Ray C. Stedman - A Dinâmica Da Vida Autêntica

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Ttulo do original em ingls: Authentic Christianity Copyright 1975, Ray Stedman. Publicado no Brasil com a devida autorizao.

. Segunda edio 1986 3.000 exemplares Traduzido por Myrian Talitha Lins Todos os direitos reservados pela Editora Sepal Caixa Postal 30.548 01051 So Paulo, SP E proibida reproduo total ou parcial sem permisso escrita dos editores. Composto e impresso nas oficinas da Editora Betnia S/C. Rua Padre Pedro Pinto, 2435 Belo Horizonte (Venda Nova), MG Printed in Brazil.

Neste volume desafiante, Ray Stedman usa 2 Corntios 2:14 a 6:13 como modelo para distinguir entre a vida crist verossmil e a verdica. Esta significa nada menos que; 1. Otimismo indestrutvel 2. Sucesso constante 3. Impacto inesquecvel 4. Integridade irrefutvel 5. Realidade Inegvel

Ray C. Stedman foi durante 29 anos pastor da "Pennsula Bible Church", em Paio Aitc, Califrnia. Seu ministrio tem tido um longo alcance e ele largamente reconhecido como excelente exoositor bblico, pastor, conselheiro e evangelista.

Publicado pelo Um ministrio da SEPAL

Editora Sepal

ndice

Prefcio..........................................................................................................5 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. A Grande Imitao..............................................................................6 O Verdadeiro.....................................................................................11 O Segredo..........................................................................................26 Dois Esplendores...............................................................................37 Morte Versus Vida............................................................................44 O Inimigo Interior .............................................................................56 O Inimigo de Fora .............................................................................70 Vasos, Presses e Poder....................................................................80 Tempo e Eternidade..........................................................................92 Nossa Motivao.............................................................................107 A Glria do Ministrio....................................................................118 Exemplo Ilustrativo.........................................................................127

Prefcio
Este o livro que mais desejei escrever. O seu assunto o prprio cerne do evangelho, a mais importante verdade contida nas Escrituras. Trata-se da nova aliana, de que o Senhor Jesus falou quando tomou o vinho na ltima ceia com os discpulos: "Isto o meu sangue, o sangue da aliana, derramado em favor de muitos, para remisso de pecados." Quem entender corretamente todas as implicaes dessa nova aliana, poder descobrir o maior segredo da Palavra de Deus. E esse segredo , nas palavras de Paulo, "Cristo em vs, esperana da glria". Sobre essa unio fundamental do crente com Cristo, assentam-se, precisamente, todos os planos de Deus para a vitria sobre o mal, no presente, e a manifestao de sua glria, no futuro. Oro e espero que Deus use este livro para abrir os olhos de muitos, a fim de enxergarem essa verdade central das Escrituras, e isso os leve a gozar, na vida presente, a gloriosa libertao dos filhos de Deus! Ray C. Stedman

1 A Grande Imitao
A vida crist inicia-se com um encontro com Jesus. E no poderia ser de outra forma. "Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que no tem o Filho de Deus no tem a vida." (1 Jo 5.12.) Muitos fatores podem contribuir para esse encontro, e vrios deles podem ser de carter intensamente religioso. Mas enquanto o indivduo no responder positivamente promessa de Cristo e o receber como seu Senhor, no existir possibilidade de vida eterna. Esse "recebimento" pode se dar sem nenhum esforo, e to suavemente, que nem merecer ser relatado, como no caso de uma criana; mas tambm pode ser grandioso e dramtico, como sucedeu ao apstolo Paulo; ou pode ser tranquilo e sem emoo, a no ser por um certo calor espiritual, como no caso da converso de Joo Wesley; finalmente pode ser movimentado e doloroso, como aconteceu com Santo Agostinho. Seja qual for a maneira em que ocorra, o fato que tem de ocorrer, para que se tenha uma vida crist. A Bblia Diz... Esse encontro com Cristo, to necessrio para que nos tornemos crentes, depende de inmeras coisas que se encontram no registro escrito da Bblia. Portanto, para se crer e receber a Cristo, essencial que se tenha algum conhecimento dela. o relato bblico acerca da crucificao e ressurreio de Jesus que nos oferece base para crermos que ele est vivo, e nossa disposio; que ele, pelo Esprito Santo, pode realmente viver dentro de um ser humano e entrelaar sua vida de tal forma com a daquela pessoa, que da por diante as duas vidas devem ser consideradas como uma s. o relato bblico da vida e personalidade de Jesus que nos oferece base para supormos que ele verdadeiramente o Salvador que declarou ser, e que tem poder e sabedoria para livrar e libertar todos os que o buscam. Lembramos que Jesus disse: "Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei." (Mt 11.28.) E tambm disse: "Eu sou a luz do mundo; quem me segue no andar em trevas, mas ter a luz da vida." (Jo 8.12.)

No H Outro Meio No faz diferena sabermos claramente quem Jesus , o que ele pode fazer, e at mesmo como ele o faz (se pelo princpio representado em sua cruz, ou por um mtodo que alguns denominam "o plano da salvao"), enquanto o ser humano no atender ao convite de Jesus e decidir-se a receb-lo, obedecer-lhe e segui-lo, no receber a vida eterna. Todos os oferecimentos de salvao feitos no Novo Testamento so dirigidos vontade humana, para que tome a deciso de render-se ao Senhorio de Jesus. Uma pessoa no se torna crente apenas porque apreende, intelectualmente, os fatos histricos acerca de Jesus. Da mesma forma, ningum se torna crente apenas por compreender as implicaes teolgicas de sua morte e ressurreio. Tampouco nos tornamos crentes por aceitarmos certos padres morais e ticos que Jesus ensinou. Tambm no nos tornamos crentes procurando unir nossa vida a Deus, sem a mediao de Jesus Cristo. Mas nos tornamos crentes pedindo a Jesus que entre em nossa vida como Senhor, e crendo que ele pode entrar e j entrou pelo seu Esprito Santo. Quando isso acontece (qualquer que seja o modo), processa-se um milagre, embora possa ocorrer sem nenhuma demonstrao ou emoo exterior. Esse indivduo recebe uma nova qualidade de vida (chamada vida eterna) e ele se torna "vivo em Cristo". Apenas esse ato divino, e nada mais, faz dele um cristo. "Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que no tem o Filho de Deus no tem a vida." simples assim. Sinais de Vida Mas isso apenas o princpio. Do mesmo modo que um recmnascido, logo que sai do ventre da me j uma pessoa, embora sua vida no esteja ainda desenvolvida, assim tambm um indivduo recmconvertido realmente cristo e partilha da vida de Jesus. E isso verdade, embora aquela pessoa ainda tenha que aprender muita coisa e passar por inmeras experincias, antes que atinja um certo grau de maturidade. Entretanto, e felizmente, logo se notam certas manifestaes de vida. Talvez o mais fcil de se notar a paz e o bem-estar, principalmente no que diz respeito aos sentimentos da pessoa acerca de Deus. Paulo diz que isto resulta do fato de o Esprito de Deus testificar com o nosso esprito que somos filhos de Deus. E esse senso de paz se torna mais intenso e duradouro, quando compreendemos as plenas implicaes do perdo de

pecados, atravs do relacionamento com Cristo. Essa eliminao do senso de culpa responde em grande parte pela paz que o crente experimenta. Outro elemento que logo se faz presente no novo crente o sentimento de pertencer a uma famlia. Descobrimos que no estamos sozinhos, mas que nos tornamos membros de uma famlia imensa, sempre crescente. Como membros dessa famlia, temos muitos irmos e irms com os quais nos relacionaremos e amaremos, enquanto, ao mesmo tempo, temos contnuo acesso ao Pai celestial, pela orao e pelo amor. Para muitas pessoas, o melhor aspecto dessa nova vida a libertao do temor da morte e do que vem depois dela. Esperar com certeza os cus, em lugar de temer o inferno, uma satisfao inexplicvel. A presena desses elementos no crente em graus variados e em ocasies diversas, faz com que ele experimente intenso jbilo e gozo. A Bblia se torna um livro novo e interessante, e a comunho com outros crentes representa uma alegria contnua. A mudana em sua atitude e aparncia torna-se manifesta a todos, e pessoa custa entender por que no se tornou crente h mais tempo. Trs Opes Possveis Esse estado de euforia do incio pode durar vrias semanas e meses. Mas, inevitavelmente, mais cedo ou mais tarde, a antiga vida natural comea a reafirmar-se. Aquele fulgor que sentia durante o culto comea a esmaecer, e a leitura da Bblia torna cada vez menos gratificante. A comunho com os outros crentes, seja em reunies ou em contatos individuais, torna-se enfadonha e rotineira. Antigos hbitos de pensamento e ao voltam a intensificar-se. um perodo crtico, quando pode ocorrer uma entre trs possibilidades. Primeira, o novo crente continua nesse declnio espiritual, e chega ao ponto de abandonar todo o relacionamento com outros crentes, para completamente de ler a Bblia, ora pouco ou nada, perde totalmente o interesse pelas coisas espirituais, e, finalmente, v-se vivendo do mesmo modo que vivia antes de tornar-se crente. certo que poder haver perodos ocasionais de remisso, com a possibilidade de ele se estabelecer numa existncia regularmente consistente com a vida crist, mas, na maioria dos casos, no h nenhuma recuperao, pelo menos durante muitos anos, e comea-se a duvidar se aquele indivduo realmente se tornou cristo.

A segunda possibilidade ele tomar conscincia da situao de seu corao frio e rebelde, assustar-se com a ideia de voltar ao que era antes, e voltar ao Senhor em arrependimento e frustrao, renovando sua f nas promessas de Deus, talvez buscando o auxlio de crentes mais velhos e experimentados, e assim recuperar aquele estado de paz e gozo. Este ciclo pode repetir-se vrias vezes at tornar-se comum para ele, que ento passa a pensar que a vida crist normal assim mesmo. Mas, por outro lado, ele pode aprender alguma lio importante em cada um desses ciclos, at que finalmente seus olhos se abrem para entender a verdade, e ele ser liberto dessa experincia tipo montanha russa, tornando-se um crente estvel, sbrio, guiado pelo Esprito. A terceira coisa que pode acontecer, e a mais provvel, que ele descubra o que milhes como ele j descobriram: possvel evitar-se a humilhao e a dor dos arrependimentos contnuos, simplesmente mantendo-se uma fachada de consagrao espiritual, retido moral e comportamento ortodoxo. Agindo assim, ele preserva sua reputao de crescimento e maturidade espiritual, que to gratificante para o ego, e lucra muito no sentido de obter oportunidades de servir e receber louvores da comunidade crist. Esse tipo de vida crist to comum e to pouco condenada, que quase no se pode tirar a razo do novo crente por adot-la, pensando que aquilo que se espera dele. E ele vai caindo nesse tipo de vida quase sem censuras, no percebendo que se trata de uma imensa fraude, uma pssima imitao da realidade. E ficar bastante ofendido se algum o chamar de hipcrita. Para ele, hipocrisia um esforo deliberado para enganar a outros; e a sua adeso doutrina, aos padres morais e prtica do cristianismo profunda e sincera. Mas, na verdade, ele hipcrita, pois a paz que alega possuir est presente somente quando as circunstncias em que vive so tranquilas; o gozo de que fala nos hinos que canta nunca se estampa em seu rosto; e o amor que ele tanto exalta est reservado apenas para aqueles que o agradam. Tudo no passa de uma grande simulao, embora boa parte dela seja inconsciente. Pode ser que ele seja mesmo um verdadeiro crente, em cujo corao Cristo habita, mas, a no ser em ocasies muito raras (geralmente de desespero ou xtase espiritual) ele no leva uma vida verdadeiramente crist. Pode ser uma vida moral, muitas vezes generosa, e certamente religiosa. Pode ser qualquer coisa, menos vida crist. Na realidade, praticamente a mesma vida que ele levava antes de receber a Cristo, s que agora est recoberta por uma fina

camada de verniz cristo, um verniz que desaparece prontamente quando a situao se torna difcil, irritante ou desanimadora. Bastante Diferente Para muitos, isso pode parecer um julgamento demasiado forte. Em alguns crculos evanglicos, o verdadeiro cristianismo identificado com pureza de doutrina, e em todo lugar onde se aceita a doutrina da verdade, as pessoas que encaram a vida desta maneira tm muita dificuldade em aceitar a acusao de que no esto vivendo realmente a vida crist. Lembremos, porm, que o verdadeiro cristianismo mais que uma mera doutrina ele VIDA. "Aquele que tem o Filho tem a vida!" Lembra? E essa vida no representa apenas moralidade, doutrina correta e gentileza inofensiva; ela mais que isso. positiva, e no apenas negativa; radical, e no superficial; humilde, e no auto-exaltante; compassiva, e no indiferente; corajosa, e no covarde. Realmente est muito distante dessa branda compatibilidade que passa por cristianismo em milhares de igrejas espalhadas por toda a terra. Essa Grande Imitao to amplamente aceita como sendo o verdadeiro cristianismo que, quando este aparece, muitas vezes encarado como uma ameaa ou heresia. Nosso objetivo neste livro traar a diferena entre o falso e o verdadeiro. E para isso nos guiaremos apenas e totalmente pela revelao das Escrituras, pois a Palavra de Deus a nica fonte de informao capaz de distinguir entre o certo e o errado. Vamos examinar um trecho da segunda carta de Paulo aos corntios, captulos 2.14 a 6.13. Nesta passagem, o apstolo mostra aos corntios como fazer distino entre o cristianismo autntico que ele prprio vivia e a frgil imitao que muitos daqueles crentes, enganosamente, pensavam ser o verdadeiro. Depois ele os leva (e a ns tambm), passo a passo, a compreender a enorme riqueza de vida que aguarda aqueles que aprendem a viver de acordo com a nova aliana, que d vida, e no de acordo com a velha, que mata. O estudo que faremos dessa passagem no ser de cunho teolgico nem devocional, mas profundamente prtico e direto. Se o leitor est interessado num cristianismo radical e autntico, continue a ler.

2 O Verdadeiro
Sempre me pareceu muito injusto que muitas igrejas (e alguns crentes tambm) tenham registros apurados do nmero de pessoas que eles levam a Cristo, mas nunca fizeram nenhum registro daqueles que eles afastaram de Cristo. Para se ser justo, era preciso que os dois lados fossem observados. Pois a verdade que muitas vezes as igrejas afastam mais pessoas de Cristo do que as aproximam, e, frequentemente, so os crentes mais zelosos ortodoxos que produzem esse afastamento. E a razo disso, como j vimos, que eles, embora sejam crentes verdadeiros, manifestam um cristianismo falso, to falso como uma nota de trs cruzeiros. Falsidade que Brota da Verdade certo que existe um cristianismo falso praticado por pessoas que no so realmente crists. Existem muitos falsos cristos que nunca foram crentes de verdade, e h apstatas que do a impresso de serem crentes durante algum tempo, mas depois abandonam tudo para sempre. Mas, seguramente, o mais sutil estratagema do Tentador, no intuito de enganar e iludir os homens, fazer com que crentes verdadeiros, que realmente conhecem a Jesus como seu Salvador e Senhor vivo, pratiquem um cristianismo falso, que sinceramente pensam ser verdadeiro. E, naturalmente, ele no pode ser identificado por uma afirmao doutrinria ou pela adeso a determinada religio, pois esse tipo de cristianismo falso sempre muito ortodoxo. Na maior parte das vezes, ele muito espiritual e se desenvolve em cultos de consagrao e dedicao de vida. Ele emprega os termos certos, e se comporta de maneira adequada, mas, no final das contas, o resultado que traz afastar as pessoas de Cristo, em vez de levlas a ele. Em flagrante contraste com esta espcie de cristianismo, est o verdadeiro autntico cristianismo, da forma como deveria ser. Quando se manifesta, ele no precisa nem de publicidade nem de propaganda. Ele possui um fascnio prprio que atrai pessoas a si, como o mel atrai as moscas. certo que entra em choque com muitos, quando estes descobrem o segredo dele, mas sua natureza, inicialmente, atrai e provoca admirao.

Na verdade este foi o efeito que teve na vida de Jesus de Nazar. Naturalmente, no existe demonstrao mais clara do que seja o verdadeiro cristianismo, do que o que se viu na vida de Jesus. Era a vida crist em sua forma mais pura e consistente. O Exemplo de um Apstolo Mas, para muitas pessoas, o problema que o Senhor levava uma vantagem sobre ns, pois, embora, indubitavelmente, fosse homem, era tambm Deus, e de seu lado divino ele tirou foras para resistir ao diabo, foras que no possumos. Esse ponto bastante polmico, mas no vamos discuti-lo aqui. Antes, vejamos uma das muitas passagens das Escrituras que descrevem o cristianismo autntico nos termos de uma pessoa com quem talvez possamos nos identificar melhor pelo menos em princpio. Como o cristianismo autntico ou radical o resultado final para o qual convergem as Escrituras, h muitos textos, tanto do Velho como do Novo Testamento, que poderamos citar para orientar-nos nessa descoberta. Vamos ficar, porm, com um texto da segunda carta de Paulo aos crentes de Corinto. Dentre as epstolas de Paulo, esta uma das que mais apresentam cunho autobiogrfico. Nela, ele nos fornece muitos esclarecimentos com relao s suas experincias, e revela, em termos bem claros, o segredo de seu grande ministrio. O primeiro captulo e metade do segundo da segunda carta aos corntios do a entender que Paulo estava sendo questionado por alguns dos crentes de Corinto. Estes haviam sido influenciados por alguns cristos judeus de Jerusalm, os quais sugeriam que Paulo no era um verdadeiro apstolo, pois no pertencera ao grupo original dos doze. Afirmavam que ele ensinava certas coisas que ultrapassavam a lei de Moiss. Alegando que no era um verdadeiro apstolo, afirmavam que seu cristianismo no era autntico. Uma das armas que o diabo mais gosta de usar essa de dizer que a verdade uma grande mentira, e era o que acontecia na igreja de Corinto. Cinco Caractersticas Inconfundveis Paulo respondeu a esse questionamento descrevendo a natureza de seu ministrio. Como veremos, ele possui cinco caractersticas ou qualidades que no podem ser falsificadas. Sempre que algum pratica o verdadeiro cristianismo, essas qualidades se fazem presentes, e por mais

que o falso tente imit-las, no o consegue. So inimitveis. Elas no tm nenhuma relao com a personalidade ou o temperamento, e portanto no podem ser adquiridas por algum que descubra seus segredos. No se acham restritas a um determinado perodo de tempo, e ao se manifestarem no sculo XX so to genunas como quando se manifestavam no sculo I. Vamos iniciar essa jornada de descobertas no verso 14, do segundo captulo da segunda carta aos corntios. Nele, acham-se trs caractersticas do genuno cristianismo, e as outras duas so encontradas nos versos seguintes. "Graas, porm, a Deus que em Cristo sempre nos conduz em triunfo, e, por meio de ns, manifesta em todo lugar a fragrncia do seu conhecimento." (2 Co 2.14.) Otimismo Indestrutvel A primeira das cinco encontrada logo na primeira frase do verso: "Graas, porm, a Deus." Uma marca inconfundvel do cristianismo radical uma vida muito cheia de gratido, mesmo em meio a provaes e dificuldades. uma espcie de otimismo indestrutvel. Vemos isso claramente no livro de Atos, onde h uma nota de triunfo que vai do incio ao fim, apesar dos perigos, dificuldades, perseguies, presses e riscos que os cristos primitivos enfrentaram. Essa mesma nota de ao de graas se reflete nas cartas de Paulo, e tambm nas de Joo, Pedro e Tiago. O tipo de gratido que elas mencionam genuno. sincero e verdadeiro. No h nele nada de falso ou de artificial. E est muito longe da imitao de gratido que por vezes vemos em alguns crentes hoje em dia. Algumas pessoas pensam que devem estar sempre a repetir certas formulas de agradecimento, embora no creiam nelas. Mas eles o fazem simplesmente porque as Escrituras ensinam que o cristo deve agir dessa maneira. Muitos, ento, sujeitam-se a uma forma de estoicismo cristo, uma atitude de resignao que at um no-crente pode adotar, quando se encontra diante de uma situao que no pode modificar. Mas essa atitude muito diferente da verdadeira gratido crist. Se formos dar ouvidos a alguns sermes que se ouvem hoje em dia, temos que crer que o crente deve colocar um sorriso no rosto e sair dizendo: "Aleluia! Eu estou com cncer!" Mas o verdadeiro cristianismo no age assim. Ele sente toda a dor e sofrimento das circunstncias adversas como qualquer pessoa, e no tem

prazer nelas. S que ele v um resultado final que est sendo produzido (no somente no futuro, no cu, mas aqui na terra tambm), um resultado to glorioso e desejvel, que vale bem a pena toda a dor e sofrimento. Portanto, ele nada mais pode fazer seno regozijar-se. O cristo autntico sabe com certeza que o mesmo Senhor que permitiu essa dor, ir utiliz-la para operar algo de altamente desejvel, e, assim sendo, ele pode dar graas, com toda a sinceridade, mesmo em meio a perplexidades e sofrimentos. Em Atos 16, temos um importante exemplo dessa atitude, quando Paulo e Silas foram lanados no crcere interior da cadeia de Filipos. Suas costas estavam em carne viva, sangrando, devido aos terrveis aoites recebidos por ordem das autoridades romanas, e seus p estavam presos a troncos. O futuro era muito incerto; no tinham a mnima ideia do que lhes iria suceder pela manh. Mo havia ningum, a quem pudessem impressionar com uma demonstrao de coragem; e ningum a quem pudessem recorrer para que interviesse em seu favor. Contudo, apesar de perspectivas to desanimadoras, Paulo e Silas viram em tudo aquilo algo que os fez irromper em cnticos. Ningum poderia acus-los de hipcritas ou de colocar uma mscara, a fim de elevar o nimo. Eles estavam realmente gratos a Deus, e comearam a louv-lo, porque sabiam que, apesar do aparente insucesso e malogro, seu objetivo havia sido alcanado. Agora, a igreja que desejavam fundar em Filipos no poderia mais ser detida. Isso fez com que irrompessem em louvor e ao de graas. Naturalmente, naquele momento, eles no sabiam que haveria um terremoto que soltaria suas cadeias e os libertaria. No tinham nenhum pressentimento de que seriam libertos. Estavam simplesmente expressando uma inevitvel caracterstica de quem encontrou o segredo radical do cristianismo um indestrutvel otimismo e ao de graas. Sucesso Constante A segunda caracterstica est intimamente relacionada com a primeira, e encontra-se na frase seguinte: "Que em Cristo sempre nos conduz em triunfo." Observemos como Paulo diz: "Sempre nos conduz em triunfo." No em certas ocasies, nem vez por outra, mas sempre. O apstolo afirma claramente que o cristianismo que ele vivia tinha como

caracterstica um sucesso constante. Ele nunca fracassa, e invariavelmente atinge seus objetivos. Como j vimos, cristianismo implica em lutas, dificuldades e lgrimas, mas, embora essa luta possa ser desesperadora, nunca devemos alarmar-nos. Afinal ela resulta na concretizao do objetivo que buscamos. At mesmo a oposio que encontra existe para servir aos objetivos da vitria. Lembremos que essas palavras tocantes no so apenas palavras de nimo. No foram pronunciadas por um pastor a uma congregao bem vestida, do sculo XX, para proporcionar-lhe uma sensao de participao vicria, ao sentir, momentaneamente, os desafios da f. No; foram escritas por um homem que carregou em seu corpo as marcas de Jesus, e que suportou muito sofrimento, decepes incontveis, duras perseguies e muita dor. E, no entanto, ele pde escrever, com absoluta sinceridade: "Sempre nos conduz em triunfo." Isso no quer dizer, porm, que todos os planos e objetivos de Paulo tenham-se concretizado, pois isso no ocorreu. Ele quis fazer inmeras coisas que nunca pde realizar. No captulo 9 de Romanos, ele diz como ansiava por pregar o evangelho a Israel: "Meus compatriotas segundo a carne." At chegou a expressar o desejo de ser separado de Cristo, se com isso os israelitas viessem a ser libertos. Mas ele nunca viu esse objetivo alcanado. No so os planos dele que se acham em jogo aqui, mas os de Deus. O triunfo de que fala de Cristo, no de Paulo. A marca invarivel do cristianismo autntico o fato de que quando a pessoa descobre seu fracasso. A vontade de Deus nunca ser frustrada Cada obstculo que se lhe ope torna-se uma oportunidade, e o sucesso inevitvel. A Liberdade na Priso o princpio do triunfo constante que Paulo descreve no primeiro captulo de sua carta aos amigos de Filipos. Nessa ocasio, ele est preso na cidade de Roma, confinado a uma casa alugada, acorrentado dia e noite a um membro da guarda imperial de Csar. As coisas lhe parecem pretas. Dentro em breve ele deve comparecer presena de Nero Csar, a fim de responder s acusaes dos judeus, acusaes essas que podem custar-lhe a vida. No pode viajar pelo imprio, pregando as "inexcrutveis riquezas de Cristo". Nem ao menos pode visitar as igrejas que fundou. Que situao desalentadora! Entretanto, nenhuma outra carta do Novo Testamento reflete

mais confiana e gozo que a epstola aos flipenses. A razo de sua confiana, diz Paulo, dupla. "Quero ainda, irmos, cientificar-vos de que as cousas que me aconteceram tm antes contribudo para o progresso do evangelho." (Fp 1.12.) E a seguir ele menciona duas evidncias que provam isso. Primeiramente, ele afirma: "De maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais." (Fp 1.13.) A guarda pretoriana o corpo da guarda imperial. Sendo ele prisioneiro de Csar, tem que ser vigiado pela guarda seleta de Csar. Essa guarda era constituda de filhos de famlias nobres, que eram recrutados para passar alguns anos servindo na guarda do palcio de Nero. Mais tarde, aquele grupo seria o responsvel pela escolha dos vrios sucessores do imperador. Portanto, eram eles que elevavam ao trono os imperadores. Eram todos jovens responsveis a nata do Imprio. Quem souber ler um pouco nas entrelinhas, perceber o que est-se passando aqui. Est claro que o Senhor Jesus, em sua funo de Rei da Terra, indicou Nero como presidente da comisso de evangelizao do Imprio Romano. Naturalmente, ele no sabe disso, mas, na verdade, os imperadores raramente sabem do que acontece em seu imprio. Lembremos que, quando chegou o momento de o Filho de Deus nascer em Belm, sua me e o seu marido encontravam-se a cerca de 100 quilmetros de distncia, em Nazar. Ento Deus deu ao Imperador Augusto a tarefa de fazer com que Jos e Maria descessem de Nazar a Belm. Augusto foi estranhamente impulsionado a emitir um decreto imperial no sentido de que todos se dirigissem sua cidade de origem, a fim de serem recenseados, e isso resolveu a questo. Assim tambm, nesse caso, Nero deu ordem para que sua guarda imperial se encarregasse da vigilncia do apstolo Paulo. E assim, de seis em seis horas, um daqueles maravilhosos jovens era levado at ali, acorrentado ao apstolo, e ali ficava durante seis horas. Gostaria de sugerir que, se temos que sentir pena de algum, que seja desse jovem guarda. Ali est ele, tentando levar sua vida bem tranquila, pag, e de vez em quando recebe a ordem de ser acorrentado a um homem inquietante, que diz as coisas mais estranhas acerca de um tal Jesus de Nazar, que ressuscitou dentre os mortos. E em consequncia disso, aqueles moos foram sendo ganhos para Cristo, um a um. Isso o que se

pode chamar reao em cadeia! Se algum duvida de que isso tenha acontecido, examine o penltimo verso da carta aos filipenses. O apstolo diz o seguinte: "Todos os santos vos sadam, especialmente os da casa de Csar." (Fp 4.22.) Temos aqui, ento, um grupo de moos, o centro poltico do imprio, que est sendo infiltrado e ganho para Cristo por um velho acorrentado em cadeias, que aguarda um julgamento, onde estar em jogo a sua vida. No de todo improvvel que os jovens que acompanharam Paulo em suas ltimas viagens tivessem pertencido a esse grupo. Este incidente revela magnificamente a estratgia de Deus, e, incidentalmente, a fraqueza dos planos humanos, em contraste com os de Deus. Nenhuma mente humana poderia ter concebido essa forma toda peculiar de se chegar ao corao do imprio. Ns, os homens, estamos sempre planejando estratgias para nos desincumbirmos da Grande Comisso de Cristo, mas os planos que afinal resultam disso so banais, rotineiros, sem imaginao e relativamente incuos. O mais notvel da estratgia divina que, muitas vezes, ela toma a forma de uma ativa oposio. Oposio Como Meio de Progresso isso que est registrado nos primeiros captulos do livro de Atos. A igreja de Jerusalm estava crescendo assustadoramente. Havia de dois a cinco mil crentes reunindo-se dominicalmente, desfrutando de um enorme gozo e comunho. Entretanto, a igreja estava toda confinada dentro dos limites da cidade. Quando Deus resolveu que essa coisa to boa deveria espalhar-se entre as naes, permitiu ento que surgisse uma dura perseguio. Em consequncia dela, os cristos primitivos, exceo dos apstolos, foram espalhados pelo imprio. Desde que aprendi a reconhecer a mo de Deus nesses atos de oposio, comecei a ler os relatos dos missionrios sob um prisma diferente. Nesses ltimos anos, as revistas missionrias tm trazido testemunhos que, de uma forma ou de outra, afirmam o seguinte: "Esto acontecendo coisas terrveis em nosso pas. As portas esto-se fechando para o evangelho. A oposio est crescendo, o governo est tentando acabar com todo o testemunho do evangelho, e ns, os missionrios, talvez brevemente tenhamos que arrumar as malas e partir." No h dvida de que estes missionrios necessitam de nossas oraes, e est claro que os crentes

do lugar acham-se em terrvel perigo. Contudo, quando leio tais notcias, j sei dizer: "Graas a Deus. Finalmente, os missionrios esto sendo obrigados a deixar o controle das igrejas, e os crentes daquele lugar vo assumir a direo." Na Etipia, antes da Segunda Grande Guerra, os missionrios foram expulsos e no puderam retornar seno vinte anos depois. Mas, quando voltaram, descobriram que o evangelho havia se espalhado como incndio em floresta, e havia um nmero maior de crentes do que haveria, se eles tivessem ficado l. Irmos Mais Corajosos Paulo faz uma segunda afirmao na carta aos filipenses, para provar sua tese de que as coisas que lhe aconteceram serviram apenas para auxiliar o avano do evangelho. Ele diz: "E a maioria dos irmos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a palavra de Deus." (Fp 1.14.) Devido ao fato de Paulo ser prisioneiro, os cristos de Roma estavam testemunhando com mais ousadia pela cidade, o que de outro modo no fariam. Fora nessa ocasio que comeara a primeira perseguio oficial aos cristos. Muitos estavam temerosos de falar de sua f, mas quando viram que Deus no Nero, nem os judeus que estava no controle da situao, ficaram mais ousados na proclamao do evangelho. Em consequncia disso, a pregao do evangelho em Roma era feita com mais eficcia, do que se Paulo estivesse livre para pregar vontade. J me sugeriram que talvez a melhor maneira de se evangelizar uma comunidade seria prender todos os pregadores numa cadeia. Assim os outros crentes comeariam a perceber que eles tambm possuem dons para o ministrio, e passariam a exercit-los de forma eficiente. Talvez algum dia eu faa essa tentativa. Cartas Vivas E quando ns, que vivemos no sculo XX, olhamos para trs e examinamos este incidente, descobrimos uma terceira prova que corrobora a tese de Paulo, e que ele prprio no viu. Se pudssemos ter estado com Paulo naquela casa alugada, e ter-lhe perguntado: "Paulo, qual foi a maior obra que voc realizou?", o que ser que ele teria respondido? Estou certo de que sua resposta teria sido: "A instalao de igrejas em vrias cidades." Foi a essas igrejas que ele dirigiu estas cartas, e foi por elas que orou

diariamente. Ele as chamava "minha alegria e coroa", e por elas se deu sem reservas. Mas agora, olhando o passado depois de vinte sculos decorridos, percebemos que a instalao daquelas igrejas no foi sua maior obra. Todas as igrejas que ele fundou j encerraram seu testemunho h muito tempo. Em quase todos os casos, as cidades onde elas existiram hoje se acham em runas. Mas o trabalho de Paulo que perdurou at nossos dias e que tem um valor permanente e sempre crescente em todos esses anos, so as cartas que ele escreveu enquanto estava preso, e no podia fazer nenhuma outra coisa. Essas cartas transformaram o mundo. Elas se contam entre os documentos mais poderosos de que o homem tem notcia. No admira que Paulo tivesse escrito: "Graas, porm, a Deus que sempre nos conduz em triunfo." uma caracterstica inconfundvel do cristianismo autntico. Impacto Inesquecvel A terceira marca distinta vem logo em seguida: "...e, por meio de ns, (Deus) manifesta em todo lugar a fragrncia do seu (de Cristo) conhecimento." Aqui est mais um dos belos smbolos pelos quais Deus ensina a verdade. a fragrncia, o perfume. Paulo d a entender claramente que a vida crist, vivida como deve ser, como um perfume, no s para os homens, mas tambm para Deus. E ele amplia mais essa ideia: "Porque ns somos para com Deus o bom perfume de Cristo; tanto nos que so salvos, como nos que se perdem. Para com estes cheiro de morte para morte; para com aqueles aroma de vida para vida." (2 Co 2.15,16.) A maioria dos homens j passou pela experincia de estar num aposento, quando nele entra uma mulher de excepcional beleza, usando um pouco do perfume Chanel n. 5. Ao passar, ela deixa atrs de si um pouco da fragrncia no ar. E todos os homens presentes notam isso, consciente ou inconscientemente. Passadas algumas semanas ou meses, ele volta a sentir aquele aroma novamente, e imediatamente a imagem daquela linda mulher acode ao seu pensamento. Aquele perfume tornou inesquecvel a mulher que o usou. essa figura que Paulo emprega aqui. Existe alguma coisa no cristianismo autntico que deixa em ns uma impresso inesquecvel quando o encontramos. O crente que descobre esse segredo, causa nos outros um impacto duradouro. Ele nunca passa despercebido. Como Paulo

afirma, o impacto causado pode ser em uma ou outra direo. Ou ele intensifica a oposio a Cristo (morte para morte), ou ele o conduz em direo f e vida (vida para vida). Se nossa vida reflete um cristianismo radical, autntico, ento ou estamos fazendo com que as pessoas se tornem melhores ou piores. S uma coisa no pode acontecer: elas no devem continuar sendo as mesmas. Aquelas que esto resolvidas a morrer, ao entrarem em contato com o verdadeiro cristianismo, so impulsionadas para a morte. Os que esto buscando a vida, recebem o auxlio necessrio para que a encontrem. Jesus possua essa qualidade. Todas as pessoas que entraram em contato com ele, afastaram-se diferentes. Muitos comentaristas bblicos, quando abordam essa passagem, acham que Paulo aqui tinha em mente um cortejo triunfal tipicamente romano. Sempre que um general romano regressava capital aps uma campanha vitoriosa, ele recebia uma celebrao por parte do Senado. Armava-se uma grande procisso pelas ruas de Roma, em que se exibiam os cativos aprisionados na batalha. A carruagem em que ia o general vencedor era precedida por pessoas que carregavam guirlandas de flores e vasilhas com incenso perfumado. Estes eram os prisioneiros que iriam retornar sua terra, agora conquistada por Roma, a fim de govern-la sob a direo do imprio. Aps a carruagem, vinham outros prisioneiros, arrastando pesadas correntes nos ps e nas mos. Esses deveriam ser executados, pois os romanos criam que no poderiam confiar neles. Quando o cortejo passava entre as multides que soltavam brados de triunfo, aquele incenso e flores perfumadas eram, para o primeiro grupo, "aroma de vida para vida", e para o segundo grupo, o mesmo cheiro era "cheiro de morte para morte". exatamente esse o efeito que o evangelho causa no mundo, quando o atinge atravs da pessoa de um crente. Se for o cristianismo autntico, para Deus ser sempre uma fragrncia de Jesus Cristo. Para os homens, ser, ou cheiro de morte para a morte, ou de vida para a vida. Naturalmente, se se trata do cristianismo falso, ser simplesmente um mau cheiro. Certa vez, vi um cartaz com a inscrio: "Um velho pescador nunca morre; seu cheiro que de morte." Essa frase descreve bem o falso cristianismo. Ele nunca morre; seu cheiro que de morte.

