Metodologias Etnográficas

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BEAUD, S; WEBER, F., 2007 [1997], Escolher um tema e um campo in Guia para a Pesquisa de Campo.

Produzir e Analisar dados etnogrficos, Petrpolis, Vozes, pp. 21-43 [LO]


Frases importantes: 1) o campo (...)uma realidade emprica descrita por outros. 2) Em qualquer caso imperativo assegurar-se de que seu tema de pesquisa possa ser abordado no contexto de uma pesquisa de campo . Os dados recolhidos pelo cientista social tm uma clara dependncia da sua aptido e condio intelectual, dos locais onde efectua a sua pesquisa e as suas prticas. Por conseguinte, importante sempre explicitar as condies que vo ser o fruto da anlise do investigador. Este deve ter uma noo mais abrangente e vaga do seu tema de pesquisa porque, por vezes, a experincia no terreno dita que o tema escolhido para estudo pode sofrer alteraes, tornando-se ele sacrilizado, mais tarde, no objecto da prpria pesquisa. Alm disso, o autor faz uma chamada de ateno para a realidade que o trabalho de campo pode no corresponder, numa primeira abordagem, s nossas perspectivas tericas construdas em leituras prvias na abordagem ao terreno. Weber e Beaud sublinham que, as qualidades do investigador devem ser convocadas para o terreno, como por ex: prudncia, circunspeco, capacidade para ouvir e no julgar o outro, etc. Todavia, a qualidade primordial, segundo estes, est intrincada no interesse que o cientista social tem pelo outro, como igualmente no modo como ele demonstra a sua curiosidade consoante a sua prpria personalidade. No fundo, o que interessa que estes pontos de expressem, pois estas so as ferramentas certas para um contacto harmonioso e profcuo com os inter-locutores no terreno. Dito isto, outras qualidades do investigador devem ser: a) capacidades de entrar numa relao com vrios agentes sociais desconhecidos, pois estes esto inseridos noutros contextos sociais que so distintos do cientista. b) fundamentar a confiana com os interlocutores, visto que importante saber negociar um lugar no terreno com eles. Desconfiar dos temas muito amplos: a pesquisa no campo limitada, pois ela tem as suas fronteiras no tempo e no espao. Gerir o tempo passar a ser deveras crucial. De uma forma embrionria convm irmos ao encontro de resultados, tais como: entrevistas pertinentes, observaes de qualidade, etc. Por outro lado, as pesquisas que esto entravadas por serem amplas ou vagas demais podem levar desmotivao e infelicidade. O tema escolhido pelo investigador deve se subordinar a duas regras: 1) ser exequvel na prtica 2) ter como alicere questes prvias recheadas de primeiras leituras. A tentao do pitoresco: a preferncia pela escolha de temas de ndole extica, estranha, etc, deturpada pelo olhar meditico que dita, por vezes, assuntos que podem suscitar a curiosidade, sendo que esses temas

podem-se tornar autnticas armadilhas. A curiosidade que pr-fabricada pelo pitoresco social , na maioria das vezes, uma m companhia para as pesquisas, pois levam a esquecer o essencial das adversidades materiais dos agentes sociais. A colocao de questes bafejadas pela magia dos espaos e pelas imagens pr-construdas so situaes que levam a uma m escolha temtica. Por isso, na fase embrionria das pesquisas de terreno necessrio estar alerta para o que j est pr-fabricado em sua prpria imagem por terceiros. Em suma, nem todos os temas interessantes so susceptveis de serem objecto de pesquisa de campo. Os princpios da escolha de um tema: os autores do vrios conselhos: 1) relacionarmo-nos com temas que sejam interessantes; que nos faam levantar questes. 2) os temas escolhidos devem ser exequveis no terreno, pois estes esto dependentes de um determinado perodo de tempo para a sua realizao. 3) escolha de objectos diminutos(micro) de pesquisa emprica, por ex: questes que levem ao plano geral, social, acadmico, etc. Ser guiado por uma pergunta de partida: essa questo que ser o guia do investigador nas suas primeiras leituras, motivando-o na escolha do seu campo e no seu modo de pesquisa. Esta pergunta se metarmofosear-se- com o tempo, e ter que ser abordada com formulaes tericas por via das primeiras leituras. Dito isto, a pesquisa de terreno, que tem como substracto a pergunta de partida, ter ela que estar envolvida com a existncia de factos objectivos(lugares, textos, etc). Em suma, a pergunta de partida tem que ser um catalisador de sentidos na relao de inter-conhecimento no fieldwork. Fazer valer o princpio do interconhecimento: em termos tcnicos algo exigvel porque estamos a falar do seu motor de pesquisa, ou seja, aquilo que lhe faz progredir. importante que o investigador social lembre-se de si na sua anlise, pois a observao em contexto etnogrfico no tem por base o universo dos inter-locutores, mas o universo das relaes entre o pesquisador e o pesquisado. Do tema questo da pesquisa: h a necessidade de reduzir as questes amplas para concrectas. Os autores falam em dois princpios: 1) Dar privilgio s relaes sociais mais cristalizadas 2) Transformar uma questo abstracta numa sequncia de prticas sociais e eventos. As vantagens do estranhamento: os autores aconselham o investigador a no escolher temas familiares, porque o modo mais correcto de se fazer pesquisa etnogrfica queles temas que temos a oportunidade de observar e descobrir mundividncias que no conhecemos(pois s essas permitem mudarmos o nosso olhar). Escolher um campo: um lugar, um meio de pesquisa: a escolha do terreno que d a chave para alterar a questo geral e prematura do investigador em relao ao seu objecto emprico. O prprio terreno e o objecto emprico tm uma relao eterna. Isto , no existe um bom objecto de pesquisa sem um bom campo e vice-versa. Os campos difceis: existem ambientes exigentes e, por isso, apelam capacidade do investigador para marcar a sua posio. Os terrenos de estudo s so mais fceis ou difceis consoante atitude e posicionamento do investigador. Os campos prximos: o cientista social tem se de despir de

