LIVRO EQUIT V5Fcorrigido

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 164

MTODO

DE EQUITAO

FRANOIS BAUCHER

MTODO
DE EQUITAO
BASEADO EM NOVOS PRINCPIOS
POR

F. BAUCHER
REVISTA E AUMENTADA
COM RETRATO DO AUTOR E 16 GRAVURAS

Traduo para portugus por Dr. Alexandre Pestana

NOTA INTRODUTORIA

Esta traduo tem com o objectivo ajudar os cavaleiros portugueses que se


interessem pelas tcnicas Baucheristas do ensino de cavalos. Dada a
dificuldade de traduo de certos termos equestres franceses, a maioria dos
quais decorrentes da tradio italiana, optmos por dar deles uma explicao, a
melhor que pudemos, que apresentamos abaixo e conserv-los na traduo sem
alterao. Pelos erros, imprecises e ms interpretaes que eventualmente
tenham surgido, apesar de todos os esforos envidados para permanecermos
fiis ao espirito do texto original, pedimos, desde j, desculpa e agradecemos
toda a ajuda que nos permita futuramente apresentar uma melhor traduo.

cuyer cavaleiro versado nas tcnicas equestres do ensino.


Mise en main colocao da cabea do cavalo na vertical com flexibilizao da
maxila originando a ligeireza.
Ramener colocao da cabea perto da vertical necessria obteno do
mise en main.
Rassembler entrada dos posteriores em consequncia da transparncia de
peso para a retaguarda e do Ramener.
Passage trote em suspenso elevada, lento e com pouca progresso.
Piaffer trote em suspenso elevada; lento e sem progresso.
Doubler tomar a linha do meio, podendo ento executar-se, ou no,
contrapassagens de mo. Pode servir para mudar de direco (mudana de
mo).

-1-

PREFCIO
O homem recebeu do Criador uma inteligncia superior dos animais, no
para os sujeitar aos seus caprichos e infligir-lhes maus tratamentos, mas sim
para receber todos os servios que tem o direito de receber. O cavalo, esse
nobre animal, talvez quele de quem o homem mais tem abusado, e os meios
de que se utiliza para o submeter acusam tanto a ignorncia como a brutalidade.
Desde a minha juventude eu amava o cavalo e chocado com a impreciso dos
princpios enunciados por todos os autores que escreveram sobre equitao, eu
procurava abrir uma via nova e segura a todos queles que se ocupam da
educao do cavalo. Em 1830 publiquei o Dicionrio racional da equitao. O
favor do pblico recompensou-me das minhas laboriosas pesquisas e encorajoume a perseverar nos meus esforos. Alguns anos mais tarde apareceu o meu
novo Mtodo que desencadeou no mundo equestre, de uma parte um grande
entusiasmo, da parte de alguns uma crtica apaixonada, demasiado apaixonada
para ser imparcial. Treze edies se sucederam em vinte e cinco anos, as
minhas obras foram traduzidas em vrias lnguas, e em todo o lado os
apreciadores e os oficiais inteligentes adotaram os meus princpios. J disse
quais as causas que impediram o meu mtodo de ser introduzido na cavalaria
francesa apesar da opinio quase unanime dos senhores oficiais consultados.
Que a minha caneta se cale sobre esse triste passado!
O meu Mtodo permitia dar a todos os cavalos o equilbrio do segundo tipo, e
os vinte e seis cavalos que eu montei em pblico so disso a prova
incontestvel. Com as minhas ltimas inovaes eu dou, no smente, uma
maior facilidade para obter em todos os cavalos esse equilbrio do segundo tipo,
mas ainda os meios infalveis de obter de todos os cavalos uma ligeireza
constante, sinal de um equilbrio perfeito. esse equilbrio que eu chamo
equilbrio do primeiro tipo. O primeiro equilbrio, basta para todas as
necessidades da cavalaria e da equitao vulgar. O equilbrio perfeito ou
equilbrio do primeiro tipo, s poder ser dado ao cavalo pela elite dos
cavaleiros. Isso ser a equitao transcendente. Na poesia, nas artes, nas
cincias, no permitido a todos ir a Corinto!

-2-

ULTIMAS INOVAES
Dedicando-me h quarenta anos arte de ensinar cavalos, sempre
compreendi que o nico problema a resolver pelo cavaleiro era o de aperfeioar
o equilbrio natural do cavalo, e a procura de toda a minha vida, no teve outro
fim se no tornar mais fcil a soluo do problema. Cada uma das treze edies
do mtodo contm um novo progresso que simplifica o trabalho do cavaleiro.
Substitui todos os aparelhos de tortura usados anteriormente, primeiro, pelo freio
que tem o meu nome, depois troquei-o por um freio mais doce, ainda, com as
caimbas mais curtas e sem barbela; enfim, hoje em dia, sirvo-me de um simples
brido. No se v crer que este brido, novo pela sua aptido, possua uma
virtude mgica que dispensa o estudo da cincia; isso seria um erro grave! Este
novo brido demonstra o aperfeioamento do meu Mtodo, a eficcia dos meios
que ele prescreve, pois que com este simples ferro eu posso domar o cavalo
mais fogoso e submet-lo minha vontade. Por simples que sejam os meios que
eu indico, eles podem ser bem compreendidos nos seus pormenores e no seu
conjunto por um cavaleiro hbil.
Eu direi ento aos jovens cavaleiros: dirigi-vos a um professor imbudo de
todos os meus princpios e familiarizado com a prtica do meu mtodo, s ele
poder tornar-vos fcil e seguro o caminho a percorrer, indicando-vos as suas
subtilezas, os seus mltiplos efeitos de mos e pernas e o indizvel, de que o
sentimento se apercebe, que o olho do professor capta, mas que o autor no
pode descrever. Adquiri assim a cincia, aprendei a servir-vos de este novo
brido, e obtereis resultados inesperados; uma vez o cavalo ensinado, podereis,
se isso vos agradar, empregar em passeio o freio da vossa preferncia.

-3DO CAVALO EM LIBERDADE

No h ningum que no tenha visto um cavalo correndo em liberdade no


prado. Que elasticidade, que ligeireza em todos os seus movimentos! Agarre-se
esse cavalo meta-se-lhe uma sela, uma cabeada e procure-se restringi-lo
nossa vontade, que metamorfose! Esse cavalo, que em liberdade, planara por
cima do solo arrasta-se penosamente e pra-se entre as vossas pernas.
Porqu? O cavalo livre, dono absoluto das suas foras, distribui o seu peso
como ele entende, para executar esses movimentos to graciosos que ns
admiramos. Assim que montado pelo homem, ele sente-se incomodado,
diminudo na sua liberdade; ele forado a abdicar da sua vontade e no
ainda capaz de compreender a do cavaleiro. Existe, ento, entre estas duas
vontades um estado transitrio de incertezas que explica as resistncias da
parte do cavalo que degeneram em defesas sob o seu cavaleiro inexperiente.
Como destruir essas resistncias prenunciadoras da defesa, se o cavaleiro
ignora que a causa de todas as resistncias reside no mau equilbrio do cavalo,
devido ao desacordo que existe entre antemo e postmo1? As transferncias
de peso no so fceis sem que o cavalo permanea direito, isto : que as
pernas e as mos estejam na mesma linha. Com o cavalo assim disposto, a
fora motriz pode agir com igualdade e simultaneidade de contraco e
distenso. O efeito ser transmitido do postmo ao antemo sem decomposio
da fora e o cavalo tomar facilmente a posio til ao movimento pedido.
Suponham pelo contrrio, o cavalo tendo a garupa fora da linha das espduas,
cessa imediatamente a devida repartio do peso, porque uma dada parte est
demasiado sobrecarregada e a outra demasiado aligeirada; as contraces
musculares deixam de ser apropriadas, a mquina entra em desacordo, e,
mnima mudana de direco, a garupa vai fazer de arcobotante s espduas, e
o cavalo resiste. Se o cavaleiro no se apressa a destruir a causa das suas
resistncias metendo o cavalo direito nunca chegar ligeireza perfeita e
constante.
N.T. (1) Antemo a parte do corpo do cavalo que est para a frente do garrota, sendo o
postmo o que est para trs.

-4DA SENSIBILIDADE

A rotina tradicional quer que todo o cavaleiro que monta no picadeiro siga uma
pista perto do muro. Eu prefiro v-lo traar uma pista a um metro de distncia do
muro, a fim de me assegurar se ele sabe manter o seu cavalo direito, sem a
ajuda de uma pauta. Desta maneira o cavaleiro adquirir, para alm da noo
das linhas, o preciso acordo que lhe permitir discernir mais facilmente a
natureza das contraces boas, se tm como consequncia a ligeireza e -ms
se as resistncias do cavalo aumentam em lugar de diminurem. quele que no
tem a sensibilidade de distinguir as contraces incapaz de analisar a posio
do cavalo, quero dizer, de sentir se a distribuio do seu peso conveniente, se
a fora est em harmonia com o movimento a executar. Ele no pode, portanto,
nem preparar a posio (1) nem corrigi-la, nem, por consequncia, atingir o fim
que se props, melhorar o equilbrio natural do cavalo, tornando-o ligeiro em
todos os seus movimentos. A sensibilidade desenvolve-se pelo exerccio; o
essencial seguir a progresso que eu indico e de se compenetrar da verdade
do princpio de que uma s palavra exprime as consequncias: Equilbrio ou
ligeireza.
DA BOCA DO CAVALO
A linguagem foi dada ao homem para dissimular o pensamento, disse-o o
prncipe de Talleyrand. Mais leal do que o homem, o cavalo no pode dissimular
as suas impresses. Se est contente com o seu cavaleiro, testemunha-lhe a
sua satisfao pela mobilidade elstica da sua maxila. Surpreendido por alguma
falta, uma omisso (o melhor cavaleiro pode enganar-se) e o amigo fiel parece
entristecer-se; perde a ligeireza, o seu bom humor; se o cavaleiro compreende
este aviso dado

(1) Compreende-se por posio a disposio do peso e da fora do cavalo em relao com
cada movimento que ele deve executar.

-5em voz baixa, se ele emenda o seu erro, o cavalo apressa-se a retomar a sua
alegria, e, pela mobilidade da maxila, agradece ao seu dono ter escutado a
humilde advertncia do seu servidor. Mas se o erro se agrava, se a vaidade e a
ignorncia desdenham escutar os avisos discretos que lhe so dirigidos, ento o
cavalo retira a sua confiana a esse mestre por quem no compreendido; ele
cessa toda a troca de pensamentos e protesta pelo mutismo contra a ignorncia
do seu cavaleiro. Pode obrigar-se um escravo a andar, no se pode obriga-lo a
manifestar satisfao. Disse que todas as resistncias do cavalo proveem do
mau equilbrio. De quem a culpa? Do cavaleiro! Sempre do cavaleiro!
O PROFESSOR
Quanto mais se simplificam as frmulas da cincia, mais importante se torna o
papel do professor instrudo, encarregado de transmitir fielmente o pensamento
do autor, de fazer aplicar e de demonstrar a verdade dos seus princpios. Escrevi
que preciso manter o cavalo direito, e disse por que razo; mas quem
indicar ao aluno que o seu cavalo est ou no direito? Eu falo dos efeitos de
mo, de pernas e das esporas empregues tanto separadamente, como
simultaneamente. Quem dir ao cavaleiro que se tenha enganado no emprego
das suas ajudas qual a causa do seu erro? Quem o ajudar a repar-lo e a
prevenir assim as consequncias graves que dai resultariam? Eu digo que
necessrio destruir todas as causas das resistncias do cavalo; mas quem
indicar ao aluno os meios apropriados, oportunos que ele dever usar, o grau
de fora de que ele deve servir-se? Quem desenvolver o sentimento do aluno
com conselhos dados a propsito? O professor. Mas falo do professor educado
na minha escola, imbudo dos meus aperfeioamentos, porque s ele poder
transmiti-los fielmente e dar os meios de os aplicar sempre de uma maneira
correcta, exacta. Eu dou os princpios, eles so verdadeiros; eu indico os meios,
eles so exactos; eu dou a conhecer a progresso dos exerccios, eles so
essencialmente abreviadores. Mas, querer escrever a aplicao, seria cair no
erro dos que me antecederam, confundindo duas coisas bem distintas, a cincia
e a arte. Se o autor o pensamento que concebe, a cincia que formula, o
professor hbil ser a palavra que transmite, o olho que observa, a mo que faz
agir.

-6-

RESUMO
DOS RELATORIOS OFICIAIS
EM FAVOR DO MTODO.

Nas dez primeiras edies do meu Mtodo, publiquei na ntegra, os diversos


relatrios oficiais dos Srs. Oficiais de cavalaria que se ocuparam com o meu
sistema sob o ponto de vista militar. Julguei necessrio dar apenas, nesta
edio, um resumo sucinto de todas essas peas, a fim de poder publicar as
minhas novas ideias sem alterar o formato do livro.
Os meus leitores aceitaro de bom grado sem dvida, que eu substitua, assim,
esses relatrios elogiosos que me foram preciosos aquando da apario da
minha obra, tanto pela qualificao e talento dos seus redatores como pela
imparcialidade que os ditou.
Eu aproveito esta ocasio para exprimir aos Srs. Oficiais do exrcito, o meu
reconhecimento pela sua justa apreciao do meu Mtodo e o zelo que
dedicaram ao seu estudo. Considerar-me-ei sempre muito honrado pela sua alta
aprovao.
Unicamente o interesse do pblico me levou a retirar do meu livro os seus
notveis escritos.
Peo aos leitores que quiserem ler esses relatrios na ntegra, que se
reportem s edies anteriores.
Silenciarei algumas cartas que precederam a misso que me foi confiada de
fazer estudar o meu sistema nos corpos de tropas a cavalo.

-7-

Relatrio do Sr. M. de Novital, chefe de esquadres, comandante da escola de


Saumur.
Anlise dos exerccios dirios.- Progressos constatados, dia a dia; at
perfeita educao obtida em treze dias para quarenta cavalos.
O Sr. de Novital continua:
Os adversrios do Sr. Baucher querem atribuir-lhe o ferrete da imitao dos
Pignatel, Pluvinel, Newcastle, etc.; mas esses clebres escudeiros, pregando
embora a flexibilizao, o equilbrio, ensinavam uma teoria to lucida, to justa,
to racionalizada como a do Sr. Baucher? No.
O mtodo do Sr. Baucher deve fazer escola porque ele apoia-se em princpios
verdadeiros, fixos, racionais, motivados. Tudo nele matemtico e pode
traduzir-se por nmeros.
A ele portanto pertence a nova poca que comea; a ele a glria de ter metido
o cavalo na completa dependncia do cavaleiro paralisando toda a resistncia,
toda a vontade, e substituindo as foras instintivas pelas foras transmitidas.
A opinio dos Srs. capites instrutores do 5 de couraceiros e 3 de lanceiros
encontra-se includa no que acabo de expressar
Paris, 4 de Abril 1842

Relatrio para o general Oudinot, pelo Sr. Carrelet, coronel da guarda municipal
de Paris.
.. Digo-vos que oficiais e suboficiais so unanimes em aprovar os processos
do Sr. Baucher, aplicados ao ensino dos cavalos jovens. Em quinze dias o Sr.
Baucher obtm resultados melhores que os obtidos em seis meses pelos antigos
processos. Eu estou de tal modo convencido da eficcia dos meios professados
pelo Sr. Baucher, que vou submeter a esses processos todos os cavalos dos
meus cinco esquadres.
Paris, 6 de Abril 1842

-8-

Relatrio do general marqus Oudinot ao Ministro de guerra.


Constataco dos felizes resultados obtidos pelo mtodo. Os princpios do Sr.
Baucher so um grande e incontestvel progresso. Conclui que os corpos de
tropas mandem instrutores iniciar-se no mtodo.
6 de Abril 1842.

Relatrio do chefe de esquadro Grenier, encarregado do comando dos oficiais


enviados a Paris para estudar o mtodo.
Vinte e dois oficiais receberam lies de Sr. Baucher em pessoa.- Aprovao
total dos princpios e das suas demonstraes prtica e oral. sobre tudo pela
escola de cavalaria que o mtodo deve ser conhecido.
Versailles, 24 de Julho 1842.

Relatrio pedido pelo coronel presidente da comisso encarregada de estudar o


ensino dos cavalos jovens segundo o mtodo Baucher, e redigido pelo Sr.
Desondes , tenente do 9 couraceiros.
Este relatrio segue dia a dia a educao de um designado cavalo.

Constatao dos progressos simultneos do cavaleiro e do cavalo.


O Mtodo, pela excelncia desses princpios, remedeia a m conformao do
cavalo. Recomenda-se para diminuir as propores excessivas das perdas de
cavalos.
Enfim, diz o Sr. Desondes, a mais feliz das inovaes deve trazer uma
revoluo na cavalaria.
15 de Julho 1842.

-9-

Relatrio do comandante da Escola Real de cavalaria de Saumur.


..Em resumo digo que o novo mtodo deve ser um grande bem, um
melhoramento incontestvel para a cavalaria.
Fao portanto votos para a sua adoo no exrcito.
Saumur, 6 de Agosto 1842

Relatrio sobre a demonstrao do novo mtodo feito no campo de Lunville,


pelo Sr. Baucher filho.
..A solicitude esclarecida do Sr. Ministro da guerra para o exrcito uma
garantia segura de que este mtodo encontrar nele um poderoso protector, e
que todas as tropas a cavalo podero bem depressa aproveitar as importantes
vantagens que a sua aplicao traz.
Os membros da Comisso:

Capites de JUNIAC, de CHOISEUL, GROSJEAN;


tenente coronel HERMET, general GUSLER.

Alm destes relatrios tive a adeso da maioria dos oficiais de cavalaria.


Oitenta e trs coronis ou capites em cento e dois, aprovam o meu sistema.

-10-

I
NOVOS MEIOS DE OBTER UMA BOA POSIO DO
CAVALEIRO. (1)
Achar-se- sem dvida extraordinrio que, nas primeiras edies, rapidamente
esgotadas, desta obra que tem por objectivo a educao do cavalo, eu no
tenha comeado por falar da posio do cavaleiro. Com efeito, essa parte to
importante da equitao foi sempre a base dos escritos clssicos.
No sem motivos, entretanto, que eu adiei at ao presente tratar esta
questo. Se eu no tivesse nada de novo a dizer, teria podido, tal como usual,
consultar os velhos autores, e, com ajuda de algumas transposies de frases,
de algumas mudanas de palavras, lanar no mundo equestre mais uma
inutilidade. Mas eu tinha outras ideias; eu queria um refazer completo. Sendo o
meu sistema para chegar a dar uma boa posio ao cavaleiro, tambm uma
inovaco, eu temi que tantas coisas novas ao mesmo tempo assustassem os
apreciadores, mesmo os melhores intencionados, e que dessem motivos aos
meus adversrios. No faltaria quem proclamasse que os meus meios de aco
sobre o cavalo eram impraticveis, ou que eles no poderiam ser aplicados sem
utilizar uma posio mais impraticvel ainda. Ora, eu provei o contrrio; com o
meu sistema, os cavalos foram ensinados pela tropa, fosse qual fosse a posio
dos homens a cavalo. Para dar mais fora a este mtodo, para o tornar de mais
fcil compreenso, tive que o isolar de todos os outros acessrios, e guardar
silncio acerca dos novos princpios que dizem respeito posio do cavaleiro.
Reservei-me a no os publicar antes do xito incontestvel dos exames oficiais.
Usando estes princpios acrescentados aos que publiquei sobre a arte de
ensinar os cavalos, eu reduzo tambm o trabalho do cavaleiro, estabeleci um
sistema preciso e completo acerca destas duas partes importantes, mas at
agora confusas, da equitao. Seguindo as minhas novas indicaes,
relativamente posio do homem a cavalo, chegar-se- rapidamente a um
resultado assegurado; elas so to
(1) Estes preceitos dirigem-se mais especialmente aos cavaleiros militares; mas, com
algumas ligeiras modificaes fceis de adaptar, eles podem aplicar-se equitao civil.

-11fceis de compreender como de demonstrar: duas frases chegam para tudo


explicar ao cavaleiro. da maior importncia, para a inteligncia e para os
progressos do aluno, que o instrutor seja breve, claro e persuasivo; este deve
portanto evitar fatigar os seus novos recrutas com desenvolvimentos tericos
demasiado longos. Algumas palavras ditas a propsito favorecero e dirigiro
muito mais depressa a compreenso. A observao silenciosa frequentemente
uma das caractersticas que distinguem o bom professor. Assim que foi
assegurado que o princpio enunciado foi bem compreendido, preciso deixar o
aluno estudioso desenvolver o seu prprio mecanismo; assim smente que ele
chegar a descobrir os efeitos do tacto, que s se obtm pela prtica. Tudo o
que respeita ao sentimento adquire-se, mas no se explica.

Posio do cavaleiro
O cavaleiro dar toda a extenso possvel ao busto, de maneira que cada
parte repouse sobre a que lhe inferiormente aderente, a fim de aumentar o
apoio das ndegas sobre a sela; os braos cairo sem fora sobre os lados; as
coxas e os joelhos devero encontrar, com a sua face interna, tantos pontos de
contacto com a sela quanto possvel, os ps acompanham naturalmente o
movimento das pernas.
Compreende-se nestas poucas linhas quanto simples a posio do cavaleiro.
Os meios que eu apresento para obter, em pouco tempo, uma boa posio
acabam com todas as dificuldades que o caminho traado pelos nossos
antecessores apresentar. O aluno no compreendia praticamente nada do
longo catecismo recitado em alta voz pelo instrutor, desde a primeira frase at
ltima; em consequncia ele no o podia executar. Aqui com algumas palavras
que traduziremos todas essas frases, e essas palavras so compreensveis para
o cavaleiro que segue a minha tcnica de adaptao. Esse trabalho torn-lo-
hbil e, por conseguinte inteligente; no se ter passado um ms sem que o
recruta mais pesado e mais desajeitado no esteja em estado de estar bem
colocado.

-12-

Lio preparatria
(A lio ser de uma hora; haver duas lies por dia durante um ms.)

O cavalo trazido ao terreno, aparelhado e com cabeada; o instrutor ter


pelo menos dois alunos; um agarra o cavalo pela cabeada, observando o
trabalho do outro, a fim de o executar por seu turno. O aluno aproxima-se da
espdua do cavalo e dispe-se a montar; para esse efeito, ele agarra e separa
com a mo direita um punhado de crinas que passa para a mo esquerda; o
mais prximo possvel das suas razes, sem que fiquem retorcidas; ele agarra o
cepinho com a mo direita com quatro dedos para dentro e o polegar para fora;
depois, aps ter dobrado ligeiramente os joelhos, eleva-se com os punhos. Uma
vez a cintura altura do garrote, passa a perna direita sobre a garupa sem lhe
tocar e mete-se na sela suavemente. Este movimento de volteio sendo de uma
grande utilidade para a agilidade do cavaleiro, faz-se repeti-lo oito ou dez vezes,
antes de o deixar sentar na sela. A repetio deste trabalho dar-lhe-
rapidamente a noo de como usar a fora dos seus braos e dos seus rins.

Trabalho em sela
Este trabalho deve fazer-se parado; escolhe-se de preferncia um cavalo velho e frio. (D-se um
n s rdeas e deixam-se cair sobre o pescoo.)

Uma vez o aluno a cavalo, o instrutor examina a sua posio natural, a fim de
exercitar mais frequentemente partes que tenham tendncia para se esmagarem
ou para se contrarem. pelo busto que o instrutor comea a lio. As flexes
dos rins que levam a cintura para diante serviro para endireitar o busto;
mantem-se durante algum tempo nesta posio o cavaleiro cujo rins so
flcidos, sem prestar ateno rigidez que ela causar nas primeiras vezes.
pela fora que o aluno ganhar a ligao, e no pelo abandono tanto e to
inutilmente recomendado. Um movimento obtido de incio com grande esforo
no necessitar dele ao fim de algum tempo, porque haver destreza, e porque,
nesse caso, a destreza no mais que o resultado das foras combinadas e
usadas a propsito. O que se faz ao princpio com dez quilos de fora reduzido
em seguida a sete, a cinco e a dois.

-13A destreza ser a fora reduzida a dois quilos. Se se comeasse com uma fora
menor, no se chegaria a este resultado.
Repetir-se-o portanto muitas vezes as flexes de rins deixando de vez em
quando o aluno descontrair-se completamente, a fim de lhe fazer apanhar bem o
emprego da fora que lhe dar prontamente uma boa posio do busto. Estando
o corpo bem colocado, o instrutor passar 1 lio do brao, que consiste em
mov-lo em todos os sentidos, primeiro dobrado e depois estendido; 2 lio
da cabea; esta dever voltar para a direita e para a esquerda sem que esses
movimentos interfiram com os ombros. Assim que a lio do busto, dos braos e
da cabea d um resultado satisfatrio, o que deve acontecer ao fim de quatro
dias (oito lies), passa-se das pernas.
O aluno afastar, tanto quanto possvel, das abas da sela, uma das coxas;
em seguida volta a aproxim-la com um movimento de rotao de fora para
dentro, a fim de a tornar aderente sela pelo mximo de pontos de contacto
possvel. O instrutor no deixar que a coxa caia pesadamente; ela deve
retomar a sua posio com um movimento lentamente progressivo e sem
saces. Ele dever, at, durante a primeira lio, agarrar a perna do aluno e
dirigi-la para lhe fazer compreender bem a maneira de realizar esta deslocao.
Ele evitar assim a fadiga e obter alm disso resultados mais rpidos. Este
gnero de exerccios necessita de frequentes descansos; haveria inconveniente
em prolongar a durao do trabalho para l das foras do aluno. Os movimentos
de aduo (que tornam a coxa aderente sela) e os de abduo (que a afastam)
ao tornarem-se mais fceis, as coxas tero adquirido uma ligao que lhes
permitir fixarem-se sela numa boa posio. Passaremos agora flexo das
pernas.

Flexo das pernas


O instrutor estar atento a que os joelhos conservem sempre a aderncia
perfeita com a sela. As pernas mobilizam-se como um pendulo de um relgio,
isto o aluno sobe-as at tocar com os calcanhares no aro da sela. Estas
flexes repetidas tornaro as pernas rapidamente flexveis, adaptveis, e o seu
movimento independente do das coxas. Continua-se com as flexes de pernas e

-14coxas durante quatro dias (oito lies). Para tornar cada um destes movimentos
mais correcto e mais fcil consagraram-se-lhes oito dias (ou catorze lies).
Os catorze dias (trinta lies) que restam para completar o ms continuaro a
ser empregados no trabalho de flexibilizao parado; no entanto para que o
aluno aprenda a combinar a fora dos seus braos e a dos seus rins, faz-se-lhe
agarrar progressivamente pesos de 2 a 5 quilos de braos estendidos. Comease este exerccio pela posio menos fatigante, o brao dobrado, a mo ao p
do ombro e leva-se essa flexo maior extenso do brao. O busto no deve
ressentir-se deste trabalho e manter-se- na mesma posio.

Dos joelhos
A fora de presso dos joelhos avalia-se e obtm-se at, recorrendo
maneira de fazer que vou indicar. Essa maneira que parecer de incio talvez
ftil, trar no entanto grandes resultados.
O instrutor mune-se de um pedao de coiro com cinco milmetros de
espessura e cinquenta centmetros de comprimento; colocar uma das
extremidades desse coiro entre o joelho e a sela. O aluno empregar a fora dos
seus joelhos para no o deixar deslisar, enquanto o instrutor o puxar
lentamente e progressivamente do seu lado. Este processo servir de
dinammetro para avaliar os progressos da fora. Algumas palavras
encorajantes ditas a propsito estimularo o amor-prprio de cada aluno.
Dar-se- a maior ateno a que cada fora que age separadamente no meta as
outras em jogo, quer isto dizer que o movimento dos braos no influa jamais
sobre os ombros; da mesma forma para as coxas, em relao ao tronco, para as
pernas em relao s coxas, etc., etc. A movimentao e flexibilizao de cada
parte isolada, uma vez obtidas, desloca-se momentaneamente o alto do corpo, a
fim de ensinar o cavaleiro a recolocar-se em sela. Eis como proceder: o instrutor
colocado de lado empurrar o aluno pela anca, de maneira que o seu assento
seja levado para fora da sela. Antes de operar um novo deslocamento o instrutor
deixar o aluno repor-se na sela, tendo o cuidado de verificar que, para voltar a
sentar-se, ele use apenas as ancas e os joelhos, a fim de se servir apenas das
partes mais prximas do assento.

-15Com efeito, a ajuda dos ombros influiria depressa sobre a mo, e esta sobre o
cavalo; a ajuda das pernas poderia ter ainda mais graves inconvenientes. Numa
palavra, em todas as deslocaes, ensina-se o aluno a no utilizar, para
controlar, as foras que o mantm a cavalo; a no empregar para a se manter
seno as que controlam.
Com a ajuda desta ginstica equestre correctamente combinada, chega-se ao
fim de um ms, a fazer executar facilmente a todos os recrutas os exerccios que
pareciam os mais contrrios sua organizao fsica. Tendo o aluno
ultrapassado as provas preliminares, aguardar com impacincia os primeiros
movimentos do cavalo para-se lhes entregar com o -vontade de um cavaleiro j
experimentado.
Quinze dias (trinta lies) sero consagrados ao passo, ao trote e mesmo ao
galope. Aqui o aluno deve unicamente procurar acompanhar os movimentos do
cavalo; consequentemente o instrutor leva-o a ocupar-se apenas da sua posio
e no dos meios de dirigir o cavalo. Exige-se apenas que o cavaleiro siga
primeiro a direito, depois em todos os sentidos, com uma rdea de brido em
cada mo. Ao fim de quatro dias (oito lies), pode-se fazer-lhe tomar as rdeas
na mo esquerda.
Cuidamos que a mo direita, que est livre, fique ao lado da esquerda, para
que o cavaleiro ganhe desde logo o hbito de se colocar direito (os ombros na
mesma linha); o cavalo trotar igualmente para a direita e para a esquerda. Logo
que a colocao em sela esteja bem consolidada em todos os andamentos, o
instrutor explicar de uma maneira simples as relaes que existem entre os
punhos e as pernas, assim como os seus efeitos separados (1).

(1) Ver os princpios para a educao do cavalo.

-16-

Educao do cavalo
Aqui o cavaleiro comear a educao do cavalo, seguindo a progresso que
indiquei e que se encontrar frente. Far-se- compreender ao aluno tudo o que
ela tem de racional, e por qual ligao ntima se encadeiam, mas suas relaes,
a educao do homem e a do cavalo. Ao fim de quatro meses apenas, o
cavaleiro poder passar escola de peloto; as ordens sero apenas uma
questo de memria; basta ouvi-las para as executar, porque ele ser senhor do
seu cavalo. Eu espero que a cavalaria compreenda (como ela j compreendeu o
meu modo de educao do cavalo) toda a vantagem dos meios que indico para
tirar o maior partido possvel do pouco tempo que cada soldado est nas fileiras.
Tenho igualmente a convico que o emprego destes meios tornar pronta e
perfeita a educao dos homens e dos cavalos.

