O Poder Do Sangue de Jesus - Andrew Murray

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PREFÁCIO

Este livro é uma tradução de parte de uma série de preleções de meu


falecido pai, Rev. Andrew Murray, M.A., D.D., sobre "O Poder do Sangue de
Jesus", que até agora só foram publicadas em holandês.
O tradutor (do holandês para o inglês) é o Rev.William M. Douglas, B.A.,
que durante muitos anos foi o amigo íntimo de meu pai, tendo-se asso-
ciado com ele ao Movimento da Convenção de Keswick, na África do Sul.
Meu pai autorizou o Rev. Douglas a traduzir seu livro "A Vida de Oração", e
este ficou sendo o seu biógrafo após o seu falecimento.
Li o manuscrito, e acho que a tradução é excelente. Reproduziu com
exatidão os pensamentos de meu pai.
Tenho certeza de que muitas bênçãos resultarão da leitura destes
capítulos, em espírito de oração e meditação.
Sentindo confiança de que você prezará a experiência do poder do Sangue
Precioso de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, e viverá nela,
Saúdo-no no serviço do Bendito Mestre, M.E. Murray
"Clairvaux",
Wellington, C.P., República Sul-Africana.
NOTA DO TRADUTOR: É necessário lembrar-se que no decurso de todos estes
capítulos, o Dr. Murray se refere somente ao "Sangue Sacrificial". O SANGUE na
Bíblia é sempre deste tipo.
Deve ser notado, ao ler o Capítulo III, que a Bíblia em holandês, que o Dr. Murray
usava, tem a palavra VERZOENING para denominar PROPICIAÇÃO. VERZOENING
significa RECONCILIAÇÃO, e esta é a palavra usada nesta tradução.
CONTEÚDO

I — O que as Escrituras Ensinam Acerca do Sangue


II — A Redenção pelo Sangue
III - A Reconciliação pelo Sangue
IV- A Purificação pelo Sangue
V - A Santificação pelo Sangue
VI - Purificado pelo Sangue para Servir ao Deus Vivo
VII - Habitando no "Santo dos Santos" pelo Sangue
VIII- A Vida no Sangue
IX - A Vitória pelo Sangue
X — Gozo Celestial pelo Sangue
Capítulo I
O QUE AS ESCRITURAS ENSINAM ACERCA DO SANGUE
"Não Sem Sangue"- Hb 9:7e 18

Deus nos falou nas Escrituras muitas vezes, e de muitas


maneiras; mas a VOZ é sempre a mesma, é sempre a PALAVRA do
mesmo DEUS.
Daí a importância de tratar a Bíblia como um todo, e de
receber o testemunho que dá nas suas várias porções, concernente
a certas verdades específicas. É assim que aprendemos a
reconhecer o lugar que estas verdades realmente ocupam na Reve-
lação, ou melhor, no CORAÇÃO DE DEUS. Assim, também,
começamos a descobrir quais são as verdades fundamentais da
Bíblia que exigem atenção acima de tudo o mais. Visto que constam
de modo tão destacado em cada novo avanço na revelação de Deus;
que permanecem imutáveis quando a Dispensação muda, levam
consigo uma intimação divina da sua importância.
É meu objetivo, nos capítulos que se seguem a este capítulo
introdutório, demonstrar aquilo que as Escrituras nos ensinam
acerca do PODER GLORIOSO DO SANGUE DE JESUS, e das bênçãos
maravilhosas que ele obteve para nós; e não posso lançar um
fundamento melhor para a minha exposição, nem dar uma prova
melhor da glória superlativa DAQUELE SANGUE, COMO SENDO O PO-
DER DA REDENÇÃO, do que senão pedir aos meus leitores que me
sigam pela Bíblia afora, para ver, assim, o lugar sem igual que é
atribuído AO SANGUE, desde o princípio até ao fim da revelação de
Deus de Si mesmo aos homens, conforme o registro na Bíblia.
Ficará claro que não há nenhuma idéia bíblica, desde o Gênesis
até ao Apocalipse, perceptível de modo mais constante e destacado,
do que aquela que é expressada pelas palavras "O SANGUE".
Nossa pesquisa, então, é centrada no que as Escrituras nos
ensinam acerca do SANGUE:

PRIMEIRAMENTE, NO ANTIGO TESTAMENTO;


EM SEGUNDO LUGAR, NO ENSINO DE NOSSO SENHOR
JESUS CRISTO MESMO;
EM TERCEIRO LUGAR, NAQUILO QUE OS APÓSTOLOS
ENSINAM; E FINALMENTE O QUE S. JOÃO NOS CONTA DELE
NO APOCALIPSE.