qualquer preconceito(seja ele de que natureza for) antes de entrar para o terreno, pois interfir com a sua objectividade. Deste modo, as relaes no campo com os pesquisados sero mais profcuas na interpretao dos mesmos. Do tema ao campo: no se deve fabricar os temas de pesquisa como algo estanque, porque o terreno dinmico. A pesquisa uma escola de como ser modesto, ou seja, no acto de pesquisa est inerente o erro, e so esses erros que far o investigador evoluir. Em suma, o terreno dita as leis ao investigador e, devido a isso, necessrioa escutar os ensinamentos do campo.

MALINOWSKY, B., 1984 [1922], Argonauts of the Western Pacific , EUA, Waveland Press [Introduction: The subject, Method and Scope of this Inquiry] [LO]
Em Etnografia, o escritor o seu prprio cronista e historiador ao mesmo tempo. A magia do etngrafo, no qual este tem a habilidade de evocar o esprito real dos nativos. Os princpios basilares do mtodo de pesquisa podem sem separados por 3 grupos: 1) o estudante deve possuir objectivos cientficos bem delineados, sabendo os valores e critrios da etnografia. 2) Deve posicionar-se numa boa posio para trabalhar, isto , viver sem outro homem branco, mesmo entre os nativos. 3) O estudante deve aplicar um certo nmero de mtodos de recolha, manipulao, dando credibilidade s suas evidncias. Ir para o terreno sem ideias pr-concebidas pois estas so perniciosas para qualquer estudo cientfico. O trabalho de terreno debrua-se inteiramente da inspirao advinda da teoria. A primeira ideia bsica do trabalho etnogrfico delinear a constituio social, e compreender as leis e regularidades de certo fenmeno cultural. O entngrafo deve recolher dados concrectos evidentes, e desenhar as inferncias gerais para ele mesmo. Mtodo de documentao estatstica: cada fenmeno deve ser estudado atravs da mais ampla gama possvel das suas manifestaes concrectas, ou seja, cada estudo deve ter uma vistoria exaustiva de exemplos detalhados. Os resultados devem ser tabulados num mapa sinptico, tanto para ser usado como um instrumento de estudo, como para ser apresentado como documento etnolgico. Viver entre os nativos um longo perodo de tempo. Importncia de percepcionar o comportamento do indivduo nas suas reaces emocionais com os outros. Este facto devem ser formulados e gravados de uma forma cientfica. Todo isto no deve ser feito atavs de um registo suprfulo dos detalhes, mas como um esforo em penetrar a atitude mental expressada. No fundo, Malinowski chama a ateno aos etngrafos para irem para o terreno treinados com o seu olhar cientfico. A recolha e o registo das impresses no terreno devem comear logo no incio nos trabalhos de campo. Por outro lado, autor chama ateno para a importncia do dirio de campo como uma ferramenta sistemtica com vista

