Elementos de Gramática Da Língua

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ELEMENTOS DE GRAMÁTICA DA LÍNGUA

PORTUGUESA, NOÇÕES DE REDAÇÃO E DE LEITURA


ANALÍTICA

SUMÁRIO
Apresentação - 03
PRIMEIRA PARTE - 04
1. Grafia da palavra “porquê” - 04
2. Uso mau ou mal - 05
3. Menos - 05
4. A nível de, em nível ou ao nível - 06
5. A par e ao par - 06
6. Senão ou se não - 06
7. Desde - 06
8. Em vez de ou ao invés de - 06
9. Emprega-se o hífen - 07
10. Onde e aonde - 08
11. Quite e quites - 09
12. Todo - 09
13. À medida que ou na medida em que - 09
14. Ao encontro de ou de encontro a - 09
15. Acentuação gráfica - 10
16. Regência verbal - 12
17. Crase - 15
18. Colocação pronominal - 18
19. O pronome Se - 20
20. Pronomes de tratamento - 21
21. Pronomes possessivos - 21
22. Pronomes demonstrativos - 21
23. Pronomes indefinidos - 22
24. Pronomes relativos - 22
25. Emprego dos pronomes pessoais eu e tu; mim e ti - 23
26. Concordância nominal - 25
27. Concordância verbal - 26
28. Regras de pontuação - 31
SEGUNDA PARTE - 34
29. Compreensão de texto: palavras-chave e idéias-chave - 34
30. Níveis de linguagem - 37
31. Coesão textual - 38
32. Emprego de conectivos - 45
33. Coerência textual - 46
34. Nonsense – orações incompletas - 47
35. Funções da linguagem - 54
36. Elaboração de E-mail - 59
37. Tipologia textual - 60
38. Textos persuasivos - 74
39. Dez passos para elaborar um currículo -76
Bibliografia – 79
PRIMEIRA PARTE
Estudos gramaticais
Procure reescrever corretamente os períodos transcritos abaixo, eliminando
possíveis ambigüidades ou problemas de concordância:
1) “Fazendo sucesso com sua nova clínica, a psicóloga Iracema Leite
Ferreira Duarte, localizada na rua Campo Grande, 159.” (Correio de Mato Grosso,
esse fragmento foi utilizado em questão do Vestibular da Unicamp).
Resposta:
2) “Pode-se argumentar, é certo, que eram previsíveis os percalços que
enfrentariam qualquer programa de estabilização (...) necessário no Brasil.”
(Folha de S. Paulo, esse fragmento foi utilizado em questão do Vestibular da
Unicamp).
Resposta:
Apresentamos, a seguir, algumas noções de Gramática da Língua
Portuguesa que o ajudarão a melhorar sua produção textual. Lembre-se de que
escrever exige muita leitura, consultas a dicionários e gramáticas, perseverança e
um trabalho contínuo com a palavra.
1. Grafia da palavra “porquê”.
1.1. Escreve-se “por que” quando:
- inicia ou introduz uma oração interrogativa.
Por que você foi embora? (interrogativa direta = por que razão).
Não sei por que você foi embora. (interrogativa indireta = por que razão).
- quando se subentende a palavra “motivo”.
Ele não explicou por que (motivo) não veio à escola.
Gostaria de saber por que o defeito não foi reparado.
- quando puder ser substituído por uma das expressões: “pelo qual”, “pela qual”,
“pelos quais”, “pelas quais”.
Não vou lhe dizer as razões por que deixei de vir à aula.
O atendente disse o motivo por que o produto não pode ser trocado.
1.2. Escreve-se “porque” quando indicar motivo e for conjunção. Pode ser
substituído pela conjunção explicativa pois.
5
Não veio à festa porque não quis. (O motivo de não vir foi falta de vontade).
Equivale à frase: Não veio à festa, pois estava doente.
Não veio à festa porque estava doente.
1.3. Escreve-se “por quê” no final de uma oração interrogativa direta ou indireta.
Você foi embora por quê?
João não sabia por quê.
1.4. Escreve-se “porquê” quando for substantivo (pode ser substituído por
sinônimos, tais como “a razão” ou “o motivo”).
Eis o porquê de sua atitude. (= Eis o motivo de sua atitude.)
Exercícios de aplicação:
1. Não sei __________ você tem tanto medo de avião.
2. Ele está assim _________ a mãe viajou.
3. Não fez o trabalho ________ passou a noite inteira jogando cartas.
4. A causa ________ lutamos é muito elevada.
5. Todo crime tem seu ________.
6. Isso dói e não sei ________.
7. Estava muito cansado, eis ________ não fui à sua festa.
8. Isso acontece ________ somos muito acomodados.
9. Não me interessa o ________ de sua ausência.
10. Não vou dizer as razões ________ deixamos de trabalhar com o nosso
exsócio.
2. Uso de “mau” ou “mal”.
2.1. “Mau” é adjetivo, palavra variável, modifica um substantivo. Tem feminino
(má) e plural (maus, más). Seu antônimo é “bom”.
Exemplos: livro mau, mau exemplo, mau gosto, mau humor.
2.2. “Mal” é advérbio, palavra invariável, modifica um verbo, um adjetivo ou outro
advérbio. Seu antônimo é “bem”.
Exemplos: falar mal, mal-humorado.
2.3. “Mal” pode também ser empregado como substantivo; seu plural é “males”.
Exemplos:
O mal está em todos nós.
Há males que vêm para bem.
3. Menos é palavra invariável, independentemente de sua categoria gramatical.
3.1. Pronome indefinido: menos chuvas, menos coisas.
3.2. Advérbio: chove menos.
3.3. Substantivo: o menos que lhe pode acontecer é ser rebaixado de cargo.

4. A nível de, em nível ou ao nível


4.1. A forma correta é em nível e não a nível. A expressão em nível de significa
“no plano de”, “em termos de”.
Em nível federal o governo adotará novas medidas para conter as greves.
4.2. A expressão ao nível de significa “na mesma altura”.
Exemplo: Santos está ao nível do mar.
5. A par e ao par
5.1. No sentido de estar ciente de alguma coisa, emprega-se a par.
Exemplo: José estava a par do que acontecia.
5.2. A expressão ao par apenas deve ser empregada em relação a câmbio.
Significa “em equivalência de valor”, uma moeda em função de outra.
Exemplo: “eis... que a subida inesperada do partido conservador, firmando o
crédito de Estado, elevou o papel-moeda, deixando o câmbio quase ao par.”
(Aluísio Azevedo. O Coruja).
6. Senão ou se não
6.1. “Se não” equivale à expressão “caso não” ou “quando não”. Emprega-se em
frases em que há alternativa, incerteza, imprecisão.
Se não chover, iremos à praia.
Irão, se não brincarem agora.
Comprarei três camisas novas, se não quatro.
6.2. “Senão” deve ser usado quando corresponder a uma das expressões
seguintes: “no caso contrário”, “de outro modo”, “a não ser”, “mas sim”.
Ande, senão chegaremos tarde.
Lute, senão estará perdido!
Eis a vantagem, disse, senão ele nunca compraria.
Não vieram, senão eles dois.
Não o fez para irritá-lo senão para adverti-lo.
7. Desde
Nunca escreva “desde de”, nem “desda”, nem “desdo”.
Não o vejo desde 1990.
Moramos aqui desde o ano em que chegamos do Ceará.
Apaixonei-me desde a primeira vez que a vi.
8. Em vez de ou ao invés de
8.1. A expressão “ao invés de” deve ser empregada para indicar idéia de
oposição, contrariedade.
Com a chegada da safra, não ocorreu o que se esperava. Ao invés de cair, os
preços subiram.
8.2. A expressão “em vez de” significa “em lugar de”.
7
Em vez de ir ao cinema, achei melhor ficar em casa.
Observação: Quando há idéia de oposição, não é obrigatório o uso de “ao invés
de”. Pode-se empregar “em vez de” com a idéia de oposição ou sem ela, mas só
se pode usar “ao invés de” para idéias rigorosamente opostas.
O time precisava atacar e vencer; ao invés disso (ou “em vez disso”), ficou na
defesa e perdeu.
Em vez dos Estados Unidos, escolhi a Itália para morar. (Nesse caso não é
possível usar “ao invés de”, pois não há idéia de oposição).
9. Emprega-se o Hífen:
a) Nos compostos cujos elementos perderam sua significação própria.
Exemplos: água-marinha, arco-íris, pé-de-meia, pára-quedas, tenente-coronel.
b) Nos compostos com o primeiro elemento empregado de forma adjetiva,
reduzida ou não.
Exemplos: anglo-brasileiro, greco-romano, histórico-geográfico, latino-americano,
luso-brasileiro.
c) Nos compostos com os radicais AUTO, NEO, PROTO, PSEUDO e SEMI,
quando o elemento seguinte começa por vogal, H, R, ou S.
Exemplos: auto-retrato, neo-humanismo, pseudo-revelação, semi-reta,
semiselvagem.
d) Nos compostos com radical PAN ou MAL, quando o outro elemento começa por
vogal ou H.
Exemplos: pan-americano, pan-helênico, mal-educado, mal-humorado.
e) Nos compostos com BEM.
Exemplos: Bem-te-vi, bem-aventurança.
f) Nos compostos com SEM, ALÉM, AQUÉM e RECÉM.
Exemplos: sem-cerimônia, além-mar, aquém-fronteiras, recém-casado.
g) Com os prefixos CONTRA, EXTRA, INFRA, INTRA, SUPRA e ULTRA, quando
seguidos de palavra iniciada por vogal, H, R ou S.
Exemplos: contra-almirante, extra-regimental, intra-hepático, supra-sumo,
ultrarápido.
h) Com os prefixos ANTE, ANTI, ARQUI e SOBRE, quando seguidos de palavra
iniciada por H, R ou S.
Exemplos: ante-histórico, anti-higiênico, arqui-rabino, sobre-saia.
i) Com os prefixos SUPER e INTER, quando seguidos de H ou R.
Exemplos: super-homem, inter-resistente.
j) Com os prefixos SOB e SUB, quando seguidos de radical iniciado por R.
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Exemplos: sob-roda, sub-reino.
l) Com os prefixos VICE e EX.
Exemplos: ex-diretor, vice-presidente.
m) Com os prefixos PÓS, PRÉ e PRÓ.
Exemplos: pós-diluviano, pró-britânico, pré-escolar.
Exercícios de Aplicação
Assinale a resposta correta:
1. Você não se saiu (mal/ mau) durante o debate.
2. O (mal/ mau) caráter não disse (porque/ porquê/ por que/ por quê) cometeu o
crime.
3. Carlos falou (mal/ mau) do filme mesmo assim irei assisti-lo no sábado (senão/
se não) no domingo.
4. A empresa teve um (mal/ mau) desempenho no ano passado.
5. O (superomem/ superhomem/ super-homem/ super homem) foi chamado para
executar o plano (anti-inflacionário/ anti inflacionário/ antinflacionário/
antiinflacionário).
6. (Ao invés de/ Em vez de) pagode, prefiro ouvir Chico Buarque.
7. O professor João estava (a par/ ao par) de que hoje haveria (menas/ menos)
pessoas na escola devido ao jogo do Brasil.
8. (A nível de município/ Em nível municipal) haverá novas medidas para
aumentar a arrecadação de impostos.
9. É uma pessoa lenta, (senão/ se não) preguiçosa.
10. Fale alto (senão/ se não) ninguém vai ouvir nada.
11. (Em vez de/ Ao invés de) de ficar folheando revistas, vá estudar.
12. Maria estava (a par/ ao par) dos fatos (desde o/ desdo) último sábado.
10. Onde e Aonde
Sempre indicam lugar.
Aonde: indica movimento para um lugar, destino.
Aonde você vai?
Onde: indica lugar estático, ponto fixo.
Onde você mora?
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Morei em uma cidade onde não havia cinema.
Errado: “Viver a divina comédia humana, onde nada é eterno.” (Belchior)
Correto: Viver a divina comédia humana, em que (na qual) nada é eterno.
11. Quite e Quites
São adjetivos, portanto concordam com o substantivo ou com o pronome ao qual
estão ligados.
Estou quite com você.
João e Maria estão quites com a receita federal.
12. Todo
O pronome todo, quando acompanhado de artigo, particulariza o objeto; sem o
artigo, generaliza-º
Todo o livro é perfeito. (significa que o livro a que me refiro é perfeito do princípio
ao fim).
Todo livro traz sempre algum benefício ao leitor. (significa “qualquer livro”)
13. À medida que ou na medida em que
A primeira expressão dá idéia de proporção e a segunda de causa.
Você vai melhorar à medida que (à proporção que) for tomando esse remédio.
O Brasil será um país desenvolvido na medida em que (uma vez que) resolver
seus problemas sociais.
14. Ao encontro de ou de encontro a
A expressão “ao encontro de” significa no mesmo sentido.
A expressão “de encontro a” significa em sentido oposto.
Incorreto: Ao fazer uma ultrapassagem, o caminhão veio ao encontro do ônibus. O
acidente deixou um saldo de onze feridos.
Correto: Ao fazer uma ultrapassagem, o caminhão veio de encontro ao ônibus. O
acidente deixou um saldo de onze feridos.
Incorreto: O Presidente da República tomou medidas que vieram de encontro aos
anseios dos banqueiros, que lhe garantiram total apoio a sua candidatura à
reeleição.
Correto: O Presidente da República tomou medidas que vieram ao encontro dos
anseios dos banqueiros, que lhe garantiram total apoio a sua candidatura à
reeleição.
Exercícios de aplicação:
Empregue todo ou todo o (e suas variantes):
1. ________ eleitorado compareceu às urnas.
2. ________ povo elege seus governantes pensando no futuro.
3. ________ que estavam no local tiveram de prestar depoimento.
4. O homem sai ________ dia bem cedo na esperança de conseguir um emprego.
5. Não conheço ________ Nordeste, apenas Bahia e Rio Grande do Norte.
6. O professor ficou satisfeito com ________ turma.
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7. Isso acontece em ________ país preocupado com a infância.
8. ________ vestibular deveria ter redação.
9. Ficou ________ manhã de ontem esperando o carteiro.
10. Ele empregou ________ energia que tinha para conseguir o emprego.
Assinale a resposta adequada:
11. Esqueci o caderno em casa, (onde/ aonde/ em que) havia copiado os
exercícios.
12. Viajei para uma cidade (onde/ aonde) não havia cinema.
13. Pedro e Paulo estão (quite/ quites) com o setor financeiro.
14. Foi aprendendo (à medida que/ na medida em que) estudava.
15. Vamos seguir o regulamento (à medida que/ na medida em que) ele foi
aprovado.
16. Paulo tomou medidas que foram (ao encontro das/ de encontro às)
necessidades de saneamento financeiro da empresa, por isso ele foi promovido de
cargo.
17. Carlos disse coisas que foram (ao encontro das/ de encontro às) propostas da
gerência, por isso ele foi demitido.
15. Acentuação Gráfica
15.1. Categorias de palavras quanto ao acento tônico:
Oxítonas: palavras cuja sílaba tônica é a última.
Exemplos: funil, parabéns, rapaz, saci.
Paroxítonas: palavras cuja sílaba tônica é a penúltima.
Exemplos: escola, retorno, bisteca, amável.
Proparoxítonas: palavras cuja sílaba tônica é a antepenúltima.
Exemplos: lâmina, público, paralelepípedo.
15.2. Normas vigentes de acentuação gráfica:
a) Acentuam-se as MONOSSÍLABAS tônicas terminadas em:
A(S): cá, dá, gás, más, pás.
E(S): crê, dê, lê, ré, pé.
O(S): dó, nó, pó, só.
Observação: são também acentuadas as formas verbais terminadas em A, E, O
tônicas, seguidas de LO(S), LA(S).
Exemplos: dá-lo, vê-lo, pô-los.
b) Acentuam-se as OXÍTONAS terminadas em:
A(S): cajá, Pará, atrás.
E(S): café, sapé, português, freguês.
O(S): paletó, cipó, dominó, avô.
EM(ENS): também, ninguém, vinténs, Jerusalém, além.
Observação: são também acentuadas as formas verbais terminadas em A, E, O,
tônicas, seguidas de LO(S), LA(S).
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Exemplos: repecurá-la, vendê-la, compô-lo.
c) Acentuam-se as PAROXÍTONAS terminadas em:
L: ágil, amável, têxtil, horrível, túnel, volúvel.
N: éden, hífen, pólen, sêmen, Nélson, Wílson.
R: caráter, revólver, éter, açúcar, repórter.
X: tórax, ônix, Félix, látex.
PS: bíceps, fórceps, Quéops.
Ã(S): ímã, órfã.
ÃO(S): órfão, bênção, sótão.
I(S): júri, cáqui, táxi, lápis, grátis.
ON(S): próton, elétrons, nêutrons.
OO(S): abençôo, corôo, vôo, vôos.
UM(UNS): médium, álbum, memorândum.
US: bônus, vírus, Vênus.
DITONGOS: Áurea, azáleas, calvície, pátios, lábios, boêmia, árduo, Páscoa,
espécie.
d) Acentuam-se todas as palavras PROPAROXÍTONAS.
Exemplos: árvore, biológico, mesóclise, sinédoque.
e) Acentuam-se os DITONGOS ABERTOS tônicos:
ÉI: anéis, atéia, européia, assembléia, estréia, idéia.
ÉU: céu, troféu, mausoléu, véu.
ÓI: heróico, jibóia, faróis, corrói, jóia.
f) Acentuam-se o I e o U, como segunda vogal tônica dos HIATOS, quando
formam sílabas sozinhas ou com S e não seguidas de NH.
Exemplos: ruína, raízes, países, egoísmo, saída, suíço, ateísmo, Jaú, Jacareí,
Pirajuí, baú, baús, viúvos, reúne.
Observação: não se deve acentuar, portanto: raiz, ruim, rainha, moinho, tainha,
ainda, juiz, Coimbra, ruindade, Raul, cair, cairdes.
g) Emprega-se o acento diferencial nas seguintes palavras:
pôde (passado) / pode (presente)
pôr (verbo) / por (preposição)
pára (verbo) / para (preposição)
côa(s) (verbo) / coa(s) = com a(s)
pêra (substantivo) / pera (preposição)
pólo (substantivo) / polo (contração arcaica)
pêlo (substantivo) / pelo (contração)
péla (verbo e substantivo) / pela (contração)
pélo (verbo) / pelo (contração)
h) Acento em formas verbais:
ele tem / eles têm
ele vem / eles vêm
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ele crê / eles crêem
ele dê / eles dêem
ele lê / eles lêem
ele vê / eles vêem
ele intervém / eles intervêm
ele mantém / eles mantêm
Aplica-se a mesma regra para os verbos derivados de crer, dar, ler e ver.
Exemplos: descrer, reler etc.
i) Emprega-se o TREMA nos grupos GÜE, GÜI, QÜE, QÜI, desde que o U seja
pronunciado e átono.
Exemplos: freqüência, eloqüência, freqüente, seqüestro, tranqüilo, eqüino,
agüentar, lingüiça.
Observação: se o U for pronunciado e tônico, teremos averigúe, argúi, obliqúe.
Exercícios de aplicação
Coloque o acento gráfico na palavra, quando necessário:
Armazem / analise / heroismo / heroi / heroico / Itu / canjica / estariamos / item /
caju / caja / peru / delirio / saude / cafe / cafezinho / juri / comessemos /
persistencia / misterio / reporter / reportagem / cocaina / tres / fez / mas / porem
(conjunção) / tupi / por (verbo) / por (preposição) / paraiso / Aguai / ingles / ele vem
/ eles vem / ele tem / eles tem / Clovis / orgão / revolver / tambem / lider / liderança
/ rubrica / atribuia / atribuiu / analisar / historia / atraves / talvez / so / sozinho /
somente / silencio / diferença / cadaver / tatu / nuvem / açucar / feliz
16. Regência Verbal
16.1. Tipos de Verbos:
16.1.1. Verbo Intransitivo: é aquele que, na frase, não vem acompanhado de
objeto.