I. APRENDAMOS O QUE O ANTIGO TESTAMENTO ENSINA


Seu registro acerca DO SANGUE começa nos portões do Éden.
Não entro nos mistérios não revelados do Éden. Mas em conexão
com o sacrifício de Abel, tudo fica claro. Trouxe "das primícias do
seu rebanho" ao Senhor como sacrifício, e ali, em conexão com o
primeiro ato de culto registrado na Bíblia, foi derramado sangue.
Ficamos sabendo em Hb 11:4 que foi "pela fé" que Abel ofereceu um
sacrifício aceitável, e seu nome fica como início do registro daqueles
que a Bíblia chama de "crentes”. Foi dado a ele este testemunho:
"tendo a aprovação de Deus". Sua fé, e o beneplácito de Deus nele,
estão estreitamente vinculadas com o sangue sacrificial.
À luz da revelação posterior, este testemunho, dado no próprio
início da história humana, é de profunda relevância. Demonstra que
não pode haver aproximação a Deus; nenhuma comunhão com Ele
pela fé; nenhum desfrute do Seu favor, à parte DO SANGUE.
A Escritura dá poucas notícias dos dezesseis séculos que se
seguem. Depois veio o DILÚVIO, que foi o julgamento de Deus contra
o pecado, mediante a destruição do mundo dos homens.
Deus, porém, trouxe à existência uma nova terra a partir
daquele terrível batismo na água.
Nota-se, no entanto, que a nova terra também deve ser
batizada com sangue, e o primeiro ato registrado de Noé, depois de
ter deixado a arca, foi oferecer um holocausto a Deus. Assim como
no caso de Abel, assim também com Noé num novo início, "NÃO ERA
SEM SANGUE".
O pecado prevaleceu mais uma vez, e Deus lançou um alicerce
inteiramente novo para o estabelecimento do Seu Reino na terra.
Pela chamada divina de Abraão, e pelo nascimento milagroso
de Isaque, Deus empreendeu a formação de um povo para servi-Lo.
Mas este propósito não foi realizado à parte do derramamento do
SANGUE. Este fato fica aparente na hora mais solene da vida de
Abraão.
Deus já entrara num relacionamento de aliança com Abraão, e
sua fé já fora severamente provada, e passara no teste. Foi-lhe
imputada, ou contada, como justiça. Mesmo assim, deve aprender
que Isaque, o filho da promessa, que pertencia totalmente a Deus,
pode ser verdadeiramente entregue a Deus somente pela morte.
Isaque deve morrer. Para Abraão, bem como para Isaque,
somente pela morte é que a libertação da vida do próprio eu podia
ser obtida.
Abraão deve oferecer Isaque no altar.
Aquele não era um mandamento arbitrário de Deus. Era a
revelação de uma verdade divina, de que é somente por meio da
morte que é possível uma vida verdadeiramente consagrada a Deus.
Mas era impossível para Isaque morrer e ressuscitar outra vez
dentre os mortos; por causa do pecado, pois, a morte o conservaria
preso. Mas veja, a sua vida foi poupada, e um carneiro foi oferecido
no seu lugar. Mediante o sangue que fluiu no Monte Moriá, sua vida
foi poupada. Ele e o povo que descendeu dele, vivem diante de Deus
"NÃO SEM SANGUE". Por meio daquele sangue, no entanto, foi
figuradamente ressuscitado dentre os mortos. A grande lição da
substituição é ensinada claramente aqui.
Passam-se quatrocentos anos, e Isaque fica sendo, no Egito, o
povo de Israel. Mediante sua libertação da escravidão no Egito, Israel
seria reconhecido como o primogênito de Deus entre as nações.
Aqui, também, "NÃO É SEM SANGUE". Nem a graça eleitora de Deus,
nem Sua aliança com Abraão, nem o exercício da Sua onipotência,
que tão facilmente poderia ter destruído os opressores deles,
poderia dispensar a necessidade do SANGUE.
Aquilo que O SANGUE realizou no Monte Moriá para uma
pessoa só, que era o Pai daquela nação, agora deve ser
experimentado por aquela nação. Mediante o espargir das vergas
das portas dos israelitas com o. SANGUE do cordeiro da Páscoa; pela
instituição da Páscoa como uma ordenança permanente com as
palavras "Quando eu vir o sangue, passarei por vós", o povo foi
ensinado que a vida pode ser obtida somente pela morte de um
substituto. A vida era possível para eles somente pelo SANGUE de
uma vida dada em lugar deles, e apropriada pela "aspersão do
sangue"
Cinqüenta dias mais tarde, esta lição foi reforçada de modo
marcante. Israel chegara ao Sinai. Deus dera Sua Lei como
fundamento da Sua aliança. Aquela aliança agora deve ser
estabelecida, mas conforme é expressamente declarado em Hb
11:7, "NÃO SEM SANGUE". O SANGUE sacrifícial deve ser aspergido,
primeiramente no altar, e depois no Livro da Aliança, que
representava a parte de Deus na Aliança, depois sobre o povo, com
a declaração: "Eis aqui o SANGUE DA ALIANÇA". (Êx 24).
Foi naquele SANGUE que a Aliança teve seu fundamento e seu
poder. É mediante O SANGUE somente, que Deus e o homem podem
ser trazidos para a comunhão segundo a aliança. Aquilo que tinha
sido prenunciado no Portão do Éden, no Monte Ararate, no Monte
Moriá, e no Egito, agora foi confirmado no sopé do Sinai, de uma
maneira muito solene. Sem o SANGUE não poderia haver acesso do
homem pecaminoso ao Deus Santo.
Há, porém, uma diferença marcante entre o meio de aplicar o
sangue nos primeiros casos, em comparação com o meio usado
neste último caso. Em Moriá a vida foi redimida pelo derramamento
do sangue. No Egito o sangue foi aspergido nas vergas das portas
das casas; no Sinai, porém, foi aspergido sobre as próprias pessoas.
O contato era mais estreito, a aplicação mais poderosa.
Imediatamente depois de ser estabelecida a aliança, a ordem
foi dada: "E me farão um santuário, para que eu possa habitar no
meio deles" (Êx 25: 8).Deviam desfrutar da plena bem-aventurança
de terem o Deus da Aliança habitando entre eles. Através da graça
dEle podem achá-Lo, e servi-Lo na Sua casa.
Ele mesmo deu, com o cuidado mais minucioso, orientações
para a disposição das coisas naquela casa e para o serviço ali. Note,
porém, que O SANGUE era o centro e a razão de tudo isto. Aproxime-
se do vestíbulo do templo terrestre do Rei Celestial, e a primeira
coisa visível é o ALTAR DO HOLOCAUSTO, onde a aspersão do
sangue continua, sem cessar, da manhã até ao entardecer. Entre no
Lugar Santo, e a coisa mais destacada ali é o altar dourado do
incenso, que também, juntamente com o véu, é constantemente
aspergido com o SANGUE. Pergunte o que há além do Lugar Santo, e
será informado que é o SANTO DOS SANTOS, onde Deus habita. Se
perguntar como Ele habita ali, e como se aproxima dEle, será
informado: "NÃO SEM SANGUE". O próprio trono de ouro, onde brilha
a Sua glória,é aspergido com O SANGUE, uma vez por ano, quando o
Sumo Sacerdote entra sozinho para trazer O SANGUE, e para adorar
a Deus. O ato mais sublime naquela adoração é a aspersão do
SANGUE.
Se você inquirir mais, será informado que sempre, e por tudo,
O SANGUE é a única coisa necessária. Na ocasião da consagração da
Casa, ou dos Sacerdotes; do nascimento de uma criança; do ar-
rependimento mais profundo por causa do pecado; da festa mais
arrebatadora; sempre, e em tudo, o caminho para a comunhão com
Deus é através do SANGUE somente.
Isto continuou durante mil e quinhentos anos. No Sinai, no
deserto, em Silo, no Templo, no Monte Moriá, continuou até que
nosso Senhor veio para pôr fim a todas as sombras, pela introdução
da substância, e pelo estabelecimento de uma comunhão com o
Santo, em espírito e em verdade.
II. O QUE NOSSO SENHOR JESUS PESSOALMENTE ENSINA
ACERCA DO SANGUE.
Com a vinda dEle, todas as coisas velhas passaram, todas as
coisas ficaram sendo novas. Veio do Pai, no Céu, e pode-nos dizer
em palavras divinas o caminho para o Pai.
Às vezes é dito que as palavras "NÃO SEM SANGUE" pertencem
ao Antigo Testamento. Mas o que diz nosso Senhor Jesus Cristo?
Note, primeiramente, que quando João Batista anunciou Sua vinda,
falou dEle preenchendo um cargo duplo, como "O CORDEIRO DE
DEUS, que tira o pecado do mundo"; e depois como Aquele "que
batiza com o Espírito Santo". O derramamento do SANGUE do
Cordeiro de Deus teria de ocorrer do derramamento do Espírito
poder ser outorgado. Somente depois de cumprido tudo quanto o
Antigo Testamento ensinou acerca do SANGUE é que a Dispensação
do Espírito pode começar.
O próprio Senhor Jesus Cristo declarou nitidamente que Sua
morte na Cruz era o propósito para o qual veio para o mundo; que
era a condição necessária da redenção e da vida que veio trazer. De-
clara com clareza que, em conexão com Sua morte, o
derramamento do Seu SANGUE era necessário.
Na Sinagoga de Cafarnaum Ele falou de Si mesmo como sendo
"O Pão da Vida"; da Sua carne "que daria pela vida do mundo".
Quatro vezes repetiu muito enfaticamente: "Se não beberdes o seu
SANGUE, não tendes vida em vós mesmos". "Quem beber o meu
SANGUE tem a vida eterna". "O meu sangue é verdadeira bebida".
"Quem beber o meu sangue, permanece em mim e eu nele" (Jo 6).
Nosso Senhor declarou assim o fato fundamental de que Ele mesmo,
como o Filho do Pai, que veio restaurar nossa vida perdida, não pode
fazer isto por qualquer outra maneira senão pela morte por nós;
derramando Seu sangue por nós; e depois fazer-nos participantes do
Seu poder.
Nosso Senhor confirmou o ensino das Ofertas do Antigo
Testamento — que o homem somente pode viver através da morte
doutro, e assim obter uma vida que, mediante a Ressurreição, se
tornou eterna.
Mas o próprio Cristo não pode tornar-nos participantes daquela
vida eterna que Ele obteve para nós, senão mediante o
derramamento do Seu sangue, e nos dando a beber dele. Fato
maravilhoso! "NÃO SEM SANGUE", a vida eterna pode ser nossa.
Igualmente notável é a declaração por nosso Senhor da mesma
verdade na última noite da Sua vida terrestre. Antes de completar a
grande obra da Sua vida, ao dá-la "como resgate por muitos,"
instituiu a Santa Ceia, dizendo: "Bebei dele todos; porque isto é o
MEU SANGUE, o sangue da nova aliança, derramado em favor de
muitos, para remissão de pecados." (Mt 26:28). "Sem derramento de
sangue não há remissão dos pecados." Sem remissão de pecados
não há vida. Mas mediante o derramamento do SANGUE obteve uma
nova vida para nós. Por meio daquilo que chama de "beber Seu
sangue", Ele compartilha conosco a Sua vida. O sangue DERRAMADO
na Expiação, que nos liberta da culpa do pecado; e da morte, o
castigo do pecado; o sangue que bebemos pela fé, nos outorga a
Sua vida. O SANGUE que Ele derramou foi, em primeiro lugar, PARA
nós, e depois é dado A nós.
III. O ENSINO DOS APÓSTOLOS SOB A INSPIRAÇÃO DO
ESPIRITO SANTO
Depois da Sua Ressurreição e Ascensão, nosso Senhor já não é
conhecido pelos Apóstolos "segundo a carne." Agora, tudo quanto
era simbólico passou, e as profundas verdades espirituais expres-
sadas pelos símbolos, são desvendadas.
Mas O SANGUE não é velado. Continua ocupando um lugar de
destaque.
Confira primeiramente a Epístola aos Hebreus, que foi escrita
deliberadamente para mostrar que o culto no Templo já ficara sem
proveito, e que a intenção de Deus era que acabasse, já que Cristo
viera.
Aqui, mais do que em qualquer outro lugar, poder-se-ia esperar
que o Espírito Santo enfatizasse a verdadeira espiritualidade do
propósito de Deus, mas é justamente aqui que o Sangue de Jesus é
referido de uma maneira que concede um novo valor à frase.
Lemos acerca de nosso Senhor que "pelo Seu próprio sangue,
entrou no Santo dos Santos" (Hb 9:12).
"O Sangue de Cristo... purificará a nossa consciência" (v. 14).
"Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos
Santos, pelo sangue de Jesus" (Hb 10:19).
"Tendes chegado... a Jesus, o Mediador da Nova Aliança, e ao
sangue da aspersão" (12:24).
"Também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio
sangue, sofreu fora da porta" (13:12).
"Deus... tornou a trazer dentre os mortos a Jesus nosso
Senhor ... pelo sangue da eterna aliança" (13:20).
Com tais palavras o Espírito Santo nos ensina que o sangue é
realmente o poder central da nossa redenção inteira. "NÃO SEM
SANGUE" é tão válido no Novo Testamento como no Antigo.
Nada senão o Sangue de Jesus, derramado na Sua morte em
prol do pecado, pode cobrir o pecado do lado de Deus, ou removê-lo
do nosso lado.
Achamos o mesmo ensino nos escritos dos Apóstolos. Paulo
escreve: "sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante
a redenção que há em Cristo Jesus... pela fé no seu sangue/ ARC/"
(Rm 3:24, 25), "sendo justificados pelo seu sangue" (5:9).
Aos Coríntios declara que "o cálice da bênção que abençoamos
é a comunhão do Sangue de Cristo" (1 Co 10:16).
Na Epístola aos Gálatas emprega a palavra "CRUZ" para
transmitir o mesmo significado, ao passo que em Colossenses une as
duas palavras e fala de "O Sangue da Sua Cruz" (Gl 6:14; Cl 1:20).
Lembra aos Efésios que "temos a redenção, pelo seu sangue" e
que "fomos aproximados pelo sangue de Cristo" (Ef 1:7 e 2:13).
Pedro lembra aos seus leitores que foram "eleitos... para a
obediência e a aspersão do Sangue de Jesus Cristo" (1 Pe 1:2), e que
foram remidos "pelo precioso sangue... de Cristo" (v. 19).
Veja como João assegura a seus "filhinhos" que "o sangue de
Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado" (1 João 1:7). O Filho é
"Aquele que veio... não somente com água, mas com a água e com o
sangue" (5:6).
Todos eles concordam juntamente em mencionar o sangue, e
em gloriar-se nele, como sendo o poder mediante o qual a eterna
redenção mediante Cristo é plenamente realizada, e depois é
aplicada pelo Espírito Santo.
IV. O QUE APRENDEMOS DO LIVRO DO APOCALIPSE
ACERCA DA GLÓRIA FUTURA E DO SANGUE?
Mas, talvez, esta seja mera linguagem terrestre. O que o Céu
tem para dizer?
E da máxima importância notar que, na revelação que Deus
nos deu neste livro, da glória do Seu trono, e da bem-aventurança
daqueles que estão em derredor dele, o sangue ainda mantém seu
lugar de notável destaque.
No trono, João viu "um Cordeiro como tinha sido" (Ap 5:6).
Quando os anciãos se prostraram diante do Cordeiro, cantaram um
cântico novo, dizendo: "Digno és... porque foste morto e com o teu
sangue nos compraste para Deus" (w. 8 e 9).
Mais tarde, quando viu uma grande multidão que ninguém
podia enumerar, foi informado em resposta à sua pergunta sobre
sua identidade: "São estes os que... lavaram suas vestiduras, e as
alvejaram no sangue do Cordeiro."
Outra vez, quando ouviu o cântico de vitória sobre a derrota de
Satanás, sua mensagem era: "Eles, pois, o venceram por causa do
sangue do Cordeiro" (12:11).
Na glória do céu, conforme João a viu, não houve frase
mediante a qual os grandes propósitos de Deus; o amor maravilhoso
do Filho de Deus; o poder da Sua redenção; e a alegria e as ações de
graças dos redimidos; podem ser reunidos e expressados senão
esta: "O SANGUE DO CORDEIRO". Desde o começo até ao fim da
Escritura, desde o fechar das portas do Éden, até à abertura das por-
tas do Sião celestial, um fio de ouro percorre a Escritura. É "O
SANGUE" que reúne o começo com o fim; que restaura
gloriosamente aquilo que o pecado destruíra.
Não é difícil ver quais as lições que o Senhor quer que
aprendamos do fato de que o sangue ocupa um lugar de tanto
destaque na Escritura.
(a) Deus não tem outro meio de tratar com o pecado, ou com o
pecador, senão através do sangue.
Para a vitória sobre o pecado e a libertação do pecador, Deus
não tem outro meio ou pensamento senão "O SANGUE DE CRISTO".
Sim, realmente é alguma coisa que ultrapassa todo o entendimento.
Todas as maravilhas da graça estão focalizadas aqui: a
Encarnação, mediante a qual Ele tomou sobre Si nossa carne e
nosso sangue; o amor, que não Se poupou a Si mesmo mas, sim,
entregou-Se à morte; a justiça, que não podia perdoar o pecado até
que a penalidade fosse suportada; a substituição, mediante a qual
Ele, o Justo, expiou por nós, os injustos; a expiação pelo pecado, e a
justificação do pecador, possibilitou, assim, a renovação da co-
munhão com Deus, juntamente com a purificação e santificação,
para nos tornar dignos de desfrutar daquela comunhão; a verdadeira
união na vida com o Senhor Jesus, enquanto Ele nos dá Seu sangue
para beber; o gozo eterno do hino de louvor: "Tu nos compraste para
Deus"; todos estes são apenas raios da luz maravilhosa que é
refletida sobre nós do "SANGUE PRECIOSO DE JESUS".
(b) O sangue deve ocupar o mesmo lugar em nosso coração
que ocupa com Deus.
Desde o princípio dos tratos que Deus manteve com o homem,
sim, desde antes da fundação do mundo, o coração de Deus tem-se
regozijado naquele sangue. Nosso coração nunca descansará, nem
achará salvação, até que nós, também, aprendamos a andar e a
gloriar-nos no poder daquele sangue.
Não é apenas o pecador arrependido, ansiando pelo perdão,
que deve dar tanto valor assim ao sangue. Não! Os redimidos terão
a seguinte experiência: assim como Deus no Seu templo Se assenta
num trono de graça, onde o sangue sempre está evidente, assim
também nada há que atraia nosso coração para mais perto de Deus,
enchendo-o do amor de Deus, e de alegria, e de glória, como quem
vive tendo uma vista constante e espiritual daquele sangue.
(c) Gastemos tempo e esforço para aprender a plena bênção e
poder daquele sangue.
O sangue de Jesus é o maior mistério da eternidade, o mais
profundo mistério da sabedoria divina. Não imaginemos que
possamos facilmente captar seu significado. Deus considerou 4.000
anos o tempo necessário para preparar os homens para Ele, e nós
também devemos gastar tempo, se é para obtermos um
conhecimento do poder do sangue.
Até mesmo gastar tempo de nada vale, a não ser que haja um
esforço sacrificial que se faz. O sangue sacrificial sempre significava
a oferta de uma vida. O israelita não podia obter sangue para o
perdão do seu pecado, a não ser que a vida dalgum animal que lhe
pertencia fosse oferecida em sacrifício. O Senhor Jesus não ofereceu
Sua própria vida, nem derramou Seu sangue para nos poupar do
sacrifício da nossa vida. Realmente, não! Foi para tornar possível e
desejável o sacrifício da nossa vida.
O valor oculto do Seu sangue é o espírito de abnegação, e
onde o sangue realmente toca o coração, produz naquele coração
um espírito semelhante de abnegação. Aprendemos a abrir mão de
nós mesmos e da nossa vida, a fim de avançar firmemente para
dentro do pleno poder daquela vida nova que o sangue forneceu.
Dedicamos nosso tempo a fim de saber estas coisas mediante
a Palavra de Deus. Separamo-nos do pecado e da mentalidade
mundana, e da vontade-própria, a fim de que o poder do sangue não
seja prejudicado, porque são justamente estas coisas que o sangue
procura remover.
Entregamo-nos inteiramente a Deus em oração e fé, de modo
que não pensemos nossos próprios pensamentos, nem
consideremos nossa própria vida como sendo um prêmio, mas, sim,
como quem nada possui senão o que Ele outorga. Então
Ele nos revela a vida gloriosa e bendita que nos foi preparada
pelo sangue.
(d) Podemos confiar que o Senhor Jesus nos revelará o poder
do Seu sangue.
É mediante esta fé confiante nEle que a bênção obtida pelo
sangue se torna nossa. Nunca devemos, em nossos pensamentos,
separar o sangue do Sumo Sacerdote que o derramou, e que sempre
vive para aplicá-lo.
Aquele que uma vez deu Seu sangue por nós, seguramente, a
cada momento, nos transmitirá sua eficácia! Confie nEle para fazer
isto. Confie nEle para abrir os seus olhos e lhe dar uma visão
espiritual mais profunda. Confie nEle para ensinar-lhe a pensar
acerca deste sangue como Deus pensa acerca dele. Confie nEle para
transmitir a você, e a tornar eficaz em você, tudo quanto Ele
capacita você a ver.
Confie nEle, acima de tudo, no poder do Seu Sumo Sacerdócio
eterno, para operar em você, incessantemente, os plenos méritos do
Seu sangue, de modo que sua vida inteira possa ser um permanecer
ininterrupto no santuário da presença de Deus.
Crente, você que tem chegado ao conhecimento do sangue
precioso, escute o convite do seu Senhor. Venha mais perto. Deixe-0
ensiná-lo; deixe-0 abençoá-lo. Deixe-0 fazer com que Seu sangue
fique sendo para você espírito, e vida, e poder, e verdade.
Comece agora, imediatamente, a abrir sua alma com fé, para
receber os efeitos plenos, poderosos e celestiais do sangue precioso,
de uma maneira mais gloriosa do que já experimentou até agora. Ele
mesmo operará estas coisas na sua vida.
Capítulo II
A REDENÇÃO PELO SANGUE
"Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis... mas pelo
precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o
sangue de Cristo" - 1 Pe 1:18, 19.
O derramamento do Seu sangue foi o ponto culminante dos
sofrimentos de nosso Senhor. A eficácia expiadora daqueles
sofrimentos estava naquele sangue derramado. É, portanto, de
grande importância que o leitor não descanse satisfeito com a mera
aceitação da bendita verdade de que é redimido por aquele sangue,
mas, sim, avance firmemente para um conhecimento mais pleno
daquilo que significa aquela declaração e para ficar sabendo o que
este sangue é destinado a fazer numa alma plenamente entregue.
Seus efeitos são múltiplos, porque lemos na Escritura acerca
da:
RECONCILIAÇÃO pelo sangue;
PURIFICAÇÃO pelo sangue;
SANTIFICAÇÃO pelo sangue;
UNIÃO COM DEUS pelo sangue;
VITÓRIA sobre Satanás pelo sangue;
VIDA pelo sangue.
Estas são bênçãos separadas, mas todas estão incluídas numa
só frase:
A REDENÇÃO PELO SANGUE.
Somente quando o crente entende quais são estas bênçãos, e
de que maneira podem ficar sendo dele, que experimenta o pleno
poder da REDENÇÃO.
Antes de passar a considerar com pormenores estas várias
bênçãos, pesquisaremos, de modo mais geral, O PODER DO SANGUE
DE JESUS.
I. EM QUE SE ACHA O PODER DAQUELE SANGUE?
II. O QUE AQUELE PODER TEM REALIZADO?
III. COMO PODEMOS EXPERIMENTAR OS SEUS EFEITOS?
I. EM QUE SE ACHA O PODER DAQUELE SANGUE? O QUE
É QUE DÁ AO SANGUE DE JESUS TAL PODER?
Como é que somente no sangue há um poder que não é
possuído por outra coisa?
A resposta a esta pergunta acha-se em Levítico 17:11, 14: "A
vida da carne está no sangue"; e "Eu vô-lo tenho dado sobre o altar,
para fazer expiação pelas vossas almas: porquanto é o sangue que
fará expiação.
É porque a alma, ou a vida, está no sangue; e porque o sangue
é oferecido a Deus no altar, que tem nele poder redentor.
(a.) A alma ou a vida está no sangue, logo, o valor do sangue
corresponde ao valor da vida que nele há.
A vida de uma ovelha ou de um bode tem menos valor do que
a vida de um novilho, e, destarte, o sangue de uma ovelha ou de um
bode numa oferta, tem menos valor do que o sangue de um novilho
(Lc 4:3, 14, 27).
A vida de um homem é mais valiosa do que a de muitas
ovelhas ou novilhos.
E agora, quem pode calcular o valor ou o poder do sangue de
Jesus? Naquele sangue habitava a alma do santo Filho de Deus.
A vida eterna da Divindade foi transportada naquele sangue (At
20:28).
O poder daquele sangue nos seus diversos efeitos é nada
menos do que o poder eterno do própri-o Deus. Que pensamento
glorioso para toda pessoa que deseja experimentar o pleno poder do
sangue!
(b.) Mas o poder do sangue acha-se acima de tudo o mais no
fato de que é oferecido a Deus no altar, para a redenção.
Quando pensamos em sangue derramado, pensamos na morte;
a morte se segue, quando o sangue ou a alma é derramado. A morte
nos faz pensar no pecado, porque a morte é o castigo do pecado.
Deus deu para Israel o sangue no altar, como a expiação ou
cobertura pelo pecado; isto quer dizer que os pecados do
transgressor eram postos sobre a vítima, e a morte desta era
contada como sendo a morte ou o castigo pelos pecados colocados
sobre ela.
O sangue, portanto, era a vida entregue à morte para a
satisfação da lei de Deus, e em obediência ao Seu mandamento. O
pecado era tão inteiramente coberto e expiado, que já não era
contado como sendo o do transgressor. Este era perdoado.
Todos estes sacrifícios e ofertas, no entanto, eram apenas
prefígurações, e sombras, até que viesse o Senhor Jesus. Seu sangue
era a realidade à qual estas prefigurações apontavam.
Seu sangue tinha em si mesmo valor infinito, por causa da
maneira em que foi derramado. Em santa obediência à vontade do
Pai, sujeitou-Se à penalidade da lei quebrada, ao derramar Sua alma
na morte. Por aquela morte, não somente a penalidade foi
suportada, como também a lei foi satisfeita, e o Pai foi glorificado.
Seu sangue fez expiação pelo pecado, tornando-o desta forma,
impotente. Tem poder maravilhoso para remover o pecado, e para
abrir o céu para o pecador, a quem purifica, e santifica, e torna
digno do céu.
É por causa da Pessoa Maravilhosa cujo sangue foi derramado;
e por causa da maneira maravilhosa em que foi derramado,
cumprindo a lei de Deus, e satisfazendo suas exigências justas, que
o sangue de Jesus tem poder tão maravilhoso. E o sangue da
Expiação, e por isso tem tanta eficácia para redimir; realiza tudo
para o pecador e no pecador, que é necessário para salvação. Nossa
segunda pergunta é:
II. O QUE AQUELE PODER TEM REALIZADO?
À medida em que vemos as maravilhas que aquele poder tem
realizado, somos encorajados a crer que pode fazer o mesmo por
nós. Nosso melhor plano é notar como as Escrituras se gloriam nas
grandes coisas que aconteceram mediante o poder do sangue de
Jesus.
(a.) O sangue de Jesus abriu a sepultura.
Lemos em Hebreus 13:20: "Ora, o Deus da paz, que tornou a
trazer dentre os mortos a Jesus nosso Senhor o grande Pastor das
ovelhas, PELO SANGUE DA ETERNA ALIANÇA."
Foi pela virtude do sangue que Deus ressuscitou a Jesus dentre
os mortos. O poder onipotente de Deus não foi exercitado para
ressuscitar Jesus dentre os mortos, à parte do sangue.
Veio à terra como fiador, e carregador do pecado, da
Humanidade. Foi somente mediante o derramamento do Seu sangue
que Ele teve o direito, como homem, de ressuscitar, e de obter a
vida eterna através da ressurreição. Seu sangue satisfizera a lei e a
justiça de Deus. Ao assim fazer, vencera o poder do pecado, e o
reduzira à nada. Assim, também, a morte foi derrotada, porque seu
aguilhão, o pecado, fora removido, e o diabo, que tivera o poder da
morte, também foi derrotado: agora perdeu todo o direito sobre Ele
e sobre nós. Seu sangue destruíra o poder da morte, do diabo e do
inferno:
O SANGUE DE JESUS ABRIU A SEPULTURA.
Quem verdadeiramente crê nisto, percebe a estreita conexão que
existe entre o sangue e o poder onipotente de Deus. É somente
através do sangue que Deus exerce Sua onipotência em tratar com
os homens pecaminosos. Onde estiver o sangue, ali o poder
ressuscitador de Deus dá entrada para a vida eterna. O sangue
acabou completamente com todo o poder da morte e do inferno;
seus efeitos excedem todo o pensamento humano.
Além disto:
(b.) O sangue de Jesus abriu o Céu.
Lemos em Hebreus 9:12, que Cristo "pelo seu próprio sangue,
entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna
redenção."
Sabemos que no Tabernáculo do Antigo Testamento a
presença manifesta de Deus estava dentro do véu. Nenhum poder
humano poderia remover aquele véu. Somente o Sumo Sacerdote
podia entrar ali, mas somente com sangue, senão, com a perda da
sua própria vida. Aquele era um quadro do poder do pecado na
carne, que nos separa de Deus. A justiça eterna de Deus guardava a
entrada ao Santo dos Santos, a fim de que nenhuma carne se
aproximasse dEle.
Agora, porém, nosso Senhor aparece, não num templo
material, mas, sim, no Templo verdadeiro. Como Sumo Sacerdote e
representante do Seu povo, pede para Si mesmo, e para os filhos pe-
caminosos de Adão, o acesso à presença do Santo. "Que onde eu
estou, estejam também comigo os que me deste" é Sua petição.
Pede que o céu seja aberto para cada um, até mesmo para o maior
pecador, que crê nEle. Sua petição é outorgada. Mas como é isto? É
pelo SANGUE. Entrou
PELO SEU PRÓPRIO SANGUE. O SANGUE DE JESUS ABRIU
O CÉU
Destarte é sempre, e todas as vezes, pelo sangue que o trono
da graça permanece firme no céu. No meio das sete grandes
realidades do céu (Hb 12:22, 24), sim, mais perto de Deus, o Juiz de
todos, e de Jesus o Mediador, o Espírito Santo dá um lugar de
destaque
"AO SANGUE DE ASPERSÃO."
É o constante "falar" daquele sangue que conserva o céu
aberto para os pecadores, e que envia rios de bênçãos para baixo,
sobre a terra. É por aquele sangue que Jesus, como Mediador,
continua, sem cessar, Sua obra de mediação. O Trono da graça deve
sua existência sempre e eternamente ao poder daquele sangue.
Oh, que poder maravilhoso do sangue de Cristo ! Assim como
forçou as portas da sepultura, e do inferno, para deixar Jesus sair, e
nós com Ele; assim também abriu as portas do céu para Ele, e para
nós com Ele, entrar. O sangue tem um poder onipotente sobre o
reino das trevas, e o inferno embaixo; e sobre o reino do céu, e sua
glória em cima.
(c.) O Sangue de Jesus é todo-poderoso no coração humano
Visto que é tão poderosamente eficaz com Deus e sobre
Satanás, não é ainda mais poderosamente eficaz com o homem, por
amor a quem realmente foi derramado?
Podemos ter certeza disto.
O poder maravilhoso do sangue é especialmente manifestado
em prol dos pecadores na terra. Nosso texto é apenas um entre
muitos lugares na Escritura onde isto é enfatizado. "Fostes resgata-
dos do vosso fútil procedimento... pelo precioso sangue de Cristo" (1
Pe 1:18, 19).
A palavra RESGATADOS tem uma profundidade de significado.
Indica especialmente a libertação da escravidão, pela emancipação
ou pela compra. O pecador está escravizado, sob o poder hostil de
Satanás, sob a maldição da Lei, e sob o pecado. Agora é proclamado
"fostes resgatados pelo sangue," que pagara a dívida da culpa e
destruíra o poder de Satanás, a maldição, e o pecado.
Onde esta proclamação é ouvida e recebida, ali começa a
Redenção, numa libertação verdadeira de uma maneira fútil de
viver, de uma vida de pecado. A palavra "REDENÇÃO" inclui tudo
quanto Deus faz em prol do pecador, desde o perdão do pecado,
onde ela começa (Ef 1:14; 4:30) até à plena libertação do corpo
mediante a Ressurreição (Rm 8:23, 24).
Aqueles para os quais Pedro escreveu (1 Pe 1:2) eram
"Eleitos... para a aspersão do sangue de Jesus Cristo." Era a
proclamação acerca do sangue precioso que tocara no coração
deles, e os levou para o arrependimento; despertando neles a fé, e
enchendo sua alma com vida e alegria. Cada crente era uma
ilustração do poder maravilhoso do sangue.
Mais adiante, quando Pedro os exorta à santidade, ainda é o
sangue precioso que ele pleiteia. É neste sangue que deseja fixar os
olhos deles.
Para o judeu, com sua justiça-própria, e seu ódio de Cristo;
para o pagão, na sua impiedade, havia um só meio de libertação do
poder do pecado. É ainda o único poder que leva a efeito a liberta-
ção diária para os pecadores. Como poderia ser doutra forma? O
sangue que era tão poderosamente eficaz no céu e sobre o inferno,
TAMBÉM É TODO-PODEROSO NO CORAÇÃO DE UM PECADOR. É
impossível para nós prezar demasiadamente o poder do sangue de
Jesus, ou esperar demais dele.
III. COMO FUNCIONA ESTE PODER?
Esta é nossa terceira pergunta.
Em quais condições, em quais circunstâncias, aquele poder
produz em nós, sem impedimentos, os grandes resultados que visa
alcançar? (a.) A primeira resposta é que assim como é em todos os
lugares no reino de Deus, É PELA FÉ. A fé, porém, depende
grandemente do conhecimento. Se o conhecimento daquilo que o
sangue poder realizar for imperfeito, a fé espera pouca coisa, e os
efeitos mais poderosos do sangue são impossíveis. Muitos cristãos
pensam que se agora, pela fé no sangue, receberam a certeza do
perdão dos seus pecados, têm um conhecimento suficiente dos seus
efeitos.
Não têm idéia alguma que as palavras de Deus, como o próprio
Deus, são inexauríveis, que têm uma riqueza de significado e bênção
que ultrapassa todo o entendimento.
Não se lembram de quando o Espírito Santo fala da purificação
pelo sangue, tais palavras são apenas a expressão humana dos
efeitos e experiências mediante os quais o sangue, de modo
inexprimivelmente glorioso, revelará à alma seu poder vivificante.
Conceitos fracos do poder dele impedem as manifestações
mais profundas e mais perfeitas dos seus efeitos.
Ao procurarmos descobrir o que a Escritura nos ensina acerca
do sangue, veremos que a fé no sangue, mesmo conforme o
entendemos agora, pode produzir em nós resultados maiores do que
ainda temos conhecido, e, no futuro, uma bênção perpétua pode ser
nossa.
Nossa fé pode ser fortalecida ao notar aquilo que o sangue já
realizou. O céu e o inferno testificam isto. A fé crescerá por meio de
exercer confiança na plenitude insondável das promessas de Deus.
Esperemos de todo o coração que, enquanto entramos mais
profundamente na fonte, seu poder purificador, animador,
vivificador, seja revelado de modo mais bendito.
Sabemos que ao banhar-nos, entramos no relacionamento
mais íntimo com a água, e nos entregamos aos seus efeitos
purificadores. O sangue de Jesus é descrito como "uma fonte
aberta... para remover o pecado e a impureza" (Zc 13:1). Pelo poder
do Espírito Santo ela corre pelo Templo celestial. Pela fé, coloco-me
no mais estreito contato com esta correnteza celestial, entrego-me a
ela, deixo-a cobrir-me e passar por mim. Não pode reter seu poder
purificador e fortalecedor. Devo, com fé singela, virar-me para aquilo
que é visível, para mergulhar naquela fonte espiritual, que repre-
senta o sangue do Salvador, com a certeza de que manifestará a
mim seu poder bendito.
Destarte, com fé como de criança, perseverante, esperançosa,
abramos nossa alma a uma experiência cada vez maior do poder
maravilhoso do sangue.
(b.) Há, porém, ainda outra resposta à pergunta quanto ao que
mais é necessário, a fim de que o sangue manifeste seu poder.
A Escritura liga o sangue estreitissimamente com o Espírito.
Somente onde o Espírito opera é que o poder do sangue será
manifestado.
O ESPIRITO E O SANGUE.
Lemos em João que "três são os que testificam na terra: o
Espírito, a água e o sangue, e os três são unânimes num só
propósito" (1 Jo 5:8). A água se refere ao arrependimento e ao
abandono do pecado. O sangue dá testemunho à redenção em
Cristo. 0 Espírito é Aquele que fornece poder à água e ao sangue. Da
mesma maneira, o Espirito e o sangue estão associados entre si em
Hb 9:14, onde lemos: "Muito mais o sangue de Cristo que, pelo
Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus,
purificará a nossa consciência". Foi pelo Espírito eterno em nosso
Senhor que Seu sangue teve seu valor e poder.
É sempre pelo Espírito que o sangue possui seu poder vivo no
céu, e nos corações dos homens.
O sangue e o Espírito sempre testificam juntos. Onde o sangue
é honrado na fé ou na pregação, ali o Espírito opera; e onde Ele
opera, sempre leva as almas para o sangue. 0 Espírito Santo não
poderia ser dado até que o sangue fosse derramado. O vínculo vivo
entre o Espírito e o sangue não pode ser quebrado.
Deve ser notado seriamente que, a fim de que o pleno poder
do sangue seja manifestado em nossa alma, devemos colocar-nos
sob o ensino do Espírito Santo.
Devemos acreditar firmemente que Ele está em nós, levando a
efeito a Sua obra em nosso coração. Devemos viver como aqueles
que sabem que o Espírito de Deus realmente habita dentro de nós,
como uma semente de vida, e que Ele aperfeiçoará os efeitos
ocultos e poderosos do sangue. Devemos permitir que Ele nos guie.
Mediante o Espírito, o sangue nos purificará, santificará, e nos
unirá a Deus.
Quando o Apóstolo desejava despertar os fiéis a escutarem a
voz de Deus, com Sua chamada à santidade: "Sede santos, pois eu
sou santo," lembrou-os que tinham sido redimidos pelo sangue
precioso de Cristo.
O CONHECIMENTO É NECESSÁRIO.
Devem saber que foram redimidos, e o que aquela redenção
significava, mas devem saber acima de tudo, que "não foi mediante
coisas corruptíveis, como prata ou ouro," coisas estas em que não
havia poder da vida, "mas pelo precioso sangue de Cristo."
Ter uma percepção correta daquilo que era a preciosidade
daquele sangue,como sendo o poder de uma redenção perfeita,
seria para eles o poder de uma vida nova e santa.
Queridos cristãos, aquela declaração diz respeito a nós
também. Devemos saber que somos redimidos pelo sangue
precioso. Devemos saber acerca da redenção e do sangue antes de
podermos experimentar seu poder.
À medida que entendemos mais plenamente o que é a
redenção e quais são o poder e a preciosidade do sangue, mediante
os quais a redenção foi obtida, teremos mais plena experiência do
seu valor.
Vamos à Escola do Espírito Santo para ser levados a um
conhecimento mais profundo da redenção pelo sangue precioso.
A NECESSIDADE E O DESEJO.
Duas coisas são indispensáveis para isto. Primeiramente: um
senso mais profundo da necessidade, e um desejo de entender
melhor o sangue. O poder do sangue é para aniquilar o poder do
pecado.
Nós também, infelizmente, estamos por demais satisfeitos com
os primeiros indícios da libertação do pecado.
Oxalá que aquilo que permanece do pecado em nós se nos
torne insuportável!
Que já não fiquemos satisfeitos com o fato de que nós, como
os redimidos, pecamos contra a vontade de Deus em tantas coisas.
Que o desejo pela santidade se torne mais forte em nós. O
pensamento de que o sangue tem mais poder do que sabemos, e
pode fazer por nós mais coisas do que ainda experimentamos, não
deve levar nosso coração a anelar com forte desejo? Se houvesse
mais desejo pela libertação do pecado; pela santidade e pela
amizade íntima com o Deus Santo; esta seria a primeira coisa
necessária para sermos levados mais profundamente ao conheci-
mento daquilo que o sangue pode fazer.
A EXPECTATIVA
A segunda coisa se seguirá.
O desejo deve tornar-se expectativa.
Quando pesquisamos na Palavra, pela fé, para ver o que o
sangue tem realizado, deve ser questão já resolvida conosco que o
sangue pode manifestar seu pleno poder em nós também. Nenhum
senso de indignidade, nem de ignorância, nem de incapacidade deve
levar-nos a duvidar. O sangue opera na alma que se entregou, com
um poder incessante da vida.
Entregue-se ao Espírito Santo de Deus. Fixe os olhos do seu
coração no sangue.
Abra totalmente o seu íntimo ao poder dEle.
O sangue sobre o qual está fundamentado o Trono da Graça no
céu, pode fazer do seu coração o Templo e o Trono de Deus.
Abrigue-se sob ,a aspersão perpétua do sangue.
Peça ao próprio Cordeiro de Deus que torne o sangue eficaz em
você.
Você certamente terá a experiência de que nada há para
comparar-se com o poder do sangue de Jesus, que opera milagres.
Capítulo III
A RECONCILIAÇÃO PELO SANGUE
"Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a
REDENÇÃO que há em Cristo Jesus; a quem Deus propôs, no seu
sangue, como PROPICIAÇÃO, mediante a fé " - Rm 3:24,25
Conforme já vimos, várias bênçãos distintas foram obtidas para
nós pelo poder do sangue de Jesus, incluídas numa única palavra:
"REDENÇÃO." Entre estas bênçãos, a RECONCILIAÇÃO toma o
primeiro lugar. "Deus propôs Jesus como RECONCILIAÇÃO, mediante
a fé no seu sangue." Na obra de nosso Senhor, e da REDENÇÃO, a
RECONCILIAÇÃO naturalmente vem em primeiro lugar. Fica,
também, em primeiro lugar, entre as coisas que o pecador tem de
fazer, quando deseja ter uma participação na REDENÇÃO. Através
dela, a participação das demais bênçãos da Redenção é
possibilitada.
É de grande importância, também, que o crente, que já
recebeu a RECONCILIAÇÃO, obtenha um conceito mais profundo e
mais espiritual do seu significado e da sua bem-aventurança. Se o
poder do sangue na REDENÇÃO está arraigado na RECONCILIAÇÃO,
logo, um conhecimento mais pleno daquilo que é a RECONCILIAÇÃO
é o modo mais seguro de obter uma experiência mais plena do
poder do sangue. O coração que está submisso ao ensinamento do
Espírito Santo certamente aprenderá o que significa A
RECONCILIAÇÃO. Que nosso coração esteja totalmente aberto para
recebê-Lo.
Para compreendermos o que significa a RECONCILIAÇÃO PELO
SANGUE, consideremos:
I. O PECADO, QUE TORNOU A RECONCILIAÇÃO
NECESSÁRIA;
II. A SANTIDADE, QUE A PREORDE-NOU;
III. O SANGUE DE JESUS, QUE A OBTEVE-
IV. O PERDÃO, QUE DELA RESULTA
I. O PECADO, QUE TORNOU A RECONCILIAÇÃO
NECESSÁRIA.
Em toda a obra de Cristo, e, acima de tudo, na
RECONCILIAÇÃO, o objetivo de Deus é a remoção e a destruição do
pecado. O conhecimento do pecado é necessário para o
conhecimento da RECONCILIAÇÃO.
Queremos entender o que há no pecado que precisa da
RECONCILIAÇÃO, e como a RECONCILIAÇÃO torna o pecado
impotente. Depois, a fé terá alguma coisa em que se segurar, e a
experiência daquela bênção é tornada possível.
O pecado teve um efeito duplo. Teve um efeito sobre Deus,
bem como sobre o homem Geralmente enfatizamos seu efeito sobre
o homem. Mas o efeito que já exerceu sobre Deus é mais terrível e
sério. É por causa do seu efeito sobre Deus que o pecado tem seu
poder sobre nós. Deus, como Senhor de tudo, não podia deixar
desapercebido o pecado. É Sua lei inalterável que o pecado deve
produzir tristeza e morte. Quando o homem caiu no pecado, ele, por
aquela lei de Deus, foi submetido ao poder do pecado. Destarte, é
com a lei de Deus que a REDENÇÃO deve começar, porque se o
pecado é impotente contra Deus, e a lei de Deus não dá ao pecado
autoridade alguma sobre nós, logo, seu poder sobre nós é destruído.
O conhecimento de que o pecado nada tem para declarar diante de
Deus, nos assegura que já não tem autoridade sobre nós.
Qual era, pois, o efeito do pecado sobre Deus? Na Sua natureza
divina, Ele sempre permanece inalterado e imutável, mas no Seu
relacionamento e na Sua atitude para com o homem, uma mudança
total foi realizada. O pecado é a desobediência, o desprezo da
autoridade de Deus; procura roubar a Deus a Sua honra como Deus
e Senhor. O pecado é a oposição resoluta ao Deus Santo. Não
somente pode, como também deve, despertar a Sua ira.
Embora fosse o desejo de Deus continuar o amor e a amizade
com o homem, o pecado compeliu-O a tornar-Se um oponente.
Embora o amor de Deus para com o homem permaneça imutável, o
pecado fez com que fosse impossível para Ele admitir o homem em
comunhão com Ele mesmo. Compeliu-O a derramar sobre o homem
Sua ira, e Sua maldição, e Seu castigo, ao invés do Seu amor. A
mudança que o pecado causou no relacionamento entre Deus e o
homem é terrível.
O homem é culpado diante de Deus. A culpa é dívida. Sabemos
o que é a dívida. É algo que uma pessoa pode exigir doutra, uma
reivindicação que deve ser satisfeita e liquidada.
Quando o pecado é cometido, seus efeitos posteriores talvez
não sejam notados, mas sua culpa permanece. O pecador é culpado.
Deus não pode desconsiderar Sua própria exigência de que o pecado
seja castigado; e Sua glória, que foi desonrada, deve ser sustentada.
Enquanto a dívida não for liquidada, ou a culpa expiada, é, conforme
a natureza do caso, impossível ao Deus Santo permitir que o
pecador entre na Sua presença.
Freqüentemente pensamos que a grande pergunta para nós é
como podemos ser libertados do poder do pecado que em nós
habita; mas aquela é uma pergunta menos importante do que: como
podemos ser libertos da culpa que é amontoada diante de Deus? A
culpa do pecado pode ser removida? Pode o efeito do pecado sobre
Deus, ao despertar Sua ira, ser removido? O pecado pode ser
apagado diante de Deus? Se estas coisas podem ser feitas, o poder
do pecado será quebrado em nós também. Somente através da
RECONCILIAÇÃO é que a culpa do pecado pode ser removida.
A palavra traduzida por "RECONCILIAÇÃO" realmente significa
"cobrir." Até mesmo povos pa-gãos tinham uma idéia disto. Em
Israel, Deus revelou uma RECONCILIAÇÃO que podia tão verda-
deiramente cobrir e remover a culpa do pecado, que o
relacionamento original entre Deus e o homem pode ser
inteiramente restaurado. É isto que a RECONCILIAÇÃO verdadeira
deve fazer. Deve remover de tal maneira a culpa do pecado, ou seja,
o efeito do pecado sobre Deus, que o homem possa aproximar-se de
Deus, na certeza bendita de que já não há a mínima culpa pesando
sobre ele para conservá-lo afastado de Deus.
II. A SANTIDADE DE DEUS, QUE PRE-ORDENOU A
RECONCILIAÇÃO.
Isto deve também ser considerado, a fim de entendermos
corretamente a RECONCILIAÇÃO.
A Santidade de Deus é Sua perfeição infinita, gloriosa, que O
leva sempre a desejar aquilo que é bom nos outros e não apenas em
Si mesmo. Ele outorga e opera aquilo que é bom nos outros, e odeia
e condena tudo quanto se opõe ao bem.
Na Sua santidade, tanto o AMOR como a IRA de Deus estão
unidos; Seu AMOR que é outorgado, Sua IRA que, conforme a lei
divina da justiça, expulsa e consome aquilo que é mau.
É como Santo, que Deus ordenou a RECONCILIAÇÃO em Israel,
e fez Sua habitação no Propiciatório.
É como Santo, que Ele, na expectativa dos tempos do Novo
Testamento, disse tão frequentemente: "Eu sou teu Redentor, o
Santo de Israel".
É como Santo, que Deus realizou Seu conselho de
RECONCILIAÇÃO em Cristo.
A maravilha deste conselho é que tanto o amor santo, quanto a
ira santa de Deus, acham nEle satisfação. Segundo parecia, estavam
em luta irreconciliável entre si. O amor santo não estava disposto a
deixar o homem ir. A despeito de todo o pecado dele, não podia
abandoná-lo. Ele devia ser redimido. A ira santa não podia abrir mão
das suas exigências. A lei fora desprezada. Deus fora desonrado. Os
direitos de Deus devem ser sustentados. Não poderia haver idéia
alguma de soltar o prisioneiro enquanto a lei não fosse satisfeita. O
terrível efeito do pecado no céu, em Deus, deve ser neutralizado; a
culpa do pecado deve ser removida, senão, o pecador não poderá
ser libertado. A única solução possível é a RECONCILIAÇÃO.
Já vimos que a RECONCILIAÇÃO significa COBERTURA. Significa
que outra coisa tomou o lugar onde o pecado estava estabelecido,
de modo que o pecado já não pode ser visto por Deus.
Mas porque Deus é Justo, e Seus olhos como uma chama de
fogo, aquilo que cobria o pecado devia ser algo de tal natureza que
realmente neutralizasse o mal que o pecado fizera, e também que
apagasse o pecado de tal maneira, diante de Deus, que fosse
realmente destruído, e já não se podia ver.
A RECONCILIAÇÃO pelo pecado pode ocorrer somente
mediante a satisfação. A satisfação é a RECONCILIAÇÃO. E como a
satisfação é mediante um substituto, o pecado pode ser castigado, e
o pecador salvo. A santidade de Deus também seria glorificada, e
suas exigências satisfeitas, bem como a exigência da Sua justiça em
sustentar a glória de Deus e da Sua lei.
Sabemos como isto era demonstrado nas leis vétero-
testamentárias das ofertas. Um animal limpo tomava o lugar de um
homem culpado. Seu pecado era colocado, pela confissão, na cabeça
da vítima, que suportava o castigo ao entregar sua vida até á morte.
Depois, o sangue, que representa uma vida limpa, que agora, por
meio do castigo, está livre da culpa, pode ser trazido para a
presença de Deus; o sangue ou a vida do animal que suportou o
castigo no lugar do pecador. Aquele sangue fez a RECONCILIAÇÃO, e
cobriu o pecador e seu pecado, porque tomara seu lugar, e fizera
expiação pela sua culpa.
Havia RECONCILIAÇÃO NO SANGUE.
Mas aquilo não era uma realidade. O sangue de novilhos ou de
bodes nunca poderia remover o pecado; era apenas uma sombra,
um quadro, da RECONCILIAÇÃO verdadeira.
O sangue de um tipo totalmente diferente era necessário para
uma cobertura eficaz da culpa. Conforme o conselho de Deus Santo,
nada menos do que o sangue do próprio Filho de Deus podia levar a
efeito a RECONCILIAÇÃO. A justiça a exigia; o amor a oferecia.
"Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a
redenção que há em Cristo Jesus; a quem Deus propôs, no seu
sangue, como propiciação, mediante a fé."
III. O SANGUE, QUE LEVOU A EFEITO A RECONCILIAÇÃO.
A RECONCILIAÇÃO deve ser a satisfação das exigências da lei
santa de Deus.
O Senhor Jesus cumpriu aquilo. Mediante uma obediência
voluntária e perfeita, cumpriu a lei sob a qual Se colocara. No
mesmo espírito de entrega total à vontade do Pai, suportou a
maldição que a lei pronunciara contra o pecado. Ofereceu, na mais
plena medida da obediência ou do castigo, tudo quanto a lei de Deus
em qualquer tempo poderia pedir ou desejar. A lei foi perfeitamente
satisfeita por Ele. Como é, porém, que Seu cumprimento das
exigências da lei pode ser RECONCILIAÇÃO pelos pecados dos
outros? É porque, tanto na criação como na santa aliança da graça
que o Pai fizera com Ele, Ele era reconhecido como sendo o cabeça
da raça humana. Por causa disto, Ele pôde, ao Se fazer carne,
tornar-Se um segundo Adão. Quando Ele, o VERBO, Se fez CARNE,
colocou-Se em comunhão verdadeira com a nossa carne que estava
sob o poder do pecado, e tomou sobre Si a responsabilidade por
tudo quanto o pecado fizera na carne contra Deus. Sua obediência e
perfeição não eram meramente as de um só homem entre outros,
mas, sim, dAquele que Se colocara em comunhão com todos os
demais homens, e que tomara sobre Si o pecado deles.
Como Cabeça da Humanidade mediante a Criação, como seu
representante na aliança, ficou sendo seu fiador. Como uma
satisfação perfeita das exigências da lei foi realizada pelo
derramamento do Seu sangue, esta era a RECONCILIAÇÃO; a co-
bertura dos nossos pecados.
Acima de tudo, nunca devemos esquecer-nos de que Ele era
Deus. Este fato outorgou-Lhe um poder divino, para unir-Se com
Suas criaturas, e assumi-las para dentro de Si mesmo. Outorgou aos
Seus sofrimentos uma virtude de santidade e poder infinitos. Fez
com que o mérito do derramamento do Seu sangue fosse mais do
que suficiente para lidar com toda a culpa do pecado humano. Fez
com que Seu sangue fosse uma RECONCILIAÇÃO tão real, uma
cobertura tão perfeita para o pecado, que a santidade de Deus já
não o contempla. Já foi verdadeiramente apagado. O Sangue de
Jesus, o Filho de Deus, conseguiu uma RECONCILIAÇÃO real, perfeita
e eterna.
O que significa aquilo?
Já falamos do efeito pavoroso do pecado em Deus, da mudança
terrível que ocorreu no céu, através do pecado. Ao invés do favor, da
amizade, e da bênção, e da vida de Deus, parte do Céu, o homem
nada tinha que esperar senão a ira, e a maldição, e a morte, e a
perdição. Podia pensar em Deus somente com temor e terror; sem
esperança, e sem amor. O pecado nunca cessou de clamar por vin-
gança, a culpa deve ser tratada completamente.
Mas veja, o sangue de Jesus, o Filho de Deus, foi derramado.
Foi feita a expiação pelo pecado. A paz é restaurada. Mais uma vez,
ocorreu uma mudança, tão real e generalizada como aquela que o
pecado levara a efeito. Para aqueles que recebem a
RECONCILIAÇÃO, o pecado foi aniquilado. A ira de Deus volta-se e
esconde-se na profundidade do amor divino.
A Justiça de Deus já não aterroriza o homem. Vai ao encontro
deste como amigo, com uma oferta da justificação completa. 0
semblante de Deus sorri com prazer e aprovação enquanto o
pecador arrependido se aproxima dEle, e Ele o convida à comunhão
íntima. Abre para ele o tesouro da bênção. Agora, nada mais há que
possa separá-lo de Deus.
A RECONCILIAÇÃO mediante o sangue de Jesus cobriu seus
pecados; j á não aparecem diante da vista de Deus. Ele já não
imputa o pecado. A RECONCILIAÇÃO levou a efeito uma redenção
perfeita e eterna.
Oh! quem pode calcular o valor daquele sangue precioso?
Não é de se admirar que, para todo o sempre, aquele sangue
seja mencionado no cântico dos redimidos, e que, por toda a
eternidade, enquanto o céu durar, o louvor do sangue ressoe: "Foste
morto e com o teu sangue nos compraste para Deus."
Aqui, porém, há uma coisa estranha: os redimidos na terra não
participam daquele cântico com mais ânimo, nem estão abundantes
em louvor pela RECONCILIAÇÃO que o poder do Sangue operou.
O PERDÃO, QUE SE SEGUE À RECONCILIAÇÃO
Que o sangue fez RECONCILIAÇÃO pelo pecado, e cobriu-o, e
que como resultado disto uma mudança maravilhosa foi realizada
nos lugares celestiais — tudo isto de nada nos valerá, a não ser que
obtenhamos uma participação pessoal nisto. É no perdão do pecado
que isto acontece. Deus ofereceu uma absolvição perfeita de todo o
nosso pecado e culpa. Porque a RECONCILIAÇÃO foi feita pelo
pecado, nós agora podemos ser RECONCILIADOS com Ele. "Deus
estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não imputando
aos homens as suas transgressões." Seguindo esta palavra de
RECONCILIAÇÃO há o convite: "Rogamos que vos reconcilieis com
Deus." Quem recebe a RECONCILIAÇÃO pelo pecado, está RE-
CONCILIADO com Deus. Sabe que todos os seus pecados são
perdoados.
As Escrituras empregam diversas ilustrações para enfatizar a
plenitude do perdão, e para convencer o coração temeroso do
pecador de que o sangue realmente removeu seu pecado. "Desfaço
as tuas transgressões como a névoa, e os teus pecados como a
nuvem" (Is 44:22). "Lançaste para trás de ti todos os meus pecados"
(Is 38:17). "Lançará todos os nossos pecados nas profundezas do
mar" (Mq 7:19). "Buscar-se-á a iniqüidade de Israel, e já não haverá;
os pecados de Judá, mas não se acharão; porque perdoarei..." (Jr
50:20).
É a isto que o Novo Testamento chama de justificação. É
chamada assim em Rm 3.23-26: "Pois todos pecaram...sendo
justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que
há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, NO SEU SANGUE, como
PROPICIAÇÃO, MEDIANTE A FÉ, para manifestar a sua justiça... para
ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus."
Tão perfeita é a RECONCILIAÇÃO e tão verdadeiramente o
pecado foi coberto e apagado, que aquele que crê em Cristo é
considerado e tratado por Deus como sendo inteiramente justo. A
absolvição que recebeu de Deus é tão completa que não há nada,
absolutamente nada, para impedi-lo de aproximar-se de Deus com a
máxima liberdade.
Para desfrutar desta bem-aventurança nada é necessário
senão a fé no sangue. O sangue sozinho fez tudo.
O pecador arrependido que se volta do seu pecado para Deus,
precisa somente da fé naquele sangue. Ou seja, a fé no poder do
sangue, que verdadeiramente fez expiação pelo pecado, e que
verdadeiramente fez expiação por ele. Mediante aquela fé, ele sabe
que está plenamente RECONCILIADO com Deus, e que agora não há
a mínima coisa para impedir Deus de derramar sobre ele a plenitude
do Seu amor e da Sua bênção.
Se olhar em direção ao céu que dantes era coberto de nuvens,
negras com a ira de Deus, e com o terrível julgamento vindouro;
aquelas nuvens já não podem ser vistas, tudo brilha na luz alegre do
semblante de Deus, e do amor de Deus. A fé no sangue manifesta
no seu coração o mesmo poder operador de milagres que exerceu
no céu. Mediante a fé no sangue, torna-se participante de todas as
bênçãos que o sangue obteve para ele, da parte de Deus.
Irmãos, orem sinceramente para que o Espírito Santo lhes
revele *a glória desta RECONCILIAÇÃO, e o perdão dos seus
pecados, que ficou sendo de vocês mediante o sangue de Jesus.
Orem por corações iluminados para verem quão completamente o
poder acusador e condenador do seu pecado foi removido, e como
Deus, na plenitude do Seu amor e beneplácito Se voltou para vocês.
Abram seus corações ao Espírito Santo a fim de que Ele possa
revelar em vocês os efeitos gloriosos que o sangue tem tido no céu.
Deus propôs o PRÓPRIO JESUS CRISTO como uma RECONCILIAÇÃO
mediante a fé no Seu sangue. Ele é a RECONCILIAÇÃO pelos nossos
pecados. Confiem nEle, como quem já cobriu seu pecado diante de
Deus. Coloquem-No entre vocês e seus pecados, e experimentarão
quão completa é a Redenção que Ele levou a efeito, e quão poderosa
é a RECONCILIAÇÃO mediante a fé no Seu sangue.
Depois, mediante o CRISTO VIVO, os efeitos poderosos que o
sangue exerceu no céu serão manifestados cada vez mais nos seus
corações, e saberão o que significa andar, pela graça do Espírito, na
plena luz e gozo do perdão.
E para vocês, que ainda não obtiveram o perdão dos seus
pecados, esta palavra não vem como uma chamada urgente à fé no
Seu sangue?
Vocês nunca permitirão que sejam comovidos por aquilo que
Deus fez por vocês como pecadores? "Nisto consiste o amor, não em
que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou, e
enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados" (1 Jo
4:10)
O sangue precioso, divino, foi derramado, a RECONCILIAÇÃO
está completa, e a mensagem vem a vocês: "Reconciliai-vos com
Deus."
Se você se arrepender dos seus pecados, e desejar ser liberto
do poder e da escravidão do pecado, exerça fé no sangue. Abra seu
coração à influência da palavra que Deus enviou para ser falada a
você. Abra seu coração à mensagem de que o sangue pode livrar
você, sim, você mesmo, neste momento. Creia somente nisto. Diga:
"aquele sangue também é para mim." Se você vier como um peca-
dor culpado e perdido, ansiando pelo perdão, pode ter a segurança
que o sangue que já fez uma RECONCILIAÇÃO perfeita cobre seu
pecado e restaura você, imediatamente, ao favor e ao amor de
DEUS.
Peço-lhe, portanto, que exerça fé no sangue. Neste momento,
curve-se diante de Deus, e diga--Lhe que você realmente crê no
poder do sangue para sua própria alma. Tendo dito isto, fique firme
nesta posição, agarre-se a ela. Mediante a fé no Seu sangue, Jesus
Cristo será a RECONCILIAÇÃO para seus pecados também.
Capítulo IV
A PURIFICAÇÃO PELO SANGUE
"Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos
comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos
purifica de todo pecado" - 1 João 1:7