ao investigador granjear um melhor conhecimento das condies do seu terreno. importante para o etngrafo, por vezes, deixar de lado o lpis e o caderno e juntar-se no que se est a passar. Devido a isso, o investigador sentir um sentimento diferente do comportamento dos seus interlocutores, tornando-se o mundo em estudo mais transparente e entendido do que antes. Importante perceber o que os nossos informantes sentem e pensam no contexto de uma comunidade. Por conseguinte, os estados mentais dos nossos informantes recebem um certo rtulo, tornando-se esterepotipados pelas instituies nos quais eles vivem. O terceiro mandamento do trabalho de campo: descobrir as formas tpicas de pensar e sentir, traando uma correspondncia s instituies e cultura de uma dada comunidade, formulando os resultados da forma mais convincente. O trabalho etnogrfico deve ter como objectivo 3 pontos 1 ) A organizao da tribo, e a anatomia da sua cultura deve ser registada e firmemente esboada. O mtodo concrecto da documentao estatstica o meio atravs do qual tais contornos so dados. 2) Com este quadro acima descrito, a imponderabilidade da vida actual, e o tipo de comportamento tem de ser preenchido. Estes tm de ser recolhidos atravs de observaes detalhas, numa espcie de dirio etnogrfico, realizado a partir do contacto prximo com os informantes. 3) Uma coleco de afirmaes etnogrficas, narrativas caractersticas, declaraes tpicas, itens do folclore e frmulas mgicas tm de ser dadas no corpo inscrito, como um documento da mentalidade dos interlocutores. Em suma, o objectivo retratar o ponto de vista dos nossos informantes, a sua relao com a vida, realizando a sua viso do seu prprio mundo.

DIAS, J., 1997, Entre arte e cincia ou o Etngrafo como heri romntico: Malinowski e o trabalho de campo antropolgico, Ethnologia , 6-8, pp. 39-53 [LO]
Jill Dias, fala-nos da importncia da introduo dos Argonautas do Pacfico Ocidental na exortao de um trabalho de terreno de cariz mais intensiva. Esta obra prope um mtodo de trabalho de campo moderno, oferecendo uma revoluo no trabalho cientfico. Esta metodologia predispe a recolha de informaes etnogrficas mais fidedignas, atravs de um modo mais professional. Deste modo, segundo a autora, Malinowski foi o primeiro antroplogo a escrever no seu trabalho temas metodolgicos(tericos e prticos). Malinoswki, deste modo, o pioneiro de um novo mtodo de trabalho cientfico, nomeadamente na sua inovao etnogrfica. Segundo Jill Dias, a forma original que este autor contribuiu debrua-se na realidade da sua distino entre os tipos de factos procurado pelos etngrafos e os mtodos especficos da sua recolha.

No olhar de Jill, o trabalho de campo levado a cabo por Malinowski nas ilhas Trobriand foi superior em termos de qualidade ao que at ento se produzia. O que distinguiu este mtodo de pesquisa foi a observao participante intensiva. A pesquisa de ndole mais presencial forjada por Malinowski ofereceu uma nova roupagem metodolgica antropologia, no que se concerne a um relato funcionalista, sincrnico e, no fundo, presencial. Este antroplogo polaco sentiu que era necessrio a transformao de observaes etnogrficas de cariz subjectivo em conhecimentos e dados tanto objectivos como cientficos, pretendendo dar uma imagem bem argumentada dos trobriandeses. Assim sendo, na introduo aos Argonautas, o autor pretendia forjar um guia sobre o trabalho de campo para etngrafos que viessem depois dele, como igualmente construir a legitimidade e autoridade cientfica do que ser etngrafo atravs da autenticidade da recolha das informaes em primeira mo.

EVANS-PRITCHARD, E.E , 1991 [1937], Some Reminiscences and Reflections on Fieldwork in Witchcraft, Oracles and Magic Among the Azande . Oxford, Clarendon Press, pp. 240-254 [LO]
Pritchard salienta a importncia rigorosa da aprendizagem terica antes de ir para o terreno, pois assim, o etngrafo ter as ferramentas tericas necessrias para saber o que importante no terreno. Logo, intil ir para o terreno cego. Ningum pode estudar nada sem a teoria cerca da sua natureza. O autor critica os antroplogos que se ocupam tanto com as notas de campo em vez de antes se preocuparem em ler etnografias escritas por outros. Todo os vrios nveis de conhecimento so importantes na pesquisa, tendo um contgio na direco dos interesses do antroplogo, ao nvel das observaes e da forma como estas sero apresentadas. O autor enfatiza que, tudo o que trazemos do trabalho de campo espelho das ferramentas que levamos. A observao emprica para ter algum valor tem de ser guiada e inspirada por uma viso generalizada do natureza do fenmeno em estudo, pois deste modo as concluses tericas iro ser construdas de uma forma exacta e detalhada. Pritchard igualmente chama-nos a ateno para a importncia de ter informantes capazes de serem entrevistados numa toada diria. Estes tm de ser pessoas conhecimento, inteligentes e com conhecimento de causa em relao ao nosso objecto de estudo. No fundo, os informantes tm que ser nossos amigos. Em relao longevidade do trabalho de campo o autor afirma que 2 anos o tempo necessrio. No efectuar inquritos de cariz social-cultural sem as relaes de amizade estarem antes estabelecidas, pois sem esse contexto poder haver

ms interpretaes e confuses de ambas as partes, que podem resultar em questes difceis de serem ultrapassadas. Devemos escrever no livro de notas tudo o que for possvel que tenhamos observado.

