clima mais receptivo para a aprendizagem, aproveitando para isso as experincias anteriores dos alunos. (p.43)
No Brasil, por volta dos anos 70, alguns profissionais preocupados com os altos ndices de evaso escolar e repetncia, engajados no estudo das causas e intervenes dos problemas educacionais relacionados ao fracasso escolar trouxeram da Frana para a Argentina os aportes tericos sobre a Psicopedagogia. Mais recentemente, isto , desde 1980 at hoje, passamos a conceber o fracasso escolar tambm como problemas de ensinagem, e no somente de aprendizagem. Essas contribuies foram trazidas para o Brasil, tanto por meio de palestrantes oriundos da Frana como da Argentina, como tambm, por meio de professores que participavam de palestras, cursos a respeito da experincia psicopedaggica voltada para a educao. Em decorrncia de novas descobertas cientficas e movimentos sociais, a Psicopedagogia sofreu muitas influncias. 22 Em 1979, decorrido quase vinte anos de prtica psicopedaggica, surge na cidade de So Paulo, o primeiro curso em nvel de ps-graduao em Psicopedagogia no Instituto Sedes Sapientiae, indicando como a rea de psicopedagogia relativamente nova no Brasil. Para Fagali (2007), uma das matrizes geradoras do curso de Psicopedagogia o Instituto Sedes Sapientiae. Ela ressalta que A retomada das razes do curso de formao em Psicopedagogia do Sedes Sapientiae justifica-se por ter sido um curso pioneiro na realidade de So Paulo, gerador de lderes de mudana que prosperaram em projetos como o da construo da Associao de Psicopedagogia em So Paulo (p. 19-20)
Podemos dizer que alguns profissionais que terminavam sua especializao em Psicopedagogia, no Instituto Sedes Sapientiae, em So Paulo, organizaram um grupo para estudar e definir a prtica psicopedaggica que melhor trabalhasse os problemas de ensinagem, dando origem a Associao Estadual de Psicopedagogia de So Paulo (AEP). Segundo Rubinstein (1987) A Associao Estadual de Psicopedagogia de So Paulo foi criada por um grupo de profissionais que j atuava na rea, acabava de fazer sua formao em Psicopedagogia no Instituto Sedes Sapientiae e sentia a necessidade de ser reconhecido como categoria profissional, consciente de seu papel na comunidade. Tendo a Associao se expandido, pois temos associados do interior de So Paulo e de outros Estados da Unio e este crescimento faz com que sintamos a necessidade de efetivar a proposta da criao da Associao Brasileira de Psicopedagogia. (p. 13)
Aps seis anos, de funcionamento a AEP, se tornou a Associao Brasileira de Psicopedagogia (ABPp). H neste caminho uma diferena fundamental, pois se assume a rea de conhecimento psicopedaggico, a partir de um rgo de classe. 23 No relato que prossegue, Mnica Hoehne Mendes 7 (apud Carvalho, 2005) comenta Evidentemente esse curso faz parte da histria da Psicopedagogia no Brasil, como pioneiro, acrescido do fato de ter sido o responsvel pela formao das pessoas que fundaram a Associao Estadual de Psicopedagogos em 1980; so duas histrias que se entrelaam. Dessa forma, o Instituto Sedes Sapientiae contribui duplamente para a construo da identidade da Psicopedagogia em nosso pas. (p.48)
Quando nos situamos no eixo norteador da economia no cenrio global, da dcada de 80 para c, vamos encontrar um conjunto de fatores e circunstncias que tiveram e continuam tendo forte influncia sobre os parmetros educacionais. Alcntara & Silva (2006) afirmam que Influencias que fueran gestadas el mundo, derivadas de los procesos del creciente internacionalizacin de las economas, bien como del sus repercusines en los mercados y la prpria organizacin de los Estados nacionais ( p.15)
Isso quer dizer, que o ajuste econmico processados nos pases latino- americanos, bem como Brasil e Argentina, redefiniu o papel do Estado na educao. Porm, o atual processo de reestruturao da Educao Superior, se d no s pelas mudanas que esto ocorrendo, mas pelo fato de a reestruturao se constituir em uma real opo. Desde 1980, os psicopedagogos brasileiros podem contar com uma associao voltada para o interesse da classe e que luta por seus direitos. a Associao Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), criada em 1988. Alm disso, estes vinte anos da ABPp, vm possibilitando aos psicopedagogos estruturarem um espao de discusso sobre o corpo terico de
7 Pedagoga pela Universidade So Marcos, SP, psicopedagoga pela Espacio Psicopedaggico de Buenos Aires (EPSIBA), mestre em Psicologia pela Universidade So Marcos, SP, presidente da ABPp Nacional no binio 91/92, presidente fundadora da ABPp Seo So Paulo. 24 conhecimentos psicopedaggicos, atravs do seu vasto acervo de trabalhos cientficos publicados, dissertaes de mestrado e teses de doutorado. Peres (1998) aborda que Ao longo de sua existncia a associao tem promovido vrios encontros e congressos visando dentre outras coisas refletir sobre: a formao do psicopedagogo, a atuao psicopedaggica objetivando melhorias da qualidade de ensino nas escolas, a identidade profissional do psicopedagogo, o campo de estudo e atuao do psicopedagogo, o enfoque psicopedaggico multidisciplinar. (p.43)
A Psicopedagogia no Brasil enquanto rea de atuao sustentada por referenciais tericos, isto , uma prxis psicopedaggica. reconhecida pela rea acadmica atravs das produes cientficas consolidadas em teses, publicaes e reunies que tem o rigor da cincia organizadas pela Associao Brasileira de Psicopedagogos e por outros rgos representados pelos profissionais e reas afins. Falar da construo ou dos rumos da Psicopedagogia na Argentina e no Brasil , primeiramente, reconhecer a contribuio dos profissionais, em especial, J orge Visca, Alicia Fernndez, Sara Pain e Marina Mller. Assim, comeou-se a conhecer a Psicopedagogia e suas interconexes, por meio desses profissionais, sobretudo o psicopedagogo argentino Visca, que contribuiu com a sistematizao terica de grande parte dos psicopedagogos brasileiros, em especial os curitibanos, atravs da difuso da Epistemologia Convergente. Zenicola, Barbosa & Carlbert (2007) apresentam que No final da dcada de 1970, tanto no Rio de janeiro, quanto em Curitiba, os estudos de J orge Visca, psicopedagogo argentino, comearam a fazer diferena na compreenso do aprendiz e de suas dificuldades de aprendizagem. Na dcada de 1990, em Curitiba, os estudos da viso Sistmica por psicopedagogos que possuam a viso da Epistemologia Convergente, inicialmente na Sntese, bem como, no Rio de J aneiro, as contribuies de Alicia Fernndez, trouxeram uma nova compreenso da dinmica familiar e de suas relaes com as dificuldades para aprender. (p.36-37) 25 Provavelmente, muitos fatores contriburam para a construo da Psicopedagogia, cabe ressaltar que foram estes profissionais argentinos que trouxeram os conhecimentos da Psicopedagogia para o Brasil e enriqueceram o desenvolvimento desta rea de conhecimento. Consideramos importante, mencionar que a literatura francesa nos mostra autores como J anine Mery, Pichn-Rivire, J acques Lacan, dentre outros, cujos pensamentos influenciaram a Psicopedagogia na Argentina, que vem se destacando como forte, na prxis psicopedaggica brasileira. A histria da formao do psicopedagogo brasileiro advm pelo entrelaamento dos aspectos tericos e da prxis psicopedaggica deste profissional.
26 Captulo II Experincias atuais na formao e atuao do Psicopedagogo na Argentina e no Brasil
A Psicopedagogia nascente na poca moderna se diferencia como rea de atuao e reflexo sobre a prxis psicopedagogia, a partir da aprendizagem humana, ao levar em conta a articulao entre subjetividade e a objetividade humana e o conhecimento nas diversas maneiras de aprender. O objeto de estudo da psicopedagogia se sintetiza quilo que a Silva (1998) nos apresenta No incio, seu objeto so os sintomas das dificuldades de aprendizagem, como desateno, desinteresse, lentido, etc. e, assim, seu objetivo remediar esse sintomas. A dificuldade de aprendizagem seria apenas um mau desempenho, um produto a ser tratado. (p.25)
Entretanto, se compreendermos o conhecimento como processo contnuo, tal como fazem os psicopedagogos atualmente, situamos a psicopedagogia num patamar mais alto, obtendo-se assim uma viso mais ampla. Na Argentina, a psicopedagogia surge como disciplina cientfica no meados do sculo XX, destacando o valor da interdisciplinaridade e composta, a princpio, pelos saberes e experincias da educao e da sade mental. A Universidad del Salvador (USAL) havia sido pioneira, pois a primeira carreira de graduao em Psicopedagogia na Amrica Latina foi criada por meio de sua Ata de Fundao de 2 de maio de 1956, em Buenos Aires. Conta-nos ento Oliveira (2007) em seu artigo 8 intitulado Famlia, escola e o nascimento da psicopedagogia que
8 Confira OLIVEIRA, Vera Barros de. Famlia, escola e o nascimento da psicopedagogia: a aprendizagem e a educao, dos limites informais s instituies e ferramentas de auxlio que hoje conhecemos. In: Revista Psique Especial ano 1 n o 2. Editora Escala, 2007. 27 Na dcada de 40, a Piscopedagogia aparece como uma disciplina na recm-criada Facultad de Psicologia da Universidad del Salvador, Buenos Aires. Em 1956, na USAL, a psicopedagogia torna-se um curso de graduao de trs anos (p. 10)
Alm disso, os graduados da USAL tm sido protagonistas da construo de uma identidade profissional que abre caminhos e ganha espaos e continua, ainda hoje, respondendo as demandas de uma sociedade em transformao. No anexo I consta o plano de curso de Psicopedagogia da Universidad del Salvador. Ao resgatarmos a histria da psicopedagogia na Argentina, Fagali (2007) apresenta que Em 1978, anunciou-se o primeiro Congresso Latino-Americano em Buenos Aires em que ela era a representante da equipe sedes, em busca de atualizaes e de novos sentidos sobre a identidade da Psicopedagogia. Em Buenos Aires, a Psicopedagogia j se apresentava com uma longa trajetria enquanto formao e atuao psicopedaggica. Destava-se a formao em graduao de Psicopedagogia (Universidad del Salvador) com uma abordagem mais constitucional do aprendiz, em relao aos aspectos fisiolgicos e neurolgicos. Na Ps-Graduao, evidenciava-se, entre as teorias e as prticas da psicopedagogia, A Psicopedagogia Convergente de J orge Visca, aprofundando nas articulaes entre a epistemologia gentica de Piaget e a abordagem psicanaltica. (p.24)
Diante disto temos que foi na Argentina que os primeiros psicopedagogos brasileiros foram a procura de conhecimentos acerca da formao e atuao psicopedaggica para fundamentarem a Psicopedagogia no Brasil. Ainda hoje, as obras publicadas por J orge Visca, Alicia Fernndez , Sara Pain e Marina Mller fazem parte do nosso acervo bibliogrfico. A Associao Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) organizou um documento acerca da identidade profissional do psicopedagogo e os objetivos da psicopedagogia, nos diferentes estados do Brasil, representando e divulgando a Psicopedagogia. 28 Numa entrevista publicada na Revista Direcional Escolas 9 , Quzia Bombonatto, a vice-presidente da ABPp, Trinio 2005/2007, analisa a importncia da Associao para a descoberta da identidade do psicopedagogo brasileiro. Ela comenta que A ABPp, neste momento, cumpre um papel importante na histria da psicopedagogia e oferece uma vasta material para a pesquisa e a compreenso acerca da epistemologia da psicopedagogia, oferecendo uma significativa contribuio para o conhecimento e a atualizao dos psicopedagogos, educadores e estudiosos da rea.