Durvalina canta e Benedito samba.
Os verbos “cantar” e “sambar” expressam de modo completo as atividades
atribuídas aos seus respectivos sujeitos.
16.1.2. Verbo de Ligação: é aquele que liga o sujeito ao predicativo sem possuir
um sentido definido e autônomo. São verbos habitualmente de ligação: ser, estar,
ficar, parecer, permanecer, continuar, tornar-se, como ainda outros mais que
substituam alguns dos mencionados.
Maria continuava indiferente.
Meu tio sempre anda (= está) doente.
16.1.3. Verbo Transitivo: é aquele que, na frase, vem acompanhado de objeto.
Objeto é o ser em que termina ou para o qual se dirige a ação verbal que parte do
sujeito.
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Verbo Transitivo Direto: se o verbo transitivo não exigir preposição para se ligar
ao seu objeto, chamado por isso de objeto direto.
O pedreiro construiu a casa.
Verbo Transitivo Indireto: se o verbo transitivo exigir preposição (a, de, em, por
etc.) para se ligar ao seu objeto, chamado por isso de objeto indireto.
Aquele motorista obedece aos sinais de trânsito.
Verbo Transitivo Direto e Indireto: é aquele que vem acompanhado de dois
complementos, chamados de objeto direto e objeto indireto.
Joaquim ofereceu rosas vermelhas à namorada.
Objeto direto é “rosas vermelhas”; objeto indireto é “à namorada”.
16.2. Regência de Alguns Verbos
Aspirar
a) Verbo Transitivo Direto quando usado no sentido de sorver, tragar (ar, perfume,
pó).
Há máquinas que aspiram o pó do assoalho.
b) Verbo Transitivo Indireto (emprega-se a preposição “a”) na acepção de desejar,
pretender.
Aspirava a uma posição mais brilhante.
Observação: Nesse sentido o verbo aspirar não se constrói com os pronomes lhe,
lhes, mas sim com as formas retas regidas de preposição.
Não invejo essas honrarias nem aspiro a elas.
Assistir
a) Transitivo Direto ou Indireto indiferentemente quando significa prestar
assistência, confortar, ajudar, proteger, servir.
O médico assiste o doente.
As enfermeiras assistem aos doentes.
b) Transitivo Indireto (prep. “a”) no sentido de presenciar, estar presente a.
Pedro assistia à televisão.
Maria assistia ao filme.
Confiar
Verbo Transitivo Indireto, é acompanhado da preposição “em”.
A marca em que o mundo confia.
Contribuir
Verbo Transitivo Indireto.
“Para” indica o destinatário da contribuição.
“Com” indica o instrumento da contribuição.
Você não contribui para as obras assistenciais da igreja?
Eu contribuí com cem reais.
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Desculpar
A pessoa se desculpa por alguma coisa.
Errado: Desculpe a nossa falha.
Certo: Desculpe-nos pela falha.
Esquecer e Lembrar
Há duas possibilidades de construção para a oração em que esses verbos
aparecem.
Eu esqueci seu nome.
Eu me esqueci de seu nome.
Eu não lembro o seu nome.
Eu não me lembro do seu nome.
Implicar
É Verbo Transitivo Direto na maior parte das vezes em que é utilizado.
A vitória do Brasil implica a sua classificação.
O discurso do presidente implica o recrudecimento da violência.
A criação artística implica muita dedicação.
Somente quando o verbo é transitivo direto e indireto é que exige preposição.
Exemplo: João implicou Pedro no crime.
Informar
a) Informar alguém de que...
Informo V. Sa. de que sua proposta foi aceita.
b) Informar a alguém que...
Apenas lhe informamos que os bens de Domingos Leite haviam sido confiscados.
Preferir
Diz-se preferir uma coisa a outra (e não do que outra).
Prefiro um inimigo declarado a um amigo falso.
O prisioneiro preferiu a morte à escravidão.
Solicitar
Na acepção de pedir, rogar, pode-se dizer: “solicitar alguma coisa a alguém” ou
“solicitar de alguém alguma coisa”.
Solicitei ao (ou do) diretor o adiantamento de mil reais.
Visar
a) É Transitivo Direto quando empregado no sentido de apontar a arma contra e
pôr o visto em.
Visei o alvo.
O banco visou o cheque.
b) Na acepção de ter em vista, pretender, rege objeto indireto (preposição a).
A que estariam eles visando com tanta agitação?
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17. Crase
Em gramática normativa, a crase designa a contração da preposição a com:
a) O artigo a ou as.
Exemplo: Fomos à cidade assistir às festas.
Observação: a crase só pode ocorrer diante de palavras femininas.
Exemplos:
Assisti à regata internacional.
Fomos à praia de Copacabana.
Irei à (loja) do centro.
b) O a inicial dos pronomes aquele(s), aquela(s), aquilo(s).
Exemplo: Referiu-se àquele fato.
17.1. Casos em que se exclui a possibilidade do emprego da crase:
a) Antes de palavras masculinas.
João foi ao centro a pé.
b) Antes de verbos.
Prestações a partir de vinte reais.
c) Antes de pronomes indefinidos, tais como: alguém, ninguém, algo, outrem,
quem, tudo, nada, nenhum etc.
Não devo nada a ninguém.
d) Antes da palavra “casa”, a não ser que venha determinada.
Maria Benedita veio à casa da prima.
e) Antes das palavras: cuja, quem, ela, esta, mim, V. Sa., V. Exa. ,você etc.
Vamos assistir a esta partida.
Referiu-se a V. Sa..
Porém, usa-se crase antes de senhora, senhorita e dona, caso o verbo peça
preposição.
Diga à senhora que iremos a sua casa amanhã.
f) Antes de artigos indefinidos.
Fomos a uma loja do centro.
g) Antes da palavra distância a crase só existe quando se trata de uma distância
determinada.
Estava à distância de cem metros.
Fora atirado a distância.
h) Antes da palavra “terra” quando empregada para designar “terra firme”.
O navio chegou e o viajante se dirigiu a terra.
Deixei o barco e fui a terra.
Os astronautas chegaram à Terra (no sentido de planeta Terra).
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Chegar à terra dos pântanos. (a terra está determinada).
i) Expressões formadas de palavras repetidas.
Estavam frente a frente.
Caminhavam lado a lado.
17.2. Expressões Adverbiais:
a) Emprega-se a crase antes de expressões adverbiais de tempo, intensidade,
modo, lugar, finalidade etc., tais como: às vezes, à beça, às claras, à vontade, à
vista, à toa, à noite.
João às vezes falta em dias de prova.
Luís gosta à beça de M.P.B..
O carro foi comprado à vista.
O objeto estava à margem.
Os sinos tocavam à missa.
b) Não se deve usar a crase antes de expressões adverbiais de instrumento.
Exemplos: a cavalo, a mão, a máquina.
17.3. Emprega-se o acento grave sobre o “a” nas expressões prepositivas
constituídas de um substantivo feminino singular precedido de “a” e seguido de
“de”.
Exemplos: à maneira de, à moda de, à roda de, à custa de, à sombra de, à luz de,
à distância de, à vista de, à espera de, à força de etc.
Conseguimos vencer à custa de muito sacrifício.
Observação: em certos casos omite-se parte da locução, ficando o “à” diante de
nome masculino.
Usava eu, então, cabelos revoltos à (maneira de) Castro Alves.
Jogar à (moda do) Corínthians.
17.4. Pode ocorrer ou não crase antes do pronome relativo que. Para descobrir se
há ou não a crase, substitui-se o antecedente por um masculino. Se aparecer ao
antes do que, haverá crase.
Idéia igual à que eu tenho. (pensamento igual ao que eu tenho).
A posição a que aspiramos é muito alta.
17.5. Não há crase antes de nomes de cidades.
Iremos a Curitiba.
Eu vou a Roma.
Mas quando o nome da cidade tiver um qualificativo, haverá crase.
Refiro-me à Lisboa de Camões.
17.6. Artifícios para confirmar a existência da crase:
I. À(s) + Nome Feminino = Ao(s) + Nome Masculino
Exemplo: A sentença foi favorável à ré. (A sentença foi favorável ao réu).
Porém, esta regra não deve ser aplicada quando se trata de nomes próprios.
17
II. À = Para a ou A = Para
Exemplo: Viajaremos à Europa. (Viajaremos para a Europa).
Exercícios de Aplicação
Assinale a forma correta:
1) Assistimos o/ ao jogo na casa de uma amiga. Festejamos a derrota do
Palmeiras, que implicou em sua/ na sua/ sua desclassificação da Copa do Brasil.
2) O caixa visou o/ ao cheque com o qual João pagou a primeira parcela do carro
que comprou à/ a/ ao crédito.
3) O garçom lhe/ o informa que não servem cafezinho nas mesas.
4) Joaninha visava a uma/ uma maior compreensão por parte de sua mãe.
5) O deputado aspirava a/ à concessão de um canal de televisão.
Complete os espaços com a preposição adequada quando for necessário.
6) O Plano Real implicou _____ redução da inflação.
7) Josefina aspirava ______ cargo de chefe de departamento.
8) Carlos solicitou ______ diretor o cancelamento de sua matrícula.
9) Paulo ansiava ______ sair com Josefina.
10) O guerrilheiro preferiu morrer ______ fugir como covarde.
11) As autoridades da embaixada visaram ______ passaporte.
12) É objetivo da presente solicitar ______ V. Sa. informações ______ a situação
dessa praça.
Reescreva corretamente os períodos transcritos abaixo.
13) A princesa Stéphanie de Mônaco sorri ao assistir uma corrida de carros
antigos. (Folha de S. Paulo, 21/9/96).
14) Ela ficou tão nervosa que desistiu de assistir o jogo na quadra. (Folha de S.
Paulo, 21/9/96).
15) Nunca tenho certeza que vou ganhar. (Folha de S. Paulo, 21/9/96).
18
16) O árbitro diz ter recebido telefonemas de outros juízes lhe apoiando. (Folha de
S. Paulo, 21/9/96).
17) Não penso que o fim do sistema soviético lhe surpreenderia. (Folha de S.
Paulo, 07/6/98).
Coloque o acento indicativo de crase quando for necessário:
18) Algumas pessoas foram a igreja.
19) Alguns alunos se referiram a você.
20) Nas férias, irei a bela Blumenau.
21) Ninguém encontrou a saída.
22) Comprei um terreno a prazo.
23) Paguei o carro a vista.
24) Esta avenida é paralela a rua.
25) Não direi nada a Vossa Excelência.
26) A mulher fez elogios as filhas.
27) Envio esta mensagem a Vossa Senhoria.
28) A decoração era a Luís XV.
29) Amanhã iremos a uma festa.
30) Vamos assistir a novela das oito.
31) Todos disseram bom dia a senhorita que lhes cruzou a frente.
COLOCAÇÃO PRONOMINAL
18. PRONOMES PESSOAIS:
Retos Oblíquos Átonos Oblíquos Tônicos
Singular
Eu Me Mim, comigo
Tu Te Ti, contigo
Ele, ela Se, lhe, o, a Si, consigo
Plural
Nós Nos Conosco
Vós Vos Convosco
Eles, elas Se, lhes, os, as Si, consigo
18.1. PRONOMES PESSOAIS ÁTONOS:
Incorporam-se foneticamente ao verbo, formando com este uma só palavra.
Segundo sua posição junto ao verbo podem ser:
a) PROCLÍTICOS: quando antepostos ao verbo. Exemplo: Não a louvo.
b) MESOCLÍTICOS: quando intercalados no verbo. Exemplo: Dar-te-ei tudo.
c) ENCLÍTICOS: quando pospostos ao verbo. Exemplo: Acompanhe-o.
19
18.2. A PRÓCLISE é usada:
a) Quando o verbo vier precedido de palavra ou expressão de sentido negativo,
tais como: não, nunca, nem, nenhum, ninguém, de modo algum, em hipótese
alguma etc.
Não o maltrates. Ninguém lhe resiste. Nada a perturba.
b) Se o verbo vier precedido de pronomes relativos, tais como: quem, qual, que,
cujo, onde, quanto.
Sonhos que se vão.
c) Pronomes indefinidos, tais como: alguém, quem, algum, diversos, qualquer,
cada qual, algum outro, quem quer que etc.
Todos me invejam, porque elas me perseguem.
d) Conjunções subordinativas, tais como: quando, se, como, porque, que,
enquanto, embora, logo que etc.
Há pessoas que nos querem bem. Embora se canse, vai sempre a pé.
e) Advérbios: talvez, ontem, aqui, ali, agora, pouco a pouco, de vez em quando, de
súbito, sempre, bem, onde.
Sempre me lembro dele. Aqui se trabalha. De vez em quando nos chamavam.
f) Nas orações exclamativas cujo sujeito estiver anteposto ao verbo.
Deus o guarde! A terra lhe seja leve!
g) Nas orações exclamativas iniciadas por palavra ou expressão exclamativa.
Como te iludes! Quanto nos custa dizer a verdade!
h) Nas orações interrogativas iniciadas por uma palavra interrogativa.
Quando me visitas? Quem se apresenta?
18.3. A MESÓCLISE é usada:
a) A intercalação dos pronomes átonos dá-se exclusivamente no FUTURO DO
PRESENTE e no FUTURO DO PRETÉRITO, desde que antes do verbo não haja,
na oração principal, palavra que exija a próclise.
Seu pai far-me-ia um favor, se me ajudasse a educá-la.
b) Em caso algum se haverá de pospor o pronome átono ao FUTURO DO
INDICATIVO.
Direi-lhe a verdade. (errado)
Dir-lhe-ei a verdade. (certo)
Aprontariam-se depressa. (errado)
Aprontar-se-iam depressa. (certo)
Observação: Havendo fator de Próclise, esta prevalece mesmo que o verbo esteja
no futuro.
Não nos entregarão o prêmio a que fizemos jus.
Ninguém a ajudaria, pois ela era grosseira com todos.
18.4. A ÊNCLISE é usada:
a) No verbo que inicia o período, não sendo este verbo forma do futuro.
Encostou-se à porta e acendeu o charuto.
b) Com o verbo no gerúndio, não regido da preposição “em”.
Saiu, deixando-me à porta da escola.
20
Observação: se o gerúndio vier regido da preposição “em” ou modificado por um
advérbio, terá lugar a Próclise.
Em se tratando de caso urgente, nada o retinha em casa.
Não o encontrando ali, voltou triste.
c) Nas orações imperativas afirmativas.
Procure suas colegas e convide-as para o jantar.
d) Nas orações coordenadas.
Vocês estudam ou divertem-se.
19. O Pronome SE
Pode ser:
a) Pronome reflexivo.
Forma os verbos reflexivos, nos quais os efeitos da ação verbal recaem sobre o
sujeito operante. Exemplos:
O caçador feriu-se.
O condenado suicidou-se.
b) Pronome apassivador.
Apassiva o verbo e torna o sujeito paciente. Nesse caso apenas poderá ser
empregado junto a verbo transitivo direto. O objeto direto da voz ativa será
convertido em sujeito paciente (o sujeito que sofre o efeito da ação verbal na voz
passiva). Há dois tipos de voz passiva:
- Voz Passiva Pronominal: Verbo Transitivo Direto + SE
Alugam-se quartos.
Maltrataram-se os presos.
Temia-se a conseqüência.
- Voz Passiva Analítica: Verbo Auxiliar + Particípio do Verbo Apassivado
Quartos são alugados.
Os presos foram maltratados.
A conseqüência era temida.
Observação: nos exemplos citados acima, se as orações forem escritas na voz
ativa o sujeito será sempre indeterminado. No caso de o sujeito da voz ativa ser
determinado, será mais adequada a construção da oração na voz passiva
analítica. Nesse caso, o sujeito ativo irá se transformar no agente da passiva e o
objeto direto da voz ativa será o sujeito paciente (o sujeito que sofre o efeito da
ação verbal).
Voz Ativa: O corretor vende casas.
Voz Passiva Analítica: Casas são vendidas pelo corretor.
c) Índice de Indeterminação do Sujeito.
Quando o pronome SE acompanha verbos intransitivos, transitivos indiretos ou de
ligação, cabendo-lhe a função de tornar vaga ou indeterminada a idéia do sujeito.
O verbo fica, sempre, na terceira pessoa do singular.
Precisa-se de operários. (SE + verbo transitivo indireto)
Aqui se está sempre doente. (SE + verbo de ligação)
21
Trabalha-se com prazer. (SE + verbo intransitivo)
d) Parte integrante de verbos que exprimem sentimentos, mudança de
estado, movimento, como queixar-se, arrepender-se, alegrar-se, lembrar-se,
afastar-se, converter-se etc.
20. PRONOMES DE TRATAMENTO
São empregados no trato com as pessoas, ou familiarmente ou
respeitosamente. De acordo com a pessoa a quem nos dirigimos empregamos as
expressões de tratamento que seguem:
Vossa Santidade (V.S.), para o Papa.
Vossa Majestade (V.M.), Vossas Majestades (VV. MM.), para reis ou rainhas.
Vossa Alteza (V.A.), Vossas Altezas (VV. AA.), para príncipes ou princesas.
Vossa Eminência (V. Ema.), Vossas Eminências (V. Emas.), para cardeais.
Vossa Magnificência, para reitor de universidade.
Vossa Reverendíssima (V. Revma.), Vossas Reverendíssimas (V. Revmas.), para
sacerdotes e outras autoridades religiosas do mesmo nível.
Vossa Excelência (V. Exa.), Vossas Excelências (V. Exas.), para altas
autoridades.
Vossa Senhoria (V. Sa.), Vossas Senhorias (V. Sas.), para oficiais, funcionários
graduados e, principalmente, na linguagem comercial.
Observações:
- Embora os pronomes de tratamento se refiram à segunda pessoa do discurso,
exigem o verbo na terceira.
Vossa Majestade dá licença?
- O possessivo “Vossa” deverá ser substituído por “Sua”, quando a expressão de
tratamento se referir à terceira pessoa (assunto).
“Pergunta-me V. Eminência se Sua Majestade, o rei Luís, esteve hoje em palácio.
Confesso que não tenho a honra de ver Sua Majestade há pelo menos cinco
dias...”
21. PRONOMES POSSESSIVOS
São aqueles que indicam posse com relação às três pessoas do discurso:
1ª pessoa do sing.: meu, minha, meus, minhas.
2ª pessoa do sing.: teu, tua, teus, tuas.
3ª pessoa do sing.: seu, sua, seus, suas.
1ª pessoa do plural: nosso, nossa, nossos, nossas.
2ª pessoa do plural: vosso, vossa, vossos, vossas.
3ª pessoa do plural: seu, sua, seus, suas.
22. PRONOMES DEMONSTRATIVOS
São aqueles que indicam o lugar ou a posição dos seres com relação às
três pessoas do discurso.
22
a) ESTE, ESTA, ISTO devem ser empregados com referência ao que está no
âmbito da pessoa que fala (eu ou nós). Relacionam-se com o advérbio “aqui” e
com os possessivos “meu(s)”, “minha(s)”, “nosso(s)”, “nossa(s)”.
Este meu bigode, como me tem criado problemas.
Isto aqui, vejam bem, vai desaparecer de minhas mãos.
