LIVRO EQUIT V5Fcorrigido
LIVRO EQUIT V5Fcorrigido
LIVRO EQUIT V5Fcorrigido
DE EQUITAO
FRANOIS BAUCHER
MTODO
DE EQUITAO
BASEADO EM NOVOS PRINCPIOS
POR
F. BAUCHER
REVISTA E AUMENTADA
COM RETRATO DO AUTOR E 16 GRAVURAS
NOTA INTRODUTORIA
-1-
PREFCIO
O homem recebeu do Criador uma inteligncia superior dos animais, no
para os sujeitar aos seus caprichos e infligir-lhes maus tratamentos, mas sim
para receber todos os servios que tem o direito de receber. O cavalo, esse
nobre animal, talvez quele de quem o homem mais tem abusado, e os meios
de que se utiliza para o submeter acusam tanto a ignorncia como a brutalidade.
Desde a minha juventude eu amava o cavalo e chocado com a impreciso dos
princpios enunciados por todos os autores que escreveram sobre equitao, eu
procurava abrir uma via nova e segura a todos queles que se ocupam da
educao do cavalo. Em 1830 publiquei o Dicionrio racional da equitao. O
favor do pblico recompensou-me das minhas laboriosas pesquisas e encorajoume a perseverar nos meus esforos. Alguns anos mais tarde apareceu o meu
novo Mtodo que desencadeou no mundo equestre, de uma parte um grande
entusiasmo, da parte de alguns uma crtica apaixonada, demasiado apaixonada
para ser imparcial. Treze edies se sucederam em vinte e cinco anos, as
minhas obras foram traduzidas em vrias lnguas, e em todo o lado os
apreciadores e os oficiais inteligentes adotaram os meus princpios. J disse
quais as causas que impediram o meu mtodo de ser introduzido na cavalaria
francesa apesar da opinio quase unanime dos senhores oficiais consultados.
Que a minha caneta se cale sobre esse triste passado!
O meu Mtodo permitia dar a todos os cavalos o equilbrio do segundo tipo, e
os vinte e seis cavalos que eu montei em pblico so disso a prova
incontestvel. Com as minhas ltimas inovaes eu dou, no smente, uma
maior facilidade para obter em todos os cavalos esse equilbrio do segundo tipo,
mas ainda os meios infalveis de obter de todos os cavalos uma ligeireza
constante, sinal de um equilbrio perfeito. esse equilbrio que eu chamo
equilbrio do primeiro tipo. O primeiro equilbrio, basta para todas as
necessidades da cavalaria e da equitao vulgar. O equilbrio perfeito ou
equilbrio do primeiro tipo, s poder ser dado ao cavalo pela elite dos
cavaleiros. Isso ser a equitao transcendente. Na poesia, nas artes, nas
cincias, no permitido a todos ir a Corinto!
-2-
ULTIMAS INOVAES
Dedicando-me h quarenta anos arte de ensinar cavalos, sempre
compreendi que o nico problema a resolver pelo cavaleiro era o de aperfeioar
o equilbrio natural do cavalo, e a procura de toda a minha vida, no teve outro
fim se no tornar mais fcil a soluo do problema. Cada uma das treze edies
do mtodo contm um novo progresso que simplifica o trabalho do cavaleiro.
Substitui todos os aparelhos de tortura usados anteriormente, primeiro, pelo freio
que tem o meu nome, depois troquei-o por um freio mais doce, ainda, com as
caimbas mais curtas e sem barbela; enfim, hoje em dia, sirvo-me de um simples
brido. No se v crer que este brido, novo pela sua aptido, possua uma
virtude mgica que dispensa o estudo da cincia; isso seria um erro grave! Este
novo brido demonstra o aperfeioamento do meu Mtodo, a eficcia dos meios
que ele prescreve, pois que com este simples ferro eu posso domar o cavalo
mais fogoso e submet-lo minha vontade. Por simples que sejam os meios que
eu indico, eles podem ser bem compreendidos nos seus pormenores e no seu
conjunto por um cavaleiro hbil.