Em 1992, entrou em vigor o Cdigo de tica 10 , aprovado em assemblia durante o V encontro e II Congresso de Psicopedagogia. Ns, psicopedagogos, no poderamos deixar de falar deste tema to atual e de urgncia prtica em nossa prxis psicopedaggica. De acordo com Mendes (2007), a discusso acerca da questo do reconhecimento da profisso gerou grande inquietao. Dessa maneira temos que Conscientes do momento histrico que atravessvamos, elaboramos o Cdigo de tica, o que era essencial, j que no tnhamos (como at hoje no temos) nossa profisso reconhecida. Este passou a ser o documento norteador dos Princpios da Psicopedagogia, das Responsabilidades Gerais do Psicopedagogo, das Relaes deste com outras Profisses, sobre a Importncia do Sigilo, etc. (p.202-203)
Contudo, o documento citado sofreu alterao na Assemblia Geral do III Congresso Brasileiro de Psicopedagogia, da ABPp, em 1996, da qual transcorreu a presente redao que apresentamos a seguir:
CDIGO DE TICA DA ABPp
Elaborado pelo Conselho Nacional do Binio 91/92 e Reformulado pelo Conselho Nacional e Nato do Binio 95/96
9 Matria divulgada na Revista Direcional Escolas edio 18 julho/2006. Acesso disponvel no URL: //www.direcionalescolas.com.br/EDUCADOR/Edicoes/Edio%2018/Entrevista [14 de Novembro de 2007] 10 Confira na Revista Psicopedaggica, 15(38), 1996. 29
Captulo I Dos Princpios Artigo 1 A Psicopedagogia um campo de atuao em educao e sade que lida com o processo de aprendizagem humana; seus padres normais e patolgicos, considerando a influncia do meio - famlia, escola e sociedade - no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos prprios da Psicopedagogia. Pargrafo nico A interveno psicopedaggica sempre da ordem do conhecimento relaciona do com o processo de aprendizagem.
Artigo 2 A Psicopedagogia de natureza interdisciplinar. Utiliza recursos das vrias reas, do conhecimento humano para a compreenso do ato de aprender no sentido, ontogentico e filogentico, valendo-se de mtodos e tcnicas prprias.
Artigo 3 O trabalho psicopedaggico de natureza clnica e institucional, de carter; preventivo e/ou remediativo.
Artigo 4 Estaro em condies de exerccio da Psicopedagogia os profissionais graduados em 3 grau, portadores de certificados de curso de Ps-Graduao de Psicopedagogia, ministrado em estabelecimento de ensino oficial e/ou reconhecido, ou mediante direitos adquiridos, sendo indispensvel submeter-se superviso e aconselhvel trabalho de formao pessoal.
Artigo 5 O trabalho psicopedaggico tem como objetivo: (i) promover a aprendizagem; garantindo o bem-estar das pessoas em atendimento profissional, devendo valer-se dos recursos disponveis, incluindo a relao interprofissional; (ii) realizar pesquisas cientficas no campo da Psicopedagogia
Captulo II Das responsabilidades dos psicopedagogos Artigo 6 So deveres fundamentais dos psicopedagogos: a) Manter-se atualizado quanto aos conhecimentos cientficos e tcnicos que tratem do fenmeno da aprendizagem humana. b) Zelar pelo bom relacionamento com especialistas de outras reas, mantendo uma atitude crtica, de abertura e respeito em relao s diferentes vises de mundo. c) Assumir somente as responsabilidades para as quais esteja preparado dentro dos limites da competncia psicopedaggica. d) Colaborar com o progresso da Psicopedagogia. e) Difundir seus conhecimentos e prestar servios nas agremiaes de classe sempre que possvel. f) Responsabilizar-se pelas avaliaes feitas, fornecendo ao cliente uma definio clara do seu diagnstico. g) Preservar a identidade, parecer e/ou diagnstico do cliente nos relatos e . discusses feitos a ttulo de exemplos e estudos de casos. h) Responsabilizar-se por crtica feita a colegas na ausncia destes i) Manter atitude de colaborao e solidariedade com colegas sem ser conivente ou acumpliciar-se, de qualquer forma, com o ato ilcito ou calnia. O respeito e a dignidade na relao profissional so deveres 30 fundamentais do psicopedagogo para a harmonia da classe e a manuteno do conceito pblico.
Captulo III Das relaes com outras profisses Artigo 7 O psicopedagogo procurar manter e desenvolver boas relaes com os componentes das diferentes categorias profissionais, observando, para este fim, o seguinte: a) Trabalhar nos estritos limites das atividades que lhe so reservadas. b) Reconhecer os casos pertencentes aos demais campos de especializao, encaminhando-os a profissionais habilitados e qualificados para o atendimento.
Captulo IV Do sigilo Artigo 8 O Psicopedagogo est obrigado a guardar sigilo sobre fatos de que tenha conhecimento em decorrncia do exerccio de sua atividade. Pargrafo nico No se entende como quebra de sigilo informar sobre o cliente a especialistas comprometidos com o atendimento.
Artigo 9 O Psicopedagogo no revelar, como testemunha, fatos de que tenha conhecimento no exerccio de seu trabalho, a menos que seja intimado a depor perante autoridade competente.
Artigo 10 Os resultados de avaliaes s sero fornecidos a terceiros interessados mediante concordncia do prprio avaliado ou do seu representante legal.
Artigo 11 Os pronturios psicopedaggicos so documentos sigilosos e no ser franquiado o acesso a pessoas estranhas ao caso.
Captulo V Das publicaes cientficas Artigo 12 Na publicao de trabalhos cientficos devero ser observadas as seguintes normas: a) As discordncias ou crticas devero ser dirigidas matria em discusso e no ao autor. b) Em pesquisa ou trabalho em colaborao, dever ser dada igual nfase aos autores, sendo de boa norma dar prioridade na enumerao dos colaboradores quele que mais contribuiu para a realizao do trabalho. c) Em nenhum caso o Psicopedagogo se prevalecer da posio hierrquica para fazer publicar; em seu nome exclusivo, trabalhos executados sob sua orientao. d) Em todo trabalho cientfico deve ser indicada a fonte bibliogrfica utilizada, bem como esclarecidas as idias descobertas e as ilustraes extradas de cada autor.
Captulo VI Da publicidade profissional Artigo 13 O Psicopedagogo ao promover publicamente a divulgao de seus servios, dever faze-lo com exatido e honestidade.
Artigo 14 31 O Psicopedagogo poder atuar como consultor cientfico em organizaes que visem o lucro com venda de produtos, desde que busque sempre a qualidade dos mesmos.
Captulo VII Dos honorrios Artigo 15 Os honorrios devero ser fixados com cuidado a fim de que representem justa retribuio aos servios prestados e devem ser contratados previamente.
Captulo VIII Das relaes com educao e sade Artigo 16 O Psicopedagogo deve participar e refletir com as autoridade competentes sobre a organizao, a implantao e a execuo de projetos de Educao e Sade Pblica relativas a questes psicopedaggicas.
Captulo IX Da observncia e cumprimento di cdigo de tica Artigo 17 Cabe ao Psicopedagogo, por direito, e no por obrigao, seguir este cdigo.
Artigo 18 Cabe ao Conselho Nacional da ABPp orientar e zelar pela fiel observncia dos princpios ticos da classe.