Observação: são empregados este, esta, isto quando apontamos o que se vai
dizer imediatamente depois. Por essa razão, no começo de uma carta escreve-se:
“Espero que estas linhas o encontrem gozando de paz e saúde...”
b) ESSE, ESSA, ISSO empregam-se com relação ao que está no âmbito da
pessoa com quem se fala (tu, vós ou você, vocês). Relacionam-se com o advérbio
“aí” e com os possessivos “teu(s)”, “tua(s)”, “vosso(s)”, “vossa(s)” e “seu(s)” (= de
você(s)), “sua(s)” (= de você(s)).
Esse chapéu não cabe em tua cabeça, ó Manuel!
Essa papelada aí sobre sua escrivaninha, para que serve?
Observação: Empregam-se esse, essa, isso quando apontamos o que se acabou
imediatamente de dizer. Por essa razão, ao final de uma carta escreve-se:
“Despeço-me, desejando que essas palavras encontrem acolhida por parte de V.
Sa.”.
c) AQUELE, AQUELA, AQUILO devem ser empregados com referência ao que
está no âmbito da pessoa ou da coisa de quem ou de que se fala (ele(s) ou
ela(s)). Relacionam-se com o advérbio “lá” e com os possessivos “seu(s)” (=
dele(s)), “sua(s)” (= dela(s)).
Aqueles prédios, lá ao longe, pertencem ao Sérgio Naya?
Conheces aquilo que ele mostrou?
Observação: numa enumeração, referimo-nos ao elemento mais próximo com
este, esta, isto; e ao anterior com aquele, aquela, aquilo.
Escrevi um romance e uma gramática: esta, há pouco tempo; aquele, em minha
juventude.
23. PRONOMES INDEFINIDOS
São os que se referem à 3ª pessoa do discurso, apontando-a num sentido
vago ou expressando quantidade indeterminada.
Exemplos: alguém, ninguém, algo, outrem, quem, tudo, nada, qualquer, todo,
demais, nenhum, vários, mais etc.
Locuções pronominais: cada qual, cada um, quem quer que, seja quem for, a
gente, qualquer um etc.
24. PRONOMES RELATIVOS
São os que representam nomes já mencionados anteriormente (tal nome se
diz “antecedente” do pronome).
Exemplos: que, quem, qual, quais, cujo, cuja, onde, quanto, quanta.
a) O pronome relativo que pode referir-se:
- a um nome de coisa:
Há palavras que machucam.
23
- a um nome de pessoa:
João é um aluno que é muito dedicado.
b) O relativo quem vem sempre regido de preposição e, na língua moderna,
refere-se exclusivamente a pessoas ou coisas personificadas:
São amiguinhas a quem quero bem.
c) Cujo (e suas flexões) é pronome adjetivo, indica posse, e equivale a do qual. O
pronome cujo não deve vir acompanhado dos artigos “o” ou “a”, mas poderá vir
antecedido de preposição.
O cavalo é um animal cujo pêlo é liso.
Ela é a garota por cujos olhos me apaixonei.
PS: As preposições são: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, per,
para, perante, por, sem, sob, sobre, trás.
d) O relativo o qual (e flexões), principalmente quando regido de preposição, pode
substituir o pronome que.
É um passado extinto e de que (ou do qual) ninguém se lembra.
Eis o magno problema por que (ou pelo qual) me bato.
Observações:
- Pela clareza, será usado o qual em vez de que, quando este vier distanciado do
seu antecedente, ensejando falsos sentidos.
Visitei o sítio de uma prima, o qual ainda não conhecia.
- Certas preposições, tais como: durante, segundo, perante etc., repelem o relativo
que, só admitindo o qual.
“Decorreram três meses, durante os quais fui à província vender parte da minha
legítima paterna.” (Camilo Castelo Branco).
25. Emprego dos pronomes pessoais EU e TU; MIM e TI.
As formas pronominais eu e tu (somente estas) não podem vir precedidas
de preposição, em função de complemento. Só podem figurar como sujeito. Como
complemento empregamos mim e ti respectivamente. Exemplos:
Entre mim e ele Entre ele e mim Entre mim e ti
Sem você e mim Sem elas e ti Perante mim e vós
Contra os alunos e mim Sobre mim e V. Sa. De alguns e mim
Observação: pode ser, entretanto, que os referidos pronomes eu e tu apareçam
como sujeitos de um verbo no infinitivo, embora antes deles exista preposição.
Não vás sem eu mandar.
O professor entregou o problema para eu examinar e apontar a solução.
Exercícios de Aplicação
Nos testes de 1 a 3 assinale a alternativa que apresenta erro de colocação
pronominal:
1)a) ( ) Deus te abençoe e te guarde, meu filho!
24
b) ( ) Quanto custou-nos renunciar!
c) ( ) Bons ventos o levem!
d) ( ) Ninguém o criticou, pois todos entenderam seu nervosismo.
e) ( ) Diante das dificuldades, retirava-se e deixava aos outros a responsabilidade
que lhe cabia.
2)a) ( ) Naquele momento, poucos mostraram-se felizes com a idéia.
b) ( ) Meu filho, lembre-se de seus deveres - disse a mãe.
c) ( ) Alguns se dirigiram à piscina, outros ao bar.
d) ( ) Quem de vocês me fará este favor?
e) ( ) Amanhã, dirigir-se-ão ao presidente para questioná-lo a respeito do novo
imposto.
3)a) ( ) Desesperado, deixou-se levar pelos conselhos irracionais.
b) ( ) Era-lhe impossível crer nas palavras alheias.
c) ( ) A moça lhe disse que não ajudá-lo-ía.
d) ( ) Em não se realizando o jogo, o tribunal decidiria a questão.
e) ( ) Muitos se predispunham a entregar-lhe o prêmio pela vitória.
4) Passe para a voz passiva:
A I.B.M. oferece empregos nesta agência.
5) Passe para a voz ativa:
Automóveis são vendidos pela Fiat.
6) Complete com este / esta, esse / essa, aquele / aquela:
João comprou um carro e uma moto: ____________ de marca Yamaha,
____________ de marca Ford.
7) Use “eu” ou “mim”:
O professor entregou o trabalho para _________. Ele disse para _________ fazêlo
sozinho.
8) Assinale a alternativa correta:
a) ( ) As pesquisas mostram a tendência do eleitorado, as quais estão mais
inseguro.
b) ( ) As pesquisas mostram a tendência do eleitorado, o qual está mais inseguro.
c) ( ) As pesquisas mostram a tendência do eleitorado, o qual estão mais
inseguras.
d) ( ) As pesquisas mostram a tendência do eleitorado, as quais está mais
inseguras.
e) ( ) As pesquisas mostram a tendência do eleitorado, o qual estão mais
inseguros.
Corrija, quando necessário, a colocação pronominal nas frases abaixo:
9) Me desculpei pela falta quando vi-o no corredor.
25
10) Me sinto bem quando encontro-a em meu caminho.
11) Saiu, me deixando à porta do colégio.
12) Mal viam-se as luzes da cidade sob a neblina.
13) Vossa excelência deve apresentar o vosso projeto.
14) O que Vossa Excelência pensam dos que vos criticam?
Corrija, quando necessário, os pronomes utilizados nas frases abaixo:
15) Você sabe que quem te conhece, não vos esquece jamais.
16) Prezado diretor, não se esqueça de levar contigo as notas fiscais.
17) Levávamos muitos mapas com nós.
18) O chefe terá de optar entre você e eu.
Corrija, quando necessário, os pronomes relativos utilizados nas frases abaixo:
19) Existe um tipo de conflito entre pai e filho, onde o filho se espelha nas atitudes
do pai.
20) Um pobre, onde passa horas na fila de um posto de saúde.
26. CONCORDÂNCIA NOMINAL
Regra geral: o adjetivo concorda em gênero e número com o substantivo de
que depende.
Exemplos: menino esperto, meninos espertos, menina esperta, meninas espertas.
Casos particulares:
26.1. As mulheres devem dizer muito obrigada, eu mesma, eu própria.
26.2. Anexo, incluso, apenso, adjetivos, devem variar.
Remeto-lhe, anexa, a conta.
26
Anexa, segue a conta.
Os documentos anexos devem ser arquivados.
26.3. Meio
Como adjetivo, modificando um substantivo, deve concordar: meio limão,
meia laranja, meio-dia.
Como advérbio, modificando o adjetivo, permanece invariável: a porta está
meio aberta.
Meio usado com relação a horas, formas corretas: é meio-dia; é meio-dia e
vinte; é meia-noite e meia.
26.4. Entrada é proibido - A entrada é proibida
Quando o sujeito do verbo “ser” é tomado em sua generalidade, sem
qualquer determinante, o adjetivo que está na função de predicativo permanece
neutro (forma do masculino).
Pimenta é bom para tempero.
Entrada é proibido.
Paciência é necessário.
Entretanto, se o substantivo, na função de sujeito, vier determinado, a
concordância do predicativo será regular.
Pimenta é bom para tempero, mas esta pimenta não é boa para nada.
A entrada é proibida.
26.5. Bastante
Quando for adjetivo é possível a sua substituição por “muitos” (caso esteja
sendo empregado no plural), faz a concordância com o substantivo ao qual está
ligado.
Há bastantes exercícios para eu fazer.
Quando for advérbio não varia, mesmo que esteja ligado a uma palavra
(verbo ou adjetivo) usado no plural; só será possível sua substituição por “muito”.
As portas estão bastante abertas.
27. CONCORDÂNCIA VERBAL
Regra geral: o verbo concorda com o sujeito em número e pessoa.
Concordar significa que o termo subordinado (o verbo) ajusta suas flexões de
número e pessoa ao número e pessoa do termo subordinante (o sujeito).
Exemplos: eu estudo, tu estudas, nós estudamos etc.
27.1. Coletivos
O coletivo é singular na forma (povo, exército, rebanho, grupo, turma etc.),
mas expressa idéia de pluralidade.
- O verbo ficará no singular se estiver junto do sujeito coletivo.
O povo aplaudia o orador.
- Se o verbo estiver distanciado do sujeito coletivo, ficará no singular ou irá para o
plural conforme se pretender destacar mais a idéia de todo (singular) ou a
27
presença dos indivíduos (plural). Gramaticalmente, as duas concordâncias são
corretas.
O grupo se afastou; mais adiante, porém, foram presos (ou foi preso).
27.2. “Quem” (pronome relativo)
O pronome relativo “quem” é de terceira pessoa do singular, mas substitui
também o antecedente que pode ter outra pessoa. Por isso, o verbo que tem
como sujeito o relativo “quem” tanto pode ficar na 3ª pessoa do singular, como
concordar com a pessoa do antecedente.
Agora sou eu quem fala (ou quem falo).
27.3. “Que” (pronome relativo)
Se o sujeito é o pronome relativo “que”, o verbo concorda com o
antecedente do relativo.
Fui eu que falei a verdade.
Não fui eu que fiz.
27.4. Verbo HAVER (pessoal)
“Haver”, empregado pessoalmente, ou seja, com sujeito, tem vários
sentidos:
a) Ter, possuir.
Embora houvesse numerosa família, ainda sustentava cinco cães famintos.
b) Alcançar, obter.
Talvez não tenhamos havido classificação suficiente para a aprovação.
c) Portar-se, proceder.
No jantar, o garoto se houve com muito pouca discrição.
d) Avir-se, entender-se.
Talvez ele ainda tenha de haver-se comigo; aí ajustaremos as contas.
e) Considerar, entender, julgar.
“Se houverdes que é fraqueza morrer em tão penoso e triste estado.” (Camões).
27.5. Verbo HAVER (impessoal)
“Haver”, empregado impessoalmente, ou seja, sem sujeito, é muito
freqüente com o sentido de “existir”. Nesse caso, o verbo haver deve ser
empregado sempre na terceira pessoa do singular.
Nas duas cabeças havia as mesmas idéias.
Há lugares. Haverá lugares. Houve lugares.
“As estradas, naquele tempo, deviam ser boas para isso, mas não tenho a certeza
de que não houvesse estradas para o Japão.” (Camilo Castelo BRANCO. Amor de
Perdição.).
Observações:
- Essa concordância restringe-se ao emprego do verbo “haver”, se empregarmos o
verbo “existir” a concordância se fará normalmente.
Quantos sonhos existiam na ingênua cabecinha.
Existem lugares.
28
- Se o verbo “haver” com o sentido de “existir” aparecer em locuções verbais, seu
auxiliar (o primeiro verbo da locução) ficará na terceira pessoa do singular. Mas,
nas locuções verbais em que o segundo verbo é “existir”, o auxiliar concordará
regularmente.
Talvez devam existir seres estranhos em outros mundos.
Talvez deva haver seres estranhos em outros mundos.
Vão existir lugares.
Vai haver lugares.
27.6. Verbo HAVER quando indicar tempo decorrido permanece no singular, é
considerado impessoal, equivale a “faz”.
Há anos fui visitar a cidade de meus avós.
Havia três anos que não ia a Bahia.
27.7. Verbo FAZER
Esse verbo deve permanecer na terceira pessoa do singular quando se
refere a fenômenos atmosféricos ou ao tempo que passou. Torna-se um verbo
impessoal, isto é, sem sujeito. E quando impessoal, o verbo “fazer” transmite aos
auxiliares (nas locuções) sua impessoalidade. Daí os auxiliares devem
permanecer na terceira pessoa do singular.
Faz dez anos que moro aqui.
Faz belas manhãs naquela ilha.
Devia fazer dez horas que o infeliz aguardava a namorada.
Pode fazer cinco anos que não vejo João.
27.8. Verbo SER (impessoal)
Esse verbo é impessoal quando empregado em frases que se referem a
fenômenos atmosféricos ou indicam horas ou datas. Em tais casos concorda com
o complemento, ou seja, com a palavra que se anexa a ele expressando o
fenômeno ou o tempo.
Seria muito cedo. É noite escura. É uma hora. São duas horas. É um minuto para
as três. Hoje é (ou são) 18 de maio. Hoje é dia dezoito de maio.
27.9. Verbo SER (com sujeito e predicativo de números diferentes)
Há duas tendências para a concordância do verbo “ser” nesse caso:
a) Tendência mais freqüente: colocar o verbo ser no plural.
Os Estados Unidos são um povo progressista.
A vida são as lutas de todos os dias.
b) Tendência menos freqüente: usar o verbo “ser” concordando sempre com o
predicativo.
Os Estados Unidos é um povo progressista.
“Os Lusíadas” é um grande poema.
27.10. Cuidados que devem ser tomados com alguns verbos:
a) Incorreto: Se eu “ver” você por aí...
Correto: Se eu vir, revir, previr.
29
Da mesma forma: Se eu vier (de vir), convier; se eu tiver (de ter), mantiver; se eu
puser (de pôr), impuser; se ele fizer (de fazer), desfizer; se nós dissermos (de
dizer), predissermos.
b) Incorreto: Ele “intermedia” a negociação.
Mediar e intermediar conjugam-se como odiar.
Correto: Ele intermedeia (ou medeia) a negociação.
Remediar, ansiar e incendiar também seguem essa norma: Remedeiam, que eles
anseiem, eu incendeio.
c) Incorreto: Ninguém se “adequa”.
Não existem as formas “adequa”, “adeqüe” etc., mas apenas aquelas em que o
acento cai no “a” ou “o”: adequaram, adequou, adequasse etc.
Correto: Ninguém se adapta.
d) Incorreto: Evite que a bomba “expluda”.
Explodir só tem as pessoas em que depois do “d” vêm “e” e “i”: explode,
explodiram etc. Portanto, não escreva nem fale “exploda” ou “expluda”,
substituindo essas formas por rebente, por exemplo.
Correto: Evite que a bomba rebente.
e) Incorreto: Governo “reavê” confiança.
Correto: Governo recupera confiança.
“Reaver” segue haver, mas apenas nos casos em que este tem a letra “v”:
reavemos, reouve, reaverá, reouvesse. Por isso, não existem “reavejo”, “reavê”
etc.
f) Incorreto: A polícia “interviu”.
Correto: A polícia interveio.
O verbo “intevir” conjuga-se como o verbo “vir”.
Outras formas: eu venho, intervenho; eu vim, intervim; ele vem, intervém; ele veio,
interveio; nós vimos, intervimos; nós viemos, interviemos; eles vêm, intervêm; eles
vieram, intervieram.
Exercícios de Aplicação
1) Use “bastante” ou “bastantes”:
João tem _______________ discos, mas as músicas não são _______________
boas.
2) Faça a concordância verbal corretamente:
a) Os empregos indevidos da pontuação ____________ (poder) interferir no
sentido do texto.
b) Às vezes o uso inadequado de certos termos _______________ (prejudicar) a
clareza do sentido do texto.
c) Os policiais _______________ (intervir) na discussão.
30
d) “E na TV se você _________ (ver, no futuro do subjuntivo) um deputado em
pânico...” (Caetano VELOSO. “Haiti”.).
e) Perdi o meu óculos / os meus óculos.
f) O professor _______________ (intervir) no debate.
g) As pessoas ________ (ter) o costume de buscar soluções fáceis.
h) Reunimos duas pessoas ________ (haver) tempos distantes.
i) Não vamos a nossa cidade natal ________ (haver) cerca de oito anos.
3) O verso abaixo apresenta erro de Português? Justifique sua resposta.
Até parece que só existe ele e você.
4) Faça corretamente a concordância:
a) Popular são os outros.
b) Graças a Deus não vai ser eu quem vai mudar.
c) Não foi eu que fez.
5) Diga se as concordâncias verbais abaixo estão corretas ou incorretas e
justifique:
a) Consertam-se fogões.
b) Vende-se roupas.
c) Precisam-se de operários.
d) Assiste-se a novelas aqui em casa.
e) Antes do jogo, observaram-se cinco minutos de silêncio.
f) Compra-se carros.
g) Vende-se apartamento.
h) Alugam-se imóveis na praia.
i) Confiavam-se nos alunos.
31
j) Assistem-se a filmes.
k) Procura-se vendedores experientes.
6) Corrija as concordâncias nominais e verbais se forem necessárias, como
também os pronomes relativos:
a) Maria disse a João:
_ Muito obrigado por haver enviado os recibos anexo ao relatório.
João lhe respondeu:
_ Obrigado você, que sempre se adequa tão bem às necessidades da empresa.
b) Já é meio-dia e meio e eles ainda não vieram. Devem haver muitas ruas
congestionadas.
c) Foi uma longa conversa com a imprensa, onde o presidente disse que não vão
haver reajustes nos preços das tarifas públicas.
d) Nesta época do ano fazem belas tardes ensolaradas. Já é sete horas e ainda
está tão claro. Penso que já faziam cinco anos que eu não vinha à Bahia.
28. REGRAS DE PONTUAÇÃO
28.1. ASPAS
a) Usadas nas transcrições ou citações de frases alheias.
b) Para realçar títulos de obras ou publicações.
c) Para realçar palavras estrangeiras ou gírias.
28.2. DOIS PONTOS
a) Usados para anunciar uma citação.
b) Para indicar uma enumeração.
c) Para discriminar partes de um todo ou de uma série.
Há vários cômodos em uma casa: sala, quarto, cozinha, banheiro, escritório etc.
28.3. PONTO
É usado para encerrar frase.
28.4. PONTO E VÍRGULA
O ponto e vírgula denota sempre uma separação mais ampla que a vírgula,
mas não a ponto de encerrar o período.
a) É empregado entre orações coordenadas que poderiam figurar em períodos
separados, mas que convêm deixar no mesmo período por manterem unidade de
32
sentido, ou por terem diversos aspectos em comum (o mesmo verbo, o mesmo
sujeito, o mesmo esquema estrutural etc.).
