Escritos de Camilo, Por Júlio Dias Da Costa
Escritos de Camilo, Por Júlio Dias Da Costa
Escritos de Camilo, Por Júlio Dias Da Costa
DE CAMILO
1- CARTAS
II- NOTAS EM LIVROS
NO"ICIA POR
JLIO DIAS DA COSTA
PORTVGAUA
EIITOitA
7S, Rua do Carmo, 75
LISBOA
Jg:t3
ESCRITOS DE CAMILO
Desta obra jez-se uma tiragem especial de cin-
qenta exemplares, numerados e assinados pelo
anotador.
ESCRITOS
DE CAMILO
I- CARTAS
II- NOTAS EM LIVROS
NOTCIA POR
JLIO DIAS DA COSTA
PORTVGALIA
EDITORA
7S, Rua do Carmo, 7S
LISBOA
1922
MEMRIA
DE
Aquiles Gonalves
cS morrem ae toao aquelles
que no aetxam na terra um
corao onde viva a sua me-
moria queriaa."
Camilo.
Entre os escritos de Camilo so sem dvida dos
mais interessantes as cartas e as notas margem
dos livros da sua livraria.
Todas as pessoas que a estudos camilianos se
dedicam, conhecem e apreciam essas duas espcies
de escritos no destinados ao pblico e, portanto,
revelando a figura do autor tal como era na reali-
dade.
E' nas cartas que le nos aparece em toda a sua
grandeza e em todas as suas misrias i por isso eu
entendo que todas elas devem ser publicadas, todas,
sem excluso daquelas que o deixem em situao
menos primorosa quanto s suas qualidades de ca-
rcter.
E' preciso que nos de que estudar
Camilo no tem por fim dar-lhe um lugar no Flos
Santtorum, faz-lo entrar no reino dos cus.
Para estudar a obra de qualquer escritor, in-
dispensvel conhecer a sua vida, as suas paixes,
os seus vcios, as suas virtudes, em suma, todos os
8
elementos que influem nessa obra, e em Camilo,
particularmente, necessrio sse conhecimento
porque os seus livros a cada passo reflectem o seu
estado de alma determinado pelas convulses da
sua agitada vida, sobretudo no campo passional.
Assim, para que se possa fazer um estudo sciente
e consciente da sua figura literria, condio ba-
silar o conhecimento profundo do homem na sua
Tida particular e at mesmo na ntima.
Bem sei que certos piegas se
horrorizam com essa idea, acoimando de bisbilho-
teiros e de senhoras vizinhas os que como eu pen-
sam. So uns que dizem que para conhecer e apre-
ciar a obra no preciso indagar da vida do autor.
So os que separam a personalidade do homem da
do escritor.
So os mesmos que diferenam' a honestidade po-
litica da honestidade pessoal, inveno extrema-
mente cmoda para que qualquer malandrim faa
todas as tropelias polticas sem deixar de ser um
homem de bem.
Homem de bem porque paga as suas dvidas e
no rouba carteiras . .Mas pode vender o pai e a me
por dez votos. Isso e um acto do poltico. O homem
fica sempre imaculado.
Ora sse sistema de conhecer a obra sem saber
do autor, est muito bem para quem l os romances
pelo seu erzrdo e nada mais.
Est muito bem para as mepinas que deliram com
o Amor de Perdio, mas no serve para mais nada.
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O estudo, digno dsse nome, da obra dum escri-
tor - Camilo, no caso presente - no pode ser de-
sacompanhado do estudo do homem.
Para sse trabalho devem ser aproveitados todos
os elementos e inegvel que as cartas so dos mais
valiosos, como j tem sido reconhecido por tantas
pessoas.
J em 1905, ao comear, no mensrio portuense
A Revista, a publicao das cartas de Camilo a
Martins Sarmento, Joo de Meira escrevia: A cor-
respondencia de Camillo Castello Branco constitue,
a julgar pelo que d'ella tem sido dado a lume, um
brilhante commentario da sua obra e da sua perso-
nalidade. E seria um incontestavel servio prestado
s lettras patrias, a par de uma merecida homena-
gem memoria do escriptor a publicao metho-
dica, no s das cartas dispersas por varias obras
como tambem a de todas aquellas que ainda hoje se
acham ineditas e so muitas, ao que parece,))
Foram estas palavras escritas em 8 de Maro de
1905. O seu autor morreu prematuramente, em
pleno vigor do seu grande talento. .
Esto passados m8is de dezassete anos e a com-
pilao sistematizada est por fazer.
Est por fazer, mas estou certo de que se far.
Chega sempre a hora da justia.
Mas, para que se leve a cabo essa obra defini-
tiva, preciso que todos os detentores de cartas as
pr.bliquem ou facilitem a outrem sse trabalho.
S assim o organizador da compilao metdica
10
encontrar os elementos necessrios, a matria pri-
ma para a sua tarefa.
Muitas das cartas publicadas encontram-se em
revistas e jornais, o que dificultar o trabalho do
compilador.
. E' certo que essas dificuldades sero em parte
removidas pelo trabalho de Cardoso Marta que se
props renir em livro muitas dessas cartas disper-
sas, trabalho de que, at agora, apenas sau o pri-
meiro volume.
A compilao de Cardoso Marta prestar, se fr
por diante, um valioso servio ao futuro coordena
dor da correspondncia de Camilo, metodicamente
disposta.
Por minha parte, alguma cousa tenho feito no sen-
tido de coligir elementos para o trabalho a fazer.
Publiquei uma carta dirigida a Toms de Carvalho,
as escritas a Trindade Coelho e as que pude obter
relativas ao lvro Obolo s Creanas. Alm disso,
forneci a Cardoso Marta muitos elementos para a sua
obra j referida.
Tenho feito alguma cousa e por isso que digo
o que se deve fazer. Se nada tivesse feito, nada di-
ria porque nunca envergaria o hbito de Fr. Toms
que, entre todos os frades, me especialmente an-
tiptico.
Continuando a cumprir o dever - que por estar
em desuso no deixa de ser elementar - de proce-
der em conformidade com o que digo, venho hoje
trazer a pblico mais algumas cartas.
11
Alm delas, publico tambem as notas que Ca-
milo escreveu em vrios livros que lhe pertenceram.
E' sabido que le anotava quase todos os seus li-
nos, medida que os ia lendo.
Naquele remanso da aldeia lia tudo o que lhe
caa s mos, fsse o que fsse - at relatrios de
bancos e companhias. Aquela retina estava sensibi
lizada para a letra de frma ; quando lhe faltou ste
pasto estsico, a cabea foi descando at encontrar
o cano do revlver que a estourou. Lia e comentava,
crivando com freqncia as margens de ironias do
seu punho ; raro quem lhe escapasse ao ferro sa
trico.:., escreveu h pouco o sr. Dr. Ricardo Jorge.
Ento o seu gnio, em plena liberdade, expandia
a veia crtica e nada perdoava ao autor do livro,
amigo, inimigo ou simples desconhecido.
O mais insignicante rro, a mais ligeira incor-
reco gramatical, uma opinio menos conforme com
a sua, eram logo anotados com o seu formidvel sar-
casmo, e, deve reconhecer-se, quase sempre com
razo.
Tem-se dito que Camilo anotou os seus livros em
Ysperas de os leiloar, valorizando-os assim para que
mais rendesse a operao.
Albino Forjaz de Sampaio comenta: tolltice.
Eu, mais camilianamente, direi : aslleira.
Algum o disse e muitos o teem repetido sem
pensar um minuto, tempo mais que suficiente para
o imenso talento do compatriota medir a grandeza
do isparate.
12
De facto, essa tarefa de anotar eruditamente cen
tenas de livros, de afogadilho, seria um calvrio de
nova espcie para o torturado escritor, como diz Al-
bino Forjaz.
Mas h mais. Camilo, depois do leilo, continuou
anotando os livros que lhe ficaram ou que depois
adquiriu, e certamente no era com a idea de fazer
ainda outro leilo.
A prova encontra-se no catlogo dos livros que a
famlia do romancista vendeu para o museu, que
est publicado no Camillo Homenageado. A figu-
ram muitos livros anotados por Camilo e publicados
depois de 1883, o que afasta a suspeita, que pode-
ria surgir, de que tais livros estivessem destinados
ao leilo realizado naquele ano e por qualquer mo-
tivo no tivessem sido leiloados.
Citarei ainda dois casos a que encontro refern-
cia em artigos do sr. Dr. Ricardo Jorge.
Trata-se de dois livros que S. Ex. possui.
Um deles, o drama D. lgnez de Castro, de J-
lio de Castilho, est copiosamente anotado e no an-
te-rosto tem, por letra de Camilo, o seguinte :
Relido em 22 de Dezembro de 85.
O outro livro o Anti-Christo, de Gomes Leal,
e tem tambem curiosssimas notas camilianas, sen-
do uma assinda e datada de 13 de 1\taio de 18 8 6.
Ora o leilo realizou-se em 1883, como disse.
Estes casos, e com certeza muitos outros haver,
bastam para provar a inanidade da tolice que tem
feito carreira e que uma das muitas que, com uma
13
assombrosa receptividade, o portugus ouve, acre-
dita e repete sem exame, muito especialmente
quando nelas h algo de venenoso.
Muitas notas vieram j a pblico.
O . falecido Diogo Serornenho e os srs. Albino
Forjaz de Sampaio, lvaro Neves, Dr. Antnio Ca
bral e Dr. Jorge de Faria teem contribudo larga-
mente para essa utilssma obra.
Outros h ainda, mas, para no alongar a lista,
.tpenas me referirei ao falecido Dr. Teixeira de Car-
valho, tam querido das geraes acadmicas que por
Coimbra passaram nos ltimos quarenta anos, o
eterno rapaz a quem nem as insgnias doutorais
nem as apostlicas barbas prematuramente embran-
quecidas toldaram a exuberante alegria do seu es-
prito sempre moo.
Pouco antes de falecer, publicou le no Boletim
da Biblioteca da Universidade uma desenvolvida no-
ticia duma obra anotada por Camilo, existente nesse
estabelecimento.
E' o Ensaio Biograplzico-Critico, de Costa e Silva.
So muitas e muito curiosas as notas e inte-
ressantssimo o artigo (recentemente reproduzido no
opsculo Dois captulos sbre Camilo Castelo
Branco), pelo que lhe fao aqui referncia especial,
consagrando ao mesmo tempo uma sadade me-
mria de Quim Martins, como carinhosamente nos
habitumos a chamar-lhe ns todos os que em Coim-
bra tivemos a felicidade de com le conviver dia a
dia.
14
Por minha parte, quero eu tambm oferecer aos
amadores de Camilo algumas notas, e estou certo de
que assim lhes presto um servio. Uma srie de
acasos felizes permitiu-me obter alguns livros ano-
talos pelo .Mestre e copiar as notas doutros que no
pude adquirir.
Creio que todas so inditas ; no o afirmo, po
rm. Na vastssima matria que a obra camiliana
nada se pode afirmar categoricamente neste ponto.
Quando menos se espera, aparece um almanaque,
um jornal sertanejo, uma revista, apresentando-nos
uma novidade. H 25 anos que colecciono espcies
camilianas e pouco teria aprendido se no tivesse,
pelo menos, colhido ste til ensinamento.
Quando publiquei as Cartas de Camilo a Tritz-
dade Coelho, tive o mesmo cuidado que agora te
nho, de no afianar que elas eram inditas, e na:o
nie arrependi, pois logo o meu amigo e confrade
Jorge de Faria me avisou de que uma j fra publi-
cada. Assim era, de facto; nem Jorge de Faria
homem que se engane em cousas camilianas.
A carta sara na Revista lllustrada.
Seja como fr, inditas ou no, nada se perder
em publiclas agora.
Em todas elas, bem como nas cartas, conseno
rigorosamente a grafia do original. E' o sistema que
tenho seguido nas publicaes anteriores.
Na:o o fao, porm, para respeitar a ortografia
de CamUo, essa encantadora cousa que para a se
inventou. Nada disso.
15
A reproduo letra por letra tem por fim, prin-
cipalmente, fornecer mais alguns elementos de prova
de que Camilo nunca se preocupou com a ortogra-
fia.
Isto para os que quiserem ver, no para os cegos
de profissao. sses que, segundo a sabedoria das
naes, so os piores, no se convencero, antes
ho de continuar quixotescamente a bater-se por sua
dama que s existe nas suas mentes alucinadas.
A ortllgrafia de Camilo ! Deliciosa blague !
E por aqui me fico quanto ao ponto, que no
ste o lugar prprio nem eu o competente para de-
monstrar a sem-razo os paladinos. A demonstra-
o ser feita por quem da direito.
E' tempo de terminar estas consideraes j bas-
tante extensas. Oxal que o leitor tenha chegado at
aqui (o que no creio, pelo muito que respeito o seu
bom gsto) para ler estas palavras do Dr. Teixeira
de Carvalho, no citado artigo, palavras que trans-
crevo por terem inteira aplicao ao presente tra-
balho:
Publicando as notas de Camilo, procuramos mais
do que dizer o que essas notas nos sugeriram, mos-
trar o prazer que tivemos com a sua leitura, dando
a cada camilianista a possibilidade de pr no seu
exemplar do Ensaio Biogra.ftco-Critico as notas de
Camilo, que aqui lhe deixo fielmente copiadas, e
deitar fora depois ste pequeno estudo que fizemos
para distrar de maiores canseiras.
16
Onde est o ttulo da obra de Costa e Silva, .po-
nha o leitor os dos livros de que aqui se vai tratar,
e fica certo.
Depois, s transcrever para o seu exemplar de
cada um as notas de Camilo e deitar fora ste aran
zel.
Assim aplicar integralmente a receita de Quim
Martins, certamente a ltima que fez o meu querido
amigo.
Monte Aguo, 1922.
PRIMEIRA PARTE
CARTAS
2
As cartas que vo ler-se pertencem, em grande
parte, ao meu amigo Lus Ferreira Lima.
Sabendo que eu estava preparando um trabalho
sbre notas de Camilo e que, em apndice, publica-
ria algumas cartas, o meu amigo e dedicado camilia-
nista ps minha disposio as que possua, para
que eu, se assim o entendesse, as inclusse no meu
trabalho.
Quis assim colaborar em mais uma homenagem a
Camilo, dando ao mesmo tempo uma prova de ter
uma noo justa do que seja ser camilianista.
Para muitos, ser camilianista aambarcar esp
cies camilianas, para as aferrolhar avarentamente e
viver da vaidadezinha de ter esta ou aquela raridale
que outros no possuem.
Lus Ferreira Lima no assim, como no Jorge
de Faria (adiante se ver), como no so, em suma,
os camilianistas inteligentes.
A esplndida coleco de Lus Ferreira Lima
por le facultada a todos os que dela precisam para
20
estudar qualquer assunto camiliano. O caso presente
bem o prova.
Pertencem ao meu amigo as primeiras trinta car-
tas que hoje publico. De quase todas possui os ori-
ginais ; apenas duma, a XXIX, tem s cpia.
Devo dizer que nem todos sses escritos so cartas
propriamente ditas. Alguns so pequenas comunica-
es escritas em quartos de papel (XXII a XXV),
outro (XXVI I I) um telegrama. Ds te tambm fer
reira Lima no tem o original, como bem se compreen
de. Tem o prprio telegrama.
Na sua quase totalidade, essas cartas foram diri-
gidas a D. Ana Plcido.
So, principalmente, boletins sanitrios, para usar
a expresso que o prprio autor empregou numa
delas.
As suas doenas so o assunto principal das car-
tas e as queixas que nelas se encontram, no sero,
talvez, de despresar, para os tcnicos que saibam in-
terpret las.
Mas outros aspectos curiosos existem nesses do-
cumentos, tais como os carinhosos cuidados com a
sade de Jorge, o minucioso relato de todos os actos
e palavras do filho predilecto e as preocupaes com
cousas domstici]S, adquiridas nas viagens ao Prto.
Outro ponto interessante o que respeita Amlia.
Em muitas das cartas se refere Camilo a essa se-
nhora, sempre afectuosamente, e em algumas se v
que ela tinha toda a considerao por D. Ana Plcido.
Ora a Amlia , todos o sabem, a Senhora D.
21
Bernardina Amlia Castelo Branco de Carvalho, filha
de Camilo, felizmente ainda hoje viva.
E' a mesma senhora contra quem se fez uma cam-
panha lamentvel, logo aps a morte de Camilo, ne-
gando que ela fsse sua filha.
Parece que havia receio de que a glria, ,pois no
se tratava de bens a herdar, no chegasse para todos
os descendentes do homem de gnio.
Essa campanha, deplorvel em si e nos processos
usados, foi feita em jornais e num opsculo assinado
por Nuno Castelo Branco, mas, ao que se diz e pa-
rece averiguado, foi orientada por Ana Plcido.
Que a campanha foi feita de m f, j h muito
tempo se sabe, nem era de admitir a boa f quando
o prprio Camilo tantas vezes, tcita e expressa-
mente, at em documento autntico. como o assento
de baptismo dum filho daquela senhora, confessou a
paternidade.
Do triste documento. que o opsculo, uma das
partes mais tristes aquela em que o seu autor pre-
tende, com argumentos pueris, mostrar o nenhum va-
lor probatrio daquele registo, quanto matria em
discusso.
Isto quando Camilo assinou como padrinho o as
sento em que se diz que o padrinho foi o av ma-
temo, Camilo Castelo Brar:tco.
Est, de h muito, mais do que provada a inani-
dade da campanha, est mais do que provada a m
f. No merecia o caso que se voltasse a tocar-lhe e
eu no o faria se no viesse agora a propsito.
22
Antes de passar adiante, permita-me o leitor algu-
mas observaes a respeito de parte das cartas.
A que tem o nmero II foi publicada em 1 de Ju-
nho de 1918, no ]ornai e Estremoz.
Na carta V fala Camilo do mdico Guerra a quem
foi consultar. Deve ser o Dr. A. Guerra (Augusto Se-
bastio Guerra, a quem se refere o Dr. Maximiano
Lemos no Camilo e os Mdicos) que em 1886 re-
cebeu de Camilo um relatrio dos seus sofrimentos.
O mdico respondeu com urna carta em que d o
seu parecer no sentido de que o padecimento dos
olhos de origem sifiltica. E', corno se v, o mesmo
que Camilo diz nesta carta V. A carta do dr. Guerra
est no museu de Seide e vem registada no livro
Camillo Homenageao, com o n.
0
338.
Ainda na mesma carta, bem corno na XIII, h re-
ferncias a Espinho que o sr. Manuel de Ascen-
so Espinho, grande amigo de Camilo, hoje funcio
nrio superior de finanas em Lisboa.
Nas cartas VII, VIII, XVI e XXII, h palavras
pouco agradveis para Silva Pinto. Os dinheiros de
qne se trata so as quantias pagas por Camilo e por
Ana Plcido ao pedreiro Malvario (quasi um nome
e architecto italiano, se lhe tirarem a letra fi-
nal, que lhe estraga o nome, diz Camilo, falando
do homem, nos Echos Humoristicos o Minho)
que ento andava construindo em Seide a casa que
23
'
Silva Pinto depois vendeu e Nuno e que hoje per-
tence aos. filhos dste.
A sses negcios se refere Camilo em trs cartas
das que Silva Pinto reproduziu no seu livro Pela
vJa fora.
Na carta IX diz que lhe falaram dum novo sis-
tema teraputico do mdico Pinheiro Trres. A res
peito dste clnico bracarense pode lJer-se com pro-
. veito, como sempre, o estudo Camilo e os MtJicos,
do sr. Dr. Maximiano Lemos.
No artigo que ste ilustre investigador escreveu na
Gente Lusa (n.
0
3) sbre cartas de Camilo a ~ u a fi-
lha, vem, transcrita em parte, uma em que le diz
que vai a Braga, com Ana Plcido, ouvir a ultima
palavra ao metJico.
Hesita o sr. Dr. Maximiano Lemos entre dois m-
dicos de Braga, Pinheiro Trres e Ulisses Braga, no
sabendo a qual dos dois se refere a carta.
Pelo que se l na que agora se publica, parece que
se trata do primeiro. A carta filha deve ser pouco
posterior a esta.
Na carta XIII h uma curiosa passagem que deve
referir se a D. Maria Amlia Vaz de Carvalho.
Na XV fala da Alveolos. Deve ser a conhecida
hospedeira do Prto, que tam falada foi por causa
da conta, verdadeiramente imperial, que apresentou
ao seu hspede D. Pedro II do Brasil.
Camilo, em regra, no datava as cartas ntimas,
pelo que difcil, e muitas vezes impossvel, fixar a
poca em que foram escritas.
No est nesse caso a carta XX que , com cer-
teza, de 23 de Junho de 1885, porque nela se refere
Camilo a um baptizado que deve realizar-se no dia
seguinte e que evidentemente o do neto de quem
foi padrinho, a que j me referi, baptizado que se
celebrou em 24 daquele ms na igreja de Miragaia.
E' certo que a seguir se queixa do frio, mas isso
nada prova, sabendo-se como le era friorento. De
resto, diz tambm que tem andado com o cazaco
de inverno e sem calor, o que no seria digno de
nota fora do vero.
Na mesma carta se refere ao ttulo que lhe tinha
sido concedido cinco dias atrs, em 18 de Junho.
O Dr. Moutinho (Antnio Ferreira), de que fala a
carta XXII, foi uma curiosa figura de mdico, larga-
mente tratada pelo sr. Dr. Maximiano Lemos no ex-
celente repositrio que o seu citado livro.
H ainda, em diversas cartas, referncias a Ri-
cariJo, ou seja o Dr. Ricardo Jorge, o miJico que
mais parecia talhaiJo para prestar cuiiJados a
Camilo e par se impor ao seu esprito iJoente
e torturaiJo.
A estas palavras do Dr. Maximiano Lemos eu
acrescentarei, com a devida vnia : e o escritor mais
talhado para e ~ c r e v e r a grande obra sbre Camilo,
que est por fazer.
Tem S. Ex.l\ quatro qualidades, que ningum
mais tem, para sse fim. E' um mdico ilustre, um
crtico literrio notvel, um grande prosador e foi m-
timo amigo de Camilo.
25
E' o sr. Dr. Ricardo Jorge a nica pessoa que po
deria fazer um trabalho completo, sob todos os as
pectos, a respeito de Camilo e da sua obra.
Muitas vezes o tenho dito e no o disse ainda a
S. Ex.a porque no tenho a honra das suas relaes
pessoais.
No quis, porm, deixar de o escrever aqui, for
mulando o meu desejo que tambm, estou certo, o
de todos os que se interessam pelo estudo de Camilo.
No tenho a pretenso de s u ~ o r que estas pala-
vras sejam lidas pelo sr. Dr. Ricardo Jorge, mas se o
forem, por um acaso feliz, talvez S. Ex.a as tome em
considerao. Assim seja.
Quando tal no acontea, far pelo menos justia
sinceridade com que elas so escritas, a sinceridade
de quem no sabe mentir e incapaz de qualquer
acto de lisonja.
Retomando o fio : com a carta XXV termina a cor
respondncia dirigida a D. Ana Plcido. Seguem-se
duas cartas aos filhos, a segunda a Jorge e a primeira,
provvelmente, a Nuno. A seguir, com o n.
0
XXVIII,
vai um telegrama enviado a Joaquim Peito de Car-
valho que foi administrador geral das alfndegas e
pessoa muito conhecida em Lisboa. foi grande amigo
de Camilo, com quem mantinha aturada correspondn-
cia. Em Seide existem vinte cartas suas. Certamente
se perderam muitas outras.
Devem tambm existir muitas cartas de Camilo
para le, mas no sei onde param. S conheo o te-
legrama que agora publico.
26
A carta XXIX foi dirigida ao actor Dias, de quem
Camilo era amigo e para quem escreveu o Assassino
cJe Macario. A pea foi feita para a festa artstica
do actor, em 1886.
A carta deve ter sido escrita, a julgar pela parte
final, no dia dessa festa ou pouco antes.
A carta XXX foi escrita ao redactor em chefe do
]ornai cJo Porto: Foi publicada em 1901, no nmero
especial de homenagem a Camilo, constitudo pelos
n.
08
8 e 9 da revista portuense A 11/ustrao Mo-
derna.
Publico-a aqui de novo porque nessa revista saiu
truncada, com falta dos trs primeiros perodos.
As cartas XXXI e XXXII foram escritas ao fale-
cido Conde de Prime e pertencem hoje ao sr. Vis-
conde de Marzovelos que gentilmente autorizou que
fssem copiadas.
Devo tam grande favor inierveno do meu que-
rido amigo e distintssimo advogado Dr. Jos do Vale
Matos Cid.
A primeira refere-se ao baptizado dum de
Camilo e datada de Fevereiro de 1882, sem indica-
o de dia.
Foi em doze daquele ms que se realizou a ceri-
mnia na S de Viseu.
Ao nefito,-nascido em 16 de Novembro do ano
anterior, foi dado o nome do padrinho que foi Camilo
(romancista, natural do Prto, diz o assento), re-
presentado pelo Conde de Prime.
Tudo consta da certido que mandei tirar, a qual
27
diz ainda ser o afilhado de Camilo, filho do sr. Ma-
nuel de Freitas Barros, tenente de Infantaria 14 (S.
Ex.a hoje, salvo rro, general reformado), e neto
paterno de Antnio de Freitas Barros.
No ste nome desconhecido das pessoas que
conhecem a vida de Camilo, na sua agitada mocidade.
Foi Antnio de Freitas Barros o aversrio de
Camilo no clebre duelo da Trre da Marca, que de-
via realizar-se s 4 horas c!a tarde do dia 5 de Maio
de 1845 e que as zelosas autoridades no permiti-
ram.
O caso fez barulho, gemeram os prelos e a Re
vista Universal Lisbonense, no seu n.
0
45 do 4.
0
vol., correspondente a 29 de Maio, publicou uma
carta do Prto, narrando o picaresco episdio.
Leu Camilo pela primeira vez essa carta em 1874
e ento reproduziu-a no n.
0
7 das Noites e lnso-
mnia, completando-a nos pontos em que o corres-
ponente do Porto foi omisso.
Do caso tambm se ocuparam, que me lembre,
Vieira de Castro no seu livro sbre Camilo, o sr, Al-
berto Pimentel nos Amores e Camillo e o sr. Dr.
Antnio Cabral nos seus excelentes livros Camillo e
Perfil e Camil/o esconhecio.
Nesses lugares encontrar o leitor a minuciosa
descrio da fara representada pelos dois turbulen-
tos estudantes, Camilo e Freitas Barros, av do seu
afilhada.
A segunda carta no tem data, mas de 1885 por-
que se refere concesso do ttulo de visconde e
28
dispensa de pagamento dos respectivos impostos, a
merc rgia e a do parlamento.
A carta do Conde de Prime, a que esta responde,
est no museu de Seide. Vem mencionada no Ca-
millo com o n.
0
711.
O conde felicita Camilo por ter sido agraciado e
diz que, ao contrrio do costume, no o ttulo que
honra o homem, mas ste que honra o ttulo e a
classe dos titulares.
Vem a propsito dizer que em 3 de Novembro de
1885, o Visconde de Negrelos escreveu tambm uma
carta ao novo titular (n." 507 do citado livro). di-
zendo que o no felicitara por entender que eram os
titulares que se nobilitavam, tendo por excepo um
colega de tal categoria.
Ainda outro titular (Visconde de Pindela) escreveu
. em 23 de Junho do mesmo ano uma carta (n.
0
649
da referida obra) em que felicita o agraciado, dizen
do que os de agora para o futuro fi
cam valenJo alguma coisa mais porquf:: Camilo
nobilitava o titulo que ia em Jecadencia.
A carta XXXIII pertence minha pequena colec
. o de autgrafos camilianos.
No sei o nome do destinatrio. Ignoro igualmente
se j foi publicada.
As numerdas de XXXIV a XL foram dirigidas ao
Dr. Pereira Caldas, erudito professor bracarense e
grande camonianista.
A primeira pertence coleco de Lus Ferreira
Lima.
29
As seis restantes eram do meu amigo, distinto bi-
blifilo e coleccionador garretianista, Henrique Fer-
reira Lima que me ofereceu trs delas e me permi-
tiu que copiasse as outras.
Em 1900 (14 de Maro), O Portugal Moaerno,
jornal portugus do Rio de Janeiro, publicou algu-
mas cartas de Camilo quele professor.
No sei se saram outras. E' bem possvel que, ali
ou noutra parte, j tenham vindo a lume as que agora
publico: parece-me, em todo o caso, conveniente ar-
quiv-las aqui, tornando-as mais conhecidas, visto
f
.
o erecerem mtersse.
Seria uma curiosa coleco a das cartas de Camilo
a Pereira Caldas e das dste quele.
Camilo recorria freqentemente ao saber de Cal-
das, quando tinha entre mos trabalhos em que os
conhecimentos do erudito lhe podiam ser teis e en-
to escrevia-lhe no tom mais amigvel; em se tra-
tando de negcios de livros, era certa a descompos-
tura, como se v nalgumas das cartas adiante publi-
cadas.
Resta saber o que Pereira Caldas responderia, se
que alguma cousa respondia.
O Camillo ffomenageaao regista uma nica carta
de Caldas, existente no museu, e essa nada adianta.
O que certo, em todo o caso, que o homem
no se melindrava com as cartas violentssimas que
Camilo lhe escrevia, o que , talvez, prova de que
nelas havia razo.
Talvez um dia apaream as cartas de Caldas, se
30
algumas existem, e ento ficar completo o pro
cesso.
Na carta XXXIV prometia Camilo mencionar na
2.
8
edio do Cavar em Runas uma nota de Pereira
Caldas, se essa edio fsse feita em sua vida. No
aconteceu isso, pois o livro s em 1902 teve a ver
dadeira segunda edio. A verdadeira, porque como
tal no pode ser considerada uma que com essa de
signao apareceu e que no mais do que a pri-
meira mascarada de segunda pelo editor Campos J
nior, useiro e vezeiro nessas manhas que tantas arre-
lias causaram a Henrique Marques quando se meteu
a abrir na emmaranhada bibliografia camiliana o ca-
minho que ns todos, os que viemos depois, encon-
trmos livre e desembaraado.
Assim, no fcil saber hoje qual foi a nota de
Caldas.
A carta XXXIX interessante porque mostra que
Camilo, ao escrev-la, estava ainda convencido de
que as Monstruosidades eram da autoria de Fr. Ale
xandre da Paixo.
Mais tarde mudou de parecer, como se v na nota
que, quando desistiu de fazer a publicao, escreveu
no traslado que possua. A diz: cO auctor d'este
M. S. no fr. Alexandre da Pai;;.o, um frade bento
que nunca sahiu dos seus mosteiros. O auctor de certo
viveu no amago da escandalosa crte de Affonso VI
e Pedro 11.:.
Na carta seguinte, escrita ms e meio depois, re
fere-se Camilo aos apontamentos que Pereira Caldas
31
lhe enviou. No diz qual o assunto a que respeitam,
mas de crer que fsse o mesmo da carta anterior.
Se assim , teriam sido, talvez, as informaes de
Caldas a causa da sua mudana de opinio quanto ao
autor das MonstruosiiJaiJes.
A carta XLI deve ter sido escrita em 1873 ou
princpios de 1874, porque se refere ao romance O
RegiciiJa que neste ano foi publicado.
Pertence tambm ao meu amigo Henrique Fer-
reira Lima.
No sei quem fsse o destinatrio ; possvel que
fsse o mesmo Pereira Caldas.
Por ela se v que aquele Antnio Leite, cutileiro
de Guimares, foi inventado.
As cartas XLII a XLIV foram escritas, creio, ao
editor Costa Santos.
As duas primeiras pertencem a Henrique Ferreira
Lima e a terceira est no Museu Azuaga, de Vila
Nova de Gaia.
A primeira tem a nota: recebida em 195-84.
Nela diz Camilo que Ferreira Moutinho insta pelo
artigo.
Deve referir-se ao Epilogo que escreveu para o
livro A Creche, daquele Moutinho, e que est da-
tado de 20 do mesmo ms.
A carta XLIII deve ser do mesmo ano, visto refe-
rir-se ao livro cGenerab que deve ser O General
Carlos Ribeiro, editado por Costa Santos em 1884.
A carta XLIV - recebida em 25 de Outubro de
1886, anotou o destinatrio - foi escrita no mais
32
aceso da que.sto iJos livreiros, isto , do pleito ju-
dicial originado pela publicao da Bohemia iJo Es-
prito, pleito em que foram autores Lugan & Gene-
Iioux, sucessores de Chardron, e rus Camilo e o
editor Costa Santos.
A respeito dsse processo publicaram-se trs fo-
lhetos que fornecem elementos suficientes para o co-
n1lecimento da questo. O primeiro A Diffamao
iJos Livreiros, de Camilo ; os outros dois saram em
nome de Lugan & Genelioux e intitulam-se A De-
feza ()os Livreiros e A ProprieiJaiJe Litteraria.
Duas vezes se refere Camilo nesta carta ques-
to com o Anselmo.
Essa questo discutiu se em 1868, entre Camilo e
Anselmo de Morais, cujo nome completo era An
selmo Evaristo de Morais Sarmento.
ste editou o Mosaico, compilao de escritos de
Camilo.
Camilo requereu embargo nos exemplares e ob-
teve deferimento.
Anselmo agravou e teve provimento, mandando a
Relao do Prto que ficasse sem efeito o arresto
decretado.
No mesmo ano de 1868 publicou Anselmo de Mo-
rais o seu folheto Questo ()e ProprieiJaiJe Litte"
raria, em que expe e documenta toda a questo de
que sara vencedor.
Renasceu esta em 1874, ento extra-judicialmente.
No n.
0
7 das Noites iJe lnsomnia, pag. 92 e seg .
Camilo voltou a falar do caso.
33
Respondeu Anselmo com o Supplemt?nlo ao n.
0
7 das lnsomnias e Camillo Castel/o Branco, oito
pginas de insolncias dirigidas a Camilo.
Replicou ste no mesmo tom, no n.
0
8 das Noites,
pag. 85 e seg.
foi a que publicou a carta de Jos Gomes Mon-
teiro, a que se refere tambm na carta de que estou
tratando.
Aqui ficam as indicaes bibliogrficas para os que
no conheam e desejem conhecer essas duas inte-
ressantes questes entre Camilo e editores. Recen-
temente foi esta carta publicada em fac-simile nos
n.
05
1 e 2 da revista portuense Eucao Portu-
guesa.
A carta XLV foi escrita ao falecido e ilustre bi-
blifilo Anbal Fernandes Toms. Evidentemente, o
livro que Camilo elogia e agradece o primeiro vo-
lume das Cartas Bibliographicas, publicado em
1876.
Pertence esta carta, bem como a seguinte, ao meu
amigo Manuel dos Santos, autor rla excelente Re-
vista Bibliogrfica Camiliana, que espontnea-
mente permitiu que fssem por mim copiadas e pu-
blicadas.
A que tem o nmero XLVI dirigida ao falecido
general Adolfo Loureiro, distintssimo engenheiro hi
drulico e homem de letras. Na sua mocidade publi-
cou em Coimbra o livro de versos Espinhos e amo-
res, a que Camilo se refere ao acusar a recepo
dum outro versando complicadas engenharias.
3
34
L ficaram os dois a-par, representando as duas
geraoens confrontaiJas, a do velho candieiro de
azeite coimbro e a dos iJias alumiaoos electrica
mente.
O livro de versos tem no catlogo da livraria de
Camilo o n.
0
1000; o outro deve ser o que tem o n.
0
141- Memoria sobre o MoniJego e barra iJo Fi-
gueira - que era, creio, o ltimo trabalho de Adolfo
Loureiro, data da carta de Camilo.
Esta est escrita em papel tarjado. Era o luto pelo
filho iJo seu corao, Manuel Plcido Pinheiro AI-
. ves, nascido do primeiro casamento de Ana Plcido.
Tinha morrido, aos dezanove anos, no dia 17 de Se-
tembro daquele ano de 1877.
Camilo exteriorizou bem a dor que lhe causou
essa morte, no prefcio das Scenas iJa Hora Final
e nos versos Se me lembro! .. . , publicados na Bo-
hemia iJo Espirito.
Nesta altura do meu trabalho verifico que no me
enganei quanto identificao do livro cuja oferta
Camilo agradece na carta.
Por acaso, encontrei no verso esta nota a lapis,
escrita por Loureiro: Remessa da memoria sobre
o Mondego.
Se mais cedo a tivesse visto, no teria incomodado
o meu amigo Henrique Ferreira Lima a quem pedi
uma nota dos livros de Adolfo Loureiro, publicados
por aquele tempo, e no teria tido o trabalho de
compulsar o catlogo da livraria de Camilo, que de
morosa consulta por no ser alfabtico.
35
A carta XLVII foi dirigida a Silva Pinto. E' pos-
svel que ste a tivesse publicado nalgum dos seus
numerosos livros. No a encontrei, porm, nem te-
nho idea de alguma vez a ver impressa.
O original pertence ao sr. Henrique de Mendona
que gentilmente autorizou a cpia para publicar.
Refere-se a carta ao prefcio que Camilo escreveu
para os Combates e Criticas, datado de 27 de Fe-
vereiro de 1882, ou seja da vspera do dia em que
a carta foi escrita.
H nesta carta uma palavra em que algumas le-
tras esto substitudas por pontos ou reticncis ;
devo dizer que assim est no original.
No se pense que eu me permiti amenizar ou alin-
dar a prosa camiliana.
De resto, noutros lugares dste livro aparece a
mesma palavra com todas as letras, porque Camilo
assim a escreveu.
A propsito parece-me curioso transcrever um tre-
cho doutra carta ao mesmo Silva Pinto, datada de 13
de Junho de 1881 e j publicada.
A diz Camilo: cEstive no Porto com a familia,
uns dias. Vim doente, como se sahisse d'uma cloaca.
O Porto tem m. . . por dentro e por fora. Lisboa
s por dentro.
Isto era escrito em Junho, provvelmente sem es-
tar a chover.
Em tempo de chuva, era a avalanche dissolvida ...
Seguem-se vinte cartas (XLVIII a LXVII) que fo
ram escritas ao editor Ernesto Chardron.
36
As duas primeiras referem-se edio da Corres-
ponencia Epistolar, que a final no foi feita por
Chardron mas por Cruz Coutinho, sobrinho.
A segunda deve ser de Abril de 1874, pois foi
nesse ms que sau o 4.
0
n.
0
das Noites e lnsom-
nia a que o final da carta se refere.
A quinta de Moreira, de que Camilo fala na carta,
tinha sido vendida em fevereiro dsse ano (segundo
Pinho Leal) viva de Jos Estvo.
A carta L com certeza de Agosto do mesmo
ano. Nesse ms se publicou o n.
0
8 daquela srie,
em que Camilo responde ao folheto Supplemento
ao n.
0
7 das lnsomnias e Camil/o Castello
Branco que, datado de 22 de Julho, apareceu com
a assinatura de Anselmo de Morais, atribundo, po
rm, Camilo a sua autoria a Theophilo Joaquim
Fernanoes, ou seja o sr. Dr. Tefilo Braga.
Era certamente dessa rplica o perodo cuja sub
traco foi pedida, ao que parece, por intermdio de
Chardron.
Tudo leva a crer que a passagem que algum pre
tendia que se retirasse, a que se encontra a pag.
90 do n.
0
8 das Noites, em que Camilo comenta o
facto de Jos Gomes Monteiro no se recordar bem
se tinha ou no fugido dele.
A essa questo j me referi a propsito da carta
XLIV.
Na carta LI prope Camilo a edio dum livro
que venderia por 30 libras ou 26 e doze exemplares.
sendo dois em melhor papel.
37
Tratase, sem dvida, das Scenas aa Hora Fi-
nal, traduo do ingls.
Camilo enviava o manuscrito a Chardron em 2 de
Novembro de 1877, o mesmo dia em que escreveu
o prefcio dsse livro..
O formato o das Noites e as pginas so 103.
Tudo mostra que era essa obra o objecto da pro
posta.
No a aceitou Chardron porque o opsculo veio a
publicar-se em 1878, sendo sua editora a Livraria
Portuense.
O faro editorial de Chardron no o enganou, pois
o livrinho, segundo creio, ainda hoje no est esgo-
tado, a-pesar-de num recente leilo (1922) se ter ven-
dido m exemplar por 5$10.
Os novos. . . camilianistas so terrveis ...
O indivduo mencionado no final da carta - An-
tnio Francisco de Carvalho - era o genro de Ca-
milo, marido da Senhora D. Bernardina Amlia, a
quem j me referi.
A carta LII anuncia a remessa do artigo cPeda-
gogia:.; o que sau no n.
0
5, do 1.
0
ano, da Biblio-
graphia Portugueza e Estrangeira, apreciando um
livro sbre aquela matria, traduzido pelo professor
Raposo Botelho.
Igualmente se refere a carta apreciao do Por-
tugal e os Estrangeiros, de Bernardes Branco.
Apareceu o artigo no mesmo numero da Biblio
graphia, deitando, no 6 pginas como Camilo cal-
culara, mas 10.
38
O interessante artigo tem o seu complemento nas
notas marginais que Camilo escreveu no seu exem
plar e que esto publicadas por Diogo Jos Serome
nho, no A:chivo Bibliographico (189596) e na re
vista A Critica (1896-97), e pelo sr. Alvaro Neves
no livro Notas Margem, publicado em 1916.
Os dois artigos de que trata esta carta, foram de-
pois reproduzidos no 2.
0
vol. dos Narcoticos. O Tei-
xeira, falado na carta, Antnio Jos da Silva Tei-
xeira que era o impressor da Bibliographia, como
o foi de muitos livros de Camilo.
A seu respeito encontram-se algumas notas curio-
sas na parte final do artigo de Eduardo Sequeira,
sbre A Infanta Cape/lista, publicado em 1913 no
jornal O Tripeiro (n.
08
1 061 07) e republicado em
1916 no n.
0
1 (e nico at hoje) da revista Camil-
liana.
Termina a carta aconselhando a Chardron cuidado
com o estmago e com o fgado.
Noutras cartas aparecem passagens que mais ou
menos se ligam com essas vsceras do editor.
Assim, na carta LVI, receita-lhe Vidago para des
obstruir o fgado e, para o animar, vai dizendo que
o hotel magnifico ; na LIX atribui a demora do seu
amigo em Lisboa, em parte, ao Victor, o conhecido
hotel de Sintra; na LXIV refere-se a um jantar em
que Moutinho teria comido por si e por le, Camilo.
Evidentemente, um dos clebres jantares do gas"
tronomo Chardron cujo maior prazer era o da mesa,
como se pode ver nos artigos de Ramalho e do sr .
39
Alberto Pimentel, o primeiro no vol. 3.
0
da 2.a ed. das
Farpas e o segundo no livro Atravez iJo Passado.
Em P. S. diz Camilo ao editor que pode anun-
ciar na Bibliographia o novo livro Sentimentalis-
mo - historia e critica. Sau efectivamente o ann
cio no n.
0
6, pag. 124, mas com o ttulo Sentimen-
talismo e Historia que foi o que realmente teve a
obra.
Nao tem data a carta Lili, mas , sem dvida, de
1879, escrita quando saiu o Cancioneiro.
Reserva Camilo para a 2.a edio a emenda dos
erros que encontrou na l.a e para ela guarda tam- -
bm os poetas que ficaram de fora.
A nova edio j no foi feita por Chardron mas
pelos seus sucessores e saiu em 1887. Vivia ainda o
autor mas no meteu na edio os tais poetas que ti-
nham sobejado. ,
Refere-se depois ao Sentimentalismo, etc. que
teria trs partes : histria, romance e crtica.
Com a ltima no concordou o editor, como mos-
tra a carta seguinte.
O romance MargariiJa de Jlio Loureno Pinto
e foi apreciado por Camilo no n.
0
6 do 1.
0
atlo da
Bibliographia, em artigo que de novo foi publicado
no 2.-> vol. dos Narcotico.s.
A influncia de Ea em J. L. Pinto foi suficiente-
mente demonstrada pelo sr. Fidelino de figueiredo
na sua Historia da Litteratura Realista.
Camilo na carta d a essa influncia o verdadeiro
nome.
40
Na carta LIV continua a ocupar-se do Sentimen-
talismo, no qual, como se v, esteve para incluir A
Formosa as Violetas, das Noites e Lamego,
narrativa inserta mais tarde, ampliada, no n.
0
4 da
4.a srie das Artes e Letras.
No o fez, porm, no sei por que motivo.
A narrativa saiu em separado, em 1880, editada
pelo mesmo Chardron e com o ttulo Suicia.
Nesta carta faz Camilo a sua proposta quanto ao
preo co livro, com base no que lhe costumava pa-
gar a casa Nlatos Moreira, errando, por sinal, a ope
rao feita para achar o preo de cada volume.
Promete conversar na tera-feira, se fr ao Prto.
Parece que foi e fechou o negcio porque em 29 de
Abril, primeira tera-feira depois do dia em que es
creveu a carta, passou um recibo a Chardron, datado
no Prto.
