Miranda Lee - Mulher Inesquecivel
Miranda Lee - Mulher Inesquecivel
Miranda Lee - Mulher Inesquecivel
MULHER INESQUECVEL
A woman to remember
MIRANDA LEE
PRLOGO
Ela tirou as roupas da mala e as estendeu sobre a cama do hotel, antes de
comear a se vestir. Um minivestido curtssimo, com decote cavado e de tecido
malevel, imitando pele de leopardo, sandlias com acabamento dourado e de salto
bem alto, uma corren-tinha no tornozelo e, para completar, uma minscula calcinha
de cetim para dar a impresso de nudez sob a nfima vestimenta. Apenas isso. Nada
de suti ou meias finas.
Um arrepio lhe percorreu o corpo ao pensar no que estava parecendo, vestida
daquela forma. Deixou os longos cabelos loiros soltos, escovados de modo a lhe
atriburem um aspecto selvagem. Aplicou um batom de cor forte e sensual nos lbios
carnudos, fazendo-os parecer ainda mais macios e perfeitos.
No poderia ser sutil. Era exatamente com esse tipo de aparncia que
pretendia ficar. No havia tempo para tentar algo usando sua imagem natural de
"madame". Nenhuma chance para demora ou decoro. Teria apenas uma noite, nada
mais do que algumas horas.
Uma onda de insegurana a dominou ao pensar no que estava prestes a
fazer e em como deveria agir para alcanar seu objetivo de maneira rpida e eficaz.
"Meu Deus... O que aconteceu comigo ao longo deste ltimo ano? No que me
transformei?", pensou, aflita.
Por uma frao de segundo, quase desistiu da ideia, mas o desespero e a
lembrana da frustrao renovaram-lhe a coragem. Teria que voltar para casa na
manh seguinte, o lar do marido moribundo, onde tudo que ela conhecia eram
semanas e mais semanas de uma solido desoladora.
No poderia perder essa chance. Tinha de aproveit-la, pois no havia outra
alternativa.
Olhando mais uma vez para o jornal dobrado sobre o travesseiro, confirmou o
endereo da exposio fotogrfica pela milsima vez. Seria o nico evento social
dessa natureza que ocorreria nessa quarta noite. No lembrava da rua e muito
menos da galeria de arte. Natural, j que havia se passado alguns anos desde que
vivera e trabalhara em Sdnei.
Ao deixar o jornal de lado, pensou se o evento seria como todos naquela
categoria, repleto de pessoas desacompanhadas. Contudo, grande parte dos
homens disponveis, inclusive os mais bonitos, com certeza seriam homossexuais.
Mas sempre havia uma pequena poro deles transbordando masculinidade. E
outros mais machismo do que moral.
"E onde est a sua prpria moral, Rachel?", pergun-tou-se em pensamento.
Deixei-a em casa respondeu para si mesma em voz alta, ao jogar o
jornal no lixo. Junto com tudo aquilo de que gostei algum dia. Hoje a vida um
jogo diferente... Um jogo muito diferente completou, retirando a aliana de
casamento, antes de sair.
No havia tempo para sentir culpa nem crise de conscincia nessa noite.
"Que Deus me perdoe!", pensou. Vergonha era algo que apenas esposas em
condies normais poderiam se dar ao luxo de sentir. E ela prpria no tinha outra
escolha.
CAPITULO I
Voc precisa ir ao dentista. Luke ingeriu os dois analgsicos com generosos
goles de gua, ignorando a advertncia.
Farei isso assim que voltar para Los Angeles respondeu ao se virar e
exibir um belo sorriso para a me. No est to mal assim.
Grace no pretendia se distrair da misso maternal de fazer o filh ir ao
dentista. Contudo, foi obrigada a reconhecer que aquele sorriso distrairia qualquer
outra mulher. Como se no bastasse, com certeza tambm desarmaria e
desorientaria alguma menos avisada.
Aos trinta e dois anos, Luke havia desenvolvido uma espcie de olhar fatal no
que dizia respeito s mulheres. A maturidade e as intempries da vida haviam
adicionado alguns traos muito interessantes ao rosto perfeito, deixando-o ainda
mais msculo. Exibia uma impressionante e arrebatadora sensualidade que no
tinha antes.
Apesar de os outros dois irmos serem homens muito bonitos e charmosos,
Luke era o que reunia as melhores caractersticas possveis da herana gentica.
Ficara alto e atltico como o pai, alm de tambm ter os mesmos olhos cas.tanhosescuros e a pele bronzeada. Da me, herdara o rosto bem-delineado, o nariz
aquilino e os firmes lbios carnudos. Sem dvida, uma mistura poderosa.
Na adolescncia, o filho caula de Grace era um sucesso com as garotas, e
no restava dvida de que ainda surtia o mesmo efeito hoje em dia, atingindo
tambm as mulheres maduras. O que a me lamentava, porm, era o fato de Luke
ainda no haver encontrado uma companheira.
Pior era saber que as mulheres com quem ele convivia no eram bem o tipo
de nora que ela gostaria de ter.
suco como tambm fica pendurado no canto da boca puxando o lbio para baixo,
fazendo o rosto do paciente parecer o de um rnutante de Marte.
Grace riu.
Ento, essa a raiz do problema. No quer parecer nada menos do que
um perfeito gal na frente da linda e jovem assistente do dr. Evans.
Luke arqueou uma sobrancelha, com ar de interesse sarcstico.
O dr. Evans tem uma linda assistente?
Tinha, da ltima vez que estive l. Meu Deus! Se eu soubesse, teria
comentado antes. Ento ainda tem uma queda por lindas jovenzinhas?
O olhar de Luke foi claro e bvio, confirmando as suspeitas de Grace. Alguma
jovem bonita o havia magoado de forma muito profunda. Teria sido a tal atriz?
Troquei as lindas jovenzinhas por mulheres mais interessantes
respondeu Luke, com secura.
E houve alguma mulher interessante na sua vida nos ltimos tempos,
sobre a qual eu possa saber?
Nenhuma.
Tentar arrancar alguma informao a respeito dele estava se mostrando mais
difcil do que convenc-lo a ir ao dentista.
O que aconteceu com aquela tal de Tracy, sobre quem voc me escrevia?
insistiu Grace. Para mim, parecia que estavam a um passo do casamento...
E estvamos ele confirmou. Na ltima hora, porm, Tracy decidiu
abraar a carreira, ao invs do relacionamento explicou com amarga frieza.
E por que ela teve que fazer uma escolha? Pensei que as mulheres
americanas fossem do tipo que tenta manter tudo ao mesmo tempo. Casamento,
filhos e tambm uma carreira profissional. Luke riu com sarcasmo.
No acredite em tudo o que v na televiso, mame. Isso pura fantasia.
Tracy no se importava com o casamento em si e at concordou em se tornar a sra.
Luke St. Clair, mas no tinha a menor inteno de ter filhos. Ao menos foi honesta o
bastante para dizer isso logo e no deixar tudo prosseguir sem esclarecimentos.
Nunca vi sentido em um casamento sem filhos, por isso acabamos tudo.
Fizeram muito bem. Para voc, um casamento sem crianas seria um
completo desastre. Daria um timo pai.
Parecendo surpreso, Luke a encarou.
Por que est dizendo isso?
Oraj Luke, no seja bobo. Sou sua me. Sei dessas coisas...
Ah... o tal instinto feminino?
Instinto maternal. E exemplo paterno tambm. No se esquea de que
teve um excelente pai. Todos vocs herdaram essa qualidade dele.
Pena que seja um desperdcio no meu caso. No consigo nem sequer me
poucos, isso estava minando toda a paz que havia em sua alma.
Como poderia explicar me que no havia meio de se sentir feliz, pois
estava perdendo a prpria identidade? No sabia que rumo dar prpria vida.
Estava perdido desde que acordara naquela manh e descobrira que ela
havia sumido. Por mais que procurasse, no encontrara nenhuma pista da
identidade da mulher que o afetara para sempre. Era como se ela jamais houvesse
existido.
Porm, o fato que ela existia. Bastava fechar os olhos para que as
lembranas lhe viessem mente, em um turbilho. O rosto. A paixo. O calor
envolvente daquele corpo perfeito...
Deus... por que ela no o deixava em paz? Qual o motivo de no conseguir
esquec-la?
Luke? Grace o chamou. No me trate com indiferena. No suporto
quando meus filhos ficam quietos e me ignoram.
Antes de encarar a me, Luke tratou de ocultar o que estava sentindo. A
intuio de Grace era muito aguada.
Pensei que Andy e Mark houvessem satisfeito todos os seus anseios de se
tornar av disse a ela. Ao todo, j lhe deram cinco netos. Trs meninos e duas
meninas, sem falar nas duas noras perfeitas que escolheram para casar... Acho que
no precisa de mim para expandir a genealogia dos St. Clair, nem a contagem de
noras. Dois filhos bem casados em um total de trs j d uma pontuao positiva.
No comece a agir como uma dessas mes casamenteiras e nem a querer me
arrumar encontros, seno serei forado a ficar menos tempo aqui e passar minhas
frias em Los Angeles...
O olhar magoado de Grace fez com que ele se sentisse culpado no mesmo
instante, desculpando-se de imediato:
No estou falando serio, mame... Emendou. Sabe que a grande
mulher da minha vida. Eu nunca conseguiria ficar longe de voc por muito tempo.
Bajulador censurou Grace, deixando que o filho notasse que ficara feliz
com o comentrio.
Aps descontrair o clima dentro do carro, Luke tratou de se recostar e
observar a bela e conhecida paisagem que preenchia o trajeto. Ao menos era uma
distrao. Em nenhum lugar do mundo encontrara um cu to azul quanto o da
Austrlia. O brilho cristalino era nico, mas fazia com que a luz fosse muito intensa
em toda parte. No era o fundo ideal para fotografia.
Precisava de tcnicas e lentes especiais para fotografar bem nesse lugar,
exceto na hora da alvorada ou do crepsculo. Tcnicas que Luke nunca havia
testado, mas representavam um desafio interessante que jamais pensara em
considerar.
Sempre preferira fotografar pessoas, desde a infncia. Especializara-se em
fotos artsticas em preto-e-branco, fazendo uma fortuna com seu trabalho.
Houve um tempo em que as pessoas se surpreendiam ao se verem mais
bonitas nas fotos que ele fazia do que na vida real. Atualmente, era fundamental que
uma modelo ou atriz tivesse seu portfio feito pelo grande Luke St. Clair, se
quisesse fazer sucesso nos Estados Unidos. Dessa forma, passara a ser regiamente
pago pelo seu servio.
Entretanto, tudo aquilo j o estava cansando. No precisava mais fazer
fortuna, pois investira em algumas coisas que lhe rendiam o suficiente para parar de
trabalhar pelo resto da vida, se assim desejasse. Talvez agora fosse o momento de
deixar o circuito da fama e alar um vo diferente, dando mais asas criatividade.
Talvez sua me estivesse certa e houvesse mesmo chegado a hora de voltar
para casa, se no para casar, ao menos para achar um rumo na vida. A maneira
como vivera no ltimo ano o estava destruindo aos poucos e a situao no poderia
continuar assim.
Vou deix-lo aqui avisou Grace, parando junto calada.
O consultrio fica logo aps aquele arco. H uma escada estreita que leva
a um corredor. O dentista fica na segunda porta esquerda. Depois, nos encontraremos na lanchonete da esquina. Assim, quem chegar primeiro pode esperar
o outro tomando um caf.
Com um frio no estmago, Luke chegou porta de vidro do consultrio e a
abriu. Uma garota muito bonita estava sentada mesa da recepo e, ao ver o belo
espcime que se aproximava, ofereceu seu melhor sorriso.
Pois no? Em que posso ajud-lo? perguntou ela, em tom melodioso.
Luke fez o possvel para ignorar o convite implcito naqueles olhos azuis
. Apesar disso, desviou o olhar de modo automtico para as mos dela, em
busca de alguma aliana que indicasse casamento ou compromisso. Ao longo do
itimo ano, criara o mau hbito de sair com garotas como essa, lev-las para a cama
e nunca mais procur-las.
No sentia orgulho do que fazia, mas j havia entendido o que o motivava.