Sem virtude, perece a democracia; o que mantém o governo despótico ou tirânico
é o medo; e a honra seria o substrato do princípio monárquico.
b) É empregado para separar enumerações longas dentro das quais existam
vírgulas.
Os velhos, revivendo dias da mocidade; os jovens, cuja índole os inclina às
diversões; e até os doentes, esquecidos dos seus achaques; todos pareciam
loucos de alegria.
28.5. VÍRGULA
Não se deve empregar a vírgula para separar termos que mantêm entre si
estreita ligação lógica, pois a vírgula apenas indica as separações breves de
sentido entre termos vizinhos, as inversões e as intercalações. Seria, assim, grave
erro colocá-la:
a) Entre sujeito e verbo.
Incorreto: A população que se encontra abaixo das condições mínimas de vida,
tenta descobrir novas formas de conseguir rendimentos.
Correto: A população que se encontra abaixo das condições mínimas de vida
tenta descobrir novas formas de conseguir rendimentos.
b) Entre o verbo e o complemento verbal (objeto direto ou objeto indireto).
Incorreto: O programa de renda mínima garante, condições de vida para a
população carente.
Correto: O programa de renda mínima garante condições de vida para a
população carente.
c) Entre o substantivo e o adjunto adnominal.
Incorreto: O primeiro, carro elétrico foi construído em 1970.
Observação: adjunto adnominal é o termo que modifica o sentido de um
substantivo.
d) Como norma geral, não empregamos vírgula antes da conjunção aditiva “e”.
Exemplo: Maria estudou e fez esplêndidos exames.
A vírgula deve ser empregada para separar:
a) Vocativo.
Maria, por favor, traga os relatórios.
b) Aposto.
Sartre, o maior filósofo francês do século XX, é autor de vários romances e peças
de teatro.
c) Adjunto Adverbial ou expressão circunstancial quando estão na ordem inversa
ou ficam entre dois verbos.
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No final do ano passado, em jantar de confraternização, conversamos com o
gerente sobre a necessidade de remanejar pessoal para nossa filial em Manaus.
Pudemos, finalmente, deixar aquela casa.
d) Elipse de verbo.
“Finalmente, vão os bons para o céu e os maus, para o inferno.” (Padre Vieira).
e) Expressões e palavras corretivas, explicativas, escusativas, que, por virem
sempre intercaladas, devem ser colocadas entre vírgulas. Tais como: isto é, por
exemplo, ou melhor, digo, ou seja, aliás etc.
Casamos, isto é, juntamos nossos sofrimentos.
f) Intercalações, por cortarem o que está logicamente ligado, devem ser
obrigatoriamente colocadas entre vírgulas.
Não o direi, pensei comigo, a ninguém.
Mariana, ainda que submissa, não quis desta vez obedecer.
g) No período, empregamos vírgula entre as orações coordenadas assindéticas.
O palestrante calou-se, dobraram-se as pastas, voltamos para casa finalmente.
h) As conjunções coordenativas devem ser colocadas entre vírgulas quando
intercaladas. Tais como: mas, porém, contudo, entretanto, não obstante, todavia,
portanto etc.
O governo liberou as verbas, os trabalhos, porém, não prosseguiram.
i) Nas datas, o nome do lugar.
Campinas, 14 de janeiro de 2006.
j) A palavra POIS, há dois casos:
- Como conjunção explicativa: emprega-se a vírgula apenas antes.
Regra geral: nesse caso, é possível substituir “pois” por “porque”.
O exame era difícil, pois nem sequer havíamos estudado.
- Como conjunção conclusiva: o “pois” fica entre vírgulas.
Regra geral: nesse caso é possível substituir “pois” por “portanto”.
Está doente, não podendo, pois, viajar.
Exercícios de aplicação:
1) Reescreva o período utilizando adequadamente a pontuação:
João Havelange, é presidente da Fifa há seis mandatos recorde absoluto na
entidade ele não descarta uma nova reeleição.
2) Pontue o seguinte texto:
O diretor de Recursos Humanos da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
declarou que não haverá demissões em massa neste mês.
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3) Imagine que um soldado, prestes a ir para a guerra, recebeu o seguinte
telegrama:
Irás Voltarás
Não Morrerás
Como ele poderia ser pontuado?
4) Pontue adequadamente os períodos abaixo:
a) Ultimamente o melhor programa humorístico do país tem o sido o jornal nosso
de cada dia isto é o próprio dia-a-dia.
b) O gerente de vendas das Casas Pernambucanas será transferido de seção não
poderá pois assumir esse compromisso.
c) As crianças viajarão hoje os adultos amanhã.
d) Natal capital do Rio Grande do Norte é uma linda cidade.
5) Ordene as frases abaixo e transforme-as num único período, usando a
pontuação adequadamente.
a) A situação estava mais calma. Porém as pessoas continuavam assustadas.
b) Quando nossa situação ficou difícil. Eles nos abandonaram.
c) Conforme combinamos. A viagem será no segundo semestre.
d) A imagem introduz um novo elemento de persuasão. Conseguindo atingir
pessoas de qualquer nível. Quando bem trabalhada. Num outdoor.
e) Dezenas de profissionais já trabalharam um sem-número de horas. Quando a
notícia chega até nós. Seja pela televisão, rádio ou jornal.
f) As pessoas ficam meio perdidas. E digo que sou RP (relações-públicas). Como
se estivessem diante de um extraterrestre. Quando me perguntam o que faço.
SEGUNDA PARTE
29. COMPREENSÂO DE TEXTO: PALAVRAS-CHAVE E IDÉIAS-CHAVE
As Palavras-chave
Ninguém chega à escrita sem antes ter passado pela leitura. Ler é
compreender a forma como está tecido o texto. Ultrapassar sua superfície e inferir
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da leitura seu sentido maior, que muitas vezes passa despercebido a uma grande
maioria de leitores. Leitura e escrita complementam-se. Lendo textos bem
estruturados, podemos apreender os procedimentos lingüísticos necessários a
uma boa redação.
Numa primeira leitura, temos sempre uma noção muito vaga do que o autor
quis dizer. Uma leitura bem feita é aquela capaz de depreender de um texto ou de
um livro a informação essencial. Uma boa estratégia é buscar as palavras mais
importantes de cada parágrafo. Elas constituirão as palavras-chave do texto, em
torno das quais as outras se organizam e criam um intercâmbio de significação
para produzirem sentidos. Elas constituem o alicerce do texto. A tarefa do leitor é
detectá-las, a fim de realizar uma leitura capaz de dar conta da totalidade do texto.
Por adquirir tal importância na arquitetura textual, as palavras-chave
normalmente aparecem ao longo de todo o texto das mais variadas formas:
repetidas, modificadas, retomadas por sinônimos. Elas pavimentam o caminho da
leitura, levando-nos a compreender melhor o texto. Além disso, fornecem a pista
para uma leitura reconstrutiva porque nos levam à essência da informação.
As Idéias-chave
Muitas vezes temos dificuldades para chegar à síntese de um texto só pelas
palavras-chave. Quando isso acontece, a melhor solução é buscar suas
idéiaschave.
Elas podem ser encontradas em cada parágrafo ou em um conjunto de
parágrafos (quando tratam de um mesmo tópico). Nem sempre encontramos “uma
frase pronta” no texto que expresse a idéia-chave. Nesse caso, dependerá da
capacidade de síntese do leitor expressá-la a partir da compreensão de cada
fragmento (parágrafo ou conjunto de parágrafos) de texto.
Exercício:
Leia atentamente o texto transcrito a seguir, “É possível estar mal e pensar
direito?”, de Contardo Calligaris. Procure reconhecer suas palavras-chave, a
idéia-chave de cada parágrafo, perceba também a estratégia argumentativa do
autor.
É POSSÍVEL ESTAR MAL E PENSAR DIREITO?
Contardo Calligaris
Uma das questões mais interessantes da psicologia das últimas décadas é
a seguinte: em que medida o sofrimento psíquico de um sujeito deve ser
relacionado com um defeito de sua percepção e de seu entendimento do mundo?
Obviamente, a pergunta é relevante só quando o sofrimento é uma condição
severa e duradoura.
Tomemos, por exemplo, a depressão, um estado patológico que, em
princípio, não nos torna delirantes nem alucinados. “Ser” depressivo
(diferentemente de “estar” deprimido) significa passar ao longo da vida, por vários
episódios de depressão profunda e sofrer de uma constante dificuldade em
encontrar a vontade de viver.
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Pois bem, será que ser depressivo implica (como causa ou como efeito) um
erro de percepção e de pensamento? Qualquer terapeuta gostaria que fosse
assim: bastaria corrigir o erro e, com isso, quem sabe a depressão fosse “curada”.
Se você é depressivo e enxerga o mundo como a brincadeira sádica de um deus
maléfico, talvez você seja vítima dessa visão “errada”. Ao corrigi-la com as
palavras certas, a gente transformaria seu humor de vez, faria de você outra
pessoa. Mas sobra a pergunta: será mesmo que, por você ser depressivo, sua
percepção do mundo está errada?
Em 1979, foi publicada uma experiência (Abramson e Alloy, “Journal of
Experimental Psychology”, vol. 108, nº 4), na qual dois grupos de sujeitos (os
deprimidos e os “saudáveis”) deviam descobrir se suas ações tinham ou não
alguma influência sobre uma lâmpada que, de fato, se acendia e apagava ao
acaso. Os não-deprimidos, apesar dos desacertos, concluíram que suas ações
eram eficazes. Os deprimidos concluíram (corretamente) que suas ações não
tinham eficácia nenhuma e que não havia como fazer a cabeça da maldita
lâmpada.
Para alguns críticos, a experiência demonstrava apenas o pessimismo dos
deprimidos. Mas resta que, no caso, a conclusão dos deprimidos foi certeira;
portanto caberia salientar o extravagante otimismo que extraviou os não
deprimidos
e constatar o realismo dos deprimidos. Aliás, a questão levantada pela
experiência de 79 entrou para a história da psicologia como problema do “realismo
depressivo” (há novas experiências publicadas no recente vol. 134 do “Journal of
Experimental Psychology”).
O interesse desse debate não é só clínico. Acaba de sair um livro
imperdível, “Lincoln’s Melancholy: How Depression Challenged a Presidente and
Fueled His Greatness” ( a melancolia de Lincoln: como a depressão desafiou um
presidente e alimentou sua grandeza), de Joshua Wolf Shenk.
Shenk se baseia nos relatos dos que foram próximos de Abraham Lincoln
para confirmar que ele foi clinicamente deprimido durante a vida toda. Logo, o
autor se pergunta se essa depressão grave e crônica constituiu um impedimento
ou se, ao contrário, foi uma vantagem na conduta do presidente americano
durante a Guerra de Secessão.
Ora, Shenk argumenta de maneira convincente que a depressão de Lincoln
foi responsável por suas qualidades de estadistas. A seguir, alguns exemplos:
a) A depressão clínica é sempre acompanhada por um intenso
processo de pensamento: reavaliação contínua da realidade, dúvidas
sobre a ação certa, exame constante de consciência e por aí vai. Esse
processo leva o sujeito a um conhecimento especial das contradições de
sua própria alma e da dos outros. Na vida pública, isso permite negociar
sem desprezo pela parte adversa.
b) O deprimido que ultrapassa suas crises sem sucumbir tem, em
regra, a coragem e a capacidade de encontrar motivações sem recorrer
a grandes princípios ( o que pediria um entusiasmo que é impossível na
depressão). Lincoln, embora convencido de que a abolição da
escravatura fosse moralmente correta, nunca invocou a certeza de que
Deus estaria do seu lado, mas alegava (inclusive por escrito) que,
quanto a Deus, cada lado podia considerá-lo como seu aliado. É umaoutra
qualidade crucial pela vida pública, a não ser que a gente prefira
entregar as rédeas do governo a iluminados e fundamentalistas.
c) A adversidade, para o deprimido, é, por assim dizer, natural (nada
existe sem antagonismo). Deparar-se com oposição e derrota é, para
ele, uma travessia normal. O resultado é a perseverança.
Recentemente, uma psiquiatra (Kay Redfield Jamison, “Touched with Fire:
Manic Depressive Illness and the Artistic Temperament”, tocados pelo fogo: a
doença maníaco-depressiva e o temperamento artístico) mostrou que uma cura
apressada da depressão nos privaria de inúmeros talentos artísticos e literários.
Shenk estende o mesmo princípio a uma figura política; ele mostra que, no caso
de Lincoln, a depressão não foi “uma falha de caráter que desqualificaria a
liderança de um sujeito”. Longe de comprometer o pensamento e as decisões do
presidente, ela foi o traço de caráter que fez dele o estadista lúcido e necessário
num momento sombrio da história do país.
Em suma, muitas aventuras dolorosas da mente são partes da
subjetividade de quem sofre e, às vezes, partes irrenunciáveis, cuja “cura” deixaria
o mundo mais pobre e mais estúpido.
(in: Ilustrada, Folha de S. Paulo, 29/09/2005)
30. NÍVEIS DE LINGUAGEM
Quem determina as transformações lingüísticas é o conjunto de usuários,
independentemente de quem sejam eles, estejam escrevendo ou falando,uma vez
que tanto a língua escrita quanto a oral apresentam variações condicionadas por
diversos fatores: regionais, sociais, intelectuais etc.
A língua escrita obedece a normas gramaticais e será sempre diferente da
língua oral, mais espontânea, solta, livre, visto que acompanhada de mímica e
entonação, que preenchem importantes papéis significativos. Mais sujeita a falhas,
a linguagem empregada coloquialmente difere substancialmente do padrão culto,
o que, segundo alguns lingüistas, criou no Brasil um abismo quase intransponível
para os usuários da língua, pois se expressar em português com clareza e
correção é uma das maiores dificuldades dos brasileiros.
Os níveis de linguagem são:
a) A linguagem popular ou coloquial: É aquela usada espontaneamente
pelo povo. Quase sempre é rebelde às normas gramaticais e carregada de
vícios de linguagem (erros de regência e concordância, grafia e flexão;
ambigüidade, cacofonia; pleonasmos viciosos), expressões vulgares e
gírias ( A gíria não é um nível de linguagem, não é linguagem popular, mas
um estilo que se integra à língua popular. Nem todos que se exprimem
através de linguagem popular usam gírias. A gíria relaciona-se ao cotidiano
de certos grupos sociais. Ela pode acabar incorporada pela língua oficial,
permanecer no vocabulário ou cair em desuso.
b) A linguagem culta ou padrão culto: É aquela ensinada nas escolas e
serve de veículo às ciências. É usada pelas pessoas instruídas das
diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediência às normas
gramaticais.
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c) A linguagem vulgar: É aquela ligada aos grupos extremamente
incultos, aos analfabetos, aos que têm pouco contato com os centros
civilizados. Ex: “nóis vai, ele fica”; “eu di um beijo nela”; “Vamo i no
mercado”.
d) A linguagem regional: regionalismos ou falares locais são variações
geográficas do uso da língua padrão. Ex: falares amazônico, nordestino,
fluminense, mineiro, sulino.
Exercícios:
1)Assinale a alternativa em que o emprego da palavra nível é adequado do
ponto da norma culta da língua.
a) A nível de partido esta será a decisão mais adequada.
b) Nunca se viu tanta exploração política a nível de televisão brasileira.
c) Há pessoas que apreciam mais o clima de cidades que se situam ao
nível do mar.
d) Este aparelho a nível de à vista compensa muito mais do que a nível
de a prazo.
e) Ao nível da Justiça, fraudar eleições é mais grave, do que roubar
caminhões.
2)Assinale a única alternativa que segue os padrões da norma culta.
a) “Alguns eu não me lembro. Graças a Deus tenho problemas de
memória” (Monique Evans)
b) “Há muito tempo, mas muito tempo mesmo, durante dois anos, eu fiz
o trajeto Rio-São Paulo”. (Xênia)
c) “Fornecemos a energia que as pessoas precisam para viver melhor.
(Texto publicitário)
d) “É proibido pisar na grama”. (Cartaz em praça pública)
e) “O Felipe deixou ele ficar comigo”. (Vera Fischer)
31. COESÃO TEXTUAL
Quando escrevemos um texto, uma das maiores preocupações é como
amarrar a frase seguinte à anterior. Isso só é possível se dominarmos os
princípios básicos de coesão. A cada frase enunciada devemos ver se ela mantém
um vínculo com a anterior ou anteriores para não perdermos o fio do pensamento.
De outra forma, teremos uma seqüência de frases sem sentido, sucedendo-se
umas às outras sem muita coerência.
A coesão, no entanto, não é só esse processo de olhar constantemente
para trás. É também o de olhar para adiante. Um termo pode esclarecer-se
somente na frase seguinte. Se minha frase inicial for Maria tinha um sonho, estou
criando um movimento para adiante. Só vamos saber de que sonho se trata na
frase seguinte: Ele queria abrir uma empresa na área de turismo.
Mas não basta costurar uma frase a outra para dizer que estamos
escrevendo bem. Além da coesão, é preciso pensar na coerência. É possível
escrever um texto coeso sem ser coerente. Por exemplo:
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Os problemas de um povo têm de ser resolvidos pelo presidente. Este deve
ter ideais muito elevados. Esses ideais se concretizarão durante a vigência de seu
mandato. O seu mandato deve ser respeitado por todos.
Não faltam elementos coesivos nesse parágrafo. Mas qual é a idéia-chave
da qual ele trata?
Alguns recursos de coesão:
a) Epítetos
São palavras ou frases que qualificam pessoas ou coisas.
Glauber Rocha fez filmes memoráveis. Pena que o cineasta mais famoso do
cinema brasileiro tenha morrido tão cedo.
b) Termo-síntese
O país é cheio de entraves burocráticos. É preciso preencher um sem-número de
papéis. Depois, pagar uma infinidade de taxas. Todas essas limitações acabam
prejudicando o importador.
A palavra limitações sintetiza o que foi dito antes.
c) Pronomes
Vitaminas fazem bem à saúde. Mas não devemos tomá-las ao acaso.
O colégio é um dos melhores da cidade. Seus dirigentes se preocupam muito com
a educação integral.
Há uma grande diferença entre Paulo e Maurício. Este guarda rancor de todos,
enquanto aquele tende a perdoar.
d) Advérbios pronominais (aqui, ali, lá, aí)
Não podíamos deixar de ir ao Louvre. Lá está a obra-prima de Leonardo da Vinci:
a “Monalisa”.
e) Elipse
O ministro foi o primeiro a chegar. Abriu a sessão às oito em ponto e fez então seu
discurso.
f) Repetição do nome próprio ou parte dele
Manuel da Silva Peixoto foi um dos ganhadores do maior prêmio da Loto. Peixoto
disse que ia gastar todo o dinheiro na compra de uma fazenda e em viagens ao
exterior.
g) Associação
Uma palavra retoma a outra porque mantém com ela, em determinado contexto,
vínculos precisos de significação.
São Paulo é sempre vítima das enchentes de verão. Os alagamentos prejudicam o
trânsito, provocando engarrafamentos de até 200 quilômetros.
Recomendações para garantir a coesão textual
1) Estruture o texto numa seqüência lógica.
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2) Estabeleça relações entre frases e entre os parágrafos.
3) Faça uma revisão do texto: se houver necessidade, reescreva suas partes,
altere suas posições para tornar o conjunto inteligível.
4) Ao fazer a revisão de seu texto, tente se colocar na posição de seus possíveis
leitores, observe se a expressão de suas idéias está clara, de fácil compreensão,
para o outro.
Faça uma reflexão sobre este pensamento de Millôr Fernandes, tente
aplicá-lo ao redigir seus textos:
“Pra escrever bem não é preciso muitas palavras, só saber como combinálas.