Integridade Irrefutvel A quarta caracterstica do cristianismo genuno encontra-se no verso 17 do captulo 2: "Porque ns no estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em Cristo que falamos na presena de Deus, com sinceridade e da parte do prprio Deus." Lembremos que no se trata aqui de uma descrio de pastores, mas simplesmente de crentes. Isso tem uma implicao muito grande para pastores e outros que se acham no ministrio, mas refere-se basicamente aos crentes em geral, pessoas que descobriram o segredo do cristianismo radical. Esses crentes podem ser descritos de duas maneiras, pelo que no so e pelo que so. Primeiro, eles no so mercadores. Essa palavra significa vendedores. Vez por outra, vejo o testemunho cristo sendo descrito como um ato de "vender o evangelho". Sinto-me incomodado quando escuto isso, pois no creio que os crentes devem ser vendedores para Deus. A ideia a de um vendedor de rua, que pra numa esquina com mercadorias que julga interessantes, e comea a vend-las s pessoas que passam. Ela ganha a vida vendendo esses artigos. Muitas pregaes e testemunhos do evangelho podem ser comparados a isso. Essas pessoas escolhem certos aspectos do evangelho que possuem maior poder de atrao, e se concentram nesses temas. Cura divina um desses elementos. Ela uma parte do evangelho perfeitamente correta e legtima de se estudar e praticar, mas quando retirada do todo e explorada continuamente, principalmente se a ela est relacionado o levantamento de enormes ofertas, isso pode logo descambar para a comercializao. A profecia, tambm, pode ser usada da mesma forma. Se um homem tem fama como professor em profecias, fico perturbado com ele, pois escolheu um tema que muito atraente. E se ele no ensina mais nada alm disso, no est declarando todo o conselho de Deus. um comerciante ganhando a vida com a venda de certos artigos das Escrituras. Quatro Qualidades Uma Caracterstica Paulo afirma que o cristianismo autntico no assim. Ele caracterizado por quatro coisas. Primeiramente, ele diz que falamos "com sinceridade". Em outras palavras, temos que ser pessoas sinceras. Aquilo que dizemos tem que ser aquilo que pensamos. O mundo admira a sinceridade e a considera o ponto alto do carter. Mas aqui, nessa questo,

ela apenas o comeo, o mnimo que se espera de um crente. O mnimo que se pode esperar de um crente que ele creia naquilo que prega, e busque sempre praticar o que diz. A seguir, Paulo diz que falamos "da parte do prprio Deus". A ideia aqui de objetivo. No podemos ser sonhadores ociosos, perdulrios, sem um objetivo em vista. Somos chamados da mesma forma que os oficiais militares so recrutados, recebem uma tarefa definida e misses especficas tal o comissionamento do cristo. Somos pessoas objetivas, com um fim em vista, com um alvo a atingir, um propsito a realizar. No podemos simplesmente pregar ou testemunhar como se isso fosse um fim em si mesmo. Somos enviados para realizarmos alguma coisa com o nosso testemunho. O terceiro fator que fazemos tudo isso "na presena de Deus". Isso sugere uma atitude de abertura investigao, de total franqueza. Caminhar vista do homem permite muitos desvios e contradies disfaradas sob uma camada de honestidade; mas caminhar na presena de Deus exige total sinceridade. Isso no quer dizer ausncia de pecado, e, sim, que, quando houver pecado, ele no ser escondido. Isso quer dizer que no h nada escondido diante de Deus, e que estamos sendo avaliados e provados pela pureza, conhecimento e sabedoria de Deus. A pessoa que anda vista de Deus no se preocupa em colocar uma fachada falsa. perfeitamente digna de confiana. Pode-se confiar em sua contagem de pontos numa competio qualquer, e, se for um jovem, pode-se confiar nele quando est passeando de carro com a namorada. A ltima caracterstica que falamos "em Cristo". Que qualidade essas palavras indicam? Autoridade! Paulo diz isso claramente no captulo 5: "Somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermdio." (V. 20.) Os embaixadores so porta-vozes autorizados. Tm poder de agir, de cercear. Assim tambm o crente autntico no um servo sem poderes. Pronunciamos palavras e entregamos mensagens sancionadas pelos cus. Tudo isso forma a integridade irrefutvel. Pessoas com sinceridade, objetivo, honestidade e autoridade so totalmente dignas de confiana. Possuem integridade. Podemos apostar uma moeda de ouro em sua conscincia. Sua palavra sua lei; e podemos confiar em que elas a

cumpriro. So indivduos responsveis e fiis. Essa a quarta grande caracterstica do verdadeiro cristianismo. Neste ponto, o texto bblico apresenta uma diviso de captulo, que, infelizmente, vem separar duas partes que deveriam ser uma s. O apstolo ainda no concluiu sua argumentao. Ser melhor que ignoremos a diviso e continuemos em frente, passando quinta caracterstica do verdadeiro cristianismo: "Comeamos, porventura, outra vez a recomendar-nos a ns mesmos? ou temos necessidade, como alguns, de cartas de recomendao para vs outros, ou de vs?" (2 Co 3.1.) Inegvel Realidade Est claro que o apstolo acha-se consciente de que comea a parecer que ele se elogia a si mesmo. Ele sabe que h pessoas em Corinto que logo interpretaro suas palavras desse modo. Na verdade, suas palavras do a entender claramente que, em correspondncia anterior, alguns teriam sugerido que da prxima vez que fosse a Corinto, ele deveria levar cartas de recomendao dos doze, em Jerusalm! Estavam comparando Paulo a eles prprios, que constantemente se elogiavam a si mesmos, de forma que ningum mais cria neles, e seria preciso uma confirmao de fontes mais seguras. Mas Paulo lhes responde:
"Vs sois a nossa carta, escrita em nossos coraes, conhecida e lida por todos os homens, estando j manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministrio, escrita no com tinta, mas pelo Esprito do Deus vivente, no em tbuas de pedra, mas em tbuas de carne, isto , nos coraes." (2 Co 3.2,3.)

Na verdade, o que ele est dizendo o seguinte: "Vocs querem cartas de recomendao para comprovar que eu tenho autoridade para pregar a mensagem de Deus. Ora, vocs prprios so a minha carta de recomendao. Vejam o que aconteceu com vocs. Esto diferentes? Depois que encontraram a Cristo, por intermdio da minha pregao, houve mudana em suas vidas? O seu prprio corao dar testemunho, para vocs e para o mundo, de que a mensagem que ouviram de ns e que transformou suas vidas procede de Deus." Em 1 Corntios 6, ele faz referncia aos "impuros, idlatras, adlteros, efeminados, sodomitas, ladres, avarentos, bbados" que encontrara em Corinto. "Tais fostes alguns de vs", diz ele. Mas agora eles haviam sido lavados, santificados e justificados pelo nome do Senhor Jesus Cristo. Essas transformaes so

evidncias reais. Os corntios haviam escrito a Paulo falando acerca da alegria que agora tinham, e da esperana e sentido que suas vidas haviam adquirido. Descreveram para ele como tinham sido libertos da vergonha e da culpa, do medo e da hostilidade, das trevas e da morte, e falaram da liberdade que agora possuam. E ele responde: "A est a confirmao. Vocs prprios so cartas ambulantes, vindas de Deus, conhecidas e lidas por todos os homens, escritas pelo Esprito de Deus em seus coraes." Esta a ltima caracterstica do cristianismo genuno. a realidade inegvel, uma transformao que no pode ser explicada de nenhuma outra forma, seno pela operao divina. Paulo no precisava de nenhuma carta de recomendao, j que essa mudana era patente na vida dos ouvintes. Ouvi contar certa vez acerca de um homem que fora um alcolatra durante vrios anos e depois se convertera. Algum lhe indagou: "Agora que voc crente, acredita nos milagres do Novo Testamento?" Ao que ele respondeu: "Creio, sim." E o outro disse: "E voc acredita mesmo naquela histria de que Jesus transformou a gua em vinho?" E ele replicou: "Certamente." Mas o outro insistiu: "Como pode acreditar numa tolice destas?" E o crente respondeu: "Vou lhe dizer por qu. que na minha casa ele transformou a cachaa em comida." Essa a caracterstica da autenticidade. Uma transformao to decisiva s pode ocorrer pela influncia de um relacionamento to forte, que substitui o amor bebida pelo amor de Cristo. Estas so as cinco caractersticas inconfundveis do genuno cristianismo: otimismo indestrutvel, sucesso constante, impacto inesquecvel, integridade irrefutvel e realidade inegvel. E elas esto sempre presentes no verdadeiro cristianismo. A mera religio tenta imitar essas caractersticas, mas nunca consegue reproduzi-las realmente. Comparado a essas caractersticas, o falso cristianismo sempre revela o que na verdade: uma imitao barata e esfarrapada, que, ao peso das circunstncias adversas, fatalmente ceder. Mas o que nos deve assustar mais no o fato de que o homem procure recriar essas graas genunas, pois todos ns temos sido hipcritas desde o nascimento, numa questo ou em outra. O que nos admira que o fato de que nos tornarmos crentes no seja uma garantia suficiente de que essas marcas sero manifestas em ns. No ser crente que produz tais coisas, mas viver como crente. Para que estas virtudes estejam presentes em ns de forma consistente, ser preciso

conhecermos um certo segredo e fazermos uma escolha. este o segredo que o apstolo Paulo nos revela em seguida. Vamos examin-lo detalhadamente no captulo trs.

3 O Segredo
Entre as cinco caractersticas do cristianismo autntico que se tornaram manifestas quando lemos a descrio que Paulo faz de seu prprio ministrio, havia uma pergunta que deliberadamente ignoramos: Acha-se em 2 Corntios 2.16: "Quem, porm, suficiente para estas cousas?" Examinemos essa pergunta cuidadosamente. Tentemos respond-la. Na verdade, quem suficiente para coisas desse tipo? Quem possui realmente a capacidade de manifestar sempre um esprito alegre e confiante... de sair sempre triunfando... de exercer uma forte influncia sobre os outros... de ser totalmente digno de confiana... e de demonstrar realisticamente todas essas qualidades de tal forma que ningum possa duvidar delas? Que curso de ao podemos tomar, que nos ensine a viver desse modo? Que livro ter esse efeito sobre ns? Que fantstica descoberta dos poderes ocultos do esprito humano produzir uma vida assim? Quem suficiente para essas coisas? E a pergunta fica no ar, aguardando uma resposta. Vozes de Sereia Imediatamente nos acode ao pensamento uma meia dzia de respostas possveis, pois a pergunta to importante, que metade da atividade do mundo dedicada procura dessa resposta. Corramos s pginas de qualquer revista moderna, e quase todos os produtos ali anunciados sugerem, sutil ou abertamente, que eles constituem a resposta para a nossa busca. "Beba Coca-Cola e viva de verdade!" "Seus amigos o ignoram? Use desodorante Charmoso, a segurana total!" "Leia o bestseller 'Como transformar-se num fenmeno, o maravilhoso livro que o sucesso do momento." "Pea nosso curso-relmpago 'A Conquista do Poder. Ele transformar sua vida!" "Encontre o romance que voc sempre procurou em nosso cruzeiro s Ilhas Misteriosas." Que confuso de vozes todas berrando que o que tm a oferecer justamente aquilo que estamos procurando. "Experimente; voc gostar!" Mas quando a gente chega aos vinte e cinco anos, j descobriu que tudo mentira. Mas Paulo no nos deixa a procurar no escuro a resposta de sua penetrante pergunta. Ele nos d a resposta direta em 2 Corntios 3.4-6:

"E por intermdio de Cristo que temos tal confiana em Deus; no que por ns mesmos sejamos capazes de pensar alguma cousa, como se partisse de ns; pelo contrrio, a nossa suficincia vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliana, no da letra, mas do esprito; porque a letra mata, mas o esprito vivifica."

Ele coloca o segredo diante de ns, em termos inconfundveis: "Nossa suficincia vem de Deus." E para que ningum deixe de perceber as implicaes disso, ele repete a mesma verdade, apresentando-a sob a forma de negativa: "No que por ns mesmos sejamos capazes de pensar alguma cousa." Nada vem de ns mesmos; tudo vem de Deus. Este o segredo da suficincia humana. No desperdice a Vida Viva-a! Viver em tais bases, afirma Paulo, estar habilitado para ser "ministro da nova aliana". E ele compara essa ideia com a velha aliana a "letra mata". Viver recebendo tudo de Deus, e nada de ns mesmos, viver no Esprito, que est constantemente nos dando Vida, com V maisculo. Esse o segredo que produziu em Paulo aquele esprito confiante que o caracterizava, e que o fez espalhar o aroma do conhecimento de Cristo, onde quer que fosse. A linguagem que ele emprega aqui imediatamente nos faz lembrar das palavras de Jesus a seus discpulos: "Sem mim, nada podeis fazer." (Jo 15.5.) Mas nem Jesus nem Paulo querem dar a entender que no possvel haver atividade humana, sem total dependncia de Deus. Tanto o mundo como a Igreja esto cheios de exemplos em contrrio. Mas o que Jesus e o apstolo ensinam que a atividade que depender dos recursos humanos para alcanar sucesso, no fim, nada conseguir. No possui valor permanente. Os homens podem at elogi-la e procurar imit-la, mas Deus a considerar tal como esforo vo. Este tipo de vida muito bem descrito na lamentosa indagao do poeta americano T. S. Elliot:
"Todo nosso conhecimento s nos aproxima de nossa ignorncia. Nossa ignorncia s nos aproxima da morte, Mas estar prximo da morte no estar prximo de Deus. Onde est a vida que perdemos vivendo?" (De "The Rock")

mesmo, onde est? A sinceridade nos fora a reconhecer que deliberadamente desperdiamos muito de nossa vida com sonhos inteis e atividades sem proveito. Mas no toda ela! H ocasies em que nos empenhamos a fundo, e agimos com diligncia e seridade, fazendo o melhor que podemos para realizar o que consideramos ser o nosso dever. Por vezes, os resultados parecem, a ns e a outros, bastante grandiosos, mas quando pensamos em nossa morte, que se aproxima, tudo aquilo nos parece vo e ftil. a ento que indagamos: "Onde est a vida que perdemos vivendo?" A Base da Vida O apstolo d a entender que o segredo de uma vida plena e significativa reside naquilo que ele denomina "a nova aliana". Esta nova aliana aquela a que Jesus se referiu quando passou o clice a seus discpulos, ao instituir a ceia do Senhor. "Isto o meu sangue, o sangue da aliana, derramado em favor de muitos, para remisso de pecados." Este clice, tomado juntamente com o po, deve relembrar-nos da verdade central de nossa vida: Jesus morreu por ns, para que possa viver em ns. sua vida em ns que constitui o poder que nos capacita a viver a verdadeira vida crist. Isso a nova aliana. importante que compreendamos o significado da palavra aliana. Segundo Paulo, h duas alianas operando na vida humana. Uma a nova, que ele descreve como sendo "vinda de Deus e no de mim". A outra a velha, que se acha em flagrante contraste com a primeira, e portanto pode ser descrita como sendo "tudo vem de mim; nada de Deus". A ideia central do termo "aliana", tanto nos dias de Paulo como nos nossos, de um acordo ou pacto entre duas ou mais partes. Este acordo constitui a base sobre a qual edificado todo o relacionamento futuro. Se dois homens entram num negcio juntos, eles formam uma sociedade. Os termos de seu relacionamento devem ser expressos detalhadamente para que tenham uma estrutura dentro da qual possam agir. O casamento tambm um tipo de aliana, no qual um homem e uma mulher concordam em partilhar tudo que possuem, e em ficar juntos at a morte, enfrentando todos os obstculos. As naes assinam tratados entre si, para determinar as condies sob as quais iro operar em conjunto. Todos esses exemplos so formas de aliana. Pelo exposto, est claro que a aliana fundamental e

essencial aos empreendimentos humanos. Mas a aliana mais importante aquela que forma a base da prpria vida humana. Talvez nem pensemos nela desta forma, mas a verdade que no possvel existir uma atividade que no seja firmada sobre uma aliana bsica. No poderamos conversar, cantar, andar, falar, correr, pensar e nem respirar sem essa aliana. Fundamentalmente, um acordo feito entre Deus e o homem, pelo qual este receber a vida e energia de que precisa, a fim de realizar aquilo que Deus deseja que ele realize. O homem no prov sua prpria energia. Ele um ser dependente, que necessita de um constante provisionamento do Criador, para que possa viver e respirar. A grande declarao que Paulo nos faz, nesta passagem, e que confirmada por vrios outros textos, tanto do Velho como do Novo Testamento, que essa fundamental aliana de vida nos chega ou de um modo ou de outro. Primeiro, h o modo "antigo", que, como veremos no captulo seguinte, est intimamente relacionado com a lei mosaica, "a letra mata". Mas, em Jesus Cristo, temos o "novo" modo que proporciona vida, uma vida que indestrutivelmente otimista e caracteriza-se por um triunfo, produz um impacto inesquecvel, possui uma integridade irrefutvel, e apresenta ao mundo um testemunho de inegvel realidade. Foi por ter descoberto as implicaes dessa nova aliana que o apstolo se achou qualificado para viver como Deus queria que ele vivesse, e s se descobrirmos essas mesmas implicaes que ns tambm estaremos qualificados para viver como Deus quer que vivamos. Como Paulo Descobriu o Segredo J que o apstolo se utiliza de sua prpria experincia para exemplificar o tipo de vida de que fala, ser bom que analisemos o modo como ele veio a descobrir, por si mesmo, essa verdade transformadora, e a poca em que isso se deu. Se pensarmos que tudo lhe veio como uma revelao, naquele momento dramtico da estrada poeirenta de Damasco, quando descobriu a verdadeira identidade de Jesus Cristo, e se rendeu a ele como seu Senhor, estamos longe da verdade. certo que Paulo nasceu de novo naquele momento; certo que ali ele entendeu, pela primeira vez, que Jesus era mesmo o Filho de Deus; certo que o centro da vida desse ardoroso fariseu mudou completamente, pois deixou os seus prprios interesses, para buscar a eterna glria de Jesus Cristo. Mas, para muitos de ns que lutamos na vida crist, deve ser animador saber que Paulo tambm

passou por um perodo de uns dez anos talvez, a contar de sua converso, durante os quais ele no viveu na plenitude da nova aliana. E foi nesse tempo que ele, pelo ponto-de-vista divino, se constituiu num fracasso absoluto na vida crist. Duas Declaraes em Damasco Se examinarmos o relato de Lucas acerca da converso de Paulo, no nono captulo de Atos, e o suplementarmos com outros relatos, poderemos compor toda a narrativa do que aconteceu com ele e que resultou na tremenda transformao que ocorreu em sua vida. Transcrevemos a seguir uma descrio do que se passou aps a experincia da estrada de Damasco.
"Ento permaneceu em Damasco alguns dias com os discpulos; e logo pregava nas sinagogas a Jesus, afirmando que este o Filho de Deus. Ora, todos os que o ouviam estavam atnitos, e diziam: No este o que exterminava em Jerusalm aos que invocavam o nome de Jesus, e para aqui veio precisamente com o fim de os levar amarrados aos principais sacerdotes?" (At 9.19b, 21.)

Est bem claro que isso se deu poucos dias aps a converso de Paulo e seu batismo efetuado por Ananias. Imediatamente, ele comeou a pregar, com o vigor que o caracterizava, que Jesus era Deus ("este o Filho de Deus"). Essa verdade ele aprendera glria do claro que brilhara ao seu redor, na estrada de Damasco. A seguir, Lucas, sem nenhuma indicao especial, passa a narrar algo que s aconteceu vrios meses aps os eventos narrados acima, e que podem ter-se dado at trs anos depois. "Saulo, porm, mais e mais se fortalecia e confundia os judeus que moravam em Damasco, demonstrando que Jesus o Cristo." (At 9.22.) Notemos que a mensagem de Paulo (ou Saulo) aqui tomava a forma de uma demonstrao de que Jesus era o Cristo. Existe muita diferena entre pregar que Jesus o Filho de Deus, e demonstrar que ele o Cristo. Aqui Lucas apenas sugere levemente o que causou essa diferena ao declarar: "Saulo, porm, mais e mais se fortalecia". Mas o prprio Paulo nos conta com maiores detalhes o que aconteceu, em sua carta aos glatas. De Pregar a Demonstrar Os telogos pensam que a carta aos glatas foi uma das primeiras epstolas de Paulo. No h certeza se isso verdade ou no, mas est claro

que nela Paulo defende seu apostolado, e descreve o que se passou aps sua converso. Ele escreve o seguinte:
"Quando, porm, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graa, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, sem detena no consultei carne e sangue, nem subi a Jerusalm, para os que j eram apstolos antes de mim, mas parti para as regies da Arbia e voltei outra vez para Damasco." (Gl 1.15-17.)

Por este relato, ficamos sabendo que o que o fortaleceu grandemente na ocasio, foi ter ido Arbia e depois voltado a Damasco. O que fez ali na Arbia? No existe nenhum texto que no-lo diga, mas creio no ser difcil calcular: basta apenas imaginar o choque que essa converso causou vida desse jovem, para compreender que ele precisava desesperadamente examinar as passagens do Velho Testamento, e procurar saber como a verdade acerca de Jesus de Nazar, que ele acabara de descobrir, se relacionava com a revelao dos profetas, na qual ele confiava desde criana. Sendo fariseu, com base no conhecimento que possua das Escrituras, estava convencido de que Jesus de Nazar era uma fraude. Agora ele sabia que no, mas, de algum modo, era preciso desfazer a confuso mental que essa nova descoberta produzia nele. A Arbia lhe fornecia essa oportunidade. E para l se dirigiu com os pergaminhos do Velho Testamento debaixo do brao. Como podemos imaginar, ele encontrou Jesus em todas as pginas. Como agora aqueles velhos e conhecidos textos no devem ter brilhado com uma nova luz, quando, comeando em Moiss e indo at os profetas, o Esprito de Deus interpretou para ele as verdades relativas a Jesus. No admira que, quando voltou a Damasco, "mais e mais se fortalecia". No admira tambm que, de posse desse novo conhecimento, ele fosse a todas as sinagogas onde antes "pregara" que Jesus era o Filho de Deus, e ali, de texto em texto, ele "demonstrasse" que Jesus era o Cristo (o Messias). A Humilhao do Cesto Mas em seguida as coisas comeam a piorar. Para infelicidade do jovem Saulo, os judeus de Damasco no foram muito receptivos a seus fortes argumentos. Lucas narra o que sucedeu:

"Decorridos muitos dias, os judeus deliberaram entre si tirar-lhe a vida; porm o plano deles chegou ao conhecimento de Saulo. Dia e noite guardavam tambm as portas, para o matarem. Mas os seus discpulos tomaram-no de noite, e colocando-o num cesto, desceram-no pela muralha." (At 9.23-25.)

Que terrvel humilhao para aquele dedicado jovem crente! Como deve ter ficado confuso e perplexo, quando todos os seus sonhos de alcanar uma grande vitria em nome de Jesus foram interrompidos de forma to sbita e degradante! Foi humilhante ser descido pela muralha num cesto, como um criminoso qualquer tentando escapar s garras da lei! Que fato vergonhoso e desalentador! Mais tarde ele iria dizer que aquele foi, ao mesmo tempo, o mais baixo ponto de sua vida e o incio da grande descoberta que ele fez. Mas ali ele foge, esgueirando-se pela escurido da noite, pasmado, humilhado e totalmente desalentado. Mesma Histria de Sempre Para onde ir agora? Lucas nos conta imediatamente: "Tendo chegado a Jerusalm, procurou juntar-se com os discpulos; todos, porm, o temiam, no acreditando que ele fosse discpulo." (At 9.26.) O relato de Paulo acha-se em perfeita harmonia com este. Em Glatas 1.18,19 ele diz o seguinte: "Decorridos trs anos, ento, subi a Jerusalm para avistar-me com Cefas (Pedro), e permaneci com ele quinze dias; e no vi outro dos apstolos, seno a Tiago, o irmo do Senhor." E Lucas tambm nos explica como foi que ele venceu a barreira do medo para avistar-se com esses dois homens:
"Mas Barnab tomando-o consigo levou-o aos apstolos e contou-lhes como ele vira o Senhor no caminho, e que este lhe falara, e como em Damasco pregara ousadamente em nome de Jesus. Estava com eles em Jerusalm, entrando e saindo, pregando ousadamente em nome do Senhor. Falava e discutia com os helenistas; mas eles procuravam tirar-lhe a vida." (At 9.27-29.)

uma frmula j conhecida. O ardoroso jovem cristo acha-se decidido a convencer os judeus de fala grega (helenistas) de que Jesus o Messias prometido no Velho Testamento. E mais uma vez, surge um compl para tirar-lhe a vida. a mesma histria de Damasco. Saia!

Neste ponto, ocorre outro lapso no relato de Lucas, e teremos que suplement-lo com o de Paulo, em outro texto. Lucas no conta qual foi a reao de Saulo oposio que sua mensagem recebeu dos judeus de Jerusalm. Mas conhecendo seu esprito de luta e dedicao, deve ter sido um srio desalento. De todo modo, vrios anos depois, ele mencionou o fato quando teve que se defender perante uma multido em Jerusalm, ao ser preso nas dependncias do templo, sendo salvo de uma morte certa apenas pela oportuna interveno dos romanos. Em Atos 22, ele diz o seguinte:
"Tendo eu voltado para Jerusalm, enquanto orava no templo, sobreveio-me um xtase, e vi aquele que falava comigo: Apressa-te, e sai logo de Jerusalm, porque no recebero o teu testemunho a meu respeito." (At 22.17,18.)

bastante compreensvel que o jovem Saulo buscasse o conforto do templo naquela hora de desalento. Mais uma vez havia fracassado em seu esforo de dar um testemunho convincente acerca de Jesus Cristo; mais uma vez estavam procurando uma oportunidade para mat-lo, e ele no contava com frutos positivos para encoraj-lo. No admira que tenha ido ao templo para orar. Ali, o Senhor Jesus apareceu ao seu desalentado discpulo. Mas sua mensagem no foi muito confortadora. "Sai logo de Jerusalm", disse ele, "porque no recebero o teu testemunho a meu respeito." Nessa altura, Saulo comeou a discutir com o Senhor:
"Eu disse: Senhor, eles bem sabem que eu encerrava em priso e, nas sinagogas, aoitava os que criam em ti. Quando se derramava o sangue de Estvo, tua testemunha, eu tambm estava presente, consentia nisso e at guardei as vestes dos que o mataram." (At 22.19-20.)

Com essas palavras, Saulo se revelou inteiramente. Agora percebemos sobre que ele se apoiava para tentar obter sucesso em seu testemunho. Est claro que ele se considerava altamente qualificado para ganhar os judeus para Cristo. O que ele quer dizer com sua argumentao o seguinte: "Senhor, tu no ests compreendendo a situao. Se me mandas sair de Jerusalm agora, estars desperdiando a melhor oportunidade de minha vida. Se existe uma pessoa que entende como esses judeus pensam e raciocinam, essa pessoa sou eu. J fui um deles. Falo sua linguagem. Sei como reagem. Se h algum que tem qualificao para for-los a ouvir a mensagem, esse algum sou eu. No sou para eles algum que desconhea sua formao. Tambm sou israelita, hebreu de hebreus, circuncidado ao

oitavo dia, da tribo de Benjamim. Era fariseu como eles. Segundo a lei, eu era inculpvel. At j persegui a igreja, como eles fazem agora. Pois quando Estvo, o mrtir, foi morto, fui eu quem segurou as vestes daqueles que o mataram. Senhor, no me mande sair daqui. Tenho tudo o que preciso para ganhar esses homens. No perca essa oportunidade." A resposta de Jesus foi abrupta e incisiva. O prprio Paulo nos diz isso: "Vai, porque eu te enviarei para longe aos gentios." (At 22.21.) Que golpe esmagador! Como Saulo deve ter-se sentido frustrado! Para mostrar que a Igreja se achava de acordo com o Senhor nesse ponto, Lucas narra o seguinte: "Tendo, porm, isto (o compl para matar Saulo) chegado ao conhecimento dos irmos, levaram-no at Cesaria, e dali o enviaram para Tarso." (At 9.30.) "Volte Para Casa, Jovem!" Tarso era a cidade natal de Paulo. No existe lugar mais difcil para testemunharmos de Cristo do que em nosso lar. Paulo tentara fazer o melhor que pudera para servir a seu novo Senhor com toda a capacidade e energia que conseguira reunir. Mas tudo dera em nada. Alis, a essa altura, Lucas registra um fato espantoso que se deu depois que ele foi mandado para Tarso.
"A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judeia, Galileia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor e, no conforto do Esprito Santo, crescia em nmero." (At 9.31.)

Depois que aquele desajeitado zeloso partiu, a igreja ficou em paz. Logo que o zeloso brigo foi eliminado, a igreja comeou a crescer. No espantoso? Saulo parte para Tarso, a consolar-se de suas mgoas, de seu ego ferido e de suas esperanas desmoronadas. Durante dez anos no se ouve falar dele, at que brota um avivamento em Antioquia da Sria, e a igreja de Jerusalm envia Barnab at l para investigar. Quando este ficou sabendo que "muita gente se uniu ao Senhor" (At 11.24), compreendeu que iria precisar de algum que o ajudasse. "E partiu Barnab para Tarso procura de Saulo; tendo-o encontrado, levou-o para Antioquia." Foi um Saulo totalmente diferente que chegou a Antioquia. Castigado, humilhado, instrudo pelo Esprito do Senhor, comeou a ensinar a Palavra de Deus, e da se lanou no grande ministrio missionrio, que eventualmente o

levaria aos limites do Imprio Romano, proclamando o evangelho com grande fora, por todo o mundo. O que provocou essa diferena? Anos mais tarde, escrevendo aos corntios, Paulo faz uma breve referncia ao evento que originou uma linha de doutrina que iria culminar com uma compreenso e aceitao clara do que ele iria chamar "a nova aliana". A igreja de Corinto havia lhe escrito e, descaradamente, sugerira que ele seria mais bem sucedido se, vez por outra, fizesse alarde de suas realizaes. Em resposta, o apstolo respondeu o seguinte na segunda carta, captulo 11: "Se tenho de gloriar-me, gloriarme-ei no que diz respeito minha fraqueza. O Deus e Pai do Senhor Jesus, que eternamente bendito, sabe que no minto." (2 Co 11.30,31.) O que ele ir dizer ser um assombro to grande para eles, que Paulo faz um solene juramento de que est dizendo a verdade, pois de outra forma poderiam pensar que ele est brincando ou zombando deles. Depois diz de que pode gloriar-se: "Em Damasco, o governador preposto do Rei Aretas, montou guarda na cidade dos damascenos, para me prender; mas num grande cesto, me desceram por uma janela da muralha abaixo, e assim me livrei das suas mos." (2 Co 11.32,33.) "Essa minha glria", diz Paulo. "O maior evento de minha vida, depois da converso. Quando fui salvo num cesto, comecei a aprender a lio que me transformou, e a razo do meu poder." Qual essa verdade que revolu-ciona vidas? Deixemos que Paulo explique com suas prprias palavras, na carta aos filipenses:
"Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto justia que h na lei, irrepreensvel. Mas o que para mim era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus meu Senhor: por amor do qual perdi todas as cousas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo." (Fp 3.4b-8.)

A palavra que ele emprega para designar o que considera "como refugo" significa esterco comum, de curral. As coisas que ele antes considerava como qualificaes para ser um sucesso diante de Deus e dos homens (seus ancestrais, sua ortodoxia, sua moralidade e sua atividade), agora ele considera quase como esterco, quando comparadas com a

operao de Jesus Cristo em seu corao. Ele aprendeu a passar da velha aliana (tudo vem de mim; nada de Deus) para a nova (tudo vem de Deus; nada de mim), a qual lhe d a vida. Ele j no se acha mais altamente qualificado para ser completamente intil, mas pode dizer: "a nossa suficincia vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliana." Voc j se viu dentro de um cesto? J desceu ao ponto que Jesus declara ser bem-aventurado? "Bem-aventurados os humildes de esprito, porque deles o reino dos cus." Ser humilde de esprito estar totalmente desprovido diante de algumas exigncias da vida, e depois perceber que isso uma bno, pois nos fora a depender inteiramente do Senhor e de sua operao em ns. a e em nenhum outro momento que aprendemos a verdade acerca da nova aliana. Ainda temos muito a aprender acerca da razo por que isso d certo, mas s podemos descobrir como funciona, em nossa prpria experincia.

