Sinalização de Trilhas: Importância e Eficiência
Sinalização de Trilhas: Importância e Eficiência
Sinalização de Trilhas: Importância e Eficiência
Vanessa Andretta
Turismóloga e Mestranda em Ciências Florestais, Universidade Federal de Lavras
- UFLA, E-mail: [email protected]; Tel: (35) 3829-1122/ 9127-6424
Resumo
As trilhas em áreas naturais são a principal ligação entre o visitante e o ambiente
natural. Elas podem conduzir o visitante aos atrativos ou ainda ser o próprio atrativo. Para
que as trilhas tenham uso adequado, sofram o mínimo impacto e realizem seu papel
integralizador do visitante com o ambiente natural, a sinalização é fator primordial. Em
muitas Unidades de Conservação e áreas de uso público os visitantes não contam com o
auxílio de guias. As placas servem como principal meio de comunicação entre o visitante
e os gestores da área. A introdução de placas de sinalização em trilhas é uma importante
ferramenta de manejo. Esta sinalização pode se restringir a oferecer informações sobre:
localização, acesso, alertas sobre áreas de risco, regras e proibições ou ainda, servir
como instrumento para a interpretação ambiental e educação ambiental. O uso de placas
de sinalização podem ser um meio eficiente de comunicação com o visitante, porém
existem alguns requisitos importantes para assegurar esta eficiência. As placas devem
ser harmoniosas com o ambiente; devem ser construídas com matérias primas locais que
ofereçam resistência e durabilidade; devem conter mensagens objetivas com linguagem
adequada; devem ser apresentadas em todo percurso dando continuidade à
comunicação; podem apresentar pictogramas comumente utilizados no trade turístico
agilizando a comunicação; podem apresentar linguagem persuasiva que motivem o
visitante a seguir as orientações oferecidas; dentre outras orientações que podem garantir
o sucesso dessa comunicação. O presente trabalho de análise e reflexão teórica tem o
objetivo de analisar a importância da sinalização de trilhas, a fim de garantir a satisfação
do visitante e principalmente auxiliar os gestores de áreas naturais para conservação das
mesmas.
1. Introdução
Trilhas são um tradicional meio de deslocamento, que podem ser definidos
simplesmente como caminho estreito em meio natural que promove o deslocamento entre
os pontos A e B. Porém, as trilhas são caminhos que permitem que o transeunte
atravesse não só o espaço geográfico, como também o espaço histórico e cultural. A trilha
não é apenas o meio que leva o visitante ao atrativo, ela é também a inserção do homem
ao ambiente, podendo ser o próprio atrativo. Podem ser utilizadas como meio de acesso,
como instrumento educativo, como ferramenta recreativa, dentre muitos usos.
Para GUILLAUMON (1977) as trilhas são percursos em um sitio natural, que
propiciam explicações sobre o meio ambiente flora, fauna, fenômenos naturais, usos e
hábitos do local.
SALVATI (2006) afirma que trilhas são caminhos existentes ou estabelecidos, com
diferentes formas, comprimentos e larguras, que possuam o objetivo de aproximar o
visitante ao ambiente natural, ou conduzi-lo a um atrativo específico, possibilitando seu
entretenimento ou educação através de sinalizações ou de recursos interpretativos
Um sistema de trilhas é formado por um conjunto de caminhos e percursos
construídos com diversas funções, desde a vigilância até o turismo. Dentre os objetivos
de um sistema de trilhas está a percepção da natureza, ferramenta indispensável para o
manejo de Unidades de Conservação, pois desperta nos visitantes a idéia da importância
desta região. (DUTRA & HERCULIANI) apud. (PAGANI et al., 1997)
As trilhas são classificadas quanto à função (educativas, administrativas,
recreativas, interpretação do ambiente natural e viagens de travessia), quanto à forma
(circular, oito, linear e atalho) e quanto ao grau de dificuldade (caminhada leve, semi-
pesada e pesada) (ANDRADE & ROCHA, 1990).