Pense no xadrez.”
Exercícios de aplicação:
1) Identifique nos textos a seguir todos os termos que retomam as palavras em
itálico:
Em outubro de 1839 Paris ainda possuía a mesma mística embriagadora
que Chopin experimentara ao chegar lá em setembro de 1831. A ausência de 11
meses só servira para aumentar seu apaixonado fascínio pela magnífica
metrópole espraiada ao longo das sinuosas margens do Sena. Paris havia-se
tornado a amante de Chopin muito antes de ele conhecer Mme. Sand e durante
vários anos subseqüentes suas afeições ficariam divididas entre as duas. Ambas o
adoravam, do mesmo modo que eram, por sua vez, cultuadas por ele, e ambas
eram essenciais à sua existência. Com a saúde debilitada, o jovem músico não
podia sobreviver ao estímulo de uma sem o amparo da outra.
2) Identifique no texto a seguir todos os termos que retomam as palavras em
itálico:
Um antigo morador de São Cristóvão contava que, na mocidade, viajara
diariamente, na barca que fazia o trajeto entre aquela praia e o cais Pharoux, ou
dos Franceses, como então se dizia, com um adolescente aparentando treze ou
quatorze anos, magrinho, modesta mas limpamente vestido.
A barca vinha cedo para a cidade e voltava à tarde, conduzindo sempre os
mesmos passageiros, gente que tinha emprego no centro. Como era natural,
camaradagem se estabeleceu entre esses companheiros diários, todos
conversavam para matar o tempo. Só o mocinho magro, sempre com um livro na
mão, nunca dirigiu a palavra a ninguém. Mal se sentava, logo afundava na leitura
e assim ia e voltava, parecendo ignorar os que o cercavam, sem levantar os olhos
do livro, indiferente aos espetáculos da viagem, à beleza da baía, às embarcações
que encontravam. Era Machado de Assis.
Afinal, a única informação segura, clara, que nos chega sobre o princípio da
adolescência de Joaquim Maria é essa imagem. Com certeza, só sabemos que ia
todas as manhãs, bem cedo, do seu bairro para o centro urbano.
(Lúcia Miguel Pereira)
3) Utilizando os recursos de coesão, substitua os elementos repetidos quando
necessário:
41
Todos ficam sempre atentos quando se fala de mais um casamento de
Elizabeth Taylor. Casadoura inveterada, Elizabeth Taylor já está em seu oitavo
casamento. Agora, diferentemente das vezes anteriores, o casamento de
Elizabeth Taylor foi com um homem do povo que Elizabeth Taylor encontrou em
uma clínica para tratamento de alcoólatras, onde ela também estava. Com toda
pompa, o casamento foi realizado na casa do cantor Michael Jackson e a
imprensa ficou proibida de assistir ao casamento de Elizabeth Taylor com um
homem do povo. Ninguém sabe se será o último casamento de Elizabeth Taylor.
4) Leia os textos a seguir e escreva os termos retomados pelas palavras em
itálico. Distribua-os em duas colunas: coesão dentro da frase e coesão entre as
frases.
Um gel desenvolvido por cientistas americanos para ajudar a cicatrização
de ferimentos profundos e queimaduras graves representará o primeiro resultado
comercialmente visível de uma nova geração de medicamentos. A pomada
cicatrizante, que chegará às farmácias americanas até o início do próximo ano,
será uma espécie de cola biodegradável, cuja função é juntar as células sadias em
torno do ferimento, reconstituindo os tecidos em um tempo 30% mais rápido que
qualquer outro remédio. Além disso, o gel elimina toda cicatriz. O novo
medicamento é fruto do desenvolvimento de um dos ramos mais recentes da
medicina, o que estuda a adesividade das células do corpo humano, a partir de
uma constatação óbvia: os cerca de 100 trilhões de células que formam o
organismo de uma pessoa podem ser comparados a tijolos de um edifício, que
precisam estar devidamente unidos por camadas de cimento. Se o cimento é de
má qualidade ou insuficiente, o prédio pode ruir. Da mesma forma, os cientistas
trabalham agora com a certeza de que um “cimento biológico” dá estrutura ao
corpo humano e o domínio dessa substância fará a medicina avançar a passos
largos no combate a uma série de doenças.
Coesão dentro da frase:
que (que chegará) retoma...
cuja (cuja função)...
o (o que estuda)...
que (que formam)...
que (que precisam)...
dessa substância...
Coesão entre as frases:
pomada cicatrizante retoma...
gel...
novo medicamento...
cimento...
cientistas...
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5) Justifique por que o autor do texto empregou o pronome indefinido “toda
cicatriz”, em vez de “toda a cicatriz”?
Leia o texto transcrito a seguir, “O ‘princípio esperança’ e as utopias à moda da
casa”, de Marcelo Coelho, para responder as questões seguintes:
O “PRINCÍPIO ESPERANÇA’ E AS UTOPIAS À MODA DA CASA
Marcelo Coelho
Mudar o mundo? No, thanks. Nunca mais. Sem chance. Nem pensar.
Frases curtas, de duas palavras, sem nenhuma explicação suplementar,
parecem suficientes para exprimir o estado de espírito que predomina no Brasil –
ou em qualquer outro país – depois de tantas utopias entrarem em descrédito.
Pode ser interessante, para quem quiser reanimar-se (ou desistir de vez),
dar uma olhada no livro clássico de Ernst Bloch, “O Princípio Esperança”, cujo
primeiro volume foi finalmente publicado no Brasil, pela Uerj, em parceria com a
editora Contraponto.
Amigo desde a juventude de Georg Lukács (com quem mais tarde
polemizaria apaixonadamente) e pensador com muitos pontos de contato com a
Escola de Frankfurt (com Walter Benjamin em particular), Ernst Bloch (1885-1977)
é certamente o mais romântico, o mais arrebatado e o menos “científico” dos
marxistas.
“O Princípio Esperança” apresenta-se como um vasto tratado sobre a
utopia, o sonho, o impulso de transformação. Publicado na Alemanha Oriental
entre os anos de 1954 e 1959, ou seja, logo após a morte de Stálin e pouco antes
da construção do Muro de Berlim, o livro nada tinha que agradasse aos burocratas
do regime. Bloch acabou se mudando para a República Federal da Alemanha,
onde sua obra malcomportada, vibrante e feérica haveria de inspirar os
movimentos de contestação dos anos 60.
O gênio da lâmpada maravilhosa; a loja de móveis, com suas promessas de
felicidade doméstica; Ulisses, Jasão, Colombo e quem quer que se lance em
busca de um novo mundo. O circo, o parque de diversões, o teatro; as
perspectivas azuladas da pintura renascentista; os prazeres do domingo num
quadro de Seurat. As obras de Freud, Lênin, Mozart, Campanella. O Eldorado, a
catedral gótica, as coleções de selos: tudo entra, tudo é admissível, tudo (quase
tudo) é bem-vindo no gigantesco panorama construído por Bloch.
Trata-se de um daqueles livros que, assumindo a aparência de um tratado
sistemático, deixam-se na verdade implodir pelo próprio conteúdo, caótico,
agonístico, libertário. Cada página de “O Princípio Esperança” fervilha de
iluminações, enquanto sua estrutura conceitual vai sendo exposta com a lentidão
de uma jamanta andando em círculos.
Dois conceitos aparecem a todo momento no livro e são, como se diz,
“prenhes de significado” para a filosofia de Bloch: o “sonho diurno” e o “ainda-
nãoconsciente”.
Polemizando com Freud, e mais ainda com Jung, Bloch observa que
“os seres humanos de forma alguma sonham apenas à noite. Também o dia
possui bordas crepusculares, também ali os desejos se saciam.”. Acontece que,
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diferentemente do sonho noturno, no sonho diurno podemos conduzir nossa
fantasia; podemos, diz Bloch, “delirar, mas também ponderar e planejar”.
O inconsciente da psicanálise, por sua vez, funciona sempre como um
repositório de lembranças passadas, como o subterrâneo, o subsolo de nossa
morada mental. O “ainda-não-consciente” de Bloch corresponde ao futuro, é o
“inconsciente do outro lado, do alvorecer para sempre”. Trata-se do “local psíquico
do nascimento do novo”. O conceito não é dos mais inequívocos, mas ganha força
quando Bloch o traduz numa metáfora; “o que o sujeito aqui fareja não é o bafio de
porão, mas o ar da manhã”.
Seja qual for a solidez dos argumentos de Bloch, é irresistível a sua
extravagância literária, a beleza “expressionista” de algumas passagens. Mesmo
antes de se dar conta dos próprios desejos, diz Bloch, todo jovem sonhador gosta
de contemplar o horizonte; a razão disso é que as nuvens nada mais são do que
“os traços fabulares da natureza”.
O encanto do balé clássico, escreve Bloch num curioso excurso sobre a
dança, está no que existe ali de “sofrimento elegante, júbilo frio”. Nada mais
distante das exaltações do próprio autor, cujo otimismo leva até mesmo a elogiar
os componentes utópicos da paranóia. Esta capaz “de novas composições,
transformações do mundo, projetos que avançam, em suma, corujas de fogo de
uma Minerva louca, mas cheia de vontade de fazer luzir a aurora”.
Para leitores que conheciam o terror stalinista de perto, essas passagens
talvez tivessem conotações sinistras. Nada mais “déjà vu”, aliás, que as
observações esparsas de Bloch contra o “decadente” modo de vida americano,
em oposição às homenagens, obviamente contrafeitas, que o autor ainda dirige ao
socialismo soviético. Mas o desastre dessas utopias de estado, sistemáticas,
paranóicas e assassinas, paradoxalmente torna mais atual o livro de Bloch: seu
livro põe em relevo uma esperança estilhaçada em mil situações diferentes, sem a
necessidade de que se unifiquem numa ordem única.
Para Bloch, nenhum elogio dos “fatos”, da “realidade tal como ela é”, pode
ser levado às últimas conseqüências; isto seria o equivalente à fixidez da morte. O
real, porque está incompleto, exige nossa participação e nossos desejos. Por
certo, podemos dizer que esse “princípio esperança” tem cada vez menos uma
tradução política e institucional em sentido estrito.
O próprio Bloch, aliás, encontra-o em toda parte. Logo no início, ele cita o
alvoroço das crianças dentro de casa, quando tocam a campainha. Já é a
necessidade do novo, do diferente, de tudo aquilo que o futuro emite em nossa
direção.
Haja otimismo. Na Alemanha Oriental, um toque de campainha poderia bem
ser a visita da polícia política à procura de papai ou de mamãe. Aqui no Brasil,
país de utopias menos sérias e de derrocadas sem tragédia, o toque do interfone
não possui tais dimensões. Em geral, significa apenas a chegada do entregador
de pizza.
(in: Ilustrada, Folha de S. Paulo, 07/09/2005)
6) A partir da leitura do texto O “princípio esperança” e as utopias à moda da casa,
de Marcelo Coelho, publicado na Folha de S. Paulo, Ilustrada, de 07/09/2005,
44
identifique os termos que são retomados, dentro do próprio parágrafo, pelas
palavras grifadas transcritas a seguir:
a) parecem suficientes (2º p.):
b) com quem (4º p.):
c) o mais romântico, o mais arrebatado... (4º p.):
d) o livro (5º p.):
e) obra malcomportada (5º p.):
f) são, como se diz, prenhes de significado (8º p.):
g) o subsolo de nossa morada mental (9º p.):
h) O conceito (9º p.):
i) a razão disso (10º p.):
j) cujo otimismo (11º p.):
k) dessas utopias de estado (12º p.):
l) já é a necessidade do novo (14º p.):
7) A partir da leitura do texto O “princípio esperança” e as utopias à moda da casa,
de Marcelo Coelho, publicado na Folha de S. Paulo, Ilustrada, de 07/09/2005,
identifique os termos que são retomados, do parágrafo imediatamente anterior,
pelas palavras transcritas a seguir:
a) Amigo... (4º p.):
b) Bloch (6º p.):
c) livro (8º p.):
d) Bloch (13º p.):
e) necessidade do novo, do diferente, de tudo aquilo que o futuro emite em nossa
direção (14º p.):
8) Qual a diferença entre os conceitos de sonho diurno e sonho noturno, de
acordo com Bloch, e conforme apontada por Marcelo Coelho no 8º parágrafo de
seu texto? Comente, com suas palavras, essas definições.
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9) Qual a diferença entre o inconsciente da psicanálise e o “ainda-não-consciente”
de Bloch, de acordo com o que aponta Marcelo Coelho no 9º parágrafo de seu
texto? Comente, com suas palavras, essas definições.
32. EMPREGO DE CONECTIVOS
São usados como recursos coesivos que contribuem para estabelecer
relações de coerência entre termos ou segmentos na construção de um texto.
Portanto, os conectivos conferem unidade ao texto. Problemas no emprego dos
conectivos podem dificultar a compreensão da idéia que se deseja expressar. Os
conectivos estabelecem diversos tipos de relação entre as partes do discurso.
a) Servem para ACRESCENTAR idéias, argumentos: além de, além disso,
ademais, e, ainda.
Além de sofrer com os constantes choques econômicos a que vem sendo
submetida, a classe média vê-se forçada a expandir suas atividades para poder
sobreviver.
b) Estabelecem relação de CONCESSÃO, de resignação: embora, não obstante,
apesar de, ainda que, mesmo que, conquanto, por mais que, por menos que, se
bem que.
Embora haja empenho das autoridades médicas em erradicar as doenças
tropicais, estas continuam a fazer vítimas.
c) Estabelecem OPOSIÇÃO entre idéias: mas, porém, contudo, entretanto,
todavia.
O ensino público vem apresentando gradativas melhoras, contudo, as escolas
particulares ainda vêm apresentando melhor qualidade de ensino.
d) Servem para COMPLEMENTAR e CONCLUIR idéias: assim, dessa forma,
portanto, logo, por conseguinte, por conseqüência.
As injustiças sociais são apontadas como a principal causa da violência. Assim,
para combatê-la é preciso buscar a igualdade social.
e) Estabelecem relação de JUSTIFICAÇÃO, de EXPLICAÇÃO entre as idéias:
pois, que, porque, porquanto.
O exame era difícil, pois nem sequer havíamos estudado.
Não crie caso, que estamos aqui para ouvi-lo.
f) Servem para ligar idéias que decorrem ao mesmo tempo, estabelecem relação
de PROPORÇÃO: à medida que, à proporção que.
À medida que o professor falava, os alunos iam dormindo.
46
g) Estabelecem relação de CONDIÇÃO entre idéias: se, caso, salvo se, desde
que, a menos que, sem que, contanto que.
O passeio será realizado, caso não chova.
h) Expressa circunstância de TEMPORALIDADE entre as idéias: quando,
enquanto, apenas, mal, logo que, depois que, antes que, até que, que.
Quando a vejo, bate-me o coração mais forte.
i) Estabelecem relação de CAUSA entre as idéias: porque, visto que, porquanto, já
que, como.
Como não estudou, foi reprovado.
Exercícios de aplicação
1) Reúna as diversas frases num só período por meio de conjunções e pronomes
relativos. Faça as devidas alterações de estrutura.
a) O camembert é um dos queijos mais consumidos no mundo. Só se tornou
popular durante a Primeira Guerra. Conquistou os soldados nas trincheiras.
b) Tratava-se de uma pessoa. Essa pessoa tinha consciência. Seu lugar só
poderia ser aquele. Lutaria até o fim para mantê-lo.
c) Era um cais de quase dois quilômetros de extensão. Gostávamos de caminhar
ao longo desse cais. O tempo era sempre feio e chuvoso.
d) Era um homem de frases curtas. A boca desse homem só se abria para dizer
coisas importantes. Ninguém queria falar dessas coisas.
33. COERÊNCIA TEXTUAL
A coerência (do latim cohaerentia: o que está junto ou ligado) está
relacionada à inteligibilidade do texto. Textos coerentes são resultado de um plano
definido, que requer idéias ordenadas e ligadas de maneira clara e lógica. Sem
coerência é impossível alcançar unidade: é preciso que as idéias se ajustem e se
completem de maneira harmoniosa.
“A coerência seria a possibilidade de estabelecer, no texto, alguma forma
de unidade ou relação. Essa unidade é sempre apresentada como uma unidade
de sentido no texto, o que caracteriza a coerência como global, isto é, referente ao
texto como um todo.” (Ingedore Villaça KOCH e Luiz Carlos TRAVAGLIA. Texto e
Coerência, pp. 11-12).
Texto (do latim textu, tecido) significa, de acordo com o dicionário Aurélio,
um “conjunto de palavras, de frases escritas”. Com base nisso, é preciso que se
promova entre as partes do texto uma relação de dependência (as idéias ganham
sentido de acordo com as relações que mantêm entre si e o texto). A unidade
textual é indispensável à coerência.
47
Obstáculos à COERÊNCIA (devem ser evitados)
1) Presença de contradições entre frases ou entre parágrafos. Por exemplo, se
você for defender, num texto, a total liberdade de expressão, não caberia apoiar
medidas que propõem censura à televisão ou a qualquer outro meio de
comunicação, isso resultaria em contradição.
2) Falta de encadeamento argumentativo: os argumentos precisam estar em
harmonia entre si. Para garantir isso, você deverá selecionar adequadamente
evidências, exemplos e justificativas a serem integrados em seu texto. Só há
sentido em confrontar argumentos quando o objetivo é demonstrar que os
argumentos que sustentam o seu ponto de vista são melhores que os opostos.
Num texto dissertativo não cabe apresentar prós e contras em relação a um ponto
de vista (isso pode resultar em contradições que impedirão o leitor de conhecer o
real posicionamento do autor), pois supõe-se que o autor escreva para convencer
o seu leitor de que a posição que defende é a melhor.
3) Circularidade ou quebra de progressão discursiva: a falta de idéias não raro
leva à redundância - recurso que consiste em apresentar as mesmas idéias,
mudando apenas as palavras. Dessa forma, o texto não progride, não avança.
Deve-se, ainda, evitar o “vai-e-vem” (abordar um enfoque, interrompê-lo e voltar a
abordá-lo noutro parágrafo). Esgote cada enfoque antes de passar ao seguinte.
4) Conclusão não decorrente do que foi exposto: é importante ordenar
logicamente as idéias, encadeá-las coerentemente. Para tanto, não se pode
perder de vista a idéia central do texto (em torno da qual todos os argumentos
devem girar). Assim, à introdução segue-se o desenvolvimento, que por sua vez
conduzirá a uma conclusão que esteja em consonância com o que foi defendido
ao longo do texto.
Recomendações para garantir a coerência textual:
1) Organize suas idéias de forma lógica (sugestão: faça uso da “técnica da
dúvida”).
2) Preocupe-se em combinar (relacionar) as partes do texto.
3) Evite repetir palavras e idéias - isso denota falta de reflexão e de domínio sobre
o que está escrevendo.
34. NONSENSE – ORAÇÔES INCOMPLETAS
É um defeito muito freqüente em principiantes a utilização da subordinação,
que, por sua estrutura, favorece à prolixidade. As orações subordinadas tornam o
período longo e recheado de orações intercaladas que se envolvem e
emaranham. Muitas vezes, acontece de o redator inexperiente perder a oração
principal e a frase ficar incompleta em seu sentido.
Exemplo de frase incompleta:
Estando próximo de suas férias, por motivos óbvios e para tomar conhecimento
dos fatos e viajar sossegado, pois nos anos anteriores viajara e ficara preocupado.
48
A frase está incompleta, pois lhe falta a oração principal.
Exemplo de frase completa:
Estando próximo de suas férias, o diretor recomendou que os relatórios lhe fossem
enviados até 15 de dezembro.