RESUMO E PROGRESSO
Dias

Lies

1 Flexo dos rins para ajudar a flexo do busto... 4

2 Rotao, extenso das coxas e flexo das pernas..4

3 Exerccio geral e sucessivo de todas as partes....8

14

4 Deslocamento do tronco, exerccio dos joelhos e dos


braos com pesos nas mos.. 14

28

5 Posio do cavaleiro sobre o cavalo ao passo, ao trote


e ao galope para aperfeioar e fixar a colocao nestes
diversos andamentos............15

30

6 Educao do cavalo pelo cavaleiro...50

100

TOTAL

95

188

-17-

II
O EQUILBRIO DO CAVALO.
A harmonia do peso e das foras do cavalo d o equilbrio.
O equilbrio da massa produz a harmonia dos movimentos.
BAUCHER.

Todo o ser organizado, para conservar a liberdade e a segurana dos seus


movimentos, obrigado a observar a lei do equilbrio. O cavalo montado mais do
que qualquer outro animal, est submetido a esta lei, porque no s deve
calcular os seus movimentos em relao sua prpria massa, mas o peso
adicional do seu cavaleiro tende a alterar constantemente o seu equilbrio
natural.
A importncia maior de equilibrar o cavalo tem sido vivamente sentida pelo
mundo equestre: assim todo o ecuyer faz ponto de honra e quer encontrar o
segredo deste n grdio.
No nosso sculo XIX aonde todas as coisas devem ser tratadas
cientificamente natural que se tenha pedido cincia o segredo do equilbrio.
A cincia respondeu com um problema: - Para equilibrar o vosso cavalo,
procurem o seu centro de gravidade.
Esta resposta no deixou de provocar um nobre ardor. Todos meteram mos
obra. Procura-se o centro de gravidade por toda a parte, sempremas no se
encontra. Contradies sem nmero surgem todos os dias, as discusses
atiam-se, os tratados de equitao descambam em panfletos, as descobertas
continuam nulas e o centro de gravidade continua a passear-se no domnio de
que o fizeram senhor e mestre. Uma to importante personagem no devia
entretanto ser impossvel de encontrar tendo em conta os limites restritos que o
encerram. Quantos cavaleiros empregaram a sua perseverana nesta v
procura! Mas tambm quem no teria querido conhecer a soluo de um
problema que, de uma assentada, resolvia as dificuldades da equitao
revelando o equilbrio do cavalo?

-18 A cincia tinha falado; como toda a gente, acreditei no seu orculo.
Eis-me portanto entregue durante anos inteiros a procuras dirias.
Resultados nulos! Os da vspera eram contestados pelos do outro dia.
Era pois necessrio, entretanto, dado que o centro de gravidade se divertia a
viajar incgnito, deixar o cavalo e o seu cavaleiro expostos aos perigos que a
falta de equilbrio acarreta!
Para me ajudar nas minhas pesquisas, dirigi-me aos ecuyers autores Eles
exibiram uma grande erudio e explicaram-me o deslocamento do centro de
gravidade, quando, por exemplo, um membro se desloca para diante, seguido do
membro diagonalmente oposto; ou tambm quando se obtm o rassembler, ou
quando o cavalo se empina, escoucinha, etc.
Ele est ali, dizia um; no, eu vejo-o deste lado dizia outro; e estas vs
discusses continuam ainda porque no se quer remontar s causas iniciais, e
que os efeitos absorvem a ateno geral.
Estuda-se a maneira de ser do centro de gravidade. Porqu? Ignoro-o. Em
boa prtica, no temos ns o peso do cavalo a repartir e a sua fora a
coordenar? No temos ns que combinar as foras opostas do cavaleiro (mo e
pernas)? Se ns nos apercebemos dos efeitos destes diversos agentes, e se
deles tiramos o partido conveniente, atingiremos o equilbrio, sem termos que
nos preocupar com o centro de gravidade.
Senhores tericos, preparem os vossos antemas! Eu vou meter uma mo
profana sobre o deus dos vossos sonhos e partir o vosso dolo, depois de ter,
verdade, na minha ignorncia, queimado no seu altar um intil incenso.
O vosso centro de gravidade, no d, no traz, nem produz nada.
Ele existe incontestavelmente, mas no estado de passividade.
Vs quereis erigi-lo em causa, ele apenas efeito.

-19Qualquer que seja a vossa opinio a seu respeito, ele funcionar sempre na
mesma ordem: bem, se o vosso movimento correcto; mal, se o vosso
movimento irregular.
Porque ento, a propsito da equitao, ter sempre na boca palavras
cientficas, sonoras verdade, mas vazias de sentido e prprias, apenas e s,
para retardar os progressos da arte, pela obscuridade que elas lanam sobre as
teorias?
Portanto, senhores, abandonem simplesmente o centro de gravidade s
influncias que o governam, e acabem com as discusses que ele provoca h
demasiado tempo. Em vez de montar uma nuvem para cavalgar procura de
uma ideia to impossvel de achar como intil, montem um cavalo verdadeiro, e
provavelmente aprovaro os princpios que eu vou aplicar para obter e manter o
equilbrio do cavalo.

-20-

III
DO EMPREGO RACIONAL DAS FORAS DO CAVALO.
O cavalo, como todos os seres organizados, dotado de um peso e de uma
fora caractersticas. O peso, inerente matria constitutiva do animal, torna a
sua massa inerte e tende a fixa-la ao solo. A fora, ao contrrio, pela faculdade
que ela lhe d de mobilizar esse peso, de o transferir de uma para outra das
suas partes, comunica o movimento, determina-lhe a velocidade, a direco e
estabelece o equilbrio.
Para tornar esta verdade palpvel, suponhamos um cavalo em repouso. O seu
corpo estar em perfeito equilbrio se cada um dos seus membros suportar
exactamente a parte do peso que lhe devida nesta posio. Se ele quer sair ao
passo, dever primeiramente transferir, para os membros que se mantiverem
fixos ao solo, o peso que suportava o primeiro a mover-se. E ser tambm assim
para os outros andamentos, sendo a transferncia, ao trote, de uma diagonal
para a outra; ao galope da frente para trs, e reciprocamente. preciso nunca
confundir se se trata de peso ou de fora. O peso passivo, a fora
determinante activa. pondo peso nestas ou naquelas extremidades que a
fora as mobiliza ou as fixa. A lentido ou a velocidade das transferncias
determina os diferentes andamentos, que so, eles mesmos, correctos ou no,
iguais ou desiguais, conforme essas transferncias se executem correctamente
ou irregularmente. Compreende-se que essa fora motriz se subdivide at ao
infinito, visto que ela se reparte por todos os msculos do animal. Quando este
ltimo determina ele prprio o seu emprego, eu chamo-lhes instintivas; chamolhes transmitidas (1) quando o cavaleiro coordena o emprego.
(1)

Vrios panfletrios muito eruditos e profundos anatomistas discutiram muito sobre esta
expresso: foras transmitidas, no tendo, diziam eles divertidamente, encontrado nada
de semelhante nos cavalos que eles tinham esfolado na escola de Alfort. Concordar-se sem dvida comigo que esta palhaada uma grande tirada.
Falando seriamente, eu declaro que empregando a expresso transmitidos no
pretendo criar foras em principio, mas smente de facto. Consigo dirigir e utilizar foras
que, devido a contraces e resistncias, permaneciam completamente inertes, e que
era portanto como se no existissem. No isso, afinal, uma espcie de transmisso?

-21No primeiro caso, o homem, dominado pelo seu cavalo, o joguete dos seus
caprichos; no segundo, pelo contrrio, torna-o num instrumento dcil, submetido
a todos os impulsos da sua vontade. O cavalo assim que montado, no deve
agir seno pelas foras transmitidas ou harmonizadas. A aplicao constante
deste princpio constitui a verdadeira maestria do ecuyer.
Mas um tal resultado no pode obter-se instantaneamente. O cavalo jovem,
habituado a controlar, ele mesmo, na sua liberdade, o emprego das suas
energias, submeter-se- de incio com dificuldade influncia alheia que venha
interferir sem inteligncia. Necessariamente inicia-se uma luta entre cavalo e
cavaleiro; e este ser vencido se no possuir a perseverana e sobretudo os
conhecimentos necessrios para atingir os seus objectivos. Sendo as foras do
animal o elemento sobre o qual o ecuyer deve agir principalmente, para as
dominar primeiro e dirigir depois, sobre elas antes de mais que lhe importa
fixar a sua ateno. Ele procurar as partes que mais se contraem para resistir e
as causas fsicas que podem ocasionar essas contraces. Desde que ele saiba
com o que conta sobre essa questo, empregar com o seu aluno apenas os
procedimentos relacionados com a natureza deste ltimo e os progressos sero
ento rpidos. Infelizmente, procura-se em vo nos autores antigos e modernos
que escreveram sobre equitao, j no digo princpios racionais, mas mesmo
quaisquer dados que digam respeito ao emprego racional das foras do cavalo.
Todos falaram muito de resistncias, de oposies de equilbrio, mas nenhum
soube dizer-nos o que causa essas resistncias, como se pode combat-las,
destru-las, e obter essa ligeireza, esse equilbrio, que recomendam to
ardentemente. essa grave lacuna que lanou sobre os comeos da equitao
tantas dvidas e obscuridade; foi ela que fez estacionar esta arte tanto tempo;
esta grave lacuna, enfim, que creio ter colmatado.
E comeo por estabelecer o princpio que todas as resistncias dos jovens
cavalos provm, em primeiro lugar, de uma causa fsica, e que esta causa s se
torna moral pela inabilidade, a ignorncia ou a brutalidade do cavaleiro. Com
efeito, para alm da rigidez natural, comum a todos esses cavalos, cada um
deles tem uma conformao particular cuja maior ou menor perfeio d o grau
de harmonia existente entre o peso e as foras.

-22A falta desta harmonia ocasiona a imperfeio dos andamentos, a dificuldade


dos movimentos, em suma, todos os obstculos que se opem a uma boa
educao. Em liberdade qualquer que seja a m estrutura do cavalo, o instinto
bastar-lhe- para dispor das suas foras de maneira a manter o seu equilbrio;
mas h movimentos que lhe so impossveis, at que um trabalho preparatrio o
tenha posto de modo a complementar os defeitos da sua m estrutura para um
emprego melhor combinado da sua fora motriz (1). O cavalo s executa um
movimento com ligeireza a partir de uma dada posio; se houver foras que se
oponham a essa posio, preciso ento comear por anul-las para as
substituir s por aquelas que a podero determinar.

(1) Eu exorto muito os interessados em seguir os meus preceitos em tudo o que


eles tm de natural e de metdico, a tomarem muita ateno a no os
misturarem com prticas que lhes so alheias e contrrias. No nmero das
grotescas invenes, est o jquei ingls ou homem de madeira, ao qual
importantes autores atriburam propriedades que a s equitao reprova; com
efeito, a fora permanente do brido na boca do cavalo um tormento e no
uma indicao; ela ensina-o a refluir sobre ele prprio acuando-se, para evitar a
sujeio. Por meio desta fora brutal, ele descobrir rapidamente a maneira de
se subtrair aos efeitos da mo do cavaleiro.
a cavalo, e por justas e progressivas oposies de mo e pernas, que se
obtero resultados rpidos e infalveis, resultados que sero todos a favor do
mecanismo e da inteligncia do cavaleiro. Se o cavalo apresentasse algumas
dificuldades perigosas, um segundo cavaleiro, com a ajuda do cabeo,
produziria uma aco sobre o moral do cavalo suficiente para dar tempo ao que
o monta de agir fisicamente, a fim de dispor da massa em ordem ao movimento
que se quer exigir. Mas, notrio, preciso uma inteligncia para falar
inteligivelmente ao cavalo, e no uma mquina funcionando brutalmente.

-23Ora, pergunto eu, se, antes de ter ultrapassado estes primeiros obstculos, o
cavaleiro vem acrescentar o peso do seu prprio corpo e as suas exigncias
desastradas, o animal no ter uma dificuldade ainda maior em executar certos
movimentos? Os esforos que se faro para a isso o obrigar, sendo contrrios
sua natureza, no se devero quebrar contra esse obstculo inultrapassvel?
Ele resistir naturalmente, e com to maior vantagem, quanto a m distribuio
do seu peso e das suas foras chegar para anular a aco do cavaleiro. A
resistncia imana portanto aqui duma causa fsica; esta causa torna-se moral
desde o instante em que, mantendo-se a luta com os mesmos processos, o
cavalo comea ele prprio a combinar os meios de se subtrair ao suplcio que
lhe imposto, quando se quer assim forar os meios que no se flexibilizaram
primeiramente.
A chegados, as coisas s podem piorar. O cavaleiro, cedo desgostado com a
impotncia dos seus esforos, atribuir ao cavalo a responsabilidade da sua
prpria ignorncia; ele difamar com o nome de pileca um cavalo que possua
talvez brilhantes recursos, e do qual, com mais discernimento e cincia, ele teria
podido fazer uma montada cujo carcter seria to dcil e submisso como seriam
graciosos e agradveis os seus andamentos. Eu tenho notado frequentemente
que os cavalos reputados indomveis so queles que desenvolvem mais
energia e vigor, quando se soube remediar as deficincias fsicas que
paralisavam o seu desenvolvimento. Quanto aos que, apesar da sua m
conformao, se acabam por submeter a uma espcie de obedincia, preciso
agradecer smente suavidade da sua natureza; se eles querem restringir-se
apenas a exerccios dos mais simples, e com a condio de no exigir muito
mais, porque eles encontrariam bem depressa a energia prpria para resistir a
pretenses mais elevadas. O cavaleiro poder portanto faz-los andar nos
diferentes andamentos; mas que descosido, que rigidez, que desgracioso nos
seus movimentos, e a que ridculo, tais corcis, metem o desgraado que eles
sacodem e arrastam assim sua vontade, sem se deixarem conduzir por ele!
Este estado de coisas perfeitamente natural, uma vez que no se destruram
as causas primeiras que o produzem: a m repartio do peso e das foras e a
rigidez que ela origina em seguida.

-24Mas, ir-me-o objectar, visto que reconhece que essas dificuldades tm a ver
com a conformao do cavalo, como possvel remedi-las?
No tem com certeza a pretenso de mudar a estrutura do animal e corrigir a
natureza? No, sem dvida; mas concordando totalmente ser impossvel dar
mais amplitude a um peito estreito, de alongar um pescoo demasiado curto,
abaixar uma garupa elevada, encurtar e alargar rins longos, fracos e estreitos,
no deixo, no entanto, de continuar a sustentar que se eu destruo as diversas
contraces ocasionados por esses defeitos fsicos, se flexibilizo os msculos,
se me torno senhor das foras ao ponto de poder dispor delas minha vontade,
ser-me- fcil prevenir as resistncias, dar mais elasticidade s partes fracas,
moderar as que so demasiado vigorosas, e compensar assim os maus efeitos
de uma natureza imperfeita, estabelecendo, no equilbrio do cavalo, uma
correcta repartio do peso e das foras.
Tais resultados, no temo diz-lo, foram e continuam a ser interditos em
definitivo s antigas escolas. Mas se a cincia dos que persistem nos velhos
erros vem sempre mostrar a sua impotncia com um grande nmero de cavalos
defeituosos, encontram-se cavalos que, pela perfeio da sua organizao e a
facilidade da educao que da resulta, contribuem poderosamente para
perpetuar as rotinas impotentes, to funestas para os progressos da equitao.
Um cavalo bem constitudo quele de que todas as partes, correctamente
harmonizadas, conduzem ao equilbrio perfeito do conjunto. Seria to difcil a tal
individuo sair desse equilbrio natural, para tomar uma m posio e defenderse, quanto penoso de inicio, para o cavalo mal conformado, adquirir essa
correcta repartio do peso e das foras sem a qual no se pode esperar
nenhuma regularidade de movimentos.
na educao destes ltimos animais smente que residem as verdadeiras
dificuldades da equitao. Com os primeiros, o ensino deve ser, por assim dizer,
instantneo, visto que, com todos os meios no seu lugar, bastar p-los a
funcionar; com o meu mtodo esse resultado obtm-se sempre.

-25Os antigos princpios, entretanto, exigem dois ou trs anos para a chegar; e
quando s apalpadelas e incertezas, o cavaleiro dotado de alguma inteligncia e
de alguma prtica acaba por habituar o cavalo a obedecer aos estmulos que lhe
so comunicados, ele cr ter ultrapassado as dificuldades, e atribui ao seu saber
fazer um resultado que a aplicao de bons princpios, teria conseguido em
alguns dias. Depois, como o animal continua a exibir em todos os seus
movimentos a graa e a ligeireza inerentes sua bela conformao, o cavaleiro
no tem escrpulos em se atribuir o mrito, mostrando-se ento to presunoso
quanto injusto, quando quer tornar o cavalo mal constitudo responsvel pela
ineficcia dos seus esforos. Uma vez admitidas estas verdades:
Que a educao do cavalo consiste no domnio completo das suas foras e na
correcta repartio do seu peso;
Que no se pode dispor das foras sem anular todas as resistncias,
E que as resistncias tm a sua origem nas contraces ocasionadas pelas
deficincias fsicas, bastar ento descobrir as partes onde se operam essas
contraces, a fim de tentar combat-las e faz-las desaparecer por meio de um
equilbrio conveniente do peso e das foras.
Longas e conscienciosas observaes demonstraram-me que, seja qual for o
defeito de conformao que se oponha no cavalo correcta repartio das
foras, sempre na maxila que se produz o efeito mais imediato. No h falsos
movimentos nem resistncias que no sejam precedidos pela contraco desta
parte do animal; e como o pescoo est intimamente ligado maxila, a rigidez
de uma, comunica-se imediatamente outra. Estes dois pontos so o
arcobotante sobre o qual o cavalo se apoia para anular todos os esforos do
cavaleiro. Percebe-se facilmente o obstculo imenso que eles devem
apresentar, porque sendo a cabea e o pescoo as suas principais alavancas
com que se coloca e dirige o animal, torna-se impossvel obter seja o que for
dele

enquanto

no

se

seja

inteiramente

senhor

destes

primeiros

indispensveis meios de aco. No postmo, as partes aonde as foras se


empregam mais para resistir so os rins e a garupa (as ancas).

-26As contraces destas duas extremidades opostas so mutuamente umas para


as outras causas e efeito, isto : a rigidez da maxila e do pescoo provoca a das
ancas, e reciprocamente. Pode-se ento combater uma pela outra; e desde que
se tenha conseguido anul-las, desde que se tenha assim restabelecido o
equilbrio e a harmonia entre o antemo e o postmo, a educao do cavalo
estar meio feita. Vou indicar por quais meios a se chegar infalivelmente.

-27IV
TRABALHO A P
MOBILIZAO DO CAVALO, POR INTERMDIO DAS FORAS INSTINCTIVAS
PARA OBTER EQUILBRIO DO PESO.
EMPREGO DA CHIBATA PARA ENSINAR O CAVALO A APROXIMAR-SE, A TORN-LO DCIL AO
MONTAR, ETC.

Desde o incio da educao do cavalo, essencial dar-lhe uma primeira lio


de sujeio e fazer-lhe conhecer todo o poder do homem. Este primeiro acto de
submisso, que poderia parecer sem importncia, servir prontamente para
torn-lo calmo, confiante, e reprimir todos os movimentos que desviariam a sua
ateno e retardariam a sua educao.
Algumas lies de meia hora chegaro para obter esse resultado em qualquer
cavalo; o prazer que se sentir a brincar assim com o cavalo levar naturalmente
o cavaleiro a continuar este exerccio tanto quanto for necessrio, e a torn-lo
to instrutivo para o cavalo como til para si prprio. Eis como proceder: o
cavaleiro aproxima-se do cavalo, chibata debaixo do brao, sem brusquido nem
timidez, fala-lhe sem elevar demasiado a voz, e acaricia-o no chanfro e pescoo
com a mo, e depois, com a mo esquerda, agarra nas rdeas do freio a 16
centmetros das caimbas, mantendo o punho com a energia necessria para
poder oferecer tanta fora quanto possvel nos instantes de resistncia do
cavalo. A chibata agarrada pela mo direita com a ponta para baixo que se
eleva lentamente at a altura do peito aonde vai tocar delicadamente em toques
repetidos de segundo a segundo. O primeiro movimento natural do cavalo ser
recuar para evitar os toques da chibata. O cavaleiro acompanhar este
movimento retrgrado mantendo a tenso das rdeas do freio e continuando
com os pequenos toques de chibata no peito do cavalo. O cavaleiro dever
manter o domnio das suas emoes, para que no haja nos seus movimentos e
no seu olhar qualquer indcio de clera ou de fraqueza.

-28Fatigado destes efeitos de opresso, o cavalo procurar de seguida evitar a


sujeio atravs de outro movimento, e movendo-se para diante que ele o
conseguir; o cavaleiro aproveitar este segundo movimento instintivo para
parar e afagar o animal pelo gesto e pela voz. A repetio deste exerccio dar
resultados surpreendentes, mesmo na primeira lio. O cavalo tendo
compreendido bem o meio pelo qual pode evitar a chibata, no esperar pelo
contacto, ele antecipar-se- avanando a seguir ao mnimo gesto. Este trabalho,
alis muito recreativo, servir ainda para tornar o cavalo dcil no montar,
abreviar muito a sua educao e acelerar o desenvolvimento da sua
inteligncia. No caso em que, devido sua natureza inquieta ou selvagem, o
cavalo se entrega a movimentos desordenados, deve recorrer-se ao serrilho,
como meio de represso, e empregando-o por pequenos saces. Quando o
cavalo se puser francamente para diante pela aco da chibata chegado o
momento de fazer uma ligeira oposio com a mo do freio, a fim de obter um
efeito de flexo (ramener), sem interromper o andamento do passo.
Comea-se tambm com alguns passos de recuar, que se alternam com os
movimentos para diante, at ao desaparecimento completo das resistncias.
Este exerccio muito importante para deslocar, pelas foras puramente
instintivas primeiro, mas que regularemos em seguida, o peso que se fixar
demasiado sobre o postmo ou o antemo.
Faamos uma observao a que voltaremos mais tarde.
O peso do cavalo sobrecarrega naturalmente a parte anterior do corpo; por
isso que em virtude do princpio que ope as foras ao peso na ordem natural, a
natureza deu um to grande poder aos msculos posteriores do cavalo que
devem, nos diversos andamentos e sobretudo ao galope, no smente receber o
peso do antemo, mas ainda projectar toda a massa para diante. No recuar,
essa distribuio do peso induz frequentemente em erro o cavaleiro
inexperiente. Ele julga que o movimento retrgrado produzido pela deslocao
total do peso pelas foras, mas ele devido apenas ao refluxo das foras
impulsivas, que, repelidas por uma oposio de mo levaram com elas apenas
uma parte do peso.

- 29Tambm, se bem que o cavalo recue, o antemo se encontra frequentemente


sobrecarregado por um peso comparativamente enorme.
Donde se segue que o movimento seja irregular, at que o cavaleiro, ciente do
seu erro, tenha sabido aliviar o antemo de maneira a equilibrar o peso e as
foras. Os meios para atingir este fim sero dados ulteriormente. Ento ns
chamaremos a ateno do leitor sobre o emprego das ajudas, que s a prtica
pode tornar adequado.
Os exerccios precedentes com a ajuda da chibata, tais como: pr o cavalo
para diante, iniciao s flexes (ramener) e ao recuar, sero seguidos, sempre
com a ajuda da chibata, seja pelas marchas laterais, seja pelas piruetas directas
ou invertidas.
Para as marchas laterais, a mo, fixando-se, facilita o movimento das
espduas no sentido indicado pela chibata. No caso de resistncia proveniente
da garupa, o cavaleiro triunfar por uma oposio da mo que terminar assim
que o movimento se inicie.
Nas piruetas invertidas1, a mo manter-se- para forar a garupa a obedecer
chibata, e faz-la rodar em volta das mos do cavalo, servindo uma delas de
centro de rotao.
Nas piruetas directas, a chibata actua na garupa para a fixar fornecendo s
mos do cavalo, mobilizadas pela mo do cavaleiro, o centro necessrio ao seu
movimento de rotao.
Estes diversos exerccios disporo o cavalo aos movimentos que ele dever
executar com o seu cavaleiro em sela.
Bem entendido que no decorrer da educao do cavalo ser necessrio voltar
frequentemente a estes exerccios preliminares, a fim de que ele no perca o
fruto das suas lies precedentes.

(1 ) N.T. Ver anexo.

-30-

V
DA FLEXIBILIZAO
Os novos princpios do meu mtodo s podem ser praticados por homens
versados na arte da equitao, e que juntem uma posio segura a uma
grande experincia da equitao para compreenderem tudo o que diz respeito
ao seu mecanismo. No voltarei, portanto, aos procedimentos elementares;
ao instrutor que compete ajuizar se o seu aluno possui um grau conveniente
de solidez, se ele est suficientemente em ligao com o seu cavalo; porque,
ao mesmo tempo que uma boa posio produz esta identificao, ela
favorece o jogo fcil e regular das extremidades do cavaleiro.
O meu objectivo, aqui, tratar principalmente da educao do cavalo; mas
esta educao est demasiado intimamente ligada do cavaleiro para que seja
possvel fazer progredir uma sem a outra. Explicando os procedimentos que
devero levar perfeio no cavalo, eu ensinarei necessariamente ao cavaleiro
a aplic-los ele prprio; ele s ter que professar amanh o que eu lhe
demonstro hoje.
Conhecemos agora quais so as partes do cavalo que mais se contraem para
as resistncias e sentimos a necessidade de as flexibilizar. Procuramos ns,
desde logo, atac-las, exercit-las todas em conjunto, para as submeter de uma
assentada? No, sem dvida, isso seria voltar aos antigos erros, e ns estamos
convencidos da sua ineficcia. O animal dotado de uma potncia muscular
infinitamente superior nossa; as suas foras instintivas podendo alm disso
ajudarem-se umas as outras, ns seremos inevitavelmente vencidos se ns as
provocarmos todas ao mesmo tempo. Visto que as contraces residem em
partes separadas, saibamos aproveitar esta diviso para as combater
sucessivamente, a exemplo desses generais hbeis que destroem, porque as
separam, foras a que em conjunto no teriam podido resistir.
De resto, quaisquer que sejam a idade, as disposies e a estrutura do
cavalo, os maus procedimentos, no comeo, sero sempre os mesmos.
Os resultados que sero mais ou menos rpidos e fceis conforme o grau de

-31perfeio da sua natureza e a influncia das mos s quais ele tenha podido
estar sujeito anteriormente.
A flexibilizao, que, num cavalo bem constitudo, no ter outro fim se no o de
preparar as suas foras para ceder aos nossos meios de aco, dever alm
disso restabelecer a calma e a confiana, se se trata de um cavalo mal
ensinado, e fazer desaparecer, se a conformao defeituosa, as contraces,
causa das resistncias e de oposio a um equilbrio perfeito. As dificuldades a
ultrapassar dependem desta complicao de obstculos, que desaparecero
todos bem depressa, mediante um pouco de perseverana da nossa parte. Na
progresso que iremos seguir para submeter flexibilizao as diversas partes
do animal, comearemos naturalmente pelas mais importantes, isto a maxila e
o pescoo.
A cabea e o pescoo do cavalo so ao mesmo tempo o leme do animal e a
bssola do cavaleiro. Por elas ele dirige o animal; por elas tambm ele pode
avaliar a regularidade, a correco do seu movimento; no h equilbrio, no h
ligeireza, se a cabea e o pescoo no so suaves, maleveis e graciosos.
Nenhuma elegncia, nenhuma facilidade no conjunto, se estas duas partes,
enrijecerem. Precedendo o corpo em todos os suas impulses, elas devem
preparar antecipadamente, indicar pela sua atitude as posies a tomar, os
movimentos a executar. Nenhum domnio permitido ao cavaleiro enquanto elas
estiverem contradas e rebeldes; uma vez que elas estejam flexveis e
manejveis, dispe do animal sua vontade. Se a cabea e o pescoo no so
os primeiros a iniciar as mudanas de direco, se, nas marchas circulares, elas
no se mantm inclinadas sobre a linha curva, a fim de sobrecarregar mais ou
menos as extremidades conforme o movimento, se para recuar elas no se
recolhem sobre elas prprias, e se a sua ligeireza no est sempre relacionada
com os diferentes andamentos que se quiserem tomar, o cavalo livre de
executar ou no esses movimentos, uma vez que ele continuar senhor do
emprego das suas foras.

-32-

VI
DA BOCA DO CAVALO E DO FREIO
J tratei este assunto longamente que baste no meu Dicionrio racional de
Equitao; mas como eu desenvolvo aqui uma exposio completa do meu
mtodo, eu creio ser necessrio a voltar em algumas palavras.
Eu ainda me pergunto como se poude atribuir durante tanto tempo simples
diferena de conformao das barras essas disposies opostas dos cavalos
que os tornam to ligeiros ou to pesados na mo. Como que se poude
acreditar que, porque o cavalo tem uma ou duas camadas de carne a mais ou a
menos entre o freio e o osso do maxilar inferior, ele ceda mais ligeira impulso
da mo, ou tome o freio nos dentes, apesar dos esforos dos mais vigorosos
braos? no entanto apoiando-se neste erro inconcebvel que se meteram a
forjar freios de formas bizarras e to variadas, verdadeiros instrumentos de
suplcio, cujo efeito s podia aumentar os inconvenientes que se procurava
remediar. Se se tivesse querido analisar a origem das resistncias, ter-se-ia
reconhecido bem depressa que a rigidez da maxila, no provem da diferena de
conformao das barras, mas sim do mau equilbrio do cavalo. pois em vo
que ns nos penduramos nas rdeas e que ns colocamos na boca do cavalo
um instrumento mais ou menos mortfero; ele continuar insensvel aos nossos
esforos enquanto no lhe tivermos dado essa ligeireza que, s ela, pode metlo em condies de ceder.
Eu estabeleo portanto o princpio de que no existe qualquer diferena de
sensibilidade na boca dos cavalos; que todos apresentam a mesma ligeireza na
posio de ramener e as mesmas resistncias medida que se afastam desta
posio importante. H cavalos pesados na mo, mas essa resistncia provem
do comprimento ou da fraqueza dos rins, da garupa estreita, das ancas curtas,
das coxas delgadas, dos curvilhes direitos, ou enfim (ponto importante) duma
garupa demasiado alta ou demasiado baixa relativamente ao garrote; tais so as
verdadeiras causas das resistncias; o aperto da maxila, a contraco do
pescoo, no mais que os efeitos.

-33No admito, por conseguinte, mais que uma s espcie de freio, e eis a forma
e as dimenses que lhe dou para o tornar to simples quanto suave:
Caimbas direitas com 16 centmetros de comprimento, a partir do bocado;
permetro do bocado, 6 cm; a passagem de lngua cerca de 4 centmetros de
largura na parte inferior, e 2 centmetros na parte superior. Bem entendido que
smente a largura deve variar conforme a boca do cavalo.
Eu afirmo que um tal freio bastar para submeter mais passiva obedincia
de todos os cavalos que para isso tenham sido preparados pela flexibilizao; e
no tenho necessidade de acrescentar que, uma vez que nego a utilidade dos
freios duros, eu rejeito, pela mesma razo, todos os meios fora dos recursos do
cavaleiro, tais como martingalas, piles, etc. (1)

(1) Ver, no Dicionrio racional de Equitao, as palavras Freios, Barras e


Martingalas.