4 Dois Esplendores
Deus gosta muito de ensinar atravs de recursos visuais. Ele os espalhou por toda a terra e tambm os colocou no firmamento. Jesus empregou muitos dos recursos visuais de Deus, no ensino das verdades espirituais. "Considerai como crescem os lrios do campo"; " mais fcil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus"; "Nem lanceis ante os porcos as vossas prolas, para que no as pisem com os ps, e, voltando-se, vos dilacerem"; "Vs sois o sal da terra"; etc. bem provvel que toda a natureza tenha sido criada para ilustrar, no plano visual e fsico, o que se passa no reino invisvel e espiritual. A poetisa Elizabeth Barret Browning explica essa ideia da seguinte forma:
A terra est cheia dos cus; E todo arbusto simples, em chamas com a presena de Deus. Mas apenas aqueles que veem tiram os sapatos. O resto fica sentado em derredor apanhando frutinhas! (Extrado de "Aurora Leigh")

As Duas Faces da Glria? Para facilitar aos corntios (e a ns tambm) a compreenso do que queria dizer com velha e nova aliana, o apstolo Paulo emprega dois recursos visuais muito proveitosos. Ele os foi buscar na narrativa da instituio da lei no monte Sinai e na conduta subsequente de Moiss com relao ao povo de Israel. Primeiramente, ele chama ateno para o brilho que havia no rosto de Moiss:
"E se o ministrio da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glria, a ponto de os filhos de Israel no poderem fitar a face de Moiss, por causa da glria do seu rosto, ainda que desvanecente, como no ser de maior glria o ministrio do Esprito? (2 Co 3.7-8.)

A velha aliana, que ele chama de "ministrio da morte", apropriadamente simbolizada pelo brilho do rosto de Moiss, quando este

desceu do monte com a lei gravada "com letras em pedras". A lei tinha realmente uma certa glria ou esplendor. Ela atraa as pessoas, despertando sua admirao e interesse. o que a glria sempre faz: cativa e atrai. Ainda hoje, a lei conserva essa aura cativante. Em todo o mundo, os Dez Mandamentos so mantidos em alto conceito por todos, at mesmo por aqueles que os transgridem (e isso inclui tambm a ns). As pessoas os exaltam grandemente, dizendo que so o ideal do viver, embora achem que no se aplicam na prtica e que impossvel observ-los. Os homens, em todo lugar, sonham em atingir um estgio de consagrao pessoal que os capacite a seguir esses gloriosos ideais. Mas o que Paulo est querendo ensinar que a nova aliana apresenta um esplendor ainda maior. muito mais cativante e interessante que a lei. Como j vimos, depois que um indivduo j provou da nova aliana, qualquer volta velha como retornar ao estrume e esterco! E assim como a glria da velha aliana tem seu smbolo (o brilho do rosto de Moiss), assim tambm a nova aliana tem o seu. Um pouco mais adiante, na passagem, o apstolo o apresenta, e sua inteno claramente fazer um contraste com o rosto de Moiss. Diz ele: "Porque Deus que disse: De trevas resplandecer luz , ele mesmo resplandeceu em nossos coraes, para iluminao do conhecimento da glria de Deus na face de Cristo." (2 Co 4.6.) Aqui esto os dois esplendores o rosto de Moiss e o de Cristo. Ambos so interessantes, mas um mais que o outro. Eles simbolizam as duas alianas, ou acordos, pelos quais vivemos. Ambos contm forte poder de atrao para os homens, mas a glria de um deles desvanecente; a do outro, no. O mundo irregenerado vive continuamente olhando o rosto de Moiss. O crente pode viver contemplando um ou outro, mas nunca os dois ao mesmo tempo. Em cada momento da vida do crente, ele est fitando ou a um ou ao outro. "Ningum pode servir a dois senhores", disse Jesus; "porque ou h de aborrecer-se de um, e amar ao outro; ou se devotar a um e desprezar ao outro." Portanto, para o verdadeiro crente, o valor da atividade que ele realiza em determinado momento, deriva do fato de ele estar olhando o rosto de Moiss ou de Jesus Cristo. O Problema da Lei

Neste ponto, precisamos procurar compreender claramente algo de grande importncia. Algum pode indagar: "Mas por que Paulo associa a velha aliana lei, e a chama de "ministrio de morte", quando em Romanos 7 ele afirma que a lei santa, justa e boa? Como o brilho do rosto de Moiss, que resultou do fato de ter passado quarenta dias a ss na presena de Deus, pode ser smbolo de algo que mata? Para falar a verdade, o prprio Paulo faz essa pergunta ao discutir a questo da lei em Romanos 7, quando indaga: "Que diremos pois? a lei pecado?" (Rm 7.7.) E a sua resposta firme : "De modo nenhum." E depois de explicar que foi por intermdio da lei que ele descobriu a malignidade de seu pecado, acrescenta: "Por conseguinte, a lei santa; e o mandamento santo, justo e bom." Mas em Romanos 8.3 que o apstolo nos fornece a chave que soluciona o enigma. "Porquanto, o que fora impossvel lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus." Portanto, o problema no a lei, mas o elemento com que a lei opera, a carne. A palavra "carne" no se refere aqui esse conjunto de carne e ossos que formam o corpo, mas um termo equivalente ideia de natureza humana decada a natureza humana agindo parte de Cristo. A lei, em qualquer de suas formas, foi instituda nica e exclusivamente para a carne. Se no houvesse carne no haveria necessidade da lei. Paulo disse o seguinte a Timteo:
"... tendo em vista que no se promulga a lei para quem justo, mas para transgressores e rebeldes, irreverentes e pecadores, mpios e profanos, parricidas e matricidas, homicidas, impuros, sodomitas, raptores de homens, mentirosos, perjuros, e para tudo quanto se ope s doutrina." (1 Tm 1.8-10.)

A Guerra Civil Interior No devemos ler estes versos pensando que Paulo se referia apenas a pagos, gentios, criminosos e pervertidos. Por vezes, os crentes, at mesmo os melhores e mais santos, so "transgressores e rebeldes", so "mpios" e at "profanos"; muitas vezes, so "mentirosos, perjuros" e os pecados de muitos "crentes" esto includos na frase "tudo quanto se ope s doutrina". Certamente, a "carne" opera nos crentes, e sempre que isso acontece, necessria aplicao da lei. A lei foi feita para a carne. Sem ela, no existiria razo para sua existncia. A carne necessita da lei, pois "eu no teria conhecido o pecado, seno por intermdio da lei".

Como esta verdade bem clara, ajuda-nos a compreender que a essncia do conflito entre a velha aliana (o rosto de Moiss), e a nova aliana (o rosto de Jesus Cristo), na realidade, a luta entre a carne e o Esprito. Escrevendo aos glatas, Paulo diz o seguinte: "Porque a carne melita contra o Esprito, e o Esprito contra a carne, porque so opostos entre si; para que no faais o que porventura seja do vosso querer." (Gl 5.17.) por causa dessa ligao indissolvel entre a carne e a lei, que Paulo, em 2 Corntios, refere-se lei como "ministrio da morte", e diz que "a letra mata". Na verdade, a carne que produz morte e que mata, mas a lei, embora seja santa, justa e boa, no pode ser separada dela. Esses argumentos podem parecer um pouco fortes, mas apelo a que pensem neles cuidadosamente, pois provvel que nenhum outro fator tenha contribudo mais para a atual fraqueza da igreja do que o desconhecimento da natureza e carter da carne. Para entendermos isso mais claramente, pode ser proveitoso analisarmos o incio de tudo, e verificarmos como a carne veio a existir e qual sua essncia. O Homem sem a Carne Quando Ado foi criado por Deus, era um homem perfeito, como o Senhor tencionava que todo homem fosse. Portanto, ele agia pelo poder de Deus. Tudo que fazia era realizado pelo Esprito de poder que nele habitava. Depreendemos isso pela analogia que se faz dele com Jesus, o ltimo Ado. Jesus afirmou vrias e vrias vezes que tudo quanto dizia ou fazia no era pela sua prpria energia ou poder, mas, como ele afirmou claramente, "o Pai que permanece em mim, faz as suas obras". (Jo 14.10.) Ele vivia pela nova aliana, "tudo vem de Deus; e nada de mim". Alis, ele afirmou: "O Filho nada pode fazer de si mesmo." (Jo 5.19.) Era assim que Ado vivia, antes da queda. Quando cuidava do jardim, ele o fazia pela energia e poder de Deus. Quando deu nome aos animais, f-lo pela sabedoria e poder de Deus. Em cada tarefa que realizava, ele aplicava a plenitude dos recursos divinos, que se encontravam ao seu dispor, de acordo com o grau de dificuldade apresentado pela tarefa. Naturalmente, isso o que o homem era e o que deveria ser: o lugar da habitao de Deus. Ado era a "habitao" de Deus, e tudo que fazia era uma manifestao do poder do Senhor. A escolha da atividade cabia a ele. Essa era sua parte. Ele era o selecionador; Deus o realizador. Ele poderia fazer o que quisesse; ir a qualquer lugar do jardim que desejasse; comer tudo de que gostasse

menos uma coisa. Uma rvore estava fora do seu direito de escolha, mas no de sua capacidade a rvore do conhecimento do bem e do mal. A Grande Remoo Certo dia, de conivncia com sua mulher, Ado tomou a deciso fatal. No instante em que ele o fez, a "nova" aliana deixou de operar em sua vida, e a "velha" entrou em vigor. Naturalmente, a "nova" no poderia adequadamente ser chamada de "nova" naquela ocasio, pois, no momento, ela era a nica condio de existncia que Ado conhecia. E, logicamente, a velha aliana no era "velha" para ele, mas um fato inteiramente novo que ele passou a conhecer somente depois que resolveu desobedecer a Deus. Esses termos "nova" e "velha" s tm sentido para ns, no para Ado, mas estamos empregando-os aqui para demonstrar que eram para ele o mesmo que o so para ns. Como todos os que nasceram depois de Ado foram feitos imagem do Ado decado, podemos compreender um pouco o que se passou, quando ele comeu o fruto proibido. Imediatamente, o Esprito de Deus foi afastado de seu esprito humano. Seu esprito ainda conservou uma lembrana daquele relacionamento que desfrutava anteriormente, mas agora estava sombrio e inquieto, carregado de culpa e medo, incapaz de entrar em comunho com o Deus que sabia existir. Foi por isso que Ado e Eva logo se esconderam. Perceberam que no tinham mais defesa contra nenhum ataque, e que estavam nus. Todos os seres humanos nascem nessas mesmas condies. O esprito humano anseia por Deus, mas receia encontr-lo. Sem ele, inquieto e infeliz; mas diante dele, temeroso e carregado de culpa. Essa a agonia da humanidade decada. O Invasor Quando o Esprito de Deus foi retirado do esprito de Ado, este ficou desabitado e sem luz. Nessa situao, Ado teria sido incapaz de mover-se ou at de respirar, pois era Deus quem lhe fornecia energia para agir. Mas, embora tivesse sido imediatamente separado de Deus espiritualmente, ele no morreu fisicamente, e conseguiu continuar vivendo, respirando pensando e trabalhando. Com que energias? O relato de Gnesis no diz, mas, sculos mais tarde, Paulo iria dizer claramente. Ado foi instantaneamente possudo por um poder estranho que passou a fornecer-lhe a energia e poder de que necessitava para executar suas

decises. Provavelmente, ele mal teve cincia da mudana que se operara nele. Paulo descreve esse poder estranho, vividamente, em sua carta aos efsios:
"Ele vos deu vida, estando vs mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o prncipe da potestade do ar, do esprito que agora atua nos filhos da desobedincia." (Ef 2.1,2.)

Esse poder que opera universalmente no homem cado, diz Paulo, est, de um modo que no entendemos bem, ligado com Satans, e se origina nele. ele o "prncipe da potestade do ar, do esprito que agora atua nos filhos da desobedincia". E o apstolo continua a falar e descreve-o operando por intermdio do que a Bblia chama de "carne":
"Entre os quais tambm todos ns andamos outrora, segundo as inclinaes da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e ramos por natureza filhos da ira, como tambm os demais."(Ef 2.3.)

As palavras que grifamos acima mostram claramente que essa invaso de estranhos uma condio comum a toda a humanidade. J que todos os homens so filhos de Ado pelo nascimento, bvio que esta passagem est descrevendo o que se passou com ele, por ocasio da queda. Em sua epstola, Tiago tambm fala de uma sabedoria que "no a sabedoria que desce l do alto; antes terrena, animal e demonaca". (Tg 3.15.) E o prprio Jesus confirmou o fato de que todos os homens nascem numa condio de malignidade, quando disse a seus discpulos:
"Ora, se vs, que sois maus, sabeis dar boas ddivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dar o Esprito Santo queles que lho pedirem?" (Lc 11.13.)

A Fonte Contaminada Quando examinamos a situao do diabo em relao a Deus, vemos que a Bblia tem muito empenho em deixar claro que no se trata de dois deuses oponentes, um bom e outro mau. O diabo, sendo tambm uma criao de Deus, deveria viver por meio da vida recebida dele. Na verdade, existe somente uma fonte de vida no universo, e, em ltima instncia, toda criatura ou esprito vivo deve receber alento daquele que o Autor da Vida, o prprio Deus. Mas, de algum modo no plenamente revelado, o diabo se interps entre Deus e o homem, e agora pega a pura vida (ou amor) de Deus e a distorce para que no mais seja dirigida para fora, como era quando partia de Deus, mas seja dirigida para dentro. De modo que ela j

no feita de "amor ao prximo" mas de "amor a si mesmo". Assim, o homem decado recebe a vida de Deus depois de distorcida e contaminada pelo diabo. essa vida que se chama "a carne". Aqui temos, ento, a primeira caracterstica da carne: serve a si prpria. a vida de Deus distorcida. Ento, ela pode ter toda a aparncia de ser uma vida proveniente de Deus: amando, trabalhando, perdoando, criando, servindo mas com um objetivo interior, sempre e apenas dirigido ao proveito do ego. Assim sendo, torna-se em rival de Deus um outro deus! por isso que o homem decado, operando na energia da carne, pode praticar muitos atos bons bons aos seus prprios olhos e aos olhos daqueles que o cercam. Mas Deus no os considera bons. Ele olha para o corao e ho o exterior, e portanto sabe que eles so deteriorados desde o comeo. Por isso que Paulo diz: "Por isso o pendor da carne inimizade contra Deus, pois no est sujeito lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto os que esto na carne no podem agradar a Deus." (Rm 8.7,8.) Uma Glria Maior E agora voltamos aos dois esplendores novamente. Existe algo de agradvel na carne, quando tenta ser boa. Apresenta uma grande atrao para muitas pessoas, mas como o brilho do rosto de Moiss uma glria desvanecente. Todavia, a glria da nova aliana muito maior. Ela resulta da operao de Cristo no interior do homem diretamente e sem a interveno de Satans para distorc-la. Assim sendo, perfeitamente aceitvel diante de Deus. Ela lhe agrada por ser a obra de seu Filho amado, sempre caracterizada pela vida dele: amor genuno, trabalho fiel, perdo irrestrito, produtividade, servindo sem chamar a ateno para si mesmo. assim que Deus tencionava que o homem fosse.

5 Morte Versus Vida


No momento em que voc l esta frase, est enxergando, lendo e pensando ou na energia da carne ou na do Esprito Santo. Ou, para empregar a mesma figura que Paulo, est olhando para o rosto de Moiss ou para a glria de Deus estampada no rosto de Jesus Cristo. bem possvel que voc nem tenha conscincia disso, mas continua sendo verdade da mesma forma. E isso seria verdade ainda que voc fosse um selvagem, e nunca tivesse ouvido falar de Jesus nem de Moiss. Logicamente, seria muito improvvel que voc estivesse lendo isso se fosse um selvagem, mas o certo que qualquer pessoa, em qualquer parte, s vive e age ou pela velha ou pela nova aliana. No h outras opes. At mesmo um homem primitivo, afirma Paulo em Romanos 2, tem a lei de Moiss, numa certa medida, gravada em seu corao ou em sua conscincia, e tudo que ele faz, de algum modo, est relacionado com a lei de sua conscincia. O Fruto Revela a Natureza da Raiz Voc poder dizer: "Bom, se no temos conscincia plena de qual o rosto que estamos contemplando num dado momento, como poderemos saber quando estamos na carne e quando estamos no Esprito?" A resposta : pelo tipo de vida que produzimos. A carne produz, invariavelmente, um tipo de vida; o Esprito, invariavelmente, produz outro. Era isso que Jesus tinha em mente quando disse: "Pelos seus frutos os conhecereis." (Mt 7.20.) Antes de comearmos a examinar a proveitosa e prtica descrio que Paulo faz desses dois tipos de vida, ser bom relembrar que, antes de nos tornarmos crentes, nascidos de novo, no temos outra escolha seno viver pela carne e produzir a vida da carne. Qualquer "bem" produzido por essa vida, no passa de uma imitao do verdadeiro, e resulta de um esforo dela para cumprir a lei de Deus. vista de Deus, esse "bem" no em nada melhor do que o "mal" que a carne pratica. apenas um "mal" disfarado. Por outro lado, tambm, o novo nascimento apenas nos proporciona a possibilidade de vivermos no Esprito; no faz com que automaticamente passemos a viver nele. O verdadeiro crente pode

manifestar a falsa justia da carne (e muitas vezes manifesta), embora possa tambm manifestar as perfeitas qualidades do Esprito (e as manifesta, medida que aprende a viver pela f). O texto de 2 Corntios 3.7-11 apresenta uma srie de quatro contrastes notveis, que Paulo cita para que possamos saber reconhecer os efeitos da vida pela carne e da vida pelo Esprito. Depois que aprendermos a identificar a fora que opera em nosso interior, a poderemos saber o que fazer para passarmos da carne para o Esprito. Morte ou Vida? O primeiro contraste que Paulo apresenta diz respeito ao efeito que a carne e o Esprito produzem imediatamente:
E se o ministrio da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glria, a ponto de os filhos de Israel no poderem fitar a face de Moiss, por causa da glria do seu rosto, ainda que desvanecente, como no ser de maior glria o ministrio do Esprito? (2 Co 3.7-8.)

A carne produz morte e o Esprito, vida. Paulo j havia mostrado isso no verso 6: "...a letra mata mas o esprito vivifica." Uma o "ministrio da morte"; o outro o "ministrio de maior esplendor", isto , da vida. Ser proveitoso se entendermos a palavra "ministrio" em seu sentido original: ministrar, produzir ou transmitir. Se pensarmos nela com outro sentido qualquer, o texto poder ficar confuso. O termo grego empregado aqui foi diakonia, que significa ministrio ou servio. O que o ministrio da carne produz? Morte. O que o ministrio do Esprito produz? Vida. Se, em resposta s exigncias da lei, dependermos de tudo que vem de ns, o resultado ser morte imediata. Se dependermos de tudo que vem de Deus, o resultado ser vida imediata. A Morte Viva Se pensarmos em morte aqui como um funeral, o fim da existncia, estaremos perdendo todo o sentido do que ele diz. O que morte? Essencialmente, um termo negativo que significa ausncia de vida. Quando um mdico examina uma pessoa ferida, ele no procura sinais de morte, mas, sim, de vida. Se no os encontra, conclui que a pessoa est morta. A vida possui suas caractersticas distintivas; a morte a ausncia dessas caractersticas. Assim sendo, a pergunta que devemos fazer : o que

vida? O que queremos dizer quando exclamamos: "Gente, isso que vida?" Satisfao, naturalmente. A satisfao uma parte da vida que Deus tencionava que o homem tivesse. Propsito, sentido, valor, realizao todas essas coisas so aspectos da vida. Mas, e outras qualidades como alegria, paz, amor, amizade, poder? Sim, isso vida. No momento em que temos tais coisas, estamos vivendo. Certamente, foi isso que Jesus quis dizer quando afirmou: "Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundn-cia." (Jo 10.10.) Isso Vida, com V maisculo. A vida plenamente vivida amor, gozo, paz, pacincia, mansido, bondade, f, benignidade, domnio prprio. Isso vida! Ento, ao contrrio, o que morte? a ausncia dessas qualidades ou o seu oposto. O que a ausncia do amor? dio. O que a ausncia de gozo? Infelicidade; desalento de alma. Portanto, medo, frustrao, enfado, preocupao, inimizade, cimes, malcia, solido, depresso, autopiedade so caractersticas da ausncia da vida, e, assim sendo, so formas de morte. No preciso morrermos para experimentarmos tais coisas. Elas esto presentes em nossa experincia de seres vivos. Representam a morte em meio vida. A Origem da Morte De onde procedem essas atitudes e paixes? O que que, repentinamente, as faz surgir em nossa vida, por vezes, em momentos quando menos esperamos? Jesus nos fornece a resposta dessa pergunta: "Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim toda rvore boa produz bons frutos, porm a rvore m produz frutos maus." (Mt 7.16,17.) Talvez pensemos que essas qualidades negativas resultem de momentneas variaes de humor, ou de mudanas de circunstncias. Tanto Jesus como Paulo dizem que no. Elas procedem de algo mais profundo, mais fundamental. Brotam de nossa dependncia para com a velha aliana, a "rvore m", que no pode produzir bom fruto. Elas revelam que estamos, consciente ou inconscientemente, dependendo de algo que "provm de ns", em vez de dependermos de algo que "provm de Deus". Esses sentimentos negativos revelam a carne em ao. No uma carne com uma manifestao malfica patente, como pensamos bebedices, tumultos, adultrio, etc. mas uma carne com manifestaes

mais sutis, que muitas vezes aprovamos: autoconfiana, autopiedade, autoafirmao. por isso que os conselheiros bblicos esto instrudos para, quando tratarem com um caso de hostilidade, depresso, enfado, etc, procurarem sempre a causa que produz esses sintomas. Eu, por exemplo, j descobri em minha prpria experincia (e na de outros tambm) que a depresso geralmente causada por alguma forma de autopiedade. Fico deprimido quando passo por alguma decepo ou rejeio, o que me leva a ter pena de mim mesmo. Quero que me tenham em alta conta, quero que algum centralize sua ateno em mim, e isso me causa depresso. De onde vem o sentimento de solido? Na maior parte das vezes, de uma forma de preocupao comigo mesmo, do fato de eu cuidar apenas de mim mesmo. por isso que a soluo para o problema da solido a mensagem de Jesus: "Se o gro de trigo, caindo na terra, no morrer, fica ele s; (essa a consequncia inevitvel de no querer morrer solido); mas, se morrer, produz muito fruto." (Jo 12.24.) A presena dessas caractersticas de morte em ns constituem um indcio de que a velha aliana est operando. Sempre que elas estiverem presentes, a velha aliana est ativa, pois ela quem as produz. Por outro lado, quando a alegria, confiana, f, graa, valor, realizao esto presentes, elas s podem vir da nova aliana. o Esprito de Deus quem as produz. No podem provir de nenhuma outra fonte. A Glria da Morte Paulo nos relembra que nessa questo h duas glrias ou esplendores. A "morte" possui uma certa glria, produzida pela velha aliana; mas a vida possui uma glria maior. As caractersticas da morte possuem uma certa atrao. Temos nelas um prazer mrbido. Quem nunca se viu afogado num mar de autopiedade, e resistindo a todas as tentativas para sair dele? aquele momento em que queremos ficar a ss, para nos deleitarmos em sentir pena de ns mesmos. Isso nos d um perverso senso de prazer. Tiago diz o seguinte: "Esta no a sabedoria que desce l do alto; antes, terrena, animal (a palavra aqui empregada sensual, cheia de prazeres), demonaca." E logo imediatamente ele acrescenta: "Pois onde h inveja e sentimento faccioso, a h confuso e toda espcie de cousas ruins." (Tg 3.15,16.) E o mais espantoso que preferimos esses prazeres temporrios, passageiros, glria que acompanha a verdadeira vida. Muitas

vezes, ingenuamente, pensamos que poderemos desfrutar de ambos. Mas, se insistirmos em ter os prazeres momentneos proporcionados pela velha aliana, no poderemos ter os duradouros que procedem da nova. Lembremos que "ningum pode servir a dois senhores". Ento, o primeiro contraste que o apstolo apresenta pelo qual podemos reconhecer a velha e a nova aliana em ao o dos efeitos imediatos de cada uma delas. Pedras ou Coraes O segundo contraste est associado com o primeiro. Diz respeito substncia afetada por cada uma delas. O apstolo j fez referncia a isso em 2 Corntios 3.3. A nova aliana, diz ele, "escrita no com tinta, mas pelo Esprito do Deus vivente, no em tbuas de pedra, mas em tbuas de carne, isto , nos coraes." Nessa passagem, por duas vezes, ele enfatiza o meio pelo qual a velha aliana veio ao homem: "E se o ministrio da morte, gravado com letras em pedra, se revestiu de glria..." A lei foi escrita em pedras; o Esprito escreve sobre o corao do homem. A velha aliana se relaciona com pedras, com coisas; a nova se relaciona com coraes, com pessoas. Portanto, uma caracterstica do cristianismo falso que ele est sempre profundamente preocupado com a importncia das coisas: com pedras, rituais, cerimnias, templos, vitrais, torres, rgos, com o mtodo certo. D-se mais importncia a tais coisas, s expensas do ser humano. Mas quando a nova aliana que est em ao, acontece o oposto. As pessoas que so importantes. As coisas so teis apenas se servirem para auxiliar de alguma forma as pessoas. Vejamos o exemplo de Jesus. Como ele desconsiderou totalmente os minuciosos regulamentos dos fariseus, quando eles interferiam com a cura das pessoas! At mesmo o sbado ele colocou de lado, quando sua observncia iria interferir com a satisfao das necessidades de uma pessoa. Ele afirmou que seus discpulos colheram espigas no sbado, porque o sbado fora feito para o homem, e no o homem para o sbado. O supremo objetivo da nova aliana sempre as pessoas. A velha aliana coloca as coisas em primeiro lugar.

Recentemente, uma igreja da Califrnia contratou um jovem ministro "para conquistar jovens e traz-los para a igreja". Ele obteve tanto sucesso, que em pouco tempo o templo da igreja estava cheio mas aos olhos dos ancios da igreja, aqueles no eram os jovens certos, pois, em sua maioria, eram hippies de cabelo comprido, ps descalos e modos estranhos. Pouco depois, o jovem lder teve que sair, pois, como lhe disseram: "Voc est trazendo todo esse lixo para nossa linda igreja." Eis um exemplo extremo da velha aliana em ao. O mundo dos negcios e da poltica quase sempre opera com base na velha aliana. por isso que ali, geralmente, o dinheiro mais importante que as pessoas. Quando esto em jogo interesses e investimentos, normalmente, as pessoas sofrem. O que acontece se uma companhia sofrer uma queda na produo ou nas vendas? A direo da firma pega um machado, e as cabeas comeam a rolar, sem a mnima preocupao se pessoas vo passar fome ou no. Os lucros vm em primeiro lugar. E quantas vezes vemos este tipo de atitude na igreja. Muitas vezes, a reputao vem antes da pessoa em si. Algumas tradies e programas so mantidos e perpetuados, no porque sirvam para atender s necessidades de algum, mas porque esto em jogo o status e a aceitao de algum. Isso indica fortemente que se est dependendo do "tudo que vem de mim" e no do "tudo que vem de Deus". Culpa ou Justia Em 2 Corntios 3.9, encontramos um terceiro tipo de contraste, mostrando a diferena entre liberdade e culpa: "Porque se o ministrio da condenao foi glria, em muito maior proporo ser glorioso o ministrio da justia." Aqui est outra caracterstica da velha aliana em ao. Ela produz, inevitavelmente, um senso de condenao, ou, para empregarmos Um termo moderno, uma sensao de culpa. Mas a nova aliana produz justamente o oposto. A sensao que ela nos traz de justia. Infelizmente, a palavra "justia" um dos termos bblicos cujo sentido est mais distorcido nos dias de hoje. A maioria das pessoas pensa que justia "fazer o que certo", e na verdade, esse um aspecto do de seu significado. Mas a essncia do termo bem mais profunda. Sua ideia bsica "ser o que certo". Uma pessoa faz o que justo, porque ela justa esse o

conceito bblico de justia. Justia a qualidade de quem aceitvel e aceito por Deus totalmente e sem reservas. Talvez possamos entender melhor o seu sentido se a substituirmos pela palavra "valor". O homem justo um homem valorizado. Todas as suas lutas ntimas esto solucionadas. J no se acha perturbado por problemas de culpa, incapacidade ou hostilidade. Ele no precisa mais lutar consigo mesmo para produzir qualquer coisa, pois sabe que se encontra diante de Deus, que foi aceito por ele e que o agrada. Portanto, ele livre para agir na situao em que se encontra. Ele pode estender a mo para aqueles que sofrem, que esto temerosos ou que se sentem condenados, pois ele prprio j est livre desses males. Viver na dependncia de "tudo vem de Deus, e nada de mim", produz este senso de valor pessoal. Isso justia. A Tenso de Realizar Mas, por outro lado, quantos cristos hoje esto vivendo sob um constante senso de condenao. Quando a base de nossa atividade crist depende de algo que vem de ns mesmos (nossa personalidade, fora de vontade, talentos, dinheiro, coragem, etc), ento no h como escapar a um senso de culpa, pois nunca podemos ter certeza de que fizemos o suficiente. Por todo o mundo, os cristos esto operando nessa base, o que os lana numa atividade frentica que resulta em nada, a no ser uma completa exausto. Recentemente, visitei uma cidade, e ali, numa reunio, uma senhora se ps de p e relatou que seu trabalho e capacidade de realizao estavam sendo questionados, em sua igreja, e confessou que se sentia totalmente incapaz e insegura. Estava quase em prantos, dizendo reconhecer que no havia trabalhado o suficiente para Deus, mas que no sabia mais o que fazer. Como esse tipo de testemunho est distante das jubilosas palavras de Romanos 8.1: "Agora, pois, j nenhuma condenao h para os que esto em Cristo Jesus." Como aquela senhora precisava compreender que Deus j a amava infinitamente, e nada do que ela fizesse ou deixasse de fazer modificaria esse fato! Ela precisava crer que a verdade a libertaria para agir, no para tentar ganhar aceitao, mas porque j estava agradando a Deus. Essa atividade incessante dos crentes j se tornou anedota. Algum fez uma pardia com um versinho infantil:

Maria tinha um cordeirinho Que ganhou para ser s seu Mas ele entrou para a igreja batista E de tanto trabalhar morreu.

Muitas igrejas medem seu sucesso pelo nmero de trabalhos e atividades a que se dedicam. Muitos ficaro chocados ao saber, pelas Escrituras, que, perante Deus, uma igreja pode ter atividades todas as noites da semana ensinando as doutrinas certas e fazendo tudo que certo e ao mesmo tempo constituir-se num verdadeiro fracasso. Por outro lado, uma igreja cujos membros esto vivendo de acordo com a nova aliana pode estar ocupada em muitas e variadas atividades. No isso que determina o sucesso ou fracasso de uma igreja, e, sim, a fonte dessa atividade. a carne ou o Esprito? Ser minha formao, meu treinamento, meu grau de escolaridade, minha personalidade? Ou Deus que em mim opera por meio de Jesus Cristo? Glria Sobrexcelente Lembremos que a atividade da carne possui uma certa glria que atrai muitas pessoas. Uma atividade consagrada sempre confere, momentaneamente, um certo senso de valor prprio. Ela produz em ns um tipo de auto-aprovao, que muito agradvel de se experimentar. Paulo diz que "o ministrio da condenao foi glria". Mas ela superada pelo ministrio da justia. Alis, o apstolo amplia essa ideia. Ele diz: "Portanto, na verdade, o que outrora foi glorificado, neste respeito j no resplandece, diante da atual sobresselente glria." (2 Co 3.10.) Indubitavelmente, isso uma referncia indireta sua prpria experincia, que j descrevemos num dos captulos anteriores. A satisfao que ele sentia em depender de seus ascendentes, sua ortodoxia, sua moralidade e sua atividade, logo perdeu todo resplendor "diante da atual sobresselente glria". Para Paulo, confiar em Jesus Cristo, que operava nele da maneira como ele descreve em Glatas 2.20, era experimentar um enorme senso de realizao e valor prprio, que superava infinitamente tudo quanto havia experimentado antes. Era ser livre! Pouco se lhe dava o que os outros pensassem dele, desde que estivesse plenamente ciente do que Deus pensava dele em Cristo. Pouco se importava com a opinio

dos homens (e mesmo de outros crentes) a respeito do seu ministrio, j que ele compreendia plenamente que aquilo que Cristo realizava por intermdio dele, nunca seria "vo no Senhor". Desvanecente ou Permanente? O ltimo contraste que Paulo traa acha-se estreitamente relacionado com o anterior. Diz ele: "Porque se o que se desvanecia teve sua glria, muito mais glria tem o que permanente." O contraste claro. A velha aliana produz a glria desvanecente; a nova produz a permanente. Quando Moiss desceu do monte com o rosto brilhante, descobriu logo depois que aquela glria desvanecia. Pouco depois, ela desaparecia completamente, para nunca mais ser recuperada. Mas a glria do rosto de Jesus nunca muda. Aqueles que esperam que ele opere por intermdio deles, para atender s exigncias que uma vida normal lhes apresenta, iro obter resultados eternos. Nunca iro desvanecer nem perder seu valor. So tesouros acumulados no cu e no na terra. Mais uma vez, Paulo nos relembra a atrao que h em dependermos da carne. O apelo para que as pessoas confiem em seus recursos e habilidades naturais, muitas vezes, pode provocar uma enorme onda de entusiasmo e vibrao. Depois de uma reunio desse tipo, todo mundo vai para casa dizendo: "Que reunio maravilhosa! Mal posso esperar para iniciarmos esta nova programao. Este ano vamos chegar l!" Mas os lderes sabem o que vai acontecer. Pouco depois, o entusiasmo comear a arrefecer (pode ser que no dure nem at o dia seguinte). Aqueles que depois forem "cobrar" as promessas feitas iro descobrir que as pessoas se mostram desanimadas e desinteressadas. De todo modo, no ano seguinte se far tudo de novo, com novas formas de apresentao, e apelos mais fortes, a fim de se conseguir a mesma vibrao e algumas promessas de cooperao. J conhece isso? "Mas isso a natureza humana", interpe algum. "Ns, os seres humanos somos assim mesmo. Vamos enfrentar a realidade e levar isso em considerao, fazendo planos para superar esse desinteresse vrias vezes." Isso verdade a natureza humana. Mas a natureza humana decada; em outras palavras, a carne.