Eu direi ento aos jovens cavaleiros: dirigi-vos a um professor imbudo de
todos os meus princpios e familiarizado com a prtica do meu mtodo, s ele
poder tornar-vos fcil e seguro o caminho a percorrer, indicando-vos as suas
subtilezas, os seus mltiplos efeitos de mos e pernas e o indizvel, de que o
sentimento se apercebe, que o olho do professor capta, mas que o autor no
pode descrever. Adquiri assim a cincia, aprendei a servir-vos de este novo
brido, e obtereis resultados inesperados; uma vez o cavalo ensinado, podereis,
se isso vos agradar, empregar em passeio o freio da vossa preferncia.
-4DA SENSIBILIDADE
A rotina tradicional quer que todo o cavaleiro que monta no picadeiro siga uma
pista perto do muro. Eu prefiro v-lo traar uma pista a um metro de distncia do
muro, a fim de me assegurar se ele sabe manter o seu cavalo direito, sem a
ajuda de uma pauta. Desta maneira o cavaleiro adquirir, para alm da noo
das linhas, o preciso acordo que lhe permitir discernir mais facilmente a
natureza das contraces boas, se tm como consequncia a ligeireza e -ms
se as resistncias do cavalo aumentam em lugar de diminurem. quele que no
tem a sensibilidade de distinguir as contraces incapaz de analisar a posio
do cavalo, quero dizer, de sentir se a distribuio do seu peso conveniente, se
a fora est em harmonia com o movimento a executar. Ele no pode, portanto,
nem preparar a posio (1) nem corrigi-la, nem, por consequncia, atingir o fim
que se props, melhorar o equilbrio natural do cavalo, tornando-o ligeiro em
todos os seus movimentos. A sensibilidade desenvolve-se pelo exerccio; o
essencial seguir a progresso que eu indico e de se compenetrar da verdade
do princpio de que uma s palavra exprime as consequncias: Equilbrio ou
ligeireza.
DA BOCA DO CAVALO
A linguagem foi dada ao homem para dissimular o pensamento, disse-o o
prncipe de Talleyrand. Mais leal do que o homem, o cavalo no pode dissimular
as suas impresses. Se est contente com o seu cavaleiro, testemunha-lhe a
sua satisfao pela mobilidade elstica da sua maxila. Surpreendido por alguma
falta, uma omisso (o melhor cavaleiro pode enganar-se) e o amigo fiel parece
entristecer-se; perde a ligeireza, o seu bom humor; se o cavaleiro compreende
este aviso dado
(1) Compreende-se por posio a disposio do peso e da fora do cavalo em relao com
cada movimento que ele deve executar.
-5em voz baixa, se ele emenda o seu erro, o cavalo apressa-se a retomar a sua
alegria, e, pela mobilidade da maxila, agradece ao seu dono ter escutado a
humilde advertncia do seu servidor. Mas se o erro se agrava, se a vaidade e a
ignorncia desdenham escutar os avisos discretos que lhe so dirigidos, ento o
cavalo retira a sua confiana a esse mestre por quem no compreendido; ele
cessa toda a troca de pensamentos e protesta pelo mutismo contra a ignorncia
do seu cavaleiro. Pode obrigar-se um escravo a andar, no se pode obriga-lo a
manifestar satisfao. Disse que todas as resistncias do cavalo proveem do
mau equilbrio. De quem a culpa? Do cavaleiro! Sempre do cavaleiro!
O PROFESSOR
Quanto mais se simplificam as frmulas da cincia, mais importante se torna o
papel do professor instrudo, encarregado de transmitir fielmente o pensamento
do autor, de fazer aplicar e de demonstrar a verdade dos seus princpios. Escrevi
que preciso manter o cavalo direito, e disse por que razo; mas quem
indicar ao aluno que o seu cavalo est ou no direito? Eu falo dos efeitos de
mo, de pernas e das esporas empregues tanto separadamente, como
simultaneamente. Quem dir ao cavaleiro que se tenha enganado no emprego
das suas ajudas qual a causa do seu erro? Quem o ajudar a repar-lo e a
prevenir assim as consequncias graves que dai resultariam? Eu digo que
necessrio destruir todas as causas das resistncias do cavalo; mas quem
indicar ao aluno os meios apropriados, oportunos que ele dever usar, o grau
de fora de que ele deve servir-se? Quem desenvolver o sentimento do aluno
com conselhos dados a propsito? O professor. Mas falo do professor educado
na minha escola, imbudo dos meus aperfeioamentos, porque s ele poder
transmiti-los fielmente e dar os meios de os aplicar sempre de uma maneira
correcta, exacta. Eu dou os princpios, eles so verdadeiros; eu indico os meios,
eles so exactos; eu dou a conhecer a progresso dos exerccios, eles so
essencialmente abreviadores. Mas, querer escrever a aplicao, seria cair no
erro dos que me antecederam, confundindo duas coisas bem distintas, a cincia
e a arte. Se o autor o pensamento que concebe, a cincia que formula, o
professor hbil ser a palavra que transmite, o olho que observa, a mo que faz
agir.
