2a Edição Ilegal Prazer
2a Edição Ilegal Prazer
2a Edição Ilegal Prazer
Konstantinos Kavfis
Konstantinos Kavfis
Traduo de
Fernanda Lima e Luciana Pvoa
Fernanda
Lima e Luciana Pvoa. Rio
Educacional, 2011.
ISBN 978-85-6025018-9
122p.
I. Poesia. II.Literatura Grega Moderna. III. Literatura
Homoertica
_________________________________________________________
_____
Capa: Criao a partir de gravura de Jackson Pollock
Konstantinos Kavfis
SUMRIO
Apresentao
9
De desejos e silncios: 45 poemas de (i)legal prazer
Fernanda
11
Lima
Luciana
Pvoa
Poemas Cannicos
entrada do caf
25
A mesa ao lado
27
A vitrine de tabacaria
29
Antes que o tempo os mudasse
31
Ao prazer
33
Assim muito observei
35
Belas e brancas flores quo bem convinham
37
Candelabro
41
Compreenso
43
Desde as nove
45
Desejos
47
Dias de 1903
49
Dias de 1909, 1910, 1911
51
Distante
53
Dois jovens entre 23 e 24 anos
55
Em desespero
59
Em um livro antigo
61
Incios
63
Jura
65
Lembra, corpo
67
Na rua
69
No vilarejo simplrio
71
O espelho da entrada
73
Konstantinos Kavfis
O sol da tarde
75
O 25. ano de sua vida
77
Passagem
79
Quando surgirem
81
Raramente
83
Retorna
85
Retrato de um jovem aos vinte e trs anos feito
por seu amigo da mesma idade, artista amador
87
Um de seus deuses
89
Um jovem da arte da palavra aos seus 24 anos
91
Poemas Escondidos
Ao ouvir o amor
95
Assim
97
Dezembro de 1903
99
Konstantinos Kavfis
10
Konstantinos Kavfis
APRESENTAO
O honroso convite das autoras Fernanda de
Lemos Lima e Luciana Pvoa para apresentar este livro
propiciou-nos
o
prazer
de,
uma
vez
mais,
mergulharmos no mar do chamado "Bero da
civilizao".
No se pode negar que a lngua e a literatura
gregas constituem uma inesgotvel fonte de riquezas
culturais, pois o que seria da cultura ocidental sem a
poesia de Homero, o teatro de Sfocles, a filosofia de
Scrates, dentre tantas outras formas de pensar e de
amar - como o amor grego - com as quais os gregos nos
aquinhoaram, e cujos ecos ressoam at os dias atuais.
A leitura atenta de "Antes que o tempo os
mudasse...45 poemas de (i)legal prazer", fielmente
traduzidos do grego, permite-nos conhecer a "poesis"
de Konstantinos Kavfis em sua forma autntica, sem
as freqentes distores das tradues que, muitas
vezes, se afastam do texto original.
Alm disso, a linguagem, embora simples, porm
pontual, empregada pelas tradutoras, nos envolve
numa atmosfera de amor, saudade, erotismo e,
sobretudo, sensualidade, caractersticas marcantes da
obra do poeta alexandrino.
Conclumos, pois, augurando, guisa dos
clssicos, que este livro no s encontre a merecida
acolhida junto aos amantes de lngua e de literatura,
mas tambm desperte em todos, especialistas ou no,
o desejo de sentir o aroma de seduo e erotismo que
exala de toda a obra, seduzindo-os a desfrutar de um
"(i)legal prazer".
11
SOBRE AS TRADUTORAS
Fernanda de Lemos Lima doutora em Cincia
da Literatura pela UFRJ, tendo estagiado na University
of Minnesota. Atua como professora de Lngua e
literatura gregas na UERJ. Sua produo acadmica
centra-se no estudo da Grcia moderna e da Alexandria
do Egito, mais especificamente, no estudo da poesia de
Konstantinos Kavfis. Publicou Entre quartos, ruas e
cafs: imagem da poesia homoertica de K. Kavfis;
participou da organizao e traduo da coletnea
Ertica Graeca, alm de ter traduzido com Luciana
Povoa Arte Potica, de Kavfis.