Estava punindo-as no lugar dela.
Luke se justificava para si mesmo, afirmando que s saa com aquelas que
deixavam bem claro o que desejavam dele, como ela havia feito.
Estava sempre procura de algum tipo de satisfao em ser o elemento
sedutor, mas, ao invs disso, sentia-se pior a cada manh que sucedia uma noite de
seduo.
As mulheres envolvidas no sabiam, mas estariam melhor sem ele. Havia se
tornado frio e calculista, no mbito da seduo sexual. O nico conforto para sua
conscincia era se manter longe das compromissadas.
No queria chegar to fundo no poo em que se metera.
Meu sobrenome St. Clair. Tenho uma consulta marcada para as dez e
meia.
Oh, sum, sr. St. Clair. O dr. Evans est um pouco atrasado. Dever
atend-lo dentro de quinze minutos. Aceitaria uma xcara de ch ou caf enquanto
aguarda?
Caf? Ch? Com o estmago embrulhado? Talvez usque, mas isso estava
fora de cogitao em um consultrio dentrio.
No, obrigado respondeu Luke, dirigindo-se s poltronas da recepo.
levantou, ouvindo a voz do bom senso dentro de si: "Esquea essa mulher. Ela
sinnimo de encrenca".
Quando ele entrou no consultrio, a enfermeira o conduziu cadeira de
tratamento. A estonteante beleza da moa passou despercebida por Luke. Nem
sequer o nervosismo estava presente. S havia a imagem dela em sua mente.
Recostado na cadeira, fechou os olhos e se viu incapaz de esquec-la. Ainda
mais agora, que ela tinha um nome.
Rachel.
Luke desconhecia o nome dela, quando ela o seduzira durante uma
exposio, dezoito meses atrs. Ainda no sabia quem era a mulher, quando
acordara na manh seguinte e descobrira que estava sozinho.
Rachel...
O nome se enquadrava bem para a noiva de branco na fotografia, mas no
para a criatura felina que o seduzira naquela noite. Rachel parecia o nome de uma
"madame". E no havia nada de madame na mulher que se aproximara dele
naquela noite, encurralando-o contra um pilar para roubar-lhe o drinque e beb-lo
com sensualidade. Ento ela sorrira de forma provocante e sedutora ao lhe fazer a
proposta mais ousada que j ouvira de uma mulher.
Claro que Luke j tinha ouvido uma boa centena de cantadas at ento, mas
nenhuma como aquela.
O dentista conversava com Luke enquanto trabalhava, mas ele no ouvia
nada. Sua mente voltara para a noite da exposio. Era como se ainda pudesse
ouvi-la dizendo aquelas palavras perturbadoras, reaviando cada momento daquela
noite inesquecvel que acabaTa com sua vida.
CAPITULO II
Estou em um quarto de hotel nas proximidades murmurou ela, em um tom
de voz sensual, mantendo os lindos olhos verdes fixos nos dele.
Se est mesmo to descontente com a festa quanto parece, talvez queira
me acompanhar at l.
Luke endireitou a postura e se sentiu feliz por o copo estar nas mos
bronzeadas da bela loira. Caso contrrio, com certeza o teria deixado cair.
Lembrando-se agora do detalhe, at que no teria sido m ideia. Ao menos viria a
ser um elemento de distrao que o traria de volta lucidez.
Permaneceu entretido com o verde brilhante daquelas ris semelhantes a
esmeraldas, no ousando arriscar outro olhar para o corpo dela. Tinha visto o
suficiente para perder o controle, quando ela se movera de forma lnguida e sedenta
em sua direo, atravs da galeria.
O rosto da mulher era magnfico. Perfeio extica emoldurada por longos
cabelos dourados. O corpo era mais do que perfeito. Esguia, com curvas sensuais e
seios firmes. Pernas longas e bem-torneadas, como se houvessem sido esculpidas
pelas mos de um artista renascentista. A cintura delgada atribua-lhe um toque de
delicadeza, arrematando o conjunto de modo arrebatador.
Vestida com um toque excessivo de vulgaridade para o gosto habitual de
Luke, no deixava dvidas ou margem para a imaginao. Com certeza no estava
vestindo nada sob a minissaia com estampa de pele de leopardo. O material sedoso
era justo e colante como uma segunda pele. O corpete do vestido deixava os
ombros e braos nus, permitindo ver a pele bronzeada que faria inveja a qualquer
mulher.
Isso o levou a pensar na procedncia dela. Quem seria ela, afinal? Bem,
talvez fosse melhor no saber.
Para Luke, o normal era se sentir atrado por mulheres interessantes, de
classe, com carreiras sofisticadas e que exalassem uma sensualidade sutil e
desafiadora. Mulheres desse tipo costumavam enviar leves insinuaes que precisavam ser bem observadas para serem notadas. Nunca fariam um convite aberto
como essa ousada estranha.
Tem o hbito de fazer esse tipo de proposta a completos estranhos?
questionou ele, tentando ocultar o quanto estava chocado. E tambm atrado.
Tentava se convencer de que estava sentindo tamanho desejo pelo fato de
estar sozinho desde o rompimento com Tracy, meses atrs. Contudo, sabia que no
era apenas isso. Tivera certeza de desejar possuir essa mulher felina, no exato
momento em que a vira.
Um leve arquear das impecveis sobrancelhas douradas se fizeram notar por
um instante.
Voc americano afirmou ela.
Luke poderia ter esclarecido o engano, mas a intuio lhe disse ser melhor
ocultar sua verdadeira origem.
Algumas pessoas afirmavam que ele havia adquirido um leve sotaque
americano desde que deixara a Austrlia, mas at ento nunca levara isso muito a
srio.
Voc no gosta de americanos? perguntou, pegando de volta o copo da
mo dela e acabando de beber o drinque.
Tinha a impresso de que a melhor sada para essa noite seria mesmo ficar
bbado.
Depende declarou a estranha, evasiva. Est apenas passando frias
aqui ou pretende ficar?
Estou de frias respondeu Luke, com sinceridade.
"Mas posso ficar para sempre, se puder passar todas as noites com voc",
completou em pensamento.
J podia "sentir o sangue ferver nas prprias veias e a excitao fsica se
apoderando de seu corpo. Sentiu-se grato por estar em um ambiente mal-iluminado.
Assim no deixaria bvio para a sedutora loira felina que ele era uma presa fcil e
que j estava fisgado diante de tanta sensualidade. Mesmo estando completamente
dominado, o ego masculino o obrigaria a resistir pelo maior tempo possvel.
"Talvez um minuto... ou meio", pensou, satirizando a prpria fora de vontade.
Isso me desqualifica? perguntou em tom irnico.
Pelo contrrio murmurou ela, com a voz sensual e envolvente.
Adoro turistas. Ainda mais os altos, elegantes e bronzeados, com olhos
negros muito sensuais. Voc est sozinho, no e mesmo?
No h nenhuma esposa ou namorada esperando no hotel ou nos Estados
Unidos, espero?
- Estou to sozinho que chego a me sentir indecente... Luke comentou,
tentando parecer indiferente.
No h nada de indecente em voc, bonito murmurou ela. Na
verdade muito charmoso, para no dizer perfeito. Venha comigo...
Ela pegou o copo da mo dele e o depositou no cho, encostado ao pilar. O
movimento lento permitiu que Luke visse o interior do decote, vislumbrando os seios
firmes e perfeitos. Ao endireitar o corpo, ela exibiu um discreto sorriso malicioso.
Segurando-o pela mo, conduziu-o atravs da galeria, em direo a uma grande
escadaria branca.
mulher tomou forma em sua mente. Ela voltou a lhe lanar um daqueles olhares
inseguros pouco depois de terem deixado a galeria. Ento Luke a agarrou,
pressionando-a contra a porta de uma loja fechada, sob a sombra da noite.
O choque e o olhar assustado confirmaram suas suspeitas, levando-o a
perceber que a moa no estava mesmo acostumada a esse tipo de jogo perigoso.
Ou ento, ela nunca tivera problemas mais srios antes.
Sua tola censurou-a, enfurecido pelo ltimo pensamento que lhe
ocorrera. No conhece os riscos de sair com um estranho?
O queixo dela se ergueu em desafio e os olhos verdes o fitaram com fria.
Se devo interpretar isso como uma mudana de ideia, ento diga logo e
pronto! vociferou. Com um movimento brusco, tentou se livrar dos braos dele.
No tenho tempo a perder com covardes. No hoje.
Covarde? Ora sua...
A fria tomou conta dos pensamentos de Luke, fazen do-o segurar os cabelos
dela na altura da nuca, forando-a a curvar a cabea para trs.
Antes que ela pudesse gritar por entre os lbios que comeavam a se abrir,
Luke a beijou com violncia, como jamais havia beijado algum. Com raiva, e no
com paixo. O objetivo era punir e causar dor, no seduzir. Entretanto, o resultado
final foi mesmo a seduo.
Todavia, Luke se descobriu incapaz de manter tamanha ferocidade e acabou
acariciando-a de modo gentil.
O encontro de suas lnguas fez com que ela gemesse em uma manifestao
de desejo que ele no conhecia. Jamais fizera uma mulher reagir de tal forma com
um simples beijo.
Rendendo-se tentao, comeou a acarici-la com as mos, explorando
cada milmetro daquele corpo fenomenal, que tremia sob seu toque. A percepo de
que ela havia sucumbido sua masculinidade, provocou-lhe uma estranha sensao
de domnio sexual. Mal podia esperar para v-la nua em seus braos.
Esse tal quarto de hotel fica muito longe? perguntou num murmrio,
quase sem afastar os lbios dos dela.
Acenando em negativa, ela roou a lngua no queixo dele, mordiseando-o em
seguida.
Luke estremeceu, sentindo o sangue ferver em suas veias. Sentia-se to
excitado quanto um adolescente de quinze anos. Os lindos olhos verdes da moa
no escondiam o desejo e a submisso que ela sentia. Estava fascinada e sua
merc. A ideia parecia inebriante. Uma fantasia masculina que se tornara realidade.
Impossvel resistir.
Nesse caso, eve-me at l, e depressa... murmurou Luke.
A broca tocando-lhe o dente o trouxe de volta ao presente. Ao menos por um
instante, pois as memrias continuavam vivas em sua mente.
Teria ela conseguido engan-lo com aquele ar vulnervel e com a entrega
total de seu corpo? Seria to diablica e experiente na arte de seduzir que
conseguira convenc-lo de que era ele quem estava dominando a situao? Ser
Analisando melhor o que havia ocorrido, reconheceu o esforo que ela fizera
para ocultar a verdadeira identidade e evitar o risco de ser descoberta, no caso de a
"vtima" da seduo se sentir ultrajada e tentar procur-la.
Por mais que a moa quisesse uma noitada de aventura, no pretendia deixar
aparecer o menor resqucio da faanha. Entretanto, a parte do quebra-cabea que
permanecia sem encaixe era o porqu de ela haver assumido um risco
desnecessrio no meio da noite.
No poderia ter sido algo proposital, a menos que fosse parte de alguma
fantasia louca que ela desejasse satisfazer a qualquer custo. Ainda assim, Luke
optou por acreditar que fora a situao que a induzira a se deixar levar, como ele
prprio fizera.
Essa fora uma das razes que a tornaram uma mulher inesquecvel. Antes de
conhec-la, Luke jamais havia se deixado levar pelo desejo. E nem depois.
Nem mesmo sei o seu nome disse ele, ao fechar a porta do saguo do
hotel.
Nenhum deles havia proferido sequer uma palavra, enquanto caminhavam
pelos dois quarteires que os levaram at a hospedagem pequena e elegante. No
era o tipo de lugar que Luke esperava. Caro demais para encontros rotineiros.
A subida de elevador foi tensa, devido presena de um outro homem no
ambiente. Evitaram falar e at mesmo se tocar. Luke mal percebia o ambiente ao
seu redor enquanto a seguia pelo corredor, absorto em observar o balano firme e
elegante do belo corpo que caminhava sua frente.
Meu nome? repetiu ela, ao fechar a porta do quarto com certa
insegurana.
Luke gostou de perceber aquela desorientao, e tambm do modo como ela
hesitou ao ser puxada para seus braos.