Nova e Permanente Mas voc j conheceu algum que aprendeu a operar . sempre com base na nova aliana? Essa pessoa no precisa de vrias reunies para que seu entusiasmo seja reavivado. Depois de vinte e cinco anos no mesmo trabalho, ainda tem a mesma vitalidade e frescor do dia em que o iniciou. H pouco tempo fiquei conhecendo um senhor idoso, que fora missionrio entre os lenhadores no serto da Columbia Britnica, durante quarenta anos. Recentemente, ele fora aposentado por sua misso, mas seu zelo e entusiasmo pelo trabalho do Senhor ainda eram os mesmos. Nunca se cansara do trabalho, embora muitas vezes tivesse ficado fatigado." E se a misso permitisse, ele voltaria para o serto com toda confiana e coragem, sabendo que o Senhor que operara por intermdio dele era perfeitamente poderoso para resolver qualquer coisa que lhe acontecesse. A nova aliana revigora o esprito constantemente. Quando o esprito humano se enfraquece em face das continuadas demandas da vida (o que de se esperar que acontea), imediatamente ele se volta para o Deus que habita nele, e, dessa Fonte de guas vivas, retira vigor e vitalidade para enfrentar at as demandas de rotina, com um fervor inquebrantvel. um prazer trabalhar com pessoas que vivem sobre essa base. No necessrio dar-lhes um constante encorajamento, embora elas apreciem muito as palavras bondosas que os outros lhes dirigem. Mas elas sabem muito bem que o segredo de sua atividade : "nada vem de mim; tudo de Deus". Essa a glria permanente que nunca desvanece. A atividade da carne sempre traz uma glria desvanecente. O Grande Impulso Com estes quatro contrastes, Paulo est querendo nos convencer da total inadequao da carne, apesar de todas as aparncias, e da total capacidade do Esprito, a despeito das valorizaes dos homens, seja de ns mesmos ou de outros. a energia da carne versus o poder do Esprito da vida em Cristo Jesus, como diz Paulo em Romanos 8. Se, apesar de sermos crentes, estivermos vivendo pelos nossos recursos humanos e no pela vida de Jesus que est em ns, ento somos como um homem que compra um carro, mas no sabe que ele j vem com motor. Esse homem ir empurrar o carro at em casa. Chegando l, ele poder convidar seus familiares para um passeio. Sua esposa senta-se atrs do volante, os filhos no banco de

trs, e ele ento comea a empurr-lo. A ento, ns passamos por ali e indagamos: Como ? E o carro?

Ah, maravilhoso. Olhe o estofamento! Examine a cor! Ah, escute s a buzina! Que buzina tem esse carro! Mas estou achando muito cansativo. Na descida vai muito bem, mas em qualquer subidinha, tenho que suar, e fico logo arquejando, cansado. difcil empurrar na subida!" Ora, meu amigo diremos ns voc est precisando de uma ajudazinha. Sabe, em nossa igreja estamos realizando uma srie de conferncias esta semana. O pregador est falando exatamente sobre o assunto que lhe interessa: "Como empurrar o carro com sucesso!" Na segunda-feira, ele vai ensinar como se empurra com o ombro direito. Na tera, vai mostrar as tcnicas para se empurrar com o ombro esquerdo. Na quarta, vai mostrar slides a cores e vai utilizar um retroprojetor para ensinar como podemos utilizar as costas para empurrar. Na quinta-feira noite, vai realizar estudos prticos, em grupos, para ensinar-nos a empurrar com mais eficincia. E finalmente, na sexta-feira, haver um culto de consagrao, onde teremos oportunidade de ir ao altar e nos consagrarmos novamente obra de empurrar carros. Se voc comparecer todas as noites, aprender tudo que precisa saber para empurrar bem o carro! A Fora de Impulso exatamente assim que o cristianismo, em grande parte, est sendo vivido hoje. Temos empregado horas e horas procurando ensinar as pessoas a reunirem todos os seus recursos humanos e esforarem-se ao mximo a fim de realizar a obra de Deus. Mas o que estamos mobilizando a carne. Procuramos fortalecer sua confiana no poder dos nmeros, nos recursos ocultos do esprito humano e nas possibilidades da fora de vontade. Mas, se realmente quisssemos ajudar aquele homem que estava empurrando o carro, teramos que dizer-lhe algo mais ou menos assim: Olhe aqui. D a volta e venha frente do carro.

A, ergueramos o capo e diramos: Est vendo essa pea de metal a, com esses fios partindo dela? Sabe o que isso? o motor. o gerador de fora. Os fabricantes do

veculo sabiam que voc iria ter esses problemas que est tendo, e por isso criaram esse motor que o capacita a subir morros com a mesma facilidade com que os desce. Depois que voc aprender as noes bsicas acerca do motor, poder conhecer sua potncia. A nica coisa que precisar fazer girar esta chave, e ele entrar em funcionamento. Depois voc abaixa esta alavanca, pisa naquele pedal l embaixo, e l se vai ele. Voc ter que girar o volante, mas toda a fora necessria para movimentar o carro fornecida pelo motor. No preciso empurrar nada. Basta ficar sentado. E poder subir a mais alta colina com a mesma facilidade que a desce. Voc poder at achar divertido encontrar trechos difceis de trafegar. Mas no precisar preocupar-se, pois o motor rende da mesma forma, quaisquer que sejam as condies do terreno. Isso que cristianismo autntico. Deus sabia que os seres humanos no estavam adequadamente preparados para enfrentar as demandas que a vida lhes apresentaria, e por isso forneceu-lhes um gerador de fora a vida do prprio Jesus. Ela perfeitamente ajustada para isso. Nossa parte apenas aprender a aplic-la corretamente e a fazer as decises acertadas ao volante. Quando agimos assim, desfrutamos do descanso que nos vem de atuarmos pela fora de outra Pessoa. Isso , na verdade, uma glria sobresselente. Vamos Comear Talvez algumas pessoas estejam comeando a pensar que gostariam de parar a leitura aqui. As verdades que j aprendemos so to maravilhosas, que estamos ansiosos por parar e comear a viv-las. Doulhes toda razo. Viver pela nova aliana constitui uma aventura maravilhosa. Mas devemos notar que o apstolo Paulo no se detm neste ponto. Ele tem muitas coisas mais para dizer-nos, e tudo que ele diz importante, para o objetivo de experimentarmos aquilo que Deus tem para ns.

6 O Inimigo Interior
"Tendo, pois, tal esperana, servimo-nos de muita ousadia no falar." Esta a triunfante concluso de Paulo para sua dissertao acerca da operao das duas alianas na humanidade. Ousadia! Essa uma consequncia inevitvel da confiana que acompanha a nova aliana tudo vem de Deus, nada de mim. E, naturalmente, ousadia e confiana justamente o que as pessoas esto procurando. Instintivamente, elas sabem que uma ao eficiente gerada por um esprito confiante. Assim sendo, elas tentam, por milhares de meios, fortalecer essa confiana. Mas esto procurando no lugar errado. Existe realmente um tipo de ousadia que encontramos em ns mesmos, mas essa termina em glria desvanecente. A Verdadeira Ousadia Mas Paulo no! Ele j descobriu o segredo da verdadeira ousadia. A base em que ela se apoia diferente. uma esperana certa, uma profunda convico de que Deus est pronto a operar nele. Todos os que se fiam neste fato, logo se tornam notavelmente ousados. Como no esto confiando em si mesmos ou em algum esforo que fazem em nome de Deus, mas, sim, no prprio Deus, pode ter toda a confiana. E como seu sucesso j no depende de sua prpria consagrao, de seu fervor, de sua sabedoria, de sua formao ou do treinamento recebido, podem agir com toda ousadia. Deus quem tudo far, e podemos confiar em que ele no falhar embora possa usar de meios inesperados para atingir seus objetivos. A certeza de que Deus pode operar em qualquer situao livranos completamente do temor de fracassar. Da, termos ousadia. Quando Moiss Temeu Mas imediatamente Paulo acrescenta: "...E no somos como Moiss." Houve uma ocasio em que Moiss no agiu com ousadia pelo contrrio, ele teve medo; sentiu-se ameaado. Vejamos o que Paulo diz a seu respeito:

"Tendo, pois, tal esperana, servimo-nos de muita ousadia no falar. E no somos como Moiss que punha vu sobre a face, para que os filhos de Israel no atentassem na terminao do que se desvanecia." (2 Co 3.12,13.)

Aqui ficamos sabendo, a respeito de Moiss, uma coisa que o Velho Testamento no menciona. No relato do Velho Testamento, Moiss no estava consciente do brilho de seu rosto, ao descer do monte Sinai. Naturalmente, no demorou muito para perceber que algo de muito estranho estava ocorrendo, vendo que o povo fechava os olhos, ou desviava o rosto na presena dele. Alis, foi preciso que o profeta cobrisse o rosto com um vu sempre que se dirigia ao povo. No h nada de errado nisso. Foi um ato perfeitamente correto, em vista das circunstncias. Mas logo depois, ele percebeu uma coisa que os israelitas no perceberam. A glria estava-se desvanecendo. A princpio, ele punha o vu todas as manhs, devido ao fulgor do seu rosto. Mas, com o passar do tempo, o brilho foi desaparecendo, at ficar como um leve claro. Apesar disso ele continuou a usar o vu. E Paulo ento faz uma pergunta: por qu? Por que Moiss continuou a conservar o vu sobre o rosto depois que o fulgor desvaneceu? A reposta que ele d : porque estava com medo. Com medo de qu? Medo de que os israelitas vissem que a glria havia desaparecido. Ele no queria que testemunhassem o fim da glria desvanecente. A marca de sua posio privilegiada e de sua condio diante de Deus estava desaparecendo, e ele no queria que ningum soubesse disso. Ento, ele fez o que milhes de pessoas j fizeram depois disso escondeu sua glria apagada por trs de uma fachada, de um vu. No deixou que ningum visse o que se passava em seu interior. O Vu do Orgulho Est claro que Paulo quer dizer que este vu que cobria a face de Moiss era um smbolo da posterior atividade da carne, pois ele v que, em seus dias, ainda existe esse vu. Os judeus de seu tempo ainda continuavam no exemplo de Moiss.
"Mas os sentidos deles (israelitas) se embotaram. Pois at ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliana, o mesmo vu permanece, no lhes sendo revelado que em Cristo removido. Quando, porm, um deles se converte ao Senhor, o vu lhe retirado. (2 Co 3.14-16.)

Quando Moiss trouxe do monte os Dez Mandamentos, ele os leu perante o povo. A primeira reao dos israelitas foi a seguinte: "Tudo que o Senhor falou, faremos." Logo a confiana e o orgulho carnais se apresentaram e disseram: "Estamos capacitados a fazer tudo que disseres, Senhor. No te preocupes conosco. Somos o teu povo fiel, e tudo que disseres, faremos." E a verdade foi que, antes de encerrar-se o dia, j haviam violado todos os dez mandamentos. Eles sabiam disso, mas no queriam que os outros soubessem. Por isso colocaram uma mscara. Recobriram seu fracasso com o ritual religioso, e se convenceram de que isso era tudo que Deus queria. Esse orgulho de no reconhecer o prprio fracasso foi o vu que ocultou o fim da glria desvanecente. No conseguiram enxergar a morte que os aguardava no fim de tudo. Nem conseguiram perceber a frustrao e a derrota que experimentariam, depois que a carne terminasse sua obra fatal. Mil e quinhentos anos depois da era de Moiss, Paulo encontrou o mesmo vu nos judeus. Eles tinham para com a lei a mesma reao que seus ancestrais tinham tido ao p do monte Sinai: "Tudo que disseres, faremos." E agora, dois mil anos depois de Paulo, ocorre o mesmo fenmeno. Quando se faz alguma exigncia vida natural, a resposta sempre a mesma: "Est certo, eu o farei." Ou, ento, pelo menos: "Vou tentar." At mesmo nos crentes, essa confiana de que podem realizar alguma coisa para Deus, cega seus olhos realidade de que a glria est desvanecendo. Creem que podem realizar alguma coisa, se fizerem uma tentativa. Portanto, hoje em dia continua a existir o mesmo vu. Mscaras Hoje em dia, esses vus se apresentam sob formas as mais variadas, mas, em essncia, so sempre a mesma coisa: representam uma imagem ou fachada falsa que queremos mostrar aos outros, e por trs da qual ocultamos nossa verdadeira imagem. Portanto, esses vus so sempre uma forma de orgulho e hipocrisia. No queremos que as pessoas vejam nossa glria desvanecente. Alis, at relutamos em admitir para ns mesmos que ela desvaneceu. E quando ficamos com o vu durante muito tempo, corremos o risco de comear a pensar que temos aquela imagem que queremos que as pessoas pensem que temos. E assim nossa hipocrisia passa despercebida at por ns e torna-se continuada. Trata-se daquele sutil engano do corao, que Jeremias enxergou to bem e lamentou: "Enganoso

o corao, mais do que todas as cousas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecer?" (Jr 17.9.) Sim; os vus que utilizamos so incrivelmente variados. O orgulho tem milhares de facetas. um gnio do disfarce. C. S. Lewis estava certo ao dizer que:
Existe um mal do qual ningum neste mundo est livre; que todos detestam quando vem nos outros; e do qual ningum, a no ser os cristos, se v culpado... No h outro erro que torne o homem mais impopular que este, nem um erro do qual estejamos menos conscientes, quando se trata de ns mesmos. E quanto mais o temos, mais o detestamos nos outros. O erro de que estou falando o orgulho ou presuno; e a virtude a ele oposta, , segundo os princpios cristos, a humildade. (Extrado de Mere Christianity.)

Duplicidade Contudo, apesar da impopularidade que o orgulho nos d, esses vus de aparncia to inocente so to necessrios ao nosso ego, que inventamos muitas formas inteligentes de preserv-los. Um desses modos usar de duplicidade na nomenclatura. Quando certa forma de orgulho aparece nos outros, damos-lhe determinado nome. Os outros tm preconceitos; ns temos convices fortes. Os outros so presunosos; ns temos respeito prprio. Os outros procuram, ostensivamente, no ficar abaixo do vizinho; ns simplesmente tentamos prosperar. Os outros estouram ou perdem a calma; ns somos dominados por uma ira justa. C. S. Lewis sugere que apenas os crentes de verdade se conscientizam de seu prprio orgulho. E realmente verdade que a maioria dos no-crentes, se veem em si mesmos algum orgulho, consideram-no uma virtude e no um erro. Mas, infelizmente, o fato de ser crente no d garantias de que a pessoa reconhecer facilmente todas as formas de orgulho. Os crentes tm muita tendncia para colocar certos tipos de vu, principalmente aqueles que tm formas de virtudes crists. A falsa modstia, por exemplo. H muito tempo j descobri que, quando ouo um crente dizer: "Estou apenas tentando servir ao Senhor humildemente", posso saber que estou diante da pessoa mais orgulhosa das redondezas. So Jernimo nos avisou: "Cuidado com o orgulho da humildade." Certa vez, ouvi contar de uma igreja que deu ao seu pastor uma medalha por sua humildade, mas, pouco depois, tomou-a novamente, pois ele a colocou na lapela. Naturalmente, a verdadeira humildade nunca est cnscia de si mesmo. bom notar que os maiores santos foram s pessoas mais cnscias

de seu orgulho. E as pessoas verdadeiramente humildes nunca enxergam esta virtude em si mesmas. Quando se faz alarde da santidade, em qualquer quantidade, um forte indcio de enorme orgulho. Os Vus que os Crentes Usam Existe tambm a justia prpria. uma das mais perigosas formas de orgulho cristo. A pessoa toma um certo padro bblico de conduta, e orgulha-se de sua prpria capacidade de observ-lo exteriormente, enquanto, convenientemente, ignora o fato de que, no corao e no pensamento, ela no o observa. Em consequncia disso, ela abriga uma atitude de presuno paternalista e at maldosa para com aqueles que no se ajustam a esse padro. Este foi o pecado que Jesus atacou mais fortemente. Apontou-o nos fariseus, e afirmou que at as prostitutas e publicanos entrariam no reino dos cus antes deles. o pecado do cruzado que monta em seu cavalo branco e parte para combater todas as formas de mal que considera mpias. Justia prpria tambm o pecado da pessoa que se pe a acusar outrem, pois ela se fixa num s ponto de conduta e ignora as reas de sua vida em que h fraquezas semelhantes. Recorremos a esta mscara instintivamente sempre que algum fracasso ou fraqueza nossa exposta. ("Posso ter essa fraqueza, mas pelo menos no fao isso ou aquilo.") E gostamos que o vu da justia prpria esteja sempre mo, para o colocarmos rapidamente, impedindo que os outros vejam o fim da glria desvanecente. Outro vu comum entre os crentes a excessiva sensibilidade ou susceptibilidade. As pessoas susceptveis ou excessivamente sensveis se magoam facilmente com as palavras ou atos dos outros. Precisamos tratlas com extremo cuidado, para que no se ofendam. E quando se ofendem, passam por agonias de esprito e tendem a ficar mergulhadas num mar de autopiedade horas a fio, ou at mesmo dias. A explicao que do para isso sempre a "desconsiderao" ou "rudeza" dos outros, mas, na verdade, a sua forma pessoal de protestarem por no receberem as atenes e importncia de que se julgam merecedoras. Alguns anos atrs, uma senhora crente resumiu tudo numa frase curta, que nunca esqueci: "J descobri", disse ela, "que a susceptibilidade nada mais que egosmo". Isso me ajudou grandemente a libertar-me de uma luta contra a excessiva sensibilidade, que eu enfrentava na ocasio.

Outras Mascaras Um esprito impaciente tambm pode ser um vu para esconder aquilo que somos realmente. Muitas vezes, ele apresentado para sugerir importncia ou operosidade. Frequentemente, aparece sob a forma de zelo ou dedicao. Mas, na verdade, aquele que por qualquer coisa fica irritado, ou enruga a testa, ou responde com rispidez, com tais atitudes, que so formas de orgulho, geralmente est ocultando insegurana ou um profundo sentimento de inferioridade. O hbito de se autojustificar tambm revela uma atitude semelhante. As pessoas que no toleram ser mal compreendidas, e que esto sempre se explicando, na verdade, esto afirmando o seguinte: "Quero que pensem que sou perfeito. Naturalmente, sei que esta situao no deixa que eu parea perfeito, mas se me deixarem explicar, etc, etc." No admira que esse hbito, muitas vezes, esteja relacionado com o que chamamos perfeccionismo. Mas talvez o vu de que os crentes mais lanam mo, seja o da frieza, o costume de guardar sentimentos e atitudes totalmente para si, escondendo-os at mesmo de amigos e parentes chegados. Esse distanciamento brota, basicamente, do medo do temor de que nos conheam exatamente como somos. Muitas vezes, porm, leva o nome de "reserva" ou "reticncia". Est claro que se trata de um vu para impedir que outros vejam a glria desva-necente e uma transgresso patente de mandamentos bblicos tais como: "Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados." (Tg 5.16.) "Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo." (Gl 6.2.) Como podero os outros carregar nossas cargas se no falamos delas? E essa atitude viola tambm o reiterado mandamento de Cristo: "O meu mandamento este: que vos ameis uns aos outros". (Jo 15.12.) Pela descrio de Joo, esse mandamento inclui, entre outros elementos, a comunicao de segredos. (Jo 15.15.) Paulo diz aos crentes de Corinto (em 2 Corntios 6.11) que abriu seu corao completamente para eles e os exorta: "como justa retribuio (falo-vos como a filhos), dilatai-vos tambm vs". (2 Co 6.13.) A Grande Mentira Pelos exemplos citados acima, vemos claramente que a carne ou vida natural, acima de tudo, gosta de ocultar-se ou disfarar-se. Todos temos a

tendncia de temer a rejeio dos outros se formos vistos como realmente somos. A ideia de que, para sermos amados ou aceitos, precisamos parecer perfeitos ou bem sucedidos, uma grande mentira satnica. Por isso, ou tentamos projetar uma imagem de capacidade (o extrovertido), ou procuramos esconder nosso fracasso (o introvertido). A nova aliana oferece exatamente a situao oposta. Se reconhecermos nossa incapacidade, poderemos ter a capacitao de Deus, e tudo aquilo que inutilmente tentamos produzir por ns mesmos, nos dado, quando somos fracos. O segredo disso retirar o vu. Um hinlogo moderno, John Fisher, conseguiu descrever com maravilhoso humor essa tendncia dos evanglicos para usarem vus. D agora umas boas risadas s suas prprias custas. Vu Evanglico Produes
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O Grande Desvendamento Como podemos remover estes vus? A resposta dada claramente por Paulo na passagem que estamos considerando. E ele a diz duas vezes: "...em Cristo removido" e, "Quando, porm, algum deles se converte ao Senhor, o vu lhe retirado." E logo em seguida o apstolo nos diz: "Ora, o Senhor o Esprito; e onde est o Esprito do Senhor a h liberdade." Temos aqui a primeira chave para passarmos da velha para a nova aliana. Esta chave o Esprito. Algumas pessoas podem ficar confusas com as palavras de Paulo: "em Cristo removido". Podem perguntar: "Mas a Cristo ou ao Esprito que temos de converter, para que o vu seja removido?" Naturalmente a resposta que no faz nenhuma diferena. Muitas vezes, nas Escrituras, o Esprito Santo chamado de o Esprito de Cristo. Sua funo divina e seu prazer entrar na vida daqueles que creem em Jesus e comunicar-lhes continuamente a vida do prprio Jesus. Portanto, converter-se ao Esprito o mesmo que converter-se a Cristo. por meio do Esprito que vamos a Jesus. Precisamos entender tambm que, em termos prticos, "converter-se ao Esprito" significa ter f na promessa do Esprito, confiar na palavra de Deus. crer que ele opera conforme disse. Especificamente, a promessa dele que aplicar nossa vida prtica, diria, todo o poder tanto da morte como da ressurreio de Jesus. Sua morte nos separou da antiga vida natural. ("Sabendo isto, que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destrudo, e no sirvamos ao pecado como escravos." Rm 6.6.) Quando, na prtica, aceitamos essa palavra com relao forma de orgulho que estamos utilizando no momento (isto , o tipo de vu com que nos cobrimos), somos imediatamente libertos dele pelo Esprito. Identificamos o vu pelo nome com que Deus o identifica, e que geralmente lhe damos quando o vemos em outra pessoa. Agora, ele j no pode mais ser desculpado ou justificado ns repudiamos a ele e ao prazer passageiro que ele oferece. isso que chamamos conver-ter-se ao Esprito. como Paulo diz: "...se pelo Esprito mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis" (Rm 8.13). Lembremos que, "Quando, porm, algum deles se converte ao Senhor, o vu lhe retirado. Ora, o Senhor o Esprito". Livres Para Viver

A segunda responsabilidade do Esprito tornar real para ns, em termos prticos, a ressurreio de Jesus, bem como a sua morte. a segunda parte de "converter-se ao Senhor". O primeiro ato do Esprito faz cessar o domnio da antiga vida sobre ns; o segundo, nos libera para termos a vida de Jesus. isso que as Escrituras chamam de liberdade. "Onde est o Esprito do Senhor a h liberdade." ("Ora, seja morremos com Cristo, cremos que tambm com ele viveremos." Rm 6.8.) Pela f nessa promessa, passamos da carne com sua mentirosa promessa de sucesso, para a confiana no Senhor Jesus, que habita em ns pelo seu Esprito e est pronto para operar no momento em que resolvermos agir. Isso, em termos prticos, significa que passamos da velha aliana para a nova. Nada vem de ns; tudo de Deus! Isto liberdade! E o apstolo prossegue descrevendo essa liberdade em termos gloriosos: "E todos ns, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glria do Senhor, somos transformados de glria em glria, na sua prpria imagem, como pelo Senhor, o Esprito." (2 Co 3.18.) Observemos a expresso "com o rosto desvendado". Pela f na promessa de Deus (isto , pelo Esprito) deixamos de contemplar a face de Moiss, e agora contemplamos, em todo o seu resplendor, "a glria de Deus, na face de Jesus Cristo". O vu foi removido; cessaram a lei e Moiss. Naquele momento, somente Jesus Cristo se acha vista no horizonte de nossa vida. muito possvel que, um ou dois minutos depois, ns, como Pedro caminhando sobre as guas, tiremos os olhos do rosto de Jesus e comecemos a atentar para as circunstncias e para nossos recursos limitados, e, nesse momento, naturalmente, Moiss e a lei voltem a imperar. Mas a tentao de agir assim ainda no o ato propriamente dito, e podemos ter nossa f fortemente provada, enquanto ainda estamos com os olhos fitos na face de Jesus. E quando sucumbimos a essas presses e comeamos a confiar em ns mesmos ou em outras pessoas, automaticamente estamos nos colocando outra vez sob a velha aliana, usando um vu sobre o rosto, e temos que repetir todo o processo de libertao. Deus No Est com Raiva Mas, quando isto acontecer, no fiquemos desesperados nem nos sintamos condenados. Lembremos que Deus j providenciou uma sada

para o fracasso, no fato de que podemos aprender a viver pelo Esprito. Ele anteviu nossas lutas e fracassos, e somente espera que os reconheamos e voltemos imediatamente para o princpio da nova aliana. Deus no est com raiva de ns, nem transtornado porque camos. Talvez estejamos zangados com ns mesmos, mas isso somente confirma a ideia de que realmente estvamos esperando que o sucesso viesse de ns prprios. Precisamos to somente dar graas a Deus por permitir-nos ver aquilo em que, inconscientemente, estvamos confiando, e depois retornar f de que Jesus est operando em ns, quando mais uma vez encetamos a tarefa que nos confiada. Transformados Pelo Olhar Esse contnuo movimento de retornar contemplao da "glria do Senhor" opera uma mudana em ns, diz Paulo. A cada momento, outras e outras facetas de nossa conscincia (nossa alma) esto sendo colocadas sob o domnio do Esprito, e, portanto, vamos refletindo uma crescente semelhana com Jesus; "somos transformados de glria em glria, na sua prpria imagem". Isso o que chamamos de "crescimento cristo" ou "crescimento na graa". Significa que, pela prtica constante do princpio da nova aliana, torna-se cada vez mais fcil manter os olhos do corao fitos no rosto de Jesus. Aos poucos, torna-se cada vez mais natural andar no Esprito, em vez de andar na carne. O escritor do livro de Hebreus fala de pessoas que, "pela prtica, tm as suas faculdades exercitadas para discernir no somente o bem, mas tambm o mal". (5.14.) Ainda assim, possvel que, sob uma tentao forte, essas pessoas venham a agir na carne, em alguma rea de sua vida, mas isso vai tornar-se cada vez mais improvvel, pois seu corao est sendo "confirmado com graa". (Hb 13.9.) Embora esse maravilhoso efeito esteja ocorrendo em certas reas de nossa conscincia, ele no conquistou ainda todos os aspectos de nossa vida. A glria da vida de Jesus est-se tornando cada vez mais forte em algumas reas, mas, em outras, a carne ainda reina triunfante, e deve ser enfrentada e dominada pelo Esprito, de modo que outra "glria" se torne evidente. Esse processo tem sido ilustrado algumas vezes pela figura de um trono no corao, onde, a princpio, o Ego est assentado, e Cristo (simbolizado pela cruz), est esperando que se lhe d o lugar que de direito dele. Veja-se a figura A, abaixo.

Quando a vontade do homem (o trono) entregue autoridade de Cristo, o Ego expulso e Jesus passa a reinar como Senhor do corao. Veja-se a figura B, acima. O Crescimento um Processo Essa forma de ilustrao tem sido valiosa para muitas pessoas. Contudo ela inadequada, pois representa o corao humano como uma entidade nica e a vontade como nico fator de governo de toda a vida interior, em dado momento. Creio que o mais certo seria entender a palavra corao como empregada nas Escrituras, referindo-se alma e ao esprito juntos, como mostramos na figura C.

C. O ESPRITO DE DEUS PENETRA NO ESPRITO HUMANO; O EGO DESTRONADO. Note-se na ilustrao da figura da letra C que, quando da converso do indivduo, o Esprito de Deus penetra no esprito humano, destrona o Ego (carne), e coloca em seu lugar a Cruz, que simboliza a vida de Jesus. Mas isso ocorre apenas no esprito. A alma ainda se encontra sob o controle da carne e continua assim at que o Esprito v, sucessivamente, ocupando todas as facetas da vida, e estabelecendo o Senhorio de Jesus no corao. Portanto, em cada uma dessas facetas existe um trono, e o Senhorio de Jesus tem que ser estabelecido em cada uma e em todas h uma luta, como vemos na figura D.

A Vida com Altos e Baixos Isto explica por que o crente pode estar no Esprito, num dado momento, e, no minuto seguinte, na carne. Um bom exemplo bblico desse fato encontra-se em Mateus 16.16, quando Pedro confessa para Jesus: "Tu s o Cristo, o Filho do Deus vivo." E Jesus replica: "Bem-aventurado s, Simo Barjonas, porque no foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai que est nos cus." Est claro que, ao fazer a confisso da identidade de Jesus, Pedro falou no Esprito. Entretanto, no verso 22 do mesmo relato, Pedro chega a repreender Jesus quando este deu a entender que seria crucificado e ressuscitaria de novo. E ao comentrio de Pedro, Jesus disse: "Arreda! Satans; tu s para mim pedra de tropeo, porque no cogitas das cousas de Deus, e, sim, das dos homens." Aqui, Pedro falou na carne, numa inconsciente oposio vontade e aos desgnios de Deus. Vemos, portanto, que, no aspecto da aceitao racional da identidade de Jesus, o Esprito j conseguira colocar a Jesus como Senhor da vida de Pedro. Mas, quando se fez necessrio o seu envolvimento com o plano de morte e ressurreio, que aquela identificao exigia, ento a carne estava dominando, e Jesus ainda no reinava como Senhor desse aspecto de sua vida. Mas tudo isso se passava na esfera de sua alma (sua vida consciente); em seu esprito, Jesus era Senhor como sempre o fora desde que Pedro atendera ao seu chamado e entrara na vida eterna. A Luta Interior bem possvel um crente andar constantemente no Esprito, com respeito a um aspecto de sua vida por exemplo, no relacionamento com os irmos em Cristo mas, quando se relaciona com uma pessoa de sua famlia, ele entra numa rea em que a carne ainda no est dominada, e todas as suas atitudes e palavras so carnais, em vez de espirituais. Isso acontece frequentemente com crentes novos. De sua posio vantajosa no esprito humano, o Esprito de Deus exerce uma presso firme e constante na rea do relacionamento familiar, e muitas vezes isso ocasiona vrias crises, at que, afinal, a vontade entrega esta rea tambm, e Jesus entronizado ali como Senhor. Assim subimos mais um grau na semelhana de Cristo, e outro grau de glria manifestado. Tambm pode ser a nossa vida sexual que esteja resistindo ao controle do Esprito. Ou pode ser a vocacional. Tem havido muitos homens

de negcio que, nos domingos, vivem no Esprito, mas, na segunda-feira, quando transpem o umbral do escritrio, eles dizem mais ou menos o seguinte: "Aqui, quem manda sou eu. J aprendi a cuidar dos problemas e dos negcios, e no preciso da ajuda de Deus. Sei o que ele espera de mim, e posso conduzir as coisas sozinho." Naturalmente, isso a velha aliana em sua mais pura forma de manifestao. Essa conduta resulta na presena da morte sob muitas formas: depresso, tdio, ressentimento, ansiedade, tenso, etc. Empenhamos Numa Batalha J Vencida J que, em cada momento, vivemos apenas uma rea de nossa vida, evidente que possvel estarmos numa faceta controlada pelo Esprito, num momento, e, no seguinte, numa rea dominada pela carne. por isso que, num momento, somos uma pessoa maravilhosa, de fcil convivncia maravilhosa, porque estamos no Esprito e um instante depois, entramos numa rea em que habitualmente agimos na carne. Voltamos ento velha aliana e somos speros, impiedosos e at cruis. Quando ficamos cientes da presena desses sentimentos em nosso corao, percebemos que corremos o risco de perder nossa reputao de crentes, se permitirmos que eles venham tona, e ento pegamos um vu evanglico e ocultamos a glria desvanecente. Mas como alentador saber que o Esprito nunca desistir da batalha. Ele procura, com milhares de meios e modos, penetrar em cada faceta de nossa alma, e aos poucos vai entrando algumas vezes, mais rapidamente, medida que vamos rendendo esses recantos de nosso ser. Outras vezes, mais lentamente, quando resistimos, e nos apegamos aos vus. Quanto mais trabalharmos e vivermos tendo sempre em vista o rosto de Jesus, mais rapidamente veremos as reas de nossa vida serem transformadas sua imagem. Mas no podemos fazer essa obra em ns. Como Paulo diz, tudo do Esprito, pois o "Senhor o Esprito". E ele nunca interromper a obra que iniciou.

7 O Inimigo de Fora
"Pelo que", clama Paulo com aquele eterno otimismo que caracterizou sua carreira apostlica, "tendo este ministrio, segundo a misericrdia que nos foi feita, no desfalecemos". No original grego, o termo que aqui traduzido pela palavra "este", bem definido. A ideia por ele transmitida : "este tipo de ministrio". O tipo a que ele se refere o que acabou de descrever: um ministrio exercido pela nova aliana, em que todos os vus so removidos por um constante ato de converso ao Senhor, e em que o Esprito interior revela o carter de Cristo em reas da vida cada vez maiores. Como poderia haver lugar para desnimo nesse tipo de ministrio? Haver falhas, pois a carne ardilosa e enganosa, mas elas no precisam passar de ocorrncias momentneas. De todo modo, no devem produzir em ns condenao. Em vez disso, cada falha deve ser uma oportunidade de aprendizado, com a finalidade de conduzir-nos restaurao e a uma renovada atividade pelo poder do Senhor. Como j vimos, com base na nova aliana, os problemas interiores (tais como medo, tenso, hostilidade, incapacidade ou vergonha) podem ser prontamente solucionados. O crente fica livre para dedicar-se ao ministrio que se acha diante dele. Esse ministrio seja qual for a forma que tome dever conter as caractersticas da nova aliana simplicidade, liberdade e eficcia. Paulo o descreve nos seguintes termos:
"Rejeitemos as cousas que, por vergonhosas, se ocultam, no andando com astcia, nem adulterando a palavra de Deus; antes, nos recomendamos conscincia de todo homem, na presena de Deus, pela manifestao da verdade." (2 Co 4.2.)