O Baquet de que fala no fim da carta, deve ser o
conhecido alfaiate que mandou fazer o teatro a que
deu o seu nome e que ardeu em 20 de Maro de
1888.
Na carta LV volta Camilo a falar de Jlio Lou-
reno Pinto, a propsito dum folhetim que ste es
creveu no Commercio o Porto, em que dizia que
le atacava com estaulho a escola realista.
A rplica a essa afirmao escreveu-a Camilo no
final da crtica, a que j me referi, do romance Mar-
garida.
A violncia dessa rplica explica aquele parece
me. . . que se l na carta.
41
O pedido, com que fecha a carta, da Memoria a
respeito de Prto Santo e Madeira, liga-se, talvez,
com a part do Sentimentalismo e Historia que
tem por ttulo A Lena "o Machin.
Com esta carta mandou Camilo, como se v no P.
S., a Prefao para o livro, a qual foi datada de
Maio de 1879. Fica assim determinada aproximada
mente a data da carta, de que o autor, como tantas
vezes, se esqueceu.
Devo notar ainda que nesta carta o livro aparece
com o ttulo de Historia e Sentimentalismo, que
veio a ser o de outro volume a que se referem algu-
mas das cartas seguintes.
Limito-me aqui a chamar a ateno do leitor para
o facto. Esta questo dos ttulos dos livros de Ca-
milo muito curiosa e sbre ela tenho um largo tra-
balho em que, por ser o lugar prprio, tratarei dste
caso.
Na carta LVI h referncia a um artigo de D. Ma
'ria Amlia Vaz de Carvalho, publicado no ]ornai o
Commercio, do Rio de Janeiro.
sse artigo foi reproduzido no n.
0
9 (1.
0
ano) da
Bibliographia e no folheto Os Criticas o Cancio
neiro.
A carta LVII fala de Artur Barreiros. E' um dos
crticos do Cancioneiro. Camilo respondeu-lhe no n.
0
10 (1.
0
ano) da Bibliographia.
Ao escrever esta carta pensava j o autor em in-
cluir os Crticos na 2.n ed. do Cancioneiro, como de
facto fez.
42
fala depois do Gaspar. ste tinha levado a sua
conta no nmero anterior. !:.'o Gaspar da Silva, por
tugus que no Brasil escreveu a sua Carta iJ'um
emigrado, criticando o Cancioneiro.
O seu nome completo era Boaventura Gaspar da
Silva Barbosa. Mais tarde veio a ser visconde de S.
Boaventura.
No livro A Pasta iJ'um Jornalista, publicado em
1908, diz que tinha 19 anos quando escreveu o seu
folheto, o que parece no ser verdade porque o mes
mo livro abre com uma biographia do autor, feita por
Abel Botelho, em que se l que le nasceu em La-
mego, em 1855.
Assim, devia ter 24 anos data da clebre ques-
to do Cancioneiro.
Mostra esta carta que Camilo esperava ansiosa-
mente os ataques de Junqueiro e Gomes Leal.
No sei se algum deles veio estacada, mas creio
que no.
Junqueiro que, passados sete anos, esreveu uma
carta a Camilo quando ste nos Seroens se ocupou
da Velhice do PaiJre Eterno, e nela prometia ir a
Seide justificar-se e desfazer a acusao de plagirio-
que Camilo lhe fizera no Cancioneiro.
Essa questo hoje conhecida e est completa- .
mente esclaredda no opsculo Entre Gigantes! de
Joo Paulo Freire (Mrio).
Para sse belo trabalho remeto o leitor que no
conhea e queira conhecer o episdio entre os dois
gigantes.
43
Na carta LIX, depois de se justificar de no ter
continuado o Oo"nalinho (refere-se ao romance
anunciado com os ttulos O Gonalinho de CaruJe
e O Ultimo MorgaJo Jo Pao de CaruJe, e nunca
publicado), fala do 2.
0
tmo da Historia e Senti-
mentalismo, cujo sub-ttulo seria Raas finas. Como
se ver na carta LXIV, alterou-o para Poetas eRa-
as finas.
Dste caso trato tambm no j citado trabalho.
V-se por esta carta LIX que Camilo no desis-
tira ainda de inserir num dos seus livros da srie
Sentimentalismo, etc. o artigo a respeito da for-
mosa das violetas, que, como j disse, veio a apaw
recer em folheto.
E' de notar que na carta errou o ano em que o
trabalho sau nas Artes e Letras, que foi 1875 e no
1873.
Na carta LXI, depois de se referir aos Echos Hu
moristicos Jo Minho, fala duma verso francesa que
suponho ser do folheto A Senhora Rattazzi, verso
que no me consta que se tenha publicado.
Na carta seguinte pede Camilo o nmero do Bio
grapho em que vem o seu fiel retrato.
r al nmero o primeiro dessa publicao, datado
de 1 de Fevereiro de 1880.
E' inteiramente consagrado a Camilo, tendo um
longo artigo do sr. Alberto Pimentel a enquadrar o
retrato a que o biografado ironicamente, e com ra-
zo, creio, chama fiel.
O mesmo retrato foi publicado, com um artigo de
44
Firmino Pereira, em 23 de Fevereiro de 1882, no
n.
0
78 do semanrio portuense O Cames.
ste jornal o mesmo que, no seu n.
0
151, de 19
de Julho de 1883, deu estampa, como sendo a vera
efgie de Eugnio Sue, o horrvel retrato de Camilo
que acompanha a 2." edio dos Mvsterios e Lis-
boa (1858).
O mostrengo foi mal copiado da litografia que vem
na t. ed. dos Espinhos e Flores (1857). Quanto
confuso do Cames, direi, com o mestre Henrique
Marques, que o retrato tanto pode ser de Camilo
como de Sue, visto no se parecer com qualquer dos
dois.
Na carta LXIII, pede jornais de 1852 para ver os
nomes dos actores a companhia lvrica que ento
estava no Prto. Logo a seguir diz que vai escrever
A Corja.
Era exactamente para escrever o romance que pe
dia os jornais. A pag. 251 l aparecem diversos can
tores e entre les o bartono Bartolucci que leccio
nava canto ao baro do Rabaal e outras artes, por
ventura menos melodiosas mas certamente muito mais
plsticas, baronesa do mesmo titulo.
A carta LXVII de 1883. Estava Chardron fa
zendo a edio do poema Os Ratos a Inquisio,
do hebreu Serro de Crasto, com prefcio de Camilo,
e j le lhe oferecia um novo livro, D. Luiz de Por-
tugal, no mesmo formato e com 100 pginas.
Chardron no aceitou a proposta e por sse mo
tivo Camilo mudou de editor, como se v pelo se
45
guinte trecho duma carta a Luis Augusto Palmeirim :
cRompi com elle (Charron) as minhas relaoens
commerciaes. O homem tem feito importunas dili:
gencias por reatai-as; mas eu offendi me com a re-
cusa de um livrinho historico, pelo facto d.e ser his-
torico, tendo elle explorado ha annos a minha inca-
pacidade para negociar. Indignou-me que elle se qui-
zesse dar o direito da escolha, impondo-me novellas
realistas bem apimentadas.
Tenho agora outro editor, um de
bombeiros, Eduardo da Costa Santos, que trata de
livros, por achar que o tratar de bombas officio de
pouca gravidade.
E' evidente que o livrinho historico, o D. Luiz,
porque a carta a Palmeirim de 5 de Setembro de
1883 e a avertencia com que abre o livro tem a
data de 1 de Agosto do mesmo ano.
Acresce que o D. Luiz apareceu, de facto, nesse
ano e , dos l.ivros de Camilo, o primeiro editado por
Costa Santos.
S teve 2.
11
edio em 1896, o que 'mais uma
prova de que Chardron conhecia bem o mercado .
*
E' tempo de terminar estas notas, j bastante ex
tensas, sbre pessoas e factos de que as cartas tra
tam.
Nelas disse o que sabia e que no ser de todo
intil para os que saibam menos do que eu.
Seguem as cartas.
I
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3 fr. 9 a manhan.
M.a f."
A falta dos oculos pouco me deixar escrever.
Chegamos e jantamos. Jorge, que viera sempre
triste, comeu bem, admiravelm.te, dizendo sempre
que no podia comer p! q tinha comido um bife.
Depois, fui comprar-lhe chapeo e mandar-lhe fazer
tasaco m.
10
comprio. No os havia feitos sua
vont.e Depois, indagar do Thomaz. Na loja Chardron
disseram-nos que estava hospedado em Malmeren-
das. Demos com elle; o Jorge ficou no trem ; mas o
Thomaz veio rua vl-o, abraou-o, e chorou.
Scena as nossas. Depois fomos p.a casa da Ame-
lia. O Jorge ficou no trem ; mas a A e o C foram
buscai-o. Entrou bem. Tocou piano, ouviu tocar, riu-
se das doenas do C. e, q.do conheci q. elle estava
aborrecido, s 9 t/2, sahimos. Que queria ir ao thea-
tro - um pandego. Fomos a S. Joo. Assistimos ao
2.
0
acto da Missa de Verdi. Pasmado; gostando, e
no achando cara a meia moeda que custou o acto.
48
Mas, conhecendo que eu estava contrariado, pedia-
me repetidas vezes q. desculpasse. As onze e meia
recolheu-se, disendo q. te ia escrever. Levou papel.
Eu dormi m.
10
pouco e m.to mal.
Ouvia-lhe de noute (elle est no quarto de lona
immediato ao meu) uns gemidos longos, cavernosos,
q. me aterravam. '
Parece-rr.e q. j me disseste que elle geme m.to de
noute.
Adeus Anninhas. Eu vou ver se elle se levanta.
Parece incrivel q. durma com tal inferno na rua. ]a
no vejo.
Teu do corao
c.
II
4. fr. 11 lia noute.
Venho com o Jorge do palacio onde havia musica.
Elle ceou no Restaurante costelletas e comeu bem.
Tomou 2 sorvetes de tarde, e assustou-me queixan-
do-se de calafrios. Dei-lhe cognac; penso q. era fan-
tasia. Elle m.mo confessou que comeou a imaginar.
Achoo triste. Creio que lhe fases tanta falta como a
mim. Estive com a Amelia e com o Carv.
0
Deu-me a
boa nova de q. nas P. Salgadas, seg.do lhe disse o
Mont.
0
, se curara um sujeito nas circumstancias do
Jorge. Quem sabe? Mas eu, filha, no espero que o
49
Jorge la presista, e eu no o poderei violentar se
quizer retirar-se. Pede a Deus por elle e por mim.
Boa noute te d a Providencia.
Teu
Cam.
0
III
s. fr. 6 lla manhan.
Passei a noute do costume- cruel, m.a filha. Es-
tou fatigadissimo como se tivesse jornadeado cem le-
guas. Ergui-me s 5
1
/'1..
O dia est carrancudo -de mais a mais. Ja fui
espreitar o quarto do J. Est s escuras. A's 11
1
/2
fui l; e ia no tinha luz.
Um perverso deabo se me apossou do esprito esta
noute e no m'o larga. Vejo-te sempre nos braos
d'um homem - aquelle que appareceu nas hallucina-
es do Jorge.
O meu corao uma p.
18
do cerebro condemnado
a apagar-se. No imaginas q. dores, m.a f.a! Que vi-
soens to completas de verd.e interior como as d'um
doudo. Irei eu tambem escurid.
6
do nosso desgra
ado Jorge ? Com effeito! no se pode ser m.
8
infe-
liz! Quando eu era novo e sadio a m.a imaginao
dava-me o colorido da felicid.e; agora, todos esses
dotes de fantasia me servem para denegrir a vida
mais ainda do q, ella na realid.e Q.do no estou ao
4
'
50
pe de ti, f.a, estas apprehensoens so m." duradouras.
Em fim, seja-me alegria a certeza de que isto ser
curto.
Que heide eu fazer neste quarto at s 8 horas ?
Esta a 3.a Carta q. te envio do Porto. O dia, se as
sim continuar, est bom p.a jornadear.
Perdoa-me e ama-me.
Teu
c.
Recados ao Nuno.
IV
Porto - 5 a tare.
M. QUERIDA f.
Vs em tudo a m.a sorte? Se eu ficasse em v.a
Nova, de certo voltaria p.a caza, e la iam as esperan-
as. Eu voltava p.a caza, se no tivesse pena do nosso
pobre J, Vim com o V. de Castro. O Jorge na Trofa
mudou para uma carruagem onde veio sosinho. Agora
no sei o q. havemos de fazer. No o deixo sosinho
nem o levo a casa da Amelia. Portanto no vou l;
mas como receio q. o Carv.
0
saiba q. eu ca estive, se
ria bom que. . . O melhor no dizer nada. O Jorge
est com bem bom aspecto. Ja mudou de botas, ele
vou a camiza de dormir. Amanhan, se 0.
8
quiser, se
51
guimos p.a o Douro, mas ainda no sei a q. hora.
Creio que s 8 e 40. Da Regua escrevo-te. Per-
. mitta Deus que eu no peore e que tu melhores.
Ad." m.a querida Annica.
Teu
c.
v
M. QUERIDA FILHA
Esperei 5 quartos d'hora na estao! Vim incom
modado com o aperto de gente. Logo que cheguei
fui ao Guerra. Esperei outra hora. Estive com elle
at s 4 ti2. Examinou-me com o oftalmoscopio. Elle
imaginava-me em peor estado. Diz que tenho perfei-
tos os orgos essenciaes. As turvaoens so syphiliti-
cas. Com o iodeto e as pilulas espera debellar no
s a nevrose ocular, mas tambem a atrophia das per-
nas. Ficou m.
10
contente depois q. me examinou.
Parece q. elle me considerava perdido.
A respeito de entrar na casa da saude, disse me
que no pensasse em tal, porque iria aggravar os
meus padecim.
10
" Que. fosse p.a toda a p.
18
, menos
para casa de saude.
Espinho chegou s 6 horas e meia. Sahimos, e fo-
mos a p a casa do Simo Duarte comprar as celou
ras (sic) e os lenos. Sapatos p.a ti no havia ; mas
dizem q. amanhan os mandam buscar fora. Havia de
52
feltro; mas agora so insupportaveis. Jantou comigo
o C. s.u., e ja aqui veio o Ricardo. O Espinho man-
da-te m.
10
" recados. A O. M.a est com uma dor na
espinha. Apanhou nas costas o appellido do marido.
Mao apanhano. Eu vou na 2.a feira de tarde. Ja dei
ordem ao Neves p.' me esperar. Mandame a burra
Portella. Recados ao Nuno e ao Jorge. Um beijo
do teu
Camillo.
VI
4 horas ()a tar()e,
M.
1
fiLHA
Que grande calor aqui vai, filha ! E eu carregado
com este cazaco q. me abraza ! e colete que me faz
o inferno no peito.
fui ver se o homem pagava; mas diz q. noute
o mandava a caza do Carv.
0
Ha pouco q. la estive.
A Amelia tinha la uma lata de bolacha m.to fina para
eu tf: levar :-agradeci-lh'o p.r que lhe tinha dito q.
tu quase q. te no sustentavas com outra coisa. Diz
ella q. vai arranjar um savel de escabeche p.' eu le-
var Olha que desde q. vim, filha, ainda no dormi
3 horas socegadas. De noite tremo e suo ; de dia,
ainda q. me deite, no adormeo. Estou espera
das 5 horas p. a jantar; mas no tenho o menor ape-
53
ti te. O que eu peo a O. a que hoje me repitas a
boa nova das tuas melhoras.
Comprei o papel; v, se te lembra mais alg.a cousa
necessa.ria. Ama o teu C., e lembra me aos f. o! e
ao M.e
1
Teu
Camillo.
VII
M. QUERIDA FiLHA
fui p. a a foz, Hotel Mary & Castro. E' o quarto
onde estivemos no 1. o andar. Sudades, e presenti
m. :o. de q. no nos aguentaremos aqui mais. O S. a
Pinto est no Central, Entre Paredes com o Narciso.
Mandei-lhe recados pelo creado que no americano
onde vim da estao me deu a nova . No o procuro
p. r causa do outro. Elle sabe q. eu passei p.a a foz.
Fui com o Carv. o pagar a lettra ao Costa S. tos. O
Carv.
0
soube tudo, por que me acompanhou. Dei
.xal-o. No deshonra p. a mim, e nobre p. a ti.
Se eu esta noute passar sem gr. de incommodo, de-
morome a ver se componho o estomago. Se no
tiver mais vont. e de comer manhan, vou-me em
bora.
No acho a vida, a sensao da existencia, onde
54
tu me faltas, m. a querida f.a. Recommendame a to
dos.
Teu
c.
P. S. - Saudades da Amelia e do sr. Carv.
0
VIII
M. ANNINHAS
R.
1
a tua 2. carta. O S.
8
Pinto no veio jantar.
Ou no me entendeu, ou teve testilhas com o outro.
Se foi isto, ultra mal creado; mas eu desculpo-o.
No tomou ch em pequeno, e ninguem pode dar o
q. lhe no deram. Estou m. Lo canado destas idas
e voltas, filha; quero dizer de idas ao No me
posso ver s, sem um livro, nem vont. e de o ter.
Sinto me mais quebrantado. Vou-me embora no sab
bado. Se o calor o permittir, vou no comboyo do
corr.
0
Se no vou tarde. um telegrama
(visto q. no ha tempo p.
8
carta) a dizer o que que
res que leve de casa do Proudhomme.
Hoje vou comprar caf e 2 bilhetes da loteria do
Brazil. Palpita-me. A bruxa disse que serias m.
10
rica
no fim da vida.
Podem sahirte 1000 contos fracos.
. O s.a Pinto diz que viu nos jornaes do Porto a
55
noticia de estarmos em Braga ; p.r isso no escreveu
p.a Seide. Eu no desconfio do homem.
Os patifes so-o quando a necessid.e os fora.
Elle no est nesse caso; e q.d" era pobre no foi
m.to tratante em cousas de dinr.
0
Emfim, veremos.
Lembra-me fam.a e ama o teu C.
O teleg. p. a foz.
IX
M. ANNINHAS
Deitei-me s 8 e meia, e adormeci s 4.
Oue duras noites eu passo ! Sempre a pensar na
tua doena com a perspectiva negra da tua morte.
Tudo me agoura a maior catastrophe da m.a desgra-
ada existencia. Rodela-me um cheiro de sepulcros, e
nada, nada me deixa esperar mais um momento de
treguas com a sorte, se tu me deixas. Nada te peo
em meu nome, p.r q. ja agora no vale a pena q. vi-
vas p.r amor de mim ; porm, essas pobres crean-
as. . . H ontem fallaram-me no caminho em um novo
systema medico q. est fasendo prodgios. O Pinr.
0
Torres applica-o com grd. e vantagem. Logo que eu
v, irei a Braga consultai-o sobre a tua molestia e
sobre a m.
11
Tens um dia de sol, a final. foi precizo que eu
d'ahi sahisse. Isto entra no numero dos taes propo-
sitos de acaso q. se com as pernas da mosca
56
do caf. Aqui, tanto se me dava j chovesse como
no. Levantei-me s 7
1
/2 m. to incommodado; almo-
. cei m .
10
mal e sem alg. m appeti te. Agora, espero o
Montalverne p. a para lhe dar estes livros, e o Carv.u
p. a ir comigo comprar o pano do cazaco. A Amelia
est mal. Pouco tempo passa fora da cama. Custa-
lhe a idea da morte, p. r q. a achei m. to triste.
Adeus, m. a filha. Tudo isto est no fim -e quase
q. eu devo assombrar- me de viver.
Mandei-te hontem tarde a l ~ t t r a . Recados aos
filhos. Teu do c.
Camillo.
X
MINHA QUERIDA FILHA
Como no me parece possivel curar uma constipa-
o aqui, nem ha raso p. a q. eu aqui me demore,
vou manhan (sabbado) no comboyo da tarde. Todas
as trez noites tenho passado m .
1
" mal, e ainda estou
no primeiro periodo da bronchyte.
Ricardo d-me pastilhas inuteis; manda-me por ri-
gotols (si c) nas costas e peito; mas isto sem ti no o
sei nem posso-fazer. ...
Dos olhos, o m.m,. H ontem estive quase bom ; mas
a noitada e o aggravam. to do defluxo peorou-me.
At l, m. queridinha.
Teu
c.
57
XI
M,a QUERIDA FILHA
Como no dormi, sinto-me hoje miseravelm.
1
e da
cabea e pernas. Dei todas as voltas p! que sahi s
7
1
/! da manhan com chuva e nevoeiro cerrado. Se
a ida tarde no fosse arriscada com chuva e frio da
Portella p. a baixo, iria logo: mas talvez v manhan.
Em todo cazo, sempre manda a egua P. ; e, se
eu no for, por q. passei melhor a noute. Vou jan-
. tar a casa da Amelia por me lembrar q me daro
um jantar mais simples. Estou canado de ouvir o
Baltar desde a 1 hora at s 2
1
/'!.
AD.s m.a adorada esposinha.
Teu
c.
XII
M. FILHA QUERIDA
Depois de hontem jantar sem vontade e m.
10
re-
ceoso, fui foz, e com isso a cabea melhorou; mas
augmentou a dor da perna. Puz-lhe rigolots e the-
rebentina : a nada cedeu, e s adormeci s 3 horas.
De manhan tomei cha preto e fui foz.
58
No ha quarto em algum dos boteis, seno depois
do dia 15. Isto (ja o adivinhaste) no me contrariou;
por q. eu, sem ti, no parava la. Se no vou para
caza esperando j. tu me digas j. tens creada e
que a m. presena te no obriga a tamanho traba
lho. Lembrava-me levar creada d'aqui. A' Amelia
temse offerecido cozinheiras a 6 moedas por anno;
mas ella se embirra com a cara d'ellas, ou no lhe
do promptas informaes no as quer. Para ns po
rem tudo serve. V o que te parece isto. Estou so
sinho no meu quarto. A Amelia foi p.a o Palacio com
as comadres de Espinho, 9 pessoas, q. aqui almoa-
ram s 11
1
/t. Eu fui p. a o Chardron. So 3
1
/! e
ainda no vieram comer fruta p. a se irem p. a Es-
pinho.
Tudo isto me tem hoje m. aborrecido.
O Chardron m. to satisfeito com o livro Eusebio.
Diz-me j. v relendo o Uvro p.
8
a 2.
8
edio! quer
fazela antes do fim do anno. O maior consumo tem
sido no Porto. Q. m diria ! Isto explica o realismo
pratica das mulheres. Na tua mocid.e decerto o li-
vro se no venderia .
Adeus, m. a Annica. Manda me ir p. a ti, e p. a os
nossos rapazes.
Teu
c.
59
XIII
M. f.
9 da noute. Imagino-te com o Jorge ao p do
piano e com o Espinho ouvindo as imaginaoens do
nosso doente querido .
H ontem a esta hora soffria eu m. to , e hoje soffro
o m. mo Vou deitar-me ia munido do narcotico q. a
final nada me faz. Aqui ha 2 quartos p.
11
os filhos,
e um pequeno para ns at 5. a fr. a
Depois ha melhor quarto. O Carv.
0
disse-me q. te
escrevra hoje. AD.
8
, m. a querida.
Vim com a M. a Amalia e marido. Elia assim que
chegares a Lx.a vai vr te.
E' uma pobre senhora: parece uma burgueza vul-
gar.
AD. s Abraa-me o Jorge e dise-lhe q. venha ver-
o pap.
Teu
c.
XIV
M. FILHA QUERIDA
Vim m . to doente. Cuidei que tinha no wagon a
sorte do Joo Coelho. Pensei m.s na morte que uma
vez q. do desencarrilhei.
60
O Jorge comeu e est bom. O q. me fez enorme
mal foi o calor desde a porlella estao. Vou es
crever ao D.r Emilio e ao Adolpho a ver se me pro
curam antes de eu manhan poder falar-lhes.
Decidiu-se hontem a querella contra o raptor.
Defendeu-o o A. Pimentel. A rapariga declarou
q. estava virgem. Ainda assim o rapaz foi condem
nado a 6 mezes de cadeia, e o pai d'elle, como re
ceptador, a 3. Foi feliz. Citou-se la o caso do Nuno
por p.
1
" da defeza, louvando m.to o conc.
0
(sic) de
fam.
8
AD.', m. a f.a
XV
FILHINHA
Alegrou me a tua carta, por que eu estava m."
apprehensivo e triste. A tua carta veio a tempo com
petente; mas como o portiro estava beba do s m'a
deu de manhan s 6 horas.
Ja recebi o teu dinr.
0
Tomou conta d'elle o Carv.
0
ou foi elle q. m o recebeu, e la o levou p. caza. Di
nr.
0
teu ainda me no deu uma de cinco. Diz que
me pode roubar a Alveolos. Meu q. ainda no re
cebi. Espero manhan recebei-o, p.r que sei q. ia hoje
chegou nova ordem ao tal livreiro. Na 2.
8
fr.
8
vou-me
embora. 8 dias ! Dize ao M.
81
q. ja lhe comprei as
gravatas, e ao Jorge q. lhe arrangei a tinta. O resto
.das compras est feito q. pouco .
61
A roupa s6 m'a do no domingo. Arrependi-me
de a mandar fazer p! q. j so duas provas com
que me incommodam. No duvidas da m.
8
alegria,
neste mom. to , em q. te posso imaginar com vida
p.a mim e p. a os teus filhos.
AD. s Lembra te do teu Camillo sempre, e no tra-
balhes m. to
XVI
M.a QUERIDA FILHA
Jantei na foz. O Carv. o visitou me tarde com
a fam. a, e cenvenceram-me a vir pernoutar no Por-
to. Tomei em caza d'elles um copo d'agua e vinho
q . me fez uma indigesto. Passei m .
10
mal. De ma-
nhan estive p. a me retirar: mas achei cruel levar-te
este hediondo arcaboio cheio das impertinencias da
doena. Estarei at mais no poder. Sinto to
grande nojo de mim neste escarneo a q. se apega a
velhice q. tomara-me sentir abraado pela morte.
fui hoje deixar um bilhete ao S. a P. to e deixar-
lhe a m. a residencia na foz. Sempre desejo saber
o que o homem tenciona fazer. No estava em caza ;
mas de supor q. me procure.
EscreJo-te na livraria do Costa S. tos. No vejo,
nem posso escrever. Recados aos filhos e uma lagri-
ma de saudade dos nossos melhores tempos p.
8
ti.
AD.s f.a
62
XVII
ANNINHAS
A pesar do telegramma, fui esperar-te. Nada me
incommodou, seno o desgosto de ver q no vi-
nham. Nem talvez chegues a vir, continuando o
Jorge a velar a noute.
H ade S(;r difficil adormecer ainda q. queira, por q .
.o som no foge dos sos q. querem dormir, e ainda
m. dos infermos.
Fico em dolorosa duvida se virs. E, depois, a
outra mais cruel incerteza ou quase certeza de que
o Jorge se revoltar contra o Porto, onde no acha
a solido a q. se affez. A'manhan talvez me digas
pelo fio alguma cousa.
Eu tomei o narcotico, e dormi a pezar d'uma dor
no joelho : mas s me levantei s 1 O da manhan por
me sentir m. to quebrantado.
So 8 e meia da noute. Vou mandar ao corr.
0
No te escrevi de dia, na esperana de q. viesses.
Ha uma grande falta de commodos neste Hotel. At
no vagarem alguns quartos, temos de estar m. to
apertados. Eu procurava outro, se no fosse o Jorge
j conhecer esta caza.
Em meio de tudo isto, est o enorme abysmo de
uma desgraa que nos hade engulir a todos. Nem a
paciencia religiosa, nem a fora da alma - a inutil
philosophia - nos podem salvar.
63
Ns mesmos temos horas em que deixamos de ver
o fundo do abysmo. E' quando nos illudimos com a
esperana do padecente quando lhe vestem a alva.
A unica sabida desta situao era adormecermos
para sempre sem ver o que c deixamos no mundo.
Escuso diser-te que estou m. to triste. Hoje, a ver
se me furtava a mim mesmo, sabendo que o Carv. o
fra de manhan p.a Valbom, fui la estar duas horas.
No posso andar, no conheo ninguem, acho-me
aqui peor que em p.
18
nenhuma.
Longa massada, m.a filha. Ad.S.
XVIII
M.a FILHA
Eu tinha teno de ir manhan, mas occorre um
incidente que me obriga a demorar-me at sabbado.
Hontem ao jantar concorreu um filho de Simo
Duarte que me parece affectado do cerebro. Era
convidado por um Giro q. aqui est.
O homem deu-se ao disfructe, e o meu visinho
Luiz Jardim riu-se um pouco das graolas dos disfru
ctadores. O Giro offendeuse, e depois do jantar no
Club dirigiu ao Jardim algumas phrazes, e em segui-
da o Simo Duarte deulhe uns bofetoens q. o ou-
tro recebeu sem replica.
Depois veio ter-se comigo pedindo-me que o
aconselhasse. Boa tolice. No lhe aconselhei duello
64
por que o Simo joga todas as armas, e o Jardim
sobre a covardia tem a ignorancia. Penso no modo
de levar o Simo a dar-lhe uma satisfao qualquer,
por q. o Jardim est m. to vexado. O remedio peor
que o insulto. Estou espera q. o Giro recolha do
banho p.
11
lhe falia r.
Continuo a passar m.
10
mal as noutes.
Hoje doe-me o estomago. Vou ver se 'consigo ir
para ti, m. a filha, manhan. Imagino-te em V.a Nova.
Oxal q. sim . Dos olhos cada vez peor.
Teu do c.
c.
XIX
9 1f2 Z>a noute.
M. FILHA
Na carta que te escrevi de manhan disiate q. iria
noute ver o Camoens. Mas, ao cahir da tarde, fui
ao palacio, e vim de l com m.u tristeza, com a vista
obscurecida, as pernas tremulas e a cabea ca. Fui
comprar uns chinelos para ti e para mim; comprei
umas mantinhas p.
11
ti e p. os filhos; tomei um copo
d'agua chalada no botiquim da rua de 5.'
0
Ant.
0
; con
versei na Havaneza com o Guilherme Fernandes
bomb!
0
, estive com o outro command.re da bomba, e
vim p." caza a cahir como um bebedo. Donde con-
65
duo q. ja no posso sahir de casa sem receio de fa-
ser a deploravel figura d'um ebrio ou d'um cachetico.
Tudo me manda recolher ao quarto como anteca
mara da campa. Estou m.to velho, m.a filha, muito
cheio de uma amargura que nem a m.a phantasia ou-
saria crear. Na esperana de ser visitado esta noute
pelo reumathismo, comprei uma caixa da celebrada
pomada lusitana. Oxal q. a no abra ..
Eu, se poder, fico at 2.
8
fr.
8
; por que no domingo
me d o alfaiate umas calas e uma sobrecasaca preta
q. mandei faser ... para assistir ao casam.
10
do Nuno.
Se ves que ainda tempo, manda-me um teu vestido
para se faser um e diz se o queres de seda preta .
Manda-me todas as garrafas q. tiveres em meu no
me. Um hospede, o Ozorio de Lamego, deu-me a
provar um vinho da Beira q, elle vende . E' uma de-
Jicia para quem gosta dos vinhos fracos.
Resolvi comprar 2 almudes engarrafados q. oram
por 70 garrafas. Se no houver tantas compram-se.
Poders talvez mandai-as manhan e eu recebl-as
no sabbado.
Boas noites m.
11
filha e meu Jorge, meus queridos
amores.
Teu
c.
5
\
66
XX
MINHA QUERIDA ANNINHA
Recebo as cartas inclusas na tua q. eu esperava
com receio de m noticia de ti ou do Jorge.
Felizmente no sempre se realisam os meus agou
ros, mos em conformid.e com a m. a deploravel ne-
vrose. So 10 da noite. Hoje no passei to mal-
graas boa comp. a do Ricardo; mas desde que
elle me deiKa entregue ao abutre da m. a tristeza, en
tra-me no corpo e na alma o veneno q. tu conheces.
Como bem pouco, visto que os intestinos so rebel-
des eKpulso; voume abstendo de caf, de ch, de
vinho ; a isso devo talvez a diminuio de ardor ;
mas que longe estou de gosar uma meia saude!
O baptisado manhan entre o meio dia e uma
hora. Eu tencionava retirar-me no comboio da tar
de; mas o Carv.
0
insta por q. eu jante la, e sente q.
a precipitao no permitta c vires. No vae m.
alguem. De modo q. s vou no dia seguinte no
comboio do corr.
0
ou no eKpresso, se estiver o frio
q hoje faz. Tenho andado com o cazaco de inverno
e sem calor.
O Ricardo queria q. eu me demorasse m . s alguns
dias. Elle no imagina q. a saudade me to dolo
rosa como a doena. O q. eu m. 'Q quero ir to
67
mando regula.rm. te o Arsenico em que me resta alg. a
confiana.
Se ahi o demonio da doena me no deixar parar
irei p. a S. Thyrso Os ares do Porto esto pessi
mos, e a rapida mudana de temperatura faz-me um
mal infallivel na obtuso do nariz e espasmo na gar
ganta.
A carta do Miranda imbecil. Para te entreteres
mando-te uma carta do Philemon q. est aqui. Te-
nho visto os jornaes.
Por aqui certos typos, p. a me honrarem, disem
q. nunca me ho de chamar seno C. C. B. Figura
entre estes Gracos o teu dentista. H a m. ta inveb -
o q. eu te posso asseverar .
Adeus, querida filha. At amanhan.
XXI
M. fiLHA
Trouxe me o Carv. o s 11 horas a tua cartinha q.
me fez bem. Eu tinha passado pessima noute com a
bronchyte. ficou ao p de mim o M.e
1
e s adormeci
s 4
1
/i at s 7. O Ricardo mandou-me hontem to-
mar cyno glosse. Em caza d' elle, s 6 da tarde, dei uma
frico de cloroformio, e continuei-as de noite deva-
rias coisas at s 4 horas. foi o frio da manhan da
jornada, o nevoeiro q. me acompanhou at ao Porto.
Almoou comigo o Ricardo, e ficou de vir sempre
68
almoar. A' tarde mostro-lhe a tua carta. A pesar da
noite, tive hoje os olhos correctos uma hora, estava
m.
10
contente, mas a nevoa voltou. O Ricardo no
quer, ou acha inutil a cocana que o Santhiago me
prescreveu.
So 3 da tarde e ainda no sahi de caza com me-
do q. o calor me peore da constipao. Continuo a
tomar as pilulas de cynoglosse. Ricardo auscultou
me, e no achou nada de mo diagnostico. Comi um
bife e soube-me bem. Elle comeu magnificam.
1
e Diz
me q. me demore 3 dias p.a debellar o catarro. Tal
vez os olhos lucrem com isso. Eu, se soubesse q.
no ia estorvar-te, ia-me embora.
So infinitas estas horas, m. a f. a No posso ler, e
ja escrevi de m.s p.
0
o q. posso. Adm.S, m. querida.
Esta tosse scca despedaa-me ; mas estou alegre,
vs tu. A cegueira q. era tudo ; o resto, o morrer
com vista, um bem .
Beija-te o teu C.
XXH
foz
MINHA ANNINHAS
Deitei-me s 9 horas, mas adormeci depois da
1
/t
noute e erguime s 6
1
/'J. Ouiz ir passear mas as
pernas no se conformam com este deboche de feli-
cid. e Comprei um p o para me amparar ; mas q.m
69
preciza d'um po p. a andar em publico faz a m. s
triste das figuras ; e deve metter-se em caza.
Neste progresso da doena, a m . a deliberao
entrar n'um hospital com preferencia caza de sau-
de. Sinto um grande furor posthumo de acabar n'um
hospital.
E' uma glorificao p. a meus filhos e netos.
Como q . r q. seja, eu s irei p . a a tua comp. a
q . do leve a certeza de q. as m. as infermid. es no vo
augmentar as tuas com desgostos.
Ultimam. te disias-me com energia q. estavas morta
por me ver fora de caza. No posso culpar te p. r
esse desejo expremido com sincera espontaneidacle.
Realm. te , uma pessoa com solida saude pode tole-
rar os desabrim . tco d'um enfermo : mas tu no podes.
m. a filha. E s ~ o u como o Caldas no Bom Jesus. D'a
qui ou com saude ou morto .
Basta de boletim sanitario . Q. o a negocias : hon
tem quando cheguei noute, vindo do Porto onde
iantei, encontrei bilhete do S. a p;o , do Lacerda e
do Carvalhaes Vieram os 3.
Agora espero q. o S. a Pinto ou me procure, ou
terei eu repugnantissimam.
10
de o procurar e mais ao
Lacerda p. a ver o q. elle me conta de negocias. Te-
nho como certo q. elle ainda no liquidou. Alis es-
taria em LK. a a fazer o trespasse das fabricas, & . a
Ainda assim, eu queria ver de q. humor elle esta-
va, e se me marcava de novo o prazo do pagamento.
No me parece verosimil que elle te encravilhasse
to vilm.t Hontem sahiu um novo N.
0
da Revista o
70
Norte que eu no li. Talvez q. elle o mandasse p.
Sei de.
R,bi hontem a tua carta em casa do Carv.
0
O mal-estar q. te deixou o banho passou?
No me mandes m.
8
roupa, por que eu d'um dia'
p.a o outro acho quem me lave as camisas q, trouxe.
R,bi 300$ rs. por conta dos 400 q. mandaste darme.
Se quizeres, o Carv. o restante pelo Ban-
co do M.
0
p. a V. a Nova. Neste Hotel ainda est
pouquissima gente - 2 inglezes e eu. Se tu quizes
ses e mais os filhos aqui vir estar uns dias, tinhas
boas commodid.e Mas o Jorge! Mesmo tu e o Nuno
creio que no gostam d'isto - e eu dou-lhes raso.
Sinto-me menos mal do que me sentiria se visse o
mar e visse gente. Como sabes nestes quartos do 1.
0
andar v-se uma nesga de pateo- A cama dura
como um po, e o travesseiro de pennas fez-me do
res atrozes no pescoo q. ainda me no deixaram.
Tenho comprado uma escova e papel p; escrever-te,
e um po. Os sapatos feriram-me um calcanhar.
Hontem mostraram-me na Praa Nova um filho
do Dr. Moutinho vendendo ps para tirar nodo as.
M. to esfarrapadinho, descalo, cheio de lepra. Tem 24
annos. Quem conheceu a me - a Gandra! Outro
iilho d'elle Mut.
0
serralheiro na rua de S. to Ant.
0
Levanto as mos a Deus em me dar como menor
desgraa o Jorge. . . no seu estado.
As demencias lavram m. to por aqui.
Decepoens, ambioens malogradas, siphilisaoens
cerebraes . As mulheres ressentem se menos destas
71
influencias phisicas e psycologicas. Por isso as dou
das so em numero m . to menor. A m . a cabea tam
bem est fraca ; sinto um desapgo sinistro pela m .
subjectividade. Parece que da circumferencia da m.a
alma para um espao infinito se est
um pragal immenso, uma aridez em q. Judo se torna
impalpavel e invisvel. A tua imagem tem j o quer
que seja da pallidez de uma viso dantesca, morta,
O Jorge passa como um Christo debaixo de uma
cruz dos peccados alheios. Os outros no os vejo,
por que so felizes.
Mas q. massada te dou, m. a filha! Tu creio que
ainda gostas de ler as cartas do teu yelho am.
0
Mas
desconfia disto. Eu sinto-me n'uma dissoluo de
cada ver que se expe ao ar depois de incinerado (sic)
por 3 seculos. Isto vai cedo p . a debaixo da natureza
como diz Jorge, esse enorme talento que deu o salto
d'um extremo para o ponto em que o esprito sobe
at onde ja no ha ar q. o vitalise. Por aqui fico
sentado n'uma causeuse velha q. parece um
esquife quebrado
AD . s, Anninhas, ad . s
Teu
c.
P. S. -Abri a carta para te diser que no me
conteve a impaciencia e fui procurar s.a P.
10
,.Disse
me que ainda no conclura o negocio, e espera con
cluil-o at principio de Setembro. Que no ia a Seide
72
ver-nos por q. tinha vergonha p.r saber q. a s u s p e n ~
so das obras pozera suspeitas no seu caracter. Oue
em Portalegre ja lhe chamavam Fajardo fantasista de
fortunas. Explicou-me as delongas. O Valle, deputado
progressista, mangou com elle p.r entender que devia
attender prim.r" a politica, e p.r saber que elle no ne-
cessitava. Oue ja teria despedido o advogado se no
fossem os Anjos que lh'o encamparam. Parece-me
porem q. deves socegar q.to a receios. Eu disse-lhe
q. as obras no estavam paradas, mas q. iam m. de
vagar. Elle por no ser pesado, no pediu que adian-
tassemos m . s din. ro Oue a sua idea ir viver p.
Seide com o Narciso. Em fim estou espera dos
2 q. vem aqui jantar comigo. Ad.
8
, f.
3 horas
1
/2
Na estao
XXIII
Sinto-me muitssimo doente. No retrocedo por q.
no tenho meio nenhum de transporte. Parece-me
que vou morrer de enfermid. e, de angustia moral e -
de desesperao. Digo-te adeus e aos filhos. No
lhes peo q. peam a o.
8
p. r mim p. r q. no ha
assim a da terra q. m me possa valer.
Teu
c.
73
XXIV
Ao recolher-me cama p. morrer, digo-te adeus
Anninhas.
12 de Janeiro.
4 menos
1
/4 da tarde .
Camillo.
XXV
Quando sahi de Seide em 10 de Setembro de 1885
p. a o Porto levava um profundo presentimento de q.
ia morrer.
Camillo Castello Br. o
1 O horas
1
/2 d manhan .
XXVI
MEU FILHO
Estou despedaado de dores nevralgicas, e suici
do-me, se ellas me duram. M e t t e ~ t e em uma carrua-
gem e vai dizer ao Dr. Ricardo Jorge que te receite
alguma coisa q. se pode aviar na botica da rua de
S . to Ant.
0
q. est sempre aberta. Acode ao teu des
graa do pai.
74
XXVII
MEU QUERIDO FILHO
Tenho m. tas saudades de ti, Jorge .
Estou m. to velhinho, mas ainda no morro. Lem-
bra-te do teu pap e d alguns passeios a cavallo, e
no penses em cousas tristes . Conversa com a ma-
man, e dize-lhe coisas alegres para ella se no affli-
gir com as nossas doenas. Adeus, meu Jorge. Abra-
a-te ao corao o teu
Pap.
XXVIII
(Telegrama a Pvoa e Varzim, em 6 -Setembro- 1888)
Ex.m Conselheiro Peito e Carvalho - Lisboa
No penses mais em mim. Vou para Seide resol-
vido a esperar a morte irremediavel.
Camillo.
XXIX
MEU AM.
Deve estar farto de saber que meu f.
0
est no La-
75
zareto, onde tem de expiar mais 1 O dias por no fa-
zer caso de conselhos.
Vou inutilisar uma pagina do seu album e enviar-
lh'o. So 2 horas da noite. Estou-me estorcendo com
horrendas nevralgias.
Desejo-lhe uma noite de festa e que o Macario
assassinado viva m . to tempo.
Do seu am.
0
C. Castello Branco.
XXX
EX ... SR.
Se v que a minha carta no tem m. to descuidos
grammaticaes, pode publicai-a. No me lembro se ha
la coisa que moleste o proximo ; se v que h, trace .
. V. Ex.a no deve ignorar que eu acato o proximo
e so por descuido lhe tenho assacado aleives que me
trazem ass:tz penitenciado.
Agradeo-lhe a estimao que d ao futilissimo li-
vro dos cBrilhantes. Parece-me que so tem uma du-
zia de paginas soffriveis: so as ultimas que me sa-
hiram da alma com lagrimas. As outras so pura ct.a-
laa -o esprito portuguez, unico, a meu ver, que
pode sahir das nossas officinas de caricaturistas. A
nossa socied.e no d para mais. Se tirarem a Por-
tugal o brasilero, e ao Jardim das Plantas de Paris
76
()S ursos, no ha ahi que ver. (Esta carta faa- me o
favor de a no publicar. Isto entre ns maledicen-
<:ia m.lo puridade.) D-me as suas ordens.
De V. Ex. a
adm. or affectivo e obg
Camil/o Castello Br. co
S. M. Seille
17 e Abril70
XXXI
MEU PRESADO CONDE
Costumo importar-me quasi nada com os juisos da
posteridade: no me preoccupa cousa nenhuma a glo-
ria ou a detraco d'alem da campa. No obstante,
sinto certo prazer em q. nos seculos vindouros se
encontrem os nossos nomes juntos e escriptos em um
livro de baptisados.
Pode ser q. a tradio v referindo que nos en-
contramos amigos na flor dos annos, e, ao intardecer
da vida nos encontramos. unidos pelo pensam. &o ao
desabrochar da alma do nosso afilhado para as lu-
das da existencia. O teu nome ser-lhe-ha uma hon-
ra, e o meu um confrto.
Abraa-te com a energia de um grande affecto o
reu velho amigo
Camillo Cast.
0
B. co
T. C.
~ e fevr. 1882
77
XXXII
MEU PRESADO CONDE
Conservo a tua carta entre as felicitaoens mais
gratas. Ainda pondo de parte a exagerao com que
reputas os meus merecim. te, tenho m. to que te agra- -
decer. A merc q. dvo a Elrei abriu margem a ou
tra egualmente valiosa que dvo aos representantes
da nao.