CLIFFORD, J., 1988, On Ethnographic Authority, in Antonius C.G.M. Roben; Jeffrey A. Sluka (eds), Ethnographic Fieldwork. An Anthropological Reader, Malden, Blackwell Publishing, pp.476-492 [LO]
A observao participante obriga os seus praticantes a experenciar o terreno fisica e intelectualmente as contrariedades de interpretar a linguagem cultural dos informantes. Isto requere um grau de envolvimento directo e de conversao, como igualmente um grau de expectativa pessoal e cultural. No novo paradigma da autoridade do escritor, importante relatar minimamente na etnografia a experincia pessoal do investigador no terreno. James Clifford fala-nos da importncia no texto de Malinowski da importncia que este deu na demonstrao de dados objectivos e no criaes subjectivas. A experincia tornou-se um caso relevante e efectivo na autoridade da etnografia, pois a experincia requere uma presena participativa, levando o investigador estabelecer contactos com o mundo em estudo, granjeando percepes concrectas. O etngrafo acumula experincia pessoal no terreno. As pesquisas de eventos e encontros tornam-se notas de campo, e a experincia torna-se numa narrativa textual. Em suma, a moderna autoridade do etngrafo faz com que a sua voz seja a mais forte na produo de uma monografia. O modo de controlo da autoridade do etngrafo est alicerado nos processos advindos da experincia, interpretao, dialogia e polifonia.

SPRADLEY, J. P., 1980, Participant Observation, Harcourt Brace College Publishers [LO]

EUA,

Segundo Spradley, na actual prtica de pesquisa em cincias sociais podemos encontrar dois tipos de padres de pesquisa. A maioria das cincias socias recorre-se a um padro linear de pesquisa, enquanto a etngrafo tende a seguir um padro cclico de pesquisa. O modelo do padro cclico de pesquisa estrutura-se deste modo: 1) seleccionar um projecto etnogrfico 2) Levantar questes etnogrficas 3) Reunir dados etnogrficos 4) Fazer um registo etnogrfico 5) Analisar os dados etnogrficos 6) Escrever uma etnografia. No segundo ponto(levantar questes etnogrficas), e por meio de uma observao participante, o objectivo observar as actividades dos indivduos, as caractersticas fsicas do contexto

social, e como nos sentimos naquele contexto. Desto modo, comearemos a fazer observaes descritivas mais amplas, tentando ir tendo a percepo do contexto social que ocorre no espao(analisando os dados etnogrficos). Assim, logo aps o registo e anlise os dados iniciais, a ideia estreitar a pesquisa e comear a realizar observaes mais focadas. Finalmente, depois de mais anlises e obser vaes repetidas no campo, deveremos estar capacitados de estreitar a investigao ainda mais com vista a realizar observaes mais selectivas. Contudo, mesmo que as observaes tornem-se mais focalizadas, devemos continuar a realizar observaes descritivas gerais at ao final do estudo. No ponto 3(fazer um registo etnogrfico), inclui a prtica de tirada de notas de campos, fotografias, fazer mapas, e usar outros possveis meios para registar as observaes. Deste modo, este registo etnogrfico constri uma ponte entre a observao e a anlise. Por conseguinte, a maior da anlise deve se basear no que foi registado. O outro ponto a seguir(analisar os dados etnogrficos), temos a importncia da anlise como um processo de descoberta de questes. Em vez de levar para o terreno questes especficas, o etngrafo deve analisar os dados de campo compilados que advm do processo de descoberta de questes na prtica da observao participante. Logo de seguida, importante analisar as notas de campo depois de cada perodo do trabalho de campo com vista a saber o que olhar durante o perodo seguinte da observao participante. Por fim, esta ltima e o registo das notas de campo, so sempre seguidas por uma anlise dos dados, o que levar descoberta de novas questes etnogrficas, maior nmero de dados, mais notas de campo e, logo, mais anlise. por esta forma que o ciclo continua at o projecto estar perto de ser completado. No ltimo ponto(escrever uma etnografia) esta pode levar a novas questes e mais observaes. Escrever uma etnografia fora o investigador a um novo e mais intenso tipo de anlise. Aqueles que comeam a sua escrita cedo e que depois no podem fazer mais observaes vo se dar de conta que escrever torna-se parte do ciclo de pesquisa. Em suma, a pesquisa etnogrfica envolve um inquirio no fechada, requerendo um feedback constante para dar direco ao estudo. Crtica ao padro linear de pesquisa: tendncia em recolher notas de campo ao longo de um certo tempo e depois dar-se de conta com uma quantidade grande de dados no organizados, pois, desde modo, nunca se sabe a quantidade certa para preencher cada tpico. Ao longo da pesquisa etnogrfica cclica sugerida por Spradley, temos a possibilidade de descobrir novas questes para perguntar, sendo estas que nos guiar na coleco de dados. De seguida, quando analisamos os dados, novas questes etnogrficas iro surgir, levando-nos na dinmica da repetio cclica. Este processo continua depois atravs da investigao. A primeira coisa que o etngrafo tem de considerar o objectivo da sua