Em harmonia com o andar no Esprito, que apresenta dois lados, aqui tambm encontramos um aspecto negativo e outro positivo de um ministrio nos moldes da nova aliana. Primeiramente, o negativo: "Rejeitamos as cousas que, por vergonhosas, se ocultam, no andando com astcia, nem adulterando a palavra de Deus." E mais uma vez, o contexto do sculo primeiro estranhamente se assemelha ao do sculo XX. Nos dias

de Paulo, havia homens (e naturalmente, mulheres tambm) que achavam ser necessrio produzir resultados visveis e instantneos, a fim de parecerem bem sucedidos em seu ministrio. No importava que ele fosse pblico ou no, a prova do sucesso estava em obter sinais visveis de grandes realizaes. Por causa disso, eles recorriam ao que Paulo denominou "cousas que, por vergonhosas, se ocultam", a fim de obterem os resultados desejados. Coisas de que Ningum Precisa Basta apenas observarmos as atividades semelhantes em nossos dias, para sabermos especificamente quais eram essas coisas. Indubitavelmente, eram manobras psicolgicas, tticas para pressionar, apelos emocionais, exigncias excessivas como vemos hoje muitas vezes. Tais coisas deveriam conter tambm campanhas promocionais fortssimas, cartazes e folhetos publicitrios, e uma constante nfase aos nmeros, que seriam os indicadores do sucesso. lgico que existe uma utilizao da publicidade que consideramos legtima, com a finalidade informativa, mas promoo pessoal outra coisa. Foi Jesus quem nos advertiu de que "todo o que se exalta ser humilhado; e o que se humilha ser exaltado". Com palavras diretas, o apstolo rejeita todas essas manobras psicolgicas que so usadas com objetivo de obter resultados impressionantes. Pode ser at que ele os tenha praticado no seu tempo de farisasmo, e mesmo depois, quando se tornou crente, no incio do seu ministrio. Mas agora no os pratica mais. Elas no eram necessrias realizao de um ministrio forte, um ministrio da nova aliana. Alm disso, ele se recusou a empregar tticas de espertezas, que, evidentemente, muitos outros estavam utilizando. O pensamento que inspira uma "esperteza" a vontade de tentar de tudo. Isso d a ideia de ausncia de princpios, de moral e de escrpulos. Em nossa era de corruptos e de escroques, quase nem necessrio falar mais sobre isso. Trata-se simplesmente de lanar mo de expedientes, de justificar os meios com os fins aparentemente vlidos que se deseja atingir. Mas o grau mais elevado de desonestidade o daqueles que chegam at a adulterar a Palavra de Deus, a fim de obter uma aparncia de sucesso. No se trata aqui, como poderamos pensar, de alterar o texto da Bblia. No primeiro sculo, havia poucos exemplares das Escrituras. Na verdade, isso

significa torcer o significado dos textos ou fazer uma aplicao errada da verdade forando-a a tomar significados extremos. Um exemplo o caso de Himeneu e Fileto, que ensinavam que a ressurreio j ocorrera. (2 Tm 2.17,18.) Embora no negassem a realidade da ressurreio, adulteraram a Palavra de Deus situando-a no passado. Provavelmente, isso era decorrncia de ensinarem apenas uma parte da verdade, em vez de toda a revelao. Muitas das novas seitas que esto surgindo hoje em dia, esto empregando essa ttica, causando muita confuso e prejudicando muitas pessoas. verdade que tudo parece bblico, mas, na realidade, uma adulterao da Palavra de Deus por meios sutis e enganosos. No H Necessidade de Vangloriar-se Nenhuma dessas coisas necessria no ministrio da nova aliana, afirma Paulo. Elas constituem a prpria anttese desse ministrio, e a presena de uma delas seria indcio de que se fez alguma concesso carne. Existem milhares de outras maneiras pelas quais a carne procura imitar a obra do Esprito, e todas tm o mesmo objetivo: obter uma aparncia de sucesso, que depois ser usada para aumentar o prestgio ou status das pessoas nele envolvidas. E como essas prticas esto muito em uso em nossos dias (como, evidentemente, estavam no primeiro sculo), muitos crentes novos e relativamente imaturos so levados por elas sem se aperceberem. E como h poucas vozes a mostrar a verdade, elas so facilmente aceitas como se fossem certas. Mas nesse ponto que a Palavra de Deus deve julgar-nos a todos. como Paulo diz um pouco mais adiante, nessa mesma carta: "Aquele, porm, que se gloria, glorie-se no Senhor. Porque no aprovado quem a si mesmo se louva, e, sim, aquele a quem o Senhor louva." (2 Co 10.17,18.) O Caminho a Seguir Em marcante constraste com a multiplicidade do mal est a simplicidade da verdade. Numa grande declarao positiva, o apstolo descreve o que ele faz e o que fazem tambm aqueles que operam na liberdade e na amenidade da nova aliana. "... antes, nos recomendamos conscincia de todo homem, na presena de Deus, pela manifestao da verdade." (2 Co 4.2b.) Temos aqui uma descrio clara e precisa de um ministrio nos moldes da nova aliana, tal como deveria ser em qualquer manifestao

pblica. O mtodo um s e invarivel: "pela manifestao da verdade." Nada mais necessrio. A verdade, tal como revelada em Jesus, to radical, to grandiosa em toda a sua dimenso, to universal e essencial vida humana, que no h necessidade de expedientes psicolgicos para elev-la ou torn-la mais eficiente e interessante. o mais cativante assunto de que se tem notcia, pois diz respeito ao prprio homem, no nvel mais profundo do seu ser. O objetivo de Paulo tambm est muito claro: "nos recomendamos conscincia de todo homem". A palavra conscincia, no sentido empregado aqui, refere-se vontade do esprito humano, em contraste com a da alma, que muito mais instvel e flexvel. aquilo que o homem sabe que "deve" fazer, quer o faa ou no. aquele conhecimento profundo, que h no ntimo de cada um de ns, do que se deve fazer para ser o tipo de pessoa que se admira e que se deseja ser. Reto Diante de Deus Portanto, apelar conscincia do homem procurar ganhar todo o seu ser: corpo, alma e esprito mental, emocional e volitivamente. No se trata, pois, de se conseguir uma simples aquiescncia mental, e certamente no uma deciso superficial de carter emocional. Antes, busca-se mostrar conscincia que a consagrao total a Jesus a coisa certa; isto , acha-se de acordo com a realidade, e a nica forma de se atingir a auto-realizao. Assim sendo, no exige resultados visveis e imediatos, embora se alegre com quaisquer resultados que possam aparecer. Contenta-se em permitir que a semente plantada tenha tempo para crescer, e reconhece que as pessoas s podem reagir adequadamente a algo que entendam e percebam bem. Por ltimo, isso deve ser feito "na presena de Deus". Como j vimos, isto significa o conhecimento de que ele est observando tudo que fazemos, avaliando tudo e procurando corrigir o que for necessrio. Mas essa expresso sugere ainda mais. Como a nova aliana em essncia "tudo de Deus", ela significa que os olhos da alma esto voltados para Deus, a fim de receber dele o poder e os recursos necessrios para que o ministrio seja eficiente. Toda a responsabilidade dos frutos a serem obtidos repousa unicamente sobre Deus. isso que confere ao esprito do obreiro um profundo senso de serenidade e paz. Ele livre para ser um instrumento nas

mos de Deus. assim o ministrio baseado na nova aliana, em sua expanso por todo o mundo. Novamente Aquele Vu Nesse ponto da carta de Paulo, surgem novamente as desagradveis realidades da vida. Essa a glria do evangelho; ele nunca fica apenas no ideal, mas v a vida tal como , com todas as suas mazelas. Em princpio, se Deus o nico responsvel pelos resultados e deseja que todos os homens sejam salvos, sempre que se pregar o evangelho ou se ensinar a Bblia, deve haver muitas decises. Mas, na prtica, no isso que acontece. Como entender as ocasies em que isso no acontece? O apstolo d a seguinte resposta a essa pergunta implcita:
"Mas, se o nosso evangelho ainda est encoberto, para os que se perdem que est encoberto, nos quais o deus deste sculo cegou o ententimento dos incrdulos, para que lhes no resplandea a luz do evangelho da glria de Cristo, o qual a imagem de Deus." (2 Co 4.3,4.)

Mais uma vez aparece o vu do orgulho nessa exposio. Desta vez, a referncia no aos vus que os evanglicos utilizam, mas aos que os incrdulos usam, quando lhes so apresentadas as boas-novas de Jesus. Anteriormente, Paulo j mencionara o fato de serem elas, ao mesmo tempo, "vida para vida", para alguns que ouvem a pregao, e "morte para morte", para outros. Esses ltimos no veem nada de bom nas "boas-novas", pois h um vu sobre suas mentes. Para eles, o evangelho parece irreal, distante da realidade da vida, tendo algum interesse apenas para aqueles que j tm em si uma inclinao para a religio. Mas o seu modo de ver as coisas que est errado. Como Paulo explica, "o deus deste mundo (Satans) cegou o entendimento dos incrdulos". E como sempre, ele se utiliza do orgulho para cegar-lhes os olhos. E assim eles ficam muito confiantes em suas prprias habilidades para enfrentar a vida, certos de que tm toda a capacidade necessria para solucionar seus problemas. Portanto, para eles, Jesus parece perfeitamente dispensvel, e mal merece uma considerao sua. O que no percebem que ele se acha no centro da vida, e que toda a realidade procede dele. Ir contra ele o mesmo que ir contra a fora que nos possibilita tudo, at mesmo ser contrrios a alguma coisa. Jesus o Senhor, quer os homens queiram, quer no, at que um dia, "ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos cus, na terra e debaixo da terra, e toda lngua confesse que Jesus Cristo Senhor, para glria de Deus Pai".

No Fuja Vida Ser bom saber quando essa cegueira satnica tem lugar. Uma leitura apressada desse texto poder dar a impresso de que a mente cegada ou velada depois que a pessoa ouve a pregao do evangelho. Nesse caso, ela ouve, rejeita, e em consequncia sua mente cegada. assim que geralmente se interpreta essa passagem. Mas Paulo afirma que cegar impedir que "lhes resplandea a luz do evangelho", e, portanto, ocorre antes de o evangelho ser pregado. Eles so chamados de "incrdulos" no porque no creiam no evangelho, mas porque descreram de uma outra coisa, antes mesmo de ouvirem o evangelho. O que essa coisa? a realidade, o modo como as coisas realmente so. O deus deste sculo conseguiu acostum-los a viver com iluses, que pensam ser a realidade. Eles no esto dispostos a encarar a vida como realmente . Do as costas verdade muito antes de ouvirem o evangelho, porque no desejam encarar a vida realisticamente. Um exemplo muito comum disso o modo como muitas pessoas evitam a palavra "morte". Trata-se de um assunto desagradvel, e, no entanto, a realidade nua e crua com a qual todos um dia nos defrontaremos. Note-se como as pessoas ficam inquietas num culto fnebre e como parecem desejar que ele termine logo, para que possam voltar s suas iluses, que consideram reais. Ao invs de enfrentarem agora o fato da morte, bem como s suas implicaes para a vida (que podem muito bem predisp-los para que aceitem o evangelho), elas preferem fugir e esconder a cabea na areia, at que o inevitvel encontro com a morte no lhes oferea meios para a fuga. Podemos ver o escapismo em muitas outras coisas tambm. A maioria das pessoas no gosta de enxergar-se como realmente . Preferem acreditar numa imagem prpria mais aceitvel, embora haja momentos de verdade, quando repentinamente se veem sem o vu. Alguns se habituam a evitar tudo que desagradvel ou difcil, e assim, inconscientemente, so levados pelo deus deste sculo a crer em fantasias e considerar iluses como sendo realidades. muito difcil tais pessoas serem alcanadas com a mensagem do evangelho. Para elas, muitas vezes, ela um cheiro de morte para morte. Com os Olhos Bem Abertos

Entretanto, vez por outra, encontramos um no-crente que se acostumou a encarar a vida de forma realstica e a no fugir das dificuldades. So aquelas pessoas que possuem uma boa dose de autodisciplina, e esto acostumadas a receber ordens de outrem. Soldados e fuzileiros, por exemplo, muitas vezes se encaixam nessa descrio. Esse tipo de pessoa, quando ouve o evangelho, aceita-o imediatamente. Para elas, Jesus adequado. Logo reconhecem que ele o centro de vida que lhes faltava, e que de h muito vm buscando. Em seus olhos no h vus. E a tragdia em tudo isso que esses que no enxergam o evangelho como uma realidade, esto dando as costas justamente quilo que mais desejam encontrar. O centro do evangelho Cristo, e Cristo, diz-nos Paulo, a imagem de Deus. Portanto, o que elas esto perdendo o segredo da semelhana com Deus que o que o homem mais anseia em sua vida. Deus um ser totalmente independente, que no tem necessidade de ningum e de nada. No entanto, por amor, ele se d liberalmente a todas as suas criaturas. por esse mesmo tipo de independncia que o homem anseia ele que a essncia da imagem de Deus, e por isso est sempre clamando: "Deixe-me ser eu mesmo! Tenho que ser eu!" Como Ser Semelhante a Deus O que o homem no compreende pela sua viso velada da realidade que essa independncia surge da dependncia. desejo de Deus que as pessoas sejam semelhantes a ele. Ele quer que sejamos independentes de todas as outras criaturas ou coisas do universo, exatamente porque elas so totalmente dependentes dele. Satans no mentiu quando disse a Eva no jardim: "Se vocs comerem dessa fruta tornarse-o semelhantes a Deus." E Eva teve muito dificuldade em descobrir erro nisso, pois, afinal, era isso mesmo que Deus queria. Ele deseja que as pessoas tenham a sua imagem. Isso est bem claro em toda a Bblia. "Que o homem, que dele te lembres... Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus, e de glria e de honra o coroaste." (SI 8.4,5.) O que Eva no entendeu foi que essa semelhana com Deus s possvel por meio de Cristo. Em 1 Timteo, Paulo ir exclamar: "Evidentemente, grande o mistrio da piedade: Aquele que foi manifestado na carne." (1 Tm 3.16.) A semelhana de Deus, naturalmente, a nova aliana em ao: "tudo vem de Deus; nada de mim."

Raia a Luz Bem, e o que pensar dessas pessoas cujos entendimentos esto cegados? Esto totalmente perdidas? No h meios de os alcanarmos em suas trevas? A resposta de Paulo a essas perguntas grandiosa:
"Porque no nos pregamos a ns mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor, e a ns mesmos como vossos servos por amor de Jesus. Porque Deus que disse: De trevas resplandecer luz , ele mesmo resplandeceu em nossos coraes, para iluminao do conhecimento da glria de Deus na face de Cristo." (2 Co 4.5,6.)

O argumento que ele levanta que pregar a Jesus como Senhor (bem como o centro e cerne de toda realidade, aquele que se acha no controle de todos os eventos) constitui uma mensagem que Deus honra, e Deus um ser de incrvel poder e autoridade. Alis, foi ele que, na criao, ordenou que a luz resplandecesse das trevas. Observemos que ele no ordenou que a luz resplandecesse nas trevas literalmente ordenou que as trevas produzissem luz! Bem, e por que aquelas pessoas esto perecendo? Paulo diz que seus entendimentos esto cegos, isto , acham-se em trevas. J abandonaram o modo natural pelo qual Deus se prope a salvar os homens, isto , por uma sincera reao realidade (Hb 11.6). Mas o caso delas no est totalmente perdido, pois o Deus a quem Paulo prega pode criar luz das trevas. Elas precisam ter luz. E se rejeitarem a luz da natureza e da vida, ainda fica a possibiliade de que, ao ouvirem a boa-nova de que Jesus Senhor, Deus, num ato criativo, ordene que a luz resplandea de suas trevas espessas. Por isso, o crente pode sempre testemunhar em esperana, sabendo que um Deus soberano opera, pelo poder da ressurreio, para produzir luz das trevas, em muitos coraes. Jesus sabia disso e afirmou: "Todo aquele que o Pai me d, esse vir a mim." Jesus Senhor Paulo v a si mesmo como um desses homens. Antes de sua experincia de converso, ele estivera totalmente empenhado em agradar a Deus, consagrado a esse grande objetivo e fazendo o melhor que podia para cumpri-lo. Entretanto, achava-se em trevas to densas, que, quando viu e ouviu Jesus, no reconheceu nele o Filho de Deus, mas pensou que fosse um usurpador, um marginal. Mas, na estrada de Damasco, ele foi subitamente envolvido por uma luz. Das trevas de sua inteligncia

brilhante, resplandeceu a luz, e iluminou a treva de seu corao consagrado. E ali ele conheceu o que h muito tempo buscava a glria de Deus. E para seu espanto, encontrou-a onde menos esperava: no rosto de Jesus Cristo. E Deus colocou de lado o brilhantismo do jovem Saulo, bem como a sua dedicao, sua impecvel moralidade, pois em nada haviam contribudo para sua busca da realidade. De repente, tudo ficou claro: Jesus Senhor! Com o auxlio dessa chave, todas as outras coisas comearam a encaixar-se nos devidos lugares. O universo e a vida passaram a ter sentido. E o melhor de tudo foi que ele sentiu-se realizado como homem. Jesus era real, e agora estava com ele dia e noite. Coragem, paz e poder eram sua possesso agora, enriquecendo-lhe a vida alm da imaginao. Encontrara o segredo da semelhana com Deus. Devido sua prpria experincia, o apstolo tem o mximo de cuidado para conservar sua pregao sempre centrada no nico assunto que Deus abenoar, produzindo luz das trevas, isto , "no nos pregamos a ns mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor, e a ns mesmos como vossos servos por amor de Jesus". O perigo da pregao que muitas vezes nos oferecemos como a soluo para os problemas do homem. Falamos acerca da igreja, ou da educao religiosa, ou da maneira crist de viver, quando o que os homens realmente precisam de Jesus. A Igreja no pode salvar ningum; o conhecimento da filosofia crist no cura; a doutrina sem amor ensoberbece somente Jesus Senhor, somente ele absolutamente essencial vida. Quando o encontramos, todas as outras coisas se encaixam nos devidos lugares. Um Corao de Servo Em vista disso, o papel do crente de servo. Ele est ali para descobrir as necessidades dos outros e fazer o que seu Mestre lhe ordenar, a fim de sanar essas necessidades. Portanto, ele servo, "por amor a Jesus". No servo dos homens, mas de Jesus, e, portanto serve aos homens. importante fazermos essa distino. Certa vez, um amigo meu disse: "Sempre pensei que eu tinha que ser escravo dos homens. E cometi o trgico erro de tornar-me servo das pessoas. Sentia-me obrigado a atender sempre, quando me pediam para fazer alguma coisa. Se uma pessoa dissesse: "Acho que voc deve fazer isso", eu diria: "Est bem; vou fazer." Logo em seguida, mais cinco pessoas diziam o que achavam que eu devia fazer. De repente, vi-me em srias dificuldades, pois no poderia fazer

tudo. Mas quando estudei a vida de Jesus, vi que ele era servo do Pai, e no dos homens. Ele se submetia s pessoas que o Pai determinava. Isso me libertou." Deus sempre honra a mensagem centrada no Senhorio de Jesus, e manifesta um corao de servo para aqueles que colocam em nosso caminho. O deus deste sculo astuto e sutil. Ele sabe conduzir os homens para as trevas sem que se deem conta do que est-se passando. Mas o Deus da ressurreio muito superior a ele e honrar a exposio franca da verdade com a luz do conhecimento da glria de Deus, no rosto de Jesus Cristo.

8 Vasos, Presses e Poder


O apstolo Paulo comparou o milagre da regenerao a uma luz que brota, repentinamente, das trevas noturnas. A luz no tem nenhum rudo; no pode ser tocada nem sentida, mas inconfundvel. No apenas podemos v-la, mas tambm por meio dela que podemos ver todas as coisas. " isso que significa vir a Cristo", diz Paulo, "isso nos ilumina pelo conhecimento da glria de Deus". Mas o cristianismo no apenas converso, mais que isso. Como j vimos, toda uma vida a ser vivida, uma vida plena neste presente sculo, sem fugas e sem derrotas. Ela encontra oposio interior por parte da carne, e exterior por parte do Diabo. Portanto, uma coisa certa ela no fcil. Mas, apesar disso, uma vida notvel, como Paulo ensina claramente ao descrev-la aps sua converso: "Temos, porm, este tesouro em vasos de barro, para que a excelncia do poder seja de Deus e no de ns." (2 Co 4.7.) Apenas Vasos Este verso apresenta dois fatores muito importantes: a descrio da matria bsica da humanidade e o propsito de Deus. Primeiramente, ele examina o material bsico com o qual Deus trabalha, e o descreve como sendo um vaso: "Temos, porm, este tesouro em vasos de barro." E este no o nico texto em que esta figura apresentada. Talvez nunca tenhamos pensado em ns mesmos como vasos, mas trata-se do conceito essencial e fundamental da ideia bblica a respeito do homem. Para que servem os vasos? Basicamente, so recipientes em que se coloca alguma coisa. Os vasos que usamos em casa (panelas, xcaras, tigelas) tm por finalidade conter alguma coisa, e quando no h nada neles, naturalmente, so vasos vazios. isso que esse verso significa. Ele nos lembra que temos por finalidade conter alguma coisa. Fomos criados para sermos vasos, capazes de conter alguma coisa. E o que deveramos conter? Essa a pergunta que tem intrigado o homem, fazendo com que se lance numa busca constante de sua prpria

identidade. E a espantosa resposta da Bblia que fomos criados para conter Deus! A glria de nossa condio humana que sua finalidade conter o Todo-Poderoso. Nossa humanidade tem como desgnio corresponder Divindade. "Eis o tabernculo de Deus com os homens... E lhes enxugar dos olhos toda lgrima." (Ap 21.3,4.) Essa a glria de nossa condio humana. correto dizer que uma vida sem Deus um "vaso vazio". exatamente isso que ela vazia daquilo que deveria conter. O Dr. Carl Jung afirmou que o mundo hoje est sofrendo da "neurose do vazio". O resultado disso que vemos homens e mulheres exibindo uma casca exterior de atividade e interesse, quando por dentro no h nada, a no ser um vazio ressonante. Alguns So Vasos Rachados Entretanto, interessante ver que este verso diz no apenas que somos vasos, mas que somos "vasos de barro" um material muito simples, que, em si mesmo, tem pouco valor. O homem, de si mesmo, no tem nada de que se possa orgulhar. Apesar de suas imensas possibilidades e de suas alegaes de grande sabedoria e inteligncia, ele deve encarar a humilhante verdade de que o responsvel direto pelos terrveis problemas que agora abalam a terra. A parte de Deus, ele nada mais que um insignificante vaso de barro e s vezes, um vaso rachado, ainda por cima. Naturalmente, existem vrias qualidades de barro. Alguns so como porcelana muito fina racham facilmente. Embora tenham uma consistncia muito fina, no passam de um tipo de barro. Outros j se assemelham mais a lama ressequida, que esmigalham ao primeiro toque. Outros, ainda, so duros e resistentes por natureza, e outros mais moldveis e maleveis. Mas so todos de barro. No fundo, somos todos pessoas comuns. Mas o crente no apenas um vaso vazio. Ele tem algo dentro de si, ou melhor, Algum. Temos um tesouro nesse vaso de barro. E no somente um tesouro, mas tambm um poder transcendental. Em si mesmo, o vaso no vale muito, mas ele contm um tesouro inestimvel, sem preo, e um poder transcendental, superior a qualquer outro conhecido pelo homem.

Tesouro Escondido Esta a segunda grande verdade que encontramos neste verso. Deus nos modelou de forma que at pessoas comuns como ns pudessem ser recipientes das riquezas mais notveis e do maior poder que se conhece. Entretanto, deve estar sempre claro para todos que o poder e o tesouro no vm de ns mesmos, mas de Deus. Ser que j ouvimos isto antes? "Nada vem de ns; tudo vem de Deus." O fato que ele determinou que as coisas fossem assim; sua inteno que este grande poder, sabedoria e amor se tornem bem evidentes em pessoas bem comuns, que, sem eles, no teriam importncia alguma.
"Deus escolheu as cousas loucas do mundo para envergonhar os sbios, e escolheu as cousas fracas do mundo para envergonhar as fortes, e Deus escolheu as cousas humildes do mundo e as desprezadas, e aquelas que no so, para reduzir a nada as que so; a fim de que ningum se vanglorie na presena de Deus." (1 Co 1.27-29.)

E o mais importante de tudo que o apstolo no est querendo apenas usar umas figuras bonitas. Ele est falando de realidades slidas, de algo genuno e prtico, e no de; algo meramente idealstico e visionrio. Existe realmente um tesouro inestimvel em cada crente; existe mesmo, um poder inenarrvel. Paulo explica isso em termos claros aos colossenses, quando descreve para eles o seu ministrio; "Aos quais (apstolos) Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glria deste mistrio entre os gentios, isto , Cristo em vs, a esperana da glria." (Cl 1.27.) A nica esperana que temos de realizar, na vida presente, a glria que Deus determinou para ns, aprender a utilizar esse tesouro interior e ser fortalecido pelo poder que se acha nossa disposio. Esse tesouro e poder so "Cristo.em vs". Ele to valioso, que o mundo pagaria qualquer preo para obt-lo. Como j mencionamos, ele o segredo da capacitao humana, enquanto, semanalmente, milhes de dlares so gastos num esforo vo para se descobrir esse tesouro e canaliz-lo para os negcios da vida. "Cristo em vs" o segredo que a humanidade perdeu. Mas quando uma pessoa descobre todas as implicaes desse segredo, sua vida enriquecida de uma forma difcil de se explicar. Foi isso que mobilizou Paulo, fazendo-o percorrer todo o mundo de seus dias, proclamando o que ele chamava de "as insondveis riquezas de Cristo". Quando vemos indivduos egostas, solitrios e vazios transformarem-se, lenta mas

firmemente, em pessoas felizes, ternas, cheias de calor humano, saudveis, compreendemos por que o apstolo descreve Cristo como "riquezas insondveis". Um Poder Diferente Este grande segredo interior um tesouro, primeiramente porque um poder transcendente. Transcendente significa acima do comum. uma forma de poder completamente diferente. Em nossos dias, muitas vezes, o poder usado para destruir, para explodir ou esmagar. Mas o poder transcendente une, rene, harmoniza. Ele quebra paredes divisrias e derruba barreiras. No faz adaptaes externas, superficiais, mas opera a partir de dentro, produzindo transformaes permanentes. Conhece algum outro poder semelhante a este? totalmente mpar. Em nenhuma parte existe algo semelhante a ele. Muitas filosofias e ideologias procuram imitlo, e pode ser que por algum tempo consigam produzir uma imitao razovel, mas, no fim, todas elas mostram ser falsificaes baratas e imperfeitas. No passam quando so submetidas ao teste da realidade da vida. No fim, somente o "Cristo em vs" permanecer. Por um desgnio de Deus, ele confia este segredo a pessoas falhas, faltosas, fracas e pecaminosas, para que fique bem claro que esse poder no se origina em ns. Ele no resulta de uma personalidade forte, nem de uma mente arguta, bem treinada, nem de uma educao e escolaridade superiores. Nada disso! Ele brota unicamente da presena de Deus no corao do indivduo. Nossa condio de "barro" deve ficar bem explcita para os outros, assim como o poder est explcito, para que vejam que o segredo no est em ns, mas em Deus. por isso que precisamos ser pessoas abertas, no escondendo nossas fraquezas e fracassos, mas reconhecendo-os sinceramente quando ocorrerem. Caminhando em Direo aos Problemas Para mostrar como isso tudo bem prtico, o apstolo prossegue descrevendo a maneira como se aplica aos fatos corriqueiros da vida: "Em tudo somos atribulados, porm, no angustiados; perplexos, porm, no desanimados; perseguidos, porm no desamparados; abatidos, porm no destrudos." (2 Co 4.8,9.)

Aqui esto todos os problemas que o homem enfrenta e todos acham-se presentes na vida do crente. Sem dvida alguma, um dos maiores erros de concepo da vida crist sustentado por muitos, o pensamento de que ser crente significa que a vida, de repente, passa a correr tranquila. Pontes misteriosas vo surgir para atravessarmos os abismos; os ventos do destino sero contrabalanados, e todas as dificuldades desaparecero. No. Ser crente no tornar-se scio de um clube, com direito a um tratamento de tapete vermelho. Todos os problemas e presses da vida continuam, e, s vezes, at se intensificam. O crente tem que enfrentar a vida em toda a sua crueza, da mesma forma que o no-crente. O objetivo da vida crist no escapar aos perigos e dificuldades, mas demonstrar que essas coisas podem ser enfrentadas de outra maneira. preciso que haja problemas para que possa haver essa demonstrao. Examinemos os quatro tipos de problemas que Paulo descreve. Tribulaes. "Em tudo somos atribulados." So as irritaes normais da vida, que todo mundo enfrenta, os incidentes importunos e problemticos que nos afligem. A mquina de lavar estraga na segundafeira de manh; nosso dia de folga e est chovendo; o cachorro vomita bem no meio do assoalho da sala; a sogra surge inesperadamente para passar uma longa temporada; o trfego est pior que de costume; perdemos uma prova que tnhamos certeza de passar. Todas essas coisas so tribulaes normais. So os aborrecimentos normais da vida, que todos sofrem. E os crentes no se acham isentos deles. Perplexidades. At mesmo para os apstolos, houve momentos em que no souberam como agir. Por vezes, ficaram em dvida e tiveram dificuldade em tomar decises, assim como acontece a ns. Paulo afirmou que tentou ir para a Bitnia, mas o Esprito no lho permitiu. Tencionava pregar o evangelho na provncia da sia, mas foi impedido pelo Esprito Santo. (At 16.) At mesmo Jesus ficou indeciso, pois disse aos irmos que no iria Festa, e no entanto mais tarde mudou de ideia e foi (Jo 7). Sempre haver muitas ocasies para indecises em nossa vida, quando no saberemos o que fazer ou dizer. So perplexidades normais da vida. Perseguies. Ao crente so prometidas perseguies. At mesmo as pessoas do mundo podem sofrer perseguies, mas os crentes podem estar certos delas, pois seu Mestre tambm foi perseguido. Essa palavra compreende toda a gama de ofensas intencionais contra os; crentes, desde

um leve menosprezo, frieza no trato e palavras mentirosas e crticas, at esforos deliberados para impedi-los em tudo, ataques corporais e mesmo tortura e morte. O crente pode esperar qualquer uma dessas coisas, ou todas elas. Os apstolos foram perseguidos at a morte, e o Senhor tambm, e "o servo no maior que seu senhor". Catstrofes. "Abatidos." Essa palavra pode at gelar-nos o corao. Diz respeito a golpes rudes e esmagadores, que parecem vir-nos do nada cncer, acidentes fatais, ataques cardacos, tumultos, guerras, terremotos, insanidade. Os cristos nem sempre esto protegidos de tais coisas. So experincias terrveis, que provam a nossa f e nos deixam assustados e confusos. O Livro de J um exemplo claro de que tais catstrofes podem sobrevir a crentes, e que, apesar disso, o terno corao de Deus est por trs de tudo. Eis a Diferena Vejamos agora como Paulo descreve a reao para com essas coisas: "Atribulados, porm no angustiados; perplexos, porm no desanimados; perseguidos, porm no desamparados; abatidos, porm no destrudos." Temos aquele poder interior, um poder transcendente, diferente de qualquer outro e que resiste com uma fora superior a qualquer presso externa, e assim no ficamos angustiados, nem desanimados, nem desamparados, nem destrudos. E esse poder foi-nos concedido justamente com o objetivo de solucionar o problema das aflies, que so nosso fardo nessa terra. Elas nos sobrevm a fim de que possamos demonstrar uma reao diferente da que revelada por uma pessoa do mundo. Nossos vizinhos, observando nossas reaes, no conseguem entender o que se passa conosco, e justamente quando os deixamos perplexos, que temos mais probabilidades de mostrar-Ihes as vantagens de nossa f. Existe em ns algo que s poder ser explicado como uma operao divina. Deve ficar claro, ento, que o poder pertence a Deus, e no a ns. Mas se indagarmos se esta realmente a reao dos crentes diante das provaes da vida, temos que pender a cabea envergonhados. Quantas vezes reagimos exatamente como os incrdulos, e talvez at pior que eles. Perdemos a cabea s menores irritaes; ficamos de cara amarrada ou enraivecidos quando no nos do o melhor lugar; ressentimo-nos contra as perplexidades, e nos tornamos amargos e irritados com as catstrofes que

nos sobrevm. Com tudo isto, estamos revelando que somos crentes incrdulos. Como j vimos, o problema que ignoramos esse meio de livramento, ou preferimos no lanar mo dele, porque desejamos tanto o prazer do pecado como a libertao que vem deste poder interior. Contudo, isso no possvel. Ningum pode servir a dois senhores. Passar de Uma Para Outra Mais uma vez o apstolo nos fornece a chave. Num texto de infinita luz e beleza, ele revela o processo pelo qual passamos da velha aliana, com sua morte inerente, para a nova, com seu poder e vida. Esse processo exige uma ordem invarivel:
"Levando sempre no corpo o morrer de Jesus para que tambm a sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque ns, que vivemos, somos entregues morte por causa de Jesus, para que tambm a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal." (2 Co 4.10,11.)

