Olavo de Carvalho 12 Camadas Da Personalidade Humana
Olavo de Carvalho 12 Camadas Da Personalidade Humana
Olavo de Carvalho 12 Camadas Da Personalidade Humana
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Introdução
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Até a Camada 8, todas estão presentes em todo indivíduo adulto normal, segundo Gaston
Berger:
CAMADA 1
Caráter Camada Integrativa. Astrocaracterologia.
CAMADA 2
Hereditariedade, constituição, temperamento, estrutura pulsional
CAMADA 3
Cognição, percepção
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CAMADA 4
História pulsional e afetiva Camada Divisiva.
que nunca se colocam em teste, pois fogem aos desafios. São os tímidos, os dependentes, que
não querem vencer, que só querem ser amados. Na verdade, esses indivíduos não precisam de
amor, como imaginam, e sim de dificuldades para que possam começar a ter respeito por si
mesmos.
Na história afetiva dos indivíduos, ocorre sistematicamente um descompasso entre a
necessidade real e a necessidade alegada, o que é conseqüência de uma discrepância entre as
camadas dois e três, ou seja, entre os impulsos e a disponibilidade de meios de comunicação.
Se acontece de um sujeito ter presente uma necessidade não expressa e não atendida, isto
pode resultar, ao longo do tempo, que tal necessidade venha a ser substituída por outra, esta,
sim, conhecida. Isto gera um equívoco que é regra geral na vida de todos os seres humanos,
que chegam na maturidade com inúmeras necessidades esquecidas. Estas podem ser
satisfeitas de forma simbólica, o que evidentemente não funciona, pois seria o mesmo que
saciar a fome de alguém, mas deixá-lo com sede.
A solicitação afetiva é tanto maior quanto menos o sujeito tenha ingressado na camada
seguinte. Ele acredita que necessita de muito amor, de muito afeto, e não age em seu próprio
benefício a não ser com o apoio alheio.
Nesta camada, o indivíduo se coloca como alguém muito especial, que tem direito a
praticamente tudo. Se a demanda de afeto continua pela vida afora isto significa que a camada
não foi resolvida. Se o problema se localiza na esfera da carência afetiva infantil, há
necessidade de psicoterapia. Sofrimento de camada 4 não se resolve sem ajuda especializada,
pois é preciso fazer o indivíduo voltar a sentir emoções infantis que não são encaixáveis no
quadro da existência adulta. Dentro de uma psicoterapia se pode revelar necessidades infantis
que serão trabalhadas de alguma maneira. As exigências de camada 4 não podem ser
atendidas no curso normal da vida adulta, requerendo portanto a criação de uma situação
artificial que isola o indivíduo da realidade e, de certo modo, o devolve ao estágio infantil. Se
o sujeito não passa para a camada seguinte (5) antes da idade madura vai necessitar de
psicoterapia.
Carência afetiva só é considerada normal em um meio doente. Segundo o INPS, 10% da
população brasileira são doentes mentais. Porém, o normal não pode ser determinado por
estatística, mas tem que estar de acordo com as exigências do contato real individual. É a
resposta a uma necessidade que marca a normalidade e é esta necessidade que impõe um
padrão de julgamento. Por exemplo, é normal que um animal possa fazer tudo aquilo que seja
necessário à sua sobrevivência, pois ele é dotado pela natureza de meios para isto.
Normalidade é um conceito intuitivo, que se refere a algo que está funcionando e não
reparamos. Nas relações humanas é quase impossível alcançar esse nível de normalidade. O
normal seria satisfazer as várias necessidades com o mínimo de atrito ou dificuldade. Os
profissionais da Psicologia, Pedagogia, Astrologia, têm uma enorme responsabilidade nessa
questão, pois não podem aceitar um padrão de sanidade tão baixo como o do brasileiro.
