KANT, À Paz Perpétua - Resenha
KANT, À Paz Perpétua - Resenha
KANT, À Paz Perpétua - Resenha
O Autor:
Immanuel Kant nasceu em 1724 em Königsberg na Prússia, cidade na qual ele
também viria a falecer. Realizou vários trabalhos em várias ciências, destacando-se sua
atuação na matemática, física, nesse campo ele propôs uma teoria sobre a formação
do sistema solar, e filosofia, campo ao qual pertence a obra analisada nessa
resenha.Além de cientista brilhante, e muito claramente por casa disso, foi professor
universitário. É, por muitos, considerado a encarnação da Razão Pura.
A Obra:
À Paz Perpétua é um pequeno tratado dividido em duas seções, dois
suplementos e um apêndice.
A segunda seção é introduzida por uma passagem na qual o autor fala sobre a
instituição do estado de paz. Logo depois vem o primeiro artigo definitivo para a Paz
Perpétua, o qual estabelece que a constituição civil do Estado deve ser de natureza
republicana pois só assim ela emanaria de uma fonte legitima e pura de poder. O
segundo artigo definitivo traz o ideal de Kant sobre a formação de uma liga federativa
chamada de Liga dos Povos, que acabaria por gerar uma Liga de Paz que, por sua vez,
habilitaria a Paz Perpétua. O terceiro e último artigo trata da possessão que todos os
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homens tem sobre o planeta, e, em conseqüência disso, do direito de hospitalidade do
qual todos os homens gozam.
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Primeira seçã o, que contém os artigos preliminares para a paz
perpétua entre os Estados.
1º Aqui é abordado que qualquer tratado de paz deve ser feito de modo
inteiro e verdadeiro. Para Kant, os tratados de paz não buscam resolver as causas das
guerras, não sendo válidos por esse motivo. No caso de existência de reservas mentais,
de quaisquer matérias, seria apenas uma suspensão temporária das hostilidades e não
a paz verdadeira, dado que tais reservas para uma futura guerra hão de vir à tona num
momento posterior, para enfim instalar novamente um estado de guerra. Portanto,
somente um tratado de paz pleno encerraria de vez quaisquer destas pretensões.
Traçando um paralelo com o mundo contemporâneo, pode-se observar que o tratado
que pôs fim à Primeira Guerra Mundial também colaborou, por meio das suas
conseqüências, para a eclosão da Segunda Grande Guerra, ainda mais devastadora do
que a Primeira.
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desaparecer completamente com o tempo. O autor ainda propõe que manter o
combatente sempre em prontidão é contrário ao “direito de humanidade”. A
formação de exércitos só seria pertinente se esses forem de caráter voluntário e
agirem apenas na defesa contra nações estrangeiras.
4º Aqui há a sugestão Kantiana de que não deve ser feita nenhuma dívida
pública em relação a conflitos exteriores do Estado; o Estado não deve se endividar a
não ser a despeito de investimentos necessários à sua manutenção interna; deve-se
evitar o sistema de crédito pois ele acentua a beligerância por estar, a qualquer
momento, suscetível a cobranças que sobrepõem os tesouros dos Estados os levando a
prejuízos e falência. Ademais, esse artigo condena a dívida feita com o objetivo de
iniciar ou manter uma guerra, cujo pagamento será efetuado com recursos públicos.
Somada à inclinação inata do ser humano à guerra, o endividamento do Estado seria
um obstáculo à Paz Perpétua.
6º O sexto e último artigo desta seção determina que mesmo a guerra deve ser
feita com meios honestos e suficientes, para que os excessos bélicos não inabilitem a
paz futura. Ou seja, nenhum Estado em guerra com um outro deve permitir
hostilidades que tenham de tornar impossível a confiança recíproca na paz futura;
como tais são: emprego de assassinos, envenenadores, quebra da capitulação,
instigação à traição no Estado com que se guerreia, etc. Uma guerra que não obedeça
a essa determinação deve ser veementemente reprimida; ela extrapolaria os limites
dos conflitos, infiltrando-se no estado de paz e minando-o completamente.
Entretanto, ma característica marcante das guerras e conflitos armados da atualidade
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continua sendo a utilização de estratégias que visam desmoralizar, desacreditar e
destruir o adversário e o seu Estado. Essas estratégias não são usadas apenas durante
o período de lutas, são também manipuladas para justificar e obter apoio de Estados e
populações, de obter aval para invasões, assassinatos em massa, perseguições,
detenções e torturas, entre tantas outras atrocidades que um ser humano pode
cometer contra outro.
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Segunda seçã o, que contém os artigos definitivos para a paz
perpétua entre os Estados.