No primeiro exemplo, o acúmulo de orações subordinadas fez o redator
esquecerse
da oração principal. No segundo: à oração subordinada segue imediatamente a
principal, o que favorece a compreensão.
A construção de períodos sem nexo sintático e sem sentido provém da omissão
de uma das orações que compõem esses períodos. Isto quase sempre ocorre
porque se esquece da oração principal, quando o período começa por oração
reduzida. O comprimento do período e a intercalação de orações subordinadas
fazem com que se perca o nexo sintático, e a construção fica mutilada.
Exemplo:
Chegada a tarde de domingo, quando todos já estavam cansados de tanto beber,
em virtude da comemoração do aniversário do filho que fazia cinco anos e vivia
feliz entre seus brinquedos.
É evidente que a frase não terminou, pois o redator se esqueceu da oração
principal e colocou ponto final no período, deixando de dizer o mais importante,
que poderia ser: "a família dispersou-se e todos voltaram para suas casas”.
Exercícios gerais de Aplicação
1) Por ser um conjunto de opiniões pessoais logicamente concatenadas, a
redação deve ser precisa, rigorosa. Para despertar interesse, deve ser sugestiva e
original. A vulgaridade é o nível em que a mensagem é só redundância.
Procure reescrever as frases abaixo de maneira adequada, eliminando possíveis
redundâncias e vulgaridades ou completando as idéias expressas:
a) A incômoda e nociva poluição ambiental pode tornar o já problemático e
atrasado Brasil uma terra inabitável.
b) “O mercado está passando por grandes transformações na área de cobrança.
Os ativos em atraso, devido às altas taxas de juros, ao aumento do desemprego e,
conseqüentemente, aos índices de inadimplência em níveis recordes.
c) A violência nos estádios começou a surgir feroz e impune, destruindo todo
aquele sonho.
d) Havia recebido um envelope em meu nome e que não portava destinatário,
apesar que em seu conteúdo havia uma folha em branco.
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e) As pessoas mudam? Isso seria dificil dizer nos dias de hoje, pois mesmo com
tantas informações nos dias de hoje, as pessoas ainda não conseguem perder o
racismo.
No século XXI, não era por menos, a tecnologia tem avançado cada vez mais, não
vendo limites para sua queda. O foco principal é perceber como o racismo ainda
preocupa a sociedade, pois o racismo é algo muito mais complexo do que uma
simples tecnologia, onde as pessoas continuam com suas mesmas culturas,
mesmo tendo muito mais informações.
f) O nosso país, desde o começo da civilização, está cheio de raças, crenças e
outras diversidades, mas ainda não conseguimos, sequer, aceitar nossas
diferenças. Se pararmos para pensar, todos nós temos raízes mistas, seja
africana, italiana, portuguesa, essa diversidade existe.
g) Atualmente, a população brasileira faz parte do ‘vira-latismo’ mundial de
pessoas mestiças nascidas no Brasil.
2) Desfaça a ambigüidade nas frases seguintes:
a) Trouxe o remédio para seu pai que está doente dentro deste vidrinho.
b) Ladrões conseguem armas que só o Exército pode usar para roubar bancos.
c) Deveria sim, existir então um programa de cotas para pessoas carentes, e não
negras.
3) Palavras colocadas em ordem diferente podem não ter exatamente o mesmo
sentido. Exemplo:
Minha filha não vai a bailes.
Filha minha não vai a bailes.
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Esclareça quais as diferenças de sentido que podem ser constatadas nas frases
acima.
4) Reescreva as frases abaixo, eliminando o erro de Português que apresentam.
a) O Brasil vem tentando a anos ingressar no Primeiro Mundo.
b) As verbas destinadas ao social, sofrem manipulações.
c) O mito de Che Guevara foi de encontro aos anseios da juventude do final dos
anos 60.
d) Os políticos recebem salários altíssimos, onde contrastam com o vergonhoso
salário mínimo.
e) A miséria cuja qual o povo enfrenta é revoltante.
f) Vivemos num país cuja a população é heterogênea.
g) Os bancos internacionais que o Brasil é cliente estão aumentando as taxas de
juros.
h) Os garotos que os pais desapareceram estão sob a proteção da Secretaria do
Menor.
i) Bernardo sempre teve esse comportamento quando está entre pessoas
desconhecidas.
j) Fica quase impossível se reunir numa sala para assistir um mesmo programa.
k) Depois de muita conversa convidei ela para jantar.
l) Tinha um complexo de inferioridade diante das pessoas muito grande.
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m) Uma família de italianos muito grande nunca conseguiam reunir todam) Uma
família de italianos muito grande nunca conseguiam reunir toda a família.
n) Identificou-se inúmeras mudanças nas características do produto.
5) Corrija o gerundismo nas frases abaixo:
a) Vou estar mandando a resposta na próxima semana.
b) Vamos estar citando as fontes bibliográficas.
c) Estaremos enviando o produto adquirido daqui a dois dias.
d) Vou estar transferindo a senhora para o departamento pessoal.
e) Peço à senhora estar remetendo os documentos para mim tomar as
providências cabíveis.
f) “O primeiro-ministro é criticado por estar escondendo a cabeça na areia”. (O
Estado de São Paulo,18/12/2005)
6) A organização sintática dada a certos trechos exige do leitor um esforço
desnecessário de interpretação. Abaixo você tem um exemplo disso:
“Ao chegar ao ancoradouro, recebeu Alzira Alves Filha um colar indígena feito de
escamas de pirarucu e frutos do mar, que estava acompanhada de um grupo de
adeptos do Movimento Evangélico Unido.” (Folha de S. Paulo, 12/02/92).
Reescreva o trecho, apenas alterando a ordem, de forma a tornar a leitura mais
simples.
7) Às vezes, quando um texto é ambíguo, é o conhecimento que o leitor tem dos
fatos que lhe permite fazer uma interpretação adequada do que lê. Um bom
exemplo é o trecho que segue, no qual há duas ambigüidades, uma decorrente da
ordem das palavras e a outra, de uma elipse de sujeito.
52
“O presidente americano (...) produziu um espetáculo cinematográfico em
novembro passado na Arábia Saudita, onde comeu peru fantasiado de marine no
mesmo bandejão em que era servido aos soldados americanos.” (Veja, 09/01/91).
a) Quais as interpretações possíveis das construções ambíguas?
b) Reescreva o trecho de modo a impedir interpretações inadequadas.
c) Que tipo de informação o leitor leva em conta para interpretar adequadamente
esse trecho.
8) Em uma de suas colunas, o ombudsman do jornal Folha de S. Paulo reproduziu
um trecho de uma notícia do Jornal do Brasil e fez uma crítica ao título da mesma
notícia. O título da notícia do Jornal do Brasil era: MULHERES CARDÍACAS TÊM
MAIS CHANCE DE MORRER. A crítica dizia, simplesmente: “O JB de quarta-feira
publicou título óbvio”.
Observe agora o começo da notícia publicada pelo JB: “WASHINGTON - As
mulheres que se submetem à angioplastia têm 10 vezes mais probabilidade de
morrer no hospital que os homens. A conclusão foi obtida num estudo...” (Folha de
S. Paulo, 14/03/93).
a) Como o ombudsman da Folha leu a manchete do JB, para achar que ela diz o
óbvio?
b) Qual a leitura da manchete que deve ser feita, com base no texto que a segue?
c) Por que a manchete do JB permite essas duas leituras?
9) No dia 19, Juscelino registrou a amargura que lhe dominava: “Não estou bem
por dentro”, anotou. “Uma das razões que tornaram (sic) triste a longa
permanência na fazenda é a ausência de alguns amigos.” (O Estado de S. Paulo,
14/03/96).
Usa-se sic entre parênteses, numa citação, para indicar que o texto original é
aquele mesmo, por errado ou estranho que pareça.
a) Apresente uma justificativa para aceitar ou não o sic usado pelo autor do texto.
53
b) Há no texto uma construção que justifica o emprego do sic. Transcreva-a,
aplicando o sic no lugar adequado.
10) “Cantor do Chili Peppers sofre acidente de moto
O vocalista do grupo norte-americano Red Hot Chili Peppers, Anthony Kiedis, 34,
teve de ser operado em Los Angeles, Costa Oeste dos EUA, após fraturar o punho
em um acidente de moto. O acidente aconteceu quando um automóvel que ia à
sua frente fez uma manobra inesperada. O fato obrigou o grupo a cancelar shows
no Havaí e no Alasca.” (Folha de S. Paulo, 18/07/97).
a) A que se refere o fato do último período?
b) Se o último período fosse “O fato obrigou o músico a jogar a moto contra um
muro”, a que estaria se referindo o fato?
11) A Folha de S. Paulo de 29 de abril de 1997 anunciou o funcionamento do
comércio e de outros serviços na cidade durante o feriado do Dia do Trabalho com
a notícia abaixo:
“Lojas fecham 5ª e abrem domingo”
A leitura da manchete, se feita isoladamente, poderia levar a crer que as lojas
ficariam fechadas por três dias. Escreva uma nova manchete desfazendo a
possibilidade dessa leitura.
12) Dois adesivos foram colocados no vidro traseiro de um carro:
em cima:
Deus é fiel
e bem embaixo:
PORQUE PARA DEUS NADA É IMPOSSÍVEL
É possível ler os dois adesivos em seqüência, constituindo um único período.
Neste caso,
a) o que se estaria afirmando sobre a fidelidade?
54
b) o que o dono do carro poderia estar querendo afirmar sobre si mesmo?
13) “Se, como diz o ditado, ter um é pouco e dois é que seria o bom, quando se
trata do Trio Beaux Arts, os três são demais. No melhor sentido da palavra.” (O
Estado de S. Paulo, 12/04/96).
a) Qual é o melhor sentido da palavra a que o autor se refere?
b) Qual o contra-senso que ele evitou, ao acrescentar a ressalva “no melhor
sentido da palavra”?
35. FUNÇÕES DA LINGUAGEM
Ao elaborarmos um texto, precisamos ter em mente que estamos
escrevendo para alguém. Seja um texto literário, acadêmico, publicitário, técnico
ou comercial, a redação sempre apresenta alguém que escreve, o emissor, e
alguém que o lê, o receptor. O que o emissor escreve é a mensagem. O
elemento que conduz o discurso para o receptor é o canal (no nosso caso, o
papel). Os fatos, os objetos ou imagens, os juízos ou raciocínios que o emissor
expõe ou sobre os quais discorre, constituem o referente. A língua que o emissor
utiliza (no nosso caso, a língua portuguesa) constitui o código.
Assim, através de um CANAL, o EMISSOR (codificador) transmite ao
RECEPTOR (decodificador), em um CÓDIGO comum, uma MENSAGEM, que se
reporta a um CONTEXTO ou referente.
A ênfase num elemento do circuito de comunicação determina a função da
linguagem que lhe corresponde:
ELEMENTO FUNÇÃO
Contexto Referencial ou Informativa
Emissor Emotiva
Receptor Conativa ou Apelativa
Canal Fática
Mensagem Poética
Código Metalingüística
Quando um poeta descreve a Lua, suas impressões se dispõem de maneira
especial, conforme a subjetividade de suas sensações. Quando um cientista
descreve o mesmo objeto, submete-o à interpretação informativa, impessoal e
científica. Assim, a Lua, que para o poeta seria “uma inspiração romântica”, para o
cientista é “o satélite natural de Terra”.
As funções da linguagem apontam o direcionamento da mensagem para
um ou mais elementos do circuito da comunicação.
55
Qualquer produção discursiva, lingüística (oral ou escrita) ou extralingüística
(pintura, música, fotografia, propaganda, cinema, teatro etc.), apresenta funções
da linguagem.
Porém, raramente se encontram mensagens em que haja apenas uma
função. Geralmente o que ocorre é uma hierarquia de funções em que predomina
ora uma, ora outra função, havendo coexistência de funções. Observe este trecho:
“Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos
sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas com
igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura não só em
bombas como também em dádivas de toda natureza, inclusive a simples claridade
da hora, vedada a você, que está de olho na maquininha. O mundo deixa de ser
realidade quente para se reduzir a marginália, purê de palavras, reflexos no
espelho (infiel) do dicionário.” (Carlos Drummond de Andrade)
Temos, no exemplo acima, a função referencial (evidencia o assunto), a
função metalinguística (volta-se para a própria produção discursiva), a função
emotiva (revela emoções do emissor) e a poética (produz efeito estético através
da linguagem metafórica).
Função Referencial
Certamente a mais comum e mais usada no dia-a-dia, a função referencial
ou informativa, também chamada denotativa ou cognitiva, privilegia o contexto. Ela
evidencia o assunto, o objeto, os fatos, os juízos. É a linguagem da comunicação.
Faz referência a um contexto, ou seja, a uma informação sem qualquer
envolvimento de quem a produziu ou de quem a recebe. Não há preocupação com
estilo; sua intenção é unicamente informar. É a linguagem das redações
acadêmicas, do discurso científico, do jornalístico e da correspondência comercial.
Exemplo:
“Construído artificialmente há 30 anos para amenizar o clima seco de
Brasília, servir de área de lazer e para a captação de água, o lago Paranoá está
atualmente muito descaracterizado. O lago Paranoá soma 600 milhões de metros
cúbicos de água.”
Função Emotiva
Quando há ênfase no emissor e na expressão direta de suas emoções e
atitudes, temos a função emotiva, também chamada expressiva ou de
exteriorização psíquica. Ela é lingüísticamente representada por interjeições,
adjetivos, signos de pontuação - tais como exclamações, reticências - e agressão
verbal (insultos, termos de calão), que representam a marca subjetiva de quem
fala. Exemplo:
“Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!”
(Vinícius de Morais)
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Observe que em “Luís, você é mesmo um burro!”, a frase perde seu caráter
informativo (já que Luís não é uma pessoa transformada em animal) para o caráter
emotivo, pois revela o estado emocional do emissor.
As canções populares amorosas, as novelas e qualquer expressão artística
que deixe transparecer o estado emocional do emissor também pertencem à
função emotiva. Exemplo:
“Sinto que viver é inevitável. Posso na primavera ficar horas sentada
fumando, apenas sendo. Ser às vezes sangra. Mas não há como não sangrar,
pois é no sangue que sinto a primavera. Dói. A primavera me dá coisas. Dá do
que viver. E sinto que um dia na primavera é que vou morrer. De amor pungente e
coração enfraquecido.”
(Clarice Lispector)
Função Conativa
A função conativa ou apelativa é aquela que busca mobilizar a atenção do
receptor, produzindo um apelo. Pode ser volitiva, revelando assim uma vontade
(“Por favor, eu gostaria que você se retirasse.”), ou imperativa, que é a
característica fundamental da propaganda. Exemplos:
“Antônio, venha cá!”
“Compre um e leve três.”
“Beba Coca-Cola.”
“Se o terreno é difícil, use uma solução inteligente: Mercedes-Benz.”
Função Fática
Se a ênfase está no canal, para checar sua recepção ou para manter a
conexão entre os falantes, temos a função fática. Nas fórmulas ritualizadas de
comunicação, os recursos fáticos são comuns. Exemplos:
“Bom-dia!”
“Oi, tudo bem?”
“Ah, é!”
“Alô, quem fala?”
Observe os recursos fáticos que, embora característicos da linguagem oral,
ganham expressividade na música:
“Alô, alô marciano
Aqui quem fala é da Terra.”
(Rita Lee & Roberto de Carvalho)
Atente para o fato de que o uso excessivo dos recursos fáticos denota
carência vocabular, já que destitui a mensagem de carga semântica, mantendo
apenas a comunicação, sem traduzir informação. Exemplo:
“_ Você gostou dos contos de Machado de Assis?
_ Só, meu. Valeu.”
57
Função Metalingüística
A função metalingüística visa à tradução do código ou à elaboração do
discurso, seja ele lingüístico (a escrita ou a oralidade) ou extralingüístico (música,
cinema, pintura, gestualidade etc. - chamados códigos complexos). Assim, é a
mensagem que fala de sua própria produção discursiva. Um livro convertido em
filme apresenta um processo de metalinguagem, uma pintura que mostra o próprio
artista executando a tela, uma poesia que fala do ato de escrever, um conto ou
romance que discorre sobre a própria linguagem etc. São igualmente
metalingüísticos. Exemplos:
“_ Foi assim que sempre se fez. A literatura é a literatura, Seu Paulo. A
gente discute, briga, trata de negócios naturalmente, mas arranjar palavras com
tinta é outra coisa. Se eu fosse escrever como falo, ninguém me lia.”
(Graciliano Ramos)
“Lutar com palavras
é a luta mais vã
entanto lutamos
mal rompe a manhã.”
(Carlos Drummond de Andrade)
Em “Anuncie seu produto: a propaganda é a arma do negócio.”, temos a
função metalingüística (a propaganda fala do ato de anunciar), a conativa (a
expressão aliciante do verbo anunciar no imperativo) e a poética (na renovação de
um clichê, conferindo-lhe um efeito especial).
Função Poética
Quando a mensagem se volta para os seus próprios constituintes, tendo em
vista produzir um efeito estético, através de desvios da norma ou de combinatórias
inovadoras da linguagem, temos a função poética, que pode ocorrer num texto em
prosa ou em verso, ou ainda na fotografia, na música, no teatro, no cinema, na
pintura, enfim em qualquer modalidade discursiva que apresente uma maneira
especial de elaborar o código. Exemplos:
“Que não há forma de pensar ou crer,
De imaginar, sonhar ou de sentir,
Nem rasgo de loucura
Que ouse pôr a alma humana frente a frente
Com isso que uma vez visto e sentido
Me mudou, qual ao universo o sol
Falhasse súbito, sem duração
No acabar...”
(Fernando Pessoa)
“Sino de Belém pelos que inda vêm!
Sino de Belém bate bem-bem-bem.”
(Manuel Bandeira)
Exercícios de Aplicação
58
Reconheça nos textos abaixo as funções da linguagem.
1) O Verbo no Infinitivo
Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar
Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.
E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito
E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...
(Vinícius de Morais)
2) “Para fins de linguagem a humanidade se serve, desde os tempos préhistóricos,
de sons a que se dá o nome genérico de voz, determinados pela
corrente de ar expelida dos pulmões no fenômeno vital da respiração, quando, de
uma ou outra maneira, é modificada no seu trajeto até a parte exterior da boca.”
(Mattoso Câmara Jr.)
3) “O discurso comporta duas partes, pois necessariamente importa indicar o
assunto de que se trata, e em seguida a demonstração. (...) A primeira destas
operações é a exposição; a segunda, a prova.”
(Aristóteles)
4) “Olá, como vai?
Eu vou indo e você, tudo bem?
Tudo bem, eu vou indo pegar um lugar bo futuro. E você?
Tudo bem, eu vou indo em busca de um sono tranqüilo...”
(Paulinho da Viola)
5) “Fique afinado com seu tempo. Mude para Col. Ultra Lights.”
6) “Sentia um medo horrível e ao mesmo tempo desejava que um grito me
anunciasse qualquer acontecimento extraordinário. Aquele silêncio, aqueles
rumores comuns, espantavam-me. Seria tudo ilusão? Findei a tarefa, ergui-me,
desci os degraus e fui espalhar no quintal os fios da gravata. Seria tudo ilusão?...
Estava doente, ia piorar, e isto me alegrava. Deitar-me, dormir, o pensamento
59
embaralhar-se longe daquelas porcarias. Senti uma sede horrível... Quis ver-me
no espelho. Tive preguiça, fiquei pregado à janela, olhando as pernas dos
transeuntes.”