A vida de Jesus manifestada em nosso corpo mortal, no presente, nesse tempo, o que precisamos e queremos. H dois fatores que podem produzi-la. O primeiro uma atitude interior, na qual temos que consentir (v. 10). O segundo uma circunstncia externa, na qual somos colocados (v. 11). Mas o resultado de ambos o mesmo: "a vida de Jesus manifesta em nossa carne mortal". No em nossa carne imortal, no futuro, no cu, mas agora, quando mais precisamos dela, quando nos achamos sob a mira do revlver, enfrentado tribulaes, perplexidades, perseguies e as catstrofes da vida. Qual o segredo? Primeiro, "levando sempre no corpo o morrer de Jesus". Esta a atitude interior qual temos de assentir. O segredo para experimentarmos a vida de Jesus uma disposio de aceitar as implicaes de sua morte. Enquanto no estivermos prontos a aceitar, em termos prticos, os resultados do morrer de Jesus, no descobriremos a glria do tesouro e do poder que h em ns. A Operao da Cruz A morte de Jesus teve como instrumento a cruz; e a cruz tinha um s objetivo. Seu propsito era dar um fim ao homem mpio. As pessoas que eram crucificadas, depois disso, no tinham mais vida neste mundo. Pode parecer estranho aplicarmos o termo "homem mpio" a Jesus, mas

lembremos que um pouco mais adiante, nessa mesma carta, o apstolo diz: "...ele (Deus) o (Jesus) fez pecado por ns". Ele realmente se tornou pecado. Ele se tornou aquilo que somos. E quando ele se tornou aquilo que somos (homens mpios), no havia nada que Deus pudesse fazer, seno lev-lo morte. o que Deus faz com homens mpios. Ele os leva morte. Assim, na cruz de Cristo, Deus colocou tudo que somos em Ado, toda a nossa vida natural com seus sonhos, esperanas, recursos humanos, e deu um fim drstico a tudo, pelo morrer de Jesus. A cruz de Jesus leva morte o orgulhoso ego que existe em ns. Ela anula, por consider-la totalmente sem valor, essa nossa faculdade interior que quer tocar uma trombeta sempre que fazemos algo que achamos bom, ou que, sempre que h uma oportunidade de exibio, faz-nos entrar na fila. Sentencia morte esse desejo interior de que ningum seja mais culto, ou popular ou habilidoso ou mais bonito que eu. aquele elemento em meu interior que est sempre lutando para ocupar o centro da vida, o tempo todo, e se manifesta em autopiedade, auto-indulgncia, auto-iseno e autoafirmao. No Cabe a Ns Temos que compreender claramente que no cabe a ns levar morte essa vida natural isso j foi feito. O que me cabe agora concordar com a justeza dessa sentena, e parar de tentar reviv-la diante de Deus. Quando o Senhor prometeu um filho a Abrao, este clamou: "Oxal viva Ismael diante de ti." (Gn 17.18.) Mas Deus recusou, pois Isaque era o filho da promessa, e no Ismael. Abrao teve que aprender que, embora a Ismael fosse permitido viver, Deus no iria cumprir nenhuma das suas promessas de bno por intermdio dele. Somente por meio de Isaque viria bno. Portanto, quando paramos de nos justificar e de desculpar as atividades da carne, e concordamos com Deus em que ela se acha, com toda a justia, sob sentena de morte, tornamos realidade a figura indicada pelo verso "levando sempre no corpo o morrer de Jesus". Se recebermos a cruz, reconhecendo que ela j levou morte a carne que h em nosso interior, e que, portanto, ela j no tem poder sobre ns, ento somos capacitados para dizer no ao seu mpeto de manifestar-se. Em vez disso, podemos voltar-nos para Jesus, tendo plena certeza de que, dispondo-nos a

fazer o que ele manda nessas circunstncias (amar nosso inimigo, fugir s paixes da mocidade, esperar pacientemente no Senhor, etc), ele estar operando em ns a fim de capacitar-nos a obedecer. Assim "a vida de Jesus" se manifestar em nossa carne mortal. esta necessidade de aceitar as implicaes da cruz em termos prticos, que Jesus tem em mente quando diz: "Se algum quer vir aps mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me." (Mc 8.34.) Paulo est afirmando exatamente a mesma coisa aqui. A chave para se alcanar a nova vida a certeza de que, pela cruz, a antiga vida perdeu todo o valor. Essa ordem nunca varia; vemos a mesma coisa em toda a Bblia. Primeiro a morte; depois a vida. A morte deve levar ressurreio. "Se j morremos com Cristo, cremos que tambm com ele viveremos." Quando aceitamos a morte, a vida de Jesus pode fluir de nosso ser, sem empecilhos. Isso o que se passa, e no o inverso. No podemos querer a vida ressurreta primeiro, e depois, por meio desta, levar a carne morte. Primeiro, temos que inclinarnos diante da cruz; depois, Deus efetuar a ressurreio. Algo Acontece a Ns O segundo fator que produz a vida de Jesus em ns : "Porque ns, que vivemos, somos sempre entregues morte por causa de Jesus." Esse fator pode parecer muito semelhante ao primeiro, mas existe uma diferena muito importante. O primeiro consistia numa atitude interna, qual tnhamos de assentir. expresso na voz ativa (levando sempre no corpo o morrer de Jesus). O segundo anunciado na voz passiva, isto , trata-se de algo que feito a ns, e no de algo que fazemos. Nessa segunda questo, no existe escolha de nossa parte. Somos entregues morte. Isso uma referncia s circunstncias de provao e aflio que Deus coloca em nosso caminho, para que sejamos obrigados a abandonar nossa confiana na carne e nos firmarmos totalmente no Esprito de Cristo. O mais alentador de tudo saber que impossvel que um verdadeiro crente em Jesus no ande no Esprito, pelo menos uma parte do tempo. Deus toma providncias para que o crente verdadeiro experimente circunstncias que o forcem a isso. Um exemplo disso o episdio de Pedro andando sobre as guas. Logo que ele saiu do barco e andou sobre a gua para ir ao encontro de Jesus, foi por escolha sua, embora o poder para andar tenha vindo do Senhor. Entretanto, quando seu olhar se desviou e comeou a afundar, viveu um momento de desespero. Tinha que olhar para Cristo, ou pereceria.

Quando, aterrorizado, clamou: "Salva-me, Senhor", Jesus ergueu-o, e caminharam juntos para a embarcao. Assim, Deus est sempre nos colocando em guas profundas, e somos obrigados a abandonar a confiana nos recursos humanos, e clamar: "Salva-me, Senhor!" a isso que Paulo denomina sermos "entregues morte por causa de Jesus". O Testemunho de um Veterano A experincia de Paulo tambm nos oferece uma perfeita ilustrao disso. E ele a relata no primeiro captulo de 2 Corntios. Diz ele:
"Porque no queremos, irmos, que ignoreis a natureza da tribulao que nos sobreveio na sia, porquanto foi acima das nossas foras, a ponto de desesperarmos at da prpria vida. Contudo, j em ns mesmos tivemos a sentena de morte." (2 Co 1.8,9a.)

No sabemos qual foi esta experincia a que Paulo se refere. Talvez seja o tumulto que houve em feso, descrito em Atos 19. De qualquer modo, foi um fato to terrvel e perigoso, que Paulo desesperou at da prpria vida. Sentiu como se tivesse recebido a sentena de morte. Ele estava, literalmente, "sendo entregue morte por causa de Jesus". Observemos, porm, o que ele diz a seguir: "Para que no confiemos em ns, e, sim, no Deus que ressuscita os mortos." (2 Co 1.9.) Deus deixou que ele passasse por essa provao para que deixasse de confiar em seus prprios recursos. E isto aconteceu a um apstolo que conhecia e entendia perfeitamente a operao da nova aliana. At ele precisava de uma experincia penosa, vez por outra, que o impedisse de sucumbir s sutilezas da carne, e o capacitasse a confiar no Deus que ressuscita os mortos, o Deus do poder da ressurreio. por isso que surgem problemas e presses em nossa vida. O Deus que nos ama est-nos entregando morte, a fim de que possamos confiar, no em circunstncias felizes, nem em situaes agradveis, mas no Senhor da vida, que vive em ns. A Bblia nos ensina a atitude que precisamos ter para que a vida de Jesus nos seja outorgada. Pelas circunstncias, somos forados a experimentar isso a fim de que o tesouro que h em ns possa enriquecer-nos, e o poder interior revele ao mundo, que nos observa, uma maneira de viver inteiramente nova.

Caminhando Pela Vida Este processo, em duas etapas, repetido vrias e vrias vezes, o que a Bblia chama de "andar no Esprito". Temos que crer na morte da cruz e depois apropriar-nos do poder da ressurreio. A maneira mais simples de explicar isso : arrepender e crer. Arrepender mudar de ideia acerca do valor da antiga vida; crer apropriar-se do valor da nova. Em Romanos 6, Paulo diz o seguinte: "...considerai-vos mortos para o pecado..." (primeira etapa) "...mas vivos para Deus em Cristo Jesus" (segunda etapa). Em Efsios, ele diz: "despojeis do velho homem" (primeira etapa) e "vos revistais do novo homem" (segunda etapa). Essas duas expresses no so assim to diferentes; so a mesma coisa, apenas explicadas com ilustraes diversas, para que todos possam compreend-las. O caminhar consiste em dois passos, um com uma perna e outro com a outra, e estes passos so repetidos indefinidamente. Assim tambm, conseguimos andar no Esprito quando enfrentamos todas as circunstncias da vida, tomando a cruz, a fim de experimentarmos a ressurreio. Isso pode ocorrer dezenas de vezes por dia. Membros uns dos Outros Tudo isso tem um efeito que no afeta apenas a vida do indivduo, mas atinge a outros. O apstolo diz o seguinte aos corntios:
"De modo que em ns opera a morte; mas em vs, a vida. Tendo, porm, o mesmo esprito da f, como est escrito: Eu cri, por isso que falei, tambm ns cremos, por isso tambm falamos, sabendo que aquele que ressuscitou ao Senhor Jesus, tambm nos ressuscitar com Jesus, e nos apresentar convosco. Porque todas as cousas existem por amor de vs, para que a graa, multiplicando-se, torne abundantes as aes de graa por meio de muitos, para glria de Deus." (2 Co 4.12-15.)

Este texto um reconhecimento de que os gloriosos efeitos da vida de Jesus nem sempre so vistos plenamente na vida de um nico crente. H casos em que um sente a morte, e outro a vida que dela resulta. Paulo cr que isso que se d com ele. "Em ns opera a morte; mas em vs a vida." Os corntios estavam recebendo os benefcios da morte qual ele estava sendo entregue. Mas ele se satisfazia com isso, j que estava disposto a sacrifcar-se pela f deles, a fim de que pudessem compreender e crescer na graa de Deus. E ele cita um verso do Salmo 116.10, em que o salmista afirma que fora muito atribulado, sem saber bem por que, mas, apesar

disso, ele crera em Deus, e cantara a vitria antes mesmo que esta se concretizasse: "Pois livraste da morte a minha alma, das lgrimas os meus olhos, da queda os meus ps." Do mesmo modo, Paulo tambm acha-se confiante de que Deus o fortalecer juntamente com os corntios, e os unir na plenitude de sua glria. A sentena final da passagem acima uma maravilhosa declarao acerca da unidade dos crentes como membros uns dos outros. O que afeta a um, afeta a todos. Mas, embora haja sofrimento, morte, lgrimas, tudo coopera juntamente para o bem. E medida em que a nova aliana for sendo mais e mais entendida pelos crentes, provocar uma grande exploso de louvores e aes de graa glria de Deus. Que mais se pode fazer, seno louvar um Deus que pode da tristeza tirar alegria, da morte tirar a vida e do cativeiro a liberdade? Essa a nova forma de viver que a Igreja tem a responsabilidade de revelar ao mundo que a observa. Mas isso ainda no tudo. Essa experincia atual apenas serve para abrir o caminho para algo que vai mais alm, e que to extraordinrio, to glorioso, que o apstolo se acha sem palavras para descrev-lo. Passaremos a examin-lo no prximo captulo.

9 Tempo e Eternidade
E ainda h mais! Tudo nas Escrituras aponta para esse fato, e dentro de ns tudo clama por ele. A operao de Deus em ns no completada nesta vida. J vimos que o cristianismo autntico no apenas uma "coroa no cu, no futuro"; mais que isso. Realmente, ele , de forma magnfica, apropriado para nossa vida aqui na terra, no presente, com todas as dificuldades e problemas, com suas alegrias e tristezas. Mas ainda h mais. O apstolo Paulo encontra nele outro motivo para confiana e encorajamento:
"Por isso no desanimamos: pelo contrrio, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo o nosso homem interior se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentnea tribulao produz para ns eterno peso de glria, acima de toda comparao, no atentando ns nas cousas que se veem, mas nas que se no veem; porque as que se veem so temporais, e as que se no veem so eternas." (2 Co 4.16-18.)

Ele afirma claramente que o que estamos passando agora tem a finalidade de preparar-nos para algo que ainda est para acontecer algo to glorioso e to diferente de tudo que conhecemos, que est "acima de toda comparao". O que Paulo est dizendo o seguinte, nas palavras de Robert Browning, do poema "Rabi Ben Ezra", escrito muitos sculos depois, mas com uma auten-ticidade que o prprio Browning ignorava:
Envelhea comigo! O melhor ainda est para vir, A ltima parte da vida, Em funo da qual existiu a primeira.

Essa a esperana crist. No se trata simplesmente de aguardar a vida ps-tmulo; mais que isso. Tudo que nos acontece nesta vida acha-se diretamente relacionado com o que est para vir na verdade, est-nos preparando para esse porvir. Portanto, nada do que se passa em nossa vida atual intil ou sem propsito. necessrio ao atingimento do alvo supremo.

Crescente Beleza Interior O apstolo apresenta trs aspectos de nossa existncia atual que indicam que algo de muito grandioso est para vir. Primeiramente, a renovao diria de nosso homem interior. "Mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo nosso homem interior se renova de dia em dia." O contraste marcante aqui apresentado entre os efeitos do envelhecimento sobre o corpo, que apontam uma diminuio de nossas foras e a aproximao da morte, com o aumento da sabedoria e o amadurecimento do amor, que caracterizam o esprito daquele que anda com Deus. Existe uma beleza na velhice santa, que a juventude desconhece. O esprito se alarga e torna-se mais sereno, embora o corpo enfraquea e sinta mais e mais dores. O que est acontecendo? O homem exterior est perdendo a batalha; a fora da juventude est diminuindo e comea a falhar; a noite vem chegando. Mas o homem interior est crescendo em direo luz, aumentando em fora e beleza; o dia est prximo. Essa renovao interior nada mais que outra forma de descrever a nova aliana em ao. "Tudo vem de Deus; nada de mim." A lei do pecado e da morte est destruindo o corpo; a lei do Esprito de vida em Cristo Jesus est renovando o esprito e tambm a alma, "de glria em glria". Quando algum v isto acontecendo consigo mesmo ou com outrem, fica convencido de que algo de muito maravilhoso est para vir. Provaes que Mal Valem a Pena Mencionar Alm disso, o apstolo declara firmemente que so nossas provaes e dificuldades que produzem a glria que h de vir. "Porque a nossa leve e momentnea tribulao produz para ns eterno peso de glria, acima de toda comparao." Certamente, o apstolo deve mencionar isto com um brilho especial nos olhos, "nossa leve e momentnea tribulao", em vista do que ele descreveu algum tempo depois:
"Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de aoites menos um; fui trs vezes fustigado com varas, uma vez apedrejado, em naufrgio, trs vezes, uma noite e um dia passei na voragem do mar; em jornadas muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrcios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmos; em trabalhos e fadigas, em viglias muitas vezes; em fome e sede, em jejuns muitas vezes; em frio e nudez." (2 Co 11.24-27.)

a isso que Paulo chama de "leve e momentnea tribulao". Mas ele no estava-se queixando. Ele no deu importncia a essas coisas, simplesmente porque estava conscientizado de algo que muitas vezes esquecemos. Ele sabia que essas penosas tribulaes, na verdade, estavam preparando o "eterno peso de glria" que devia vir depois. Notemos que ele no diz que essas provaes o estavam preparando para a glria. Embora isso fosse verdade, no o que ele diz aqui. As provaes estavam produzindo a glria! Talvez isso sirva para esclarecer uma estranha declarao de Jesus aos discpulos, no cenculo. Ao anunciar que estava de partida, ele acrescentou: "Vou preparar-vos lugar." (Jo 14.2.) Essa afirmao parece dar a entender que o cu ainda no estava pronto, e precisava de alguns acertos finais, antes que os convidados chegassem. Mas, se associarmos isso com outras explicaes que Jesus lhes deu: "...se, porm, eu for, eu volo (Esprito Santo) enviarei" Jo 16.7, temos uma forte indicao de que seu modo de preparar um lugar para eles era enviar-lhes o Esprito Santo. Quando o Esprito viesse, iria conceder-lhes poder para enfrentarem todas as dificuldades e sofrimentos da vida ("atribulados, porm no angustiados... abatidos, porm no destrudos"), e, pelo mistrio da redeno, transformaria todas as provaes em uma glria correspondente. Dessa forma, as provaes estariam preparando a glria; as dificuldades estavam preparando "um lugar" para eles. E Jesus faria isto por intermdio do Esprito. Cadeias Valiosas Existe uma histria comovente acerca da perseguio aos cristos dos sculos III e IV. Um idoso crente passara muitos anos em uma masmorra escura e sombria, preso por pesada bola e corrente de ferro. Quando o Imperador Constantino subiu ao trono, milhares de cristos foram soltos, e entre eles achava-se este velhinho. Desejando compens-lo pelos anos de infortnio que vivera, o imperador ordenou que a bola e a corrente fossem pesadas numa balana e que se desse ao velho o equivalente do peso em ouro. Desse modo, quanto maior fosse o peso da corrente, maior seria a recompensa, quando ele fosse solto. Mas a realidade de que Paulo fala aqui muito maior que essa. Ele afirma que o peso da glria est acima de toda comparao. Literalmente, essa expresso grega significa "abundncia e mais abundncia". uma abundncia tal, que

constitui um grande peso. Falamos do peso das responsabilidades, nem sempre como um fardo, mas s vezes como um desafio. Eis aqui, ento, o grande desafio de um peso de glria, oferecendo indescritvel oportunidade queles para quem ele est reservado. Parece estar claro, portanto, que algo de muito grandioso nos aguarda no futuro. E no somente a renovao de nosso homem interior uma indicao disso, e a nossa presente aflio uma preparao para isso, mas a prpria natureza da f uma garantia disso. "No atentando ns nas cousas que se veem, mas nas que se no veem; porque as que se veem so temporais, e as que se no veem so eternas." (2 Co 4.18.) A argumentao de Paulo aqui muito simples. As coisas visveis desta vida so apenas manifestaes passageiras de realidades eternas, que no podem ser vistas. Se a forma passageira pode existir, ento a realidade que h por trs dela existe tambm. A realidade importante no a que se apresenta em forma transitria, mas a eterna. Consequentemente, o importante na vida no nos ajustarmos forma transitria, mas nos ligarmos sempre verdade eterna. Esse o argumento de Hebreus 11: "Pela f Abrao... aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus o arquiteto e edificador..." "Pela f Moiss... abandonou o Egito, nem ficou amedrontado pela clera do rei; antes permaneceu firme como quem v aquele que invisvel." O Melhor Ainda Est Para Vir Bem, e o que est para vir? Como se fosse um bom cozinheiro, Paulo est aguando nosso apetite, estimulando nossos anseios, com referncias veladas a uma admirvel experincia que ainda est para vir. Mas agora ele comeara a fazer especificaes. No captulo 5, ele descreve o peso de glria em termos mais explcitos:
"Sabemos, que, se a nossa casa terrestre deste tabernculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifcio, casa no feita por mos, eterna, nos cus. E, por isso, neste tabernculo gememos, aspirando por ser revestidos da nossa habitao celestial; bem que somos encontrados vestidos e no nus. Pois, na verdade, os que estamos neste tabernculo gememos angustiados, no por querermos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida." (2 Co 5.14.)

"Da parte de Deus um edifcio... casa no feita por mos"; "...nossa habitao celestial". A que se referem estas expresses? Ele faz um contraste claro com "este tabernculo", obviamente, o corpo atual, de carne

e ossos. Mas antes de examinarmos mais atentamente essas frases, notemos como Paulo preciso e definido. Vejamos como ele inicia: "Sabemos..." No h nada de incerteza em suas palavras. Hoje em dia, como tambm no passado, h muitas pessoas tentando descobrir o que vem depois da morte. Alguns creem que o esprito do homem parte, para voltar depois reencarnado em outra vida, em outro ser humano. As provas com que defendem essa ideia, geralmente, so o testemunho de certos indivduos (muitas vezes, dados por intermdio de um mdium ou de uma pessoa em estado hipntico), que aparentemente recordam-se de episdios de sua existncia anterior. Mas devemos lembrar que a Bblia est constantemente nos alertando para a existncia de "espritos enganadores" ou demnios, que no tm o mnimo escrpulo em se fazerem passar por espritos de mortos. Tais espritos se deleitam em enganar os seres humanos. Outros ensinam que o conhecimento do futuro est fora de nosso alcance, e que a maneira certa de encarar a vida considerar tudo como tentativa, e que no podemos tomar nada como certo. Mas Jesus e os apstolos nunca falaram assim. Cristo afirmou que ele veio para revelar-nos a verdade, para que pudssemos conhec-la. Vrias vezes, o apstolo Joo afirma a mesma coisa quando diz: "Essas cousas foram escritas para que saibais." E aqui Paulo diz: Sabemos certas coisas acerca da vida aps a morte. Coisas que Realmente Sabemos Bem, e o que sabemos? Primeiramente, diz o apstolo, sabemos que vivemos num tabernculo terrestre. Duas vezes ele se refere ao corpo como tabernculo. Certa vez, visitei uma famlia que estava morando provisoriamente numa barraca, no quintal, enquanto a nova casa era construda. No era uma situao muito confortvel, mas estavam dispostos a aguentar um pouco, at que pudessem mudar-se para sua verdadeira casa. o que acontece com o crente, segundo Paulo. Ele est vivendo provisoriamente em tendas. A seguir, ele diz que, neste tabernculo, gememos e suspiramos. Voc j prestou ateno ao que faz de manh, quando se levanta? Voc geme? Est bem claro que o apstolo tem toda a razo, no est? H os gemidos da vivncia diria. Talvez, a barraca esteja comeando a perder a firmeza. As estacas esto frouxas e as cavilhas meio bambas. H tambm

os suspiros de ansiedade. "Gememos angustiados", diz o apstolo, "no por querermos ser despidos, mas revestidos". Ningum deseja ser desencorporado (despido), mas, apesar disso, algumas vezes, ansiamos por algo melhor do que o que este corpo pode oferecer-nos. Sentimos suas limitaes. J aconteceu de voc, ao ser convidado para fazer alguma coisa, responder assim: "Eu gostaria muito; o esprito est pronto, mas a carne fraca"? o gemido de angstia, com que expressamos o desejo de sermos revestidos. A Casa Celestial Em contraste com essa barraca temporria em que vivemos, o apstolo descreve a habitao permanente que nos aguarda, quando morrermos. "da parte de Deus um edifcio, casa no feita por mos, eterna, nos cus". Isso o indescritvel "peso de glria" que est sendo preparado para ns, pelas dificuldades e provaes por que passamos. Se o presente tabernculo nosso corpo terreno, certamente esta habitao permanente o corpo ressurreto, descrito em 1 Corntios:
"Pois assim tambm a ressurreio dos mortos. Semeia-se o corpo na corrupo, ressuscita na incorrupo. Semeia-se em desonra, ressuscita em glria. Semeia-se em fraqueza, ressuscita em poder. Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual. Se h corpo natural, h tambm corpo espiritual." (1 Co 15.42-44.)

Se o apstolo pode descrever nosso corpo fsico como um tabernculo, ento bem adequado descrever o corpo ressurreto como uma casa. Uma barraca temporria; uma casa permanente. Quando morrermos, mudaremos do que temporrio para o que permanente; da barraca para a casa, eterna nos cus. E o corpo ressurreto tambm descrito do seguinte modo:
"Porque necessrio que este corpo corruptvel se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E quando este corpo corruptvel se revestir de incorruptibilidade, e o que mortal se revestir de imortalidade, ento se cumprir a palavra que est escrita: Tragada foi a morte pela vitria." (1 Co 15.53,54.)

Quando comparamos este texto com o que estamos considerando em 2 Corntios 5, vemos que a palavra "revestido" ("aspirando por ser revestidos") empregada nos dois textos. O termo grego o mesmo para os dois. Esse nosso corpo atual, perecvel, ter que ser revestido de uma vida

imperecvel, e nossa natureza mortal ter que ser revestida de imortalidade. Nessa ocasio, ento, diz Paulo, ser tragada "a morte pela vitria". Comparemos esta afirmao com a de 2 Corntios 5: "Para que o mortal seja absorvido pela vida." Est claro que as duas passagens so paralelas, e a "casa no feita por mos" o mesmo corpo ressurreto de 1 Corntios 15. Existe Uma Barraca Temporria? Mas, para algumas pessoas, isso apresenta um problema. Dizem eles: "Bem, o 'edifcio da parte de Deus' o corpo ressurreto, em que o crente ir viver, enquanto aguarda a ressurreio? A ressurreio s ocorrer por ocasio da segunda vinda de Cristo. O que acontece aos santos que j morreram nestes sculos todos? Seu corpo foi colocado no tmulo e s ressuscitar na poca da ressurreio! Em que vivem eles nesse intervalo?" J se ofereceram trs solues para este problema. Uma que os santos que j morreram no tero corpos antes da ressurreio. Eles se acham com o Senhor, como espritos desencarnados, incompletos, at que recebam o corpo, por ocasio da ressurreio. Mas esta tese est ignorando as palavras de Paulo: "Aspirando por ser revestidos da nossa habitao celestial; bem que somos encontrados vestidos e no nus." E tambm: "Gememos angustiados, no por querermos ser despidos, mas revestidos." Alm disso, tanto a linguagem de 1 Corntios 15 como a de 2 Corntios 5 parece indicar que haver um revestimento imediato com corpo ressurreto. No existe nenhuma indicao de um perodo de espera. Uma segunda resposta que se d a essa pergunta a do sono das almas. Essa teoria ensina que, quando um crente morre, sua alma permanece no corpo, em estado dormente. Quando o corpo for ressuscitado, a alma despertar. Como esteve dormindo, ela no tem conhecimento do espao de tempo decorrido e nem de que esteve dormindo. Este conceito solucionaria a questo do corpo para a alma, mas est em direta contradio com textos das Escrituras, tais como as palavras de Jesus para o ladro da cruz: "Hoje estars comigo no paraso", e a declarao de Paulo: "Preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor." (2 Co 5.8.) H um terceiro grupo que prope uma soluo para o problema, dizendo que a "casa no feita por mos, eterna, nos cus" no o corpo ressurreto, mas um corpo intermedirio, que Deus dar aos crentes para

nele viverem at poca da ressurreio. Presume-se que nesse momento o corpo intermedirio desaparea, e somente o corpo ressurreto continue a existir. Mas difcil harmonizar isso com a expresso "eterna, nos cus". Esta concepo destri o paralelismo entre os textos de 2 Corntios 5 e 1 Corntios 15. E como as Escrituras no do nenhum indcio da possibilidade de haver um corpo intermedirio, esta teoria no tem muita base. O Problema Desaparece O problema que essas estranhas teses tentam resolver, na verdade, no existe. Ele s existe quando tentamos projetar nossos conceitos de tempo na eternidade. Estamos constantemente pensando no cu como uma continuao da vida na terra, em escala maior e mais perfeita. Encerrados como estamos nesse mundo de tempo e espao, temos muita dificuldade em compreender um tipo de vida que no seja nestes termos. Mas temos que lembrar que o tempo o tempo, e a eternidade a eternidade, e as duas linhas nunca se cruzam. Temos a mesma dificuldade quando deparamos com o conceito matemtico de infinito. Algumas pessoas imaginam que o infinito um nmero muito grande, mas no . A diferena que, se de um nmero muito grande subtrairmos 1, teremos como resultado um nmero ainda grande menos 1. Mas se subtrairmos 1 do infinito, o resultado ainda infinito. O Dr. Arthur Custance, um cientista canadense que tambm estudioso da Bblia, e que j escreveu uma srie de estudos bblico-cientficos intitulada Doorway Papers, observou algo de muito interessante concernente a este assunto:
"O que realmente importa que o tempo, em relao eternidade, de certo modo, como um grande nmero em relao ao infinito. Num certo sentido, podemos dizer que o infinito contm um nmero, e, no entanto, fundamentalmente, ele diferente e independente dele. Por analogia, a eternidade contm o tempo, mas, fundamentalmente, outra coisa. Se reduzirmos o tempo, para que fique cada vez menor, no chegaremos eternidade. Nem tampouco a alcanaremos se estendermos o tempo ao mximo. No existe uma ligao direta entre o tempo e a eternidade. So duas categorias diferentes de experincia."

O que devemos lembrar ao encararmos a questo da vida aps a morte, que, quando o tempo terminar, comear a eternidade. As duas

coisas no so a mesma, e no podemos confundi-las. O tempo significa que estamos encerrados dentro de um padro de sequncia cronolgica que no podemos romper. Por exemplo, todas as pessoas que estiverem dentro de um cmodo no momento em que ocorrer um terremoto passam por essa experincia juntas. Embora as sensaes e reaes sejam diferentes, todos sentiro o terremoto ao mesmo tempo. Mas os eventos da eternidade no seguem um padro de sequncia. No h passado nem futuro, somente o presente AGORA. E dentro deste AGORA ocorrem todos os eventos. Uma pessoa poder experimentar um tipo de sequncia, mas somente em relao a si mesma, e os eventos lhe sobreviro de acordo com sua preparao espiritual. Portanto, dois indivduos que estiverem juntos no tero, necessariamente, de passar pela mesma experincia. Quando o Tempo Termina Isso tudo pode parecer muito confuso, e, na verdade, d margem a muita especulao. Mas voltemos s Escrituras e ao problema do que acontece com o crente quando morre. Atendo-nos firmemente ao ponto bsico de que tempo e eternidade so duas coisas distintas, quando um crente sai do tempo, penetra na eternidade. O que talvez fosse um remoto evento no tempo, repentinamente j presente na eternidade, se a pessoa se acha espiritualmente preparada para ele. E como o grande evento para o qual o Esprito de Deus est preparando os crentes aqui na terra a vinda de Jesus Cristo para os seus, esse o evento com que se depara cada crente ao morrer. Podem-se passar muitos anos ou at sculos para que este evento se manifeste no tempo, mas esse crente no se acha mais circunscrito ao tempo. Ele est na eternidade. Ele v "o Senhor entre suas santas mirades", como viu Enoque, quando lhe foi concedida uma viso da eternidade, numa poca em que ele era o stimo depois de Ado, e a populao da terra era bem reduzida. (Jd 14.) Quando as Eras se Encontram Mas o mais impressionante que, ao ter essa experincia, ele no est sozinho. Todos os seus entes queridos ali esto tambm, inclusive seus descendentes crentes que ainda no haviam nascido quando ele morreu. Como no cu no h passado nem futuro, assim que deve ser. At mesmo aqueles que se acham no tempo, chorando ao lado de seu tmulo e depois voltam para casa, agora sem ele, na verdade, na experincia dele,

encontram-se com ele na glria. E o Dr. Custance amplia ainda mais essa ideia: "A experincia de cada crente partilhada por todos os outros crentes, por aqueles que o precederam e por aqueles que o seguiro. Para todos, a histria, o intervalo de tempo entre sua morte e a vinda do Senhor subitamente eliminado. E cada um descobre, para surpresa sua, que tambm Ado acabou de morrer e se juntou a ele nessa jornada ao encontro do Senhor; e tambm Abrao, Davi, Isaas, o Amado apstolo Joo, Paulo, Agostinho, Hudson Taylor, eu e voc todos vivendo uma maravilhosa experincia do encontro com o Senhor, no mesmo instante, sem precedncia e sem a menor conscincia de tempo decorrido; ningum chegou antes e ningum depois." Foi devido a este assombroso aspecto da eternidade que Jesus pde dizer a seus discpulos com absoluta firmeza: "E quando eu for, e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que onde eu estou estejais vs tambm." (Jo 14.3.) Essa promessa no era apenas para os crentes daquela poca, mas para todos, e aplica-se a todos de forma direta e pessoal. Isso explica tambm a estranha promessa final de Hebreus 11. O escritor dessa carta diz o seguinte, referindo-se a Abrao, Moiss, Davi, Jac, Jos e outros: "Ora, todos estes obtiveram bom testemunho por sua f, no obtiveram, contudo, a concretizao da promessa, por haver Deus provido cousa superior a nosso respeito, para que eles, sem ns, no fossem aperfeioados." (Hb 11.39,40.) Ser "aperfeioado" ressuscitar, portanto, esta passagem ensina que os santos do passado no ressuscitaro sem ns. Ou eles so espritos sem corpos, aguardando a ressurreio (o que, como j vimos, no muito provvel), ou ento existe algum meio pelo qual samos do tempo um a um, e no entanto participamos todos de uma s gloriosa experincia de ressurreio. A chave est na compreenso correta do que eternidade. A Eternidade Invade o Tempo Existem outros textos das Escrituras que apresentam este mesmo fenmeno da aparente eliminao do tempo. Em Apocalipse 13.8, por exemplo, Jesus identificado como "o Cordeiro que foi morto, desde a fundao do mundo". Ora, a cruz teve lugar em um determinado momento da Histria. Sabemos quando o Cordeiro de Deus foi morto. Mas a Bblia afirma que isso ocorreu desde a fundao do mundo. Como um evento histrico, ocorrido num certo local da terra, pode ter acontecido, segundo a

considerao bblica, antes mesmo de a terra ter sido criada? A passagem no diz que foi predeterminado antes da fundao do mundo, que o Cordeiro seria imolado, mas afirma que ele foi imolado nessa ocasio. Isto significa que a cruz foi um evento eterno, que ocorreu tanto no tempo como na eternidade. No tempo, j ocorreu h muitos anos; na eternidade, ocorre para sempre. Assim tambm a ressurreio, e, da mesma forma, a segunda vinda de Cristo. Quando um crente morre, passa da esfera do tempo e do espao, para a da ausncia de tempo, entra no AGORA de Deus, quando experimenta todo o impacto desses eventos eternos, sendo que o grau de intensidade com que os experimenta depende de sua condio espiritual. Mas a volta de Cristo um evento que ainda dever ocorrer no tempo histrico, quando a Igreja estiver completa, e chegar o fim dos sculos. Talvez seja este o sentido das seguintes palavras do Senhor: "Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e j chegou, em que os mortos ouviro a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem, vivero." (Jo 5.25.) Para alguns, o texto de Apocalipse 6.9-11, em que Joo v as almas daqueles que foram mortos por causa da Palavra de Deus, e se acham sob um altar nos cus, constitui um problema para essa nova interpretao. Essas almas esto clamando: "At quando, Soberano Senhor, santo e verdadeiro, no julgas nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?" A resposta que elas recebem de que esperem mais um pouco at que se complete o nmero dos mrtires. Isso parece indicar a existncia de tempo nos cus, num certo sentido, e de uma necessidade de espera, no futuro. Como explicar isso, comparado ao que estamos ensinando com relao a tempo e eternidade? Logicamente, a explicao que Joo, a pessoa que est vendo tudo isso, um homem que ainda est vivendo no tempo e no espao, na terra. Portanto, o que ele v nos cus, necessariamente, tem que ser explicado pelos smbolos e linguagem da terra. um fato muito comum no livro de Apocalipse. No primeiro captulo, Joo v Jesus nos cus. Ele realmente tem cabelos brancos e longos, ps como bronze polido e h uma espada saindo de sua boca? No. Est claro que essas coisas so smbolos que transmitem a Joo os conceitos de poder, sabedoria e glria do Senhor Jesus, no estado de glorificao, depois de ressurreto. A viso das almas que se acham sob o altar, evidentemente, transmitem a verdade de sua identificao com seus

irmos que ainda esto na terra, e sua preocupao com eles. Elas se expressam em termos de tempo e espao para que Joo (e ns tambm) possa entend-las. Podemos Voltar? Talvez isso nos revele outra condio a respeito da vida na eternidade: aqueles que j saram do tempo e entraram na eternidade, se quiserem, podem voltar ao tempo, mantendo-se, porm, invisveis. Naturalmente, foi exatamente isso que Jesus fez durante os quarenta dias de ministrio, aps a ressurreio. Para aqueles que j se encontram na eternidade, o tempo talvez seja como um livro de uma estante de biblioteca. Se quisermos, podemos apanh-lo e folhe-lo ao acaso. Podemos, penetrar no perodo de tempo focalizado pelo volume, no lugar em que quisermos e acompanhar a sua sequncia durante o tempo que desejarmos, e depois recoloc-lo em seu lugar para reingressarmos (conscientemente) no perodo de tempo em que vivemos. Da mesma forma, aqueles que se acham na eternidade, podem escolher um perodo qualquer da histria em que gostariam de viver, e voltar a situar-se no tempo, vivendo os seus eventos, embora invisveis. Naturalmente, essas consideraes no passam de pura especulao, e podem nem corresponder realidade, mas harmonizam-se com a sugesto das Escrituras de que, na vida ressurreta, estaremos livres de muitas das limitaes de nosso atual corpo de carne. Uma coisa est clara. Paulo aguardava ansiosamente o dia em que iria despir-se do seu tabernculo terreno e mudar-se para sua habitao celestial. Ela seria, segundo ele, um corpo "espiritual", o que no significava, como pensam muitos, um corpo feito de esprito algo etreo e imaterial mas, sim, um corpo plenamente submisso ao esprito, preparado expressamente para o esprito. Atualmente, somos obrigados a dizer coisas assim: "O esprito est pronto, mas a carne fraca." Mas depois poderemos afirmar: "O esprito est pronto, e a carne tambm. Vamos!" Talvez a citao de um trecho de C. S. Lewis nos ajude a compreender melhor este ponto.
"A ordem de Cristo sede perfeitos no mero palavreado idealstico. Tampouco um mandamento para que faamos o impossvel. Ele vai nos transformar em criaturas que podem obedecer esta ordem. Ele disse (na Bblia) que ramos "deuses", e vai fazer valer suas palavras. Se lho permitirmos pois podemos impedi-lo, se assim o desejarmos ele transformar o mais fraco e o mais

impuro dentre ns em deus ou deusa, em uma criatura fulgurante, radiante, imortal, uma criatura com tal energia, gozo, sabedoria e amor, que foge nossa imaginao; um brilhante espelho imaculado que refletir com perfeio (embora, lgico, em menor escala), a imagem de Deus, seu prprio poder, amor e bondade. O processo ser longo, e s vezes penoso; mas foi a isso que nos dispusemos, e a nada menos. Ele cumprir o que disse."