Luciana Pvoa mestranda da Ps-Graduao
em Cincia da Literatura da UFRJ. escritora de contos
e crnicas, que se encontram em seu blog e em seu
livro
Cutculas
em
Contrafluxo.
Dentre
seus
textos,merecem destaque Tributo s baratas,
Devaneios sobre um outrem acadmico, Vai ser
gauche na vida e a vermelhido dos cravos que
coibiu a plvora. Alm disso, traduziu com Fernanda
Lima, Arte Potica, de Kavfis.
12
Konstantinos Kavfis
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Konstantinos Kavfis
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Konstantinos Kavfis
Konstantinos Kavfis
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Konstantinos Kavfis
Passagem
As tmidas coisas que o estudante imaginou
esto abertamente reveladas diante
dele. E busca e vela
e deixa-se levar. E como
(para minha arte) verdade,
seu sangue, novo e quente,
o prazer que enleva. O seu corpo vence
a ilegal embriaguez ertica; e a juventude
1
LIMA, Fernanda Lemos de. Entre quartos, ruas e cafs: imagens da poesia
homoertica de K.P.Kavfis. Rio de Janeiro: Nonoar, 2007.
21
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POEMAS CANNICOS
K E
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, , .
ENTRADA DO CAF
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,
, .
.
.
.
, .
A , ,
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A MESA AO LADO
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, .
,
, .
,
, .
....
, .
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A VITRINE DA TABACARIA
31
X
.
.
.
,
.
, .
.
,
.
32
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33
.
,
.
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Konstantinos Kavfis
AO PRAZER
xtase e mirra de minha vida a memria das horas
em que encontrei e agarrei o prazer como o desejava.
xtase e mirra de minha vida em que abominei
cada gozo dos amores da rotina.
35
,
.
. . .
, ,
, , .
,
.... ,
, , ....
36
Konstantinos Kavfis
37
.
,
.
.
,
. , , .
,
.
, .
, , ,
, .
,
,
, .
,
,
, .
, .
: .
38
Konstantinos Kavfis
Foi ao caf
onde iam juntos.
O seu amigo ali
trs meses antes lhe disse,
No temos um centavo. Dois rapazes muito
pobres
o que somos arruinados em meio misria.
Digo-te claramente,
contigo no posso
mais
andar. Um outro,
saiba disto, me quer.
O outro oferecera
dois ternos, e alguns
lenos de seda.
Para traz-lo de volta
revirou o mundo,
e conseguiu vinte liras.
Voltou para junto dele
pelas vinte liras
mas tambm, alm delas,
pela antiga
amizade,
pelo antigo amor,
pelo profundo sentimento
deles.
O outro era um mentiroso, um verdadeiro
marginal.
Apenas um terno
tinha feito para ele, e
Isso, por insistncia,
com mil pedidos.
Porm agora nada mais quer
nem ternos,
nem de modo algum
os lenos de seda,
nem as vinte liras,
nem as vinte piastras.
39
No domingo o enterraram,
No domingo o enterraram,
40
s dez da manh.
faz uma semana.
Konstantinos Kavfis
,
.
,
:
.
41
puseram flores,
quo bem
aos seus vinte e dois
42
Konstantinos Kavfis
, ,
,
, .
,
,
.
.
43
CANDELABRO
Num vazio e pequeno quarto, quatro paredes
apenas,
cobertas por pano de todo verde,
um belo candelabro incandesce;
e em meio a sua chama arde
uma lasciva enfermidade, um lascivo ardor.
44
Konstantinos Kavfis
,
.
, ....
A .
,
.
.
,
.
45
COMPREENSO
Os anos de minha juventude, de minha vida de
prazeres
como vejo agora claramente seu significado.
Que arrependimentos desnecessrios, inteis...
Mas no via o significado ento.
Em meio juventude dissoluta de minha vida,
Foram moldados de minha poesia os impulsos,
Foi traada, de minha arte, a fronteira .
Pois tambm os arrependimentos de modo algum
eram slidos.
E as minhas resolues, coragem de suportar, de
mudar duravam, se muito, duas semanas.