Artigo 19 O presente cdigo poder ser alterado por proposta do Conselho da ABPp e aprovado em Assemblia Geral;
Captulo X Das disposies Gerais Artigo 20 O presente cdigo de tica entrou em vigor aps sua aprovao em Assemblia Geral, realizada no V Encontro e II Congresso de Psicopedagogia da ABPp em 12/07/1992, e sofreu a 1 alterao proposta pelo Congresso Nacional e Nato no binio 95/96 sendo aprovado em 19/07/1996, na Assemblia Geral do III Congresso Brasileiro de Psicopedagogia, da ABPp, da qual resultou a presente redao.
Os psicopedagogos devem seguir certos princpios ticos que esto condensados no Cdigo de tica. Porm, a tica no estabelece regras, sua principal caracterstica a reflexo sobre a ao do Homem. Ento perguntaramos: Vemos quantos psicopedagogos descumprem a tica no exerccio de sua prxis psicopedaggica? Em busca de respostas, recorremos a Griz (2007), ao afirmar que
32 a Psicopedagogia, hoje, a rea de conhecimento que mais se prope a uma prxis que atenda a estes requisitos e princpios ticos. Tambm aqui vemos muitos profissionais que sequer conhecem seu cdigo de tica. tica profissional um compromisso social; no existe bem-estar individual sem bem-estar coletivo. (p.78)
Assim sendo, o psicopedagogo deve ser um profissional que tem conhecimentos multidisciplinares, pois em um processo de avaliao diagnstica, necessrio estabelecer e interpretar dados em vrias reas. O conhecimento dessas reas far com que o profissional compreenda o quadro diagnstico do aprendente e favorecer a escolha da metodologia mais adequada, ou seja, o processo corretor, com vista superao das inadequaes do aprendente. Nesse caso, lembramos que a psicopedagogia deve ser compreendida como rea de estudo interdisciplinar 11 , que abrange diferentes reas de conhecimento e cujo campo de atuao vem a ser identificado por meio do processo de aprendizagem e que tem por objeto de estudo o ser cognoscente (Silva, 1998, p.51) Neste mesmo sentido, Berlim e Portella (2007), argumentam que A partir dos anos 90, a prxis psicopedaggica amplia sua viso e possibilidade de trabalho, entendendo o ser cognoscente como sujeito ativo de sua aprendizagem e, extremamente, vinculado com o outro que ensina. (p. 85)
necessrio ressaltar tambm que a atualizao profissional imperiosa, uma vez que trabalhando com tantas reas, a descoberta e a produo do conhecimento bastante acelerada. Scoz e colaboradores (apud Bossa, 2007), escreveram um artigo 12 no qual abordam a trajetria da Associao Brasileira de Psicopedagogia. Neste artigo, Scoz afirma que
11 As partes do mundo tm, todas elas, tal relao e tal encadeamento uma com outra, que acredito impossvel conhecer uma sem a outra e sem o todo, no mais do que conhecer o todo sem conhecer as partes. Pascoal, B. Pensamentos. 12 O artigo A regulamentao da profisso assegurando o reconhecimento do psicopedagogo disponvel na internet: www.abpp.com.br ou SCOZ, B. J . L.; MENDES, M. H. A psicopedagogia no Brasil: evoluo histrica. In: Boletim da Associao Brasileira de Psicopedagogia, ano 6, n, 13. So Paulo, junho de 1988. 33 A contnua expanso da psicopedagogia e, em conseqncia disso, a abertura de inmeros cursos em nvel de ps-graduao para formao nessa rea em todo o pas levou a associao a elaborar um documento sobre a identidade profissional do psicopedagogo e os objetivos da Psicopedagogia, a partir da delimitao de seu campo de estudos e de atuao. Esse documento passou por vrias etapas de discusso, contando com a participao dos associados da Associao Brasileira e de suas sees, bem como de coordenadores e representante de inmeros cursos de Psicopedagogia de So Paulo e do Rio de J aneiro. Em 1989, o citado documento foi reformulado com a preocupao de torn-lo condizente com a realidade educacional brasileira e publicado nas Revistas n os 18 e 19 da ABPp. A associao implantou um curso de Psicopedagogia, em 1994, em carter piloto, assumindo seu prprio modelo de formao, embasado no documento sobre a identidade profissional do psicopedagogo, elaborado em 1989. (p.71)
Sendo assim, a ABPp tem discutido e analisado amplamente temas como: a identidade do Psicopedagogo, a legitimidade da ao social da Psicopedagogia, dentre outros estudos. Entendemos por dimenso social 13 da Psicopedagogia a busca do saber atravs de uma ao scio-educativa, pois a aprendizagem acontece na instituio seja educacional ou familiar, articulando a experincia acumulada com o conhecimento que se faz presente. Para Noffs (2000) pensar a formao de qualidade do Psicopedagogo articular docncia, pesquisa e gesto. essencial que o psicopedagogo conhea o contexto institucional (seja ele escolar, hospitalar, familiar) onde o processo de aprendizagem vai desenvolver-se. Conhecendo o sujeito desvinculado de seu meio uma fresta para o insucesso. (p.45)
Assim, olhar em determinado espao institucional implica em contextualizar todas as instncias presentes na ao social do psicopedagogo. A psicopedagogia, a partir de 1985, passou a compreender a aprendizagem como processo, o qual se constitui na construo do saber, conceituando aprendizagem e suas dificuldades com base em uma interseo
13 O A ao em uma dimenso sociolgica significa s demandas sociais e culturais e tem como funo social de que as pessoas sejam membros ativos e responsveis da sociedade. (NOFFS, 2000, p.45) 34 das contribuies de diferentes reas, para as quais tambm contribui com o conhecimento. Diferentemente dos primrdios do movimento educacional preocupado em compreender as razes do insucesso das crianas na escola, buscando apenas no aluno as respostas, a atual tendncia considera o insucesso enquanto sintoma social e no apenas como uma patologia. Portanto, no h como desconhecer o papel relevante desta profisso que, cada vez mais, tem contribudo para a integrao entre criana e instituies onde a aprendizagem o centro e que por razes diversas esto desarticulados. Hoje evidente o reconhecimento da contribuio social da Psicopedagogia na realidade educacional brasileira. A Psicopedagogia um campo de conhecimento e atuao em Sade e Educao, enquanto prtica clnica tem-se transformado em campo de estudos para investigadores interessados no processo de construo do conhecimento e nas dificuldades que se apresentam nessa construo. Como prtica preventiva, busca construir uma relao saudvel com o conhecimento, de modo a facilitar a sua construo. Deste modo, fala-se de uma psicopedagogia institucional propondo uma atuao preventiva dentro da instituio escolar, objetivando instrumentalizar a criana como um todo. Fala-se, ainda, de uma orientao psicopedaggica e, a partir dessa perspectiva, tanto a psicopedagogia clnica bem como a institucional esto referidas, visto que orientao psicopedaggica compreendida como processo pelo qual se possibilitam condies que promovem o desenvolvimento do individuo. 35 A Psicopedagogia lembra KIGUEL (1983), encontra-se em fase de organizao de um corpo terico especfico, visando integrao das Cincias Humanas e Biolgicas tais como Pedagogia, Psicologia, Neurologia, entre outras para um entendimento mais global da aprendizagem humana. No que diz respeito Pedagogia, a relao que se pode estabelecer com a Psicopedagogia, que ela representa uma das colunas de sustentao do emergente campo de conhecimento, assim como igual importncia, tem a Psicologia e outras reas de conhecimento que o permeiam. A Psicopedagogia nasceu, especialmente, da necessidade de compreenso e atendimento s pessoas com dificuldades e distrbios de aprendizagem e ao longo de sua estruturao, veio e vm adquirindo novas perspectivas. O psicopedagogo deve desenvolver sua ao, mas sempre se retratando as teorias, englobando vrios campos de conhecimentos. Como j havia ocorrido em outras universidades, temos como exemplo, implantao do Curso de Especializao em Educao e Psicopedagogia da Faculdade de Educao da Pontifcia Universidade Catlica (Puc-Campinas) que vem ao encontro da Educao Continuada do Pedagogo e de outros profissionais ligados rea da educao. De modo geral, a nfase do Curso em Psicopedagogia era nas causas de origem das dificuldades de aprendizagem e no desenvolvimento de tcnicas de trabalho voltadas para a educao e reeducao. Os primeiros cursos formais de Psicopedagogia foram chamados de: Reeducao Psicopedaggica; Psicopedagogia Teraputica; Dificuldades Escolares; A criana-problema numa sala de aula, entre outros. As cidades de 36 So Paulo, Porto Alegre e Rio de J aneiro, foram as primeiras cidades a oferecem esses cursos. Na prtica, o que faz hoje um psicopedagogo? Como ele trabalha? O que ser Psicopedagogo no Brasil? Quem so os profissionais que buscam a profisso de Psicopedagogo? Atualmente no Brasil, exceto raras excees, a formao realizada em Cursos de Ps-Graduao Lato Sensu em universidades pblicas e particulares. No incio do sculo XXI, alm dos mais de 120 Cursos de Ps- Graduao Lato Sensu em Psicopedagogia, existem tambm no Brasil: um curso superior de curta durao, dois anos, na Universidade Estcio de S, Rio de J aneiro; um mestrado em Psicopedagogia, com durao de dezoito a vinte e quatro meses, iniciado em 1999 na Universidade de Santo Amaro em So Paulo; o 1 Curso de Ps-Graduao Strictu Senso em Psicopedagogia, na Universidade de So Marcos, So Paulo teve origem em 1985; um doutorado em Psicopedagogia, na rea das Cincias Humanas na Universidade de Santo Amaro, iniciado em 2001, com durao de trs a quatro anos na capital do Estado de So Paulo. Desta maneira, ao refazermos o caminho percorrido pela Psicopedagogia na Argentina, constatamos no Brasil a buscar pela autonomia desta rea de conhecimento, ainda que sem delimitar cientificamente seu objeto de estudo, aprendizagem humana. 37 A formao dos psicopedagogos sempre esteve na categoria de especializao no Brasil. Apenas a partir de 2005, trs cursos de graduao passaram a ser oferecido nos Estados do Rio Grande do Sul e um em So Paulo. O curso de Graduao em Psicopedagogia, da Faculdade de Educao, da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul, implantado em 2002, foi reconhecido em 11 de junho de 2007, pela portaria n o 519, tendo como base legal o decreto n o 5.773, de 09 de maio de 2006, e o Parecer CNE/CES n o 22/2007, homologado por ato publico. De um lado temos a regulamentao do curso de graduao em psicopedagogia no Rio Grande do Sul, e por outro lado temos o Projeto de Lei 3.124/97 do Deputado Barbosa Neto que prev a regulamentao da profisso de Psicopedagogo e que cria o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Psicopedagogia ainda est em tramitao na Cmara dos Deputados em Braslia na Comisso de Constituio, J ustia e Redao. Este projeto prope que a regulamentao da profisso ocorra em nvel de especializao. O projeto apesar de aprovado na Comisso do Trabalho e na Comisso de Educao, Cultura e Desporto, encontra-se na comisso de Constituio e J ustia e de Redao, aguardando para entrar em plenrio para discusso. Assim temos que o Projeto Lei de n o . 3124/97 encontra-se na Cmara dos Deputados h quatro anos. Rubinstein (2001), que foi a representante do Sindicato dos Pedagogos na Cmara dos Deputados, por ocasio da discusso sobre a aprovao da profisso, apresenta em seu depoimento a respeito da regulamentao da profisso do Psicopedagogo, que 38 Exero a profisso de Psicopedagoga h mais de vinte anos. Especializei-me em Psicopedagogia no primeiro curso de So Paulo, no Instituto Sedes Sapientiae. Minha formao primeira foi em Pedagogia, mas foi a partir da formao em Psicopedagogia, formao esta continuada continuo em formao , que pude efetivamente exercer esta profisso. (p. 9)
Sabemos que a orientao educacional tem sua formao em nvel de Graduao, no curso de Pedagogia. Muitas vezes encontramos na escola, tanto o psicopedagogo como o orientador educacional. E a fica uma dvida: a quem cabe auxiliar o professor para uma melhor execuo de sua tarefa? A Psicopedagogia seria um apoio? De acordo com Nvea Maria C. de Fabrcio, psicopedagoga e ex- presidente da ABPp, na entrevista 14 concedida pela Psicopedagogia On Line, uma das respostas obtida pela interlocutora foi Minha habilitao na rea de orientao educacional. Fao psicopedagogia exatamente para complementar essa formao. No so espaos distintos, ao contrrio, so campos complementares. Mas da mesma forma que a psicopedagogia luta pelo reconhecimento, o mesmo se d na rea de orientao, pois somente escolas particulares tm.