Sim; algo est para vir algo to diferente de tudo que experimentamos at agora, que nos difcil descrev-lo. E, no entanto, to esplndido e glorioso que, mesmo sendo anunciado em sussurros, causa arrepios no universo. A verso do Cnego Philips para o texto de Romanos 8.18,19 expressa belamente este fato: "Na minha opinio, as aflies por que passamos presentemente, nada so, comparadas com o magnfico futuro que Deus tem planejado para ns. Toda a criao aguarda ansiosamente a vista maravilhosa dos filhos de Deus." A Vida Corajosa Para que no fiquemos completamente envolvidos com este esplndido futuro e percamos todo o interesse pela vida presente, o apstolo, sabiamente, nos relembra que a base desse futuro a existncia atual.
"Ora, foi o prprio Deus que nos preparou para isto, outorgando-nos o penhor do Esprito. Temos, portanto, sempre bom nimo, sabendo que, enquanto no corpo, estamos ausentes do Senhor; visto que andamos por f, e no pelo que vemos. Entretanto estamos em plena confiana, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor." (2 Co 5.5-8.)

Paulo diz aqui, duas vezes, que uma clara compreenso da glria por vir deve induzir-nos a viver no presente corajosamente. Certamente, isso no significa apenas estar sempre firme, mas tambm ter sempre bom nimo, alegria, esperana e confiana. E ele aponta duas razes para isso. Primeiro, ao preparar-nos para a glria futura, Deus nos concede o seu Esprito Santo, como garantia. No precisamos duvidar da ressurreio de nosso corpo, pois a presena do Esprito da ressurreio em nosso corao nos d certeza dela. Lembremos que em 2 Corntios 4 o apstolo diz: "Sabendo que aquele que ressuscitou ao Senhor Jesus, tambm nos ressuscitar com Jesus" (v. 14). O Esprito sabe ressuscitar um corpo morto, pois j realizou isso uma vez. Alm disso, o Esprito ressuscitou no apenas o corpo de Jesus, mas tambm o nosso esprito desde que nos

tornamos crentes. "Mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo o nosso interior se renova de dia em dia." Quantas vezes o Esprito j o livrou de uma sensao de morte e trevas, trazendo-o de volta vida renovada, ao interesse e vitalidade? Esse seu poder de renovar-nos a nossa garantia de que Deus nos conduzir glria. O Princpio Normativo A segunda razo para termos confiana no presente que, embora a vida ressurreta venha a ser maravilhosa, acima de toda comparao, ainda assim verdade que, pela maneira como nos conduzimos com nosso corpo carnal, estamos aprendendo a conduzir-nos com o corpo ressurreto que teremos. Embora a ressurreio venha a ser uma experincia de certo modo nova, no ser totalmente nova. Embora venha a ser estranha, no ser muito estranha. Em um de seus escritos, C. S. Lewis diz que nossos corpos atuais so como os potros para os pequenos estudantes ingleses. Aprendendo a mont-los estamos nos preparando para o dia em que teremos de cavalgar os gloriosos garanhes, que nesse mesmo instante esto torcendo o longo pescoo e escarvando o cho nos estbulos celestes. E o que estamos aprendendo agora, que nos ser to necessrio no futuro? Andar pela f e no pela vista. Este o princpio normativo da eternidade, e temos que aprend-lo aqui. Alguns hinos parecem dar a ideia de que, quando chegarmos ao cu, no precisaremos mais viver pela f, mas poderemos viver pelo que vemos. verdade que l "veremos" o Senhor, mas isso no eliminar a necessidade de um relacionamento com ele. Pelo contrrio, o fato de estarmos l o intensificar. A f a resposta humana a um oferecimento divino. E do mesmo modo que agora vivemos por meio de Cristo, pela f, assim tambm precisaremos viver por meio de Cristo l, correspondendo sua vida e amor. Habitar Aqui Habitar L por isso que Paulo emprega a palavra "habitar" para designar tanto a nossa existncia atual, num corpo terreno, como a existncia futura, quando estaremos "com o Senhor". No presente, estamos "habitando" no corpo, embora ausentes do Senhor. Depois, estaremos ausentes do corpo, mas "habitando" com o Senhor. O lugar onde habitamos aquele em que nos sentimos tranquilos, em paz, e onde temos uma existncia normal. E quando passarmos para a maravilhosa glria que nos aguarda, tambm nos

sentiremos da mesma forma em casa, tranquilos, em paz, pois no teremos modificado nossa maneira bsica de agir. Habitando aqui, no corpo, estamos aprendendo a caminhar pela f de uma forma natural, sem constrangimentos. Habitar com o Senhor ser a mesma coisa. Foi essa a experincia de Paulo, no interessante episdio que ele narra em 2 Corntios 12. Ali ele diz que foi arrebatado at o terceiro cu, o paraso de Deus. Mas por duas vezes ele menciona que no sabe se o foi no corpo ou fora do corpo. Embora a experincia tenha sido indescritvel e ele tenha ouvido e visto muitas coisas que no saiba explicar, no foi estranha. Ele simplesmente no estava pensando no seu corpo. Sentiu-se muito vontade, e no percebeu se estava nele ou no.

10 Nossa Motivao
" por isso que tambm nos esforamos, quer presentes, quer ausentes, para lhe ser agradveis." (2 Co 5.9.) Agradar a Deus a ocupao prpria do crente, tanto no tempo como na eternidade. Aqui estamos aprendendo; l, faremos isso com perfeio. Para se agradar a Deus sempre necessrio ter f, pois sem f impossvel agradar-lhe. (Hb 11.6.) Como j vimos, viver pela f viver com base na nova aliana, continuamente aceitando o julgamento da cruz com respeito carne e preferindo agir na dependncia da vida ressurreta do Esprito. "Porque ns que somos a circunciso", escreve Paulo aos filipenses, "ns que adoramos a Deus no Esprito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e no confiamos na carne." (Fp 3.3.) Ser proveitoso sabermos que a vontade de Deus, que tantos crentes esto procurando cumprir, no diz respeito tanto ao que fazemos, mas mais a como fazemos. Deus realmente nos orienta, em certas ocasies, para irmos a tais lugares ou termos tal atividade, embora muitas vezes ele deixe a escolha a nosso critrio. Mas o que realmente lhe interessa so os recursos em que estamos confiando para o sucesso de nossa empreitada. Se estivermos dependendo de "algo que vem de ns", estaremos desagradando a Deus, qualquer que seja a atividade em que nos empenhemos. Mas se desempenharmos a atividade mais simples possvel (varrer um assoalho, por exemplo), confiando em que "tudo vem de Deus", estamos agradandolhe infinitamente. por isso que Jesus se agradou tanto da oferta da viva e dos pes e peixes. Esses episdios mostram o oferecimento de um objeto simples a Deus, na expectativa de que ele fizesse alguma coisa. Isso f. isso que agrada a Deus. O que me Motiva? O verdadeiro problema da vida crist no como descobrir a vontade de Deus. Isso todos j sabemos, ou bem ou mal, durante toda a nossa vida. O verdadeiro problema querer faz-la! o problema da motivao. E essa dificuldade continua mesmo depois que descobrimos o que Deus quer de ns. Podemos saber muita coisa acerca da vida crist: podemos saber que o

verdadeiro objetivo de nossa vida agradar a Deus; podemos saber at o que que lhe agrada (a f); podemos lembrar dos momentos passados em que tivemos grande prazer em agradar a Deus e as bnos que isso nos trouxe, e, no entanto, diante da tentao da carne, do prazer de pecar e da facilidade com que podemos justificar tudo (com um vu), podemos deliberadamente resolver desobedecer a Deus. J fiz isso muitas vezes, e voc tambm. Quando a alma se acha indecisa entre o certo e o errado, entre o bem e o mal, o que far com que se incline na direo certa? Esse o problema. a questo da motivao. Como em todos os outros aspectos da vida crist, Deus no nos deixou sem auxlio neste. Existem duas foras poderosas que atuam sobre ns a fim de estabilizar nossa vontade oscilante, e afastar-nos da beira do abismo que nos atrai. So como motores que devem levar-nos ao certa. A palavra "motor" vem da mesma raiz do vocbulo "motivo". Bem, fazer a escolha uma funo eminentemente humana, mas fazer a escolha certa requer a operao de uma fora em nosso interior, fora essa que nos inclinar na direo certa. Paulo descreve essas foras. A primeira, que talvez nos surpreenda um pouco, o temor:
"Porque importa que todos ns compareamos perante o tribunal de Cristo para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito, por meio do corpo. E assim, conhecendo o temor do Senhor, persuadimos aos homens, e somos cabalmente conhecidos por Deus; e espero que tambm a vossa conscincia nos reconhea." (2 Co 5.10,11.)

Motivados Pelo Temor Por alguma razo, desenvolveu-se entre os cristos a ideia de que o temor uma motivao errada; e que, mesmo que seja aceito, uma motivao inferior, baixa. Mas a Bblia nunca toma essa posio. Em toda ela, de Gnesis a Apocalipse, e principalmente em Gnesis e Apocalipse, o temor do Senhor exaltado, e apresentado como um motivo para a vida, um motivo muito adequado e altamente desejvel. Na verdade, considerado como bsico. "O temor do Senhor o princpio da sabedoria." (Pv 1.7.) E o salmista nos exorta nos seguintes termos: "Temei o Senhor, vs os seus santos." (SI 34.9.) E ele afirma que o homem enfrenta grande perigo quando "no h temor de Deus diante de seus olhos" (SI 36.1). Portanto, no nos deve surpreender o fato de Paulo apresentar o temor em primeiro lugar, ao falar dos grandes agentes motivadores de nossos atos.

Mas o que nos vem mente, quando pensamos em temer a Deus? Ser uma sensao abjeta, uma pusilnime expresso de pavor como a do co que rasteja com medo de seu dono? Este tipo de medo provocado pelo senso de culpa, e a culpa absolutamente no tem lugar no relacionamento do crente com Deus. Seria ento o temor que brota do dio que se volta contra Deus em desafio e raiva, sempre que nos deparamos com um mandamento dele? No; o dio tambm no uma motivao plausvel ao crente. Ento talvez seja o medo de que Deus nos decepcione uma falta de confiana que faz nosso corao ficar aflito e sem paz. No; tambm esse tipo de temor incorreto e inadequado. O temor de que Paulo fala aquele que permanece mesmo quando o crente se coloca diante de Deus, como um filho diante do Pai amado, com um esprito confiante, fazendo-lhe suas peties. um temor que nos vem de junto ao trono do tribunal de Cristo. As Escrituras falam desse tribunal como um fato que aguarda o crente, quando ele sair do tempo e entrar na eternidade. "Portanto, nada julgueis antes do tempo, at que venha o Senhor, o qual no somente trar plena luz as cousas ocultas das trevas, mas tambm manifestar os desgnios dos coraes." (1 Co 4.5.) Ser uma ocasio em que cada um receber "segundo o bem ou o mal que tiver feito, por meio do corpo". Esses versos parecem indicar que nessa ocasio toda a nossa vida terrena passar diante de nossos olhos, e veremos, em muitos casos, pela primeira vez, o que agradou e o que no agradou a Deus. Indubitavelmente, ser um momento de muitas surpresas. Muitas coisas que pensvamos ser aceitveis para Deus e proveitosas para ns, estaro maculadas por motivaes errneas ou dependncia errada e muitas coisas de que nos havamos esquecido ou que julgvamos insignificantes sero honradas por Deus, por lhe serem altamente agradveis. Os Segredos do Corao De acordo com o que vimos no captulo anterior, num certo sentido, este julgamento est-se passando em nossa vida agora mesmo. "Porque, se nos julgssemos a ns mesmos, no seramos julgados. Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para no sermos condenados com o mundo." (1 Co 11.31,32.) A vida eterna j tomou posse de nosso esprito, e est, pouco a pouco, apropriando-se de nossa alma. Consequentemente, esse julgamento de Cristo, que parte da eternidade, j

comeou. A medida que crescemos na vida crist, vamos aprendendo a ver que "aquilo que elevado entre homens, abominao diante de Deus". (Lc 16.15.) De forma sempre crescente, ns nos julgamos com base nisso. Aprendemos a obedecer s palavras de Jesus para que oremos, jejuemos e demos esmolas em segredo, sabendo que Deus, que nos v, nos dar a recompensa. Mas se fizermos essas coisas para sermos "vistos pelos homens", j recebemos o galardo que iramos receber. Paulo tambm fala disso em 1 Corntios 3.11-15: "Porque ningum pode lanar outro fundamento, alm do que foi posto, o qual Jesus Cristo. Contudo, se o que algum edifica sobre o fundamento ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornar a obra de cada um; pois o dia a demonstrar, porque est sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o prprio fogo o provar. Se permanecer a obra de algum que sobre o fundamento edificou, esse receber o galardo; se a obra de algum se queimar, sofrer ele dano; mas esse mesmo ser salvo, todavia, como que atravs do fogo." Madeira, feno e palha so elementos altamente combustveis, e todos tm origem na terra uma figura perfeita das obras da carne, que brotam de nossa vida natural e, portanto, so rejeitadas por Deus. Ouro, prata e pedras preciosas, porm, embora sejam tiradas da terra, no so combustveis e no so parte dela outra boa figura, desta vez das obras do Esprito, as nicas que podem resistir prova do fogo, e so aceitveis aos olhos de Deus. O "temor do Senhor", que Paulo associa com este julgamento, deriva de um conhecimento da natureza de Deus,, quando compreendemos que ele no pode ser enganado de forma alguma. Isso deriva do fato de que ele nos enxerga como somos, luz da realidade nua e crua, e como ele no faz acepo de pessoas, no existe a menor possibilidade de esperarmos um privilgio ou favor com alguma considerao especial da parte dele. Ele no levado, nem por nossas splicas emocionais nem por nossas lgrimas, a modificar o seu julgamento. Nossas explicaes e justificativas, que brotam to facilmente para ns prprios e para os outros, na presena da imutvel majestade de Cristo, morrero ao nos chegarem aos lbios. O castigo dele ser inevitvel e sem apelao. Diante da luz clara daqueles olhos cheios de amor, fugir toda falsidade, e nos veremos como ele sempre nos viu: "Ento conhecerei como tambm sou conhecido." (1 Co 13.12.)

No a Desperdice esse o incentivo de Paulo para "persuadir aos homens". Ele no deseja desperdiar sua vida. Ele sabe que, com sua mente arguta, sua personalidade forte e dominante e com seu poder de persuaso, ele poderia obter, aos olhos do mundo e de muitos outros crentes, um impressionante recorde de influncia e realizaes. Sem dvida alguma, ele poderia, facilmente, ficar muito rico, ou conquistar muito prestgio e fama. Possua talentos naturais que poderiam lev-lo ao topo da carreira que escolhesse. Mas de que valeria isso, quando chegasse ao trono do julgamento de Cristo? De nada. Pura perda de tempo e esforos. Seria apenas aquilo que Paulo descreve aos glatas, como "ostentar-se na carne", que no passa de madeira, feno e palha, que so consumidos em um segundo pelo fogo eterno de Deus. Para ele, a vida uma grande corrida, uma prova de resistncia, que ele est disputando, no com outros, mas consigo mesmo. O alvo, cada vez mais prximo, sua morte, sua partida para estar com Cristo. O prmio a glria da ressurreio que ali o espera. O objetivo da corrida dar cada passo na dependncia do Esprito de Deus, e no na energia da carne. "Para mim o viver Cristo", seu supremo interesse. Certa vez, ao fim de um dos cultos de uma cruzada Billy Graham, tomei um nibus e sentei-me ao lado de um jovem que havia ido frente naquela noite, e entregado o corao a Cristo. Falei-lhe acerca de como seria sua nova vida, e, entre outras coisas, mencionei que agora ele ficaria livre do medo da morte. Ele virou-se, olhou diretamente para mim e disse, com toda sinceridade: "Nunca tive muito medo da morte. Mas vou lhe dizer do que tenho medo tenho medo de desperdiar a vida." Creio que todos ns, bem l no fundo, temos este receio. E ele foi colocado ali pelo Criador. Ningum quer desperdiar sua vida. Quando entendemos o padro pelo qual o valor da vida calculado, isso se constitui em grande incentivo para ajudar-nos a decidir-nos pelo que certo e rejeitarmos o errado. "Somos cabalmente conhecidos por Deus; e espero que tambm a vossa conscincia nos reconhea." Com essas palavras, Paulo procura persuadir os corntios a viver como ele viveu, isto , com o caminho da vida iluminado pela luz fulgurante do trono do julgamento de Cristo.

Suprema Motivao Mas existe uma outra motivao que maior que o temor. H uma segunda fora operando em ns, com poder para levar-nos ao, mesmo que o temor de desperdiar a vida no o faa, o que poder acontecer. Paulo passa a falar da suprema motivao:
"No nos recomendamos novamente a vs outros; pelo contrrio, damo-vos ensejo de vos gloriardes por nossa causa, para que tenhais o que responder para os que se gloriam na aparncia e no no corao. Porque, se enlouquecemos, para Deus; e, se conservamos o juzo, para vs outros. Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando ns isto: um morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem no vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou." (2 Co 5.12-15.)

O comportamento cristo de Paulo causava perplexidade a muitas pessoas na igreja de Corinto. Elas no compreendiam a sua maneira de agir, e estavam sempre questionando seus motivos. Na sua primeira carta, o apstolo explica a razo de sua perplexidade: "Eu, porm, irmos, no vos pude falar como a espirituais; e, sim, como a carnais, como a crianas em Cristo." (1 Co 3.1.) As aes dele lhes pareciam estranhas porque no entendiam a nova aliana. Esperavam que ele agisse e reagisse s circunstncias da mesma forma que eles, e, vendo que isso no acontecia, ficavam confusos, perplexos. Pela passagem acima e por outras das cartas aos corntios depreendemos claramente que esperavam que Paulo se gloriasse de suas grandes realizaes no evangelho, e encontrasse modos sutis de elogiar-se diante deles, pois era o que eles prprios faziam. Mas agora ele afirma categoricamente que no est fazendo isso, embora possa parecer, primeira vista, que ele est. Antes, ele explica que a fora que o impele a agir ao contrrio do modo natural do mundo no se origina de uma ambio secreta de ter posio, mas, sim, de Cristo que est dentro dele: "O amor de Cristo nos constrange (empurra, impele)". E, em seguida, ele repete algumas das coisas que eles diziam com relao a Paulo: "Porque, se enlouquecemos, para Deus." Isso era uma resposta para os que haviam dado a entender que seu comportamento estranho era resultado de loucura, que ele estava "enlouquecido". Se essa era a verdadeira causa de suas aes, diz ele, pelo menos, sempre tinha um objetivo em mira: era para Deus. Pelo menos, estava na direo certa. Outro grupo afirmava: "No, ele est em seu juzo

perfeito." E Paulo respondia: "Se conservamos o juzo, para vs outros." E nesse caso tambm o objetivo era correto, embora no pudessem explicar suas aes. Qualquer que fosse o caso, quando se compreendia que era o amor de Cristo que impelia a Paulo, podia-se prever o objeto da ao. Seus atos eram de amor, orientados para glorificar a Deus e servir aos homens, e nunca para o seu prprio sucesso pessoal. Realmente, esse um comportamento muito suspeito. A pessoa que no trabalha para si mesma, que no visa a lucros prprios, est-se comportando de maneira singularmente estranha. O mundo espera que cada um olhe por si mesmo: "Cada um por si, e Deus por todos!" Mas sabe tambm que quem inteligente esconde esse interesse prprio o mais que pode. Ele sempre parece estar interessado no bem dos outros, embora se saiba que, na verdade, no est. Por isso que se ouve frequentemente a pergunta: "Muito bem, e quanto voc est lucrando nisso?" ou ento: "Agora me diga o que se lucra com isso." Muitos crentes manifestam este tipo de atitude, apesar de na igreja usarem um palavreado cristo. O Amor Sempre D Por isso, se encontrarmos algum que, aps um longo perodo sob circunstncias diversas, constantemente se portar contrariamente a este princpio humano bsico, isto nos causar estranheza e perplexidade. "A explicao disso o amor", diz Paulo. " o amor de Cristo que nos constrange, nos impele, que nos domina, supera nosso natural interesse prprio, e nos faz agir contrariamente natureza." Houve uma morte e uma ressurreio, argumenta ele. "Um morreu por todos, logo todos morreram." Quando Cristo se tornou como ns somos, ele morreu; portanto, ns que estamos em Cristo, morremos com ele. Ficou provado que a vida natural totalmente sem valor, sem proveito. Mas no s isso. "E ele morreu por todos, para que os que vivem no vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou." Se morremos com ele, tambm ressuscitamos com ele, e essa vida ressurreta que agora levamos diferente j no controlada pelo ego, nem ama a si mesmo acima de tudo. Dirige-se para fora. Volta-se para os outros com toda naturalidade e inconscientemente. No num gesto de falsidade, mas real. Quando nos rendemos ao amor de Cristo, diz Paulo, passamos a agir desse modo, e o motivo de agirmos assim o amor. Depois

que nos rendemos a esse amor, no podemos deixar de agir pela autodoao, pois assim que o amor age. O amor de Cristo nos constrange. Num exemplar de Christianity Today (21 de junho de 1974) h um artigo acerca dos crentes da Unio Sovitica, que contm um pargrafo que ilustra muito bem isso. Kozlov, um antigo criminoso, que depois se tornou um lder evanglico, escreve o seguinte acerca da vida na priso sovitica:
"Em meio ao desespero geral, enquanto prisioneiros como eu amaldioavam a si mesmos, priso ou s autoridades; enquanto cortvamos os pulsos, ou o estmago ou nos enforcvamos, os crentes (muitos com sentenas de vinte a vinte e cinco anos) no se desesperavam. Podia-se ver Cristo refletido em seu semblante. Sua vida pura e reta, sua f profunda e sua devoo a Deus, sua mansido e sua maravilhosa coragem, foram para milhares de presos um exemplo do que era a verdadeira vida.

Isso cristianismo autntico, quando e onde quer que se manifeste. Uma Trindade de Amor Algumas pessoas perguntam: "Quando Paulo diz 'o amor de Cristo nos constrange', a que amor ele est-se referindo? Ao amor de Cristo por Paulo, ao seu amor por Cristo, ou ao amor de Cristo a outros por meio de Paulo?" uma pergunta vlida, e o texto grego no nos ajuda muito, pois permite qualquer uma das interpretaes acima. Mas h um verso da carta de Joo que esclarece o ponto, pois indica onde comea o amor. "Nisto consiste o amor, no em que ns tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou, e enviou o seu Filho como propiciao pelos nossos pecados." (1 Jo 4.10.) O amor origina-se em Deus, e no em ns. Cristo nos amou primeiro; mesmo quando ainda ramos pecadores e inimigos de Deus, diz Paulo em Romanos 5. E seu amor por ns, aceito pela f, desperta o nosso por ele, de modo que Pedro pde dizer: "A quem, no havendo visto, amais." (1 Pe 1.8.) E Paulo concorda com isso: "O amor de Deus derramado em nossos coraes pelo Esprito Santo que nos foi outorgado." (Rm 5.5.) Depois que o nosso corao avivado e despertado pelo amor de Deus, sentimo-nos dispostos a amar ao prximo, passando a desconsiderar nossos prprios interesses. "Assim, querendo-vos muito, estvamos prontos a oferecer-vos, no somente o evangelho de Deus, mas, igualmente, a nossa prpria vida, por isso que vos tornastes muito amados de ns." (1 Ts 2.8.) Para que haja a manifestao plena do amor de Cristo so necessrias as trs fases. Mas o ponto importante que devemos notar que a motivao

certa para os atos da vida crist o amor e no o dever. "Se me amais, guardareis os meus mandamentos" (Jo 14.15), diz Jesus. No o contrrio: "Se guardardes os meus mandamentos, me amareis." Vemos a mesma coisa nas frequentes exortaes de Paulo com respeito a questes de ordem prtica: "Maridos, amai vossas mulheres"; "Esposas, sede submissas aos prprios maridos"; "Senhores, tratai aos servos com justia e com equidade", etc, mas sempre com uma referncia motivao que deve impulsion-los: "temendo ao Senhor"; "como convm no Senhor"; "como ao Senhor". O amor torna mais fcil a obedincia; o amor tem prazer em fazer aquilo que agrada ao ser amado. Por isso, quando nosso corao se endurecer e tornar-se mais difcil obedecer, a soluo no apertar os dentes e tomar a deciso de aguentar firme, mas lembrar quem que nos pede essa obedincia, e depois, por amor a ele, obedecer. Quando um crente reage dessa maneira, ele descobre depois, para surpresa sua, que sua prpria atitude se modificou. Surge em seu interior uma nova maneira de ver as coisas. o que Paulo descreve em 2 Corntios 5.16,17:
"Assim que, ns, daqui por diante, a ningum conhecemos segundo a carne; e, se antes conhecemos a Cristo segundo a carne, j agora no o conhecemos deste modo. E assim, se algum est em Cristo, nova criatura: as cousas antigas j passaram; eis que se fizeram novas."

Talvez a melhor evidncia de que a nova aliana est operando em ns a mudana que ocorre com relao maneira como vemos os outros. Sua posio, casta, cor, sexo ou riqueza deixam de ser importantes. Todas as pessoas passam a ter um valor infinito, pois so feitas imagem de Deus e podem ser remidas por intermdio de Cristo. Nada mais importa. Paulo parece dar a entender aqui que houve um tempo em que ele conheceu a Cristo "segundo a carne". Ser que isso significa que ele ouviu Jesus pregar e ensinar, ou talvez o tenha conhecido de perto? provvel que sim. Se for verdade, uma mudana drstica ocorreu em sua maneira de pensar. A Nova Viso das Coisas O evangelista e telogo britnico, Major Ian Thomas, descreveu essa mudana de forma to brilhante, que quero transcrev-la aqui:
O apstolo Paulo diz: "Houve uma poca em que eu, como Saulo de Tarso, fiz minha prpria anlise racional desse homem chamado Jesus Cristo, acerca de quem tanto ouvira falar. E quando o fiz, no fui descaridoso nem preconceituado. Utilizei os mtodos normais e racionais de avaliao, adotados

pelo meu tempo, e tirei minhas prprias concluses a respeito de Jesus Cristo. Eis o que conclu: "NOME DE FAMLIA? Um Joo ningum. Tive que concordar com meus colegas telogos que ele era filho ilegtimo de uma mulher, que, alm de infiel, era tambm mentirosa. "POSIO? Concordando com meus camaradas, tive que chegar concluso de que ele no valia nada. No tinha nenhuma posio em sua comunidade. "POSIO PROFISSIONAL? Examinei isso com muito cuidado. Descobri que ele no estudou em escolas; criou-se num lar de camponeses; foi aprendiz na banca de carpinteiro; depois concluiu a fase de aprendizado, e tornou-se carpinteiro. No que tange sua posio profissional, cheguei concluso lgica e racional de que ele no valia nada! "FORMAO TEOLGICA? Dizia-se pregador, mas descobri que, de acordo com os valores humanos racionais, nisso tambm ele no era nada. No frequentara escolas; no fora a seminrios; no recebera nenhum tipo de instruo das autoridades eclesisticas de nossos dias; no se sentou aos ps de ningum. Profissionalmente, ele no era nada. No passava de um batedor de lata, um barulhento, um insistente pregador de rua. Com relao situao eclesistica de meus dias e de minha gerao, ele era simplesmente um Joo ningum. "DINHEIRO? Nasceu num estbulo emprestado; quando quis fazer uma ilustrao, certa vez, teve que pedir uma moeda emprestada; viajou num jumento emprestado; certa feita, para celebrar a Pscoa, mandou um mensageiro a um homem que conseguiu convenc-lo a emprestar-lhe seus aposentos; sempre vivia nas casas das pessoas. Por todos os princpios humanos racionais, pelos quais podemos chegar a uma concluso justa, ele era um renitente vagabundo. Morreu numa cruz emprestada e foi sepultado num tmulo tambm emprestado. No que diz respeito a riquezas ou propriedades, ele no valia absolutamente nada. "Mas aconteceu uma coisa comigo, Saulo de Tarso, na estrada de Damasco. Respirando ameaas e assassinatos, eu ia lanar na priso ou mandar matar qualquer um que se atrevesse a perpetuar o mito de que esse nada era o Cristo de Deus. "De repente, vi uma luz mais brilhante que o sol ao meio-dia. Fiquei cego. Ca de rosto em terra. Fiquei desamparado. Ouvi ento uma voz que me dizia: 'Saulo, Saulo, por que me persegues?' 'Quem s, Senhor?' indaguei. 'Sou Jesus, a quem persegues.' "Ento descobri que aquele que eu pensara ser nada, no era outro seno DEUS MANIFESTO EM CARNE. Do meu ponto-de-vista humano, ele no era nada, e eu, Saulo de Tarso, era tudo. Mas, ali na estrada de Damasco, descobri que ele era tudo e eu passei a ser nada. "Agora, o conhecimento que tenho dele no me permite analis-lo mais do ponto-de-vista humano, que antes considerava to vlido. Agora, para mim, o viver Cristo."

Sim, a vida do cristo total e radicalmente diferente. Impulsionado pelos dois motivos, o temor a Deus e o amor de Cristo, ela contraria os

impulsos normais da vida. Trata-se daquela nova criao, prevista pelos profetas, que j se inicia! Bem no meio da velha criao em decadncia est surgindo a nova. A eternidade est invadindo o tempo. Dominado pelo amor, o crente deve continuamente nadar contra a corrente do presente sculo, at que raie o dia, e as sombras sejam dispersas.

11 A Glria do Ministrio
O Novo Testamento est sempre afirmando que a verdadeira vida crist essencial e radicalmente diferente da vida natural do homem do mundo. Externamente, pode ser bem parecida, com elementos tais como: ganhar a vida, estudar, casar, criar filhos, aparar a grama, comprar mantimentos, conviver com a vizinha, etc. Mas interiormente, o princpio de vida completamente diverso. Cristo participa de todos esses elementos. A vida vivida por meio dele. ele o motivador de todas as aes certas, e aquele que corrige as aes e pensamentos errados. quem d todas as alegrias e cura todos os males. Ele j no est margem da vida, lembrado aos domingos, mas ausente durante o resto da semana. Ele o centro de tudo; a vida gira em torno dele e por isso est corretamente focalizada; o corao possudo por uma paz profunda; o esprito revestido de fora a despeito das provaes externas, e bondade e alegria irradiam para todos os lados. Isso que viver! impossvel manter em segredo, para si s, este tipo de vida. Ela clama por ser transmitida a outros que ainda esto lutando com senso de culpa, desespero, auto-rejeio e hostilidade. Onde quer que o sofrimento se manifeste, ali essa vida pode comear a ser partilhada. Algum j definiu isso de uma forma simples e bela: " um mendigo dizendo a outro onde pode encontrar po." Essa transmisso de vida no exige uma apresentao formal ou estilizada, nem um lugar ou ocasio especial. No se restringe queles que foram ordenados ou se encontram "no ministrio". Qualquer pessoa que j vivenciou o verdadeiro cristianismo j se encontra no ministrio, pois possui algo de que os outros precisam desesperadamente. E este ministrio, acessvel a todos, que o apstolo passa a descrever: "Ora, tudo provm de Deus que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo, e nos deu o ministrio da reconciliao, a saber, que Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, no imputando aos homens as suas transgresses, e nos confiou a palavra da reconciliao." (2 Co 5.18,19.) Neste breve trecho, Paulo usa quatro vezes a ideia de reconciliao. J que o homem foi criado para ser a habitao de Deus,

nada poderia ser pior para nossa condio humana, do que estarmos distanciados do Deus que nos criou. O principal mal da humanidade achar-se separada de Deus, e ele se manifesta em expresses dolorosas tais como senso de culpa, hostilidade e desespero. Assim sendo, a melhor notcia que um homem pode receber a de que foi encontrado um meio de reconciliao com Deus. E o grande privilgio do cristo justamente proclamar essa boa-nova queles que necessitam dela desesperadamente, e esto desejosos de acolh-la devido aos sofrimentos por que passam, e s carncias que h em sua vida. O testemunho deve sempre iniciar-se pela necessidade do indivduo. "Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados", disse Jesus, "e eu vos aliviarei." O apstolo salienta alguns aspectos desse ministrio, a fim de revelar sua grandeza e relevncia. Vamos recor-d-los para nos conscientizarmos do inestimvel privilgio que proclamar essa mensagem s pessoas que sofrem. Origina-se em Deus. "Tudo provm de Deus", diz Paulo. A parte ofendida quem inicia o movimento de reconciliao. A boa-nova no parte do homem; no simplesmente mais um dos muitos recursos que o homem criou para tentar encontrar o caminho de volta a Deus. A prpria natureza dessa boa-nova tal, que nunca poderia ter sido inventada pelo homem. Comea por declarar que no h nada no homem, a no ser fraquezas, fracassos e rebeldia. Com esse golpe, fica eliminada toda a possibilidade de competio na busca da salvao. A parte de Cristo, ningum pode pensar que est mais perto de Deus que outra pessoa. Quem se orgulha de uma moral impecvel, de uma vida respeitvel, no se acha mais perto de Deus que um assassino ou pervertido sexual, pois, na verdade, o orgulho pela respeitabilidade tambm uma manifestao de distanciamento de Deus, assim como o assassinato ou a perverso. Este aspecto da boa-nova, muitas vezes, altamente ofensivo para muitas pessoas. Aqueles que se fiam naquilo que consideram suas boas obras acham essa verdade profundamente desagradvel. Querem que Deus os aceite em seus prprios termos. Contudo, tal atitude mais uma confirmao da assertiva do apstolo de que "tudo provm de Deus". Nenhum pecador se atreve a imaginar sequer que um dia estar diante de Deus; nenhuma pessoa que cr em sua justia prpria iria imaginar que precisa de mais alguma coisa para tornar-se aceitvel perante Deus.