Mas sabes o q. -eu, sobre tudo e m. q. tudo de-
sejava, meu caro Conde ? Era saude que perdi sem
esperana de a restaurar.
Abraa-te cordealm. te o teu velho
Camil/o Castel/o Branco.
XXXIII
EX ... SR.
Porto - Agosto e 1863.
Diz-me a consciencia, que no mereo a poesia.
que V. Ex. a me dedica ; mas o corao agradece-a.
Dou lhe um fervoroso aprto de mo, como o de
dois infelises, que se encontram a caminharem guia-
dos pela mesma estrella de infortunio. No paremos.
78
que la adiante est um bom travesseiro de pedra, e
um somno longo e quieto.
Com m.
1
estima e gratido
De V. EK.a adm.or agradecido
Camillo C. Branco.
XXXIV
MEU AMIGO
D. Anna e eu lhe agradecemos mui cordealm.'" a
offerta do seu laborioso e utilissimo trabalho. Na 2.
edi. do Cavar em Runas, se se fizer em m. vida,
farei meno da nota do meu amigo.
A maxima p.' dos livros que me prope em troca
a tenho nas Memorias i)a Academia. Outros, a fora
aquelles, j os possuo, e alguns no interessam ao
genero dos meus estudos.
Relativam.'e aos abatim!
09
, que o meu am.
0
faz aos
livrecos q, por ahi tenho, so elles tamanhos q. no
os aceitaria eu.
E' certo q. auctorisei o Eduardo a abater i mas
com lambem da percentagem q. lhe desi-
gnei. Sem isso, no tero elles to desgraado fim.
Prefiro recolhl-os i por que merecem m. alguma es-
tima.
Do seu m.
10
am.
0
30 e Julho 67.
C. C. Br.
0
79
XXXV
MEU AMIGO
Queixa-se injustam. te O cathalogo dos livros que
hode ir p.
3
o Ed, Coelho, so no fim da corr.e se
mana fica impresso. Um q. enviei ao baro de Pa,
como o meu am. o pode verificar, egual ao q. lhe
deu o Alves Matheus.
Eu tinha escripto ao Jorge Shaw indicando-lhe do
referido cathalogo os n. os escolhidos por V. Diz elle
que recebeu a m. a carta quando o leilo ja corria, e
parte das obras estava vendida. Isto, a meu ver,
mentira. O mais certo ser q. elle tinha interesse
em adjudicar as obras ao V. Pinto.
Vendeu-lhe o n. 7 (B. Rabbinica) .. 10$000
~ n. o 28 (Constit.) . . 2$000
:t :t 95 (Mayor triumpho) 2$400
Queira ver no Innocencio que esta 3
3
obra tem
estampa allegorica. O meu exemplar no a tinha. O
meu amigo por tanto descontentava-se da falta.
O n. o 53 (Hist. da America) chegou a 9$000;
mas, como eu fixra o minimo em 10$000, ficou.
Pode contar com ella pelos 8$ rs.
O n.
0
63 (fastos) que o V. Pintolcomprou p.r 2$ rs.,
80
falta-lhe o 7.
0
vol. seg. do o comprador me assevera
com o lnnocencio em punho.
O autor um fulano Lx., e pareceme ser Gas-
par (tambem os ha no Rio de Jan. ro ) No lhe servia
por tanto.
Outros n. os se venderam, excepto a hist. gene-
alog. da Casa de Lara que, se bem me lembro ago-
ra, o meu am . o disse querer p . 12$000.
Eu, fiado nos 140 fr. do Maisonneuve, estipulei
o minimo de 19$000 rs. Chegou a 12100 rs.
Ficou, p. tanto ; veia o d! se devo remetterlh'a.
Eu dei 20$ rs. como fino q. sou.
Tenho por tanto s suas ordens :
Os 2 Rel}im. tos da Inquisio .... .
Constituioens de S. Bento ..... .
Sermoens de Gaivo ........... .
Promptuario .......... ~ ....... .
Hist. da America ..............
Refeio .... ................ .
Explicao do Psalmo .......... .
Jardim da S. Escript. a .
Casa de Lara .................. .
Diga-me -se lh'os devo remetter.
9000
2500
3000
1200
8000
2250
1200
1200
12000
Q. to importancia, poderia o meu am. enviar-m'a
por via do Banco do M.
0
p.
11
V. Nova, onde ha
casa filial ou corresp. , dedusindo a percentagem.
Os sermoens de Gaivo (o melhor e optimo exem-
plar) est em Sei de . So no comeo da prox. se-
81
mana posso enviar lh'o. Os outros livros esto aqui
no Porto.
Porto 21 e
S.bro 68
Do seu am." obg.
0
Camillo Castello Br."
XXXVI
EX.m SR.
faltam-me os seguintes livros: (segue-se uma re-
lao de livros portugueses, franceses, italianos,
espanhis, ingleses e latinos, iniJicaiJos por n
meros iJe catlogo e com os respectivos preos.)
Deve-me V. Ex.a- 40$450 reis.
Passados oito dias, se V. Ex.a me no houver pago
com dinheiro, com os mesmos livros, ou coin outros,
volto. a Braga. Lamento a sua posio ; mas no me
deixo espoliar pelos despejados; pelos infelises, sim.
O snr. Caldas, se conseguisse reaviventar a sua
vergonha perdida, poupava-me a mim ao njo de lhe
escrever o necrologio. Hade tl-o magnifico e mo
nu mental.
Seie 12 e
)unho e 1870
De V. Ex.a
admiradissimo servo
C. Castello Br.o
6
82
XXXVII
EX.m SNR.
Devolvo os seus livros. A Ethiopia extremam.te
cara, attento o seu estado geral e particularm.
18
o da
pag. 10. O ms. no me convem. Seria obra estimada
se passasse alem do 4.
0
canto.
Perguntei ao Ernesto Clt'ardron pelo leilo q. V.
Ex. me annunciou. Disse elle q. tal leilo pura
fabula.
Lamento que V. Ex. nunca queira entrar no ter
reno da !eald. e comigo. Como j estou canado de
me molestar com esta suja questo de livros, d'aqui
prometto no mais intentar havl-os. Tempo perdido.
V. Ex. conseguiu o seu fim. Parabens .
.
Hotel os 2 am.
27 e Junho 70
De V Ex . a v or e adm . or
Camillo Castello Br.""
XXXVIII
MEU AMIGO
Envio-lhe uma lista de livros que desejo trocar por
chronicas monasticas e civis. No lhe inculco a ra-
83
rid. e de alguns, por que no ensino o padre nosso
ao vigario.
Se tiver livros que queira trocar pelos bons exem
piares que offereo diga que livros so.
porem, que no cedo uns, ficando eu
com os outros.
SeiZle, 8 Zle
S.bro .76
Do seu adm. or , confr. e e am. o
C. Castello Br.eo
XXXIX
MEU AMIGO E CONFRADE
Tenho de escrever um prospecto para a publica
o das cMonstruosidades do tempo e da
por fr. Alex. da Paixo.
Tenho escassas noticias do frade ; e creio q. o
meu amigo poder, com a sua solicitude investiga-
dora, dar-m'as de modo que a sua resposta possa ser
inclusa no prospecto.
Se isto lhe no for penoso - e por q. sei q .
10
lhe
so aprasiveis os trabalhos desta especie - m to pe-
nhorar o
Seu velho adm. or e am. o
s. c.
SeiZle 1 Zle
abril 78
Camillo Castello Br.
84
XL
MEU BOM AMIGO
No accusei a recepo dos apontam. tos com q. me
obsequiou, por qua, tencionando ir a Braga, como de
facto fui, queria agradecerlh'os pessoalm. te ; mas
tive de sahir logo d'ahi por ter passado a noute pes
simam. t
O meu filho no estava no caso de ser honrosa-
mente examinado.
Agradeo ao meu amigo qualq. r favor q. tencio-
nasse prestar-lhe; mas eu nunca consentirei que fi-
lho meu obrigue os meus am .
01
a condescendencias
e indulgencias dessa natureza.
No annunciei venda alg. m opusculo de Mala-
grida.
Se alguem noticiou q. eu o tinha, a illao de j.
o vendo foi mal tirada.
Seille
l!il-5-78
Do seu am. o obg. o
C. Castello Branco.
85
XLI
MEU COLLEGA E AMIGO
fui examinar o arl.
0
que me indicou no lnnocen
cio, e achei que o seu ms. era justam . te o q. eu
suppunha. Multo agradecido.
O homem que em 1647 tentou contra a vida de
Joo IV era Dom. o Leite Pereira, natural de Guim.e,
e que, segundo presumo, nasceu entre 1610 e 1615.
Tenho quase concludo o romance, que diz resp.to
quelle sujeito. Como lhe no conhecia o pai, inven-
tei-lh'o; se V. Ex.
3
, a tempo, me enviar a authentica
paternid.e do individuo, terei m.
10
praser em declarar
que lhe devo a preciosa noticia. Comq . to o conde da
Ericeira lhe diga que o homem era de Lx.a, no o
creia; fiese antes em fr. fr. co Brando que coe
vo, e escreveu sobre o assumpto no mesmo anno.
De V. Ex.
11
am.
0
obg.
6
C. Castello Br. <o
..
86
XLII
MEU AMIGO
As contrariedades cerram-se to despoticam. te con-
tra mim que tenho dias de immensa angustia. Hon
tem q.do lhe escrevi estava debaixo dessa influencia
doentia que me despedaa sem acabar de me matar.
Se a m. a carta o incommodou, peo-lhe q. me
desculpe. O sr. Ferr. a Mout. o insta pelo art.
0
Le-
vantei-me hoje a ver se posso trabalhar. Horrivel si-
tuao! No posso se quer abrir os olhos e escrevo-
lhe pelo tino.
O Nuno est perdido. Trata mal a m.erporq.ella
lhe nega consentim. to p. a ir ao Rio. Agora diz q.
no volta aqui p.r saber q. eu protejo a pobre mu-
lher
Oxal q. no volte.
R. bi tudo. O store no serve. As janellas so de
p ~ i t o r i l e pequenas .
No posso mais.
Do seu am.
0
C. C. Br.
87
XLIII
MEU AM.
Agradecemos as suas condolentes expressoens.
Nuno retirou hontem com a fam. a p. a Requio,
d'aqui distante 3 quartos de legua.
A creancinha gritou tanto pela av, q. voltou p.
11
aqui. Parece q. a mandaro buscar manhan.
Persuado-me que ser inevitavel a separao dos
casados, que se detestam cordealm. te
O Nuno tem feito m ; ta inconveniencia q. no fa
ria, se tivesse outra esposa. com indole de Senhora.
Mas esta mulher tem o sangue da me que era mu-
lata; da av que era preta, e do pai que era um pa
fife incestuoso e crivado de vi cios.
Alem de tudo, parte d'aquelle cerebro est desor-
ganisado.
Vamos supportando 'a vida.
Ainda no perguntei ao meu bom am .
0
quanto te-
nho a dar-lhe pela despesa feita nas paginas do cGe-
nerab q. se inufilisaram, e outras despesas miudas
em que entram 100 cartoens de visita, etc. Desejo
no morrer insoluvel.
Do seu am. o grafo
s. c. 6 ... fr ...
C. Castello Br.
88
XLIV
MEU AM"
Fui citado para comparecer na audiencia.
Oue esperem la por mim. Os auctores allegarr. q.
eu, depois de ter vendido O homem rico ao Cruz
Cout-
0
, o vendera casa Mor. Se Cruz Cout-
0
fosse vivo, seria elle q. m desmentiria a infamia; mas
est ahi vivo o sob r. q que era caixeiro do tio.
Veja se pode directa ou indirectam."' interrogar o
homem crca d'essa calumnia.
As m . as relaoens commerciaes com Cruz Cout. o
terminaram em fevereiro de 1859 .
. O cromance de um homem rico:t foi escripto na
cadeia da R. amem 8. bro de 1860 e vendido juntam.
1
e
com o Amor de PeriHo ao Jos Gomes Mont!
0
Cruz Coutinho, ncs ultimas annos da sua vida, rea
tou as nossas antigas relaoens e lamentou q. ellas
se tivessem interrompido. Indispuz-me com elle por
q. fez publico um bilhete compromettedor q. encon
trou em um livro da m. a livraria q. elle comprou em
Jan. ro de 1859. No posso imaginar o q. deu azo
a tamanha calumnia ! Eu queria, desde ja, escrever a
este resp. to e a resp to da questo com o Anselmo,
mas falta-me um docum.
10
que a refutasse.
Infelizm. te Jos Gomes, Cruz Cout. o e o Char-
dron, ento caixeiro d casa Mo r, esto mortos
89
. Apenas tenho nas noites de insomnia uma carta de
Jose Gomes Mont.'
0
exaltando a m.a honra nos con
tractos.
Lugan & Genelioux, no seu articulado, confessam
que Chardron me comprara o Cames p . a o livro, e
outra edio p. te ; confessa o m. mo a respeito da
Rattazzi, duas edies, cada uma paga de cada vez.
O. ro aos folhetos da sebenta atrapalham q.to po
dem-
Meu am.
0
, repito : logo que perdi a questo com
o Anselmo no me resta esperana de ganhar esta.
Meu filho Jorge est relativam te bom.
M. t.o manso, obedientissimo, bebe quase nada e
iuma m. to pouco. Veremos o q. vem.
Do seu obg.mo am.
0
C. Casf.
0
Br.
XLV
ILL.'Do EX.mo SR.
Recebo com m. to reconhecimento o obsequio do
~ e u livro sobre assumpto em que eu ainda desvelo as
poucas horas que posso feriar de outros menos gra
1os lavores.
Desejo q. V. Ex. a se no fique n'esta excellente
estreia, e explore na riquesa da sua livraria as m.t
90
noticias de que to precisados esto os estudos bi-
bliographicos em Portugal.
Q.ta e S. M. e Seie
Fev. 77
Seie, 10 e Dez. 77
De V. Ex.
v. or e ad. or ag. o
Camillo Castello Br.
0
XLVI
ILL"'" E EX."' SNR.
Li aprasivelmente o livro com q. V. Ex. a me ob-
sequiou. Li tudo, excepto o q. eu no podia perce-
ber_,_ os algarismos represeniativos da maxima scien
cia destes dias alumiados electricamente.
No via, talvez, V. Ex.a o mundo quella luz, quan-
do em 1859 publicava os seus cEspinhos e amores.
Aqui tenho os dois livros um- ao lado do outro.
Parecem-se tanto como as duas geraoens confron-
tadas.
Que saudade !
Aperta -lhe a mo
o de V. Ei<.a am.
0
att.
0
e ag.
0
Camillo Casf.
0
Br.
0
91
XLVII
MEU CARO AM.
Porto 28 fev." 82
Tencionava esperar as provas do prefacio aqui, mas
o Teixeira diz que leva 6 dias a compor, e calculou
2 folhas de impresso. O Prefacio leva o titulo Silva
Pinto e a sua obra. Retiro-me e l iro a Seide as
provas.
O Porto, quando chove, parece-me uma avalanche
de m. . . que se dissolve na enchurrada. Sinto aqui
alguma cousa peor que as hemorrodias.
Muita saude e adeus.
Do seu m.
10
am.
0
XLVIII
MEU AM.
0
Hoje recebi a ordem de 76$000, q, m/
0
agradeo.
Respondendo sua proposta sobre a m.a corres-
pondencia com Vieira de Castro, direi que tencionava
propor-lhe a compra da obra, antes de tomar outra
resoluo. Ja do Rio de Janeiro me propoz a com-
92
pra o Lemaire; mas eu, q. no tenho paciencia para
copiar os documentos, nem quero desfazer-me dos
originaes, recuso vender para o estrangeiro. A obra
hade intitular-se: cCorrespondencia epistolar de Jose
Cardoso Vieira de Castro e C. Castello Br.- Es-
cripta durante os dois ultimos annos da vida do illus-
tre o r a d o r : ~ .
D 2 tomos de mais de 300 pag. cada um, por &.
as cartas so mais de 300, e ho de ser precedidas
de uma succinta biographia .
A propried. e desta obra no a vendo por menos
de um conto de reis, e so no principio de 1874 po-
derei d<"r como impresso .
E' de crer que o meu amigo regeite a proposta,
mas no regeite a estima affectuosa do
Seie - 7 e
Ag.
10
e 73
XLIX
seu am.
0
C. Castel!o Br.
0
MEU AM.
0
Os 2 vol. da CorresponiJencia devem sommar
500 pag. em 8.
0
A primeira metade do tom. 1.
0
con-
tem a biographia de V . de Castro.
Depois seguem-se as cartas d'elle, e depois as m.as
Note o meu am.
0
que grande o meu trabalho ; e
calcule que 2000 exemplares a 1000 so 2:000$000,
93
e a propried. e da obra vale outros dois contos, e a
sua felicid . e vale 20 contos.
Eu daria a obra por 600$ rs. se recebesse as 60
libras que do Brazil me mandaram dar p.'" 6 exem
piares ; mas estas 60 lb. deviam ser applicadas ao
monum.
10
em Moreira ; - o q. no pode ja fazer se
p. r que aquella quinta foi vendida ; e eu, p. tanto,
no procuro, nem recebo o din. ro que devia ser ap-
plicado ao monumento.
Se tiver ja sahido o 4.
0
n.
0
das Noites, queira en
viar-me 2 ex.
De V. S.a
am. o obg. o
Camillo Cast. o Br.
L
MEU AMIGO E SR. CHARDRON
Pode V. S. a mostrar esta carta ao meu amigo
Custodio Jos Vieira.
Como o perodo, cuja subtraco se pede, no o ~
fende J. e Gomes Mont. ro, no o retiro, em q.to elle
no declarar que Anselmo mentia quando publicou
que J . e Gomes se escondia no seu escriptorio p. a fu-
gir a uma escroquerie minha.
No altero esta resoluo.
De V. s.a
am. o obg .o
C. Castello Br.
94
LI
Seille 2 lle 9. bro lle 77
MEU AM.o
Envio-lhe um manuscripto. Examine-o.
Calculo que deve dar mais de 100 pag., formato
das Noutes, e que deve ser vendido a 300 rs.
Se lhe convem publicai-o, depois de o examinar,
d-me por elle --- pela propried. e -- 30 lib.
Se achar q. m. to, d-me 26, e 12 exemplares,
~ e r . d o 2 em melhor papel.
Persuado-me que ser lido com interesse este li-
vrinho.
Convindo-lhe, peo-lhe o favor de mandar entre
gar a q.t na Rua da Restaurao, 116, a Ant.
0
fran.eo
-de Carvalho.
Do seu am.
0
obg.
0
C. Cast.
0
Br.
0
LII
MEU AM.
2 a feira remetto o art.
0
c Pedagogia. Vai tambetl'!
uma apreciao do c Portugal e os Estrangeiros.
95
O art.
0
m.
10
extenso : deve deitar 6 pag. ; mas
eu m . to desejo q. elle saia no proximo n. o da c bi
bliographia e no seja cortado.
Os enormes livros do B. Branco necessitavam
desta amoravel correco, e eu entendo que a falta
de critica justa tem deixado medrar m . to tolo neste
paiz oa Marmelaoa como lhe chamou o seu patri-
cia Voiture.
Peo lhe pois q . previna o sr . r eix . r a para fazer
entrar o art.
0
inteiro, e o meu am. o faa o sacrificio
de metter mais paginas no numero 5.
Mandaram-me 10 amostras oo pano que eu es
palhei por Lisboa.
Se tiver Les Memoires de Casa Nova queira en-
viarm 'as, ou mandai-as pedir p. a Paris.
Boas festas e cuidado com o estomago e com o
figado.
Do seu am
0
obg.mo
10-4-79
I
C. Castello Br. o
Lili
MEU AM
Desconfio que no recebeu uma carta em resposta
ao seu obsequioso e segundo telegramma - ao qual
no respondi electricam. t por que a estao de v.a
Nova se fecha ao anoitecer.
Persuado-me que ninguem me julgar capaz da
96
porcaria de traduzir e fazer meu, no digo um ro"
mance, mas um perodo .
Dessa deshonra vou eu immaculado deste mundo
infame. Passei pelos olhos o c Cancioneiro e vi com
tristeza que tem bastantes erros de imprensa .
Seria a culpa m. ~ \ ou da precipitao com q. foi
impresso. Como possvel que se faa 2. a edio,
ento se faro emendas e daremos m.
5
alguns poe"
tas em edio mais compacta e menos luxuosa.
Guarde o meu am.
0
os poetas q. ficaram de fora ;
e, se eu tiver morrido, aproveite-os.
Digo" lhe isto p.' que me sinto bastante doente.
Quando quizer que se d comeo ao cSentimen"
talismo, etc. avise-me para eu ir enviando manus"
criptos a pouco e pouco.
Seria bom q. fosse impressor o Teixeira.
A 1.
8
parte hade ser historia, a 2. romance, e a
3.
8
crvtica. Nesta, podemos incluir algumas das pu
blicadas na cBibliographia.
D'ahi pode resultar algum proveito s suas edi
oens.
A situao do T eix."' no me parece m. to boa na
tal trapalhada que elle fez p . a engrossar o volume.
Em fim .
Devolvo-lhe o romance cMargarida, que lh'o
mandou o author Gostei d'elle E' realista; mas
est m.
10
quem do Ea.
r em o grande inconveniente de o imitar.
A cBibliographia? Tenho admirado a demora
estando composta ha tanto tempo.
97
Peo-lhe q. me rernetta tudo que vir escripto con-
tra e a favor do cCanc,:t Responderei ao que fr di-
gno de resposta. Se tiver na sua livraria velha a ae-
nealogia iJa Casa iJe Silva por Salazar v Castro
(h espanhol) 2 tom. foi. queira emprestarmos por al-
guns dias; e se no tiver o Mignet Antonio Perez:t
mande-m'o vir de Paris.
Basta de estopada.
Do seu am.
0
C. CaSf.
0
Br.
0
P. S.
Se quizer, pode neste n. o da cBibliog. :t annun-
ciar o livro que tenciono vender-lhe intitulado:
Sentimentalismo
historia e critica
com mais de 300 pag.
LIV
MEU AM.
0
cA Formosa das Violetas:t Noutes de Lamego
pag. 147. Depois d'isso, escrevi, q. do ella se suici-
dou, um longo art.
0
nas Artes e Lettras.
Concordo em excluir do livro tudo que critica.
Cbamarse-ha Historia e Sentimentalismo. Ape-
7
98
nas ter 20 pag. ja conhecidas nas Artes e lettras,
justamente as que dizem resp. h Elisa Basto. O livro
m. t<> mais trabalhoso que um romance; o que per-
tence historia tracta do Prior do Crato, assumpto
pouco sabido em Portugal.
Um dos romances realista, e intitula-se Euse-
bio Macario, no estylo do Ea e do Julio L. P.
10
Deve fazer rir .
Quanto a pro, a casa Mattos Mor- paga-me os
vol- de 250 pag. a 336 666 rs ou 1:000000 rs por
trez vol.
O que eu lhe vou escrever ter 300 pag., e o meu
am.
0
pela propried e d'elle dar-me-ha 300$ rs.
A sua resposta no pode ser negativa, por q . sei
q. justo
Pode ser que na 3.
8
feira conversemos a tal resp.'
0
,
se a saude me promittir (sic) ir ahi.
Levo os primeiros manuscriptos.
Quanto ao pagam. t, do livro receberei agora me-
tade, e o restante na concluso da obra.
Nesta t. prestao ser encontrada a q. ta q. fez
favor de pagar ao Baquet .
Agradeo o emprestimo dos livros
Do seu am . o obg.
0
264-79
l3r.
99 .
LV
MEU AM.o
Desde q. demos vida cBibliographia chovem
aqui livros e librecos que uma praga de Portugal
por no dizer do Egypto.
Os escriptores intendem que eu tenho em Seide
moinho de criticas. Parece- me q. me vejo obrigado
a dar em todos p. a que me deixem com o meu rheu-
matismo-
Se lhe parecer, mande pr no frontispicio da cHis-
ioria e Sentimentalismo a numerao I, por que, se
este agradar, poderia mos dar m. s com identico titulo.
faa o q lhe parecer. Mas na lombada no po
nha numerao
O J/lustrao de hontem chama-lhe o primeiro
eitor a Peninsula.
Creio que lhe no fizeram favor.
Os editores em Hespanh"i oram pelos portugue-
zes de c. Publicam 6 volumes e quebram.
Parece-me que o n.
0
6 da cBibliog. vae m. to
.carregado com apreciaes do cCanc.
Gosto principalm. te das q. dizem mal-
O j. L. P. to fez mal em fallar no estadulho.
_ Parece-me..
Veia o meu am.
0
se tem ou tem alguem um opus-
cuJo ahi publicado em 1875 com o titulo Memoria
100
sobre a descoberta aas ilhas ae Porto Santo e
Maaeira por E. A. Bettencourt.
Do seu am. o
C. C. Branco.
P. S.
Remetto a Prefao p. o livro c Historia e S e n ~
tim. :t Mande-a ao Teix :
LVI
MEU AM.o
Eu tambem tenciono no fim do mez sahir p. o
Vidago ou Pedras Salgadas. Ao meu am.
0
convinha-
lhe m . to o Vidago, para desobstruir-lhe o fi gado. Ali
os ares so optimos, e o hotel magnifico . Consulte o
seu medico.
No fim do mez tenciono dar-lhe o como do 2 . ~
tomo da cHist. e Sentimentalismo:t.
Conto com a sabida do 1. E' facil prevl-a, atfen-
dendo curiosid. e dos crticos e. dos indifferentes.
Para essa epoca, se lhe for possvel, hade adian-
tar-me metade da importancia do livro. Se no for
possvel, no se constranja em m'o dizer.
Estou ancioso porque (sic) venham os folhetos dos
2 sujeitos. Queria deixar prompto o n.
0
9 da Bibl.
101
Logo que obtenha o exemplar do Commercio do
Rio, mande-me o extracto, porq. quero responder
D. M.a Amalia, defendendo o f. Palha q. ella attaca.
Mando-lhe hoje original, e provas ao Teix.r
Do seu am.
0
17-7-79
C. Cast.
0
Br.
LVII
MEU AM.
Na mo do Diniz j est a resposta ao Arthur
Barreiros. Deixe os vir. Se fizer 2.a edio do cCanc.
no nos dispensaremos de incluir cos crticos.
Devolvo-lhe as cartas. Peo-lhe q. guarde a q.
diz resp.
1
" ao Gaspar. Talvez venha a ser preciza.
No a perca de memoria . Mando-lhe um dos jornaes
que so do m.
1110
n. o
O D. Luiz ahi o m.s mal tratado, mas est vin-
gado vist<? q. o contrafactor perdeu .
Estou escrevendo um livro. Devia ser o 2.
0
do
Sentimentalismo e Hist. Provavelm. te o meu am.
0
vir a ficar com elle.
Quando sahir o livro queira mandar um exemplar
m.a filha. Desejo a continuao das melhoras de
seu mano. Eu ca vou luctando com a velhice q .
mais aporrinha8ora que a critica. Tenho esperado
102
c o ~ curiosid.e o Junqueiro e o Gomes LeaL Vo-se
de,norando .
S. C.
28779
LVIII
Do seu am .
C. Casf.
0
Br.
0
MEU AMIGO
Remetto a concluso do Euzebio.
Se vir que o volume no chega s 300 pag. (cal-
culo q. o Teix: pode fazer) avise-me para lhe en-
viar mais original.
Ja respondi a 2 cryticos do cCanc. Mandei p.a o
Sorvte.
Devem ser transcriptos os art.
08
na cBibliog.
O do Brasil um asno perfeito. Bom que de la
venham as asneiras.
Bom signal p . a a venda do livro, que o seu e o
meu desejo.
Vou responder D. M. a Amalia, mas essa no
entra na fileira dos cryticos.
Tem Jogar de honra .
Do seu am. o ob."
C. Cast. Br.
103
LIX
MEU PRESADO AMIGO
Estava dando-me cuidado a sua demora em LK. ~
Queria escrever-lhe, mas no sabia para onde. I ma-
ginava-o doente; mas provavelm. te, os bellos dias
convidaram-o a eKcurses volta de Lisboa, e o Vi
ctor de Cintra no deixaria de influir na sua demora.
Antes assim.
Os nove dias decorridos desde a sua ida p.
11
LK. a
transtornaram o meu proposito de ir gozar o Porto
em sua caza.
A doena foi-me quebrantando; assentei-me ao p
do fogo, e ja no posso sahir d'aqui. Se eu viver
nos dias alegres da Primavera ento irei gosar o of-
ferecim . to da sua boa amizade .
Enviei ao Ramos a 1.
8
correspondencia, com o ti-
tulo Eccos humorsticos do Minho, e tenciono en-
viar-lhe a 2. no proKimo paquete. No ]orna/ cJo
Commercio do Rio, li elogios carta do P. Chagas
ao Imperador. Talvez lhe enviassem o jornal ao meu
am. o No sei se se publicou o n. o 13 da cBibl.:. Eu
no o recebi ainda .
Como a doena me no tem deiKado continuar o
Gonalinho, seria bom publicar-se o 2.
0
tomo da
Historia e sentimentalismo p. a o qual ja tinha ai-
104
guns trabalhos escriptos: o subtitulo deste volume
Raas finas - a historia das patifarias fidalgas por
tuguezas.
Como na 2. parte ha um trabalho q. publiquei nas
Artes e I ettr as de 1873 a resp . to da celebre suicida
Eliza Basto, reputo este volume em menos 50$000
rs. que o do uonalinho. Por tanto m.i' Chardron
me dar pelo 2.
0
tomo da ffist. e sent. 350$ rs.
No caso affirmativo, enviarei j manuscripto ao s.a
Teix. ra
Estou m. to mortificado com os padecim. tos de ca
bea de um meu filho que me parece condemnado a
uma alienao mental. No sei como posso escrever
rodeado de panoramas to tristes !
Envialhe um grato abrao pelo seu teleg. a, o seu
dedicado am . o
S. C.
19-12-79
C. Cast. Br.
LX
MEU PRESADO AMIGO
Vou 2.a feira ao Porto e levo parte do manuscripto
do .
0
tomo da c:Hist. e sentim.
Como a parte historica uma charge, tenho como
certo que este 2.
0
tomo ter mais leitores que o 1.
0
105
A 2.a parte, ser quase toda, ou toda, a cont. do Eu-
sebio Macario.
Tenho de pedir lhe o favor de me adiantar metade
da import. 175$ rs.; mas nesta metade hade encon
trar o din. ro q. mandou dar em braga (sic) assima.
das 10 libras, outra q. ts de charutos, e os livros que
tenho mandado vir.
At l.
M. to seu am .
0
agradecido
C. C. Branco.
LXI
MEU AM.o
O formato dos Ecos est bem assim.
R. bi os livrinhos da Rattazzi q. ainda no pude
ver. A m. a doena aggravase, e creio que ia no
recua.
Se eu morrer, no deixe de publicar os echos at
ao 4.
0
n.
0
, como auxilio p. a o ajudar indemnisao
dos 175$ rs. q. me adiantou. Alguem sabe destas
contas.
Veja la a q. m encarrega a verso franceza. Nc
sei se valer a pena. Parece me q. o meu am.
0
vae
perder o que ganhou no opusculo.
106
Eu, no conceito dos francezes, nada posso perder-
P. r que nada tinha ganho c ~ m o escriptor.
AD. No posso m. s
M.
10
seu am.
C. Cast, Br.
Remetto a satisfao do Atlantico.
LXII
MEU PRESADO CHARDRON
E' escuzado voltarem provas.
O Diniz decerto entende as explicaoens q. dei.
Enviei hoje p! a typog. as linhas q. ho de pre-
ceder o 2.
0
dos Echos.
O 2.
0
do Macario tomra eu podl-o aprontar p.a
sahir em maro.
No tenciono interromper-me com outra coisa.
Jornaes litterarios mandei-os ao diabo.
Se la tiver o Biographo, mande-me o n. o em q.
vem o meu fiel retrato.
Do seu am o
6-2-80
C. Casf. o Br.
107
LXIII
MEU AMIGO
Estou deliberado e disposto a escrever na cama, a
Japis. Para isso queira enviar me dois livros em
branco, em 8.
0
, estreitos, de modo que me no obri
guem a empregar grande fora para os sustentar.
Cada livrinho deve ter uma3 100 pag.
Outro favor: se tiver algum periodico portuense
de 1852 mande ver como se chamavam os actores
da Comp. a lyrica desse anno, e envie-me os nomes
e o de alguma das operas ento representadas ; mas
talvez seja mais facil enviar-me a colleco das folhas
desse anno. Havia ento o Braz Tizana, Nacional,
Ecco, etc.
Vou escrever -A Corja-, continuao do Eu-
zebio; depois que tenciono concluir a parte histo-
rica d9 2.
0
tomo.
Do seu am.
0
obg.
0
3-11-80
C. Cast.
0
Br.
Convem q. os livros sejam pautados.
lOS
LXIV
O titulo da p.
18
historica pode ser:
Poetas e Raas finas
R . hi um livro .
MEU AM
fao idea .que o Mout.
0
jantou por elle e por mim.
LXV
fico sciente quanto conta.
Recebei-a-hei quando ahi for.
Do seu
c. c. Branco.
MEU AM.
0
Oue culpa tenho eu q. o Ea imitasse o Mana-
rim?
Mas, respeitando os seus protestos, nova proposta:
A Brazileira de Prazins, formato e typo do Eu-
.zebio, 300 pag. ou mais pelo preo de 350$ rs.
Convem?
Do seu m to am .
0
C. Castello Br.
109
LXVI
MEU M\.
0
Fao JJotos pela realisao da sua profecia quanto
lua nova. Tenho immensa necessid.e de sahir d'a-
qui alguns dias, por que a vida do fogo e da cama
embrutecem-me (sic). Eu para trabalhar preciso de
ver o sol. Pouco tenho escripto da Brazileira. Pre-
cizo conhecer bem o espirito publico na apreciao
da Corja.
Por emq. to no sei decidir, visto que a venda me
parece ter sido pequena.
Isto prova que as fam. as esto atemorisadas.
La ver nas Gambiarras a resposta ao Concei-
o. Ser bom publicar tambem o art. o d'elle.
Logo q. possa enviarei os art. os que deseja ; eu
no desejo menos escrevl-os.
Queira remetter-me o Dictionaire (sic) des so-
cits Badines etc. de Dinaux 2 vol. 8 . o
Do seu am. o
C. C. Br.
110
LXVII
MEU PRESADO AMIGO
Estou concluindo um livrinho intitulado :
D. Luiz e Portugal
neto o Prior o Crato
{quaro historico)
Deve ser um vol. de 100 paginas, no formato e
iypo dos Ratos. E' o resultado de um grande estu-
do, e no pequena despeza q. fiz mandando copiar
docum.
10
" desconhecidos na Bibliotheca de Evora,
onde se acham os manuscriptos originaes. No sei
se agradar ; mas talvez agrade p. r que tem ares de
romance.
Se o meu am.
0
o quizer editar, parece-me q. o
deveria vender a 300 rs., e dar- me o valor de 500
-ex. pela propriedade. Se lhe convem, envio-lhe bre
'Vem. te o manuscripto completo.
De Ratos nada. Nem a folha reformada.
Do seu am .
0
obg. mo
C. Castello Br.
..)
SEGUNDA PARTE
NOTAS EM LIVROS
Notas a um volume do Thetro,.
de Garrett
O volume de que se trata o segundo do Thea-
tro e constitudo por duas peas: a tragdia Me-
rape e o drama Um auto e Gil Vicente.
O exemplar anotado da 2.a edio (1856) e per-
tence ao ilustre camilianista sr. Lus Ferreira Lima
que espontneamente mo ofereceu para copiar e pu.
blicar as notas.
O frontispcio tem a rubrica de Camilo: C. C. Br.
A primeira nota aparece a pag. 7, onde principia o
prefcio do autor que logo no como diz ter que i-
ma do muitos versos e prosas da sua criancice. Ca-
milo notou : Garrett era to avsso a inutilisar os
seus versos q. at os vendia a 2 editores simulta
neam.te- os mesmos versos. Digam aos successores
dos Bertrands q. lhes mostrem 2 vol. authographos e
ineditos. O talento no redime destas
A pag. 11, diz Garrett que seu tio D. Alexandre
lhe deu um manuscrito com a traduo, de sua au-
toria. da Merope, de Maffei. A esta passagem ps
Camilo a nota: Mentira. No ha noticia de tal Ms.'ll
8
114
A pag. t 7, vem a dedicatria da tragdia me do
poeta, D. Ana Augusta de Almeida Leito.
Camilo sublinhou os apelidos e escreveu: Veja-se
G. d'Amorim Garrett:. a respeito destes Almeia e
Leto:..
A citao deve referir-se ao cap. I do 1.
0
volume
da obra de Gomes de Amorim. E' a que o bigrafo
se refere genealogia de Garrett.
Segue-se a tragdia qual Camilo faz um nico
comentrio. E' na ltima pgina, a 120.
Ao fundo escreveu: Alentada semsaboria !:.
Na pag. seguinte comea a segunda parte do livro
e a, por baixo do ttulo (Um auto e Oil Vicente).
escreveu: Um titulo estragado pelos episodios ex
tra-historicos, e d'uma fantasia pueril com niquices
de ve!ho. O' gigantes de cebo que o sol de 20 an-
nos derreteu !Jt
Comea a lntrouco e, na pag. 125, onde Gar-
rett, falando de D. Sebastio, diz que ste rei s Jra
tava de brigar e rezar, Camilo sublinha estas pala-
vras e anota :
Na pag. 126, a propsito da academia dos Hu-
miles e Ignorantes, diz : Academia q. nunca exis-
tiu:P. O mesmo diz no Curso e Litteratura (p:g.
131).
A pag. 128, diz o autor que o poeta Garo mor-
re numa enxovia por escrever uma carta em ingls,
e manda ver a nota no fim do volume, na qual trata
do caso mais largamente. Camilo escreveu junto ao
texto da referida pag. 128, emendando o que Oar-
115
rett diz sbre a causa da priso do poeta Garo :
c Por emprenhar a filha d'um coronel escossez ao ser-
vio de Portugal.
O escocs chamava-se Macbean, como se pode
ver no Curso iJe Litteratura Portugueza, onde
Camilo, a pag. 182 e seg., trata do episdio com de-
senvolvimento.
Junto da nota final de Garrett (pag. 281) escreveu:
cEsta Nota um rozario de. anachronicos descon-
chavos, e de ignorancia indesculpa'Jel a sujeito de tal
cathegoria Jitteraria.
Na pag. 129, Garrett, ainda sbre o caso, falando
das perseguies a Antnio Jos (o ]udeu) e a Gar
o, diz: cCom o primeiro foi vinganca ignobil de al-
gum f ~ a d e fanatico; 'com o segundo foi mais ignobil
vingana ainda, a de um ministro que blasonava de
philosopho. Camilo comenta: cerro crasso.
A pag. 136, expresso voltmos para traz pe
esta nota: cpleonasmo. Podia dizer retroceiJemos.
Ning."' volta p.a diante.
A pag. 138, em Gil-Vicente, homem oo povo,
sublinhou as ltimas palavras e notou: c Inexacto.
A pag. 143, comea o Prefacio iJos eitores, nQ
qual se reproduzem dois artigos de crtica ao drama
de Garrett. O primeiro foi publicado no Diario o
overno, e no se diz quem fsse o seu autor; o
segundo assinado pelas letras A. B., e em nota di-
2em os editores que foi publicado no n.
0
2 da Chro-
nica Litteraria, de Coimbra, em 1840, sendo seu.
autor Anse!mo Braamcamp Junior.
116
--------
Vamos s notas ao primeiro.
A pag. 145, diz o crtico: cGii-Vicente, o pae do
nosso theatro - e do hespanhol todo, - ... ; C a
milo sublinha a parte final e pregunta: ce Juan de
la Encina onde fica?:.
Na pag. seguinte fala-se da filha de mestre Gil,
criada e valida no pao; sublinhou e escreveu
margem: valida !
Mais abaixo, junto palavra etalhos, notou :
c Gal.
Na pag. 156, junto a dois versos cujo autor se no
nomeia, escreveu cGaro.
Na mesma, h ste perodo: Desgraados os Ca
mes que morreram de fome n'um hospital sem a ver
nem em esperana!:. Nota de Camilo: cRococo.
Na. pag. 157 termina o primeiro artigo e no fim
dele escreveu Camilo: c No d'Aim.a Garrett.
Comea na mesma pgina o artigo de A. B., ou
de Anselmo Braamcamp, segundo a nota citada.
A pag. 160, A. B. faz consideraes sbre a defi
cincia da literatura portuguesa em escritores dram
ticcs. Camilo escreve esta nota: cHavia p. desani
mar o cque exemplo a futuros escriptores de Ca
moens. 0.'
0
" depois de escrever C. fiseram epopas,
eram homens independentes e abastados. como Per.a
de Castro, L P. Brando, S de Menezes, Corte
Real, e os mais. Os pobres, se tinham talento, mor
reram mas talvez fartos n'outras carreiras.
Na pag. seguinte fala-se dos autores dramticos da
Frana, da Alemanha e da Inglaterra, e Camilo ano-
117
ia: ~ A Inglaterra traduzio do francez e do castelha-
no.
A pag. 162, a expresso teve logar mereceu-lhe
a nota: cGall.:t
Na seguinte, palavra oesappercebida (emprega-
da, como rro vulgar, em vez de iJespercebii'a), fez
a emenda, cortando-lhe o a e o primeiro p.
A pag. 164, sublinhou as palavras lini'a comei'ia,
co:n que o autor se refere ao drama de Garrett.
~ a pag. 165, outro galicismo: depararia com.
- Est sublinhado e marcado: cgall.:t
A pag. 166 torna o autor a chamar comedia ao
drama. Outra vez Camilo sublinhou.
~ e s t a pgina acaba o artigo de A. B. e para ela
guardou Camilo a sua opinio : cQue chata coisa !
N'aquelle tempo (1842) um art.
0
assim anemico como
o auctor, era um acontecim.to litterario neste mesqui-
nho Portugal !J>
E' de notar o engano na data do artigo que foi
publicado, como fica dito, em 1840.
Comea em seguida o drama garretiano.
A pag. 215, diz Gil: que um taco i}e Belzebuth
te carambolle n'alma I; ao lado escreveu Camilo:
c Ver em q. epoca foi inventado o bilhar:t.
A pag. 217, fala Gil Vicente e diz: cOue , que
? E' o vosso casamento ? ]a disse que sim : no me
apouquentem mais; no estou agora para casamen-
tos. Camilo marcou estas palavras e comentou: Que
critica.
A pag. 275, diz Bernardim: cOuve: a flor dos meus
118
annos murchou-se na tristeza e no desconslo,- myr-
rhou-se na esterilidade; sacudiu-lhe o vento do de
serto as folhas desbotadas e sccas. :t Camilo fez
margem esta chamada : c Vide Camoens do m.
1110
G. :t No diz qual a parte do poema a que se refere,
mas provvel que seja o princpio do 5. o canto,
onde h stes versos :
Correi sobre estas flores esbotaas,
Lagrymas tristes minhas, orvalhae-as,
Que a aril:le11: o sepulchro as tem queimao .
.. . ~ ....................................... .
O vio e meus annos se ha murchao
Nas faigas, no aror sevo e Marte;
A pag. 278, no final do drama, escreveu a sua l-
tima apreciao: c Quando a;;sim se mutila e deturpa
a tradio, no permittido usar nomes historicos e
de to alto quilate:t. Depois desta s h a nota de
pag. 281 que foi transcrita a seguir de pag . 128.
Notas s Odes Modernaslt, de Antero
de Quental
A ~ notas que hoje se publicam foram escritas por
Camilo no exemplar da primeira edio das Odes
119 .
que Antero lhe ofereceu com esta dedicatria, ceri-
moniosa e simples: Ao Ex.mo s.r Camil!o Castello
Branco, off. Anthero o Quental.
Assim est impresso e no autgrafo o nome do
poeta que, como sabido, mais tarde o oo
pela partcula ae.
Em 1883 foi o livro vendido no leilo da livraria
de Camilo.
Aparece no catlogo, formando com os Contos
Escolhidos, de D. Antnio de T rueba, o lote n . o
1757.
Segundo informao que solicitei e que gentilmente
me prestou Albino Forjaz de Sampaio, vendeu-se o
lote por 600 ris, preo hoje inconcebvel, mesmo
actualizado, para qualquer livro com a simples assi
natura Mestre .
No sei quem foi o arrematante ; provvel que
fsse Casimiro Freire, o fundador da Associao de
Mveis pelo Mtodo de Joo de Deus, a
quem o livro pertencia data do seu falecimento, em
1918.
Depois da sua morte, foram os livrOs de Casimiro
Freire adquiridos para a biblioteca anexa ao Museu
de Joo de Deus e assim ali foi parar o precioso
exemplar que l est, fechado a sete chaves pelo Dr
Joo de Deus Ramos, o organizador e a alma da-
quela patritica instituio.