(Graciliano Ramos)
36. ELABORAÇÂO DE E-MAIL
Correio Eletrônico (e-mail)
Enfeite seu e-mail e quem o recebe imaginará que você está mais
preocupado em impressionar que em ser eficiente. E-mails enfeitados são mais
"pesados", demoram mais para abrir, usualmente tem leitura mais difícil (porque
poucos têm boas noções de design), provocam reações na maioria das vezes
negativas. Excelente mídia, o e-mail veio alterar significativamente o volume de
mensagens escritas trocadas entre as pessoas, e pode fazer muito para a
realização dos objetivos de um profissional, mas alguns cuidados têm de ser
tomados para não transmitir má imagem por meio dele.
Por causa da ausência da tonalidade de voz e de expressões corporais que
auxiliam na compreensão da forma em que o texto é expresso, existem diversos
mal-entendidos, que podem ser evitados se algumas regras para a grafia de
emails
forem seguidas:
a) Assunto: O campo assunto (ou subject) deve sempre estar
preenchido, pois para uma pessoa que receba uma média diária
acima de 50 mensagens, será muito mais fácil organizar-se e
priorizar a leitura dos assuntos de maior interesse. Envie uma
mensagem de acordo com o assunto abordado.
b) NÃO GRITE! No envio de e-mails é muito comum o uso de textos
escritos completamente com letras maiúsculas. Essa prática é
incorreta, pois os e-mails devem ser escritos normalmente,
combinando letras maiúsculas e minúsculas, como em um texto
qualquer. Frases escritas completamente em letras maiúsculas só
são aceitas em títulos, ênfases, avisos urgentes ou quando a
intenção do remetente é realmente gritar; fora isso, poderá existir
uma interpretação errada por parte do receptor e incidir em uma
advertência ao remetente.
c) Texto dividido em blocos: Procure, sempre que possível, dividir
o texto da mensagem em blocos, pois torna a sua leitura muito
mais fácil, além de melhorar o visual.
d) Acentuação: O uso de acentos não é mais problemático devido à
grande interação existente atualmente entre os diferentes
programas. Portanto, o texto do e-mail pode e deve estar
acentuado, com exceção feita no caso de envio de mensagens
para usuários de outras plataformas.
e) Clareza e objetividade: Seja claro e objetivo ao compor o texto
de sua mensagem. Lembre-se de que o e-mail é um texto e deve
60
conter coerência e coesão. Além disso, faça sempre a correção
ortográfica e gramatical do texto, pois facilitará a sua leitura.
f) Destinatário: lembre-se de que seu e-mail apresenta um
interlocutor e a linguagem de seu texto depende dele. Se for seu
amigo pessoal, você estará autorizado a utilizar linguagem
coloquial, inclusive gírias. Se seu interlocutor, entretanto, for seu
chefe ou alguma pessoa com quem você não tem intimidade, você
deverá utilizar linguagem padrão culta e tomar o máximo de
cuidado para não incorrer em ambigüidades, em erros gramaticais
e de coerência e coesão que podem gerar um e-mail
incompreensível. Você não precisa fazer uso de pronomes de
tratamento como Vossa Senhoria, Vossa Excelência (a não ser
que seja imprescindível), basta usar Senhor fulano (sobrenome e
não nome) ou Prezado Senhor fulano (sobrenome). Lembre-se de
que, após o vocativo (Prezado Senhor, Senhor ou o sobrenome
apenas), você deverá colocar, obrigatoriamente, uma vírgula.
g) Endereço: é imprescindível lembrar-se de que o fato de
preencher o endereço eletrônico não significa que você não
precise se dirigir a um destinatário. Ele deve aparecer na primeira
linha de seu e-mail.
h) Despedida e dados pessoais: Para se despedir, basta usar
“Atenciosamente” seguido de vírgula e colocar seu nome e
sobrenome. A seguir, informar seus dados na empresa:
departamento, e-mail, telefone, função exercida etc.
A rigor, as regras para a elaboração de um e-mail não diferem daquelas
utilizadas na redação dos demais tipos de documentos.
37. TIPOLOGIA TEXTUAL
Texto/Contexto/Interlocutores
Talvez a maneira mais simples de definir a noção de texto seja dizer que é
uma unidade de linguagem, de extensão variável, produzido a partir de um
determinado contexto ou situação, que visa comunicar uma mensagem, através
de um meio, de um locutor ou sujeito a um interlocutor ou receptor. Para isso,
é utilizado um código comum aos interlocutores (locutor e receptor). Perceba que
nessa definição houve referência a todos os elementos da comunicação, pois a
existência de qualquer texto, seja oral, escrito ou visual, supõe todos os seis
elementos da comunicação.
Descrever/Narrar/Dissertar
Tudo o que se escreve é redação. Elaboramos bilhetes, cartas, telegramas,
respostas de questões discursivas, contos, crônicas, romances, artigos,
monografias, descrições, narrações, dissertações, e-mails, enfim, várias
modalidades de redação. Seja qual for a modalidade redacional, a criação de um
texto envolve conteúdo (nível de idéias, mensagem, assunto), estrutura
61
(organização e distribuição adequada das idéias), linguagem (expressividade,
seleção de vocabulário) e gramática (adequação à norma padrão da língua).
Geralmente as modalidades redacionais aparecem combinadas entre si,
vamos, inicialmente, procurar definir os três tipos básicos.
Descrição
A descrição procura apresentar, com palavras, a imagem de seres
animados ou inanimados captados através dos cinco sentidos (visão, audição,
tato, paladar e gustação). A caracterização desses entes obedece a uma
delimitação espacial.
Elementos predominantes na descrição:
a) Frases nominais (sem verbo) ou orações em que predominam verbos de estado
(ser, estar, parecer etc.).
b) Frases enumerativas.
c) Adjetivação, qualificando nomes.
d) Figuras de linguagem: recursos expressivos, em linguagem conotativa, como
metáfora, metonímia, prosopopéia, sinestesia etc.
e) Referências às sensações, ou seja, das percepções visuais, auditivas,
gustativas, olfativas e táteis.
Exercício:
Caminhe por alguns minutos, observe as coisas que estão a sua volta.
Escolha uma dessas coisas, observe-a atentamente. Repare suas formas, com
todos os detalhes. Suas cores. Agora, feche os olhos e sinta com o tato a
espessura da superfície, o peso, a temperatura. Descubra que ruídos provoca ao
contato com outro corpo. Seu gosto e seu cheiro. Pense que você a realmente
observa pela primeira vez. Perceba-a, assim, com mais intensidade, com a
motivação da descoberta das coisas novas. Concentre-se nas características que
você pôde perceber, para caracterizar o objeto da melhor maneira possível.
Procure apresentar uma imagem dele, de modo que o leitor possa recriar o objeto.
Isso é descrever.
Narração
A narração constitui uma seqüência temporal de ações desencadeadas por
personagens envoltas numa trama que culmina num clímax e se esclarece no
desfecho.
Narrar, portanto, é contar uma história (real ou fictícia). O fato narrado
apresenta uma seqüência de ações envolvendo personagens no tempo e no
espaço.
São exemplos de narrativas a novela, o romance, o conto, uma peça de
teatro, a crônica, uma notícia de jornal, uma piada, um poema, uma letra de
música, uma história em quadrinhos, desde que apresentem uma sucessão de
acontecimentos.
Convencionalmente, o enredo da narração pode ser assim estruturado:
exposição (apresentação das personagens e/ou do cenário e/ou da época),
62
desenvolvimento (desenrolar dos fatos apresentando complicação e clímax) e
desfecho ou desenlace (arremate da trama).
Entretanto, há diferentes possibilidades de se compor uma trama, seja
iniciá-la pelo desfecho, construí-la apenas através de diálogos, ou mesmo fugir ao
nexo lógico de episódios, ou seja, construir uma história que não está adequada à
realidade, mas que está adequada a uma lógica que lhe é própria. Como exemplo
disso, tem-se o seguinte excerto:
“A safra pertenceu originalmente a um sultão que morreu em circunstâncias
misteriosas, quando uma mão saiu de seu prato de sopa e o estrangulou. O
proprietário seguinte foi um lorde inglês, o qual foi encontrado certo dia, florindo
maravilhosamente numa jardineira. Nada se soube da jóia durante algum tempo.
Então, anos depois, ela reapareceu na posse de um milionário texano que se
incendiou enquanto escovava os dentes. (Woody Allen. Sem Plumas)
Elementos básicos da narração:
a) Enredo (ação), personagem, tempo e espaço.
b) Foco narrativo (de 1ª ou 3ª pessoa) que é a perspectiva a partir da qual se
conta a história.
c) Os discursos (direto, indireto ou indireto livre) representam a fala da
personagem.
Exercício:
Olhe ao seu redor. Veja quantas coisas movimentam-se ao seu lado. Note o
mundo dos pequenos fatos acontecendo em torno de você. Essas situações
podem ser relatadas, assim como os acontecimentos do dia, assim como
podemos criar inumeráveis histórias. Escrever para contar o que acontece, com
quem, onde e quando, como e porque e para quê. Escrever imaginando histórias,
inventando e reinventando acontecimentos possíveis e passíveis de serem
concebidos pela nossa sensibilidade. Isto é narrar.
Dissertação
Dissertar é expor idéias a respeito de um determinado assunto. É discutir
essas idéias, analisá-las e apresentar provas que justifiquem e conveçam o leitor
da validade do ponto de vista de quem as defende.
Dissertar é um exercício cotidiano e você o utiliza toda vez que discute com
alguém, tentando fazer valer sua opinião sobre qualquer assunto, por exemplo,
futebol, política etc. Isso porque o pensar, a capacidade de reflexão, é uma prática
permanente da nossa condição de seres sociais, cujas idéias são debatidas e
veiculadas através da comunicação lingüística.
Portanto, dissertar é analisar de maneira crítica situações diversas,
questionando a realidade e nossas posições diante dela.
A adequada expressão do conteúdo da dissertação exige o encadeamento
das idéias. Assim, para se redigir um texto dissertativo são indispensáveis:
- Criticidade: exame e discussão crítica do assunto, por meio de argumentos
convincentes, gerados pelo acervo de conhecimentos pessoais adquiridos através
63
de pesquisas bibliográficas, leituras e experiências. É um processo de análise e
síntese.
- Clareza das idéias: vocabulário preciso, objetivo e coerente às idéias expostas.
O aprimoramento da linguagem e a diversidade vocabular são fundamentais para
adequar idéias e palavras. Essa capacidade se adquire através do hábito de
leitura, de escrita e de pesquisas em dicionários e gramáticas.
- Unidade: o texto deve desenvolver-se em torno de um assunto. As idéias que
lhe são pertinentes devem suceder-se em ordem lógica. Não deve haver
redundância nem pormenores desnecessários. Como não é possível esgotar um
tema, a redação impõe certos limites e é preciso saber escolher os aspectos a
serem desenvolvidos. Em vista disso, é muito importante que, antes de começar
sua dissertação, você saiba delimitar o tema a ser explorado, selecionando os
aspectos que achar mais relevantes ou aqueles que conheça melhor. A
delimitação ajuda a pôr em ordem nossas idéias.
- Coerência: deve haver associação e correlação das idéias na construção dos
períodos e na passagem de um parágrafo a outro. Os elementos de ligação, tais
como conjunções, pronomes relativos, pontuação etc, são indispensáveis para
entrosar orações, períodos e parágrafos.
- Organização dos parágrafos: não deve haver fragmentação da mesma idéia
em vários parágrafos, nem apresentação de muitas idéias num só parágrafo. A
seqüência dos parágrafos deve ser coerente e articulada. A transição entre os
parágrafos deve ser adequada, quer pelas relações em nível das idéias, quer pelo
uso de palavras e expressões de ligação.
Embora a capacidade de pensar, portanto a capacidade dissertativa, seja
própria de nossa condição de homens, ela é limitada, em geral, por nossas
condições de vida. Temos nos distanciado da paixão de pensar, de compreender,
de questionar - de modo livre e lúcido, organizado e produtivo - nossa realidade.
Como encaminhar o pensamento para conquistar o conhecimento de forma
organizada e coerente?
Suponhamos que devemos redigir um texto dissertativo sobre um
determinado assunto, já realizamos uma pesquisa bibliográfica, porém nos
encontramos em dificuldade para começar a escrever de forma organizada. Para
que nosso trabalho seja encaminhado, vamos utilizar a técnica da dúvida:
1º passo: Transformar o tema em interrogação.
2º passo: Responder à interrogação de forma natural (se já estamos informados
sobre o assunto, conseguimos tirar dessa resposta nossa posição ou ponto de
vista).
3º passo: Por que pensamos assim? Tentar justificar nossa posição (desse
questionamento extraímos nosso argumento principal).
4º passo: Procurar fazer anotações de idéias e exemplos relacionados ao tema, à
posição e ao argumento principal, que poderão ser utilizados como argumentos
auxiliares, coadjuvantes na sustentação de nossa posição e convencimento do
receptor de nosso texto.
5º passo: Tentar se colocar na posição contrária, o que pensa e como se justifica
quem assume posições diferentes da nossa (lembre-se que toda dissertação
64
supõe debate, discussão, há, portanto, diálogo, explícito ou implícito com outros
conhecedores do assunto sobre o qual estamos escrevendo). Daqui tiramos os
argumentos contrários aos nossos.
6º passo: Confrontar os nossos argumentos com os argumentos contrários. Será
que nossos argumentos são realmente melhores? Será que são convincentes?
7º passo: Tentar encontrar novos argumentos para refutar os argumentos
contrários à nossa posição.
Exercício:
Tente, agora, pensar em um tema polêmico, que esteja em evidência na
imprensa, e aplique a técnica da dúvida.
Tipos de Dissertação
Dissertação Expositiva
Um texto é expositivo quando aborda uma verdade inquestionável, dá a
conhecer uma informação ou explica pedagogicamente um assunto, sem
apresentar discussão ou sem que o autor dê a conhecer, explicitamente, sua
posição sobre o tema tratado. Exemplos de textos expositivos: livros didáticos de
ciências, de história, matérias jornalísticas informativas etc.
Mas é importante ressaltar que mesmo nas dissertações expositivas é
possível reconhecer uma posição, a partir da seleção de dados e da maneira de
apresentar esses dados pelo autor.
Dissertação Argumentativa
O texto argumentativo sustenta-se com exemplos elucidativos,
interpretação analítica, evidências e juízos, sempre com visão crítica. Assim,
enquanto a dissertação expositiva apresenta um assunto, a argumentativa o
discute. Nela, o autor assume, explicitamente, a defesa de uma posição.
Exercício:
Faça uma pesquisa em jornais e revistas. Identifique textos que sejam
expositivos e textos que sejam argumentativos. Procure reconhecer o ponto de
vista implícito, que organiza as informações, naqueles que se apresentam como
meramente expositivos. Como esse ponto de vista se manifesta?
Estrutura do texto Dissertativo
A dissertação, comumente, apresenta três partes: introdução,
desenvolvimento e conclusão.
Introdução (ou tese)
É a apresentação do assunto a ser discutido e do ponto de vista que
orientará o autor no desenvolvimento de seu texto. Pode ser elaborada por meio
de afirmação, definição, citação, interrogação, da narração de um fato ou traçando
uma trajetória histórica da questão tratada. Esses procedimentos podem ou não
vir combinados entre si.
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Exercícios:
Elabore, para cada um dos dois temas abaixo, um parágrafo introdutório
entre 4 e 6 linhas.
Tema 1: “A base da democracia digital não é a liberdade de falar e escrever o que
se quer, é a possibilidade de acesso à rede.” (Armin Medosch, filósofo austríaco).
Tema 2: “Ou nós dominamos os laboratórios, com os cientistas, a ciência e a
tecnologia, ou seremos colonizados. Porque não vamos nem entender a
linguagem do mundo futuro.” (Darcy Ribeiro, antropólogo).
Desenvolvimento (argumentação)
O desenvolvimento é a parte mais extensa do texto dissertativo. Constituise
pela apresentação dos argumentos, que são exemplificações, dados
estatísticos, referências a provas concretas, testemunhos de autoridade,
referências históricas etc., que justificam e sustentam a tese (idéia central)
apresentada na introdução.
O conteúdo dos parágrafos de desenvolvimento deve obedecer a uma
progressão: repetir idéias mudando apenas as palavras resulta em redundância. É
preciso encadear os enunciados de maneira que se completem (cada enunciado
deve acrescentar informações novas ao anterior). Deve-se também evitar a
reprodução de clichês e frases feitas - recursos que enfraquecem a
argumentação.
Podemos definir o argumento como sendo aquilo que justifica e esclarece
o pressuposto apresentada pelo autor sobre um determinado tema. uma relação.
Exercícios:
1) Procure identificar o pressuposto e o argumento nas frases abaixo, reescrevaas
modificando a posição do pressuposto e do argumento.
a) As importações cresceram nos últimos anos a taxas maiores que as
exportações, por isso o Brasil vem acumulando constantes déficits na balança
comercial.
b) A produção de televisores diminuiu porque as vendas caíram no último ano.
c) Os turcos tomaram Constantinopla, então os portugueses empreenderam as
Grandes Navegações.
d) “Tudo vale a pena se a alma não é pequena.” (Fernando Pessoa)
e) É preciso haver maior fluxo de investimentos em educação porque isso gerará
trabalhadores mais qualificados.
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f) A economia brasileira permanecerá estagnada nos próximos anos porque não
há investimentos significativos por parte das empresas privados como também do
setor público.
2) Procure desenvolver um parágrafo argumentativo, de 4 a 6 linhas, para cada
um dos dois temas apresentados abaixo. Utilize exemplos, justificativas,
comparações ou qualquer outro recurso apropriado para comprovar os temas.
Tema 1: “A televisão matou a janela.” (Nelson Rodrigues, dramaturgo).
Tema 2: “É importante que a TV brasileira esqueça um pouco o consumidor e
comece a conversar com o cidadão.” (Laurindo Lalo Leal Filho, jornalista).
Conclusão
Quando elaboramos uma dissertação, temos sempre um objetivo definido:
defender uma idéia, um ponto de vista. Para tanto, formulamos uma tese
interessante, que será desenvolvida com eficientes argumentos, até atingir a
última etapa da estrutura dissertativa, que é a conclusão. Assim, as idéias devem
estar articuladas numa seqüência que conduza logicamente ao final do texto.
Para textos com teor informativo, caberá a conclusão que condense as
idéias consideradas. Já no caso de textos cujo conteúdo seja polêmico,
questionador, recomenda-se a conclusão que proponha soluções ou levante
hipóteses acerca do tema discutido. A conclusão pode, ainda, ser uma retomada
da tese, reafirmando o posicionamento nela proposto.
O texto dissertativo será tão mais convincente quanto maior, mais coerente
e mais convincente for a malha de relações que o autor conseguir tecer. Ou seja,
quanto mais amplo for o contexto de relações de causa e conseqüência em que o
autor conseguir inserir o assunto abordado.
Exemplo:
Tema:
A falta de leitura entre os jovens.
Pressuposto:
O caráter predominantemente visual da cultura de massas (substituição da palavra
pela imagem).
Argumentos:
Por isso, os jovens têm dificuldades para apreender conceitos.
Por isso, os jovens são propensos a ter dificuldades para dominar a sintaxe da
Norma Culta da Língua Portuguesa.
Conclusão:
Constata-se um crescente empobrecimento intelectual entre os jovens.
Exercícios:
Leia com atenção o texto “Luxo e Avareza”, de Contardo Calligaris.
1) Procure indentificar: tema, ponto de vista do autor, sua estratégia
argumentativa e a conclusão a que chega.
2) Procure também sintetizar cada parágrafo por meio de uma idéia-chave.
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3) No final de seu texto, Contardo Calligaris fala de um “empobrecimento da
experiência cotidiana”. Como você entende essa afirmação? O que poderia ter
levado a esse empobrecimento?