Já vimos que o efeito mais importante do Sangue é a


RECONCILIAÇÃO, pelo pecado.
O fruto do conhecimento acerca da RECONCILIAÇÃO, e da fé
nela, é o PERDÃO do pecado. O perdão é simplesmente uma
declaração daquilo que já aconteceu no céu em prol do pecador, e
sua aceitação cordial dele.
Este primeiro efeito do Sangue não é o único. À medida em que
a alma, mediante a fé, entrega-se ao Espírito de Deus para
compreender o pleno poder da RECONCILIAÇÃO, o Sangue exerce
um poder adicional ao outorgar as demais bênçãos as quais lhe são
atribuídas na Escritura.
Um dos primeiros resultados da RECONCILIAÇÃO é a
PURIFICAÇÃO DO PECADO. Vejamos o que a Palavra de Deus tem a
dizer sobre isto. A PURIFICAÇÃO é freqüentemente mencionada
entre nós como se nada mais fosse do que o perdão dos pecados, ou
a purificação da culpa. Isto, no entanto, não é assim. A Escritura não
fala em ser PURIFICADO DA CULPA. A PURIFICAÇÃO do pecado
significa a libertação da poluição do pecado, e não da culpa dele. A
culpa do pecado diz respeito ao nosso relacionamento com Deus, e à
nossa responsabilidade de reparar nossos maus feitos, ou suportar o
castigo deles. A poluição do pecado, por outro lado, é o senso de
imundície e impureza que o pecado traz para o íntimo da pessoa, e a
PURIFICAÇÃO tem muito a ver com isto.
É da máxima importância para cada crente que deseja
desfrutar da plena salvação que Deus forneceu para ele, entender
corretamente o que as Escrituras ensinam acerca desta
PURIFICAÇÃO.
Consideremos:
I. O QUE A PALAVRA PURIFICAÇÃO SIGNIFICA NO ANTIGO
TESTAMENTO.
II. QUAL É A BÊNÇÃO INDICADA POR AQUELA PALAVRA NO
NOVO TESTAMENTO?
III. COMO PODEMOS EXPERIMENTAR O PLENO GOZO DA
BÊNÇÃO?
I. A PURIFICAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO
No serviço de Deus, conforme foi instituído através de Moisés
para Israel, havia duas cerimônias a serem observadas pelo povo de
Deus nos preparativos para se aproximar dEle. Estas eram as OFER-
TAS ou os SACRIFÍCIOS, e as PURIFICAÇÕES. As duas deviam ser
observadas, mas de maneiras diferentes. As duas visavam lembrar
ao homem quão pecaminoso ele era, e quão indigno de aproximar--
se do Deus Santo. As duas visavam tipificar a REDENÇÃO mediante a
qual o Senhor Jesus Cristo restauraria ao homem a comunhão com
Deus. Como regra geral, apenas as OFERTAS são consideradas
típicas da REDENÇÃO mediante Cristo. A Epístola aos Hebreus, no
entanto, enfaticamente menciona AS PURIFICAÇÕES como sendo
figuras "para a época presente em que se oferecem SACRIFÍCIOS... e
DIVERSAS ABLUÇÕES" (Hb95, 10).
Se pudermos imaginar a vida de um israelita, entenderemos
que a consciência do pecado, e a necessidade da REDENÇÃO, eram
despertadas não menos pelas PURIFICAÇÕES do que pelas OFERTAS.
Devemos também aprender delas o que é realmente o Sangue
de Jesus.
Podemos citar um dos casos mais importantes da PURIFICAÇÃO
como ilustração. Se qualquer pessoa estivesse numa choupana ou
numa casa em que jazia um cadáver, ou mesmo se tivesse tocado
num cadáver, ou nalguns ossos, ficava impuro durante sete dias. A
morte, como o castigo pelo pecado, tornava impura toda pessoa que
entrava nalguma conexão com ela. A PURIFICAÇÃO era realizada
com o emprego das cinzas de uma novilha que tinha sido queimada,
conforme a descrição de Números 19 (cf. Hb 9:13, 14). Estas cinzas,
misturadas com água, eram aspergidas com um molho de hissopo
sobre a pessoa imunda; depois, tinha de banhar-se em água, e então
passava a ser mais uma vez cerimonialmente pura.
As palavras "IMUNDO," "PURIFICAÇÃO," "LIMPO," eram usadas
com referência à cura da lepra, doença que pode ser descrita como
sendo a morte em vida. Levítico, capítulos 13 e 14: aqui, também,
aquele que devia ser PURIFICADO tinha de banhar-se em água,
tendo sido primeiramente aspergido com água, em que o sangue de
uma ave, oferecida em sacrifício, tinha sido misturado. Sete dias
mais tarde, voltava a ser aspergido com o sangue sacrifícial.
Um exame cuidadoso das leis da PURIFICAÇÃO nos ensinará
que a diferença entre AS PURIFICAÇÕES e AS OFERTAS era dupla.
Primeiramente, a oferta tinha referência específica à transgressão
para a qual a RECONCILIAÇÃO tinha de ser feita. A PURIFCAÇÃO
tinha mais a ver com condições que não eram pecaminosas em si
mesmas, mas, sim, o resultado do pecado, e, portanto, deviam ser
reconhecidas pelo povo santo de Deus como sendo contaminadas.
Em segundo lugar, no caso da OFERTA, nada era feito ao próprio
ofertante. Via o sangue aspergido sobre o altar ou levado para o
Lugar Santo; devia crer que isto produzia a RECONCILIAÇÃO diante
de Deus. Nada, porém, era feito a ele mesmo. Na PURIFICAÇÃO, por
outro lado, aquilo que acontecia à pessoa era a coisa principal. A
contaminação era alguma coisa que, mediante uma enfermidade
interna, ou mediante um toque externo, viera sobre o homem; des-
tarte, a lavagem ou a aspersão com água devia ser realizada nele
mesmo conforme Deus ordenou.
A PURIFICAÇÃO era alguma coisa que ele podia sentir e
experimentar. Levava a efeito uma mudança não somente no seu
relacionamento com Deus, como também na sua própria condição.
Na OFERTA algo foi feito EM PROL dele; mediante a PURIFICAÇÃO,
algo foi feito NELE. A OFERTA dizia respeito à sua culpa. A
PURIFICAÇÃO dizia respeito à poluição do pecado.
O mesmo significado das palavras "PURO," "PURIFICAÇÃO," é
achado noutros lugares no Antigo Testamento. Davi ora no Salmo
51: "PURIFICA-me do meu pecado," "PURIFICA-me com hissopo, e
ficarei LIMPO." A palavra usada por Davi aqui é aquela que é
empregada mais frequentemente para a PURIFICAÇÃO de qualquer
pessoa que toca num cadáver. O hissopo também era usado em tais
casos. Davi orou, pedindo mais do que o perdão. Confessou que
"nascera na iniquidade," que sua natureza era pecaminosa. Orou
para que fosse purificado por dentro. "PURIFICA-me do meu pecado,"
era sua oração. Emprega a mesma palavra mais tarde, quando ora:
"Cria em mim, ó Deus, um coração PURO." A PURIFICAÇÃO é mais do
que o perdão. »
Da mesma maneira, esta palavra é usada por Ezequiel, e
refere- se a uma condição interior que devia ser mudada. Isto fica
evidente no capítulo 24:11, 13, onde, falando da impureza que é
removida mediante a fundição, Deus diz: "Porque eu quis purificar-te
e não te purificaste." Mais tarde, falando da Nova Aliança
(cap.36:25), diz: "Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis
PURIFICADOS; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos
ídolos vos PURIFICAREI."
Malaquias emprega a mesma palavra, ligando-a com o fogo
(cap. 3:3): "Assentar-se-á, como derretedor e purificador de prata;
PURIFICARÁ os filhos de Levi."
A PURIFICAÇÃO pela água; pelo sangue; pelo fogo; todas
típicas da PURIFICAÇÃO que ocorreria sob a Nova Aliança, uma
PURIFICAÇÃO interior e a libertação da mancha do pecado.
II. A BÊNÇÃO INDICADA NO NOVO TESTAMENTO PELA
PURIFICAÇÃO
Menciona-se frequentemente no Novo Testamento um coração
limpo ou puro. Nosso Senhor disse: "Bem-aventurados os LIMPOS de
coração"
(Mt 5:8). Paulo fala do "amor que procede de coração PURO" (1
Tm 1:5). Fala também de uma "consciência PURA."
Pedro exorta seus leitores assim: "Amai-vos de coração uns aos
outros ardentemente." A palavra PURIFICAÇÃO também é usada.
Lemos acerca daqueles que são descritos como sendo o povo
de Deus que Deus PURIFICOU seus corações pela fé (At 15:9).
Lemos que o propósito do Senhor Jesus a respeito dos Seus era
"PURIFICAR para si mesmo um povo exclusivamente seu" (Tt 2:14).
No que diz respeito a nós mesmos, lemos: "PURIFIQUEMO-nos
de toda impureza, tanto da carne, como do espírito" (2 Co 7:1).
Todos estes trechos nos ensinam que a PURIFICAÇÃO e uma
obra interior,operada no coração, e que é subsequente ao perdão.
Em 1 João 1:7 somos informados de que "o sangue de Jesus,
seu Filho, nos PURIFICA de todo pecado." Esta palavra - PURIFICA -
não se refere à graça do PERDÃO recebida na ocasião da conversão,
mas sim, ao efeito da graça NOS filhos de Deus que andam na luz.
Lemos: "Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz... o
sangue de Jesus, seu Filho, nos PURIFICA de todo pecado." Que se
refere a algo mais do que o perdão aparece naquilo que se segue no
v.9: "ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos PURIFICAR
de toda injustiça." A purificação é algo que vem depois do perdão e
é o resultado dele, mediante o recebimento interior e experimental
do poder do sangue de Jesus no coração do crente.
Esta purificação ocorre, conforme a Palavra, primeiramente na
'purificação da consciência. "Muito mais o sangue de Cristo...
PURIFICARÁ a nossa consciência de obras mortas para servirmos ao
Deus vivo!" (Hb 9:14). A menção já feita das cinzas de uma novilha,
aspergindo os impuros, tipifica uma experiência pessoal do sangue
precioso de Cristo. A consciência não somente é um juiz para
pronunciar sentença sobre nossas ações, como também é a voz
interior que dá testemunho do nosso relacionamento com Deus, e do
relacionamento de Deus conosco. Quando é PURIFICADA pelo
sangue, testifica de que somos bem agradáveis a Deus. Está escrito
em Hebreus 10:2: "Os que prestam culto, tendo sido PURIFICADOS
uma vez por todas não mais teriam consciência de pecados."
Recebemos mediante o Espírito uma experiência interior de que o
sangue nos libertou tão plenamente da culpa e do poder do pecado
que nós, na nossa natureza não-regenerada, escapamos inteira-
mente do seu domínio. O pecado ainda habita na nossa carne, com
suas tentações, mas não tem poder algum para dominar. A
consciência é PURIFICADA, não há necessidade da mínima sombra
de separação entre Deus e nós; olhamos para cima, para Ele, no
pleno poder da REDENÇÃO. A consciência PURIFICADA pelo sangue
testifica de nada menos do que uma redenção completa, da plenitu-
de do beneplácito de Deus.
E se a consciência é PURIFICADA, assim também é o CORAÇÃO,
do qual a consciência é o centro. Lemos acerca de ter o coração
PURIFICADO de uma má consciência (Hb 10:22). Não somente a
consciência deve ser PURIFICADA, como também o coração deve ser
PURIFICADO, inclusive o entendimento, e a vontade, com todos os
nossos pensamentos e desejos. Pelo sangue, através de cujo
derramamento Cristo Se entregou para a morte, e em virtude do
qual entrou de novo no céu, a morte e a ressurreição de Cristo são
incessantemente eficazes. Mediante este poder de Sua morte e
ressurreição, as lascívias e disposições pecaminosas são mortas.
"O sangue de Jesus purifica de todo o pecado," do pecado
original, bem como do pecado real. O sangue exerce seu poder
espiritual e celestial na alma. O crente em cuja vida o sangue é
plenamente eficaz, tem a experiência de que a velha natureza é
impedida de manifestar seu poder. Mediante o sangue, suas
concupiscências e seus desejos são subjugados e mortos, e tudo é
PURIFICADO de tal maneira que o Espírito pode produzir Seu fruto
glorioso. No caso do mínimo tropeço, a alma acha PURIFICAÇÃO e
restauração imediatas. Até mesmo os pecados inconscientes são
tornados impotentes pela sua eficácia.
Já notamos uma diferença entre a culpa e a poluição do
pecado. Esta é de importância para um claro entendimento da
questão; na vida real, no entanto, devemos sempre lembrar-nos de
que não estão assim divididas. Deus, mediante o sangue, trata do
pecado como um todo. Cada operação verdadeira do sangue
manifesta seu poder simultaneamente sobre a culpa e a poluição do
pecado. A reconciliação e a purificação sempre vão juntas, e o
sangue opera incessantemente.
Muitos parecem pensar que o sangue está ali parado, de modo
que, se voltamos a pecar, podemos voltar para ele a fim de ser
purificados. Mas isto não é assim. Da mesma maneira que uma fonte
flui sempre, e sempre purifica aquilo que é colocado nela ou debaixo
da sua corrente, assim também é com esta Fonte, aberta para o
pecado e a impureza (Zc 13:1). O podei eterno da vida do Espírito
Eterno opera através do sangue. Por meio dEle, o coração pode
permanecer sempre debaixo do fluxo e da PURIFICAÇÃO do Sangue.
No Antigo Testamento, a PURIFICAÇÃO era necessária para
cada pecado. No Novo Testamento, a PURIFICAÇÃO depende
dAquele que vive sempre para interceder. Quando a fé vê e deseja e
se apodera deste fato, o coração pode permanecer cada momento
sob o poder protetor e PURIFICADOR do sangue.

III. COMO PODEMOS EXPERIMENTAR O PLENO GOZO


DESTA BÊNÇÃO?
Toda pessoa que obtém, pela fé, uma participação no mérito
expiador do sangue de Cristo, também tem uma participação na sua
eficácia PU-RIFICADORA. Mas a experiência do seu poder para
purificar é, por várias razões, tristemente imperfeita. É, portanto, de
grande importância entender quais são as condições para o pleno
gozo desta bênção gloriosa.
(a.) Em primeiro lugar, o conhecimento é necessário. Muitos
pensam que o perdão do pecado é tudo quanto recebemos através
do sangue. Nada mais pedem, e nada mais obtêm.
E uma coisa bem-aventurada começar a ver que o Espírito
Santo de Deus tem um propósito especial em fazer uso de palavras
diferentes na Escritura a respeito dos efeitos do sangue. É então que
começamos a pesquisar seu significado especial. Que toda pessoa,
que verdadeiramente anseia saber aquilo que o Senhor deseja
ensinar-nos, por meio desta única palavra-PURIFICAÇÃO, compare
atentamente todos os lugares na Escritura em que a palavra é
usada, onde se fala da PURIFICAÇÃO.
Logo sentirá que mais é prometido ao crente do que a remoção
da culpa. Começará a compreender que a PURIFICAÇÃO mediante a
lavagem pode remover manchas, e embora não possa explicar ple-
namente de que maneira isto acontece, mesmo assim, ficará
convicto de que possa esperar uma bendita operação interna da
PURIFICAÇÃO que remove os efeitos do pecado, pelo sangue. O
conhecimento deste FATO é a primeira condição de experimentá-lo.

(b.) Em segundo lugar: Deve haver desejo.

Receia-se que nosso cristianismo esteja por demais satisfeito


em adiar para uma vida futura a experiência da Bem-aventurança
que nosso Senhor pretendeu que fosse para nossa vida terrestre:
"Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus."
Não se reconhece suficientemente que a PUREZA DE CORAÇÃO
é uma característica de cada filho de Deus, porque é a condição
necessária à comunhão com Ele, de desfrutar da Sua salvação. Há
uma falta de anseio para ser realmente, em todas as coisas,
agradável ao Senhor. O pecado, e a mancha do pecado, não nos
preocupam suficientemente.
A Palavra de Deus vem a nós com a promessa de bênção que
deve despertar todos os nossos desejos. Creia que o sangue de Jesus
purifica de todo o pecado. Se você aprender como entregar-se corre-
tamente à sua operação, ele pode fazer grandes coisas em você.
Você não deveria desejar, a toda hora, experimentar sua gloriosa
eficácia purificadora; ser preservado, a despeito da sua natureza de-
pravada, das muitas manchas por causa das quais sua consciência
constantemente o acusa? Que seus desejos sejam despertados para
ansiar por esta bênção. Experimente o que Deus pode fazer, operan-
do em você aquilo que Ele, como o fiel, prometeu: PURIFICANDO de
toda a injustiça.

(c.) A terceira condição é a disposição de separar-se de tudo


quanto é impuro. Pelo pecado, tudo quanto há na nossa natureza, e
no mundo, está contaminado. A PURIFICAÇÃO não pode ocorrer onde
não há uma separação inteira de tudo quanto é impuro, abrindo mão
dele. "Não toqueis em coisa impura", é o mandamento que Deus dá
aos Seus escolhidos. Devo reconhecer que todas as coisas que me
cercam são impuras.
Meus amigos, minhas posses, meu espírito, todos devem ser
entregues a fim de que eu seja PURIFICADO em cada
relacionamento pelo sangue precioso, e que todas as atividades do
meu espírito, da minha alma, e do meu ser, experimentem uma
PURIFICAÇÃO completa.
Aquele que deseja reter qualquer coisa, por mínima que seja,
não pode obter a plenitude da bênção. Aquele que está disposto a
pagar o preço integral de modo que tenha a totalidade do seu ser
batizado pelo sangue, está a caminho de entender plenamente esta
palavra: "O sangue de Jesus purifica de todo o pecado."

(d.) A última condição é exercer fé no poder do sangue. Não é


como se nós, pela nossa fé, outorguemos ao sangue e sua eficácia.
Não: o sangue sempre retém seu poder e sua eficácia, mas nossa
descrença fecha nosso coração, e impede a sua operação. A fé é
simplesmente a remoção daquele impedimento, a abertura do nosso
coração, para o poder divino mediante o qual o Senhor vivo conce-
derá o Seu sangue.
Sim, creiamos que há uma PURIFICAÇÃO pelo sangue.
Talvez você tenha visto uma fonte no meio de uma área de
grama. Proveniente da estrada muito utilizada que corre por aquela
área, a poeira está constantemente caindo sobre a grama que
cresce ao lado da estrada, mas onde a água da fonte cai num borrifo
refrescante e purificador, não há sinal de poeira, tudo está verde e
fresco. Da mesma maneira, o sangue precioso de Cristo leva a efeito
sua obra bendita incessantemente na alma do crente que, pela fé,
se apropria dele. Aquele que, pela fé, se entrega ao Senhor, e
acredita que isto pode acontecer, e que acontecerá mesmo, lhe será
dado.
O efeito celestial, espiritual do sangue realmente pode ser
experimentado a cada momento. Seu poder é tal que sempre posso
permanecer na fonte, sempre habitar nas chagas do meu Senhor.
Crente, venha, peço-lhe, ponha à prova como o sangue de
Jesus pode purificar seu coração de todo o pecado.
Você sabe com que alegria um viajante cansado se banharia
numa corrente fresca, mergulhando na água para experimentar seu
efeito refrescante, e limpador, e fortificante. Erga seus olhos e veja
pela fé quão incessantemente uma corrente flui do céu para a terra.
É a influência do bendito Espírito, através de quem o poder do
sangue de Jesus flui em direção à terra, por sobre as almas, para
curá-las e purificá-las. Oh! coloque-se nesta corrente, simplesmente
creia que as palavras: "O sangue de Jesus purifica de todo o
pecado," têm um significado divino, mais profundo e largo do que
você já imaginou. Creia que é o próprio Senhor Jesus que o purificará
no Seu sangue, e que cumprirá poderosamente Sua promessa em
você. E conte com a purificação do pecado pelo Seu sangue, como
sendo uma bênção, no desfrutamento diário da qual você pode
permanecer com confiança.
Capítulo V

A SANTIFICAÇÃO PELO SANGUE

"Por isso foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu
próprio sangue, sofreu fora da porta"-Hb 13:12.