No importa afirmou ele. Sem nomes por enquanto... Nos
apresentaremos um ao outro pela manh.
Outro beijo impediu que a desorientao se dissipasse.
Estava gostando do efeito que seus beijos causavam nela. Apreciava cada
gemido que ouvia e saboreava o movimento sedento daqueles lbios macios.
Jamais tivera nos braos uma mulher to sensvel... Talvez carente... A doce e
despido.
Onde colocou os preservativos? perguntou ao jun-tar-se a ela na cama,
mais uma vez, acariciando-a de modo muito ntimo.
Sem dar ateno pergunta, ela apenas fechou os olhos, embriagada pelo
prazer.
Hei! exclamou ele, em voz baixa. Os preservativos?
Os expressivos olhos verdes se abriram, expondo confuso e transtorno ao
mesmo tempo.
Oh, Deus... Eu... no pensei nisso. No me dei conta... murmurou ela,
balanando a cabea.
Toda aquela fragilidade o tocou. Luke deveria se certificar de que ela jamais
cometeria insanidades como essa outra vez. Alm disso, no precisaria mais de
amantes casuais, depois dessa noite. Pela manh, toda insensatez e segredos
acabariam e os dois no seriam mais estranhos.
Tudo bem assegurou ele, tentando no parecer irritado.
Sempre trago um na carteira.
Esse era o problema. Um. Apenas um. Precisaria de bem mais do que isso
antes do final da noite.
Luke se viu dividido entre a ideia de sair no mesmo instante em busca de uma
drogaria aberta vinte e quatro horas, ou deixar isso para depois.
O desejo, porm, ordenou que deixasse para sair mais tarde... bem mais
tarde. No aguentaria se conter nem por um minuto a mais.
No! gritou ela, quando ele se virou e foi pegar a carteira.
No o qu?, perguntou, confuso e impaciente.
Eu no posso. Apenas no posso! vociferou ela. Luke no tinha a
menor inteno de deix-la mudar
de ideia agora. No cogitava sequer a possibilidade de deixar isso acontecer.
Tudo bem murmurou. Virando-se devagar, segurou o rosto delicado
entre as mos, encarando-a. Eu entendo. S agora se deu conta de que vinha
agindo como uma tola, ao longo dessa noite.
Mas no sou nenhum maluco. Pode acreditar. No vou machuc-la, minha
querida. Farei tudo com carinho e cuidado. Ser maravilhoso... prometeu,
pressionando-a contra o travesseiro com um beijo intenso, at que o desejo se
reacendesse e no houvesse margem para arrependimentos.
Ela o procurou assim que Luke retornou para a cama, j com a proteo
necessria. Ambos estavam excitados demais e no havia motivo para adiar o
inevitvel. Fizeram amor em uma exploso de prazer e atingiram juntos o clmax,
que pareceu durar uma eternidade, repe-tindo-se em ondas.
Depois de tudo acabado, continuaram abraados e Luke pde sentir que ela
suspirava de satisfao. Ele mesmo tambm se sentia muito bem. Havia sido algo
incrvel e indito. Cada msculo de seu corpo parecia relaxado, em uma paz suave e
deliciosa.
Mesmo no querendo deix-la nem por um segundo, teve que faz-lo para
uma rpida visita ao banheiro. Ao voltar, encontrou-a deitada de lado, observando-o.'
Naquela posio, as curvas femininas se faziam ainda mais evidentes. O corpo
estava em uma posio convidativa e os mamilos ainda enrijecidos.
O lindo par de ris cor de esmeralda o mediu de cima a baixo com tanta
sensualidade que Luke sentiu o corao disparar, ao mesmo tempo em que voltava
a ficar excitado.
De imediato lhe veio o pensamento de que deveria se vestir e encontrar uma
drogaria, mas no momento seguinte, foi seduzido pelo olhar malicioso e o aceno que
ela lhe lanou, chamando-o de volta para a cama. Pu-xando-o at deit-lo, ela o
acariciou de uma forma muito ntima, torturando-o de prazer.
Boquiaberto, Luke viu-se obrigado a se conter, pois ela o estava levando a um
ponto de onde no haveria mais retorno. De fato, no havia nada de virginal nessa
mulher. Cada movimento e carcia haviam sido elaborados para provoc-lo e seduzilo.
Tentando se controlar melhor, fechou os olhos e procurou ignorar o modo
como ela o acariciava... tocava... E foi durante esses segundos de escurido mental
que ela tomou a iniciativa e eles fizeram amor novamente, dessa vez sem proteo.
Com a mente enevoada, Luke no conseguiu impedir que acontecesse... Era
tanto prazer... Tanta fria... Irresistvel!
Passado o clmax, ele a puxou para si, querendo beij-la. Notou ento que
lgrimas escorriam pelos cantos dos belos olhos.
No chore, querida consolou-a, pensando em algo para dizer.
Por favor, no chore. Meu Deus, eu no pude resistir... Voc demais! No
h com o que se preocupar. Nada.
Como j havia dito, no sou nenhum maluco e voc uma boa garota. Posso
sentir isso em voc. Relaxe e durma um pouco, querida...
Depois de algum tempo, ambos adormeceram. Demorou um pouco at Luke
conseguir entrar em um acordo com a prpria conscincia. S lhe restava rezar para
que ela fosse mesmo uma boa moa.
Acabara de fazer a coisa mais idiota de sua vida.
Fora para a cama com uma completa estranha, sem usar proteo! Pior do
que isso: acabara de se apaixonar por ela!
Pronto, sr. St. Clar.
A cadeira se moveu e a enfermeira, com um lindo sorriso, retirou o
guardanapo preso sob o pescoo dele.
Ao olhar para o relgio na parede, Luke verificou que eram onze e quinze.
Estivera sentado naquela cadeira por mais de meia hora e no havia sentido nada!
At que ponto podia chegar a tormenta do corao...
Com muita prtica, dissimulou os- sentimentos ao se despedir da enfermeira
e do dentista, assim como da recepcionista, ao pagar a consulta em dinheiro.
Espero que goste de sua estadia em Sdnei, sr. St. Clair despediu-se a
moa, lembrando-o de que ainda parecia um americano, devido ao sotaque.
Aposto que vou gostar respondeu ele.
Essa seria a visita mais interessante que j fizera a Sdnei, desde que partira.
Ao menos o objeto de todo seu sofrimento acabara de ganhar um nome. No
deixaria que restasse pedra sobre pedra nessa cidade at se ver diante da mulher
que o atormentara por dezoito meses. E quando de fato a encontrasse, o que faria?
S Deus sabia, pois ele prprio nem fazia ideia.
Voc se importaria de me deixar levar uma dessas revistas velhas? H
uma foto de uma antiga amiga minha...
Claro, pode levar...
"E a mim tambm", Luke pensou ter ouvido, dada a intensidade do olhar da
garota. "Dissimulada", pensou ele, enquanto percorria o corredor. Todas as mulheres
bonitas do mundo no passavam de um bando de dissimuladas.
Mantendo a revista sob o brao, chegou calada e se encaminhou para a
lanchonete.
CAPTULO III
A me o esperava no local combinado. Bebia um capuccino e comia um
bolinho com gelia. Estava lendo o jornal do dia e tinha uma sacola de compras aos
ps.
Grace fechou o jornal ao ver o filho se aproximar e quando Luke se sentou,
ela j estava franzindo o cenho.
O que h de errado agora? O dente no ficou bom? perguntou.
Luke teve que resistir ao impulso de ficar bravo.
Ficaria mais cinco minutos com ela e pegaria um txi para o aeroporto, a fim
de alugar um carro. Precisava ter um veculo para atingir seus objetivos, e tambm
queria privacidade.
No h nada de errado comigo. Eu estou bem e meu dente tambm.
Ento por que voc continua de mau humor?
Deus do cu! Como possvel? Voc tem alguma antena especial para
captar meu humor a vinte metros de distncia? Mal cheguei e sentei. Como pode
saber a respeito do meu humor? No pronunciei uma s palavra e j fui julgado e
rotulado!
Voc est andando com as pernas duras veio a resposta simples e
precisa.
A Luke, s restou rir. No era mesmo possvel esconder nada de sua me.
Lembrou-se ento da revista e a colocou com discrio sobre uma cadeira, tentando
distrair Grace com outro assunto.
Diga-me uma coisa, mame. Alguma vez voc foi infiel ao papai?
Pelo amor do Santssimo! Mas que pergunta!
Isso no resposta. uma evasiva.
Preciso recuperar o flego. Posso saber o porqu dessa pergunta?
Pelas fotos de quando se casou com papai, quarenta anos atrs, sei que
foi uma jovem muito bonita. E isso pode se tornar uma tentao para um homem,
independentemente de a mulher ser casada ou no.
Grace pensou com que mulher casada e muito bonita seu filho poderia estar
envolvido, mas teve o cuidado de no perguntar. Ao menos por enquanto.
No vou dizer que no recebi ofertas, porque elas eram quase frequentes
respondeu, confiante. E tambm no direi que no fiquei tentada uma ou duas
vezes. Mas tratei de me manter fiel ao seu pai. Em termos tcnicos, isso.
Luke tentou esconder o choque que sentiu.
Em termos tcnicos? perguntou, incrdulo. O que quer dizer com
isso?
Ora, uma vez eu deixei que um homem me beijasse por alguns segundos
a mais do que deveria.
Oh... E isso tudo?
Achei que havia sido uma falta gravssima na poca. Mas ele era to
bonito... e muito charraoso. Fiquei lisonjeada por estar flertando comigo. Era um
homem com pouco mais de trinta anos e eu j havia completado quarenta e um.
Que idade tola. Sentia-me abandonada e precisava receber ateno de algum. Foi
o que ele me deu.
E teria dado muito mais do que isso, se tivesse deixado
comentou Luke, com secura. Quem era esse conquistador?
Nenhum de vocs o conheceu.
Ira um dinamarqus que estava passando o vero em Sdnei. Seu pai o conheceu em um bar e foi tolo a ponto de convid-lo para jantar em nossa -casa.
E voc deixou que ele a beijasse nessa mesma noite? perguntou Luke,
surpreso.
Uma sombra de vergonha e culpa surgiu no rosto de Grace.
Como j disse, ele era to charmoso... murmurou ela.
Como aconteceu? Onde estava o papai?
Assistindo televiso, como sempre. Eric se ofereceu para me ajudar a
lavar os pratos e ento me encurralou no canto da cozinha.
De incio me assustei, mas quando ele comeou a me beijar, confesso que
gostei. Ah, mas tratei de parar com aquilo antes que as coisas fossem longe demais.
Entretanto, eu sabia em que hotel ele estava hospedado, pois Eric fez questo de
me dizer. Na verdade, cheguei a ligar para l uma vez, mas quando ouvi a voz dele
entrei em pnico e bati o telefone.
Entendo...
Entende, Luke? Duvido. Eu amava seu pai e ele era um timo amante
quando jovem. Mas o tempo e a convivncia trazem uma coisa horrvel para o
quarto do casal: o desgaste. A rotina e o trabalho rduo de seu pai faziam com que
ele chegasse exausto e desanimado em casa. Nossa vida sexual estava se
deteriorando, reduzida a uma ou duas vezes por ms e eu no sabia o que fazer a
respeito. Nesse perodo, tornei-me vtima de um tipo imoral como Eric.
Luke franziu o cenho para a me, preocupado.
No est mentindo para mim, est? No dormiu mesmo com ele, no ?
Claro que no! Tratei de comprar algumas peas de roupas ntimas
sensuais e fazer certas coisas que s tinha visto nos livros. Da em diante, a
situao mudou e muito. Foi timo.
Mame! Estou surpreso! sobressaltou-se Luke, sorrindo para ela.
Voc mesmo muito matreira...
Grace corou ainda mais, sob o olhar do filho. Deveria estar contente consigo
mesma, pois Luke estava orgulhoso da me.
Fora colocada diante de uma tentao em um momento em que estava sendo
desprezada pelo marido e mesmo assim resistira. Ainda por cima, conseguira
reativar a chama entre ela e o marido.
Pressionando os lbios para se manter quieto, Luke pensou no quanto Grace
era uma mulher forte e decente. Nem todas eram assim. Algumas s manifestavam
fraquezas e egosmo, fazendo o que desejavam sem medir as consequncias ou a
quem pudessem ferir no processo.