-34-

VII
FLEXIBILIZAO DA MAXILA E DO PESCOO
As flexes da maxila, assim como as duas flexes do pescoo, que se
seguem, executam-se em estao com o cavaleiro apeado. O cavalo
apresentar-se- aparelhado e com as rdeas sobre o pescoo. O cavaleiro
comea por verificar se a embocadura, est bem ajustada e se a barbela est de
modo a que se possa facilmente introduzir um dedo entre esta e a barba
(queixo). Depois encarando o cavalo com afabilidade, coloca-se ao lado do
pescoo perto da cabea, direito e bem colocado, os ps um pouco afastados de
modo a assegurar a sua base e estar pronto a lutar com vantagem no caso de
ser necessrio lutar contra todas as resistncias.

Primeira flexo da maxila


Para executar esta flexo, o cavaleiro, colocado do lado pelo qual se monta,
agarra com a mo direita a rdea esquerda do freio a 17 centmetros da boca, e
com a mo esquerda a rdea esquerda do brido. Estas duas foras devem agir
em sentidos opostos. Se elas forem proporcionais resistncia do cavalo,
rapidamente obtero a mobilidade da maxila. A flexo direita executa-se da
mesma forma invertendo as posies de rdeas e mos. O cavaleiro deve ter o
cuidado de alternar as duas flexes. Se a resistncia do cavalo provem da
contraco exagerada dos msculos elevadores, necessrio opor uma fora
de cima para baixo at cedncia do cavalo, e vice-versa. Deve ser assim para
todas as flexes: combatem-se as resistncias opondo-se lhes uma fora
igual. Acontece, s vezes, que, por impacincia do cavalo ou falta de habilidade
do cavaleiro, quele recua; as mos devem de imediato puxar o cavalo para
diante, opondo-se fora que produziu o acuamento. Ao mesmo tempo recorrese ao uso da chibata para parar o movimento retrgrado que constitui um grande
obstculo a qualquer espcie de flexo (Fig.1).

-35-

Fig.1

-36-

Fig. 2 e 3

-37Segunda flexo
A segunda flexo executa-se tomando as duas rdeas de freio com a mo
direita e as duas rdeas de brido com a esquerda. Procedendo como para a
primeira flexo, e se esta foi bem-feita, obtm-se quase instantaneamente a
mobilidade da maxila. Em alguns cavalos, o maxilar inferior destaca-se
momentaneamente para voltar a fechar-se com ruido. Esta espcie de tique
nervoso, de ranger de dentes, deve ser combatido com cuidado, porque ele
acaba por aumentar a resistncia e opor-se ligeireza (Fig.2 e 3).
Terceira flexo
O cavaleiro agarra, por exemplo, a rdea direita do brido com a mo
esquerda e a rdea esquerda com a mo direita a 17 centmetros, depois cruza
as duas rdeas debaixo do queixo de modo a exercer uma forte presso na zona
de aco da barbela (barba). Se a resistncia se mantiver, o cavaleiro f-la-
cessar rapidamente com vibraes dos pulsos (Fig.4) (1).
Percebe-se facilmente a importncia de estas flexes da maxila. O seu
resultado preparar o cavalo para ceder s mais ligeiras presses do brido e
do freio, flexibilizar directamente os msculos que unem a cabea ao pescoo.
Devendo a cabea preceder e determinar as diversas atitudes do pescoo
indispensvel que este esteja sempre sujeito primeira. O que no aconteceria,
se no imperfeitamente, com a flexibilizao, apenas, do pescoo, porque seria
ento isto que determinaria a obedincia da cabea arrastando-a no seu
movimento. A oposio das mos empregar-se- sem interrupo, cessando,
apenas, aps perfeita obedincia do cavalo, a no ser que haja acuamento; a
oposio diminuir ou aumentar na justa medida da resistncia de modo a
domin-la, mas tambm sem for-la demasiado. O cavalo, que resistir de
incio, acabar por considerar a mo do cavaleiro como um regulador irresistvel
de modo que ele se habituar a obedecer de tal maneira que rapidamente
obteremos por uma simples presso de rdea o que, de incio, exigia uma fora
grande.
(1) As vibraes das mos devem ser usadas em todas as flexes.

-38-

Fig. 4

-39FLEXIBILIZAO DO PESCOO
Primeira flexo lateral.

O cavaleiro coloca-se como para as flexes da maxila; agarra a rdea direita


do freio com a mo direita a 16 centmetros da caimba e a rdea esquerda com
a mo esquerda a dez centmetros smente da caimba esquerda. Depois,
aproxima a mo direita do seu corpo afastando a esquerda de maneira a torcer o
freio dentro da boca do cavalo forando-o a deslocar a cabea para a direita.
Como para as flexes da maxila, a fora a empregar deve ser gradual e
proporcional resistncia da maxila e do pescoo apenas, isto , no pode
interferir nos aprumos que mantm o cavalo imvel (Fig.5).
A flexo deve obter-se, no por um movimento brusco da cabea, mas por
pequenas cedncias sucessivas. A mo esquerda acompanha naturalmente o
movimento da cabea, e, assim que esta estiver prxima da espdua direita as
duas rdeas, com igual tenso, mantm a cabea oblqua 1 e vertical at que ela
se sustenha por si mesma nesta posio (Fig.6). O cavalo, mascando o freio,
mostra que est na mo2 e perfeitamente sujeito. O cavaleiro, para o
recompensar, cessa imediatamente a tenso nas rdeas e permite-lhe, depois
de alguns segundos, que ele retome a posio natural. Proceder segundo os
mesmos princpios e com os meios inversos para a flexo a esquerda.

Segunda flexo
1 O cavaleiro agarra a rdea direita de brido passando-a sobre o pescoo e
apoiando-a no garrote, para estabelecer um ponto intermdio entre a fora por si
empregue e a resistncia que o cavalo apresentar; a rdea esquerda
agarrada com a mo esquerda a trinta e trs centmetros do freio. Assim que o
cavalo procurar evitar a tenso constante da rdea direita inclinando a sua
cabea direita, o cavaleiro deixar escapar a rdea esquerda, para no fazer
qualquer oposio flexo do pescoo.
N.T. 1. Obliqua porque est fora do alinhamento das espduas.
2. Vr Mise en main.

-40-

Fig. 5 e 6

-41Esta rdea esquerda deve suster-se por uma sucesso de pequenas tenses
espontneas, cada vez que o cavalo procure escapar-se, deslocando a garupa,
ao efeito da rdea direita (Fig.7).
2 Assim que a cabea e o pescoo tenham completamente cedido direita, o
cavaleiro dar uma tenso igual s duas rdeas para colocar a cabea
verticalmente. A elasticidade e a ligeireza seguiro em consequncia desta
posio, e assim que o cavalo mostrar a ausncia de qualquer rigidez pela
aco de mascar o freio, o cavaleiro far cessar a tenso das rdeas tomando
cuidado para que a cabea no aproveite esse momento de abandono para se
deslocar bruscamente. Nesse caso, bastar para a conter, uma aco ligeira da
rdea direita. Depois de ter mantido o cavalo, alguns segundos, nesta atitude,
retoma-se a posio, sustendo um pouco a rdea esquerda. O importante que
o cavalo em todos os movimentos, no aja por iniciativa prpria (Fig.8).
A flexo do pescoo esquerda executar-se- segundo os mesmos princpios
e pelos meios inversos. O cavaleiro poder repetir com as rdeas do freio o que
fez, de incio, com as rdeas do brido; no entanto o brido dever sempre ser
empregue em primeiro lugar, sendo o seu efeito menos poderoso e mais direto.
Se as flexes a p foram bem-feitas sem nada deixar a desejar, as flexes
montado, obter-se-o facilmente. Estes primeiros exerccios so de uma grande
importncia, e o tempo que se lhes consagra abrevia consideravelmente a
durao das lies seguintes. O cavaleiro deve escrupulosamente preocupar-se
com fazer flectir a maxila antes da flexo do pescoo, de maneira que este
sustente a cabea e a siga sem nunca se antecipar. Em princpio, no h
resistncia do pescoo com uma maxila mobilizada e macia. Dar-se-, quase
sempre, o oposto quando a flexo do pescoo precede a da maxila. Os dentes
mantm-se cerrados ou s se abrem de uma forma incorrecta.
A resistncia relaciona-se directamente com o mutismo do cavalo (1).
(1) Esta palavra que, sob o ponto de vista tcnico, no lhe falta cachet deve-se a um
cuyer que aproveitou perfeitamente algumas lies que lhe dei. M. Cinizelli, depois de
ter recebido as felicitaes do rei da Sardenha, foi, um dia, convidado a visitar o picadeiro
real. Ele formulou a sua opinio sobre os trabalhos executados diante dele, assim:
muito bom, mas os vossos cavalos so mudos. Esta palavra, na boca do cuyer aludia
pura e simplesmente a imobilidade da maxila dos cavalos.

-42-

Fig. 7 e 8

-43Nas flexes directas ou nas laterais, o cavalo apresenta ainda uma resistncia
difcil de anular, se no se lhe conhece a causa. fazendo foras que o cavalo
recomea as lutas, que o cavaleiro s anula depois de muitos esforos e no
perfeitamente. Entendo por fazer foras a contraco da maxila inferior de um
lado ou de outro.
Exemplo: se se leva a cabea do cavalo para a direita a maxila inferior vai mais
para a direita do que a maxila superior. Torna-se, portanto, necessrio tornar a
traz-la para a esquerda para obter a sua verdadeira mobilidade e uma completa
ligeireza. Estes exerccios e os seguintes so fceis de executar se o cavaleiro
pe escrupulosamente em prtica os meios que indico e se segue inteiramente a
gradao que assegura o sucesso.
Flexo directa ou ramener.
Alternar-se-o as flexes laterais com a flexo directa ou colocao em mo1.
Para l dos meios indicados para as flexes da maxila, a flexo directa obter-se ainda com a rdea direita do brido apoiada sobre o pescoo e agarrada pela
mo direita. Com a mo esquerda agarra-se a rdea esquerda a trs
centmetros da boca. As duas rdeas sero puxadas gradualmente, e a sua
aco levar o cavalo a ceder completamente da maxila e do pescoo (Fig.9).
Se o pescoo fletir antes da maxila necessrio opor uma fora espontnea
da mo para impedir esta flexo defeituosa e prematura. Alguns dias deste
exerccio asseguraro a ligeireza da maxila e do pescoo.
indispensvel que o cavaleiro se aperceba da disposio do peso e das
foras da sua montada; porque a sua m repartio retardar o progresso da
sua educao. Suponhamos por conseguinte que, com o cavalo em estao, o
seu peso esteja transportado sobre o antemo. Nesse caso as resistncias
seriam enormes e quase inultrapassveis, se, antes de tudo, no se forasse o
peso a deslocar-se para o postmo por uma presso constante do freio, o que
se far sem procurar obter qualquer flexo. Por este movimento, o peso
harmoniza-se de tal maneira com as foras que se obtm imediatamente toda a
ligeireza desejvel.
1. Mise en main.

-44-

Fig. 9

-45Se, pelo contrrio, as foras estivessem dirigidas para o postmo, o que


provocaria um movimento de recuo, seria necessrio puxar o cavalo para diante,
depois de se ter assegurado, todavia, forando o recuar, se apesar do
movimento retrgrado, o peso no est demasiado posto sobre a frente.
OBSERVAO. As flexes a p, deficientemente feitas, no s no tero efeitos
satisfatrios como ainda elas levaro mais depressa o cavalo a resistir do que a
ceder que o primeiro elemento da sua educao. O prolongamento das flexes
que se obtm facilmente teria o seu perigo. O pescoo amoleceria em vez de ser
elstico; ele tornar-se-ia independente do resto do corpo com o qual, pelo
contrrio ele deve identificar-se estabelecendo uma espcie de solidariedade
que assegura uma reaco de toda a massa a qualquer deslocao da cabea e
provoca prontamente todas as mudanas de posio desejveis.
Assim que o cavalo se submeta a todos estes exerccios, sem resistncia,
isso ser uma prova de que a flexibilizao deu um grande passo e que a
educao inicial est em vias de progresso.

-46-

VIII
EFEITOS DA MO (RDEAS).
Pusemos como regra invarivel que, assim que subtemos o cavalo, pelas
primeiras vezes, aco do freio, necessrio usarmos uma embocadura de
freio e brido. Acrescente-se que se dever recorrer aos efeitos deste ltimo nos
comeos da educao do cavalo, porque a sua potncia, menor que a do freio,
tem uma aco mais directa para fazer ceder o pescoo direita e esquerda.
Com efeito, para a colocao, o brido representa apenas uma alavanca do 3
tipo, enquanto o freio com caimbas e barbela uma alavanca do 2 tipo. Para a
colocao e movimentos retrgrados do corpo, a potncia do freio superior
do brido; mas para as primeiras deslocaes da cabea do cavalo e para
reprimir as resistncias laterais, o uso do brido dar resultados mais imediatos,
porque, composto de duas peas, tem um efeito local que age sobre um dos
lados da boca do cavalo. Os mesmos efeitos, s com as rdeas de freio, no
podem agir nem to directamente nem to isoladamente sobre cada uma das
barras; porque a pea nica que compe o freio age necessariamente sobre
toda a maxila e torna, por isso mesmo, a inteno do cavaleiro menos clara
inteligncia do cavalo. Da hesitao e lentido de um lado, impacincia e clera
do outro, e frequentemente lutas lamentveis que nem sempre terminam com
vantagem para o cavaleiro.
Eu sei que em rigor um cavaleiro pode no usar o brido, como pode tambm
usar apenas este para ensinar um cavalo, mas isso no mais que a excepo
que confirma a regra. Portanto, para comear, utilizam-se as rdeas de brido,
uma em cada mo; as rdeas de freio, reunidas na mo esquerda na sua
posio normal, estaro ligeiramente bambas. A rdea esquerda de brido
presa entre o polegar e o indicador; a rdea direita, fica entre o polegar e os trs
primeiros dedos, passar sobre o mindinho da mo direita. Estas disposies
facilitaro o emprego do brido para as flexes do pescoo.

-47Se, nas flexes, o cavalo sair da colocao passam-se as rdeas de brido para
a mo direita para que a mo esquerda, por uma tenso igual das duas rdeas
de freio, exera uma presso que destrua a resistncia e coloque a cabea na
posio vertical. Esta atitude tornar o cavalo mais submisso aos efeitos das
rdeas de brido. Esta primeira flexo exercer-se-, primeiro parado, depois ao
passo. Este trabalho, feito convenientemente a p, tornar-se- fcil a cavalo.
Todo o exerccio obtido primitivamente com as rdeas de brido, ser praticado
a seguir com as rdeas de freio, para levar a cabea do cavalo direita,
esquerda ou posio vertical, e obter a colocao na mo. A execuo das
flexes laterais com as rdeas de freio demonstrar um progresso, dado que ela
se obter com a ajuda dos meios menos diretos.
intil fazer notar que antes de passar de uma flexo lateral a outra,
necessrio aproveitar o momento em que a cabea se encontra no
prolongamento da linha das espduas e da garupa, para colocar o cavalo na
mo, por uma tenso igual das duas rdeas de freio. Esta observao aplica-se
igualmente a todas as flexes executadas nos diferentes andamentos.
O trabalho do postmo, ou iniciao das piruetas invertidas, praticar-se- pela
tenso maior da rdea oposta ao lado para onde se desloca a garupa. Se ela se
desloca para a esquerda, agarra-se a rdea direita com mais energia (e vice
versa), a fim de dominar as resistncias que os movimentos novos para o
cavalo, devem fazer aparecer. Assim que o cavalo obedea perna, cessa a
aco isolada da rdea de brido ou de freio; porque sendo este meio apenas o
corretivo das resistncias deve ser abandonado assim que no tenha objectivo.
As rdeas tornam-se ento inteis como fora de oposio e servem apenas
para manter a atitude mais conveniente para que o cavalo permanea bem
colocado e gracioso nos seus movimentos.
Para as piruetas directas, direita, por exemplo, afasta-se a rdea direita de
brido, compensando a sua aco com a esquerda. A rdea direita desloca o
antemo, a outra fixar a garupa de modo a que ela sirva de centro de rotao.
A mo do freio, deve cessar todos os movimentos, para habituar o cavalo a
obedecer sua nica aco.

-48Observemos de passagem que o emprego do brido apenas preparatrio ao


uso exclusivo do freio. Quando o cavalo obedecer a esse agente, s a mo do
freio actuar para comear ou terminar os movimentos.
Ao passo, sobre a pista, repetir-se-o as mesmas flexes laterais do
pescoo, afastando levemente as rdeas de brido de incio e as rdeas de freio
em seguida.
O mesmo exerccio para as mudanas de direco.
Respondendo o cavalo s mnimas tenses das rdeas do brido ou do freio,
substitumo-las por um novo efeito de rdeas, que dispor as suas foras para
repartir o peso de maneira mais favorvel ao movimento.
Ele servir ainda, por uma adequada oposio da mo, para corrigir os desvios
da garupa e a colocar, ponto importante, o cavalo perfeitamente direito; isto , a
garupa sobre a linha das espduas.
Este novo efeito de rdeas transportar o peso de uma parte sobre a outra
sem destruir a harmonia das foras. Resultado at agora desconhecido.
Antes, ao restabelecer o equilbrio do peso, destrua-se frequentemente a
harmonia das foras; e depois, ao restabelecer o equilbrio das foras, repunhase o peso na sua m disposio inicial. No era isto um trabalho sem fim?
Expliquemos o meio que, apesar da sua simplicidade, vai remediar estas
tentativas infrutuosas.
As primeiras flexibilizaes puseram o animal de modo a responder a este
novo procedimento. Com o cavalo ao passo, separam-se as rdeas de freio,
uma em cada mo. Se se comea pela rdea direita, a mo direita desloca-se
para a esquerda e apoia a rdea contra a tbua do pescoo. Este encurva-se, a
cabea flecte, e as espduas do cavalo deslocam-se ligeiramente para a
esquerda. A presso oportuna das pernas mobilizar se necessrio a garupa na
direco do movimento (obtm-se os mesmos resultados com a rdea
esquerda).

-49A posio adequada a esta mudana de direco, obtm-se, em parte, por


efeitos de rdeas sabiamente praticados. Os mesmos resultados obter-se-o
igualmente em todos os andamentos, inclusive o trabalho sobre as ancas.
Chegar depois um momento aonde a educao do cavalo, mais completa,
permitir mesmo dispensar o uso das pernas. (Descida de pernas.) Bem
entendido que estes efeitos de rdeas de freio separadas, obtidos seja por
afastamento, tenso ou presso sobre o pescoo, tm por fim levar o cavalo a
obedecer aco das rdeas de freio numa s mo.
Depois destes exerccios, a mo esquerda chegar, ela s para fazer executar
as mudanas de direco. Para este efeito antes de se deslocar para o lado
determinante, a mo, contraindo-se, far sentir toda a sua fora de oposio,
sem se aproximar do corpo. Este efeito concentrado do poder da mo requer
que antes de tudo a igual tenso das rdeas permita sentir facilmente a boca do
cavalo; ele dever completar a ligeireza do cavalo antes que este se adapte a
nova encurvao. Com isto bem assimilado, o animal voltar pela simples
indicao da mo, se, como o recomendei j, se aproveita o momento em que a
cabea passa pelo prolongamento da linha da garupa e das espduas, para
obter a colocao em mo antes de mudar de encurvamento para um lado ou
para o outro.

-50-

IX
EFEITO DAS PERNAS
Se eu perguntasse a qualquer cavaleiro que fosse, quais os meios para mudar
de direco, ele responder-me-ia seguramente: Se quiser voltar direita, leve a
mo para a direita e faa sentir a perna do mesmo lado.
, com efeito, o princpio que todos os tratados de equitao, at ao meu,
preconizam o nico eficaz para este movimento. Mas com tantos erros
considerados como princpios, eu quis assegurar-me da exatido deste ltimo.
Ento, para voltar a direita, por exemplo, levei a mo para a direita e fiz sentir
a perna do mesmo lado.
Alguma ligeireza que o meu cavalo tivesse na linha direita e se bem que eu
tivesse feito sentir a perna indicada, eu sentia frequentemente uma resistncia
da qual, durante muito tempo, procurei a causa e os meios de a destruir.
A experiencia demonstrou-me que frequentemente, em resultado da aco da
perna direita, a garupa deslocando-se esquerda, impede pela sua mobilidade,
que o peso se fixe sobre o ponto de apoio necessrio converso e origina
irregularidade e incerteza no movimento.
A represso de esta resistncia exige naturalmente, disse-o para comigo, o
emprego da perna esquerda. Adotei portanto este meio como correctivo. De
incio deu-me resultados surpreendentes, mas a persistncia no seu emprego
tornou-se na fonte de uma outra resistncia.
A garupa, levada demasiado direita pela presso da perna esquerda, vai, por
assim dizer, escorar-se contra a espdua direita e paralisa os seus movimentos.
Depois de minuciosas observaes, conclui ento que o emprego exclusivo de
uma ou outra perna no pode ser prescrito como o princpio absoluto nas
mudanas de direco visto que, destinado a prevenir, provoca, ao contrrio,
resistncias.

-51Com efeito, quando quero colocar o cavalo para a mudana de direco, eu


ignoro de que lado vir a resistncia, visto que a garupa pode furtar-se direita
ou esquerda; ignoro mesmo se haver resistncia. No , portanto, racional
determinar, a priori, o emprego exclusivo de uma ou de outra perna, e o
princpio, reconhecido falso, deve ser abandonado.
Voltemos, ento, aos verdadeiros princpios da equitao:
A mo, unicamente, d a posio, as pernas do a impulso.
Se, segundo as prescries formais do meu mtodo, vs haveis dirigido a
educao do vosso cavalo de maneira a dar-lhe uma repartio correcta do peso
e das foras, a mudana de direco tornar-se-lhe- to fcil como andar sobre
a linha direita. O cavalo estando bem colocado obedecer primeira solicitao
da mo, a cabea e o pescoo tomaro a posio apropriada ao movimento e a
elasticidade perfeita de toda a mquina levar as espduas e a garupa a
colaborar sem resistncia da forma mais conveniente para a regularidade e
facilidade da mudana de direco. Donde eu concluo que o emprego de uma
ou outra perna prescrito como princpio um contrassenso, para este
movimento, visto que a sua regularidade e a sua facilidade s dependem da
harmonia induzida no equilbrio do animal.
Digo mais. A ajuda das duas pernas tornar-se- portanto intil, quando o
cavalo chegar ao ponto de educao aonde o deve levar inevitavelmente o meu
mtodo.

PONTO IMPORTANTE. Assim que o cavalo comear a tomar a posio


indicada pela mo, esta deve terminar a sua aco e dar ao animal a sua
liberdade de movimento, tendo todavia o cuidado de o seguir na sua deslocao.
Se, pelo contrrio, depois de um incio de execuo, a mo persistisse na sua
aco,

posio

do

pescoo

tornar-se-ia

forada

provocaria

um

desalinhamento da garupa do que nasceria uma resistncia que no se poderia


vencer sem a ajuda das pernas.

-52-

X
EFEITO DE MO E DE PERNAS
Consagrmos um captulo especial s funes particulares da mo e das
pernas; vamos, agora, combinar a aco de estes poderes de tal sorte que eles
forneam ao cavaleiro os recursos que ele deve retirar do seu emprego
judicioso.
Em princpio, as pernas do cavaleiro do ao cavalo a impulso necessria
aos movimentos. Mas ela, primitivamente, apenas um meio de causar
movimento que, para obter um bom resultado, precisa de um moderador e de
um regulador.
Este duplo papel cabe mo.
Assim que, obedecendo presso das pernas, o cavalo se mobiliza, a mo,
sbia intrprete da vontade do cavaleiro, dispe o animal no sentido apropriado
ao movimento que deve ser executado, e a sua aco, metodicamente regulada,
faz compreender ao servidor as intenes do mestre. O cavalo, bem colocado
pela mo, executar facilmente o movimento indicado. E digo mais: ele executlo- necessariamente, porque a disposio das diversas partes do seu corpo no
lhe permitiria outra coisa.
O cuyer deve portanto ter por objectivo dominar as foras do cavalo;
necessrio que disponha delas absolutamente. A combinao inteligente da
aco da mo e das pernas produzir este resultado.
PRINCPIO ESSENCIAL. Em geral a aco das pernas deve preceder a da mo
para determinar todos os andamentos, assim como para obter o efeito de
conjunto, o rassembler, as paragens e o recuar, etc., etc.
Com efeito, se se pe o cavalo para diante, preciso que de incio as pernas
determinem a sua aco e que, da impulso obtida, a mo aproveite todas as
foras de que necessite para dirigir a massa no sentido apropriado ao
movimento. Se, pelo contrrio, a aco da mo precedesse a das pernas, o
cavalo, faltando-lhe a impulso

-53necessria, no podia ser colocado convenientemente, e o movimento resultaria


incerto, de uma execuo difcil e muitas vezes impossvel.
Para os efeitos de conjunto, as pernas agiro primeiramente, a fim de evitar os
efeitos retrgrados do cavalo, que, dessa maneira, se subtrairia boa posio
da sua cabea, e mobilidade dos seus quatro membros, se estiver parado.
ainda comeando pela aco das pernas que se far trabalhar todas as
molas do mecanismo do animal, e o seu poder, sabiamente dirigido pela mo,
harmonizar-se- de tal maneira que o cavalo estar sempre colocado direito. A
aco das pernas do cavaleiro produzir o rassembler aproximando os
posteriores do cavalo.
Para o verdadeiro recuar, os posteriores devem ser os primeiros a deixar o
solo. ainda uma presso prvia das pernas do cavaleiro que determinar esse
movimento. O cavalo posto para diante pelas pernas; mas assim que a
impulso se verifica, a mo aproxima-se do corpo, e o seu efeito, bem aplicado,
fora a perna, j levantada, a deslocar-se para trs. Aps algumas repeties
deste exerccio, o cavalo recuar franca e regularmente.
A impulso imprimida pelas pernas tambm necessria no recuar, no sentido
em que ela se ope demasiado brusca concentrao
das foras sobre o postmo, o que daria um recuar precipitado e irregular.
Para a execuo das piruetas invertidas ou directas, as pernas devero dar a
impulso que, como sempre, permitir mo colocar o cavalo. ento que as
rdeas de freio por tenso, abertura ou presso sobre a tbua do pescoo, se
tornaro eficazes para combater as resistncias indicadas pelas recusas do
cavalo, que chegar gradualmente a obedecer simples presso da perna.
Por meio destes exerccios e da sbia combinao dos efeitos das pernas e
da mo, o cavalo ter dentro em pouco adquirido uma justa repartio do peso e
das foras.
Eu indico o objectivo; mais feliz do que os que me antecederam no estudo da
equitao, eu ofereo os meios infalveis para o atingir.

-54Quer isto dizer, entretanto, que eu quero prometer a todos os adeptos do meu
mtodo os resultados que muitos dos meus alunos obtiveram? No, eis porqu.
Seja qual for a clareza de uma teoria e a exatido dos seus princpios, o
professor no pode dar a todos essa centelha de fogo sagrado que revela a
aptido e vocao e leva ao sucesso.
Se as ideias tericas explicadas e motivadas no encontram como que um
eco no espirito do aluno, se a sua inteligncia no atingida como por um
choque elctrico, pela veracidade do princpio, porque falta a inspirao. Os
esforos do professor lutaro penosamente contra a inaptido.
Comparando as foras do homem e as do cavalo, espanta-nos que a nossa
fraqueza proporcional tenha empreendido o domnio de uma potncia to
superior; e, entretanto, com a simples presso das nossas pernas e das nossas
mos ns lhe impnhamos a nossa vontade.
Submetido s nossas leis, o nosso soberbo antagonista precipita-se como
uma avalanche; as suas foras, ampliadas pela impulso, imprimem ao seu
corpo uma rapidez vertiginosa; a sua impetuosidade parece indomvel. Um
gesto do cavaleiro, e a massa impetuosa torna-se uma esttua, o cavalo est
imvel.
Dei os meios de obter estes imensos resultados. O meu mtodo pe de tal
maneira o cavalo na dependncia do cavaleiro, que, pela combinao dos
efeitos de pernas e mo, os nossos menores movimentos chegam para dirigir
nossa vontade os meios deste potente animal; mas eu no posso dizer precisa e
claramente ao aluno o grau de fora impulsiva ou repressiva que ele deve
empregar. apreciao exacta do emprego das foras combinadas que se
chama inteligncia equestre. Esta qualidade inata no verdadeiro cuyer, ela
-lhe indispensvel.
Uma longa prtica, dando experincia, pode, verdade, combater felizmente
a inaptido. Mas se, nesse caso, os progressos so lentos, deve-se atribui-lo a
ineficcia dos princpios?

- 55-

XI
FLEXIBILIZAO A CAVALO, ANTE-MO E POSTMO
FLEXO DIRECTA DA CABEA E DO PESCOO, OU RAMENER
1 O cavaleiro servir-se- de incio das rdeas de brido, que reunir na mo
esquerda e agarrar como as do freio. Ele apoiar a mo direita de champ (1)
sobre as rdeas frente da mo esquerda, a fim de dar a esta uma maior
potncia, aumentando a presso do brido. Assim que o cavalo ceder, basta
levantar a mo direita para diminuir a tenso das rdeas e recompensar o
animal. Logo que o cavalo obedea a aco do brido, ele ceder bem mais
prontamente do freio, cujo efeito mais potente; resta dizer que o freio dever
por conseguinte ser empregado com mais cuidado que o brido. (Figura 10).
2 O cavalo ter completamente cedido aco da mo, assim que o maxilar
for mvel. O cavaleiro deve ter o cuidado de no se deixar enganar pelas
simulaes do cavalo, simulaes essas que consistem em executar um quarto
ou um tero de cedncia, a que se seguem balbuciamentos. Deve-se de incio,
habituar o cavalo a suportar as pernas para impedir quaisquer movimentos
retrgrados do seu corpo, movimentos que lhe permitiriam evitar os efeitos da
mo ou fariam aparecer pontos de apoio ou arcobotantes que lhe aumentariam
os meios de resistncia (especar-se). (Figura 11).
Esta flexo muito importante. Assim que ela se executa com facilidade e
prontido, basta um ligeiro apoio da mo para colocar e manter a cabea na boa
posio. O domnio de esta parte do animal tornar-se-, desde logo, to fcil
como natural, porque o pusemos em condies de compreender todas as
indicaes da mo e de lhes obedecer imediatamente sem esforo. Quanto s
funes das pernas, elas consistem em impedir um movimento retrgrado do
corpo.
(1) N.T. de chapa; espalmada.