"A PURIFICAÇÃO PELO SANGUE" foi o assunto do nosso capítulo


anterior.
A SANTIFICAÇÃO PELO SANGUE deve agora ocupar a nossa
atenção.
Para o observador superficial talvez pareça que pouca
diferença há entre a PURIFICAÇÃO e a SANTIFICAÇÃO; que as duas
palavras significam mais ou menos a mesma coisa; mas a diferença
é grande e importante.
A PURIFICAÇÃO tem a ver principalmente com a vida antiga, e
com a mancha do pecado que deve ser removida, e é apenas
preparatória.
A SANTIFICAÇÃO diz respeito à nova vida e àquela
característica que lhe deve ser transmitida por Deus. A
SANTIFICAÇÃO, que significa a união com Deus, é a plenitude
especial de bênção comprada por nós pelo sangue.
A distinção entre estas duas coisas está claramente marcada
na Escritura. Paulo nos lembra que "Cristo amou a igreja, e a si
mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a
purificado"(Ef 5:25). Tendo-a primeiramente PURIFICADO, depois a
SANTIFICA. Escrevendo a Timóteo, diz: "Assim, pois, se alguém a si
mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra,
SANTIFICAOO e útil ao seu possuidor" (2 Tm 2:21). A SANTIFICAÇÃO
é uma bênção que segue a PURIFICAÇÃO, e vai além dela.
É também ilustrada de modo notável pelas ordenanças
vinculadas com a ordenação dos Sacerdotes, comparada com a dos
Levitas. No caso destes últimos, que assumiam uma posição inferior
a dos Sacerdotes no serviço do Santuário, não se menciona a
SANTIFICAÇÃO, mas a palavra PURIFICAÇÃO é usada cinco vezes
(Nm 8).
Na consagração dos Sacerdotes, por outro lado, a palavra
"SANTIFICAR" é freqüentemente usada; isto porque os Sacerdotes
ficavam num relacionamento com Deus mais estreito do que os levi-
tas (Êx 29; Lv8).
Este registro enfatiza, ao mesmo tempo, a estreita conexão
entre o sangue sacrificial, e a SANTIFICAÇÃO. No caso da
consagração dos levitas, a RECONCILIAÇÃO pelo pecado foi feita, e
foram aspergidos com a água da purificação, mas não eram
aspergidos com o sangue. Na consagração dos Sacerdotes, porém, o
sangue tinha de ser aspergido sobre eles. Eram SANTIFICADOS por
uma aplicação mais pessoal e íntima do sangue.
Tudo isto prefigurava a SANTIFICAÇÃO pelo SANGUE DE JESUS,
e é a ela que procuraremos compreender agora, a fim de que
obtenhamos nela uma participação. Consideremos, portanto:

I. O QUE É A SANTIFICAÇÃO;
II. QUE A SANTIFICAÇÃO FOI O GRANDE OBJETIVO DOS
SOFRIMENTOS DE CRISTO;
III. QUE A SANTIFICAÇÃO PODE SER OBTIDA
PELOSANGUE.

I. O QUE É SANTIFICAÇÃO
Para compreendermos o que é a SANTIFICAÇÃO dos redimidos,
devemos primeiramente ficar sabendo o que é a santidade de Deus.
Somente Ele é SANTO. A santidade na criatura deve ser recebida
nEle.
Freqüentemente se fala da santidade de Deus como se
consistisse do Seu ódio ao pecado e da Sua hostilidade contra ele;
mas isto não dá explicação alguma daquilo que a santidade
realmente é. É meramente uma declaração negativa, que a santi-
dade de Deus não pode aturar o pecado.
A santidade é aquele atributo de Deus por causa do qual Ele
sempre é, e deseja, e faz o que é supremamente bom nas Suas
criaturas, e o outorga a elas.
Deus é chamado "Santo" na Escritura, não somente porque Ele
castiga o pecado, mas também porque Ele é o Redentor do Seu
povo. É a Sua santidade, que sempre determina aquilo que é bom
para todos, que O moveu para redimir os pecadores. Tanto a IRA de
Deus — que castiga o pecado, como o AMOR de Deus — que redime
o pecador, brotam da mesma fonte: a Sua santidade. A santidade é
a perfeição da natureza de Deus.
A santidade no homem é uma disposição em concordância tal
com a sanidade de Deus; que escolhe em todas as coisas desejar
como Deus deseja: conforme está escrito: "Sede santos,porque eu
sou santo" (1 Pe 1:15). A santidade em nós nada mais é do que a
união com Deus. A Santificação do povo de Deus é levada a efeito
pela comunicação a ele da santidade de Deus. Não há outro meio de
obter a SANTIFICAÇÃO, senão por meio da outorga pelo Deus Santo,
daquilo que somente Ele possui. Somente Ele é SANTO. Ele é o
Senhor que santifica.
Por meio dos significados diferentes que a Escritura dá às
palavras "santificação" e "santificar" um certo relacionamento com
Deus é indicado, para dentro do qual somos trazidos.
O primeiro significado, e o mais simples, da palavra
SANTIFICAÇÃO, é "separação".Aquilo que é tirado do seu meio-
ambiente, pelo mandamento de Deus, e que é colocado de lado ou é
separado como Sua própria possessão e para Seu serviço, aquilo é
santo. Isto não significa somente a separação do pecado, como
também de tudo quanto há no mundo, até mesmo daquilo que pode
ser permissível. Destarte, Deus santificou o sétimo dia. Os outros
dias não eram impuros, porque Deus olhou tudo quanto fizera, e "viu
que era muito bom". Mas santo era somente aquele dia do qual Deus
tomara possessão mediante Seu próprio ato especial. Da mesma
maneira, Deus separara Israel das demais nações, e em Israel
separara os sacerdotes para serem santos para Ele. Esta separação
para a SANTIFICAÇÃO é sempre a obra do próprio Deus, e, destarte,
a graça eleitora de Deus está freqüentemente vinculada de modo
estreito com a SANTIFICAÇÃO. "Ser-me-eis santos... e separei-
vos...para serdes meus" (Lv 20:26). "E será que o homem a quem o
SENHOR escolher, este será santo" (Nm 16:7). "Tu és povo santo ao
SENHOR teu Deus: o SENHOR teu Deus te escolheu" (Dt 7:6). Deus
não pode compartilhar com outros senhores. Deve ser o único dono,
possuidor, e soberano daqueles aos quais revela e outorga Sua
santidade.
Esta separação, porém, não é tudo quanto é incluído na
palavra SANTIFICAÇÃO. É apenas a condição indispensável daquilo
que deve seguir-se. O homem, quando é separado, fica diante de
Deus sem ser diferente, em aspecto algum objeto inanimado que
tenha sido santificado para o serviço de Deus. Se é que a separação
deve ter valor, algo mais deve acontecer. O homem deve entregar-
se com boa vontade e cordialmente a esta separação. A
SANTIFICAÇÃO inclui a consagração pessoal ao Senhor para ser dEle.
A SANTIFICAÇÃO pode vir a ser nossa somente quando envia
suas raízes para a profundidade da nossa vida pessoal e ali faz a sua
habitação; na nossa vontade, e no nosso amor. Deus não santifica
homem algum contra a vontade deste, portanto, a entrega pessoal e
cordial a Deus é uma parte indispensável da SANTIFICAÇÃO.
É por esta razão que as Escrituras não somente falam de Deus
que nos santifica, mas freqüentemente dizem que nós devemos
santificar a nós mesmos.
Mas mesmo com a consagração, a verdadeira SANTIFICAÇÃO
ainda não está completa. A separação e a consagração juntas são
apenas o preparativo para a obra gloriosa que Deus realizará, en-
quanto transmite Sua própria santidade à alma. "PARTICIPAR DA
NATUREZA DIVINA" é a bênção que é prometida aos crentes na
SANTIFICAÇÃO. "A fim de sermos participantes da sua santidade"(Hb
12:10), é o alvo glorioso da obra de Deus naqueles aos quais Ele
separa para Si mesmo. Mas esta transmissão da Sua santidade não é
uma dádiva dalguma coisa que está à parte do próprio Deus; não,
está na comunhão pessoal com Ele, e na participação da Sua vida
divina, que a SANTIFICAÇÃO pode ser obtida.
Como SANTO, Deus habita entre o povo de Israel para
santificar o Seu povo (Êx 29:45, 46). Como SANTO, habita em nós. É
somente a presença de Deus que pode santificar. Mas tão certamen-
te é esta a nossa porção, que a Escritura não hesita em falar sobre
Deus habitando em nosso coração, com tanto poder que possamos
ser "repletos com toda a plenitude de Deus." A verdadeira SANTI-
FICAÇÃO é a comunhão com Deus e o Seu habitar conosco. Destarte,
era necessário que Deus em Cristo fizesse Sua habitação na carne, e
que o Espírito Santo viesse habitar em nós. É isto que a SAN-
TIFICAÇÃO significa.
Notemos agora:

II. ESTA SANTIFICAÇÃO FOI O OBJETIVO EM PROL DO


QUAL CRISTO SOFREU.
Este fato é claramente declarado em Hebreus 13:12: "Jesus,
para santificar o povo... sofreu." Na sabedoria de Deus, uma
participação da Sua santidade é o destino mais elevado do homem.
Logo, este também era o objetivo central da vinda do nosso Senhor
Jesus à terra; e, acima de tudo, dos Seus sofrimentos e morte. Era
"para santificar o povo" e "para sermos santos e irrepreensíveis pe-
rante ele" (Ef 1:4).
Como os sofrimentos de Cristo alcançaram este propósito, e
ficaram sendo nossa SANTIFICAÇÃO, é-nos esclarecido pelas
palavras que Ele falou ao Seu Pai, quando estava para Se deixar atar
como sacrifício: "E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para
que eles também sejam santificados na verdade" (Jo 1*7:19). Porque
Seus sofrimentos e Sua morte eram uma SANTIFICAÇÃO de Si
mesmo, que podem vir a ser SANTIFICAÇÃO para nós.
O que significa isto? Jesus era o SANTO DE DEUS, "O Filho a
quem o Pai santificou e enviou ao mundo," e Ele devia santificar a Si
mesmo? Devia fazer assim; era indispensável.
A SANTIFICAÇÃO que Ele possuía não estava além do alcance
da tentação. Na Sua tentação, devia mantê-la, e demonstrar quão
perfeitamente Sua vontade era entregue à santidade de Deus. Já
vimos que a verdadeira santidade no homem é a perfeita união
entre a Sua vontade e a de Deus. No decurso de toda a vida de
nosso Senhor, desde a tentação no deserto em diante, Ele tinha
sujeitado Sua vontade à vontade do Seu Pai, e Se consagrara como
um sacrifício a Deus. Mas foi principalmente no Getsêmane que Ele
fez assim. Ali havia a hora e o poder das trevas; a tentação de
afastar de Si o cálice terrível da ira, e de fazer a Sua própria vonta-
de, veio com poder quase irresistível, mas rejeitou a tentação.
Ofereceu a Si mesmo, e à Sua vontade, à vontade e à santidade de
Deus. Santificou-Se mediante uma perfeita união da Sua vontade
com a de Deus. Esta santificação de Si mesmo tornou-se o poder
mediante o qual nós também podemos ser santificados na verdade.
Isto está em perfeito acordo com aquilo que aprendemos na Epístola
aos Hebreus, onde, falando das palavras usadas por Cristo, lemos:
"Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade" e depois é
acrescentado: "Temos sido santificados, mediante a oferta do corpo
de Jesus Cristo, uma vez por todas" (Hb 10:9, 10). Era porque a
oferta do Seu corpo era Sua entrega de Si mesmo à vontade de
Deus, que nós nos tornamos santificados por aquela vontade.
Santificou-Se ali, por nós, a fim de que nós sejamos santificados na
verdade. A perfeita obediência na qual Se entregou, a fim de que a
vontade santa de Deus possa ser realizada nEle, não somente era a
causa meritória da nossa salvação, como, ao mesmo tempo, é o
poder mediante o que o pecado foi vencido para sempre, e mediante
o qual a mesma disposição, e a mesma santificação, podem ser
criadas em nosso coração.
Noutra parte desta Epístola aos Hebreus, o relacionamento
verdadeiro entre nosso Senhor e Seu próprio povo é até mais
claramente caracterizado por ter a SANTIFICAÇÃO como sua
finalidade principal, depois de falar quão apropriado era que nosso
Senhor sofresse daquela maneira, lemos: "Pois, tanto o que santifica,
como os que são santificados, todos vêm de um só" (Hb 2:11). A
união entre o Senhor Jesus e Seu povo consiste no fato de que os
dois recebem sua vida do mesmo Pai, e os dois participam da
mesmíssima SANTIFICAÇÃO. Jesus é o santificador, eles ficam sendo
os santificados. A SANTIFICAÇÃO é o elo que os une. "Por isso foi que
também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue,
sofreu..."
Se estivermos dispostos a realmente compreender e
experimentar aquilo que alcança a SANTIFICAÇÃO pelo SANGUE, é
da máxima importância para nós, primeiramente tomar posse do
fato de que a SANTIFICAÇÃO é a característica e o propósito dos
sofrimentos inteiros de nosso Senhor, sendo que o sangue era o
fruto, e o meio de bênção, daqueles sofrimentos. Sua SANTIFICAÇÃO
de Si mesmo tem a característica daqueles sofrimentos, e nisto
havia seu valor e seu valor e seu poder. A nossa SANTIFICAÇÃO é o
propósito daqueles sofrimentos, e.é somente para cumprir aquele
propósito que levam a efeito a bênção perfeita.
À medida em que isto fica sendo claro para nós, avançaremos
rapidamente para dentro do significado e da bênção verdadeiros dos
Seus sofrimentos.
Foi como SANTO que Deus preordenou a redenção. Era Sua
vontade glorificar Sua santidade na vitória sobre o pecado, pela
santificação do homem segundo Sua própria imagem. Foi com o
mesmo objetivo que nosso Senhor Jesus suportou e cumpriu Seus
sofrimentos; devemos estar consagrados a Deus. E se o Espírito
Santo, o santo Deus como Espírito, entrar em nós para revelar em
nós a redenção que está em Jesus, isto continua a ser com Ele,
também, o objetivo principal. Como o Espírito Santo, é o espírito da
santidade.
A RECONCILIAÇÃO, o PERDÃO, e a PURIFICAÇÃO do pecado,
todas estas têm um valor incalculável, todas elas, no entanto,
apontam para a frente, para a SANTIFICAÇÃO. É a vontade de Deus
que cada pessoa que foi marcada pelo sangue precioso, saiba que é
uma marca divina que caracteriza sua inteira separação para Deus;
que este sangue a chama para uma consagração integral a uma vida
totalmente para Deus, e que este sangue é a promessa, e o poder
de uma participação da santidade de Deus, mediante a qual o
próprio Deus fará nele Sua habitação, e será seu Deus.
Oxalá entendamos e creiamos que: "Também Jesus, para
santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu..." (Hb 13:12).
III. COMO PODE SER OBTIDA A SANTIFICAÇÃO PELO
SANGUE?
Uma resposta a esta pergunta, de modo geral, é que cada
pessoa que participa da virtude do sangue, também é participante
da SANTIFICAÇÃO, e é, aos olhos de Deus, uma pessoa santificada.
À medida em que vive em contato estreito e permanente com
o sangue, continua a experimentar, de modo cada vez maior, seus
efeitos santifica-dores, embora ainda entenda bem pouco acerca de
como estes efeitos são produzidos. Que ninguém pense que deve
primeiramente entender como tomar posse de tudo, ou explicar
tudo, suplicando antes de poder, pela fé, orar para que o sangue
manifeste nele seu poder santificador. Não; foi justamente em
conexão com o banho da purificação — a lavagem dos pés dos
discípulos — que o Senhor Jesus disse: "O que eu faço não o sabes
agora, compreendê-lo-ás depois". É o próprio Senhor Jesus que
santifica Seu próprio povo "pelo Seu próprio sangue". Aquele que de
coração se entrega a uma adoração fiel ao CORDEIRO, e à
comunhão com Ele, que nos comprou com o Seu sangue, ex-
perimentará através daquele sangue uma SANTIFICAÇÃO além
daquilo que pode conceber. O Senhor Jesus fará isto por ele.
O crente, porém, deve crescer no conhecimento também;
somente assim é que pode entrar na plena bênção que está
preparada para ele. Não somente temos o direito, como também é
nosso dever, pesquisar sinceramente qual é a conexão essencial
entre o bendito efeito do sangue, e nossa SANTIFICAÇÃO, e de que
maneira o Senhor Jesus operará, pelo Seu sangue, aquelas coisas
que já verificamos serem as qualidades principais da SANTIFICAÇÃO.
Já vimos que o começo de toda a SANTIFICAÇÃO é a
SEPARAÇÃO para Deus, como Sua possessão exclusiva, p"ara estar à
Sua disposição. E não é exatamente isto que o sangue proclama?
que o poder do pecado está quebrado; que somos libertos dos laços
dele; que já não somos seus escravos; mas, sim, pertencemos
Àquele que comprou nossa liberdade com o Seu sangue? "Não sois
de vós mesmos. Porque fostes comprados por preço" — é com esta
linguagem que o sangue nos conta que somos possessão de Deus.
Porque Ele deseja-nos ter inteiramente para Si mesmo, Ele nos
escolheu e comprou, e colocou sobre nós a marca distintiva do
sangue, como aqueles que estão separados de todos em seu redor,
para viver somente para o serviço dele. Esta idéia da separação está
claramente expressada nas palavras que repetimos tão freqüen-
temente: "Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue,
sofreu fora da porta. Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o
seu vitupério." "Sair" de tudo quanto é deste mundo foi a
característica dAquele que é santo, imaculado, separado dos
pecadores; e deve ser a característica de todos os Seus seguidores.
Crente, o Senhor Jesus SANTIFICOU você pelo Seu próprio
sangue, e deseja levar você a experimentar, mediante aquele
sangue, o pleno poder da SANTIFICAÇÃO. Esforce-se para obter uma
impressão clara daquilo que já aconteceu em você mediante a
aspersão daquele sangue. O Deus santo deseja ter você
inteiramente para Ele mesmo. Ninguém, nada, pode continuar tendo
o mínimo direito sobre você, nem você tem qualquer direito sobre si
mesmo. Deus separou você para SI MESMO, e, para você sentir este
fato, Ele colocou Sua marca sobre você. Aquela marca é a coisa mais
maravilhosa a ser achada na terra ou no céu: O SANGUE DE JESUS. O
sangue em que está a vida do Filho eterno de Deus; o sangue que no
trono da graça sempre está diante da face de Deus; o sangue que
lhe assegura a plena redenção do poder do pecado; aquele sangue
está aspergido sobre você, como sinal de que você pertence a Deus.
Crente, peço-lhe, deixe que cada pensamento acerca do
sangue desperte em você a confissão gloriosa: "Pelo Seu próprio
sangue, o Senhor Jesus me santificou, tomou completa posse de
mim para Deus, e eu pertenço inteiramente a Deus."
Já vimos que a SANTIFICAÇÃO é mais do que a separação. Esta
é apenas o começo. Já vimos, também, que a consagração pessoal e
a entrega sincera e bem disposta para viver somente para a santa
vontade de Deus e dentro dela, faz parte da SANTIFICAÇÃO.
De que maneira o sangue de Cristo pode operar em nós aquela
entrega, e nos SANTIFICAR nela? A resposta não é difícil. Não basta
crer no poder do sangue para nos redimir, e para nos libertar do
pecado, mas, sim, devemos, acima de tudo, notar a fonte deste
poder.
Sabemos que tem este poder, por causa da disposição com
que o Senhor Jesus Se entregou. No derramamento do Seu sangue,
santificou a Si mesmo, e ofereceu-Se inteiramente a Deus e à Sua
santidade. É por causa disto que o sangue é tão santo, e possui
tanto poder santificador. No sangue temos uma representação
impressionante da total entrega que Cristo fez de Si mesmo. O
sangue sempre fala da consagração de Jesus ao Pai, como a
abertura do caminho, e o suprimento do poder para a vitória sobre o
pecado. E quanto mais estreitamente entramos em contato com o
sangue, e quanto mais vivemos sob a impressão profunda de termos
sido aspergidos pelo sangue, tanto mais claramente ouviremos a voz
do sangue, declarando que "A inteira entrega a Deus é o caminho
para a redenção integral do pecado."
A voz do sangue não falará simplesmente para nos ensinar ou
para despertar o pensamento; o sangue fala com poder divino e
vivificante. O que ele ordena, ele outorga. Opera em nós a mesma
disposição que havia em nosso Senhor Jesus. Pelo Seu próprio
sangue, Jesus nos santifica, a fim de que nós, nada retendo,
possamos entregar-nos de todo o nosso coração à vontade santa de
Deus.
Mas a própria CONSAGRAÇÃO, em si mesma, ainda que
acompanhe e siga a SEPARAÇÃO, não passa de um preparativo. A
Santificação inteira ocorre quando Deus toma posse do templo que é
consagrado a Ele, e o enche da Sua glória. "Ali virei aos filhos de
Israel para que por minha glória sejam santificados" (Êx 29:43). A
SANTIFICAÇÃO real e completa consiste na transmissão, da parte de
Deus, da Sua própria santidade - dEle mesmo.
Aqui também, o sangue fala: Diz-nos que o céu está aberto,
que os poderes da vida celestial desceram à terra, que todo
impedimento foi removido, e que Deus pode fazer Sua habitação
com o homem.
A proximidade e a comunhão imediatas com Deus são
possibilitadas pelo sangue. O crente que se entrega sem reservas ao
sangue obtém a plena certeza de que Deus Se outorgará totalmente,
e que revelará nele a Sua santidade.
Quão gloriosos são os resultados de semelhante
SANTIFICAÇÃO! Através do Espírito Santo, o convívio da alma acha-
se na experiência viva da proximidade permanente de Deus;
acompanhada pelo despertamento do cuidado mais delicado contra
o pecado; guardada pela cautela e pelo temor a Deus.
Mas viver em vigilância contra o pecado não satisfaz a alma. 0
templo não somente deve ser purificado como também deve ser
cheio da glória de Deus. Todas as virtudes da santidade divina, con-
forme são manifestadas no Senhor Jesus, devem ser procuradas e
achadas na comunhão com Deus; A santificação significa a
comunhão com Deus; a comunhão na Sua vontade; a
compartilhação da Sua vida; a conformidade à Sua imagem.
Cristãos, "Por isso foi que também Jesus, para santificar o povo,
pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta. Saiamos, pois, a ele,
fora do arraial." Sim, é Ele quem santifica Seu povo. "Saiamos, pois,
a ele." Confiemos que Ele venha a nos revelar o poder do sangue.
Entreguemo-nos totalmente à Sua bendita eficácia. Aquele sangue,
através do qual Ele Se santificou, entrou no céu para abri-lo para
nós. Pode também fazer do nosso coração um trono de Deus. a fim
de que a graça e glória de Deus habitem em nós. Sim; "Saiamos,
pois, a ele, fora do arraial." Aquele que está disposto a perder, e
dizer "adeus" a tudo, a fim de que Jesus o santifique, não deixará de
obter a bênção. Aquele que está disposto, custe o que custar, a
experimentar o pleno poder do sangue precioso, pode contar com
confiança de que será santificado pelo próprio Jesus, mediante
aquele sangue.
"O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo." Amém.
Capítulo VI

PURIFICADO PELO SANGUE PARA SERVIR AO DEUS VIVO

"Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe,


fostes aproximados PELO SANGUE DE CRISTO"- Ef 2:13.

Muito mais O SANGUE DE CRISTO... purificará a nossa


consciência... para servirmos ao Deus vivo! -Hb 9:14.

Depois do nosso estudo da SANTIFICAÇÃO pelo sangue, agora


vamos ocupar-nos com a consideração daquilo que está envolvido
na COMUNHÃO INTIMA COM DEUS na qual somos introduzidos pela
SANTIFICAÇÃO.
A SANTIFICAÇÃO e a COMUNHÃO são fatos estreitamente
relacionados entre si na Escritura. À parte da SANTIFICAÇÃO não
pode haver semelhante COMUNHÃO. Como uma pessoa ímpia pode
ter comunhão com o Deus Santo? Por outro lado, sem esta
COMUNHÃO não pode haver crescimento na santidade; é sempre
somente em comunhão com o SANTO que a santidade pode ser
achada.
A íntima conexão entre a SANTIFICAÇÃO e a COMUNHÃO
aparece claramente na história da revolta de Nadabe e Abiú. Deus
fez dela a oportunidade para uma declaração clara a respeito da na-
tureza peculiar do sacerdócio em Israel. Disse: — "Mostrarei a minha
santidade naqueles que se cheguem a mim" (Lv 10:3). Depois, mais
uma vez, na conspiração de Coré contra Moisés e Arão; Moisés,
falando em nome de Deus, disse: "Amanhã pela manhã o SENHOR
fará saber quem é dele, e quem o santo que ele fará chegar a si:
aquele a quem escolher fará chegar a si" (Nm 16:5).
Já vimos que a eleição que Deus faz dos Seus, separando-os
para Si, é estreitamente ligada com a SANTIFICAÇÃO. Fica evidente
aqui, também, que a glória e a bênção obtidas por esta eleição à
santidade, nada mais é do que a COMUNHÃO com Deus. Esta
realmente a bênção mais sublime para o homem, a única perfeita,
para quem foi criado para Deus e para desfrutar do Seu amor. O
Salmista canta: "Bem-aventurado aquele a quem escolhes, e
aproximas de ti, para que assista nos teus átrios" (SI 65:4). Na
natureza do caso, a consagração a Deus, e a proximidade a Ele são a
mesma coisa.
A aspersão do sangue que santifica o homem para Deus, e
toma posse dele para Deus, outorga, ao mesmo tempo, o direito da
COMUNHÃO.
Era assim com os sacerdotes em Israel. No registro da sua
consagração lemos: "Também fez chegar os filhos de Arão; pôs
daquele sangue sobre a ponta da orelha direita deles, e sobre o
polegar da mão direita, e sobre o polegar do pé direito" (Lv8:24).
Aqueles que pertencem a Deus podem, e realmente DEVEM, viver
em proximidade a Ele; pertencem a Ele. Isto é ilustrado no caso de
nosso Senhor, nosso Grande Sumo Sacerdote, que "pelo seu próprio
sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas." É a mesma
coisa com cada crente, conforme a Palavra: "Tendo, pois, irmãos,
intrepidez para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus...
APROXIMEMO-NOS... tendo os corações purificados de má
consciência" (Hb 10:19, 22). A palavra "entrar", conforme é usada
neste versículo, é a palavra especial empregada para a aproximação
a Deus feita pelo sacerdote. Da mesma maneira, no Livro do
Apocalipse, nosso direito de aproximar-nos como sacerdotes é,
segundo se declara, pelo poder do sangue. Fomos redimidos dos
nossos pecados pelo Seu sangue, e "para o nosso Deus nos
constituíste reino e sacerdotes... a Ele seja a glória pelos séculos dos
séculos" (Ap 5:9, 10). "São estes os que...lavaram suas vestiduras, e
as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que se acham diante
do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário" (Ap
7:14).
Uma das bênçãos mais gloriosas que nos é possibilitada pelo
poder do sangue, é aquela de aproximar-nos do trono, para a própria
presença de Deus. A fim de entendermos o que significa esta
bênção, consideremos o que está contido nela:

I. O DIREITO DE HABITAR NA PRESENÇA DE DEUS;


II. A VOCAÇÃO DE OFERECER SACRIFÍCIOS ESPIRITUAIS A
DEUS;
III. O PODER DE OBTER BÊNÇÃOS PARA OUTRAS
PESSOAS.
I. O DIREITO DE HABITAR NA PRESENÇA DE DEUS.
Embora este privilégio pertencesse exclusivamente aos
sacerdotes em Israel, sabemos que eles tinham livre acesso à
habitação de Deus. Deviam permanecer ali continuamente. Como
membros da família de Deus, comiam dos pães da proposição, e
participavam dos sacrifícios. O israelita verdadeiro pensava que não
havia privilégio mais alto do que este. É expressado assim pelo
Salmista: "Bem--aventurado aquele a quem escolhes, e aproximas
de ti, para que assista nos teus átrios: ficaremos satisfeitos com a
bondade de tua casa, o teu santo templo" (Sl 65:4).
Era por causa da presença manifesta de Deus ali que os fiéis,
naqueles velhos tempos, ansiavam pela casa de Deus com desejo
tão intenso. A exclamação era: "Quando irei e me verei perante a
face de Deus?" (SI 42:2). Entendiam algo do significado espiritual do
privilégio: "Aproximar-se de Deus." Representava para eles o
desfrutar do Seu amor, da Sua comunhão, da Sua proteção, e da Sua
bênção. Podiam exclamar: "Como é grande a tua bondade, que
reservaste aos que te temem... No recôndito da tua presença tu os
esconderás" (SI 31:19, 20).
O sangue precioso de Cristo abriu o caminho para o crente
entrar na presença de Deus; e a COMUNHÃO com Ele é uma
realidade profunda e espiritual. Aquele que conhece pleno poder do
sangue é trazido tão perto que sempre pode viver na presença
imediata de Deus, e no desfrutar das bênçãos indizíveis ligadas a
ela. Ali, o filho de Deus tem a certeza do amor de Deus;
experimenta-o e desfruta dele. O próprio Deus outorga esta certeza.
Vive diariamente na amizade e na comunhão de Deus. Como filho de
Deus, torna conhecido ao Pai, com perfeita liberdade, seus
pensamentos e desejos. Nesta COMUNHÃO com Deus, possui tudo
quanto necessita; não me falta bem algum. Sua alma é conservada
em perfeito descanso e paz, porque Deus está com ele. Recebe toda
a orientação e instrução de que necessita. O olho de Deus sempre
está sobre ele, guiando-o. Em comunhão com Deus, pode escutar os
sussurros mais suaves do Espírito Santo. Aprende a compreender o
mínimo sinal da vontade do Seu Pai, e a segui-la. Suas forças
continuamente aumentam, porque Deus é a sua fortaleza, e Deus
sempre está com ele.
A comunhão com Deus exerce uma influência maravilhosa
sobre sua vida e seu caráter. A presença de Deus enche-o de
humildade, e de temor, e de uma santa prudência. Vive como na
presença de um rei. A comunhão com Deus produz nele disposições
divinas. Contemplando a imagem de Deus, é transformado à mesma
imagem. Habitar com o Santo torna-o santo. Pode dizer: "Quanto a
mim, bom é estar junto a Deus" (SI 73:28).
Ó vós que sois filhos da Nova Aliança, não tendes mil vezes
mais razão para falar assim, agora que o véu foi totalmente rasgado,
e o caminho foi aberto para viver sempre na presença santa de
Deus? Que este alto privilégio desperte nossos desejos. O convívio
com Deus; a comunhão com Deus; habitando com Deus; e Ele
conosco; que se torne impossível para nos satisfazer com qualquer
coisa a menos. Esta é a vida cristã verdadeira.
Mas a COMUNHÃO com Deus não é somente tão bem-
aventurada por causa da salvação nela desfrutada, mas também por
causa do serviço que pode ser prestado na base daquela
COMUNHÃO.
Consideremos, portanto:

II. A VOCAÇÃO DE OFERECER SACRIFÍCIOS ESPIRITUAIS


A DEUS
Nossa vocação de trazer a Deus sacrifícios espirituais é um
privilégio adicional.
O gozo dos sacerdotes em se aproximarem a Deus na Sua
habitação era inteiramente subordinado a algo superior. Estavam ali
como servos do Lugar Santo, para trazer a Deus, na Sua casa, aquilo
que Lhe pertencia. Somente à medida em que achavam alegria em
aproximar-se de Deus, é que aquele serviço poderia tornar-se
verdadeiramente abençoado.
O serviço consistia em: Trazer o sangue de aspersão para
dentro; preparar o incenso para encher a casa com sua fragrância; e,
adicionalmente, pôr em ordem tudo quanto pertencia, conforme a
Palavra de Deus, à disposição da Sua casa.
Deviam de tal maneira guardar, e servir, e fazer provisões para
a habitação do Altíssimo, que ela fosse digna dEle, e da Sua glória, e
para que Seu beneplácito nela seja cumprido.
Se o sangue de Jesus nos traz perto de nós, é também
principalmente que vivamos diante de Deus como Seus servos, e
trazer a Ele os sacrifícios espirituais que são agradáveis aos Seus
olhos.
Os sacerdotes traziam o sangue para o Lugar Santo diante de
Deus. Em nosso convívio com Deus, não há oferta que possamos
trazer que mais Lhe agrade, senão humildemente honrar o sangue
do Cordeiro. Cada ato da confiança humilde, ou de ações de graças
com todo o coração, em que dirigimos a atenção do Pai para o
sangue, e falamos seus louvores, é aceitável a Ele.
Toda a nossa permanência ali, e nossa COMUNHÃO, hora após
hora, deve ser uma glorificação do sangue diante de Deus.
Os sacerdotes traziam o incenso para o Lugar Santo, a fim de
encher a casa de Deus com fragrância. As orações do povo de Deus
são o incenso delicioso com que Ele deseja ser cercado na Sua habi-
tação. O valor da oração não consiste meramente em ser ela o meio
de obtermos as coisas das quais precisamos. Não! Seu alvo é mais
sublime do que isto. É um ministério de Deus, em que Ele se deleita.
A vida de um crente que verdadeiramente tem prazer em
aproximar- se de Deus através do sangue, é uma vida de oração
incessante. Num sentido profundo de dependência, para cada
momento, para cada passo, a graça é procurada e esperada. Na
bendita convicção da proximidade de Deus e da Sua bondade
imutável, a alma se derrama na certeza confiante da fé de que toda
promessa será cumprida. No meio da alegria que a luz da face de
Deus outorga, surge ao mesmo tempo, juntamente com a oração, a
gratidão e a adoração.
Estas são as ofertas espirituais, as oferendas dos lábios dos
sacerdotes de Deus, continuamente apresentadas a Ele sendo que
eles foram SANTIFICADOS e APROXIMADOS PELO SANGUE para que
sempre vivam e andem na Sua presença.
Mas ainda há algo mais. Era dever dos sacerdotes cuidar de
tudo para a purificação ou provimento necessários ao serviço da
Casa. Qual é aquele ministério agora, sob a Nova Aliança? Graças a
Deus, não há disposições externas nem exclusivas para o culto
divino. Não! O Pai assim ordenou, que tudo quanto alguém fizer, que
está andando na Sua presença, fica sendo uma oferta espiritual por
isto mesmo. Tudo quanto o crente faz, se somente o faz como na
presença de Deus, e inspirado pela disposição sacerdotal, que
oferece a Deus como um serviço, é um sacrifício sacerdotal, do
beneplácito de Deus. "Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais
outra coisa qualquer, fazei tudo para glória de Deus" (1 Co 10:31). "E
tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome
do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai" (Cl 3:17). Desta
maneira, todas as nossas ações ficam sendo ofertas de ações de
graças a Deus.
Quão pouco os cristãos reconhecem a glória de uma vida de
completa consagração, a ser gasta sempre na comunhão com Deus!

PURIFICADO, SANTIFICADO, e APROXIMADO, pelo poder do


sangue, minha vocação terrestre, minha vida inteira, até mesmo o
meu comer e o meu beber, são um serviço espiritual. Meu trabalho,
meu negócio, meu dinheiro, minha casa, tudo com o que tenho que
ver, fica sendo santificado pela presença de Deus, porque eu,
pessoalmente, ando na Sua presença. O mais humilde trabalho
terrestre é um serviço sacerdotal, porque é realizado por um
sacerdote do templo de Deus.
Mas até mesmo isto não esgota a glória da bênção da
COMUNHÃO. A mais alta bênção do sacerdócio é que o sacerdote
aparece como o REPRESENTANTE DOUTROS, DIANTE DE DEUS.

III. O PODER DE OBTER BÊNÇÃOS PARA OUTROS É O QUE


DÁ À PROXIMIDADE COM DEUS SUA PLENA GLÓRIA.
Em Israel, os sacerdotes eram os mediadores entre Deus e o
povo. Levavam para a presença de Deus os pecados e as
necessidades do povo: obtinham de Deus o poder para declarar o
perdão do pecado, e o direito de abençoar o povo.
Este privilégio agora pertence a todos os crentes, como sendo
a família sacerdotal da Nova Aliança. Quando Deus permitiu que
Seus remidos se aproximassem dEle pelo sangue, foi a fim de que
Ele os abençoasse, a fim de que se tornassem uma bênção para
outras pessoas. A mediação sacerdotal; um coração sacerdotal que
pode ter a simpatia necessária para com aqueles que estão fracos; o
poder sacerdotal para obter a bênção de Deus no templo, e
transmiti-la a outros; nestas coisas, a COMUNHÃO, o aproximar-se
de Deus pelo sangue, manifesta seu poder e glória mais sublimes.
Podemos exercer nossa dignidade sacerdotal de maneira
dupla:

(a.) Mediante a Intercessão

O ministério da intercessão é um dos privilégios mais sublimes


de um filho de Deus. Não significa que neste ministério nós, tendo
averiguado que há uma necessidade no mundo, ou nalguma pessoa
específica, derramamos nossa vontade em oração a Deus, pedindo o
suprimento necessário. Isto é bom, dentro das suas limitações, e
traz consigo bênção. Mas o ministério específico da intercessão é
algo mais maravilhoso do que aquilo, e acha seu poder na "oração
da fé." Esta "oração da fé" é uma coisa diferente do que derramar
nossos desejos a Deus, e deixando-os com Ele.
Na verdadeira "oração da fé" o intercessor deve passar tempo
com Deus para apropriar-se das promessas da Sua palavra e deve
permitir que seja ensinado pelo Espírito Santo quanto a se as pro-
messas podem ser aplicadas a este caso específico. Toma sobre si
mesmo, como um fardo, o pecado e a necessidade que são o
assunto da oração, e segura firme a promessa acerca dele, como se
fosse para ele mesmo. Permanece na presença de Deus, até que
Deus, pelo Seu Espírito, desperta a fé no sentido de que, nesta
questão, a oração seja ouvida.
É desta maneira que os pais às vezes oram pelos seus filhos;
os ministros, pelas suas congregações; os obreiros na vinha de Deus
pelas almas entregues aos seus cuidados; até que saibam que sua
oração foi ouvida. É o sangue, que pelo seu poder de nos aproximar
de Deus, outorga liberdade tão maravilhosa de orar até que a
resposta seja obtida.
Quem dera entendêssemos mais perfeitamente o que
realmente significa habitar na presença de Deus! Assim,
manifestaríamos mais poder no exercício do nosso sacerdócio santo.

(b.) Instrumentalmente

Mais uma manifestação da nossa mediação sacerdotal é que


não somente obtemos alguma bênção pelos outros mediante a
INTERCESSÃO, como também ficamos sendo os INSTRUMENTOS
mediante os quais é ministrada. Cada crente é chamado, e sente-se
compelido pelo amor, a labutar em prol dos outros. Sabe que Deus o
abençoou a fim de que seja uma bênção para os outros; e, apesar
disto, é generalizada a queixa de que os crentes não têm poder para
esta obra de trazer bênção aos outros. Não têm, segundo dizem,
condições de exercer uma influência sobre os outros mediante as
suas palavras. Não é de se admirar, se não querem habitar no
santuário. Lemos que "O SENHOR separou a tribo de Levi... para
estar diante do SENHOR... e para abençoar em seu nome" (Dt 10:8).
O poder sacerdotal de abençoar depende da vida sacerdotal na
presença de Deus. Aquele que experimenta ali o poder do sangue
para preservar a ele, o indefeso terá a coragem .para acreditar que o
sangue realmente pode livrar a outros. O poder santo e vivificante
do sangue criará nele a mesma disposição que aquela com que Jesus
o derramou, o sacrifício de si mesmo para redimir aos outros.
Em comunhão com Deus, nosso amor será ateado pelo amor
de Deus, nossa crença de que Deus certamente fará uso de nós será
fortalecida; o Espírito de Jesus tomará posse de nós, para nos capaci-
tar a labutar na humildade, na sabedoria, e no poder; e a nossa
fraqueza e pobreza ficam sendo os vasos em que o poder de Deus
pode operar. Fluirão bênçãos da nossa palavra e do nosso exemplo,
porque habitamos com Aquele que é pura bênção, e Ele não
permitirá que qualquer pessoa fique perto dEle sem também ficar
repleta da Sua bênção.
Amados, a vida preparada para nós não é gloriosa e bendita? O
gozo da bem-aventurança de estar perto de Deus; o levar a efeito o
ministério da Sua casa; a transmissão da Sua bênção a outras
pessoas?
Que ninguém pense que a plena bênção não é para ele, que tal
vida é elevada demais para ele. NO PODER DO SANGUE DE JESUS
temos a garantia de que esta "APROXIMAÇÃO" é para nós também,
se apenas nos entregarmos a ela.
Para os que realmente desejam esta bênção, dou os seguintes
conselhos:
1. Lembre-se de que isto, e nada menos do que isto, foi
planejado para você. Todos nós que somos os filhos de Deus fomos
aproximados pelo sangue. Todos nós podemos desejar a plena
experiência dele. Vamos apenas segurar-nos nisto, a vida na
COMUNHÃO com Deus é para mim. O Pai não deseja que um dos
Seus filhos fique longe. Não podemos agradar a Deus conforme
devemos, se vivermos sem esta bênção. Somos sacerdotes; a graça
para viver como sacerdotes está preparada para nós; a livre entrada
no santuário como nossa habitação, é para nós; podemos ter certeza
disto: Deus nos outorga Sua santa presença, para habitar dentro de
nós, como nosso direito de filhos dEle. Seguremos firmemente esta
verdade.
2. Procure tornar o pleno poder do sangue sua própria
possessão em todos os seus benditos efeitos. É NO PODER DO
SANGUE QUE A COMUNHÃO e possível. Que seu coração fique cheio
de fé no poder do sangue da RECONCILIAÇÃO. Houve expiação tão
inteira pelo pecado, que foi apagado, que o poder dele para manter
você afastado de Deus foi completa e eternamente removido. Viva
na declaração alegre de que o pecado é impotente para separar
você de Deus por um momento sequer. Creia que mediante o
sangue você foi plenamente justificado e, portanto, tem uma
reivindicação justa a um lugar no santuário. Deixe que o sangue
também purifique a você. Espere da comunhão que se segue, a
libertação interior da contaminação do pecado que ainda habita em
você. Diga com as Escrituras: "Muito mais o sangue de Cristo...
purificará a NOSSA consciência... para servirmos ao Deus vivo!"
Deixe o sangue santificá-lo, separá-lo para Deus, em consagração
integral, para ser cheio por Ele. Deixe que o poder PERDOADOR,
PURIFICADOR, SANTIFICADOR do sangue tenha livre atividade em
você. Você descobrirá como isto o traz, por assim dizer, automatica-
mente perto de Deus, e o protege.
Não tenha receio de esperar que o PRÓPRIO JESUS revelará em
você o poder do sangue para trazer você perto de Deus.
O sangue foi derramado para unir-nos a Deus.
O sangue completou sua obra, e a aperfeiçoará em você.
O sangue tem virtude e glória indizíveis à vista de Deus.
O Propiciatório, aspergido com o sangue, é o lugar escolhido da
habitação de Deus e é Seu trono de graça. Aproxime-se com alegria
e beneplácito do coração que se entrega inteiramente à eficácia do
sangue.
O sangue tem poder irresistível. Pelo sangue, Jesus foi
ressuscitado do túmulo, e levado para o céu. Tenha certeza de que o
sangue pode preservar você todos os dias na presença de Deus pelo
seu poder divino vivificante.
Assim como é precioso e onipotente o sangue, também é
segura e certa a sua permanência com Deus, bastando que a sua
confiança esteja sólida.
"Lavaram suas vestiduras, e as alvejaram no sangue do
Cordeiro, razão por que se acham diante do trono de Deus e o
servem de dia e de noite no seu santuário." Aquela palavra acerca
da glória eterna também tem aplicação à nossa vida na terra.
Quanto mais plena é nossa fé e experiência do poder do sangue,
tanto mais estreita é a COMUNHÃO, e tanto mais certo é o
permanecer perto do trono; tanto mais larga a entrada para o minis-
tério ininterrupto de Deus no Seu santuário; e aqui na terra, tanto
maior o poder para servir ao Deus vivo; tanto mais rica a bênção
sacerdotal que você espalhará ao redor de si. Ó Senhor, que esta
palavra tenha Seu pleno poder sobre nós agora, aqui, e no futuro!
Capítulo VII

HABITANDONO "SANTO DOS SANTOS" PELO SANGUE

"Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos


Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos
consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo grande
sacerdote sobre a casa de Deus, aproximemo-nos, com sincero
coração, em plena certeza de fé, tendo os corações purificados de
má consciência, e lavado o corpo com água pura"'- Hb 10:19-22.

Nestas palavras temos um resumo do conteúdo principal desta


Epístola, e das "Boas Novas" acerca da graça de Deus, conforme o
Espírito Santo fez com que fossem apresentadas aos Hebreus, e a
nós também.
Por causa do pecado, o homem foi expulso do Paraíso, para
longe da presença e da comunhão com Deus. Deus, na Sua
misericórdia, procurava, desde o início, restaurar a comunhão
rompida.
Com esta finalidade, deu a Israel, através das prefigurações,
tipo sombra no Tabernáculo, a expectativa de um tempo vindouro,
quando a parede da separação seria removida, de modo que Seu po-
vo pudesse habitar na Sua presença. "Quando virei e aparecerei
perante Deus" era o suspiro de anseios dos santos da Antiga Aliança.
É o suspiro também de muitos dos filhos de Deus sob a Nova
Aliança que não compreendem que o carrinho para "O SANTO DOS
SANTOS" realmente foi aberto, e que todo filho de Deus pode, e
deve, ter ali sua habitação verdadeira.
Oh! meus irmãos e irmãs, que anseiam por experimentar o
pleno poder da REDENÇÃO que Jesus realizou, venham comigo, para
escutar o que nosso Deus nos diz acerca do Santo Lugar que foi
aberto, e a liberdade com que podemos entrar pelo sangue.
A passagem que consta no início deste capítulo mostra-nos,
numa primeira série das quatro palavras o que Deus preparou para
nós, como a base firme em que nossa comunhão com Ele pode ali-
cerçar-se. Depois, numa segunda série de quatro palavras que se
seguem, ficamos sabendo como podemos ser preparados para
entrar naquela comunhão, e viver nela.
Leia o texto com atenção, e você perceberá que as palavras
"APROXIMEMO-NOS" são o centro dele todo. Este esboço poder ser
útil:

I. O QUE DEUS PREPAROU PARA NÓS:


a. "O Santo dos Santos" ou seja - O Santuário: o Lugar Santo;
b. O Sangue de Jesus;
c. Um novo e vivo caminho;
d. Um Grande Sacerdote.

II. COMO DEUS NOS PREPARA PARA AQUILO QUE PREPAROU


PARA NÓS.
a. Um sincero coração;
b. A plena certeza de fé.
c. Corações purificados de má consciência;
d. Corpos lavados com água pura.

Leia o texto agora, olhando este esboço.


"Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no SANTO DOS
SANTOS, pelo SANGUE DE JESUS, pelo NOVO E VIVO CAMINHO que
Ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo GRANDE
SACERDOTE sobre a casa de Deus, APROXIMEM O-NOS, com
SINCERO CORAÇÃO, em PLENA CERTEZA DE FÉ, tendo OS
CORAÇÕES PURIFICADOS DE MÁ CONSCIÊNCIA, E LAVADO O CORPO
COM ÁGUA PURA."

I. O QUE DEUS PREPAROU PARA NÓS.

(a) "O Santo dos Santos. "


"Tendo, pois intrepidez para entrar no santo dos santos
aproximemo-nos."
Trazer-nos para o "Santo dos Santos" é a finalidade da obra
redentora de Jesus, e aquele que não sabe o que é o "Santo dos
Santos" não pode desfrutar do pleno benefício da Redenção.
O que é este "Santo dos Santos?" É apenas o lugar onde Deus
habita: "O Santo dos Santos" a habitação do Altíssimo. Isto não se
refere somente ao céu, mas também ao lugar "Santíssimo" espiritual
da presença de Deus.
Sob a Antiga Aliança, havia um Santuário material (Hb 9:1 e
8:2) a habitação de Deus, em que os sacerdotes habitavam na
presença de Deus e serviam a Ele. Sob a Nova Aliança há o
verdadeiro Ta-bernáculo espiritual, não confinado a qualquer lugar.
"O Santo dos Santos" é onde Deus Se revela (Jo 4:23-25).
Que privilégio glorioso é entrar no "Santo dos Santos" e habitar
ali; andar o dia inteiro na presença de Deus. Que bênção rica é
derramada ali! No "Santo dos Santos" desfruta-se do favor e da co-
munhão com Deus: a vida e a bênção de Deus são experimentadas;
o poder e a alegria de Deus se acham. A vida é passada no "Santo
dos Santos" em pureza sacerdotal e consagração; ali queima-se o
incenso de odor agradável, e são oferecidos sacrifícios aceitáveis a
Deus. É uma vida santa de oração e de bem-aventurança.
Na Antiga Aliança, tudo era material, o Santuário também era
material e local; na Nova Aliança, tudo é espiritual, e o Santuário
verdadeiro deve sua existência ao poder do Espírito Santo. Através
do Espírito Santo uma vida verdadeira no "Santo dos Santos" é
possível, e o conhecimento de que Deus anda ali pode ser tão certo
como no caso dos sacerdotes da antigüidade. O Espírito torna real
em nossa experiência a obra que Jesus realizou.
Crente em Cristo, você tem liberdade para entrar no "Santo
dos Santos" e permanecer ali? Como quem foi redimido, é coisa
apropriada para você fazer seu lar ali, e não noutro lugar. Cristo não
pode, pois, noutro lugar, revelar o pleno poder da sua redenção. Mas
ali, oh! ali, Ele pode abençoar você ricamente. Oh! Entenda-o,
portanto, e deixe o objetivo de Deus e de nosso Senhor ser seu
também. Que seja o único desejo do nosso coração entrar no"Santo
dos Santos." Podemos esperar com confiança que o Espírito Santo
nos dê um conceito certo da glória de entrar numa habitação, no
"Santo dos Santos."

(b.) A Liberdade pelo Sangue


A admissão ao "Santo dos Santos", como o próprio "Santo dos
Santos", pertence a Deus. O próprio Deus teve a idéia, e o preparou;
nós temos a liberdade, a licença, o direito de entrar pelo Sangue de
Jesus. O Sangue de Jesus exerce um poder tão maravilhoso, que
através dele um filho da perdição pode obter plena liberdade para
entrar no Santuário divino — "O Santo dos Santos." "Vós, que antes
estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo" (Ef 2:13).
E como é que o Sangue exerce este poder maravilhoso?
A Escritura diz: "a vida está no sangue" (Lv 17: 11). O poder do
Sangue está no valor da vida. No Sangue de Jesus habitava o poder
da vida divina, e ali operava; o Sangue já tem nEle poder onipotente
e incessante. Mas aquele poder não poderia ser exercido para
reconciliação até que primeiramente tivesse sido derramado. Ao
suportar o castigo pelo pecado, até à morte, o Senhor Jesus
conquistou o poder do pecado e o aniquilou. "O poder do pecado é a
Lei." Ao cumprir perfeitamente a lei, quando derramou Seu Sangue
sob sua maldição, Seu Sangue deixou o pecado inteiramente
impotente. Destarte, o Sangue tem seu poder maravilhoso, não so-
mente porque a vida do Filho de Deus estava nele, mas, sim, porque
foi dado como expiação pelo pecado. É por esta razão que a
Escritura fala em termos tão elevados acerca do Sangue. Pelo
sangue da eterna aliança Deus tornou a trazer dentre os mortos a
Jesus nosso Senhor (Hb 13:20).
Pelo Seu próprio sangue Ele entrou no "Santo dos Santos" (Hb
9:12). O poder do Sangue destruiu inteiramente o poder do pecado,
da morte, do sepulcro e do inferno; de modo que nosso Fiador
pudesse sair. O poder do Sangue abriu o céu de modo que nosso
Fiador pudesse livremente entrar.
E agora também temos liberdade para entrar através do
Sangue. O pecado tirou nossa liberdade de aproximar-nos de Deus e
o Sangue restaura-nos perfeitamente esta liberdade. Aquele que
quer ocupar tempo para meditar sobre o poder daquele Sangue,
apropriando-se dele com fé para si mesmo, obterá uma vista
maravilhosa da liberdade e do modo direto com o que agora
podemos ter comunhão com Deus.
Oh! o poder divino e maravilhoso do Sangue! Através do
Sangue, entramos no "Santo dos Santos." O Sangue pleiteia por nós,
e em nós, com um efeito eterno e incessante. Remove o pecado da
vista de Deus, e da nossa consciência. Cada momento temos
entrada livre e plena, e podemos ter comunhão com Deus pelo
Sangue.
Quem dera que o Espírito Santo nos revele o pleno poder do
Sangue! Sob o ensino dEle, que plena entrada desfrutamos para a
íntima comunhão com o Pai. Nossa vida está no "Santo dos Santos"
pelo Sangue.

(c.) O Novo e Vivo Caminho

"Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no "Santo dos


Santos", pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos
consagrou pelo véu, isto, pela sua carne," o Sangue outorga nosso
direito de entrada. O caminho, sendo vivo e vivificante, outorga o
poder. Que Ele consagrou .este caminho pela Sua carne não significa
que esta é meramente uma repetição em outras palavras do mesmo
pensamento que "pelo Seu sangue." De modo algum.
Jesus derramou Seu Sangue por nós: neste aspecto, não
podemos seguir a Ele. Mas o caminho por onde andou quando
derramou Seu Sangue, o romper do véu da Sua carne, naquele
caminho devemos seguir a Ele. Aquilo que Ele fez ao abrir aquele
caminho é um poder vivo que nos atrai e leva adiante enquanto
entramos no "Santo dos Santos." A lição que devemos aprender aqui
é esta: o caminho de entrada para "O Santo dos Santos" é através
do VÉU RASGADO DA CARNE.
Foi assim com Jesus. O véu que fazia separação entre Deus e
nós era a carne. O pecado tem seu poder na carne, e somente
mediante a remoção do pecado é que o véu pode ser removido:
Quando Jesus veio na carne, poderia rasgar o véu somente por meio
da morte; e, assim, para aniquilar o poder da carne e do pecado,
"Ofereceu a carne, e a entregou à morte." Foi isto que deu ao
derramamento do Seu sangue seu valor e seu poder.
E esta agora fica sendo a lei para cada um que deseja entrar
no "Santo dos Santos", através do Seu Sangue: deve ser através do
véu rasgado da carne. O Sangue exige, o Sangue realiza, o rasgar da
carne. Onde o Sangue de Jesus opera poderosamente, segue-se,
sempre, a mortificação da carne. Aquele que deseja o poupar a
carne não pode entrar no "Santo dos Santos." A carne deve ser sacri-
ficada, entregue à morte. À medida em que o crente percebe a
pecaminosidade da sua carne, e mortifica tudo quanto há na carne,
entende melhor o poder do Sangue. O crente faz isto, não na sua
própria força: vem por um caminho vivo que Jesus consagrou; o
poder .vivificante de Jesus opera segundo este "caminho". O cristão
está crucificado e morto com Jesus. "Os que são de Cristo Jesus cru-
cificaram a carne." É na comunhão com Cristo que entramos pelo
véu.
Oh! caminho glorioso, o "novo e vivo caminho," cheio de poder
vivificante, "que Cristo consagrou por nós! "Por este caminho temos
a liberdade de entrar no "Santo dos Santos" pelo Sangue de Jesus.
Que o Senhor Deus nos guie ao longo deste "caminho", através do
véu rasgado, mediante a morte da carne, para a plena vida do
Espírito; então acharemos nossa habitação dentro do véu, no "Santo
dos Santos", com Deus. Cada sacrifício da carne nos leva, através do
Sangue, mais profundamente dentro do "Santo dos Santos."
(NOTA: Compare mais, com cuidado, 1 Pe 3:18; "Pois também
Cristo morreu... morto, sim, na carne"; 4:1 "Tendo Cristo sofrido na
carne... vive no Espírito"; Rm 8:3: "Condenou na carne o pecado.").

(d.) O Grande Sacerdote.