O indivíduo que não passou da camada 4 requer uma psicoterapia, porque as necessidades
desta camada não podem ser atendidas num adulto na situação normal da vida. A demanda de
atenção de um sujeito de camada 4 é imensa, sendo preciso montar um ambiente terapêutico
específico para isto.
CAMADA 5
Ego, autoconsciência e individuação
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CAMADA 6
Aptidão e vocação
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CAMADA 7
Situações e papéis sociais
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A convivência humana é marcada por uma distribuição de papéis, por expectativas mútuas
e por um sistema de legitimidades, de direitos e deveres recíprocos, cujo sentido correto
indica que a cada direito equivale um dever alheio. Proclamar um direito, para um indivíduo
ou para um grupo, é atribuir um dever recíproco a um outro indivíduo ou a um outro grupo. A
promulgação de um direito traz, assim, implicitamente um dever. Em todas as relações
humanas existe um sistema de expectativas mútuas, no qual a cada dever de um cabe um
direito ao outro, e a cada direito de um incumbe um dever de outro. A confusão dos papéis
sociais ocorre quando a expectativa de direito de um não corresponde a deveres do outro, e
vice-versa.
Após a conquista da habilidade, ou seja, do poder de se defender, que resulta da
hierarquização seletiva, o exercício de um papel social representa a sétima camada na
construção da personalidade. A conquista de um poder efetivo, que se experimenta na camada
6, pode ou não se converter num papel social. Os papéis sociais são delineados de maneira
implícita, pois eles se baseiam e se consolidam no costume. Aquilo que sou capaz de fazer, se
eu fizer costumeiramente, as pessoas vão notar que eu faço e acabarão criando um sistema de
expectativas em torno daquilo.
O casamento é um protótipo do papel social, e é o mais problemático de todos. O Dr. J.A.
Müller afirmava que em geral o casamento atende a uma constelação de necessidades muito
diferentes entre si, que poderíamos relacionar com as camadas da personalidade. Em primeiro
lugar, a atração física mútua, que não ocorre entre quaisquer pessoas, pois tem um fundo
hereditário marcante, e o teste de Szondi é revelador neste sentido. Entretanto, esse dado não
basta, pois duas pessoas podem sentir uma atração mútua, mas terem linguagens diferentes,
culturas desiguais. Além disso, devem suprir as necessidades afetivas nascidas das respectivas
histórias pessoais. Por exemplo, o padrão de relacionamento entre um homem e sua mãe, e
entre uma mulher e seu pai, pode determinar, positiva ou negativamente, a necessidade afetiva
a ser atendida. Do mesmo modo, os respectivos espaços vitais e as possibilidades reais de
ação devem ser coeridos de alguma maneira.
Como o papel social de marido e mulher tem que responder a uma constelação de motivos
que se originam em várias camadas da personalidade, é desnecessário dizer que o casamento
representa o setor de maior defasagem dos papéis sociais. É muito difícil preencher tantas
exigências, mais ainda quando a própria sociedade é obscura na distribuição dos papéis
sociais. Por outro lado, a correta definição do papel social no casamento, que abrange a
totalidade da vida de uma pessoa, requer o conhecimento de necessidades e solicitações
sublimadas, pertinentes à camada 4.
A definição do papel social se completa no casamento, que é um sistema de compromissos
que abarca a totalidade do indivíduo, enquanto que os demais papéis sociais solicitam dele
apenas uma parcela. Em geral, os papéis sociais são limitados a uma linha de ação e
participação, exceto o casamento. Até mesmo a relação entre pais e filhos requer somente
alguns aspectos do indivíduo, mas o casamento engloba tudo. Constatamos também que
determinadas empresas exigem quase que um casamento das pessoas que nelas trabalham.
Quando um sujeito assume um papel social, isto significa que ele nasceu, teve tendências
hereditárias, passou por um aprendizado, vivenciou uma história e conquistou seu espaço
vital, onde selecionou certas áreas sobre as quais adquiriu um poder específico que lhe
permite desempenhar um papel social e ser reconhecido através dele. Assim podemos delinear
uma vida. No entanto, o indivíduo pode ter atuado de maneira equivocada, não atendendo às
responsabilidades normais de sua posição.
