Sala de Professor Como Tudo Começou

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COMO TUDO COMEOU

Professores das disciplinas de Matemtica, Histria e Filosofia


discutem e apresentam uma proposta de atividade
interdisciplinar sobre o documentrio Como Tudo Comeou,
que revela a complexidade dos nmeros primos e apresenta a
viso de matemticos que vm tentando decifrar quais so
esses nmeros e como se organizam.
CONSULTORES
Professor Eduardo Garcia Carvalho do Amaral - Filosofia
Professor Leo Akio Yokoyama - Matemtica
Professora Tnia Regina de Luca - Histria
TTULO DO PROJETO
A Histria e a Filosofia dos Nmeros Primos:
Como tudo pode comear

MATERIAL NECESSRIO PARA REALIZAO DA ATIVIDADE:


1.1. Aparelho de TV e de vdeo ou DVD
1.2. Cartolina, rgua, caneta
1.3. Caixas de fsforos

PRINCIPAIS CONCEITOS QUE SERO TRABALHADOS EM CADA


DISCIPLINA

FILOSOFIA

Mito e racionalidade (mythos e lgos);


Os Pr-socrticos e as noes de physis e arkh:
Pitgoras de Samos;
Demcrito de Abdera;

MATEMTICA

Nmeros Primos;
Determinao de um nmero primo;
Mnimo Mltiplo Comum (MMC);
Mximo Divisor Comum (MDV).

Mito e racionalidade na Grcia Antiga;


Pluralidade, alteridade, diversidade;
Historicidade;
Teoria da Histria.

HISTRIA

DESCRIO DA ATIVIDADE
Principais etapas e estratgias para trabalho interdisciplinar sugerido
Introduo: os tais nmeros primos...
Aos professores: Quem no da rea de Matemtica talvez pouco se recorde dos nmeros
primos. Foi uma lio aprendida nos primeiros anos de escola, correspondentes ao ensino
fundamental de hoje.
Muito possivelmente, naquela ocasio, pouco se falou do assunto, para alm da definio mais
escolar: so aqueles nmeros divisveis apenas por ele mesmo e por 1. Como hoje: depois da

lio aprendida, os alunos tambm deixam o assunto de lado, sem nunca mais precisar voltar a ele
ou, caso voltem, pouco avanaro para alm desta definio.
De um modo geral, nesta ignorncia que nos encontramos todos, sem sequer atinar porque
cham-los de nmeros primos. Ocorre, com efeito, que o ensino de matemtica pouco explora o
conceito por receio de que aparea demasiado abstrato para a compreenso dos alunos.
Mas o nosso estranhamento tem algo de positivo. Ao revisitar o assunto, professores de Filosofia
ou de Histria, como provvel que tenham se afastado bastante da discusso, poderemos at
nos surpreender com ela e pensar possveis conexes insuspeitadas com nossas disciplinas,
visando uma abordagem multidisciplinar dos nmeros primos, que tem incio com a disciplina de
Matemtica.
A. Matemtica: identificando os nmeros primos.
Antes da exibio do filme, sugerimos que o professor de Matemtica trabalhe com a
definio de nmeros primos, para que os alunos possam identific-los. Como determinar
se um nmero primo?
Para os primeiros nmeros primos, faa uma tbua conforme a figura abaixo.
10
10 10 20 30 40 50 60 70 80 90
0
9

18

27

36

45

54

63

72

81

90

16

24

32

40

48

56

64

72

80

14

21

28

35

42

49

56

63

70

12

18

24

30

36

42

48

54

60

10

15

20

25

30

35

40

45

50

12

16

20

24

28

32

36

40

12

15

18

21

24

27

30

10

12

14

16

18

20

10

10

Nesta tbua encontramos a velha tabuada, de 1 a 10, e entre eles constam os primeiros nmeros
primos {2, 3, 5 e 7}. Na ltima linha horizontal esto os nmeros de 1 a 10, bem como primeira
coluna vertical. Os nmeros em vermelho so os quadrados perfeitos. E os nmeros em azul so
os resultados da multiplicao do nmero da linha pelo nmero da coluna.
Pea para os alunos recortarem pedacinhos de papel ou pegarem tampinhas, ou seja, objetos que
caibam em cada quadrado. O objetivo da atividade formar retngulos com o preenchimento dos
objetos nas casas. Tome trs papis e coloque-os no canto esquerdo em baixo. Estes
preenchero trs casas (1,2,3) formando uma linha ou uma coluna apenas. Portanto ser um
nmero primo, pois a nica forma de escrever 3 (1x3) ou (3x1), isto , divisores so 1 e 3.