"E tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus, aproximemo-


nos."
Louvado seja Deus, não temos somente a obra, como também
a pessoa de Cristo, enquanto entramos no "Santo dos Santos"; não
somente o Sangue e o vivo caminho, como também o próprio Jesus,
como "Grande Sacerdote sobre a Casa de Deus."
Os sacerdotes que entravam no Santuário terrestre podiam
fazer assim somente por causa do seu relacionamento com o Sumo
Sacerdote; ninguém, senão os filhos de Arão, era sacerdote. Temos
entrada para "O Santo dos Santos," por causa do nosso
relacionamento com o Senhor Jesus. Disse ao Pai: "Eis aqui estou, e
os filhos que Deus me deu." (Hb 2:13).
ELE É O GRANDE SACERDOTE. A Epístola aos Hebreus nos
mostrou que Ele é o Melquisedeque verdadeiro, o Filho Eterno, que
tem um sacerdócio eterno e imutável, e como Sacerdote está as-
sentado no trono. Vive ali para orar sempre, logo, "também pode
salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus." Um Sacerdote
grande e Todo-poderoso.
GRANDE SACERDOTE SOBRE A CASA DE DEUS, Ele está
colocado sobre o ministério inteiro do "Santo dos Santos," da Casa
de Deus. Todo o povo de Deus está debaixo do cuidado dEle. Se de-
sejarmos entrar no"Santo dos Santos," Ele está ali para nos receber,
e para nos apresentar ao Pai. Ele mesmo completará em nós a
aspersão do Sangue. Pelo Sangue, Ele entrou, e pelo Sangue Ele
também nos traz para dentro. Ele nos ensinará todos os deveres do
"Santo dos Santos," e do nosso convívio ali. Ele torna aceitáveis
nossas orações, nossas ofertas, e os deveres do nosso ministério,
por mais fracos que sejam. Além disto, nos outorga a luz celestial, e
o poder celestial para nossa obra e nossa vida no "Santo dos
Santos." Assim como Seu Sangue conseguiu uma entrada, Seu
sacrifício da Sua carne é o vivo caminho. Quando entramos, é por
meio dEle que somos conservados habitando ali, e somos
capacitados a andar conforme o beneplácito de Deus. Como Sumo
Sacerdote, Ele sabe como Se colocar no nível de cada um, inclusive
dos mais fracos. Sim! é isto que faz a comunhão com Deus no "Santo
dos Santos" tão atraente: achamos Jesus ali, como "Grande
Sacerdote sobre a casa de Deus."
E justamente quando nos parece que "O Santo dos Santos" é
alto demais, ou santo demais, para nós, e que não podemos
entender o que é o poder do Sangue, e como devemos andar "pelo
novo e vivo caminho," exatamente então, podemos olhar para cima
para o próprio Salvador vivo que nos ensinará, trazendo-nos, Ele
mesmo, para "O Santo dos Santos." Ele é o Sacerdote sobre a Casa
de Deus. Basta apegar-se a Ele, e você estará no "Santo dos
Santos".
"APROXIMEMO-NOS," visto que temos "O Santo dos Santos"
onde Deus nos aguarda; e o Sangue que nos dá liberdade; e o vivo
caminho que nos leva adiante, e o Sumo Sacerdote para ajudar--nos.
"Aproximemo-nos," sim! "aproximemo-nos." Que nada nos detenha
de fazer uso destas bênçãos maravilhosas que Deus determinou
para nós. É para dentro do "Santo dos Santos" que devemos entrar;
nosso direito foi obtido por nós pelo Sangue de Jesus; pelos Seus
próprios passos, Ele consagrou o caminho. Ele vive no Seu eterno
sacerdócio para receber-nos no "Santo dos Santos"; para nos
santificar, para nos preservar, para nos abençoar. Oh! já não
hesitemos, nem voltemos para trás. Sacrifiquemos tudo em prol
desta única coisa, tendo em vista o que Deus preparou por nós
"aproximemo-nos, "pela mão de Jesus, para comparecermos diante
do nosso PAI, e para achar nossa vida à luz do Seu semblante.
E desejamos saber como agora podemos ser preparados para
entrar? Nosso texto dá-nos uma resposta gloriosa a esta pergunta.

II. COMO SOMOS PREPARADOS.


Aproximemo-nos.

(a.) Com Sincero Coração.


Esta é a primeira das quatro exigências feitas ao crente que
quer "aproximar-se." É vinculada com a segunda exigência, a
"PLENA CERTEZA DE FÉ," e é principalmente na sua união com a se-
gunda que entendemos corretamente o que significa um "sincero
coração."
A pregação do Evangelho sempre começa com o
arrependimento e a fé. O homem não pode receber a graça de Deus
pela fé, se, ao mesmo tempo, o pecado não for abandonado. No
progresso da vida da fé, esta lei sempre é obrigatória. A plena
certeza da fé não pode ser atingida sem um "sincero coração", um
coração que é totalmente honesto com Deus, que é entregue
inteiramente a Ele. "O Santo dos Santos" não pode ser penetrado
sem "sincero coração," um coração que verdadeiramente deseja
procurar aquilo que professa procurar.
"Aproximemo-nos, COM SINCERO CORAÇÃO." Um coração que
verdadeiramente deseja abandonar tudo, para habitar no "Santo dos
Santos;" abrindo mão de tudo, para possuir a Deus. Um coração que
verdadeiramente abandona tudo, a fim de entregar-se à autoridade
e poder do Sangue. Um coração que verdadeiramente escolhe o
"novo e vivo caminho", a fim de atravessar o véu com Cristo, pelo
rasgar da carne. Um coração que se entrega, verdadeira e
inteiramente, à habitação e ao senhorio de Jesus.
"Aproximemo-nos, com sincero coração." Sem um coração
sincero, não há entrada no "Santo dos Santos."
Mas quem tem coração sincero? O coração novo que Deus tem
dado é um coração sincero. Reconheça isto. Pelo poder do Espírito
de Deus, que habita nesse coração novo, coloque-se, por um esforço
da sua vontade, ao lado de Deus contra o pecado que ainda está na
sua carne. Diga ao Senhor Jesus, o Sumo Sacerdote, que você se
submete, e lança diante dEle todo pecado, e a totalidade da vida do
seu próprio-eu, deixando tudo para seguir a Ele.
E no que diz respeito às profundezas ocultas do pecado na sua
carne, das quais você ainda não tem consciência, e à malícia do seu
coração para elas também foi feita provisão. "Sonda-me, ó Deus, e
conhece o meu coração." Sujeite-se continuamente à luz do Espírito,
que sonda o coração. Ele descobrirá o que está oculto para você.
Quem faz assim tem um coração sincero para entrar no "Santo dos
Santos."
Não tenhamos medo de dizer a Deus que nos aproximamos
com um coração sincero. Tenhamos certeza de que Deus não nos
julgará de acordo com a perfeição daquilo que fazemos, mas, sim,
de acordo com a honestidade com que nos entregamos para deixar
de lado todo pecado conhecido, e com que aceitamos a convicção,
pelo Espírito Santo, de todos os nossos pecados ocultos. Um coração
que faz assim honestamente é, aos olhos de Deus, um coração
sincero. E com um coração sincero, aproxima-se do "Santo dos
Santos" mediante o Sangue. Louvado seja Deus! Mediante o Seu
Espírito, temos coração sincero.

(b). Em Plena Certeza de Fé

Sabemos qual é o lugar que a fé ocupa nos tratos de Deus com


o homem. "Sem fé é impossível agradar a Deus." Aqui, na entrada
do "Santo dos Santos", tudo depende da "plena certeza de fé".
Deve haver uma "plena certeza de fé" de que existe um Lugar
Santo onde podemos habitar e andar com Deus, e que o poder do
Sangue precioso venceu o pecado de modo tão perfeito que nada
pode impedir nossa comunhão imperturbável com Deus; e que o
caminho que Jesus santificou através da Sua carne é um vivo
caminho, que leva aqueles que nele pisam para a frente, com poder
vivo eterno, e que o grande Sacerdote sobre a casa de Deus pode
salvar totalmente os que vêm a Deus através dEle; que Ele, pelo Seu
Espírito, opera em nós tudo quanto é necessário para a vida no
"Santo dos Santos." Devemos crer nestas coisas, e mantê-las firmes
"em plena certeza de fé."
Mas como posso chegar até lá? Como minha fé pode crescer
até esta plena certeza? Mediante a comunhão com "Jesus, o
Consumador da fé" (Hb 12:2). Como o grande Sacerdote sobre a
casa de Deus, Ele nos capacita a apropriar-nos da fé. Ao considerar a
Ele, ao Seu maravilhoso amor, à Sua obra perfeita, ao Seu Sangue
precioso e Todo-poderoso, a fé é sustentada e fortalecida. Deus Lhe
deu poder para despertar a fé. Ao conservarmos nossos olhos fitos
nEle, a fé, e a plena certeza da fé, tornam-se nossas.
Ao manusearmos a Palavra de Deus, lembremo-nos que "a fé
vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo". A fé vem
pela Palavra e cresce pela Palavra, mas não a Palavra como letra,
mas, sim, como sendo a voz de Jesus, somente "as palavras que eu
vos falo" são vida no Espírito, somente nEle as promessas de Deus
são "Sim e amém". Dedique tempo para meditar sobre a Palavra e
entesourá-la rio seu coração, mas sempre com um coração fixo no
próprio Jesus. É a fé em Jesus que salva. A Palavra que é levada a
Jesus em oração, e considerada juntamente com Ele, é a Palavra que
é eficaz.
Lembre-se de que "para aquele que tem, ser-Ihe-á dado". Faça
uso da fé que você tem, exerça-a, declare-a, e deixe sua confiança
fiel em Deus ficar sendo a ocupação principal da sua vida. Deus
deseja ter filhos que acreditam nEle; nada deseja tanto quanto a fé.
Fique acostumado a dizer em cada oração: "Senhor, creio que
obterei isto". Enquanto lê cada promessa na Escritura, diga: "Senhor,
creio que Tu a cumprirás para mim". Pelo dia inteiro, faça com que
seja seu hábito santo em tudo-sim, em tudo-exercer confiança na
orientação de Deus e na bênção de Deus.
Para entrar no"Santo dos Santos" é necessária a "plena certeza
de fé". "Aproximemo-nos em plena certeza de fé". A redenção pelo
Sangue é tão perfeita e poderosa; o amor e a graça de Jesus tão
superabundantes; a bem-aventurança de habitarmos no "Santo dos
Santos" é tão seguramente para nós e dentro do nosso alcance.
"Aproximemo-nos, em plena certeza de fé".

(c) O Coração Purificado.

Aproximemo-nos, tendo "OS CORAÇÕES PURIFICADOS DE MÁ


CONSCIÊNCIA."
O coração é o centro da vida humana, e a consciência, por sua
vez, é o centro do coração. Pela sua consciência, o homem
reconhece seu relacionamento com Deus, e uma má consciência lhe
diz que tudo não está bem entre Deus e ele mesmo; não meramente
que comete pecado, mas, sim, que é pecaminoso, e alienado de
Deus. Uma boa consciência, ou uma consciência limpa, testifica que
é agradável a Deus (Hb 11:5). Testifica não somente que seus
pecados são perdoados, como também que seu coração é sincero
diante de Deus. Aquele que deseja entrar no "Santo dos Santos"
deve ter seu coração purificado de má consciência. As palavras são
traduzidas: "nossos corações aspergidos de má consciência." É a
aspersão do Sangue que vale. O Sangue de Cristo purificará sua
consciência para servir ao Deus vivo.
Já vimos que a entrada ao "Santo dos Santos" é pelo Sangue,
mediante o que Jesus entrou para o Pai. Mas isto não basta. Há uma
dupla aspersão: os sacerdotes que se aproximavam de Deus não so-
mente eram reconciliados mediante a aspersão do Sangue diante de
Deus no altar, mas suas próprias pessoas deviam ser aspergidos
com o Sangue. 0 Sangue de Jesus deve ser de tal maneira trazido
pelo Espírito Santo, em contato direto com nosso coração, que nosso
coração fique purificado da má consciência. O Sangue remove toda a
auto condenação. Purifica a consciência. A consciência passa, então,
a testificar que a remoção da culpa foi completada tão
perfeitamente, que já não há a mínima separação entre Deus e nós.
A consciência testifica que somos do beneplácito de Deus; que nosso
coração é purificado; que nós, mediante a aspersão do sangue,
estamos em comunhão verdadeira e viva com Deus. Sim, o Sangue
de Jesus Cristo purifica de todo o pecado, não somente da culpa
como também da mancha do pecado.
Pelo poder do Sangue, nossa natureza é impedida de exercer o
poder dela, assim como uma fonte por seu suave borrifo limpa a
grama que doutra forma ficaria coberta de poeira, e conserva-a
fresca e verde, assim também o Sangue opera com um efeito
incessante para conservar limpa a alma. 0 coração que vive debaixo
do poder integral do
Sangue é um coração limpo, purificado de uma consciência
culpada, prestes a "aproximar-se" com liberdade perfeita. O coração
inteiro, a totalidade do ser interior, é purificada por uma operação
divina.
"Aproximemo-nos, tendo os corações purificados de má
consciência." Vamos "em plena certeza de fé" acreditar que nosso
coração é purificado. Honremos grandemente ao sangue, pela
confissão, diante de Deus, que ele nos purifica. O Sumo Sacerdote,
por meio do Seu Espírito Santo, nos fará entender o pleno significado
e poder das palavras: "tendo o coração purificado pelo Sangue"; a
entrada para o Lugar Santo é preparada pelo Sangue; e, além disto,
nosso coração é preparado pelo Sangue para a entrada; oh! quão
glorioso, então, tendo o coração purificado, é entrar no "Santo dos
Santos" e permanecer ali.

(d.) Lavado o Corpo.

Aproximemo-nos, tendo "LAVADO O CORPO COM ÁGUA PURA".


Pertencemos a dois mundos: o visível e o invisível. Temos uma
vida interior, oculta, que nos coloca em contato com Deus; e uma
vida exterior, física, mediante a qual temos relacionamento com os
homens. Se esta palavra se refere ao corpo, refere-se à vida inteira
no corpo, com todas as suas atividades.
O coração deve ser aspergido com o sangue, o corpo deve ser
lavado com água pura. Quando os sacerdotes eram consagrados,
eram lavados com água, além de serem aspergidos com sangue (Êx
29:4, 20, 21). E se fossem para o Lugar Santo, ali estaria não
somente o altar com seu sangue, como também o lavatório com sua
água. Assim, também, Cristo veio pela água e pelo sangue (Uo 5:6).
Teve Seu batismo com água e mais tarde com sangue (Lc 12:50).
Há para nós, também, uma purificação dupla; com água, e com
sangue. O batismo com água é para o arrependimento, deixando de
lado o pecado: "cada um de vós seja batizado...para remissão dos
vossos pecados". Ao passo que o Sangue purifica o coração, o
homem interior, o batismo é a entrega do corpo, com toda a sua
vida visível, para a separação do pecado.
Destarte, "Aproximemo-nos, tendo os corações purificados de
má consciência, e lavado o corpo com água pura". O poder do
Sangue para purificar internamente não pode ser experimentado a
não ser que nós também nos purifiquemos de toda a imundície da
carne. A obra divina da purificação, pela aspersão do Sangue, a obra
humana da purificação, por deixar de lado o pecado, são
inseparáveis.
Devemos estar limpos, para entrar no "Santo dos Santos".
Assim como você nunca sonharia em estar na presença de um rei
sem lavar-se, assim também você não pode imaginar que poderia
estar na presença de Deus, no Lugar Santo, se você não for
purificado de todo pecado. No Sangue de Cristo, que purifica de todo
o pecado, Deus lhe outorgou o poder de purificar a si mesmo. Seu
desejo de habitar com Deus no "Santo dos Santos" deve sempre
estar unido com o mais cuidadoso repúdio mesmo do mínimo
pecado. Os impuros não podem entrar no "Santo dos Santos".
Louvado seja Deus, Ele deseja-nos ter ali. Como Seus
sacerdotes, devemos ministrar a Ele ali.
Ele deseja nossa pureza, a fim de que possamos desfrutar da
bênção do "Santo dos Santos". Ou seja, Sua santa comunhão, e Ele
tomou cuidado para que, mediante o Sangue, e pelo Espírito,
possamos ser limpos.
Aproximemo-nos, tendo os corações purificados, e lavado o
corpo com água pura.

"APROXIMEMO-NOS"

O Santo dos Santos está aberto até mesmo para aqueles que,
em nossas congregações, ainda não se voltaram verdadeiramente
para o Senhor.
Para eles, também, o Santuário foi aberto. O Sangue Precioso,
o caminho vivo, e o Grande Sacerdote são para eles também. Com
grande confiança, ousemos convidar até mesmo a eles. "Apro-
ximemo-nos." Oh! não desprezem, meus amigos que ainda estão
longe de Deus, oh, não desprezem mais a graça maravilhosa de
Deus, aproximem-se do Pai que tão sinceramente enviou este
convite a vocês; que ao preço do Sangue do Seu Filho abriu um
caminho para vocês entrarem no "Santo dos Santos"; que espera
com amor para receber vocês de novo na Sua habitação, como Seus
filhos. Oh! rogo a vocês, vamos todos aproximar-nos. Jesus Cristo
como Sumo Sacerdote sobre a Casa de Deus é o Salvador perfeito!

“APROXIMEMO-NOS"
Aproximemo-nos." O convite vem especialmente para todos os
crentes. Não fique satisfeito em permanecer na entrada. Não é
suficiente acalentar a esperança de que seus pecados estão per-
doados. "Aproximemo-nos," entremos para dentro do véu,
avancemos no espírito para a verdadeira proximidade com o nosso
Deus. "Aproximemo-nos"e vivamos mais perto de Deus, e façamos
totalmente a nossa habitação na Sua Santa Presença. "Aproximemo-
nos," nosso lugar está no Santuário interior.
"Aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de
fé." Aquele que se entrega sincera e inteiramente a Deus
experimentará, mediante o Espírito Santo, a "plena certeza de fé,"
para tomar para si, livre e alegremente, tudo quanto a Palavra tem
prometido. Nossa fraqueza da fé surge da duplicidade de coração.
"Aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza" de que a
bênção é nossa. O Sangue fez uma expiação tão perfeita pelo
pecado, ao qual venceu, que nada pode impedir o crente de ter livre
admissão à presença de Deus.
"Aproximemo-nos, tendo os corações purificados de má
consciência, e lavado o corpo com água pura." Recebamos em nosso
coração fé no poder perfeito do Sangue, e deixemos de lado tudo
quanto não está de acordo com a natureza do Lugar Santo. Só
assim, nos sentiremos cada dia mais à vontade no "Santo dos
Santos". Em Cristo, que é a nossa Vida, nós também estaremos ali.
Aí, aprendamos a levar a efeito todo o nosso trabalho no "Santo dos
Santos". Tudo quanto fizermos será um sacrifício espiritual
agradável a Deus em Jesus Cristo. Irmãos, "aproximemo-nos."
enquanto Deus nos aguarda no "Santo dos Santos".

"APROXIMEMO-NOS "
Aquela chamada tem referência especial à oração. Não é como
se nós, como sacerdotes, não estivéssemos sempre no "Santo dos
Santos", mas há momentos de comunhão mais imediata, quando a
alma se volta inteiramente a Deus para ocupar-se com Ele somente.
Infelizmente, nossa oração é por demais, freqüentemente, um
clamar a Deus à distância, de modo que tem pouco poder nela. Va-
mos, com cada oração, averiguar que realmente estamos no"Santo
dos Santos". Vamos, com os corações purificados de má consciência,
com fé silenciosa, apropriar-nos do pleno efeito do Sangue, me-
diante o que é inteiramente removido o pecado, como uma
separação entre Deus e nós. Sim! Dediquemos tempo até que
saibamos que, agora, "Eu estou no 'Santo dos Santos' pelo sangue"
e depois orar. Assim, poderemos colocar nossos desejos e petições
diante do nosso Pai, tendo a certeza de que são um incenso
aceitável. Porque a oração é um verdadeiro "aproximar-se" de Deus,
um exercício de íntima comunhão com Ele. Nestas condições,
teremos coragem e poder para levar adiante nossa obra de
intercessão sacerdotal, e invocar bênçãos sobre outras pessoas.
Aquele que habita no Lugar Santo pelo poder do Sangue é
verdadeiramente um dos santos de Deus, e o poder da presença
santa e bendita de Deus desprende-se dele para aqueles que estão
ao seu redor.
Irmãos, "aproximemo-nos", oremos por nós mesmos, uns pelos
outros, por todos. Que o "Santo dos Santos" fique de tal maneira
sendo nossa habitação segura que possamos levar Deus conosco, a
todos os lugares. Que esta seja a fonte da vida para nós, que cresce
de força em força, de glória em glória, sempre no "SANTO DOS
SANTOS"PELO SANGUE. Amém.
Capítulo VIII

A VIDA NO SANGUE

"Respondeu-lhes Jesus: em verdade, em verdade vos digo: Se


não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu
sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem comer a minha
carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei
no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu
sangue é verdadeira bebida. Quem comer a minha carne e beber o
meu sangue, permanece em mim e eu nele" Jo 6:53-56.
"Porventura o cálice da bênção que abençoamos não é a
comunhão do sangue de Cristo?" 1 Co 10:16.

Beber o sangue do Senhor Jesus é o assunto trazido à nossa


atenção nestas palavras. Assim como a água tem um efeito duplo,
assim também acontece com este sangue santo.
Quando a água é usada para lavar, purifica, mas se a bebemos,
ficamos refrigerados e vivificados. Aquele que deseja conhecer o
pleno poder do sangue de Jesus deve ser ensinado por Ele de qual é
a bênção de beber o sangue. Todos conhecem a diferença que há
entre lavar e beber. Por mais necessário e agradável que seja usar a
água para a limpeza, é muito mais necessário e vivificante bebê-la.
Sem sua purificação, não é possível viver como devemos; mas sem
bebê-la não podemos viver de modo algum. É somente bebendo que
desfrutamos do pleno benefício do seu poder para sustentar nossa
vida.
Sem beber o sangue do Filho de Deus ou seja, sem a mais
cordial apropriação dele a vida eterna não pode ser obtida.
Para muitos, há algo desagradável no "beber o sangue do Filho
do homem", mas isto era ainda mais desagradável aos judeus,
porque o uso do sangue era proibido pela lei de Moisés, sob
penalidades severas. Quando Jesus falou de "beber o seu sangue",
naturalmente ficaram irritados, mas era uma ofensa indizível aos
seus sentimentos religiosos. Nosso Senhor, podemos ter certeza,
não teria empregado a expressão, se pudesse doutra maneira deixar
claras a eles, e a nós, as verdades mais profundas e mais gloriosas
concernentes à salvação pelo sangue.
Ao procurar tornar-nos participantes da salvação, como sendo
o "BEBER DO SANGUE DO NOSSO SENHOR", vamos esforçar-nos
para entender:

I. QUAL A BÊNÇÃO DESCRITA COMO "BEBER O SANGUE";


H. COMO ESTA BÊNÇÃO É OPERADA EM NÓS;
III. QUAL DEVE SER NOSSA ATITUDE PARA COM ELA.

I. QUAL A BÊNÇÃO DESCRITA COMO "BEBER O SANGUE".


Acabamos de ver, que o beber expressa uma conexão muito
mais íntima com a água do que a lavagem, e, portanto, produz um
efeito mais poderoso. Há uma bênção na comunhão com o sangue
de Jesus que vai muito mais longe do que a PURIFICAÇÃO ou a
SANTIFICAÇÃO ou melhor, estamos capacitados a ver quão longe é o
alcance da influência da bênção indicada por esta expressão.
Não somente o sangue deve fazer alguma coisa PARA nós, ao
colocar-nos num novo relacionamento com Deus mas também deve
fazer alguma coisa EM nós, nos renovando inteiramente por dentro.
É para isto que as palavras do Senhor Jesus chamam a nossa
atenção, quando Ele diz: "Se não comerdes a carne do Filho do
homem e não beberdes o seu sangue, não.tendes vida em vós mes-
mos." Nosso Senhor distingue entre dois tipos de vida. Os judeus, ali,
na Sua presença, tinham uma vida natural de corpo e alma. Muitos,
entre eles, eram homens devotos, de boas intenções, mas Ele disse
que não tinham vida neles mesmos a não ser que "comessem a sua
carne e bebessem o seu sangue." Precisavam doutra vida, uma vida
celestial, que Ele possuía e que Ele podia transmitir. Toda a vida de
uma criatura deve obter seu sustento fora de si mesma. A vida
natural era nutrida de modo natural, pelo pão e pela água. A vida
celestial deve ser nutrida por comida e bebida celestiais, pelo
próprio Jesus. "Se não comerdes a carne do Filho do homem e não
beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos." Nada
menos do que sua vida deve tornar-se nossa: a vida que Ele, como
Filho do homem/vivia na terra.
Nosso Senhor enfatizou isto de modo ainda mais destacado nas
palavras que se seguem, em que mais uma vez Ele explicou qual é a
natureza daquela vida: "quem comer a minha carne e BEBER O MEU
SANGUE tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia." A vida
eterna é a vida de Deus. Nosso Senhor veio para a terra, em
primeiro lugar, para revelar aquela vida eterna na carne e depois
para comunicá-la a nós que estamos na carne. NEle vemos a vida
eterna habitando no seu poder divino, num corpo de carne; que foi
elevado para o céu. Diz-nos que os que comem Sua carne e bebem
Seu sangue, que participam do Seu corpo como sustento deles,
também experimentarão, nos seus próprios corpos, o poder da vida
eterna. "Eu o ressuscitarei no último dia." A maravilha da vida eterna
em Cristo é que era a vida eterna num corpo humano. Devemos ser
participantes daquele corpo, não menos do que nas atividades do
Seu Espírito, e então nosso corpo, também, possuindo aquela vida,
um dia será ressuscitado dentre os mortos.
Nosso Senhor disse: "A minha carne é verdadeira comida, e o
MEU SANGUE é verdadeira bebida." A palavra traduzida como
verdadeira", aqui, é a mesma que empregou quando Ele contou Sua
parábola da Videira Verdadeira: "Eu sou a videira verdadeira,"
indicando, assim, a diferença entre aquilo que era apenas um
símbolo e aquilo que é verdade real. O alimento terrestre não é
nenhuma comida REAL, por não transmitir qualquer vida verdadeira.
O único alimento verdadeiro é o corpo e o sangue do Senhor Jesus
Cristo, que transmite e sustenta a vida, e isto não como sombra ou
símbolo. Não, esta palavra, tão freqüentemente repetida, indica que
num sentido real a carne e o sangue do Senhor Jesus são o alimento
mediante o qual a vida eterna é nutrida e sustentada em nós: "A
minha carne é VERDADEIRA comida, e o meu sangue é VERDADEIRA
bebida."
A fim de indicar a realidade e o poder deste alimento, nosso
Senhor acrescentou: "Quem comer a minha carne e beber o meu
sangue, permanece em mim e eu nele." A alimentação com a Sua
carne e com o Seu sangue leva a efeito a mais perfeita união com
Ele. Esta é a razão porque Sua carne e Seu sangue têm tanto poder
da vida eterna. Nosso Senhor declara, aqui, que os que nEle crêem
devem experimentar não somente certas influências da parte dEle
nos seus corações, como também devem ser trazidos para a união
mais estreita e permanente com Ele. "Aquele que BEBER O MEU
SANGUE,PERMANECE EM MIM E EU NELE."
Esta, pois, é a bênção de beber o sangue do Filho do homem:
torna-se um com Ele; torna-se co-participante da natureza divina
nEle. Quão real é esta união pode ser visto a partir das palavras que
se seguem: "Assim como... eu vivo pelo Pai; também quem de mim
se alimenta, por mim viverá." Nada, senão a união que existe entre
nosso Senhor e o Pai, pode servir de figura da nossa união com Ele.
Assim como na natureza indivisível, divina, as duas Pessoas são
verdadeiramente uma, assim também o homem fica sendo um só
com Jesus; a união é tão real como na natureza divina, somente com
esta diferença: que assim como a natureza humana não pode existir
à parte do corpo, esta união inclui o corpo também.
Nosso Senhor "preparou para Si" um corpo em que assumiu um
corpo humano. Este corpo veio a ser, mediante o corpo e o sangue
de Jesus, um co-participante da vida eterna, da vida do nosso
próprio Senhor. Aqueles que desejam receber a plenitude desta
bênção devem tomar o cuidado de desfrutar de tudo quanto a
Escritura lhes oferece na expressão santa e misteriosa: "beber o
sangue de Cristo".
Agora procuraremos entender:

II. COMO ESTA BÊNÇÃO É OPERADA EM NÓS: ou AQUILO


QUE O "BEBER DO SANGUE DE JESUS" REALMENTE É
A primeira idéia que aqui se apresenta é que "beber" indica a
profunda e verdadeira apropriação em nosso espírito, pela fé, de
tudo quanto entendemos acerca do poder do sangue.
Falamos às vezes acerca de "beber" as palavras de um locutor,
quando cordialmente nos dispomos a escutá-las e recebê-las. Da
mesma maneira, quando o coração de alguém fica repleto do senso
da preciosidade e do poder do sangue; quando o coração, fica
embevecido na contemplação do sangue, que verdadeiro gozo! —;
quando alguém com fé profunda e sincera o toma para si, e procura
ficar convicto no íntimo do seu ser quanto ao poder vivificante
daquele sangue; então pode ser dito com razão que "bebe o sangue
de Jesus". Tudo quanto a fé o capacita a ver na REDENÇÃO, na
PURIFICAÇÃO, na SANTIFICAÇÃO, pelo sangue, absorve nas
profundezas da sua alma.
Há uma verdade profunda nesta representação, e nos dá uma
demonstração muito gloriosa da maneira em que a plena bênção
pode ser obtida pelo sangue. Mesmo assim, é certo que vosso
Senhor queria dizer algo mais do que isto ao fazer uso tão repetido
da expressão acerca de "comer sua carne e beber seu sangue". Qual
é esta verdade adicional, fica claro na Sua instituição da CEIA.
Porque, embora nosso Salvador não tratasse daquela Ceia pro-
priamente dita, quando ensinava em Cafarnaum, mesmo assim,
falou do assunto mais tarde. A Ceia foi feita a confirmação visível.
Nas Igrejas Reformadas, há dois aspectos a considerar na Ceia
do Senhor. Um deles, que é chamado pelo nome do Reformador
Zuínglio, o pão e o vinho são meros símbolos, ou representações, de
uma verdade espiritual, para ensinar-nos que ASSIM COMO, E TÃO
SEGURAMENTE COMO, o pão e o vinho, ao serem comidos e bebidos,
nutrem e vivificam, de igual modo seguramente, e ainda mais
seguramente o corpo e o sangue reconhecidos e apropriados pela fé,
nutrem e vivificam a alma.
No outro ponto de vista, que leva o nome de Calvino, há algo
mais do que isto em comer a Ceia. Ele ensina que, de uma maneira
oculta e incompreensível, porém real, nós, pelo Espírito Santo, fi-
camos tão nutridos pelo corpo e pelo sangue de Jesus no céu, que
até mesmo nosso corpo, mediante o poder do Seu corpo, fica sendo
participante do poder da vida externa. Daí, liga a ressurreição do
corpo com o alimentar-se do corpo de Cristo na Ceia. Escreve assim:
"A presença corpórea que o Sacramento exige é tal, e exerce tal
poder aqui (na Ceia) que se torna não somente a certeza indubitável
do nosso espírito, quanto à vida eterna, mas também assegura a
imortalidade da carne. Se alguém me perguntar como isto pode ser,
não tenho vergonha de reconhecer que é um mistério alto demais
para meu espírito compreender, ou para minhas palavras expressar.
Sinto o mais do que o posso compreender."
"Talvez pareça incrível que a carne de Cristo chegue a nós de
uma distância local tão imensa, de maneira que se torna nosso
alimento. Devemos, no entanto, lembrar-nos até que ponto o poder
do Espírito Santo transcende todos os nossos sentidos. Que a fé,
portanto, aceite aquilo que o entendimento não pode captar, a
saber: A sagrada comunicação da Sua carne e do Seu sangue
mediante a qual Cristo inocula Sua vida em nós, assim como se
penetrasse em nossos ossos e nosso tutano."
A comunhão da carne e do sangue de Cristo é necessária para
todos os que desejam herdar a vida eterna. O Apóstolo diz: "A
Igreja... é o seu corpo" (Ef 1:23); "Ele é o cabeça, Cristo, de que todo
o corpo, bem ajustado e consolidado... efetua o seu próprio
aumento" (Ef. 4:15, 16). Nossos corpos são membros de Cristo (1 Co
6:15, 16). Podemos ver que tudo isto não pode ocorrer se Ele não
estiver ligado a nós em corpo e em espírito. O Apóstolo mais uma
vez faz uso de uma expressão gloriosa: "Somos membros do seu
corpo, da sua carne e dos seus ossos." Depois exclama: "Grande é
este mistério." Seria, portanto, estultície não reconhecer a
comunhão dos crentes no corpo e no sangue do Senhor; comunhão
esta que o Apóstolo considerava tão grande que se maravilhava
diante dela, ao invés de explicá-la.
Há algo mais na Ceia do que simplesmente o crente apropriar-
se da obra redentora de Cristo. Isto é deixado claro no catecismo de
Heidelberg, na Pergunta 76: "O que é, pois, comer do corpo
crucificado de Cristo e beber de Seu sangue derramado?" A resposta
é: "É não somente aceitar com um coração crente todos os
sofrimentos e a morte de Cristo, e assim receber o perdão do pecado
e a vida eterna; mas, também, além disto, tornar-se cada vez mais
unido ao Seu corpo sagrado, mediante o Espírito Santo que habita,
ao mesmo tempo, em Cristo e em nós; de modo que nós, embora
Cristo esteja no céu e nós na terra, sejamos carne da Sua carne, e
ossos dos Seus ossos; e vivemos e somos governados para sempre
por um só Espírito."
Os pensamentos que são expressados neste ensinamento
estão de inteiro acordo com a Escritura.
Na criação do homem, a coisa notável que devia distingui-lo
dos espíritos que Deus criara previamente, e que deve fazer do
homem a obra coroadora da sabedoria e do poder de Deus, era que
o homem devia revelar a vida do espírito e a glória de Deus num
corpo formado de pó. Por meio do corpo, a concupiscência e o
pecado entraram no mundo. A redenção plena é destinada a libertar
o corpo, e fazê-lo a habitação de Deus. A redenção será perfeita e o
propósito de Deus será realizado somente. Foi para este propósito
que o Senhor Jesus veio na carne, e nEle "habita corporalmente toda
a plenitude da Divindade." Por isso, suportou nossos pecados no Seu
corpo no madeiro, e pela Sua morte e ressurreição libertou o corpo,
bem como o espírito, do poder do pecado e da morte. Como
primícias desta redenção, agora somos um só corpo, bem como um
só Espírito, com Ele. Somos do Seu corpo, da Sua carne, e dos Seus
ossos. É por causa disto que, na observação da Santa Ceia, o Senhor
vem para o corpo também, e toma posse dele. Não somente opera
pelo Seu Espírito sobre nosso espírito, como também faz nosso corpo
compartilhar da redenção da ressurreição. Não, já aqui, o corpo é o
templo do Espírito, e a Santifícação da alma e do espírito progredirá
tanto mais gloriosamente, à medida em que a personalidade não
dividida, inclusive o corpo, que exerce uma influência de tanta
oposição, tem participação dela.
Destarte, no Sacramento, somos tão intencionalmente
alimentados pelo "corpo natural real, e o verdadeiro sangue de
Cristo" não seguindo o ensino de Lutero, de que o corpo de Cristo
está de tal maneira no pão que até mesmo um descrente come o
corpo santo; mas "real", de tal maneira que a fé, de uma maneira
secreta, pelo Espírito, realmente recebe O PODER DO CORPO SANTO
E SANGUE DO CÉU, como o alimento mediante o qual a alma e o
corpo ficam sendo participantes da vida eterna.
Tudo que agora foi dito acerca da Ceia deve ter sua plena
aplicação em "O beber do sangue de Jesus". É um mistério espiritual
profundo em que é levada a efeito a união mais íntima e perfeita
com Cristo. Ocorre onde a alma, mediante o Espírito Santo, apropria-
se plenamente da comunhão do sangue de Cristo, e fica sendo uma
participante verdadeira da própria disposição que Ele revelou no
derramamento do Seu sangue. O sangue é a alma, a vida do corpo;
onde o crente como um só corpo com Cristo deseja habitar
perfeitamente nEle, ali, mediante o Espírito, de uma maneira sobre-
humana e poderosa, o sangue apoiará e fortalecerá a vida celestial.
A vida que foi derramada no sangue, fica sendo sua vida. A vida do
velho "eu" morre para dar lugar à vida de Cristo nele. Ao perceber
como este beber é a mais alta participação da vida celeste do
Senhor, a fé tem uma das suas funções mais gloriosas. Resta
perguntar:

III. QUAL DEVE SER NOSSA ATITUDE DIANTE DESTE


BEBER?
Amados irmãos, já viram que temos aqui um dos mais
profundos mistérios da vida de Deus em nós. Cumpre aproximar-nos
com reverência muito profunda, enquanto pedimos ao Senhor Jesus
que nos ensine e nos outorgue o sentido daquilo que quer dizer com
este "beber do Seu sangue".
SOMENTE AQUELE QUE ANSEIA PELA PLENA UNIÃO COM JESUS
APRENDERÁ COR-
RETAMENTE, O QUE SIGNIFICA BEBER O SANGUE DE JESUS.
"Quem beber o meu sangue, permanece em mim e eu nele". Aquele
que está satisfeito apenas com o perdão dos seus pecados; aquele
que não tem sede para ser levado a beber abundantemente do amor
de Jesus; aquele que não deseja experimentar a redenção para a
alma e o corpo, no seu pleno poder, de modo que tenha em si
mesmo a mesma disposição que havia em Jesus, terá uma
participação bem pequena deste "beber do sangue." Aquele, porém,
que, por outro lado, coloca diante de si, como seu objetivo principal,
aquilo que também é o objetivo de Jesus: "Permanecei em mim, e
eu, em vós"; que deseja que o poder da vida eterna opere no seu
corpo; não se deixará amedrontar pela impressão de que estas pala-
vras são por demais sublimes ou misteriosas. Anseia por ter uma
mentalidade celestial, porque pertence ao céu, e está indo para lá;
portanto,deseja obter sua comida e bebida também do céu. Sem
sede, não existe beber. O anseio por Jesus e pela comunhão perfeita
com Ele é a sede que é a melhor preparação para ser levado a beber
o sangue.
É PELO ESPIRITO SANTO QUE A ALMA SEDENTA SERÁ LEVADA A
BEBER DO RE-FRIGÉRIO CELESTIAL DESTA BEBIDA VIVI-FICANTE. Já
dissemos que este beber é um mistério celestial. No céu, onde Deus,
o Juiz de tudo, está, e onde Jesus, o Mediador da Nova Aliança, está,
ali também está "o sangue da aspersão" (Hb 12:23, 24). Quando o
Espírito Santo nos ensina tomando-nos, por assim dizer, pela mão,
outorga mais do que nosso entendimento meramente humano pode
compreender. Todos os pensamentos que podemos ter acerca do
sangue ou da vida de Jesus; acerca da nossa participação naquele
sangue, como membros do Seu corpo; e acerca da transmissão a
nós do poder vivo daquele sangue; todos são apenas raios fracos da
gloriosa realidade que Ele, o Espírito Santo, fará existir em nós
através da nossa união com Jesus.
Onde, pergunto, em nosso corpo humano, achamos que o
sangue é realmente recebido, e, por assim dizer, bebido? Não é onde
um membro do corpo após outro, mediante as veias, recebe o fluxo
sangüíneo que é continuamente renovado do coração? Cada
membro de um corpo saudável bebe do sangue, incessante e
abundantemente. Assim o Espírito da Vida, em Cristo Jesus, que nos
une a Ele, fará com que este beber do sangue seja a ação natural da
vida interior. Quando os judeus se queixaram de que aquilo que o
Senhor falara acerca de comer Sua carne e de beber Seu sangue era
um "discurso duro", Ele disse: "O espírito é o que vivifica; a carne
para nada aproveita". É o Espírito Santo que faz deste mistério
divino VIDA E PODER em nós; uma verdadeira experiência viva, em
que nós permanecemos em Jesus e Ele em nós.
DEVE HAVER, DA NOSSA PARTE, UMA EXPECTATIVA QUIETA,
FORTE E FIRME DA FÉ, DE QUE ESTA BÊNÇÃO NOS SERÁ OU-
TORGADA. Devemos crer que tudo quanto o sangue precioso pode
fazer, ou outorgar, é realmente para nós.
Creiamos que o próprio Salvador nos levará, mediante o
Espírito Santo, a beber do Seu sangue para a vida. Creiamos poder e
muito íntima e continuamente, apropriar-nos daqueles efeitos do
sangue que melhor entendemos, ou seja: seus efeitos na
Reconciliação, na Purificação, e na Santificação.
Poderemos, então, com a máxima certeza e alegria, dizer ao
Senhor: "Ó Senhor, Teu sangue é a bebida da minha vida. Tu, que
me levaste e purificaste por aquele sangue, Tu, me ensinarás todos
os dias 'a comer a carne do Filho do homem, e a beber o Seu
sangue' de modo que eu possa permanecer em Ti, e Tu em mim".
Ele seguramente fará isto.
Capítulo IX

A VITÓRIA PELO SANGUE

"Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por


causa da palavra do testemunho que deram, e, mesmo em face da
morte, não amaram a própria vida". Ap 12:11

Durante milhares de anos houve um conflito tremendo pela


posse da Humanidade, entre a Velha Serpente, que desviou os
homens, e "A semente da mulher".
Freqüentemente parecia que o Reino de Deus viera em poder;
depois, noutras ocasiões, o poder do mal obtinha uma supremacia
tal que a luta parecia desesperadora.
Era assim também na vida de nosso Senhor Jesus. Pela Sua
vinda, pelas Suas palavras e obras maravilhosas, as mais gloriosas
expectativas de uma redenção rápida eram despertadas. Quão
terrível foi a decepção que a morte de Jesus trouxe a todos quantos
tinham crido nEle! Parecia, de fato, como se os poderes das trevas
houvessem conquistado, estabelecido seu reino para sempre.
Mas, veja, Jesus ressuscitou dentre os mortos, e o que parecia
ser uma vitória comprovou-se ser a terrível derrota do príncipe das
trevas! Ao levar a efeito a morte do "Senhor da Vida", Satanás per-
mitiu que Ele, o único que podia romper e abrir as portas da morte,
entrasse no Seu reino. "Por sua morte, destruiu aquele que tem o
poder da morte, a saber, o diabo". Naquele momento sagrado em
que nosso Senhor derramou Seu sangue na morte, e parecia como
se Satanás fosse vitorioso, o adversário foi despojado da autoridade
que até então possuíra.
Nosso texto faz uma representação muito grandiosa destes
eventos memoráveis. Os melhores comentaristas, apesar das
diferenças nos pormenores da exposição, estão unidos ao pensar
que aqui temos uma visão da expulsão de Satanás do céu, como
resultado da Ascensão de Cristo.
Lemos nos vv. 5-9: "Nasceu-lhe (à mulher), pois, um filho
varão, que... arrebatado para Deus até ao seu trono... Houve peleja
no céu. Miguel e os seus anjos pelejaram contra o dragão. Também
pelejaram o dragão e seus anjos; todavia, não prevaleceram; nem
mais se achou no céu o lugar deles. E foi expulso o grande dragão, a
antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o
mundo, sim, foi atirado para a terra e, com ele, os seus anjos."
Segue-se, então, o cântico do qual o texto foi tirado: "Agora
veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do
seu Cristo, pois foi expulso o acusador de nossos irmãos, o mesmo
que os acusa de dia, e de noite, diante do nosso Deus. Eles, pois, o
venceram por causa do SANGUE DO CORDEIRO e por causa da
palavra do testemunho que deram, e, mesmo em face da morte, não
amaram a própria vida. Por isso, festejai, ó céus, e vós os que neles
habitais."
O aspecto que merece nossa atenção especial é que, embora a
vitória contra Satanás e a sua expulsão do céu, primeiramente
sejam representadas como sendo o resultado da Ascensão de Jesus
e da guerra no céu que se seguiu, mesmo assim, no cântico de
triunfo que foi ouvido no céu, a vitória é atribuída principalmente ao
SANGUE DO CORDEIRO, este foi o poder mediante o qual a vitória foi
conquistada.
No decurso do livro do Apocalipse inteiro, vemos o Cordeiro
sobre o Trono. É como o Cordeiro que foi morto, que venceu aquela
posição; A VITÓRIA SOBRE SATANÁS E TODA A SUA AUTORIDADE É
PELO SANGUE DO CORDEIRO.
Já falamos acerca do sangue nos seus múltiplos efeitos; é
apropriado procurarmos compreender como é que a vitória é sempre
atribuída ao SANGUE DO CORDEIRO.
Consideremos a vitória:

I. COMO TENDO SIDO GANHA UMA VEZ POR TODAS;


II. COMO SENDO SEMPRE LEVADA A EFEITO,
III. COMO SENDO AQUELA EM QUE TEMOS UMA
PARTICIPAÇÃO.

I. A VITÓRIA QUE FOI GANHA UMA VEZ POR TODAS.


Na representação exaltada, que é dada em nosso texto, vemos
que posição alta foi antigamente ocupada por Satanás, o grande
inimigo da raça humana. Tinha livre entrada no céu, e apareceu ali
como acusador dos irmãos, e como oponente de tudo quanto era
feito para o bem do povo de Deus.
Sabemos como isto é ensinado no Antigo Testamento. No livro
de Jó vemos Satanás vindo, com os Filhos de Deus, para apresentar-
se diante do Senhor; e para obter dEle permissão para tentar Seu
servo Jó (Jó 2). No livro de Zacarias (3:1 e 2) lemos que este viu "o
sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do anjo do SENHOR e
Satanás estava à mão direita dele, para se lhe opor ' (R.V., "ser seu
adversário"). Há, além disto, a declaração de nosso Senhor,
registrada em Lc 10:18: "Eu via a Satanás caindo do céu como um
relâmpago." Mais tarde, na Sua agonia de alma, enquanto sentia de
antemão os sofrimentos que se aproximavam dEle, disse: "Chegou o
momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será
expulso" (Jo 12:31.
À primeira vista, talvez pareça estranho que as Escrituras
representassem Satanás como estando no céu; mas para
compreender isto corretamente é necessário lembrar-nos de que o
céu não é uma habitação pequena e circunscrita, onde Deus e Sata-
nás tinham convívio como vizinhos. Não! O céu é uma esfera
ilimitável, com muitíssimas divisões diferentes, cheias de hostes
inumeráveis de anjos, que levam a efeito a vontade de Deus na
natureza. Entre eles, Satanás também ainda tinha um lugar. Lembre-
se, além disto, que as Escrituras não o representam como a figura
negra e horrível quanto à aparência externa, como é geralmente
retratado, mas, sim, como "um anjo de luz." Era um príncipe, com
miríades de servos.
Quando tinha levado a efeito a queda do homem, e também
transferido o mundo para ele mesmo, tornando-se seu príncipe,
tinha autoridade real sobre tudo quanto nele havia. O homem fora
destinado a ser rei deste mundo, pois Deus disse: "Tem autoridade."
Depois de Satanás ter conquistado o rei, tomou seu reino inteiro sob
sua autoridade; e esta autoridade era reconhecida por Deus. Deus,
na Sua santa vontade, ordenara que se o homem escutasse a
Satanás, teria de sofrer as conseqüências, e tornar-se sujeito à sua
tirania. Deus nunca, nesta questão, fez uso do Seu poder nem exer-
ceu força, mas, sim, sempre tomava o caminho da Lei e do Direito;
e, destarte, Satanás reteve sua autoridade até que lhe foi tirada de
modo legítimo.
É esta a razão porque podia comparecer diante de Deus no
céu, como acusador dos irmãos e em oposição a eles durante os
4.000 anos da Antiga Aliança.
Obtivera a autoridade sobre toda a carne, e somente depois de
ter sido conquistado NA CARNE, COMO SENDO A ESFERA DA SUA
AUTORIDADE, é que podia ser expulso para sempre, como acusador,
dos Átrios do Céu.
Destarte, o Filho de Deus, também, tinha de vir NA CARNE, a
fim de lutar contra Satanás, e conquistá-lo, no seu próprio terreno.
Por esta razão também, no começo da Sua vida pública, nosso
Senhor, depois da Sua unção, sendo assim abertamente reconhecido
como o Filho de Deus, "foi Jesus levado pelo Espírito, ao deserto,
para ser tentado pelo diabo." A vitória sobre Satanás poderia ser
ganha somente depois de Ele pessoalmente ter suportado e resistido
as tentações da parte daquele.
Mas até mesmo esta vitória não foi suficiente. Cristo veio a fim
de que "por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte,
a saber, o diabo." O diabo tinha aquele poder da morte por causa da
Lei de Deus. Aquela lei o instalara como carcereiro dos prisioneiros
dela. A Escritura diz: "o aguilhão da morte é o pecado, e a força do
pecado è a lei " A vitória sobre Satanás e a sua expulsão, não
poderiam ocorrer até que as exigências justas da lei fossem
perfeitamente cumpridas. O pecador deve ser liberto da força do
pecado, antes de poder ser liberto da autoridade de Satanás.
Foi mediante a Sua morte, e o derramamento do Seu sangue,
que o Senhor Jesus cumpriu as exigências da lei. Incessantemente, a
lei tinha declarado que "O salário do pecado é a morte"; "A alma que
pecar, esta morrerá." Por meio do ministério típico do Templo, pelos
sacrifícios com o derramamento do sangue e a aspersão do sangue,
a Lei previra que a RECONCILIAÇÃO e a REDENÇÃO poderiam ocorrer
somente mediante o derramamento de sangue. Como nosso Fiador,
o Filho de Deus nasceu sob a lei. Obedeceu a ela de modo perfeito.
Resistiu às tentações de Satanás no sentido de retirar-Se de debaixo
da sua autoridade. Entregou-Se de livre vontade para suportar o
castigo do pecado. Não deu ouvidos à tentação de Satanás, no
sentido de recusar o cálice do sofrimento. Quando derramou o Seu
sangue, já tinha dedicado a Sua vida inteira, até ao próprio fim, ao
cumprimento da lei. Quando a lei tinha sido perfeitamente cumprida
desta maneira, a autoridade do pecado e de Satanás foi levado ao
fim. Por isso, a morte não podia segurá-Lo. "Pelo sangue da eterna
aliança", Deus "tornou a trazer dentre os mortos a Jesus nosso
Senhor." Assim também Ele "entrou no céu pelo seu próprio
sangue," para tornar Sua RECONCILIAÇÃO eficaz para nós.
O texto nos dá uma descrição notável do resultado glorioso do
aparecimento de nosso Senhor no céu. Lemos acerca da mulher
mística: "Nasceu-lhe, pois, um filho varão, que há de reger todas as
nações, com cetro de ferro. E o seu filho foi arrebatado para Deus
até ao seu trono... Houve peleja no céu. Miguel e os seus anjos
pelejaram contra o dragão. Também pelejaram o dragão e seus an-
jos; todavia, não prevaleceram; nem mais se achou no céu o lugar
deles. E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se
chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado
para a terra, e, com ele, os seus anjos". Segue-se o cântico de vitória
em que ocorrem as palavras do nosso texto: "Eles, pois, o venceram
por causa do SANGUE DO CORDEIRO".
No livro de Daniel, lemos acerca de um conflito anterior entre
este Miguel, que estava do lado do povo de Deus, Israel, e os
poderes mundiais que se opunham. Mas somente agora é que
Satanás pode ser lançado fora, por causa do sangue do Cordeiro. A
reconciliação pelo pecado e o cumprimento da lei tiraram dele toda
a autoridade e todo o direito. O sangue, conforme já vimos, que
tinha feito coisas tão maravilhosas no céu, com Deus, ao apagar o
pecado, aniquilando-o, tinha um poder semelhante sobre Satanás.
Ele já não tem qualquer direito de acusar. "Agora veio a salvação, o
poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, pois foi
expulso o acusador de nossos irmãos... Eles, pois, o venceram por
causa do sangue do Cordeiro".

II. HÁ UMA VITÓRIA PROGRESSIVA: QUE SEGUE APÓS


ESTA PRIMEIRA VITÓRIA. TENDO SIDO SATANÁS ATI-
RADO PARA A TERRA, A VITÓRIA CELESTIAL, AGORA,
DEVE SER LEVADA A EFEITO AQUI.
Este fato é indicado nas palavras do Cântico de Vitória: "Eles,
pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro". Estas palavras
foram faladas primariamente acerca dos "irmãos" mencionados, mas
referem-se também à vitória dos anjos. A vitória no céu e na terra
progride simultaneamente, baseada no mesmo fundamento.
Sabemos pela porção de Daniel já aludida (Dn 10:12, 13) qual a co-
munhão existente entre o céu e a terra, para levar adiante a obra de
Deus. Tão logo Daniel orou, o anjo se tornou ativo, e as três
semanas de lutas, nos lugares celestiais, foram três semanas de
oração e jejum na terra. O conflito aqui na terra é o resultado de um
conflito nas regiões celestiais, invisíveis. Miguel e seus anjos, bem
como os irmãos na terra, alcançaram a vitória "por causa do sangue
do Cordeiro."
No capítulo doze do Apocalipse, somos claramente ensinados
como o conflito foi removido do céu para a terra. "Ai da terra e do
mar, pois o diabo desceu até vós, cheio de grande cólera, sabendo
que pouco tempo lhe resta," exclamou a voz no céu. "Quando, pois,
o dragão se viu atirado para a terra, perseguiu a mulher que dera à
luz o filho varão."
A mulher significa nada diferente do que a Igreja de Deus, da
qual Jesus nasceu: quando o diabo já não podia danificar a Ele,
persegue Sua Igreja. Os discípulos de nosso Senhor, e a igreja, nos
primeiros três séculos, tinham experiência disto. Nas perseguições
sanguinárias em que centenas de milhares de cristãos pereceram
como mártires, Satanás fez o máximo que podia para levar a Igreja à
apostasia, ou para desarraigá-la totalmente, mas no seu sentido
integral, a declaração de que "o venceram por causa do sangue do
Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram, e, mes-
mo em face da morte, não amaram a própria vida" aplica-se aos
mártires.
Depois dos séculos de perseguições, vieram à Igreja séculos de
descanso e de influência mundana. Satanás experimentara em vão a
força. Mediante o favor do mundo, talvez tivesse sucesso melhor. Na
Igreja, conformada ao mundo, tudo ficou sendo cada vez mais
escuro, até que na Idade Média a apostasia romana chegou ao seu
clímax. Mesmo assim, durante todas estas eras, havia não poucos
que, no meio da miséria espiritual que os cercava, combatiam o bom
combate da fé, e, pela piedade das suas vidas e do seu testemunho
ao Senhor, foi estabelecida muitas vezes a declaração: "Eles, pois, o
venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra
do testemunho que deram, e, mesmo em face da morte, não
amaram a própria vida."
Este não era o menor poder secreto mediante o qual, através
da bendita Reforma, a autoridade poderosa que Satanás ganhara na
Igreja foi derrubada. "Eles, pois, o venceram por causa do sangue do
Cordeiro. Foi a descoberta, e a experiência, e a pregação da verdade
gloriosa de que somos "justificados gratuitamente, por sua graça,
mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs,
no seu sangue, como propiciação, mediante a fé," que deu aos
Reformadores um poder tão maravilhoso, e uma vitória tão gloriosa.
Desde os dias da Reforma ainda fica aparente que, à medida
em que se gloria no sangue do Cordeiro, a Igreja é constantemente
inspirada por uma vida nova a obter a vitória sobre a falta de vida ou
o erro. Sim, mesmo em meio aos pagãos mais selvagens, onde o
trono de Satanás tem ficado imperturbável durante milhares de
anos, esta ainda é a arma mediante a qual seu poder deve ser
destruído. A pregação do "sangue da cruz" como sendo a
RECONCILIAÇÃO para o pecado do mundo, e o fundamento para o
amor gratuito e perdoador de Deus, é o poder mediante o qual o
coração mais escurecido é aberto e amolecido, e, além de ser uma
habitação de Satanás, é transformado em templo do Altíssimo.
Aquilo que vale para a Igreja, está disponível para cada cristão.
No "sangue do Cordeiro," ele sempre tem vitória. É quando a alma
está convicta do poder que o sangue tem com Deus, no céu, para
levar a efeito uma perfeita RECONCILIAÇÃO, para apagar o pecado;
e para despojar o diabo da ia autoridade sobre nós completamente e
para sempre; e para operar em nosso coração uma plena certeza do
favor de Deus; e para destruir o poder do pecado é quando a alma
vive no poder do sangue, que as tentações de Satanás cessam de
engodar.
Onde o sangue santo do Cordeiro é aspergido, ali habita Deus,
e Satanás é afugentado. No céu, e na terra, e em nossos corações,
aquela palavra, como a proclamação de uma VITÓRIA PROGRESSIVA
e válida: "Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro.'

III. NÓS TAMBÉM TEMOS PARTICIPAÇÃO NESTA VITÓRIA,


SE FORMOS CONTADOS ENTRE AQUELES QUE FORAM
PURIFICADOS "NO SANGUE DO CORDEIRO".
Para desfrutar plenamente disto, devemos Prestar atenção aos
seguintes fatos:

(a.) Não pode haver Vitória sem Conflitos

Devemos reconhecer que habitamos em território inimigo.