Quando o garom apareceu, Luke disse que no queria nada, explicando que
estava sob efeito da anestesia do dentista. No deixava de ser verdade, mas o
motivo real era que tinha lugares para ir, providncias a tomar e uma mulher para
encontrar.
Importa-se de se sentir usada, mame? Acho que vou deix-la sozinha,
agora que j me trouxe para tratar do "dentinho" ironizou. Enquanto estava na
sala de espera, lembrei que prometi a Ray que o visitaria na prxima vez em que
viesse a Sdnei.
Ray? Ray de qu?
Ray Holland. Ele fotgrafo tambm.
Algum que Luke torcia para que ainda estivesse morando em Sdnei.
Nunca ouvi falar. Para mim, o nico fotgrafo de quem voc falava era
Theo, e mesmo assim falava pouco. Lembro apenas que o coitadinho teve um
trabalho para conseguir convid-lo para o coquetel de lanamento da exposio
que ele fez no ano passado. Na manh seguinte, ele ligou dizendo que voc havia
sumido dez minutos depois de ter chegado.
Pois ... no decorrer dos ltimos anos o trabalho dele decaiu de brilhante
para puro lixo. Se ficasse mais . um minuto ali, seria tentado a dizer o que estava
pensando, e isso iria ofend-lo.
Onde passou aquela noite? Lembro que no dormiu em casa.
fotografado a noiva muitas vezes, quando ela ainda trabalhava como modelo. Era
especializada em roupas de banho e lingerie, posando para fotos e atuando em
passarela.
Ouviu o homem contar que Rachel havia voltado a trabalhar como modelo. A
informao que corria no meio era que o tal cientista morrera havia pouco tempo e
as dificuldades financeiras a levaram a voltar a trabalhar.
Luke absorveu as ltimas informaes com muita ateno. O objeto de sua
caada era agora uma viva, mas saber que o marido acabara de morrer confirmava
que ela estava casada dezoito meses antes. Isso s serviu para revigorar a raiva
que estava nutrindo por ela.
"Maldita infiel!", praguejou em pensamento, enquanto anotava o nome e o
endereo da agncia para a qual ela estava trabalhando nesse retorno.
A suspeita de que o marido, muito mais velho do que ela, estivesse doente na
poca do adultrio chegou a lhe ocorrer, enquanto estava a caminho da agncia.
O fato de estar sendo negligenciada atenuaria a situao se ela tivesse
procedido com alguma classe ou estilo. Contudo, no denotara nada disso no modo
como se vestira, nem na maneira como agira desde o momento em que o escolhera
como vtima.
O pior fora o fato de t-lo deixado durante a noite, enquanto ele dormia.
Imperdovel. A mulher o deixara em total tormenta, sentindo-se um idiota por meses
a fio. Isso sem falar que Luke no conseguira dormir at receber o resultado de um
exame de sangue, confirmando que no acabaria morrendo por ter dormido com
aquela criatura.
Desde ento, desejara encontr-la face a face, para tentar entender o que o
abalara tanto naquela mulher.
Mas tambm queria perguntar a ela qual o motivo que a levara a escolh-lo e,
acima de tudo, o que a induzira a assumir um risco to grande. Dentro de dois dias
teria essa oportunidade. Mal podia esperar.
O que significa esse sorriso, parceiro? Est me dando calafrios com esse
ar sombrio. O que h nessa sua cabea?
Os olhos negros de Luke encontraram os de Theo, que sara do quarto escuro
e o observava.
Theo havia sido empregador de Luke em tempos mais remotos e agora era o
ltimo amigo remanescente do meio fotogrfico que lhe restava na Austrlia. Ainda
solteiro, Theo continuava elegante, mesmo no final da casa dos trinta anos. Tinha o
hbito de trocar de namoradas com a mesma facilidade com que trocava os filmes
da cmera e os estilos de fotografar.
Luke no gostava da maneira como ele vinha trabalhando, mas ainda assim
gostava dele como pessoa e companhia. s vezes, era to intuitivo quanto Grace,
mas as preocupaes na mente de Luke o fizeram esquecer esse detalhe
inoportuno.
Estava pensando em qual seria sua reao se eu pedisse duas de suas
Da modelo que voc vai usar, colega. Est achando que sou bobo? Pode
dizer... Quem ela? Eu a conheo?
Por que est se dando tanto trabalho para ficar com ela?
Rachel Manning respondeu Luke, achando que no tinha nada a perder
com a revelao.
A agncia havia confirmado que ela continuava usando o sobrenome de
solteira como nome artstico e tambm que estava com a agenda livre naquela
semana.
Sentiu o estmago revirar enquanto observava o pessoal telefonar para ela e
agendar uma sesso de fotos para quarta e quinta, nas praias de Central Coast, a
comear pelo Terrigal na quarta, com uma pernoite no Holiday Inn.
Luke tinha certeza de que ela no recusaria se precisasse de dinheiro.
Ofereceu um alto cache e se .tranquilizou quando a agncia informou que o
fotgrafo seria Luke St. Clair, um australiano que estivera trabalhando fora do pas.
No reconheo o nome. Mas tenho uma pssima memria para nomes
resmungou Theo.
No se preocupe afirmou Luke, bebendo o caf.
Ora, ora... E voc no vai me contar tudo a respeito dela?
Por enquanto, no.
Mas vou saber todos aqueles detalhes picantes depois?
perguntou Theo, subindo e descendo as sobrancelhas em um movimento
satrico.
Tenha d, Theo! Voc no tem vida sexual prpria?
No, h pelo menos uma semana...
Uma verdadeira eternidade brincou Luke.
Para mim, ! afirmou o amigo, era tom no menos divertido.
Acho que est precisando assentar a poeira, Theo. Achar uma boa mulher
e se casar.
Vire essa boca para l!
Ante o silncio de Luke, Theo o enearou com dureza no olhar.
No est pensando em se casar, est? Mas que porcaria! Luke, voc no
est apaixonado, no mesmo?
Sem saber como responder a nenhuma das perguntas, demorou um pouco
para Luke perceber que no tinha certeza de nada. Mas o sofrimento dos ltimos
meses veio tona e ele se lembrou do quanto ela fora m. Louca tambm.
Arriscando a vida em uma noitada e fa-zendo-o sofrer.
No. No vou me casar. Tambm no estou apaixonado.
As afirmaes saram com mgoa e como fruto de raciocnio. Luke faria tudo
ao seu alcance para satisfazer no s a curiosidade, mas tambm o mximo para
devolver a ela, na mesma moeda, tudo que passara nesses ltimos meses.
CAPITULO IV
Amanh de quarta-feira no poderia ter omeado mais perfeita. Ao menos no
aspecto fsico. A luz brilhava no cu limpo, prometendo uma tarde ainda mais tpica
de vero.
O sol havia surgido no horizonte por volta das seis horas, brilhando por sobre
o oceano. Os raios solares atravessavam os pinheiros de Norfolk antes de atingir a
janela do quarto de hotel onde Luke estava hospedado.
Desde ento, passara-se uma hora. Nesse meio tempo, ele tomou banho, fez
a barba, vestiu-se e tomou o desjejum no prprio quarto. Durante cada momento e
ao refletia apenas sobre a existncia dela.
Luke chegara a pensar em contactar a agncia, a fim
. de que a mandassem na noite anterior para pernoitar no
Holiday Inn, mas logo desistira. Queria peg-la de surpresa,
para ento conduzi-la a um dia de suposto trabalho, antes
que ela pudesse se dar conta de qualquer coisa.
Tinha elaborado um plano de ao e podia apenas torcer para que desse
certo. Uma estratgia que a colocaria sob seu domnio e ainda criaria a possibilidade
de ela se tornar mais aberta com ele.
Ajudaria tambm se Rachel estivesse sentindo culpa pelo que havia
acontecido dezoito meses antes.
E algo lhe dizia que ela deveria estar se culpando.
O relgio marcou sete em ponto. O horrio programado com a agncia para
que a modelo o chamasse do saguo do hotel. Havia instrues para que ela fosse
encaminhada para um quarto reservado, caso o fotgrafo ainda no estivesse
hospedado l. Enquanto aguardava uma ligao da recepo, ficou na sacada do
quarto, observando a vista, a piscina e o mar.
Havia escolhido Terrigal por conhecer suas paisagens desde a adolescncia e
saber que seria fcil achar locais adequados para fotografar, alm de ser longe o
suficiente de Sdnei. Acima de tudo, perfeito para que a srta. Rachel Manning no
suspeitasse de nada.
"Ningum gosta de ser manipulado", pensou, com amargura.
Havia se passado quinze minutos alm do horrio. Ela estava atrasada e
Luke se sentia mais do que ansioso. Estava com uma ntida sensao de medo.
Medo de qu?, questionou-se. De que ela no viesse? De que quando a visse
descobrisse que fora tudo uma iluso? E se no sentisse mais nada ao encontr-la?
O som do telefone o fez despertar do devaneio. Demorou um pouco para
levantar e ir atender a chamada.
Pois no? atendeu com voz firme.
No. Estou muito cansado e voc tambm deve estar. Vamos voltar para o
hotel. Preciso de um longo banho quente e de um bom drinque.
Rachel deu de ombros, demonstrando indiferena, mas Luke teve a ntida
impresso de que ela estava com medo da noite que chegava.
A irritao dentro dele no tinha medida. Queria poder apagar o desejo que
sentia. Gostaria que Rachel tambm deixasse de desej-lo, para que ele pudesse
ficar em paz.
Acima de tudo, queria conseguir esquecer os conceitos que havia formado a
respeito dela: a adltera que o seduzira e usara, jogando-o fora em seguida.
Agora, porm, j no tinha tanta certeza...
O que no era novidade nenhuma. O que sabia sobre ela? Quem era a
verdadeira Rachel?
Algumas respostas teriam que vir tona antes que pudesse fazer amor com
ela outra vez, seno ficaria ainda mais envolvido emocionalmente.
Tinha que admitir que estava envolvido.
Afinal, esse era o fator que o estava iludindo e nublando suas percepes.
Amor ou dio? A nica coisa que sabia era que no pretendia ser feito de bobo outra
vez.
Luke a desejava tanto quanto queria respostas. Sabia que acabaria tendo
ambos, no importando o tempo que demorasse. S que, pelo visto, teria que deixla bbada para consegui-lo!
Bem, na guerra e no amor no valia tudo? Pois essa era uma guerra. Dessa
vez, ela no fugiria impune. Depois de tanto tempo de angstia, Rachel no
escaparia mais de suas mos.
s sete e vinte e cinco, Luke estava pronto. Banhado e vontade, sob o
efeito de uma dose tripla de usque.
Combinaram que ele a apanharia s sete e meia para jantarem no
restaurante do hotel, onde Luke havia reservado uma mesa afastada, em um canto
do salo.
Antes de sair, deu uma ltima olhada no espelho e avaliou sua aparncia
geral. Escolhera uma cala cinza, camisa de seda preta e uma jaqueta esporte
cinza-escuro.
Um pouco de gel dera um brilho especial aos cabelos negros, tornando-os
ainda mais escuros e realando-lhe os raros olhos quase negros.
O reflexo de si mesmo o agradou muito, e ele no resistiu vontade de sorrir
para sua prpria imagem.
Vamos l, bonito brincou, arqueando a sobrancelha.
E lembre-se de que esse era o momento to esperado. No estrague tudo.
O quarto dela ficava no mesmo andar, mas no lado oposto do corredor. Luke
no queria parecer to bvio a ponto de escolher quartos vizinhos.
Enquanto caminhava plo corredor, sentiu o nervosismo voltar, mas manteve
o controle. Contudo, achou irritante o fato de ter que bater duas vezes antes de
Rachel abrir a porta.
Desculpe-me por faz-lo esperar. Eu estava ao telefone. Vou pegar minha
bolsa.
Ela deixou a porta aberta enquanto foi buscar a bolsa. Luke observou que o
quarto era uma cpia exata do que ele mesmo estava usando, exceto por pequenos
detalhes. No mais, seguia o padro de qualquer hotel cinco estrelas.