-6-
RESUMO
DOS RELATORIOS OFICIAIS
EM FAVOR DO MTODO.
-7-
Relatrio para o general Oudinot, pelo Sr. Carrelet, coronel da guarda municipal
de Paris.
.. Digo-vos que oficiais e suboficiais so unanimes em aprovar os processos
do Sr. Baucher, aplicados ao ensino dos cavalos jovens. Em quinze dias o Sr.
Baucher obtm resultados melhores que os obtidos em seis meses pelos antigos
processos. Eu estou de tal modo convencido da eficcia dos meios professados
pelo Sr. Baucher, que vou submeter a esses processos todos os cavalos dos
meus cinco esquadres.
Paris, 6 de Abril 1842
-8-
-9-
-10-
I
NOVOS MEIOS DE OBTER UMA BOA POSIO DO
CAVALEIRO. (1)
Achar-se- sem dvida extraordinrio que, nas primeiras edies, rapidamente
esgotadas, desta obra que tem por objectivo a educao do cavalo, eu no
tenha comeado por falar da posio do cavaleiro. Com efeito, essa parte to
importante da equitao foi sempre a base dos escritos clssicos.
No sem motivos, entretanto, que eu adiei at ao presente tratar esta
questo. Se eu no tivesse nada de novo a dizer, teria podido, tal como usual,
consultar os velhos autores, e, com ajuda de algumas transposies de frases,
de algumas mudanas de palavras, lanar no mundo equestre mais uma
inutilidade. Mas eu tinha outras ideias; eu queria um refazer completo. Sendo o
meu sistema para chegar a dar uma boa posio ao cavaleiro, tambm uma
inovaco, eu temi que tantas coisas novas ao mesmo tempo assustassem os
apreciadores, mesmo os melhores intencionados, e que dessem motivos aos
meus adversrios. No faltaria quem proclamasse que os meus meios de aco
sobre o cavalo eram impraticveis, ou que eles no poderiam ser aplicados sem
utilizar uma posio mais impraticvel ainda. Ora, eu provei o contrrio; com o
meu sistema, os cavalos foram ensinados pela tropa, fosse qual fosse a posio
dos homens a cavalo. Para dar mais fora a este mtodo, para o tornar de mais
fcil compreenso, tive que o isolar de todos os outros acessrios, e guardar
silncio acerca dos novos princpios que dizem respeito posio do cavaleiro.
Reservei-me a no os publicar antes do xito incontestvel dos exames oficiais.
Usando estes princpios acrescentados aos que publiquei sobre a arte de
ensinar os cavalos, eu reduzo tambm o trabalho do cavaleiro, estabeleci um
sistema preciso e completo acerca destas duas partes importantes, mas at
agora confusas, da equitao. Seguindo as minhas novas indicaes,
relativamente posio do homem a cavalo, chegar-se- rapidamente a um
resultado assegurado; elas so to
(1) Estes preceitos dirigem-se mais especialmente aos cavaleiros militares; mas, com
algumas ligeiras modificaes fceis de adaptar, eles podem aplicar-se equitao civil.
Posio do cavaleiro
O cavaleiro dar toda a extenso possvel ao busto, de maneira que cada
parte repouse sobre a que lhe inferiormente aderente, a fim de aumentar o
apoio das ndegas sobre a sela; os braos cairo sem fora sobre os lados; as
coxas e os joelhos devero encontrar, com a sua face interna, tantos pontos de
contacto com a sela quanto possvel, os ps acompanham naturalmente o
movimento das pernas.
Compreende-se nestas poucas linhas quanto simples a posio do cavaleiro.