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Quando alguém não assume o papel social que lhe cabe, comporta-se tal como um ator
que entrou no palco errado. Isso ocorre com enorme freqüência e transforma o sistema de
direitos e deveres em fonte de inúmeras frustrações.
No processo de construção da personalidade, a conquista de um papel social definido,
mesmo que insignificante, torna o sujeito consciente do que está fazendo, permitindo-lhe
inclusive saber qual a sua insatisfação com aquilo.
Os sofrimentos da camada 7 são relativos ao não cumprimento de expectativas mútuas.
Qualquer pessoa, ao adquirir um papel social, espera ser aceita e rejeitada, e que os outros
ajam de acordo com a legalidade de sua posição. Se isso não ocorre, ou se o sujeito não
corresponde ao papel que lhe cabe, criam-se então duas fontes de sofrimento. A primeira pelo
fato de se estar socialmente desorientado, e neste caso não houve entrada na camada 7; e a
segunda porque apesar de ter segurança sobre o lugar que ocupa, o indivíduo não encontra
reciprocidade nos outros.
A inibição é intolerável no adulto, sob qualquer aspecto. Se a rejeição em colaborar é
proveniente disto, o sujeito está impedido de atingir a camada 7, e portanto não poderá
participar das atividades humanas. A inibição é um severo limite imposto à utilidade social da
pessoa. Temos que estar prontos para tudo que uma situação exige, temos que ser socialmente
úteis para realizar a camada 7. Quando mostramos interesse em ajudar é que podemos nos
tornar alguém socialmente, sermos reconhecidos como membros da sociedade. Este é o
prêmio da camada 7: ser aceito socialmente e considerado como igual pelos demais
indivíduos.
A defesa do papel social, da respeitabilidade social, é um elemento importante da camada 7,
ou seja, cumprirmos o que é esperado de nós. O sujeito que já está na camada 7 quer
permanecer no lugar conquistado e ser reconhecido como membro do meio social. Desse
modo, ele deve proceder a todos os atos necessários para o desempenho do seu papel. Se
falhar, isto significa que ele recusa aquele papel e, querendo outro, não pode ocupar espaço
indevidamente.
A camada 7 implica um desejo de aceitação; deseja-se ser respeitado, aceito e até amado,
mas apenas como todo mundo. Aqui se trata de reivindicar a cota pessoal dentro de uma
divisão medianamente igualitária, sabendo que ninguém obterá mais do que isto.
Falhar no desempenho do papel social é um motivo de sofrimento para o indivíduo que
realmente está na camada 7, porque neste caso ele tem consciência de que não esteve à altura
do seu dever.
O conceito de dever é fundamental na camada 7. É normal para quem alcançou esta
camada entender que o cumprimento de um dever é uma manifestação de amor. Por exemplo,
um pai que trabalha para sustentar o filho, faz isto por amor ou por dever? É exatamente o
mesmo, ou seja, é um dever determinado por amor, e mais nada.
O cumprimento do dever é uma manifestação de amor pelos semelhantes. Em geral, as
pessoas não pensam nesse aspecto afetivo do dever: se deixarmos de fazer algo, vamos
prejudicar um outro, que ficará infeliz.
A ênfase no conceito do amor de camada 4, que é um conceito muito primitivo, não ajuda
as pessoas a se tornarem adultas e responsáveis. O amor não é um sentimento. Quando
amamos alguém, surgem todos os sentimentos possíveis na convivência. Basta isto para
percebermos que o amor não é um sentimento. Amor é uma atitude de fomento da existência
do outro. É propiciar o fortalecimento do outro.