-56-

Fig. 10 e 11

-57FLEXES LATERAIS DO PESCOO


1 Para executar a flexo direita, o cavaleiro agarra uma rdea de brido em
cada mo, a esquerda sentindo apenas o contacto do ferro; a direita, ao
contrrio, comunicando uma impresso de incio moderada, mas que aumentar
proporcionalmente resistncia do cavalo, e de maneira a domin-lo sempre.
O animal preparado pelo trabalho precedente, compreende a vontade do
cavaleiro e volta a cabea para o lado aonde a presso do brido se faz sentir.
(Figura 12).
2 Assim que a cabea do cavalo tiver sido colocada direita, a rdea
esquerda far oposio, para impedir que o chanfro ultrapasse a vertical. Deve
dar-se uma grande importncia a que a cabea fique sempre nessa posio:
sem isso a flexo seria imperfeita e a maleabilidade incompleta. Uma vez
realizado regularmente o movimento, far-se- retomar a sua posio natural por
uma ligeira tenso da rdea esquerda. (Figura 13).
A flexo esquerda executar-se- da mesma maneira, empregando o
cavaleiro as rdeas do brido e as do freio.
Eu disse que necessrio dedicarmo-nos a flexibilizar a extremidade superior
do pescoo. Uma vez montado, e assim que as flexes laterais se obtenham
sem resistncia, o cavaleiro contentar-se- muitas vezes com execut-las
parcialmente, a cabea e primeira parte do pescoo rodando ento sobre a parte
inferior, que servir de base. Retomar-se- frequentemente este exerccio
mesmo quando a educao do cavalo estiver terminada, para manter a
maleabilidade e facilitar a colocao em mo.
As flexes laterais demasiado prolongadas levariam ao desligamento da
cabea e pescoo isolando-as do resto do corpo , portanto, necessrio us-las
sabiamente desde que o cavalo as execute com facilidade.
Falta-nos, agora, para completar a flexibilizao da cabea e pescoo,
combater as contraces que originam as resistncias directas e se opem ao
ramener.

-58-

Fig. 12 e 13

- 59-

XII
MOBILIZAO DA GARUPA
O cavaleiro, para dirigir o cavalo, age directamente sobre duas das suas
partes: o antemo e o postmo. Para esse efeito emprega dois agentes: as
pernas que do impulso pela garupa; as mos, que dirigem e modificam essa
impulso pela cabea e pescoo. Uma perfeita relao de foras deve, ento,
existir sempre entre estes dois poderes; mas a mesma harmonia no menos
necessria entre as partes do animal que esses mesmos poderes pretendem
controlar. Ter-nos-emos esforado em vo para tornar a cabea e o pescoo,
flexveis, ligeiros, obedientes ao contacto dos ferros, os resultados sero
incompletos, o conjunto e o equilbrio imperfeitos, enquanto a garupa se
conservar pesada, contrada, rebelde ao agente directo que a deve governar.
Eu acabo de explicar por quais processos simples e fceis se dar ao antemo
as qualidades indispensveis para obter uma boa posio; falta-me dizer como
flexibilizar igualmente o postmo para completar a flexibilizao do cavalo e
juntar ao conjunto a harmonia no desenvolvimento de toda a sua elasticidade. As
resistncias do pescoo e as da garupa apoiam-se mutuamente, o que vai tornar
o nosso trabalho mais fcil, porque anulmos j as primeiras.
1 O cavaleiro agarra as rdeas do freio na mo esquerda e as do brido,
cruzadas uma sobre a outra na mo direita com as unhas para baixo; comea
por colocar a cabea do cavalo em boa posio por um ligeiro apoio do freio;
depois, se quiser executar o movimento para a direita, coloca a perna esquerda
atrs da cilha e fixa-a junto ao flanco do animal at que a garupa ceda sua
presso. O cavaleiro far sentir a rdea do brido do mesmo lado que a perna
com um efeito proporcional resistncia que lhe ser oposta. De estas duas
foras imprimidas assim pela rdea esquerda e pela perna do mesmo lado, a
primeira destina-se a combater as resistncias, e a segunda a determinar o
movimento. De incio contentar-se- com fazer executar garupa um ou dois
passos de lado smente. (Figura 14).

-602 Tendo a garupa adquirido mais facilidade de mobilizao, podemos


continuar o movimento de maneira a completar direita e esquerda piruetas
invertidas. Assim que as ancas cedam presso da perna, o cavaleiro far
sentir imediatamente a rdea oposta a essa perna. O seu efeito, de incio suave,
ser aumentado progressivamente at que a cabea se volte para o lado para o
qual vai a garupa como se fosse para a vr vir. (Figura 15).
Para fazer compreender bem este procedimento, acrescentarei algumas
explicaes da maior importncia dado serem aplicveis a todos os exerccios
de equitao.
O cavalo, em todos os seus movimentos, no pode conservar a sua ligeireza
sem uma combinao das foras opostas, habilmente aplicadas pelo cavaleiro.
Na pirueta invertida, por exemplo, se, assim que o cavalo cede presso da
perna, se continua a opor a rdea do mesmo lado que o da perna, evidente
que se ultrapassa o objectivo, pois que se far uso de uma fora tornada intil.
necessrio estabelecer dois motores cujo efeito se equilibra sem se contrariar;
o que produzir a tenso da rdea oposta perna na pirueta. Assim comea-se
pela rdea e a perna do mesmo lado at que o cavalo responda presso da
perna smente, depois com as rdeas s na mo esquerda e, enfim, com a
rdea de brido ou a de freio oposta perna. As foras encontrando-se, ento,
mantidas numa posio diagonal, o equilbrio ser natural e a execuo do
movimento fcil. A cabea do cavalo voltada para o lado para que se dirige a
garupa, torna o trabalho mais gracioso, e d ao cavaleiro mais facilidade para
regular a atividade das ancas e manter as espduas no mesmo lugar. S a
experincia poder, de resto, indicar o uso que ele deve fazer da rdea e da
perna, de maneira que os seus efeitos se equilibrem sem jamais se
contrariarem. No tenho necessidade de relembrar que durante todo o trabalho,
como sempre, de resto, a maxila deve estar descontrada. Se, combatendo a
contraco da garupa, ns permitssemos ao cavalo transpor a rigidez para o
antemo, os nossos esforos seriam vos e o fruto dos nossos trabalhos iniciais
perdido. Ns facilitaremos, pelo contrario, a flexibilizao do postmo
conservando o xito que tnhamos obtido sobre o antemo, forando as
contraces que ainda nos resta combater a manterem-se isoladas.

-61-

Fig. 14 e 15

-62A perna do cavaleiro oposta que determina a rotao da garupa no deve


permanecer afastada durante o movimento, mas ficar perto do cavalo e mant-lo
no lugar, dando de trs para a frente uma impulso, que a outra perna transmite
da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita. Haver assim uma
fora que manter o cavalo em posio, e uma outra que determinar a rotao.
Para que as duas pernas no contrariem reciprocamente os efeitos da sua
presso simultnea, e para chegarmos de seguida a servirmo-nos delas com
harmonia, coloca-se a perna encarregue de deslocar a garupa, mais atrs da
cilha que a outra que permanece sustentada com uma fora igual da perna
determinante. Ento a aco das pernas ser distinta; uma actua da direita para
a esquerda e a outra de trs para a frente. com a ajuda desta ultima que a
mo coloca e fixa os anteriores.
A fim de acelerar os resultados, pode, de incio, utilizar-se um segundo
cavaleiro que se coloca junto cabea do cavalo, agarrando as rdeas do freio
na mo direita e do lado oposto quele para onde se deslocar a garupa. Ele
agarrara as rdeas a dezasseis centmetros das caimbas do freio, a fim de poder
combater as resistncias instintivas do animal. O cavaleiro montado contentarse- ento em suster ligeiramente as rdeas do brido, agindo com as pernas
como acabei de indicar. O segundo cavaleiro s til se se tratar de um cavalo
irascvel, ou para compensar a inexperincia do cavaleiro; mas preciso que o
mais depressa possvel dispense a ajuda, a fim de que o praticante julgue por si
mesmo os progressos do seu cavalo, procurando sempre os meios de
regularizar os empregos das suas ajudas.
Apesar de elementar, este trabalho levar contudo o cavalo a executar
prontamente ao passo todas as figuras de picadeiro de duas pistas. Depois de
oito dias de exerccio moderado, concluir-se- assim, sem esforo, um trabalho
que a antiga escola no ousava tentar antes de um ano de estudo e de
tentativas. Assim que o cavaleiro tenha habituado a garupa do cavalo a ceder
prontamente presso das pernas, ele poder mobiliz-la sua vontade, e
poder, por consequncia, executar as piruetas ordinrias. Para o efeito tomar
uma rdea de brido em cada mo; uma servir para controlar o pescoo e as
espduas do lado para onde se pretende operar a converso, a outra para
secundar a perna oposta se esta no bastar para manter a garupa no lugar.

-63Ao princpio, esta perna dever estar colocada o mais atrs possvel, e no
estabelecer contacto, a menos que as ancas venham contra ela. Assim que a
garupa esteja imvel, a perna oposta torna-se intil. Uma progresso bem
conduzida dar prontos resultados; contentar-nos-emos pois, no comeo, com
alguns passos bem executados para o parar por um efeito de conjunto e depois
dar imediatamente ao cavalo a sua liberdade de aco, o que pressupe cinco
ou seis tempos de paragem durante a rotao completa das espduas em volta
da garupa. Se este trabalho executado com lentido e cautela, se a ligeireza
est presente em todos os movimentos, eu garanto resultados surpreendentes.
Os meus alunos entregues a eles mesmos, ou as pessoas que praticam com a
ajuda smente do livro, sujeitam-se muitas vezes a desaires ou a atrasos na
educao dos seus cavalos; isso advm de se passar demasiado depressa de
um exerccio a outro. Ir lentamente para chegar depressa, eis o grande preceito,
e, se ele posto em prtica com inteligncia, dar resultados infalveis.
Vou explicar como se estabelecer o perfeito acordo do mecanismo por meio
dos efeitos de conjunto.

- 64-

XIII
EFEITO DE CONJUNTO
Solicitando dentro dos justos limites as foras do postmo e do antemo,
estabelece-se a sua correcta oposio, a harmonia das foras. Reconhecer-se-
a justeza de esta oposio das ajudas sempre que a ligeireza seja obtida sem
qualquer deslocao se trabalhamos parados, e sem aumento e sobretudo sem
diminuio do andamento se trabalhamos em movimento.
essencial, nesse trabalho, harmonizar a aco das pernas e a da mo, para
conservar o cavalo ligeiro. O efeito de conjunto deve sempre preparar cada
exerccio. Com efeito, ele deve preceder qualquer movimento, visto que,
servindo para pr todas as partes do cavalo na mais exacta ordem, segue-se
que a fora de impulso apropriada ao movimento ser, ento ainda mais
facilmente e seguramente transmitida.
No smente os efeitos de conjunto so indispensveis para que estes
movimentos sejam sempre fceis e regulares, mas eles ainda servem para
reprimir qualquer mobilidade das extremidades proveniente ou no da vontade
do cavalo seja em que movimentos for, porque eles facilitam a correcta
repartio do peso e das foras.
A prtica dos efeitos de conjunto ensina ao cavaleiro o acordo das ajudas e
leva-o a falar prontamente inteligncia do cavalo, fazendo-lhe compreender,
por posies exactas, o que pretendemos exigir dele. As caricias da mo e da
voz viro em seguida como efeito moral. Tenhamos o cuidado, todavia, de
recorrermos a elas smente depois das correctas exigncias das ajudas terem
obtido os resultados procurados.
Daquilo que acabo de dizer, compreende-se que enquanto a flexibilizao
geral do cavalo no seja totalmente perfeita, os efeitos de conjunto s podem ser
esboados. Mas facto, que desde o comeo, o cavaleiro deve p-los em
prtica, visto que a sua principal preocupao deve ser procurar estabelecer o
acordo entre a fora que empurra para diante e a que leva para trs, quer o
trabalho se faa parado ou a andar.

-65Lembremo-nos que o abuso dos melhores meios de execuo de temer. No


exageremos portanto o emprego dos efeitos de conjunto, sob pena de darmos
impreciso aos movimentos do cavalo; e, para j, estabelecemos em princpio
que todos os dispndios de foras, todas as translaes (transferncias) de peso
inteis so prejudiciais tanto para a educao como para a organismo do cavalo.

-66-

XIV
DO EMPREGO DA ESPORA

A espora uma ajuda superior das pernas, demonstrei-o eu h muito


tempo.
Todos os cavalos devem conseguir suportar a espora.
O cavalo naturalmente equilibrado suporta o contacto das pernas e da espora
bem mais facilmente que quele com a conformao defeituosa.
A razo simples. No primeiro, o peso bem repartido, as foras
harmonizadas prestam-se uma mtua ajuda, e o contacto das pernas e da
espora no tem outro efeito seno o de dar uma maior intensidade aco do
cavalo. No segundo, pelo contrrio, o peso est mal distribudo as foras
divergentes contrariam-se e o efeito das pernas ou da espora aumentar as
resistncias naturais do cavalo.
O talento do cavaleiro consistir em reduzir esse cavalo condio do
primeiro, destruindo as suas resistncias por uma melhor distribuio do peso e
das foras. Ento o cavalo suportar, sem a mnima hesitao, o contacto das
pernas e da espora.
Eis a gradao que recomendo: quando o cavalo suportar a presso gradual
das pernas do cavaleiro, este far-lhe- sentir o apoio gradual dos seus
calcanhares desprovidos de esporas, parado por efeito de conjunto, e ao passo,
para obter e manter a regularidade do andamento e assim que o cavalo suporte
tranquilamente o apoio dos calcanhares sem esporas, ento, e s ento,
colocamo-las nas botas tendo o cuidado de envolver as rosetas numa proteo.
O cavaleiro agir com as esporas assim preparadas, como agiu com os
calcanhares sem esporas, por apoio gradual, e apenas quando o cavalo suportar
o apoio enrgico das esporas protegidas, mantendo-se calmo, que o cavaleiro
comear a usar as esporas com rosetas redondas descobertas com as
mesmas presses progressivas.

-67Esta sbia progresso preparar qualquer cavalo, sem excepo, para


suportar o apoio da espora, que, brevemente, se tornar suprflua, porque o
cavalo responder s mnimas presses das pernas do cavaleiro.
O abuso da espora teria os maiores inconvenientes, e como j se disse, a
espora pode ser uma lmina nas mos de um macaco.
Mais do que nunca a aco da mo deve ser inteligente e de acordo com o
emprego da espora.
Os apreciadores aperceber-se-o, que nesta nova edio, me esforcei para
tornar mais fcil a aplicao dos meus princpios reduzindo-os sua expresso
mais simples.

-68-

XV
EMPREGO PELO CAVALEIRO DAS FORAS DO
CAVALO PARA OS DIFERENTES ANDAMENTOS.

Assim que o trabalho precedente tiver disposto as foras do cavalo ao ponto


de no-las submeter, o animal ser nas nossas mos um instrumento dcil
aguardando, para funcionar, a impulso que nos agradar comunicar-lhe. Cabernos- ento, utilizadores soberanos de todos os seus meios, combinar o seu
emprego nas justas propores dos movimentos que queremos executar.
O jovem cavalo, de incio rgido e mal jeitoso no uso dos seus membros, ter
necessidade, para melhorar, de certas cautelas. Aqui, como sempre, seguiremos
a progresso racional que quer que se comece pelo simples antes de passar ao
complicado. Ns asseguramos, pelo trabalho precedente, os meios de aco
sobre o cavalo; ocupemo-nos agora de facilitar os seus meios de educao,
exercitando o conjunto das suas molas. Se o animal responde s ajudas do
cavaleiro pela maxila, pescoo e anca; se ele cede pela disposio geral do seu
corpo aos impulsos que lhe so comunicados; se o jogo das suas extremidades
fcil e regular, o mecanismo de todo o conjunto ter uma harmonia perfeita em
todos os andamentos. So estas qualidades indispensveis que constituem uma
boa educao.

-69-

XVI
DO PASSO
O andamento do passo o pai de todos os andamentos; por ele que se obter
a cadncia, a regularidade, a extenso dos outros; mas o cavaleiro, para chegar
a esses resultados brilhantes, dever despender tanto do saber como do tacto.
Os exerccios precedentes levaram o cavalo a aceitar os efeitos de conjunto que
teriam sido impossveis antes de ter destrudo as suas resistncias instintivas;
presentemente resta-nos agir sobre as resistncias inertes devidas ao peso do
animal e sobre as foras que no agem sem a ajuda de uma impulso
comunicada.
Antes de pr o cavalo para diante, deve assegurar-se primeiro se ele est
ligeiro, isto , direito de espduas e ancas. Aproximam-se a seguir gradualmente
as pernas para dar ao cavalo a impulso necessria ao movimento. O cavaleiro
lembrar-se- sempre que a mo deve ser para o cavalo uma barreira
intransponvel cada vez que ele quiser sair da posio de ramener. O animal
sentir, sempre que o tentar, uma sensao desagradvel (1).
(1) Vivi em Berlim durante alguns meses, vi pr em prtica a equitao alem em toda a
sua extenso. No tenho a pretenso de me armar em crtico; direi smente que os
princpios professados na Prssia so diametralmente opostos aos meus; assim, vrios
oficiais, que gozam no seu pas duma certa reputao de cavaleiros, diziam-me: Ns
queremos que os nossos cavalos estejam frente da mo; e eu respondia-lhes que eu
quero que eles estejam atrs da mo e frente das pernas; nesta condio smente
que o animal estar sob a inteira dominao do cavaleiro; os seus movimentos tornarse-o graciosos e regulares; ele passar facilmente de um andamento acelerado a um
andamento lento, conservando sempre o seu equilbrio; porque, dizia-lhes eu, que todo
o cavalo que est para l da mo est atrs das pernas, ento escapar-se-vos- por
todas as pontas, o que origina a completa falta de graa e de regularidade nos
movimentos, e se alm disso, a sua conformao viciosa, como podemos remediar
isso? Procedendo da vossa maneira nunca mais obtereis o equilbrio ou a ligeireza.
Todas as teorias postas em prtica antes de mim consistem em dar, com mais ou
menos dificuldade, uma direco s foras instintivas do cavalo, mas no em
harmoniz-las com o peso. Esses resultados no podem ser obtidos sem a aplicao
dos meus princpios; aborrecido para os opositores, mas est l toda a equitao.

-70A aplicao bem entendida do meu mtodo leva assim o cavaleiro a conduzir
constantemente o seu cavalo com as rdeas semi tensas, excepto quando
quiser rectificar um falso movimento ou pretender um novo.
O passo, j o disse, deve preceder os outros andamentos, porque a sua aco
menos considervel do que no trote ou no galope, e consequentemente mais
fcil de regular.
Para que a cadncia e a velocidade do passo se mantenham iguais e
regulares, indispensvel que as foras impulsivas e moderadoras do cavaleiro
sejam, tambm elas, perfeitamente harmonizadas. Eu avalio, por exemplo, que o
cavaleiro para pr o cavalo a passo e mant-lo ligeiro neste andamento, deve
empregar uma fora de quatro quilos, dos quais trs para a impulso e um para
o ramener. Se as pernas exageram o seu efeito sem que as mos aumentem o
seu na mesma proporo, evidente que o excesso de fora comunicada
poder relanar-se sobre o pescoo, contra-lo e consequentemente acabar com
a ligeireza. Se, ao contrrio, a mo que actua com demasiado poder, ela
interfere com a impulso necessria marcha; esta, por isso mesmo, ser
contrariada, abrandada e ao mesmo tempo a posio do cavalo perder a
graciosidade e a sua energia. Com efeito, o que deve pensar o cavalo nestes
dois casos, sem ser que no primeiro ele deve acelerar e no segundo abrandar o
andamento? O cavaleiro v ento que sempre ele o responsvel por o cavalo
compreender mal.
Esta curta explicao chega para demonstrar como importante conservar
sempre um acordo perfeito entre as pernas e as mos. Entende-se que o seu
efeito deve variar conforme a construo do cavalo obrigue a sustent-lo mais
ou menos no antemo ou no postmo, mas a regra manter-se- com propores
diferentes.
Enquanto o cavalo no se mantiver flexvel e ligeiro no seu andamento,
continua-se a exercit-lo na linha direita e termina-se cada lio com alguns
passos de recuar.

-71-

XVII
DO RECUAR

A mobilidade retrgrada, ou dito de outra maneira, o recuar, um exerccio de


que ainda no foi suficientemente apreciada a importncia e que no entanto
deve ter uma grande influncia na educao do cavalo. O recuar difere
essencialmente dessa m impulso retrgrada que leva o cavalo para trs com a
garupa contrada, o pescoo tenso e a maxila fechada: isso o acuamento. O
verdadeiro recuar descontrai o cavalo e contribui poderosamente para a justa e
pronta repartio do peso e das foras.
O cavaleiro, antes de comear a recuar, deve assegurar-se previamente se as
ancas esto na linha das espduas, e se o cavalo est ligeiro na mo; depois ele
aproximar lentamente as pernas, para que a aco que eles comunicam ao
postmo faam que um dos posteriores abandone o solo e que o corpo s ceda
depois da cabea e do pescoo.
ento que a presso imediata do ferro, forando o cavalo a retomar o seu
equilbrio para trs, produzir o primeiro tempo de recuar. Assim que o cavalo
obedecer, o cavaleiro cede imediatamente a mo para recompensar o animal e
no forar o jogo da sua parte posterior. Se a garupa se desviar da linha direita
volta a coloc-la com a ajuda do brido do mesmo lado, empregando se
necessrio a perna. Bastar exercitar durante oito dias (cinco minutos por lio)
o cavalo no recuar, para o levar a execut-lo com facilidade. Contentamo-nos
nas primeiras vezes, com um passo para trs, depois com dois, depois trs,
progressivamente, seguidos de um efeito de conjunto, at que ele no apresente
maiores dificuldades nesta marcha retrgrada do que na marcha para diante.

-72O cavaleiro engana-se muitas vezes sobre as causas do acuamento da sua


montada. Quando ele julga que o cavalo est acuado pelas foras e pelo peso,
ele est-o muitas vezes smente pelas foras, e, nesse caso, o antemo est
mais sobrecarregado do que o que devia; se ele continuasse a empurrar o
cavalo sobre a mo, garantido que a verdadeira ligeireza seria impossvel, pois
que o peso a causa da resistncia. Seria portanto urgente levar o cavalo para
trs em vez de para diante
Podemos convencer-nos da verdade deste facto, forando o cavalo a recuar,
se bem que aparentemente ele se preste a esse movimento. Alguns passos de
recuar traro uma resistncia que provar que o peso est sobre o antemo. Se,
pelo contrrio, o peso e as foras estivessem deslocados para o postmo, o
cavalo levar-vos-ia para trs, e o resultado seria empinar-se. Nesse caso era
preciso pr o cavalo para diante.
um facto incontestvel, que para manter o equilbrio do cavalo, o peso e as
foras devem estar em harmonia. A ligeireza no obtida enquanto houver luta
ou falta de acordo entre estes dois poderes.

-73-

XVIII
TRABALHO SOBRE AS ANCAS
Poucas pessoas compreendem as dificuldades que este trabalho apresenta;
elas apreciam-no tanto menos quanto mais desconhecem os servios e os
resultados que dele podem obter. Como se acha que no seno um exerccio
de parada, cada um experimenta-o sua maneira sem procurar utiliz-lo, seja
para a educao do cavalo, seja para o prazer do cavaleiro: no entanto o
objectivo que seria necessrio propor-se.
Todo o cavalo marcha, trota e galopa naturalmente, mas a arte aperfeioa os
andamentos e d-lhes a consistncia e a ligeireza que eles so susceptiveis de
adquirir.
O trabalho de duas pistas no sendo natural no cavalo, apresenta, s por isso,
dificuldades bem maiores; ele seria mesmo impossvel de obter regularmente
sem recorrer educao de base; que tem como objectivo colocar o cavalo e
lev-lo a suportar os comeos de rassembler.
Mas tambm, quando se o executa, ele tem por resultado fazer sobressair as
suas formas, e de lhe dar essa ligeireza, essa preciso de movimentos, que lhe
permitem responder s mais imperceptveis aces do cavaleiro.
Eu podia, em rigor, dispensar-me de dizer o que se chama figuras de
picadeiro, se os autores que escreveram sobre esse assunto tivessem dado a
conhecer mais do que a nomenclatura das figuras; mas como eles no indicaram
nem como o cavalo deve estar colocado, nem como proceder para que a
execuo seja regular, eu esforar-me-ei em reparar esse esquecimento: direi
ento que o cavaleiro que faa executar com preciso linhas direitas de duas
pistas obter, sem grandes esforos, linhas circulares, se, todavia, ele exercitou
previamente o seu cavalo nas piruetas inversas ou directas.

-74Assim que a mobilidade da maxila e a flexibilidade dos rins tiverem preparado


o cavalo a executar facilmente todas as mudanas de direco, pode comearse o trabalho sobre as ancas.
No obrigar o cavalo a mais do que um passo de duas pistas, depois dois, a
seguir trs, etc.
De incio o cavaleiro usa a rdea de brido e a perna do mesmo lado, isto ,
opostas direco em que o cavalo marche.
Se bem que a posio que resulta seja contrria bela atitude que o animal
deve conservar durante um trabalho regular, continua-se contudo com este
efeito de mo at que o cavalo no resista mais perna. Pouco depois, a rdea
de brido ou de freio do lado determinante servir para colocar o cavalo e
regularizar o movimento. Depois, ao afastamento da rdea sucede a sua
presso sobre o pescoo. O trabalho ser perfeito desde que o cavaleiro saiba
combinar a aco das pernas com este novo efeito de rdeas. Ele dever para
comear o movimento interessar-se em sustentar previamente a perna do lado
para onde o cavalo deve ir, a fim de evitar que a garupa preceda as espduas.
Por exemplo: para ir direita? Perna direita primeiro, mo levada para a direita,
e perna esquerda. intil que eu recomende a maior rapidez neste emprego
sucessivo das ajudas.
No deixando as marchas laterais, mais nada a desejar; praticamo-las ao trote,
em seguida ao galope, depois de termos exercitado o cavalo nestes
andamentos, para os quais se graduar este trabalho como para o passo.
As descidas de mo, as descidas de mo e de pernas, completando as
marchas laterais, lev-las- sua perfeita execuo. preciso ter ateno
regularidade dos primeiros passos laterais. O cavalo deve trabalhar com a
mesma facilidade s duas mos. O cavaleiro sentir em que lado h mais
resistncia, e saber vencer prontamente essa resistncia exercitando-o mais
frequentemente.
Percebe-se que se o cavalo vai de um membro para o outro, com uma
velocidade igual do contacto que recebe, poder executar todas as figuras do
picadeiro.

-75Para que as marchas laterais sejam regulares, preciso: 1 que o cavalo


esteja sempre na mo; 2 que as suas espduas e a sua garupa estejam sempre
sobre a mesma linha; 3 que o cruzamento dos membros se faa de tal maneira
que os ltimos a moverem-se passem pela frente dos que iniciam o movimento.
Quer isto dizer que o anterior do lado para onde se vai, deixa o solo em primeiro
e seja seguido pelo posterior do lado oposto; tambm necessrio que a cabea
do cavalo esteja ligeiramente voltada para o lado para que vai, a fim de que
possa ver o terreno sobre o qual ele caminha.
Esta ultima posio, que o torna mais gracioso, servir tambm ao cavaleiro
para moderar a deslocao das espduas do animal, ou dar-lhes mais
actividade.
tambm com esta atitude que ele poder regular e sobretudo cadenciar os
seus movimentos.
Para que o cavalo permanea no correcto equilbrio que este exerccio exige, o
cavaleiro deve servir-se das suas duas pernas para conservar a harmonia e a
regularidade de aco no antemo e no postmo. Se a perna esquerda que
empurra a massa para a direita, a perna direita que serve para a activar e levla para diante; ela modera a aco da perna esquerda, mantm o cavalo na
mo, impede-o de recuar, pe-o para diante, diminui ou aumenta o cruzamento
de um membro sobre o outro e assegura assim a cadncia graciosa e regular do
movimento.

-76-

XIX
DO TROTE
O cavaleiro abordar este movimento muito moderadamente de inicio,
seguindo exactamente os mesmos princpios que para o passo. Manter o seu
cavalo perfeitamente ligeiro, sem esquecer que quanto mais vivo for o
andamento, mais propenso tem o cavalo a recair nas suas contraces
naturais. A mo dever portanto redobrar de habilidade, a fim de conservar
sempre a mesma ligeireza, sem prejudicar no entanto a impulso necessria ao
movimento. As pernas secundaro a mo e o cavalo, fechado entre estas duas
barreiras que s faro obstculo s suas ms predisposies, desenvolver
depressa todas as suas belas faculdades e adquirir, com a cadncia do
movimento, a graa e a velocidade.
evidente que o cavalo bem equilibrado deve trotar mais depressa do que o
que no tem essa vantagem.
A condio indispensvel para um bom trotador o equilbrio exacto do corpo,
equilbrio que mantm a regularidade do movimento dos diagonais bipedais. D
uma elevao e uma extenso iguais, com uma ligeireza tal, que o animal pode
executar facilmente todas as mudanas de direco, abrandar, parar, ou
acelerar sem esforos a sua velocidade. A frente no tem ento o ar de trazer a
traseira a reboque; tudo se torna fcil, gracioso para o cavalo, porque as suas
foras, estando bem harmonizadas, permitem ao cavaleiro de as dispor de
maneira que elas se entreajudam constantemente.
Ser-me-ia impossvel citar o nmero de cavalos cujos andamentos tinham sido
de tal modo adulterados, que lhes era impossvel executar um s tempo de trote.
Algumas lies apenas bastaram sempre para repr estes animais em
andamentos regulares. Bastar para habituar o cavalo a trotar bem, exercit-lo
neste andamento smente cinco minutos durante cada lio. Assim que ele tiver
adquirido a facilidade e a ligeireza necessrias, pode-se faz-lo conservar o
andamento praticando descidas de mo.

-77Disse que cinco minutos de trote chegariam em princpio, porque menos a


continuidade de um exerccio do que a correco do procedimento que produz a
boa execuo. O cavalo prestar-se- melhor a um trabalho moderado e de curta
durao; a sua inteligncia, ela prpria ao familiarizar-se com esta sbia
progresso, apressar o sucesso. Ele submeter-se- sem repugnncia e com
calma a um trabalho que no ter nada de penoso para ele, e poder-se- levar,
assim, a sua educao at aos ltimos limites, no smente conservando intacta
a sua organizao fsica, como mantendo no seu estado normal as partes que
um trabalho forado poderia ter deteriorado. Este desenvolvimento regular e
geral do mecanismo do cavalo, dar-lhe-, com a graa, a fora e a sade, e
prolongar assim os seus servios, centuplicando a satisfao do verdadeiro
cuyer.

