Semeador - História Da Igreja
Semeador - História Da Igreja
Semeador - História Da Igreja
NITERI, 2005
Apresentao
ndice
Captulo 1
Incio do Cristianismo
25
A Reforma e a Contra-Reforma
59
83
103
104
Programa Curricular
105
Histria da Igreja
O Incio do Cristianismo
A Igreja Primitiva
Perodo de 30 a 60 d.C.
10
Histria da Igreja
Semeador
11
12
Histria da Igreja
o, tinha produzido muitos coraes famintos, no apenas de nacionalidade grega, mas por todo o mundo helenstico.
C) A contribuio religiosa dos judeus
Os judeus constituem um povo peculiar. Deus escolheu para ser seu
povo santo, separado e exemplar. Seriam eles os transmissores da revelao divina a respeito da pessoa de Deus e de sua soberana vontade. Apoderando-se dos ensinamentos de Jeov, a medida que iam recebendo nova
revelao progressiva, preservavam-se em sua pureza e intensidade de
modo que, cumprindo-se a plenitude dos tempos, esse povo se constituiu de beno singular a todos os outros. Desta pequena nao cativa,
situada no caminho da sia, frica e Europa, veio o Salvador. O Judasmo tornou-se o bero do cristianismo, e, ao mesmo tempo, forneceu o
abrigo inicial da nova religio.
1) Monotesmo
Ao contrrio da maioria das religies pags, o judasmo fundamenta-se num slido monotesmo espiritual. Nunca, depois da sua volta do
cativeiro babilnico, os judeus caram em idolatria. Os deuses pagos
eram apenas dolos que os profetas judeus condenavam em termos muito
claros. Sua doutrina foi espalhada por numerosas sinagogas localizadas
em volta da rea mediterrnea durante os trs ltimos sculos anteriores a
vinda de Cristo.
2) Esperana Messinica
Os judeus ofereceram ao mundo a esperana de um Messias que
estabelecia a justia na terra. A esperana de um Messias tinha sido popularizada no mundo romano a partir da firme proclamao dos judeus.
Certamente os homens instrudos que viveram em Jerusalm na poca
imediatamente anterior ao nascimento de Cristo tiveram contato com esta
esperana.
3) Sistema tico
Na parte moral da lei judaica, o judasmo tambm ofereceu ao mundo o mais puro sistema tico de ento. O elevado padro proposto nos
Dez Mandamentos se colocava com os sistemas ticos prevalecentes e
com as prticas por demais corruptos dos sistemas morais pelos quais se
pautavam. Para os judeus no era um mero fracasso externo, mecnico e
contratual dos gregos e romanos, mas sim uma violao da vontade de
Semeador
13
Deus, violao esta que se expressava de um corao impuro e se externava em atos pecaminosos. Esta perspectiva moral e espiritual favoreceu uma
doutrina de pecado e redeno que resolvesse o problema do pecado. A
salvao vinha de Deus e no seria encontrada em sistemas racionalistas de
tica, ou nas subjetivas religies de mistrios.
4) O Antigo Testamento
Mesmo um estudo superficial do Novo Testamento revela a profunda
dvida de Cristo e dos apstolos para com o Antigo Testamento, e sua referncia por ele como a Palavra de Deus para o homem. Muitos gentios tambm leram e se familiarizaram com os fundamentos da f judaica. Este fato
indicado pelos relatos de vrios judeus proslitos. Muitas religies, como
o Islamismo, por exemplo, confiam em seus fundadores por causa de seu
livro sagrado, mas o prprio Cristo no deixou livros sagrados para a igreja. Os livros do Antigo e do Novo Testamento, foram produzidos por homens, sob a inspirao do Esprito Santo, e so a literatura viva da igreja.
5) Filosofia da histria
Eles se opuseram a toda e qualquer viso que deixasse a histria sem
significado, com uma srie de crculos ou como um processo de evoluo
linear. Eles sustentavam uma viso linear e cataclsmica da histria, na
qual Deus soberano, que criou a histria, iria triunfar sobre a falha do homem para trazer uma era duradoura.
6) A sinagoga
Nascida da necessidade decorrente da ausncia dos judeus no templo
de Jerusalm durante o cativeiro babilnico, a sinagoga, se tornou parte integrante da vida judaica. Atravs dela, os judeus e tambm muitos gentios
se familiarizaram com uma forma superior de viver. Foi tambm o lugar
em que Paulo primeiro pregou em todas as cidades por onde passou no itinerrio de suas viagens missionrias. Foi ela a causa de pregao do cristianismo primitivo.
O fundador da igreja
O cristianismo foi favorecido pela regio e pelo tempo em que surgiu. Originou-se no mundo Mediterrneo - o maior e mais importante centro de civilizao de ento. Herdeiro que era da longa histria judaica e
tendo seu incio nos anos de maior vigor do Imprio Romano, o Cristianismo gozava de todos os benefcios que o imprio oferecia aos seus cida-
14
Histria da Igreja
Semeador
15
A expanso da igreja
Com pequenas excees, Jesus limitou seu ministrio terrestre aos
judeus da Palestina. Grande parte das ltimos meses de sua vida foi dedicada ao preparo de um pequeno grupo de homens que haveria de confirmar
a obra por Ele comeada, e que depois de fortalecidos pelo Esprito Santo,
tinham a tarefa de testemunhar dEle em Jerusalm, como em toda a Judia e Samaria e at os confins da terra (At 1:8).
A fundao da Igreja em Jerusalm
O Esprito Santo teve um papel de proeminncia na fundao da Igreja Crist. Ele se tornou o Agente da Trindade na mediao da obra de redeno dos homens. Judeus de todas as partes do mundo Mediterrneo estavam presentes em Jerusalm para ver a festa de Pentecostes. A manifestao sobrenatural que ocorreu no falar em lnguas foi a testificao do
derramamento do Esprito Santo sobre os seguidores de Jesus.
O que se seguiu com a pregao feita por Pedro foi a aquisio de
trs mil almas mediante a aceitao da Palavra de Deus e do Evangelho de
Jesus Cristo, marcando o incio da igreja como organismo espiritual, igreja
visvel - o Corpo de Cristo (At 2:41). O crescimento foi rpido. Outros
eram acrescidos diariamente ao nmero dos trs mil at chegarem a cinco
mil (At 4:4). H meno de multides se integrando a igreja (At 5:14).
interessante que muitos eram judeus helenistas (At 6:1) da disperso e que
estavam em Jerusalm para celebrar as grandes festas relacionadas com a
Pscoa e o Pentecoste. Nem mesmo os sacerdotes ficaram imunes ao contgio da nova f. Muitos Sacerdotes (At 6:7) so mencionados como estando entre os membros da igreja primitiva em Jerusalm. Talvez alguns
deles tivessem visto a abertura do grande vu do templo, logo depois da
morte de Cristo, e isto, junto com a pregao dos apstolos, levou-os a se
comprometem com Cristo.
Este crescimento rpido no se fez sem oposio. A perseguio veio
primeiro de um organismo poltico-eclesistico, o Sindrio, que, com permisso romana, supervisionava a vida civil e religiosa do estado. Pedro e
Joo tiveram que comparecer perante este egrgio rgo duas vezes e foram proibidos de pregar o Evangelho, mas eles se recusaram a cumprir a
16
Histria da Igreja
ordem. Mais tarde a perseguio tomou cunho mais poltico. Esta perseguio deu ao cristianismo seu primeiro mrtir, Estevo. Ele foi um dos
mais destacados, dos sete homens escolhidos, para administrar os fundos
de caridade na igreja de Jerusalm.
A igreja judaica em Jerusalm, cuja histria foi descrita, logo perdeu seu lugar de lder do cristianismo para outras igrejas. A deciso tomada no Conclio em Jerusalm, de que os gentios no eram obrigados a
obedecer a Lei, abriu o caminho para a emancipao espiritual das igrejas
gentlicas do controle judaico. Durante o cerco de Jerusalm no ano 70,
por Tito, os membros da igreja foram forados a fugir para Pela, do outro lado do Jordo. Depois da destruio do templo e da fuga da igreja
judaica, Jerusalm deixou de ser vista como o centro do cristianismo; a
liderana espiritual da igreja Crist se centralizou, ento, em outras cidades, especialmente em Antioquia. Isto evitou o perigo de que o cristianismo jamais se libertasse dos quadros do judasmo.
A Igreja na Palestina
A visita de Filipe a Samaria (At 8:5-25) levou o Evangelho a um
povo que no era de sangue judeu puro. Os samaritanos eram os descendentes daquelas dez tribos que no foram levadas para a Assria depois da
queda da Samaria e dos colonos que os assrios trouxeram de outras partes do seu imprio em 721 a.C. Os judeus e os samaritanos fizeram-se
inimigos ferrenhos desde ento. Pedro e Joo foram chamados a Samaria
para ajudar Filipe, pois o trabalho crescera to rapidamente que ele estava sem condies de atender a todas as necessidades. Este reavivamento
foi a primeira brecha na barreira racial divulgao do Evangelho. Filipe
foi compelido pelo Esprito Santo, aps completar seu trabalho em Samaria, a pregar o Evangelho a um eunuco etope, alto oficial do governo da
Etipia.
Embora aqueles que tinham sido obrigados a sair de Jerusalm pregassem somente aos judeus (At 11:19), no demorou para que surgisse
uma grande igreja gentia que brotou em Antioquia. A o termo cristo,
inicialmente empregado com sentido pejorativo por mordazes antioquienses, tornou-se a designao de honra dos seguidores de Cristo. Foi em
Antioquia que Paulo comeou seu ministrio pblico ativo entre os gentios e foi da que ele partiu para suas viagens missionrias cujo objetivo fi-
Semeador
17
nal era chegar a Roma. A igreja em Antioquia era to grande que foi capaz
de socorrer as igrejas judaicas quando elas passaram fome. Ela foi o principal centro do cristianismo no perodo de 44 a 68 d.C. A tarefa de levar o
Evangelho aos gentios nos confins estava apenas comeando. Comeada
por Paulo, esta tarefa continua ainda hoje como misso inacabada da igreja
de Cristo.
O Evangelho chega aos Gregos
Paulo, capacitado pela revelao de Deus, foi que teve a viso das
necessidades do mundo gentio, dedicando sua vida a pregao do Evangelho a este mundo. Como nenhum outro na igreja primitiva, Paulo entendeu
o carter universal do cristianismo e entregou-se a pregao aos confins do
Imprio Romano (Rm 11:13; 15:16). Poder-se-ia at dizer que ele tinha em
sua mente o slogan O Imprio Romano para Cristo pelo tanto que ele fez
no ocidente com a mensagem da Cruz (Rm 15:15, 16, 18-28; At 9:15;
22:21). Embora no poupasse esforos na consecuo deste ministrio, ele
no negligenciou seu prprio povo, os judeus. Isto se evidencia por sua
procura das sinagogas judaicas logo que chegava a uma cidade e pela proclamao do Evangelho a todos os proslitos judeus e gentios que pudessem ouvi-lo.
18
Histria da Igreja
Semeador
19
15:36). No de admirar o rpido crescimento do cristianismo sob esta liderana sadia e inspirada.
- As publicaes de Paulo: Paulo adotava a prtica de se manter em
contato com a situao local em cada igreja atravs de visitadores (I Co
1:11). Quando a situao local parecia exigir ele escrevia cartas sob a inspirao do Esprito Santo para tratar dos problemas particulares. Deve-se,
ainda, atentar para o fato de que todas as cartas surgiram de uma crise histrica definida em alguma das amadas igrejas de Paulo. As epstolas so
ainda hoje de grande valor para qualquer igreja na soluo de seus problemas. Paulo sempre equilibrou formulas teolgicas com aplicao prtica.
- Os princpios da teologia de Paulo: A educao de Paulo no lar, na
sinagoga e com Gamaliel; sua observao da natureza (Rm 1:19-20); sua
experincia de converso; sua mente criativa, e, acima de tudo, a revelao
divina, foram importantes no desenvolvimento de sua teologia. O sistema
tico de Paulo desenvolve-se a partir da unio pessoal do crente com Cristo
pela f. Esta relao vertical deve ser completada com uma relao horizontal na qual o crente se une aos irmos pelo amor cristo expresso numa
vida moral (I Jo 3:23: Ef 1:15). Nem o legalismo do judasmo, nem o racionalismo do estoicismo, mas o amor cristo deve ser a fonte da conduta
crist. Esta vida de amor envolve separao da corrupo pessoal que vem
da adorao de dolos, da impureza sexual ou da embriaguez os grandes
pecados do paganismo.