Quando Rachel se aproximou, trancando a porta ao sair e guardando a chave
na bolsa, Luke pde apreci-la. Vestia um conjunto de seda verde, cuja blusa tinia
grandes botes, fechados at o pescoo. Apesar da roupa discreta e da maquiagem
leve, Rachel estava muito sensual.
Os cabelos escovados caam soltos pelos lados do rosto, espalhados como
uma sedosa cascata reluzente sobre os ombros e as costas. Enquanto ela se movia,
Luke no perdia um s movimento daquele corpo maravilhoso.
Tomou o banho que tanto estava desejando? perguntou ela com um tom
to frio e forado, que Luke suspeitou t-la afetado com o olhar.
Aos poucos, estava aprendendo a notar que Rachel parecia uma constante
contradio. Enquanto dizia uma coisa, seu corpo falava outra.
Uma rpida observao revelou que os mamilos dela haviam enrijecido nos
ltimos segundos, ficando salientes contra a seda da blusa. No sabia se ficava
apreensivo ou estimulado por v-la to vulnervel no nvel sexual, a ponto de se
excitar ao receber apenas um olhar.
Acabou aceitando que sentia ambas as coisas.
Claro que tomei o banho confirmou ele. Assim como aquele bom
drinque. E voc, como preencheu essas duas horas?
Oh, tomei um bom banho tambm.
Depois me permiti tomar muito caf, enquanto assistia a um programa de
perguntas e respostas na televiso.
Ento uma viciada em cafena? comentou Luke enquanto
caminhavam em direo ao elevador.
Com certeza. Assim como em programas de perguntas e respostas.
Todos ns temos nossos vcios murmurou ele.
Ah, ? Em que voc viciado, sr. Luke St. Clair? Eles pararam em frente
ao elevador e Rachel o encarou
com uma expresso ingnua e curiosa. Luke a observava com intensidade,
tentando descobrir que tipo de jogo ela escolhera agora.
Parecia ter optado por um tipo de seduo mais suave essa noite. Confiava
no poder da atrao fsica que exercia sobre os homens. Estava acostumada a
apenas. estalar os dedos para fazer com que a maioria dos homens se ajoelhasse a
seus ps. Jamais ocorrera a ela que Luke poderia estar planejando dar o troco.
Ao menos era assim que ele via a situao. Luke se achava capaz de atingir
esse objetivo.
Por onde quer que eu comece? perguntou ele.
O incio seria um bom ponto de partida. Quero saber como voc era
quando garotinho. Onde cresceu? Como se envolveu com fotografia?
Outra vez, ela assumia o controle. Era Luke quem deveria estar fazendo as
perguntas.
Por que quer saber? perguntou ele, ao apertar o boto de chamada do
elevador.
Temos que falar sobre algo durante o jantar, no?
Nunca conheci um homem que no gostasse de falar de si mesmo
respondeu Rachel, com um dar de ombros indiferente.
Oh... murmurou Luke, decepcionado. Chegara a pensar que ela
estivesse interessada nele como pessoa, e no s no seu corpo. No me parece
que voc tenha l um bom conceito a respeito dos homens.
No respondeu ela. Posso dizer que, em termos gerais, nunca tive
uma boa impresso deles.
A resposta fez um pensamento surgir na mente de Luke: "E por acaso ela era
alguma santa?"
No estou empenhado na tarefa de impressionar mulheres
comentou com certa frieza. No que me diz respeito, elas podem gostar
de mim e ficar comigo ou simplesmente partir.
No estava me referindo a voc, Luke negou Rachel. Mas, pelo jeito
como falou, tambm no parece muito impressionado com as mulheres em geral.
O sorriso lento e insinuante que ele exibiu, com certeza fora elaborado para
derreter at a mulher mais fria do mundo.
No leve meu cinismo para o lado pessoal,Rachel murmurou, com a
voz em tom sedutor e suave. Acredite-me, estou muito impressionado com
"voc...
Quando seus olhares se encontraram, Luke no escondeu o desejo que
sentia por ela. Por um momento, Rachel permaneceu hipnotizada.
Porm, logo a expresso de temor voltou ao seu rosto, seguida de um leve
rubor. Desejo. O rosto corado e os lbios entreabertos eram o sinal que ele
esperava.
Naquele momento, Luke teve certeza de que a possuiria outra vez.
A sensao de triunfo foi to grande que ele sentiu que poderia beij-la no
mesmo instante, caso o elevador no tivesse chegado. Ainda seguro de si, seguroua pelo cotovelo e a conduziu para dentro, quebrando o transe. Sentiu que o brao
dela tremia de modo incontrolvel.
Ao chegarem no andar do restaurante, Luke o achou formal demais. Pensara
se tratar de um ambiente mais reservado e ntimo, ideal para um^elima de seduo,
mas havia se enganado.
Voc est me machucando reclamou ela.
Luke franziu o cenho ao notar o tom cortante na voz dela e decidiu prosseguir
com o que estava sendo pedido. Talvez contando algo sobre sua vida, conseguisse
faz-la falar sobre si mesma.
No tenho ideia de como comear.
Nesse caso, apenas responda s minhas perguntas. Qual a sua idade?
Trinta e dois.
Seus pais esto vivos?
Minha me est. Meu pai faleceu alguns anos atrs, de enfarte. Mame
ainda mora em Monterey, na mesma casa onde nasci.
Aposto que filho nico.
De jeito nenhum. Tenho dois irmos mais velhos. Ambos casados e
reproduzindo como coelhos... Brincadeira. Andy tem dois filhos, Mark, trs.
E voc? Nunca se casou?
No.
Est morando com algum?
No.
Tem namorada?
Luke fitou o verde daqueles olhos com intensidade, querendo deixar claro que
estava falando a verdade.
No.
Rachel arqueou uma sobrancelha, parou de perguntar e bebeu um gole de
vinho.
S ento Luke notou que a mo dela estava um pouco trmula. Contudo, os
olhos pareciam frios quando voltou a encar-lo, com um sorriso leve e forado.
Aposto que era muito popular na escola. E bom em tudo que fazia.
Sim e no. Eu era popular, mas no bom em tudo. Esportes? Sim. Sempre
adorei futebol, mas odiava estudar. Tinha uma espcie de sndrome de falta de
ateno.
Na sala de aula, minha mente vagava em todas as di-rees, menos no
assunto em estudo. Na hora da lio de casa era a mesma coisa. Meus boletins
sempre tinham a mesma observao: "Ele se sairia melhor se aprendesse a se
concentrar". Contudo, sabia que iria me tornar um fotgrafo profissional j aos treze
anos. Nesse caso, pouca formao escolar no faria diferena.
O que o fez decidir isso to cedo?
Meu pai me deu uma cmera quando fiz doze anos e me vi envolvido de
imediato. Descobri que tinha talento para fotografar pessoas. Acabei descobrindo
tambm uma maneira de ganhar dinheiro com isso.
Com doze anos? perguntou Rachel, curiosa. Luke sorriu ao se lembrar.
Eu tirava fotos fantsticas das garotas mais bonitas da escola e tambm
dos garotos mais musculosos, sem camisa. Depois fazia um bom dinheiro vendendo
Para ser franco, no sei o que pensar respondeu ele, com sinceridade.
Nesse caso, saiba que no ela afirmou. Faa apenas o que j est
acostumado a fazer. Aceite o que lhe est sendo oferecido e no faa perguntas.
Luke a encarou com os olhos arregalados, temendo pelo momento em que
estivessem ss. Talvez ela tenha percebido a confuso no olhar dele ou tido uma
crise de conscincia, pois Luke observou a expresso do rosto delicado se
contorcer, como se fosse chorar.
Oh, Deus... Deus... murmurou Rachel.
No havia lgrimas, mas Luke a sentiu tremer e en-volveu-lhe os ombros em
um abrao confortante, enquanto esperavam o elevador.
Sinto muito sussurrou ela, entre soluos. Muito mesmo...
Calma, calma... confortou ele.
Sinto tanto...
Eu tambm comentou Luke, assustado com o tremor que se apoderara
dela.
O elevador chegou e eles entraram. Por sorte estava vazio. Luke pegou a
bolsa dela e a colocou debaixo do brao. Rachel apertou a cabea contra o peito
dele e recebeu um beijo na cabea.
Luke ergueu a cabea dela devagar e a beijou no rosto com leveza. Havia
algo em Rachel que evocava nele uma necessidade inexplicvel de proteg-la.
Contudo, a sensao parecia bastante razovel. Seria normal da parte dele querer
proteger a mulher amada.
A concluso quase o levou a rir. Vinha tentando negar isso h meses,
afirmando para si mesmo que era apenas uma obsesso. Amor primeira vista era
apenas coisa de romances sonhadores.
Ela era uma louca. Ninfomanaca. Pior que isso: uma adltera! No poderia
estar apaixonado, muito menos por essa mulher.
Mas estava. No parecia lgico, razovel nem explicvel. Estava claro que
Rachel era uma mulher muito complicada. Mesmo assim, ele a amava.
Rachel suspirou, querendo ouvir-se pronunciar o nome dela.
Ao notar a paixo na voz dele, Rachel levantou a cabea e eles se beijaram.
Foi como na primeira vez. Os sons que ela emitia... a rendio total daquele corpo
perfeito.
Chegaram ao andar certo e foram direto para o quarto dela. Luke pegou a
chave na bolsa e abriu a porta. Rachel j estava conseguindo ficar em p sozinha e
o observava atenta quando ele fechou a porta. Colocando a bolsa e a chave sobre
uma mesinha, comeou a tirar a jaqueta.
Luke sorriu para ela ao pendurar o agasalho e comear a desabotoar a
camisa.
Luke Rachel o chamou.
Ele paralisou a mo sobre o segundo boto da camisa, com a impresso de
que no gostaria do que iria ouvir.
O que ?
Eu... Eu... Espero que... Tenha trazido alguma... Proteo... Com voc.
O alvio dele misturou-se a uma dose de ironia. Ela queria proteo hoje?
Sem riscos loucos? No queria mais se deixar levar de vez?
Isso no precisa nem ser dito afirmou Luke, de modo brusco.
No tenho o hbito de correr riscos desnecessrios.
Rachel corou, como que envergonhada. Luke, como qualquer homem
sensvel faria, parou de desabotoar a camisa e foi at ela, abraando-a e beijando-a.
A reao de Rachel foi quase imediata e em poucos segundos estavam
abraados e trocando carcias. Contudo, ela estava empolgada demais para quem
acariciava um homem ainda vestido.
Por instinto, Luke a afastou com leve determinao.
Pelo amor de Deus, Rachel... No devia fazer essas coisas... Pelo menos
no ainda...
E... Acho que no concordou ela, com a voz em tom sensual.
E que voc tem um efeito muito inoportuno sobre mim.
Inoportuno? repetiu ele, observando Rachel desabotoar a prpria blusa.
O que quer dizer com... inoportuno?
Voc me induz a fazer certas... Coisas... Que eu no costumo fazer. Que
sei que no deveria... Mas me faz fraquejar... e desejar...
Ao terminar de falar, ela retirou a blusa de seda, revelando os seios. Para
surpresa de Luke, Rachel continuou e tirou a cala, abaixando junto a calcinha.
Aquele corpo perfeito, os mamilos enrijecidos, as curvas ainda mais sensuais,
os cabelos dourados... Tanta provocao era uma tortura para Luke.
Pelo amor de Deus, Rachel apelou ele, passando a mo pelos cabelos,
em um movimento tortuoso.
No havia piedade no olhar dela.
Agora a sua vez ordenou ela.
Minha?
Sim. Eu mesma quero despi-lo.
O gemido que ele emitiu deixou claro a agonia em que se encontrava.
Coitadinho do Luke... murmurou ela, tirando a camisa dele e
comeando a roar os seios contra aquele peito bronzeado e musculoso. No vou
demorar muito...
Rachel comeou a beijar e mordiscar o peito, o pescoo e os ombros dele,
parando para admir-lo a cada carcia.
Meu Deus, voc incrvel... murmurou ela, entre as carcias.
No me culpe se as coisas no sarem do jeito que voc espera
reclamou ele, tentando controlar o estado de excitao em que se
encontrava.