-78-

XX
DESCIDA DE MO, DESCIDA DE PERNAS, DESCIDA
DE MO E DE PERNAS

O que eu disse de uma mo sbia ou ignorante, aplica-se igualmente s


pernas.
A gradao das presses que elas devero exercer ser, segundo o caso,
analisada pela inteligncia equestre do cavaleiro, e essa anlise, mais ou menos
justa, constituir a sua cincia ou a sua ignorncia.
Entretanto, procuremos, tanto quanto possvel, os meios de combinar a aco
das mos e das pernas, a fim de que o seu acordo perfeito atinja um objectivo
preciso e evite esse trabalho sem fim que os seus erros recprocos originam.
Para bem definir o papel da mo e das pernas, vamos faz-las agir
isoladamente. Depois para constatar o seu judicioso emprego, veremos se o
cavalo ficou perfeitamente equilibrado, fazendo-o continuar movimentos
regulares, sem a ajuda da mo e das pernas. Estas descidas de mo e de
pernas

tem

uma

importncia

maior;

dever-se-

portanto

pratic-las

frequentemente.
A descida de mo contribui para fazer o cavalo conservar o seu equilbrio sem
o recurso s rdeas.
Praticar-se- a descida de mo como segue:
Depois de ter feito deslizar a mo direita at juno das rdeas, e de se ter
assegurado que esto iguais, largam-se da mo esquerda, e a direita baixa
lentamente at frente do arreio. Para que este exerccio seja correcto,
preciso que ele no altere em nada o andamento nem a posio. Talvez, de
inicio, o cavalo, entregue a ele prprio, no conserve durante mais do que
alguns passos a regularidade do andamento e a posio. Nesse caso, o
cavaleiro far sentir quer as pernas quer a mo, para trazer o cavalo s
primitivas condies.

-79Para a descida de pernas: estas relaxam-se, a mo sustentar as rdeas a fim


de lhes dar uma tenso igual. evidente que, para a regularidade deste
movimento, o cavalo dever, ao dispensar a ajuda das pernas, conservar sem
alterao o andamento e a posio.
Depois chega-se descida simultnea de mo e das pernas. O cavalo, livre
de toda a espcie de ajudas, dever todavia, como nos casos anteriores,
conservar o mesmo andamento a mesma posio ao passo, ao trote e ao
galope.
Encontrando na sua montada uma disposio evidente para a obedincia, o
cavaleiro emprega a maior delicadeza nos seus meios de controlo, e a mnima
indicao das suas intenes apesar disso compreendida. Destas relaes
entre o homem e o animal, resulta para este ultimo uma aparncia de liberdade
que lhe inspira uma nobre confiana. Ele submete-se, mas sem dar conta disso,
e o nosso escravo subjugado pode acreditar na sua completa independncia.

-80-

XXI
TRABALHO COM CHICOTE DE PICADEIRO

O chicote tem sido usado at agora como meio de correco; eu fiz dele um
meio seguro de acalmar os mais ardentes cavalos; ele tambm muito til para
obter o inicio do rassembler.
Eis como eu o emprego:
Coloquem-se do lado por onde se monta, junto cabea do cavalo; agarrem
as rdeas de brido, o corpo direito, a expresso calma e o olhar benevolente. O
chicote, agarrado na mo direita, levantado lentamente; a fita ser posta
suavemente sobre o dorso do animal. Se, aquando do contacto o cavalo procura
evit-lo por uma aco qualquer, a mo, por um movimento suficientemente vivo
da esquerda para a direita e da direita para a esquerda, impede imediatamente
esse acto de desobedincia. O cavalo tornado calmo e imvel, suportar o
contacto da fita do chicote que desliza sobre o seu dorso at que gradualmente
levada at cauda.
Continua-se este exerccio at que o cavalo no manifeste mais nenhum temor
e permanea completamente calmo
Tal o efeito dos processos aplicados com inteligncia; o cavalo compreendeos, memoriza-os e submete-se lhes sem dificuldade: tambm o emprego do
chicote de picadeiro, de punitivo que era, torna-se no moderador mais eficaz.
ento que chegado o momento de obter ligeiros efeitos de rassembler.
Chega-se a por meio de alguns apelos de lngua e de um movimento do chicote
agitado ao lado da garupa do cavalo. Contentamo-nos com uma ligeira
mobilidade, depois para-se o cavalo com a exclamao moderada de ol! E
afagando-lhe o dorso com o chicote; de modo que este ltimo meio seja mais
tarde o nico usado e que baste um ligeiro contacto do chicote para imobilizar o
animal.

-81O rassembler, tornando-se mais fcil, trar muito naturalmente aparncias de


piaffer com que o cavaleiro se dever contentar. Se, o que deve ser a nossa
meta constante, a ligeireza tambm se obtm, ns teremos por consequncia o
equilbrio do peso e das foras.
A influncia deste trabalho muito grande sobre o moral dos cavalos; alguns
que davam coices, quando alterados, foram corrigidos deste defeito em cinco ou
seis lies.
No incio, o cavalo, espantado, entrega-se s vezes a movimentos bastante
bruscos; o cavaleiro no deve deixar-se intimidar, e depressa o mais fogoso
cavalo tornar-se- calmo, submetido e obediente.

-82-

XXII
DO RASSEMBLER

Como se define rassembler, nas escolas de equitao? Rene-se o seu


cavalo elevando a mo e aproximando as pernas. Pergunto eu, a que poder
servir este movimento do cavaleiro num cavalo mal conformado, contrado, e
que se entrega a todas as ms propenses da sua natureza? Este apoio
maquinal das mos e das pernas, longe de preparar o cavalo obedincia, no
ter outro efeito seno duplicar os meios de resistncia, porque avisando-o de
que se vai exigir-lhe um movimento, fica-se incapaz de dispor das suas foras de
maneira a submet-lo.
O verdadeiro rassembler consiste em concentrar as foras do cavalo, para
facilitar em maior ou menor grau a aproximao dos posteriores, do meio do
corpo. H vrios graus de rassembler, indispensveis facilidade e
correco dos diferentes andamentos e das diferentes figuras de picadeiro.
Para melhor nos fazermos compreender, estabelecemos a seguinte escala:

Direi mais uma vez que antes de iniciar estes efeitos de rassembler
necessrio que o cavalo esteja perfeitamente ligeiro na mo; ento ser fcil
diminuir, sem constrangimento, o andamento dos anteriores e aumentar o dos
posteriores. Os primeiros efeitos de rassembler que levaro os posteriores aos
graus 1, 2, e 3, sero teis aos andamentos de trote cadenciado ou alongado, e
do galope moderado.

-83Esse rassembler pode obter-se trabalhando ao passo com o emprego das


pernas e mesmo da espora, se a aco das pernas for insuficiente; a mo
dever destruir todas as contraces prejudiciais que possam produzir-se, e
facilitar assim o justo equilbrio til ao rassembler. pelo emprego destes
meios que se chegar a obter que os posteriores ganham em velocidade aos
anteriores. Quanto ao rassembler mais completo, no qual os posteriores
atingem os graus 4, 5, e 6, necessrio, para o obter, parar o cavalo e
multiplicar as oposies de mo e de pernas ou esporas, at que ele se
mobilize,

tanto

quanto

possvel,

sem

avanar,

ou

avanando

imperceptivelmente, depois par-lo pelo efeito de conjunto. A repetio


frequente, desta mobilizao mais ou menos regular dos posteriores conduzir
insensivelmente ao rassembler o mais completo, e esse rassembler, dar
como resultado natural o piaffer com ritmo, medida e cadncia. Se o cavalo
bem conformado, o rassembler obter-se- facilmente e depois, rapidamente, as
grandes dificuldades da equitao que dele dependem. Resta saber se
possvel abord-las quando se tem como objecto um cavalo de construo
medocre, quer dizer possuindo uma parte dos seguintes defeitos: as ancas
curtas, os rins longos e fracos, a garupa baixa, ou demasiado alta relativamente
ao garrote, as coxas afiladas, os curvilhes mais ou menos bicudos, demasiado
prximos ou demasiado afastados um do outro, demasiada ou demasiado pouca
aco; sou forado a confessar que estes tipos de cavalo apresentam grandes
dificuldades; mas ultrapassando-as, prova-se que se no smente cuyer,
mas ainda homem de inteligncia, de sentido e de percepo equestres.
J expliquei e demonstrei que o cavalo no tem a boca rija; eu disse que a
fraqueza dos rins, a m disposio do postmo so em geral as nicas causas
das resistncias que o cavalo apresenta. Com efeito, se o comprimento do
dorso, por exemplo, afasta os posteriores do lugar que eles deveriam ocupar
para que o movimento fosse regular, a flexo e extenso dos curvilhes que
recebem o peso e o atiram para diante s podem fazer-se penosamente; para
remediar esses inconvenientes, que tornam impossvel qualquer bela educao,
que preciso recorrer aos primeiros efeitos de conjunto, uma vez obtida a
colocao em mo; nesse caso, os posteriores aproximar-se-o do centro e
ficaro no lugar que eles ocupam naturalmente nos cavalos bem conformados.

-84Porque que certos cavalos resistem na maxila e no pescoo? Porque o dorso


as ancas e os curvilhes, funcionam mal, opondo-se translao regular do
peso. O que confirma este principio, que quanto mais um cavalo tem ligeireza
e flexibilidade natural na maxila, mais a sua conformao se aproxima da
perfeio; nesse caso, as suas disposies fsicas esto na boa proporo para
obter imediatamente um correcto equilbrio; tambm o rassembler completo,
fcil para as boas conformaes, torna-se de uma dificuldade muito grande para
as conformaes medocres. preciso empregar meios muito metdicos e ser
dotado de um grande tacto para levar esta espcie de cavalos a executar um
trabalho complicado e preciso. Direi mesmo que semelhante tarefa no teria
sucesso, se fosse realizada por um cavaleiro que no praticasse o mtodo em
todos os seus pormenores e no seu conjunto. O cavalo mal conformado no
adquire jamais a graa do cavalo naturalmente bem equilibrado; mas como ele
belo para os observadores hbeis e eruditos! Eis o maravilhoso resultado da
equitao: A arte fez mais do que a natureza.
O rassembler completo, quer dizer quele que leva os posteriores aos graus
4 e 5, serve para o piaffer, para a passage para diante ou para a retaguarda,
para o galope curto, espcie de terra a terra, para as piruetas ordinrias, para o
galope retaguarda, etc., etc. Ele indispensvel em todos os movimentos
ascensionais, porque nessa posio os curvilhes executam mais facilmente a
flexo de baixo para cima do que de trs para diante, o que prova que uma vez o
rassembler completo obtido, o cavalo pode executar os mais difceis
movimentos, sem que isso lhe seja penoso, e sem lesar a sua construo; as
suas atitudes sero sempre correctas, os seus pontos de apoio exactos, e os
seus movimentos sempre graciosos.
O animal est ento transformado numa espcie de balana, em que o
antemo e o postmo representam os dois pratos, e bastar o mnimo apoio
sobre um dos dois para os determinar imediatamente na direco que quisermos
imprimir-lhe.

-85O cavaleiro reconhecer que o rassembler completo quando sentir o cavalo


pronto, por assim dizer, a elevar-se nos quatro membros. com este trabalho
que se d ao cavalo o brilho, a graa e a majestade; no mais o mesmo
cavalo, a transformao completa. Se tivemos que empregar a espora, no
incio, para levar at aos seus ltimos limites essa concentrao de foras, as
pernas chegaro, a seguir, para obter o rassembler necessrio cadncia e
elevao de todos os movimentos complicados.
Terei necessidade de recomendar prudncia neste trabalho? Se o cavaleiro,
chegado a este ponto da educao do seu cavalo, no sabe compreender e
captar por ele mesmo a finura de tacto, a delicadeza de procedimentos
indispensveis boa aplicao destes princpios, isso ser uma prova de que
ele destitudo de qualquer sentimento equestre, e todos os meus conselhos
no saberiam remediar a essa imperfeio da sua natureza.

-86-

XXIII
DO GALOPE
Falei longamente do galope no dicionrio; limitar-me-ei aqui a dar alguns
conselhos que podero acelerar a educao do cavalo. Vou supor que o
cavaleiro seguiu a progresso que indiquei, e que o seu cavalo est ligeiro na
mo, direito de espduas e ancas, familiarizado com as pernas, a espora, e
aguentando os dois primeiros graus do rassembler, etc. Evidentemente esse
cavalo est preparado para o galope, e desde que o cavaleiro no cometa erros
graves, bastaro algumas lies para que o cavalo adquira a posio para sair
ao galope na mo esquerda ou na mo direita. Examine-mos os erros que o
cavaleiro pode cometer. Ele quer fazer sair na mo esquerda, suponhamos, e
por negligncia ou falta de tacto ele condiciona-o para sair para a direita:
[necessariamente a sada ter lugar para a direita] primeira falta cometida. Se o
cavaleiro se apercebe, e pra logo o seu cavalo, para lhe dar a correcta posio
que determinar a sada para a mo esquerda, este primeiro erro est reparado.
Mas se o cavaleiro no se apercebe do seu erro antes de algumas passadas de
galope, e s ento pra o seu cavalo, este no poder distinguir se a paragem
ocorreu pelo belo prazer do seu mestre, ou se a represso um pouco tardia do
erro cometido. Compreende-se qual o atraso na educao do cavalo que esta
falta de tacto ou de cincia do cavaleiro causar.
No smente o cavaleiro evitar cometer os erros que acabo de assinalar,
mas, antes de tudo, dedicar-se- a prevenir as falsas sadas, dado que cada
movimento o resultado de uma posio que por sua vez a consequncia de
uma correcta repartio do peso e da fora do animal. Ele dever de incio dar
ao cavalo a posio indispensvel sada na mo esquerda. Seguindo este
princpio, que a base da cincia da equitao, ele obriga o cavalo a fazer bem,
e obtm em algumas lies sadas fceis, regulares, nesta ou naquela mo.

-87Nas primeiras vezes, como o andamento do galope predispe o cavalo a uma


certa resistncia, dever empregar, com diferentes variaes, as duas foras
directas, perna esquerda e rdea esquerda, a fim de combater essas
resistncias que um equilbrio no exacto acarreta sempre, e dar ao cavalo a
posio que lhe permita sair na mo esquerda.
Mas assim que as sadas se tornem fceis, o cavaleiro substitui as foras
directas pelas foras opostas, perna direita e mo levada para a esquerda. Dado
que no h mais resistncia, o emprego das foras directas teria como efeito
destruir o equilbrio antes melhorado. Bom no primeiro caso, este emprego das
foras directas tornar-se-ia prejudicial no segundo: por isso o cavaleiro recorrer
smente perna direita para a mo esquerda, e perna esquerda para a saida
para a direita. Acho intil insistir sobre as vantagens que os cavaleiros
inteligentes e dotados de tacto retiraro desta sbia progresso, aonde nada
deixado ao acaso.

-88-

XXIV
SALTO DE VALA E DE BARREIRA
Todos os cavalos podem saltar, e a aptido proporcional sua energia e s
suas capacidades naturais. Nenhumas combinaes da cincia podem substituir
estas condies primordiais; mas eu afirmo que pela educao bem dirigida
todos os cavalos podem aprender a saltar melhor.
O ponto capital levar o cavalo a experimentar este trabalho de boa vontade.
Se se seguiram pontualmente todos os procedimentos que indiquei para dominar
as foras instintivas do animal e met-lo sob a influncia das nossas, reconhecese a utilidade desta progresso pela facilidade que se ter a fazer o cavalo
transpor os obstculos que se encontrem no caminho. Sobretudo, jamais se
deve recorrer, em caso de luta, a meios violentos, tais como o chicote, nem
procurar excitar o animal com gritos; isso s pode produzir um efeito moral bom
para assustar. Todavia a exclamao: Hop! emitida com tacto no momento em
que o cavalo deve elevar-se, dar-lhe- um encorajamento til. Mas devemos
abster-nos de qualquer grito, se no estamos seguros de os emitir em tempo
oportuno, porque eles seriam um obstculo regularidade do impulso do animal.
Ora, por meio das ajudas que devemos antes de tudo lev-lo a obedecer, pois
s elas podem p-lo em condies de compreender e de executar. Deve-se
portanto lutar com calma, e procurar ultrapassar as foras que o levam recusa,
agindo directamente sobre elas. Para fazer saltar um cavalo, espera-se que ele
responda francamente s pernas e espora, para ter sempre um meio seguro
de domnio.
A barreira fica no cho at que o cavalo a passe sem hesitao; eleva-se
depois alguns centmetros, aumentando progressivamente a altura at ao ponto
que o animal possa transpor sem esforos demasiado violentos. Ultrapassar
este preciso limite, seria arriscar-se a fazer aparecer no cavalo uma averso que
se deve evitar com todo o cuidado. A barreira assim elevada com cautela dever
ser fixada porque o cavalo,

-89disposto indolncia, deixa de respeitar um obstculo que o simples contacto


das suas extremidades baste para o derrubar. A barreira no dever estar
envolta em nenhuma cobertura destinada a diminuir a sua dureza; deve-se ser
severo quando se exigem coisas possveis, e evitar os abusos que uma
complacncia irreflectida acarreta.
Antes de se preparar para saltar, o cavaleiro segura-se com energia suficiente
para que o seu corpo no se adiante ao movimento do cavalo. Os seus rins
sero flexveis, as suas ndegas bem fixadas sela, as suas pernas envolvendo
exactamente o corpo do cavalo, para que ele no sinta nem choque nem
reaco violenta. A mo, na sua posio natural, agarra as rdeas de maneira a
sentir a boca do cavalo para avaliar os efeitos da impulso. nesta posio que
o cavaleiro conduzir o animal sobre o obstculo; se este chega a com a
mesma franqueza de andamento, uma ligeira oposio das mos e das pernas
facilitar a elevao do antemo e o impulso da extremidade posterior. Assim
que o cavalo se eleva, a mo cessa o seu efeito, para se fixar novamente
quando os anteriores chegam ao solo, a fim de os impedir de se flectirem sob o
peso do corpo.
Contentar-nos-emos com executar alguns saltos em harmonia com as
possibilidades do cavalo, e evitar-se- sobretudo de levar a bravata at querer
forar o animal a transpor obstculos acima das suas foras. Conheci muito
bons saltadores que se conseguiu desanimar assim, para sempre, e que
nenhuns esforos podiam decidi-los a transpor alturas ou distncias metade das
que eles saltavam facilmente no princpio. Eu venho recomendar um processo
mais eficaz, mais metdico para ensinar todos os cavalos a saltar melhor. Fao
agarrar por dois homens, longe da parede, uma barra nua, a 6 polegadas do
solo. O cavaleiro vai a passo para essa barra, e no momento em que o cavalo,
ajudado pelo seu cavaleiro, transpe, os dois homens elevam a barra a 6
polegadas. Fao recomear at que o cavalo transponha a barra sem lhe tocar,
apesar do levantamento repetido a cada salto. Ento fao agarrar a barra a um
p1 acima do solo, e, como anteriormente, ela ser elevada a 6 polegadas no
momento do salto.
(1) 1 polegada = 1,54 cm; 1 p= 30,5 cm.

-90Assim que o cavalo estiver habituado a transpor esta nova altura, fao agarrar
gradualmente a barra 6 polegadas mais alto, fazendo-a subir 6 polegadas a cada
salto, e chego, depois de algumas lies dadas com a gradao referida, a fazer
saltar qualquer cavalo, em altura, obstculos que eles no teriam jamais podido
saltar. Este procedimento simples e bem aplicado ser til mesmo para os
cavalos excecionais, tal como os cavalos de steeple-chase, ensinando-lhes a
melhor voltarem para ganharem tempo, e ele tornar as quedas menos
frequentes e menos perigosas.

-91-

XXV
DO PIAFFER
Todos os cavalos podem fazer piaffer regularmente; mas no podem, todos,
ter a mesma elevao, a mesma elegncia. Distingo trs gneros de piaffer : o
piaffer lento, o piaffer precipitado, o piaffer contrariado. O piaffer regular
quando cada diagonal se eleva e retoma o solo em intervalos iguais. O animal
no deve submeter-se mais mo do que s pernas do cavaleiro, a fim de
conservar a preciso do equilbrio equestre. Assim que o cavalo est preparado
pelo rassembler, basta, para obter um esboo de piaffer, comunicar ao
cavalo, com as pernas, uma vibrao, de incio ligeira, mas repetida
frequentemente. Entendo por vibrao uma sobrexcitao de foras, que o
cavaleiro deve sempre regular.
Uma vez obtida a mobilidade dos membros, pode-se comear a regular, a
diminuir a cadncia. Aqui ainda, eu procurarei em vo indicar com a caneta o
grau de delicadeza necessrio nos procedimentos do cavaleiro, visto que os
seus efeitos devem reproduzir-se com uma grande preciso e um a propsito
sem igual. pelo apoio alternado das duas pernas que conseguir prolongar os
balanos do corpo do cavalo, de maneira a mant-lo mais tempo sobre um ou
outo bpede. Ele aproveitar o momento em que o cavalo se preparar para se
apoiar no solo, para fazer sentir a presso da sua perna do mesmo lado e
aumentar a inclinao do animal no mesmo sentido. Se esse momento bem
agarrado, o cavalo balanar-se- lentamente, e a cadncia adquirir essa
elevao to apropriada a fazer notar toda a sua nobreza e toda a sua
majestade. Essas aces das pernas so difceis e exigem uma grande prtica;
mas os seus resultados so demasiado brilhantes para que o cavaleiro no se
esforce para extrair da as vantagens.
O movimento precipitado das pernas do cavaleiro tambm acelera o piaffer.
portanto ele que regula sua vontade a maior ou menor velocidade da
cadncia. O trabalho do piaffer s brilhante e completo quando o cavalo o
executa sem repugnncia, o que sempre acontece quando a harmonia do peso e
das foras, til cadncia, se conservar.

-92-

XXVI
DIVISO DO TRABALHO
Acabei de desenvolver todos os meios a empregar para completar a educao
do cavalo; resta-me dizer como que o cuyer dever dividir o seu tempo para
ligar entre eles os diversos exerccios e para passar do simples ao complexo. 50
dias de trabalho a 2 lies por dia de meia hora, trs quartos de hora no mximo,
chegaro para levar o mais novo cavalo a executar regularmente todos os
exerccios precedentes. Eu prefiro duas curtas lies, uma de manh, outra
tarde; elas so necessrias para obter excelentes resultados. Desencoraja-se
um cavalo jovem mantendo-o demasiado tempo em exerccios que o fatiguem
tanto mais que a sua inteligncia est menos preparada para compreender o
que se exige dele. Eu aconselho a dar duas curtas lies por dia, porque, em
minha opinio, um intervalo de vinte e quatro horas entre cada lio
demasiado longo para que o animal possa recordar-se bem amanh do que
aprendeu na vspera. Estabelecendo a ordem do trabalho tal como se encontra
no quadro anexo seguinte, bem entendido que me baseio em aptides mais
usuais dos cavalos; um cuyer, dotado de algum tacto, compreender bem
depressa as modificaes que dever introduzir na prtica, segundo a natureza
particular do seu aluno. Um tal cavalo, por exemplo, exigir maior ou menor
persistncia nas flexes; esse outro na parte de trs; com o cavalo frio e aptico,
ser necessrio usar a espora antes do tempo que eu preconizei. Tudo isto
questo de inteligncia; seria ofender os meus leitores sup-los incapazes de
suprir os pormenores alis impossveis de precisar. Compreende-se facilmente
que existam cavalos irritveis e mal conformados cujas predisposies
defeituosas foram aumentadas pela influncia de uma m educao inicial. Com
tais elementos, deve-se necessariamente ser mais persistente no trabalho das
flexibilizaes e do passo. Em todo o caso, quaisquer que sejam as
modificaes ligeiras de que necessitam as diferentes disposies dos
indivduos, eu insisto em dizer que no h cavalos cuja educao no possa ser
feita, num ms e meio, dois meses. Esse tempo chegar sempre para dar s
foras do cavalo a aptido necessria execuo de qualquer movimento; a
perfeio da educao depender da finura de tacto do cavaleiro.

-93-

EDUCAAO DO CAVALO

GRADAO DO TRABALHO

-94Primeira Lio a p
TRABALHO VARA

Flexo da maxila: 1 com as rdeas de freio e brido de um s lado, com a de


brido para a frente; 2 com as duas rdeas de freio e do brido; 3 com as
rdeas de brido cruzadas debaixo do queixo.
Flexo do pescoo: 1 com o freio; 2 com o brido, 3 com o freio, 4 flexo
directa com as duas embocaduras.

Mobilizao da garupa com ajuda da vara.


Recuar.
Montar a cavalo e apear; repetir este exerccio at que o cavalo fique calmo
ao ser montado.
2 dias, 2 lies por dia de de hora.

Segunda lio.
Repetio do trabalho anterior. Marchas laterais com a vara.
LIO MONTADO
Flexo directa da cabea, ou ramener primeiro com o brido, depois com o
freio, sem pernas, depois com as pernas. Flexo do pescoo com o brido e
com o freio. Flexes laterais da garupa. Recuar um passo de incio. Andar ao
passo em linhas direitas, para a mo direita e para a mo esquerda com o
brido.
3 dias, 2 aulas por dia de horas.

-95-

Terceira lio
Repetio do trabalho antecedente estando menos tempo em cada exerccio.
Espdua a dentro, a p com vara.
Parado: ramener com a ajuda das pernas. Ao passo, colocao em mo.
Mudanas de mo. Doublers e meias voltas ordinrias. Terminar os Doublers
e as mudanas de mo por dois passos de lado.
Meia pirueta invertida em dois tempos.
Ao trote: ramener. Doubler e mudar de mo. Recuar vrios passos.
6 dias, 2 aulas por dia de horas.

Quarta lio
Repetio dos exerccios anteriores.
Ramener em estao com o apoio da espora redonda ou efeitos de
conjunto.
Voltas e meias voltas ao passo e ao trote. Serpentina. Contra passagens de
mo.
Terminar as mudanas de direco por 4, 5 e 6 passos laterais.
Iniciao da pirueta ordinria.
Descida de mo e de pernas. Trabalho individual 1/4 de flexo do pescoo
em andamento.
6 dias, 2 aulas por dia de horas.

-96-

Quinta lio
Repetio do trabalho anterior.
Ramener completo nos ataques1.
Mudana de mo em duas pistas.
Contra- passagens de mo em duas pistas.
Mudanas de mo invertida.
Piruetas invertidas e ordinrias inteiras.
Cabea ao muro, espdua a dentro, 5 ou 6 passos.
Comeo de piaffer ou rassembler com a vara, ou o chicote, a p,
depois a cavalo.
Sadas a galope para a mo direita e para a mo esquerda, nos dois
ltimos dias.
6 dias, 2 aulas por dia de horas.

Sexta lio
Repetio das lies anteriores exigindo mais preciso e regularidade.
Passos de lado ao trote, trs passos de inicio.
Recuar todo o comprimento do picadeiro.
Mudanas de direco a galope. Galope para a direita e para a
esquerda na mesma mo, nos dois ltimos dias.
5 dias, 2 aulas por dia de horas.
(1) O contacto da espora e os ataques como meio de concentrao s se devem praticar com
rosetas redondas ou pouco aguadas; seria perigoso empreg-los no ensino do cavalo da
tropa. O soldado no deve servir-se da espora para mais do que pr o seu cavalo para
diante, quando ele resiste presso das pernas.

-97Stima lio
Repetio dos exerccios anteriores.
Passar do trote ao galope e vice-versa.
Andar a trote e parar.
Paragens ao galope.
Passagens de mo ao galope.
8 dias, 2 aulas por dia de horas.

Oitava lio.
Marcha lateral ao trote e ao galope.
Passagens de mo ao galope na mesma direco.
Passar do galope ordinrio ao galope alongado e vice-versa. Pirueta
ordinria aps a paragem e nova sada ao galope.
Salto da vala e da barreira.
6 dias, 2 aulas por dia de horas.

Para a cavalaria.
Ordem unida.
Habituar os cavalos ao sabre e aos barulhos de guerra.
Trabalho com o sabre.
Repetir os exerccios, com os cavalos carregados e equipados.
7 dias, 2 aulas por dia de horas.

-98-

XXVII
O MEU MTODO NO EXTERIOR
Alguns amadores que s praticaram o meu mtodo superficialmente, se bem
que satisfeitos com os resultados obtidos no picadeiro, ficam surpreendidos de
no continuarem a encontrar na primeira vez no exterior a mesma ligeireza e a
mesma calma. Gritam imediatamente: O mtodo, bom para o picadeiro,
ineficaz quando o cavalo vai para o exterior. Surgem resistncias inesperadas, o
cavalo tem medo, afasta-se dos objectos que encontra, a sua aco mais
considervel e a sua alegria torna-se inquietante para o cavaleiro. De
consequncia em consequncia, eles encontram no mtodo uma lacuna ao
abrigo da qual eles mascaram a sua falta de habilidade ou de sangue frio
equestre.
evidente que no meio de barulhos e objectos novos, com espao na frente,
qualquer cavalo, seja qual for alis a perfeio da sua educao de picadeiro,
ser surpreendido nas primeiras vezes que se monte ao ar livre. Os seus
sentidos, o seu instinto, sobrexcitado por sensaes desconhecidas, sero para
alm disso submetidos aco inebriante do ar livre. As resistncias instintivas,
manifestadas no incio da educao, surgiro parcialmente de novo, assustaro
o cavaleiro pusilnime que, no cavalo que ele supunha submetido, no encontra
mais do que um cavalo caprichoso e sem ligeireza. Mtodo impotente!
Vejamos ento se a crtica fundada; a lgica reduzi-lo- rapidamente ao seu
real valor.
Digamos para comear, que vimos cavalos muito francos de andamentos nas
ruas e nas estradas, tornarem-se muito inquietos ao entrarem num picadeiro e
perderem subitamente a graa e a facilidade dos seus movimentos. Por maioria
de razo, um cavalo, ensinado entre as quatro paredes de um picadeiro, deve
ficar mais ou menos impressionado quando se leva, sem transio, para o meio
de mil objectos desconhecidos. Mas, o que que se est a dizer?

-99Achais que mais fcil levar um cavalo at um objecto qualquer, moderar o


seu medo ou seu mpeto, quando ele dispe livremente das suas foras
instintivas, ou quando por uma educao bem dirigida o cavaleiro dele senhor?
Dominareis mais facilmente o cavalo que nunca foi submetido ou quele que o
exerccio tornou suave e obediente no picadeiro? Esta hiptese inadmissvel.
A influncia da educao pode diminuir nesse primeiro momento, mas ela
retomar bem depressa a sua autoridade e far desaparecer essas resistncias
ocasionais para as substituir a partir da pela ligeireza constante.
Porque, exceptuando alguns raros cavalos que necessitam de uma ateno
permanente da parte do cavaleiro para reprimir a sua impressionabilidade
excessiva, todos reassumem o seu grau de educao metdica. Se alguns
cavalos fogem regra geral, preciso reconhecer que, sem os efeitos da
educao, eles teriam ficado completamente impossveis de montar.
V-se portanto, que o cavalo ensinado no exige mais do que uma ateno
regular do cavaleiro para reencontrar no exterior a sua calma e a sua submisso,
enquanto, no caso contrario, ele tornar-se-ia no smente intil, mas ainda
perigoso para o seu mestre. Tranquilizamos portanto os cavaleiros tmidos,
certificando-os de que uma educao suplementar, mas muito curta, e fundada
sempre nos princpios do mtodo, dar ao cavalo montado seja nas ruas, seja a
passear, as qualidades brilhantes que admirvamos no picadeiro. Em apoio da
minha assero, citarei por exemplo os cavalos de artilharia que, se bem que
impassveis com o barulho do canho, se assustam com a crepitao do fogo da
infantaria e com o barulho dos tambores na primeira vez que eles os ouvem, e
retomam a calma ao fim de alguns instantes. Creio ter destrudo as objeces
que me tinham colocado: ser-me- permitido dar alguns conselhos a todos os
apreciadores de cavalos?
Eu assinalo aos Srs. desportistas, de quem eu respeito infinitamente os
gostos, uma tendncia infelizmente generalizada. S se pede ao cavalo que
tenha sangue. Todas as qualidades cavalares se resumem numa palavra:
Velocidade. Sob o pretexto de obter este ideal do belo, o fsico do cavalo de
todo sacrificado.