Entretanto, freqüentemente as pessoas não querem exercer o amor, mas apenas senti-lo, o que
é um sinal de imaturidade, de perspectiva infantil, doentia. Devemos compreender que uma
atitude de amor exige satisfação na renúncia, em abdicar de algo em benefício do outro. Em
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CAMADA 8
Síntese Individual
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afetiva, mas o curso inteiro de uma existência. Em geral, as pessoas desconhecem este tipo de
sofrimento até chegar aos 40 anos.
A capacidade de julgar a vida como uma totalidade, sem culpar ninguém, é assunto da
camada 8. Aí se dá o confronto com o destino. O sujeito já está individualizado, definido,
sabe que sua personalidade e sua vida compõem um todo distinto, sabe que é autor de seus
atos e que foram suas as escolhas que fez, tenham sido certas ou erradas.
Uma pessoa que acabou de conquistar o seu papel , sendo aceito e respeitado no exercício
dele, de repente vê um colega largando tudo porque entrou numa crise de consciência. Como
se poderia avaliar isso? Como distinguir o sujeito que está numa autêntica crise evolutiva e o
que ficou maluco?
Em condições normais, o homem que está numa crise evolutiva não perde o papel social,
mas apenas se posiciona em outro plano. Quando o sujeito renuncia a um papel social para
buscar algo que faça mais sentido para ele, os outros que têm um papel igual em geral o
estranham. Uma mudança no auge de uma carreira pode significar que o indivíduo tenha
chegado ao limite das possibilidades oferecidas pela sua profissão. Porém, essa mudança não
é necessariamente profissional, é uma mudança de orientação. É mudar para mais e não para
menos.
CAMADA 9
Personalidade Intelectual
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Na evolução normal do ser humano, é possível atingir até a camada 8. É nela que o
indivíduo experimenta uma personalidade completa, podendo ver sua vida como um todo,
contar sua própria história e, de certo modo, julgá-la. A partir daí pode se desenvolver a
camada 9, a qual denominamos personalidade intelectual.
A personalidade intelectual começa no instante em que a chave do comportamento do
sujeito é a realização de determinados fins da sociedade e da cultura humana. Isso se situa
para além da personalidade, no sentido corriqueiro do termo. A personalidade intelectual é,
portanto, um aspecto que ultrapassa a própria personalidade, embora não se expresse
necessariamente numa atividade dita cultural.
O indivíduo conquista uma personalidade intelectual quando a solução de um problema,
teórico ou prático, que se coloque à sua inteligência, seja para ele mais importante do que a
sua própria personalidade. É algo a mais a que o sujeito se dedica por lhe parecer relevante e
que não está vinculado a um papel social específico. Se este algo a mais se torna o centro da
vida do sujeito, então ele tem uma personalidade intelectual, que procura servir
prioritariamente aos interesses da sociedade e da cultura.
No entanto, é perfeitamente possível o indivíduo estar envolvido com questões que
transcendem a sua esfera pessoal e não ter personalidade intelectual nenhuma, mas estar
simplesmente atendendo necessidades de camadas inferiores. Por exemplo, qualquer ministro
de estado, que não tenha resolvido de modo original um problema enfrentado, não possui uma
personalidade intelectual, no máximo alcançou a camada 7. Se ele apenas cumpre
burocraticamente o que se espera do seu papel social, está na camada 7.
O fundamental para a camada 7 seria corresponder às atribuições de um cargo, enquanto
que para a camada 8 bastaria a satisfação de ter realizado algo no qual veja sentido. Porém, se
o indivíduo desenvolveu uma personalidade intelectual, isso jamais bastará. O que importa é
se dentro do papel social que exerceu, o sujeito se limitou às exigências dele decorrentes ou
fez algo a mais do que estava obrigado a fazer. A diferença aqui reside na ação.