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Kant ainda cita outras formas: Autocracia e Aristocracia. Kant ainda afirma que
“toda forma de governo que não é representativa é propriamente uma não-forma,
porque o legislador não pode ser em uma mesma pessoa ao mesmo tempo executor
da sua vontade”. Desse modo, mesmo que imperfeitas, essas duas maneiras de
constituir-se um Estado, ainda comportam o instituto da representação, que possibilita
o republicanismo. No caso da democracia despótica, isto seria impossível “por que
nela todos querem ser senhor”. A justificativa de tal argumento seria a de que quanto
menor o número de dirigentes maior a possibilidade de republicanismo.
Por isso, para sua segurança, os Estados devem compactuar sobre uma
constituição civil semelhante para todos. Disto seria resultado uma “Liga de Povos”,
que não seria o mesmo que um Estado congregando povos, pois cada um tem e deve
conservar a sua individualidade. A liga de povos resultaria de um contrato mútuo entre
Estados livres, aliados por objetivos e compromissos comuns, ou em outras palavras,
com direitos e deveres recíprocos. Formada a liga de povos, haveria condições de se
criar a liga de paz que, gradualmente, congregaria todos os Estados, tornando possível
o desejo dos povos, individualmente e amparados por suas constituições republicanas,
de atingir um estado de paz perpétua, isto é, duradoura, porque assentada no
compromisso de direitos e deveres mútuos. Somente uma tal liga de nações poderia
assegurar a instituição do estado de paz, ou a paz perpétua, como Kant a denomina.
Kant acreditava que existe um princípio mau nas pessoas e, por isso, o estado de
natureza, aquele que independe de leis exteriores, é o da guerra4.
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Já que não existe um tribunal externo, os direitos das nações não podem ser
buscadas por via legal, é natural, portanto, a utilização da guerra pois nessa cada um é
juiz da sua própria causa. Entretanto, segundo o Direito Internacional, seria
condenável recorrer-se da guerra para garantir os direitos; ao contrário, devesse
buscar um Estado de Paz de imediato. Kant ainda diz que a única forma de assegurar
tal natureza pacífica em um Estado seria através de uma Liga de Paz, que se
distinguiria de um Tratado de Paz por pretender encerrar todas as guerras e não
somente uma.
As áreas inabitáveis, que ainda assim podem ser transpostas, permitindo que
os homens se aproximem uns dos outros, permitiriam seu uso fundado no direito de
“superfície, que compete ao gênero humano comunitariamente”. O direito de
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hospitalidade, contudo, abrange somente o contato amistoso, segundo Kant, aos que
procuram um intercâmbio com os nativos. Assim, pode haver um intercâmbio
generalizado que aproxime o gênero humano de uma consolidação constitucional
cosmopolita.
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Primeiro Suplemento
Da Garantia da Paz Perpétua
Assim como as guerras, todas outras ações humanas seriam frutos de impulsos.
Kant exemplifica com a formação dos Estados. Para ele não há apenas pressão
interna, gerando caos e desordem, mas também a externa, sendo necessária a
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construção de uma identidade nacional, de uma força que controle e estabilize a
situação adversa. Portanto, a formação de um Estado se faz necessária pois, com um
plano interno desordenado, é muito mais fácil ser devastado por forças externas. Ao
reconhecer a necessidade de formação dos Estados, o autor preconiza a constituição
republicana em relação ao direito dos homens, mas reconhece a dificuldade em
instituir e conservar o republicanismo, pois admite que os homens têm inclinações
egoístas e não seriam capazes de seguir tal constituição, o que traz de volta o tema
abordado no seu Primeiro Artigo Definitivo.
SEGUNDO SUPLEMENTO
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consideração os pensamentos dos filósofos representaria um enfraquecimento da
autoridade estatal.
Porém, Kant afirma que está nesses questionamentos a razão para tais
convocações serem dadas em conjuntura confidencial. O autor também afirma que o
Estado não deve dar preferência às opiniões dos filósofos em detrimento das
sentenças do jurisconsulto, mas somente levar em consideração o que foi dito por
eles. Para ele a função do jurisconsulto é aplicar leis existentes, não refletir sobre elas.
APÊNDICE
Nesta primeira divisão do apêndice, o autor introduz seu estudo fazendo uma
análise sobre a inter-relação entre os conceitos de moral e de política. A moral é
definida como um conjunto de leis que indicam um dever-ser, ou seja, a forma como
devemos agir, uma espécie de doutrina teórica do direito. A política, por sua vez, se
apresentaria como a doutrina jurídica aplicada que deve ser limitada pela moral. Kant
passa então a constatar que a moral, para os práticos, que a vêem como mera teoria,
serve para fundar a recusa destes à teoria da paz perpétua, já que a vontade individual
de todos os homens de querer viver sob um regime de liberdade não é suficiente se a
vontade de todos em conjunto não corresponde ao mesmo desejo e, para que esta
vontade coletiva se instaure, faz-se necessário o uso da força sob cuja coerção pode
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ser fundada posteriormente o direito público. Esse pensamento é resumido então com
uma frase, “Quem uma vez tem o poder nas mãos não deixará prescrever as leis pelo
povo.”