- Paulo como polemista: Paulo jamais se contentava em simplesmente apresentar o cristianismo. Ameaas pureza da doutrina crist levavamno a luta contra o inimigo. Nenhuma interpretao falha da pessoa ou da
obra de Cristo escaparam a sua condenao, nem deixou de tentar convencer os errados a voltarem a f. Os acontecimentos do Conclio de Jerusalm., revelaram a tenacidade de Paulo quando uma questo fundamental
estava em jogo. Ele estava pronto para fazer concesses secundrias, desde
que isto facilitasse seu trabalho; mas no permitiu a circunciso de Tito em
Jerusalm porque a liberdade gentlica quanto a observncia da lei ritual
judaica era o princpio pelo qual lutava. A liberao do cristianismo da observncia da lei cerimonial judaica foi o resultado de maior alcance do
Conclio. A partir da, a f permaneceu como nico meio pelo qual o homem alcana a salvao.
Paulo enfrentou tambm o desafio do racionalismo grego quando lu-
20
Histria da Igreja
tou contra um gnosticismo incipiente na igreja. Alguns homens procuravam intelectualizar os meios da salvao assim como os cristos judeus
tinham tentado legaliz-los. O gnosticismo (falaremos mais sobre este assunto) tornou-se um perigo especial na igreja colossense. Paulo respondeu a esta heresia pela afirmao irrestrita da total suficincia de Cristo
como criador e redentor (Cl 1:13-20). Cristo a plena manifestao de
Deus e no de forma alguma inferior a Deus (Cl 1:19; 2:9). No surpreende que Paulo, com esta f, com esta coragem e com uma slida
perspectiva de sua tarefa, tenha sido capaz de levar a mensagem da salvao s naes gentlicas do Imprio Romano e fincar a cultura crist na
sua triunfante caminhada ocidental pela Europa.
Semeador
21
crtico da igreja e a ordenao ao oficio pelos apstolos. No deveria haver uma classe especial de sacerdotes parte para ministrar o sistema sacerdotal da salvao, porque tanto os oficiais da igreja como os membros
eram sacerdotes com o direito de acesso direto a Deus atravs de Cristo
(Ef 2:18)
Estes oficiais podem ser divididos em duas classes. Os oficiais carismticos (charisma em grego significa dom) foram escolhidos por Cristo e
revestidos com dons espirituais prprios (Ef 4:11-12; I Co 12-14), suas
funes eram basicamente inspirativas. Os oficiais administrativos constituam a segunda classe, suas funes eram principalmente administrativas,
embora aps a morte dos apstolos os presbteros tenham assumidos muitas
responsabilidades espirituais.
- Oficiais Carismticos: Estes homens, cujas responsabilidades eram
a preservao da verdade do Evangelho e sua proclamao inicial, foram
selecionados especialmente por Cristo atravs do Esprito Santo para exercer a liderana da igreja. Os apstolos eram homens que tinham sido testemunhas da vida, morte e principalmente da ressurreio de Cristo (At
1:22; I Co 1:1;15:8), e que tinham sido chamados pessoalmente por Cristo. Paulo baseou seu apostolado num chamado direto do Cristo vivo. Estes
homens, que foram os primeiros oficiais da igreja primitiva, combinaram
em seu ministrio todas as funes posteriormente exercidas por vrios oficiais quando os apstolos se tornaram incapazes de cuidar das necessidades
da igreja primitiva em rpida expanso.
- Oficiais Administrativos: Eram democraticamente escolhidos com
o consenso de toda igreja. Sua tarefa era executar as funes administrativas dentro da igreja local. Estes oficiais surgiram com a diviso de funes
e a especializao necessrias para ajudar os sobrecarregados apstolos diante de uma igreja em crescimento. O ofcio do ancio ou presbtero era o
mais elevado na congregao local. Os diconos tinham uma posio de subordinao aos ancios, mas aqueles que exerciam tal funo precisavam
das mesmas qualidades exigidas dos presbteros (At 6:3; I Tm 3:8-13). A
prtica de eleio democrtica era tambm uma recomendao dos apstolos em Jerusalm (At 6:3,5). A ministrao da caridade pela igreja era a
principal tarefa dos diconos.
Mais tarde, eles ajudaram os presbteros na distribuio dos elementos da Ceia congregao. As mulheres parecem ter sido admitidas a este
22
Histria da Igreja
oficio nos tempo apostlicos, pois Paulo menciona a diaconisa com aprovao (Rm 16:1).
O culto
A questo de uma forma segura de culto parece ter sido uma preocupao ao tempo dos apstolos. Paulo exortara a igreja a conduzir sua
adorao de uma forma decente e ordeira (I Co. 14:40). Os cristos primitivos no concebiam a igreja como um lugar de culto como se faz hoje.
Igreja significava um corpo de pessoas numa relao pessoal com Cristo.
Para tanto, os cristos se reuniam em casas (At 12:12; Rm 16:5,23; Cl
4:15; Fm 1-4), no templo (At 5:12), nos auditrios pblicos das escolas
(At 19:9) e nas sinagogas at quando foram permitidos (At 14:1,3 17:1;
18:4). O lugar no era to importante como o propsito de encontro para
comunho uns com os outros e para culto a Deus. A Ceia do Senhor e o
batismo eram os dois sacramentos da igreja primitiva, usados por terem
sido institudos por Cristo.
O convvio social
A igreja primitiva insistia na separao das prticas pags da sociedade romana, mas no insistia na separao dos vizinhos pagos em relaes sociais que no fossem prejudiciais. Realmente, Paulo permitiu por
inferncia o convvio social que no comprometesse ou sacrificasse os
princpios cristos (I Co 10:20-33). Ele mesmo exortou, porm, separao total de qualquer prtica que pudesse estar relacionada idolatria ou
imoralidade pag. O cristo devia seguir os princpios de no fazer nada que prejudicasse o corpo do qual Cristo era Senhor (I Co 6:12) e deveria evitar tudo que no glorificasse a Deus (I Co 6:20; 10:31). Estes
princpios proibiam a freqncia a teatros, estdios, jogos ou templos pagos.
Apesar desta atitude de separao moral e espiritual, os cristos estavam prontos para, como o prprio Paulo exortou, cumprir suas obrigaes cvicas de obedincia e de respeito s autoridades constitudas, pagamento de taxas e de orao pelas autoridades (Rm 13:7, I Tm 2:1-2).
Eles eram excelentes cidados, desde que no fossem instados a violar os preceitos de Deus, a maior autoridade a quem deviam obedincia
absoluta.
Semeador
23
24
Histria da Igreja
EXERCCIO
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
Histria da Igreja
O cristianismo
de 60 a 1500 d.C.
urante esse longo perodo poderemos observar as transformaes que o cristianismo viveu, perodos de alguns privilgios e outros de grandes perseguies e acontecimentos.
28
Histria da Igreja
Semeador
29
D) Econmicas: No ano 250, em que a perseguio deixou de ser local e intermitente para se tornar generalizada e violenta, Roma entrava, segundo a contagem dos romanos, nos mil anos de sua fundao. Nesta poca, uma fome e uma agitao civil assolavam o Imprio. A opinio publica
atribua estes problemas presena do cristianismo e o conseqente abandono dos deuses. H sempre um bom motivo para a superstio quando se
aproxima o fim de um milnio e os romanos nisto no foram melhores que
as pessoas da Idade Mdia que viveram pouco antes do ano 1.000. A perseguio aos cristos parecia, aos romanos, uma forma lgica de superar
os problemas.
A perseguio da Igreja at 100 d.C.
A igreja, desde a morte do seu fundador, sofreu perseguies, ora
com maior intensidade, ora com menor. Geralmente essas perseguies
eram provocadas pelos judeus fanticos e nunca por uma autoridade romana. At os gentios se levantaram algumas vezes contra os seguidores de
Cristo. Antes do ano 64, no encontramos nenhuma referncia histrica indicando as autoridades romanas como responsveis por perseguio aos
cristos.
Nero, tem o dbio privilgio de ser o primeiro imperador a perseguir
a Igreja Crist. Embora nos primeiros anos de seu reinado, o evangelho
gozasse de relativa liberdade, possuindo at seguidores entre os altos funcionrios do imprio at mesmo entre os membros da prpria casa imperial, no ano 55, Nero comeou a sua escalada de violncia. Nesse ano, por
ocasio de uma festa, envenenou Britnico, seu irmo adotivo. No ano 60
mandou matar Agripina sua prpria me. Ordenou a morte de Otvia, sua
esposa, para casar-se com Pompia. E, no vero do ano 64, com o fim de
reedificar Roma, fez lanar fogo a um bairro da cidade, acusando ento os
cristos como responsveis por to grosseiro crime. Os cristos comearam
a sofrer em decorrncia dessa falsa acusao como podemos observar no
relato abaixo.
Em primeiro lugar foram interrogados os que confessaram; ento,
baseados nas suas informaes, uma vasta multido foi condenada, no
tanto pela culpa de incendirios, como pelo dio para com a raa humana.
A sua morte foi tornada mais cruel pelo escrnio que a acompanhou. Alguns foram vestidos de peles e despedaados pelos ces; outros morreram
30
Histria da Igreja
Semeador
31
32
Histria da Igreja
Semeador
33
da f crist veio da filosofia grega. Mais gentios do que judeus se converteram ao cristianismo. Entre eles estavam muitos filsofos que queriam combinar cristianismo com filosofia, ou vestir a filosofia pag com uma roupagem crist. Vejamos algumas dessas filosofias:
1) Gnoticismo: Foi a maior das ameaas filosficas e chegou ao mximo de sua influncia ao redor do ano 150. Suas razes esto fincadas nos
tempos do Novo Testamento. Paulo parece ter enfrentado uma forma incipiente de gnosticismo em sua carta aos colossenses. A tradio crist associou a origem do gnoticismo com Simo. o Mago, a quem Pedro teve que
repreender duramente. O dualismo era um dos principais fundamentos do
gnosticismo. Os gnsticos defendiam uma separao entre o mundo material e espiritual, porque para eles a matria estava sempre identificada com o
mal e o esprito com o bem. Por isso, Deus no poderia ter criado este
mundo material. A tarefa de Cristo era ensinar um gnosis ou conhecimento
especial que ajudaria o homem a se salvar por um processo intelectual. O
gnosticismo ainda fomentou um orgulho espiritual com sua sugesto de que
apenas uma elite aristocrtica alcanaria os favores de habitar com Deus
nos cus. No havia lugar para o corpo humano na vida futura.
2) Maniquesmo: Com alguns pontos semelhante ao gnosticismo,
foi fundado por um homem chamado Mani ou Maniqueu (c. 216-276), da
Mesopotmia, que desenvolveu seu peculiar sistema filosfico em meados
do terceiro sculo. O maniquesmo defendia que a alma do homem relacionava-se com o reino de luz, mas seu corpo levava-o a depender do reino
das trevas. A salvao era uma questo de liberar a luz em sua alma da escravido matria de seu corpo. A elite ou os perfeitos constituam a casta
sacerdotal para este grupo. Viviam asceticamente e cumpriam certos ritos
essenciais liberao da luz
3) Neoplatonismo: Viam o Ser absoluto como a fonte transcendental
de tudo e achavam que tudo foi criado por um processo de emanao. Este
transbordamento ou emanao resultou na criao final do homem como
alma e corpo pensantes. O objetivo do universo era a reabsoro na essncia divina de onde tudo viera. Os sentidos podem ser liberados do presente
fsico pela contemplao das obras naturais e artsticas; a razo alcana a
liberdade pela manifestao do amor. A experincia de xtase era o estado
mais elevado a que se podia chegar nesta vida.
34
Histria da Igreja
Semeador
35
infringida. Tinham um objetivo negativo e positivo em seus escritos. Negativamente, queriam refutar as falsas acusaes de atesmo, canibalismo, incesto, preguia e prticas anti-sociais atribudas a eles por vizinhos e escritores pagos. Positivamente, desenvolveram uma perspectiva construtiva
para demonstrar que, ao contrrio do cristianismo, o judasmo, as religies
pags e o culto do estado, eram loucos e malvolos. Seus escritos, conhecidos como apologias, fizeram um apelo racional aos lderes pagos e procuraram criar uma interpretao inteligente do cristianismo e assim revogar
os dispositivos legais contra si. Estes homens, pintaram o cristianismo como a religio e filosofia mais antigas, uma vez que escritos como o Pentateuco tinham sido escritos antes das guerras troianas e que toda a verdade
que se encontrasse no pensamento grego era superada pelo cristianismo ou
pelo judasmo.
Apologistas Orientais: Justino, filho de pais pagos e nascido perto
da cidade bblica de Siqum, logo se tornou um inquieto filsofo em busca
da verdade. Ele se interessou pela filosofia estica, pelas idias de Plato e
de Aristteles, e filosofia numrica de Pitgoras. At que um dia, passeando na praia, um velho senhor o encaminhou Bblia como a verdadeira filosofia e encontrou a paz por que tanto ansiava. Ele abriu uma escola crist
em Roma; Taciano, erudito oriental muito viajado e discpulo de Justino
em Roma, escreveu uma obra conhecida como Discurso aos Helenos. Ele
sustentou que j que o cristianismo superior religio e a filosofia gregas, os cristos deviam receber melhor tratamento; Atengoras foi o professor em Atenas e se convertera pela leitura da Bblia. Escreveu uma obra
intitulada Splica pelos Cristos, no qual ele refuta a acusao de atesmo
tambm feita aos cristos ao demonstrar que os deuses pagos eram simples criaes humanas e culpados das mesmas imoralidades dos seus seguidores humanos; Tefilo de Antioquia que tambm se convertera pela leitura
da Bblia, escreveu a apologia A Autlico, que possivelmente era um magistrado pago. Foi o primeiro a usar a palavra trias para a Trindade.