Por outro lado, tome seis pedacinhos de papel. Podemos preencher as casas para formar
retngulos nas seguintes formas: (1x6), (6x1), (2x3) ou (3x2), assim:
6 6
5

Portanto 6 no primo pois os divisores dele so, alm de 1 e 6, 2 e 3.


Com cinco ou sete pedacinhos de papel tambm no podemos formar retngulos, a no ser a linha
e a coluna com 5 e 7. Se tomarmos outro nmero primo, como 11, formaremos um retngulo com
dez pedacinhos [(1x10), (10x1), (2x5), (5x2)] e em todos os casos, sempre sobrar um papel, a no
ser a linha e a coluna 11. O mesmo ocorrer com 13, 17 ou 19... pois so nmeros primos.
Analogamente, poderamos pensar numa seguinte situao problema: existem x caixas em um
armazm, que precisam ser empilhadas, de modo a ocuparem menos espao e para ilustrar,
poderamos usar caixinhas de fsforos. A regra que, ao empilhar as caixas, haja sempre o
mesmo nmero de caixas em cada pilha. Em quantas filas poderamos empilhar as caixas?
Quando sobrar uma caixa que no encontra-se em nenhuma pilha, a quantidade de caixas
corresponde a um nmero primo.
Aps relembrar aos alunos a definio de nmero primo, eles poderiam dizer: E da? Entendemos
o que um nmero primo, mas o que que tem isso demais?. Eis a ocasio do professor de
Matemtica exibir o vdeo-documentrio A Histria dos nmeros primos: como tudo
comeou. O que que tem demais? o que veremos, na matemtica e tambm nas disciplinas
de Histria e Filosofia.
B. Histria: do mito razo na Grcia Antiga.
No segundo momento do trabalho, a disciplina de Histria que fornecer novos subsdios
para pensarmos na questo dos nmeros primos, aproveitando-se da imagem no
documentrio quando se reporta Grcia Antiga.
Foi na Grcia que, de modo mais preciso, se deu a transio de uma forma de pensamento mtico
(mito, mythos) para o pensamento racional (razo, lgos). Quando os gregos se detm sobre os
nmeros, eles inauguram a disciplina Matemtica propriamente dita. Expliquemos melhor: que o
nome da disciplina de origem grega: mthma, que quer dizer estudo, cincia, conhecimento,
derivado de manthn, aprender, estudar, conforme nos ensina o dicionrio Houaiss [v.
matemat(i)-].
A discusso sobre os nmeros se pe em novo lugar, que tem a ver com a nova viso de mundo
da qual os gregos sero protagonistas e ns os seus herdeiros, reconhecendo ali os traos que
ainda marcam nossa forma de pensar o mundo. Mais do que uma simples capacidade que os
humanos temos de calcular (uma tcnica), a Matemtica estar servio da compreenso da
natureza, como parte da natureza. Ela conhecimento. Neste sentido, aprender matemtica
mais do que saber calcular, fazer conta. So os gregos que elevam a Matemtica ao estatuto de
cincia. Matemtica, enquanto estudo, exerccio da razo e se a natureza racional, como os
gregos pela primeira vez postularam, porque tambm pensamos na natureza racionalmente.