LUXO E AVAREZA
Contardo Calligaris
Gilles Lipovetsky, em “O Luxo Eterno” (Companhia das Letras), observa
que o luxo está se tornando mais democrático. A razão que ele propõe é a
seguinte: hoje, o luxo não consistiria mais em consumir de maneira extravagante
ou em acumular bens caros e raros, mas em nos permitirmos experiências
intensas e extraordinárias ou, então, em tratar de nossa saúde.
De fato, os objetos de luxo estão se tornando um pouco bregas. É cafona
servir de cabide a uma coleção de roupas assinadas e mesmo carregar
ostensivamente uma carteira de grife (se essa foi a única coisa que a gente
conseguiu comprar).
O estilo despojado parece ser uma marca de elegância mais certeira do que
uma cuidadosa combinação de vestuário e acessórios. É porque o despojamento
transmite a mensagem seguinte: “Eu não perco tempo me olhando no espelho e
verificando se estou vestido ‘direito’; meus interesses são outros”. Ou seja, você
deambula pelos shopping centers ao passo que eu levo minha calça surrada pelas
estradas do mundo; meu luxo é que vivo de verdade, enquanto você passa de
pose em pose.
Como exemplos dessa nova concepção do luxo, Lipovetsky lembra o caso
do homem que pagou 22 milhões de euros para passar uma semana na estação
espacial internacional e, mais geralmente, invoca o enorme mercado da saúde e
da forma. Ele conclui que não anelamos mais adquirir e ostentar bens; preferimos
nos dar o luxo de viver experiências extremas e de cuidar de nosso bem-estar
físico e psíquico. Ou seja, o luxo hodierno seria uma questão de vivências: velejar
pelo Cabo da Boa Esperança, comer vegetais orgânicos, freqüentar uma
academia, um spa ou um psicanalista.
É um progresso? Lipovetsky parece pensar que sim, visto que, segundo
ele, as novas práticas do luxo teriam um valor intrínseco e não só ostentatório:
treino ou viajo para meu próprio bem ou para meu prazer, não para merecer a
consideração ou suscitar a inveja dos outros. O novo luxo não estaria a serviço da
divisão social entre os que têm e os que não têm; ele estaria a serviço da fruição
da vida. Legal, não é? Pois é, eu não estou muito convencido disso.
O luxo atual, por mais que pareça consistir em vivências e cuidados de si,
continua a serviço das aparências. Por exemplo, o despojamento, do qual falei
antes, fomenta uma indústria de paramentos: é possível comprar uma calça velha
muito mais cara do que seu equivalente novo de fábrica, e a prática de aventuras
extremas talvez propague uma mensagem parecida com a dos jeans rasgados:
“Veja como vivo intensamente”. Do mesmo jeito, o cuidado com a forma talvez
seja, antes de mais nada, uma preocupação com as formas: “Veja meu corpinho”.
Mas isso é o de menos.
O que me inquieta mais, no novo luxo, é sua avareza. Explico.
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Uma boa parte de nossos cuidados com a forma alvejam a preservação de
nossas forças, de nossa juventude e, enfim, da duração de nossa vida:
paradoxalmente, trata-se de um luxo em que gastamos para poupar.
Quanto à paixão por experiências extremas, impressiona-me o caráter
marginal e extraordinário das experiências: elas são interrupções na vida de cada
dia, momentos de férias.
O pretenso luxo das vivências é quer seja uma defesa contra o desgaste de
nossas energias, quer seja uma válvula de escape.
Em suma, talvez estejam em vigor ideais novos (o ideal da aventura e o do
cuidado de si), diferentes do antigo ideal do luxo, em que vislumbrávamos os
apetrechos necessários para parecermos chiques, ricos e famosos. Mas esses
novos ideais se limitam a alimentar uma eterna preparação física e psíquica (os
atos ficam para amanhã) ou, então, realizam-se em momentos de evasão. É como
se, sonhando em ser exploradores e viajantes, encontrássemos nossa “satisfação”
fazendo as malas ou sendo turistas de vez em quando.
Alguém dirá: qual é o problema? Será que deveríamos abandonar casa,
trabalho, filhos e família para procurar aventuras mirabolantes e, sobretudo,
permanentes? Nada disso.
A questão é esta: como foi que nossa experiência cotidiana se empobreceu
a ponto de passarmos nosso tempo nos preparando para 15 dias por ano de
pseudo-aventuras de férias obrigatórias? Como aconteceu de o “luxo” deixar de
ser uma forma suntuosa de gastar a vida e se tornar uma forma de poupá-la em
vista de eventuais escapadelas no fim do ano ou nos feriados?
As novas formas do luxo, apontadas por Lipovetsky, sugerem que estamos
vivendo na impressão de uma mediocridade crônica, treinando e poupando forças
para um “alhures” geográfico e temporal.
Ora, o verdadeiro luxo das vivências consistiria em viver não na espera ou
no treino, mas aqui e agora, com toda a intensidade possível.
***
Neste ano, no Brasil, foram publicados três livros de Lipovetsky: A Era do
Vazio (que é de 1983), A Sociedade pós-Moralista Crepúsculo do Dever (que é
de 1992) e Luxo Eterno (que é de 2003 e reúne dois ensaios, um de Lipovetsky e
outro de Elyette Roux). Além disso, acaba de sair A Invenção do Futuro, debate
organizado por Miguel Reale Júnior e Jorge Forbes, com a participação de
Lipovetsky.
(In: Ilustrada, Folha de São Paulo, 22/09/05)
1) Proposta de dissertação:
Leia com atenção as duas letras de músicas transcritas abaixo e siga os
seguintes passos:
1º passo: grife as palavras de sentido desconhecido ou duvidoso, procure o
sentido preciso no dicionário. Monte um glossário com essas palavras,
obedecendo a ordenação alfabética.
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2º passo: faça um levantamento das questões sociais abordadas pelos autores.
Há argumentos por comparação? Reconheça-os. Há abordagem de preconceitos
ou de temas considerados tabus pela sociedade. Quais? Como são tratados?
3º passo: proposta de discussão em classe sobre os temas sociais reconhecidos
pelos alunos.
4º passo: elabore um texto dissertativo, composto por um parágrafo introdutório,
dois parágrafos argumentativos e um parágrafo conclusivo. Com base nas
discussões feitas em classe, o próprio aluno deve delimitar um tema e,
posteriormente, dar um título a sua dissertação.
Americanos
Caetano Veloso
Americanos pobres na noite da Louisiana
Turistas ingleses assaltados em Copacabana
Os pivetes ainda pensam que eles eram americanos
Turistas espanhóis presos no aterro do Flamengo
Por engano
Americanos ricos já não passeiam por Havana
Veados americanos trazem o vírus da Aids
Para o Rio no carnaval
Veados organizados de São Francisco conseguem
Controlar a propagação do mal
Só um genocida em potencial
- de batina, de gravata ou de avental -
Pode fingir que não vê que os veados
- Tendo sido o grupo-vítima preferencial -
Estão na situação de liderar o movimento pra deter
A disseminação do HIV
Americanos são muito estatísticos
Têm gestos nítidos e sorrisos límpidos
Olhos de brilho penetrante que vão fundo
No que olham, mas não no próprio fundo
Os americanos representam grande parte
Da alegria existente neste mundo
Para os americanos branco é branco, preto é preto,
(E a mulata não é a tal)
Bicha é bicha, macho é macho,
Mulher é mulher e dinheiro é dinheiro.
E assim ganham-se, barganham-se, perdem-se,
Concedem-se, conquistam-se direitos
Enquanto aqui embaixo a indefinição é o regime
E dançamos com uma graça cujo segredo nem eu
Mesmo sei
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Entre a delícia e a desgraça,
Entre o monstruoso e o sublime
Americanos não são americanos
São velhos homens humanos
Chegando, passando, atravessando.
São tipicamente americanos.
Americanos sentem que algo se perdeu,
Algo se quebrou, está se quebrando
Haiti
Gilberto Gil/Caetano Veloso
Quando você for convidado pra subir no adro
Da Fundação Casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(Que são quase todos pretos)
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos, quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque, um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada: nem o traço do sobrado
Nem a lente do Fantástico, nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for ver a festa do Pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui, o Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino de primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
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Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um
Saco brilhante de lixo do Leblon
E ao ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos, quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui, o Haiti não é aqui
2) Proposta de dissertação:
A partir da leitura do texto “Saber ler e escrever”, de Contardo Calligaris, e
das músicas “Comida”, de Arnaldo Antunes, e “Balada do Asfalto”, de Zeca
Baleiro, redija uma dissertação em prosa sobre o tema: A importância da
formação cultural frente ao utilitarismo do mundo contemporâneo.
SABER LER E ESCREVER
Contardo Calligaris
Em 2003, o governo lançou o programa “Por um Brasil Alfabetizado”. Desde
então, periodicamente, há cerimônias solenes de formatura para adultos que
aprenderam a ler e a escrever e para os que completaram o ensino fundamental.
Com freqüência, o próprio presidente Lula felicita a turma.
No sábado passado, no Rio de Janeiro, o presidente disse aos alunos que,
uma vez formados, eles poderão mais facilmente encontrar emprego e ganhar
mais do que um salário mínimo. Além disso, o progresso na qualificação dos
trabalhadores contribuirá para o desenvolvimento nacional.
Um mês atrás, em circunstâncias análogas, o presidente evocou uma
lembrança tocante: seu pai, analfabeto, comprava o jornal para que os outros não
descobrissem que ele não sabia ler. Juntando Fome Zero, programa de
alfabetização e campanha da auto-estima brasileira, ele afirmou: “Comer e estudar
possibilitam ter força para trabalhar. Possibilitam estufar o peito e dizer: “eu sou
brasileiro e não desisto nunca”.
Não há como não concordar: o analfabetismo é injustamente vivido como
vergonha, o esforço de quem se alfabetiza na idade adulta pode e deve ser motivo
de grande orgulho e, certamente, é mais fácil trabalhar comendo e sabendo ler e
escrever.
Mas resta que, nos discursos citados, nada parece ser dito sobre o que
significa mesmo aprender a ler (não tenho acesso à íntegra desses discursos,
talvez minha observação valha apenas para a seleção relatada na imprensa).
Algum leitor tomará a dianteira: “Agora ele vai nos dizer que o importante,
na alfabetização, não é melhorar o acesso ao mercado do trabalho e permitir o
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exercício digno da cidadania (saber ler formulários, votar, informar-se). Ele vai dar
uma de intelectual e afirmar que o pessoal deve se alfabetizar para ler Camões e
Machado de Assis”.
É quase isso. Explico.
No começo dos anos 1970, em Genebra, fiz parte de um pequeno grupo de
acadêmicos italianos que organizou um curso noturno para os imigrantes que
quisessem completar o ensino fundamental. Leitores de Paulo Freire, tínhamos a
ambição de fazer de nossas aulas um momento de “conscientização” (era a
palavra na moda).
Pois bem, as pequenas turmas que ajudamos se interessavam,
obviamente, pelo diploma (que era a condição para se candidatar a um emprego
público na Itália). Mas o que todos queriam, o que os motivava, depois de um
trabalho brutal, a passar as noites numa sala de aula era outra coisa.
Foi a pedido deles que inventei um jeito de resumir muitos daqueles livros
sem os quais o mundo fica mais triste e pobre. Resumi a “Divina Comédia”, “Dom
Quixote”, “Crime e Castigo” e “Moby Dick”. Resumi “Édipo Rei” e a “Fedra” de
Racine. Resumi “O Jovem Törless” e “O Coração das Trevas”. Para cada livro, eu
contava a história, mostrava como ela nos tocava de perto e trazia um parágrafo
ou dois de um momento crucial, para a gente ler e comentar. Às vezes, mudava as
palavras ou endireitava a sintaxe, simplificava o texto.
Mais pelo fim do curso, a gente ia ao cinema aos sábados. Depois do filme,
durante noitadas das quais ainda sinto saudade, no café Landolt; era um festival
de nexos e interpretações. “Ele fez que nem o capitão Ahab”, “Ela era uma Fedra
mesmo”, “O outro se tomava pelo Grande Inquisidor” e por aí vai. As conversas se
confundiam com o papo dos estudantes de letras nas mesas ao lado da nossa.
Emocionava-me a familiaridade com a qual tratavam a tradição literária, mas o fato
mais comovedor, para mim e para eles, era que sua experiência e sua fruição do
mundo eram, de repente, mais ricas, mais complexas, mais humanas.
Como é possível que, na hora de promover o programa nacional de
alfabetização, só pareçam importar as vantagens materiais e sociais do diploma?
Qual incompreensão do sentido da cultura e de seu uso faz que os discursos que
felicitam os candidatos só falem de emprego e mudança de status?
Não vale responder que os candidatos têm necessidades imediatas
(trabalho, arroz e feijão), enquanto a cultura é um luxo: negar esse “luxo” sob
pretexto de que ele não enche a barriga significa negar a humanidade dos que se
sentam num banco de escola.
No discurso de setembro que citei antes, o presidente concluiu: “Se um filho
de pai e mãe analfabetos, um torneiro mecânico de formação chegou a presidente
da República, vocês acreditem que se quiserem podem chegar muito mais alto do
que os livros dizem que vocês podem chegar. É só ter vontade, e não parem de
estudar.” (obviamente, o destaque é meu).
Paradoxo: se os livros dizem que a gente não pode subir na vida, por que
aprender a ler e por que continuar estudando? Ah, claro, tinha esquecido: para
ganhar um emprego melhor...
Não sei de quais livros o presidente está falando, mas sei que os livros de
que gosto (e que meus alunos de Genebra gostavam) não dizem ao leitor que ele
não pode subir na vida. Ao contrário, esses livros ensinam a sonhar, a viver a vida
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mais plenamente e a levá-la a sério. Em suma, eles ensinam a ser gente. Das
várias maneiras de “subir na vida”, é a que mais vale a pena.
(in: Ilustrada. Folha de S. Paulo, 27/10/2005)
COMIDA
Arnaldo Antunes
Bebida é água.
Comida é pasto.
Você tem sede de quê?
Você tem fome de quê?
A gente não quer só comida,
A gente quer comida, diversão e arte.
A gente não quer só comida,
A gente quer saída para qualquer parte.
A gente não quer só comida,
A gente quer bebida, diversão, balé.
A gente não quer só comida,
A gente quer a vida como a vida quer.
Bebida é água.
Comida é pasto.
Você tem sede de quê?
Você tem fome de quê?
A gente não quer só comer,
A gente quer comer e quer fazer amor.
A gente não quer só comer,
A gente quer prazer pra aliviar a dor.
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer dinheiro e felicidade.
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer inteiro e não pela metade.
BALADA DO ASFALTO
Zeca Baleiro
me dê um beijo meu amor
só eu vejo o mundo com meus olhos
me dê um beijo meu amor
hoje eu tenho cem anos
hoje eu tenho cem anos
e meu coração bate como um pandeiro
num samba dobrado
vou pisando o asfalto entre os automóveis
mesmo o mais sozinho nunca fica só
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sempre haverá um idiota ao redor
me dê um beijo meu amor
os sinais estão fechados
e trago no bolso uns trocados pro café
e o futuro se anuncia no outdoor luminoso
luminoso o futuro se anuncia no outdoor
há tantos reclames pelo céu
quase tanto quanto nuvens
um homem grave vende risos
a voz da noite se insinua
e aquele filme não sai da minha cabeça
rumino versos de um velho bardo
parece fome o que eu sinto
eu sinto como se eu seguisse
os meus sapatos por aí
há alguns dias atrás vendi minhalma
a um velho apache
não é que eu ache
que o mundo tenha salvação
mas como diria o intrépido caubói
fitando o bandido indócil
a alma é o segredo
a alma é o segredo
a alma é o segredo do negócio
38. TEXTOS PERSUASIVOS
Nos textos dissertativos o locutor procura convencer seu receptor pela
validade das verdades que enuncia, pela organização lógica das relações que
estabelece em seu discurso e pelas conclusões que apresenta.
Persuadir é convencer. Os textos persuasivos visam a convencer seus
receptores e, principalmente, influenciar seu pensamento e seu comportamento.
Para que ocorra o convencimento, a manipulação do receptor (destinatário da
mensagem) pelo locutor (destinador da mensagem) aquele deve aceitar os valores
que este apresenta em seu discurso.
Os textos persuasivos não se restringem ao uso da razão (como, em geral,
os dissertativos), mas recorrem também, e principalmente, a apelos emocionais e
sensoriais, procuram também seduzir os sentidos e a afetividade do receptor
(destinatário da mensagem).
Exemplos de textos persuasivos: discurso religioso, discurso político, a
publicidade ou qualquer discurso que formulamos em nosso cotidiano para
convencer nossos amigos, filhos, esposos, namorados, pais a aceitar um
determinado valor.
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Pode-se reconhecer basicamente quatro tipos de persuasão:
1) Por provocação, quando o destinador, em seu discurso, apresenta uma
imagem negativa do destinatário e impõe a ele um dever-fazer. Ou seja, para que
essa imagem seja mudada ele deve mudar sua maneira de agir ou de pensar, seja
aceitando determinados valores religiosos, votando em algum político ou
consumindo um determinado produto, pois quem assim não faz é careta,
reacionário, quadrado, descrente...
2) Por intimidação, quando o destinador, em seu discurso, apresenta ao
destinatário a ameaça de uma sanção negativa, uma punição, caso ele não venha
a agir ou pensar de uma determinada maneira. Impõe-se, portanto, um dever-fazer
sob o risco de recair valores negativos sobre o destinatário. Isto ocorre, por
exemplo, quando nos limitamos a dirigir a 100 km/h devido ao risco de transgredir
as leis de trânsito e sermos punidos com multa, ou quando acatamos a campanha
de prevenção da Aids e passamos a exigir camisinha.
3) Por sedução, quando o destinador apresenta uma imagem positiva do
destinatário caso ele assuma determinada forma de pensar, aja de certa maneira
ou consuma algum produto. O destinador, em geral, é seduzido pelos sentidos ou
pela emoção, é colocado a ele um querer-fazer, pois, criado o desejo, ele
efetivamente quer pensar, agir ou consumir para que os outros tenham dele uma
determinada imagem. Por exemplo, se a moça usar “Impulse” ficará tão bonita e
cheirosa que os rapazes bonitos não resistirão e lhe oferecerão flores.
4) Por tentação, quando o destinador apresenta ao destinatário um valor positivo
que ele alcançará caso pense ou aja de uma determinada maneira. O destinatário
assim quererá fazer para alcançar sua recompensa (é apresentado a ele um
querer-fazer). Por exemplo, quando é oferecida à criança uma viagem à
Disneylândia caso ela passe para o 2º grau.
Exercícios:
1) Procure identificar nas propagandas de televisão ou de revista aquelas que
convencem por provocação, por intimidação, por sedução e por tentação. Procure
perceber também como esses tipos de persuasão se misturam nas propagandas.
2) Elabore um texto publicitário de um produto da sua escolha, real ou criado por
você. Tente convencer seu público a comprá-lo. Seu texto deve ser composto de
“título” (frase dirigida ao destinatário, slogan do produto), “texto” (você deve entrar
em maiores detalhes a respeito do produto que pretende vender) e “assinatura”
(apresenta o nome e/ou a marca do produto como solução para determinado
problema de seu público).
3) Imagine que você possui ou trabalha para uma empresa prestadora de
serviços. Elabore uma carta para um possível cliente, tentando convencê-lo a
utilizar um determinado serviço que sua empresa oferece.
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39)Dez passos para montar um currículo nota 10__
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