Apologistas Ocidentais: Tertuliano, conhecedor de grego e de latim,
os clssicos lhe eram familiares. Fez-se um advogado competente, ensinou
oratria e advogou em Roma, onde depois se converteu ao cristianismo.
Defendeu o argumento que o estado est perseguindo a igreja base de dbios motivos legais, uma vez que as reunies, as doutrinas e a moral dos
cristos so superiores as de seus vizinhos pagos; Mincio Flix, escreveu
36
Histria da Igreja
Semeador
37
38
Histria da Igreja
Semeador
39
40
Histria da Igreja
esse regime, logo mostrou-se fraco para superar o desafio do declnio interno e da presena dos brbaros nas fronteiras do imprio. Entre 192 e
284 d.C., aconteceu um outro sculo de revoluo e dificuldades para o
imprio romano. Em 285, Diocleciano reorganizou o imprio em bases
mais aristocrticas, numa tentativa de garantir a cultura greco-romana.
Como o cristianismo parecia ameaar esta cultura, Diocleciano fez uma
fracassada tentativa de destru-lo entre 303 e 305.
Quando Constantino, chegou ao poder depois de Diocleciano, compreendeu que o Estado no podia destruir a igreja pela fora, o melhor
seria us-la como um aliado para salvar a cultura clssica. O processo pelo qual a Igreja e o Estado chegaram a um acordo comeou quando Constantino conseguiu o controle completo do Estado.
Constantino era o filho ilegtimo do lder militar Constncio com
uma bela mulher livre crist do Oriente, de nome Helena. Numa batalha,
em 313, ele teve uma viso de uma cruz no cu, com as seguintes palavras em latim: com este sinal, vencers. Embora a viso possa ter
ocorrido, evidente que o favorecimento da igreja por Constantino foi
um expediente seu.
Em 313, ele garantiu a liberdade de culto pelo Edito de Milo. Nos
anos seguintes, promulgou outros editos, que tornavam possveis a recuperao das propriedades confiscadas, o subsdio da Igreja pelo Estado, a
iseno ao clero do servio pblico, a proibio de adivinhaes e a separao do Dia do Sol (Domingo) como um dia de descanso e culto. Ele
tomou uma posio teolgica no Conclio de Nicia, em 325, quando arbitrou a controvrsia ariana. Alm disso, garantiu a liberdade e favores
para a igreja, mas a submeteu ao servio do imprio.
Em 330, Constantino, fundou a cidade de Constantinopla. Este ato
ajudou a dividir o Oriente do Ocidente. Constantinopla tornou-se o centro
do poder poltico no oriente. Com isso no ocidente, o bispo de Roma foi
deixado com maior poder poltico alm do espiritual.
Os filhos de Constantino continuaram sua poltica de favorecimento
da igreja. Em 361, houve um retrocesso com a ascenso de Juliano ao
trono imperial. Ele retirou da Igreja Crist os privilgios e restaurou a
liberdade plena do culto, facilitando o avano da filosofia e da religio
pag. Depois de Juliano, os reis seguintes voltaram a assegurar os privilgios da Igreja, at que o imperador Graciano renunciou ao ttulo de
Semeador
41
42
Histria da Igreja
Semeador
43
pertenceram quilo que deve ser chamado de escolas alexandrina e antiocana de interpretao. Homens como Crisstomo e Teodoro seguiram a escola antiocana. Eles enfatizavam o estudo histrico-gramatical da Bblia e evitaram a tendncia alegorizante praticada pelos seguidores da escola alexandrina, ainda influenciados por Orgenes. Vejamos alguns exemplos: Crisstomo (347-407), expositor e orador, nasceu por volta de
245 numa rica famlia da aristocracia de Antioquia. Foi instrudo nos clssicos gregos e
na retrica, o que lhe deu bases para sua excelente capacidade de falar. Por algum tempo, praticou a advocacia, mas aps seu batismo em 368 fez-se monge. Era extremamente asceta (pessoa que se entrega inteiramente aos exerccios espirituais e as penitncias)
em sua nfase sobre a simplicidade de vida. A maioria de suas homilias ou sermes so
exposies das Epstolas de Paulo;
Teodoro (350-428), exegeta e interpretador da Bblia, foi chamado de o prncipe
dos exegetas antigos. Ele no aceitava o sistema alegrico de interpretao e propunha
uma compreenso que levasse em conta a gramtica e a formao histrica do texto a
fim de descobrir o sentido que o autor quis dar. Deu uma ateno especial ao contexto
imediato e remoto do texto; Eusbio (265-339), historiador da Igreja, um dos pais da
igreja mais amplamente estudado por todos os mritos e merecedor do ttulo de Pai da
Histria da Igreja. Sua maior obra a Histria Eclesistica, um panorama da histria da
igreja dos tempos apostlicos at 324. Seu propsito era fazer um relato das dificuldades passadas pela igreja ao fim deste longo perodo de luta e comeo de uma era de
prosperidade.
B) Pais Ps-Nicenos do Ocidente: Os pais da Igreja Ocidental neste perodo sobrepujaram em muitos campos os do oriente. A traduo da Bblia e dos escritos dos filsofos pagos, junto com a produo de tratados teolgicos integra o todo de sua obra.
Vejamos alguns exemplos: Jernimo (340-420), comentarista e tradutor, natural de Veneza, foi batizado em 360. A sua maior obra foi uma traduo latina da Bblia conhecida como Vulgata. Em 388, ele tinha completado a reviso do Novo Testamento latino
cuidadosamente cotejado com o grego. Ele se serviu do grego da verso Septuaginta do
Antigo Testamento. A verso da Bblia feita por Jernimo tem sido amplamente usada
pela igreja ocidental e tem sido, at recentemente, a nica Bblia oficial da Igreja Catlica Romana desde o Conclio do Trento; Ambrsio (340-397), administrador e pregador, demonstrou sua capacidade nos campos da administrao eclesistica, pregao e
teologia. Falou contra os poderosos grupos arianos e no hesitou em se opor ao Imperador Teodsio. Embora suas exposies prticas da Bblia tenham sido limitadas pelo uso
do mtodo alegrico, foi um pregador de talento. Sua pregao na catedral de Milo foi
o instrumento para levar Agostinho ao conhecimento do cristianismo e resultou em sua
44
Histria da Igreja
salvao. Possivelmente foi ele que introduziu o cntico de hinos e a salmdia antifonal na igreja ocidental; Agostinho (354- 430), filosofo e telogo, aprendeu latim fora e odiou tanto o grego que jamais aprenderia
para usar fluentemente. Em 386 aconteceu a crise de converso. Meditando um dia num jardim sobre a sua situao espiritual, ouviu uma voz prxima porta que dizia: tome e leia. Agostinho abriu sua Bblia em Romanos 13:13,14 e a leitura trouxe luz para sua alma. Despediu sua concubina e abandonou sua profisso. Foi ordenado sacerdote em 391, e cinco anos depois bispo de Hipona. Ele foi apontado como o maior dos Pais
da Igreja. Deixou mais de 100 livros, 500 sermes e 200 cartas. A formulao de uma interpretao crist da histria deve ser tida como uma
das contribuies permanentes deixadas por este grande erudito cristo.
Agostinho exalta o poder espiritual sobre o temporal ao afirmar a soberania do Deus que se tornou o Criador da histria no tempo. visto pelos
protestantes como um precursor das idias da Reforma.
O Monasticismo A vida no confinamento
No perodo da gradual decadncia interna do Imprio Romano, o
monasticismo exerceu um forte apelo para muitos que prontamente renunciaram a sociedade em favor do claustro. Este movimento tem suas
origens no sculo IV, quando leigos em nmeros cada vez maior comearam a se ausentar do mundo. Ao final do sculo VI, o monasticismo tinham profundas razes na igreja ocidental e oriental.
Vrios fatores contriburam para o surgimento do monasticismo
dentro da igreja antiga. Um dos fatores mais importantes foi a influncia
filosfica - onde acreditavam que alguns textos bblicos pareciam apoiar a
idia de separao do mundo. Determinadas tendncias psicolgicas tambm fortaleceram o desejo por uma vida monstica. Na ltima parte do
sculo II e o sculo III teve incio a desordem civil que se tornaria comum na histria do final do Imprio, assim sendo, muitos trocaram a sociedade pelo mosteiro como forma de fugir desta realidade adversa. Um
outro fator, foi o histrico. O nmero cada vez maior de brbaros a abarrotar a igreja trouxe muitas prticas semi-pags para dentro dela, contra o
que as almas puritanas se revoltaram. A crescente deteriorao moral, especialmente entre as classes altas da sociedade romana, levou muitos a
descrerem da reforma social. O monasticismo tornou-se um refgio para
Semeador
45
46
Histria da Igreja
que precisavam de hospitalizao; os viajantes cansados tinham alimentao e repouso no albergue; e tambm os que estivessem fartos do mundanismo e das preocupaes da vida. Alguns dos maiores lderes da igreja
medieval, como Gregrio VII, por exemplo, vieram dos mosteiros. O
monasticismo contribuiu para o rpido desenvolvimento de uma organizao hierrquica centralizada na igreja, isto porque os monges deviam
obedincia aos superiores que, por sua vez, obedeciam ao papa.
Os desenvolvimentos hierrquicos e litrgicos
Entre 313 e 590, a igreja tornou-se a Igreja Catlica Romana, em
que o bispo de Roma tinha supremacia sobre os outros. O ritual da Igreja
tornou-se tambm mais sofisticado.
O bispo romano
Na igreja primitiva, o bispo era considerado um dos muitos bispos
iguais entre si em posio, autoridade e funo. No perodo compreendido entre 313 e 590, o bispo romano passou a ser reconhecido como o primeiro entre os demais. Os acontecimentos histricos desta poca cooperaram para intensificar a reputao do bispo de Roma. Roma fora o centro
tradicional de autoridade para o mundo romano durante meio milnio e
era a maior cidade ocidental. Depois que Constantino transferiu a capital
do imprio para Constantinopla em 330, o centro de gravidade poltica
oscilou de Roma para essa cidade. Isto deixou o bispo romano como a
nica pessoa forte em Roma durante muito tempo; o povo desta regio
passou a olh-lo como lder temporal e espiritual caso uma crise lhe sobreviesse. A eficiente obra missionria de monges leais a Roma tambm
fortaleceu a autoridade do bispo romano.
O progresso da liturgia
A unio entre a Igreja e Estado, no reinado de Constantino e seus
sucessores provocou a secularizao da igreja. A vinda dos pagos para a
igreja atravs dos movimentos de converso em massa, contribuiu para a
paganizao do culto quando procurou se adaptar nova realidade, com o
intuito de deixar vontade estes brbaros convertidos. A venerao de
anjos, santos, relquias, imagens e esttuas foi uma conseqncia lgica
deste procedimento. A intimidade com o estado monrquico tambm de-
Semeador
47
48
Histria da Igreja
foros de homens piedosos e que deviam, por isso, escapar a estes males.
No deve contudo admirar-nos esta deplorvel decadncia que se observa
de todos os lados, atendendo aos exemplos que davam os papas, cuja arrogncia e impiedade pareciam aumentar dia a dia. A sua ambio era insacivel e no conhecia limites, e para conseguirem os seus fins, empregavam todos os meios, mesmos os mais vis.
O Bispo Universal - Perodo de 600 a 700 d.C.
Durante a primeira metade do sculo VII o usurpador Focas, que
assassinara o imperador Maurcio e se colocara no trono, teve um grande
aumento de poder. Alguns anos antes, houvera entre os bispos rivais de
Roma e Constantinopla, uma luta desesperada pela supremacia, e Focas
para agradar aos italianos, que claro, defendiam o seu prprio bispo,
decidiu-se a favor do primeiro. Assim, pois, obteve, este, o ttulo de
Bispo Universal, por ordem do imperador; e o alicerce, sobre o qual
todas as suas posteriores pretenses se acumularam, ficou firmemente estabelecido. Isto aconteceu quase no fim do sculo anterior, durante o
pontificado de Gregrio I.
Com a supremacia eclesistica assim estabelecida, comearam os
papas subseqentes a voltarem a sua ateno para o alargamento temporal
da S papal e a intriga poltica comeou a ser um elemento familiar dos
conclios do Vaticano.
At ali o papa de Roma, embora fosse chamado Bispo Universal e,
portanto, o ditador supremo da igreja, estava ainda sujeito ao poder civil,
e a vontade arbitrria dos imperadores criava muitos obstculos aos seus
atos. Estavam sujeitos, assim como os sacerdotes e os mais humildes dos
cidados, a serem levados perante as cortes civis de Roma, acontecimento que realmente teve lugar no ano 653, quando o papa Martinho foi condenado a exlio perptuo.