No sem custo, consegui que me autorizasse a co-
piar e publicar as notas.
A nossa velha amizade, nunca desmentida e muitas
120
vezes provada num perod de perto de trinta anos.
dois teros da nossa vida, venceu a ferociae com
que, de entrada, recebeu o meu pedido.
Historiado o feliz acaso que me facultou a pu-
blicao das notas, seja- me permitido fazer algumas
consideraes sbre as relaes entre Camilo e An-
tero, o que me parece de alguma utilidade.
Essas relaes foram sempre, creio, amistosas.
Joaquim de Arajo diz que elas foram sempre as
mais cordiais e faz esta afirmao a propsito dum
lapso que aponta ao sr. Dr. Tefilo Braga, dizendo
que ste escritor nas Moernas Ideias d noticia da
reconciliao dos dois grandes homens.
Parece-me que Joaquim de Arajo no tem razo
neste ponto, pois o sr. Dr. Tefilo no diz que hou-
vesse trtl reconciliao. S. Ex.a diz: cNo emtanto An-
thero no trabalhava ; frequentava a companhia de
Camillo Castello Branco, reconciliava-se pessoal-
mente com Castilho, ... : ~ t E' o que se l no 2.
0
vol.,
a pag. 166.
E adiante (pag. 178), a propsito do duelo Antero
Ramalho: c Pareceu legitimo e dignissimo o desfor-
o ; mas foi terrvel a minha decepo, quando o vi
ir cumprimentar no Porto a Camillo CastelJo Bran-
co, que ento morava na rua do Almada, e almoar
com elle e r!rse das tremendas injurias que o caus-
tico romancista lhe vibrara no folheto das Vaiaes
irritaas e irritantes. Depois do dueiJo, que se efe-
ctuou numa madrugada em uns campos, na estrada
da Arca de Agua, Antbero de Quental voltou a casa
121
de Camillo a despedir-se. foi quando conheci o de-
sequilibrio moral.
Como se v, o sr. Dr. Tefilo Braga no fala de-
reconciliao com Camilo mas apenas com Castilho,
manifestando a sua decepo causada pelo facto de
Antero freqentar a companhia de Camilo, almoar
com le, manter, em suma, as suas boas relaes com
o custico romancista.
Trata-se simplesmente dste facto- as cordiais
relaes no interrompidas- que ao sr. Dr. Te_fjlo
no agradou e a que faz os seus comentrios que
no cabe agora apreciar.
O que se prova que as relaes de Camilo e
Antero no foram cortadas, parecendo, em todo o
caso, que alguma quebra sofreram na cordialidade.
Joaquim de Arajo, para demonstrar essa cordia-
lidade, diz que Camilo leu as Vaiaes a Antero,
antes da impresso, para eliminar quaisquer passa-
gens que pudessem maguar o poeta.
Antero ouviu e; no fim, limitou se a declarar que,
em futuras edies das Odes, suprimiria a dedicat-
ria dos sonetos Jeia, o que, de facto, fez na segun-
da edio, em 1875.
Sendo assim, provado fica, s Ivo melhor 'juizo, que
a tal cordialidade foi um pouco ferida, pelo menos
Maquela ocasio, e que a ferida no estava ain!ht de
todo cicatrizada nove anos depois, ao fazer-se a re
edio das Oes.
Em verdade, o corte da dedicatria - se foi uma
conS(!qi.incia das VaiiJaes - no se harmoniza bem
122
com a tal cordialidade, em que, a final, esto de acrdo
o sr. Dr. Tefilo Braga e o seu censor. ~
Fsse como fsse, cordiais ou no, as relaes no
foram cortadas e, se nelas houve algum esfriamento,
ste j tinha desaparecido em 1879, ano em que An-
tero apadrinhou Camilo na pendm:ia com Cipriano
Jardim, conta dum artigo crtico cuja autoria fra
erradamente atribuda a ste escritor.
Em 23 de Outubro, dois dias depois de lavrada a
acta da pendncia, escrevia Antero a sua irm D. Ana,
falecida em 1920: c: Estava, ha coisa de oito dias para
te escrever, quando sobreveio o incidente, de que tal-
vez tenhas noticia pelos jornaes de ter de ser padri-
nho do Camillo Castello Branco n'um duello que se
no realisou, mas cujas negociaes me tomaram
completamente o tempo, e o que mais a atteno,
por isso que o Camillo ha de ser sempre uma creana.
J o'mandato confiado a Antero, j a maneira afe
ctuosa por que ste se refere a Camilo nesta carta,
mostram bem que ento havia as melhores relaes
entre os dois.
Certamente assim no seria se Antero tivesse co-
nhecimento das notas que pela mo de Camilo mar
ginam osseus versos.
Escrevendo para o pblico- e s isso Antero co-
ahecia- Camilo refere-se s Odes com elogio e
com grande indulgncia para os excessos prprios da
idade do autor, de quem, reconhecendo-lhe mwto
engenho, muitssimo talento, diz que est com os
seus annos quando se excede.
123
Parece-me curioso transcrever aqui algumas
vras de Camilo, <1 respeito das Q(}es, escritas em
1866 nas Vaidades, e outras no Cancioneiro Ale
gre, vindo a lume treze anos depois.
Vejamos as Vaiaes, a pag. 9:
Li e reli os seus poemas: uns pareceram-me des-
pregar azas de ouro s regies serenas da medita-
o, por aquelle rasto luminoso dos Hugo; outros,
denunciavam a inspirao captiva da terra e atirada
aos sarc;aes ardentes em que dolrrosamente se con
torceram os Musset e Espronceda ; outras, e as mais
d'ellas, em phrenesis de impiedade, que
destoavam asperrimamente d'aquelle dizer ,moderado
e controversia reflexiva com que o auctor de Bea-
trice impugnava as minhas chans e fradescas rases
em coisas pertinentes poesia divina do Calvaria.
No me affoito a juiso sobre a boa ou
ruim direco que leva o espirita do poeta n'estes
seus caoticos da manh da vida. Tudo aquillo por
ora so flres, embora faam entojo a olfactos melin-
drosos; flres, porm, que prenunciam outonos de
fructos agradaveis ao commum. Ha alli muito enge-
nho, muitssimo talento ; e o talento no se perde
nunca de todo. As vergonteas, que desabotoaram
torcidas, l vir, tempo alm, mo experta destor-
celas, aprumai-as e apontai as ao ceo d'onde vieram
e onde aspiram com a seiva e fora d'um nobre peito.
O snr. Anthero do Quental desatina brilhantemente
nas objurgatorias s coisas e pessoas da religio :
que monta isso ? quem lhe vir o rosto juvenil e os
l-24
modos arrobados no se escandalisa, nem chora uma
alma perdida. Est com os seus annos.
Agora o Cancioneiro, a pag. 451:
cAs Oes de Anthero de Quental so a aurora da
poesia moderna. Os imitadores no tem podido es
tragai-as. O dia alvorecra formoso; depois nublou
se o co ; a ventania varejava os ramos onde as aves
tinham cantado o repontar da manh ; cahiu chuva
grossa, que fez muita lama. No importa. A belleza
do amanhecer no e_squeceu. As Oes de Anthero
de Quental ficaram emperladas dos orvalhos da es
trella d'alva ; e as imitaes para ahi se espapam nos
marneis que fizeram.
E' longa a transcrio, mas entendi conveniente
faz-la para facilitar ao leitor o confronto dessas pa
lavras com aquelas que vai ler, escritas por Camilo
no seu e.<emplar das Oes Moernas.
E' profunda a diferena entre a apreciao pblica
do poeta e as opinies apostas margem dos seus
versos.
Mas no s no caso presente que tal divergn-
cia nos aparece.
A cada passo, em notas marginais e em cartas,
Camilo ridicularizava ou criticava speramente escri-
tores que a sua pena, ao escre11er para o pblico,
elogiava ou, pelo menos, tratava com benevolncia.
Herculano, Castilho, Rebelo da Silva, Teixeira de
Vasconcelos, BiestH e tantos outros bastaro para
e*!mplo.
Em notas aos seus livros e nas cartas a Ouguela,
125
enterra-lhes desapiedadamente aquele ferro satrico
de que fala o sr. Dr. Ricardo Jorge.
A propsito dessa dualidade, de que Antero, como
se ver, foi tambm vtima, vou transcrever algumas
palavras de Camilo, escritas em 1875.
Em Maio dsse ano, no n.
0
2 da revista A Repu-
blica aas Letras, que ento se publicava no Prto,
sob a direco de Joo Penha, saiu um artigo de Ca-
milo, A SinceridaiJe ae Boileau, que na sua es-
sncia um excerto do Curso ae Litteratura Portu-
gueza, vindo a lume no ano seguinte. Nesse artigo
trasladou Camilo o que Boileau escreveu em l697
ao Conde da Ericeira, a respeito da traduo que ste
fizera da sua Arte Potica e da epstola em versos
franceses que lhe enviara com o manuscrito da ver-
so, e, a seguir, a opinio do mesmo Boileau sbre
aquelas peas literrias, manifestada em 1701, numa
carta dirigida a Brossette que a estampou na edio
que fez da obra do seu amigo.
Do confronto dos dois trechos deduz a falta e
sinceridade, se no antes, a duviiJosa probibae
litteraria iJe Boi/eau.
Terminada a exposio do caso concreto do poeta
francs e do eruiJito e iniJigesto Conde da Eri-
ceira, fechou o artigo com estas .,alavras que no se
encontram no Curso ae Litteratura: cEste rasteiro
sestro da lisonja impressa, rubricada por nomes insi-
gnes, e desmentida nas cartas particulares e nas pa-
lestras puridade, peste que arde em Portugal,
desde que a critica se desaforou em desbragada in-
126
)Una por parte da ral das letras, ou em zumbaias
ironicas por parte dos desembargadores em Apollo.
Desprzo e detesto ambas as especies.:.
ste curioso trecho seria chave de oiro para fe-
char estas j tam estiradas consideraes, se eu no
tivesse ainda de fazer notar uma circunstncia asss
interessante das notas ao livro de Antero.
A ltima nota de Camilo foi escrita na pgina 43.
Continuando a folhear o livro, encontra-se, a pag. 51,
a dedicatria dos sonetos Meia -- Ao Sr. Camiflo
Castello- Branco.
i.. Mero acaso ?
Nada lcito afirmar, mas creio que no andarei
longe da verdade, relacionando o ponto final nos co-
mentrios com aquela dedicatria, estampada em p-
gina tam prxima.
No de crer, em verdade, que Camilo, depois de
ter anotado o livro at aquela altura, nada mais en
contrasse, digno da sua crtica, nas restantes 117 p-
ginas que correm at o fim do volume.
No aceitvel que o entusiasmo com que vinha
satirizando desde o princpio o livro e o autor, es
friasse e desaparecesse sem que sobreviesse uma
forte razo.
Essa razo, creio bem, embora no possa fazer a
prova, deve procurar-se na dedicatria, s naquela
altura encontrada, dedicatria que muito sensibilizou
Camilo.
le prprio o confessa nas Vaiaes :
127
Alguns dias volvidos, recebi as Odes Modernas
de ABthero do Quental. Ahi vi o meu nome, laureado
com a dedicatoria de uma parte d'aquelle meditavel
conjuncto de fragmentos de um poema bosquejado.
Folguei de vr assim reconhecido o muitssimo affecto
com que eu conseguira ser lembrado ao cogiiativo
poeta.
Estas palavras, que, no deve esquecer-se, foram
escritas numa obra de polmica, manifestam bem ela-
ramente o efeito que a dedicatria produziu no esp-
rito de Camilo e legitimam a minha convico de que
a lembrana de Antero foi o travo que paralizou re-
pentinamente a pena que tam cruelmente vinha ano
tando o livro.
O sr. Dr. Tefilo Braga escreveu na Revista Por-
tugueza o seguinte :
c Todos os odios e rancores de Camillo cabiam de
repente, diante da mais leve manifestao de sympa-
thia que lhe dirigissem ; aquella alma to torturada,
to cheia de ironias, bem mostrava que necessitava
de affectos.
Parece-me que S. Ex.lt tem razo e, at prova em
contrrio, fico convencido de que no caso sujeito,
-parte dios e rancores que no existiam, se verifica
a justeza da observao daquele prof::?ssor.
No havia, da parte de Camilo. dio nem rancor
ao poeta, mas havia a m vontade sua obra e essa
128
m vontade cau ou, pelo menos, deixou de manifes-
tar-se, perante a dedicatria que lhe laureou o nome.
E' tempo de terminar esta j demasiadamente longa
e de passar a transcrever as notas.
*
* *
A primeira nota aparece logo na pag. 7. No ter-
ceiro verso :
Alguma mo feita 'amor e luz
sublinhou Camilo a ltima slaba de alguma e a pa-
lavra mo. A margem escreveu : cverso errado.
Logo abaixo, no penltimo verso da mesma oitava,
traou as grossa treva e anotou cgallicis-
mo.
Na estrofe seguinte marginou com uma chaveta os
trs primeiros versos:
Elle no sabe o nome e seus fallos,
Nem v e frente a face llo seu guia.
Onlle o levam os Deoses inignaos ? ...
e comentou: c Quando o homem q. se interroga deste
fzitio, dispensa Deus, pergunta onde o levam os deu-
ses indignados! farelorio.
Na pag. 8, ao verso:
J que vamos, bom saber aon()e ...
acrescentou : Apoiado !
129
No stimo verso:
E o homem, bago 'agua pequenino,
sublinhou bago 'agua e escreveu ao lado: Ainda
ninguem de juiso disse bago 'agua ; bago d'uva,
e antigam.te synonimo de baculo.
Ainda na pag. 8 e na seguinte margin ou com tra-
os estas oitavas :
O' areias a praia, rochas lluras,
Que tambem prisioneiras aqui estaes !
Enteneis vs acaso estas escuras
Razes ()a sorte, sura a nossos ais ?
Sabe-las tu, mar, que te torturas
No teu carcere immenso? e, aguas, que anllaes
Em volta aos sorveouros que vos somem,
Sabeis vs o que faz aqui o homem?
fronte que banha a luz - e olhar que fita
Quanta belleza a immensio rolleia !
Da gerao llos seres infinita
Mais pura forma e mais perfeita ieia !
No vasto seio um munllo se lhe agita- ..
E um sol, um firmamento se incenlleia
Quano, ao claro a alma, em movimento
Volve os astros l>o co llo pensamento !
e ao lado da primeira comentou: Hamlet peorado.
Passou depois pag. 11 e na estrofe :
Eis ()o trabalho secular as raas
Das ore&, os combates, as confianas,
Quanto resta a final. . . cinzas escassas !
O tebio sobre o co l>as e&peranas
9
130
Suas nuvens soprou 1 E oblos, besgraas,
Desesperos, miserlas e vinganas,
Eis a bella seara b'ouro ergulba
Do cho, onbe illuses semeia a viba!
sublinhou das confianas, anotando: c O' rima I
Na 2. oitava da pag. 11. marcou o primeiro ver
50:
Os cultos com fragor rolam partiOos;
e eecreveu esta nota : cQue impropried.e p'isto tudo
- cultos a rolarem, partidos e com fragor !
Na 2.a parte da mesma estrofe;
Os nossos lmmutaveis eil-os iOos
Como as chammas no monte, que se ateiam
Na urze secca e a arage' ergue um momento,
E uma hora ap6s &o cinza. . e leva o vento '
escreveu adiante do penltimo verso : co ii . ?
Na 3. oitava da mesma pag. 11:
O' burao e sonhos 1 fortalezas
De fumo ! rochas be illuso a roOos !
Que bos sanctos, bos altos, as granOezas,
Que inOa ha tres sec'los abormos tobos?
As verbabes, as blblias, as certezas ?
Limites, formas, consagraOos mobos ?
O que temos be eterno e sem enganos,
Deos- no pobe burar mais que alguns annos I
sublinhou, no 2.
0
verso, rochas de il/uso a roos!
e escreveu: asneira; aos dois ltimos versos p
131
esta nota: O eterno no pode durar mais q. &..
Contradico tola. Aqui no ha q . arguir seno to
lice .
Na pag. 12, no verso:
E era 'ar essa base ... e o vento a leva!
traou as palavras e o vento a leva, comentando :
cGosto desta imagem.:.
Na pag. 14:
Os montes no intenem estas cousas !
Esto, e longe, a olhar nossas ciaes,
Pasmaos com as luctas furiosas
ao t." ve;so acrescentou cNem eu. e no 3.
0
subli
nhou furiosas e anotou: ca rimar com cousas !
Na p ~ g . seguinte:
Porque o muno, to granlle, um infante
Que aormece entre cantos noite e ia,
Embalao no ether raiante
Too em sonhos e paz e e harmonia!
O forte Mar (e mais um gigante)
lambem tem paz e cros l>e alegria ...
E o co, com ser lmmenso, serenaoo
Como um selo e heroe, vasto e pausao.
marginou os versos com esta nota: cEsta estancia
tirada a harmonia, parece da Peareida.
No penltimo verso da mesma pgina :
Tropel e Reis sem f, que se espebaa !
comentou: cTropeis que se espedaam! Credo !
132
Na pag. 16, ao verso:
Com um grito l'le bor, que leve o vento
ps esta nota, relacionada com a de pag. 12: cC
temos outra vez o vento, que leva.:t
Na pag. 17, o verso:
Ou apenas correr ba maresia ...
foi marcado assim : c !
Mais abaixo :
Qual blasphemia a essa sorte eshumana ?
Comentrio: cBlasphemar da sorte!
Na pag. 18, os versos:
Do meio l'los tormentos sahe a esperana ...
Dos coraes partios nasce um lyrio ...
O' victoria o Amor, l'la confiana
Sbre a Dor, que se estorce em seu belirio! ...
foram assim anotados: o primeiro: c Que verso !:t e
o segundo: c por causa do delirio,:t
Na 2.a estncia de pag. 18:
flor com sangue regal'la ... e llna e pura !
Olho estalao ... que abivinha a aurora!
Oh I mysterio bo amor ! que formosura
Excel'la muito o feio . . . quano chora !
Vl'le, astros bo ceu. o que a tortura
Expreme a alma triste, em caa hora ...
O ll'leal - que cm peito escuro mera,
Bem como a flor o musgo sbre a pera !
133
sublinhou olho estalaiJo e escreveu: Salvo tal lo
gar e aos versos 6.
0
e 7.
0
fez ste comentrio :
cldeal espremido.
O 1. verso de pag. 19 :
O' Ieal ! se certo o que nos izem,
foi assim anotado: Bom verso!
Na pag. 20:
Que os peitos soltem o seu longo emflm !
E o olhar e Deos na terra escreva Fim !
Comentrio : crima difficultosa.
Na mesma pgina, aos versos:
Na nossa tena tome Deos assento
Mostre seus cofres, seus coraes e preo,
Que se veja a final quanto guarava
Para o resgate ()'esta raa escrava!
ps esta nota: cParece q. o poeta q.r que Deus ve-
nha a negociar com coraes as almas dos cafres. l
se intende e conhece.
Na pag. 21:
Oh! iz-me o corao que estes tormentos
Chegaro a acabar: e o nosso engano,
Desfeito como nuvem que esana,
Deixar ver o co e bana a bana !
sublinhou o ltimo verso e escreveu: cBonta pari
voiada !
134
Na pag. 23:
Esfora ! ergue teus olhos maguabos !
marcou a primeira palavra e comentou : c Em q. tempo
estar isto ?
Na mesma pgina, a estncia:
E' nosso quanto ha bello ! A Natureza
Desbe aonlle atirou seu cacho a palma
T la onl)e esconllillos na frieza
Vegeta o musgo e se concentra a alma.
Deslle aonlle se fecha l)a belleza
A abobaba sem fim - t onlle a calma
Eterna gera os munbos e as estrellas,
E em ns o Empireo bas illeias beiJas !
foi assim criticada: cOue moxirifada !
No contente com o comentrio, ainda sublinhou
as palavras iJesde aoniJe, marcando-as, no 2.
0
verso,
rom um ponto de admirao e, no 5.
0
, com um bis.
Ainda na pag. 23, no verso:
Uns para a /ur . e os outros para c a . .
acrescentou ao advrbio final a slaba ca.
Na pag. 24:
Sim, um eterno templo e ara saneia,
Mas com mil cultos, mil lllversos mobos !
Mil so os fructos, e s uma a planfa !
Um coraco, e mil llesejos lloubos !
sublinhou i}oudos, comentando: c rima bem com mo-
iJos.
135
-
Na mesma pgina, margem do verso :
O triste lyrio que este solo austero
escreveu: c o 5,
0
lyrio.
Ao penltimo verso:
Sobre o ninho one choca a Unlalle
fez ste cruel comentrio: cNo chco est a clemen-
cia do poeta. Este homem acabar doudo de pedras.
Na pag. 27: os versos:
A penumbra, que "escapa quellas sombras
Que a villa no at'mo subtilisslmo,
foram marcados, cada um com seu ponto de admira
o.
Na pag. 33 termina a poesia intitulada Vida e
nela escreveu Camilo esta nota que a maior e a
mais sangrenta: c Este poema um acervo de dispa
rates. No ha ahi idea aproveitavel que no surda de
\lei'SO vsgo ou derreado. Confirma-se a m.a suspeita
de que este bardo dispara em sandeu, m. dia menos
dia; e, q.do isso acontecer, no quizera eu estar
beira d'eUe! Ha de ser clemencia furiosa.lll
Na pag. 37, na quadra:
Eu quero perguntar aos Sacerllotes,
Que, tralluzinllo o Verbo em oraes,
Cuiam que Deos lhes cabe em uas mos,
:E too o co ebalxo os capotes :
136
sublinhou oraes e mos, comentando: c optima
rima !:t, e debaixo dos capotes, anotando: c refe-
rencia aos de Braga, segundo creio.:t
A' ltima quadra de pag. 39:
A aurora o sursum-corda Universo;
A luz oremus, por que hostia o Sol;
Quanto abre o olhar ao& raios bo arrebol
Eis o povo-christo ahi
acrescentou Camilo esta outra :
Eu quizera saber o orate fratres,
E o Dominus vobiscum o que que seja,
Segunbo o rithual ba nova egreja,
Cujos pabres (venia rima) so orates.
Na pag. 40, nesta quadra:
O amor! esse o apost'lo soberano!
Para quem no ha tarbe nem aurora !
O que sobe a prgar, a a hora,
Ao pulpito-ba-f .. o peito humano!
sublinhou sobe e escreveu margem: c sobe do fi
gado.
Na quadra seguinte:
De raios be uns olhos bemamabos
E' que se faz a cruz que nos converte ;
E a palavra, que a crena s almas verte
Faz-se essa be suspiros abafabos.
notou eloqentemente: Ora merda!
..
137
Na pag. 42:
Pabre ... o Esplri!o ! - o que ana em ns - o auguro
marcou a palavra auguro e preguntou: cQue bicho
?
Abaixo, a quadra :
Vs, Poetas, vs sois lambem sybillas,
Oue abivinhaes e anbaes com voz fremente
Sempre a gritar - avante! avante! gente,
Por cibabes, por montes e por villas.
foi assim anotada : cQue doudos !
Chegamos pag. 43, a ltima em que se encon-
tram notas camilianas.
No verso:
Trazem no corao Deoses escriptos.
traou Deoses e escreveu: cE logo aos pares !
Seguem-se estas duas quadras:
Os heroes que, co'os pulsos algemabos,
Vo ao munbo prganbo a liberbabe-
Astros, a quem se nega a claribabe ...
Nas trevas bos ergastulos cerraos.
Oue - emquanto os ps na terra, em corrupio,
Lhes fogem - impassveis, firmes, altos,
Erguem os olhos, sem ver os sobresaltos,
Rl5canbo as sociebaes no vazio.
A' margem da segnnda escreveu Camilo a sua l-
tima nota: cBenza-se q.m poder.
138
*
,. *
Terminada a transcrio das notas, quero ainda, a
ttulo de curiosidade, transportar para aqui duas pas-
sagens em que Camilo debica amigvelmente com
Antero, a propsito das OiJes MoiJernas.
A primeira aparece nas Cousas Leves e PesaiJas,
livro publicadom 1867 mas cujo prefcio datado
de 19 de Junho de 1866, isto , do mesmo ano em
que saram as VaiiJaes.
Camilo recebera e pela forma que o
leitor acaba de vel, em 1865, o livro de Antero. Li-
sonjeado pela dedicatria dos sonetos, larga a iniJe-
peniJente caneta e dez ris com que vinha disse-
cando as Odes, para a retomar no ano seguinte e
com escrever, em tom bem diferente, nas VaiiJa-
des, a respeito das mesmas Oes.
Mas no seu esprito irrequieto alguma cousa ficara
que no deixava passar em julgado as extravagn-
cias da poesia anteriana.
E ento l vem, a propsito da estola do infinito
que se encontra nas OiJes, a pag. 39, e que escapou
s notas marginais, dizer com ironia mas sem con
fundir, o que se l a pag. 11-12 das Cousas Leves
e PesaiJas:
cO bom poeta acha em tudo as correlaes dese-
nhadas pelo Creador, e por tudo o louva e bemdiz.
Se a mulher que parece uma vaporaosinba de lago
eriada de luz, em vez de alimentar-se do cheiro do
139
nardo e do thymiama japoneza, come costellas de
boi portugueza, no se faa o poeta engulhoso
d'isso, nem esconda a fronte nas abas da S!!a sobre-
casaca, ou para que mais fidalga mente o diga, no vo
de sua immensa tristeza, ou na estola do infinito. Ver-
dade que as estolas esfrangalhadas entre mos m-
pias de criticos, vo perdendo a sua sagrada mages-
tade, desde que ao author das Oes Modernas sa-
hiram irreflectidos chanceadores, perguntando-lhe o
que vinha a ser estola ao infinito; nem que o snr.
Anthero do Quental desatinasse n'alguma absurda
chimra. Os livros santos faliam da estola da alegria.
Stohl jucunitatis induit eum Dominus. Vestir-se
a gente com a estola do infinito, ou com a estola da
alegria, faz o mesmo em defeza do calor ou do frio.
Estola do infinito ou estola do co tanto monta. Sua-
vssimo poeta e dos primeiros do nosso seculo, disse:
Hoje estolas vos mani:la o co sereno
Para que revestias e esperana
Vlngaas vos vejaes em lustro ameno.
Estou fra da ordem. Basta de estolas, e saiba-se
que as ha no co.:.
A segunda encontra-se nas Noites e lnsomnia,
publicadas em 1874. Os oito anos passados no lhe
tinham feito esquecer as Oes.
No seu livro, a pag. 38, escreveu Antero: cPa-
re ? ! Padre. . . o Pae . .. e Camilo que no seu
exemplar nada disse, vem agora nas Noites, n. 10
pag. 22, escrever :
140
cSe clle padre, tambem pode ser pai. Pater,
pai, paore. E pater pai, como diz, nas Odes Mo-
dernas, o meu amigo Anthero do Quental. fiquemos
n'isto.:t
E' possvel que na obra de Camilo se encontrem
ainda mais referncias s Oes que tanto barulho fi
zeram quaniJo appareceram como um terramoto
na velha ciade os ll!ricos, como le diz no Can-
cioneiro.
E' possvel, mas nos meus apontamentos nada mais
enconiro. De resto, os trechos que transcrevo neste
meu trabalho so suficientes para, postos em con-
fronto com as notas particulares, mostrar como Ca-
milo mudou de atitude (e talvez de opinio) depois
da leitura da milagrosa dedicatria.
N&tas a dois livros de Fialho de Almeida
Sabendo que eu tinha ste trabalho em prepara
o, o meu amigo o livreiro Manuel dos Santos, sem-
pre pronto a auxiliar todas as obras camilianas, mes-
mo que nelas no tenha intersses materiais, avisou-
me de que existiam em Mafra, na posse do Dr. Car-
los 6alro, dois volumes de Fialho anotados por Ca-
milo.
141
Era preciosa a informao porque tais notas, se eu
pudesse conseguir copi-las, viriam enriquecer muito
esta coleco, dada a categoria literria do autor cri-
ticado.
Mas eu apenas de nome conhecia o distinto m-
dico Dr. Galro, tam justamente considerado na vila
de Mafra.
Esbanava nesta dificuldade que se me afigurava
grande, mas como no sou de qualidade de desistir,
nestas cousas de Camilo, andei para a frente, que era
o caminho.
Escrevi imediatamente ao meu colega e amigo Dr.
Machado Pereira, advogdo naquela terra, a pedir lhe
os seus bons ofcios no sentido de obter a desejada
autorizao.
Em boa hora o fiz, pois, na volta do correio, o meu
amigo participava-me que os livros estavam minha
disposio para copiar as notas.
fui ento a Mafra, porque no devia abusar da
gentileza do sr. Dr. Galro pedindo a remessa dos
livros, com o risco do eKfravio dsses dois exempla-
res insubstituveis.
fui, portanto, copiar as notas e ento tive a honra
de conhecer pessoalmente o sr. Dr. Galro que me
contou a histria dos dois eKemplares.
S. Ex.A arrematou-os no leilo da livraria de Ca-
milo, em 1883.
Era ao tempo estudante de medicina, companheiro
e amigo de Fialho.
Satisfeito, como era natural, com a compra, mos
142
trou os livros a fialho que muito insistiu com o seu
amigo para que lhos cedesse.
No anuiu o sr. Dr. Galro, mas permitiu-lhe que
levasse os exemplares para copiar as notas.
Fialho aceitou o oferecimento e foi demorando os
)i,ros em seu poder, at que o Dr. Galro se resol
veu a ir busc-los a casa do seu amigo, conseguindo
assim reav-los.
As notas, como se ver, so, em grande parte, elo
giosas, e mostram que Camilo era sincero ao escre
ver, na polmica com Alexandre da Conceio, que
Fialho tinha um lugar honra nos postos avan-
nova milcia. Algumas, porm, so menos
benvolas e mesmo violentas, mas nem por isso Fia-
lho deixou de ser o mesmo admirador de Camilo e
de lhe prestar sempre a sua homenagem, cumprindo,
como disse na dedicatria d9s Contos, o ho
r.esto tirar o chapo iante o que superior.
Bem o demonstrou no estudo publicado nos n.
01
5,
6 e 8 da Revista /llustraa, em 1890, logo depois
.da morte de Camilo, no clebre artigo, que tanta ce-
leuma levantou, escrito a seguir morte de Ea, no
Brasil-Portugal, e em outros lugares da sua obra.
Ainda no ltimo livro publicado em sua vida (Bar-
bear, Pentear), Camilo a maior gloria litteraria
.o seculo, incluindo Garrett.
Escreveu tambm o Sumrio do livro sbre Ca-
.tnilo, livro que ainda est por fazer. .
sse plano foi publicado no jornal Republica, nio
em que data, e reproduzido por Albino forjaz de
143
Sampaio, em apenso ao prfcio das Cartas de Ca
milo, publicadas em 1916 por Manuel dos Santos, em
edio de 40 exemplares.
Para terminar esta resenha de trabalhos de fialhe-
sbre Camilo, citarei ainda o belo artigo que foi in-
cludo nas PasquinaJas.
E em carta que est em Seide (Camil/o Home-
nageaJo, n.
0
303), agradecendo a oferta da Maria
Ja Fonte, escreveu que de Camilo s podia dizer
como Balzac de Victor Hugo: Victor Hugo! Cest
un granJ homme. N'en parlons plus. A carta no .
tem data, mas deve ser de 1885, ano em que saiu
aquele livro de Camilo, e, portanto, quando Fialho l
conhecia as notas.
E, a propsito, j tempo de comear a transcre
v-las.
O primeiro livro anotado (Contos) tem no ante
rosto esta dedicatria : c A Camillo Castello Branco
- em admirao pelo seu genio e pela sua valentia
de luctador - C.- Fialho d'Almeida -- 13 de Julho
de 188b .
Tem no catlogo da livraria de Camilo o n.
0
1509
A primeira nota aparece a pag. 51. E' apenas uma
-emenda dum rro tipogrfico. No livro est cuma is-
casinha semeias ; Camilo emendou c sem e/las.
Na pag. 53, fala o autor de infantas Je capote e
leno, passeando pelo Campo Je Sanf Anna com
.o Chico Bel/as. Nota de Camilo: cAlluso mulher
::
144
o Loul e ao D. franc. Castello Br.eo que morreu
idiota e mendigo em 1863 em Lx."' e furtava relo-
gios.
A pag. 71, onde termina a descrio da sova dada
pelo pedreiro na mulher (do conto A Ruiva), Camilo
comentou: c E' um quadro perfeito.
A pag. 73, introduziu a palavra que na frase o in-
fortunio como que o aniquilava . .. O tipgrafo
tiuha comido essa palavra.
A pag. 91, sublinhou oca (por ocre). No outro vo-
lume, como logo se ver, fez esta emenda.
Na pag. 118 termina A Ruiva e a escreveu Ca-
milo a sua opinio sbre o conto: c E' o unico ro-
mance q. ainda temos modelado pelos de Zola. Como
tal, um trabalho perfeito de iniciao, que ninguem
soube at hoje acompanhar, seno de longe- co-
xeando.
. .
A pag. 200, sublinhou espira/ando, verbo que Fia-
lho empregou para descrever o movimento de alegria
da cauda dum gato.
No ano seguinte ao da publicao do livro de Fia-
lho, Camilo fez uso do mesmo verbo, a pag. 109, da
Brazi/eira ae Prazins, a respeito das colunas de
fumo que saam do charuto do falso D. Miguel.
Em 1899, na l.a ed. do seu dicionrio, o sr. Dr.
Cndido de figueiredo registou o vocbub (no Su-
plemento) com o asterisco indicati,Jo de no ter at
ento aparecido nos melhores dicionrios e abonado
com a de Camilo, de que cita aquela pas-
sagem.
145
O erudito professor Jlio Moreira tambm men
cionou o referido verbo, com a mesma citao, no seu
estudo sbre a linguagem de Camilo, publicado na
Revista, do Prto, e mais tarde (1913) reproduzido
no 2.
0
vol. dos Estuos a Lingua Portuguesa, or-
ganizado depois da morte do autor pelo sr. Dr. Leite
de V as _oncelos.
Na pag. 204 acaba o conto Historia e Dois Pa-
tifes, que Camilo assim apreciou : c A resp.'
0
de ga
tos, Bento Moreno na Comeia o Campo tem uma
descripo superior a esta do F. d'Aim.da
Esta descrio deve ser a que vem no conto O
criao o cura, a pag. 109 do 1.
0
vol. da Comeia,
1. ed., 1876, volume que , como ste de Fialho, de-
dicado a Camilo.
A pag. 208, no conto A Desforra de Baccarat,
onde Fialho fala da influncia das leituras no esprito
da condessa, Camilo escreveu : c T ai e qual como a
Carolina da Ruiva. Demonstra q. o meio, a mezo
logia, nada , nada influe nas ndoles, e q. a educa
o nada importa.
Na pag. seguinte, a exclamao: raio de filhos!,
proferida pela me da condessa, mereceu esta obser
vao: <nverosmil, fora da bocca de uma peixeira.
A pag. 230, e m ~ n d o u pormenor que sara prome-
nor.
A pag. 250, a frase: pallia como uma espe-
rana pisaa beira o' um esquecimento, foi assim
comentada: cOue gongorismo !
Na pag. 317, no conto O Milagre o Convento,
10
146
marginou com um trao a descrio do desenvolvi-
mento de Vila Alva, devido fama milagreira do Se-
nhor do Convento, e escreveu: Bexiga.:.
A pag. 325, sublinhou a palavra pa/mouras e pi
margem uma interrogao.
O sr. Dr. Cndido de figueiredo regista ste term
com a nota de brasileiro e o significado de p4 as
aves palmipees.
E' neste sentido que Fialho o emprega: palmou-
ras e cvsnes.
Parece que Camilo no conhecia o vocbulo o que
no admira, pois no tinha sido registado nos melho-
res dicionrios, como indica o asterisco que o erudito
dicionarista lhe antep6s.
A pag. 339, no tim do conto Dois Primos, escre
veu Camilo : c Depois da leitura deste conto, que o
q. fica na alma? A necessid.e da estupidez, a semente
da felicid.e, que como a raiz de uma flor que se de-
senvolve e abrolha no estrco.:t
Na ltima pgina do volume est uma nota que
no consegui reconstituir, j porque tem vrias emen-
das, j por estar muito apagada pelo atrito das mos
no tempo em que o livro esteve por encadernar e,
ao que parece, sem capa. Copiei o que me foi poss
vel aproveitar. Adiante se ver o que essa nota que
aqui vai, tal como consegui recolh-la, no sem difi-
culdade: c A critica facetada, pertinaz e triumphadora
de R. Ortigo; A Ruiva de Fialho de Almeida, puro
zolaismo, uma realid.e dissecada com a frialdade d'um
escalpello m."' brunido, mas que faz chorar como os
147
antigo! romances feitos de gemidos de moribundos,
de trevas e de fome ; os romances .............. .
de Julio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . demasiadas elo cu-
............. :t
Esta nota, com as suas emendas, dava-me a im-
presso de ser um esbo ou rascunho de qualquer
artigo, tanto mais que no era a primeira vez que um
caso assim me aparecia, pois tenho na minha colec-
o um romance francs em que Camilo escreveu,
was guardas do volume, um rascunho de parte do ar
figo de crtica a dois livros de Faustino Xavier de
Novais, publicado na Bibliographia Portugueza 1
Est:-angeira (1, 17) e reproduzido nos
Acrescia ainda que a minha memria me dizia que
eu j tinha lido algures aquelas palavras.
De facto, assim era.
A nota o rascunho dum trecho da crtica aos li
ros de Fernando Palha, publicada nos Narcoticos
.. (1, 1 1 8-119) e transcrita parcialmente na Bibliogra
. phi.'l (IV, 34).
Nas pginas citadas encontrar o leitor o texto de-
finitivo do esbo escrito no volume de Fialho.
Nada mais se encontra no exemplar dos Contos.
"
* *
O outro livro anotado A Cidade do Vicio, pu-
blicado em 1882. E' o n.
0
1438 do catlogo do leilo.
No anterosto tem a rubrica de Camilo, a nota :
eLido em 27 de 9.bro de 1882:. e esta apreciao:
148
cSo quase sempre falsas as cores das pessoas, das
coisas e at dos costumes. Como escriptor (neste li
vro) Fialho de Almeida faz lembrar os paysagistas
que se desmandam em umas verduras q. os franceses
chamam epinafres.
E' de notar que Camilo escreveu assim a ltima
palavra, sem s, talvez por estar a pensar na palavra
francesa.
No frontispcio criticou assim o ttulo: c Este t:tulo
uma anomalia. Quase todos os quadros aqui des
criptos so campestres posto que viciosos e at inde
centes. A ciiJ.
6
no vem para nada, e o titulo parece
d'outro livro, trocado p.r engano na typographia.
Na pag. 9, primeira do texto, marcou com um tra
o o primeiro perodo.
Na pag. 19, descrio da paisagem, ps esta no-
ta : cCopiado Zola.
A pag. 33, as palavras cahia de cima foram su
blinhadas e comentadas_: cse cahisse debaixo era phe-
nomeno.
A pag. 36, jactitante e anckilosado foram assim
classificados: Neologismos absurdos.
A pag. 39, sublinhou pipira.
A pag. 88, uma emenda de gralha : sovacos em
vez de socavos.
Os primeiros perodos da pag. 102 foram margi
nados e anotados: c Pasmoso!
A pag. 134, fim do conto Mephistophe/es e Mar
gariiJa, esta apreciao: c Bom.
A pag. 194, emendou oca para ocre. Como atrs
149
notei, j nos Contos, pag. 91, tinha sublinhado a pa-
lavra, mas sem emendar.
Na pag. 218, onde Fialho fala do apuramento de
raas por meio de cruzamentos, Camilo escreveu :
cldeas de Maudsley.
A pag. 220, fez a emenda indicada no fim do vo-
lume : nervosas diz a Errata.
A pag. 227, a propsito do Albano da Madona.
explicou: Este Albano o poeta Carvalhaes (Al-
fredo) do Porto. Fialho conhecia-o p.r interveno
de 5.
8
P.to, talvez.
ste poeta um dos includos por Camilo no Can-
cioneiro Alegre.
A pag. 242, a frase : descia agora do seu soto,
foi assim criticada: cOo soto sobe-se no se desce.
Das trapeiras q. se desce.
Esta nota mostra que Camilo no conhecia ou no
concordava com o significado mais geral daquela pa-
lavra. O sentido que lhe d -- pavimento inferior
-- pelo sr. Dr. Cndido de figueiredo, classificado
de provincianismo.
Na pag. 258, ainda da Madona, onde Artur se
atira ao flores quando ste lhe anuncia a morte de
Judite, Camilo anoto'u: cOue asneira!
A pag. 262, a frase : Olha que isso faz doer,
. coitadinha I, dita por Albano ao escultor quando
ste est modelando a mscara da morta, recebeu
esta nota : cOue idiotices to inverosmeis !
. Na pag. 270 termina a Madona. A nota em que o
autor diz que os fragmentos da esttua destruda
150
pelo escultor, alm doutros, ornam o tmulo de Ju-
dite, foi assim anotado : c E' bem boa intrugice e& ta
nota.
Na pag. seguinte comea o conto A lniJigesto,
assim criticado logo no princpio: cSatyra a D. Luiz
sem o menor disfarce. (Desagradavel coisa).
A pag. 278, no mesmo conto, no dilogo em que o
poeta pede ao rei que lhe edite o seu livro de versos
e ste lhe pregunta o que so versos, Camilo notou :
cAilusoens claras a D. Luiz e a Luiz de Campos.
A pag. 282, ainda conto, as palavras
chance/ler foram sublinhadas e explicadas: c fon-
tes.
O mesmo na pag. 288, a respeito do marquez
Fulgencio. Diz a nota: cficalho.
Na mesma pgina, a propsito do livro do rei cu1o
produto os pobres lhe pedem, Camilo escreveu: c As
versoens de Shakespeare. .
E' esta a ltima nota do livro.
"Il ota. a um folheto de Latino Coelh
O folheto de que se trata o Pareci!r apresen-
tao Real das Sciencias iJe Lisboa
sobre a reforma orthcgraphica proposta pela
151
commisso da ciJaJe do Porto. foi publicado em
1879 e da autoria de Latino que foi o relator.
O exemplar de Camilo pertencia tambm a Casi
miro Freire e est actualmente na biblioteca do Mu-
seu de Joo de Deus.
Tem uma nica nota de Camilo, escrita no frontis-
pcio. E' a seguinte: cJ.e M.a L Coelho -vocao
notabilissima p.S prefacios, relatorios academicoi e
vida contemplativa.
E' interessante trazer para aqui o que, em 15 de
Julho de 1874, Camilo dizia do mesmo Latino ao
Visconde de Ouguela, em carta citada pelo sr. Dr.
Tefilo Braga. E' como segue: cOlha, que me afu
genta da tua casa a ideia de l encontrar a miudo o
Castilho. Eu te direi de vagar por que estou fartis-
simo de Castilho, e j o cheiro das cartas d'elle me
intedia. O Latino, sim, esse que o espirito que
mais convinha a uma alma como est a minha, em-
botada pelo attrito dos maadores.
Notas ao Romanceiro
de Incio Pizano
No catlogo da livraria de Camilo aparece, com o
n. 854, O Romanceiro Portuguez, de Incio Pi-
zarro de Morais Sarmento, obra em doii volumes, pu
152
blicados em 1841 e 1845, seguido desta nota: Raro.
Alem do retrato que pertence obra, tem outro tirado
no seu ultimo anno de vida, com um offerecimento.
No leilo foi a obra adquirida por Silva Pinto que
Jla guarda do 1.
0
vol. declarou a provenin:ia.
O exemplar que tem dedicatria do autor a Camilo,
pertence hoje ao sr. Dr. Artur Gomes de Carvalho
que o confiou ao editor dste livro para que fssem
copiadas as notas.
Camilo conheceu Pizarro no vero de 1864, no
Bom Jesus do Monte; assim o diz no artigo datado
de 8 de Julho de 1870 e includo em 1872 nas Qua-
tro floras lnnocentes.
Em 15 de fevereiro de 1865 oferecia-lhe Pizarro
ste exemplar do Romanceiro.
foi neste mesmo ano. que Camilo bosquejou a
biographia iio estimado escriptor, em artigo pu-
blicado no Civilisador e reproduzido nos Esboos
iJe Apreciaes Litterarias.
Conserva o primeiro volume os dois retratos men-
cionados no catlogo. O primeiro o que pertence
obra, uma litografia que representa o autor na fra
da vida; o segundo uma fotografia, feita, ao que pa-
rece, em 1865.
- Ao lado do retrato litogrfico est escrito a lpis :
Aos 34 annos. Na fotografia h estas notas 58
annos e Tem pus edax rerum. . (comparem os 2
retratos).
No primeiro escreveu ainda Camilo: c Nasceu em
1807. Morreu em 1870.
153
Parece, portanto, que a fotografia de 1865, pois
foi nesse ano que o retratado completou 58 anos, os
58 pesados anos que Camilo manda comparar com
os 34 do esbelto rapaz que mostra a litografia.