investigao. O objectivo da pesquisa pode variar ao longo de uma dinmica contnua entre etnografia micro e macro. Como exemplo, os estudos de uma nica comunidade so demonstrativos do tipo de etnografia mais praticada no seio da antropologia. No interior de uma nica instituio social, possvel restringir o objectivo da pesquisa ainda mais e focarmo-nos numa mirade de situaes sociais correlacionadas. O autor sugere que, a etnografia usualmente praticada com um nico problema em mente: descobrir o conhecimento cultural que os indivduos esto a usar com vista a organizar o seu comportamento e interpretar a sua experincia. Tal objectivo geral encouraja o etngrafo a estudar qualquer informao que ele ache ser importante num cenrio cultural particular. Alm disso, Spradley tambm nos diz que, o trabalho etnogrfico comea quando comeamos a levantar questes etnogrficas. Isto parece evidente quando conduzimos entrevistas, mas, segundo o autor, mesmo as observaes e notas de campo mais simples envolve o levantamento de questes. Na realizao da observao participante para fins etnogrficos, tanto as questes como as respostas devem ser descobertas no contexto social que est a ser estudado.

BURGESS, R. 1997 [1984], Registar e analisar a informaode campo in A Pesquisa de Terreno. Uma Introduo, Lisboa, Celta, pp. 181-201 [cap. 8] [LO]
Notas de campos substantivas: consistem num registo contnuo de situaes, acontecimento e conversas nos quais o investigador participa. Elas substanciam um registo de observaes e entrevistas que so obtidas pelo investigador. Em algumas ocorrncias, este tipo de notas devem ser registadas de uma forma sistemtica construndo seces e categorias anteriormente estabelecidas pelo investigador no registo de acontecimentos particulares. Por outro lado, questes de carcter substantivo e conceptual podem contagiar a mirade de materiais seleccionados que so registados. Notas metodolgicas: consistem em reflexes de carcter pessoal sobre a actividade no campo. Uma franja delas referem-se a problemas, impresses, sentimentos e intuies, bem como alguns dos processos e procedimentos associados com a pesquisa de terreno. O objectivo primordial deste tipo de notas a reflexo do investigadorNotas de anlise: Outra nuance da elaborao das notas de campo a preparao das anlises iniciais que so efectuadas no campo. Estas notas podem incluir as questes prvias e as hipteses a discutir e a testar.

SCHENSUL, J.;LECOMPTE, M. (eds), 1999 Ethnographer's Toolkit (vol.2: EssentialEthnographic Methods:

Observations, Interviews, and Questionnaires), California, London, Altamira Press, pp. 69-120. [caps. 4 e 5] [LO]
4 Entrando no campo Passos . literatura; . pesquisa Procurar por no dados secundrios local disponveis; escolhido; . Conversar com outras pessoas que tenham tido experincia de . Construir um quadro conceptual inicial para guiar a pesquisa; . Identificar domnios iniciais e factores para mais explicaes a anlises. Completando estes passos, os etngrafos esto prontos para entrar no terreno. Neste captulo, discutir-se- o processo de entrar ou como entrar no campo onde a pesquisa tomar lugar no qual a construo de relaes conduzir implementao do plano de pesquisa ao longo do tempo. Entrar no campo (entry) o processo de desenvolver a presena e relaes no local de pesquisa designado que torna possvel ao pesquisador recolher dados. Trabalho de campo e campo O trabalho de campo envolve as tarefas de pesquisa levadas a cabo no campo escolhido. O campo um espao fsico, no qual os limites so decididos pelo pesquisador em termos de instituies e pessoas de interesse, assim como as actividades que lhes esto associadas no espao geogrfico. Para os etngrafos, o campo pode ser qualquer local geogrfico/social no qual um problema de pesquisa seleccionado pode ser estudado. Campo (field) o espao ou localizao natural e no laboratrio, no qual as actividades em que o pesquisador est interessado tomam lugar. Quando dizemos que os etngrafos vo para o campo, significa que eles abandonam as suas prprias comunidades, padres institucionais, conceptuais Desenvolver na preparao as para o trabalho de de campo: pesquisa;