Pouco importava S de Roma se o evangelho estava sendo pregado ou pervertido, ou se as almas estavam nascendo de novo para a eternidade ou sendo levadas para o inferno de olhos vedados, contanto que fosse reconhecida a sua supremacia, e obedecessem cegamente aos seus desejos. Neste perodo, no ano de 612, surge Maom, o falso profeta da Arbia. Seu maior pecado foi negar a divindade de Cristo.
Semeador
49
50
Histria da Igreja
Semeador
51
para a caa, e de terem vestimentas ricas, simplesmente para fazerem vista. Em dois conclios separados levantou-se a queixa de que o clero inferior tinha mulheres em casa, e que os presbteros se tornavam em meirinhos e freqentavam as tabernas, e no se envergonhavam de se entregarem ao vcio e embriaguez.
Quanto aos papas, basta dizer que um deles, Estevo VII, foi estrangulado, ocasionando a sua morte a seguinte observao: Ele entrou no
aprisco como um ladro, e foi justo que morresse pelo cabresto. Outro fato que se salientou nessa poca foi a exposio em muitas igrejas de vrias
coisas vs que, falsamente, diziam ter grande valor. Havia, por exemplo,
uma pena da asa do anjo Gabriel, um bocado da arca de No, a camisa da
bendita virgem, etc.
O clero ainda explorava a credulidade do povo por outros meios e a
este perodo pertence instituio do rosrio e da coroa da virgem Maria.
Alm disto, era generalizada a crena absurda de que o arcanjo Miguel celebrava missa na corte do cu todas as segundas-feiras e o clero aproveitava a ignorncia do povo, que enchia as igrejas dedicadas a So Miguel, a
fim de obter a sua intercesso. Outra inveno dessa poca foi a Doutrina
da Transubstanciao. Procedeu de um monge chamado Pascsio. Ele asseverou que o po e o vinho da eucaristia eram convertidos ( transformados
literalmente) no corpo e o sangue de Cristo, e fundou sua nova doutrina
numa interpretao muito literal das palavras do Senhor: Tomai! Comei!
Isto meu corpo. Ora, dar a essa palavra tal sentido um absurdo, e faz
cair qualquer pessoa num labirinto de absurdos.
Ao aproximar-se o ano 1000 da igreja, aumentou-se o terror. Pela
superstio do povo, apoderou-se de todos um tal pnico como de certo
no se tinha visto at ento. No tinha, por ventura, o Senhor dito que depois de mil anos Satans sairia da sua priso, e andaria por toda a parte enganando as naes nos quatro cantos da terra? (Ap.20). , em vista disto,
muitos pensavam que o fim do mundo estava verdadeiramente prximo.
Um ermito de Turgia chamado Bernhard, que, mal compreendendo
estas palavras da Bblia, tomou-as para seu tema, e saiu no ano 960 a pregar a aproximao do julgamento. Havia alguma aparncia de verdade nesta doutrina e a iluso influiu no nimo dos supersticiosos de todas as classes. Inclusive os monges e ermites pregavam a doutrina e, muito antes do
ano comear, soava este grito terrvel por toda a Europa. O povo encami-
52
Histria da Igreja
nhava-se para a Palestina, deixando as suas terras e as suas casas, ou legando-as, como expiao dos seus pecados, s igrejas ou aos mosteiros.
Os nobres vendiam os seus domnios, e at os prncipes e os bispos iam
em peregrinao, preparando-se para o aparecimento do Cordeiro no
Monte Sio. Um eclipse do sol e outros fenmenos no cu contriburam
para aumentar o terror geral, e milhares de pessoas fugiram das cidades
para se refugiar nas covas e cavernas.
Por fim comeou o ltimo dia do terrvel ano. Quando chegou a
noite, poucos eram os que estavam em condies de procurar as suas camas: os vestbulos e prticos das igrejas estavam apinhados de gente esperando ansiosamente e com medo esse julgamento tremendo. Foi uma
noite sem sono para toda a Europa. Mas despontou o outro dia: o sol ergueu-se no firmamento como de costume e lanou o seu brilho sobre um
mundo que no tina acabado mas que estava cheio de fome; no havia sinais sinistros no cu, nem tremores na terra: tudo continuava como antes.
O ano do terror tinha passado e o sculo onze da Era Crist havia comeado!
As Cruzadas - Perodo de 1000 a 1100 d.C
J desde muito antes do tempo de Carlos Magno, era costume os
bispos e abades serem sagrados pelos reis e imperadores. Entretanto,
Henrique IV da Germnia, no estava disposto a perder este privilgio
to antigo, pela simples imposio de um padre de Roma. Esta recusa irritou o papa, e levou-o a ser conivente na runa de Henrique. O papismo
pouco ganhou com a luta de Gregrio contra o imperador, e antes do fim
do sculo o papa reinante achou conveniente recorrer a um novo expediente para promover os interesses temporais do papismo.
Depois de Gregrio, Urbano II, que ento ocupava a cadeira de
So Pedro, promoveu uma grande guerra religiosa. Aproveitando que,
de tempos em tempos, chegavam da Terra Santa queixas de insultos e ultrajes feitos a peregrinos que se dirigiam ao santo sepulcro, Urbano II,
imaginou que, se pudesse envolver a Europa toda em uma guerra religiosa e privasse os diferentes pases dos seus melhores soldados, ser-lhe-ia
fcil dar um impulso s suas pretenses temporais, como at ento nenhum papa conseguira dar, visto que os bares turbulentos e os prncipes
poderosos estariam ausentes dos seus pases e no haveria ningum que
lhe pudesse fazer oposio.
Semeador
53
54
Histria da Igreja
Semeador
55
ma farsa vergonhosa. Protestando sua fidelidade a Cristo, e rejeitando a liberdade que lhe era oferecida em troca da retratao de sua f e maneira de
crer nas Escrituras, foi condenado fogueira, em Constana, onde sofreu
martrio.
O dio e a revolta dos bomios pelo martrio do seu grande heri nacional, no teve limites. Dentre eles surgiu um grande partido que iniciou a
guerra pela independncia da Bomia. Nessa peleja derrotaram o imperador alemo, devastaram parte da Alemanha e perturbaram grandemente os
negcios da Europa. Depois dessa revolta de carter poltico, surgiram os
Irmos Bomios, uma poderosa e influente organizao religiosa da igreja, cuja aes empolgaram toda a Bomia e a Moravia, como tambm algumas partes da Alemanha. Em outras partes da Europa o martrio de Joo
Huss fortaleceu o esprito de revolta contra a igreja papal.
A chegada do Renascentismo
A renascena teve seu incio na Itlia e pelo menos trs foram as influncias que favoreceram seu aparecimento: 1) O enfraquecimento repentino dos dois poderes da Idade Mdia o papado e o Imprio Romano; 2)
O poder imperial que entrara em colapso no fim do sculo XIII; 3) A mudana do papado para Avinho, na Frana, no comeo do sculo XIV.
Era o despertar da humanidade de um sono quase que eterno! Todas
as faculdades da natureza humana foram maravilhosamente despertada e
todas as atividades humanas apresentaram substanciais progressos. O movimento renascentista foi ampliado com a grande inveno da imprensa por
Joo Gutenberg, da Mogncia/Alemanha, pelos idos de 1450. Esta arte espalhou-se com muita rapidez de sorte que muitos livros que eram propriedades de uns poucos, foram multiplicados e espalhados entre um nmero
maior de pessoas. Nessa poca, Cristvo Colombo descobriu a Amrica ,
e Pedro lvares Cabral, o Brasil. O mais importante centro do Renascimento italiano foi Florena, se bem que influenciou muitas outras cidades.
Com o pontificado de Nicolau V (1447-1455), a renascena achou
pela primeira vez, poderoso patrono no chefe da igreja, e Roma se tornou
sua sede principal. A fundao da biblioteca do Vaticano se deve a ele. Esse e outros papas, representaram a renascena italiana em pocas diferentes; no entanto sob nenhum aspecto representaram tambm o esprito real
de uma igreja que, para milhes, era fonte de conforto nesta vida e a espe-
56
Histria da Igreja
Semeador
57
EXERCCIO
1.
____ Uma das causas da perseguio aos cristos era porque defendiam a igualdade entre todos os homens.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
Histria da Igreja
A Reforma e a
Contra-Reforma
A Extenso da Reforma
de 1500 a 1648 d.C.
culos XVI e XVII, foram marcados por grandes mudanas no cristianismo. Neste captulo veremos essas mudanas atravs do estudo da Reforma. Tambm estudaremos
neste perodo o movimento Contra-Reformista da Igreja
Catlica.
A Reforma
Alguns fatores tornaram inevitvel a Reforma. Entre muitos, pode-se
destacar: A relutncia da Igreja Catlica medieval em aceitar as mudanas
sugeridas por reformadores sinceros como os msticos, Wycliffe e Huss, os
lderes dos conclios reformadores e os humanistas; o surgimento das naes-estados, que se opuseram ao poderio universal do papa e a formao
da classe mdia, que se revoltou contra a remessa de reservas para Roma.
Sua fixao ao passado, clssico e pago, indiferente s foras dinmicas
que estavam formando uma nova sociedade, a italiana, da qual o papado
fazia parte, adotou uma forma de vida corrupta, sensual e imoral, embora
ilustrada.
Um novo mundo em expanso
Por volta de 1500, os fundamentos da velha sociedade medieval estavam ruindo e uma nova sociedade, com uma dimenso geogrfica muito
ampla e com transformaes nos padres polticos, econmicos, intelectuais e religiosos, comeava a surgir. A sntese medieval foi desafiada duran-
62
Histria da Igreja
Semeador
63
64
Histria da Igreja
Semeador
65
66
Histria da Igreja
Semeador
67
povo afluiu em massa para ver o grande homem que desafiava a autoridade
do papa e foi acompanhado por uma grande multido ao entrar na cidade.
No dia seguinte foi levado perante o Imperador Carlos V, ao lado do qual
se achavam o delegado do Papa, seis eleitores do imprio, vinte e cinco
duques, oito margraves, trinta cardeais e bispos, e sete embaixadores, os
deputados de dez cidades e grande nmero de prncipes, condes e bares.
Sabendo que tinha de comparecer perante uma das mais imponentes assemblia de autoridades religiosas e civis de todos os tempos, Lutero passou a
noite anterior em orao e viglia, prostrado com o rosto em terra lutou
com Deus, chorando e suplicando.
No dia seguinte, ao transpor a porta, Lutero se viu perante a Dieta.
Quando o porta-voz do papa exigiu que ele se retratasse perante a assemblia respondeu o Reformador: Se no me refutardes pelo testemunho das
Escrituras ou por argumentos desde que no creio somente nos papas e
nos conclios, sendo evidente que j muitas vezes se enganaram e se contradisseram uns aos outros a minha conscincia tem de ficar submissa
Palavra de Deus. No posso retratar-me, .....
Os representantes do papa queriam que a sentena de morte contra
Lutero fosse cumprida rapidamente, o que no aconteceu, porque o prncipe da Saxnia, simulando um seqestro, enquanto Lutero voltava para Wittenberg, levou-o, ao castelo de Wartburgo. No castelo, Lutero passou
muitos meses disfarado; tomou o nome de cavaleiro Jorte, e o mundo o
considerava morto. Contudo, no seu retiro, livre dos inimigos, foi-lhe concedida a liberdade de escrever, e o mundo logo soube, pela grande quantidade de literatura, que essa obra sara da sua pena e que, de fato, Lutero
vivia. Profundo conhecedor do grego e do hebraico, traduziu o Novo Testamento para a lngua do seu povo, em apenas trs meses. Poucos meses
depois a obra estava impressa e nas mos do povo. Contudo, a maior obra
de toda sua vida, sem dvida, fora a de dar ao povo alemo a Bblia na sua
prpria lngua.
B) Zwnglio e a Reforma Sua
A sua do sculo XVI era formado por um povo de esprito ptriotico e amigo da democracia. Mas, como em outros lugares da Europa, a
Igreja Sua tinha sobre si o monoplio poltico dos governadores e as diretivas religiosas do papa de Roma. O povo no estava satisfeito com o que
68
Histria da Igreja
vinha acontecendo, o que contribuiu para que a Sua tomasse novos rumos polticos e religiosos com a nova concepo da vida resultante do
Renascimento.
Zwnglio, graas a influncia do tio que era proco em Wildhaus,
vila onde morava, conseguiu educao esmerada, tendo chegado a estudar
em universidades famosas como as de Viena e de Basilia. Teve como
mestres, muitos homens tidos como grandes expoentes do pensamento renascentista, destacando-se o grande humanista Toms Wyttenbach, que
marcou-lhe a vida por ensinar-lhe a divina autoridade da Bblia, a morte
de Jesus Cristo como o preo nico do perdo e a inutilidade das indulgncias. Zwnglio tornou-se sacerdote, somente por haver outros clrigos
na famlia.