Se bem construídas e devidamente mantidas, as trilhas protegem o ambiente do
impacto do uso e ainda asseguram aos visitantes maior conforto, segurança e satisfação,
tendo papel significativo na experiência do visitante e na impressão que este levará sobre
a área visitada.
Apesar das trilhas proporcionarem esta importante interação entre o homem e o
ambiente, elas também proporcionam efeitos adversos. Iniciando pela superfície da trilha,
onde a área afetada pode ser de um metro a partir de cada lado, elas facilitam o
crescimento de plantas tolerantes à luz. O constante pisoteio na trilha acaba destruindo as
plantas por choque mecânico direto e pela compactação do solo. A erosão do solo expõe
as raízes das plantas, dificultando sua sustentação e facilitando a contaminação por
pragas. Os caminhantes também trazem novas espécies para dentro do ecossistema,
principalmente gramíneas e plantas daninhas em geral As trilhas provocam impacto
físico, visual, sonoro e, até, de cheiro. (GUILLAUMON, 1977).
Estes impactos ambientais decorrentes do uso de trilhas são inevitáveis, a questão
a ser discutida é: em que intensidade esses impactos podem ser aceitáveis? É preciso
observar também que o uso de trilhas é uma forma de concentrar e restringir o impacto
ambiental a um itinerário restrito.
O manejo de trilhas é uma ferramenta indispensável às áreas naturais que
recebem uso turístico. Para que o manejo se efetive é necessário realizar um
levantamento de informações e uma coleta de dados sistemática, além de monitoramento
destes impactos, buscando adaptar os métodos de monitoramento por indicadores para
verificação das condições e de amostragem utilizados.
Porém, ainda estamos longe de definirmos como as peculiaridades de cada local
afetam a aplicação de tais métodos e seus indicadores, para podermos adaptá-los e
aplicá-los com facilidade em cada situação encontrada. Isto porque faltam experiências
com o uso destes métodos relatando quais as dificuldades enfrentadas, as soluções
adotadas e seus resultados nas diferentes situações de uso de trilhas observadas no
Brasil (ALVES, 2004).
Dentro das possibilidades dos métodos de manejo de trilhas têm-se diferentes
estratégias para transformar as trilhas em oportunidades prazerosas de educação
ambiental, traduzindo para o visitante os fatos que estão além das aparências, tais como
leis naturais, interações, funcionamentos, história ou fatos que, mesmo aparentes, não
são comumente percebidos, desenvolvendo um novo campo de percepções.
O trabalho de educação ambiental e de interpretação ambiental são as ferramentas
que podem surtir em resultados positivos para a conservação ambiental. Para tanto, são
utilizados dois métodos para desenvolver este importante trabalho: as trilhas guiadas e as
trilhas auto-guiadas, descritas por SALVATI (2006a) como:
Trilhas guiadas são aquelas acompanhadas por guias ou condutores. Sua principal
característica é o estabelecimento de um canal de comunicação e uma relação afetiva
entre o intérprete e os visitantes. A preparação física e técnica, e os conhecimentos
ecológicos do guia/ condutor de ecoturismo são os principais instrumentos de
investigação e interpretação da região a ser conhecida. Além disso, a vocação natural e a
experiência do guia/ condutor de ecoturismo também são fundamentais para o sucesso
da trilha. A preparação, o conhecimento e a experiência para a interpretação de trilhas
são adquiridas em cursos especializados, em livros, praticando caminhadas e
acompanhando o trabalho de guias/ condutores de ecoturismo mais experientes ou de
mateiros.
As trilhas guiadas são uma boa forma de garantir um contato positivo entre
visitante e a comunidade local, além de oferecer oportunidades de renda à comunidade
receptora.
Já as trilhas auto-guiadas tem como principal função facilitar a caminhada e
permitir o contato dos visitantes com o meio ambiente sem a presença do guia. Assim,
recursos visuais e gráficos indicam a direção a seguir, os elementos a serem destacados
(árvores nativas, plantas medicinais, ninhos de pássaros etc.) e os temas desenvolvidos
(mata ciliar, recursos hídricos, etc.).