Rachel nem sequer respondeu, apenas sorriu e continuou a provoc-lo,
desabotoando apenas o cinto da cala dele.
Depois de mais algumas carcias, Luke perdeu a pacincia e a afastou,
tirando o restante da roupa.
Chega de esperar afirmou ele, pegando um preservativo de dentro da
carteira.
Luke mal acreditou quando a viu pegar o artefato e coloc-lo nele, com a
maestria de quem tinha anos de prtica.
Rachel reclamou ele, quase sem controle, ao ver que ela continuava a
acarici-lo. Voc tem que parar.
Ela o ignorou por completo.
No me ouviu? falou ele, encarando-a ao conseguir alguma distncia
entre eles.
Estava quase passando dos limites. Nenhuma mulher o havia levado a esse
ponto nas carcias preliminares.
Faa amor comigo, Luke implorou ela, fitando-o nos olhos com
intensidade.
Voc no estava me dando muita chance... explicou ele.
Eu sei ronronou ela, roando a perna na dele. S queria estar pronta
para voc. Agora estou. Me possua... Neste instante...
Luke no precisou de um segundo pedido. Eles se amaram. Apesar de achar
que iria perder o controle e chegar ao xtase antes dela, Luke se surpreendeu.
Rachel estava to prxima do limite quanto ele prprio.
Chegaram juntos ao clmax, vibrando em unssono. O movimento de seus
corpos, em perfeita harmonia, estendeu o prazer por momentos que pareceram
interminveis. Algo quase impossvel... Mas que estava acontecendo.
S depois de muito tempo eles caram exaustos na cama. Luke deitou-a em
cima dele. Rachel continuou relaxada, deitada sobre ele em completo estado de
satisfao e prazer. Pareciam ter acabado de correr uma maratona, de to ofegantes
e cansados.
Aos poucos, a calma se apoderou do ambiente e os rudos cessaram.
Quando um estado de paz predominou no ambiente, a campainha do telefone
soou estridentemente.
Os olhos verdes de Rachel se arregalaram em franca demonstrao de
preocupao. Luke franziu o cenho com a inoportuna intromisso, ento voltou a
ateno ao sobressalto que ela demonstrara.
Quem iria ligar para ela a essa hora? Por que Rachel parecia to preocupada
de repente?
CAPITULO VIII
Seu desgraado! Voc sabia que era eu, o tempo todo! Luke torceu o
canto dos lbios em um sorriso cnico.
Sim, claro. Foi por isso que a contratei. Sabia que estava fazendo algo
seguro. Agora, responda minha pergunta. Qual a idade do seu filho? E no se d
ao trabalho de mentir. Posso descobrir a verdade depois, quer voc queira quer no.
Onze meses declarou Rachel, refletindo a atitude dele com a mesma
altivez. No tem idade para ser seu. Nesse caso, no tem que se preocupar.
Pode continuar sua vidinha feliz sem ter que se envolver com o transtorno de um
filho indesejado.
O beb filho do meu falecido marido. Meu pequeno Patrick Reginald Cleary
Terceiro.
Luke no sabia se sentia alvio ou revolta. Ento ela j estava grvida de
alguns meses quando haviam feito amor na noite da exposio. Por isso ela no se
preocupara em usar proteo.
- Maldita adltera! vociferou ele, enfurecido. Como teve coragem,
mesmo estando grvida? Saia logo daqui, antes que eu acabe com a sua vida com
minhas prprias mos.
O olhar constrangido e desesperado de Rachel no o comoveu. Ela no era
digna de compaixo e muito menos de ser amada. Uma mulher assim no merecia
receber amor.
Saia! bradou ele, mais uma vez, ao v-la estagnada.
Lanando-lhe um ltimo olhar angustiado, Rachel pegou a bagagem e saiu
depressa, deixando a porta aberta atrs de si.
Luke bateu a porta com fora e comeou a caminhar s cegas pelo quarto,
passando as mos pelos cabelos, em sinal de desespero.
No acredito! murmurou para si mesmo. Nada disso faz sentido. No
parece certo...
Isso porque no estava certo. E se ela tivesse mentido a respeito da idade do
beb? Ficara claro que Rachel achava que ele no tinha interesse nenhum na
criana.
Ela o via como um fotgrafo solteiro, que possua todas as modelos que
fotografava e depois saa de cena. Algum com uma parceira por noite.
No fundo de sua mente comearam a surgir respostas. S havia uma
concluso plausvel para as reaes de Rachel. Essa criana era sua. O beb era
filho deles. S podia ser.
Isso explicaria muitas coisas. Tanto sobre o que acabara de ocorrer quanto
sobre o que acontecera dezoito meses antes.
"No tenho tempo a perder com covardes. No hoje.", dissera Rachel,
naquela noite.
Devia ser mesmo verdade. O pensamento foi amargo. Ela queria um filho e
seu marido, idoso e talvez doente, no era capaz de produzi-lo.
minutos.
A primeira surpresa de Luke ocorreu no momento em que a sogra de Rachel
abriu a porta. Apesar de ter cabelos brancos, no era uma velha senhora. Na
verdade, no parecia mais velha do que sua prpria me. Qual teria sido, ento, a
idade de Patrick Cleary? Talvez no to velho quanto ele tinha imaginado.
Sra. Cleary? perguntou Luke, afastando a surpresa com seu melhor
sorriso.
Sim respondeu a mulher, em tom hesitante.
Meu Deus! Parece muito jovem para ser a sogra de Rachel
comentou, dizendo a verdade de forma a agrad-la.
Ele se sentiu um pouco culpado ao ver que a tcnica dera certo. A mulher
ficou at um pouco ruborizada.
Sou Luke St. Clair, Sra. Cleary. O fotgrafo que contratou sua nora para o
servio de ontem. Ela est? Precisamos agendar o restante do trabalho. Eu no
quero usar outra modelo. Tenho certeza de que a senhora me entende, no ? No
so muitas modelos que renem as qualidades e o estilo excepcional de Rachel.
Veja s! Acabaram de se desencontrar. Mas ela no vai demorar. Rachel
foi drogaria comprar pomada para as gengivas de Derek. O pequenino est tendo
problemas com a dentio...
Mas suponho que j saiba disso.
Derek? surpreendeu-se ele mais uma vez. Pensei que o filho dela se
chamasse Patrick.
Verdade? Que estranho. Talvez tenha confundido os nomes.
Patrick era o nome do pai do garoto. Na verdade, o pai at queria que o filho
se chamasse Patrick, como ele mesmo e o pai dele. Entretanto, Rachel no cedeu e
disse que isso era coisa da Idade Mdia. Admito que concordo com ela. Tambm
no queria que meu filho se chamasse Patrick, mas meu marido insistiu muito e, na
minha poca, as mulheres concordavam mais com os maridos do que hoje em dia.
Ela deu um pequeno sorriso que Luke no soube interpretar. De qualquer
forma, ficara claro que o casamento dela no havia sido muito "satisfatrio". Mesmo
assim era uma senhora gentil e refinada, da mesma gerao de Grace.
Nossa! Que falta de educao a minha! Deixei-o parado porta, sr. St.
Clair. Perdoe-me a indelicadeza. Vamos, entre.
Me chame de Luke insistiu ele, ao segui-la at a humilde sala.
Havia muitos enfeites e moblia para o tamanho da sala. Inclusive artigos de
tima qualidade, embora antigos e at fora de moda.
Nesse caso, pode me chamar de Sarah respondeu a amvel anfitri.
Est bem, Sarah.
A conscincia dele voltou a doer, mas era necessrio conquistar a confiana
dessa doce senhora para atingir seu objetivo.
Vou at a cozinha preparar um ch para ns. Sin-ta-se em casa
ofereceu ela.
Assim que ficou sozinho, Luke comeou a investigar o ambiente, analisando
de perto as fotos do casamento de Rachel, colocadas em grandes porta-retratos,
sobre um mvel.
O marido dela tinha cabelos grisalhos, mas devia ser algum problema
gentico, pois no era velho. Aparentava uns trinta e poucos anos.
Mais uma vez, os conceitos que tinha formado sobre Rachel estavam
mudando de rumo. O casamento no fora por dinheiro e nem com um velho. Devia
ter ocorrido por amor.
Depois de continuar procurando, achou uma foto do beb. Ele a pegou e
observou de perto. O menino deveria ter menos de seis meses, na poca, e estava
brincando na banheira. Uma criana linda, com cabelinhos loiros e um belo par de
olhos azuis.
O queixo de Luke se enrijeceu. A tradio de sua famlia eram os intrigantes
olhos castanhos, to escuros e intensos que todos achavam que eram negros. Eles
mesmos diziam ter olhos negros, como uma manifestao de charme. Rachel tinha
olhos verdes, ento, era difcil que ambos tivessem esse mesmo gene recessivo em
suas heranas familiares.
Seus dois irmos haviam se casado com mulheres de olhos azuis e todas as
crianas tinham os olhos negros dos St. Clair.
Contudo, ao olhar para a foto de Patrick outra vez, em busca de olhos azuis,
Luke teve outra surpresa: o falecido tambm tinha olhos castanhos-escuros! No
tanto quanto os de Luke, mas eram castanhos.
O pensamento que lhe ocorreu foi horrvel: o garoto era filho de um terceiro
homem. Com certeza um turista inocente de olhos azuis, que desconhecia o fato de
haver contribudo para dar continuidade famlia Cleary.
Isso explicava o porqu de ele no se chamar Patrick. Seria uma lembrana
constante da traio e da culpa.
Agora no podia perder mais tempo.
A prova final seria descobrir a idade do garoto. Levando a foto consigo, foi at
a cozinha, onde Sarah o recebeu com um sorriso.
Vejo que achou a foto de Derek. Bela criana, no? Tambm com a me
linda que tem...
Rachel disse que ele completar um ano no ms que vem, no mesmo?
Isso. Dia catorze de outubro respondeu Sarah. Uma onda de desgosto
se apoderou de Luke. Era como
se os olhos do garoto no fossem prova suficiente. De repente, ele percebeu
que desejava que aquela criana fosse sua.
Luke no queria desistir. Estava prestes a pedir para dar uma olhada no
garoto quando a casa foi invadida por um som estridente, mais parecido com
protesto do que choro.
Parece que o "Mestre Derek" acordou do sono matutino. Sei que parece
que ele est com dor, mas no isso. Est apenas irritado.
nobre. O problema, Luke, que quando voc me tocou, foi muito diferente do que eu
esperava. Estaria mentindo se dissesse que no gostei de cada minuto, cada beijo...
Gostei sim. Mas, acredite, eu estava apenas fazendo meu papel, cumprindo minha
parte. Sofri muito por essa atitude. Lamento que o tenha feito sofrer tambm.
Sinto muito por isso.
E voc tem certeza absoluta da paternidade da criana? No h dvidas?
perguntou Luke.
Dvida nenhuma respondeu ela, indignada pela repetio da pergunta.
Eu havia sido inseminada com o esperma de Patrick naquela tarde. Acho apenas
que o fato de termos feito amor tornou meu corpo mais susce-tvel concepo.
Luke no pde evitar o olhar de desgosto que lanou para ela.
, foi de baixo nvel, no? comentou Rachel. Assim como foi vulgar o
que aconteceu ontem entre ns. Agora chega disso tudo. Quero que parta.
Rachel cruzou os braos, indicando que o encontro havia terminado.
Todavia, por mais que parecesse estranho, Luke no tinha a inteno de
deix-la. Nem ao garoto.
Mesmo no sendo filho dele, queria proteg-lo, como se fosse seu.
Concordo na ntegra com voc, Rachel murmurou ele. No quero
que haja nada mais de vulgar entre ns. Au revoir despediu-se, passando diante
dela e saindo da casa.
Ele no tinha certeza do que iria fazer, nem de como atingiria seus objetivos.
S sabia que teria aquela mulher. Aquela bela, corajosa, forte e maravilhosa mulher.
Rachel era algum que merecia ser amada!
CAPTULO XI
Desculpe-me por perguntar, Luke falou Grace, durante o jantar daquela
noite , mas voc est envolvido com alguma mulher casada?
A pergunta causou espanto e tristeza em Luke.