Os meios que eu apresento para obter, em pouco tempo, uma boa posio
acabam com todas as dificuldades que o caminho traado pelos nossos
antecessores apresentar. O aluno no compreendia praticamente nada do
longo catecismo recitado em alta voz pelo instrutor, desde a primeira frase at
ltima; em consequncia ele no o podia executar. Aqui com algumas palavras
que traduziremos todas essas frases, e essas palavras so compreensveis para
o cavaleiro que segue a minha tcnica de adaptao. Esse trabalho torn-lo-
hbil e, por conseguinte inteligente; no se ter passado um ms sem que o
recruta mais pesado e mais desajeitado no esteja em estado de estar bem
colocado.
-12-
Lio preparatria
(A lio ser de uma hora; haver duas lies por dia durante um ms.)
Trabalho em sela
Este trabalho deve fazer-se parado; escolhe-se de preferncia um cavalo velho e frio. (D-se um
n s rdeas e deixam-se cair sobre o pescoo.)
Uma vez o aluno a cavalo, o instrutor examina a sua posio natural, a fim de
exercitar mais frequentemente partes que tenham tendncia para se esmagarem
ou para se contrarem. pelo busto que o instrutor comea a lio. As flexes
dos rins que levam a cintura para diante serviro para endireitar o busto;
mantem-se durante algum tempo nesta posio o cavaleiro cujo rins so
flcidos, sem prestar ateno rigidez que ela causar nas primeiras vezes.
pela fora que o aluno ganhar a ligao, e no pelo abandono tanto e to
inutilmente recomendado. Um movimento obtido de incio com grande esforo
no necessitar dele ao fim de algum tempo, porque haver destreza, e porque,
nesse caso, a destreza no mais que o resultado das foras combinadas e
usadas a propsito. O que se faz ao princpio com dez quilos de fora reduzido
em seguida a sete, a cinco e a dois.
-13A destreza ser a fora reduzida a dois quilos. Se se comeasse com uma fora
menor, no se chegaria a este resultado.
Repetir-se-o portanto muitas vezes as flexes de rins deixando de vez em
quando o aluno descontrair-se completamente, a fim de lhe fazer apanhar bem o
emprego da fora que lhe dar prontamente uma boa posio do busto. Estando
o corpo bem colocado, o instrutor passar 1 lio do brao, que consiste em
mov-lo em todos os sentidos, primeiro dobrado e depois estendido; 2 lio
da cabea; esta dever voltar para a direita e para a esquerda sem que esses
movimentos interfiram com os ombros. Assim que a lio do busto, dos braos e
da cabea d um resultado satisfatrio, o que deve acontecer ao fim de quatro
dias (oito lies), passa-se das pernas.
O aluno afastar, tanto quanto possvel, das abas da sela, uma das coxas;
em seguida volta a aproxim-la com um movimento de rotao de fora para
dentro, a fim de a tornar aderente sela pelo mximo de pontos de contacto
possvel. O instrutor no deixar que a coxa caia pesadamente; ela deve
retomar a sua posio com um movimento lentamente progressivo e sem
saces. Ele dever, at, durante a primeira lio, agarrar a perna do aluno e
dirigi-la para lhe fazer compreender bem a maneira de realizar esta deslocao.
Ele evitar assim a fadiga e obter alm disso resultados mais rpidos. Este
gnero de exerccios necessita de frequentes descansos; haveria inconveniente
em prolongar a durao do trabalho para l das foras do aluno. Os movimentos
de aduo (que tornam a coxa aderente sela) e os de abduo (que a afastam)
ao tornarem-se mais fceis, as coxas tero adquirido uma ligao que lhes
permitir fixarem-se sela numa boa posio. Passaremos agora flexo das
pernas.
-14coxas durante quatro dias (oito lies). Para tornar cada um destes movimentos
mais correcto e mais fcil consagraram-se-lhes oito dias (ou catorze lies).
Os catorze dias (trinta lies) que restam para completar o ms continuaro a
ser empregados no trabalho de flexibilizao parado; no entanto para que o
aluno aprenda a combinar a fora dos seus braos e a dos seus rins, faz-se-lhe
agarrar progressivamente pesos de 2 a 5 quilos de braos estendidos. Comease este exerccio pela posio menos fatigante, o brao dobrado, a mo ao p
do ombro e leva-se essa flexo maior extenso do brao. O busto no deve
ressentir-se deste trabalho e manter-se- na mesma posio.