- Suas idias evanglicas: Em Glarus, Zwnglio teve a sua primeira
parquia. Foi a que aprofundou-se nos estudos das Escrituras, luz do
ensino reformista. Depois, residindo como sacerdote em Einsiedeln, lugar onde iam muitos peregrinos, ficou profundamente triste e revoltado
com o esprito idlatra e as supersties reinantes entre o povo daquela
cidade, alimentadas pela Igreja Romana. Comparando essas prticas medievais com o ensino prtico das Escrituras, ele inclinou-se gradualmente
para as verdades do Evangelho. Em 1519, Zwnglio j era tido como pregador notvel, pregou em Zurique, de onde sua fama se espalhou por toda a regio. Por esse tempo, foi acometido de grave enfermidade que, em
vez de faz-lo esmorecer, aprofundou ainda mais sua vida religiosa.
Em 1522 publicou um livro atravs do qual falava abertamente dos
motivos do seu afastamento da Igreja Romana. Por esse tempo, em virtude de distrbios provocados pelos inimigos de Zwnglio, foi convocado o
Conclio de Zurique, que se propunha pr fim controvrsia religiosa.
Aps demorado e caloroso debate, Zwnglio fez uma declarao de f de
acordo com os princpios fundamentais da Reforma: o sacerdcio universal de todos os cristos. A sua declarao enfatizava principalmente: 1)
Os homens so salvos por Deus por meio da f em Cristo; 2) Exaltou a
autoridade da Bblia; 3) Atacou a autoridade do papa, a missa e o celibato
do clero. No final do Conclio, a causa de Zwnglio era declarada vitoriosa e assim, a Sua rompia definitivamente com a Igreja Romana.
- Diferenas entre Lutero e Zwnglio: Grande esforo foi feito com
o propsito de juntar luteranos e zwnglianos de todo o interior da Alema-
Semeador
69
nha e Sua, com o propsito de formarem uma liga defensiva, contra possveis ataques da igreja papal. Por essa razo fora marcada uma conferncia entre os dois lderes, Lutero e Zwngliano. Para a formao dessa liga,
necessrio se fazia que houvesse harmonia doutrinaria entre ambos, o que
no foi possvel. Eles concordaram em catorze dos quinze artigos que definiam os assuntos bsicos da f crist, mas diferiam na doutrina da Santa
Ceia. Por um lado, Lutero defendia o princpio de que o verdadeiro corpo e o verdadeiro sangue de Cristo eram recebidos pelos comungantes ao
lado do po e do vinho; do outro, Zwnglio defendia que o sacramento
um memorial da morte do Senhor e que a Sua presena unicamente espiritual. Aqui teve incio a primeira das grandes divises do protestantismo
nos ramos Luterano e Reformado. Embora no tivesse se destacado
tanto quanto Lutero, Zwnglio foi visto tambm como um servo fiel e destemido, e um lder nobre e sbio que deu inspirao ao seu povo. Realizou
um trabalho permanente para a causa do Cristianismo em seu pas.
C) Calvino e a Reforma em Genebra (Sua):
Joo Calvino nasceu em julho de 1509 na Frana. Teve a sua infncia
em dias que a Igreja Romana e suas crendices tinham forte influncia sobre
o povo que se dispunha a crer em qualquer coisa absurda. Foi enviado a
Paris quando tinha apenas quatorze anos de idade, para realizar os estudos
preparatrios para a sua carreira eclesistica. Cinco anos depois, o pai decidiu que o filho deveria estudar Direito. Depois do falecendo de seu pai
em 1531, Calvino deixou o direito e resolveu seguir sua prpria vocao:
enveredar pela cultura das letras.
Ele declarou-se protestante em 1533 e, ao fim daquele ano, acompanhado de outros protestantes, teve de fugir de Paris em virtude de forte e
violenta perseguio. Esteve por trs anos em Basilia onde escreveu o livro A Instituio Crist, pelo que foi honrado como um dos mais ilustres
lderes do protestantismo. Esse livro era um tratado de teologia e declarao sistemtica de verdade crist sustentada e defendida pelos protestantes
e destinado ao uso popular.
- Incio da reforma em Genebra: Genebra era socialmente prspera,
mas de baixo nvel moral. Fazia pouco tempo que ali triunfara a Reforma
sob a liderana do famoso pregador Guilherme Farel. A cidade conquistara
sua independncia numa guerra contra seu bispo que era tambm um se-
70
Histria da Igreja
nhor feudal. Foi assim que, por um edital de 27 de agosto de 1535, a religio de Roma deixou de ser religio de Genebra. A Reforma chegou a
Genebra de mos dadas com a liberdade. No obstante o muito que j tinha sido feito, Farel verificou que era apenas o incio da luta e se considerava incapaz de continuar sozinho. Perplexo sobre o que fazer, foi informado de que Calvino estava em sua cidade naquela noite. Foi ao seu
encontro e convidou-o a ficar em Geneba.
Calvino no demonstrou nenhum interesse em aceitar seu convite e
alegou estar muito ocupado com seus estudos e pesquisas. Foi a que, como num ltimo e desesperador apelo, o velho pregador disse a Calvino:
Digo-te, em nome de Deus Todo-Poderoso, que ests apresentando os
seus estudos como pretexto. Deus te amaldioar se no nos ajudares a
levar adiante o Seu trabalho, pois doutra forma estarias buscando a tua
prpria honra em vez da de Cristo!. O reformador cedeu e ficou. Diante
do enftico apelo, Calvino mesmo confessou: Senti... como se Deus tivesse estendido a sua mo do cu em minha direo para me prender...
fiquei to aterrorizado que interrompi a viagem que havia encetado....
Iniciadas as suas atividades, em pouco tempo o trabalho de Calvino
resultou em desastre. Muita gente no estava com o corao predisposto
Reforma e a oposio dessa gente resultou na expulso de Calvino e Farel. Saindo de Genebra, Calvino esteve por trs anos em Estrasburgo,
pastoreando uma igreja protestante de franceses exilados pelas perseguies. Enquanto isso as coisas em Genebra iam de mal a pior. Ento o povo, que j conhecia a capacidade de Calvino, convidou-o a voltar a Genebra, apelo que ele atendeu sem relutncia.
Por sua obra em Genebra, Calvino alcanou trs benefcios para o
Protestantismo em geral: 1) A vida moral da cidade; 2) Genebra foi
transformada na cidade de refgio para os perseguidos por causa da Reforma; e 3) Foi tambm um lugar de preparao para os lideres do Protestantismo. Foram preparados ministros devotados, instrudos, que se
espalharam como missionrios da Reforma, pelos pases onde esta ainda
no havia entrado. Muitos dos refugiados mais tarde voltaram aos seus
pases de origem.
D) Calvino e a Reforma na Frana:
Embora Calvino estivesse ausente da Frana h vinte e sete anos,
Semeador
71
permanecia como lder da Reforma naquele pas. Seus livros, principalmente A Instituio Crist, eram espalhadas como relmpago por todo o
pas, as quais eram aceitas e propagadas por humanistas franceses, que eram estudiosos das Escrituras. Mas quando os livros de Lutero comearam
a circular na Frana, foi grande a perseguio levantada contra todos quantos defendiam os pontos de vista de origem reformista.
Em 1538 o rei Francisco I decidiu mover forte e incessante campanha contra o ensino reformado. Foi no ardor das perseguies que Calvino
tornou-se o lder mais eficaz do movimento protestante no pas, dirigindo-o
atravs de cartas e por meio de jovens pregadores enviados de sua escola
em Genebra. No obstante o sangue derramado e muitos mortos, a Reforma espalhou-se por quase toda a Frana. Mas, s em 1559 foi organizada
uma igreja protestante nacional.
- Os Huguenotes: O rpido crescimento da influncia da Reforma na
Frana, contribuiu para que dentro de pouco tempo, grande parte da aristocracia francesa fosse conquistada pela Reforma. Estes grandes nobres alguns prncipes de sangue real, no se submetiam facilmente perseguio,
e comearam a falar de uma revolta armada. Sob a liderana desses nobres, o movimento protestante tornou-se no somente um movimento que
visava a expanso das verdades do Evangelho, mas igualmente uma luta
contra o governo com o fim de alcanar a liberdade religiosa. Por essa atitude os protestantes franceses ganharam o nome de Huguenotes, esse foi
a princpio um apelido dado aos protestantes pelos catlicos romanos. A
guerra rebentou em 1562, sendo os huguenotes comandados pelo almirante
Coligny e o prncipe Conde. Ambos lutavam contra a tirania da rainha regente, Catarina de Mdicis. Essa foi a primeira das oito Guerras Religiosas que durante mais de trinta penosos anos, quase arruinaram a Frana.
O partido catlico-romano estava decidido a lanar mo de todas as crueldades, como de fato o fez. Esse partido era dirigido pelos jesutas e pelo
rei Filipe II, da Espanha.
- A noite de So Bartolomeu: O esprito do partido catlico-romano
manifestou-se no horrvel massacre de So Bartolomeu, em 1572. Num
certo perodo de paz, muitos dos huguenotes dentre os mais nobres da
Frana reuniram-se em Paris para as cerimnias de casamento de um dos
seus lderes, Henrique de Navarra. Num ataque levado a efeito durante a
noite, por ordem de Catarina de Mdicis, milhares de huguenotes, inclusi-
72
Histria da Igreja
ve o almirante Coligny e muitos outros lderes foram mortos. Rapidamente cerca de setenta mil protestantes foram mortos em toda a Frana.
O papa de Roma enviou congratulaes a Catarina e ambos se regozijaram pelo que fizeram aos protestantes. Apesar deste terrvel golpe, os
protestantes se reabilitaram e continuaram a luta at 1598 quando a guerra terminou com o clebre Edito de Nantes, que concedeu ao protestantismo um pouco mais de tolerncia.
E) Guilherme Orange e a Reforma nos Pases Baixos:
Os pases baixos foram os territrios herdados por Carlos V, onde
ele exerceu toda espcie de hostilidade contra a influncia da Reforma
Protestante. Quando as idias luteranas comearam a se difundir, ele estabeleceu a Inquisio, condenando fogueira, em 1523, os primeiros
mrtires da f reformada. Apesar de mais de trinta anos de perseguio,
o protestantismo sobreviveu. A influncia de Joo Calvino tornou-se evidente atravs da obra dos missionrios reformados, vindos da Frana e de
Genebra. Em 1555, Carlos V foi sucedido por seu filho Filipe II, na Espanha e nos Pases Baixos. Filipe foi mais carola e cruel que seu pai. De
tal sorte governou, que em poucos anos muitos povos das provncias estavam dispostos revolta contra a tirania espanhola que estava esmagando
a liberdade, levando todas as riquezas dessas provncias para o reino espanhol e matando o povo por causa da sua f. Foi assim que a causa protestante identificou-se com a causa da liberdade.
Guilherme de Orange foi o lder do partido patritico contra a tirania de Filipe II. Descobrindo que o rei estava convocando tropas para esmagar qualquer resistncia ao governo, Guilherme retirou-se para Alemanha, a fim de preparar-se para a guerra. Nesse nterim, conheceu a verdade evanglica e aceitou-a, dedicando-se muito ao estudo da Bblia. Este
fato e a lembrana dos mrtires que vira nos Pases Baixos, tornaram-no
em m homem profundamente religioso. Da em diante, sua carreira foi
dominada pela convico de que ele prprio era um instrumento nas mos
de Deus para salvar o seu povo adotivo, da misria e tirnica opresso
espanhola.
Em 1567, a Armada Espanhola, chegou aos Pases Baixos, dirigida
pelo monstro de crueldade que foi o Duque de Alba. A carnificina por ele
promovida veio enfraquecer irreparavelmente a causa da Reforma no sul
Semeador
73
e leste do pas. No ano seguinte, Guilherme comeou a guerra de libertao. No incio da guerra, ele compreendeu que sua causa no triunfaria no
sul dos Pases Baixos onde a populao protestante havia sofrido parcial
aniquilamento pelas foras espanholas. Essas provncias do Sul vieram a
formar a moderna Blgica, pas catlico-romano. Foi com os protestantes
do norte dos Pases Baixos que Guilherme alcanou o seu objetivo. Seu
exemplo inspirou o seu povo a sustentar a boa causa com o auxlio de
Deus, sem poupana de ouro ou de sangue. Esta nobre causa teve sua vitria em 1609. Assim nasceu a poderosa nao protestante na Holanda.
Ainda no sculo XVIII, surgiu uma profunda diferena teolgica entre os protestantes da Holanda. Para resolver esta disputa convocou-se em
1618 o Snodo de Dort cuja deciso contrariou os arminianos. Os arminianos defendiam que Cristo morreu por todos e alguns telogos defendiam a
idia que Deus predestina alguns para a salvao e outros para a perdio.
Os arminianos perderam, mas o ensino destes foi vitorioso na Holanda e se
espalhou por toda a Inglaterra, e depois, na Amrica.