No artigo que citei, escrito seis anos depois do seu
primeiro encontro com Pizarro, ainda Camilo fala da
dolorosa impresso que lhe fez o estado de decadn-
cia do poeta, o seu aspecto tam diferente do retrato
antigo que entalhra para sempre na memoria.
Nesse mesmo artigo diz que Pizarro morreu em
17 de Maio de 1870 que , creio, a data verdadeira.
Sendo assim, o que no est certo o que se diz no
catlogo -que a fotografia foi tirada no ltimo ano
de vida do autor.
O primeiro volume do Romanceiro tem duas no-
tas camilianas, sendo a primeira na pag. 33, no prin-
cpio do 2.
0
canto do romance O Conde de Ourem.
Comea assim o canto :
Em casa e Alvaro Pes,
(Que era na rua os Canos)
foi ste segundo verso o anotado: cBom verso.:.
De pag. 159 a 198 decorre o romance A DliQUe
za de Bragana, em que se canta a desgraa de D.
Leonor, assassinada em 2 de Novembro de 1512, no
pao de Vila Viosa, por seu marido o Duque de
Bragana, O. Jaime.
Ao romance seguem-se as notas em que Pizarro
conclui pela inocncia de O. Leonor, condenada ape-
154
na& pelas aparncias que levaram o Duque a julg-la
adltera.
O poeta considera provas evidentes dessa inocn-
cia o remorso e as penitncias de D. Jaime.
E' a isto que Camilo responde na sua nota escrita
a pag. 204: cO Duque nunca mostrou remorsos. No
anno seg.te ao do conjugicidio foi expedio d'Aza-
mor, passados annos foi a Castella buscar a mulher
de D. M.e
1
-- passados 8 annos cazou com D. Joanna
de e ao fim de 20 annos faz testam.'
0
e de-
clara a mulher perida pela culpa. A innocencia da
duqueza uma fabula.
Camilo nunca abandonou esta convico.
Na parte final do captulo Fraes, Ursos e um
Duque de Bragana, do livro Cavar em Runas,
trata do caso, continuando a no acreditar na inocn-
cia de D. Leonor e desenvolvendo o que consta da
nota qUe transcrevi.
Muitos anos depois, nos Narcoticos (pag. 99 e
seg.}, volta a falar da tragdia de Vila Viosa e man-
tm inteiramente a sua velha opinio.
Neste livro, depois de se referir ao equivoco com
um linhagista pretendeu explicar a. suspeita que
levou D. Jaime a matar a Duquesa, faz ste comen-
trio : c Um roltlance mal amanhado, bom para o &olo
de lgnacio Pizarro ..
A propsito, devo ainda citar o livro de Lucia
no Cordeiro, A Senhora Duqueza, publicado em
1889.
E' um trabalho feito com a maior probidade e es
155
crupulosamente documentado como todos os dise
cuidadoso investigador.
Luciano Cordeiro discorda por vezes das opinies
de Camilo, merecendo lhe especial referncia, em di-
ersos pontos do livro, o facto de le ter chamado
ao Duque D. Jaime a aevota besta-fera.
So estas as notas que Camilo escreveu no t. vol.
do Romanceiro, nenhuma tendo escrito no outro,
segundo informao do sr. Dr. Gomes de Carvalho.
N otal!l s Lies de Litteratura Portu
de J. Simes Dias
O eKemplar que foi de Camilo da edio de 1875
e pertence, como alguns dos anteriores e pelo mesmo
motivo, biblioteca do Museu de Joo de Deus. Tem
duas notas de Camilo.
A primeira, no ante rosto, diz: c lnsignificantissimo
bosQuejo por um pmfessor da sciencia que compen-
diou
A outra, a pag. 87 (ltima do teKto), esta: c No
pasia de miseravel, atrapalhado, e inutil bosquejo eita
coisa.:.
156
:Nota a um folheto de Antnio Petronilo
L amaro
Desconheo ste senhor Lamaro que traduziu a
Orao Funebre de Marcus Antonius, da tragdia
Jlio Csar, de Shakspeare. O folheto de 1879;
o exemplar que possuo foi oferecido pelo tradutor a
Camilo que no frontispcio escreveu apenas isto:
Traduo deploravel.:.o
Nota aos ((Avizos do Ceo ...
1
de Luis de Trres de Lima
E' mais um dos livros de Casimiro Freire, que, por
sua morte, ficaram pertencend'? ao Museu de Joo de
Deus.
O exemplar da edio de 1761 e tem na guarda
da encadernao esta nota de Camilo: cComo histo-
riador no merece algum credito ; como escriptor
detestavel.- C. C. B.:.o
157
Nota a O Emprestimo de D. Miguel-,
de Silva Pinto
Pertence o exemplar tambm ao Museu de Joo
de Deus. foi publicado em 1880, quando Silva Pinto
j estava em boas relaes com Camilo.
Tem uma s nota, escrita no ante-rosto. Diz:
cExacto e bom.:t
Notas s Memorias da Vida de Jos Libera te
Freire de Carvalho,.
O exemplar que pertenceu a Camilo est hoje R;)
minha coleco. E' o . n.
0
403 do catlogo do leilo
e conserva ainda na lombada o rtulo com sse n
mero. No verso do ante rosto tem a assinatura de
Camilo e o preo que lhe custou, 1600 rs.
Tem apenas trs notas e essas no so agressivai
para o autor, o que estranhvel porque Camilo no
gostava de Jos Liberato.
A sua antipatia pelo antigo cnego regrante de
Santo Agostinho, manifestou-se logo a seguir pu
blicao das Memorias do ex-frade crzio. Estas
apareceram em 1855 e, no ano seguinte, nas Memo-
,
158
r i a ~ e alm da campa e um juiz eleito, eato
publicadas no jornal A Verae e reproduzidas ao
Nacional, j Camilo lhes fazia uma crtica acerada,
omeando por lhes chamar quatrocentas paginas
insossas que esservem a nomeaa o seu au-
thor.
E segue no mesmo tom na anlise da obra ini-
g ~ s t a e salobra a mais no ser.
Era isto em 1856 ; nove anos depois, ao escre.er
A QueiJa 'um Anjo, volta a referir se a Jos li-
berato e ento implica-lhe com o nariz e parece-me
que com razo, se fiel o retrato que acompanha as
Memorias.
Descrevendo a figura de Calisto, diz Camilo :
linha o nariz algum tanto estragado das invases
do rap e torceduras do leno de algodo vermelho.
A dilatao das ventas e o escarlate das cartilages
no eram assim mesmo coisa de repulso. Estes aa- .
rizes, se no se prestam poesia lyrica, inculcam a
seriedade de seus donos, o que melhor. Eram as-
sim os narizes de Jos Liberato Freire de Carvalho
c de Silvestre Pinheiro. Ouasi todos os estadistas de
1820 se condecoravam com a rubidez nazal. No sei
que h n'isto indicativo de estudo, gravidade e medi
tao; mas ha o quer que seja.
Passam-se mais sete anos, e, em 1872, no Livro
e Consolao, de novo debica com o homem, mas
er.to deixa-lhe em paz o fsico para lhe atacar as
-qualidades morais e literrias.
Depois de ttanscrever uma parte das Memorias,
159
em que Jos Libera to avaliou ineptamente em es
caroadas linhas D. Lus de Ataide, filho do conde
de Atouguia e neto do marqus de Tvora, dois dos
justiados de Belm, diz Camilo: cApezar d'esta
apreciao indicativa de escriptor e esprito menos de
ordinarios, e incapazes de alarem-se at onde a des-
graa ergue pelos cabellos as suas preas ... ~ E mais
adiaate, depois de outra transcrio: c Homem de to
singular e descommunal condiJ tinha direito a ser
estudado e desenhado por quem tivesse vista d'alma
que alcanasse o enorme desgraado no fundo da
$Ua woragem. Dos seus coevos e camaradas nenhum
deu tento d'esse extraordinario martyr seno o ex-
frade Jos Liberato, que nunca pde desfazer-se de
tres partes de mo frade com que fugiu aleijado do
convento.:.
Todavia, as passagens que Camilo tam duramente
critica no Livro e Consolao, no foram por le
anotadas no seu exemplar das Memorias.
As notas que l se encontram so as seguin-
tes ..
Na pag. 41 diz o autor que certo Hiplito, tendo
sido preso, foi levado ao Limoeiro e, passados alguns
dias, transferido para a Inquisio.
Camilo sublinhou alguns ias e margem escre
veu: c6 mezes diz o prezo.:.
Na pag. 374 refere-se Jos Liberato proposta
aprovada na Cmara dos Deputados, estabelecendo
um prmio de dez contos a quem prendesse O. Mi-
guel e o entregasse s autoridades. Camilo anotou:
160
c Infame! E admiram-se que Filippe 2.
0
offerecesse
80$ ducados a q.m lhe entregasse o O. Ant.
0
Na pag. 388, onde o autor se refere s eleies de
1839, anotou: c: Eleies do P. J. Creio que estas
iniciais significam Passos Jos.
E com esta acabam as notas ao livro do escri'ptor
menos de orai'nari'o e com tres partes ae mo
frade.
Notas a um Sermo de Fr. Joaquim
de Santa Clara
E' o Sermo do Santi'ssimo Corao de Jesus,
recitado na primeira festa celebrada na Baslica da
Estrla, em 11 de Junho de 1790.
A edio do ano seguinte. Pertence o exemplar
anotado ao meu amigo e confrade Dr. Jorge de Fa-
ria que espontneamente mo ofereceu, com outros,
, para copiar e publicar as notas, quando soube que eu
estava preparando ste livro.
E' digno de registo o facto, no considerado como
amabilidade ou favor pessoal, porque nesse ponto
no fez mais ste meu amigo do que fizeram os ou-
tros que nos lugares competentes vo citados, mas
por esta razo - Jorge de faria um camilianista.
Mas -o na verdadeira acepo do termo.
161
No colecciona espcies camilianas para se quedar
na muda contemplao das lombadas, mais ou menos
vistosas, dos livros condenados perptua quietao
nas estantes, como as onze mil virgens que eram os
volumes, em igual nmero, da famosa livraria do car-
dial da Cunha.
No. Jorge de faria colecciona Camilo para estu-
dar a sua obra e a sua vida, ou seja, no fim de con-
tas, para estudar Camilo.
Talentoso e erudito, tem produzido muito menos
do que devia produzir, mas a sua bagagem j mais
que suficiente para afirmar o seu grande valor.
E' um esprito superior e um camilianista sin-
cero. Cultiva o camilianismo por Camilo e no por si.
Exactamente porque possui estas altas qualidades,
no faz caixinha (com licena) do que tem na sua
coleco.
Nem mesmo espera que lhe peam; le que ofe-
rece, como fez no caso presente, ao saber que eu ia
publicar notas de Camilo.
E' por isso que eu digo que o facto digno de re-
gisto. J tive ocasio de fazer idnticas considera-
es a respeito de Lus Ferreira Lima.
Presto assim a minha homenagem a dois camilia-
nistas que tal nome merecem.
A primeira nota de Camilo aparece na guarda e
a seguinte: cfoi a tiragem de 100 exemplares. Pa-
rece q. era grande theologo; mas escriptor medio-
cre.:t
Na mesma gua.rda escreveu tambm o preo do
11
162
folheto num leilo - 800 rs. - e ainda esta operao
1740
1818
----
.. 78
com que teve, talvez, por fim saber o nmero de anos
de vida do orador.
Logo me referirei com mais desenvolvimento a
ste costume de Camilo, de fazer por escrito as ope-
raes aritmticas mais singelas.
No frontispcio escreveu: c Raro. Diz Innocencio
f. da S.::. que nunca podera encontrar este sermo,
nem eu vi outro exemplar. C. Cast.
0
Br.:.
E mais abaixo, junto do nome do frade: c Pregou
nas exequias do marquez de Pombal em 1782. foi
arcebispo de Evora.:.
A pag. 8, marginou com um trao esta passagem:
Bem sei, meu Deos, que os abismos do vosso cora
o devem ser adorados de longe, e que nunca sem
temeridade se arrojario vistas humanas a examinai
los de perto. Consenti porm que eu levante humilde
o escuro vo, que esconde aos olhos mortaes o inte-
rior desse divino Santuario. Deixai-me ao menos por
hum instante, deixai-me ver com as luzes da f o : ~
seus reconditos segredos.:.
A pag. 29, diz o autor: c ... que manda a todos
que aprendo do seu exemplo a serem, como elle he,
affaveis ... :.
Camilo notou margem : cincorrecto - No se
163
diz: estes homens devem serem bons ; mas iJeiJem
ser bons; pela m.ma raso, incorrecto dizer appren-
dam a serem.
A pag. 31. emendou a palavra !emite, substituindo
por i o primeiro e.
Na pag. 32, nova falha do frade e nova correco
de Camilo.
Diz aquele: c de quem Lazaro ha quatro dias
morto era no sentir dos Padres a figura." Emenda :
incorrecto - devia dizer havia, logo q. era morto.
Se dissesse estava bem o ha.,
Na pag. 35, sublinhou as palavras: iJerraeiro ta-
lho a mortf!.
A pag. 36, escreveu a sua ltima nota.
Diz o au'or: c: O' Deos! que mais era preciso que
fizesseis. . . no digo bem . . . que me! is podieis vs
fazer, sendo como sois, hum Deos, a quem nada he
impossvel ? Que maiores provas podieis vs dar-nos
da grandeza do vosso Corao, do muito que nos
amais, depois de chegar ao ponto de morrer para sal
var-nos? No foi esta a grande obra do vosso Amor,
q:.:e vs haveis meditado desde a eternidade ainda
antes de crear o Homem vossa similhana; .. ,
Camilo sublinhou o ltimo perodo e anotou: Se
ja o previa, devia cumprir-se. O homem peccou in-
conscientem.te ,
E' curioso notar aqui que Camilo, quando andava
coligindo elementos para o seu livro A Oratoria Sa-
graa em Portugal, que no passou de projecto,
recorreu por vrias vezes a Inocncio, pedindo ao
.
164
seu saber indicaes a utilizar para essa historia do
pu/pito.
Numa das suas cartas, em 20 de janeiro de 67, di-
zia ao erudito bibligrafo: cSer coisa m.to difficil
encontrar-se o sermo de S.t" Clara, arceb. de
Evora, nas exequias do Pombal? Dos 100 exempla-
res que V. Ex.a diz se publicaram de certo no con-
seguirei ser eu um dos 100 possuidores. Quando eu
for a Lx.a, V. Ex.
3
m'o deixar ver.:.
Oito dias depois, escrevia-lhe o seguinte: c Estou
de posse do precioso sermo. E' admiravel! Ou em
nos dera hoje assim um conceituoso e vernaculo
orador!:.
E' certo que no diz qual o precioso sermo
que recebeu, mas, sendo as duas cartas escritas com
piqueno intervalo e no fazendo Camilo na primeira
outro pedido, alm do que consta da parte transcrita.
parece-me lcito concluir que Inocncio correspon-
deu aos desejos do escritor, enviando-lhe o tal ser-
mo das exquias pombalinas.
Sendo assim, interessante o confronto da opi-
nio de Camilo, expressa na carta, com as notas que
escreveu no sermo que o mesmo monge pregou na
Estrla e' que aqui ficam reproduzidas.
Em duas delas emendou erros gramaticais e nutl'a
outra chama ao frade escriptor mediocre ; na carta,
classifica o sermo de precioso e admiravel e o
orador de vernaculo.
Se se trata do mesmo homem (admitindo a hip
tese provvel de o sermo a que se refere a carta
165
ser o das exquias), notvel a contradio das duas
opinies.
A no ser que fr. Joaquim de Santa Clara tivesse,
Ros oito anos que decorreram entre os dois sermes,
perdido a sua vernaculidade e esquecido, at, as mais
elementares regras de sintaxe.
As cartas a que me refiro, foram publicadas pelo
ir. D: Antnio Cabral, no Camil/o de Perfil.
Notas a um opsculo de Jos Daniel
Tem um quilomtrico ttulo de que copio uma pi-
quena parte : Coleco oe toiJas as obras moiJer-
nas que o author tem feito a Sw:t Real Mages-
taiJe o Augusto Senhor D. Miguel I . .. , e foi im-
presso em 1829.
O exemplar pertence tambm a Jorge de faria.
Tem no frontispcio a assinatura de Camilo e na
pag. 3 a primeira nota: Se eu um dia tiver tempo
e pachorra, alguma cousa direi deste inofensivo cho-
ramingas.
Nas pag. 6-7, traou as seguintes quadras:
Conto sessenta e seis annos,
Cheios ()e consumies :
Na cova no valem Tenas,
O que vale so Tenes.
166
Fui e Alemquer Ajuante,
Ina conservo a Patente :
Mas novo Regulamento
Nos extinguio e repente.
Fui o Pao a Rainha,
Do primeiro Batalho
Apto Major, ese quano
Se fez esta Legio.
farei-me, cingi a b3na,
E no he por me gabar,
Tive, sem ir campanha,
Arreganho Militar.
No me przo ~ e v.dente ;
Porm he cousa bem rara,
Que ina no veno o inimigo,
Nunca sube virar cara I
e fez ste eloqenie comentrio: c Pff ! : ~ t
A pag. 10, quadra:
lna tempos conheci,
Em que as Obras se gastavo,
As minhas Composies
Em casa me no ficavo.
fez esta observao: Vendiam-se melhor q. as mi-
nhas!
A pag. 14, diz o poeta:
O nosso Xavier e Matlos,
Na falta e subsistencia,
Morreo conforme, abraada
Co11: a sua paciencia.
167
Camilo sublinhou e escreveu: c E' a sorte q. me
espera nesta falperra de editores e contrafactores
Na pag. 54, encontra-se a ltima nota.
E' esta: Ah, deuses!, aplicada aos versos:
A velhice, sem creores,
He o que ter mais lleseja.
Notas a um folheto de Inocncio
E' mais um exemplar da coleco de Jorge de
faria.
Tem por ttulo: Apontamentos Biograficos
cerca de D. Luis Francisco de Assis Sanches iJe
Baena . .... dados luz e offereciiJos a seu ter-
CEiro neto o Excellentissimo Senhor Visconde de
Sanches de Baena- por lnnocencio Francisco
iJa Silva.
foi publicado em 1869.
Tem duas notas de Camilo, sendo a primeira
muito extensa e escrita na capa do folheto, da qual
ocupa metad(;! da frente e todo o verso.
Diz assim: c O actual visconde de Sanches de
Baena era ha 6 annos boticario no Rio de Janeiro.
Voltando patria, provou que era o representante
168
do Dz.
0
" Joo Sanches de Baena, um dos conjura-
dos em 1640; pelo qu foi feito visconde, pagando
os lJireitos de merc. A graa (que graa !) de
1869. Occupa-se hoje este visconde em explorao
de minas no Alemtejo.
Requereu elle o aom de seu terceiro av D. Luiz;
mas el-rei no lh'o concedeu, por no ser costume.
A tia materna deste visconde era a celebre freira de
Vairo que casou com A. Feliciano de Castilho. E'
admiravel que o poeta a faa descendente de Ant.
0
ferr.a e Nicolao Tolentino. Parece q. o i l l u s t r ~ cego
e a illustre freira renunciaram parentella nobiliar -
chica para se introncarem na litteraria. Eu de mim
penso que ambas as procedencias so tanto ou q.'o
fabulosas.
Ora a outra senhora, irman da freira, casou com
um aJferes de milcias da feira, empregado em no
sei qu de Miragaia, e deste cazal sahiu o visconde
actual que em pequeno foi p.
8
o Rio.
Uma irman deste visconde casou com um bras i
leiro chamado Leite, que morou em 1861 na rua de
Gonalo Christovo do Porto, tendo ia sido casada
com outro Leite, irmo do 2.
0
marido. Desta senhora
ha duas filhas casadas pobrem.
18
no Porto.
E' de notar que Camilo duas vezes chama freira
senhora que foi a primeira mulher de Antnio fe
liciano.
No segundo volume das Memorias ae CastUho,
seu filho Jlio trata largamente dsses amores do
poeta, e a diz que aquela senhora era educanda o
169
mosteiro de Vairo, onde desde crian;a vivia com sua
irm.
Quando comeou a sua correspondncia com Cas
tilho, tinha ela vinte e oito anos de idade, o que leva
a crer que j no fsse educanda. Provvelmente te
ria ficado no convento, finda a educao, como reco-
lhida.
E' ste o nome que lhe d Ernesto Loureiro no
artigo publicado a pag. 15 do nmero nico Castilho
com que a Empresa da Histria de Portugal come-
morou em 1900 o primeiro centenrio do poeta.
Parece-me que seria esta a sua verdadeira
o no mosteiro, em 1824, quando escreveu a
tilho a sua primeira carta Que Jlio reproduziu a pag.
34 do 2.
0
vol. das Memorias.
Seria recolhida, mas no educanda e muito menos
freira, como,lhe chamou Camilo.
A segunda nota camiliana encontra-se na pag. 25.
a ltima da biografia, na qual o autor se refere a D.
Antnio Carlos Sanches de Baena e a D. Maria for-
tunata Agostinha de Portugal que por sentena de
24 de Maio de 1783 foram julgados herdeiros do bio-
grafado D. Lus Francisco de Assis .
. A margem escreveu Camilo: Devia rigorosam.
1
o biographo referir-nos como se gerou desta gente o
actual
Nada mais escreveu no folheto.
A ttulo de curiosidade, e para fechar, quero ainda
dizer que sse visconde publicou em 1882 um ops-
culo intitulado Notas e Documentos lneitos para
170
a biographia oe Joo Pinto Ribeiro, que dedicou
a Camilo, escrevendo-lhe assim o nome: Camillo de
Cstello Branco, tanto na dedicatria como na pag.
23 em que transcreve parte duma carta.
H uns inocentes que muito se indignam quando
algum escreve o nome de Camilo como eu o escre
vo, sem geminar o /, e protestam dizendo que le
nunca escreveu assim. Pensam, os pobres, que o no
me prprio. talvez por ser :Jrprio, propriedade da
pessoa a quem foi dado na pia baptismal ou no omi-
noso registo civil, e no uma palavra da lngua, su-
jeita, como qualquer outra, s regras da ortografia.
Ora sses mesmos so muito capazes de achar bem
aquele oe com que o visconde alterou o nome de
Camilo.
Porque, com um I ou com quantos quiserem, o no-
me do escritor foi sempre Camilo Castelo Branco
e nunca Camilo oe Castelo Branco.
Mais I ou menos I no cousa que altere o nome;
o mesmo no se pode dizer de mais oe ou menos oe.
No sei se esto venoo, como dizia Dias Fer-
reira.
Mas no, eu sei que no esto vendo. . porque
no querem ver.
E eu no posso obrig-los.
Devo dizer ainda, em abno da verdade, que San
ches de Baena se deixou mais tarde daquela extra-
vagncia, como se pode ver no seu Gil Vicente, pu-
blicado em 1894, onde o nome de Camilo aparece j
liberto da partcula.
171
Notas Historia do Reinado de El-Rei
D. Jos, de Luz Soriano
Logo na guarda do 1.
0
vol. aparece a primeira nota
que esta: Este Soriano, que plagia vergonho-
sam.'e, diz que foi guiaiJo por estes e aquel!es. O q.
elle fez no se chama ser guia-ao- ser eiJitor de
obras que eram vulgarissimas como a Am."m o M.
e Pomba!, traduzida ha 30 annos, Gabinete Hist.,
&. O thesouro pagou liberalm.'e estas eioens.=C.
Casf. Br.
0
:&
A pag. VI, escreve o autor: c Posto que as idas
de egualdade religiosa Jesus Christo as tivesse esta
belecido e se achassem admittidas em todos os esta-
dos christos, catholicos e no catholicos, todavia a
admisso d'essas idas de egualdade em politica era
coisa a que altamente repugnavam os costumes e as
crenas das aristocraticas, crentes, como j
dissemos, de que s ellas deviam monopolisar em si
os direitos da humanidade e o nobre fero do ser hu-
mano.
Comentrio de Camilo: c Carece de
Na pag. VII sublinhou philosophismo anotou :
tolice.
Na mesma pgina e continuando na seguinte, h
ste perodo: Pelo que fica dito v-se portanto que
a obra que contratmos com o governo comea pelas
causas proximas do estabelecimento do governo par-
172
lamentar entre ns, tendo esta que agora apresenta-
mos ao publio por fim mais especial a exposio das
causas remotas, e a dos esforos feitos pelo marquez
de Pombal, Sebastio Jos de Carvalho e Mello,
aquelle grande ministro d'el-rei D. Jos a que aciina
JIIOS referimos, para o nivelamento das classes sociaes,
sendo este nivelamento a primeira causa que dire-
ctamente concorreu para o estabelecimento do go
verno parlamentar entre ns, por d'ella se ter diriva
do a ida da soberania nacional, que aps aquella
c!usa se seguiu.
Esta medonha tirada foi assim come.ntada : cq.
monho de palavras.
A pag. X Soriano fala do Gabinete Historico, de
fr. CliJdio da Conceio, e da sua falta de estilo.
Camilo, ainda irritado por aquele perodo, escreve :
Este asno a. julgar estylos !
Na pgina seguinte comea um outro perodo que
vai terminar na imediata, com a mdica quantia de
31 linhas.
Camilo anotou: c Este perodo faz pneumonia.
Em dois lugares do pneumnico perodo subli-
nhou a expresso tiveram togar. Tambm na frase
naaa mais lhe importano 00 que fazer-se te-
mido, sublinhou a repetio da slaba o.
A pag. XIII, escreve Soriano: c parece nos
que a publicao d'este nosso escripto no deixar
de agradar.
Camilo indigna-se: Vai beber da merda, paspa-
lho !J)
173
Mais abai,-o cita o autor, entre os seus guia&.
aquele livro A Aministrao, etc., a que se refere
a primeira nota.
Camilo escreveu margem: que authorid.e !:.
Na pag. XIV termina o prefcio. A escreveu :
"Estamos em um paiz onde os governos do o din.r'
da nao a historiadores. desta casta!
A pag. 1, comea assim o cap. I da obra: A poca
do reinado d'elrei D. Joo I foi seguramente em
Portugal uma das mais importantes e momentosas
que n'este paiz tem havido : durante ella colheu a
nao portugueza grandes vantagens, por ser durante
ella que os portuguezes receberam um tal impulso na
carreira das artes, das sciencias, e da industria de to-
do o genero ...
Camilo sublinhou a repetida expresso iJurante
e/la.
Quanto s artes, preguntou: o:Quaes ?
Na parte relativa inustria, ps um ponto de
admirao.
A pag. 4, diz o autor: El-rei catholico devia re-
sidir em Portugal o maior espao de tempo que lhe
fosse possvel; mas. apezar d'esta condio el.rei D
filippe I s veiu a elle uma unica vez, D. filippe II
esteve por outra vez em Portugal smente o espao
de tres lllezes, e D. filippe III nunca veiu a elle.
As ltimas palavras foram traadas e assim comen
tadas : cq. eloquencia !.
A pag. 8, a passagem: ... os duques de Bra-
gana, cuja popularidade fra iupplantada em 1580
174
pela que o prior do Crato, D. Antonio, teve por
aquelle tempo ... recebeu esta classificao: As-
neira
A pag. 9, sublinhou o verbo se conauzia, no sen
tido de proceaia.
Vem a propsito dizer que em diversos lugares
faz o mesmo palavra conducta, empregada com a
sign_ificao de proceaimento, e num deles (pag.
319) anotou: gab
A pag. 11, o autor, citando uma opinio alheia, diz
que Richelieu, em 1638, interessado na libertao de
Portugal, oferecia tropas, armas e munies e que
nesse sentido escrevera ao duque de Bragana. Ca
milo escreveu: c
Na pag. seguinte, nas palavras chefe )'ella, subli
nhou fe d'ella.
Abaixo, o autor fala de D. Anto d'Alma, des-
cenente o i/lustre Alvaro Vaz ae Almaa, con
de a'Avranches em Frana, um aos doze ae ln
glaterra. . . Esta passagem recebeu duas notas. A
primeira respeita ao condado e diz: c Titulo dado pelo
monarcha
A outra relativa parte em que se trata dos doze
de Inglaterra. Diz apenas: casno
Na pag. 17, h uma nota do autor sbre a famlia
dos Menezes, nota que termina assim: c foi por meio
de similhante casamento que os condes e marquezes .
de Villa Real passaram a representar a varonia do
rei de Castella, D. Henrique II e do de Portugal D.
Fernando I. em virtude do casamento de O. Isabel,
175
filha illegitima d'este soberano, com O. Affonso, conde
de Gijon e Noronha, filho illegitimo d'aquelle outro
soberano.:.
Camilo mudou em vrgula o ponto final e acre!
centou: cde q. nasceu o arcebispo de Lx." D. Pedro
de Menezes q. fez em uma senhora Perestrello os
ascendentes dos Menezes em Portugal.:.
A pag. 19 aparece outra vez sublinhado o galicis
mo teve logar. O mesmo fez noutras pginas.
Na pag. seguinte, na frase: nunca faltam aos reis
quem as suas malaes tenham por virtues,
Camilo restaurou a gramtica ofendida, pondo no sin
gular os verbos.
A pag. 21, fala o autor dos socorros prometidos e
no prestados pela Frana; Camilo anota: cLuiz" 13
no emprestou o din.ro q. Joo 4.
0
lhe pediu. Veja o
Doc.'o comprovativo nas N. e lnsomnia.
E' no n.
0
7, pag. 58, que se encontra o documento.
Na pag. 23, lse que Antnio Cavide morreu na
priso. Camilo corrige: c Inexactido. Cavide foi per
doado, e morreu na sua cama e foi sepultado na Pe
11ha de Frana. Veja Hist. Geneal. Art. o Cavie.:.
A pag. 25, na frase: foi a manifesta desaffei-
o . quem lhe motivou a morte, substituu quem
por o que.
Na pag. 30, emendou o nome da rainha, pondo
Luiza onde estava Maria Francisca.
Na seguinte, onde se fala de ois prncipes e
mau caracter e costumes, introduziu an:es de cos-
tumes a palavra mos.
176
A pag. 41, ao nor.ie de Simo de Vasconcelos e
Sousa ps esta nota : c Este Simo foi metido de noute
na alcova da rainha M. a de Saboya a fim de p.r en-
gano se copularem, mas ella, conhecendo o engano,
expulsou-o. Mem. mss. .
Na pag. 72 fez diverias emendas gramaticais
como, por exemplo, na frase: ambos tiveram a ma-
nia e quererem, em que passou para o singular o
ltimo verbo.
Na pag. seguinte, onde se trata da usurpao do
trono de D. Afonso VI por seu irmo, escreveu esta
nota : c Mandava a politica q. se dissimulassem os
defeitos do inf.
1
" para q. Portugal, a braos com
Hesp. ", tivesse um rei capaz de
A pag. 76, o autor censura D. Joo IV por se
ter recusado a pr-se frente da sedio de Evora,
o que provocou esta nota de Camilo:
Nesta arguio, ha tolice. Se D. Joo de Bra
gana, em 1637, aceitasse o alvitre de se aclamar,
talvez perdesse a partida, p.r q. ainda a Catalunha
estava tranquilla, e filippe IV dispunha de maiores
foras, e m.s apaniguados em
Nessa mesma pag. diz o autor QUe a revoluo de
1640 foi promovida por uns trinta cavalheiros. Ca-
milo emendou para 90.
Na pag. seguinte, a propsito de D. Joo I, ano-
tou: cE' bom saber-se q. o Mestre de Aviz quiz
cazar com Leonor T. dep.
5
q. lhe matou o aman-
A pag. 80, escreve de Joo Pinto Ribeiro: cOes-
177
cendia de um sapateiro dos arrabaldes de Amarante.
p.' parte do pai.
A pag. 114, a propsito da estada de Carlos I II
em Lisboa, anotou: Carlos 3.
0
hospedou-se em Be
lem no palacio do marquez de Gouvea e na volta da
excurso foi p.
3
o do conde de Aveiras.))
A pag. 142, emendou visconae ae Ponte ae Lima
para visconae de V.a Nova aa Cerveira.
Emenda igual fez na pag. 460, explicando: V.a
Nova da Cerveira, depois marquez de Ponte de Lima.
Na pag. 187 diz-se que Pombal casou pela se-
gunda vez em 1745 ; Camilo esclarece : depois de
estar viuvo 6 a.
8
A pag. 188, refere-se Soriano a um manuscrito de
D. Lus da Cunha, em defesa do Marqus. Camilo
escreveu margem: Testam. to politico? E' uma-
carta ao prncipe D. Jose.:.
A pag. 201, no sumrio do cap. III, Soriano diz
que o terremoto matou dez a doze mil pessoas. Ca-
milo anota : cS. nm los de Carv.
0
diz 45$ a pag.
277 deste vol.
Efectivamente nessa pgina, numa transcrio de
palavras de Sebastio Jos, aparece ste nmere
com umo:t nota de Soriano dizendo que alguns con:
temporneos o acharam exagerado e o reduziram a
dez ou doze mil.
Sebastio Jos, logo adiante, diz que a peraa ae
alguns vassalos ociosos pouca importncia tem.
Camilo nota a contradio : cdepois de ter dito q.
morreram 45$ pessoas.:.
12
178
A pag. 203, novos erros gramaticais aparecem as-
sinalados pelo lpis de Camilo : cE' coisa para ad-
mirar no terem havido mais desgraas ... ,. cpro-
viu a falta de ... ,. .
Na pag. seguinte marcou tambm uma passagem
em que se fala dos tribunaes da crte vestidos ()e
rigoroso luto.
A pag. 204, fala-se de D. Martinho Mascarenhas,
conde de Santa Cruz. Escreve Camilo : c o q. mor-
reu em 1805 m .
10
pobre. ,.
A pag. 242, volta Soriano a falar das dez a doze
mil vtimas do terremoto e Camilo volta a notar que
Pombal dizia serem quarenta e cinco mil.
Na pag. 245, um ponto de admirao marcou o
lugar em que o autor diz que o incendio victimou o
palcio do conde de Vila Flor.
Na seguinte, sublinhou a expresso mais magni-
ficas.
A pag. 250, conta o autor o caso conhecido de D.
Jos ter atribudo proteco divina o facto de a
casa do seu ministro ter resistido ao abalo, e de o
conde de bidos ter dito que igual proteco tinham
tido as moradoras da rua Suja.
A ste dito, diz Soriano, atriburam alguns o dio
de Carvalho quele conde.
Camilo comenta : c Asneira.,.
O mesmo comentrio fez passagem em que o
autor filia o dio do mesmo Carvalho ao marqus
de Alorna no cime que nele despertou o dito do
marqus ao rei sbre o que havia a fazer: enterrar
179
os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos,
dito que tem corrido como sendo de Sebastio Jos.
A pag. 284, o nome de Diogo de Mendona Crte
'Real tem esta nota {repetida a pag. 225 do 2.
0
vol.):
cTentou matar s.amJ.e de Carv.
0
Vej. Memorias
de Queiroz.
E' a pag. 125 das Memorias publicadas porCa
mi! o, que o bispo do Gro- Par trata do caso.
Na pag. 285 diz ainda a respeito de D. Diogo :
c Morreu em Peniche em 24 de fev. o de 1771 .
Na mesma pgina, tambm a propsito de D.
Diogo e do casamento da futura D. Maria I, diz
Camilo : c Envolvidos nesta historia o conde de S.
Loureno e o V. de P. de Lima. Vej. Quei-
r o z . : ~ .
Como se v, de novo citado o bispo. ste epi
sdio vem tratado por le a pag. 131 das citadas
Memorias. Veja-se a nota de pag. 457.
A pag. 289, diz Sariano que de 1750 a 1755 os
nossos melhores vinhos no passavam de 10$000
ris por pipa, o que Camilo contesta por ste modo:
c Mentira em 1753 .os inf!l. pag. os vinhos do Dou-
ro a 17 lib
Na mesma pgina, a propsito das falsificaes dos
vinhos, feitas pelos lavradores, diz : cAconselhados
pelos proprios inglezes.
A pag. 298, diz Sariano que Sebastio Jos man-
dou repreender os juzes que entendiam que o motim
do Prto, por causa da questo da Companhia dos
Vinhos do Alto Douro, era uma simples assuada, de-
180
clarando-Ihes que o crime era de lesa majestaiJe de
seguniJa cabea .
Camilo emenda : c primeira diz a :;entena.
Refere se sentena da alada que conheceu da
rebelio. Est publicada com outros documentos, em
volume impresso no Prto em 1758.
A pag. 302, refere o autor uma cilada do Mar-
qus para mandar para o Brasil, onde ficaria preso,
o escrivo daquela alada, Jos Mascarenhas. Ca-
milo faz esta observao: cPombal no era homem
q. usasse taes artificies .. Isto um romance.
A' margem da pag. 304, escreveu : cBahia foi a
capital do Estado do Brazil at 27 de Jan.
0
de 1763.
A pag. 305, fala-se ainda da priso de Jos Mas-
carenhas que Sariano diz ter sido efectuada em 25
de Janeiro de 1760. Camilo emenda a data para 26
de Abril e margem escreve: c foi preso p.r q. no
sahia da Bahia onde estava presidindo Academia
dos renascidos q. elle inaugurara em 6 de junho de
1759 e foi prezo em 26 de abril de 1760- foi man-
dado prender em 25 de jan. o de 1760.
A pag. 309, fala-se do rapto duma senhora pelo
marqus de Gouveia. Camilo elucida: cD. M. a da
Penha de Frana mulher de D. Luiz d' Almada. A
fuga do marquez foi em 1724. Elia foi preza logo
q. entrou em Espanha e elle foi p. a Madrid, e dep.
p. Londres, onde quiz hypothecar uma ilha de Cabo
Verde.
Na pag. seguinte, diz Sariano que o irmo daquele
marqus alcanou em 1741 o ttulo a que o irmo
181
renunciara Camilo emenda : c ]a em 1739 era mar-
quez.:.
A pag. 314, fala Soriano de D. Jos Mascarenhas,
primo da marquesa de Tvora, D. Leonor. Camilo
emenda: c cunhado p .r q. o duque era casado com
uma irman do marquez, D. Leonor de T avora.
Nas pag. 3!5 e 316, Camilo marginou largos pe
rodos e e ~ c r e v e u : c Plagiato.
A pag. 317, o autor cita uma verso segundo a
qual a marquesa de Tvora contribura para as de-
zasseis moedas dadas aos que atiraram sbre D.
Jos. Camilo observa: cOue futilidad. e to invero-
simil !:.
A pag. 319, aparece outra vez a nota de plagiato
e ainda esta: c Porco trapalho.
A pag. 327, diz Soriano que o povo, ao saber do
atentado contra o rei, logo incriminou os T voras.
Nota de Camilo: c Mentira.:.
Na pag, 329, diz-se que foi cercada, na manh de
13 de Dezembro de 1758, a casa de Manuel de T-
vora. Camilo sublinha o nome e nota: cque passou
incolume. Veja-se a nota de pag. 334.
Nas pag. 332 e 333, o historiador ocupa-se de
Jos Policarpo de Azevedo, o conjurado que conse-
guiu escapar fria de Pombal contra os regicidas.
Camilo anota na pag. 332: c Teve estalagem nos pa
dres da Teixeira.- Tras os Montes.
Na pag. seguinte desenvolve-a: cAzevedo prote
gido p.r fam.a de G. Christovo teve uma estalagem
nos padres a Teix."" e delle descendem Valentim
182
Mascarenhas e outro irmo formado, m. to valentes. O
1.
0
morreu juiz de Direito em 1879 e era cazado
com uma irman do deputado Lopes Mendes com
q.m esteve amigado
A respeito dste Jos Policarpo deve ver-se o Per-
fil do Marquez e Pombal, de Camilo, pag. 53 e
seg . e o Camillo esconhecido, do sr. Dr. Ant-
nio Cabral, pag. 399 e seg.
O deputado a quem se refere a nota o agrno
mo Antnio Lopes Mendes, autor do livro A lnia
Portugueza, publicado em 1886.
Esta obra estava para ser prefaciada por Camilo
que, alegando doena, no fez o prefcio.
Lopes Mendes prestou-lhe a sua homenagem pu-
blicando -lhe o retrato a pag. 299 do 2 .
0
vol. do seu
trabalho.
A pag. 334, o nome de Manuel de Tvora tem
esta nota: c Denunciante da fam. Deve ligar-se
esta nota com a de pag. 329.
A pag. 335, fala Soriano do secretrio de estado
Tom Joaquim da Costa Crte Real que em 1758
era da confiana do Marqus. Camilo escreve
margem : c Este homem foi depois desterrado p . a
Leiria - prezo no castello onde morreu, ordem do
A le se refere no Perfil, a pag. 230.
Na pag. 336, escreveu esta nota relativa a um
suta : c Este Jos Moreira tinha favorecido a entrada
de Pombal p. a o governo, influindo no animo da
nha q . era sua confessada.
A pag. 342, diz o autor que Lus Bernardo de
183
Tvora, o marqus novo, pretendeu falar ao povo na
ocasio do suplcio. Camilo explica : cO padecente
queria expor q. o rei o deshonrra.:.
A pag 352, cita o autor uma gravura represen-
tando o cadafalso dos T voras, com os cadveres
desconjuntados, e C1milo diz: C. C. B. possue
essa original. gravura .
Deve ser a que vem reproduzida no Perfil.
Logo a seguir h uma referncia ao palcio do
duque de Aveiro, assim anotada: c Possuo o desenho
deste palacio onde se hospedou Carlos 3.
0
Suponho que aquele que aparece no Perfil com
a legenda: Falais du Com te 'Avero, Lisbonne
ou Charles III a t Log.
Na 2.
8
ed. do Perfil (1900) a gravura tem a le-
genda em portugus.
A pag. 353, fala-se duma comenda vaga por
morte de Gregrio de Castelo Branco.
Camilo emenda o nome introduzindo-lhe o apelido
Almeia e anota: c Filho natural do ultimo conde de
V.
8
Nova de Portimo. Deixou uns legados Mise-
ricordia de Barcellos.
A pag. 356-357, o autor descreve minuciosamente
a igreja da Memoria. Camilo comentou: Oue frio
leiras.
A pag. 361, Soriano procura ilibar os marqueses
de Tvora de responsabilidades no regicdio. Escreve
Camilo: cEsta defesa prejudica o q. ha louvavel na
vingana dos r voras.
A pag. 367, refere-se o autor aos receios que Pom
184
bal tinha de atentados contra 'a sua vida, depois da
execuo dos fidalgos. Camilo confirma : c So nota-
veis as providencias q. se deram na segurana do rei
e do ministro. Vej. os meus' Mss. vol. em 4,
0
:t
A pag. 388, diz Soriano que as causas da queda
. da Companhia de Jesus foram a animadverso criada
pelos seus vcios e a inveja despertada pela sua om-
nipotncia e que idnticas foram as causas da extin
o dos Templrios. Camilo comenta: cAsneira.:t
A pag. 451 . a propsito do facto de D. Jos, pela
sua desconfiana, dar audincia ao povo, metido den-
tro duma grade ou teia, Camilo escreve : c depois
de 1770 em conseq. a da paulada q. lhe deram em
V.a Viosa.:t
A ste episdio da paulada j Camilo se referira
na Bordoada Sacrilega, publicada a pag. 98 e seg.
do Mosaico e reproduzida em 1909 no n.
0
2 de O
Bibliophilo (miscelanea potica e literria), im
presso no Prto.
No sei se o artigo j tinha sido publicado antes
de aparecer no Mosaico.
O assunto tratado tambm no Perfil, no captulo
Paulaa e peraa (pag. 253 e seg.).
E' de notar que o caso da paulada no se passou
em 1770, como Camilo diz na nota, mas em 1769,
como se v no Mosaico e no Perfil.
Na pag. 455, fala Soriano dum incidente entre o
conde de Oeiras e o inquisidor geral. Camilo anotou :
cEsta historia m.'o duvidosa.: A histria prolonga
se at pag. 457 onde o autor fala da priso do conde
185
de S. Loureno e da do visconde de Vila Nova da
C e r ~ r e i r a , que atribui a certas causas. Camilo corri-
ge: c foram outros os motivos. Veja fr. Joo Quei-
roz. Pag. 131.:. E' o mesmo lugar citado numa das
notas de pag. 285.
A pag. 459, diz Soriano que o bispo do Gro Par,
sado do claustro agostiniano, foi mandado recolher
ao convento de Leiria. Camilo riscou a designao
da ordem e o nome da cidade e anotou: cbenedicti-
no foi recolhido em Alpendurada, chamava se fr.
Joo de S. Jos Queiroz. Morreu logo.:.
A sse episdio da vida do bispo se refere Camilo
a pag. 36 das Memorias de Fr. Joo de S. Joseph
Queiroz, e dele tratou tambm o sr. Alberto Pimen-
tel no caytulo O catre o bispo, do seu livro Pere-
grinaes n'Alea, impresso em 1870. ste livro foi
reproduzido no 1.