Dos joelhos
A fora de presso dos joelhos avalia-se e obtm-se at, recorrendo
maneira de fazer que vou indicar. Essa maneira que parecer de incio talvez
ftil, trar no entanto grandes resultados.
O instrutor mune-se de um pedao de coiro com cinco milmetros de
espessura e cinquenta centmetros de comprimento; colocar uma das
extremidades desse coiro entre o joelho e a sela. O aluno empregar a fora dos
seus joelhos para no o deixar deslisar, enquanto o instrutor o puxar
lentamente e progressivamente do seu lado. Este processo servir de
dinammetro para avaliar os progressos da fora. Algumas palavras
encorajantes ditas a propsito estimularo o amor-prprio de cada aluno.
Dar-se- a maior ateno a que cada fora que age separadamente no meta as
outras em jogo, quer isto dizer que o movimento dos braos no influa jamais
sobre os ombros; da mesma forma para as coxas, em relao ao tronco, para as
pernas em relao s coxas, etc., etc. A movimentao e flexibilizao de cada
parte isolada, uma vez obtidas, desloca-se momentaneamente o alto do corpo, a
fim de ensinar o cavaleiro a recolocar-se em sela. Eis como proceder: o instrutor
colocado de lado empurrar o aluno pela anca, de maneira que o seu assento
seja levado para fora da sela. Antes de operar um novo deslocamento o instrutor
deixar o aluno repor-se na sela, tendo o cuidado de verificar que, para voltar a
sentar-se, ele use apenas as ancas e os joelhos, a fim de se servir apenas das
partes mais prximas do assento.
-15Com efeito, a ajuda dos ombros influiria depressa sobre a mo, e esta sobre o
cavalo; a ajuda das pernas poderia ter ainda mais graves inconvenientes. Numa
palavra, em todas as deslocaes, ensina-se o aluno a no utilizar, para
controlar, as foras que o mantm a cavalo; a no empregar para a se manter
seno as que controlam.
Com a ajuda desta ginstica equestre correctamente combinada, chega-se ao
fim de um ms, a fazer executar facilmente a todos os recrutas os exerccios que
pareciam os mais contrrios sua organizao fsica. Tendo o aluno
ultrapassado as provas preliminares, aguardar com impacincia os primeiros
movimentos do cavalo para-se lhes entregar com o -vontade de um cavaleiro j
experimentado.
Quinze dias (trinta lies) sero consagrados ao passo, ao trote e mesmo ao
galope. Aqui o aluno deve unicamente procurar acompanhar os movimentos do
cavalo; consequentemente o instrutor leva-o a ocupar-se apenas da sua posio
e no dos meios de dirigir o cavalo. Exige-se apenas que o cavaleiro siga
primeiro a direito, depois em todos os sentidos, com uma rdea de brido em
cada mo. Ao fim de quatro dias (oito lies), pode-se fazer-lhe tomar as rdeas
na mo esquerda.
Cuidamos que a mo direita, que est livre, fique ao lado da esquerda, para
que o cavaleiro ganhe desde logo o hbito de se colocar direito (os ombros na
mesma linha); o cavalo trotar igualmente para a direita e para a esquerda. Logo
que a colocao em sela esteja bem consolidada em todos os andamentos, o
instrutor explicar de uma maneira simples as relaes que existem entre os
punhos e as pernas, assim como os seus efeitos separados (1).
-16-
Educao do cavalo
Aqui o cavaleiro comear a educao do cavalo, seguindo a progresso que
indiquei e que se encontrar frente. Far-se- compreender ao aluno tudo o que
ela tem de racional, e por qual ligao ntima se encadeiam, mas suas relaes,
a educao do homem e a do cavalo. Ao fim de quatro meses apenas, o
cavaleiro poder passar escola de peloto; as ordens sero apenas uma
questo de memria; basta ouvi-las para as executar, porque ele ser senhor do
seu cavalo. Eu espero que a cavalaria compreenda (como ela j compreendeu o
meu modo de educao do cavalo) toda a vantagem dos meios que indico para
tirar o maior partido possvel do pouco tempo que cada soldado est nas fileiras.
Tenho igualmente a convico que o emprego destes meios tornar pronta e
perfeita a educao dos homens e dos cavalos.