-100Quer-se lev-lo rapidez do vapor. Mas no se lembram que o vapor reclama


uma mquina slida, e que a prpria mquina precisa de traves. Ao vosso
cavalo a vapor, deem-lhe portanto uma mquina slida dotando-a de um corpo
robusto, deem traves vossa mquina instruindo a vossa montada.
Que as pessoas que se encontram to frequentemente expostas aos perigos
das fugas descontroladas dos cavalos atrelados evitem estes acidentes
quotidianos, ensinando ou fazendo ensinar montados os seus cavalos antes de
os submeter imprudentemente aos arreios da viatura. Com esta educao
prvia, no smente os cavalos se tornaro mais fceis de conduzir, como tero
com os arreios a posio e os andamentos brilhantes que convm a cavalos de
luxo.

-101-

XXVIII
APLICAO DO MTODO AO TRABALHO DOS
CAVALOS:
PARTISAN, CAPITAINE, NEPTUNE, BURIDAN

Eu montei em pblico 26 cavalos, e se, ao principio, algumas pessoas


admiradas com este trabalho novo para elas, atriburam o mrito, uns msica,
outros a processos pueris e fora do domnio da equitao, elas depressa
reconsideraram o seu erro, e reconheceram que o artista mais no tinha feito do
que aplicar os princpios do mtodo. Eis a nomenclatura destes novos
movimentos, com algumas palavras sobre os meios que permitiro aos
cavaleiros hbeis execut-los.
1 Flexo instantnea e manuteno no ar de uma ou outra extremidade
anterior, enquanto as outras trs permanecem fixadas no solo.
A maneira de fazer o cavalo levantar um dos anteriores bem simples, se o
animal equilibrado: basta, para fazer levantar, por exemplo, a mo direita,
inclinar ligeiramente a cabea para a direita, fazendo refluir o peso do corpo
sobre a parte esquerda. As duas pernas do cavaleiro sero mantidas com
energia (a esquerda um pouco mais que a direita), para que o efeito da mo que
leva a cabea para a direita no actue sobre o peso, e que a fora que serve
para fixar a parte sobrecarregada d mo direita do cavalo aco suficiente
para a fazer levantar do cho. Repetindo algumas vezes este exerccio,
consegue-se manter esta mo no ar o tempo que se quiser.
2 Mobilidade das ancas, apoiando-se o cavalo sobre as mos, enquanto as
pernas se balanam alternativamente uma sobre a outra, executando a perna
que est no ar o seu movimento da esquerda para a direita sem tocar a terra
para se tornar, por sua vez, ponto de apoio para que a outra se levante e
execute em seguida o mesmo movimento.

-102A mobilidade simples das ancas um dos exerccios que indiquei para a
educao elementar do cavalo. Completar-se- este trabalho multiplicando o
contacto alternativo das pernas, at que se consiga levar facilmente a garupa do
cavalo de uma perna sobre a outra, de maneira que o movimento da direita para
a esquerda e da esquerda para a direita no possa exceder um passo.
Este trabalho apropriado para dar ao cavaleiro uma grande finura de tacto, e
prepara o cavalo para responder s mais ligeiras presses das pernas. Bem
entendido que todas estas figuras de picadeiro no sero regulares se ao
mesmo tempo no forem acompanhadas de ligeireza.
3 Transio instantnea do piaffer lento ao piaffer precipitado, e viceversa
Depois de ter levado o cavalo a desenvolver uma grande mobilidade dos
quatro membros, deve-se regular-lhes o movimento. pela presso lenta e
alternada das suas pernas que o cavaleiro obter o piaffer lento; acelera-o
multiplicando a presso das pernas. Pode-se obter estes dois piaffers de todos
os cavalos.
4 Recuar com uma elevao igual dos membros transversais que se afastam
e se pousam ao mesmo tempo no solo, executando o cavalo o movimento com
tanta franqueza e facilidade como se avanasse e sem ajuda aparente do
cavaleiro.
O recuar no novidade mas o certamente nas condies que acabo de
expor. S com a ajuda de um equilbrio exacto a repartio do peso
perfeitamente regular. Esse movimento torna-se ento to fcil e to gracioso
quanto penoso e desprovido de elegncia quando o transformam em
acuamento.
5 Mobilizao simultnea e no mesmo stio dos dois membros de um diagonal;
o cavalo, depois de ter levantado os dois membros opostos, leva-os para trs
para os trazer de seguida para o lugar que ocupavam, e recomear o mesmo
movimento com a outra diagonal.

-103Assim que o cavalo no apresente mais nenhuma resistncia, ele apercebese das mais ligeiras aces do cavaleiro, destinadas neste caso a deslocar o
mnimo possvel do peso e de foras para conseguir mobilizar as duas
extremidades opostas. Repetindo este exerccio, tornmo-lo, em pouco tempo,
familiar ao cavalo. A destreza do mecanismo favorecer o desenvolvimento da
inteligncia.
6 Trote suspenso; o cavalo, depois de ter levantado as mos, leva-as para
diante mantendo-as por instantes no ar antes de as pr no cho.
Os processos que constituem a base do meu mtodo reproduzem-se em cada
movimento simples, e mais ainda nos mais complicados movimentos. Se o
equilbrio s se obtm pela ligeireza em contrapartida no h ligeireza, sem
equilbrio; pela reunio destas duas condies que o cavalo adquirir a
facilidade de estender o seu trote at aos ltimos limites possveis, e mudar
completamente o seu andamento primitivo.
7 Trote em serpentina, o cavalo voltando direita e esquerda para
regressar cerca do ponto de partida depois de ter feito cinco ou seis passos em
cada direco.
Este movimento no apresentar nenhuma dificuldade, se conservar o
cavalo na mo executando ao passo e ao trote flexes de pescoo. Percebe-se
que um tal trabalho impossvel sem essa condio.
8 Paragem sbita com a ajuda das esporas, estando o cavalo a galope.
Quando o cavalo perfeitamente descontrado, suportar convenientemente os
ataques e rassembler, ele estar preparado para executar o tempo de paragem
nas condies acima descritas. Comea-se a aplic-las no galope curto, para
atingir sucessivamente a maior velocidade. As pernas, precedendo a mo,
concentram as extremidades posteriores do cavalo debaixo do centro do corpo,
depois um rpido efeito da mo, fixando-as nessa posio, pra imediatamente
o impulso. Por este meio, cuida-se da constituio do cavalo, que assim se pode
conservar sempre livre de taras.

-1049 Mobilidade contnua em estao de uma das extremidades anteriores,


executando o cavalo pela vontade do cavaleiro o movimento pelo qual ele
manifesta frequentemente por ele prprio a sua impacincia.
Obtm-se este movimento pelo mesmo processo que serve para manter no
ar o anterior do cavalo. Para esse efeito, as pernas do cavaleiro devem exercer
um apoio contnuo para que a fora que mantm a mo do cavalo levantada
conserve bem o seu efeito, enquanto que, para o movimento de que se trata,
preciso reiterar a aco por uma multitude de pequenas presses, a fim de
determinar a mobilidade da mo que mantida no ar. Esta extremidade do
cavalo executar bem depressa um movimento subordinado ao das pernas do
cavaleiro, e se os tempos so bem coordenados, parecer, por assim dizer, que
se faz mover o animal com a ajuda de um meio mecnico.
10 Recuar em passage retaguarda, conservando o cavalo a mesma
cadncia e as mesmas batidas que na passage para diante.
A primeira condio para obter a passage retaguarda manter o cavalo
numa cadncia perfeita e to rassembl quanto possvel; a segunda reside na
habilidade do cavaleiro. Este deve procurar pouco a pouco por efeitos de
conjunto fazer primar as foras da dianteira sobre as da traseira, sem prejudicar
a harmonia do movimento. V-se ento: pelo rassembler, obtm-se
sucessivamente o piaffer, a passage retaguarda, mesmo sem a ajuda das
rdeas.
11 Recuar ao galope, sendo o ritmo o mesmo que no galope ordinrio; mas
os anteriores, uma vez levantados, em lugar de ganharem terreno, vm para
trs, para que o postmo execute o mesmo movimento retrgrado assim que as
extremidades anteriores pousem no solo.
O princpio o mesmo que para o trabalho precedente; com um rassembler
completo, os posteriores encontrar-se-o de tal maneira aproximados do centro,
que elevando o antemo, a expanso dos curvilhes s funcionar, por assim
dizer, de baixo para cima. Este trabalho, que se poder fazer executar a um
cavalo enrgico, no dever ser exigido ao que no possua de todo esta
qualidade.

-10512 Passagens de mo a tempo, operando-se cada passada de galope sobre


uma nova mo.
Compreende-se que, para praticar este trabalho difcil, o cavalo deve estar
habituado a executar perfeitamente, e o mais frequentemente possvel, as
passagens de mo ao primeiro toque. Antes de experimentar estas passagens
de mo a cada tempo, deve-se t-lo levado a executar este movimento a dois
tempos. Tudo depende da sua aptido, e sobre tudo da inteligncia equestre do
cavaleiro: com esta ltima qualidade, no h obstculo que no se possa
ultrapassar. Para executar este trabalho com toda a preciso desejvel, o cavalo
deve manter-se ligeiro, direito de espduas e ancas, conservar o seu prprio
grau de aco; por seu lado, o cavaleiro evitar acima de tudo as oscilaes
bruscas do antemo.
13 Piruetas invertidas sobre trs membros, ficando o anterior do lado para o
qual se roda no ar ou estendido durante toda a durao do movimento.
As piruetas invertidas devem ser familiares a um cavalo ensinado segundo o
meu mtodo, e eu indiquei mais acima a maneira de o obrigar a manter
levantada uma das extremidades anteriores. Se se executa bem estes dois
movimentos separadamente, ser fcil junt-los num s trabalho. Depois de se
ter preparado o cavalo para a pirueta, equilibra-se a massa de maneira a
levantar um anterior; uma vez este no ar, sobrecarrega-se a parte oposta ao lado
para que se quer voltar, pressionando sobre essa parte com a mo e a perna. A
perna do cavaleiro colocada no lado inverso, s funcionar durante esse tempo
para pr as foras para diante, a fim de impedir a mo de produzir um efeito
retrgrado.
14 Recuar com um tempo de paragem a cada passada, com a mo direita
do cavalo a ficar frente imvel e estendida em toda a distncia que a mo
esquerda percorreu, e vice-versa.
Este movimento depende da habilidade do cavaleiro, dado que ele resulta de
um efeito de foras impossveis de precisar. Se bem que este trabalho seja
pouco gracioso, o cavaleiro experimentado pode tent-lo para aprender a
modificar os efeitos das foras e adquirir todas as subtilezas da sua arte.

-10615 Piaffer regular com um tempo de paragem imediato de trs membros,


permanecendo o quarto no ar.
Tambm aqui, como para as piruetas invertidas em trs membros,
exercitando o piaffer e a flexo da mo isoladamente que se chegar a reunir
os dois movimentos. Interrompe-se o piaffer parando a contraco dos trs
membros para a transferir exclusivamente para o quarto. Basta portanto, para
habituar o cavalo a este trabalho, par-lo no piaffer, forando-o a contrair um
s dos seus membros.
16 Passagens de mo a tempo, com intervalos iguais, mantendo-se o cavalo
sobre o mesmo terreno ou avanando imperceptivelmente.
Este movimento obtm-se pelos mesmos processos que so usados para as
passagens de mo a tempo avanando; s que muito mais complicado, porque
se deve dar uma impulso suficientemente forte para determinar o movimento
dos

membros

sem

que

corpo

avance.

Esse

movimento,

exige

consequentemente, muito tacto da parte do cavaleiro, e no poder ser


praticado por um cavalo que no esteja perfeitamente ensinado, mas ensinado
como eu o concebo.
Cavaleiros que obtiveram a aparente execuo de alguns destes exerccios
de picadeiro orgulhosos desses resultados, bradaram: Eis o sistema Baucher!
Erro! No smente a execuo no era completa, como era devida sorte, ou
pelo menos a meios estranhos ao meu mtodo. Assim, o cavalo mal colocado,
estava contrado, os seus movimentos eram rudes, sem harmonia, sem graa.
Nada disto se assemelha ao meu sistema. Eu jamais peo ao cavalo a execuo
de um movimento para o qual eu no o tenha minimamente colocado, e eu no
espero uma execuo fcil sem que o equilbrio seja perfeito.

-107-

XXIX
EXPOSIO SUCINTA DO MTODO POR PERGUNTAS
E RESPOSTAS
PERGUNTA. O que entende por fora?
RESPOSTA. a potncia motriz que resulta da contraco muscular.
P. O que entende por foras instintivas?
R. Aquelas que vm do cavalo e de que ele determina o seu emprego.
P. O que entende por foras transmitidas?
R. Aquelas de que o cavaleiro coordena o emprego e que so compreendidas
imediatamente pelo cavalo.
P. O que entende por resistncia?
R. A fora que o cavalo ope procurando estabelecer uma luta que lhe parece
vantajosa.
P. Devemos interessar-nos de incio em anular as foras que o cavalo apresenta
para resistir, antes de exigir o movimento?
R. Sem dvida nenhuma, porque nesse caso a fora do cavaleiro que deve
deslocar o peso da massa encontrando-se anulada por uma resistncia
equivalente, torna-se impossvel qualquer movimento regular.
P. Porque meios se podem combater as resistncias?
R. Pela flexibilizao parcial e metdica da maxila, do pescoo, dos rins e das
ancas, e a justa repartio do peso.
P. Qual a utilidade das flexes da maxila?

-108R. Como sobre a maxila inferior que se produzem, de incio, os efeitos da mo


do cavaleiro, estes sero nulos ou incompletos se a maxila estiver fechada ou
contrada. E mais, como nesse caso, as deslocaes do corpo do cavalo no se
obtm sem dificuldade, os movimentos da resultantes sero sempre penosos.
P. Basta que o cavalo masque o freio para que a flexo da maxila no deixe
mais nada a desejar?
R. No, preciso ainda que o cavalo solte o freio, isto , que ele separe
voluntariamente e suavemente a maxila inferior.
P. Todos os cavalos podem ter essa mobilidade da maxila?
R. Todos sem excepo, se seguir a gradao indicada, e se o cavaleiro no se
deixar enganar pela flexo do pescoo precedendo a da maxila. Se bem que
esta flexo seja necessria, ela prejudicaria o jogo activo e regular da maxila, se
o precedesse.
P. Na flexo directa da maxila, deve-se exercer a tenso ao mesmo tempo sobre
as rdeas de freio e de brido?
R. No, deve utilizar-se primeiro o brido at que a maxila ceda facilmente;
empregar-se- a seguir o freio e passar-se- alternadamente de um ao outro.
P. Deve repetir-se frequentemente este exerccio?
R. preciso continu-lo at que a maxila se mobilize com uma ligeira presso
do freio ou do brido.
P. Porque que a contraco da maxila um poderoso obstculo educao
do cavalo?
R. Porque ela absorve qualquer efeito que o cavaleiro queira transmitir a toda a
massa do cavalo.
P. Os quadris podem ser flexibilizados isoladamente?
R. Sim, com certeza, e esse exerccio faz parte do que se chama mobilizao da
garupa.

-109P. Qual a sua utilidade?


R. Prevenir os maus efeitos resultantes das foras instintivas do cavalo, e fazerlhe perceber, sem que a isso se oponha, a aco transmitida pelo cavaleiro.
P. O cavalo pode executar um movimento regular sem ter um equilbrio
correcto?
R. impossvel; temos que nos preocupar com fazer tomar ao cavalo uma
posio que opere no seu equilbrio uma tal variao que o movimento seja uma
consequncia natural.
P. Que entende por posio?
R. A apropriada repartio do peso e das foras adequada aos movimentos
pretendidos.
P. Em que consiste o ramener?
R. na posio vertical da cabea, com mobilidade da maxila.
P. Como que se fala inteligncia do cavalo?
R. Pela posio, no sentido em que ela que faz perceber ao cavalo as
intenses do cavaleiro.
P. Porque que necessrio que, nos movimentos retrgrados do cavalo, as
pernas do cavaleiro precedam a mo?
R. Porque necessrio deslocar os pontos de apoio antes de deslocar-mos a
massa que eles devem suportar.
P. o cavaleiro que obriga o seu cavalo?
R. No, o cavaleiro d a aco e a posio com que pede, o cavalo responde
mudando o andamento ou a direco que o cavaleiro tinha projectado.
P. ao cavaleiro ou ao cavalo que se deve imputar o erro de uma m
execuo?

-110R. Ao cavaleiro e sempre ao cavaleiro. Como depende dele equilibrar e colocar o


cavalo de acordo com o movimento, e que com estas duas condies fielmente
preenchidas, tudo se torna regular, portanto ao cavaleiro que se deve atribuir o
mrito ou a crtica.
P. Que espcie de freio convm ao cavalo?
R. Um freio suave.
P. Porque que preciso um freio suave para todos os cavalos, seja qual for a
resistncia?
R. Porque o freio duro tem sempre o efeito de constranger e surpreender o
cavalo, e o que preciso impedi-lo de fazer mal e lev-lo a fazer bem. Ora,
s se pode obter esses resultados com recurso a um freio suave e sobretudo a
uma mo sbia; porque o freio a mo e uma bela mo faz o cavaleiro.
P. Do emprego de instrumentos de suplcio chamados freios duros, resultam
outros inconvenientes?
R. Com certeza, porque o cavalo aprende rapidamente a evitar a penosa
sujeio forando as pernas do cavaleiro: o seu poder no pode jamais ser igual
ao desse freio brbaro. O cavalo luta vitoriosamente cedendo no corpo e
resistindo no pescoo e na maxila; o que completamente contrrio ao objectivo
que nos propusemos.
P. Como se explica que quase todos os cavaleiros de renome tenham inventado
embocaduras s quais eles atribuem efeitos maravilhosos?
R. Porque faltando-lhes cincia prpria, eles tentam substituir a sua insuficincia
pelo emprego de meios mecnicos.
P. O cavalo equilibrado pode apresentar defesas?
R. No, porque a repartio correcta de peso que d essa posio ocasiona uma
grande

regularidade

de

movimentos,

seria

necessrio

alterar

enquadramento para que houvesse um acto de rebelio da parte do cavalo.


P. Qual a utilidade do brido?

esse

-111R. O brido serve para combater as resistncias laterais do pescoo, a fazer


preceder a cabea em todas as mudanas de direco quando o cavalo no
est ainda familiarizado com os efeitos do freio; ele prepara tambm a elevao
e a sustentao do pescoo.
P. Deve manter-se o cavalo muito tempo nos mesmos andamentos para
desenvolver os seus meios?
R. intil, visto que a regularidade dos movimentos resulta da regularidade das
posies; o cavalo que faz cinquentas passadas de trote regularmente est
muito mais avanado na sua educao do que se fizesse mil numa posio
viciosa. portanto sua posio que nos devemos dedicar, quer dizer,
ligeireza.
P. Em que propores se devem usar as foras do cavalo?
R. Isso no se pode definir, visto que as foras variam conforme os casos; mas
preciso ser-se avaro e no as usar sem circunspeo, sobre tudo durante o
perodo da sua educao; preciso, por assim dizer, manter-se uma reserva de
modo a que o cavalo no as desperdice inutilmente; ser ento que o cavaleiro
as utilizar com utilidade e por um longo tempo.
P. A que distncia do flanco do cavalo se deve manter a espora antes dos
ataques?
R. A roseta no deve afastar-se mais do que 4 a 5 centmetros dos flancos do
cavalo.
P. Como devem praticar-se os ataques?
R. Eles devem chegar aos flancos do cavalo num movimento repentino e
afastar-se imediatamente. Mas, de incio, devem praticar-se com apoio
progressivo.
P. Em que circunstncias o ataque se deve praticar sem a interveno da mo?
R. Quando ele tiver como objectivo dar a impulso que permite, a seguir, que a
mo coloque o cavalo.

-112P. So, esses os ataques que corrigem o cavalo?


R. No, a correco est na posio que os ataques obrigam o cavalo a tomar,
pondo as suas foras disposio do cavaleiro.
P. Que diferena existe entre os ataques praticados segundo os antigos
princpios e queles que o novo mtodo prescreve?
R. Os antigos cuyers serviam-se das esporas apenas como castigo; e nesse
caso, os ataques, longe de equilibrar o cavalo, faziam-no sempre sair da mo; o
novo mtodo usa-as para equilibrar; isto para lhe dar a posio que permite
todas as outras.
P. Quais so as funes das pernas durante os ataques?
R. As pernas devem manter-se aderente aos flancos do cavalo e no partilhar
em nada os movimentos dos tales.
P. Em que altura se devem comear os ataques?
R. Quando o cavalo aceitar pacificamente os apoios da espora sem sair da mo.
P. Porque que um cavalo equilibrado suporta a espora sem se excitar e
mesmo sem movimentos bruscos?
R. Porque a mo sbia do cavaleiro, tendo prevenido todas as deslocaes da
cabea, no deixa escapar as foras para fora de controlo; concentra-as,
fixando-as. A luta igual das foras, ou, se, se prefere, o seu conjunto, explica
suficientemente a aparente frieza do cavalo.
P. No de temer que, no seguimento desses ataques, o cavalo se torne
insensvel s pernas, e que perca a actividade conveniente aos movimentos
acelerados?
R. Se bem que essa opinio seja a das pessoas que falam do mtodo sem o
conhecer, ela no vale nada. Visto que todos estes meios servem apenas para
manter o cavalo num equilbrio correcto, a prontido dos movimentos deve
necessariamente ser o resultado e, por conseguinte, o cavalo estar disponvel
para responder ao contacto progressivo das pernas quando a mo se

-113no lhes ope.


P. Como reconhecer que um ataque correcto?
R. Assim que, longe de o fazer sair da mo, ele o faa entrar, sem intervir sobre
a fora conveniente ao movimento.
P. Como deve agir a mo nos momentos de resistncia do cavalo?
R. Os efeitos de mo devem ser proporcionais resistncia do cavalo e,
sobretudo, nunca devem ultrapass-la.
P. Em que casos se deve utilizar o serrilho, e qual a sua utilidade?
R. Devemos utiliz- lo quando a m construo do cavalo o leve a defender-se,
se bem que s lhe tenham sido pedidos movimentos simples. igualmente til
utilizar o serrilho com os cavalos retivos, atendendo a que o objectivo agir
sobre o moral, enquanto que o cavaleiro age sobre o fsico.
P. Como que nos devemos servir do serrilho?
R. No princpio deve agarrar-se a guia do serrilho a 33 ou 40 centmetros da
cabea do cavalo, tensa e mantida por um punho enrgico. preciso aproveitar
todas as oportunidades para diminuir ou aumentar o apoio do serrilho sobre o
nariz do cavalo, a fim de o usarmos como um meio de ajuda. Todos os actos de
rebelio sero reprimidos por pequenas sacadas executadas no exacto
momento da defesa. Assim que os movimentos do cavaleiro comecem a ser
entendidos pelo cavalo o serrilho tornar-se- intil; ao fim de alguns dias o
animal s precisar do freio, ao qual responder sem hesitao.
P. Em que caso o cavaleiro menos inteligente que o seu cavalo?
R. Quando este ltimo o sujeita aos seus caprichos e lhe faz fazer a sua
vontade.
P. As defesas do cavalo so fsicas ou morais?
R. As defesas comea por ser fsicas tornando-se, a seguir, morais; o cavaleiro
deve, portanto, aperceber-se das causas que as fazem aparecer, e procurar, por
um trabalho gradual, obter a correcta distribuio do peso e das foras.

-114P. O cavalo naturalmente bem equilibrado pode defender-se?


R. Ser to difcil que um cavalo que rena tudo o que h de bom, se entregue a
esses movimentos desordenados, como impossvel ao que no recebeu tais
dons da natureza, de ter movimentos regulares se a arte, bem entendido, no
tiver intervindo.
P. O que entende por rassembler?
R. A aproximao das pernas do centro do cavalo, sem alterar a sua ligeireza.
P. Pode obter-se um bom rassembler de um cavalo que no se feche com os
ataques?
R. Em muitos casos, as pernas seriam insuficientes para contrabalanar os
efeitos da mo.
P. Quando que se deve comear a pedir o rassembler?
R. Quando se obtiver a ligeireza.
P. Para que serve o rassembler?
R. Para obter sem dificuldade tudo o que h de complicado em equitao.
P. Em que consiste o piaffer?
R. Na atitude graciosa do corpo e na cadncia harmoniosa dos bpedes
diagonais.
P. H vrios gneros de piaffer?
R. Trs: o lento, o precipitado e o contrariado.
P. Dos trs qual o prefervel?
R. O piaffer lento, porque o que melhor reala o mrito do cavaleiro e a
nobreza do cavalo.
P. Deve exigir-se piaffer de um cavalo que no suportaria o rassembler?

-115-

R. No, porque seria infringir a gradao lgica que unicamente d resultados


certos. De igual modo, o cavalo que no foi conduzido por esta srie de
princpios, s penosamente e sem graa executa o que deveria conseguir com
entusiasmo e majestade.
P. Qualquer cavaleiro chega a conseguir vencer todas as dificuldades e a
apanhar as variaes do sentimento equestre?
R. Como os resultados em equitao tm como ponto de partida a inteligncia,
tudo est subordinado a essa disposio inata, mas todos os cavaleiros esto
aptos a ensinar os seus cavalos, se se limitarem na medida dos seus prprios
meios.

-116-

NOVOS MEIOS EQUESTRES


EQUILBRIO PERFEITO OU EQUILBRIO DO PRIMEIRO TIPO (1).
MOS SEM PERNAS.
PERNAS SEM MOS.

TRS NOVOS EFEITOS DE MO


1 Para obter a correcta repartio do peso.
2 Para restabelecer a harmonia das foras.
3 Para dar as posies teis s mudanas de direco pela rdea contrria.
4 Sada ao galope e passagens de mo (mos sem pernas, pernas sem mos).
Da fora e dos movimentos decompostos
Progresso do ensino.
(1) Podem distinguir-se trs espcies de equilbrio:
Equilbrio do terceiro tipo:
Resistncia constante em todas as posies, em todos os movimentos.
Equilbrio do segundo tipo:
Ligeireza acidental dependendo da posio e do movimento.
Equilbrio do primeiro tipo:
Ligeireza invarivel em todas as posies e em todos os movimentos.

-117-

NOVOS MEIOS EQUESTRES


EQUILBRIO DO PRIMEIRO TIPO
A equitao antiga trabalhava o movimento pelo movimento, dando s foras
instintivas do cavalo uma orientao mais ou menos correcta; mas jamais
conseguindo tornar ligeiro um cavalo mal conformado, porque ela no conhecia
os meios de modificar o seu equilbrio natural.
Eu tinha compreendido que a educao do cavalo estar no seu equilbrio, e
todos os meus estudos tiveram como objectivo encontrar os meios de melhorar o
mau equilbrio natural do cavalo, convencido de que, uma vez o cavalo
equilibrado, estava quase ensinado; entretanto, eu s tinha conseguido obter o
equilbrio do segundo tipo.
Por equilbrio do primeiro tipo, eu entendo a ligeireza perfeita e constante do
cavalo, em todas as posies e em todos os movimentos em qualquer dos
andamentos; deste equilbrio que me vou ocupar.
Que me seja permitido comear por responder a uma objeco que mais do
que um leitor me poder fazer.
Mas os vinte e seis cavalos que montou em pblico, e cujo trabalho foi
saudado por aplausos da multido, Capitaine, Partisan, Neptuno e os outros,
no estavam, ento, ensinados? O que entende, ento, por um cavalo
ensinado? Eu respondo: sim, eles estavam ensinados, visto que o seu trabalho
ultrapassava tudo o que se tinha feito at ento, contudo o seu equilbrio era
apenas do segundo tipo.
Com este equilbrio, eu modificava as ms condies das suas construes
mais ou menos defeituosas; eu obtinha, por momentos, uma ligeireza muito
grande, mas que diminua em resultado de um novo movimento, de uma
mudana de direco.

-118Eu anulava prontamente, verdade, essa resistncia momentnea, e adquiriria,


a seguir, uma grande ligeireza, devolvendo ao cavalo a posio correcta; mas
no tinha deixado de haver perda de ligeireza, o que podia tornar por momentos
o movimento menos gracioso e o trabalho menos exacto; e, mais, apesar dos
progressos contnuos dos meus cavalos, cada dia, eu estabeleceria um novo
desideratum, ao passo que, actualmente, uma vez terminada a sua educao eu
no tenho mais nada a desejar. O que obtenho agora dos cavalos que monto,
dando-lhes esse equilbrio perfeito, permite-me dizer que se eu pudesse mostrar
de novo ao pblico, os meus antigos cavalos, todos os apreciadores
reconheceriam a verdade do que afirmo.
necessrio portanto, chegar a este grau de perfeio do equilbrio em todos
os cavalos, apesar dos seus defeitos de conformao, para que eles conservem
uma ligeireza perfeita, constante, em todos os movimentos, mudanas de
direco e em todos os andamentos. Tal o resultado que eu obtive e que me
apresso a fazer conhecer aos cavaleiros inteligentes de todos os pases. Os
rpidos progressos que eles vero os seus alunos fazer seguindo a progresso
e empregando os novos meios que eu vou indicar, as inefveis fruies que eles
experimentaro a montar cavalos constantemente ligeiros, eis a recompensa
que ambiciono como prmio das minhas procuras incessantes, consagradas
felicidade do cavaleiro e ao bem-estar do cavalo!
Ignoro se isto orgulho: mas quando sinto o meu cavalo ceder a todas as
minhas vontades, e respondendo sem qualquer resistncia ao meu pensamento,
executar com graciosidade e uma perfeita ligeireza todos os movimentos que lhe
peo, eu sou to feliz, que longe de me sentir atingido pelo alarido dos invejosos
e a ingratido dos plagiadores, eu s tenho um desejo, o de lhes fazer partilhar a
minha felicidade.

-119MO SEM PERNAS-PERNAS SEM MO.