Como sua me podia pensar uma coisa dessas dele? Mas ao ver a
preocupao nos olhos dela, compreendeu e contou tudo, nos mnimos detalhes,
incluindo Derek.
E essa a histria terminou, bebericando o caf.
Agora, antes que abra a boca e d sua opinio, devo avis-la de que vou
me casar com Rachel, mame. Derek pode no ser meu, mas no faz diferena.
um lindo menino e precisa de um pai. isso que pretendo ser para ele.
Mas... mas se a me do garoto no quer mais nada com voc...!
Sim, sei disso. Mas pretendo dar um jeito na situao muito em breve.
"S no fao ideia de como conseguirei", completou em pensamento.
Como? perguntou sua perceptiva e experiente me.
Ao olhar para o relgio, viu que eram onze e meia. Com certeza, no
poderiam demorar muito, carregando um beb de onze meses. Logo o garoto
deveria precisar dormir, mamar, ser trocado...
A demora o estava incomodando, assim como o estmago, que reclamava as
horas passadas desde o desjejum.
O carro de Rachel entrou na rua e ela parou em frente ao porto, em posio
de entrar. Luke correu para abri-lo, mas ela j havia descido do carro para fazer o
trabalho por conta prpria.
Chegaram ao porto no mesmo instante.
O que est fazendo aqui? vociferou Rachel, ao encar-lo.
E quem pensa que para cortar a grama e aparar o jardim sem pedir
permisso?
Bom dia, Rachel respondeu Luke com frieza, ignorando a fria dela.
Foram fazer compras? Acenou para Sarah e Derek, dentro do carro, que os
observavam com interesse. No faa uma cena em frente famlia.
Ele a ajudou a abrir o porto.
Isso no vai funcionar, Luke murmurou Rachel. Quero que saia
daqui e no volte mais.
No seja tola, Rachel. Et me preocupo com voc, e no vou a lugar
algum. Portanto, acho melhor se acostumar a me ver por perto sempre.
Mas... voc no pode!
No posso me preocupar com voc? Por que no? uma mulher
adorvel, com muito mais qualidades do que apenas beleza.
Acho que tem apenas um srio problema de temperamento...
Mas voc... havia dito que iria voltar para os Estados Unidos
argumentou ela.
Meus planos mudaram.
Oh, Deus...
No precisa rezar, Rachel. No tenho a menor inteno de mago-la.
Mas o que est fazendo, no v? Cada vez que olho para voc, isso me
magoa reclamou ela.
Sarah abriu a janela e ps a cabea para fora.
Derek est comeando a ficar irritado, Rachel avisou.
Estou indo respondeu ela. Acabaremos essa conversa depois
disse a Luke.
Durante o jantar, hoje noite?
Rachel respondeu apenas com o olhar, mostrando a ira que sentia.
No tenho a menor inteno de desistir arguiu ele. - Mas que droga,
Luke!
Por que no pode agir igual a todos os outros? exclamou, voltando para o
carro.
Todos os outros? Pensou Luke. Que outros? Homens que a haviam amado e
abandonado? Se j estava difcil aceitar o fato de ter havido um marido n vida dela,
pior ainda seria pensar na existncia de vrios amantes eventuais.
O choro de Derek despertou Luke da reflexo. Apro-ximando-se do carro, que
ento j se encontrava na garagem, abriu a porta de trs e retirou o menino do
assento de bebs com um movimento rpido, porm cuidadoso.
Pode parar de resmungar agora, seu nervosinho! ordenou Luke,
segurando-o no ar com ambas as mos.
O choro cessou de imediato, dando lugar a um amplo sorriso que iluminou o
rostinho angelical. Os grandes olhos castanhos brilhavam, enquanto ele brincava
com uma mecha dos cabelos de Luke, que, de imediato, ren-deu-se ao sorriso do
menino.
Est vendo, Rachel? comentou Sarah. s vezes, disso que Derek
precisa. Da mo firme de um homem. Percebeu como ele ficou bonzinho no colo de
Luke?
Nesse caso, Luke pode cuidar do "nervosinho" pelo restante da tarde
respondeu Rachel, pegando uma poro de sacolas dentro do carro e indo para a
casa. Tambm acho melhor convidar o nosso "bom samaritano" para almoar,
Sarah. Acho que ele espera algum pagamento por todo o trabalho que teve.
Sarah olhou para Luke e deu de ombros, antes de falar:
Foi uma manh cansativa. Melhor eu ir logo na frente, antes que ela tente
abrir a porta sozinha e deixe cair todas as sacolas. De novo...
completou, ao sair correndo.
Posso ver de quem herdou seu temperamento amvel, Derek
comentou Luke, ao ver o garoto comear a chorar outra vez, assim que
Sarah sumiu de vista.
Melhor traz-lo para dentro, Luke falou Sarah de dentro da cozinha.
O coitadinho est cansadssimo. Deveria ter dormido s dez da manh. Preciso
trocar a fralda dele tambm.
Luke o levou para dentro, ouvindo aquele pranto interminvel.
Meu Deus! Ele sempre genioso assim? Perguntou ao entregar o beb
para Rachel, que no respondeu.
Oh, no respondeu Sarah, ao oferecer dois sanduches para Luke,
indicando-lhe a mesa. Est apenas esgotado e irritado pela maratona das
compras e por no ter dormido. Qualquer outra criana dormiria no Carrinho, mas
no Derek. Ele acha que olhar o movimento muito mais interessante do que
dormir.
Nem mesmo no carro consegue sequer cochilar. 0 garoto adora olhar para
tudo que se movimenta.
Minha me sempre diz que eu era assim. Dava muito trabalho para dormir.
]{unca ficava mais do que quatro horas desacordado. A soluo foi encher meu quar to com mbiles e luzes coloridas para que ela pudesse dormir. Eu ficava horas
olhando para os diferentes padres de cor que se formavam com os movimentos.
Talvez tenha sido isso o que o levou a ser fotgrafo sugeriu Sarah.
Talvez. Nunca havia pensado nisso. Muita perspiccia sua, Sarah. Falando
em fotografia, gostaria de tirar algumas fotos de Derek. H um pouco de filme na
mquina que trago no porta-malas e poderia us-lo antes de mandar revelar.
Isso seria maravilhoso. No temos muitas fotos dele. Como deve ter
percebido, o dinheiro anda escasso. A doena de Patrick drenou todas nossas
economias e at as propriedades. A empresa o demitiu assim que soube da doena.
Foi uma atitude vergonhosa.
Esta casa de vocs?
No, alugada. No sobrou nada. Logo que Patrick morreu, eu e minha
nora conseguimos nos virar, juntando as penses do servio social, mas, com Derek
crescendo, as despesas aumentaram muito. Rachel voltou a trabalhar e est indo
bem.
Ela uma excelente modelo.
E tambm linda, no? o tom de Sarah era questionador.
Estou vendo que no posso esconder nada de voc, Sarah
afirmou Luke, sorrindo.
verdade. Meu interesse nela muito mais do que apenas profissional,
mas estou com boas intenes. O problema para mim ser convenc-la disso.
Ela... ela amava muito meu Patrick comentou Sarh, hesitante.
E passou por muitas dificuldades.
Eu sei respondeu ele.
Mas Sarah suspirou a vida continua, no ? Digo, ela ainda jovem.
Se tiver que haver outro homem na vida dela, eu ficaria muito feliz que fosse voc.
Obrigado agradeceu Luke, segurando a mo de Sarah com afeto.
Isso importante para mim. Acha que pode me ajudar a persuadi-la a jantar comigo
esta noite?
Est dizendo que ela se recusou a aceitar? A pergunta saiu com certa
surpresa, mas foi encorajadora.
Sim.
No leve para o lado pessoal, Luke. Rachel no deve querer que eu fique
sozinha tomando conta de Derek mais uma vez. Na verdade, adoro essas
oportunidades. Ele um anjinho comigo.
A noite em que liguei foi uma exceo. Agora que temos o medicamento
comprado, ser fcil cuidar dele.
Vou brincar com Derek l fora assim que ele acordar para deix-lo
bastante cansado sugeriu Luke.
E ento, como foi? perguntou Grace assim que Luke entrou pela porta.
Passara o dia inteiro expectante. Porm, a nica resposta do filho foi um
gesto de "mais ou menos".
Saberei melhor hoje noite. Vou lev-la para jantar.
Onde?
Em um pequeno restaurante especializado em peixes. Nada muito
luxuoso. Rachel no iria gostar e acabaria achando que minha nica inteno
impression-la e seduzi-la.
Ela pensa que voc quer apenas um romance? Um passatempo?
Algo assim...
Olhando para o filho, Grace at compreendia a moa. Qualquer mulher teria
medo de se envolver com um homem to charmoso e atraente.
O que ela achou de voc ter cortado a grama?
Achou que era algum investimento com a finalidade de lev-la para a
cama. Pensa isso tambm a respeito da minha atitude com o menino.
Voc vai ter que aguentar firme, Luke, e provar que ela est errada.
O tempo se incumbir disso. Por enquanto, tente mant-la longe da cama...
Gostaria que fosse to simples assim murmurou ele.
Mame, poderia passar uma camisa enquanto tomo banho? Tenho que
correr.
Mas so apenas cinco e cinco da tarde. A que horas deve peg-la?
As sete. Mas tenho que fazer algumas compras e passar na casa de Theo.
Deixei alguns filmes com ele para revelar com urgncia.
So as fotos de Rachel na praia?
Sim, mas no por isso a pressa. Tirei algumas fotos de Derek, hoje
tarde, e quero entreg-las a Rachel esta noite.
Oh, adoraria v-las tambm. Ser que Theo poderia tirar algumas cpias
para mim? Se possvel, gostaria de ver alguma em que aparea a prpria Rachel.
Fcil. Na verdade, ele est fazendo tudo em duas vias. Mas e quanto
quela camisa? Eu mesmo posso pass-la, mas no to bem quanto voc...
Bajulador... Qual delas?
A de seda preta.
No acha que deveria ir com outra? Talvez a azul-marinho ou a creme...
sugeriu Grace, preocupada.
A de seda preta repetiu Luke, com teimosia.
Continua querendo conquist-la por meio do sexo, e esse no o
caminho certo.
Concordo. Mas, se tudo mais falhar, ser a nica sada. Grace balanou a
cabea com desagrado. Luke ainda tinha
muito o que aprender. Uma mulher com um filho no se casa por causa de
sexo, mas por confiana e estabilidade. Entretanto, no havia como intervir. A vida
trataria de dar essa lio a ele. Como me, s lke restava passar a tal camisa.
Nossa! Mil vezes nossal cumprimentou Theo, quando Luke passou
para pegar as fotos. Agora posso entender. Eu mesmo me apaixonaria por ela se
a tivesse encontrado primeiro.
Obrigado, Theo respondeu Luke, sorrindo com impacincia ao pegar o
envelope marrom das mos do amigo. Usei direito as suas mquinas?
Tirou timas fotos com minhas cmeras, Luke. Se no fosse um colega
to antigo, juro que ficaria com inveja. Tenho a impresso de que est indo encontrar
a loira dos biquinis, no ?
Estou at atrasado.
Luke havia demorado muito tempo escolhendo mbiles em uma loja de
artigos infantis.
Ento corra, rapaz falou Theo. No quero atras-lo ainda mais. Ah, a
propsito: quem o garoto? Aquele com o olhar profundo...
Derek. Filho da loira do biquini.
Verdade? Posso saber se seu?
No. do marido dela.
Oh, maldio...
Nem tanto. Ela viva explicou Luke.
Nada bom, colega. Eu no criaria o filho de outro homem, mesmo que a
me dele fosse uma deusa loira. Dentro de uns dez anos, o garoto vai comear a
dizer na sua cara que no lhe deve satisfao, pois voc no o pai dele.
Mas eu vou ser o pai dele, Theo. Vou adot-lo. Preciso ir agora. Vamos sair
para beber qualquer dia desses, no , meu amigo?
S se eu for o padrinho do casamento.
J est convidado! festejou Luke.
A caminho da casa de Rachel, Luke pde pensar e ver que as palavras do
amigo faziam.sentido. No era o pai biolgico de Derek, mas algo o impelira a amar
o garoto no momento em que o vira.