46
Konstantinos Kavfis
.
,
. ,
.
.
,
,
,
!
,
,
,
.
, ,
,
.
. .
. .
DESDE S NOVE
47
48
Konstantinos Kavfis
, , ,
, .
DESEJOS
Como belos corpos de mortos que no
envelheceram
Com lgrimas fechados em suntuoso mausolu,
49
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Konstantinos Kavfis
1903
....
,
.... ....
,
.
, ,
.
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DIAS DE 1903
Nunca mais os encontrei...to depressa perdidos...
os olhos poticos, o rosto plido,
plido...no escurecer da rua.
Nunca mais os encontrei to por acaso meus,
e quo facilmente deixei-os ir;
e com tanta agonia os desejei depois.
Os olhos poticos, o rosto plido,
aqueles lbios; nunca mais os encontrei.
52
Konstantinos Kavfis
53
DIAS DE 1909, 10 e 11
Um oprimido, de um pobre marinheiro
(de uma ilha do Mar Egeu) era filho.
Trabalhava em uma serralharia. Roupas surradas
trajava.
Seus sapatos de trabalho furados e miserveis.
Suas mo eram sujas de ferrugem e graxa.
tarde, ao fechar a loja,
como nada havia que desejasse muito,
alguma gravata um tanto cara,
alguma gravata para o domingo,
ou na vitrine houvesse e quisesse muito
alguma bela camisa azul.
seu corpo por uma moeda ou duas vendia.
Me pergunto se nos tempos antigos
a gloriosa Alexandria teve um jovem de tamanha
beleza,
um to perfeito menino como este que vive
esfarrapado
,
no foi feita, certamente, esttua ou pintura sua;
na velha loja, um ferreiro desgastado,
rapidamente pelo fatigante trabalho,
e pelo vulgar desregramento, miservel, estaria
arruinado.
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Konstantinos Kavfis
...
...
, .
...
A A ; ...
, , ...
A , .
55
Distante
Queria dessa memria falar...
Mas assim se apagou sem nada trazer de volta
Porque distante, nos primeiros anos da minha
juventude est.....
Pele como feita de jasmim
Aquele agosto era agosto? o anoitecer...
Mal me lembro dos olhos. Eram, creio, azuis...
Sim, azuis, de um azul cor de safira.
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, 23 24
A ,
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.
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. A ,
:
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, , .
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, ,
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, ,
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(, , ):
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, ,
, , .
,
,
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.
, .
, .
,
, .
.
, .
A ,
.
EM DESESPERO
Perdeu-o por inteiro.
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Konstantinos Kavfis
,
.
.
, .
, .
( )
,
,
,
,
.
63
EM UM LIVRO ANTIGO
Em um livro antigo com cerca de cem anos
Em meio s suas folhas esquecidas,
Encontrei uma aquarela sem assinatura.
Era de grande arte em fino trabalho.
Trazia como ttulo, Presena de Eros.
Mais adequado seria " do Eros dos extremados
estetas
Pois era evidente, para quem visse a obra
(facilmente se percebia a idia do artista),
que para aqueles que amam um pouco a sade
e dentro dos limites lcitos permanecem de alguma
forma
no era destinado o efebo
da pintura com escuros olhos castanhos;
com seu rosto de rara beleza,
a beleza das anmalas tendncias;
com seus lbios ideais que trazem
o prazer ao amado corpo;
com seus membros ideais esculpidos para camas
chamadas vergonhosas pela moral corrente.
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Konstantinos Kavfis
. A ,
.
,
,
.
.
A, ,
.
INCIOS
Por completo o ilegal prazer
se deu. Do leito se levantam,
65
66
Konstantinos Kavfis
.
A
,
, K T
,
, , .
67
JURA
Jura a de tempo em tempo comear uma vida
melhor.
Mas quando vem a noite
com seus conselhos,
com seus acordos,
e com suas promessas;
mas quando vem a noite
com sua fora
o corpo que deseja e procura o mesmo
xtase fatal, perdido, retorna.
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Konstantinos Kavfis
, ...
, ,
,
,
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,
,
,
, , , .
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LEMBRA, CORPO...