0
vol. da Seara em flr (1905),
onde se encontra o captulo a pag. 187 e seg.
Na pag. 464 o nome do Dr. Lucas de S:!abra da
Silva tem esta nota: c foi o advogado q. defendeu a
causa do ducado de Aveiro contra o marquez de Gou
vea q. depois morreu duque no patbulo. O advogado
a favor foi Alex.e de Gusmo.:.
A pag. 487, falando das tropas inglesas que em
1762 chegaram a Lisboa, enumera o autor diversos
regimentos e, entre les, o 85 cujo comanante se
ignora ; Camilo escreveu : c Duarte Smith.:.
A pag. 537, termina o texto do l . o vol. e nela se
encontra a ltima nota de Camilo. E' a seguinte :
c O conde de Lippe fugiu de Portugal receoso de um
186
fidalgo irmo de uma freira com q . m o conde tinha
relaoens. Veja Etat of Portugal.,.
No sei qual o livro citado, mas bem possvel
que seja The present state of Portugal, de Andrew
Halliday, que no catlogo da livraria de Camilo tem
o n.
0
578.
No de estranhar, porque a fantasia ortogrfica
de Camilo, como noutro lugar se ver, no se limi-
tava a palavras portuguesas.
*
* *
No 2.
0
vol. aparece a primeira nota no ante-rosto
e diz: cVeja a Nota final q.to aos amores senis do
conde de Oeiras.
Refere-se a nota ao que Soriano escreve a pag. 649,
a respeito duma carta amorosa de Sebastio Jos.
Nessa pag. escreveu Camillo: c Nasceu em 1699
-- foi conde de Oeiras at 1770. Deveria ter entre 60
e 70 annos p.i' que foi feito conde em 1759.
O assunto vem tratado com desenvolvimento no
Perfil, pag . 245 e seg.
A pag. 31, o autor depois de falar da lei pombalina
que acabou com a distino entre cristos velhos e
novos, cita o facto de um cristo novo, ao abrigo des-
sa lei, ter sido irmo da Misericrdia one j lambem
estava um mulato.
Camilo sublinha esta parte final e escreve mar
gem: c Pombal era neto d'uma preta..
Esta nota tem liga;o com uma outra escrita na
187
pag. 204, margem dum documento que trata da ge-
nealogia dos Carvalhos da rua Formosa.
Diz o documento, a respeito dum Sebastio de
Carvalho, 5.
0
av do Marqus: c:. era voz cons-
tante entre os contemporaneos do primeiro marquez
d'este titulo ... que este Sebastio de Carvalho nunca
fra casado, em razo de ser clerigo, accrescentando
que de uma preta sua, por nome Martha Fernandes.
tivera ...
A' margem escreveu Camilo a referida nota: c: E'
por isso q. os historiadores brazileiros (Vid. Macdo)
dizem q. o marquez de P. descendia de uma brazi-
leira. Referem-se preta.
Na mesma pgina vem um soneto alusivo ao facto,
que apareceu quando Pombal deixou de ser ministro,
em 1777.
Camilo fez esta nota: ~ P a r e c e ser de N. Tolentino
o sonto. H a umas quintilhas impressas do T olent.
contra o Pombal . cahiiJo.
A pag. 179, escreveu: Copiado textualm .te da
AiJm .a"' iJo marquez de Pomba/livro anonymo.
E' a mesma obra a que se referiu na guarda e na
pag. XIII do 1.
0
vol.
Nenhuma outra nota h no texto de Soriano, que
acaba a pag. 192. Seguem-se os documentos e a les
respeitam as restantes notas.
A pag. 202, comea o j citado documento genea-
lgico. Logo ao princpio se fala de Pavo iJe Carva-
lho. Diz Camilo: cPayo de Carvalho era de Basto e
ainda existem reliquias do seu solar.
188
A pag. 205 aparece Veronica Pinto, filha e Av-
res Pinto a Fonseca. Camilo rectifica : asneira.
Esta Veronica era filha de um cirurgio de Cernan-
celhe.
Na mesma pag., na parte em que se trata dum Se
bastio de Carvalho, casado em S. Joo da Pesquei-
ra, escreve: Tinham em Pesq.r umas terras que o
marquez vendeu fam. Paes de Sande e Castro.
A pag. 206, fala o documento de Gaspar Leito
Coelho, iJesembargaiJor do Porto. Emenda de Ca-
milo: crro. O Gaspar Coelho da genealogia era ci-
rurgio em Cernancelhe.
Cita-se tambm D. ]oanna iJe Mesquita e Lu-
cena e dela diz: Esta era neta de outro 6aspar
Leito escrivo na V.a da feira, e de Cicilia de
Mello.
Ainda nesta pag. se menciona, com o n.
0
12, Se-
bastio de Carvalho e Mello, ao qual se refere esta
nota: Este S.m n." 12 foi o q. primeiro litigou con-
tra (?) Coelho a posse do vinculo de Montalvo.
O ponto de interrogao substitui umas letras que
no consegui entender, o que raras vezes acontece,
tam clara e legvel a caligrafia de Camilo.
A pag. 207, diz-se de Jos Joaquim de Carvalho:
nasceu em 1703 ... morreu em um combate no
anno de 1772. Camilo comenta: cAos 71 morrer em
combate! Patranha !
E' de notar que a conta no est certa, talvez por
no ter sido fpifa a operao por escrito. Mais tarde
encontrar o leitor a razo do que acabo de dizer.
189
Na mesma pag., D. Maria Madalena de Mendona
foi contemplada com esta nota: c Depois da queda
do houve satyras contra esta freira de
vassa a q.m chamavam M."
A pag. 544, no final do acrdo que condenou o
genovs Joo Baptista Pele, escreveu Camilo ste
comentrio: cHeroico caracter o de Joo Baptista
Pelle! Este homem que forjou uma machina p.a ma-
lar o Pombal, e tinha poderosos cumplices como se
deprehende do depoim.'o do denunciante, soffreu to-
das as torturas imaginaveis at expirar sem delatar
os seus cumplices ! Ou elle f.Ji um conspirador de
extraordinaria probid.e, ou morreu innocente, e sem
cumplices no supposto crime.:t
A ste caso se refere tambm no Perfil, pag. 269
e seg.
Com esta terminam as notas obra de Luz So-
riano.
Algumas h que no transcrevi por no oferecerem
intersse, umas por serem emendas de erros tipogr-
ficos, outras porque so apenas chamadas tendo por
fim facilitar a procura de certos assuntos.
190
Nota a um livro de Antnio Henriques
Gomes
O livro E/ Siglo Pitagorico v la Via e D.
Oregorio Guaafla, impresso em 1644. Tem no ca
tlogo da livraria de Camilo o n.
0
1121 e a nota de
rarssimo.
O exemplar pertence actualmente ao sr. Joshua
Benoliel que gentilmente me permitiu que copiasse a
nica nota que Camilo nele escreveu.
A nota encontra-se na guarda. A se l em letra
de Camilo: cl.a edio. Rara. C. C. B r . ~ E logo a
seguir:
c Barbosa, na Bibl. Lusit., julga portuguez Ant. o
Henriques Gomes. Era de Segovia. O seu verdad.ro
nome era Henriques da Paz. foi queimdo em es
tatua em 1660. Era particular am.
0
de M.e
1
fernan
dcs V. a Real que a Inquisio queimou em Lisboa
em 1652. Morreu em 1660. C. C. B r . ~
Esta nota j foi publicada pelo sr. Alvaro Neves,
na Bibliografia Luso-]uaica -Notcia subsii-
ria a coleco e Alberto Carlos da Silva, tra-
balho inserto no Boletim Bibliogrfico da Academia
e do qual se fez uma separata, em 1913.
H a nesta nota uma circunstncia curiosa que o sr.
Alvaro Neves no frisou, ao transcrev-Ia.
Camilo escreveu primeiro que Vila Real fra quei-
191
mado em 1648. Esta data foi depois riscada a lpis
vermelho e do mesmo modo substituda pela de 1652.
Por fim, foi a emenda feita a tinta, por letra que pa
rece de Camilo, embora um pouco tremida e no com
a firmeza do costume.
Efectivamente a rectificao deve ser do seu pu-
nho e no do de algum que posteriormente possus-
se o livro.
Digo isto porque no romance O Olho e Viro,
fala da morte de Vila Real no anno e 1652. O
mesmo diz no Cavar em Ruinas e na nota que es-
creveu na pag. 44 do 1.
0
vol. do Portugal e os Es-
trangeiros, de Bernardes Branco, nota que foi pu-
blicada por Seromenho no n.
0
1 do Archivo Biblio
graphico e mais tarde reproduzida pelo sr. lvaro
Neves no seu livro Notas Margem, pag. 64 e 145.
No citado romance Camilo publicou em nota o
acrdo que condenou Vila Real e que no tem data.
Diz, porm, o romancista que le foi manao
fogueira em ezembro de 1652.
Agora o engano foi no ms. Em 1874, nas Noites
e lnsomnia (n.
0
11) diz que o homem foi garro-
tado e queimado em 10 de Outubro de 1652, e nos
Narcoticos (1 882) voltou a referir-se a Vila Real,
dando como data do suplcio esta mesma, que tam-
bm a que nos d Pinto de Matos no Manual Bi
bliographico.
Como se v, nestes lugares e porventura noutros,
aparece sempre o ano de 1652, o que mostra que a
emenda da nota foi feita por Camilo.
192
Nos Narcoticos (1, 77 e seg.) fala tambm do au-
tor de E/ Siglo Pitagorico e da sua mudana de
nome-- de Henrique iJa Paz para Antnio Henri-
ques Gomes.
Na nota, como se viu, diz que o primitivo nome
era Henriques iJa Paz.
E' provvel que, ao fazer a nota, tivesse transfor-
mado Henrique em Henriques, por ter acabado de
escrever ste patronmico ao enunciar o nome ado-
ptivo do judeu.
Diz tambm Camilo, no livro citado, que Vila Real
casou com uma filha dste Henrique da Paz, facto
que certamente desconhecia ao escrever a nota em
que, falando da amizade dos dois, nada diz de tal pa
rentesco.
Parece que tambm o ignorava em 1874, quando
nas Noites se refere ao casamento de Vila Real com
a filha iJe um portuguez opulento, israelita, es-
capu/iiJo ao santo officio,de quem no diz o nome.
Esta informao colheu-a Camilo na Histoire Se-
crete iJe Dom Antoine Rov iJe Portugal, de Mad.
de Saint'Onge, obra que cita nas Noites e nos Nar-
coticos.
S neste ltimo livro que diz que a mulher de
Vila Real era filha de Henrique da Paz, sem mais
explicaes.
Ainda nos Narcoticos diz que era tambm da fa-
mlia Paz o Forra-Gaitas, Francisco Qomes Henri-
ques, garrotado e queimado em 1654.
Dste homem fala com mais desenvolvimento no
193
Cavar em Ruinas. A diz que le protegia em Lis
boa uma francesa e duas filhas menores que Vila
Real trouxera de Paris.
Nada diz, neste livro, do casamento, referindo-se
apenas famlia extra-matrimonial que o hebreu ti
nha trazido para Lisboa, tendo deixado a mulher em
companhia do pai, Henrique da Paz, segundo os Nar-
coh"cos.
As notcias do verdadeiro nome do autor de E/
Siglo Pitagorico e da sua naturalidade, foram CO
lhidas por Camilo nos Estuaos sobre os ]uaeus
em Espanha, de Amador de los Rios .
. Como se v, na nota e nos Narcoticos, perfilhou
esta opinio, contrria de Barbosa Machado que d
o israelita como nascido em Portugal.
Para fechar, chamo a ateno do leitor para a no-
ttia seguinte, onde aparece E/ Siglo transformado
por Camilo em Cpclo.
Notas a um livro do P. Antnio dos Reis
Intitula-se o livro ]oanni V- Epigrammatum
Libri Quinque . . e veio a lume em Lisboa, em
1728.
O exemplar pertenceu aos condes de Azevedo e
de Samodes e foi arrematado no leilo feito recen
13
194
temente, pelo meu amigo Dr. Jorge de Faria que,
claro, logo mo facultou para recolher as notas que
Camilo nele escreveu.
Na parte interior da pasta da encadernao est
escrito a lpis o seguinte: Leilo tJe Camillo C.
Br.<o - Porto /868 - C. - 1:240 rs.
Mostra esta nota que o livro foi adquirido, prov-
velmente pelo Conde de Azevedo, no primeiro leilo
que o escritor fez dos seus livros.
Abre o volume com um Enthusiasmus Poeticus
ocupando 71 pginas e seguido do IntJex poetarum,
tJe quibus mentio fit in hoc Enthusiasmo.
A respeito de cada um dsses poetas mencionados
no Enthusiasmus fez o autor, ao fundo da pgina,
uma breve nota com ligeiros dados bio- bibliogrficos.
So 283 as notas, das quais Camilo, por sua vez.
anotou algumas.
A maior parte das anotaes camilianas so ape-
nas a letra T, duas so T.m: e uma T. alg.
Suponho que essas notas indicam as obras que Ca-
milo tinha, todas as mencionadas, mais do que elas
ou s algumas, em relao a cada autor.
No as traslado para aqui por oferecerem pouco
i n t ersse.
Transcrevo apenas as outras.
Na sua nota (32) refere-se o autor a Antnio Hen-
riques Gomes que o escritor de quem trahi na no-
tcia anterior a esta.
A' margem da nota escreveu Camilo: cCyclo Pi-
tagorico.:t
195
E' de notar que o livro se chama El Siglo Pita-
gorico.
A nota (37) fala de Antnio da Silva que escreveu
Nise lastimosa, y Nise laureaiJa D. lgnes oe Cas-
tro.
Camilo anotou: cOizem ser de Bermudez de Cas
tro. E m.
8
q. provaveb.
Creio que hoje j no h dvidas a tal respeito,
como nos ensinam a Senhora O. Carolina Michaelis
de Vasconcelos no seu trabalho A Sauoaoe Portu-
gueza, (l.a ed., pag. 16) e o sr. Dr. Mendes dos Re-
mdios no prlogo da sua edio da Castro de An-
tnio Ferreira, feita em Coimbra, em 1915.
A nota (83) cita o Panegyrico de S. Joo de Deus,
por Francisco Barreto Landim.
Camilo escreveu: cHa outra vida de S. Joo de
Deus p ... fr. Ant.
0
de Gouvea, bispo de Sirene- o
auctor da Viagem do Arcebispo.
A propsito de Fr. Lus de Sousa, na nota (95),
escreve o autor : scripsit carmina bene multa,
quE sparsa legun tu r, o que Camilo anotou assim:
cEstas poesias foram colleccionadas na traduco da
Vioa iJo Beato Susor..
A nota (98) consagrada a Vasco Mousinho de
Castelo Branco, autor da Vida, e Morte oe Santa
Isabel.
Camilo escreveu: cHa outra de Ferno Corr.a de
Lacerda, bistJO do Porto.
E nada mais.
196
Notas a um livro de Jos Barbosa Canais
de Figueiredo Castelo Branco
Intitula-se o livro Estuos biographicos ou no-
ticia as pessoas retratadas nos quaros hisfori-
cos pertencentes Bibliotheca Nacional de Lis-
boa, e foi impresso em 1854.
O exemplar anotado, que tem no catlogo da livra-
ria de Camilo o n.
0
1109, pertence hoje ao sr. Jos
Rodrigues Simes que teve a gentileza de mo facul-
tar para dele dar notcia.
No frontispcio tem a assinatura de Camilo e no
verso do ante-rosto a nota do preo que o livro lhe
custou - 3:600 rs.
Na pag. XI aparece a primeira nota camiliana.
Escreveu o autor: cEstes deteriorados, pesaram
cincoenta e cinco arrobas, e se pozeram parte para
se lhe darem o destino conveniente ... :. Camilo subli
nhou se lhe arem e fez a emenda: cse lhes dar:..
A segunda nota est na pag. 168, onde o autor se
refere a Manuel da Cunha, bispo de Elvas. E' a se-
guinte: cEra irmo de Fr. Rodrigo da Conceio.
frade capucho, de quem se conservam profecias so-
bre a restaurao de Portugal em D. Joo de Bra-
gana.?
Na pag. 226 escreveu Camilo a terceira nota, a
respeito de Manuel Rodrigues Leito, clrigo secular
do Oratrio de Jesus Cristo. Diz assim: cEmparcei
197
rado com o p.e Balthasar Guedes estabeleceu a roda
dos Expostos no Porto, consegui'ndo que a Camara
M."
1
tomasse sobre si as despezas do estabelecim.to
A pag. 231, margem da noticia do P. Andr Nu
nes da Silva. anotou: Tenho deste padre- Varias
poesias sacras e profanas- 1671 -
Na pag. 308 diz o autor que Nunlvares viveu
em santo temor de Deos. Camilo sublinhou estas
palavras e comentou: c Existem docum.tos no Archivo
Municipal do Porto pouquissimo abonadores do san-
elo temor em q. vivia Nuno Alvares. D'elles se tira
q. o fidalgo era, semelhana dos seus coevos, um
valento que, frente dos seus homens d'armas, le-
vava tudo bordoada, ou m.
8
exactam.te ,
A ltima nota diz respeito ao Marqus de Pombal
e est na pag. 311.
A se refere o autor s provas de que Sebastio
Jos pertencia nobreza.
Camilo anotou assim a referncia s provas: c fal-
sas. O ascendente mais graduado de- Pombal, no se-
cuJo XVI, era um phisico ou cirurgio, chamado
Mestre Joo de
198
Notas aos de Elrei Dom Joo
de Fr. Lus de Sousa
Desta obra publicada por Herculano em 1844, r.o
i o exemplar anotado por Camilo.
Publico as notas segundo a cpia que no seu exem
piar fez o sr. Jos Rodrigues Simes, biblifilo que
pe as espcies da sua livraria disposio dos es
tudiosos, como j se viu na notcia anterior.
Aqui se regista o facto, para exemplo ...
No ante-rosto do livro (n.
0
382 do catlogo do lei-
lo) escreveu Camilo: cFoi do Visconde de Almeida
Garrett - C. Castello Br. co:. e, mais abaixo : c Es-
lava por abrir na livraria do poeta. No faria mal.
Quem tiver lido Andr. e Barros nada tem q. apro
veitar d'esta leitura. Sente-se a friald. e dos 74 an-
nos de Luiz de Sz . a:.
Esta mesma opinio manifestou no Curso e Lit-
teratura, pag. 69 70, a respeito dos Annaes: c A
morosidade do estylo, e o desinteresse das narrativas
j escriptas por outros historiadores com menos apa-
rada penna, mas com mais vasta comprehenso po-
litica- Francisco de Andrade, por exemplo, na chro
nica do mesmo monarcha, e Joo de Barros nas
Decaas - abatem algum tanto o quilate da obra ...
Na Avertencia preliminar transcreve Herculano
vrios apontamentos do borrador de Fr. Lus de
Sousa. Num dsses apontamentos, a pag. XII, diz
199
le que hlou com o cronista-mr de Espanha, que,
entre as pessoas sadas de Portugal, dava grande lu
gar a D. aia de Filipe II e do
prncipe D. Carlos.
Camilo comentou : cisto demonstra de q. vasta
comprehenso da historia eram dotados taes chronis-
tas. fallar de D. Leonor Mascarenhas ! Oue facto
to transcendente !:t
Na pag. seguinte, na carta do rei espanhol a fr.
Lus, fala-se duma crnica de D. Joo III recente-
mente impressa. Nota de Camilo : c a de franc.
0
de
Moraes.:t
A pag. XV, diz o apontamento do autor : cEm 9
d'Agosto, deu-me Jeronymo Correa Baarem nesta
casa de meu hirmo hum brazo d'armas, que foy
dado a seu av ... , A' margem escreveu Camilo :
cEste Jeronimo Corr.a cuidava q. se fazia chronica
de D. Joo 3.
0
para falia r do brazo q. foi dado ao
av. E' por isto q. l chronicas. ,
A pag. 2, notou a expresso eixou e lhe ar
orelhas muvtos ias e fez uma chamada para a
pag. 306, onde marcou esta passagem : c ... o cha
mamento, que j por muytas maneiras nos S?l nas
orelhas .. :t
Na pag. 3 diz o autor: c E passro tanto adiante,
que se pode crer fizero enveja dentro no Inferno,
ao enemigo do genero humano ; porque no mesmo
dia se armou no ar huma tormenta de agoas, tro-
ves, rayos e coriscos ... :t e Camilo apreciou : c To-
lice:t.
200
Na pag. 7 enumera Fr. Lus os mestres de D.
Joo III. Camilo acrescentou: cTambem teve como
mestre de grego Joo Menelau, da Grecia. A ste
Menelau se refere tambm nos Narcoticos {1, 87 -88).
Na pag. seguinte diz o autor que, quando Joo de
Barros compunha o seu Clarimuno, o prncipe lhe
tomava os cadernos e os ia emendando. Camilo ano-
tou: cquer dizer- copiando.
Na pag. 68 fala o cronista de Vicente Qi/, filho
e Duarte Tristo, lambem armaor da sua
nao.
Camilo sublinhou estas palavras e, pelo livro fora,
escreveu diversas notas a respeito dste Vicente Gil.
como vamos ver.
A pag. 177, onde novamente aparece o nome do
homem, escreveu: cV. Gil 1526- Era filho de
Duarte Tristo.
A pag. 205, ao lado do nome dele: c V. Gil 1527.
Na pag. 306, s a data: cl540.
Na pag. 353: c A no de Vicente Gil chamava-se
Graa. Era propried.e
E logo a seguir: c 1542 -O certo que desde
este naufragio nunca mais encontramos Vicente Gil
na carreira da
Esta nota foi colocada na altura em que Fr. Lus
diz que a nau de Gil se perdeu na costa de Melinde
Ainda na mesma pag. h esta nota: c V, And. e T.
3.
0
pag. 393:t.
A pag. 433, na relao de naus que se perderam
no '=aminho da ndia, observou: menciona a
201
No Graa que se perdeu na costa de Melinde em
1542.
finalmente, na guarda final do livro, escreveu
Vicente Gil - era dono da no Graa . Armador
o mesmo que dono do navio.:. E a seguii': cNaos
em que foi Vicente Gil 1525, 1540, 1542:. . Nesta
nota, e em relao ao ano de 1540, escreveu: che-
gou da lndia:., certamente em vez de cchegou ln-
dia:..
Na pag. 303 termina a primeira parte do livro e
na seguinte anotou Camilo: cHa um grande vacuo
entre a p.te 1. a e a 2. a que abrange 7 annos do rei-
nado de D. Joo 3.
0
:.
A pag. 326, falando do bispo de Viseu, D. Mi-
guel da Silva, diz o autor que le viveu os seus lti
mos anos tam estimado na Itlia que o cone Bal-
thesar Castilhone . .. s a Dom Miguel achou
merecedor e lhe irigir e encommenar a sua
celebre e elegantissima escritura.
Camilo emendou para Castiglione o apelido do
conde e escreveu esta nota: c Li esta dedicatoria em
q. nada diz dos meritos do bispowcardeal. E encom
mendar de mais. Nada lhe pede como o vulgar
dos escriptores do seculo XVI aos Mecenas - C .
C. Br.o:.
A pag . 352, no princpio do primeiro captulo do
Livro II, escreveu: c E' de suppor que fr. Luiz de
Sz. a seja mais verdico q. feo de Moraes porque,
vista da chronica j impressa, escreveu a sua corri
gindo os erros da outra face de docum . ~ ~ : .
202
Na pag. 364, a frase nos fazia as espa/aas se-
guras, foi assim anotada: c Guardar as costas.
A pag. 371 encontra-se o ndice das memrias e
documentos citados por Fr. Lus de Sousa.
Entre les mencionam-se seis livros do conde da
Castanheira. A' margem escreveu Camilo: cf. Pa-
lha, certamente referncia a Fernando Palha.
Na mesma pag., ao lado do nome de Agostinho
Manuel: cfoi degolado no tempo de D. Joo 2.
0
Na pag. 397, fala-se do cristo novo Duarte da
Paz que foi apunhalado em Roma. A passagem foi
marcada por Camilo que ao caso se refere nos Nar-
coticos (1, 63 e seg.)
Nessa mesma pag. se alude ao hbito que trazia
aquele Duarte. Camilo sublinhou hbito e explicou:
de Christo.
Na pag. 443 aparece a ltima nota, junto a uma
referncia ao Comendador-mar da Ordem de Cristo,
que em Outubro de 1554 estava em Roma. Camilo
escreveu-lhe o nome: cD. Affonso de Lencastre.
Notas a ((O crime do Padre Amaro .. ,
de Ea de Queirs
Vai esta notcia fora do lugar que de direito
competia ao autor do livro. Mas no fui eu o cul-
pado.
203
Ia Ja bastante adiantada a impressn dste livro
quando, casualmente, o meu prezado colega e amigo
Dr. Vaz Ferreira me disse que possua as duas pri
meiras edies do Crime, anotadas por Camilo, e que
estavam minha disposio. No mesmo dia fui a
casa do meu amigo e copiei as notas, felizmente
ainda a tempo de as incluir no grupo dos escritores
portugueses que neste meu trabalho precedem os es-
trangeiros.
O Dr. Vaz Ferreira tem, como disse, as duas pri-
meiras edies do romance, a de 1876, a que o au
tor chamou efinitiva, em relao verso publica-
da no ano anterior na Revista Occidental. e a de
1880,.nova eio, inteiramente refunia e re-
composta.
Ambos os exemplares pertenceram a Camilo, tendo
no catlogo do leilo, respectivamente, os n.''s 1446
e ~ 447.
No primeiro h uma nica nota, a pag. 63, na
frase: c Houveram algumas risadas.
Camilo sublinhou o verbo e ps margem um
ponto de admirao. E' de notar que algumas vezes
Camilo empregou aquele plural em condies idnti
c as.
Neste mesmo ano de 76, em carta a Ouguela, pu-
blicada em parte pelo sr. Dr. Tefilo Braga, dizia
Camilo: cJ lste O crime do Padre Amaro, de
Ea de Queiroz ? Li alguns captulos na Revista Oc-
ciental, e achei excellente. Vi annunciado agora o
romance em livro. Esse rapaz vem tomar a van
204
guarda a todos os romancistas. E' um admiravel ob-
servador, e com quanto faa pouco caso das immu
nidades da lngua, tem arte de fazer admiraveis de-
feitos.
Noutra carta, sem data, mas com certeza pouco
posterior quela, escrevia: c Estou lendo o romance,
que bastante diverso do que eu lra na Revista
Occidental. Tem admiravel paciencia de observao
plastica ; mas dentro dos tecidos musculares, figura-
se-me que v mal. Quanto linguagem, s impro-
priedades, reflexo de flaubert, no as estranho nem
as abomino ; o que me escandalisa so os velhos er-
ros de grammatica e os barbarismos, que no usam
os satanicos francezes na sua lingua. Este livro
seria quasi perfeito se o Ea conhecesse a ln-
gua um p o u c o ~ estafada e gordurosa ; de Luiz de
Sousa.
E' curioso que, estando a ler o livro e encontrando
nele aqueles erros e barbarismos, apenas anotasse o
houveram.
No exemplar da 2.a ed. grande o nmero de
notas.
A primeira aparece logo no ante-rosto: c3.a lei
tu r a em 1882. Este romance, na l.a edio, leu se
com prazer; na 2. a com algum fastio. O autor para
comprazer com a socied. e burgueza creou o episo-
dio do radre bom q. no tem cor alguma, e p.'" se
affirmar zolaista fez a filha do sineiro que infado-
n h a e inverosmil. C . Cast.
0
Br.
Na pag. 57, traduziu os dois versos inglezes:
205
Parece a aleia aormecia e morta
Quano Lubin se auzenta>.
A pag. 66, diz o cnego Dias que, em 1846, e r a
cura de Santo Ildefonso, no Prto. Camilo anotou :
cS. o Ildefonso abbadia. O abbade em 46 era um
Guim. ea irmo do conde do Bulho.
Na pag. 134, fala-se da tentao de Santo Ant-
nio no deserto. Emendou : cAnto.
Nas pag. 209210, marginou a carta de Amaro e
comentou, no princpio : c r ola coisa , e mais adiante,
ao perodo: c Se tu soubesses como eu te quero, que-
rida Ameliasinha, que at s vezes me parece que te
podia comer aos bocadinhos !, fez esta apreciao:
c Parva inverosimilhana.
A pag. 220, onde Ea fala do secretrio geral de
Leiria, explicou: cAilusoens ao D. Antonio da Costa
de Sz. de Macedo.
A pag. 229 aparece' um prevra que provocou um
ponto de admirao e esta nota: cPrever conjuga-se
como ver. Previra.
Devo dizer que na 4.
8
ed. do Crime (e talvez na
3. , que no tenho) o verbo est devidamente con
jugado.
Na pag. 243, no dilogo de Joo Eduardo com
Amlia, marginou a parte final, desde a frase Have-
mos iJe nos iJar muito bem. . . at a entrada da
S . J oaneira, e escreveu : c r olice .
Na pag. 248, Amaro pensa que poia ser bispo,
que podia ser Papa. Camilo sublinhou esta ltima
206
parte e notou: clgnorancia. Papas so podem ser os
padres italianos.
A pag. 260, ao lad" do nome do baro de Via-
Clara, explicou: referencia ao baro de Via Monte.
O mesmo fez na pag. 346 : calluso ao baro de Via
Monfe:t.
Na pag. 370, diz o cnego : c se me atirarem
um bofeto face direita. . . Em fim, so ordens de
Nosso Senhor Jesus Christo, offereo a face esquer-
da. So ordens de cima. Mas depois da ter cum-
prido esse dever de sacerdote, oh, senhoras, desanco
o patife !:t
Camilo escreveu ao lado: cAnecdota acontecida
com um egresso em 1837 em Lisboa .
A ltima nota foi escrita no fim do livro, pag. 674.
E' esta: cAdmiravel. Obra prima q. hade resistir
.como um bronze a todas as evoluoens destruidoras
das escolas e da moda. C. C. Br.
0
:t
Assim terminam as interessantes notas e devemos
reconhecer que fecham com chave de oiro, bem mos
trando o esprito de justia de Camilo.
Para terminar, permito-me chamar a ateno dos
jeitores que queiram conhecer as relaes entre os
dois romancistas, para o captulo respectivo do livro
Ea e Queiroz, do sr. Dr. Antnio Cabral, onde,
alm de valiosas indicaes bibliogrficas e doutras,
se encontram as notas que Camilo escreveu no seu
exemplar da Reliquia, j anteriormente publicadas,
em parte, no Camil/o de Per fi/, do mesmo autor
,que tam escrupuloso nos seus trabalhos e que
207
muito tem contribudo para o estudo da figura de
Camilo.
Notas a dois livros de Pedro Ivo
Com o n.
0
1452 figuram no catlogo do leilo da
livraria de Camilo, formando um lote, trs livros de
Pedro Ivo: Contos, O Sello a Roda e Seres
d'lnverno.
Pertencem hoje ao meu amigo Dr. Vaz Ferreira,
a quem me referi na notcia anterior.
56 dois, Contos e Seres, esto anotados, e em
todos h a dedicatria do autor a Camilo.
Os Contos foram publicados em 1874, ano em que
saam as Noites e lnsomnia. Certamente por sse
motivo a dedicatria diz: Ao Ex. mo Snr. Camillo Cas-
tello Branco- (Contra insomnias) - Recipe: (aqui
a palavra Contos, impressa no ante-rosto) -
OH. o autor .
Camilo leu a obra e parece que no lhe produziu
efeito a teraputica porque na pag. 266, ltima do li-
vro, escreveu esta nota : c E' um bello e honrado li
vro este. Seide 21 de junho de 1874. Camillo Cas-
tello Br.
Nos Seres, publicados em 1880, escreveu por
baixo do pseudnimo o nome do autor -Carlos Lo
p es.
No verso do ante rosto ps a nica nota: E' um
..o om livro; mas veio depois do Primo Basilio.
208
Notas a um folheto de Filinto Elsio
Compe-se o folheto de duas partes. A primeira
a traduo em versos portugueses do poemeto
Vert-Vert, de Gresset; a segunda uma Miscella-
nea, constituda por epigramas, odes e outras com-
posies de Francisco Manuel do Nascimento.
O ttulo do folheto, que foi impresso em Paris, em
1816, o do poemeto traduzido.
O exemplar anotado figura no catlogo da livra::ia
de Camilo com o n.
0
654, e pertence actualmente ao
sr. coronel Azevedo e Silva que teve a gentileza de
mo confiar para fazer esta notcia.
No verso do ante-rosto tem a rubrica de Camilo
a nota de Raro e ainda esta: cHarrisson - Pen-
silvania - Estatua de F. E.
Na pag. 6, nos versos :
...... Espelhos tam fieis comptem
A compor vos, que a pr rebiques, renas.
sublinhou o que e escreveu ao lado: ccomo.
Na pag. 8, diz Filinto:
No como esses altivos Papagaios,
Que loureiros formou muito ar munano ;
Camilo sublinhou loureiros e anotou: cLoureiras,
em bom portuguez, putas.
Em nota, Filinto adverte que D. Francisco Manuel
209
de Melo, na Carta e Guia e Casaos, chama
loureiras ao que os franceses chamam coquettes.
Camilo marcou a nota com um N.
Vem a propsito dizer que o Dicionrio do sr.
Dr. Cndido de figueiredo abona o termo com trs
autoridades: D. Francisco Manuel, Filinto e Camilo,
citando, dste, o RegiciiJa, pag. 47 da 1." ed.
A p a g ~ 13, os versos :
Em quanto em cio triste me amarguro,
Triste, incgnita, e sem nenhum conslo,
Neste forao exlio, ao esamparo.
foram marcados com esta nota: c Imitado p.r A. Gar-
ret no Cam.
Suponho que a nota se ref re a stes versos do
canto V do Cames:
Desamparou-me ! -Triste e sem confrto
fiquei so, n'este valle ()e amargura .
. Na pag. 14, escreveu Filinto: Lanado o daiJo.
Camilo anotou: }acta est alea.
A pag. 17, diz o tradutor pia benta, explicando
em nota que isso quere dizer pia iJe gua benta
(bnitier). Camilo comentou: c M verso.
Na pag. 18, cortou o ltimo i em fizesteis.
Na seguinte sublinhou o verso:
Fez puto o corao, pulo o talento
e apreciou: cMo gosto:. .
14
210
Na pag. 24, em Antichristo, substituu por e o
primeiro i.
Na pag. seguinte, no verso :
Sr que allvogue por ti l no lleparas
sublinhou no aeparas e notou: cerro m.
1
"
Mais adiante (pag. 40), diz Filinto em nota : nunca
eparo com esta Fabula . . ; Camilo tornou a su-
blinhar e escreveu: cerro repetido a pag. 25.
Na pag. 37, traou a chambo e escre-
veu margem: cAchamboado, mazorro, lerdo-
Na mesma pag. marcou culatraes caraas e ps
esta nota: ceara m. to grande, enorme, culatral.
Na guarda final do livro fez uma chamada para
esta pag. 37, com as palavras: ccaraa collatrab,
o adjectivo tal como a fica transcrto.
Na pag. 38 marcou stes versos que escreveu,
tambem na guarda :
O que }ove gaiteiro outrga ao Mno
Trombuo o nga ao Burto.
A pag. 47, marginou os versos:
Para quano os fe;jes reservo, e as fvas ?
Seno para os Aeos aos tes Casmurros ?
Pvthagoras ll'avsso, hei-e atulhar-me
D'etas, trez ias antes:
E vto a Apotlo, em aqui sahino,
(Dia e ouro !) arrumar-lhes tal eslrono
Tal incenso bufar-lhes, que se lembrem
Da minha esiJellia.
211
Ao lado fez ste comentrio : c fino gosto:t.
N pag. 50, a propsito da expresso filintina
surrlso vermelho, notou: c Vejam a antiguidade
dos sorrisos vermelhos. G. Junq. ro tratou dos sor-
risos vermelhos como de coisa do novo Ideal, e
justifica a phraze como innovao necessaria.:t
E' na carta-prefcio das Caricaturas em Prosa,
de Lus de Andrade (Prto, 1876), que Junqueiro,
falando da necessidade de adjectivar com preciso,
.apresenta varios exemplos e, entre; les, o do riso
vermelho (no sorriso, como disse Camilo).
Na pag. 52, num epicdio morte de Bocage,
pe Filinto como epgrafe stes versos do poeta:
Sauae perennal geme, e avalia
Thesouro, e que cofre a sepultura.
Camilo anotou: c No prado do Repouso (Porto)
l se este epifaphio na sepultura do suicida Jorge
Arthur de Oliv.a Pimenteb.
A ste caso do romntico suicdio de Jorge Artur,
se refere Camilo em diversos livros. Lembro-me
agora dos seguintes: As Tres lrmans (pag. 12-13).
Cousas Leves e Pesaas (pag. 228-229), A Mu-
lher Fatal (pag. 42-43) e O bolo s Creanas
(pag. 168).
Na rag. 53 sublinhou esta passagem que copiou
no fim do livro:
. . . . . . . . E a Morte mais meonha
Pensaa, que sentia.
212
Alm das notas que ficam transcritas aparecem no
folheto muitas expresses simplesmente sublinhadas
e outras tambm repetidas na guarda da encaderna
o, com indicao das paginas em que se
tram.
Estas so as seguintes: avoengos carcomidos
- (pag. 51), gafos gaiatos (pag. 23), aranzel garo.;J
(pag. 20), chascos mamjos (pag. 23), e afia.
condio (pag. 24), martafes, relamborios
46), e ainda outras.
Das apenas sublinhadas citarei estas : recachc e
esplante (pag. 16), balbora (pag. 16 e 22).
chula e nervuos (pag. 17), e escacha e espe-
rana fementia (pag. 19), tunante e seroiJeos
annos (pag. 20), azoaa, escocado, moquenco
(pag. 22), pz curta (pag. 23), se embetesga
(pag. 25), engrilla, baldes, casquilharias (pag.
37), iJesgarre (pag. 38), embatucou, esquarinhar
(pag. 41), espinicar (pag. 44), arranhado:-es e
estourazes (pag. 46).
Nota s Historias
de Sylvio Dinarte
Pertence tambm o exemplar anotado ao Museu
de Joo de Deus. Svlvio Dinarte pseudnimo do
escritor brasileiro A. d'Escragnolle Taunay. O livro
213
foi publicado no Rio de Janeiro, em 1874. No fim
=o volume escreveu Camilo esta nota: c E' permittido
3escrer que o Brazil venha a possuir uma litteratura
e uma linguagem joeirada de ridculos neologismos,
arranjados acintem.'e pelos escriptores para se darem
uns ares autonomcos. Este auctor m.to considerado
entre os sabios brazileiros, e legisla sobre a arte de
es:crever. Escreveu contra a eschola rea
Ji-5ta. Zola levou.
Notas Histoire des Douze
traduite du latin
de Sutone, par J. F. de Laharpe
O exemplar da edio da Bibliotheque Nationale,
e:n 2 volumes, datada de 1865. Pertence ao meu
co!ega Dr. Emdio Mendes que o adquiriu no leilo
do falecido livreiro Caldas Cordeiro e que mais uma
I.IEZ me provou a sua boa e velha amizade pondo o
'livro minha disposio para publicar as notas.
frontispcio tem a rubrica C. C. B., por
de Camilo. Na guarda da encadernao aparece a
primeira nota: c Os imperadores romanos foram 65
- (palavras riscadas) - A republica terminou no
a:tno 45 antes de Ch. e Julio Cesar pereceu no anne
. Mas J. C. foi chamado imperador.
No verso do frontispcio encontra-se a ste>gunda
214
nota : Suetonio um bom historiador, se o expur-
garm das crendices em agouros e em aruspices.
0."' a crer em deuses no era mais q. os
seus. confrades da historia romana. Um sera
disfarce.
. Na pag. 17 sublinhou o nome Csar e anotou:
Elefante em lngua punica.:t
Na . pag. 51 marcou com um trao ste trecho:
c Jamais aucun prsage ne changea ses desseins ou
ne les retarda ; quoique la victime du sacrifice eut
happ au couteau, il ne Jaissa pas de marcher coo-
Ire Scipion et Juba. II tombe en sortant du vasseau,
et fournant cef augure en sa faveur, il s'crie: ]e te
tiens, Afrique.
A' margem anotou: Esprito superior. Vej. a
sua arenga no senado a favor dos conjurados de Ca-
tilina em Sallustio.:t
Na pag. 54, junto ao texto. cAcilius, dans un
combat naval, saisit un vaisseau ennemi de la main
dr9ite; on la lui coupe; ii s'lance dans le vaisseau,
combattant de la gauche avec son bouclier. . . es-
creveu Camilo: cDuarte de Alm.da na batalha de
Toro.
Na pag. seguinte sublinhou o nome de Hyempsal
e ao lado notou: cirmo de Jugurtha rei da
dia.:t
Na pag. 57 marginou esta passagem: cAppel en
tmoignage contre Publius Clodius, amant de sa
femme et accus de sacrilege, il rpondit qu'il !le
savait rien, quoique sa sreur Julie et Aurlie sa mre
215
eussent dj dpos la vrit; et comme on lui de-
111andait pourquoi donc ii avait rpudi sa femme,
cParce qu'il faut, rpondit-il, que ce qui m'appar-
tient soit exempt de soupon comme de crime. Ao
lado escreveu: c um corno delicado.
Na pag. 59, o trecho : c 11 en vint c e point d' au-
dace de dire un augure, qui lui annonait comme
un mauvais prsage, qu'on n'avait point trouv le
creur de la victime, cqu'il rendrait les prsages heu-
reux quand ii lui plairait, et que ce n'tait point un
prodige si une bte n'avait point de creur .. "foi as-
sim comentado: cEsp. sup.
Na pag. 92, onde o historiador se refere ao chro
dos cavalos, ps Camilo esta nota: Na lliada cho-
ram os cavallos ; e tamb.
10
choraram os cavallos de
Cezar .
No 1.
0
volume no h mais notas. Apenas em di-
versas pginas esto marginadas a trao algumas
passagens, mas sem comentrios. No 2.
0
volume h'
s uma nota. E' na pag. 63, junto ao nome de Nero
e diz : c: Valente - na lingua dos sabinos.
Notas a dois livros de Philarete Chasles
Os exemplares que foram de Camilo e que le
anotou copiosamente, fazem actualmente parte d ~
minha coleco.
216
O primeiro intitula-se tudes sur W. Shaks-
peare- Marie Stuart et I'Artin.
A edio de Paris e, segundo o sistema francs,
no tem data, mas o prefcio tem a de 20 de Ou
tubro de 1851.
E' no fim dste prefacio (pag. I V) que aparece a
primeira nota que a seguinte : c Perdeu grande
parte do merecim.
10
p.r causa do seu cosmopolitismo.
Quiz abranger synchronicam.'" todas as litteraturas.
sem reserva das q. ignorava. , Com referencia pe
ninsula disse grandes inepcias, q. os seus admirado
res deixaram passar nas tralhas da propria ignoran
da a resp. to de Espanha e Portugal. Ph. Chasles
morreu em 1874 em Veneza com mais de 70 annos
de ed.e::t
Na pag. 1 comea a primeira parte do livro, a
que trata de Maria Stuart e a escreveu Camilo :
cO q. nesta biographia offende o caracter de Mery
Stuart est corrigido por um biographo posterior e
melhorm."' informado Mr. Wysener -professor de
Historia no collegio de S. Luiz.:::t
E' de notar que o nome Merv foi primeiro escrito
- Marie - e depois emendado para aquela grafia.
Na pag. 3, a passagem : c. . . entoure d'hommes
sauvages, qui poignardent son ministre dans ses bras::t
tem sublinhadas as palavras son ministre e a se-
guinte nota: cera simplesm.'e secretario iJe gabi-
nete.::t
Na mesma pgina, margem da frase: celle tend
au bourreau sa tte royale et catholique, qui n'a pas
217
pJi devant sa rivale, l-se a nota: clnexactido,
referida s palavras pas pli que esto sublinhadas.
Na pag. 5 Camilo marcou o palavra manants e
anotou: palavra transferida p." portuguez em moi-
nante.
Na pag. 8, marginando os perodos em que o au-
tor fala de Catarina de Mdicis, encontra-se a nota:
cOue colleco de infames reis nesta epoca : C. de
Med., Elisabeth, Filippe 2., Joo 3.
0
.
Na seguinte est sublinhada a palavra inglesa hea-
ds rong; margem : obstinao.
Na pag. 12, no perodo: cPour rsister aux deux
colosses mus par ces deux femmes, (Cathrine de
M.dicis et lisabeth d'Angleterre) elle n'a que des
amants volages . . , Camilo sublinhou amaRts vo-
lages e escreveu: Calumnia. Para atacar to cruel-
m.ft' Isabel, Maria devia estar izenta e superior re-
taliao.
Na pag. 22, onde o autor diz: cElle commence
par prendre, de l'aveu de son onde, les armoiries
d'iisabeth. sublinhou les armoiries d'iisabeth
e anotou: c Fundada na nullid.e do casam.t" de Hen-
rique 8." com Anne Boleyn de q. Isabel era f.a
A pag. 24, o autor divaga sbr poesia e poetas.