Interessante era pensar no quanto gostara da sogra de Rachel tambm.
Formavam um grande trio e mereciam uma vida melhor. Luke queria torn-los sua
famlia e dar a eles o conforto que haviam perdido desde que Patrick falecera.
Ao pensar nos mbiles que comprara para Derek, no pde conter um
sorriso. O menino adoraria os elefantes... Com certeza tambm iria gostar dos
carrinhos de corrida e das borboletas com asas transparentes e multicoloridas, mas
os elefantes sempre ganhavam a maior simpatia das crianas. O que Luke
esperava, porm, era no ofender Rachel ou Sarah por ter comprado tambm um
mbile de fadinhas.
Ao parar em um semforo fechado, aproveitou para olhar as fotos. As de
Derek estavam por cima e Luke entendeu o que Theo quisera dizer. Os olhos do
O que foi que eu disse? Qual o problema? No nada com Derek, ? Est
tudo bem com ele?
O que foi? perguntou Sarah, que havia corrido at a porta.
Qual o problema?
No sei. Acho que... talvez o fato de eu ter comprado alguns mbiles para
Derek a tenha desagradado respondeu Luke, confuso.
Rachel chorou ainda mais, olhando para Sarah em busca de apoio, enquanto
encharcava a camisa dele com lgrimas.
Minha querida murmurou Sarah, afastando-a de Luke e a conduzindo
para a sala. Voc vai acabar passando mal chorando desse jeito. Agora, por que
no se deita um pouco e relaxa?
Faa-o ir embora! esbravejou Rachel, entre soluos.
Quero que ele suma daqui! No suporto mais a presena dele. Diga isso a
ele, por favor...
Luke sentiu-se congelado.
Rachel! Exclamou Sarah, chocada.
J falei isso muitas vezes, mas Luke no me ouve!
bramiu com histeria. No o quero na minha vida, mas no tenho foras
para mand-lo embora. Faa isso por mim, Sarah, antes que acontea algo de que
eu me arrependa. J passei do limite. Tanta dor... Tanta culpa... No aguento mais!
Por favor, Sarah, faa-o partir...
Rachel, querida... No sei do que voc est falando. Sabe do que se trata,
Luke?
Sei respondeu ele, com amargura.
Quem sabe, se me contar, eu possa... solicitou Sarah.
No! implorou Rachel. Luke, pelo amor de Deus... Apenas parta...
Luke a encarou e conseguiu entend-la pela primeira vez, at ento. Rachel
jamais iria superar o que havia feito dezoito meses atrs. Jamais. Era uma adltera
que, a despeito dos objetivos nobres e da causa desesperada, havia gostado do
adultrio. Sarah havia lhe contado sobre o quanto Rachel amava Patrick, e a culpa a
vinha consumindo desde ento.
O fato de ainda se sentir atrada por Luke a estava magoando cada vez mais.
Por isso a presena dele a torturava, lembrando-a da culpa e da vergonha.
A situao piorou quando voltaram a se amar, no hotel em Central Coast, pois
ela esperava se satisfazer e desaparecer de novo. Um relacionamento srio nem
sequer lhe passara pela mente.
Ao comprar um presente to pessoal para o filho dela, Luke ultrapassara o
limite suportvel de presso que Rachel poderia aguentar. Notando o que sua
simples presena estava causando mulher que amava, Luke tomou a deciso mais
difcil de sua vida.
Est bem, Rachel declarou, alheio expresso de sofrimento no
prprio rosto. Farei o que deseja. Irei embora e no precisa de preocupar mais,
lbuns de famlia. Ao achar o que estava procurando e voltar a fazer silncio, pde
ouvir um som estranho vindo do quarto de Luke. Pela primeira vez nos ltimos vinte
anos, ouvia seu filho chorar.
No ntimo, Grace sabia que ele havia cumprido a promessa que fizera aos
doze anos de idade, quando chorara pela ltima vez. Prometera que jamais iria
chorar de novo. A experincia de perder o co que ganhara ao nascer fora muito
forte. Uma amizade de doze anos fora interrompida de repente, por um acidente.
Daquela vez, Luke chorara muito. Desde ento, nunca mais. Ao ouvir outro
soluo rouco, o corao de Grace tentou redirecionar aquela emoo. Comeou a
ficar com raiva de Rachel. Quem essa mulher pensava ser? Quem dera a ela o
direito de fazer seu filho sofrer tanto?
A necessidade de entrar correndo no quarto do filho e falar sobre a suspeita a
respeito da paternidade de Derek foi interrompida pela percepo de que no
saberia o que fazer a seguir.
A resposta por certo viria com um pouco de reflexo e descontrao.
Para isso, nada melhor do que um pouco de televiso e um copo de licor.
No... Dois copos seriam mais apropriados. Quando tanto ela quanto Luke estivessem calmos, saberiam o que fazer.
Quarenta minutos depois, Grace continuava sentada, olhando de modo
ausente para a televiso e saboreando o segundo copo de licor, quando a
campainha tocou. Um rpido olhar para o relgio revelou que j eram nove e quinze
da noite. Tarde demais para ser uma de suas amigas. Talvez fosse Theo, trazendo
mais fotos reveladas. De qualquer forma, teria que atender.
Ver Rachel nas fotos no preparara Grace para v-la em carne e osso. A
garota era muito bonita e altssima. Tambm tinha feies amveis. Nem os olhos
vermelhos que denunciavam choro recente ou o rosto tenso diminuam tamanha
beleza natural.
Sra. St. Clair?
Perguntou Rachel, com suavidade, mas sem esconder a voz trmula.
Isso mesmo respondeu Grace com certa rudeza.
Ahn... Luke est?
Est ela concordou, erguendo o queixo em desafio.
Voc Rachel, no mesmo?
Sim, sou eu admitiu Rachel, como se tivesse vergonha de assumi-lo.
Preciso v-lo, sra. St. Clair. muito, muito importante.
Mesmo tocada pela comoo da moa, Grace no pretendia facilitar as
coisas.
Ora, ora. Eu no sei. Talvez Luke no queira v-la. Ele est muito
magoado.
Oh... Mas eu preciso v-lo! A senhora no entende... Tenho algo muito
importante para contar a ele.
Acho que entendi muito bem, Rachel.
Vi as fotos que Luke tirou do menino. Na verdade, ele parecido demais com
o pai quando tinha a mesma idade...
Oh, Deus... murmurou Rachel, chocada. Ele... ele no percebeu
nada, no ? A senhora no contou a Luke sobre o que descobriu, contou?
No negou Grace. Pelo que sei, ele no percebeu.
Nesse caso, sra. St. Clair, por favor, deixe que eu seja a primeira a contar
a ele. Tem que vir de mim, entende?
Suponho que sim concordou Grace. Mas devo avis-la de que no
pretendo ver meu filho ser usado por voc, nunca mais. Ele um bom homem e
merece um tratamento melhor do que o que vem dispensando a ele.
Sim, eu sei. Meu comportamento foi imperdovel.
Tudo o que posso fazer acertar as coisas agora. Por favor, deixe-me falar
com ele...
Voc no mudou de ideia porque descobriu que Luke muito rico e
famoso, no ? Mais uma vez, os olhos falaram por Rachel. A surpresa ante
aquelas palavras tranquilizou o corao de Grace.
No, no. Posso ver que no. Entre. Vou lev-la at ele.
Luke estava estirado na cama, sentindo-se drenado. As mulheres se sentiam
aliviadas depois de chorar, mas, um homem se sentia exausto, como se sua fora de
vontade tivesse sido minada.
Havia aguentado as emoes por vinte anos, e aguentaria mais vinte antes
de chorar outra vez.
Estava aturdido, deitado na cama em meio ao escuro do quarto, quando ouviu
a campainha tocar. Deduzindo tratar-se de uma das amigas de Grace, voltou a se
perder em pensamentos.
Planejava voltar logo para os Estados Unidos, para colocar a maior distncia
possvel entre ele e Rachel. S assim resistiria tentao de v-la outra vez. Seria
um sofrimento infernal, mas teria de suport-lo.
A leve batida porta o irritou. Por que Grace no podia deix-lo em paz? Era
bvio que ele queria ficar sozinho e sua me sempre percebia essas coisas. Luke
queria apenas a solido.
Queria mesmo? No. Queria Rachel. No fundo da mente, ainda mantinha o
desejo oculto de que ela entrasse por aquela porta a qualquer instante e... O que ele
estava fazendo, afinal? Teria se tornado masoquista? No deveria ficar alimentando
ideias absurdas do subconsciente.
O que foi? perguntou, ao ouvir a leve batida repetir-se com insistncia.
Voc tem visita, Luke Grace declarou.
Luke sentou na cama com um movimento brusco, observando com ateno a
porta se abrir lentamente. No, no poderia ser.
Sim, era ela mesma. Grace se retirou em seguida, deixando Rachel sozinha
diante da porta.
Assim que Luke aceitou a ideia de que Rachel era real, e no fruto de sua
imaginao, uma torrente de emoes o invadiu. Uma delas foi a fria.
O que est fazendo aqui? perguntou, revoltado. No acha que j me
pisou o bastante? Decidiu pisar um pouco mais nos meus sentimentos? isso,
Rachel? O sexo justifica um pouco mais de dor e culpa? Mas que droga, mulher...
Se for esse o caso, no fique a parada. Pode ir entrando e tirando a roupa!
Rachel o surpreendeu ao entrar e fechar a porta. Contudo, sua expresso era
de dor, no de paixo.
Tem todo o direito de estar furioso comigo, Luke. Nesse caso, vou tentar
no me magoar com o que est dizendo. Na verdade, ver que est to irritado
comigo chega a ser reconfortante.
Nada disso. Sei que voc uma mulher maldita! Se eu nunca mais a vir
depois desta noite, ainda vou achar que estive tempo demais perto de voc.
Sabe que isso no verdade, Luke. Sei que sabe.
Como pode saber? Magia? Caoou ele.
Sarah me contou. Disse tambm que voc me amava e que se preocupava
de verdade com Derek. Ela acha provvel que queira at se casar comigo e
constituir uma famlia.
Verdade? E no conseguiu ver isso por si mesma? Precisou que uma
terceira pessoa lhe mostrasse algo que seria bvio para qualquer um?
Sim. Precisei que algum neutro me dissesse, porque h muito tempo no
consigo pensar com lucidez em nada que diga respeito a voc, Luke. Perdi meu bom
senso desde o dia em que o vi pela primeira vez, dezoito meses atrs, naquela
exibio.
Luke ficou com a boca seca.
No diga nada que no seja verdade, Rachel. Se o fizer, no me
responsabilizo pelo que eu possa vir a fazer.
No direi nada que no seja verdade, Luke. Ser a verdade e nada mais
que ela, de agora em diante declarou Rachel, com lgrimas nos olhos.
Prossiga sugeriu ele, tenso.
Cheguei quela exibio em estado de puro desespero. No podia mais
aguentar a presso.
Aos poucos, percebi que ele havia me escolhido por ser o espcime gentico
perfeito para gerar o filho dele. Eu era, na verdade, mais uma de suas experincias.
Uma incubadora para a criana que deveria herdar o melhor de ns dois. Beleza e
inteligncia.
Mas... Luke ia fazer um comentrio, mas no continuou.
Claro que no percebi nada no comeo. As coisas s ficaram claras
depois que engravidei de Derek.
Contudo, j estava confusa e magoada pelo modo como meu casamento
vinha se desenrolando, muito antes disso, sem perceber que fazia tempo que no
havia amor na relao.
Luke continuou a fit-la em silncio.
De certa forma prosseguiu ela , fiquei aliviada quando ele deixou de
fazer sexo comigo. No havia mais amor, apenas mgoa e culpa. Pensei ento que,
se desse a ele o tal filho, ele ficaria feliz e, por consequncia, eu tambm. Minhas
consecutivas falhas em engravidar comearam a afetar meu estado mental e
emocional. Estava deprimida e instvel na noite em que decidi me vestir como uma
caadora e sair busca do primeiro homem bonito de olhos castanhos que eu
encontrasse. Nada mais importava... Apenas conceber uma criana.
O qu? perguntou Luke, indignado.
Ento era isso que ele representava?
Apenas um homem de olhos castanhos?