Se, por um lado, a formao do orientador educacional encontra legitimidade recente com a promulgao das diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia. Por outro lado, no significa dizer que os questionamentos sobre o seu papel profissional no mbito institucional tenham sido equacionados. Pelo contrrio, a partir da sua prpria atuao, cabe ao orientador educacional contribuir nas mudanas educativas que se processam atualmente, em um campo de trabalho que lhe prprio. Conforme Pascoal (1998), uma necessidade bsica para atuao do Orientador ter conhecimento sobre o ensinar e o aprender. Ela afirma que
14 Confira www.psicopedagogia.com.br.entrevistas/entrevista.asp?entrID=28. 39 necessrio que o orientador esteja sempre revendo suas prticas convencionais de forma crtica e cuidando para que seus conhecimentos no fiquem ultrapassados e descontextualizados. Ao mesmo tempo preciso adquirir discernimento entre problemas psicolgicos e problemas pedaggicos. (p.34-35)
O conhecimento psicopedaggico no se sustenta sem prtica, e esta demanda uma formao pessoal especfica. Esta articulao j vinha sendo construda, contudo foi alterao de uma associao estadual de psicopedagogos para uma associao de carter nacional de psicopedagogia que difundiu pelo Brasil afora um enfoque mais abrangente para a formao profissional do psicopedagogo. Hoje em dia existem vrias prefeituras contratando profissionais que tenham especializao em Psicopedagogia como o caso da Prefeitura de Ourinhos em So Paulo e Londrina, no Paran. Este fato confirma que, a partir da criao do rgo de classe, a Associao Brasileira de Psicopedagogos, a psicopedagogia vem ganhando fora, corpo e penetrao nos meios acadmicos e reconhecimento pblico e oficial. Se na origem da trajetria profissional do psicopedagogo o destaque estava nas tcnicas, existia tambm preocupao com as teorias que melhor pudesse explicar o caso dos problemas de aprendizagem. A psicopedagogia nasceu de uma falta; fez-se necessrio apresentar melhores recursos tericos e prticos para habilitar profissionais ligados rea da educao que j atendiam a criana com insucesso na escola. Na entrevista 15 de Neide de Aquino Noffs, Coordenadora do Curso de Psicopedagogia da PUC/SP, Presidente da ABPP na gesto 95-96/97-98, concedida ao Portal da Educao e Sade Mental, ela afirma que
15 www.psicopedagogia.com.br/entrevista/entrevista.asp?entrID=9. 40 Vrias escolas preferem profissionais formados em psicopedagogia. Legalizar esta profisso amplia o mercado de trabalho para pedagogos e psiclogos que convivem harmoniosamente no momento da formao. No aceito os argumentos que o fazer psicopedaggico deveria acontecer naturalmente na ao dos professores. Lido com eles h mais de 30 anos, e este conhecimentos no fragmentados, ainda no chegou com esta fora, pois a tendncia psicologizar ou pedagogizar. H no Brasil por volta de 20.000 profissionais em efetivo exerccio, deixemos que a sociedade decida a quem recorrer em caso de assuntos envolvendo a aprendizagem.
Todavia, no princpio a capacitao desses profissionais acontecia fora do marco acadmico, aos poucos foram sendo criados cursos mais densos, alguns por iniciativa particular. De tal modo que a formao, aos poucos, de incio era realizada dentro dos cursos de especializao e hoje j se encontra na graduao e no mestrado dentro das instituies universitrias. Embora identifiquemos a Psicopedagogia, enquanto rea de atuao preocupada com a questo da aprendizagem humana sabemos que muitos so os estilos dos psicopedagogos, uma vez que cada um os constri a partir de sua singularidade, a qual produz as diferentes escolhas pelos modelos e referencias tericos. Entende-se que h uma intensa relao entre aspectos tericos, formao profissional e a prxis psicopedaggica, quer dizer, como uma prtica, como um campo de investigao do ato de aprender e como um saber cientfico. Atualmente, os psicopedagogos esto expandindo seu olhar e seu campo de atuao. Eles esto presentes onde se faz necessrio aprender a aprender, nas mais diferentes instituies, como, por exemplo, empresas ou hospitais. O reconhecimento tem advindo pela contribuio e pelos efeitos da prxis psicopedaggica. O psicopedagogo o profissional proveniente de diferentes graduaes: Pedagogia, Psicologia, Fonoaudiologia, Letras, dentre outras, que atravs de 41 sua conscincia busca uma transformao de sua viso acerca da aprendizagem e da sua prtica educativa, ou seja, busca sair da mesmice de uma prxis, na procura de uma identidade prpria. Na prtica, o psicopedagogo tem como referncia, papis ostentados tanto pelo psiclogo no que diz respeito atuao clnica, como do pedagogo, no trabalho com aprendizagem. Isto acontece porque foi atravs destes modelos que se originou a identidade do psicopedagogo com uma especificidade prpria. A construo da identidade da Psicopedagogia vem com o tempo, com a experincia dos profissionais, com a discusso e pesquisa cientfica entre os pares, com a pesquisa e, principalmente, com a conscincia profissional advinda de uma coletividade, como j constituda pela ABPp, um rgo de classe forte e unido. Segundo Stroili (2001) A psicopedagogia, no Brasil, conta desde 1980 com a ABPp (Associao Brasileira de psicopedagogia) que congrega profissionais da rea. Prope-se a uma atuao cientfico-cultural, e pela ausncia de um Sindicato, para sua representao poltica desses profissionais, esta tambm tem assumido papel poltico, em especial frente questo da legalizao da profisso. (p.15)
A construo do esboo histrico da Psicopedagogia se d a partir do papel desempenhado pelos profissionais, estabelecendo-se em uma nova instituio, que passa a existir como resposta a antigas instituies j cristalizadas. Sendo assim, o processo de institucionalizao leva legitimao: a partir da prxis no seu dia-a-dia. A legitimao da Psicopedagogia enquanto prxis e do Psicopedagogo enquanto profissional, j foi alcanada. Entretanto, o processo de instituio exige regulamentao, ou seja, uma forma pela qual pode ser esclarecido e 42 justificado. Diante disto podemos constatar que a legitimao j foi encontrada no prprio bojo da comunidade que a instituiu, a partir da construo da sua histria por meio da prxis dia a dia. Podemos perceber o movimento de legitimao desde a criao da ABPp, das sees da Associao em outros estados do pas, at mesmo o Estado de So Paulo conta com a ABPp - Seo So Paulo desde 2003, da constituio de seu estatuto, do cdigo de tica, ambos redigidos pela ABPp e, principalmente, pela atual preocupao com a formao profissional do Psicopedagogo. Assim retomando a questo da formao do profissional em Psicopedagogia, no Brasil, temos que ela vem ocorrendo em carter regular e oficial, desde a dcada de setenta em instituies universitrias. Esta formao se d atravs de cursos de Ps-Graduao Lato Senso e Stricto Senso. Nos casos dos cursos lato senso eles possuem carga horria de 360 horas a 720hs, regulamentado pelo Ministrio da Educao (MEC). Atualmente existem cursos de Psicopedagogia nos estados: Amazonas, Bahia, Cear, Distrito Federal, Gois, Minas Gerais, Par, Paran, Pernambuco, Rio de J aneiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, So Paulo e Sergipe. A proposta pedaggica dos cursos de especializao em Psicopedagogia de iniciativa e responsabilidade da prpria equipe que estar frente do programa dentro de cada instituio de ensino superior. Como a profisso de psicopedagogos no regulamentada a ABPp no pode fiscalizar cursos voltados para a rea de Psicopedagogia. Contudo, a associao tem organizado estes cursos e os profissionais atravs do 43 cadastramento, bem como, elaborou as diretrizes norteadoras do curso de Psicopedagogia em nvel de Ps-Graduao (ver em Anexo II). preciso agora oficializar atravs de leis o que j est legitimado pela prxis psicopedaggica no contexto educacional brasileiro. Pretende-se apresentar alguns movimentos na direo da oficializao e da contratao de profissional, neste caso, psicopedagogos ligados educao. Neste sentido j temos a Lei n o 2277, de 11 de novembro de 2004 que implantou a assistncia psicopedaggica nas escolas da rede Municipal de Santos e a Lei estadual 10.891, promulgada pela Assemblia Legislativa do estado de So Paulo, que dispe sobre a implantao de assistncia