principais

perguntas

. Rever as ideias traadas pelos estudos anteriores relatados na

comportamentos familiares e padres cognitivos para entrar noutro mundo social. Neste processo, eles devem aprender o que os residentes do terreno j sabem- a lngua, as regras que regulam as relaes sociais, e os padres culturais, expectativas, e significados que as pessoas no local partilham. Aprender estas regras, normas, limites e comportamentos a tarefa da Etnografia. O primeiro passo na aprendizagem estabelecer relaes. A entrada no terreno complicada porque o etngrafo tem de aprender diversas sua; . Como localizar e construir relaes com pessoas que tm acesso a informao discreta importante e outros recursos e relevantes para o estudo; eficiente; . Como recolher e gravar informao no local numa forma que tanto . Como comear a escolher qual a informao que nova, interessante, e importante para os propsitos do estudo. Alguns pesquisadores escolhem estudar em comunidades dentro das quais possuem algum tipo de associao. Apesar disto, nenhum pesquisador pode ser totalmente identificado com os membros do grupo sob estudo. Ningum completamente representativo de cada potencialmente importante eleitorado ou sector de uma dada comunidade. Os etngrafos possuem uma identidade que nunca coincide completamente com os indivduos que so membros da comunidade ou local de pesquisa em questo. Os etngrafos so simultaneamente membros e no membros do grupo em estudo e tm de lutar continuamente com o enquadrar e reenquadrar a sua identidade. Esta luta tem implicaes ticas porque quanto mais integrados os pesquisadores esto no terreno, mais fcil para os residentes esquecer que eles esto a recolher datas. Os etngrafos devem lembrar-se sempre que so pesquisadores e relembrar os participantes do estudo do mesmo. O etngrafo como ferramenta auto-reflexiva de inqurito coisas ao mesmo tempo: . Como funcionar numa comunidade que pode ser muito diferente da

pesquisa

etnogrfica separe na

nunca

autobiogrfica . e

Requere a

que

o da se

pesquisador participantes

esteretipos,

opinies ainda

julgamentos os

partir

observao exacta e registo eficaz de palavras, significados e opinies dos pesquisa. Requere que pesquisadores transformem no instrumento principal da recolha de dados.

Para o etngrafo, contudo, registar a observao apenas uma componente de uma . . . Reflectir sobre tarefa mais elaborada e as Entender transformaes na que inclui dos os o personalidade seguintes da elementos: experincia; local; e no Reflexo cuidada contnua significados

comportamento que o pesquisador tem de fazer devido sua experincia. A habilidade de funcionar discretamente (por outras palavras, de uma forma culturalmente competente) muito importante para fazer boa etnografia no campo porque minimiza a influncia do pesquisador no terreno. A mudana de um ambiente familiar para um que no o , complexa e esmagadora, . . prever Observar, registar futuros e interpretar eventos o envolvendo as seguintes actividades: Ouvir; comportamento; observados;

. Registar e compreender o significado da linguagem utilizada no local; . Organizar informao e compreender para que possa cada vez mais . Reflectir sobre a forma como o que ouvido e visto afecta o comportamento, atitudes e valores, incluindo os prprios. O processo de estabelecer relaes no terreno construdas sobre confiana referido como a construo do relacionamento. Os bons etngrafos constroem facilmente relaes. Construo do relacionamento significa desenvolver boas relaes pessoais com pessoas no local de pesquisa que facilitam o acesso a actividades e informao necessrias para a conduo do estudo.

Existem ocasies em que o etngrafo utilizaram incentivos, incluindo pagar aos seus guardies ou especialistas culturais, pelo tempo em que participavam numa entrevista. Guardies / porteiros: so pessoas com uma opinio/percia/especialidade reconhecida num tpico de interesse para o pesquisador. Especialistas culturais: so pessoas que tm

opinies/percias/especialidades culturais. Todos os etngrafos devem entender a importncia da reciprocidade na construo de relaes. Assim, devem partilhar o seu tempo, transporte, conhecimento, relaes com os fornecedores de servios ou outros recursos valiosos para os participantes e comunidades. O que mais importante no fim no o como a pesquisa inicialmente explicada ou mesmo a base organizacional e reputao do pesquisador. O relacionamento repousa, em ultima instncia, nas conexes/conhecimentos atravs dos quais o etngrafo foi apresentado comunidade local, como os pesquisadores esto vontade com as pessoas no campo, como tentam manter bem a confidencialidade e a rapidez com que aprendem os costumes e normas locais. O propsito de aprender rapidamente para se integrar minimizar o grau no qual o etngrafo perturba o normal e contnuo processo de interaco dentro do grupo. Os etngrafos devem estabelecer relaes e confiana baseadas nas suas caractersticas pessoais, e no no seu estatuto ou promessas. Os pesquisadores precisam de tornar o processo e o produto da etnografia explcitos, indicando que vai gravar as conversas, conduzir entrevistas e observaes e passar por transformaes pessoais durante a construo das relaes e do processo de aceitao. Estabelecer relaes para facilitar a entrada O pesquisador comea a desenvolver relacionamentos interpessoais durante a fase de entrada no terreno de pesquisa. Frequentemente, alguns dos primeiros membros do grupo a ser atrados pelo novo estranho