RESUMO E PROGRESSO
Dias
Lies
14
28
30
100
TOTAL
95
188
-17-
II
O EQUILBRIO DO CAVALO.
A harmonia do peso e das foras do cavalo d o equilbrio.
O equilbrio da massa produz a harmonia dos movimentos.
BAUCHER.
-18 A cincia tinha falado; como toda a gente, acreditei no seu orculo.
Eis-me portanto entregue durante anos inteiros a procuras dirias.
Resultados nulos! Os da vspera eram contestados pelos do outro dia.
Era pois necessrio, entretanto, dado que o centro de gravidade se divertia a
viajar incgnito, deixar o cavalo e o seu cavaleiro expostos aos perigos que a
falta de equilbrio acarreta!
Para me ajudar nas minhas pesquisas, dirigi-me aos ecuyers autores Eles
exibiram uma grande erudio e explicaram-me o deslocamento do centro de
gravidade, quando, por exemplo, um membro se desloca para diante, seguido do
membro diagonalmente oposto; ou tambm quando se obtm o rassembler, ou
quando o cavalo se empina, escoucinha, etc.
Ele est ali, dizia um; no, eu vejo-o deste lado dizia outro; e estas vs
discusses continuam ainda porque no se quer remontar s causas iniciais, e
que os efeitos absorvem a ateno geral.
Estuda-se a maneira de ser do centro de gravidade. Porqu? Ignoro-o. Em
boa prtica, no temos ns o peso do cavalo a repartir e a sua fora a
coordenar? No temos ns que combinar as foras opostas do cavaleiro (mo e
pernas)? Se ns nos apercebemos dos efeitos destes diversos agentes, e se
deles tiramos o partido conveniente, atingiremos o equilbrio, sem termos que
nos preocupar com o centro de gravidade.
Senhores tericos, preparem os vossos antemas! Eu vou meter uma mo
profana sobre o deus dos vossos sonhos e partir o vosso dolo, depois de ter,
verdade, na minha ignorncia, queimado no seu altar um intil incenso.
O vosso centro de gravidade, no d, no traz, nem produz nada.
Ele existe incontestavelmente, mas no estado de passividade.
Vs quereis erigi-lo em causa, ele apenas efeito.
-19Qualquer que seja a vossa opinio a seu respeito, ele funcionar sempre na
mesma ordem: bem, se o vosso movimento correcto; mal, se o vosso
movimento irregular.
Porque ento, a propsito da equitao, ter sempre na boca palavras
cientficas, sonoras verdade, mas vazias de sentido e prprias, apenas e s,
para retardar os progressos da arte, pela obscuridade que elas lanam sobre as
teorias?
Portanto, senhores, abandonem simplesmente o centro de gravidade s
influncias que o governam, e acabem com as discusses que ele provoca h
demasiado tempo. Em vez de montar uma nuvem para cavalgar procura de
uma ideia to impossvel de achar como intil, montem um cavalo verdadeiro, e
provavelmente aprovaro os princpios que eu vou aplicar para obter e manter o
equilbrio do cavalo.
-20-
III
DO EMPREGO RACIONAL DAS FORAS DO CAVALO.
O cavalo, como todos os seres organizados, dotado de um peso e de uma
fora caractersticas. O peso, inerente matria constitutiva do animal, torna a
sua massa inerte e tende a fixa-la ao solo. A fora, ao contrrio, pela faculdade
que ela lhe d de mobilizar esse peso, de o transferir de uma para outra das
suas partes, comunica o movimento, determina-lhe a velocidade, a direco e
estabelece o equilbrio.
Para tornar esta verdade palpvel, suponhamos um cavalo em repouso. O seu
corpo estar em perfeito equilbrio se cada um dos seus membros suportar
exactamente a parte do peso que lhe devida nesta posio. Se ele quer sair ao
passo, dever primeiramente transferir, para os membros que se mantiverem
fixos ao solo, o peso que suportava o primeiro a mover-se. E ser tambm assim
para os outros andamentos, sendo a transferncia, ao trote, de uma diagonal
para a outra; ao galope da frente para trs, e reciprocamente. preciso nunca
confundir se se trata de peso ou de fora. O peso passivo, a fora
determinante activa. pondo peso nestas ou naquelas extremidades que a
fora as mobiliza ou as fixa. A lentido ou a velocidade das transferncias
determina os diferentes andamentos, que so, eles mesmos, correctos ou no,
iguais ou desiguais, conforme essas transferncias se executem correctamente
ou irregularmente. Compreende-se que essa fora motriz se subdivide at ao
infinito, visto que ela se reparte por todos os msculos do animal. Quando este
ltimo determina ele prprio o seu emprego, eu chamo-lhes instintivas; chamolhes transmitidas (1) quando o cavaleiro coordena o emprego.