Contudo, importante que o professor de Histria aproveite a oportunidade para discutir as


relaes entre cincia e mundo social, enfatizando que nem sempre as sociedades humanas
encararam ou analisaram a natureza da mesma forma. Assim, as explicaes sobre o mundo que
nos cerca no seguiram um padro nico e tampouco se pode valorar as solues encontradas.
Noutros termos, se na aventura grega do mito razo reside o antecedente da racionalidade
ocidental, isso no deve implicar o demrito de outras formas de ler o mundo. Deve-se perguntar
como e porque os gregos seguiram esse caminho e como e porque outros optaram por outros
atalhos. O tema permite que se trabalhe os conceitos de pluralidade, alteridade, diversidade a
partir de uma perspectiva normalmente pouco explorada nos materiais didticos da disciplina, que
reservam a algumas poucas pginas nos finais de captulos para a cultura e a cincia, como se
estas fossem meras derivaes de outras esferas. E importante explorar esta perspectiva de forma
densa antes de se realizar o trabalho mais especifico com os gregos, no que a Filosofia
desempenha papel essencial.
Ao mesmo tempo, h aqui a chance de discutir uma viso corrente que toma o uso da razo como
um processo sempre ascendente e sem volta. Ora o professor tem a excelente oportunidade de
introduzir um dos conceitos mais caros disciplina, o de historicidade, a partir da problematizao
da forma como a razo foi mobilizada ao longo do tempo, isso mesmo no Ocidente. Basta lembrar
a importncia do pensamento religioso na Idade Media e sua persistncia mesmo na Idade
Moderna. A crena em feiticeiras, demnios e sabs manteve acessa as fogueiras da Inquisio
por sculos a fio. E para os que desafiavam a leitura de mundo dominante, a forma de escapar da
condenao era negar suas idias (como Galileu Galilei) ou enfrentar as conseqncias da
condenao (o caso de Giordano Bruno).
C. Filosofia: a matemtica como fundamento da natureza.
Nas aulas de Filosofia, aproximaremos os alunos de duas concepes de mundo
formuladas na Grcia Antiga, a de Pitgoras e a de Demcrito. Ambas concepes lanam
questes para pensar a Matemtica e os nmeros primos.
Como se sabe, os primeiros filsofos (chamados de pr-socrticos) se ocupavam em investigar a
natureza (em grego, physis, de onde deriva a nossa Fsica!) e, diferentemente da tradio do mito,
buscaram explic-la de um modo bastante diverso. O primeiro passo ser estabelecer com os
alunos estas diferenas entre o pensamento mtico (mythos) e esta nova forma de explicao da
natureza, que parte do lgos, palavra grega que a um s tempo quer dizer palavra, discurso e
argumento e, por extenso, considerao, avaliao, reflexo e juzo (discernimento); medida,
clculo, relao, ordem e, por extenso, fundamento, razo-de-ser de algo.
Um bom caminho ser comparar a cosmogonia grega o mito, narrativa, do nascimento da ordem
do mundo com a cosmologia, tambm grega, formulada pelos primeiros filsofos. Note-se ainda
as palavras das quais lanamos mo: ambas so compostas do termo grego ksmos, ordem do
universo ou, simplesmente, mundo, universo. Cosmo-gonia a narrativa (em grego, mythos) da
origem da natureza, gnese concebida como fecundao, gerao, cpula entre seres
sobrenaturais que deram origem ao mundo. Cosmo-logia palavra composta tambm por lgos [logia]: um discurso argumentado sobre a ordem na natureza. De um modo mais geral, trata-se
do j tradicional tratamento escolar deste tema em Filosofia, a contraposio entre mito e razo ou
mito e cincia.
Antes de avanarmos, uma nota ainda sobre a transio do mythos ao lgos. Enquanto os mitos
so explicaes dispersas e incoerentes entre si sobre o nascimento do mundo, o lgos carrega
uma exigncia de coerncia interna do discurso: tudo um. Com esta afirmao (atribuda a
Tales de Mileto, o primeiro dos filsofos da physis) afirmamos que a natureza toda regida por um
e mesmo princpio no mais uma diversidade de explicaes, nem uma multiplicidade de