Vou demonstrar que o emprego simultneo das pernas e da mo nunca
permitir dar ao cavalo o equilbrio do primeiro tipo, ou a constante ligeireza.
Visto que as resistncias da maxila proveem sempre duma m repartio do
peso, como que o cavaleiro que empregue ao mesmo tempo foras impulsivas
e moderadoras, pernas e mo, poder sentir que as suas pernas no se
oponham justa translao de peso operada pela mo, e reciprocamente que
esta no tenha destrudo a preciso da impulso dada pelas pernas? Com
efeito, ou a mo foi correcta ou produziu insuficiente efeito. No primeiro e
terceiro casos, a interveno das pernas foi mais ou menos prejudicial. No
segundo caso, smente, as pernas tero corrigido o erro da mo, e a sua ajuda
ter sido oportuna.
De igual modo para as pernas no primeiro e no terceiro caso acima
mencionados: a oposio da mo ser prejudicial, e s no segundo caso,
apenas, ela ser til corrigindo o erro das pernas.
Quantos mal entendidos entre o cavalo e o seu cavaleiro; que atraso na
educao do cavalo deve trazer esta contradio perptua entre as pernas e a
mo do cavaleiro que est sempre disposto a atribuir ao cavalo os erros que o
emprego simultneo das suas pernas e da sua mo lhe faz cometer! Servindo-se
delas separadamente ele pode discernir imediatamente se o erro provem do seu
cavalo ou de si prprio, e ele ser forado a reconhecer que nove em dez vezes,
foi s ele que o cometeu.
verdade que com o tempo, depois de muitos erros corrigidos pelo seu tacto,
o cavaleiro poder dar ao seu cavalo o equilbrio do 2 tipo, mas jamais o do
primeiro tipo, esse equilbrio perfeito que permite ao cavalo conservar a
mobilidade fluida da maxila em todos os movimentos, em todos os andamentos.
No empregando seno uma fora de cada vez, seja a das pernas para
impulsionar, seja a da mo para obter as translaes de peso teis a este ou
quele movimento, a este ou quele andamento, o cavaleiro pode avaliar nesse
instante o grau de preciso com que agiu.

-120Se comete um erro, pode corrigi-lo imediatamente; ele sabe qual a causa, e o
pobre cavalo deixando de estar confundido por estas duas vontades opostas das
pernas e da mo, identifica-se de tal maneira com o pensamento do seu mestre
que depressa essas duas inteligncias no sero mais do que uma, o cavalo
conservando o seu equilbrio perfeito sem a ajuda das pernas nem da mo do
cavaleiro.
O equilbrio do segundo tipo suficiente para os cavalos do exrcito,
entretanto os Srs. capites instrutores podero empregar mais ou menos estes
novos meios para acelerar a instruo dos homens e a educao dos cavalos.

TRS NOVOS EFEITOS DA MO.


1 Para combater as resistncias provenientes do peso;
2 Para combater as resistncias produzidas pela fora;
3 Para dar a posio til mudana de direco pela rdea contrria.

Tenho dito que o emprego simultneo das pernas e da mo no pode dar


seno o equilbrio do segundo tipo, e nunca o do primeiro tipo, ou seja: aquela
harmonia permanente do peso e da fora que esto em oposio sem se
contrariarem nem combaterem, aquela ligeireza perfeita do cavalo; acrescento
que smente a aplicao de estes novos efeitos nos permitir atingir esse
objectivo.
Se as pernas do cavaleiro impulsionam o cavalo, as funes da mo so
mltiplas. ela que coloca, dirige, regulando as translaes de peso, a mo
que sonda as causas das resistncias, para discernir se elas provm do peso ou
da fora.
Vou indicar trs novos efeitos racionais da mo. Os dois primeiros concorrem
para destruir as resistncias que comprovam a perda de equilbrio e assinalam a
sua causa; o terceiro serve para facilitar as mudanas de direco, etc. Essas
resistncias podem provir da m repartio do peso ou da defeituosa harmonia
da fora. O efeito da mo ser diferente conforme ela vai combater a resistncia
do peso ou da fora. Para reconhecer a causa dessa resistncia o cavaleiro

-121aproximar gradual e lentamente a mo. Se a resistncia inerte ela procede do


peso mal repartido; nesse caso a mo agir por uma meia paragem (1), imediata
e proporcional intensidade da resistncia. Se essa meia-paragem no for
suficiente, seguir-se- uma segunda, uma terceira, at que essa resistncia
inerte tenha desaparecido. Essas meias paragens, executadas com uma fora
de baixo para cima, destroem as resistncias de peso sem acuar o cavalo; se a
resistncia provem da fora, a mo agir por vibraes reiteradas, at que a
ligeireza reaparea. Essas vibraes anularo as resistncias locais sem destruir
a combinao das foras; e se, no seguimento dessas vibraes, a resistncia
persistisse, o que indicaria que o peso no estava ainda corretamente repartido,
seria necessrio voltar s meias-paragens. Estes mesmos efeitos da mo
repetir-se-o com maior importncia ainda nas mudanas de direco.
O cavaleiro servir-se-, de incio, das rdeas de brido separadas e, mais
tarde, das rdeas de freio igualmente separadas. Mas assim que o cavalo voltar
facilmente direita e esquerda pelo efeito da rdea directa, o cavaleiro
empregar o novo efeito (terceiro efeito de mo). Comeo por supor que o
cavalo est perfeitamente direito de espduas e garupa, condio indispensvel:
o cavaleiro quer, por exemplo, voltar direita; ele aproximar lentamente a mo
para se aperceber de que o cavalo est ligeiro, ou se resiste. Se o cavalo est
ligeiro, o cavaleiro deslocar direita a mo que detm as rdeas do brido, que
sero substitudas mais tarde pelas do freio, para agir smente pela rdea
esquerda, rdea contrria. Para voltar esquerda deslocar a mo para a
esquerda, para agir smente pela rdea direita, rdea contrria. unicamente a
ligeireza do cavalo, harmonia do peso e da fora, que lhe permite sentir o efeito
da rdea contrria, de lhe ceder e voltar flectindo ligeiramente a cabea para
esse lado. Se o cavaleiro sente uma resistncia, a do peso, por exemplo,
destrui-la- por uma, duas ou trs meias-paragens sucessivas.
(1) A expresso meia-paragem, de que me sirvo para designar a aco viva e enrgica da
mo que tem por fim transpor para trs o peso de que a frente estava demasiado
carregada, no d seno imperfeitamente a ideia que devia exprimir. Essa expresso
indica um abrandamento. Conservei-a para no mudar uma expresso consagrada pelo
uso. Emprego-a unicamente para designar um deslocamento de peso, com a condio
expressa de no interferir em nada na aco prpria do movimento. Se a meia-paragem
se executa parado no deve, em caso nenhum, provocar o recuar.

-122Se essa resistncia devida falta de harmonia das foras, agir por vibraes.
Essas meias paragens e essas vibraes sero praticadas com a rdea directa,
rdea direita, se ele quiser voltar para a direita e rdea esquerda, se quiser
voltar para a esquerda; e assim que sentir o seu cavalo ligeiro, voltar direita
por efeito da rdea contrria, rdea esquerda e vice-versa. Como se v, sirvome da rdea directa, no para voltar, mas unicamente para combater as
resistncias e com a rdea contrria que eu ensino o cavalo a voltar. O
cavaleiro pedir apenas um oitavo de converso, parar, combater com estes
novos efeitos de mo (rdea directa) as resistncias que se tiverem manifestado,
e continuar com a rdea contrria. Rapidamente o cavalo poder voltar, sem
sair do seu equilbrio, isto , com a cabea voltada para o lado a que se dirige, a
parte contrria do pescoo conservando-se convexa, e a mobilidade fluida da
maxila permitindo-lhe ceder com a maior facilidade ao efeito da rdea contrria.
Compreende-se o prazer que o cavaleiro sente ao seguir esta gradao, que lhe
d como recompensa o equilbrio perfeito, no lhe deixando mais nada a
desejar. Ele jogar com as rdeas bambas que far ondular da esquerda para a
direita e da direita para a esquerda e o seu cavalo voltar para qualquer
direco, conservando essa harmonia constante do peso e da fora, o que
constitui o equilbrio do primeiro tipo. O cavaleiro deve compreender agora a
importncia de estes novos meios equestres, visto que pode determinar
imediatamente a causa das resistncias do cavalo, e remedi-las em seguida.
Ele no pode continuar a iludir-se e a imputar ao animal os erros prprios.
Nenhum erro ser possvel.
Que se compare um tal cavalo gracioso, ligeiro, rpido nos seus movimentos,
com esses pobres cavalos que se fazem voltar com a rdea contrria,
verdade, mas com o pescoo rgido, a cabea mal colocada, a maxila fechada,
etc., resultado infalvel do seu mau equilbrio. Se fosse o nico inconveniente,
poder-se-ia dizer: Que me importa a posio dos cavalos da cavalaria, contanto
que eles voltem voz de comando? Eu respondo: Tomem cuidado! No vm
que se esses cavalos estivessem menos torcidos, que se o seu equilbrio fosse
menos mau, eles voltariam mais facilmente, quer dizer mais rapidamente? O que
digo das mudanas de direco aplica-se melhor ainda ao trabalho individual, s
voltas, meias-voltas, numa palavra, a tudo o que diz respeito equitao militar.

-123Esses inconvenientes so to bem avaliados que muitos cavaleiros


empregam a rdea directa para voltar. Mas eles no destruram as resistncias
que provm do peso ou da fora; eles deram smente uma indicao e a
resistncia continua.
Com o equilbrio do primeiro tipo, todos os cavalos voltaro facilmente sob o
efeito da rdea contrria, conservando uma boa posio da cabea e uma
ligeireza constante.
Antes de terminar este assunto, vou falar de um dado manejamento das
rdeas que produz resultados felizes e imediatos, inspira confiana ao cavalo, e
confirma o equilbrio, a ligeireza, a harmonia, a regularidade do movimento.
O cavaleiro retirar a barbela e far com que o freio, por uma fora de baixo
para cima, produza o mesmo efeito que o brido, sobre a comissura dos lbios,
com um contacto menor sobre as barras. (A barbela ser colocada de novo
assim que o cavalo responda facilmente ao efeito do freio.)
Depois, ao passo, ao trote, ao galope, sem se apressar, deixa as rdeas com
que estava, e agarra as outras. Nas primeiras vezes, o cavalo acelerar talvez o
andamento, e o cavaleiro dever retomar vivamente as primeiras rdeas, para
chamar ordem o cavalo disposto a emancipar-se; mas o cavalo cedo se
habituar a este abandono momentneo, da retirar confiana, bem-estar, e
conservar a regularidade do andamento e a ligeireza, enquanto o cavaleiro,
jogando assim com as rdeas de brido e as rdeas de freio, adquire tacto,
delicadeza, e chega a conduzir o seu cavalo com um fio.

-124-

DA FORA E DO MOVIMENTO DECOMPOSTOS.


Sendo o equilbrio ou a ligeireza o resultado da correcta repartio do peso e
da fora, se esta no for mantida de acordo com o esforo a desenvolver, o
equilbrio ser apenas momentneo, e desde os primeiros passos que o cavalo
executar, a ligeireza desaparece e nasce a resistncia. Se o cavaleiro continua a
andar torna-se-lhe necessrio combater as resistncias que resultam desta m
posio e que so acrescidas pelo movimento. Cada passo a mais que o cavalo
faa nesta falsa posio vem aumentar o desacordo que se ope s correctas
transposies de peso, e o movimento torna-se irregular. O cavaleiro v fugir-lhe
a ligeireza que ele persegue, e se ele acaba por obt-la ser ao fim de um longo
e difcil trabalho; na maioria das vezes no a ter seno em parte, e habituar-se a essa resistncia que ser o grande obstculo perfeio da educao do
cavalo, tal como eu a entendo. Para mim o cavalo ensinado o cavalo
equilibrado, quele que apresenta essa harmonia do peso e da fora que
permite ao cavaleiro dispor da fora til a este ou quele movimento,
conservando sempre a ligeireza perfeita do cavalo. esta harmonia que, em
pouco tempo, d o movimento decomposto.
Depois de ter dado alguns passos no andamento em que est, se o cavaleiro
encontra uma resistncia, pra, d s fibras musculares o tempo de se
descontrarem e restabelece o equilbrio. Manter-se- parado vrios minutos, se
for preciso, at que o cavalo se DESCONTRAIA, isto , que o movimento
precedente SE EXTINGA completamente. As fibras recebem novas correntes
elctricas e a nova contraco poder ser mais harmoniosa, mais conveniente.
Este novo princpio, o movimento decomposto, deve ser aplicado a cada parte
da educao do cavalo, at que ele conserve a sua ligeireza constante e a
regularidade do movimento, resultado infalvel do seu perfeito equilbrio.
Que o movimento seja lento ou acelerado, pouco importa. Eu peo smente
que ele seja regular, isto , que o cavalo no diminua nem aumente o seu
andamento por flutuaes incessantes, e que ele percorra espaos iguais em
tempos iguais, conservando esta regularidade de andamento que um sinal
seguro da correco do equilbrio.

-125Se bem que certas pessoas, pouco versadas no estudo dos meus princpios,
critiquem a posio elevada que eu fao tomar ao pescoo e cabea do
cavalo, eu digo, que indispensvel dar-lhes toda a elevao de que so
capazes, agindo com os punhos de baixo para cima. preciso no se assustar
com a posio horizontal que a cabea forosamente toma. ento que
necessrio descontrair a maxila, cuja mobilidade elstica permite ao cavalo, por
si mesmo, entrar em ramener. Este meio, na aparncia indirecto, o nico que
d a graciosidade e uma ligeireza constante em todos os movimentos do cavalo.

-126ALGUMAS PALAVRAS SOBRE O PRINCIPIO:

MO SEM PERNAS, PERNAS SEM MO


PARA AS:

SAIDAS AO GALOPE E PARA AS PASSAGENS DE MO.

Este novo axioma estava de tal modo em oposio com o que eu tinha
professado e praticado, eu mesmo, toda a vida, que apesar dos resultados
maravilhosos que obtinha, quis ter uma prova retumbante da sua virtude.
Antes portanto de entregar esta edio publicidade, reuni cinco cavaleiros
hbeis, com cuja lealdade e discrio eu podia contar, e fiz-lhes experimentar os
meus novos meios. O sucesso coroou a minha expectativa. Pude convencer-me
que no era a minha grande experincia com os meus mtodos que fazia
atribuir-lhe mais qualidade do que ele na realidade tinha. Cada um destes
senhores enviou-me ento uma memria descritiva sobre a aplicao que eles
faziam sob a minha orientao, e eu pedi ao Sr. baro Faverot de Kerbrech a
permisso de reproduzir o seu trabalho, que pode servir de complemento e de
desenvolvimento s minhas inovaes.
Ei-lo:
preciso no confundir na obra equestre do Sr. Baucher os PRINCPIOS,
que so imutveis, com os MEIOS, que so perfectveis e por consequncia
podem variar.
Entre os PRINCPIOS que constituem a base imutvel do mtodo deve
citar-se em primeiro lugar a obrigao constante de procurar ou manter no
cavalo montado o EQUILBRIO, isto , esse estado fsico resultante do ensino e
com o qual pode obedecer instantaneamente vontade do cavaleiro seja ela
qual for.

-127O equilbrio que o Sr. Baucher chamou do primeiro tipo existe quando as
transposies de peso so igualmente fceis em todos os sentidos. Pode
comparar-se esse estado do animal ao equilbrio indiferente dos corpos
inanimados. Da mesma forma que uma esfera colocada sobre um plano
horizontal obedece mais pequena impulso, tambm, no cavalo montado que
possua o equilbrio do primeiro tipo, o peso cede mais ligeira presso, seja
qual for o lado de que ela lhe seja comunicada, e a obedincia s ajudas a
consequncia.
Quanto aos MEIOS ensinados pelo mestre, eles podem ser divididos em dois
grupos constituindo cada um uma maneira distinta. Na primeira, o Sr. Baucher
age sobre as foras do cavalo, quer dizer sobre as molas animadas que
sustentam e fazem mover a massa, o peso da mquina. Ele consegue facilitar o
deslocamento desse peso, equilibrar, diminuindo a base de sustentao,
aproximando mais ou menos, conforme a necessidade, as extremidades
inferiores do cavalo.
Compreende-se que, muitas vezes, necessrio recorrermos a meios
poderosos para forar o animal, sobretudo no incio do ensino, a conservar essa
disposio artificial dos seus membros. Da a necessidade do emprego
frequente da espora.
Nesta primeira maneira, tendo o Sr. Baucher constantemente em vista agir
sobre as foras do animal, tornar-se o seu mestre absoluto, procura desde o
inicio impor a essas foras barreiras que as cerquem por todos os lados e que
elas no possam jamais franquear.
Uma vez obtida essa dominao, o ensino est praticamente terminado.
Trata-se apenas de dar a essas mesmas foras a direco que aprouver ao
cavaleiro comunicar-lhe dentro desta espcie de lao de ferro formado pelo freio
e pelas esporas. Enfim, basta apertar esse lao para reduzir o animal
imobilidade, visto que no se permite ento a aco de nenhuma das molas da
mquina.

-128Mais tarde, inspirando-se no cavalo em liberdade, que para se mover, comea


por levantar a cabea e o pescoo para aligeirar o antemo, o Sr. Baucher
chegou sua segunda maneira.
Nesta segunda maneira, para chegar ligeireza absoluta,- que mostra o
equilbrio do primeiro tipo,- ele dirige-se directamente ao peso do cavalo e
desloca uma parte da frente para trs. a mo que se encarrega deste cuidado.
E de, portanto, tornar o cavalo ligeiro, equilibrado. E as pernas de darem a
impulso necessria. Desde logo o animal deixa de ser sujeito a hesitar entre
duas aces contrrias. O efeito que empurra e quele que retm so sempre
distintos, e deixa de haver confuso possvel entre as ajudas.
A ligeireza completa obtida quando a aco do freio no encontra jamais
nem a resistncia do peso nem a das foras.
Na aplicao do seus novos meios, como no ensino pelos antigos, o Sr.
Baucher habitua por uma progresso sbia o cavalo a suportar sem desordem o
contacto da espora. smente quando o animal no se perturba mais com o
apoio desta ajuda e que esse efeito provoca uma aco franca, calma e para
diante, mas segura, mantendo-se o cavalo ligeiro na mo, que o cavaleiro
comea a ser dono da sua montada e que as barreiras de que falamos podem
tornar-se uma realidade.
Desde os comeos do ensino, o cavalo deve ser habituado progressivamente
a dispensar a aco das ajudas, uma vez obtido o movimento pretendido. Mas
necessrio que esse abandono no altere em nada o equilbrio, isto que o
animal deve sustentar-se por si prprio, continuar exactamente o seu movimento
com a mesma velocidade e a mesma cadncia, do que o cavaleiro se assegura
de tempos em tempos.
Tentemos agora fazer compreender o partido que um cavaleiro hbil pode
tirar dos novos meios mos sem pernas, pernas sem mo para a sada ao
galope e a passagem de mo, por exemplo.

-129Para a execuo de qualquer movimento, preciso a aco e a posio: a


aco o resultado da fora que empurra; a posio a repartio normal do
peso em relao com o movimento pedido. Se a aco e a posio so
correctas, o movimento s-lo- igualmente.
Tendo aceitado o que precede, examinemos a sada do passo ao galope pela
mo e suponhamos que o cavalo tenha a aco conveniente; se ele possui o
equilbrio do primeiro tipo, a mo no ter seno que dar a posio, e seguir-se o movimento.
Se o equilbrio no perfeito, manifestar-se-o resistncias de peso ou de
foras. A mo encontr-la- depois de ter sentido, como sempre, a boca do
animal, e ele far-lhas- cessar por meias paragens ou vibraes, conforme o
caso.
Assim que o cavaleiro sentir a aco diminuda, ou se de incio ela no for
suficiente, ser, bem entendido, s suas pernas, empregues sem oposio da
mo, que cabe restabelec-la. Ento vir ainda a vez desta ltima ajuda para
dar, ela s, a posio.
Assim que seja obtido o movimento, ser necessrio em qualquer caso soltar
completamente as rdeas; a nica maneira de termos uma ideia exacta do
equilbrio do cavalo.
Quando a sada ao galope assim pedido for fcil, ensina-se o cavalo a iniciar
este andamento com as ajudas inferiores smente.
Aqui o papel das pernas bastante difcil. Elas devem dar a posio sem
aumentar a aco de uma forma aprecivel. Na sada para a direita, por
exemplo, a perna esquerda recua com uma presso lenta e finamente graduada;
a outra actua mais frente por pequenos toques das barrigas, das pernas
delicadamente repetidos em pequenos intervalos.
Se, aproximao das barrigas das pernas, o cavalo sai ao trote, as pernas
relaxam, e a mo restabelecer o equilbrio lutando contra o peso ou as foras.
Depois recomea-se a dar a posio smente com as pernas, e continua-se com
estes exerccios at que s sadas ao galope se obtenham facilmente.

-130Alternam-se ento com as sadas pela mo.


Pedem-se a seguir muitas transies do passo ao trote. A mo baixar e as
pernas actuaro sem oposio por uma presso simultnea, habilmente
graduada, e bem equivalente direita e esquerda. Se a sada ao trote for m,
preciso parar, descontrair e recomear.
Passemos agora passagem de mo pela mo, e suponhamos que o cavalo
tenha a aco necessria. As pernas no tm que fazer nada. Elas podiam ao
agir provocar contraces, aumentar inutilmente a aco j suficiente e deslocar
peso para frente. A mo seria ento forada a corrigir os erros das pernas, o que
preciso evitar o mais possvel.
Se o cavalo possui o equilbrio do primeiro tipo, a mo inverter a repartio
do peso, e obtm-se a passagem de mo.
Se o equilbrio no perfeito, a mo encontra as resistncias de peso ou das
foras que vencer pelos meios conhecidos, mas esforando-se por no
interferir sobre a aco para no obrigar as pernas a restabelec-la.
Enfim, se o cavalo na mudana de posio se precipita para a frente,
decompe-se o movimento, isto pra-se e descontrai-se completamente antes
de recomear.
Restabelecida a calma e a aco, a mo procurar dar de novo a posio.
Da mesma forma que na sada ao galope sem pernas, a mo abandonar
completamente as rdeas logo que o movimento seja obtido. Ver-se- assim
exactamente como est o equilbrio. intil acrescentar que, assim que este se
perca, a mo deve restabelec-lo.
Em seguida ensina-se o cavalo a passar de mo sem a ajuda da mo.
O freio no ter mais nenhuma aco sobre a boca, e para passar da mo
esquerda para a mo direita, por exemplo, a perna esquerda recua mais que a
direita e esta actuar por pequenos toques da barriga da perna.
impossvel, de resto, determinar de uma maneira absoluta o emprego
exacto de uma ou de outra.

-131Cabe ao tacto suplantar a teoria para indicar instantaneamente ao cavaleiro


como dever empregar as pernas conforme os mil casos particulares que
podero apresentar-se.
A dificuldade est em inverter o peso sem aumentar a aco de uma forma
sensvel.
Se nas primeiras vezes o andamento aumenta, as pernas cessaro de agir, e
a mo restabelecer o equilbrio antes que elas recomecem a pedir szinhas a
mudana de posio.
Depois quando o movimento se obtiver facilmente desta maneira, vai-se pedilo alternadamente pela mo e pelas pernas ..
Digamos, antes de terminar, que as recomendaes seguintes nos parecem
dever ser feitas para o emprego dos novos meios:
1 Procura e conservao constantes da ligeireza completa, o cavalo mantido
sempre absolutamente direito desde que o movimento a isso no se oponha.
2 Desde o incio do ensino, habituar o cavalo espora e no deixar de dar
esta lio at que o animal o tenha perfeitamente compreendido.
3 Assim que o pescoo e a cabea se sustenham bem, procurar o ramener
completo em todos os andamentos.
4 Conseguir obter facilmente pelo emprego alternado das ajudas inferiores e
das ajudas superiores, todos os graus de rassembler, de concentrao, de que
podemos ter necessidade conforme o tipo de servio a que est destinado o
cavalo a ensinar.
BARO

FAVEROT DE KERBRECH

As quatro outras memrias tratavam do mesmo assunto. No podendo referilas todas e a fim de evitar repeties, limito-me a citar aqui textualmente a parte
didctica da do Sr. d Estienne, que, ao expor os novos meios, f-lo algumas
vezes de formas um pouco diferentes que contribuem ainda para fazer
compreender o seu valor.

-132-

TRABALHO AO GALOPE SOBRE A LINHA DIREITA


SEGUNDO OS NOVOS MEIOS.

Vencidas as primeiras resistncias do cavalo, sai-se a galope para a mo


esquerda, por exemplo, com a rdea ou a perna direitas: emprega-se este meio
o mais rapidamente possvel.
Assim que as sadas se obtenham desse modo com facilidade, servimo-nos
alternadamente do freio ou do brido. Estas trocas de rdeas fazem-se de incio
rapidamente, tendo o cuidado porm de retomar as rdeas sem saces, sem
surpresa para o cavalo. Se ele se contrair; se alonga o andamento, necessrio
par-lo, descontrair, e retomar. Quando se mete o cavalo ao passo, procura-se a
ligeireza, seja pela flexo directa, seja pelas meias flexes direita e
esquerda.
Chega-se assim a trocar de rdeas lentamente, sem que o cavalo diminua o
seu andamento, sem que ele o aumente.
Exercita-se igualmente pouco a pouco a sair ao galope, diminuindo o efeito
das pernas, e multiplicando a troca de rdeas.
Quando o cavalo sai ao galope facilmente na mesma direco para qualquer
das mos, o que significa que ele desloca facilmente o peso da direita para a
esquerda e da esquerda para a direita, chega-se com naturalidade s passagens
de mo. No entanto preciso come-las com a rdea ou a perna opostas.
Assim, um cavalo galopando na mo esquerda, para passar de mo,
necessrio utilizar a rdea ou a perna direitas, procurando conseguir o mais
depressa possvel obt-las com a rdea ou com a perna esquerdas.

-133-

Em resumo:
1 Sada com rdea ou perna opostas;
2 Sada com rdea ou perna directas;
3 Passagem de mo com rdea ou perna opostas;
4 Passagem de mo com rdea ou perna directas;
Aqui termina a primeira parte do ensino que d j o equilbrio do segundo tipo.
Quando o cavalo chegar a este grau de instruo, pedem-se-lhe sadas ao
galope com as mos, sem nenhum emprego das pernas. Para este efeito impese-lhe tantas meias paragens quantas as necessrias. Se ele abranda, o que
indica que a mo interferiu sobre o movimento, preciso cessar o efeito das
mos, pr o cavalo para diante com as pernas, e equilibr-lo de novo ao passo,
antes de tentar p-lo a galope de novo. Chega-se assim muito rapidamente a
galopar para a direita com a rdea direita, para a esquerda com a rdea
esquerda. Alternar as rdeas com muita frequncia.
Seguem-se as passagens de mo com a mo smente. Antes de executar a
meia paragem por meio da qual a obtemos, preciso sentir a boca. Se essa
meia paragem no for suficiente, necessrio executarmos duas, trs, dez, uma
seguida da outra, at que a passagem de mo se realize e ceder assim que isso
acontea. Compreende-se quanto esta maneira de fazer admirvel para
chegar a uma execuo perfeita. Com efeito, uma vez a impulso dada, qual
pode ser o papel das pernas? Elas s servem para atravessar o cavalo e trazer
mais o peso para a frente, acrscimo de peso que a mo deve destruir. Ao
contrrio, servindo-se s da mo, muda-se a posio, e a passagem de mo fazse naturalmente. Se h abrandamento no movimento servimo-nos das pernas ou
da espora para acelerar; depois voltamos meia paragem sem pernas para a
passagem de mo. preciso neste movimento, como no precedente, alternar o
emprego das rdeas.

-134A seguir exercita-se o cavalo a sair ao galope smente com as pernas: a mo


segura as rdeas pela sua extremidade. O cavalo pesa na mo, mete a trote? O
peso est frente; necessrio ento executar uma meia paragem, e retomar a
sada depois de ter descontrado o cavalo.
Chegados a este grau de instruo, alternam-se as sadas ao galope com as
mos e as pernas. Multiplicam-se as descidas de mos. Faz-se o mesmo depois
de cada passagem de mo, tendo o cuidado de retomar as rdeas
imediatamente para fazer uma nova passagem de mo, e assim por diante.
Enfim, passa-se para as passagens de mo unicamente com as pernas:
agarram-se as rdeas meio bambas.
Em todos estes movimentos as rdeas so tanto mais flutuantes quanto a
educao do cavalo for mais avanado; e chega-se assim a execut-las, com as
rdeas no pescoo, sem que o cavalo aumente em nada o seu andamento.
Portanto, em resumo:
1 Sada ao galope s com a mo;
2 Passagem de mo s com a mo;
3 Sada ao galope s com as pernas;
4 Sada ao galope com a mo e as pernas alternadamente: descidas de mo;
5 Passagem de mo, seguida de uma descida de mos;
6 Passagem de mo, com as pernas unicamente.
s ento, quando todos estes movimentos se executarem facilmente, sem
aumento nem abrandamento do andamento, que se tem um cavalo no equilbrio
do primeiro tipo. Como admirar o bastante agora toda a beleza destes novos
princpios, que, juntando sua simplicidade a sua eficcia, tornam o cavalo
flexvel, elegante e asseguram a sua durao.
DESTIENNE.
Paris, 20 de Maro 1864

-135-

PROGRESSO DO ENSINO

Trabalho vara
A P.
Fazer vir o cavalo ao homem.
Fazer recuar o cavalo, o pescoo elevado, o cavaleiro agarrando em cada
mo uma rdea de brido, os braos levantados em toda a sua extenso (Ver
Fig.16). O cavaleiro comear a combater as resistncias do peso e da fora por
meias paragens sucessivas e vibraes repetidas. Esta posio elevada do
pescoo, obtida por uma fora de baixo para cima, previne o acuamento
trazendo para trs o peso dentro das possibilidades do movimento retrgrado.
No se far recuar o cavalo mais de um passo, conservando-o to direito
quanto possvel de espduas e de garupa. Compreende-se que o mnimo desvio
da garupa seria um obstculo a essa correcta transposio do peso: igualmente
deve ter-se o maior cuidado de no recomear um segundo passo para trs sem
ter recolocado o cavalo perfeitamente direito, a fim de evitar as resistncias que
o impedem de compreender as intenes do cavaleiro. Este trabalho de recuar
feito passo a passo, cada passo seguido de um momento de paragem que
permite fazer cessar qualquer contraco muscular para alm da necessria
estao, ser alternado com o de duas pistas direita e esquerda, com as
piruetas invertidas e directas, tendo o cuidado de no pedir mais que um passo
ao cavalo e par-lo logo que ele o tenha executado. O essencial, que as partes
que devem estar momentaneamente imobilizadas, no se movam (piruetas) e
que a translao de peso se faa segundo as leis do equilbrio e da harmonia do
movimento. (Recuar e trabalho sobre as ancas.)