psicopedaggica a rede Municipal de Ensino, como j acontece na Prefeitura de Ourinhos, que abriu inscries para oito vagas de psicopedagogos no Edital de Concurso Pblico n o 02/07. Qual a situao atual no que se refere ao reconhecimento legal da profisso de psicopedagogia no Brasil? Em 1997, o Deputado Federal Barbosa Neto do Partido do Movimento Democrtico Brasileiro eleito pelo Estado de Gois (PMDB/GO) apresentou o Projeto de Lei n o 3124, que visa regulamentar a profisso de psicopedagogo. Este projeto j foi aprovado nas Comisses de Trabalho e educao. No momento, est tramitando na Comisso de Constituio e J ustia da cmara Federal, e ser apreciado pelo relator Deputado Mendes Ribeiro Filho (PMDB/RS). A questo poltica no processo da identidade profissional do psicopedagogo estaria vinculada formao. Desta maneira temos uma problemtica: atualmente a maior tendncia do curso de formao profissional 44 do psicopedagogo de especializao, e a populao proveniente de vrias reas de formao acadmica. Entretanto, em 2007, foi legalizado pela Portaria n o 519, o Curso de Graduao em psicopedagogia, da Faculdade de Educao, da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul, garantindo uma formao slida, para que este profissional possa atuar em diversos extratos da sociedade privilegiando a carter tico, em todas as instncias, de modo que este seja um dos princpios norteadores bsicos da ao humana, que neste caso refere-se ao objeto da psicopedagogia a aprendizagem humana. Esses fatos, aliados ao contexto global explicam a importncia crescente da psicopedagogia, que na sua concepo atual, j nasce com uma perspectiva globalizadora condizente com os rumos da aprendizagem na atualidade. Ela ocupa um lugar privilegiado porque justamente no est em um nico lugar, sua fora est justamente localizada no poder de transitar pelas fendas, pelos espaos entre objetividade/subjetividade ensinante/aprendente. De acordo com CIAMPA (1998), num primeiro momento somos levados a ver a identidade como um trao estatstico que define o ser. Como algo que aparece isoladamente, imutvel, esttico. A partir dessas consideraes, penso que a Construo da Identidade uma questo de aprendizagem. Precisamos sempre nos perguntar quem queremos ser a partir da possibilidade de aprender. Quando perguntamos quem queremos ser, essa pergunta sem uma resposta prvia, pode nos assustar. Entretanto, como futuros profissionais psicopedagogos, no podemos nos esquecer que a fora da Psicopedagogia justamente poder perguntar sobre seu prprio objeto, porque a Psicopedagogia trata do aprender e aprender implica perguntar e perguntar-se. 45 Parece ento necessrio que a Psicopedagogia como outra rea de conhecimento ligada com a subjetividade do Ser Humano esteja sempre aberta para perguntar sobre sua identidade, considerando os conhecimentos adquiridos, o presente e o futuro, enfim, o desejo de se transformar, de continuar crescendo. Concordamos com Stroili (2005), quando diz que reconhecer e trabalhar com a diversidade na escola, compreender que os diferentes grupos e todos os sujeitos envolvido na prxis psicopedaggica, carregam consigo seu saber, seus valores, suas vivncias culturais e expectativas, parece ser o grande desafio para o psicopedagogo. Assim, esta pesquisa pode ter um alcance social relevante, uma vez que a atuao do psicopedagogo contribui para a superao do fracasso escolar, to presente em nossa sociedade brasileira.
46 Captulo III A identidade do psicopedagogo brasileiro
Apresentamos neste captulo os diferentes momentos da trajetria da Psicopedagogia a partir da narrativa de profissionais, em especial, psicopedagogos. Esses registros foram obtidos atravs de pesquisa no site da psicopedagogia on line e da Associao Brasileira de Psicopedagogia 16 , bem como atravs da realizao de estudo bibliogrfico. Primeiramente, observamos que a prxis psicopedaggica dos profissionais/psicopedagogos estava apoiada numa viso orgnica do processo de aprendizagem. Assim, segundo Masini (2006) Nessa primeira etapa da histria da Psicopedagogia, todo o diagnostico recaia sobre a criana, o que significava que nela estava o problema, sendo ento encaminhada para atendimento especializado. Esse enfoque de diagnstico, prescrio e tratamento, envolvendo prognstico, trazia implcita uma concepo de que o fim da educao era de adaptar o homem sociedade. (p. 249)
Nesse momento, surgem os primeiros cursos de Psicopedagogia voltados para os problemas de aprendizagem. Tambm, nesta ocasio, os primeiros psicopedagogos consistiam em profissionais da educao, cuja prtica visava reintegrar o aprendiz que estava margem. Na obra Aprender a Ser, a autora argentina, Marina Mller (1986) aborda sobre os princpios da psicopedagogia clnica. Ela explica que El campo actual de la psicopedagogia es reconecer la sinuosa historia de las ideas acerca del aprendizaje, del conocimiento y sus vicisitudes, de quin es y a qu se dedica una psicopedagoga o un psicopedagogo, quin es un nio, una nia, un adolescente, un adulto que conocen y aprenden, qu es aprender y qu es un problema de aprendizaje, qu es la salud psquica en cuanto a conocer, pensar y aprender, para qu sirve la escuela, qu es ensear, cmo se aprende y se ensea en contextos escolares, cotidianos y laborales,
16 www.abpp.com.br 47 qu es el conocimiento, qu es el saber, qu lgicas sigue la construccin del sentido. (p.48)
Sendo assim, na Argentina, o campo de atuao do psicopedagogo caracterizado pelo processo de aprendizagem, como aprendem e quais intervenes psicopedaggicas seriam adequadas se forem apresentadas dificuldades, problema de aprendizagem, no desenvolvimento integral dos alunos. Na entrevista 17 concedida a ABPP sobre a identidade da Psicopedagogia, Mnica Hoehne Mendes, psicopedagoga paulista, afirma que: Quando a Psicopedagogia nasceu aqui em So Paulo, voltada principalmente para atender os distrbios das reas da leitura, escrita e da psicomotricidade, estas dificuldades eram entendidas como dificuldades especificas e voltadas para a dislexia especifica de evoluo. A porta de entrada da Psicopedagogia parece ter sido a abordagem organicista, em que o orgnico assume grande importncia sobre os distrbios de aprendizagem.
Posteriormente, constamos uma nova identidade institucional, ou seja, a prxis psicopedaggica destes profissionais considera no apenas a abordagem organicista, mas tambm, os fatores cognitivos e emocionais do desenvolvimento do sujeito cognoscente. Em entrevista concedida a Psicopedagogia On Line 18 a pedagoga Laura Monte Serrat Barbosa 19 aborda a evoluo da psicopedagogia ao longo destes 20 anos de prtica. Ela comenta que a Psicopedagogia teve uma evoluo invejvel, nestes 20 anos, pois partiu de uma preocupao com um aspecto especfico da questo da aprendizagem (a dificuldade de aprendizagem) e hoje estuda o ser cognoscente como um ser inteiro, mergulhado em um contexto, com possibilidades de aprendizagem em vrios mbitos da sociedade.
A presena de psicopedagogos argentinos tem um papel marcante nesta passagem da viso mais orgnica para a institucionalizao da
17 Idem ao 16 18 Confira www.psicopedagogia.com.br/entrevistas/entrevista.asp?entrID=30 19 Pedagoga pela Universidade Catlica do Paran e Especialista em Psicopedagogia Escolar e da Aprendizagem. 48 Psicopedagogia, devido o surgimento de cursos de especializao nesta rea com propostas mais objetivas e conhecimentos mais sistematizados. Na entrevista 20 concedida a Psicopedagogia On Line, Maria Ceclia Castro Gasparian, psicopedagoga e professora de Psicopedagogia na Pontfica Universidade Catlica de So Paulo, fala sobre a psicopedagogia institucional enfatizando que Em trabalhos psicopedaggicos muito recente e em algumas monografias que foram apresentadas no Encontro Cultural patrocinado pala Associao Brasileira de Psicopedagogia em So Paulo notou-se uma tendncia a novas possibilidades de atuao em Psicopedagogia. So trabalhos que apontam para uma nova abordagem sistmica. Tem tambm os trabalhos de Alicia Ferndez e Sara Pan, quando falam que o individuo organismo, desejo e corpo, embora elas no se intitulem sistmicas. Pois, quem pensa sistematicamente, no trabalha com erros, trabalha com situaes no mximo inadequadas. Como a vida processo, tudo vlido.