Camilo escreve: c Mas onde est um poeta? Ser
Goethe? Ser Hugo? Os q. no so isto, so os
ebri.os, os desgraados como Espronceda e Musset.
E' de notar que no trecho das Vaiaes, atrs
transcrito, na parte dste trabalho relativa a Antero,
tambm aparecem juntos Espronceda e Musset.
218
Na pag. 27, onde se trata da viagem de Maria
Stuart para a Esccia, est esta nota: c Neste ira-
jecto p." a Escossia pode evitar a esquadra de Isabel
q. a mandava prender. Vej : Wysener.
Na seguinte, onde Pb. C hastes transcreve uma
de Knox, Camilo anotou : c Este dialo2o
parece inveno do author. Mo gosto. O que se l
em Knox faz grande differena.:t
A pag. 29, as palavras sue h stomach esto assim
traduzidas: tal bjo.
Na pag. 33, o autor traduz poner long lad por
/e long garon. Camilo notou: cmal vertido.:.
Na mesma pgina, escreve Philarete: cAvant la
clbration, le beau Darnley est attaqu de la petite-
vrole ; Marie Stuart, qui est dj sa fiance ..
Camilo sublinha as ltimas palavras e emenda : c Ja
estava cazada clandeslinam."' Vej.
A pag. 39, escreve o autor: cArrive em cosse,
elle blesse le gnie puritain d'un peuple moiti bar-
bare et moiti fodal. Environne de nobles amei
tieux et sans scrupule, elle choisit pour premier appui
un enfant faible, incertain, corrompu et mprisale.
Fatigue de lui, elle va s'attacher bientt, ave<: la
mme ardeur, un sauvage couvert de sang, hal de
tous, et le reprsentant le plus froce de cette ter
rible aristocratie.:. Camilo traou ste ltimo perodo
e : c controvertido.:.
Na pag. seguinte assinalou ste trecho c. . . le
meiHeur roman n'est qu'un lambeau d'tude psycho-
logique arrach l'histoire humaine.
219,
---------
A pag. 43, emendou, na data 6 mars 1565, .o
ano para 1656, escrevendo ao lado: <Data erracb.
Diz a p. 39 q. ella cazara em 29 de Julho de 1565.>
. Na pag. 44 fez emenda idntica.
A pag . 51, anotando a narrao de certas
tes entre a Sfuart e Darnley, seu marido, e da .su.;
reconciliao, escreveu : < Wysener diz q. eltes
harmonisaram sinceram.'
0
neste ensejo1!,
Na pag. 54, pregunta o autor se as cartas e
Maria a Bothwell, impressas por Buchanan, sero
verdadeiras. Camilo responde: <Cartas forjadas !':
Buchanan,J!
Na mesma pgina traduziu a palavra lunt: cmr-
ro ou rastilho.
Na seguinte, ao descrever o assassnio de Dar:r.t-
escreve Philarete Chasles: c A' ses habitudes Ide
dbauche avait succd une dvotion timide; ii d-
ptait en se couchant I e psau
me qu'il chantait d'une voix do lente. Son page ;Ta; -
lor s'endort aupres de lui sur un coussin; un bruit de
cls veille le malheureux Henri qui jette sa
sur ses paules nues et descend l'escalier.J!
Camilo marcou stes perodos e escreveu : cQ:
presenciou este facto ?1!
A pag. 57, traduziu por devassai o primeiro ver.
bo da frase c Reveal and revenge !]I)
O autor, descrevendo a priso de Maria Stu.an-t,
escreve, a pag. 68: eLe matin elle voit .i
travers les ,barreaux de sa fentre, la bannire ac-
cu'satrice suspendue en face de ses croises; raffine
220
ment d'habile cruaut, que le gnie humain sait re-
produire toutes les poques, chez tous Jes peuples,
envers toutes les victimes, innocentes ou coupables.
Ce besoin infernal de faire saigner la victime, cette
jouissance cherche dans l'agonie d'une crature mi-
srable .. Nota de Camilo: c. As scenas de Belem
na morte dos
A pag. 71, emenda 1558 para 1568 e escreve:
c.Ouasi todas as datas so falsas, e significativas de
q. o auctor estava pouco repassado e seguro da obra
q.
Na pag. seguinte Ph. Chasles escreve clarifica-
teur e l'histoire, traduzindo clarifper of historv.
Camilo emenda:
A pag. 75 diz o autor: La Saint Barthlemy eut
Iieu. Tout te Midi tressaillit de joie. Le Vatican se
para de fleurs et s'illumina de cierges. Nota de Ca
milo : c.Em Lx.a houve festas religiosas em que orou
o celebre Fr. Luiz de
A pag. 80, diz o autor: c.En 1574, treize annes
avant la morf de Marie ... ,. e Camilo escreve: c foi
decapitada em 1587. Vej. Hume e Lingard. Como
se v, a nota apenas confirma o texto, no se com-
preendendo a sua utilidade e, menos ainda, a citao
dos dois autores.
E' esta a ltima nota da primeira parle do livro.
Antes de passar segunda parte, quero notar um
fudo curioso.
O bigrafo a que C:<Jmilo se refere na nota da pag.
1, deve ser L. Wiesener, autor do liro Marie Stuart
221
et /e Com te e Bothwe/1, que aparece no catlogo
do leilo da sua livraria com o n o 417 Deve ser
aquela a grafia correcta do nome do escritor. Toda-
via, Camilo nas notas em que o cita, escreveu-lho
de quatro formas diversas : Wpsener, Wipsener,
Wpsinner e Wipsiner.
Na transcrio que fiz empreguei em todas as
notas a forma que Camilo usou na primeira citao,
porque me pareceu prefervel fazer esta observao
em separado para bem frisar a fantasia do escritor
que ao apelido do bigrafo citado deu quatro grafias
diferentes e nem uma s vez a verdadeira. Como se
v, em materia de ortografia, as lnguas estrangeiras
mereciam-lhe tanta considerao como a nacional.
Passemos agora segunda parte do livro.
A pag. 83, principia essa parte, consagrada a Sha-
kspeare. Logo na primeira pgina de texto anotou
um trecho em que o auctor, referindo-se a Payne
Collyer e sua Historv of the English Stage, diz :
cCes trois volumes reprsentent mes yeux l'anti-
quaire complet: um grand homme sec, lunettes sur
le nez, l'air pinc, flairant un manuscrit, se dlec-
tant d'un vieux parchemin, front rid, tempes dgar-
. nies, fluet et impalpable; une date plutt qu'un horn-
me, un chiffre plutt qu'un vivant; le docteur Dryas
dust de Walter Scott. II y en a, comme cela, un par
ville d'Europe tant soit peu considrable.:.
E' esta a nota: co abbade de Castro, em Portu-
gal.:.
222
A pag. 90, diz diz Philarete: eLe mme Shaks
ptare trouve dans la Diane (}e Montmavor ses
Deux Genthilshommes (}e Vrone. Camilo es-
creve margem: c Jorge de M.- portuguez., de
pois de sublinhar Montmavor.
Vem aqui a propsito dizr que ao mesmo facto
se refere o sr. Dr. Ricardo Jorge, a pag. 234 do seu
belo trabalho sbre Rodrigues Lbo.
A pag. 92, Camilo marcou com um trao as pa-
lauras : cDans les dcadences littraires on prend
cur inventeurs ceux qui, pousss par une
ardeur de sang ef une certaine fougue de paroles,
depfacent Ies mots et Ies images, et croient avoir Eait
vovager les idesll'.
O autor, a pag. 105, diz que, para o gsto do p
blico da poca, Shakspeare, entre os dramaturgos
contemporneos, n'oblenait que le sixieme ou /e
septieme rang. Camilo diz: cFalso.ll'
Na mesma pgina Philarete tradu?. lastlv por en
dernier /ieu. Camilo rectifica: cp.r fim no q.r dizer
em ultimo logar.ll'
A pag. 109, marcou com um B esta passagem:
c(ourage! soyez homme, le malheur vaut son prix:
ii force la vertu se montrer quand elle se cache ;
ii ranime l'nergie en secouant l'me, comme la
main agite un parfum pour en accroitre l'odeur.
A pag. 111, marcou de igual modo estas frases :
c Enfants, enfanfs! que de larmes quand vous nais
sez ! et com me vous ouvrez le tombeau des meres ! li'
Ambas estas falas so da tragdia de Webster,
223
Victoria Corombona, de que Philarete publica um
el<lcerfo.
A pag. 143, marcou tambm Camilo esta frase:
En amour, les plus heureux sont les plus malheu-
reux.
Ainda a pag. 148 se encontra marcada margell1
outra passagem, esta de Masaccio de Salerne. E' a
seguinte: cOue Dieu m'crase si chacun des faits
que je vais vous dire ne m'a pas t rapport comme
vritable ; je ne raconte pas des fictions vaines mais
des histoires relles.,
A pag. 152, o autor, ocupando-se do Romeu e
]ulieta, fala do drama de Lope de Vega sbre o
mesmo assunto. Camilo nota : cO mais consolador
desenlace do conto este de Lope de Vega.
Na pgina seguinte traduz poule moui!le por
covare.
A pag. 160, termina o captulo sbre Romeu e
Julieta. Nessa pgina escreveu Camilo duas notas
que no sei a quem se referem.
i\ primeira a seguinte : c DM. Repassado dos
amores romancicos (sic) de Shask. Tinha visto re-
P esentar Julieta e R., etc. Conhecia talvez pessoal-
m.r" o auctor, mais velho do q. elle quatro annos.
A segunda, que parece ser um complemento da
primeira, diz: c Tinha o conhecido no seu prim.ro pe
riodo dramatico, todo amor e galanteria ainda no
gravido (repleto) da sentenciosa philosophia que lhe
incutiram, no segundo periodo da sua obra
as verses de Montaigne e de Plutarco.
224
A palavra repleto est escrita sbre o trmo gra
vio que parece ter sido riscado.
A pag. 162, fez esta operao aritmtica:
1568
1597
---
0029
Parece que Caroilo no tinha facilidade em fazer
clculos mentais, pois em muitos dos seus livros
aparecem escritas operaes extremamente simples,
como a que aqui fica reproduzida. Citarei alguns c a
SOS.
Na coleco de notas que o sr. lvaro Neves re
niu, figuram duas. Uma uma subtraco tam sim-
ples como a que transcrevi; a outra uma multipli
cao de 900:000 por 400. No artigo Notas Cami-
lianas que Albino Forjaz de Sampaio escreveu na
Luta e reproduziu no ]ornai e um rebeltJe, en-
contra-se outu, tambm uma subtraco da maior
singeleza. .
Em outro livro anotado por Camilo, encontrei o
seguinte: cQ_do sahiu Cames p.a Africa - 1550 ou
51. P.a a lndia ? e, a seguir, esta operao :
1553
1524
0029
Como se v, igualmente simples a operao des-
225
tinada a achar a idade do poeta ao partir para o
Oriente.
Na guarda do opsculo de Fr. Joaquim de Santa
Clara, a que j me referi, aparece tambm uma su-
btraco para achar a diferena entre 1740 e 1818.
Na obra de Luz Soriano, de que j me ocupei,
encontra-se tambm (1.
0
vol., pag. 460) uma opera-
o idntica para obter a diferena entre 1703 e
1760.
Na obra de Costa e Silva que Camilo anotou e
que est na Biblioteca da Universidade, l encontrou
o Dr. Teixeira de Carvalho algumas operaes bas-
tante fceis por serem de numeros redondos.
No livro de Philarte Chasles, de que adiante me
ocuparei, aparecem tambm duas do mesmo g-
nero.
O facto , pelo menos, curioso. Aqui fica regis-
tado para que os competentes tirem concluses, se
fr caso disso.
Continuemos com as notas.
Na pag. 169, ontle o autor fala do Amour pero
ses peines, Camilo escreveu margem: clove's
labour's losb
Na pgina seguinte sublinhou l'aimable
phe de Chrone e cPiut., e o mesmo
fez ao nome de Amyot, escrevendo ao lado: cTrad.
de Plut.
A pag. 171, o autor diz de Montaigne: c II a t
traduit en anglais, en allemand, en italien, imit dans
presque toutes ses penses et ses phrases par I'Es-
15
226
pagnol Feyjoo. Comentrio de Camilo : c E em
Port. Martim Aff.
0
de Mird.a cTempo d'agora.
Na mesma pgina emendou uma data, escreven-
do : cerro de imp.
Na pag. 173, na frase en allgeant la mmoire
aes acteurs. traduziu o verbo : cdando frias .
O mesmo na pgina seguinte, em que fort court
en fait d'argent est traduzido: c e falidos ao din!
A pag. 204, Ph. Chasles, referindo-se ao drama
Midsummer's nighfs aream, escreve : cOuant
Son Altesse Thse, duc d'Athenes, je passe con
damnation sur cet immense anachronisme. L'ami
d'Hercule envoyant au couvent une jeune filie rebelle
son pere est peu historique. Dans ma classe de
cinquime, cette remarque ne m'eut pas chapp;
je l'eusse note mon dictionnaire de Chompr la
mam.
Camilo defende o dramaturgo, escrevendo: cVej.
Cast. Shakspeare intenceonalm.
11
' fez os anachronis-
mos proprios do Sonho. Esta dezordem justifica o
titulo. A citao de Castilho deve referir-se nota
II da sua traduo (Sonho auma noite ae S. Joo,
Prto, 1874), em que o poeta justifica os anacronis
mos do drama.
A pag. 208, est marcada com um trao esta pas
sagem respeitante ainda ao mesmo drama: eLe
Songe n'est qu'un magnifique poeme de rveur at-
trist par ses expriences en amour.
Na pag. 222, o autor refere-se a uma comdia de
Calderon pela forma seguinte: clances de amor e
227
de fortuna: Jeux prilleux de la fortune et de l'a-
mour. Nota camiliana : No soube traduzir.
Na seguinte, diz Ph. Chasles; cShakspeare, dont
l'esprit souple s'est pli toutes les formes drama-
tiques ... e Camilo, sublinhando s' est pli, traduz :
cse acingiu ou attemperou.
E' digna de nota a simpatia de Camilo por ste
verbo atemperar-se. De memria, ocorrem-me dois
lugares onde emprega essa palavra.
O primeiro da Historia e Sentimentalismo
( l.a ed., pag. 22} : c O snr. Theophilo Braga, antes
de form.ular as suas iniJubitaveis asseveraes, de-
via attemperar-se aos ranosos processos de estudar
muito para affirmar pouco.
O outro do Perfil iJo Marquez iJe Pombal,
pag. VII. A diz que o livro no agradar nem aos
absolutistas, nem aos republicanos, nem aos tempe-
rados. E explica : cChamo temperaiJos aos que se
attemperam s circunstancias do tempo e do meio.
Continuando: na mesma pag. 223, Camilo sublinha
o verbo em : c. . . Pricles, vieux canevas qu'il a
retravaill ... e traduz : refundiu.
A pag. 226, traduz por Como vos approuver o
ttulo da pea As pou like it.
Na pgina imediata, o autor transcreve uma es
tncia de Cames, por ste modo :
Qual reflexo lume o polio .
Espelho ()'ao o ()e cristal fermoso
Che o rayo solar seno ferillo
Voy ferir noutra parte luminoso :
228
O seno 3 ozioza mao movio
Pela casa bo moo curioso
Anba pelas parees e telhabo
Tremulo aqui e alli essossegabo, etc.
(Lusadas, 1, 86, 87, 26).
Camilo fez as seguintes emendas; no 1.
0
verso
eliminou o ponto final, no 2.
0
substituiu o por ou,
no 3.
0
mudou em Que o Che, no 4.
0
o Vov em Vav
e no 5.
0
substituiu por E o O, por c o primeiro z
de ozioza e tilou o a da palavra mo.
ficou assim a estncia um pouco melhor quanto
grafia das palavras, mas no no que respeita
pontuao, pois nessa parte Camilo s fez a emenda
citada, no 1.
0
verso. A' margem anotou: cPhilarete
no sabia uma palavra de portuguez e sublinhou os
nmeros com que o autor pretendeu indicar a col.:>
cao da estrofe no poema, escrevendo por baixo :
cque tolice I.
No seu folhetim sbre a morte de Ph. Chasles,
publicado em 1882 no jornal A Folha Nova (n.
0
212) e includo depois nos Narcoticos (II, 303), Ca
milo no se esqueceu dste ponto, fazendo as se-
guintes consideraes crca dos conhecimentos de
portugus do erudito crtico francs: c certo que
elle tinha os seus prudos de polyglota. Versava as
litteraturas allem e hespanhola e ingleza magistral-
mente, como sabem, nos seus bastantes volumes
chamados Estuos. Porm, quanto portugueza,
no lisonjearei a sua memoria assentando que elle a
oossuisse com alguma sufficiencia. Ao proposito dos
229
Dramas fantasticos de Shakspeare, cita uma ima
gem do poeta, emprestada de Virgilio, e lembra que
j Cames plagiava como o dramaturgo inglez ; e,
apontando o texto dos Lusadas, escreve: (seguem
se os cinco primeiros versos a estncia).
Depois, os algarismos com que elle indica a pas-
sagem extractada do poema so uma curiosidade.
Por debaixo dos versos, indicou: Lusiaaas, 7, 86,
87, 26. Se a deturpao do typographo, natural
que o aucfor a corrigisse na prova. A meu vr, Chas
les desconhecia a lingua ; serviu-se d'uma verso
confrontando a com o original; copiou os versos
portuguezes; mas o typographo no os percebeu; e
elle, revendo a prova, tambem no percebeu para os
emendar. Quanto a confrontai-os de novo, no valia
a pena, visto que a linguagem porh.lgueza e a si-
riaca podiam affoitamente passear incognitas em Pa-
ris, em Londres e em Berlim.
Ainda, como adiante se ver, a ignorncia de
Philarete na matria mereceu mais comentrios de
Camilo.
Ningum negar a sua justeza, tanto na parte re
lativa ao desconhecimento da lngua como no que
toca indicao da estncia. Aqueles nmeros so
inexplicaveis, a no ser o 87 que , de facto, o n-
mero da estrofe no canto 8.
0
, Para os outros que
no h explicao e o prprio 87 perde . em Iam m
companhia, todo o seu valor.
Epifnio Dias, no seu comentrio quela estncia
citando faria e Sousa, transcreve os versos da EneitJa
230
em que se encontra a imagem que inspirou a de
Cames, versos a que, no canto 8.
0
do poema de
Verglio, correspondem os nmeros 23 e 26.
Ora ste ltimo aparece na citao de Philarte.
l r eria le algum apontamento dsses nmeros, bara.
Jhando-os depois como se todos se referissem ao
poema camoniano ?
Mas, admitindo esta improvvel hiptese, o que
significam os outros nmeros ? Com vista aos cha
radistas.
Fsse como fsse, o que est certo o coment-
rio de Camilo: c que
A pag. 256, est notada esta passagem : cAvoir
du gnie (seloll la critique moderne et effrne),
c'est crer, c'est--dire quitter le possible pour le
faux, exciter je ne sais quelle fermentation de la
pense qui donne pour rsultat une cume sanglante
et corrompue
A pag. 306-7, diz o autor, falando de SkE'lton:
cParticularit aussi curieuse que peu remarque: ce
fils de l'glise, apprenti apostai, n'est pas le seu!
prtre en Europe qui, la mme poque, batte sa
mre et renie f'a doctrine. II y a un Skelton en
france, un autre en Italie, un autre en Allemagne ...
C e sont Rabelais en France, Merlin Coccaie en Ita
lie, Jean Skelton en Angleterre, Martin Luther en
Camilo escreve margem: c Gil Vicente
em Portugal, pelas suas satyras contra os frades, e
talvez o Chiado, do qual restam poucos
Na pag. 311, referese Philarle a Catarina de
231
Bora, mulher de Luthero. Camilo anota: c foi esta
mulher que iniciou a Reforma:...
A pag. 318, o autor. dissertando sbre espiritua-
listas e materialistas, diz: cCes faits sont inconts
tables: - domination complete du corps, lorsque le
po lythisme dit son dernier mot sous N ron et les
empereurs ; - domination du spiritualisme chrtien
pendant le moyen-ge; - puis, lorsque ce mme
spiritualisme a fait son ceuvre, retour progressif vers
la rhabilitation de la matiere.:.. Camilo sublinhou
retour e interrogou: cretrocesso ? Porq. ?:..
A pag. 333, Chasles, depois de vrias considera-
es a respeito de tradues das lnguas neo-teut-
nicas nos idiomas neo-latinos, escreve o seguinte :
c T el est I' trange dilemme qui obsede tout traducteur
gallo-romain, italo-romain, hispano-romain, des chefs-
d'ceuvre dans lesquels respire l'essence de la vie teu-
tonique : - ou draper la romaine, l'italienne,
la franaise le colosse ennemi; ou le montrer nu,
d'une nudit sans grce. La traduction littrale est
un sacrilege; la transformation lgante, un men-
songe.:..
Comentrio camiliano ao ltimo perodo: c!:xage
rao:...
A pag. 335 sublinhou: cTraduire mot mot Sha-
kspeare, c'est tuer Shakspeare.:..
Na pag. 348, escreve o autor: Echappons cette
faon vague et lourde de traiter le roman historique,
mensonge suspendu entre la science et le conte ... :..
Camilo traa as ltimas palavras e anota: cE' appli
232
cavei ao preconizado Monge de Cister e m.
5
ainda
ao Arco e 5.
1
" Anna ... Esta nota foi desenvolvida
numa outra escrita na guarda final do livro e que
a seguinte: c Oeste romance (A. de S.'" Anna), se o
avaliarmos pelo seu inadmissvel predicam.
10
histori-
co, ajusta-lhe a ponto a crytica de Philarete Chasles
aos romances chamados hist. (pag. 348) ...
E' notvel a incorrecta construo gramatical desta
nota, caso raro em Camilo, mesmo em simples apon
tamentos.
Porque com estas notas tem estreita relao, trans-
crevo stes perodos da pag. 256 dos Esboos de
Apreciaes Litterarias: cAssim que, em ~ c e r n a s
e romances, distingo os historicos dos fictcios. O
Monge e Cister, a meu vr, mais historico nas
magnificas composturas da parte inventiva, que no
fragmento da chronica de O. Joo I, ponto essencial
do entrecho. O Arco e Santa Anna, tirante o no-
me d'um bispo no catalogo dos prelados portuen-
ses, estreme fico ...
J em 1859, no Muno Elegante, num artigo s-
bre Garrett, depois reproduzido nas Cousas Leves
e Pesadas, Camilo escrevia : cQuando a analvse e
o contacto da vida actual lhe estimulava o talento in
dignado, Garrett obedecia s soffreadas da ironia sar
castica, e, fiel ao seu systema, no romance de idJs
antigas inquadrava allusoens a pessoas e coisas do
seu tempo. O Arco e Santa Anna seria um ro-
mance incoherente se o no dominasse aquella ida
mhda.
233
A pag. 381, comea a parte do livro relativa a
Aretino, aquela em que menos notas se encontram.
Na pag. 390, Philarete traduz alguns trechos de
Aretino, merecendo ste comentrio: c Este homem
pouco sabia da lingua italiana:..
A pag. 392, continuando a traduzir o italiano, es
creve: cOn dit que je suis fils de courtisane .. :. e,
em nota, esclarece: cl'Artin est plus expressif.
Ento Camilo diz o que a pudicci do tradutor
ocultou: cputana, diz elle.
Nenhuma outra nota aparece no texto. No final
do volume, porm, h 8 pginas de catlogo de obras
do mesmo editor, e em duas delas h notas de Ca
milo, provvelmente escritas naquele lugar como o
poderiam ter sido em qualquer outro, pois parece
que no se relacionam com o texto. Passo a trans
crevlas. A pag. 530: cfr. Alberico de Monte Cas
sino, de q.m o Dante se inspirou, mais abaixo :
cfotheringay:. e por fim: cphrazes assoladoras ver-
melhas e ardentes como granadas:.. A pag. 532, a
ltima do livro, h ste apontamento : cscena feudal
outrance:. e ainda stes nomes: Darnlev, Both-
we/1, Knox, The Abbot, Walt. Scoot. Na guarda
escreveu outra lista de nomes: Gargantua, Panta-
gruel, Panurgio. Rabellais, Falstaff, Sancho P.,
Gil Braz, Figaro, Pangloss, bem como esta nota :
cEra uma imagem pantagruelica, pelo theor das hy-
perboles culinarias usadas pelos seus contemporaneos
Skelton, Rabellais e Theophilo folengo, o creador
das A palavra pantagrue/ica substi
234
tuu o termo rabellesiana, escrito primeiro e depois
riscado.
E assim acabam as notas escritas no primeiro dos
dois livros de Philarete Chasles
O segundo tem por ttulo tudes sur la littra-
ture et /es mceurs ae I'Angleterre au XIX' silkle.
Como o anterior, no tem data, sendo o prefcio de
1 de Agosto de 1850.
Logo na guarda da encadernao aparece a pri
meira nota cujo tema outra vez a ignorncia do
escritor francs no tocante lngua portuguesa. Diz
assim: c M r . ~ F. Ch. sabia todas as lnguas euro-
peias, menos a portugueza, que ainda um idioma
hypothetico em Frana . Passando a francez o titulo
As p . do s. R . escreveu Les pup. du seig. Rhe.,
comprehendendo com significao diversa de Les
pupilles de Monsieur le Cure.:t
No frontispcio escreveu esta chamada: chors de
ligne- 100- 414:t. Os nmeros indicam duas p-
ginas em que o autor emprega aquela expresso que
Camilo sublinhou e marcou margem com um N.
Evidentemente estas notas relacionam se com uma
parte Cl polmica com Alexandre da Conceio.
No seu artigo publicado nas Ribaltas e Gam-
biarras, n.
0
7, a pag. 51, chamou Camilo ao seu
adversrio cum trapalho hors de ligne:t. Deve no-
tar-se que, transcrito o artigo na Bibliografia Por-
235
tugueza e Estrangeira, 3.
0
ano, n.
0
2, pag. 21, a
locuo francesa transformou-se em hors ligne. O
mesmo aconteceu na transcrio feita pela Revista
ao Norte, pelo que Camilo, em carta a Silva
pediu a rectificao.
da Conceio, respondendo, ataca o
hors ae ligne, a que chama tolice de caloiro, por-
quanto a expresso correcta, hors ligne. Conti-
nuou em mais alguns artigos a discusso sbre Q
ponto, trocando, como em toda a questo, os dois
antagonistas aquelas amabilidaaes em que ambos
eram frteis e que eram tam nacionais que Camilo,
ao reproduzir na Bohemia ao Esprito os seus ar-
ligos, deu-lhes ste ttulo perfeitamente adequado -
Moaelo ae polemica po:-tugueza.
Camilo, defendendo a sua opinio, invocou a au
toridade de dois dicionaristas franceses e a de Renan,
de quem transcreve uma passagem de L'Antechrist,
em que h a expresso un talent hors e ligne.
Nenhuma outra citao faz em abno do seu pa
recer, o que indica talvez que no tinha notado
aquela forma no livro de Philarete. A no ser assim,
certamente teria citado o crtico francs, mas, quando
fez o achado, logo tomou nota, preparando-se para
a hiptese de ter de voltar a discutir o assunto. Creio
no andar longe da verdade, supondo que assim
foi.
A pag. 34, Camilo marginou e marcou com o no-
me Zamperini um trecho em que o autor fala da
tlebre cantora que tanta bulha fez em Lisboa no
236
sculo XVIII. Dela se ocupou nas Noites ae lnso-
rmia, n.
0
5, pag. 21, e j anteriormente no jornal
O Munao Elegante, n.
0
6, escrevera um artigo com
o ttulo O PaCJre Jos Agostinho CJe Maceao e a
Zamperini.
Logo no nmero seguinte rectificou o nome do
padre que era Manuel de Macedo, nada tendo que
ver com o virulento graciano, criana de 9 anos
quando chegou a aventureira .e de 13 quando ela foi
expulsa por Pombal. Camilo confundiu, fazendo logo
a emenda, os dois padres, como mais tarde a conte-
reu a Sousa Bastos, na Carteira ao Artista, pag.
777. Em 1863, o artigo aparece, j certo, nas Sce
nas Innocentes da ComeCJia Humana.
De resto, a confuso explica-se, como nota o sr.
Alberto Pimentel (Zamperineida, pag. 29), pela
identidade do apelido dos dois padres e pelo facto
de ambos terem levado vida dissoluta.
Na pag. 68, sinalou Camilo esta frase: eles grands
systemes nous fatiguent autant que les grands sty-
A pag. 87, o autor, tratando de Walter Scott, es-
creve: L'Allemagne s'veillait alors de son long
sommeil. Bodmer. Breitinger et le grand Lessing
avaient soulev le drapeau de la rvolte intellectuelle
centre Rome et Ouintilien ... lt, Camilo nota: c e
contra a Frana
lt
A pag. 93, marcou com um N. B. o seguinte:
cOuant l'crivain qui vit dans sa solitude rveuse
et austere, le rontemporain le frappe gnralement
237
d'une amere rprobation; c'est sur celui-l que le
public se met en frais de contes pour rire et de piai
santes anecdotes; c'est auK dpens de ce pauvre
ermite de la pense que le contemporain s'amuse :
Ie contemporain crase Milton du regard et du geste,
claigne peine accorder au>e vieu>e Corneille le pas
sage libre et la place au soleil, marche sur le man
teau de Cervantes, et regarde ).- J. Rousseau par
dessus l'paule. Vienne donc la mort, pour rhabili
ter ces belles et courageuses intelligences et les ven-
Na pag. 97, sublinhou esta passagem relativa a
Byron: cSon gnie n'est ni plastique, ni svere. ni
impartial: II aime le prjug p3rce que I e prjug .
s'allie bien la passion ; ii aime la haine, comme'
mouvement violent; ii aime le dsespoir qui le sauve
de
Na pag. seguinte chama o autor ao mesmo Byron
- peintre merveil/eux e Camilo comenta: ccon-
tradiz-se quando lhe nega genio plastico na pag. 97-,;.
Ainda a respeito de Byron, diz Philarete: c .. sa-,
chant, l'e>eemple de Rousseau concentrer dans un
mot qui tombe comme la foudre la puissance et la
douleur d'une motion ... Camilo sublinhou l'e-
xemple i:Je Rousseau e ao lado colocou um ponto
de interrogao.
Depois o autor traduz um trecho do poeta ingls, .
em que se encontra ste conceito que a Camilo me
receu um ponto de admirao: ela religion ne peut
consoler .
238
Mais abaixo escreve o autor : c Le premier besoin
de l'existence pour Byron, c'est la sensation: Wal-
ter Scott veut tout comprendre et se fait spectateur;
il veut placer les souvenirs, les passions, et les objets
sous leur vrai jour. Sa personnalit s'teint; ii est
subjectif, comme on dit dans les coles d'un pays
voisin; c'est -dire qu'il reoit les impressions et ne
les transforme Camilo aplicou outra exclama
ao termo subjectif.
Na mesma pgina, marcou ste perodo: eLa na-
ture byronienne, nature de convention et de thtre,
se parodie
Nada escreveu margem, mas, na guarda final
do volume, aparecem estas palavras: c Naturezas
convencionaes, theatraes lt.
Na pag. 101, no perodo: c Goethe et Walter
Scott, apres Shakspeare et Cervantes, se prirent
d'une passion singuliere pour la vrit, pour le ba-
lancement des ides, pour l'quilibre. sublinhou
Cervantes e pour la vrit e consagrou-lhes dois
pontos de admirao.
Na pag. 103, diz o autor, falando da Histoiree
Napolon, de W. Scott: ccrivant pour le libraire,
il cede au mouvement de l'opinion britannique; ii
flatte sa race et le moment; il oublie que l'on n'est
point un historien ou un ppilosophe suprieur, sans
livrer la guerre Camilo marcou a parte
final.
Na mesma pgina, margem dste trecho : c }e
ne sais si le sacerdoce de la pense n'exige pas
239
cette svrif cruelle; toujours est-il que les flatteurs
populaires obtiennent moins d'influence que les ac-
cusateurs et Jes conseillers rigides. Personne ne se
souvient des Gorgias et des Prodicus de l'ancienne
Grece ; les Eulogistes de Byzance sont morts de-
puis longtemps. Aristophane Je plus inexorable des
satiriques est aujourd'hui plein de vie et de ver-
deur; et qui de nous a lu le pangyrique d'Athe-
nes par Isocrate ?-., escreveu: cParece q. no quiz
comprehender a cauza: o attractivo da maledicen-
cia-..
Na pag. 104, onde o autor fala de l'hvpocrisie
puritaine, Camilo escreveu margem : ccant, como
j, a pag. 100 do outro livro de Philarete, marcara
ste trecho: eLe puritanisme et la tartuferie solem-
neUe que Jes Anglais dsignent aujourd'hui par le
mot cant.-. . Tambm na guarda do volume de
que agora me ocupo, escreveu essa palavra, talvez
como lembrana.
No seu opsculo sbre a traduo do Othelo por
D. Lus de Bragana, refere-se Camilo a sse cos-
tume que, diz Oliveira Martins na Inglaterra de
hoje (t. ed.; pag. 73), sem ser propriamente vi-
cio, friza pela hvpocrisia: o ccant-.. o ritual t)as
conveniencias ininfringiveis.
L vem, a pag. 57 do opsculo : cShakespeare
aggredia o cant nos poemetos ; mas, nas tragedias,
aceitava-o para contemporisar com a opinio publica
eivada de hypocrisia..
A pag. 115, sinalou esta frase tradu?.ida de W.
240
Scott: c Je voulais que la littrature fUt pour moi un
bton et non une bquille:..
Na pag. 121, margem de 80:000 liv. st., escre
veu 360 contes.
A operao aritmtica para obter esta reduo de
libras a dinheiro portugus, ao sadoso cmbio de
4:500 rs. uma das que Camilo fez no fim do volu:
me e a que j me referi.
A pag. 126, marcou stes perodos, relativos a W,
Scott: cJe fais de mon mieux, me disaitil un jour;
mais trop souvent mes efforts sont inutiles: l'auteur
que ie veux faire connaitre a soin de me dmentir
par de mauvais ouvrages. II y a des gens qui pren-
nent une peine incroyable pour se damner eux-m-
mes, des malheureux que rien au monde ne peut
O mesmo na pag. 132: cL'anxit de l'esprit,
l'inquitude de l'me, sans tuer un homme d'un seu)
coup, l'assassinent lentement et le font tomber vi
ctime d'une rosion progressive, d'une action im
perceptible et incessante, qui attaqu: mine, affaiWit,
dtruit enfin le systeme nerveux, et cette destruction
va toujours en augmentant jusqu'au moment oO. la
paralysie commence. ou les organes s'teignent l'un
apres l'autre.:..
A pag. 145, Ph. Chasles, depois de falar do ca-
samento de Byron, refere-se s suas aventuras amo-
rosas e diz: cVenise, Lisbonne, florence et Rome
offrirent tour-tour au poete les occasions faciles
de liaisons nouvelles .. :.. Camilo sublinhou L is
241
bonne e anotou: cA conquista q. elle fez em Lisboa
foi de uma Com esta nota se relaciona a
seguinte, escrita no fim do volume : As famigeradas
conquistas de Byron na ltalia reduzem-se a duas
mulheres ordinarias (Marianna S. e Margarida Cogny)
e uma condessa separada do marido-pelintra (Guie
cioli)lll. A essas trs mulheres se refere o autor a
pag. 158, 159 e 160. Camilo sublinhou os trs no
mes e ao da segunda (Margarita Cogni, escreve
Philarete) fez esta observao: cchamada a forna
rina.lll
A pag. 151, diz o autor: cSa fameuse satire
contre les BariJes iJ'Angleterre ei les Critiques
'cosse .. J). Nota de Camilo: cEsta satyra ap
pareceu sem o nome do auctor. C. C. B. possue
um ex. dessa rarissima ediolll, Abaixo marcou com
um ponto de admirao as palavras l'Espagne sau-
vage.
A pag. 154, escreve o crtico: cByron, Rossini e,
Bonaparte ont compris de la mme maniere la po-
sie, la musique et la guerre.lll. Camilo sublinhou os
trs nomes e no fundo da pgina escreveu : cSeculo
XIX-Napoleo 3.
0
, Offenbach -- Baudelere (sicJ- Tri
ple imperiolll.
A pag. 157, onde Philarete se refere aos amores
de Byron com miss Chaworth, sublinhou o nome
da miss e escreveu: cThe lame boy (disse ella)J).
No fim do volume desenvolveu esta nota pelo modo
seguinte: c Mary Chaworth, primeiro affecto de B.
chamou-lhe the /ame bov. - art., subst. e
li
242
adi . decidiram do poeta, enchendo-lhe a alma do
absyntho do odio ao acaso q. o mancou, e encorpo
rou na socied.
8
o fantasma do accaso - d'ahi o odio
ao g. homano. A seguir, escreveu: cThomaz Moore
- Os Amores dos Anjos. A essa obra se refere
Philarte na pag. 157, onde fala da miss.
A pag. 165, traou ste perodo : c Rien de plus
odieux pour un homme de talent, que cette troupe
empresse sur ses pas, parodiant ses penses, cal-
quant le dessin de ses narrations, lui empruntant im
pitoyablement sa misanthropie, son dandysme, son
ddain, et son enthousiasme..
A pag. 170, aparecem estas palavras italianas: cAh!
can della Madona! Cosa vustu ? Esta non e tempo
per ander a Lido ? assim traduzidas: cAh! chien
de la Sainte-Vierge! Est-ce toi? Est-ce l un temps
pour aller au Lido ? Camilo sublinhou a primeira
pregunta, em italiano e em francs, e comentou :
c que traduco !. Na mesma pgina traduziu: cun
besoin de rester soi por cprecizo de manter a
personalid.e.
A pag. 175, principia a parte do livro relativa aos
poetas l<eats e Shelley. Depois de descrever o cemi-
trio protestante em Roma, escreve o autor: cDeux
jeunes et malheureux potes reposent l, cte
cte: John l<eats, mort vingt- trois ans, et Percy
Brisshe Shelley, mort vint-cinq ans; deux protes
tants, qui ont abjur mme le Christ; le panthiste
auprs du paien, dans le cimetiere calviniste.. Ca-
milo emendou a idade do primeiro: c33 e no 23.
243
Mais adiante, a pag. 203, Philarete, referindo-se a
Keats, diz: cAvant sa vingt-huitieme anne ... :t, o
que no escapou ao anotador que margem escre-
veu: c Disse a pag. 176 q. elle morrera aos 23 a.":t.
A pag. 184, diz o autor, a respeito de Keats: eLa
po!:ie devint son but unique et le paganisme la re-
l i ~ i o n de sa pense; ii mconnut completement la
saintet chrtienne et ngligea cette activit pratique,
ncessaire Ia sant morale comme la vigueur des
sens. Sa nature dbile y succomba.. Nota de Ca-
milo: cAttribuir fantasia pagan a doena uma
dyagnose m.
5
fantastica ainda.
A pag. 186, escreve o autor: c Je sais quelque
chose de plus suave que la brise en t (ainsi com
mence un de ses charmants poemes):t e Camilo, su-
blinhando as primeiras palavras, anotou : cMal tra--
duzido: What is more gentle etc.:t.
Na pag. 193, marcou a parte final dste perodo :
cOn y voit ce qu'il pensait de Ia critique et combien
Keats tait persuad, comme tous les esprits vigou-
reux, que Ia valeur intrinseque du talent est toujours
plus forte que les inimitis et les obstacles.::t. No fim
do volume traduziu: c O valor intrnseco do talento
sempre m.
8
forte q. as inimisades e os obstaculos.
Keats.::t
Na pag. 198, fala o autor de la personnalit ja-
Jouse e loriJ Bpron; Camilo aplaudiu : cQ. verd.e:t
A pag. 215, stes perodos relativos a Keats: cOn
ne peut s'empcher de penser que, si cet adolescent
.de gnie avait t chrtien sincere et pratique, ii
244
aurait vcu. Une activit rguliere eiit protg sa
pense et ses forces, foram assim anotados por
Camilo: c Paradoxo banah.
A respeito dos dois poetas aparecem ainda outras
notas na ltima pgina e nas guardas do livro. So
as seguintes: c John Keats e Percy Schelley (sic)-23
e 25 annos, sepultados em Roma no cem. proteste
- um panth., outro atheu:t. clntermittencias de amor
pago aos deuses da Grecia, como Keats. (palavra
riscada que parece ser Pantheismo) sincero e intel
ligivel: uma dryade em cada carvalho, uma ondina
em cada lago, um sylpho em cada suspiro de luz (?)
no rosal. Que alegrias ja teve o mundo !:t. cP1s phi
losophias pantheistas de Goethe e Scott, (?) atheu,
esto to perto uma da outra como as cinzas do
pant. John Keats e do atheu Percy Shelley no ce
mit.
0
calvinista de Roma.:t. cO pantheismo mystico
de Goethe, refinado atheismo de Voltaire fanfarro
de vcios, como Bvron:t.
A pag. 248, diz o autor que ele nom de Bucha
nan, le grand rudit du XVIe siecle, voulait dire
J'homme des livres:t e Camilo comenta: Books
man que forada analogia !:t.
A pag. 260, junto das palavras te barbare et te
grossier Shakspeare, escreveu: cq. diremos de G.
Vicente ?:t.
Na pag. 399, marcou ste perodo: cUn livre mal
fait vivra, si l'on y rencontre vingt pages heureuses
et fertiles:t.
O mesmo fez a pag 402, a estas palavras de
245
Marchangy, gabando uma sopa: ele bouillon ame
veux d'or sourit dans le
Com esta acabam as notas ao segundo dos livros
de Philarete Chasles que existem na minha coleco.
Nota as ((Heures de Prison,
de Madame Lafarge
O livro foi impresso em Paris, em 1856, e o exem-
piar anotado est no Museu de Joo de Deus, por
ter pertencido a Casimiro Freire. Tem apenas uma
nota, na guarda. a seguinte: A imprudencia, (sic)
a m indole, o vicio, a rebeldia, a impenitencia, o
crime - tudo transluz nestas pg. falsas, amaneiradas,
glaciaes. Esta mulher no podia mentir a Deus, q.
puniu; mas manteve at ao fim o desgraado empe-
nho d mentir a todos, e - o q. mais - inutil-
m. te p. r q. enganou ninguem. C. Cast.
0
Bran
co,
Esta Madame Lafarge a mesme cujas Memo-
rias foram traduzidas, em 1874, por Pedro de Amo-
rim Viana que em tempos terara armas com Camilo
sbre questes religiosas, Camilo batendose pela f
e Amorim Viana pelo racionalismo.
Quando ste traduziu as Memorias de M.m La-
246
farge, Camilo fez nas Noites tJe lnsomnia, n.
0
7,
pag. 46, uma acerada crtica traduo e ao es-
tutJo moral que sbre a autora fez o tradutor.
Notas Vie de Jsus ... , de Ernest Renan
Em 1865, Camilo publicou o seu livro DivintJatJe
tJe Jesus e TratJio Apostolica, constitudo por
diversos artigos insertos, anos antes, nos semanrios
religiosos O Christianismo e A Cruz.
Comea o trabalho por uma carta ao Visconde
de Azevedo (mais farde Conde), em que o autor diz
ter lido, pouco antes, a VitJa de Jesus, de Renan,
entrando a seguir na apreciao dessa obra que con-
sidera um dos mais perigosos livros que aintJa
se escreveram contra a tJivintJatJe tJo funtJado:-
do chrislianismo.
Quando fez aquela leitura, lanou Camilo nas mar-
gens do livro numerosas notas que adiante se trans
crevem.
O exemplar anotado da stima edio e impresso
em 1863. Pertence tambm a Jorge de faria.
Devo dizer que as notas ao livro de Renan ja fo-
ram publicadas, mas s em parte, segundo creio.
Jorge de faria tem um recorte de jornal em que
aparecem oito delas. Ignoro se as outras vieram a
lume.
247
Se tal aconteceu, porm, devem estar perdidas
em jornais que hoje no ser fcil obter. Nada se
perde, portanto, antes pelo contrrio, em aqui se fa-
zer a completa.
O livro tem no frontispio a assinatura de Camilo.
As primeiras notas aparecem logo na introduo que,
diz Camilo na carta ao Visconde de Azevedo, a es-
sencia do livro.
A primeira nota est na pag. X, onde Renan diz
que julga autntica a passagem de Josefo a respei-
to de lesus. esta a nota: c facil demonstrar
que a passagem inteira foi introduzida. Compare-se
o final o final (sic) do cap. XVIII com o como
do cap. XX . Esto entre si to ligados que clara
a sciso que se fez para interpor a passagem. Veia-
se Josepho _(adhnte dos citados cap.) quando falla da
morte e Thiago irmo e Jesus ?i_. se isse Chris-
to.
A pag. XII. margem dste trecho: cDans l'his-
toire des origines chrtiennes, on a iusqu'ic beau-
coup trop nglig le Talmud. Je pense, avec M.