F) Knox e a Reforma na Esccia:
Na Esccia do Sculo XVI era um reino independente. Seu clero tinha sido indigno e incompetente. Por isso os ensinos da Reforma foram
avidamente aceitos. O maior lder da causa reformista na Esccia foi Joo
Knox. Da sua vida passada apenas sabemos que nasceu em 1515. Da sua
ousadia como pregador do Cristianismo reformado, resultou em 1546, sua
priso por uma fora francesa que fora enviada para auxiliar o governo escocs. Por dezenove meses suportou a vida de morte numa das gals de
escravos, na Frana. Passou depois vrios anos na Inglaterra onde destacou-se como notvel pregador. Ao rebentar a perseguio no reinado da
rainha Maria, fugiu para Genebra onde se ligou a Calvino.
Enquanto Knox achava-se no exlio, a Reforma prosseguia de alguma forma na Esccia, sob a liderana de certos nobres conhecidos como os
Senhores da Congregao. Quando Knox regressou em 1559 para assumir a direo do movimento, encontrou-os prontos a lutar pela liberdade
da f, contra a rainha regente. Dispondo de tropas francesas para lutar, ela
teria, alcanado a vitria caso Knox no solicitasse auxlio a Cecil, secretrio do Estado da rainha Isabel, que viu quanto era necessrio ter uma Esccia protestante ao lado de uma Inglaterra protestante. Em 1560 uma arma-
74
Histria da Igreja
Semeador
75
G) A Reforma na Inglaterra:
Muito antes do rompimento de Henrique VIII com o papa, vrias foras contriburam para o preparo do povo ingls a fim de receber a Reforma. A maior dessas foras foi a organizao dos Irmos Lollardos que
conservou vivos os ensinamentos de Wycliffe. Alm disso, havia a propaganda das idias reformistas pelos humanistas, tais como Colet, a disseminao dos livros e ensinos de Lutero em alguns lugares e a circulao extensiva, embora proibida, do Novo Testamento de Tyndale, publicado em 1525.
Henrique VIII se revoltou contra a igreja, quando por motivos polticos, o papa no atendeu a seu pedido de anulao do seu casamento com
Catarina. Nesse episdio estavam envolvidas graves questes de carter nacional. Os estadistas ingleses muito se preocupavam com o fato de no haver um herdeiro do sexo masculino para a sucesso da coroa e havia tambm certa dvida quanto legalidade desse casamento segundo as leis da
Igreja.
Desse modo houve alguma justificao para o seu pedido ao papa;
antes porm de fazer o pedido, Henrique colocou-se numa situao indesejvel por sua sbita paixo por Ana Bolena que era indignada de ser rainha do povo ingls. Henrique VIII, resolveu livrar a Inglaterra do domnio
papal. Conseguiu do arcebispo de Canturia uma declarao de ilegalidade
e conseqente anulao do seu casamento com Catarina, e da legalidade do
seu casamento com Ana Bolena. Foi ento excomungado por decreto papal. A resposta de Henrique foi dada atravs de um ato do Parlamento em
1534, pelo qual se declarava Chefe Supremo da Igreja da Inglaterra, e
por uma proclamao do clero que a ele se submetera, de que o papa no
mais teria supremacia na Inglaterra.
Nada tinha sido feito at aqui no sentido de uma reforma real no terreno religioso. Quando Henrique morreu em 1547, a Igreja da Inglaterra
ainda conservava seu credo e princpios doutrinrios romanistas; muitos
conservavam as antigas idias religiosas. A fora dessas idias, porm, tinham sido enfraquecida por dois acontecimentos ocorrido no reinado de
Henrique. Uma delas foi a ordem real para que cada igreja tivesse uma Bblia completa, de grande formato, na lngua inglesa e que fosse colocada
onde o povo pudesse ler com facilidade. A Bblia usada pelo povo era principalmente da traduo feita por Tyndale. Desde ento, essa traduo passou a ser a base de todas as Bblias de lngua inglesa que aparecem posteri-
76
Histria da Igreja
ormente. Outro ato hostil contra a religio medieval foi o fechamento dos
mosteiros e confisco das suas propriedades.
No reinado de Eduardo VI a Igreja da Inglaterra tornar-se protestante rapidamente, pela influncia dos nobres. Dentro de cinco anos foram publicados um Primeiro e um Segundo Livro Comum de Oraes,
modificando o culto da Igreja de acordo com as idias da Reforma; o parlamento decretou leis que exigia que todas as pessoas assistissem ao culto
reformado. Enquanto isso, os ensinos da Reforma se divulgavam entre o
povo.
No reinado da rainha Maria, a Inglaterra volta ao domnio da Igreja
Romana. Com este propsito, anulou todos os atos dos reis seus predecessores. Atacou cruelmente o Protestantismo, principalmente seus lderes. Entre as vtimas destacam-se o arcebispo Cramer e os bispos Ridley
e Latimer. A Inglaterra tornou-se consideravelmente muito mais protestante, aps a sua morte, em virtude da sua cruel batalha para tornar o pas catlico-romano. A sucessora da rainha Maria, Isabel, desde cedo demonstrou seu propsito de seguir o Protestantismo, pelo que muito contribuiu para a formao de uma igreja nacional protestante. Foi organizado tambm um Livro Comum de Oraes ainda hoje adotado sem modificaes substanciais.
H) Os Anabatistas, um outro movimento:
Alm de luteranos e dos reformados, surgiu um terceiro movimento
conhecido como anabatista cristos verdadeiramente convertidos,
com base doutrinaria bblica os ensinamentos do Novo Testamento e,
particularmente, o Sermo do Monte. Nos anabatistas era produzido o
modo de viver dos cristos primitivos. A doutrina fundamental dos anabatistas era uma concepo particular a respeito da Igreja. Esta, sustentavam eles, uma comunidade de pessoas regeneradas. Decorria da a sua
crena, de que o batismo, o rito de admisso Igreja, s deveria ser ministrado aos adultos, porquanto, somente estes poderiam experimentar
converso. O batismo recebido na infncia era destitudo de valor. Por
causa dessa atitude, foram chamados de anabatistas, isto , que batizavam novamente.
Os anabatistas surgiram especialmente nas regies da Europa. Procederam principalmente dos camponeses e artesos que eram vitimas de
Semeador
77
A Contra-Reforma
Ao irromper a Reforma na Europa, a Igreja romana se achava em tal
estado de decadncia, e os papas da poca to interessados na vida privada
e to desinteressados nas coisas religiosas que, por espao de vinte e cinco
anos aps a exploso do movimento reformador, pouqussimas foram as
medidas para reprimi-lo. Na verdade eles no criam que a Reforma sobrevivesse a seu lder, Martinho Lutero. Desde ento Leo X, os papas, imersos numa vida luxuosa e imoral, no viam na revolta religiosa da Alemanha propores maiores do que o delrio de um frade embriagado.
O papa Paulo III (1534-1549), apesar dos seus gostos e modo de viver, no era melhor do que aqueles que vieram antes, porm, mais diplomata que eles, compreendeu quo grave era a situao catlica. Embora
dotado de hbitos imorais, chegou a nomear em comisso, alguns prelados
dos mais eminentes e capazes para sugerirem planos visando o melhoramento da Igreja. Acordando por fim, da sua aparente indiferena, a reao
catlica comeou em 1541, a empregar as mais severas medidas para reprimir o Protestantismo. Os principais objetivos da reao foram: expurgar a
Igreja; quebrar as foras de ao do Protestantismo; reconquistar o terreno
perdido; e dar novo vigor s atividades missionrias. Os meios principais
empregados pela Igreja Catlica contra o progresso do Protestantismo foram trs: a Sociedade de Jesus, o Conclio de Trento e a Inquisio.
A) A Sociedade de Jesus: Esta organizao foi fundada pelo espanhol
Incio de Loyola (1492-1556). O primeiro grande desejo de Loyola foi ser
78
Histria da Igreja
famoso como soldado; mas este ideal apagou-se quando, aos vinte e oito
anos, recebeu grave ferimento que o aleijou para o resto da vida. Sua ambio tomou outro rumo: queria tornar-se agora um grande santo. O caminho foi entrar par um convento, mas todos os seus jejuns, penitncias,
oraes e confisses no lhe proporcionaram a almejada paz. De repente,
lanou-se com seus pecados aos ps do Criador, e alcanou a certeza de
perdo e paz para a sua alma. Da em diante sua vida seria posta a servio de Deus.
Por conselho dos superiores, Loyola estudou teologia por seis anos
na Universidade de Paris, antes de comear a trabalhar. Com profundo
conhecimento na natureza humana, escolheu como companheiros de ideal, nove ajudantes que se tornariam homens de poderes extraordinrios.
A Sociedade de Jesus foi formalmente organizada em 1540 com
esses dez membros. Tanto sacerdotes como leigos eram recebidos na Ordem. O propsito da Sociedade era promover o progresso eclesistico e
lutar contra os inimigos da Igreja Catlica Romana por todos os meios
possveis. A organizao da Sociedade era baseada num sistema de disciplina rgida e absoluta, obedincia contnua e perfeita. Dentro de poucos
anos se tornaram dominadores da Igreja Catlica Romana. O esprito deles era o da Contra-Reforma e o seu ideal era esmagar os dissidentes,
principalmente o Protestantismo.
B) A obra do Conclio de Trento: Um dos abominveis e desumanos instrumentos de combate Reforma, foi o Conclio de Trento, em
1545, e durou dezoito anos, dividindo-se em trs longas sesses. No final
do mesmo, a Igreja Romana tinha formulado uma declarao completa de
sua doutrina. Assim ela dispunha de novas e poderosas armas em sua batalha, para reconquistar o que havia perdido. De um modo geral o Conclio de Trento proporcionou meios Igreja Romana de combater o Protestantismo.
C) A Inquisio e o Index: Os lderes da Contra-Reforma defenderam com todas as foras a crena medieval, de que era justo o uso da fora contra a heresia. Mas a Igreja Romana tinha os seus prprios meios de
represso pela Inquisio. Ao lado da Inquisio operava a Congregao
do Index, que condenava os livros com os quais a Igreja no concordava
- os escritos protestantes e todas as verses da Bblia, exceto a Vulgata.
A Congregao condenava tudo que conduzisse o mundo ao progresso;
Semeador
79
80
Histria da Igreja
Semeador
81
82
Histria da Igreja
EXERCCIO
1.
____ O catlico romano define a Reforma como uma revolta protestante contra a igreja universal.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
____ Huguenotes foi o primeiro apelido dado aos protestantes pelos catlicos.
8.
Histria da Igreja
A Igreja Protestante
na Europa, EUA e Brasil
este ltimo captulo daremos um panorama geral da continuidade do trabalho dos protestantes aps a Reforma; comeando pela Europa, bero da Reforma protestante, passando pela Amrica do Norte, Amrica Latina, at chegar
ao nosso pas.
A Igreja na Europa
Neste perodo, a Igreja na Europa, foi marcada por altos e baixos,
merecendo uma anlise detalhada para se compreender os acontecimentos
que se sucederam nesta poca e posteriormente. Na Frana as autoridades
continuavam a perseguir o protestantismo.Com a Revoluo Francesa em
1789, a Igreja Catlica comeou a sentir a hostilidade do povo. Na Alemanha, o protestantismo, viu-se envolvido por freqentes e vazios debates teolgicos entre os seguidores dos ensinos de Lutero e os seguidores do ensino de Calvino. Assim, surgiu o Pietismo, com a finalidade de agregar
em torno do seu ensino, os insatisfeitos com os rumos tomados pelos luteranos e reformados. No fim do sculo XVII, teve incio a chamada era da
razo. O mentor do homem em todos os assuntos da vida seria a razo,
a mente.
O Cristianismo e suas doutrinas sofreram grandes apuros, por no
poderem ser aquilatados pela razo e raciocnio de homens naturais. E ainda veremos a situao da Igreja Oriental, a partir da tomada de Constantinopla pelos turcos, e as conseqncias que a capitulao daquela grande
metrpole trouxe sobre o Cristianismo naquela regio do mundo.
86
Histria da Igreja
O protestantismo na Frana
O sculo XVIII foi para a Frana uma era de grande desenvolvimento, quando a nao prosperou to rapidamente que veio a alcanar o
primeiro lugar entre as naes europias. Servindo-se desse desenvolvimento e do fortalecimento da vida religiosa nacional, a Igreja Catlica
deu origem ao movimento conhecido como Galicanismo. O movimento, representava uma tentativa de conciliar a qualidade de bom catlico
com a de bom francs. Os galicanos eram devotos e profundamente ligados Igreja Catlica, mas acreditavam igualmente que o papa no tinha o
direito de interferir na poltica nacional da Frana. Nesta esfera s admitiam a autoridade do rei. Em oposio ao Galicanismo, levantou-se outro
partido chamado Ultramontanismo, que obedecia ao papa antes de
qualquer autoridade. Este partido era formado principalmente pelos jesutas, sempre fiis ao papa.