As trilhas auto-guiadas oferecem mais liberdade aos visitantes, porém, podem ser
um risco tanto ao visitante, como ao ambiente, caso o mesmo não julgue necessário
atentar-se as comunicações visuais.
Desta forma é mais aconselhável o uso de guias/ condutores locais, mas nem
todas as destinações ecoturísticas contam com guias capacitados para o ecoturismo,
neste caso é essencial que se estabeleça algum tipo de comunicação com o visitante.
A introdução de placas de sinalização em trilhas pode ser uma importante
ferramenta de manejo. Esta sinalização pode se restringir a oferecer informações sobre:
localização, acesso, alertas sobre áreas de risco, regras e proibições ou ainda, servir
como instrumento para a interpretação ambiental e educação ambiental.
Mas como se comunicar com o visitante através de placas? Essa comunicação
pode ser eficiente?
O objetivo do presente trabalho é descrever a importância da sinalização de trilhas
por meio de placas, e os cuidados necessários para que se possa obter resultados e
efeitos positivos tanto com relação ao visitante como para a conservação ambiental.
2. Necessidade da Sinalização em trilhas
É através da sinalização que são oferecidas informações que substanciam o senso
de posicionamento e o reconhecimento espacial, além de suprir as necessidades básicas
para deslocamentos em lugares desconhecidos do visitante. Muitas áreas naturais de uso
público e Unidades de Conservação (UC´s) carecem de sinalização quanto à localização,
acesso, nome do local, risco de acidentes, possíveis dificuldades, dentre outras
informações que podem por em risco o visitante desinformado.
As destinações turísticas brasileiras contam com o auxílio do Guia Brasileiro de
Sinalização Turística, que é um trabalho desenvolvido pela EMBRATUR com o objetivo de
orientar os gestores de áreas publicas e privadas envolvidas com o turismo, sobre a
melhor forma de sinalizar uma localidade turística.
De acordo com o Guia Brasileiro de Sinalização Turística (EMBRATUR, 2001) “a
finalidade da sinalização é orientar os usuários, direcionando-os e auxiliando-os a atingir
os destinos pretendidos. Dessa forma, para garantir sua homogeneidade e eficácia, é
preciso que seja concebida e implantada de forma a assegurar a aplicação dos objetivos
e princípios básicos:
a) Legalidade;
b) Padronização;
c) Visibilidade, legibilidade e segurança;
d) Suficiência;
e) Continuidade e coerência
f) Atualidade e valorização
g) Manutenção e conservação “
Porém, no caso especifico de sinalização em áreas naturais deve-se atentar as
peculiaridades. Perder-se em local desconhecido não é nada agradável, contando ainda
que o visitante na maior parte das vezes está: a pé, com poucos suprimentos (água e
alimentos), sem abrigos, sem equipamentos de comunicação e muitas vezes assustado e
cansado.
A presença de placas de sinalização em áreas naturais é primordial em qualquer
localidade que receba visitantes, podendo garantir a segurança destes, e demonstrando
respeito e cuidado com os mesmos.
Em muitas UC´s e áreas de uso público os visitantes não contam com o auxílio de
guias, as placas servem como principal meio de comunicação entre o visitante e os
gestores da área. Informações sobre a conduta do visitante e sobre cuidados especiais
também devem ser comunicadas através desse meio.
Alguns gestores de áreas naturais optam por comunicar-se com seus visitantes
através de folhetos e folders. Esta prática deve ser realizada com cautela, já que muitos
desses folhetos ou folders acabam sendo descartados pelos visitantes nas trilhas, o que
pode gerar mais lixo.
6- Público-alvo
Para a elaboração das mensagens a serem transmitidas através das placas é
preciso conhecer inicialmente quem é o público alvo.
Tratando-se de UC´s e áreas de uso público destinadas ao ecoturismo existem
estudos que traçam um perfil destes visitantes.