A personalidade intelectual surge a partir do momento em que existe esse algo a mais, isto
é, quando o indivíduo busca solucionar uma questão que a sua própria inteligência coloca, e
que se ele não o fizer ninguém à sua volta notará. É uma espécie de consciência a mais que
ele tem, de um dever para com os fins da cultura, da sociedade, da existência humana, tal
como este indivíduo os interpreta. É algo que ultrapassa o interesse pessoal ou o papel social.
O sujeito que cumpre o seu dever, como outro cumpriria no lugar dele, está meramente
atendendo a um papel social. Ele não precisa sequer julgar esse papel, porque se assim
proceder já entra na camada 8. A partir daí, existe um ponto onde o indivíduo pode dar uma
contribuição pessoal a algo que o transcende.
Quando o indivíduo desenvolve uma personalidade intelectual e passa a agir em função
dela, todos os que estão abaixo dele não conseguem compreender que a motivação, neste
caso, é decorrente de uma necessidade interna, que extrapola o papel social, o interesse
financeiro e o desejo de auto-afirmação.
Podemos explicar as ações de um sujeito em função das camadas 4, 5 ou 6, mas existem
pessoas cuja comportamento escapa ao comum. De modo contrário, podemos também atribuir
ao sujeito motivações complexas quando ele está simplesmente procurando atender
necessidades infantis.
A tendência dominante é optar por interpretações depreciativas, porque à medida que a
informação se difunde, é de se supor que um número cada vez maior de pessoas pouco
educadas utilizem os meios de expressão que antes ficavam restritos a pessoas de nível mais
elevado. Atualmente não é preciso ascender até o nível de intelectualidade suficiente para se
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exercer uma profissão, o que provocou o surgimento do que podemos chamar de proletariado
intelectual.
A difusão da cultura é bastante dúbia: por um lado possibilita que indivíduos
adequadamente dotados, mas que não dispõem de recursos materiais, dela se beneficiem,
embora, por outro lado, permita que os indivíduos sem nenhum talento se dediquem a
atividades intelectuais.
O ideal seria uma escolha rigorosa, tal como se fazia no antigo sistema do letrado chinês.
O acesso ao ofício de letrado na China era independente da classe social, baseando-se apenas
na capacidade individual. Hoje em dia, para eliminar o princípio injusto da seleção
econômica, criou-se a falsa expectativa de que todos, sem distinção, podem se tornar
intelectuais ou cientistas.
CAMADA 10
Eu transcendental
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CAMADA 11
Personagem
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Não há espaço para todos na camada 11. A própria natureza é hierárquica do início ao fim.
Não há democracia natural, porque é evidente que as pessoas têm graus diferenciados de
saúde ou de inteligência. O que realmente se constata é um processo seletivo, embora seja
difícil admitir que existam indivíduos melhor dotados do que outros.
CAMADA 12
Destino final
Camada Divisiva. Psicologias místicas tradicionais; Paul Diel, Victor Frankl. Destino final:
o indivíduo perante Deus; o sentido e o valor da vida, etc.
As psicologias místicas tratam fundamentalmente do sentido da vida do indivíduo, do
indivíduo perante sua responsabilidade moral última, algo que está acima do personagem,
algo que a Humanidade mesma não sabe. É fundamentalmente o indivíduo como Homem
Universal, como Cristo, como pastor e responsável pela humanidade inteira.
A camada 12 consiste na ação do indivíduo em função do propósito último de todas as
coisas. Para Gandhi - que é um protótipo da camada 12 - somente interessa a relação dele com
uma finalidade que transcende a vida biológica e a vida da espécie humana. Quando ambas
acabassem, sobraria Deus, e é esperando por esse momento que se norteia a sua ação.
No caso de Gandhi, nem mesmo o objetivo político explica o seu comportamento, pois ele
não aceitava a independência da Índia em quaisquer termos, colocando exigências morais
muito acima do que os seres humanos costumam imaginar. Gandhi agia exatamente ao
contrário do raciocínio político, apelando para o centro da questão e oferecendo como
garantia não apenas sua própria vida, mas seu destino "post-mortem".