Durante a ltima parte do sculo XVII e durante todo sculo XVIII,
os jesutas sofreram forte oposio de grandes vultos da Igreja Catlica
na Frana. Estes homens opunham-se e protestavam com energia contra
as idias falsas e dolosas a respeito da moral de certos princpios, idias
realmente perigosas que os jesutas espalhavam atravs do confessionrio.
Ainda, se opunham aos jesutas por causa da obedincia cega e indiscutvel que prestavam ao papa, em detrimento dos interesses patriticos. Enquanto isto os jesutas foram perdendo mais e mais a sua popularidade.
Quando Portugal, em 1759, expulsou os jesutas, a opinio pblica
francesa exigiu que se fizesse o mesmo na Frana, o que aconteceu em
1764. Este foi o comeo do fim dos jesutas. Logo aps, a Espanha tambm os expulsava. Em todos os casos, a razo da expulso era a mesma:
os jesutas eram desleais e perigosos aos governos. Finalmente, o papa
Clemente XIV sob presso dos reis dos pases que haviam sofrido a influncia dos jesutas, dissolveu essa Ordem.
A) A perseguio aos Huguenotes: A era urea de Luiz XIV, teve
um lado negro nos terrveis sofrimentos infligidos aos protestantes franceses. Pelo Edito de Nantes, em 1598, os huguenotes alcanaram completa
liberdade de conscincia; liberdade para exercer o culto pblico em muitos lugares, plenos direitos civis e o governo de um grande nmero de cidades. Entre 1598 e 1659, no obstante o governo tirar dos huguenotes o
controle sobre as cidades, isto no perturbou-lhes a liberdade religiosa.
Semeador
87
88
Histria da Igreja
Em 1793, foi abolido o culto cristo, negando formalmente a existncia de Deus, e estabelecendo o culto da deusa Razo. Todavia, o povo
se ops a tudo isto. Em 1795, o culto cristo foi restabelecido pelo governo. Todas as agremiaes religiosas tiveram permisso de exercer formas
de culto. Este acordo foi quebrado por Napoleo que possua suas prprias idias acerca das relaes entre a Igreja e o Estado.
O Protestantismo na Alemanha
Nos anos seguintes Reforma, o protestantismo foi marcado, por
uma era triste de freqentes e inteis disputas teolgicas. Os luteranos e
os telogos reformadores, travava, discusses doutrinrias que alargavam
cada vez mais as brechas entre estes dois grupos do protestantismo.
Um dos resultados destas disputas teolgicas, foi a elaborao, pelos luteranos, em 1577, de um longo credo chamado A Frmula da Concrdia. Ela condenava o Calvinismo, especialmente a doutrina da predestinao, perpetuando assim a separao dos grupos luteranos e reformados. A Frmula da Concrdia veio a ser considerada pelos luteranos
uma expresso completa da verdade crist. Foi esta a razo porque os ministros luteranos dedicaram suas vidas exposio e defesa desse credo,
em vez de procurarem fortalecer a vida espiritual do povo, induzindo-o
ao servio cristo. As igrejas eram frias, cheias de formalidades e inativas.
A) O surgimento do Pietismo: Esse movimento surgiu em Frankfurt. Seu primeiro lder foi Filipe Jac Spener, que bem moo viu o grande declnio religioso pelo qual passava seu pas. Como pastor em Frankfurt no perodo de 1666 e 1686, Spener muito se esforou para que seu
povo alcanasse um Cristianismo ardente, sincero, e purificasse a sua vida em todos os aspectos. Ele reavivou a doutrina bsica da Reforma, o
sacerdcio universal dos crentes. O Pietismo inspirou em outras terras,
forte impulso pelo poder espiritual, o que produziu grandes resultados. A
Irmandade Morvia foi, em parte, um resultado desse movimento.
A Irmandade Morvia
O fundador Conde Nicolau Von Zinzendorf (1700 1760), nobre
austraco que foi profundamente influenciado pelo Pietismo. Quando tinha apenas vinte e um anos de idade, comprou um territrio na Saxnia,
Semeador
89
com o intuito de criar uma comunidade de pessoas verdadeiramente religiosas. Em pouco tempo foi essa regio habitada de um modo providencial.
Certos membros da irmandade da Bomia, corpo religioso resultante da obra
de Joo Huss, tendo sido perseguidos e expulsos dos seus lares na Morvia,
conseguiram permisso de Zinzendorf para se estabelecerem no territrio a
ele pertencente. Assim comeou a formao dessa comunidade que tomou o
nome de Hernhut, isto , Abrigo do Senhor. As atividades missionrias, que tornaram famosas os moravianos, comearam em 1731. Eles se espalharam na Europa, sia, frica, Amricas do Norte e do Sul. Em qualquer lugar onde se encontrassem, demonstravam a mesma coragem, consagrao e amor a todos os homens.
O protestantismo na Inglaterra
Neste poca havia uma crise entre o Parlamento e o Rei. O Parlamento, composto pelos principais telogos puritanos, convocou a Assemblia de
Westmister (1643-1649), para apresentar planos para uma reforma definitiva
da igreja nacional.
Ao mesmo tempo o parlamento, no propsito de alcanar o auxlio da
Esccia na guerra contra o rei Carlos, aceitou a Liga Solene e o Pacto.
Este era uma ampliao do primeiro Pacto Escocs, e obrigava os que o
aceitassem, a defender a Igreja escocesa como tinha sido estabelecida ao
tempo da Reforma, como tambm tornar em conformidade com elas as igrejas da Inglaterra e da Irlanda
A assemblia escreveu e submeteu apreciao do parlamento, uma
constituio completa para a Igreja da Inglaterra. Alm de um esquema para
o governo eclesistico, foi apresentada a Comisso de F, considerada como
credo para uso da Igreja, e dos catecismos, o Maior e o Menor. O projeto da assemblia para o governo da Igreja foi aprovado pelo parlamento,
que ratificou assim o sistema de governo presbiteriano. Mas ele nunca foi
aceito de modo geral. No foi fcil a aplicao dessa forma de governo
Igreja em razo da confuso reinante no pas, provocada pela guerra entre o
parlamento e o rei Carlos.
C) A comunidade dirige os negcios eclesisticos: Com a execuo do
rei em 1649, seguiu-se o estabelecimento do governo da comunidade, sendo
Olivrio Cromwell seu Senhor Protetor. No obstante as muitas incertezas
dominantes no perodo desse curto governo, havia certa liberdade religiosa.
90
Histria da Igreja
Semeador
91
manecesse como no tempo da Reforma, em vez de seguir o sistema introduzido pelos puritanos. Tiago II, sucessor de Carlos II, tentou transformar
a igreja nacional em Catlica Romana. O povo lutou com obstinada coragem, lanando mo de todos os recursos disponveis para que tal coisa no
acontecesse. Apelaram para Guilherme, Prncipe de Orange, e Chefe do
Estado da Holanda, para que viesse com um exrcito, defender a liberdade
da Inglaterra e do Puritanismo. O pas levantou-se para apoi-lo. O ru Tiago II fugiu para a Frana, enquanto Guilherme tornou-se soberano da Inglaterra.
Essa revoluo decidiu a favor da Inglaterra vrias questes de mais
alta importncia entre as quais destacaram-se as seguintes: 1) que o poder
pertencesse ao povo; 2) que a Inglaterra continuasse protestante; 3) que
houvesse liberdade de culto. Depois da revoluo, a vida religiosa da Inglaterra, entrou em declnio. A maioria do clero era constituda de homens
de pouco fervor. Os deveres dos bispos e dos ministros, foram em grande
parte negligenciados, em razo do mundanismo e egosmo em que viviam.
Muito pouco se fazia para suprir as necessidades religiosas do povo, razo
que levou muitos a perderem o contato com a Igreja e se desinteressarem
pelas suas atividades.
F) O Reavivamento por meio de Wesley: Em meio s incertezas
quanto ao futuro da Igreja na Inglaterra, Deus levantou Joo Wesley, atravs do qual haveria de sacudir aquela nao, e trazer ao mundo o impulso
religioso mais forte j ocorrido depois da Reforma.
Joo Wesley nasceu em 1703, seu pai era um dos ministros mais zelosos que havia na Inglaterra e sua me uma mulher de vida santa e de altas virtudes crists. J adulto, foi estudar em Oxford, onde se destacou como homem de letras. Entrou para o ministrio e serviu por alguns anos na
parquia do seu pai. Voltando depois a Oxford como professor de grego,
tornou-se lder de um grupo de estudantes que eram extraordinariamente
escrupulosos e metdicos em suas observncias religiosas e deveres escolares. Por isso foram conhecidos como Metodistas, ou do Clube Santo. Entre
eles estavam o irmo de Joo Wesley, Carlos, e um estudante pobre de
Gloucester chamado George Whitefield, que se tornaram em colaborados,
mais tarde em seu ministrio.
Se converteu em 1738, durante um movimento religioso em Londres.
Sobre essa experincia, ele mesmo confessou anos depois: Senti que con-
92
Histria da Igreja
Semeador
93
seus semelhantes. Essa poca surgiu o abenoado movimento de ensino bblico popular, denominado Escola Dominical. A primeira escola foi iniciada em 1780 por Robert Raikes, um jornalista cristo, culto e rico, de
Gloucester. A escola de Raikes era destinada a crianas pobres que cresciam na ignorncia, ministrando educao religiosa acompanhada de alfabetizao e tica em geral. Nessa poca, ilustres cristos destacaram-se como
lderes de movimentos de interesses nacionais, tais como: reformas penitencirias e contra o trabalho imposto aos menores.
H) Os movimentos missionrios: O maior de todos os resultados do
reavivamento por ao de Wesley, foi o moderno movimento missionrio.
Coube a Guilherme Carey, sapateiro e pregador leigo batista, iniciar o movimento missionrio. Ele impressionou seus ouvintes com a viso que tinha, de ver o mundo pago convertido a Cristo.
Em 1792, ele organizou a Sociedade Batista Para a Propaganda do
Evangelho Entre os Pagos. O primeiro missionrio por ela enviado foi o
prprio Carey, destinado a realizar um nobre trabalho na ndia. O exemplo
dos batistas foi logo imitado. A Sociedade Missionria de Londres foi
organizada em 1795, formada principalmente pelos Congregacionais, e a
Sociedade Eclesistica Missionria, em 1799, pelos Evanglicos da
Inglaterra. Os metodistas tambm organizaram seu trabalho missionrio.
Tal entusiasmo missionrio se espalhou pela Esccia, Amrica e pelo continente europeu.
O Protestantismo na Esccia e na Irlanda
A restaurao de Carlos II ao reino da Esccia, foi seguida de uma
reao semelhante que houve na Inglaterra. Em 1661, o Parlamento Escocs restabeleceu os bispos na Igreja da Esccia e declarou o rei como
chefe da Igreja. Removeu tambm das suas parquias muitos ministros que
foram substitudos por homens incompetentes. Contra tal atitude houve
protesto do povo, quem em grande parte abandonou as igrejas para ouvir
os ministros expulsos em suas prprias casas ou nas praas pblicas.
A) Os Pactuantes Perseguidos: Levantaram-se os Convenanters ou
Pactuantes poderosos grupos de pessoas que insistiam em permanecer fiis antiga forma presbiteriana e contrrio s interferncias do governo
nos negcios da igreja. Contra essas pessoas moveu-se atroz perseguio
cujo resultado foi torn-la mais firme. No tardou para que essa oposio
94
Histria da Igreja
ao governo se transformasse em rebelio armada, que terminou na batalha de Ponte Bothwell em 1679, onde os rebeldes foram derrotados. Depois disto alguns pactuantes prometeram ficar em paz. Outros, porm,
conhecidos como Cameronianos, com seu chefe Ricardo Cameron,
nem se submeteram, nem reconheceram o governo, que lhes exigia o que
eles prprios consideravam um erro. No oeste da Esccia esta gente foi
perseguida por toda a parte. Homens e mulheres preferiam abandonar suas profisses e lares, a violar suas convices quanto ao que julgavam ser
a vontade de Deus.
B) A Igreja Escocesa volta a ser Presbiteriana: O fim dessa perseguio veio com a ascenso ao poder, de Guilherme e Maria, em 1689. O
presbiteriano foi, ento, restaurado na Esccia para nunca mais ser perturbado. Alguns dos cameronianos no aprovam de todo esta restaurao, em virtude de no se fazer referncia especial ao Contrato ou Acordo, que para eles era de tanta importncia e estima. Da eles se recusaram a tomar parte na Igreja reorganizada da Esccia. Deles procedeu a
organizao que tomou o nome de Igreja Reformada Presbiteriana.
A Igreja Nacional que se tornara presbiteriana em 1689, alm de
ser a igreja oficial da Esccia, representava realmente as legtimas opinies e sentimentos religiosos do povo. A grande maioria era presbiteriana,
e quase todos, exceto uns poucos, estavam na igreja nacional. A unio
dos Parlamentos da Inglaterra e da Esccia em 1707, deixou este ltimo
pas sem outro parlamento ou qualquer instituio poltica que lhe fosse
prpria. A Igreja nacional tornou-se ento a grande organizao do povo
escocs.