De acordo com os estudos de BARROS & DINES (2000) e WEARING & NEIL
(2000) os ecoturistas são em maioria de classe média, tem entre 23 e 30 anos e possuem
nível superior completo, e se orientados podem apresentar alto grau de comprometimento
para conservação ambiental
BRACKENBURY citado por SALVATI (2006b) comenta que os consumidores do
ecoturismo tem dado maior atenção aos produtos que dão suporte às comunidades
locais, incrementam a conservação e educam seus clientes sobre como minimizar os
impactos ambientais e como respeitar as culturas locais. De modo geral, querem
informações sobre o destino, as características do meio ambiente e da cultura local.
SALVATI (2006b) cita os resultados da pesquisa da Ecosfera (2001) relacionada
ao perfil dos ecoturistas como:
“- Oriundos de grandes centros urbanos, vivendo cotidianos agitados, estressantes e
isento de contato com a natureza;
- São ávidos por um contato positivo com o meio ambiente e atividades de relaxamento,
contemplação e lazer;
- Procuram acesso às informações sobre o meio ambiente e sobre problemas ambientais;
- Procuram ambientes e culturas diferentes, incomuns e até exóticos, inclusive sobre o
pretexto do "antes que acabem”;
- Possuem bom nível cultural e educacional (maioria possui nível superior) e financeiro;
- Estão situados na faixa etária de 25 a 40 anos;
- Possuem consciência de que pagam mais caro por programas culturalmente e
ambientalmente corretos;
- São preocupados com a qualidade do ambiente e com a qualidade de vida da
comunidade local.”
Tendo em vista este perfil, acredita-se que a linguagem apresentada nas placas
pode ir além de sinalizar localização, acesso, alertas sobre áreas de risco, regras e
proibições, é possível transmitir informações técnicas a estes ecoturistas, que muitas
vezes tem interesse em compreender melhor os processos ecológicos, conhecer o nome
de espécies da fauna e flora, entender costumes locais e principalmente compreender o
limite do seu espaço para que promova o mínimo impacto.
A interpretação ambiental é uma importante e interessante ferramenta, mesmo
com diferentes enfoques continua sendo uma tradução da linguagem da natureza para
linguagem comum das pessoas, fazendo com que percebam um mundo que nunca
tinham visto antes. E tem sido um dos meios mais utilizados para a sensibilização
ambiental.
A forma como esta tradução é feita é que diferencia a interpretação da simples
comunicação de informações. É uma forma cativa que provoca e estimula a reflexão, com
uma comunicação amena, pertinente, organizada e temática. (VASCONCELLOS, 1997)
7. Considerações finais
A introdução de placas de sinalização em trilhas não substitui o importante
trabalho de guias e condutores em UC´s e áreas de uso publico destinadas ao
ecoturismo, porém, sabe-se que a sinalização pode ser uma importante ferramenta de
manejo contribuindo para a sensibilização, conscientização e conservação ambientais.
Alguns cuidados especiais devem ser observados na introdução desta sinalização
para que esta garanta sua eficiência como:
- as placas devem ser harmoniosas com o ambiente;
- devem ser construídas com matérias primas locais que ofereçam resistência e
durabilidade;
- devem conter mensagens objetivas com linguagem adequada;
- devem ser apresentadas em todo percurso dando continuidade à comunicação;
- podem apresentar pictogramas comumente utilizados no trade turístico agilizando
a comunicação;
- podem apresentar linguagem persuasiva que motivem o visitante a seguir as
orientações oferecidas;
- dentre outras orientações que podem garantir o sucesso dessa comunicação.
Aproximar o ecoturista do ambiente natural é um dos objetivos desta comunicação.
Utilizar-se de métodos que desenvolvam a interpretação ambiental e educação ambiental
pode ser garantia de eficiência para a sinalização ecoturística.
8. Referências bibliográficas
ALVES, R. G. Manejo e monitoramento de impactos causados pelo uso recreativo em
trilhas ecoturísticas. Lavras: UFLA, 2004. 82p.
CITELLI, A. Linguagem e persuasão. 15. ed. Série princípios. São Paulo: Ática, 2003