Corpo, lembra no s o quanto foste amado,
no s os leitos em que deitaste,
mas tambm os desejos que por ti
brilhavam nos olhos, claros,
e tremiam na voz e alguma
barreira do acaso os frustrou.
Agora que tudo j passado,
parece que queles desejos
tambm te entregaste, como brilhavam,
lembra, nos olhos que te fitavam;
como tremiam na voz, por ti, lembra, corpo.
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Konstantinos Kavfis
o
,
,
,
,
,
,
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NA RUA
O rosto agradvel, cabelos cinzentos
O castanho dos olhos, como exaustos:
Vinte e cinco anos, mais parece vinte;
algo na cor da gravata, o desenho do colarinho
72
Konstantinos Kavfis
,
,
,
,
.
, ....
73
NO VILAREJO SIMPLRIO
No vilarejo simplrio onde trabalha
empregado em um estabelecimento
comercial; muito jovem e onde espera
ainda, dois ou trs meses passarem,
ainda, dois ou trs meses, at que se reduza o
trabalho,
e assim partir para a cidade e se lanar
ao movimento e ao recreio imediatamente;
no vilarejo simplrio em que aguarda,
em meio ao sono o prazer sobrevm; em meio
ao sono v e possui a forma, a carne que deseja...
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Konstantinos Kavfis
,
.
,
( , ),
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,
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, .
.
. .
,
,
,
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O ESPELHO NA ENTRADA
A rica casa mostrava na entrada
um enorme espelho, assaz antigo:
h pelo menos oitenta anos comprado .
Um belssimo rapaz, empregado de um alfaiate
(aos domingos, atleta amador)
estava de p com o pacote. Entregou-o
a algum da casa, e ele o leva para dentro,
para trazer o recibo. O empregado do alfaiate
sozinho aguardava.
Acercou-se do espelho e, mirando,
esticou a sua gravata. Aps cinco minutos
trouxeram-lhe o recibo. Pegou-o e saiu.
Mas o antigo espelho que tinha visto e avistado,
ao longo dos muitos anos de sua existncia,
milhares de objetos e rostos.
Mas o antigo espelho, agora pleno de alegria,
se orgulha de ter recebido diante de si
a perfeita beleza por alguns minutos.
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Konstantinos Kavfis
, .
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, , .
A , .
,
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, , .
.
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.
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...A ,
... A,
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O SOL DA TARDE
Este quarto quo bem o conheo.
Agora est alugado e o do lado tambm
para escritrios comerciais. Todo a casa converteuse em escritrios de agentes, comerciantes e
companhias.
Ah, este quarto, como familiar.
Perto da porta, aqui, era o sof
e sua frente, um tapete turco;
perto dali, a prateleira com dois vasos amarelos.
direita; no, do outro lado, um armrio com
espelho.
No meio, a mesa em que escrevia;
e as trs grandes cadeiras de palha.
Junto janela, ficava a cama
em que nos amamos tantas vezes.
Encontram-se ainda em algum lugar os pobres
objetos.
Junto janela, ficava a cama;
O sol da tarde projetava-se at a sua metade.
...uma tarde, s quatro horas, nos separamos
por uma semana apenas... Ah,
aquela semana jamais se findou.
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P .
A ,
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, ,
.
. A .
.
A .
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.
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, .
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, ,
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, ,
. , ,
. ( )
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, ,
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,
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PASSAGEM
As tmidas coisas que o estudante imaginou
esto abertamente reveladas diante
dele. E busca e vela
e deixa-se levar. E como
(para minha arte) verdade,
seu sangue, novo e quente,
o prazer que enleva. O seu corpo vence
a ilegal embriaguez ertica; e a juventude
se rende sua brandura.
E, assim, um rapaz simples
torna-se digno de ser visto, de sua superioridade
o Mundo da Poesia um instante toma, este
o sensual menino, com seu sangue novo e quente.
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, ,
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, , .
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,
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QUANDO SURGIREM
Poeta, empenha-te para que as retenha
enquanto so poucas as que se estancam
as quimeras do erotismo teu.
Incute-as, levemente encobertas, nos versos teu.