Na camada 12 todas as ações são pautadas pela seguinte regra: "o que Deus vai achar disto?"
Tal é o sujeito que, de acordo com a Bíblia, caminha diante de Deus e sabe o que Ele está
pensando. Normalmente, mesmo uma pessoa excepcional não submete todos os atos a esse
critério. O confronto com Deus pressupõe que o homem seja capaz de conceber cada ato seu
sob um prisma eterno.
Se temos uma decisão a tomar, podemos fazer isso ou aquilo por razões de camada 5 - isto
me fortalece, eu me sinto mais autoconfiante; de camada 6 - vai dar resultado; de camada 7 - é
um dever que me compete; de camada 8 - isto tem lógica dentro da minha biografia; de
camada 9 - é isso o que o dever da inteligência impõe. Até a camada 9 está presumida a
existência do mundo, pois que sentido faria agir segundo um proveito prático se tudo fosse
acabar amanhã?
O atendimento do dever referente a um papel social pressupõe a existência de pessoas que
tenham uma expectativa em relação ao ocupante desse papel. Agir em função da coerência da
própria biografia, pressupõe que esta deva continuar. Agir visando objetivos ditados pela
cultura, pela inteligência, pressupõe que hajam fins realizáveis dentro do prazo de uma
existência histórica. Porém, se o indivíduo age exclusivamente em função de um final, ele está
agindo precisamente em função da inexistência de um mundo em torno. Com ou sem mundo,
ele agiria da mesma maneira. Os atos adquirem então um significado supratemporal, supra-
histórico, ou seja, eternamente o homem deveria agir assim, antes de existir o mundo ou
quando este deixar de existir. Aqui a ação é tida como a expressão direta de uma qualidade
divina que prescinde da existência do mundo.
Qualquer pessoa que crê em Deus eventualmente procede inspirada no eterno, muito
embora seja difícil compreender alguém que age assim permanentemente, tal como Gandhi,
para quem devemos usar uma outra chave de comportamento. É como se ele soubesse o que
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Deus quer, como se conversasse com Deus o tempo todo. Um homem santo realizado age em
função do sentido eterno da existência, não tem outro motivo, sequer a História.
Na camada 12 as ações do indivíduo parecem por demais complexas e enigmáticas. Para
se entender as ações de um santo só acreditando nele. Aí então tudo se encaixa, começamos a
perceber uma coerência, um princípio explicativo das ações. Isso ocorre independentemente
de motivações vocacionais que tenham surgido no curso da biografia, relativas às camadas
anteriores, que podem ter contribuído para colocar o sujeito numa determinada via, mas não
bastam para esclarecer o desenrolar da sua história.
Podemos falar de santidade apenas quando a relação do indivíduo com um Deus eterno é
que motiva cada um dos seus atos. Não somente atos acidentais, mas todos, um por um, não
existindo um único ato que se possa explicar fora desse diálogo. Com quem o sujeito
conversa, a quem ele responde? Se apagarmos essa conexão, a vida dele se torna uma coleção
de atos sem sentido. Existem indivíduos que já nascem na camada 12, tanto que ao passarem
pelas que a antecedem elas vão sendo absorvidas rapidamente.
CRITÉRIOS DE RECONHECIMENTO
seu poder, não pode conceber que alguém se dedique a algo sem nenhum interesse por uma
recompensa subjetiva.
Só nos é possível compreender quem está na mesma camada que nós ou nas inferiores. Os
outros, seria melhor não tentar explicá-los. Nas camadas superiores as motivações do sujeito
são muito complexas, pois ele está vivendo num plano onde aquilo que para nós é decisivo,
para ele simplesmente não existe. O indivíduo cuja personalidade ainda está se definindo
segundo o molde do papel social, dificilmente poderá entender as preocupações de ordem
puramente pessoal de quem revê a própria vida, questionando inclusive o trabalho, o papel
social, etc.