Aquilo que foi revelado ao apóstolo, na sua visão celestial, deve ser
aplicável à nossa vida diária. Satanás foi lançado para a terra, e tem
grande ira porque seu tempo está curto. Já não pode atingir a Jesus
glorificado, mas, sim, procura alcançá-Lo atacando o Seu povo.
Devemos viver sempre com a consciência santa de que estamos
sendo vigiados, a cada momento, por um inimigo de poder e astúcia
inimagináveis; que é incansável no seu esforço para nos trazer
inteira ou até mesmo parcialmente - por pouco que seja — debaixo
da sua autoridade. Ele é literalmente "o príncipe deste mundo". Tudo
que há no mundo está disposto a servir a ele, e sabe como fazer uso
disto nas suas tentativas para levar a Igreja a ser infiel ao Senhor
dela; e para inspirá-la com o seu espírito, o espírito do mundo.
Faz uso, não somente de tentações para aquilo, que é
comumente considerado como pecado, mas, sim, sabe como entrar
em nossas ocupações e negócios terrestres, na procura do nosso
pão de todos os dias e do nosso dinheiro necessário; na nossa po-
lítica; em nossas combinações comerciais; na nossa literatura e
ciência; no nosso conhecimento; e em todas as coisas, e, assim,
fazer com que tudo quanto é lícito em si mesmo, seja usado como
instrumento, para promover seus logros diabólicos.
O crente que deseja compartilhar da vitória sobre Satanás "por
causa do sangue do Cordeiro" deve ser um lutador. Deve esforçar-se
para entender r
o caráter do seu inimigo. Deve permitir que seja ensinado pelo
Espírito, através da Palavra, sobre as artimanhas secretas de
Satanás, que são chamadas nas Escrituras "as profundezas de
Satanás," mediante as quais tão freqüentemente cega e engana aos
homens. Deve saber que esta luta não é contra carne e sangue,
mas, sim, "contra os principados e potestades, contra os
dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do
mal, nas regiões celestes" (Ef 6:12). Deve dedicar-se, de toda
maneira, e custe o que custar, a continuar a luta até à morte.
Somente então é que poderá participar do cântico da vitória: "Eles,
pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da
palavra do testemunho que deram, e, mesmo em face da morte, não
amaram a própria vida."

(b.) A Vitória é pela Fé

"Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé. Quem é o que


vence o mundo senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus?" (1
João 5:4 e 5). Disse Jesus: "No mundo passais por aflições; mas
tende bom ânimo, eu venci o mundo." Satanás é um inimigo já
conquistado. Ele não tem nada, absolutamente nada, por direito,
para dizer a quem pertence o Senhor Jesus. Pela descrença, ou por
minha ignorância do fato de que tenho uma participação na vitória
de Jesus, ou por abrir mão da minha segurança deste fato, posso
voltar a dar a Satanás uma autoridade sobre mim que, doutra forma,
não possui. Mas quando eu sei, por uma fé viva, que estou unido
com o Senhor Jesus e que o próprio Senhor habita em mim, e que
Ele mantém e continua em mim aquela vitória que Ele ganhou;
então Satanás não tem poder sobre mim. A vitória "por causa do
sangue do Cordeiro" é o poder da minha vida.
Somente esta fé pode inspirar coragem e alegria na luta. Ao
pensar no poder terrível do inimigo; na sua vigilância insone; na
maneira segundo a qual tomou posse de tudo na terra, mediante o
qual pode tentar-nos; poderia muito bem ser dito — conforme alguns
cristãos pensam — que a luta é severa demais; não é possível viver
sempre debaixo de semelhante tensão; aquela vida seria impossível.
Isto é perfeitamente verdadeiro, no caso de nós, em nossa fraqueza,
termos de enfrentar o inimigo, ou lograrmos a vitória pela nossa
própria força. Mas não somos conclamados a fazer assim. JESUS É O
VENCEDOR, de modo que apenas precisamos ter nossa alma cheia
de visão celestial de Satanás sendo expulso do céu por Jesus; cheia
de fé no sangue pelo qual o próprio Jesus venceu, e da fé de que Ele
mesmo está conosco, para manter o poder e a vitória do Seu
sangue: então, nós também "somos mais que vencedores, por meio
daquele que nos amou."

(c.) Esta Vitória da Fé está em Comunhão com o Sangue do


Cordeiro.

A fé não é meramente um pensamento do qual tomo posse,


uma convicção que me possui — é uma vida. A fé traz a alma para o
contato direto com Deus, e com as coisas invisíveis do céu,_mas,
acima de tudo, com o sangue de Jesus. NÃO É POSSÍVEL CRER NA
VITÓRIA SOBRE SATANÁS MEDIANTE O SANGUE, SEM EU MESMO
ESTAR INTEIRAMENTE SUBMETIDO AO PODER DO SANGUE.
A crença no poder do sangue desperta em mim um desejo de
ter uma experiência do seu poder em mim mesmo; cada experiência
do seu poder torna a crença na vitória mais gloriosa.
Procure entrar mais profundamente na perfeita
RECONCILIAÇÃO COM DEUS que é sua. Viva, constantemente,
exercendo fé na segurança de que "o sangue purifica de todo o
pecado"; entregue-se para ser santificado e aproximado de Deus
pelo sangue; que este seja seu alimento e poder vivificantes. Você
terá, assim, uma experiência ininterrupta sobre Satanás e suas
tentações. Aquele que, como sacerdote consagrado, anda com Deus,
dominará como um rei que conquistou a Satanás.
Crentes, nosso Senhor Jesus, pelo Seu sangue, nos fez não
somente sacerdotes como também reis ao nosso Deus, a fim de que
possamos aproximar--nos de Deus, não somente em pureza e
ministério sacerdotais, mas a fim de que, com poder real, possamos
reinar para Deus. Um espírito de realeza deve inspirar-nos; uma
coragem real para reinar sobre nossos inimigos. O sangue do
Cordeiro deve ser cada vez mais um sinal e um selo, não somente
da RECONCILIAÇÃO para toda a culpa, como também da vitória
sobre todo o poder do pecado.
A Ressurreição e a Ascensão de Jesus, e a expulsão de Satanás,
foram resultado do derramamento do Seu sangue. Em você,
também, a aspersão do sangue abrirá o caminho para o pleno gozo
da Ressurreição com Jesus, e de estar assentado com Ele nos
lugares celestias.
Mais uma vez, portanto, eu o conclamo a abrir inteiramente
seu ser à entrada do poder do sangue de Jesus. Sua vida se tornará
uma observância contínua da Ressurreição e Ascensão de nosso
Senhor, e '"na vistoria constante sobre todos os poderes do inferno.
Seu coração, também, constantemente se unirá com o cântico do
céu: "Agora veio a salvação, o poder, o reino de nosso Deus e a
autoridade do seu Cristo, pois foi expulso o acusador de nossos
irmãos... Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro"
(Ap 12:10, 11).
Capítulo X

GOZO CELESTIAL PELO SANGUE

"Depois destas coisas vi, e eis grande multidão que ninguém


podia enumerar... em pé diante do trono e diante do Cordeiro... e
clamavam em grande voz, dizendo: "Ao nosso Deus que se assenta
no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação. "...São estes os que
vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras, e as alvejaram
no sangue do Cordeiro" - Ap 7:9-14.

Estas palavras ocorrem na bem conhecida visão da grande


multidão na glória celeste, que ninguém podia enumerar.
Em espírito, o Apóstolo os viu em pé diante do trono de Deus, e
do Cordeiro, vestidos de longas vestes brancas, e com palmas nas
mãos; e clamavam em grande voz: "Ao nosso Deus que se assenta
no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação." Todos os anjos
responderam a este cântico ao prostrar-se sobre os seus rostos
diante do trono para adorar a Deus, e para oferecer louvor e glória
eternos a Ele.
Depois, um dos Anciãos, indicando a grande multidão, e as
vestiduras que a distinguiram, fez a João a seguinte pergunta:
"Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde
vieram?" João respondeu: "Meu Senhor, tu o sabes." Então o Ancião
disse: "São estes os que vêm da grande tribulação lavaram suas
vestiduras, e as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que se
acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu
santuário."
Esta explicação, dada por um dos Anciãos que rodeavam o
trono, concernente ao estado dos redimidos na sua glória celestial, é
de grande valor.
Revela-nos o fato de que não somente neste mundo de pecado
e lutas o sangue de Jesus é a única esperança do pecador, mas
também que no céu, quando todo inimigo tiver sido subjugado,
aquele sangue precioso será reconhecido para sempre como sendo o
fundamento da nossa salvação. E ficamos sabendo que o sangue
deve exercer seu poder com Deus no céu, não somente enquanto
ainda é mister tratar do pecado aqui embaixo, mas, sim, durante
toda a eternidade, cada um dos redimidos, para o louvor e glória do
sangue, terá o sinal de como o sangue valeu por ele, e de que ele
deve inteiramente a este sangue a sua salvação.
Se tivermos clara compreensão disto, entenderemos melhor
qual a conexão verdadeira e vital existente entre "a aspersão do
sangue" e as alegrias do céu; e que uma verdadeira conexão íntima
com o sangue na terra, capacitará o crente, enquanto ainda está na
terra, compartilhar da alegria e da glória do céu.
A ALEGRIA NO CÉU PELO SANGUE, é porque o sangue:

I. OUTORGA O DIREITO A UM LUGAR NO CÉU,


II. TORNA-NOS DIGNOS DOS PRAZERES DO CÉU;
III. FORNECE CONTEÚDO PARA O CÂNTICO DO CÉU.

I. É O SANGUE QUE NOS OUTORGA O DIREITO A UM


LUGAR DO CÉU.
Fica claro que este é o pensamento principal do texto. Na
pergunta: "Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e
donde vieram?", o Ancião deseja despertar a atenção e a inquirição
quanto à identidade real destas pessoas favorecidas, que assim
ficam de pé diante do trono, e diante do Cordeiro, com palmas nas
mãos. E, enquanto ele mesmo dá a resposta, esperamos que ele
certamente mencionará o que pode ser considerada a coisa mais
notável na sua aparência. À pergunta: "quem são estes?", responde
que lavaram suas longas vestiduras, e as alvejaram no sangue do
Cordeiro.
Aquela é a única coisa que, como marca distintiva deles,
chama a atenção. Somente isto lhes dá o direito ao lugar que
ocupam na glória. O fato fica claramente evidente, se notarmos as
palavras que se seguem imediatamente após: "razão por que se
acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu
santuário; e aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o
seu tabernáculo." "Razão por que" — é por causa daquele sangue
que estão diante do trono. Devem ao sangue do Cordeiro o fato de
ocupar aquele lugar tão alto na glória. O sangue dá o direito ao céu.
DIREITO ao céu! Pode-se falar de tal coisa em conexão com um
pecador condenado? Não seria melhor gloriar-se na misericórdia de
Deus somente, sendo que Ele, pela livre graça, admite um pecador
ao céu, do que falar de um DIREITO ao céu? Não! Não seria melhor
porque não compreenderíamos o valor do sangue, nem por que
haveria de ser derramado. Além disto, teríamos conceitos falsos
tanto do nosso pecado quanto da graça de Deus, e per-
maneceríamos em estado impróprio para desfrutar da Redenção
gloriosa que o Salvador levou a efeito por nós.
Já falamos da "expulsão de Satanás do céu", e mostramos, por
meio deste incidente, que um Deus Santo sempre age de acordo
com a lei. Assim como o diabo não foi "expulso" senão de acordo
com a lei e o direito, assim também o pecador não poder ser
admitido de qualquer outra maneira. O Profeta disse: "Sião será
redimida pelo direito, e os que se arrependem, pela justiça" (Is
1:27). Paulo nos diz que a graça reina PELA JUSTIÇA (Rm 5:21). Este
foi o propósito pelo qual Deus enviou Seu Filho ao mundo. Ao invés
de recear de falar de um DIREITO de entrar no céu diminua o valor
da graça, será dito que a mais alta glória da graça consiste em
outorgar aquele DIREITO.
A falta deste entendimento às vezes é achada na Igreja, onde
menos deveria ser esperada. Recentemente perguntei a um homem
que falava da esperança que tinha de ir para o céu quando morrer,
em que base fundamentava sua esperança. Não era de modo algum
um homem descuidado, nem confiava na sua própria justiça, mas,
mesmo assim, respondeu: "Bem, penso que me esforço o melhor
que posso para buscar ao Senhor, e fazer a Sua vontade". Quando
eu lhe disse que este não era fundamento sobre o qual pudesse ficar
em pé diante do tribunal do Deus Santo, apelou à misericórdia de
Deus. Quando eu lhe disse, outra vez, que precisava de mais do que
a misericórdia, parecia-lhe algo novo ouvir que era a justiça de Deus
somente que poderia lhe outorgar uma entrada ao céu. Receia-se
que existam muitos que ouviram pregação da "Justificação pela fé",
mas que não têm idéia de que não podem participar da bem-
aventurança eterna senão forem declarados legalmente justos.
Inteiramente diferente era o testemunho de um certo rapaz
que não tinha o pleno uso das suas faculdades mentais, mas a cujo
coração o Espírito de Deus iluminara para entender o significado da
crucificação de Jesus.
Quando estava no leito da morte, perguntaram-lhe acerca da
sua esperança, e ele deu a entender que havia um livro grande
numa das páginas do qual seus pecados, em número muito grande,
tinham sido escritos. Depois, com o dedo da sua mão direita,
apontou para a palma da sua mão esquerda, indicando a impressão
do prego ali. Tomando, por assim dizer, algo da mão atravessada —
estava pensando no sangue que a marcava — mostrou como tudo
quanto estava escrito naquela página agora estava apagado. O
sangue do Cordeiro era o fundamento da sua esperança.
O sangue do Cordeiro dá ao pecador crente o DIREITO ao céu.

"Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!" ao


derramar o Seu sangue, Ele realmente suportou o castigo do pecado.
Entregou-Se à morte realmente em nosso lugar. Deu Sua vida como
resgate por muitos. Agora que o castigo foi suportado, e o sangue de
nosso Senhor realmente foi derramado como resgate, e aparece
diante do trono de Deus no céu, agora a justiça de Deus declara que,
visto que o Fiador do pecador cumprira todas as exigências da lei, no
que diz respeito ao castigo bem como à obediência, Deus declara
justo o pecador que crê em Cristo. A fé é simplesmente o reco-
nhecimento de que Cristo realmente fez tudo por mim; que a
declaração que Deus faz acerca da justiça é simplesmente Sua
declaração de que, conforme a lei e o direito, tenho garantida a
salvação. A graça de Deus outorga-me o DIREITO ao céu. O sangue
do Cordeiro é a evidência deste DIREITO. Se eu fui purificado por
aquele sangue, posso encontrar-me com a morte em plena
confiança, tenho DIREITO ao céu.
Você deseja e espera chegar ao céu. Escute, pois, a resposta
dada à pergunta: Quem são estes que acharão um lugar diante do
trono de Deus "Lavaram suas vestiduras, e as alvejaram no sangue
do Cordeiro". Aquela lavagem ocorre, não no céu, e não na morte,
mas, sim, aqui, durante a nossa vida na terra. Não se enganem com
uma esperança ao céu, se não foram purificados, realmente purifi-
cados, por aquele sangue precioso. Não ousem encontrar-se com a
morte sem saber que o próprio Jesus os purificou pelo Seu sangue.

II. O SANGUE TAMBÉM OUTORGA A DIGNIDADE PARA O


CÉU.
Pouca utilidade existe quando os homens têm direito a alguma
coisa se não estão em condições de desfrutar dela. Por mais
significativa que seja a oferta, será de pouca expressividade se a
disposição interior necessária para gozar dela inexistir. Outorgar o
direito ao céu àqueles que não estão preparados para ele, não lhes
dará prazer algum, mas, sim, mostrará conflito com a perfeição de
todas as obras de Deus.
O poder do sangue de Jesus não somente abre a porta do céu
para o pecador, como também opera nele de modo tão divino que,
quando ele entrar o céu, parecerá que a bem-aventurança do céu e
ele foram realmente adaptados um para o outro.
Em que consiste a bem-aventurança do céu, e uai é a
disposição apropriada para ele, são coisas que umas palavras
ligadas com nosso texto nos contam. "Razão por que se acham
diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuá-
rio; e aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu
tabernáculo. Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá
sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra
no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água
da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima".
A proximidade com Deus e a comunhão com Ele e com o
Cordeiro, constituem-se na bem aventurança do céu. Estar diante do
trono de Deus, e ver o Seu semblante; servi-Lo de dia e de noite no
Seu templo, ser abrigado por Aquele que Se assenta no trono; ser
alimentado e guiado pelo Cordeiro; todas estas expressões indicam
quão pouco a bem-aventurança do céu depende de qualquer outra
coisa senão de DEUS E DO CORDEIRO. Vê-los, ter comunhão com
eles, ser reconhecido, amado, e cuidado por eles, é esta a bem-
aventurança.
Qual a preparação necessária para ter semelhante comunhão
com Deus e o Cordeiro? Consiste em duas coisas:
a. A concordância íntima na mente e na vontade, e
b. O deleite na Sua proximidade e comunhão.
Ambas são compradas pelo sangue.

(a.) Não pode haver idéia da dignidade para o céu à parte da


união com a vontade de Deus. Como dois podem habitar juntos a
não ser que estejam de acordo entre si? E porque Deus é Santo, o
pecador deve ser purificado do seu pecado, e santificado, senão,
permanece totalmente indigno para aquilo que se constitui na
felicidade do céu. "Sem a santidade, homem algum poderá ver o
Senhor". A totalidade da natureza do homem deve ser renovada, de
modo que possa pensar, e desejar, e determinar, e fazer, aquilo que
agrada Deus, não como a questão de mera obediência, o guardar
um mandamento, mas, sim de prazer natural e porque não pode
fazer ou desejar doutra forma. A santidade deve tornar-se a sua
natureza.
Não é exatamente isto que o sangue do Cordeiro faz, conforme
temos visto? "O sangue de Jesus Cristo seu Filho nos purifica de todo
o pecado". Onde a reconciliação e o perdão são aplicados pelo
Espírito Santo, e são retidos por sua fé viva, ali o sangue opera com
um poder divino, matando concupiscências e desejos pecaminosos;
o sangue exerce constantemente um poder maravilhoso para
purificar. No sangue, opera o poder da morte de Jesus; morremos
com Ele para com o pecado; mediante uma comunhão confiante no
sangue, o poder da morte de Jesus abre caminho para dentro dos
recessos mais íntimos da nossa vida oculta. O sangue quebra o
poder do pecado, e purifica de todo o pecado.
O sangue santifica também. Já vimos que a purificação é
apenas uma parte da salvação, a remoção do pecado. O sangue faz
mais do que isto; toma posse de nós para Deus, e internamente ou-
torga a mesmíssima disposição que havia em Jesus quando
derramou Seu sangue. Ao derramar aquele sangue, santificou-Se a
Si mesmo em nosso favor, a fim de que nós também fôssemos
santificados pela verdade. Enquanto nos deleitamos no sangue san-
to, e nos perdemos nele, o poder da entrega total à vontade de Deus
e à Sua glória; o poder para sacrificar tudo, para permanecer no
amor de Deus, que inspirava o Senhor Jesus, é eficaz em nós.
O sangue nos santifica quando rios esvaziamos e nos
entregamos a Deus, para que Ele possa tomar posse de nós e nos
encher dEle mesmo. Esta é a verdadeira santidade; ser possuído por
Deus e repleto dEle. É operada pelo sangue do Cordeiro, e assim
estamos preparados aqui na terra para nos encontrar com Deus no
céu, com alegria indizível.

(b.) Além de termos uma só vontade com Deus, dissemos que


a prontidão para o céu consistia no desejo e na capacidade para
desfrutar da comunhão com Deus. Nisto, também, o sangue outorga,
aqui, na terra, a preparação verdadeira para o céu. Já vimos como o
sangue nos aproxima de Deus; levando para uma abordagem
sacerdotal, sim, temos liberdade, pelo sangue, para entrar no "Santo
dos Santos" na presença de Deus, e fazer ali a nossa habitação. Já
vimos que Deus atribui ao sangue um valor tão incomensurável, que
onde o sangue é aspergido, ali está o Seu trono da graça. Quando
um coração se coloca sob a plena operação do sangue, ali habita
Deus, e ali a Sua salvação é experimentada. O SANGUE TORNA
POSSÍVEL A PRÁTICA DA COMUNHÃO COM DEUS, e não menos com o
Cordeiro — com o próprio Senhor Jesus. Esquecemo-nos da Sua
palavra: "Quem comer a minha carne e beber o meu sangue, perma-
nece em mim e eu nele?" A bênção plena do poder do sangue, no
seu efeito mais sublime, é A PLENA UNIÃO DE PERMANECER COM
JESUS. É apenas a nossa descrença que separa a obra da pessoa; e o
sangue do Senhor Jesus. É ELE, ELE MESMO, que purifica pelo Seu
sangue, e nos traz perto, e nos leva beber. É somente pelo sangue
que estamos preparados para a plena comunhão com Jesus no céu,
assim como com o Pai.
Vocês que são redimidos, aqui podem ver o que é necessário
para moldá-los para o céu; para fazer vocês, até mesmo aqui, ter
mentalidade celestial! Certifiquem-se que o sangue, que sempre tem
um lugar no trono da graça supra, manifesta seu poder, sempre,
também em vosso coração; e sua vida ficará sendo uma comunhão
ininterrupta com Deus e com o Cordeiro: o antegozo da vida na gló-
ria eterna. Que este pensamento entre profundamente na sua alma:
o sangue outorga já no coração, aqui na terra, a bem-aventurança
do céu. O sangue precioso faz com que a vida na terra e a vida no
céu sejam uma só.

III. O SANGUE FORNECE CONTEÚDO AO CÂNTICO DO CÉU


O que dissemos até agora foi tirado daquilo que o Ancião
declarou acerca dos redimidos. Mas até que ponto esta experiência
e este testemunho são deles? Temos alguma coisa da própria boca
deles acerca disto? Sim, eles mesmos dão testemunho. No cântico
contido em nosso texto, foram ouvidos clamando em grande voz:
"Ao nosso Deus que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a
salvação." É como o Cordeiro que foi morto que o Senhor Jesus está
no meio do trono, como um Cordeiro cujo sangue fora derramado.
Como tal, Ele é o objeto da adoração dos redimidas.
Isto aparece ainda mais claramente no cântico novo que
cantam: '*Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque
foste morto e COM O TEU SANGUE compraste para Deus os que
procedem de toda tribo, língua, povo e nação, e para o nosso Deus
os constituíste reino e sacerdotes" (Ap 5:9 e 10).
Ou em palavras um pouco diferentes, usadas pelo Apóstolo no
começo do livro, onde ele, sob a impressão de tudo quanto vira e
ouvira no céu concernente ao lugar que o Cordeiro ocupava, à
primeira menção do nome do Senhor Jesus, exclamou: Àquele que
nos ama, e PELO SEU SANGUE NOS LIBERTOU DOS NOSSOS
PECADOS, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a
ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém." (Ap 1:5 e
6).
Sem cessar, o sangue do Cordeiro continua sendo o poder para
despertar os salvos para cantarem seu cântico de alegria e ações de
graças; porque na morte da Cruz o sacrifício ocorreu em que Ele deu
a Si mesmo por eles, e os ganhou para Si mesmo; porque, também,
o sangue é o selo eterno daquilo que Ele fez, e do amor que O levou
a fazê-lo, permanece sendo também a fonte inesgotável e
transbordante da bem-aventurança celestial.
A fim de que entendamos isto melhor, notemos a expressão:
"Àquele que nos ama, e PELO SEU SANGUE nos libertou dos nossos
pecados." Em todas as nossas considerações acerca de Jesus, até
agora não tivemos motivo para deliberadamente parar ali. E de
todas as coisas gloriosas que o sangue significa, esta é uma das
mais gloriosas: Seu sangue é o sinal, a medida, sim, a transmissão
do Seu amor. Cada aplicação do Seu sangue, cada vez que Ele leva a
alma a experimentar o seu poder, é um novo transbordar do Seu
amor maravilhoso. A plena experiência do poder do sangue na
eternidade será nada diferente do que a plena revelação de como Se
entregou por nós; e Se dá a nós, num amor eterno, infinito,
incompreensível — como o próprio Deus.
"Àquele que nos ama, e pelo seu sangue nos libertou dos
nossos pecados". Este amor realmente é incompreensível. O que
este amor não O comoveu a fazer? Deu-se a Si mesmo por nós; ficou
sendo pecado por nós; foi feito maldição por nós. Quem ousaria
empregar tal linguagem, e quem já teria ousado pensar tal coisa se
Deus não a tivesse revelado a nós pelo Seu Espírito? Que Ele
realmente Se entregou por nós, não porque Lhe foi imposto fazer
assim, mas, sim, pelo impulso de um amor que realmente ansiava
por nós, a fim de que fôssemos eternamente identificados com Ele.
Porque é uma maravilha tão divina, por isso a sentimos tão
pouco. Mas — bendito seja o Senhor! — está chegando o tempo em
que a sentiremos, quando, com compartilhar incessante e imediato
do amor na vida celestial, ficaremos repletos e satisfeitos com
aquele amor. Sim — louvado seja o Senhor! - até mesmo aqui na
terra há esperança de que, através de um conhecimento melhor do
sangue, e de uma confiança mais perfeita nele, o Espírito derramará
mais poderosamente "o amor de Deus em nossos corações". Nada
impede que nossos corações sejam repletos do amor do Cordeiro, e
nossas bocas com Seu louvor aqui na terra, pela fé, conforme é feito
no céu pela vista. Cada experiência do poder do sangue se tornará
cada vez mais uma experiência do amor de Jesus.
Tem-se dito que não é desejável enfatizar demasiadamente a
palavra "sangue", que soa grosseiro, e o pensamento expressado
por ela pode ser transmitido de uma maneira mais de acordo com
nosso hábito moderno de falar ou pensar.
Devo reconhecer que não compartilho deste ponto de vista.
Recebo aquela palavra como sendo proveniente, não somente de
João, como do próprio Senhor. Estou profundamente convicto de que
a palavra escolhida pelo Espírito de Deus, e por Ele tornada viva e
cheia do poder daquela vida eterna de onde o cântico que a contém
vem a nós, leva em si mesma um poder de bênção que ultrapassa
nosso entendimento. Transformar a expressão para nosso modo de
pensar tem toda a imperfeição de uma tradução humana. Aquele
que deseja saber e experimentar "o que o Espírito diz às igrejas"
aceitará a palavra pela fé, como sendo proveniente do céu, como a
palavra em que a alegria e o poder da vida eterna estão abrangidos
de maneira muito específica. Aquelas expressões: "TEU SANGUE", e
"O SANGUE DO CORDEIRO" tornarão "O SANTO DOS SANTOS", o
lugar da glória de Deus, ressoar eternamente com as notas alegres
do "Cântico Novo".
A alegria celestial, pelo SANGUE DO CORDEIRO: esta será a
porção de todos, aqui na terra, que com coração singelo entregam-
se ao seu poder, e de todos acima,no céu, que se tornaram dignos
de tomar seu lugar entre a multidão em redor do trono.
Meus companheiros na Redenção, já ficamos sabendo o que
dizem aqueles que estão no céu, e como cantam acerca do sangue!
Oremos sinceramente para que estas novas possam ter sobre nós o
efeito que nosso Senhor pretendeu. Já vimos que, para viver uma
vida celestial verdadeira, é necessário permanecer no pleno poder
do sangue. O sangue outorga o direito de entrar no céu.
Como o sangue da RECONCILIAÇÃO, opera a alma a plena
consciência viva que pertence àqueles que estão em casa, no céu.
Traz-nos realmente para dentro "O SANTO DOS SANTOS", perto de
Deus. Torna-nos aptos para o céu.
Como o SANGUE PURIFICADOR, liberta da concupiscência e do
poder do pecado, e nos conserva na comunhão da luz e da vida do
Deus Santo. O sangue inspira o cântico de louvor do céu. Como o
sangue do Cordeiro "que nos amou e se entregou por nós" fala não
somente DAQUILO que Ele fez por nós, mas, sim, principalmente
DAQUELE que tudo fez. No sangue, temos a mais perfeita
transmissão dEle mesmo. Aquele que, pela fé se entrega para
experimentar, plenamente, aquilo que o sangue é capaz de fazer,
logo achará a entrada para uma vida de cantar louvores com alegria,
que somente o próprio céu pode ultrapassar.
Meus companheiros na Redenção, esta vida é para vocês e
para mim! Que o SANGUE SEJA TODA A NOSSA GLÓRIA, não somente
na Cruz, com suas maravilhas que inspiram reverente temor, mas
também no Trono. Mergulhemo-nos profundamente, e cada vez mais
profundamente, na fonte viva do sangue do Cordeiro. Abramos de
par em par os nossos corações, cada vez mais, para sua operação.
Creiamos firmemente, e cada vez mais firmemente, na PURIFICAÇÃO
incessante pela qual o próprio Grande Sacerdote Eterno aplicará
aquele sangue a nós. Oremos com o desejo ardente, e cada vez mais
ardente, para que nada, nada mesmo, possa existir em nosso
coração que não experimente o poder do sangue. Unamo-nos
alegremente, e cada vez mais alegremente, com o cântico da
grande multidão, que não conhece nada mais glorioso do que isto:
"Com o teu sangue nos compraste para Deus".
Que a nossa vida na terra venha a ser o que deve ser - Ó
NOSSO AMADO SENHOR! - um cântico incessante para "Aquele que
nos ama, e pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e nos
constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai".
"A ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos". Amém.

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