Portanto, a boa-nova da reconciliao no poderia mesmo partir do homem. Provm somente de Deus. uma experincia pessoal. "Deus... nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo." O crente que d testemunho da nova aliana no fala de modo acadmico. Ele se identifica perfeitamente com o sofrimento e as trevas daqueles a quem se dirige, pois ele prprio j esteve nessa situao. Mas ele j encontrou uma soluo to satisfatria e completa, que ficou ansioso para transmiti-la a outros. No fala do "plano de salvao" como se fosse uma doutrina teolgica, que existisse apenas uma apreenso intelectual de seu contedo, para proporcionar a experincia. Em vez disso, ele d testemunho de um Senhor pessoal, que ao mesmo tempo o Salvador e o sustentador de sua vida. Ele no procura dar a impresso de que, quando se rendeu ao Senhor, foi imediata e completamente liberto de toda luta contra o mal, contra o senso de culpa, dio e medo, mas deixa claro que essa rendio inicial provocou uma mudana permanente no seu corao. E desse centro, est sempre emanando um poder que o capacita a recuperar sucessivamente todas as reas de sua vida que ainda se acham sob o domnio do mal e do fracasso. Agora ele admite seus erros abertamente, mas tambm regozija-se com a certeza de que eles sero eliminados sob a autoridade e poder do Senhor ressuscitado. "Porque o pecado no ter domnio sobre vs; pois no estais debaixo da lei, e, sim, da graa." (Rm 6.14.) Abrange todo o universo. "E (Deus) nos deu o ministrio da reconciliao, a saber, que Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo." Uma das maravilhas do verdadeiro cristianismo sua universalidade. No absolutamente "a religio do homem branco", nem somente para negros, vermelhos ou mulatos. No se destina s classes trabalhadoras, assim como no para as classes ricas, nem para os que vivem em guetos. Os homens iro descobrir que ele se ajusta perfeitamente s suas necessidades de homens, e as mulheres vero que ele realiza e completa sua feminilidade. Ele leva Deus a todas as carncias de cada pessoa, fsica, espiritual e emocionalmente. De algum modo, surgiu a tola ideia de que Jesus terno e compassivo para com a humanidade perdida, e se coloca entre ela e o Pai que est irado e quer castig-la protegendo-a da ira de um Deus enraivecido. Paulo destri totalmente este conceito com essa afirmao

incisiva: "Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo." Foi o Pai quem iniciou a obra de redeno. Foi ele quem enviou seu Filho ao mundo, com a finalidade de efetuar essa redeno por meio de uma morte cruel e posterior ressurreio. Foi o Pai que "no poupou a seu prprio Filho, antes, por todos ns o entregou" (Rm 8.32). Portanto, o Pai e o Filho que, por intermdio do Esprito, se inclinam para um mundo solitrio e sofredor, oferecendo perdo, paz e alegria a todos que vierem a eles. Ningum excludo desse convite por motivo de raa, cor, condio ou classe. A porta est totalmente aberta a todos. Elimina a condenao. "No imputando aos homens as suas transgresses." Pela cruz de Jesus, o problema criado diante de Deus pelo pecado humano totalmente eliminado. E para eliminar suas nocivas consequncias sobre a vida humana, Deus nada exige, a no ser um reconhecimento sincero desse mal. No exige nenhuma penitncia e nem as aceitar. No exige autoflagelao. Qualquer tentativa de se recorrer a tais coisas apenas prova de que a pessoa no acredita no que Deus afirma com tanta clareza. E isso no se aplica apenas no incio, quando a pessoa vem a Cristo pela primeira vez, mas a toda a sua vida. O castigo da morte por todos os nossos pecados j foi aplicado a Cristo. E isso significa a morte em suas diversas formas, como j vimos. S a experimentamos quando nos recusamos a crer em Deus, e procuramos justific-la perante ele. Mas a experincia da morte encerra-se no momento em que cremos nele: "Agora, pois, j nenhuma condenao h para os que esto em Cristo." (Rm 8.1.) Esse o elemento que faz da reconciliao uma boa-nova. A nica coisa que Deus requer de ns o reconhecimento do mal e a disposio de sermos libertos de seu poder. A obra da libertao em si realizada por Deus, com base na morte de Jesus. A cruz j nos libertou; falta apenas que creiamos nisso, para que se torne uma realidade para ns. Naturalmente, precisamos lembrar-nos de que certas consequncias naturais de nosso pecado ainda permanecero em nossa vida; o pecado sempre deixa suas marcas. Mas elas no operam a morte em ns, e sim a vida, pela virtude da vida ressurreta de Jesus, que h em ns. "Bemaventurados os que choram, porque sero consolados." (Mt 5.4.) Assim, os erros e rebeldias do passado sero transformados em instrumentos da graa de Deus para nos 'quebrantar e abrandar, tornando-nos manifestaes mais claras e fulgurantes do amor redentor de Deus em ns.

Nunca devemos hesitar em recorrer a Deus quando pecarmos. Ele j tem pleno conhecimento do fato e j esperava por isso, pois nos conhece melhor do que ns mesmos. Ele no est irado nem envergonhado de ns. Pode ser que passemos por essas sensaes, mas ele no. J nos perdoou, e s espera que reconheamos nosso erro, e lhe agradeamos pelo restabelecimento da comunho com ele. entregue pessoalmente. "E nos confiou a palavra da reconciliao." A boa-nova no nos chega por intermdio de anjos. No nos anunciada dos cus por vozes fortes, impessoais. Nem nos chega por nos debruarmos sobre empoeirados volumes do passado. Em cada gerao, ela transmitida por homens e mulheres, seres vivos, que falam de uma experincia que eles prprios viveram. A encarnao, o Verbo que se fez carne, o meio eterno pelo qual Deus se comunica com as pessoas. Vem sempre s espensas de muita fome e sede, de provaes pessoais que enfrentamos por amor a Cristo sangue, suor e lgrimas. H muitas pessoas que afirmam terem chegado a Cristo sem o auxlio de outrem, apenas pela leitura das Escrituras, sem a ajuda de instrutores. Mas essas pessoas se esquecem dos trabalhos e dificuldades enfrentados por aqueles que colocaram a Bblia em sua lngua, muitas vezes com a perda da prpria vida. Ningum pode ler a Bblia em ingls, por exemplo, sem lembrar-se de Tyndale, Wycliffe e Coverdale, os primeiros tradutores, que sofreram forte perseguio, arriscando seu pescoo nesse trabalho. Pode-se demonstrar facilmente que hoje so muito poucos os crentes que conseguem ler a Bblia e crescer espiritualmente apenas obedecendo aos preceitos que ela apresenta. Parece que a maioria de ns precisa de exemplos vivos para seguir. So muito poucos os que tm o dom da f, que ousam desafiar os padres antibblicos estabelecidos na igreja. Mas quando estes poucos se manifestam e mostram com sua vida as bnos consequentes, outros podem segui-los. preciso que o amor, de alguma forma, se torne visvel para que seja entendido por outros. "Estvamos prontos a oferecer-vos, no somente o evangelho de Deus, mas, igualmente, a nossa prpria vida por isso que vos tornastes muito amados de ns." (1 Ts 2.8.) O evangelho contm um forte elemento pessoal que no poderia ser eliminado, sem prejuzo para ns.

investida de autoridade. "De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermdio." O embaixador 5 um porta-voz oficial de uma nao, num pas estrangeiro. Sua palavra tem o respaldo da nao que o enviou, mas apenas quando essa palavra representar realmente o pensamento e a vontade do Estado que representa. Assim tambm os crentes, por toda a parte, so porta-vozes autorizados de Deus, "como se Deus exortasse por nosso intermdio", mas somente quando esto vivendo como cristos autnticos. Quando isto acontece, Deus honra a palavra deles e opera mudanas visveis e reais na vida daqueles que aceitam seu testemunho. a caracterstica da inegvel realidade que vimos no captulo 2. Em Joo 20.22,23, o Senhor ressuscitado deu a seus discpulos (e a ns tambm, por intermdio deles) a autoridade para declarar perdoados os pecados de algum ou a reteno dos mesmos, dependendo da reao dos ouvintes mensagem do evangelho. Aos que crerem e aceitarem, podemos declarar com toda autoridade: "Teus pecados esto perdoados." E temos autoridade para dizer tambm aos que no creem: "Teus pecados ainda ficam retidos." Esse um aspecto do "sacerdcio de todo crente", que as Escrituras ensinam com bastante clareza, mas que tem recebido forte oposio por parte de grande segmento da igreja instituda, pelos sculos afora. Por ocasio da Reforma, Martinho Lutero redescobriu essa verdade, mas, pouco depois, ela ficou novamente perdida. E no entanto, nada reanima mais um servo de Cristo do que ver o Senhor abenoando seu trabalho, operando radicais e permanentes transformaes nas vidas com que ele entra em contato. aceita voluntariamente. "Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus." Em todo esse texto, o apstolo emprega palavras que revelam a natureza no coercitiva do evangelho: "exortar", "rogar". E j que, como ele afirma, rogamos "em nome de Cristo", ou literalmente, "em lugar de Cristo", muito importante que no usemos de mais coao do que o Senhor usou nos dias em que viveu entre ns. Na verdade, o cristianismo autntico Cristo falando aos homens, pelo Esprito, por nosso intermdio, nos dias de hoje. Se for de outra forma, j no ser do Esprito. As apresentaes que Jesus fazia s pessoas revelavam uma notvel ausncia de presses de qualquer tipo. Ele se ofereceu vrias vezes ao povo; apelou para que atendessem ao seu convite;

e alertou-os para as consequncias de uma recusa. Mas no ficou a insistir demoradamente, nem apelou para estrias emocionantes, a fim de convenc-los. E quando seus ouvintes pareciam relutantes em atender, no prolongava o apelo, nem procurava facilitar as coisas. Alis, ele est sempre dispensando gente, reduzindo as fileiras de discpulos. Como j observamos antes, a maneira certa de o servo de Cristo agir declarar a verdade abertamente, para nos recomendarmos conscincia de todos os homens, vista de Deus. Apelamos vontade do indivduo para que tome a deciso, e se ela no o fizer, deixamos o resto com Deus, para que opere como quiser, no tempo que desejar. E isso no se aplica apenas ao evangelista, mas tambm ao pastor e mestre, ou a qualquer pessoa que prega as verdades da nova aliana. "Uma pessoa que foi convencida contra sua vontade, ainda est com a mesma opinio." preciso que a verdade seja recebida com uma aquiescncia voluntria do corao, seno a deciso no ter valor. Uma aquiescncia forada perda de tempo. Realiza o impossvel. "Aquele que no conheceu pecado, ele o fez pecado por ns; para que nele fossemos feitos justia de Deus." Essa a suprema glria da nova aliana. Ela obtm o que nunca poderia ter sido alcanado pelo homem cado: justia (valor) diante de um Deus santo. E isso parece impossvel at para Deus. Como um Deus justo poderia justificar o injusto? Como um Deus reto pode, com justia, declarar reto um pecador mpio? um enigma que confunde at mesmo os anjos. Mas j foi realizado! Aquele que no conheceu pecado, Jesus, o justo, (na cruz) tornou-se pecado por ns, que no conhecamos a justia, a fim de que a justia de Deus pudesse passar a ns e ser nossa para sempre. E essa justia no apenas caracteriza nossa posio perante um Deus santo, mas tambm nossa condio no presente, sempre que andarmos no Esprito. Portanto, a cruz o lugar onde Satans sempre derrotado. Ela era o s escondido na manga de Deus, e com o qual o diabo no contava. O grande acusador nunca poder encontrar um fundamento pelo qual possa fazer o Deus justo se voltar contra ns, pois todos os nossos pecados foram separados de ns, para sempre, pela cruz. Agora podemos ter uma identidade totalmente nova. Somos um s esprito com o prprio Jesus. "Mas aquele que se une ao Senhor um esprito com ele." (1 Co 6.17.) No admira que em Romanos 8 Paulo solte um brado: "Se Deus por ns, quem

ser contra ns?" A consequncia inevitvel da justia a liberdade. O homem justo est descansado; todas as suas tenses e problemas internos cessaram. Ele no fica ansioso com nada do que lhe diz respeito e por isso est livre para dar ateno a outros. Essa a gloria da nova aliana. "Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres." (Jo 8.36.) experimentada a cada momento. Os versculos iniciais do captulo 6 so realmente uma parte da presente argumentao do apstolo:
"E ns, na qualidade de cooperadores com ele, tambm vos exortamos a que no recebais em vo a graa de Deus (porque ele diz: Eu te ouvi no tempo da oportunidade e te socorri no dia da salvao: eis agora o tempo sobremodo oportuno, eis agora o dia da salvao." (2 Co 6.1,2.)

possvel algum receber a graa de Deus em vo. Isto , a pessoa pode viver grande parte de sua vida utilizando os recursos da carne, em vez do poder e riquezas do Esprito. Assim sendo, nesses momentos, ou horas, ou dias, Cristo de nada nos vale. Ns o temos, mas vivemos como se ele nem estivesse ali. A graa e o poder de Deus nos pertencem, mas no nos valem de nada. E como temos que receber a graa de Deus pela f (ou pela dependncia) e dela nos apropriamos a cada momento, ento com o momento presente que devemos preocupar-nos. "Eis AGORA o tempo sobremodo oportuno; eis AGORA o dia da salvao." O fato de que alguns instantes atrs estvamos andando no Esprito no tem nenhum valor para ns agora. Nossa inteno de andar no Esprito daqui a alguns minutos no redime o presente. Se agora escolhemos agir na carne, este tempo est perdido, para sempre, e nunca poder ser revivido ou reconquistado. Disputemos a corrida da vida, procurando viver cada momento no poder e na graa do Esprito de Cristo, pois qualquer instante passado na carne tempo em que recebemos a graa de Deus em vo. Ento, este o ministrio da reconciliao que Deus nos confiou. Ele no nos envia sozinhos, mas ele prprio vem conosco, para ser tanto o Autor como o Consumador de nossa f. Talvez seja bom fazermos agora uma sntese do que vimos aqui. O MINISTRIO DA RECONCILIAO
Origina-se em Deus e no no homem.

uma experincia pessoal. Compreende todo o universo. No traz condenao. transmitido por homens. Pertence a Deus e por ele autorizado. recebido voluntariamente. Realiza algo que sem ele seria impossvel. experimentado em cada momento de per si.

Que oportunidade maravilhosa e desafiante este grande ministrio constitui para ns! O prprio apstolo acha-se maravilhado pela glria e esplendor dele. E agora ele encerra este trecho da carta, em que analisa a nova aliana, com uma passagem de infinito poder e beleza, na qual sua prpria experincia se torna um exemplo ilustrativo.

12 Exemplo Ilustrativo
Iniciamos este livro com a grande declarao de Paulo acerca de sua prpria experincia da nova aliana: "Graas, porm, a Deus que em Cristo sempre nos conduz em triunfo, e, por meio de ns, manifesta em todo lugar a fragrncia do seu conhecimento." Agora fechamos o crculo, pois as palavras com que encerramos so do captulo 6, e, como aquelas, so a descrio que o apstolo faz de sua prpria experincia em Cristo. Mas h uma diferena. No incio de sua dissertao, Paulo falou, em termos majestosos, dos grandes princpios que ele encontrara em Cristo, e que regiam sua vida, conferindo-lhe poder. Agora, no fim, ele trata mais especificamente de feitos, experincias e resultados finais. Como Olhamos Para os Outros E assim que deve ser, pois o princpio deve sempre cumprir-se na prtica. "A f sem obras morta", diz Tiago (Tg 2.26). Portanto, se a compreenso dos princpios da nova aliana no servir para modificar todo o nosso modo de viver, totalmente intil. Nesta parte final, a principal preocupao de Paulo a questo de nossa comunicao com aqueles que ainda no conhecem esse grande segredo da semelhana com Deus, quer sejam crentes novos ou no-crentes. A vida da nova aliana no pode ser isolada. Deve colocar-nos em contato com outros, tanto crentes como incrdulos, pois o cristianismo autntico tem por objeto o mundo, tal como . Por isso o apstolo diz: "No dando ns nenhum motivo de escndalo em cousa alguma, para que o ministrio no seja censurado. Pelo contrrio, em tudo recomendando-nos a ns mesmos como ministros de Deus." (2 Co 6.3-4a.) Segue-se, ento, uma notvel lista de maneiras prticas pelas quais a nova aliana pode ser recomendada a outros. Um pouco mais adiante a examinaremos detalhadamente. Mas primeiro, pode parecer uma contradio que Paulo diga aqui: "recomendando-nos a ns mesmos como ministros de Deus", depois de haver afirmado em 5.12: "No nos recomendamos novamente a vs outros." A recomendao a que ele se refere no captulo 5 a que feita com palavras: uma auto-recomendao

presunosa, que objetiva apenas impressionar os outros. Aqui, no captulo 6, uma recomendao de feitos e atitudes, os quais falam por si mesmos. Examinaremos agora essa importante lista para vermos o modo certo como os crentes podem recomendar-se ao ensino da nova aliana a outros.
"... na muita pacincia, nas aflies, nas privaes, nas angstias, nos aoites, nas prises, nos tumultos, nos trabalhos, nas viglias, nos jejuns, na pureza, no saber, na longanimidade, na bondade, no Esprito Santo, no amor no fingido, na palavra da verdade, no poder de Deus; pelas armas da justia, quer ofensivas, quer defensivas; por honra e por desonra, por infmia e por boa fama." (2 Co 6.4b-8a.)

O apstolo faz algumas divises neste pargrafo, que os tradutores obscurem parcialmente. Existem trs grandes agrupamentos de ideias: Na muita pacincia nas aflies nas privaes nas angstias nos aoites nas prises nos tumultos nos trabalhos nas viglias nos jejuns Por meio de pureza saber longanimidade bondade o Esprito Santo

o amor no fingido na palavra da verdade no poder de Deus Pelas armas da justia quer ofensivas, quer defensivas por honra e por desonra por infmia e por boa fama Obviamente, o primeiro grupo aborda as circunstncias adversas que o crente pode encontrar nessa vida. O segundo descreve o carter que ele deve revelar no meio dessas circunstncias. E o terceiro grupo enfoca os resultados produzidos, tanto os bons como os que so aparentemente maus. Como Paulo a prpria exemplificao dessas coisas! Os apstolos foram crentes-modelo, escolhidos por Deus para passarem por toda a gama de dificuldades e provarem todas as possibilidades do crente, a fim de que tivssemos neles (e acima de tudo no Senhor Jesus) um exemplo para seguirmos. pouco provvel que precisemos passar por todas estas experincias, mas, certamente, Deus espera que suportemos algumas delas. Lembremos que o mundo que nos rodeia est a observar-nos, e somente se manifestarmos essas caractersticas que Paulo relaciona aqui que poderemos recomendar-nos a ele. Pacincia Paciente A palavra-chave do primeiro grupo "pacincia". Mas ela no implica apenas em resistir duramente; mais que isso. At mesmo um nocrente pode suportar com pacincia algumas dificuldades, e alguns at se orgulham de sua habilidade nisso. Atletas, soldados, guerrilheiros, desbravadores e outros mais so pessoas que muitas vezes se orgulham de sua capacidade para resistir s durezas e dificuldades, com fortaleza de nimo e pacincia. Mas essa pacincia no uma mera resignao passiva que se satisfaz em esperar, de cabea abaixada, at que os problemas e dificuldades completem seu curso. A palavra grega aqui empregada, hupomone, tem um sentido mais amplo. Ela expressa, isso sim, um corajoso triunfo, que recebe todas as presses da vida, e sai delas com um

brado de alegria. No somente essa pessoa no se deixa abater pelas dificuldades, mas mostra-se at grata pela oportunidade de passar por elas, sabendo que isso trar glria a Deus. "E eles se retiraram do Sindrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome." (At 5.41.) Paulo suportou pacientemente, em triunfo, todas as dificuldades mencionadas nesta lista, e muitas vezes, repetidamente. Passou por "aflies", ou, literalmente, "infortnios". Passou por circunstncias adversas que pesaram muito sobre seu esprito, preocupaes e ansiedades constantes, que raramente pareciam diminuir. Passou "privaes" os inevitveis tormentos da vida. Experimentou "angstias", ou para ser mais exato "aperturas", desfiladeiros estreitos que parecem fechar-se sobre ns, no proporcionando oportunidade de fuga. Em cada uma dessas situaes, a pacincia triunfante, produzida pela nova aliana, o recomendava diante dos outros. Mais Dificuldades E havia tambm problemas que brotavam diretamente da oposio humana. Ele sofreu "aoites" ou "chicoteamentos". Mais adiante em sua carta, Paulo diz: "Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de aoites menos um; fui trs vezes fustigado com varas, uma vez apedrejado." (2 Co 11.24,25.) Esses penosos aoites deixaram-lhe cicatrizes, pois ele pde depois escrever aos glatas: "Ningum me moleste; porque eu trago no corpo as marcas de Jesus." (Gl 6.17.) Muitas vezes, juntamente com os aoites, houve "prises". Clemente nos diz que o apstolo foi aprisionado sete vezes, embora apenas quatro dessas ocasies estejam registradas nas Escrituras. Pelo menos duas delas tiveram durao de mais de dois anos. Assim sendo, Paulo teria passado pelo menos cinco anos na priso, talvez mais. Mas no foi s isso. Ele enfrentou tambm "tumultos". Isso referncia aos tumultos e violncia popular que algumas vezes ocorreram devido s drsticas mudanas sociais provocadas por sua pregao. Talvez nada seja mais assustador do que uma multido enfurecida, descontrolada, decidida a extravasar sua ira sobre algum infeliz. Mas em meio a tudo que enfrentou e a todos os sofrimentos, Paulo pde suportar com pacincia e com uma coragem triunfante, todas essas dificuldades.

O ltimo grupo de eventos que exigiam dele pacincia comea com os "trabalhos" que assumiu. O termo que ele emprega aqui significa um labor duro, incessante, que chegava ao ponto da exausto. Sem dvida, Paulo passou muitas horas empenhado no fabrico de tendas, a fim de poder pregar o evangelho sem ser pesado a ningum. Houve tambm "viglias", noites que passou sem dormir, empregadas em orao e meditao. No se tratava de uma questo de simples convenincia, mas essas coisas exigiam graa e dedicao. A seguir vm os "jejuns". Provavelmente, ele se refere aos perodos de jejum que observou, alguns por opo prpria, outros forado pelas circunstncias em que se encontrava. Esses jejuns cobraram uma pesada taxa em sua resistncia fsica e emocional, mas, em meio a eles, o apstolo venceu, suportando tudo com pacincia. A Revelao do Segredo Qual era o segredo dessa pacincia? No foi absolutamente a atitude do punho cerrado, do queixo erguido, ou a deciso da fora de vontade de mostrar ao mundo o quanto poderia suportar por amor a Cristo. Esse tipo de atitude logo deixaria qualquer um, at mesmo Paulo, desalentado e derrotado. Como alis aconteceu no incio da sua vida crist. No; o segredo da pacincia vitoriosa era a nova aliana tudo vem de Deus; nada de mim. Ele possua um certo trao de carter que o ajudava a atravessar as dificuldades. Tinha que ser estvel, ou quase, pois nunca sabia quando iria precisar dele. Consistia em quatro elementos. O primeiro era "pureza". Isso diz respeito a evitar rigorosamente todo o pecado que macula ou contamina a carne ou o esprito. Paulo nunca se permitiu ser apanhado num relacionamento com algum, em que fosse preciso contemporizar. Vigiava cuidadosamente sua vida mental, pois sabia que era ali que comeava a corrupo do pecado. Sempre que se via "flertando" com a impureza, logo apresentava o problema diante do Senhor Jesus, e recebia purificao e perdo. O segundo elemento era o "saber". Sua mente estava deliberadamente fixada na verdade que aprendera das Escrituras e pelas revelaes do Senhor. Julgava todas as coisas e pessoas, no do ponto-devista humano, mas do divino, que lhe era revelado pelo Esprito. A doutrina das Escrituras era sempre o seu guia. Em terceiro lugar, vinha a "longanimidade". O termo grego macrothumia significa pacincia principalmente com relao a pessoas. Por natureza, Paulo era impaciente e

muito exigente. Mas ele aprendera, com o Esprito de Deus, a esperar que os outros o alcanassem, a ser compreensivo com suas fraquezas, a esperar tranquilamente que o Senhor operasse a correo necessria, pois "para o seu prprio Senhor est em p ou cai". (Rm 14.4.) E, por ltimo, vinha o elemento "bondade". O vocbulo original foi explicado como sendo "bondade ou docilidade de temperamento, que sempre deixa os outros vontade e se nega a infligir dor a quem quer que seja". Essa atitude tinha que ser dirigida a qualquer um, sem acepo de pessoas, no importava se fosse um escravo, ou o prprio imperador. Foram essas quatro caractersticas do carter de Paulo que o capacitaram a ser paciente. Qualquer falha numa delas, a no ser que fosse momentnea, implicaria em derrota. As dificuldades e problemas o teriam dominado, e ele teria fracassado tristemente, deixando de demonstrar aquela pacincia triunfante que o recomendaria ao mundo que o observava. Ainda Mais Profundo Mas havia algo ainda mais profundo que essas caractersticas. Esses quatro elementos (pureza, saber, longanimidade e bondade) eram visveis a outras pessoas. Situavam-se na esfera da alma de Paulo, na sua vida consciente. Entretanto, mais no fundo, nas profundezas do seu esprito, achavam-se as foras que os sustentavam e possibilitavam sua manifestao. Por trs de tudo, e na base de tudo isso, estava o "Esprito Santo". A terceira pessoa da Trindade, o dom do Pai e do Filho, garantia de tudo quanto deveria vir, habitando permanentemente em seu corao, era a causa original de tudo que sustinha o apstolo Paulo. Seu constante prazer era transmitir ao apstolo, em todos os momentos, a vida de Jesus. O prprio Jesus, pelo seu Esprito, habitava nele, sustentando-o e capacitando-o, assim como deseja viver em ns, para sustentar-nos e capacitar-nos durante nossos momentos de provaes e tribulaes. Essa "vida de Jesus", invariavelmente, consiste de trs elementos: amor, verdade e poder. Assim, Paulo estava continuamente recebendo "o amor no fingido", "a palavra da verdade" e "o poder de Deus", os quais eram a razo de tudo que ele foi e fez. No admira que ele encarasse a vida da forma como encarou!

Os Observadores Mas Paulo ainda no terminou. Embora a nova aliana tenha por objetivo fortalecer-nos, ela tem esse objetivo para que possamos influenciar outros. Sempre h aquele mundo a observar-nos, diante do qual temos que ser recomendados. Por isso, a ltima categoria que Paulo apresenta aborda os efeitos das "armas da justia". Ele v o seu valor diante de Deus (isto , sua justia em Cristo) como uma espcie de espada ou lana com a qual combate s foras das trevas, libertando homens e mulheres que se acham cativos de Satans. Da o termo "armas da justia". A palavra justia aqui um termo sinttico, que rene os quatro elementos j mencionados no subgrupo anterior: pureza, saber, longanimidade e bondade. Essas quatro "armas da justia" tm um efeito poderoso sobre as pessoas, de maneira dupla. Primeiramente, essa justia influencia os outros interior e exteriormente. Jesus ensinou, no Sermo do Monte: "Ignore a tua esquerda o que faz a tua direita." (Mt 6.3.) Ao dizer isso, ele fez referncia nossa vida particular e pblica. A mo direita a pblica; a esquerda, a particular. Assim, os efeitos de uma vida justa atingem tanto os atos pblicos dos outros (suas relaes sociais), quanto sua vida particular (modificando suas atitudes). O verdadeiro cristianismo no opera mudanas superficiais ele transforma o homem interior e exteriormente. Depois, os efeitos desta transformao tm tambm duas facetas: "por honra e por desonra". Aqueles que Cristo liberta so colocados em diversas posies diante do mundo. Alguns podem ocupar cargos de honra, como Manam, membro da corte de Herodes, o tetrarca, mencionado em Atos 13, e Srgio Paulo, o cnsul romano que se converteu, mencionado no mesmo captulo. Outros sero homens e mulheres obscuros, que o mundo no conhece e com os quais no se importa. Mas at mesmo estes tero diversos tipos de aceitao. Alguns o sero "por infmia", enquanto outros "por boa fama". O prprio Jesus j havia previsto isso: "Se me perseguiram a mim, tambm perseguiro a vs outros; se guardaram a minha palavra, tambm guardaro a vossa." (Jo 15.20.) Mas sejam eles honrados ou desonrados pelo mundo, aceitos por infmia ou por boa fama, todos so igualmente amados por Deus, sendo propriedade dele; todos so igualmente capacitados pelo Esprito, se se decidirem a busc-lo; e espera-

se de todos que vivam perante o mundo de uma forma que recomende o evangelho. O Homem Paradoxal Nesta ltima caracterizao, Paulo passa agora a uma magnfica descrio final do crente que vive de maneira autntica diante do mundo. Ele no poder deixar de ser um enigma para os outros, pois sua vida consiste numa srie de paradoxos.
"Como enganadores, e sendo verdadeiros; como desconhecidos, e entretanto bem conhecidos; como se estivssemos morrendo, e contudo eis que vivemos; como castigados, porm no mortos; entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo." (2 Co 6.8b-10.)

Quase no necessrio acrescentar explicaes a essas palavras. Assim como esto j se mostram perfeitamente claras. Mas somente a pessoa que se posta, dignamente, entre os dois mundos, ajusta-se a essa descrio. Aqui, ele ou ela se achar numa situao altamente vulnervel, como uma corda estendida entre Deus e os homens. Temos que aceitar ser tachados de enganadores por uns, ser considerados como desconhecidos por outros, parecer constantemente ameaados e castigados, ser pobres e no ter nada, e no entanto saber que, diante de Deus, a verdade o inverso disso. Deus nos v como seus verdadeiros filhos, conhecidos dos cus, vivendo e regozijando no esprito, enquanto a carne perece, sempre transmitindo as riquezas de Cristo a muitos, e sendo herdeiros de toda a criao, quando o tempo se converter em eternidade. Abra Sua Vida! Portanto, no seria cabvel que o apstolo encerrasse esse seu grande discurso seno com um apelo ardoroso, partido das profundezas do seu corao:
"Para vs outros, 6 corntios, abrem-se os nossos lbios, e alarga-se o nosso corao. No tendes limites em ns; mas estais limitados em vossos prprios afetos. Ora, como justa retribuio (falo-vos como a filhos), dilatai-vos tambm vs." (2 Co 6.11-13.)

Para que o amor, a verdade e o poder operem plenamente preciso que haja responsividade. Cada um deles poder crescer at o infinito se for recebido com f, ainda que ela seja do tamanho de um gro de mostarda.

Paulo no estava retendo nada dos corntios. Ele lhes abriu seu corao, e revelou-lhes tudo que aprendeu com o Senhor. Sua fraqueza presente devia-se apenas a um fator: falta de responsividade s verdades conhecidas, a relutncia em agir com base no que j tinham aprendido. Ento, ele lhes faz um apelo como de pai para filhos: "Dilatai-vos tambm vs!" A atual condio de decadncia da igreja no mundo, certamente, se deve mesma causa. Os crentes j no creem no que cantam ou no que professam. Perderam a conscincia da grandeza de Deus e de sua capacidade para operar ainda hoje. O Dr. Martyn Lloyd-Jones, conhecido pastor da Capela Westminster, de Londres, fez, certa vez, um apelo semelhante ao de Paulo:
"Dirijo-me, principalmente, queles que so evanglicos. No podemos continuar nossa vida religiosa com os mesmos mtodos exatamente como se nada estivesse acontecendo ao nosso redor, e como se ainda estivssemos vivendo nos tranquilos dias da paz. Apreciamos certos mtodos! E como eles eram agradveis! O que poderia ser mais deleitoso para ns do que desfrutar de nossa religio da maneira que conhecemos h tanto tempo? Que bom seria apenas sentar e escutar! Que prazer intelectual, e talvez emocional e artstico tambm! "Mas, infelizmente, como esse modo de ser est, por vezes, desligado da realidade do mundo em que vivemos! Como ele tem pouco a oferecer aos homens que nada conhecem do que se passou e do nosso tipo de vida, que ignoram totalmente at o nosso idioma particular e as nossas pressuposies! E apesar disso, como estamos alheios e auto-suficientes! Como estamos distantes de um mundo conturbado, que v tremerem e abalarem-se os alicerces de tudo que mais prezava!"

Como so grandes as possibilidades que se abrem diante dos crentes, se eles forem dignos delas! Como o mundo ignora o tesouro que se encontram em seu bojo, na Igreja de Jesus Cristo! Mas como a igreja o ignora tambm! Imagine-se s o que trezentos milhes de "ministros da nova aliana" poderiam realizar, se comeassem a viver e trabalhar como Paulo viveu. Ser que voc queria agora dobrar seus joelhos diante do Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, e, em seu nome, clamar: "Pai, faz de mim um ministro da nova aliana. Abre meus olhos para que eu enxergue o pleno significado da verdade de que Jesus vive em mim, por intermdio do seu Esprito. Faz com que eu tenha fome e sede de justia para que, de acordo com tua promessa, eu possa ser farto. Amm."

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