Atualmente, na Argentina, a atuao psicopedaggica est voltada para o trabalho multidisciplinar institucionalizado tanto na escola quanto no hospital. Enquanto, na psicopedagogia brasileira, apesar de se discutir a respeito deste trabalho multidisciplinar, pouco se v desta atuao. No artigo La psicopedagoga: sus vinculaciones histricas con otros saberes y su posicin actual. Un debate necesario, a autora Patricia S. Arias, comenta que La psicopedagoga desde hace dcadas ha ido configurando gradualmente sus campos de intervencin, se ha instalado en el imaginario social, forma profesionales en institutos terciarios y universitarios, es objeto de demandas cada vez ms diversas. (2007, p.55)
J oo Beauclair 21 , escritor, psicopedagogo, Mestre em Educao, Conferencista e Palestrante sobre temais educacionais e psicopedaggicos em diversos congressos e Professor do Curso de Ps-Graduao em
20 www.psicopedagogia.com.br/entrevista/entrevista.asp?entrID=10 21 Confira a entrevista com J oo Beauclair no site da Psicopedagogia On Line <www.psicopedagogia.com.br/entrevistas/entrevista.asp?entrID=98 49 Psicopedagogia Clnica e Institucional da Fundao Aprender (Varginha/MG) argumenta que Talvez o trabalho multidisciplinar institucionalizado ainda no seja prtica comum nem mesmo em outros pases, com raras excees, evidentemente. O paradigma cartesiano-positivista ainda o grande entrave a ser superado para que se possa pensar em um outro modo de fazer cincia e cuidar das pessoas. necessrio um processo longo, a ser vivenciado ainda por um bom tempo como desafio a ser superado. O modelo argentino de Psicopedagogia, com o trabalho multidisciplinar em escolas e hospitais tambm teve sua trajetria de luta, como em muitos momentos nos apontaram J orge Visca e Alicia Ferndez. Realmente em nosso pas, esta atuao ainda restrita de fato. E um ponto essencial para tal a regulamentao da profisso: esta questo primordial para o avanar da profissionalidade do psicopedagogo. A meu ver, um processo muito rico a ser vivido por todos ns psicoipedagogos.
Com a criao da ABPp e sua luta para que a psicopedagogia seja legitimada como profisso, que se estende at hoje, inicia-se um momento diferente. neste perodo que as discusses entre os profissionais desta psicopedagogia e os grupos referenciais (psiclogos e pedagogos), se instalam a partir da preocupao com espao dentro do mercado de trabalho. Em 2000, Elcie F. S. Masini e Maria Lucia M. C. Vasconcellos, eram coordenadoras da Universidade Mackenzie, numa entrevista 22 realizada pela Psicopedagogia On Line sobre o atual panorama dos cursos de ps-graduao, elas contam que: O curso de Ps-Graduao Lato Sensu no to influenciado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educao Brasileira (LDB), mas sim pelo mercado de trabalho e pela prpria dinmica da sociedade. A idia bsica de nosso curso a de preparar o psicopedagogo num enfoque preventivo, ou seja, voltado para as condies de aprendizagem. Em geral Cursos de Pedagogia e de Psicologia estuda-se teorias da aprendizagem, ou a aplicao das teorias de aprendizagem, ou pesquisas verificando a aplicao de uma certa teoria, mas permanece uma lacuna: a de acompanhar o aluno enquanto aprendendo. o conhecimento sobre e o acompanhamento do ATO DE APRENDER que priorizamos e consideramos importante na formao do psicopedagogo.
Tentamos aqui compreender os movimentos de identidade dos psicopedagogos, assim como da Psicopedagogia, que se expressam na
22 www.psicopedagogia.com.br/entrevistas/entrevista.asp?entrID=22 50 construo da identidade adquirida por meio da prxis psicopedaggica. Todavia, este estudo nos confirma a importncia do psicopedagogo nos diferentes contextos em que a aprendizagem se constitua em eixo norteador. De acordo com Mller (1986) temos que A cada psicopedagogo como tal, e o conjunto deles como profisso, elaborar uma imagem do que a Psicopedagogia, pela definio de sua prpria identidade ocupacional em conexo com a tarefa, com seus xitos e dificuldades. A identidade profissional deve ser elaborada atravs de uma contribuio intencional e institucionalizada. No podemos prescindir, em nossa tarefa, nem das atividades de aprendizagem que cada psicopedagogo realiza, em especial com respeito a seu prprio campo profissional. (p. 53)
Outro aspecto importante que, ao invs do curso estar voltado para rea clnica, s instituies deveriam formar o psicopedagogo tanto para atuao institucional, quanto clnica considerando a vivncia nos respectivos estgios. Para Masini (2006), os cursos de psicopedagogia deveriam ter uma orientao terico-prtico. Ela aponta que Os cursos necessitam ter um currculo composto de aulas tericas e estgios supervisionados, que constituam um espao de discusso e reflexo terica sobre a prtica, para que o psicopedagogo saiba, de forma cientificamente fundamentada, o porqu utilizar um ou outro recurso para o aluno com que esta lidando. (p. 257)
Em uma aproximao inicial com a temtica da constituio da Psicopedagogia na Argentina, conduzimos esta pesquisa para a identificao de alguns entraves presentes em sua trajetria, como por exemplo, seu campo de atuao psicopedaggica. Encontramos em Arias (2007), uma proposta a respeito ao futuro da Psicopedagogia Argentina. Ela considera La psicopedagogia como um conjunto de prcticas institucionalizadas de intervencin em diversos campos em los que el aprendizaje humano. De ellos pondr en un lugar privilegiado al campo escolar; sostento est afirmacin ya que tanto en los orgenes como en el posterior desarrollo de sus prcticas, el sujeto en su posicin de alumno y las mltiples intersecciones que desde ese lugar se 51 producen, ha sido el gran protagonista del acto psicopedaggico. (p. 62)
Retomando a discusso, preciso que, ao se pensar na construo de processos tericos voltados prtica do psicopedagogo, que ele perceba a importncia de refletir sobre sua prpria prxis psicopedaggica, percebendo que cada um de ns est a buscar novas respostas para alguns questionamentos j anteriormente elaborados. nesse contexto que se instaura um movimento de mudanas de paradigmas. As perspectivas atuais da prxis psicopedaggica ressignificam nosso cotidiano: aprender a aprender essencial. Conseqentemente, a identidade profissional do psicopedagogo ocorre por meio de um processo em permanente construo. Isto , o psicopedagogo tem muito a contribuir para a reflexo sobre a formao de sua prpria identidade e do aluno na interao entre conhecimento e ao.
52 Metodologia
Para a pesquisa em questo, utilizamos a abordagem qualitativa que segundo Oliveira (2007), um processo de reflexo e anlise da realidade atravs da utilizao de mtodos e tcnicas para uma compreenso mais detalhada do objeto de estudo em seu contexto histrico, exigindo do pesquisador reflexo rigorosa, pessoal, criativa. A idia de pesquisa qualitativa na viso de Minayo (2000) aquela abordagem que Trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspiraes, das crenas, dos valores e das atitudes, o que corresponde a um espao mais produtivo das relaes, dos processos e dos fenmenos que no podem ser reduzidos operacionalizao de variveis. (p.21-21)
Esse processo implica em estudos segundo a literatura pertinente ao tema psicopedagogia: formao, identidade e atuao profissional. Sendo assim, pesquisar analisar causas e efeitos, contextualizando-os no tempo e no espao, dentro de uma concepo sistemtica. De acordo com GIL (2007), a pesquisa bibliogrfica Desenvolvida a partir de material j elaborado constitudo principalmente de livros e artigos cientficos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, h pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliogrficas. (p. 65)
Com isso, esse tipo de pesquisa imprescindvel para a realizao de estudos histricos. Sendo assim, a pesquisa realizada tem abordagem estritamente bibliogrfica. Pois as fontes que foram pesquisadas so reconhecidas pelo domnio cientfico. A principal finalidade da pesquisa bibliogrfica o contato direto com obras, artigos ou tipos de documentos que tratem do tema em estudo. 53 Do mesmo modo, a abordagem qualitativa se enraza diante do mundo dos significados e precisa ser interpretada pelo pesquisador, que influenciado ao mesmo tempo, pelos textos lidos e pelos valores e crenas que possui, resultado das experincias de domnio pblico. Dentro das ideologias que norteiam os pensamentos dos autores citados anteriormente impossvel realizar uma pesquisa mantendo-se neutra. Na pesquisa bibliogrfica existe uma interlocuo constante entre o pesquisador e o texto. Esse trabalho ativo de leitura e reflexo que nos permitiu produzir conhecimento a respeito de um tema pelo qual tnhamos muitas interrogaes. Muitos destes questionamentos puderam ser esclarecidos nesta investigao. Outros suscitaram novos questionamentos, que certamente poderiam se constituir em novos objetos de pesquisa. Portanto, a fonte de dados desta pesquisa foi obtida atravs de pesquisa bibliogrfica com a consulta em livros, enciclopdias, revistas, peridicos, ensaios crticos, dicionrios, sites, artigos, enfim, em diversos estilos de bibliografia que dizem respeito temtica acerca da Psicopedagogia no Brasil e na Argentina. importante enfatizar que a pesquisa teve um carter terico. O fato de ser considerada terica se deve, de acordo com Minayo (2007), aos conhecimentos construdos cientificamente sobre o tema em questo, por outros estudiosos antes de ns e que nos servem de fonte atualmente. Bossa 23 (2007), em uma obra que j se constituiu em um clssico, fundamental para a formao inicial em Psicopedagogia, enfatiza que:
23 BOSSA, Ndia. A Psicopedagogia no Brasil: contribuies a partir da prtica. 3 Ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. 54 [...] muito ainda h o que se pesquisar. A complexidade do seu objeto de estudo e as demandas da vida atual representam um verdadeiro desafio aos estudiosos da psicopedagogia. (p.15)
Neste caso, os estudos realizados pela Associao Brasileira de Psicopedagogia nos ajudaram na busca por uma reviso e compreenso apurada da literatura disponvel na investigao do tema. Resumindo, este trabalho foi sendo constitudo por meio de um processo em espiral que comeou com alguns questionamentos, que foram sendo esclarecidos na medida em que fomos desenvolvendo este estudo.