(outsider) sero aqueles membros mais marginais que esperam promover os seus prprios interesses ou aumentar o seu estatuto pessoal por se tornarem amigos do pesquisador. Para qualquer pesquisador que visto como um elemento exterior ou que se torna observador no seu grupo social, ganhar acesso a eventos sociais importantes e locais um processo complexo. Devido durao do perodo de pesquiso ser habitualmente limitada, a entrada deve ser suave e rpida, construindo relaes fortes e apropriadas num curto perodo de tempo. Passos . . . chave a Identificar Fazer outros para entrar Obter e fazer no local permisso entrevistas observao no local aos de guardies de pesquisa: formal; locais;

. Estabelecer contactos com pessoas conhecedoras sobre o local; distncia; pesquisa;

. Obter introdues atravs dos guardies locais e informantes . Ganhar envolvimento directo no local de pesquisa com a assistncia de guardies ou informantes chave. Obter permisso oficial(sabemos que temos de fazer, o ttulo s est para localizar o que vem a seguir no texto) Guardies/porteiros so aqueles que controlam o acesso informao, outros indivduos e contextos. Indivduos como outros pesquisadores, oficiais seniores, administradores universitrios e chefes de departamento e membros chave da comunidade detm um poder e influncia sobre o local de pesquisa. Eles controlam o acesso do pesquisador ao local e das fontes ou recursos necessrios para apoiar o seu estudo. Entrevistas com os guardies locais Os guardies locais so pessoas que controlam o acesso a recursos, sejam humanos, geogrficos, sociais ou informacionais.

Guardies locais so pessoas que controlam o acesso a recursos ou informao que os pesquisadores necessitam. Identificando informantes chave Informantes chave eficazes so indivduos que tm um conhecimento amplo do local de pesquisa ou um conhecimento profundo sobre um aspecto importante da pesquisa. De acordo com Gilchrist, Os informantes chave diferem dos restantes informantes pela natureza da sua posio na cultura e pela sua relao com o pesquisador que geralmente longa, ocorre em diversos contextos e mais intima. Os informantes chave mostram a sua habilidade para comunicar o seu conhecimento aos pesquisadores. Frequentemente, eles ganharam o seu conhecimento pelo valor da sua posio e experincia na comunidade, pela sua rede de relaes, pela sua habilidade para se exprimir oralmente e pela sua ampla compreenso da comunidade. O principal propsito de entrevistar os informantes chave para ganhar um conhecimento profundo sobre um ou mais tpicos especficos, sempre melhor entrevistar vrio informantes chave sobre o mesmo tpico para assegurar a validade e segurana do mesmo. Desta forma, os dados obtidos de vrios informantes chave distintos pode ser acumulado e as informaes cruzadas. Os informantes chave so seleccionados devido sua habilidade para fornecer informao exploratria e porque eles podem ligar os pesquisadores a outros possveis informantes chave e fontes de informao. Porque eles nunca podem representar todas as categorias demogrficas importantes ou domnios culturais, as entrevistas com informantes chave nunca devem ser tratadas como representativas de uma populao total. Os um formulado. informantes chave tpico podem ser j escolhidos por razes:

. Exploratrias para descobrir um tpico ou domnio novo associado a identificado; . Tericas para explorar relaes entre os elementos num modelo j

Spradley nota que embora quase qualquer um se possa tornar um informante, nem todos se tornam bons informantes.