vontades divinas que operassem na natureza, como os mitos do a imaginar. A este um e mesmo
princpio, no apenas como um incio, origem, mas tambm como fundamento das coisas serem
o que elas so, o princpio que rege e ordena todas as coisas, que os gregos chamaram de
arkh.
O caso Pitgoras: Tudo nmero
Ao trabalhar com Pitgoras, vamos ao encontro da Matemtica, tal como os gregos a pensaram,
como um conhecimento da natureza. Os nmeros pitagricos no so quantificadores ou no
so apenas isso mas so constituintes da prpria natureza e da natureza das coisas. As coisas
so o que so porque so... nmeros! Os nmeros so elementos da natureza, tal como a gua, o
fogo, a terra e o ar, mas para Pitgoras, o nmero o principal, o princpio, a arkh.
A descoberta atribuda ao prprio Pitgoras da harmonia musical enquanto um lgos (uma relao,
razo, proporo) que se expressa matematicamente foi o que levou a esta concepo de que a
natureza tambm harmonia que se expressa matematicamente. [A este respeito,
recomendamos vivamente o vdeo Msica nas Esferas, da srie Arte e Matemtica, produzida
pela TV Escola e TV Cultura Fundao Padre Anchieta, 2005. Disponvel em 10/10/2008 em
http://video.google.com/videoplay?docid=4240845702675535511]
Ento, conhecer algo determinar a relao entre as coisas e seus nmeros. Embora estejamos
afastados mais de 25 sculos de Pitgoras, esta idia nos soar bastante familiar: Tudo
nmero pois entre as coisas h certas relaes, razes, propores que fundamentam o que
elas so e como elas so. Este fazer cincia lanando mo dos nmeros e da Matemtica uma
concepo fecunda para trabalharmos com os alunos. Mas, alm disso, tambm aos pitagricos
que se atribui a descoberta dos nmeros primos.
Como? Lembrando-se que os nmeros tal como hoje os representamos, os algarismos, uma
contribuio dos rabes, que chegou posteriormente ao ocidente [algarismo, aprendemos no
Houaiss, derivado do rabe, al-khuarizmi natural de Kharizm, alcunha de Abu Jafar Moahmed Ibn
Musa (sc. IX, matemtico rabe.)], os pitagricos representavam os nmeros em pontos em
determinada configurao geomtrica os nmeros figurados.
Uma das formas de representar os nmeros era distribuir pontos formando retngulos, por exemplo
os nmeros 6 e 8:

No entanto, h nmeros que s podem ser representados em uma linha, como 5 e 7:

Estes eram os nmeros chamados de primrios depois chamados de primos, em latim.


rigorosamente o mesmo que fizemos para identificar os nmeros primos, na aula de matemtica.
Os demais nmeros foram chamados de compostos sempre uma composio de nmeros
primrios, os nmeros primos.
H um bom resumo, tanto para o professor de Matemtica quanto para o professor de Filosofia,
das idias mais gerais dos pitagricos acerca da Matemtica, e algumas curiosidades, no seguinte
endereo na internet: http://www.ime.usp.br/~leo/imatica/historia/pitagoras.html. Vale a pena
conferir.
Antes de prosseguirmos com a Filosofia, retornemos Matemtica, para fazer com que os alunos
bem entendam como estes nmeros primrios compem todos os outros nmeros, os nmeros
compostos.
D. Desmistificando a Matemtica: os nmeros primos a partir da fatorao.
Quando fatoramos um nmero composto qualquer, descobrimos nele os nmeros primos que o
compe, como se eles fossem os tomos do nmero. disto o que se trata a fatorao.

Um timo exerccio a se propor supormos um novo sistema de numerao, em que s existam