Poeta, avigora-te para que as retenha,
quando surgirem em tua mente,
noite ou ao resplandecer do meio-dia.
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. ,
, ,
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RARAMENTE
um velho. Decrpito, curvado,
vencido pelos anos e os excessos,
ele atravessa a passo lento o beco.
Enquanto volta casa, que lhe oculta
a runa e a velhice, medita
acerca do que est aos jovens destinado.
Agora seus versos adolescentes lem.
Seus olhos vivos suas vises recriam,
fremem suas mentes ss, voluptuosas,
e suas carnes firmes, bem talhadas
com a beleza por ele revelada.
86
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,
,
,
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...
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RETORNA
Retorna sempre e toma-me,
amada sensao volta e toma-me
quando acorda do corpo a memria,
e desejos antigos o sangue retomam,
quando os lbios e a pele lembram
e sentem as mos como tocam mais uma vez
Retorna sempre e arrebata-me noite,
quando os lbios e a pele lembram.
88
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,
.
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).
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...
,
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, ,
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, . A ,
,
,
,
, ,
,
A,
, .
UM DE SEUS DEUSES
91
, T 24
, .
.
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.
,
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(
.
).
, .
.
(
) .
.
,
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, .
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Konstantinos Kavfis
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POEMAS ESCONDIDOS
96
Konstantinos Kavfis
. , ,
, .
A .
97
AO OUVIR O AMOR
Ao ouvir o enrgico amor, estremea e comova-te
como esteta. De modo que, afortunado que s,
lembre o quanto a tua fantasia criou: Estes
primeiros
e, depois, outros um pouco menores que na
tua vida
experimentaste, os mais verdadeiros e palpveis.
98
Konstantinos Kavfis
( ) ,
,
.
,
.
, ,
,
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99
ASSIM
Naquela licenciosa fotografia que, s escondidas,
na rua foi vendida (a polcia no poderia perceber).
Naquela obscena fotografia
como se encontrava um tal rosto
de sonhos. Aqui como tu te encontravas.
Quem sabe aviltada, vulgar vida viveria:
quo ignbil seria o ambiente
no momento em que posou para ser fotografado;
quo rasteira seria sua alma.
Entretanto, como tudo isso, e mais, para mim
continuas
o rosto dos sonhos, a beleza
para helnico prazer moldada e ofertada
Assim, para mim permaneces e te fala a poesia
minha.
100
Konstantinos Kavfis
1903
, ,
,
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,
, .
101
DEZEMBRO de 1903
Se sobre o meu amor no posso falar
Se no falo sobre teus cabelos, teus lbios, teus
olhos,
Igualmente o rosto teu que guardo em minha
alma,
O eco de tua voz que guardo em meu pensamento,
Os dias de setembro que amanhecem em meus
sonhos
As palavras e frases minhas moldam e matizam
Para aquele tema se o tomasse, aquela idia se a
dissesse.
102
Konstantinos Kavfis
,
.
.
.
;
. ,
.
103
104
Konstantinos Kavfis
A
.
.
.
.
A
.
.
105
ESCONDIDOS
Por tudo o que fiz e disse
no pretendam descobrir quem fui.
Um obstculo se impunha e transviou
as aes minhas desde o primeiro momento da
vida.
Um obstculo se impunha e me deteve
incontveis vezes quando comeava a falar.
[quando iniciava o transbordar de verbos]
A mais imperceptvel atitude minha
e os meus escritos os mais velados
por aqueles apenas poderei ser compreendido.
Contudo, talvez no valha a pena empregar
tanto esmero e labor para me compreender.
Um dia numa sociedade mais perfeita
um outro feito eu,
certamente, aparecer e livre se far.
106
Konstantinos Kavfis
1904
A ,
,
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A ,
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, , ,
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107
JANEIRO de 1904
Noites outonais de janeiro,
ao assentar-me e recriar com a mente
aqueles momentos e te encontrar,
e ouo as minhas derradeiras palavras e ouo as
primeiras.
Desesperadas noites outonais de janeiro,
como escapa a viso e me deixa s.
Como foge e se desfaz clere
todas as rvores, ruas, casas, luzes.