ATKINSON, Paul; DELAMONT, Sara; HOUSLEY, William, 2008, Narratives and Other Stories, Contours of Culture. Complex Ethnography and Ethnography of Complexity, EUA, Altamira Press, pp. 89-116. [LO]
A coleco de narrativas e outras formas de dinmicas orais tornaram-se a maior preocupao dos investigadores sociais nos anos mais recentes. Narrativas, histrias, e relatos devem ser fontes fundamentais dados para o etngrafo. Os etngrafos devem colher histrias pessoais, narrativas privadas, auto-biografias ligadas identidade, relatos de aces passadas, etc. A narrativa uma forma de aco social. As histrias e relatos recolhidos so uma representao directa da experincia pessoal. A ordem narrativa um aspecto da ordem social de um modo mais geral. No fundo, um aspecto da ordem moral cujos motivos e consequncias da aco so expressados e partilhados. Este aspecto trouxe ribalta a tradio das histrias de vida porque os resultados obtidos no so sempre apresentados em termos narrativos. Mais do que recuperar o passado, o trabalho etnogrfico contemporneo mais focado pela necessidade em afirmar o contexto dirio de contextos marginalizados ou outros actores sociais mutantes. Narrativas, histrias e perfomances so formas de aco social. Elas deviam ser vistas e examinadas juntamente com outras formas de organizao social. Ns devemos, como etngrafos, como as narrativas esto distribudas, como os direitos e habilidades nas narrativas orais se relacional com a organizao social, e que funes sociais esto inter-ligadas atravs da perfomance narrativa. Deste modo, o estudo das identidades e as suas construes sociais so, no fundo, inter-lidas com a coleco de narrativas do prprio. Alm disso, temos a importncia dada pela psicologia social que sugere que narrativas autobiogrficas so fulcrais para a compeenso do prprio e da criao de identidades. Em suma, as biografias so parte da fbrica social diria. Contudo, preciso ter a noo que as entrevistas implicam formas na sua produo, sendo, no fundo, sensveis ao seu contexto de produo, tal como as piadas, os insultos, e outros tipos de produo oral. No devemos igualmente olhar para o contexto das narrativas mas para as suas formas. A relao entre experincia e dilogo se debrua nas propriedades estruturais das narrativas. Logo, a experincia tem de estar

conectada com os princpios estruturais das convenes das narrativas. Devido a questo cientfica, temos de tar interessados como a sinceridade, verdade, autenticidade e o gosto so produzidos no contexto das convenes das narrativas. Em suma, temos de argumentar de que forma as narrativas operam numa panplia de ordens: a ordem de interaco, discursa, e a narrativa que, no fundo, se encontram inter-ligadas. Os etngrafos tm ter por base dos seus estudos a ferramente da anlise narrativa.

BURGESS; R., 1997, A Pesquisa de Terreno, Lisboa Celta [cap. 5] [LO] Crtica de Burguess: Na entrevista estruturada no h relao de longo prazo entre o investigador e o investigado. Esta apresentada como um esquema que permite colher dados num contexto de pergunta e resposta seguindo uma lista de questes padro. Deste modo, apresenta-nos a questo da entrevista no estruturada e semiestruturada. Este tipo de entrevista requere um conhecimento minucioso dos indivduos a entrevistar. O conhecimento prvio do contexto de entrevista primordial antes de as questes puderem ser levantadas, para que as pessoas se sintam confiantes e preparadas para fornecer informao cerca da sua vida. No fundo, s assim que se chegar a um conhecimento profundo do que se pretende saber atravs do estabelecimento de uma atmosfera de confiana com aqueles que pretendemos entrevistar. Neste tipo de entrevista, a relao entre investigador e interlocutor primordial. Esta habitualmente estabelecida pelo investigador, conduzindo ele prprio as mesmas, no entregando as questes a algum que no esteja familiarizado com o terreno em estudo. O autor continua argumentando que prefervel as mulheres serem entrevistadas por mulheres e vive-versa, pois o sexo importante na interpretao das relaes entre investigador e investigado no contexto de entrevista, tal o investigador tem de ter em mente at que ponto as suas caractersticas pessoas podem ou no ter influncia na prtica da entrevista. As entrevistas no estruturadas fazem, grosso modo, parte de um do trabalho de pesquisa do investigador, utilizando o conhecimento do mesmo do contexto social onde est inserido. Estas igualmente poder ser usadas como um suplemento observao participante, podendo auxiliar o investigador, ao longo do tempo, a resposta de questes que antes eram consideradas como fechadas. Em relao s questes na entrevista sugere-se que sigamos 3 princpios:

1) questes descritivas que permitem ao informante fazer declaraes cerca das suas actividades. 2) questes estruturais que tenham como papel determinar como que os informantes organizam os seus conhecimentos. 3) questes de contraste que permitem aos informantes discutir significados de situaes, dando-lhes chances de comparar acontecimentos ocorridos no seu mundo. Em suma, estas questes particulares so usados em diferentes momentos da entrevista, dando coragem aos entrevistados a discutir as situaes na sua prpria linguagem. O autor tambm fala-nos das enrevistas de grupos, oferecendo estas a oportunidade de dilogo entre os vrios entrevistados. Estas situaes forjam oportunidades de examinar as relaes entre os participantes e as suas prprias perspectivas. Estas entrevistas no estruturadas deve ter na perspectiva do autor cerca de hora e meia para no fadigar ambas as partes. Importante tambm conhecer o material que levamos para o terreno como o gravador, no sentido em estar familiarizado com o seu funcionamento, estando isto tudo luz das prprias necessidades do investigador no seu estudo.

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