55 Resultados obtidos e anlises
Com a realizao deste trabalho, constatamos o quanto complexa a anlise do processo de desenvolvimento da Psicopedagogia no Brasil, a partir da sua atuao psicopedaggica e o quanto esta rea de estudo, que lida com os fatores que interferem no processo de aprendizagem, tem contribudo para as relaes entre o ensinante e o aprendente nas instituies da Sade e, principalmente, da Educao Pblica e Privada. A psicopedagogia no Brasil ainda encontra-se pouco amparada quando comparada argentina, ainda estamos caminhando com passos de bebs. Penso que as diferenas passam fundamentalmente pela realidade scio- poltica e cultural de cada pas. J que na Argentina, este contexto bem diferente do Brasil. Em nosso pas, o processo histrico da psicopedagogia foi e outro, traamos outro caminho. Os psicopedagogos argentinos, por sua prpria trajetria na psicopedagogia, so mais amadurecidos, ns nos encontramos a pensar o novo, estamos voltados para as particularidades da nossa realidade educacional. O psicopedagogo argentino tambm trabalha em instituies de sade publica e particulares, bem como nos hospitais. No Brasil, a atuao psicopedaggica difere em alguns aspectos da realidade da Argentina, principalmente, ao que diz respeito a prxis, por causa das condies de formao deste profissional. O Projeto de Lei n 128/2000, que estabelece a implantao de assistncia psicolgica e psicopedaggica em todos os estabelecimentos 56 pblicos de ensino do Estado de So Paulo, foi transformado em lei estadual n o . 10.891/01, em sesso extraordinria da Assemblia Legislativa. A assistncia abranger os nveis de Educao Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Mdio. O autor o deputado e vice-lder do Governo, Claury Alves da Silva (PTB). Podemos observar que a assistncia proposta pela nova lei objetiva propiciar o diagnstico e a preveno de problemas de aprendizagem, enfocando o aluno e a instituio de ensino. A elaborao de normas, procedimentos, planejamento e controle ficaro a cargo do Conselho Estadual de Educao e da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedaggicas, rgos ligados Secretaria de Estado da Educao. Assim apesar da existncia desta lei, so raros os psicopedagogos que atuam especialmente nas instituies pblicas de ensino. Nossa experincia enquanto alunas do Curso de Ps-Graduao Lato Sensu da Faculdade de Educao da Pontifcia Universidade Catlica de Campinas, nos leva a questionar o motivo pelo qual no h, na maioria das instituies de ensino pblicas do Estado de So Paulo, o psicopedagogo. Isto ocorre apesar da existncia do projeto de Lei no. 128/2000, aprovado em 4 de setembro de 2001, que leva em considerao as contribuies que a Psicopedagogia traz aos alunos que por diferentes razes esto desarticulados do sistema escolar. Diante desta constatao, acreditamos que talvez a ausncia de polticas pblicas que reconheam a identidade deste profissional seja um dos fatores responsveis por este descaso. Devemos considerar tambm que um dos grandes viles do sistema pblico de ensino atualmente o fracasso escolar, uma conseqncia na 57 maioria das vezes de desvios ou bloqueios emocionais de vrias origens", relata o deputado Claury. De acordo com o parlamentar, traumas no convvio social ou familiar, manifestados de diversas formas, levam invariavelmente ao baixo rendimento escolar. Claury defendeu em seu projeto que o fracasso escolar, representado pela evaso e pela repetncia, provoca atraso na formao do jovem para o mercado de trabalho e gera maior custo para o Estado. Na opinio 24 da Ex- Presidente da Associao Brasileira de Psicopedagogia, Nvea Fabrcio, e da Ex- Presidente Neide de Aquino Noffs a nova lei vem ao encontro da realidade educacional brasileira que, segundo elas, ainda se impem pelo quadro da repetncia e da evaso escolar. "Em uma sociedade em que a educao considerada fator de mobilidade social, o fracasso escolar de um indivduo promove sua marginalizao". Aps muitas leituras, pesquisas e determinao para a realizao deste trabalho acreditamos que a psicopedagogia institucional preventiva uma grande aliada nos problemas de aprendizagem. A proposta da psicopedagogia adotar uma postura crtica frente ao fracasso escolar, visando propor novas alternativas voltadas para a melhoria de prticas pedaggicas nas escolas. Os resultados disso podem visualizar que a Psicopedaggoia atualmente uma especialidade que tem como foco os problemas de aprendizagem escolar. Acreditamos, porm que, por ser um campo de conhecimento interdisciplinar e por ser ainda muito recente, ela est em processo de expanso e com isto em busca de novos campos de atuao que no seja apenas o escolar.
24 www.abpp.com.br/leis_regulamentacao_assis.htm 58 Sendo assim, em nosso pas, a Psicopedagogia, como profisso, inserida na instituio escolar ainda um tema em construo, bem como sua identidade e a identidade do profissional que esta sendo formado.
59 Consideraes Finais
Este trabalho abordou a Psicopedagogia, formao, identidade e atuao psicopedaggica, em especial a regulamentao da profisso em Psicopedagogia e a realidade dessa rea tanto no Brasil como tambm na Argentina. Nossa inteno, nesta pesquisa, foi a de contribuir com a discusso sobre a formao do psicopedagogo, apresentando a trajetria e o contexto atual da Psicopedagogia no Brasil e na Argentina com base nos aportes tericos. Desta forma, esta pesquisa bibliogrfica se constitui, desde o incio, em um estudo que no possui respostas simples, visto que, os fenmenos complexos so difceis de explicar. Entretanto ressaltamos aqui a importncia do comprometimento profissional, da busca pela continuidade de estudos bem como de uma compreenso critica da Psicopedagogia para que possamos obter melhorias a partir da atuao psicopedaggica. Essas melhorias, certamente devem considerar tanto o trabalho institucional, em especial, aquele desenvolvido dentro da instituio escolar escola, como tambm as possveis queixas de dificuldades de aprendizagem no mbito clnico, uma vez que a atuao do psicopedagogo encontra-se to presente em nossa sociedade brasileira. Ressaltamos a questo da pesquisa para o exerccio da profisso do psicopedagogo. Entretanto, para isto, preciso que se tenha uma prtica efetiva, sendo assim, indispensvel o contato com livros, peridicos, artigos, textos, sites, simpsios, cursos que venham a motivar a prxis do profissional em Psicopedagogia. 60 Ao nosso olhar, o cuidado maior, deve ser efetivamente, com a proliferao dos cursos de Psicopedagogia pelo Brasil sem as devidas orientaes. Apesar disso, a Associao Brasileira em Psicopedagogia (ABPp) no tem medido esforos na organizao curricular de cursos de especializao em Psicopedagogia, sugerindo que estes cursos tenham uma preparao terica e prtica adequada. Para avaliarmos atuao dos psicopedagogos e os cursos de formao desses profissionais, se faz necessrio um olhar profundo do pesquisador sobre: as publicaes na rea de psicopedagogia, em livros e revistas especializadas; os relatos de experincias em eventos; a organizao curricular e programas de cursos de psicopedagogia. Estes, dentre outros aspectos abrem a possibilidade de uma prxima pesquisa. Segundo Beauclair (2006), a formao em psicopedagogia um dos desafios a serem enfrentados at chegarmos regulamentao do fazer do psicopedagogo. Ele assinala que A expanso desenfreada de cursos de ps-graduao lato sensu pelo pas preocupa-me, porque sem uma organizao e estruturao curricular a partir de vivncias significativas do campo de atuao profissional. Por isso, a formao de psicopedagogos uma questo sria a ser debatida. A Psicopedagogia deve ser vista, cada vez mais, como uma nova profisso, que exige formao adequada para o tempo presente e o enfrentamento das mltiplas tarefas que surgem no campo do ensinar e do aprender no sculo XXI. (p. 65)
Talvez o maior desafio da psicopedagogia seja a busca pela qualidade nos cursos de Psicopedagogia. Concordamos com Peres (1998) A psicopedagogia, por ser um campo de estudo relativamente novo em nosso pas, vem enfrentando srios desafios. Um deles reside na prpria formao do psicopedagogo, pois especialmente com a ampliao do campo de atuao para as instituies, a procura pelo curso aumentou muito e, conseqentemente, para acompanhar a demanda est ocorrendo uma abertura indiscriminada de cursos, em diversas regies do Brasil vrios deles com qualidade duvidosa. (p.45) 61
O compromisso profissional, a luta pelo reconhecimento social e a prpria atuao psicopedaggica tm caracterizado a ao do psicopedagogo na rea Clnica e Institucional. A temtica que escolhemos para estudo bastante ampla e com certeza muita coisa poderia ainda ser abordada. Todavia, em funo do tempo se faz necessrio parar por aqui, tendo a conscincia de ter aprendido muito e ter contribudo de alguma forma para que outros pesquisadores profissionais da educao, em especial os psicopedagogos, debrucem sobre esta temtica, sabendo compor a face cientfica com a face psicopedaggica da pesquisa, no trabalhando apenas o lado formal do manejo do conhecimento, mas igualmente o lado daquelas habilidades que se fundam no conhecimento.