-136-

Fig. 16

-137Passa-se em seguida s flexes, primeiro com o brido e depois com o freio,


insistindo na flexo directa e semi lateral da maxila. O cavaleiro coloca-se, frente
ao cavalo e eleva-lhe a cabea com as duas rdeas de brido separadas e
agarradas a doze centmetros dos anis, para fazer ceder (ponto essencial) a
maxila antes da cabea. Esta mesma flexo far-se- em seguida com o freio,
agarrando o cavaleiro em cada mo uma camba do freio para elevar a cabea
do cavalo e obter o mesmo efeito.
O cavalo que cedeu aco mais directa do brido, poder, nas primeiras
vezes, resistir aco do freio devido ao obstculo trazido pela barbela; volta-se
ao brido, para se retomar novamente o freio, e assim que o cavalo lhe
responda como ao brido, isso ser a prova evidente que ele compreendeu as
intenes do seu mestre.
Observao. A flexo directa e semilateral da maxila, com o suporte do pescoo
e a elevao da cabea, anulou as resistncias que a maxila poderia apresentar
fosse em que posio fosse. A flexo lateral do pescoo anula as resistncias
provenientes da contraco dos msculos do pescoo. Este trabalho
preparatrio durar quatro dias, para o tornar familiar ao homem, sossegado ao
ser montado e fazer-lhe aceitar de bom grado o domnio do homem.
Os cavalos da tropa podem ser exercitados neste trabalho a p, durante oito
ou dez dias, no comeo de cada lio. Este trabalho torna a obedincia do
cavalo mais fcil e estabelece relaes de intimidade entre ele e o seu cavaleiro.
O instrutor, encantado com os progressos da sua montada, torna-se mais
indulgente e trata o seu cavalo com mais doura.

A CAVALO
PARADO

Com as rdeas de brido separadas, levantar o pescoo e no ceder antes da


cedncia da maxila. Evitar o acuamento, se houver resistncia agir por meias
paragens sucessivas e vibraes repetidas. Regras gerais. Desde as primeiras
lies, o cavaleiro servir-se- destes novos efeitos de mo para anular todas as
resistncias de peso ou de fora, sempre que se apresentarem.

-138Repetir as flexes laterais e semi-laterais do pescoo, como a p. Assim que


o cavaleiro tenha obtido um comeo de sustentao e de flexibilidade da maxila,
mete o cavalo ao passo e trabalha-o para a mo direita e para a mo esquerda
(se estiver num picadeiro) nas linhas direitas e nos crculos, procurando a
ligeireza e empregando os novos efeitos de mo para anular qualquer
resistncia de peso ou de fora: evitar o emprego simultneo das pernas e da
mo.
Procede a cavalo como agiu a p, isto , andar um passo ou dois, e pra no
cedendo na mo antes de ter obtido a flexibilizao da maxila: descida de mo,
e repouso para o cavalo. Retoma as rdeas, procura de novo a ligeireza e leva o
cavalo um passo ou dois para diante, para parar e repetir a mesma gradao.
Alterna este trabalho ao passo, assim graduado, com o recuar, as piruetas e o
trabalho sobre a garupa. A importncia de decompor cada movimento de tal
modo grande e produz resultados de tal modo extraordinrios, que eu no temo
repetir-me e convencer todos os cavaleiros inteligentes a seguir exactamente
esta gradao: 1 Observar se o cavalo est ligeiro ou apresenta alguma
resistncia mo; 2 Anul-la por meias paragens ou vibraes, segundo a
natureza das resistncias, obter a flexibilidade da maxila, e dar um passo ou dois
para diante, combatendo imediatamente qualquer resistncia pelos novos meios;
parar o cavalo e no ceder na mo antes de estar ligeiro, estar calmo, e imvel,
durante meio minuto, e met-lo de novo ao passo depois de se ter assegurado
da flexibilidade da maxila. Igualmente para o recuar, para as piruetas invertidas e
directas, e para o trabalho de duas pistas, no pedir mais do que um passo,
parar, retomar a posio ou a ligeireza, e deixar o cavalo calmo em repouso
durante alguns instantes, para continuar seguindo sempre a mesma gradao.
Estes momentos de repouso, repetidos com esta escrupulosa ateno,
produzem resultados que surpreendero o cavaleiro. A contraco muscular
deixa de estar em jogo, o cavalo sente bem-estar, reflecte, e retoma o trabalho
sem fadiga. Alm disso, pela calma deste trabalho gradual, o cavaleiro grava na
inteligncia do cavalo a ideia da superioridade moral do homem e assegura
assim o seu domnio sobre a sua montada, tornando-lhe a obedincia mais fcil.

-139Para parar o seu cavalo, o cavaleiro servir-se- de incio dos efeitos de conjunto
(oposio gradual das pernas e da mo); mas depressa a mo chegar para
parar o cavalo direito de espduas e de garupa.
Uma vez que a aco combinada das pernas e da mo imobiliza o cavalo,
compreende-se por isso mesmo que logo que se trate de movimento, no se
devem empregar os mesmos meios.
A seguir, o cavaleiro mete o seu cavalo ao trote, e pra-o depois de algumas
passadas, seguindo a mesma gradao do que ao passo; quer dizer que lhe
dar a posio ou a ligeireza (mobilidade da maxila) antes de partir ao trote;
durante essas passadas ao trote, combater as mnimas resistncias servindose dos novos efeitos de mo e parando o seu cavalo, pedir-lhe- de novo a
mobilidade da maxila, mantendo-o alguns instantes calmo e imvel. Continua
durante alguns minutos o trabalho ao trote, sobre as linhas direitas e os crculos,
seguindo a mesma gradao que ao passo, isto , fazendo sempre suceder o
repouso ao trabalho, mais ou menos na mesma medida.
Em seguida o cavaleiro tenta, parado, algumas aparncias de mobilidade das
extremidades, para preparar o comeo do rassembler e termina a lio com
algumas sadas ao galope, para uma e outra mo, seguindo sempre a mesma
gradao do que ao passo e ao trote.
O cavaleiro ter o cuidado de usar o manejamento das rdeas, tal como o
indiquei no captulo sobre os novos efeitos de mo, isto , alternar o uso das
rdeas de brido e de freio, para habituar o cavalo a conservar POR ELE
PROPRIO, o seu equilbrio e a sua boa posio.
Aqui pe-se uma observao muito importante.
Servindo-se, ao galope da rdea directa, rdea direita se o cavalo galopa para
a direita, e rdea esquerda se o cavalo galopa para a esquerda, para anular as
resistncias, por meias paragens ou vibraes, o cavaleiro obtm logo uma
grande ligeireza, conserva o seu cavalo direito, e torna as sadas ao galope e
por consequncia as passagens de mo muito fceis.

-140Todo este trabalho deve fazer-se sem fadiga nenhuma para o cavalo, e desde
o incio os esforos do cavaleiro devem tender para obter o equilbrio perfeito ou
a ligeireza constante; igualmente deve pedir ao cavalo a mobilidade macia da
maxila antes de o pr em movimento: tem ento a certeza que a mquina est
preparada para funcionar. Percebem-se os progressos extremamente rpidos
que esta gradao trar na educao do cavalo.
O professor inicia desde os primeiros passos o seu aluno em todas as
dificuldades da estrada que ele deve percorrer, dando-lhe os meios para as
vencer, e corrigindo imediatamente as mnimas faltas que o cavalo possa
cometer por ignorncia. Desta forma, no se tero passado dois meses desta
educao racional sem que o cavaleiro inteligente beneficie dum resultado que
no teria obtido, se no tivesse dado ao seu cavalo o equilbrio do primeiro tipo
ou essa ligeireza perfeita e constante que permite ao animal executar com a
maior facilidade todos os movimentos pedidos, sem sombra de uma resistncia,
porque ele compreende imediatamente os mnimos efeitos da mo ou das
pernas do cavaleiro. O mestre comanda e o servidor obedece.
Quando um cavalo, pela aplicao de todos os princpios ensinados nesta
ultima edio, foi levado ao equilbrio do primeiro tipo, tendo desaparecido todas
as resistncias, devem apenas ser usados os meios suaves. A mo actuar com
uma fora lenta, delicada e finamente graduada.
Tenho dito o que acredito ser a verdade equestre. Penso ser til aos cavaleiros
inteligentes e srios, recomendando-lhe seguir a progresso que acabo de
indicar.
Permito-me dar-lhes um conselho de amigo, e ouso dizer, de um velho amigo,
dizendo-lhe: rejeitai os meus princpios se eles no vos convierem; mas se
reconheceis neles a verdade em equitao, aceitai-os por inteiro, no os
mutileis, e lembrai-vos que o autor que estudou durante quarenta anos, conhece
suficientemente a obra de toda a sua vida para apreciar a importncia de todas
as suas partes.

-141O exrcito, como o disse frequentemente, teve e ter sempre a minha


simpatia. O sonho de toda a minha vida foi tornar os seus cavaleiros primeiro, e
os seus cuyers depois, os melhores da Europa.
No creio que Deus me permita ver essa realizao; mas tenho confiana. Sei
que a verdade faz o seu caminho lentamente e que acaba sempre por vencer.
Porque no o dizer? a consolao dos meus dias de velhice, ver
verdadeiras altas personagens, generais esclarecidos fazer justia aos meus
princpios. Cada vez que o nome de uma celebridade equestre chega aos meus
ouvidos, consulto as minhas notas, e muitas vezes, eu diria quase sempre, um
dos meus alunos ou pelo menos um adepto do meu mtodo. So eles que eu
vejo dirigir o ensino da equitao nas escolas do Governo. No momento em que
escrevo, tomo conhecimento com prazer de que o comando do picadeiro de
Saumur acaba de ser dado ao Sr. chefe de esquadres Lhotte (1), que me deu,
durante doze anos, a honra de pedir os meus conselhos e cuja reputao como
cuyer no receia, com razo, a comparao com nenhuma outra.

(1) Actualmente coronel do 18 de drages.

-142-

CONCLUSO
Perde-se o gosto pela equitao, todos o reconhecem, e cada um d a sua
opinio. Uns atribuem a decadncia da arte ao entusiasmo da juventude pelas
corridas; eles vm no turf uma sucursal da Bolsa, e lamentam que o Governo
favorea este arrebatamento, em vez de deixar indstria privada o cuidado de
pagar os seus passatempos. Eles dizem que os apostadores nos cavalos de
corrida no tm o direito de reclamar dos lucros governamentais, mais do que os
apostadores no lcool, na colza ou na beterraba. Outros pensam que o ensino
rotineiro dos picadeiros est ultrapassado, e que na nossa poca do vapor, da
eletricidade, em que tudo se aperfeioa, a equitao deve seguir tambm a lei
do progresso. Eu partilho desta maneira de ver, e ponho como testemunho os
trabalhos de toda a minha vida.
Que me seja permitido relembrar as inovaes que introduzi na cincia e na
arte da equitao:
Os exerccios de ginstica para dar em algumas semanas uma posio firme,
graciosa, slida, a quem quer que nunca tivesse montado um cavalo.
Os meios para descontrair a maxila, o pescoo, os rins e a garupa de todos
os cavalos;
Para torn-los todos leves na mo, nos trs andamentos.
Para dar a todos um passo regular;
Um trote unido, extendido ou cadenciado;
Um recuar to fcil como a marcha para diante.
Um galope fcil.
Passagens de mo ao primeiro toque, a dois tempos e a tempo.
O rassembler em qualquer grau.

-143Os trs tipos de piaffer.


A paragem espora a galope.
Fazer vir o cavalo ao homem e torn-lo calmo ao montar.
A translao de peso pelas foras instintivas.
1 Distino entre as foras instintivas do cavalo e as foras comunicadas;
2 Explicao da influncia de uma m construo sobre as resistncias dos
cavalos;
3 Efeito das ms construes sobre a maxila, o pescoo e a garupa,
principais focos de resistncia;
4 Meios de remediar estes inconvenientes, pela flexibilizao das duas
extremidades e do todo o corpo do cavalo;
5 Anulao das foras instintivas do cavalo para as substituir pelas foras
transmitidas pelo cavaleiro, e dar agilidade e brilho ao animal mais desgracioso;
6 Igualdade de sensibilidade de boca em todos os cavalos; adopo de um
tipo de freio uniforme;
7 Meios para habituar qualquer cavalo a suportar a espora;
8 Todos os cavalos se podem ramener e adquirir a mesma ligeireza;
9 Meios para estabelecer num cavalo mal constitudo um equilbrio to fcil
como o das belas constituies.
10 O cavaleiro d a posio, e o cavalo executa o movimento;
11 Das causas que fazem com que cavalos sem taras tenham muitas vezes
andamentos defeituosos: meios de o remediar em algumas lies;
12 Mudanas de direco por novos efeitos da mo e das pernas;

-14413 Distino entre o recuar e o acuamento; do efeito til do primeiro na


educao do cavalo; dos inconvenientes do segundo.
14 Dos ataques usados como meio de educao;
15 Todos os cavalos podem fazer piaffer; meios de tornar esse movimento
lento ou precipitado;
16 Definio do verdadeiro rassembler; meios de o obter; da sua utilidade
para a graa e regularidade dos movimentos complicados;
17 Meios de levar todos os cavalos a projectarem francamente ao trote as
suas mos para diante;
18 Meios racionais, para meter o cavalo ao galope;
19 Paragem ao galope, com as pernas ou a espora a precederem a mo;
20 Fora gradual, baseada nas resistncias do cavalo, o cavaleiro no
devendo ceder antes de as ter anulado;
21 Educao das partes do cavalo, ou meio de exercitar as suas foras
separadamente;
22 Educao completa de cavalos de conformao muito vulgar em menos
de trs meses;
23 Dezasseis novas figuras de picadeiro apropriadas a dar o remate
educao do cavalo e a aperfeioar o sentimento do cavaleiro (1).

(1) Fui tambm o primeiro a ter a ideia de fazer executar, mesmo pelas senhoras, as
grandes dificuldades da equitao; o pblico foi disso testemunha. Toda a gente pde
admirar as Senhoras Caroline Loyau, Pauline Cuzent, Mathilde e Maria dEmbrun.

-14524 Novo efeito do chicote de picadeiro;


25 Novo efeito de mo;
26 Novo efeito de pernas;
27 Novos efeitos de mos e de pernas combinados;
28 Descidas de mo;
29 Descidas de pernas;
30 Descidas de mos e de pernas, simultneas.
Bem entendido do que todos os pormenores de aplicao ligados a estas
inovaes so novos como elas e pertencem-me igualmente.
Mas enganar-se-iam grosseiramente se quisessem procurar o objectivo do
meu mtodo nestes floreados equestres, destinados principalmente a recrear o
pblico.
Esses floreados serviam para repousar o cavalo, fazendo suceder aos
exerccios de alta escola, movimentos ligeiros, graciosos, muito fceis para o
cavalo equilibrado.
O meu mtodo dirige-se aos verdadeiros amantes, aos oficiais de cavalaria,
aos cuyers, a todos queles que querem tirar o melhorar partido dos cavalos,
qualquer que seja a sua conformao.
O equilbrio, o objectivo que nos devemos propor, e a ligeireza a
recompensa do trabalho.

-146-

NOVO

TRABALHO RACIONAL
COM O SERRILHO
Ainda um novo progresso que eu devo prtica e que me apresso a levar ao
conhecimento do pblico. De um instrumento usado at agora como um meio
coercivo, como uma espcie de coleira de foras, eu consegui transform-lo num
poderoso instrumento de educao. Quero falar do serrilho. Sirvo-me dele para
desenvolver o sentimento equestre do aluno.
Para esse efeito, fao meter um serrilho no cavalo montado e fao o aluno
seguir toda a progresso, comeando pelo trabalho parado, ao passo, ao trote,
ao galope e de duas pistas. O meu objectivo fazer SENTIR ao aluno os erros
que cometeu ou comete. Explico-me. Agarro a guia horizontalmente, a 1 metro
de distncia, e eu digo ao aluno para elevar os punhos para descontrair os
msculos do pescoo; ao mesmo tempo, fao uma oposio de traco. Duas
causas podem fazer o cavalo refluir o peso para trs: as ms contraces do
pescoo, ou um efeito errado da mo do cavaleiro. Tenho o cuidado, por uma
traco horizontal, de impedir o acuamento do cavalo, e fao observar ao aluno
que ele deveria ter, no primeiro caso, agido por presso das pernas sem mo;
no segundo, que houve excesso de mo.- Eu preveni o efeito de acuamento pela
traco horizontal da guia, portanto impedi o cavalo de perceber o erro cometido
pelo cavaleiro, ao qual, entretanto, pude fazer-lho notar, sem inconveniente para
a educao do cavalo. -De tempos a tempos, eu deixo o erro produzir as suas
consequncias inevitveis, a perda de ligeireza, a modificao do equilbrio,
numa palavra, o acuamento. Digo ao aluno para no actuar nem com as pernas,
nem com a mo, e para se contentar com sentir o que se vai passar debaixo
dele. Estabeleo o equilbrio por uma traco horizontal do serrilho e reparo o
erro cometido pelo aluno.
Os professores, os oficiais da cavalaria, compreendero pelo que foi dito que
importncia pode ter este novo trabalho com o serrilho, para ajudar o progresso
do cavaleiro e acelerar a educao do cavalo.

-147 Disse o que preciso fazer, mas s sob a direco de um hbil professor
ensinado na minha escola que o aluno poder aprender a servir-se com
preciso do serrilho, como eu entendo. Fao repetir o mesmo trabalho no
crculo (o professor agarra a guia a 2 ou 3 metros de distncia), ao passo, ao
trote, ao galope, recomendando ao aluno de no procurar seno uma coisa, a
ligeireza. Ora, os nossos leitores devem saber agora que a ligeireza supe o
equilbrio do peso dado pela harmonia das foras. E para tudo dizer em
poucas palavras, diga-se: HARMONIA DAS FORAS produzida, com a ajuda
do serrilho, pelo relaxamento dos msculos do pescoo, EQUILBRIO DO
PESO, CONCENTRAAO DA FORA HARMONIZADA. A est toda a
equitao, e tudo o que se pudesse dizer para alm disso assemelhar-se-ia a
esses troncos flutuantes de que falava o fabulista.

-148-

EXAME RETROSPECTIVO
A verdade no saiu repentinamente do meu crebro, e foram-me necessrios
quarenta anos de trabalho, de procuras e de meditaes para aperfeioar o
mtodo tal como ele hoje. Eu tinha estudado todos os autores que escreveram
sobre equitao, e tinha retirado das minhas leituras a convico de que a
cincia equestre no existia, estava para nascer. Como toda a gente, estava
imbudo dos preconceitos que a ignorncia tradicional tinha feito aceitar como
verdades. Acreditava nas barras duras, na influncia da sua espessura sobre a
sensibilidade da boca do cavalo, entregava-me a uma imensidade de
experincias para descobrir um freio suficientemente potente para combater
essa pretensa insensibilidade das barras.
Estava no Havre, e regressava, num dia da feira de cavalos, com um cavalo
por quem tinha dado 300 francos. O meu exame rpido tinha avaliado o conjunto
do animal; de regresso ao picadeiro, examinei atentamente a boca do meu
cavalo, e reconheci com tristeza que a espessura das barras explicava a enorme
resistncia que ele opunha aco do freio. Apliquei-lhe freios cada vez mais
poderosos, e a boca continuava insensvel. Podia ser de outra maneira,
atendendo sua conformao?
Um dia, estou a lembrar-me, montava Bienfaisant (Benfeitor),a quem eu assim
chamava dado o seu bom carcter, e tinha parado no picadeiro. Reflectia, e
enquanto o meu espirito trabalhava, a minha mo tinha-se mantido fixa. De
repente senti Bienfaisant ligeiro; Bienfaisant tinha cedido, Bienfaisant deixou de
resistir! O que que se passou ento? Como no h efeito sem causa reconheci
que a fixidez da minha mo tinha determinado a cedncia do cavalo, e obtive
assim a prova de que a boca no tinha nada a ver com as resistncias, mas sim
que elas provinham das contraces do pescoo, porque eu no tinha
modificado as condies anatmicas das barras, no tinha diminudo a sua
espessura. Tal foi o incio do mtodo. Bienfaisant tinha-me ensinado que no h
bocas duras, barras insensveis.

-149Experimentei em cem cavalos, e a prtica veio confirmar em cada caso a


verdade desta descoberta. No h bocas duras, h cavalos pesados na mo
no princpio, que se tornam facilmente ligeiros.
Que me seja permitido contar uma histria que oportuna neste caso.
Vinte anos mais tarde, depois do mtodo ter sido aceite por S.A.R. o duque
de Orlans em presena do seu irmo o duque de Nemours, membros do
Comit de cavalaria, e de um grande nmero de generais, um destes, o general
X, pediu-me para examinar a boca do seu cavalo, queixando-se da
insensibilidade das barres. Comecei por olhar para os rins, a garupa, os
curvilhes do animal. Perdo, disse-me o general, da boca do cavalo que eu
falo. Compreendo-o perfeitamente, general.
- Mas eu no o compreendo, replicou-me ele. Expliquei ento ao general que a
boca era acusada sem razo de um defeito que vinha da m conformao do
cavalo. Era um homem inteligente e compreendeu.
Bienfaisant tinha-me ensinado que a m posio da cabea e do pescoo era
a causa das resistncias da maxila. Mas como obter essa boa posio? Entre
todos queles freios qual era o melhor? Conseguirei dizer todas as tentativas
que fiz com esses instrumentos de tortura? Enfim, depois de numerosas
experincias, depois de mil combinaes, convenci-me desta nova verdade, que
se podia, com um freio suave, levar qualquer cavalo a tomar uma boa posio
de cabea, e adoptei o freio que tem o meu nome. Foi com este freio que eu
procurei dar aos meus cavalos essa ligeireza que eu pressentia, e que s o
tempo me permitiria tornar perfeita e constante.
Estas duas primeiras descobertas puseram-me na pista de uma terceira no
menos importante. Questionei-me se a questo da sensibilidade dos flancos no
se assemelhava das barras, e cheguei mesma concluso. Servi-me ento de
esporas de cinco pontas aguadas e acalmei os cavalos mais irritveis, por meio
de ataques aplicados a propsito. Pude ento formular esta terceira verdade: A
sensibilidade dos flancos do cavalo no inerente a essa parte, ela depende da
irritabilidade geral, do sistema nervoso, da m conformao do cavalo.

-150Eu disse que as ms contraces dos msculos do pescoo faziam sentir o seu
efeito sobre a boca e que era preciso destrui-las, a fim de disciplinar,
harmonizando-as, essas cordas to delicadas.
Foi o que me deu a ideia das flexes do pescoo, que eu fiz a p, a
cavalo, ao passo e ao trote. Eu obtive efeitos de ligeireza, movimentos mais
fceis; mas que longe estava eu deste equilbrio, desta ligeireza que obtenho
actualmente, em algumas horas, com no importa qual cavalo! Se eu conseguia
obter com as esporas pontiagudas, o ramener, o rassembler, o piaffer e
todas as figuras novas que eu fiz produzir aos meus cavalos, de que montava
uma vintena em pblico, eu no podia deixar de notar que o resultado no era o
mesmo com todos os meus alunos, muitos dos quais criavam defesas nos seus
cavalos. Era preciso evitar esse inconveniente, e fui ver se tratando os flancos
com a mesma doura que eu punha nas minhas ligaes com a boca, eu no
chegaria ao mesmo resultado. Experimentei esporas com rosetas redondas, que
adotei definitivamente depois de ter constatado os excelentes resultados. Era um
novo progresso. Completei-o introduzindo o trabalho a p. Ensinando o cavalo a
vir ao homem ao contacto com a vara, eu dei ao cavaleiro a primeira sensao
de domnio e estabeleci relaes mais directas entre o senhor e o servidor. Mais
tarde, completei o trabalho apeado com as flexes de garupa, de espduas e o
recuar. O progresso chama o progresso. Consegui substituir o meu freio por um
ainda mais suave, de ramos mais curtos, e desprovido de barbela, e como este
novo freio permitia novos efeitos da mo, eu prescrevi a aco isolada das
pernas e da mo. Disse as razes que me tinham feito introduzir este novo
preceito. Eu tinha sido testemunha de tantas decepes suportadas pelos
cavaleiros cuja tcnica deixava a desejar, que julgo ter-lhes prestado um grande
servio recomendando-lhes a minha nova regra: Mo sem pernas, pernas sem
mo. Com efeito, excepo dos meus alunos de elite, quase todos se serviam
das suas pernas para emendar os erros da mo, e vice-versa. Pensar-se- que
a aco isolada da mo e das pernas devia prevenir esta contradio das ajudas
e acelerar a educao do cavalo. Mas eu queria obter mais ainda, e dar a
generalidade dos cavaleiros os meios adequados a equilibrar facilmente os seus
cavalos. ao que eu felizmente cheguei pelo emprego do brido como nica
embocadura.

-151Com esse simples brido obtenho, em algumas horas, resultados mais


satisfatrios, mais completos do que jamais obtive com o freio. Dois efeitos de
mo chegam para destruir todas as resistncias do pescoo e dar ao cavalo a
bela posio da cabea, que tornar mais fceis as deslocaes de peso teis a
todos os movimentos que o cavaleiro lhe possa pedir.
O primeiro efeito efetua-se pela elevao dos punhos actuando com uma
fora de baixo para cima sobre a comissura dos lbios, dando ao pescoo toda a
extenso possvel. Assim que o cavalo ceder aco das rdeas de brido,
nesta posio elevada, o cavaleiro baixa os punhos, fecha energicamente os
dedos at que a cabea do cavalo volte posio vertical, acompanhado da
cedncia elstica da maxila. Com estes dois efeitos da mo, usados sozinhos,
ou em simultneo com a colaborao das pernas ou a ajuda da espora, o
cavaleiro obter do seu cavalo tudo o que um cavaleiro inteligente est no direito
de lhe pedir, pois que ele pode agir mais acima, mais abaixo, ou de lado,
conforme a fora a combater ou a posio a dar cabea do cavalo.
A cavalaria reconhecer as numerosas vantagens que o brido lhe oferece
para o ensino dos seus cavalos, e talvez chegue mais tarde a empregar, como
eu o fao actualmente, o brido como nica embocadura por mais conveniente a
todas as necessidades do servio. Depois de ter recomendado alternadamente o
emprego da perna oposta ou o da perna directa, eu cheguei concluso que
desde que O CAVALO ESTEJA DIREITO, a perna directa deve ser sempre
usada para CONTROLAR a garupa. Desta maneira eu evito a espcie de
arcobotante que as ancas opem s espduas, nas mudanas de direco,
piruetas, trabalho de duas pistas, e pelo domnio da garupa, eu determino
necessariamente o controle das espduas. Com o cavalo direito e a garupa
controlada, eu retiro ao cavalo qualquer pretexto para resistir, eu torno todos os
movimentos fceis, graciosos, com a mobilidade flexvel da maxila! Eu no
posso terminar esta viso retrospectiva dos progressos que o mtodo fez, sem
recordar, com um justo sentimento de satisfao, que os melhores cavaleiros do
exrcito, que todos os oficiais de cavalaria que escreveram sobre equitao, tais,
como: o capito Raabe, o coronel Gurin, o capito Gerhardt, o tenente
Wachter, so meus alunos, e que em todas as circunstncias eles tiveram a
coragem da sua opinio.

-152-

CAVALARIA
O mtodo pertence actualmente sobretudo cavalaria; compete-me conservlo, desenvolv-lo, ajustando-o a todas as suas necessidades. Nos civis,
excepo de algumas brilhantes individualidades, que resultado pode ter a
cincia equestre? Na cavalaria, pelo contrrio, o cavalo a vossa ferramenta, o
vosso companheiro de glria. Procurem portanto os meios de aumentar o vosso
domnio sobre o cavalo, a fim de falar mais facilmente sua inteligncia. No
esqueam que os cavaleiros estrangeiros j se aproveitaram do mtodo, e no
esperem at que estas ideias novas vos cheguem mais tarde de fora, porque o
vosso patriotismo sofreria por receber do estrangeiro o que um dos vossos
compatriotas confia cavalaria francesa com tanta alegria!
Pudessem as minhas ltimas inovaes tornar a tarefa mais fcil e contribuir
para os progressos da nossa bela cavalaria! o voto de um cidado, amigo do
seu pas, cujos estudos no tm outro objectivo seno o progresso da equitao.

-153-

INDICE DAS MATERIAS

Prefcio .................................................................................................................. 1
Ultimas inovaes .................................................................................................. 2
Do cavalo em liberdade .......................................................................................... 3
Da sensibilidade .................................................................................................... 4
Da boca do cavalo.................................................................................................. 4
O professor ............................................................................................................ 5
Resumo dos relatrios oficiais em favor do Mtodo ............................................... 6
Cap. I
Novos meios de obter uma boa posio do cavaleiro .......................................... 10
Cap. II
O equilbrio do cavalo ........................................................................................... 17
Cap. III
Do emprego racional das foras do cavalo .......................................................... 20
Cap. IV
Trabalho a p ...............................................................................................................................27
Cap. V
Da flexibilizao ................................................................................................... 30
Cap. VI
Da boca do cavalo e do freio ................................................................................ 32
Cap. VII
Flexibilizao da maxila e do pescoo ................................................................. 34
Cap. VIII
Efeitos da mo (rdeas) ....................................................................................... 46
Cap. IX
Efeito das pernas ................................................................................................. 50

-154Cap. X
Efeito de mo e de pernas .......................................................................................................52
Cap. XI
Flexibilizao a cavalo, antemo e postmo ........................................................ 55
Cap. XII
Mobilizao da garupa ......................................................................................... 59
Cap. XIII
Efeito de conjunto .......................................................................................................................64
Cap. XIV
Do emprego da espora ......................................................................................... 66
Cap. XV
Emprego pelo cavaleiro das foras do cavalo
para os diferentes andamentos ........................................................................... 68
Cap. XVI
Do passo .......................................................................................................................................69
Cap. XVII
Do recuar. ......................................................................................................... 71
Cap. XVIII
Trabalho sobre as ancas ...................................................................................... 73
Cap. XIX
Do trote .. ..............................................................................................................................76
Cap. XX
Descida de mo, de pernas, de mo e de pernas ................................................ 78
Cap. XXI
Descida de mo, de pernas, de mo e de pernas ................................................ 80
Cap. XXII
Do Rassembler .................................................................................................. 82
Cap. XXIII
Do galope.. ........................................................................................................... 86

-155-

Cap. XXIV
Salto de vala e da barreira ................................................................................... 88
Cap. XXV
Do Piaffer . ........................................................................................................... 91
Cap. XXVI
Diviso do trabalho ............................................................................................... 92
Educao do cavalo, gradao do trabalho ......................................................... 93
Cap. XXVII
O meu Mtodo no exterior .................................................................................... 98
Cap. XXVIII
Aplicao do Mtodo ao trabalho dos cavalos: Partisan,
Capitaine, Neptune, Buridan .............................................................................. 101
Cap. XXIX
Exposio sucinta do Mtodo por perguntas e respostas .................................. 107

Novos meios equestres


Equilbrio do primeiro tipo ................................................................................... 117
Trs novos efeitos de mo ................................................................................ 120
Da fora e do movimento decompostos ............................................................ 124
Trabalho ao galope na linha direita segundo os novos meios ........................... 132
Progresso do ensino ....................................................................................... 135
Concluso ......................................................................................................... 142
Novo trabalho racional com o serrilho ............................................................. 146
Exame retrospectivo ........................................................................................... 148
Cavalaria ........................................................................................................... 152
ndice das matrias ........................................................................................... 153

PARIS

Você também pode gostar