os nmeros primos. A partir da multiplicao deles, poderemos representar qualquer grandeza que
pretendamos. Por exemplo, o nmero 4 seria representado por 2.2, e o 6, 2.3, que so os
nmeros primos que os compem. Estaramos no ano de ... 2.2.2.251!
A fatorao tambm nos serve para determinar o Maior Divisor Comum (MDC) e o Menor
Mltiplo Comum, como se segue.
Clculo do Maior Divisor Comum (MDC)
Escolha dois ou mais nmeros e fatore-os. O MDC ser o produto dos nmeros primos comuns
aos nmeros escolhidos.
Exemplo 1: Sejam 12 e 18.
12=2.2.3
18=2.3.3
MDC (12, 18) = 2.3 = 6
Pois 2.3 divide tanto 12 como 18 e o maior possvel.
Exemplo 2: Sejam 900, 210, 150
900 = 2.2.3.3.5.5
210 = 2.3.5.7
150 = 2.3.5.5
Portanto MDC(900, 210, 150) = 2.3.5 = 30
Clculo do Menor Mltiplo Comum (MMC)
Escolha dois ou mais nmeros e fatore-os. A partir dos fatores do maior dentre esses nmeros,
tome os fatores que faltam para, dentro deste, obter os outros nmeros em questo. O MMC ser o
produto dos nmeros primos do maior dos nmeros com os primos acrescentados.
Exemplo 1: Sejam 12 e 18
18 = 2.3.3
12=2.2.3
2.3.3 este nmero mltiplo de 18, mas no de 12, pois no tem dois 2.
2.2.3.3 este nmero mltiplo de 18 e de 12, pois contm os nmeros primos que formam o 12 e o
18.
MMC (18,12) = 2.2.3.3 = 36
Exemplo 2: Sejam 18 e 6
18 = 2.3.3
6 = 2.3
2.3.3 este nmero mltiplo de 18, mas tambm de 6, pois ele contm os primos que compem
o 6.
MMC (18,6) = 2.3.3 = 18
Exemplo 3: Sejam 30, 21 e 14
30 = 2.3.5
14 = 2.7
21 = 3.7
2.3.5 este nmero mltiplo de 30, mas no de 14 nem de 21
2.3.5.7 mltiplo de 30, de 14 e de 21
MMC (30,21,14) = 2.3.5.7 = 210

E. Filosofia: O caso Demcrito.


Esta concepo dos nmeros primrios, dos quais os outros nmeros derivam, nos remete a idia
de irredutibilidade. Os nmeros primos so irredutveis, elementares, indivisveis a no ser por
eles mesmos e por 1, como sabemos. Mas, seja como for, so os elementos de todos os outros, os
seus tomos, por assim dizer. tomo, do grego, o no-divisvel.
A idia foi formulada entre os gregos, por Leucipo e Demcrito (sc. V aC). Os tomos eram,
segundo esta idia, elementos da natureza, materiais, indestrutveis e minsculos, invisveis a olho
nu. As coisas todas se compem destes tomos que se encontram em uma variedade de formas
de slidos geomtricos, em nmero infinito. As coisas so o que elas so pelas relaes e
quantidades no exatamente dos nmeros, como queriam os pitagricos, mas dos tomos que
as compem.
Esta idia, ao menos na intuio que ela nos apresenta, de certo modo semelhante Cincia
Moderna. H, com efeito, diferenas entre o que a Qumica ou a Fsica de hoje pensa sobre a
matria e sobre o tomo (que divisvel, em prtons, nutrons e etc) com a filosofia da physis
antiga mas o princpio (a arkh, diriam os gregos) permanece fecunda para aprendermos o
sentido das cincias da natureza.
Poderamos afirmar que, para os chamados atomistas, conhecer algo saber quais so os
tomos que o compe, as partes elementares, os elementos primrios. Conhecer, pois, passa a
analisar decompor as coisas em seus elementos irredutveis.
F: Desmistificando a matemtica: de volta ao elementar.
Uma situao. D uma simples equao de 1 grau aos alunos:
2x + 8 = 10
Eles resolvem, em quatro passos:
(I) 2x = 10 8
(II) 2x = 2
(III) x =
(IV) x = 1
O exerccio contenta as exigncias escolares. Mas experimente perguntar-lhes o porqu. Por que
se subtrai 8 de 10, na primeira passagem? Por que 2 divide 2 na terceira? Talvez provvel
que eles se desconcertem ao tentar responder: Porque assim. Foi assim que aprendemos e foi
assim que nos ensinaram. Talvez no se recordem da explicao. Pouco importa aqui conjecturas
acerca da causa deste desconcerto. Mas se de fato eles no souberem como responder ao
porque, uma ocasio para voltarmos aos fundamentos, aos princpios.
Reparemos mais um pouco nesta situao. comum na escola que os professores narrem um
algoritmo, e os alunos assimilem a lio:
Dois x mais oito igual a dez. O oito passa para o outro lado subtraindo... Dois x
igual a dois. O dois passa para l dividindo...
Passa para o outro lado? Por que? pergunta o professor. A considerar as avaliaes de
desempenho escolar em matemtica, de onde poderemos supor uma grande quantidade de alunos
com dificuldades desde os fundamentos da matemtica, podemos levantar a hiptese de que os
alunos aprenderam o algoritmo mecanicamente, nem sempre assimilando os fundamentos, o que
elementar matemtica (e, por extenso, ao pensamento racional tal como se desenvolveu no
ocidente). Ao aprenderem assim, aprenderam uma tcnica para solucionar problemas escolares,
desde que reconheam a forma da equao de 1 grau.