Ao dar continuidade ao seu tratado, para então discorrer sobre então, sobre as
formas de agir de cada um dentro dos diversos contextos políticos, Kant reflete sobre a
relação entre a política e a moral e estabelece os conceitos de político moral e de
moralista político. Tem como o primeiro aquele que toma os princípios de prudência
de estado de modo que estes possam coexistir com a moral. O segundo, é definido
como aquele que forja uma espécie de moral conveniente à vantagem de homem de
Estado. Dá especial atenção à forma de agir dos chamados políticos moralizantes,
nomeados por ele de estadistas astuciosos. Esse tipo de estadista seria crente de que
podem resolver o problema de uma coerção fundada conforme à lei somente segundo
princípios de liberdade, a partir do empirismo. Kant diz que eles o fariam utilizando-se
de máximas sofísticas como: Fac et excusa: sendo aquela onde se aproveita a ocasião
que se possui para usurpar arbitrariamente um determinado direito e justifica-se
somente após o fato, para que assim se evitem objeções que poderiam atrasar o feito;
Si fecisti nega: aquilo que foi cometido para levar o povo à desgraça ou à revolta, e que
foi provocado pelo governante, deve ser negado até o fim; Divide et impera: desunir os
chefes menores e separa-los do povo para, tomando partido deste último, governar
sozinho.
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Ademais, Kant descreve os problemas da prudência de Estado e da sabedoria
de Estado e conclui que a solução para o primeiro está em encontrar a sabedoria
necessária dos mecanismos de funcionamentos naturais para que isto possa ser usado
a favor do fim pretendido, afirmando que, mesmo assim, quaisquer que sejam estes
mecanismos, serão sempre incertos quando este fim for a paz perpétua; já a solução
do segundo problema é uma consequência direta da solução do primeiro e se imporá
de forma autônoma. É notável, dentro da obra Kantiana uma defesa constante dos
ideais de justiça para alcançar uma dominação da razão dentro das constituições
estatais, a qual irá se sobrepor ao difícil caminho da violência no objetivo maior dos
estados, que, para ele, seria a Paz Perpétua.
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a outros estados, nunca, porém, para realizar novas aquisições. As próprias máximas
do direito internacional segundo Kant, são incompatíveis com o princípio da
publicidade. Por fim, resolve calar-se com relação ao direito cosmopolita por
considerar este como muito semelhante ao direito internacional.
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momento em que Kant admite a congregaçã o e a cooperaçã o entre humanos para garantir
um bem maior, ou a "volontée generale", defendida por Jean-Jacques como "aquela que dá
voz aos interesses que cada pessoa tem em comum com todas as demais, de modo que, ao
ser atendido um interesse seu, também estarã o sendo atendidos os interesses de todas as
pessoas."; “uma forma de associaçã o que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada
associado com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece
contudo a si mesmo, permanecendo assim tã o livre quanto antes” (Pinto, M. M. Cadernos
de É tica e Filosofia Política 7, 2/2005, p. 83-97.)
³ John Stuart Mill, no século XIX, reiterará essa necessidade da participaçã o efetiva dos
cidadã os nas decisõ es políticas, com sua defesa da chamada Democracia
Desenvolvimentista, em Considerações sobre o governo representativo (1981: 19), quando
ele diz que "o mais importante mérito que pode possuir uma forma de governo é o de
promover a virtude e a inteligência do pró prio povo". Inclusive, para ele, um dos critérios
primordiais de avaliaçã o de um governo é a medida em que ele tende a aumentar ou
diminuir "a soma de boas qualidades dos governados, coletiva e individualmente".
4- Mais uma vez nota-se um diá logo com o pensador clá ssico Thomas Hobbes: O conflito
iminente entre os indivíduos perpassa toda a obra desse autor, fortalecendo a tese de que
o Estado de Natureza, o homem nã o subjulgado ao poder coercitivo de um Estado
organizado, reflete a real essência humana na sua predisposiçã o ao conflito. Kant também
afirma em sua obra essa potencialidade e, de forma similar, (ainda que nã o defenda, em
momento algum, o "Leviatã " hobbesiano em forma de monarca absoluto) admite que se
faz necessá ria a negociaçã o da paz entre os homens a partir de um contrato; esse
dispoditivo de fuga ao cerne destrutivo da humanidade embasa-se na rapacidade de
racionalizaçã o humana.
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Referências Bibliográ ficas Adicionais
CARR, Edward H. The Twenty Year´s Crisis. New York, NY, HapperCollins 2001. 244p
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