Para sabermos em que camada um indivíduo está, devemos detectar o motivo real do
sofrimento dele, o que de fato representa problema para ele. Em qualquer etapa, podemos nos
deparar com um bloqueio ou mesmo com a impossibilidade de transpor uma camada para
alcançar a seguinte. Cada camada expressa um princípio de organização da vida por inteiro,
absorvendo os elementos contidos na camada anterior e dando-lhe uma nova forma e uma
nova direção.
A pergunta decisiva é: onde dói? Dói na camada onde se está. Aqui nos referimos ao
sofrimento psicológico. No entanto, pode ocorrer um sofrimento objetivo, como no caso do
indivíduo sofrer um estreitamento do seu espaço vital desde fora. Numa sociedade que não
admita a liberdade de expressão, esse estreitamento é externo e fará o indivíduo sofrer em
função de uma exigência legítima de sua camada 5, mesmo que esteja na décima camada.
Podemos sofrer em qualquer camada, até nas mais inferiores, sem que estejamos
vinculados a elas. Tudo depende de verificar se existe um impedimento externo real. Para um
homem de quarenta anos sofrer na camada 5, embora esteja na 7 ou na 8, só é possível se for
um sofrimento muito grave, porque normalmente se não podemos ampliar o espaço vital para
um lado, ampliamos para o outro.
Aquilo que se quer fazer, mas não é objetivamente viável, representa um conflito com o
mundo, e isto não é psicológico. Quando o indivíduo não é reconhecido no papel social que
desempenha, isto é um motivo de sofrimento, mas não de causa psicológica.
Pode também acontecer uma privação externa de necessidades elementares. Uma pessoa
excepcionalmente odiada sofrerá na camada 4, mesmo sem nela estar. O sujeito que trabalha e
não ganha o suficiente sofre uma privação de meios, e isto é assunto de camada 6. Em ambos
os casos, a modificação da situação externa resolveria o problema. Quando o sujeito revela
alguma inibição (camada 5), como vergonha ou medo, isto provém dele próprio, o que é
diferente do impedimento externo. Em contrapartida, existem pessoas que nunca encontram
chance de mostrar o que podem, ainda que saibam fazer o suficiente na profissão que
escolheram. Isso não é uma incapacidade interna, e sim mera falta de oportunidade.
Apesar de existirem casos de limitações externas concretas, na quase totalidade das
situações o que se constata são impedimentos internos que o indivíduo não consegue superar.
A carência afetiva, por exemplo, geralmente é uma carência internalizada que vem de uma
outra época. O sujeito, entretanto, continua agindo com referência ao passado, embora não
haja mais, de fato, aquela necessidade e portanto não adianta tentar satisfazê-la
retroativamente. É justamente para isso que servem as psicoterapias, as quais simulam uma
situação em que pseudo-necessidades serão pseudo-atendidas.
A necessidade de expressar uma agressividade de vinte anos atrás, para uma pessoa que
não está mais presente, não pode ser aceita como uma necessidade efetiva; ela é meramente
simbólica. É preciso, então, montar um psicodrama, um teatro que atenda a imaginação. Isto
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não pode ser feito no cotidiano, se bem que freqüentemente possamos observar pessoas se
comportando em geral como se estivessem numa situação de psicoterapia.
Como a psicologia foi criada para suprir necessidades simbólicas, ela é a única solução
para quem fica retido na camada 4. Já na camada 5, é possível tirar dúvidas relativas ao poder
pessoal reconstituindo uma circunstância, mesmo que tenha transcorrido muito tempo.
A diferença entre camada da personalidade e casa astrológica é esta: o sujeito vivencia os
assuntos de várias casas, mas está localizado numa só camada determinada. Por exemplo, um
sujeito pode estar na camada 4, mas preocupado em ganhar dinheiro, em definir uma
profissão, etc.
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