Mas nesta tcnica, nesta mecnica, para eles reside tambm um mistrio como se os
nmeros passassem a ter vida prpria, seres que se movem de um lado para o outro, de c para
l: O oito que estava somando, vai pro outro lado subtraindo..., como um passe de mgica.
Ocorre assim uma mistificao da matemtica como disciplina temvel porque difcil, misteriosa.
Em uma palavra: a despeito de reconhecermos na Matemtica os princpios do pensamento
racional, a matemtica se reconverte no pensamento mtico. preciso desmistificar a matemtica,
apresentar seus princpios.
[2x + 8] = [10]
Nesta igualdade, podemos subtrair 8 dos dois lados da equao.
(I)
[2x + 8] 8
=
[10] 8
Por isto temos a impresso que o 8 passou para o outro lado e trocou de sinal. NO
EXISTE PASSAR PARA O OUTRO LADO!!!
(II)
[2x]
=
[2]
(III)

=
Nesta passagem podemos dividir por 2 os dois lados da igualdade.

(IV)

=
Tem-se a impresso que o 2 passou dividindo e desta vez no trocou de sinal...
x =
1

(V)

Voltar aos princpios, dizamos: no poderemos reconhecer princpios racionais em qualquer


algoritmo? A matemtica regida por princpios, que so constantes e os mesmos, para quaisquer
casos, quaisquer algoritmos que adotemos. Trata-se portanto de fazer uma anlise do algoritmo,
decomp-lo em suas partes elementares, para que se nos esclarea passo a passo a sua lgica,
vale dizer, o seu princpio.
G: Histria: voltando aos elementos primrios.
Se atentarmos para o procedimento de anlise que adotamos na Matemtica, como princpio
do pensamento racional anlise aqui tomada em sentido bastante estrito, de decompor
algo em seus elementos constituintes poderemos, de modo anlogo, usar da anlise para
compreender a Histria e os princpios que a regem.
Ento, o exerccio que propomos tentar estabelecer quais os princpios que regem a Histria.
Afinal, a Historia tem suas regras e no escrita ao sabor da vontade individual. H tanto os
rigores da investigao da veracidade das fontes datao dos documentos e dos vestgios
materiais como a crtica do seu contedo.
H alguns anos, surgiu a notcia do descobrimento de dirio de Hitler, que foi comprado, por
preos avultados, por uma revista alem. Ora, a anlise do material provou sua falsidade. Assim,
vestgios do passado so submetidos a controles e os profissionais da rea tm formas e mtodos
para determinar sua procedncia e autenticidade.
Por outro lado, a exemplo do que ocorre em outras reas, tambm o historiador realiza um trabalho
de anlise, que subdivide um acontecimento em seus mltiplos elementos constituintes. Tomemos,
por exemplo, uma revoluo, como a Francesa, um evento, como a Independncia do Brasil, ou
uma guerra, como a que ocorreu entre 1939 e 1945. No existe uma nica causa capaz de explicar
esses eventos, que so plurais e multifacetados.
Assim, com o objetivo de entend-los, o historiador questiona: Quais so seus elementos
primrios? Ou, noutros termos, quais os fatores econmicos, polticos, culturais, sociais que
contriburam para a sua ocorrncia? Qual o peso de cada um deles? Quais os personagens que