A vida religiosa da Esccia durante o sculo XVIII foi assinalado
por indiferena generalizada e por uma inatividade semelhante que existia na Inglaterra antes do grande reavivamento. No havia interesse nem
entusiasmo no ministrio. O Reavivamento geral na Inglaterra no teve a
mesma correspondncia na Esccia, que esperou at o sculo XIX para
experimentar a influncia renovadora e vivificadora do Esprito Santo. O
entusiasmo pelo trabalho missionrio afetou ento a Esccia, e duas sociedades missionrias foram organizadas em 1796. Mas no mesmo ano, a
Assemblia Geral da Igreja Escocesa aprovou o indigno ponto de vista de
que espalhar o conhecimento do evangelho entre os brbaros das naes
absurdo e inominvel.
Semeador
95
C) O Presbiterianismo na Irlanda: Durante a primeira metade do sculo XVII, grandes extenses de terra no norte da Irlanda, foram tomadas
pelo governo ingls, em virtude dos seus proprietrios se terem rebelado.
O povo irlands que residia nessas regies ficou desabrigado e emigrou para o Sul. Suas propriedades foram ocupadas pelos novos colonos que o governo fez vir da Esccia e da Inglaterra. Mais tarde, durante os Tempos
de Trucidamento, outros povos escoceses fugiram para a Irlanda, foi assim que a provncia de Ulster veio a ser habitada principalmente por
gente escocesa, quase toda ela presbiteriana. Esta a origem do povo
escocs-irlands. Durante o sculo seguinte foram terrivelmente maltratados pelos proprietrios das terras. Foram tambm perseguidos pela igreja
oficial da Irlanda, que era episcopal, como a da Inglaterra. Por isto, entre
os anos 1713 e 1775, muitos milhares de escoceses-irlandeses emigraram
para a Amrica onde desempenharam notvel papel na formao do povo
americano.
A Igreja no Oriente da Europa
Em 1453, caiu sobre a Igreja do Oriente o maior infortnio da sua
histria: a tomada de Constantinopla pelos turcos. O Imprio do Oriente,
por tanto tempo campeo do Cristianismo, caiu. Tinha agora um sulto
sentado no trono do imperador. Santa Sofia, a magnfica catedral construda por Justino, no sculo VI, foi tornada uma mesquita mulumana, sinal
verde visvel da capitulao do Cristianismo sob as mos do Islamismo.
Os Cristos perderam todos os seus direitos ainda que pudessem conservar
o seu culto, tendo de viver em sujeio, sem nenhum amparo legal. Contudo a organizao da Igreja permaneceu inalterada. O patriarca de Constantinopla teve os seus poderes aumentados sobre os patriarcas de Antioquia,
Jerusalm e Alexandria, tornando-se o chefe de todos os cristos do imprio turco, exceto a Rssia. O patriarca era indicado pelo sulto e ficava inteiramente merc do seu poder.
Com a queda de Constantinopla, muitos gregos cultos fugiram para a
Europa ocidental e ali tomaram parte do renascimento cultural. A emigrao desses homens altamente instrudos enfraqueceu seriamente a vida intelectual da igreja oriental. O clero passou a ser composto por homens ignorantes, e, a pregao desapareceu dos plpitos. Assim a vitria turca foi,
em todos os sentidos, um golpe profundo e mortal contra a Igreja oriental.
96
Histria da Igreja
Semeador
97
implantao do cristianismo se deu por vrios motivos. Muitos colonizadores esperavam encontrar a rota martima ocidental para as riquezas da
sia, matrias-primas e mercados importantes para o comrcio lucrativo.
Outros vieram porque criam que as colnias poderiam absorver a populao excedente dos lugares de origem. E tambm a colonizao de pontos
estrategicamente necessrios a segurana de alguns pases. Ingleses, franceses, espanhis, suecos e holandeses mudaram-se para os Estados Unidos
e implantaram cada um a religio que praticavam na sua terra natal. O instrumento usado nesta mudana de pessoas foram principalmente as grandes
empresas contemporneas, que financiaram a vinda desses colonos.
A distncia da Europa, o imediato engajamento dos crentes e o conseqente controle leigo da igreja, os constantes avivamentos, a influncia
do interior e o relativo radicalismo religioso das seitas que vieram para os
Estados Unidos tornaram o cristianismo norte-americano tremendamente
criativo em suas atividades. O envolvimento da igreja institucional na satisfao de necessidades sociais, culturais e religiosas, o trabalho jovem, misses nacionais e o movimento ecumnico ilustram bem este aspecto criativo
do cristianismo nos EUA.
A) A implantao da Igreja Anglicana (1607): Em 1606, a Virgnia
Company (Inglaterra), recebeu permisso para explorar terras nos Estados
Unidos e em 1607 enviou colonos para Jamestown. Esta colnia de nobres
e trabalhadores foi organizada sob uma base comunal e a administrao era
feita atravs da Igreja Anglicana. A colnia s prosperou economicamente
quando a experincia comunal se encerrou em 1619, e as terras e o privilgio de eleger um governo representativo foram assegurados aos colonos
pela Companhia. Um nmero cada vez maior de anglicanos puritanos emigrou para a colnia.
B) A implantao do Congregacionalismo (1620): Nos primrdios
do sculo XVII, a congregao de Scrooby, que emigrara para a acolhedora cidade de Leyden, na Holanda, a fim de fugir perseguio por causa
de suas idias congregacionais, decidiu emigrar para os Estados Unidos,
temerosos de uma possvel integrao da sua juventude na populao holandesa. Uma companhia londrina de comerciantes emprestou o dinheiro
necessrio para desse empreendimento em troca de trabalho, com a abertura de uma indstria pesqueira. Em agosto de 1620, cerca de 100 colonos,
conhecidos como Peregrinos, saram da Inglaterra em direo aos Estados
98
Histria da Igreja
Unidos e se instalaram em Plymouth, Nova Inglaterra, EUA. Esses colonos eram congregacionais puritanos ou, talvez anglicanos com inclinao
para o congregacionalismo antes de deixarem a Inglaterra.
C) A implantao das Igrejas Batistas (1631): O comeo das Igrejas
batistas nos Estados est ligado tambm revoada dos puritanos. Roger Williams, educado para o ministrio anglicano em Cambridge, logo
adotou idias separatistas. Sua independncia intelectual levou-o a deixar
a Inglaterra hostil indo para Boston, em 1631.Da foi para Plymouth, por
entender que a Igreja em Boston no estava suficientemente purificada.
Quando a Igreja em Salm o convidou para pastore-la em 1634, a Corte
Geral, interveio e ordenou sua sada, porque ele defendi o direito do ndio propriedade da terra, opunha-se a igreja oficial e achava que os magistrados no deviam ter qualquer poder sobre a religio do homem. Em
1639, ele fundou uma igreja em Providence e todos os membros foram
rebatizados, inclusive Williams.
D) A implantao do Catolicismo Romano (1634): A Amrica Central e a do Sul receberam uma cultura catlica-romana autoritativa, latina
e homognea, da Espanha e Portugal; mas a Amrica do Norte, exceto
Quebec e Lousiana, recebeu uma cultura pluralista, anglo-saxnica e protestante, do norte e oeste europeus. Em 1556 os espanhis introduziram
na Flrida um catolicismo que no foi duradouro e mais tarde, no Novo
Mxico, Arizona e Califrnia. Os franceses introduziram-no em Quebec,
mas no fincou razes nas treze colnias antes de 1634, Maryland. A
maior parte dos irlandeses e alemes que vieram para os Estados Unidos
aps 1850 eram catlicos romanos.
E) A implantao dos Quacres Luteranos (1656): Os quacres surgiram em Boston em 1656. Em 1674, New Jersey foi dividida em duas,
uma oriental e outra ocidental at 1702. Mas foi a Pensylvania que se
constituiu no grande refgio quacre. O luteranismo norte-americano s
teve organizao definida em 1742. Entre eles tinham menonitas alemes,
moravianos, suecos, etc..
F) A implantao dos Presbiterianos (1683): Na primeira metade do
sculo XVII, os presbiterianos escoceses, forados por James I a desalojas os irlandeses, continuavam a emigrar para a Irlanda do Norte. Muitos
escoceses-irlandeses emigraram para as Colnias americanas, devido
discriminao econmica praticada contra a Irlanda pelas leis comerciais
Semeador
99
100
Histria da Igreja
Semeador
101
ganizadas sociedades bblicas. Depois dos ingleses, imigrantes da Alemanha e Sua comearam a vir para o pas. Os luteranos alemes chegaram
ao Rio Grande do Sul em 1823, como resultado de o governo brasileiro
buscar mo de obra para cultivo de suas terras.
A Igreja Luterana se estabeleceu no sul do pas, apesar de leis do Imprio daquela poca, que proibiam a construo de templos, permitindo apenas cultos nas casas. Porm os luteranos no vieram para evangelizar, e
sim para trabalhar; portanto no cresceram para incluir os brasileiros. A
igreja no cresceu por falta de apoio da Igreja da Alemanha.
A) Misses e Missionrios: Houve muitos pioneiros, que desbravaram o Brasil, evangelizando, traduzindo a Bblia, plantando igrejas, vendendo Bblias, libertando as pessoas, curando os doentes, enfrentando a Igreja Catlica, construindo escolas e universidades, defendendo a liberdade, fazendo discpulos. No teramos como mencionar todos, por isso destacamos alguns missionrios, que contriburam na implantao das principais denominaes protestantes no Brasil.
- Spaulding e Kidder: Em 1836, o Rev. Justin Spaulding, foi designado como o primeiro missionrio Metodista no Brasil. Um ano depois,
Daniel Kidder veio com sua esposa para vender Bblia. Ele tentou por a Bblia nas escolas pblicas e a idia at foi aceita por um tempo. Mas depois,
foi-lhe negada a permisso. Em 1841, Justin voltou para aos Estados Unidos, pois tinham esgotados os fundos missionrios. Aps anos difceis da
Guerra Civil americana, os metodistas do sul dos Estados Unidos, enviaram J. Newman, em 1874, para o Brasil. Em 1876, J. J. Ranson tambm
como missionrio foi enviado para o Brasil, permanecendo entre o Rio de
janeiro e So Paulo. Em 1930, a Igreja Metodista do Brasil foi organizada.
- Dr. Robert e Sarah Kalley: Em 1855, um mdico escocs, Dr.
Robert Kalley, chegou ao Rio de Janeiro e organizou o primeiro trabalho
evanglico que permanece at hoje. Kalley e sua esposa fundaram a Igreja
Congregacional do Rio de Janeiro e a Unio Evanglica da Amrica do Sul
(unio de trs misses estrangeiras).
- Ashbel Green Simonton: Nasceu nos EUA, fez seminrio em Princeton, depois se escreveu Junta de Misses se oferecendo para trabalhar
no Brasil. Chegou aqui em 1859. Fundou no Rio de Janeiro a Igreja Presbiteriana (1862), a primeira escola Dominical, um jornal, e um seminrio
para a formao de um ministrio nacional idneo, isto , pastores brasilei-
102
Histria da Igreja
Semeador
103
EXERCCIO
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
104
Histria da Igreja
BIBLIOGRAFIA
Dos primrdios atualidade. Raimundo Ferreira de Oliveira. CPAD.
Histria da Igreja. EETAD
O cristianismo atravs dos sculos. Earle E. Cairns. Vida Nova.
Histria do Cristianismo Dos Apstolos do Senhor Jesus ao Sculo XX. CPAD
At os Confins da Terra Uma Histria Biogrfica das Misses
Crists. Ruth A Tucker Vida Nova
Semeador
105
1
2
3
4
5
6
7
8
Programa Curricular
LIVRO 1
LIVRO 2
LIVRO 3
LIVRO 4
LIVRO 5
LIVRO 6
LIVRO 7
LIVRO 8
LIVRO 9
LIVRO 10
LIVRO 11
LIVRO 12
LIVRO 13
LIVRO 14
LIVRO 15
LIVRO 16
LIVRO 17
LIVRO 18
LIVRO 19
LIVRO 20
LIVRO 21
LIVRO 22
LIVRO 23
LIVRO 24
LIVRO 25
LIVRO 26
LIVRO 27
Doutrina da Salvao
Pentateuco
Louvor e Adorao
Os Evangelhos
Livro de Atos
Histria da Igreja
Famlia Crist
Epstolas aos Hebreus
Cura e Libertao
Aconselhamento Cristo
Orao Intercessria
Epstolas Paulinas 1
Epstolas Paulinas 2
Epstolas Paulinas 3
Homiltica
Esprito Santo
Cristologia
Princpios da Hermenutica
Escatologia Bblica
As Epstolas Gerais
Criao e o Mundo Espiritual
Histria de Israel
Seitas e Heresias
Profetas Maiores
Profetas Menores
Batalha Espiritual
Discipulado Prtico