Geiger, que la vraie notion des circonstances ou
se produisit )sus doit tre cherche dans cette
compilation bizarre, oli tant de prcieux rensei-
gnements sont mls la plus insignificante scolas-
tique. La thologie chrtienne et la thologie juive
ayant suivi au fond marches paralleles, l'his
toire de l'une ne psent bien tre comprise sans
l'histoire de l'autre., escreveu cC. Cantu..
A pag. XV, onde o autor diz que /a cVie 'Apol-
248
lonius e Tpane a t crite longtemps apres
/e hros, anotou : cAqui ha e1ro quanto ao long-
temps apres le hros.
Na pag. XVIII, escreveu margem, em caracte-
res latinos, trs palavras que no texto esto em le-
tras gregas.
A pag. XXV, sublinhou: je n'ose tre assur que
/e quatrieme vangile ait t crit tout entier
e la plume 'un ancien pcheur galiMen, e a
pag. XXVI: Si onc cet ouvrage n'est pas rel
lement e /'aptre.
Estas passagens, e ainda outras que Camilo no
assinalou no texto francs, foram por le traduzidas
na carta ao Visconde, acompanhadas de comentrios
sbre as contradies do autor. Deve notar se que,
tanto na l.a como na 2.
1
edio da Divinae (pag.
22 e 19, respectivamente) a palavra pcheur tra
duzida por pastor ..
A pag. XXXVII, diz Renan dos evangelhos: c r OUS,
selon moi, remontent au premier siecle, et ils sont
peu pres des auteurs qui on les attribue; mis leur
valeur historique est fort diverse. Camilo sublinhou
peu pres. Na carta criiica largamente esta passa-
gem e principalmente aquela expresso que traduz:
com pouca ifferena.
A pag. L, marcou com N. B. esta passagem :
cUne observation qui n'a pas t une seule fois de
mentie nous apprend qu'il n'arrive de miracles que
dans les temps et les pavs ou l'on v croit, devant des
personnes disposes v croire. Aucun mira de ne
249
s' est produit devant une runion d'hommes capables
de constater le caractere miraculeux d'un fait.
Na pag. seguinte, onde o autor diz que se na ac-
tualidade aparecesse um taumaturgo propondo se fa
zer um milagre, por exemplo, a ressurreio dum
morto, seria nomeada uma comisso de homens de
scincia para que, perante ela e por ela fiscalizada,
se fizesse a operao. Camilo comenta : O q. devia
ter feito
Na pag. LIX, a ltima da introduo, junto ao pe .
rodo: cProfondment ingales et d'autant plus divi
11.es qu'elles sont plus grandes, plus spontanes, les
rnanifestations du Dieu cach au fond de la conscien
ce humaine sont toutes du rnrne ordre., escreveu
cBunser. Deus na historia.
Ao fundo da mesma pgina ps a seguinte nota :
cO Evangelho de S. Marsos, authentico!
O de S. Matheus, menos Synoptica
O de S. Lucas menos q. o de M.
O 4.
0
Ev. de S. Joo, escripto no fim do 1.
0
se-
cuJo, m.
10
inventivo, adulterado, e ditado com o fim
de dar-se vulto distincto na comitiva dos Aposto
Esta nota parece ser um esquema do que Renan
diz a respeito da autenticidade dos evangelhos e de
ve relacionar-se, na sua parte final, com o que se l
a pag. 23 24 da DivinaiJe.
A seguir, no verso da pgina, escreveu esta nota:
cBunser: Christo era filho de Deus, porj. filhos
de D. s todos os j. o sentem na consciencia. Ternos
250
pois Padre e filho. Esprito saneio, a doutrina en-
sinada por Christo. Deste modo, Bunser aceita a
Trind.e:..
Depois da introduo, a primeira nota foi escrita
a pag. 21.
fala Renan do facto de ao nome de Jesus 5e ter
atribudo a sua misso de Salvador. Camilo anota:
cDominava nos judeus a Cabala que engenhava in-
tuitos mysteriosos com pequenas cazualid.e de nu-
meros, lettras e nomes. Veja Pluquet. Dicc. a ~ He-
resias..
A pag. 23, sublinhou Jacques e escreveu ao la-
do : c Thiago. flavio Josepho diz q. este Thiago era
irmo de Jesus. Convem porem saber q. a m.r.a pala-
vra grega designa primo e irmo, e em latim era
egualm.te frater o primo.
A pag. 24, passou para letras latinas trs palavras
escritas em caracteres gregos.
Mais abaixo, a respe:to de irmos de Jesus, escre
ve: c Confira com flavio Josepho. Antiq. , e na p-
gina seguinte, ainda sbre o mesmo assunto, diz:
cJosepho no ligava a Jesus a seria importancia q.
se inculca dando a Jacques o titulo de irmo ao Snr.-.
Na pag. 32, onde o autor diz que o idioma de
Jesus era o dialecto siraco, sublinhou esta palavra e
margem escreveu arameu.
A paH. 35, Renan chama a Philon l'il!ustre pen-
seur alexanrin; a pag. 40, diz que o mesmo ne
possee qu'une science chimrique et e mauvais
alo i.
251
Camilo limitou-se a marcar em cada pgina o n-
mero da outra.
A pag. 46, diz Renan: cJsus n'eut ni dogmes, ni
sy:>teme, mais une rsolution personnelle fixe ..
Nota de Camilo: No me parece isto verdadeiro.
Jesus Christo deu a perceber que seguia o dogma
da immortalid.e da alma, admittindo penas
deabo, em fim o supernaturalismo, dando cor de mi
lagre a certos actos que os Evang. lhe attribuem.
Esta nota relaciona-se com outra, a pag. 51, onde
o autor diz que os antigos escritores hebraicos no
falavam de prmios ou de penas. esta : c Mas ap
parecem nas doutrinas de Jesus, e tambem se en
contram nos anf.
08
escriptos hebraicos, p. r eK. em
Job, se Job no urna fraude relativam.
19
moderna.
A pag. 48, ao nome Dehak (te Satan e la Per-
se) ps a no:a Antechristo.
Na pag. seguinte, sublinhou: Spinoza est I e
p!us grand _des juifs modernes, et la synagogue l'a
exclu avec
Na pag. 54, onde Renan diz: eLa rssurrection.
ide totalement diffrente de l'immortalit de l'
me ... , observa Camilo: c Se a alma immortal p.a
os premios e p. a os castigos, a resurreio do5 cor
pos inutib.
A pag. 56, diz o autor que Herodes morreu vers
J'anne mme ou ii (]sus) naquit; e Camilo no
ta : c Diz anteriorm.
18
que no se pode marcar o
anr.o em q. nasceu Jesus. No parece justa a cen-
sura pois que Renan se refere a uma poca aproKi
252
mada, como se v pela preposio que empregou e
que a mesma de que se serviu para determinar a
poca provvel do nascimento de Cristo, vers l'an
750 oe Rome.
A pag. 62, diz Renan que na Galileia, em conse
qncia das agitaes sociais, havia um grande des-
przo pela morte e at o desejo de morrer. Camilo
comenta: c Parece que os discipulos de Jesus, quan
do fugiam, e Pedro quando o negavam (sic) no ti
nham um grande desapgo da vida. Renan generalisa
as excepoens p.a estabelecer regras que nada forta-
lecem as suas opinioens.:.
A pag. 75, onde Renan expe as ideas de Jesus
a respeito de Deus, Camilo pe esta nota: cldeas
textuaes de Bunsen- Deus na historia,..
curioso notar que, em notas j transcritas, o
nome dste autor aparece escrito Bunser.
Na pag. 78 aparece outra vez Bunsen, margem
do lugar onde Renan fala das expresses reino oe
Deus e reino do cu, como favoritas de Jesus.
A pag. 87, ao lado da passagem de S. Mateus
em que se diz que a orao ser feita em casa com
a porta fechada e em segredo, escreveu Camilo:
c Contra as egrejas:..
Na pag. 89, marcou ste perodo: c Jamais on n'a
t moins prtre que ne le fut Jsus, jamais plus en-
nemi des formes qui touffent la religion sous pr-
texte de la protger.,..
O mesmo fez na pgina seguinte, ao trecho: c Une
de absolument neuve, l'ide d'un culte fond sur la
253
puret du creur et sur la fraternit humaine, faisait
par lui son entre dans le monde, ide tellement le
ve que l'glise chrtienne devait sur ce point trahir
completement ses intentions, et que, de nos jours,
quelques mes seulement sont capables de s'y prter
A pag. 128, diz Renan que Jesus n'a pas la
moindre notion 'une me spare du corps. Ca-
milo sublinhou as ltimas palavras e anotou: &Veja
a contradio de pag. 173 na parabola do Rico e
de Lazaro, em q. J. C. estabece (sic) o seio de
Abraho (paraizo) e o inferno, salvo se o rico cahiu
em corpo no inferno. Veja S. Lucas, cap. 12, v. 20
em q. J. Christo falia na alma arrebatada no acto
da morte.
Enganou-se Camilo no nmero da pgina que
174. a que o autor escreve: r, ii arriva que le
pauvre mourut, et qu'il fut port par les ange:s dans
le sein d'Abraham. Le riche mourut aussi et fut en
terr. Et du fond de l'enfer, pendant qu'il tait dans
les tourments, il leva les yeux, et vit de loin Abra
am, et Lazare dans son sein..
Aqui escreveu Camilo esta nota relacionada com a
anterior: Disse Renan q. Jesus Christo no dera a
perceber a existencia do inferno.
A pag. 171, o autor cita uma passagem de S. Lu-
cas (XII, 20) assim redigida: cEntasser des cono-
mies pour des hritiers qu'on ne verra jamais, quoi
de plus insens ?. Camilo emenda: cN. B. No diz
tal coisa. Diz o seg ..... Para q.m so as coisas q. ajun-
tas?.
254
A pag. 173, falando de Judas, diz Renan que
certo que le teve mau fim. Camilo escreve: c No
cap. final diz q. Judas provavelm.
18
morreu socegado
na sua propried.e de Haceldamalt,
Aqui tambm se enganou. No no captulo final
mas no penltimo que Renan, depois de se referir a
diversas tradies sbre a morte de Judas, diz cPeut-
tre, retir dans son champ de Hakeldama, Judas
mena-til une vie douce et obscure . ,lt,
Neste mesmo lugar (pag. 438) escreveu esta no
ta: c Um dos heresiarcas do 2.
0
ou 3.
0
seculo adorava
Judas em razo de ter elle sido o promotor da re
dempo entregando Jesus. E adorava todos os
perversos que tinham motivado a concorrencia dos
bons. Este sophysta no era asno completm.te lt,
A pag. 175, ainda a proposito da parbola do L
zaro, diz Renan : c PJus tard on appela cela la para
bole du mauvais riche. Mais c'est purement et si.n
plement la para bole du riche ,lt,
Camilo anota: Certam.
10
, p.' que, se no se empo
brecesse, no entraria no gremio de Christo.lt
A pag. 177, em civilisations affaires, sublinha.
o adjectivo que traduz por esta enfiada de sinnimos'
cnegociosas, afreimadas, afanosas, laboriosas, suadas,
conaliv'ls, afadigosaslt,
Um alegro para aqueles que, segundo a justa ob-
servao de Ea na admirvel carta a Camilo (Ulti-
mas paginas}, cadmiram apenas em V. Ex . scca-
mentc e pccamente, o homem que em Portugal
conhece mais termos do Diccionario.
255
No recomendo a sses secos e pecos a leitura
dessa carta, pea literria altura de quem a escre
veu e de quem devia receb-la, porque sei que les
na sua pequice, nem querem ouvir falar do Ea.
S admitem Camilo.
Pois tenham a certeza de que haviam de gostar,
se no fssem pecos . ..
A pag. 188, escreve o autor: cn desses miracles
fut fait pour gayer une noce de petite v i l l e . ~ ; Ca
mil o observa: c Ento em q. ficamos ? fez ou no
fez milagres?-..
A pag. 209, diz Renan: eLa renomme de la ville
natale de Jsus tait particulierement mauvaise.' C'-
tait un proverbe populaire: Peut-il venir que/que
chose oe bon oe Nazareth.-.. Camilo nota: c Disse
que Nazareth era terra q. se no acha citada em
autor algum antigo, ou anterior a J. Ch..
A nota de Camilo refere-se ao princpio do cap.
II, onde o autor diz que aquela ferra nenhuma cele-
bridade tivera antes do nascimento de Cristo, acres
centando, em nota, que dela no se fala no Velho
Testamento, nem em Josefo, nem no Talmude.
Na Divinoae (carta ao V. de Azevedo), a pag.
25, diz Camilo: c . a pag. 243, intende que Jesus
se julgava to filho de Deus como os outros homens,
posto que se presumia homem extraordinario; e a
pag. 254, escreve que Jesus, desde muito, se persua-
dira que os prophetas o tinham em vista quando o
prophetisavam ... ~
No seu exemplar notou a contradio nas duas
256
pginas citadas, devendo notar-se que a segunda a
255 e no 254.
A pag. 290, comea assim o cap. XVIII: cCe qui
prouve bien, du reste, que Jsus ne s'absorba entie-
rement dans ses ides apocalyptiques, c'est qu'au
temps mme ou ii en tait le plus proccup, il jette
avec une rare suret de vues les bases d'une glise
destine durer.. Camilo sublinhou ies apocalv
pliques e anotou: cintuitos de acabam.
1
" do mundo.
A pag. 314, esta passagem: cUn grand danger
rsultait pour l'avenir de cette morale exalte, expri
me dans un langage hyperbolique et d'une effrayante
nergie. force de dtacher l'homme de la ferre, on
brisait la vie. Le chrtien sera lou d'tre mauvais
fils, mauvais patriote, si c'est pour le Christ qu'il r
siste son pere et combat sa patrie. La cit antique,
la rpublique, mere de tous, l'tat, loi commune de
tous, sont,' constitus en hostilit ave c le royaume de
Dieu. Un germe fatal de thocratie est introduit dans
le monde. foi marcada e assim comentada: cCer
tam.
19
:..
A pag. 322, no perodo: c II s'en faut que dans
toutes les villes de la Galile l'accueil fait la nou-
velle doctrine fut galement bienveillanh, sublinhou
ii s'en faut e traduziu: c No se cuide.
A pag. 334, encontra se ste trecho : c Cette tuni
que de Nessus du ridicule, que le juif, fils des pha-
risiens, traine en lambeaux aprs lui depuis dix
huit sicles, c'est Jsus qui I' a tisse avec un ar ti
fice divin. Chetsd'reuvre de haute raillerie, ses traits.
257
se son inscrits em lignes de feu sur la chair de l'hy
pocrite et du faux dvot. Traits incomparables, traits
dignes d'un fils de Dieu ! Un dieu seul sait tuer de
la sorte. Socrate et Moliere ne font qu'effleurer la
peau. Celui- ci porte jusqu'au fond des os le feu et
la rage.:t
Camilo assinalou-o e apreciou-o : csoberbo !:t.
A pag. 3 1, a respeito da ressurreio de Lzaro,
escreve Renan: cPeut-tre Lazare, ple encore de
sa maladie, se fit-il entourer de bandelettes comme
un mcrt et enfermer dans son tombeau de famil-
le.:t
Camilo nota: cUma fraude impossvel, se Lazaro
era homem digno da amisade de Jesus ; e, se Jesus
condescendeu fraude, seria um impostor:t.
A pag. 364, onde ainda se trata do mesmo mila-
gre, h esta nota: cS pode bem comprehender esta
biographia quem 'a ler j despreoccupado da divind.e
de Jesus; mas q.
111
precizar provas da sua absoluta
humanid.e no as acha:t.
A pag. 407, falando de torturas infligidas a Jesus
pelos soldados e estranhando que a gravidade ro-
mana se prestasse a tais actos, Renan explica assim
o facto: cll est vrai que Pilate, en qualit de procu-
rateur, n'avait guere sous ses ordres que des trou-
pes auxiliaires. Des citoyens romains, comme taient
les lgionnaires, ne fussent pas desceudus de tel-
les indignits.:t
Camilo pe esta nota: c A resp. to de Malek -- era
soldado romano, ou legionario - centurio pag. 43l,:t
17
258
Nesta pagma notou com a palavra centurio a
passagem onde o autor diz que Pilatos mandou cha-
mar le centurion qui avait comman l'execu-
tion.
A pag. 423, fala Renan dos que injuriavam Jesus,
dizendo, entre outras cousas, que le, que salvara
outros, se no salvava a si prprio.
Nota de Camilo: cOs insultadores confessavam e
o sr. Renan confessa com elles, que Jesus tinha sal-
vado outros:..
A pag. 430, Renan cita oito autores para funda-
mentar a sua afirmao de que, segundo o costume
romano, o cadver de Jesus devia ficar exposto
voracidade das aves de rapina.
Camilo faz ste comentrio: cOue profuso de
citaoens p.a nada, e to parco, ou totalm.
1
" remisso
em coisas da maxima importancia !:.
A pag. 433, ocupa-se o autor da ressurreio de
Cristo. A esta passagem faz Camilo a sua crtica na
carta ao Visconde de Azevedo (Divindae, 27). A'
margem do livro francs escre\'eu uma nota, bas-
tante extensa, mas que foi truncada pela guilhotina
do encadernador.
conhecido de todos os biblifilos sse selvtico
costume dos castradores de livros, conhecidos por
encadernadores.
No fao, portanto, comentrios; alego simples-
mente o facto para me justificar da excluso desta
nob e de outras a que aconteceu o mesmo. fica
ram em tal estado que, para as reconstituir, eu teria
259
de colaborar com Camilo, e a tanto no me atre
vo.
A pag. 439, escreve o autor: cL'empire tait cer
tes plus loin encore de souponner que son futur
destructeur tait n. Pendant pres de trois cents ans,
il suivra sa voie sans se douter qu' ct de !ui
croissent des prncipes destins faire subir au
monde une complete transformation. Nota de Ca-
milo: c Como a civilisao caminha vagarosa!
Na pag. seguinte, diz Renan: cSditieuse au plus
haut degr, l'histoire de Ia Passion, rpandue par des
milliers d'images populaires, montra les aigles romai-
nes sanctionnant le plus inique des supp]ices, des sol-
dats l'excutant, un prefet l'ordonnant. Camilo ano-
tou: c Nos quadros da Paixo pelos grandes pintores
os soldados romanos no figuram . So os escribas
e os seus aguasis.
A pag. 443, Renan diz que Josefo se refere exe
cuo de Cristo em poucas linhas, e, em n o t ~ . es-
creve que essa passagem foi alterada por mo crist.
Camilo explica: cSe poemos chamar-lhe homem,
a intercallao a q. Renan allude na nota 2.
Nenhuma outra nota se encontra no livro de Re
nan. Nenhuma outra aproveitvel, bem entendido,
pois, cmo disse, outras h que o cutelo do encader-
nador inutilizou.
260
Notas a .:Le Cantique des Oantiques,
trad. de Renan
O exemplar anotado da 3. a ed. (1870). Tem no
catlogo da livraria de Camilo o n.
0
624, pertenceu
ao general Adolfo Loureiro e pertence hoje ao sr.
Joshua Benoliel que gentilmente me disse que o
possua e que o punha minha disposio para co-
lher as notas.
O livro tem no frontispcio a assinatura de Ca-
milo.
A traduo precedida dum longo estudo de R e
nan sbre o poema e nesse estudo nenhuma noh
se encontra.
Apenas o 4.
0
acto foi anotado.
Aparece a primeira nota a pag. 196, logo no
princpio, na primeira fala da Sulamita (]e iJors,
mais mon cceur veille ... }, e a seguinte: cEm
alguns devocionarios portuguezes este monologo da
Sulamita entra na composio das Meditaoens, Con
templaoens e exerccios espirituaes.
A pag. 198, diz a Sulamita: Mon amant a /e
teint blanc et vermeil . ..
Camilo anotou : cO m.ruo que o soliloquio ante
rior.
Na pag. 199, entre as palavras do cro : De que/
c6t est all ton amant. . . e as da Sulamita :
Mon amant est iJescendu dans son jariJin . .. , h
261
uma rubrica que diz : Les eux amants se retrou-
vent.
Camilo comentou: c No ha necessid.
6
de imagi-
nar o encontro. A Sulamile responde ao chro.:t
Nenhuma outra nota existe no livro.
Notas a um volume de Shakspeare
faz parte ste volume da Bibliotheque Anglo-
Franaise, ou Col/ection es Poetes Anglais les
plus estims e intitulase Chefs-'ceuvre e Sha-
kspeare. A edio bilingue, na pgina da esquer-
da o texto ingls, na da direita a traduo francesa.
Compreende o voiume a& trs tragdias Othello,
Hamlet e Macbeth, respectivamente traduzidas por
Le Bas, fouinet e Nisard. Cada uma das peas
precedida duma notcia crtica e histrica e seguida
de notas, umas e outras da autoria de D. O'Sullivan.
director da Bib/iotheque.
A edio de Paris, 1837 ; o exemplar anotado
pertena de Jorge de faria.
Como no livro de Renan, muitas das notas foram
mutiladas pelo selvagem que encadernou o volume.
felizmente, na maioria dos casos no difcil a re-
constituio do que Camilo escreveu. No ante-rosto
tem o livro o nome de Camilo e a data 1858. A pri-
262
meira nota aparece a pag. 1 O e uma das sabot
das pelo senhor encadernador. Consertei-a o melhor
possvel e creio que no ficou mal. O'Sullivan vai
fazendo as suas consideraes sbre o cime do
mouro e Camilo escreve: c Quantos Othellos p.r ar-
tes do diabo? Os ciumes infundados so ciladas dos
demonios incubos armadas aos maridos. E o pen-
samento de adulterio na mulher que , seno o de-
monio incubo ? A virtude ento um exorcismo,
uma batalha entre os dois anjos, na qual o das
trevas alcana s vezes espantosas victorias.
A pag. 27, comea a traduo do Othello. Logo
na primeira fala, v-se no original :
Tush, never tell me, I take it much unkinbly,
That thou, lago,-who hast ha() my purse,
As if the strings were thine, shoul'st know of this.
O tradutor escreve : c fi donc I pas un mot de
plus! C'est mal toi, lago. toi qui as toujours dis-
pos de ma bourse comme si tu en eusses tenu les
cordons, d'avoir eu connaissance de cette affaire ...
Camilo anotou: c No isto.
Na mesma pgina, diz o original:
RoiJ. - Thou told'st me, thou didst hold him in
thy hate.
lago- Despise me, if I do not.
A traduo diz :
263
RoiJ. - Cependant tu le haissais; tu me le disais
du moins.
lago - Mprisez-moi, si ce n'est pa la vrit.
Camilo observou : cNo isto - se eu o no abor-
recer, mereo o vosso desprezo.
A pag. 32, a frase palience, good sir foi tradu- -
zida por moiJrez-vous, mon bon seigneur.
Nota: No percebeu,:t
Na mesma pag., ao texto What profane wretch
art thou ? corresponde a verso Que/ est cet in-
fme coquin ?
Outra vez Camilo diz que o tradutor no perce
beu. E acrescenta: O profane escoria, ral, ca-
nalha.
A pag. 129, a frase Vi/lain, be sure thou prove
mv /ove false est assim em francs: cMisrable !
sache qu'il faut me prouveur que ma bien-aime
n'est qu'une prostitue.:t
Camilo sublinhou e marcou com um N esta lti-
ma palavra.
Na pag. 160, a frase rire and brimstone I fo
traduzida por Feux et tonnerre !
Camilo anotou: clnfernaes torturas !:t e a seguir :
c fogo! enxofre! traduz o freitas.:t
Refere-se a nota ao sr. Jos Antnio de Freitas,
escritor brasileiro h muitos anos residente em Lis-
boa.
A sua traduo do Othello foi publicada nesta
cidade, em 1882.
264
A pag. 231, na notcia de O'Sullivan sbre o
Hamlet, h o seguinte trecho transcrito de Bellefo
rest : c 11 y auroit fort discourir, si ce prince par la
violence de sa mlancolie recevoit telles impressions
qu'il devint ce que nul homme ne lui avoit jamais
Comentrio de Camilo: cA vista dupla dos
desgraados - a subtileza da alma depurada pela
A pag. 264, pregunta Hamlet: cAnd fix'd his
eyes upon you e Horcio responde: cMost cons
tantly. Na traduo lse respectivamente: Ses
yeux fixs sur vous ?-. Camilo su-
bstituu o advrbio por toujours.
A pag. 268, diz Oflia : No more but so ? Res
ponde Laertes: cThink it no more. Diz o tradu-
tor: cQuoi! pas davantage? Non, croyez-le bien.
Camilo traquz : c 56 ? S, accredita.
Na mesma cbest safety lies in est
traduzido: ela protection c'est la crainte
du danger. Escreve Camilo: c a melhor defeza
o medo.
Ainda na mesma pag., a expresso : cthough none
else near est sublinhada e assim traduzida por
Camilo: ainda m.mo sem estimules- espontanea
m.'
8
- de moto
A pag. 272, estr\ no original :
............... Tenber vourself more earlv ;
Or, (not to crack the winb of the poor phrase,
Wronging lt thus,) vou'll tener me a fool.
265
e na traduo: Estimez-vous un bien de plus haute
valeur, ou, pour ne pas torturer le sens de la phrase,
vous me feriez passer pour un fou.
Camilo escreveu, junto da traduo: No se
percebe, e ao lado do original : cqueres fazer de
mim tolo - ou me consideras parvo, pascacio. &.
A pag. 296, Mad for thy love est traduzido
cFou d'amour. Camilo sublinhou Maa e escreveu:
c desvairado.
A pag. 299 est bonjour traduzindo welcome.
Nota de Camilo: cBemvindos.
A pag. 344, anota assim o conhecido monlogo
To be, or not to be: cA these ser ou no ser
immortal. Infere-se do discurso q. segue. Se no
fosse o receio de maiores penas noutra vida, suici-
darse-hia, duvida -o ser ou no ser immortal
que sustem a mo suicida dos desgraados.
Esta nota uma das cortadas escovinha pelo
barbeiro que encadernou o livro. A fica restaurada
segundo as minhas posses.
Na mesma pgina, a frase: cThe undiscover'd
country, from whose bourn no traveller returns. me-
receu esta nota : vulgarid,e
A frase est assim traduzida: cCette contre in-
connue de laquelle ne revient nul voyageur.
A pag. 361, escreve o tradutor: cVoudriez-vous
bien jouer de cette flute?- ]e ne le puis.
Camilo anotou assim a reposta: cMal traduzido
e junto do original (/ cannot) escreveu: c No sei.
A pag. 372, est no original : clike a mildew 'dear
266
blasting his wholesome brolher. O tradutor verteu
assim: ccomme un pi gt par la nielle, a fait p-
rir son frere en le touchant de sa corruption.
Camilo escreve a sua traduo: c como espiga cor-
rupta de mangra contaminou de morte seu irmo in
corrupto.
E como o tradutor tivesse deixado ficar no tinteiro
o ltimo adjectivo, preguntou: ce wolhesome ?
curioso o facto de Camilo ter escrito seu irmo, se-
guindo a forma masculina do original, sem se lem
brar de que espiga do gnero feminino.
A pag. 374, haduziu a vice of kings por um
bobo real. Em francs est un roi e carnaval.
Na scena 4.a do 3.
0
acto, quando Hamlet est
recriminando a me, Camilo comenta assim as pala
vras da ranha: cEsta rhetorica no m em tama-
nha afflio ...
A pag. 378, diz Hamlet:
........ Forgive me this my virtue f
For in the fatness of these pursy times,
Virtue itself of vice must parllon beg ;
Yea, curb anl> woo, for leave to llo him gool>.
Camilo comenta: cBello !
A traduo francesa esta: cPardonnezmoi cette
vertu; car, dans ces jours ou la corruption domine,
la vertu doit demander au vice pardon de ce qu'elle
existe: oui, ii faut qu'elle se courbe et I ui fasse la
cour, pour obtenir la faveur de lui faire le bien.
A pag. 382, traduziu Oh heavp ee I por !for-
267
rena acc! O francs traduziu: O ouloureux
venement.
No final do 4.
0
acto, a ltima fala de Laertes foi
assim comentada: cParece incrvel que Shakspeare
fosse capaz desta rhetorica parvoiada !111 No 5.
0
acto
no dilogo de Hamlet com o coveiro, sbre a sua
prpria loucura, h esta pregunta feita pelo prnci
pe: cUpon what ground ?111 que o escritor francs
traduziu : c quel sujet ?111
Camilo nota no texto ingls : clntraduzivel com o
equivoco do original. Pode aproximar-se Em qu ?111
Na tragdia Macbeth h apenas duas notas, uma
traduo e outra obra.
A primeira na pag. 525. Diz o original: cthe
attempt, and not the deed, confounds us111 e a tradu-
o cC'est la tentative et non l'xecution qui peut nous
perdre.111
Camilo sublinhou as ltimas palavras e comentou :
cMal Ao lado do original traduziu : cnos
A outra nota no final da tragdia: cchato re-
E aqui fica o que a guilhotina do encadernador
deixou em termos de se poder entender.
268
Nota a um livro de M.me Rattazai
Chama-se o livro L'ombre ae la mort.
Do exemplar de Camilo, possui o meu amigo
Henrique Ferreira Lima apenas uma flha, aquela
em que est colado o retrato fotogrfico da autora.
Certamente o livro teria outras notas: oxal que
o seu poseuidor as publique.
Naquela flha h uma dedicatria da autora ao
visconde de Ouguela, datada de 21 de Maro de
1878, e por baixo esta nota de Camilo: cMandou-
me o meu amigo Visconde de Ouguella este exem
piar que a r,rinceza lhe enviara ; e eu mandei -lhe a
elle o exemplar que a princeza me tinha remettido .
Bom saber-se que n6s ambos tivemos quinho na
gloria dos Rodrigues Pereira e d'outros commen-
saes desta illustre senhora a quem desejo tanto juiso
que faa eclipsar o talento. C. Cast.
0
Br. - S. M.
de Seide 79. Jan.
0
3.
foi esta nota escrita entre a estada de Madame
em Portugal e a publicao do seu clebre livro,
cujo prefcio datado de 1 de Novembro daquele
ano de 1879.
Assim se explica a benevolncia da nota. Bem di-
ferente seria ela se Camilo a tivesse escrito depois
de conhecer o Portugal a vo de pssara, con-
soante a sua traduo adequada ao sexo de quem
produzira o volume. Do seu folheto A Senhora
269
Rattazzi, fez Camilo uma nova eio mais in
correcta e augmentaa; se tivesse tido mais um
ano e meses de vida, teria, talvez, modificado, em
novissima edio aina mais incorrecta e aug-
mentaa, o gnero do oiseau, pois teria chegado
ao seu conhecimento certo processo que nos tribu
nais franceses foi julgado em 17 de Dezembro de
1891.
O escndalo de tal processo seria campo vasto
para o sarcasmo camiliano .
A tragdia do primeiro de Junho de 1890 livrou
a velha panega vaoia de mais algumas amabili-
dades de Camilo.
E, quanto ao ponto de que se trata, remeto o lei
tor curioso para o livro A Vida Sexual, do sr. Dr.
Egas Monis, onde, na parte da patologia, o caso
vem minuciosamente descrito.
Notas a um livro de Manuel Fernandes
Vila Real
Intitula-se Epitome Genealogico el Eminen
tissimo Carenal Duque e Richelieu v Discur"
sos Politicas sobre algunas acciones e su via,
e foi impresso em Pamplona, em 1641.
Na guarda do exemplar escreveu Camilo: cDeste
270
livro colheram os inquisidores as maximas que co
operaram na accusao q. levou v.a Real fogueira.
Essas maximas foram expungidas na 2.a edio da
o b r a t ~ .
No verso da mesma guarda ps as suas iniciais e
a nota: Raro. 4500 rs.
Mais abaixo escreveu: Este exemplar tem o re
trato de Richelieu q. m.tos exemplares no tem, e a
.arvore genealogica. No frontispcio anotou: cA ln
quisio no mutilou neste exemplar as passagens q.
lnnocencio diz t;zr aspado em diversas pag. A 2.
8
edio foi m.'
0
expurgada. C. C. Br.
Estas trs notas aparecem, resumidas, no <:atlogo
do leilo dos livros de Camilo, onde ste tem o n.
0
333.
Nesse leilo foi o exemplar vendido por 2050 rs.,
COnforme nota do comprador que suponho ter sido
Jaime Monis. No leilo dos livros dste professor,
recentemente feito, foi comprado por 351$00, pelo
sr. }oshua Benoliel.
No catlogo dste leilo foram publicadas algumas
das notas, muito alteradas e falsamente atribudas,
em parte, a Jaime Monis.
No frontispcio, por baixo do nome do autor, h
ainda esta nota: Garrotado e queimado como judeu
em Lx.a em 1652. A propsito desta data; chamo
a ateno do leitor para o que fica dito a pag. 191
tiste volume.
Na j referida guarda escreveu Camilo o seguin
-te: Bayle e o Cavalheiro de Oliv. dizem em desa
271
bono de v. Real; Mmd.e (sic) de Saintonge diz
bem- a.m m.
8
o accusou na lnquisiso, onde foi
garrotado em 1652, foi o p.e Fr. Franc.
0
de S. Agost.
0
de Macedo- D. Fr.o M.e
1
de Mello tambem des
favoravel ao aut.
Nas Noites de lnsomnia (n.
0
11) e nos Narco
ticos (I, 77 e seg.), lugares que j citei a propsito
das notas ao livro de Henriques Gomes, encontram
se referncias a Mad. de Saint'Onge e ao padre Ma
cedo, denunciante do hebreu.
Cita Camilo a opinio de D. Francisco Manuel
sbre o autor do livro.
no ffospital as Letras que o escritor se re
fere ao Politico Christiano, 'aque/le esventu-
rao politico M. F. V. que no igno e ser
nomeado.
Creio ser ste o ponto a que Camilo alude.
D. Francisco Manuel cita a 2.a ed. do Epitome
Genealogico, que saiu em 1642, tambm em Pam
plona, com o ttulo - E/ Politico Christianissimo
o Discursos Politicas sobre algunas aciones de
la via el em.mo sr. Carenal Duque e Riche
li eu.
Quanto a Bayle e ao Cavaleiro de Oliveira nada
sei dizer sbre os lugares em que se ocupam de Vila
Real.
No interior do livro h apenas -duas notas de
Camilo.
A primeira na carta-dedicatria do autor a Ri
chelieu, onde le fala de un ichoso Reino, que
272
Jespues de tantos anos Je opression recobraJo
su natural Rep e sefor.
Camilo anotou : cPortugah.
A segunda encontra-se na pagma que se segue
ao retrato de Richelieu e em que h um soneto de
Antnio Henriques Gomes, o autor de El Siglo
Pitagorico.
A seguir ao nome dele escreveu Camilo: cHe-
breu.:t
Nenhuma outra nota tem o exemplar que me foi
cedido espontneamente pelo sr. Benoliellogo que o
adquiriu.
la j muito adiantada a impresso dste volume,
pelo que esta notcia teve de ficar para o fim, depois
das relativas a livros de escritores estrangeiros.
...
APENDICE
18
Estava j quase completa a impresso dste tra-
balho, quando o sr. Antnio Belo cedeu ao editor,
para no livro ser publicada, uma carta de Camilo.
T am gentil como valiosa, a oferta no era de re-
jeitar.
Vai, por isso, a carta neste lugar, visto no ter
vindo a tempo de entrar na primeira parte.
foi ela dirigida ao Dr. Antnio Augusto Ferreira
de Melo que, por decreto de 22 de Agosto de 1 8 7 0 ~
foi agraciado com o ttulo de Visconde de Moreira
de Rei.
Em 1866 publicou sse jurisconsulto, ento advo-
gado no Prto, um livro intitulado Theoria ao Di-
reito ffypothecario e ao Registro Preial.
Em apndice a essa obra, faz a historia do esta-
belecimento do registo predial na legislao portu-
guesa, atacando violentamente o Dr. Antnio Aires
de Gouveia que no ano anterior, de 5 de Maro a
17 de Abril, fra ministro da justia num gabinete
presidido pelo Marqus de S da Bandeira.
Principia o apndice por um prembulo em que
Ferreira de Melo se refere ao facto (vulgar j na-
qu<!la poca, e no fruta do tempo presente como,
de boa ou de m f, muitos agora dizem) de com
276
facilidade triunfarem e conquistarem os primeiros lu
gares na poltica e na administrao indivduos sem
competncia.
Nessas consideraes preliminares critica o autor
o fenmeno que exprime por esta frmula -- basta
um homem ser tolo para entre ns se experi-
mentar logo como sabio !
No contente com essas e outras palavras, igual-
mente contundentes, transcreveu ainda, em refro
da sua opinio, ste trecho com que abre o cap. IX
do romance A QueJa d'um Anjo que nesse ano de
66 fra publicado em volume, depois de ter apare-
cido em folhetins no ]ornai oo Commercio: cO
dr. Liborio de Meirelles, sujeito de trinta e dois an
nos, C'lra honesta, e posturas contemplativas, reunia
os predicados que nos outros paizes ou passam des
percebidos, ou so solemnisados pela irriso publica;
mas, em Portugal, taes predicados alam o home:n
ao cume da escala politica, e dolhe escolta de ab-
surdos propcios at onde o parvo laureado quer
guindar se.:.
Como preparatrio do ataque a Aires de Gouveia,
no podia o autor escolher nada melhor do que a
citao daquelas palavras de Camilo a respeito do
Dr. Librio.
Era a melhor arma pela oportunidade, conhecida,
como era, de todo o pblico letrado, a caricatura do
Dr. Antnio Aires no livro que tinha ento apare
ciclo.
O prprio Camilo achou que Ferreira de Melo
277
era inexorave/, como lhe diz na carta que lhe es
creveu e que a amabilidade do sr. Antnio Belo
permitiu que agora se tornasse conhecida dos admi-
radores do Mestre. Era muito antiga a m vontade
de Camilo a Aires de Gouveb, a quem ainda em
1872, quando le j era bispo eleito do Algarve,
chamava depreciativamente o snr. pare Antonio
Avres do Porto, como se v no Carrasco e Vi
ctor Hugo Jos Alves, pag. 90.
Os factos que determinaram essa malquerena es
to minuciosamente historiados no cap. II do Ca-
millo esconhecio, do sr. Dr. Antnio Cabral, livro
indi3pensvel a quem pretenda estudar a vida e a
obra do escritor.
Na carta cita Camilo um verso de Garrett (Dona
Branca, canto III), aplicandoMo a Aires de Gouveia.
Mais tarde, em 1879, na Bibliographia Portu-
gueza e Estrangeira, (1, 131), fechou o seu artigo
a respeito do sr. Dr. Srgio de Castro, reproduzido
depois no folheto Os Criticas o Cancioneiro Ale-
gl'e, por ste modo :
cMas o melhor de tudo, sr. Sergio, a receita
de G a r r e ~ t :
Em paz e s moscas.
Como se v, tinha uma certa predileco pelo
verso garretiano, para o receitar aos adversrios.
Aparecem tambm na carta os pinhaes que ge-
mem, de que j falava no Amor eSalvao (1864)
278
a pag. 41: cA casa, onde vivo, rodeamna pinhaes
gementes, que sob qualquer lufada desferem suas
E no mesmo livro, pag. 11-12: cNem j a rama
dos pinhaes rumorejava aquelle seu saudoso so-
nido ...
Segue agora a carta, que j no sem tempo .
*
Meu caro F. de Mello
Li ja o appendice. Magnifico f
Voc inexoravel. Eu, verd.e verd.e, esqueci a
besta no monturo, e disse-lhe como o Tolentino:
Vai misero cavai/o lasarento . ..
Parodie::-.1os :
Vai misero 6ouvea fedorento . ..
No fazemos nada. Aquelle Achilles, graas ao
rebitado da ferradura, nem pelo calcanhar vulne-
ravel.
Deixemolo
Em paz e s moscas, q assim vai o muno
Disia o Garrett, q. era intendido de javardos.
279
Eu por aqui ficarei todo o inverno a estudar.
Quadra-me isto. Os pinhaes gemem d'aqui a dias, e
eu intendo-os. Sou esperto !
Escreva m.to, mande-me tudo q. for seu, e man-
de-me no que for seu como a
Seibe 26
amigo m.to sincero
~ e Agt.o e 1866.
Camillo Cast.o Br.
ADITAMENTOS
lPag. 152
No seu livro Entre Ns, a pag. 12 73, referese
Silva Pinto ao exemplar do Romanceiro e publica
a nota que Camilo escreveu na fotografia de Incio
Pizarro.
Pag. 165
Camilo nunca chegou, creio, a tratar desenvolvi-
damente de Jos Daniel, talvez por no ter tido o
tempo e a pachorra de que fala na nota.
Todavia, algumas vezes se referiu ao inofensivo
choramingas. Lembro-me agora dos Echcs ffu
moristicos i)o Minho (1, 4) em que, falando do hu-
mor, chama ao de Jos Daniel- humor ile ps
ftiilo.
Pag. 169
No romance A Via-Sacra (St!roens, III, 19) fala
Camilo dos versos de Castilho, feitos a uma secular
ile Vairo.
Como se v, le proprio a contradizer-se, cha
284
mando secular mesma senhora que na nota diz
ter sido freira.
Pag. 197
Como complemento da nota a respeito de Nunl-
vares, deve lerse a primeira parte do cap. XIV do
livro Cavar em Runas, onde Camilo, a propsito
do poema de Rodrigues Lbo, pe seus embargos
santidade do Condestvel.
Pag. 210
Os dois versos de Filinto, marcados por Camilo a
pag. 38 do Vert-Vert, foram tambm citados na po
lmica com Alexandre da Conceio (Bohemia o
Esprito, 439).
Pag. 211
Tambm nas Scenas da Foz {pag. 100 da 2.a
ed.) h uma referncia a Jorge Artur e ao seu epi-
tfio que, na opinio de Camilo, no iz naa.
Pag. 217
Em outro lugar, ainda, Camilo, se ocupa conjun
tamente de Espronceda e Musset. E' no Corao
Cabea e Estomago, cap. III da primeira parte.
EMENDAS
Pag. 61,linha 10- Jantei
" 80, " 28 - prox.a
" 134, " 25 - corao
" 143, " 13 - j
"
170,
"
9 - nome prprio,
"
245,
"
18- mesma
"
256,
"
18- sont constitus
"
" .
"
30- Chefs
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NDICE
Prefcio..................... . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
PRIMEIRA PARTE
lntrouo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Cartas a:
D. Ana Plcio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Nuno Castelo Branco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Jorge Castelo Branco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. .. 74
Peito e Carvalho. . .. .. .. .. .. . .. .. .. . . .. .. . . .. 74
Actor Dias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Reactor ()o Jornal do Porto . . . . . . . . . . . . . . . 75
Cone e Prime . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
Um esconhecio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Pereira Calas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Costa Santos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
Anibal Fernanes Toms ................ , .. . .. . 89
Aolfo Loureiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Silva Pinto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Ernesto Charron .. .. .. . .. .. .. .. .. .. .. . . .. . ~ I
SEGUNDA PARTE
Notas em lir-ros de:
Garrett ......................... ; . . . . . . . . 113
Antero e Quental . .. .. .. . .. .. . . .. . . . . . .. .. .. . 118
Fialho e Almeia ......... ..................... 140
Latino Coelho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . I 5o
288
Incio Pizarro ....... -.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
Simes Dias............ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
Petronilo Lamaro.... . . . . . . . . . . . . .. .. .. . . . . . .. 156
Trres be Lima ...................... - . . . . . . . . 156
Silva Pinto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
Jos Liberato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
fr. Joaquim be Santa Clara .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . 160
Jos Daniel...................................... 165
Inocncio. -. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
Luz Soriano -. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171
Antnio Henriques Gomes ............... -........ 190
P. Antnio bos Reis...................... . . .. . .. 193
Canais be figueireo Castelo Branco ........... - . 196
fr. Lus e Sousa .. -................. . .. . . . .. . . 198
Ea be Queirs . ~ . .. . .. . .. . .. .. .. .... _ .. _ . .. . . . 202
Pero I v o ............... _ . . . . . . . . . . . . . . . . . 207
Filinto EUsio .. . . . .. . . .. .. . . .. . .. . . .. . .. . . .. .. 208
Slvio Dinarte . . . . . . . . . . . -....... _ . . . . . . . . . . . 212
Suetnio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 213
Phiiarete Chasles ........................ . . . .. . 215
Maame Lafarge. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 245
Renan ..... -. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24i
Shakspeare . . . . . . . . . . . . . . .................... -. 261
Mabame Rattazzi . .. . . .. . . . .. . .. .. .. . . . .. .. . . .. 268
Manuel fernanbes Vila Real.. . . . . . . . . . . . . . . . . . 269
APNDICE
Carta ao Viscone e Moreira e Rei. . . . . . . . . . . 278
Aitamentos................. . . . . . . . . . . . . . . . . .. 281
Emenas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 285
COMPOSTO B IMPRESSO NA IMPRI!JI5A DE MANUEL LUCAS TORRES
IIUA DO DIA RIO DE JIOTICIAB, 59 B 61, LISBOA