participaram? Enfim, pode-se propor um conjunto de questes que permitem compreender e


explicar as razes do seu acontecimento. Do ponto de vista lgico formal, o mtodo tambm o de
chegar aos elementos que permitam entender o todo, ainda que o modo de operao tenha as
especificidades que regem a construo do saber na disciplina.
Se tudo isto pode ser considerado como elementos que compem a Histria, perceba-se que, a
depender de qual consideremos entre eles o principal, muda a interpretao que podemos dar
Histria. justamente a que residem as diferentes interpretaes da histria, que se chama de
teoria da histria. Portanto, o discurso sobre o passado, longe de ser algo morto e acabado, est
em constante ebulio e sempre refeito a cada gerao, a partir dos desafios que a
contemporaneidade impe e das prprias mudanas conceituais que ocorrem no interior da
disciplina. Antes, no entanto, trata-se de aprender a reconhecer na historiografia (vale dizer, no
discurso argumentado [lgos] sobre a Histria) quais os elementos que compe a narrativa.

ETAPA INTERDISCIPLINAR
Projeto A histria e a filosofia dos nmeros primos: Como tudo pode comear

RESUMO DA ATIVIDADE
Uma passadinha rpida em todo o processo
A. Matemtica: identificando os nmeros primos.
Discusso e reviso de nmeros primos. Construo da tbua.
Assistir ao vdeo-documentrio.
B. Histria: do mito razo na Grcia Antiga.
Discusso sobre os fatores que levaram transio
do pensamento mtico ao pensamento racional.
C. Filosofia: a matemtica como fundamento da natureza.
Discusso dos conceitos de physis e arkh, tomando como ponto de partida os
filsofos pr-socrticos.
O caso Pitgoras: Tudo nmero: enfoque aos pitagricos.
D. Desmistificando a Matemtica: os nmeros primos a partir da fatorao.
Maior Divisor Comum e Menor Mltiplo Comum:
Rever os algoritmos tradicionais de MDC e MMC
Apresentar as formas alternativas do clculo do MDC e MMC
Comparar os dois mtodos.
E. Filosofia: O caso Demcrito.
Discusso dos conceito de tomo e comparao com as cincias da natureza,
em particular, a Qumica e a Fsica.
F: Desmistificando a matemtica: de volta ao elementar.
Reviso dos algoritmos em matemtica, procedendo a anlise de cada passagem.
G: Histria: voltando aos elementos primrios.
Discusso sobre a teoria da Histria, sobre os pressupostos metodolgicos;
Anlise dos fatores histricos e sua interpretao.

COMO VOCS AVALIARIAM ESSE TRABALHO?


Hora de avaliar a atividade
O trabalho oferece vrias oportunidades de avaliao: nas discusses iniciais, na pesquisa
especfica de cada disciplina, no trabalho realizado de forma conjunta. O professor tem diferentes
momentos e possibilidades de perceber o envolvimento e o interesse do aluno. Alm da expresso
oral, h etapas que requerem leitura, interpretao e sistematizao de dados.
Para o desenvolvimento das questes que so levantadas, sugerimos um bom planejamento
passo a passo do trabalho, pensando ainda em novas conexes possveis. As disciplinas de
Filosofia e Matemtica poderiam se encontrar para a proposio de um nico trabalho sobre os
pitagricos, por exemplo; ou Filosofia e Histria, sobre a transio do pensamento mtico ao
pensamento racional; ou Matemtica e Histria, sobre as mudanas de concepes matemticas.
Em Matemtica, especificamente, propomos alguns exerccios, como os que seguem:
1) Com a ajuda da tbua, encontrar formas alternativas para o clculo das tabuadas at 10.
Exemplo:
Para calcularmos 8x7 podemos proceder da seguinte forma:
Calcular
2x7=14
14+14 = 28 (4x7)
28+28 = 56 (2x(4x7))
2) Exerccios sobre nmeros primos, mltiplos e divisores.
3) Fatorar nmeros da forma no tradicional. Por exemplo:
Obtenha o nmero 36 como uma multiplicao de dois nmeros
4x9 ou 6x6 ou 2x18 ou 3x12
Agora obtenha 36 como uma multiplicao de 3 nmeros:
4x3x3 ou 2x3x6 ou 2x2x9 etc
Agora com 4 nmeros:
2x2x3x3 SOMENTE! O nmero est fatorado!
4) Criao de exerccios sobre MMC, MDC e primos.
5) Justificar pelo menos um dos mtodos para encontrar MDC e MMC.
6) Comparar os mtodos para o clculo do MDC e MMC.

