Estudo Sow Wat
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Paulo Jos de Siqueira Tin Professor Doutor do Departamento de Msica do Instituto de Artes da
UNICAMP desde 2012. autor do livro Harmonia: Fundamentos de Arranjo e Improvisao
lanado pela editora Rond e apoio da FAPESP em 2011. Possui quatro CDs gravados como intrprete
e autor, sendo o ltimo de 2012 pelo selo Cooperativa de Msica intitulado Novos Quartetos e
Canes. E-mail: [email protected]
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TIN, Paulo J. S. So What de Miles Davis: uma proposta para anlise de improvisao idiomtica. Msica
Popular em Revista, Campinas, ano 2, v. 1, p. 61-73, jul.-dez. 2013.
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cromtica que pode se dar tanto em cima de uma escala (esc.) quanto em um arpejo
(arp.).
Nessa obra, o autor refere que o msico de jazz deve converter uma cifra
(smbolo de um acorde) em uma escala, e chama esse processo de Polimodalidade
Vertical. Quando isso acontece, o acorde se converte em sua escala-me, que se trata
da sua escala Ldio Cromtica (RUSSELL, 1959, p. 10). Em oposio a esse
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Os conceitos de in going e out going parecem corresponder aos contemporneos de inside e outside.
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Podem-se encontrar tais formulaes em diversos mtodos de improvisao e em obras como Jazz
Theory Book de Levine (1995).
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//: Dm7 (8 compassos) / Dm7 (8 c.) // Ebm7 (8 c.) // Dm7 (8 c.) ://
Quadro 1
So What Improviso
Alm do lbum, a improvisao de Miles Davis nesse tema tambm se
tornou antolgica. O mesmo vale para as demais improvisaes dos outros msicos
integrantes do lbum: John Coltrane, Bill Evans, Cannobal Adderley e Wynton Kelly.
Os primeiros oito compassos mostram uma ampliao gradativa do
material em cada frase: a partir do salto de oitava passando pelo 2 modo da escala
pentatnica anhemitnica (que no tem semitom) de R e culminando na utilizao
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Discusses
O que est no tempo e dessa maneira determinado
pelo tempo chama-se temporal. (...) O temporal
significa o transitrio, o que passa no decurso
temporal. (...) ...temporal aquilo que passa com o
tempo pois o tempo mesmo passa. Mas, enquanto o
tempo constantemente passa, permanece como
tempo. (HEIDEGGER)
Esse arpejo parece apontar para um procedimento tonal dentro do jazz modal, na medida em que se
trata de um acorde de funo dominante. Ou seja, parece que prticas anteriores ao jazz modal
continuam a ser exercidas de modo a se alcanar um resultado hbrido, mesmo porque o improvisador
em questo j tinha dedicado boa parte de sua carreira s prticas tonais do be bop.
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Concluindo, o que salta vista (ou aos ouvidos) a busca de Miles, nesse
improviso, pelas extenses dos acordes, como aponta o uso dos arpejos das TCS e
acordes sobrepostos na medida em que, em ltima anlise, eles terminam por
enfatiz-las. Entretanto, tal nfase no um procedimento que necessariamente
modaliza o improviso. Como colocado anteriormente, o que parece garantir o
modalismo vigente principalmente a harmonia esttica. Por outro lado, a
sobrevivncia de frases com traos tonais e o uso de algumas sensveis, que podem
ser interpretadas como aproximaes cromticas, apontam para o fato de que no h
uma necessidade imperativa de se abandonar as prticas musicais de estilos
anteriores ao abordado. Nesse sentido, o improviso de Miles parece se diferenciar,
pois acredito que tais resqucios tonais esto ainda mais presentes nos solos de J.
Coltrane e Cannonball Adderley durante o mesmo lbum.
Como visto, vrios aspectos foram excludos nessa anlise em favor da
anlise do material. Alguns deles podem ser ressaltados como, por exemplo, o da
economia de notas nas frases de Miles que poderia ser colocado aqui atravs do
parmetro analtico da densidade rtmica das frases , uma vez que, diferentemente
das improvisaes de J. Coltrane nesse mesmo lbum, que faz frases de alta
densidade, Miles opta por frases curtas, com notas longas e sem vibrato, aspecto
tambm associado ao mencionado estilo que o autor forjou. Obviamente, esses
fatores no concorrem sozinhos, mas simultaneamente com o mencionado uso das
extenses dos acordes e sobreposio de arpejos apontados pela anlise.
Outro aspecto excludo por essa abordagem o da interao entre os
msicos, o que se nota, por exemplo, no uso das dinmicas, ou em perguntas e
respostas musicais que ocorrem entre acompanhantes e solista.
Duas principais questes surgem nessa abordagem: a primeira delas a
questo da adequabilidade de tais ferramentas redutivas. Entretanto, aqui, parte
dessa ferramenta se coloca dentro da perspectiva de uma improvisao, quer dizer,
dentro de uma atividade musical que se encontra diametralmente oposta ao nvel da
construo elaborada, para a qual foi proposta inicialmente. A efemeridade da
improvisao, por outro lado, pode levar o ouvinte e, principalmente, o ouvinte
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