62 Referncias Bibliogrficas
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Sites importantes para pesquisas:
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CICLO BSICO UNIFICADO (CBU)
PRIMER AO Introduccin al Conocimiento Cientfico Neurociencias I Filosofa Psicologa de la Interaccin Social y Los Pequeos Grupos Procesos Bsicos I Perfiles y Competencias del Psiclogo y del Psicopedagogo Introduccin a la Metodologa Cientfica Neurociencias II Teoras Psicolgicas I Procesos Bsicos II Materia Optativa CBU I
SEGUNDO AO Neurociencias III Psicologa del Desarrollo I Metodologa de la Investigacin Teoras Psicolgicas II Procesos Bsicos III Estructuracin de la Subjetividad Psicologa del Desarrollo II Psicologa Descriptiva Psicologa Institucional y Organizacional Teologa Procesos Bsicos IV Materia Optativa CBU II
Ttulo a otorgar: BACHILLER UNIVERSITARIO EN CIENCIAS PSICOLOGICAS
CICLO DE FORMACION PROFESIONAL (CFP)
TERCER AO Tcnicas de Diagnstico Psicopedaggico Cognicin y Aprendizaje Escolar Psicologa del Desarrollo III Etica Materia Optativa del CFP I Psicopatologa Evolutiva Diagnstico Psicopedaggico en Instituciones Educativas 66 Diagnstico Psicopedaggico en Instituciones de Salud y Comunitarias Psicologa de la Religin Materia Optativa del CFP II
CUARTO AO Intervenciones en la Institucin Educativa Diagnstico Clnico Psicopedaggico Deontologa Prctica Profesional Tutoriada en Educacin Orientacin Vocacional, Profesional y Laboral Investigacin Educativa y Sociocomunitaria Intervenciones en Instituciones de la Salud Intervenciones en Organizaciones Empresariales Prctica Profesional Tutoriada en Salud y Empresa Tratamiento Psicopedaggico Materia Optativa del CFP III
Adems de las obligaciones acadmicas, los alumnos debern aprobar dos niveles de ingls. Profesor en Psicopedagoga: Cursando y aprobando el Ciclo Pedaggico en la Facultad de Ciencias de la Educacin y la Comunicacin Social se puede obtener el ttulo de Profesor de Enseanza Secundaria, Normal y Especial en Psicopedagoga.
Ttulo LICENCIADO EN PSICOPEDAGOGA
Perfil del Egresado Las incumbencias profesionales aprobadas por el Ministerio de Educacin de la Nacin (Resolucin N 2473/84) establecen que el Licenciado en Psicopedagoga est capacitado para desempearse en el rea de la salud y de la educacin en relacin con los procesos de aprendizaje, abordando tareas preventivas y asistenciales. As, cumple su desempeo profesional en el mbito del sistema de salud y en el sistema educativo en sus diferentes niveles y modalidades en la dimensin pblica y/o privada.
El egresado de la Carrera de Psicopedagoga desarrolla acciones de diagnstico, pronstico, tratamiento, asesoramiento y orientacin de procesos de aprendizaje referidos a personas en los diferentes momentos evolutivos (niez, adolescencia, adultez, y tercera edad), desde una modalidad individual, grupal o institucional.
Participa en equipos interdisciplinarios a fin de elaborar planes y programas e implementar acciones en las reas de salud y educacin.
Realiza procesos de orientacin educacional, vocacional y ocupacional.
Realiza tareas de investigacin referidas a las reas especficas de su quehacer implementando metodologas propias.
67 Como disciplina en constante desarrollo, surgen permanentemente desafos que amplan significativamente la perspectiva profesional y laboral. Nos referimos a temas vinculados con la tercera edad, capacitacin laboral en el mbito empresarial, reconversin vocacional-ocupacional, mediacin, minoridad y familia, Mercosur, nuevas tecnologas, etc. Los estudiantes de la carrera tienen adems la posibilidad de incluirse en el Programa de Insercin Laboral realizando pasantas, as como en el Plan de Intercambio y Cooperacin Internacional, mediante el cual es posible concretar enriquecedoras experiencias en otros pases.
Ingreso CONDICIONES DE INGRESO
1 y 2 Ao Ciclo Bsico Unificado Psicologa y Psicopedagoga Entrevista Personal
Capital Federal
nico Turno: 25 de febrero al 7 de marzo de 2008 Lunes a Viernes de 9 a 12 y de 18.30 a 21.30 hs
Sede Pilar
nico Turno: 25 de febrero al 7 de marzo de 2008 Lunes a Viernes de 9 a 12 hs.
Asignaturas:
Metodologa de Estudio Introduccin a las Neurociencias Introduccin a las Teoras Psicolgicas Fundamentos Filosficos Introduccin a las Teoras de Aprendizaje
Coordinador/a de Ingreso:
rea Centro: Licenciada Graciela Fiotto Lunes y J ueves de 9 a 12 horas Mircoles de 17.30 a 20.30 horas
rea Pilar: Licenciada Cristina Lpez Gay de Mndez Lunes de 9 a 12 horas Mircoles de 15 a 18 horas
68 Anexo II Diretrizes Norteadoras do Curso de Psicoedagogia em Nvel de Ps-Graduao (ABPp) Estas diretrizes foram elaboradas no conselho Nacional, reunio do dia 05 e 06 de junho/98, com base nas reunies de Coordenadores de Cursos de Psicopedagogia de alguns estados brasileiros. Caracterizao do curso de Psicopedagogia: Trata-se de um curso de especializao com caractersticas especiais, pois, muito alm de atender s normas da resoluo 12/83 do Conselho Federal de Educao, visa formao de um profissional: o psicopedagogo. No seu processo de formao o psicopedagogo necessita adquirir um perfil de atuao que integre os conhecimentos tericos a uma mudana de postura profissional (teoria, prtica e formao pessoal). O curso dever atender s reas institucional e clnica concomitantemente, em razo da interdependncia destes campos de atuao. Carga Horria: Considerando o carter informativo e formativo, bem como a complexidade do objeto de estudo da Psicopedagogia e a multidisciplinariedade que envolve, sugere-se que o curso ultrapasse, em muito, a carga horria mnima que a lei sugere. Aconselha-se a distribuio da carga horria num perodo de tempo mais longo evitando-se cursos concentrados. Consideram-se inadmissveis cursos de formao de psicopedagogos distncia. 69 Seleo de alunos: necessria a criao de um sistema de ingresso que privilegie os profissionais, egressos de cursos de graduao, cujas reas de conhecimento sejam mais prximas ou afins ao objeto de estudo da Psicopedagogia, tais como: Pedagogia, Psicologia e Fonoaudiologia. No processo de seleo devero ser contempladas as condies intelectuais, emocionais e culturais do candidato, bem como a experincia na sua rea de formao. Sugere-se como instrumento de seleo: entrevista, anlise da exposio de motivos, provas, anlise de currculo. Sistema de avaliao do aluno: Os critrios de avaliao do aluno durante o curso devem atender aos aspectos quantitativos ( notas, conceitos) e qualitativos ( responsabilidade, postura profissional, tica, etc) devendo-se prever critrios para desligamento do aluno do curso. Sugere-se a constituio de um colegiado de professores para a conduo e tomada de deciso das questes relativas avaliao dos alunos. O colegiado poderia reunir os professores ao fim de cada etapa. Sistema de avaliao do curso: Ao longo do curso devem acontecer momentos sistemticos de avaliao, com vistas a garantir a continuidade, integrao e introduo de alteraes necessrias. Sugerem-se reunies de professores, alunos, preenchimento de questionrios e que o coordenador (ou colegiado) tenha presena efetiva no local do curso. Corpo docente: Dever ser garantidas a presena de professores com experincia na prtica e/ou pesquisa psicopedaggica (institucional e/ou clnica). 70 Coordenao do curso: fundamental que o coordenador (ou pelo menos, um dos coordenadores) detenha conhecimentos da rea psicopedaggica, mantendo contato com a associao da classe e outros coordenadores de cursos de Psicopedagogia. Estgio: imprescindvel a realizao de estgio prtico supervisionado em Psicopedagogia Clnica e Institucional, com um nmero significativo de horas. Formao pessoal: imprescindvel que se introduzam atividades que envolvam a dinmica das relaes interpessoais e sensibilizao para o autoconhecimento. Formao continuada: Os alunos devero ser incentivados a dar seguimento a sua formao pessoal e profissional, atravs de supervises, cursos e atividades que os auxiliem na continuidade da construo de sua identidade profissional. Grade curricular: Alm de uma disciplina inicial sobre Introduo a Psicopedagogia que abordaria o histrico da Psicopedagogia, os campos de atuao, identidade e tica psicopedaggica envolveriam: o Disciplinas que contemplem o desenvolvimento cognitivo, emocional, psicolingstico e neurolgico articulado com as questes de aprendizagem. o Disciplinas que contemplem aspectos relacionados s dificuldades/alteraes que podem surgir nestas vrias reas e sua repercusso no processo de aprendizagem. o Disciplinas especficas relacionadas ao mbito clnico, diagnstico e interveno psicopedaggica. Estgio supervisionado. 71 o Disciplinas especficas relacionadas ao mbito institucional: diagnstico e interveno psicopedaggica. Estgio supervisionado. o Disciplinas relacionadas ao mbito da pesquisa psicopedaggica. Psicopedagogia On Line Portal da Educao e Sade Mental http://www.psicopedagogia.com.br/abpp/index.shtml