Apaga-se e se dissipa a tua ertica beleza.
108
Konstantinos Kavfis
,
, . ,
, .
, , . A
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,
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, ,
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MEIA HORA
Nem te possu, nem te possuirei
jamais, eu presumo. Algumas conversas, uma
aproximao
como no bar anteontem, e nada mais.
Embora no diga, uma lstima. Mas para ns da
Arte,
por um instante, habita a alma, e de fato
por curto tempo, engendramos o prazer
que fantasio como se fosse real. Assim como no
bar anteontem socorrido ainda
muito pela piedosa bebida
possu meia hora inteiramente ertica.
E tu percebeste, parece-me,
e ficamos mais um pouco de propsito,
o desejo era intenso. Pois
com toda fantasia, com o mgico vinho,
precisava ver teus lbios,
precisava possuir teu corpo.
110
Konstantinos Kavfis
,
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,
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A .
111
NAS ESCADAS
Quando descia as infames escadas
Da porta surgias e, por um momento,
Vi seu rosto desconhecido e tu me vistes.
De pronto me escondi para que no me visses
novamente
E tu passaste rpido com o rosto escondido
E te consumias na casa infame
Onde prazer no encontrars assim como no
encontrei.
E o amor que desejavas ter eu te daria:
O amor como queria eu os teus olhos cansados
e suspeitos me disseram terias dado a mim.
Os nossos corpos sentiriam e mendigariam.
Nosso sangue e pele compreenderiam.
Mas nos escondemos os dois amedrontados.
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Konstantinos Kavfis
.
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O OMBRO ENFAIXADO
Disse que bateu num muro ou que caiu.
Mas provavelmente a razo seria outra
para o ombro ferido e enfaixado.
Por conta de um movimento um tanto brusco
em direo estante, para descer algumas
fotos que queria ver de perto,
soltou-se a faixa e um pouco de sangue escorreu.
Novamente enfaixei o ombro, e demorei-me
um pouco nesta tarefa, pois no doa
e agrada-me ver o sangue. Coisa
do meu amor era aquele sangue.
Assim que saiu, encontrei sobre a cadeira em
frente
um pano das ataduras manchado de sangue,
pano que parecia dever ir direto para o lixo
e que sobre meus lbios mantive eu,
e que beijei por um longo tempo
o sangue do meu amor sobre meus lbios.
114
Konstantinos Kavfis
1903
.
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SETEMBRO de1903
Ao menos com os vagabundos me divirto agora.
moralidade de minha vida, no dou importncia.
E estive tantas vezes to perto
E como me paralisei e como temi
Porque permaneci com os lbios cerrados
Em meio a mim lamentava-se a moralidade de
minha vida
Tantas vezes to perto de mim estava
Dos lbios erticos, do sonhado e amado corpo
Tantas vezes to perto estive.
116
Konstantinos Kavfis
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POEMAS INACABADOS
118
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CORES
Os vermelhos, amarelos e violetas
das flores so belos, eu admito.
Todavia, a cor como fantasio,
perene e pura cor,
meu pensamento no leva s flores, mas
ao vermelho do rubi ou do coral,
ao amarelo do topzio e ao ouro,
ao violeta das safiras e das turquesas.
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Konstantinos Kavfis
,
( .
),
.
,
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, ,
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A FOTOGRAFIA
Contemplando a fotografia de um companheiro
seu,
A bela juventude do rosto
(agora j perdida data de noventa e dois a
fotografia),
Sobreveio a melancolia por sua efemeridade.
Mas, ao menos no desapareceu
sua estria nem de todo a ridcula vergonha,
dos dois o amor impedido e desfigurado fora.
Vcios, indecncias de tolos,
A sensao ertica dos dois plena jamais se
tornou.
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Konstantinos Kavfis
... ,
:
,
,
...
123
GNESE DO POEMA
Uma noite em que a luz Selene bela
Em meu quarto se derramava, a fantasia, algo
furtado vida: nfimas coisas
Uma cena remota, uma prazer remoto
a sua imagem trouxe, viso da carne,
a sua imagem para uma cama ertica...
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Konstantinos Kavfis
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