EM QUAL ANO OU ANOS DO ENSINO MDIO SERIA MELHOR


APLICAR ESSE TRABALHO?
Hora de avaliar a aplicabilidade da atividade
O trabalho poderia ser desenvolvido j no primeiro ano do ensino mdio, dada a retomada de
noes matemticas j desenvolvidas no ensino fundamental e o carter introdutrio das
discusses sobre concepo de cincia e de histria. No entanto, para no perder o foco,
sugerimos um tempo no maior que de um ms de aulas, de carter propedutico (em que se
apresentam pressupostos de trabalho com as disciplinas, sobretudo a idia de anlise que
pretendemos aqui desenvolver).

SUGESTES DE LEITURAS
1.1.

Livros e peridicos:
1.1.1.Matemtica:
IFRAH, Georges. Os Nmeros: a Histria de uma grande inveno. Editora Globo. Neste
livro o professor encontra a histria dos nmeros primos.
1.1.2.Filosofia:
CHAU, Marilena. Introduo Histria da Filosofia: dos pr-socrticos a Aristteles. So
Paulo: Companhia das Letras, 2002. Recomendamos a leitura dos captulos
referentes aos pr-socrticos, em especial pp.45-9 (O vocabulrio da Filosofia
nascente) e pp.64-79 (A escola pitagrica ou itlica).
MACIEL JR., Auterives. Pr-socrticos: a inveno da Razo. So Paulo: Odysseus Editora,
2003 (da srie Imortais da Cincia, coordenada por Marcelo Gleiser). Uma tima
introduo geral filosofia pr-socrtica, em que tambm encontra-se um captulo
sobre os pitagricos e outro sobre os atomistas (Leucipo e Demcrito).
1.1.3.Histria:
VERNANT, Jean-Pierre. Mito e Pensamento Entre os Gregos: Estudos de Psicologia
Histrica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
_________. As Origens do Pensamento Grego. So Paulo: Difel, 2002 (12ed.).
Estas duas obras do helenista francs Jean-Pierre Vernant apresentam os movimentos
principais da formao da racionalidade na Grcia Antiga.
ECO, Umberto. Como se Faz uma Tese. So Paulo: Perspectiva, 2008 (21 ed.). Neste livro,
Eco nos oferece de modo didtico e geral os procedimentos metodolgicos para a
escrita acadmica.
1.2.
Pginas da Rede (internet) que podem ser consultadas pelos professores e estudantes para
complementar esse trabalho.
Imtica: a Matemtica Interativa na internet:
http://www.ime.usp.br/~leo/imatica/historia/pitagoras.html
Projeto Zk: Informtica educativa:
http://www.projetozk.ufjf.br/base_p/ensaios/ensaio3/ant_primos.htm
Em ambas pginas, encontramos muitas informaes relevantes e algumas atividades interessantes
envolvendo os nmeros primos.
1.3.
Quais as principais palavras-chave para busca de mais material na internet?
MATEMTICA: nmeros primos, histria dos nmeros primos, pitagricos
FILOSOFIA: pr-socrticos, Pitgoras, pitagricos, physis, arkh, tomo, Leucipo Demcrito,
cosmologia
HISTRIA: mito, racionalidade, historicidade, teria da historia
1.4.
Outros documentrios ou filmes sugeridos.
Arte e Matemtica, 7 episdio: Msica nas esferas. TV Escola e TV Cultura, 2005. Dir. Prof. Luiz
Barco.

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