(1)
Vrios panfletrios muito eruditos e profundos anatomistas discutiram muito sobre esta
expresso: foras transmitidas, no tendo, diziam eles divertidamente, encontrado nada
de semelhante nos cavalos que eles tinham esfolado na escola de Alfort. Concordar-se sem dvida comigo que esta palhaada uma grande tirada.
Falando seriamente, eu declaro que empregando a expresso transmitidos no
pretendo criar foras em principio, mas smente de facto. Consigo dirigir e utilizar foras
que, devido a contraces e resistncias, permaneciam completamente inertes, e que
era portanto como se no existissem. No isso, afinal, uma espcie de transmisso?
-21No primeiro caso, o homem, dominado pelo seu cavalo, o joguete dos seus
caprichos; no segundo, pelo contrrio, torna-o num instrumento dcil, submetido
a todos os impulsos da sua vontade. O cavalo assim que montado, no deve
agir seno pelas foras transmitidas ou harmonizadas. A aplicao constante
deste princpio constitui a verdadeira maestria do ecuyer.
Mas um tal resultado no pode obter-se instantaneamente. O cavalo jovem,
habituado a controlar, ele mesmo, na sua liberdade, o emprego das suas
energias, submeter-se- de incio com dificuldade influncia alheia que venha
interferir sem inteligncia. Necessariamente inicia-se uma luta entre cavalo e
cavaleiro; e este ser vencido se no possuir a perseverana e sobretudo os
conhecimentos necessrios para atingir os seus objectivos. Sendo as foras do
animal o elemento sobre o qual o ecuyer deve agir principalmente, para as
dominar primeiro e dirigir depois, sobre elas antes de mais que lhe importa
fixar a sua ateno. Ele procurar as partes que mais se contraem para resistir e
as causas fsicas que podem ocasionar essas contraces. Desde que ele saiba
com o que conta sobre essa questo, empregar com o seu aluno apenas os
procedimentos relacionados com a natureza deste ltimo e os progressos sero
ento rpidos. Infelizmente, procura-se em vo nos autores antigos e modernos
que escreveram sobre equitao, j no digo princpios racionais, mas mesmo
quaisquer dados que digam respeito ao emprego racional das foras do cavalo.
Todos falaram muito de resistncias, de oposies de equilbrio, mas nenhum
soube dizer-nos o que causa essas resistncias, como se pode combat-las,
destru-las, e obter essa ligeireza, esse equilbrio, que recomendam to
ardentemente. essa grave lacuna que lanou sobre os comeos da equitao
tantas dvidas e obscuridade; foi ela que fez estacionar esta arte tanto tempo;
esta grave lacuna, enfim, que creio ter colmatado.
E comeo por estabelecer o princpio que todas as resistncias dos jovens
cavalos provm, em primeiro lugar, de uma causa fsica, e que esta causa s se
torna moral pela inabilidade, a ignorncia ou a brutalidade do cavaleiro. Com
efeito, para alm da rigidez natural, comum a todos esses cavalos, cada um
deles tem uma conformao particular cuja maior ou menor perfeio d o grau
de harmonia existente entre o peso e as foras.
-23Ora, pergunto eu, se, antes de ter ultrapassado estes primeiros obstculos, o
cavaleiro vem acrescentar o peso do seu prprio corpo e as suas exigncias
desastradas, o animal no ter uma dificuldade ainda maior em executar certos
movimentos? Os esforos que se faro para a isso o obrigar, sendo contrrios
sua natureza, no se devero quebrar contra esse obstculo inultrapassvel?
Ele resistir naturalmente, e com to maior vantagem, quanto a m distribuio
do seu peso e das suas foras chegar para anular a aco do cavaleiro. A
resistncia imana portanto aqui duma causa fsica; esta causa torna-se moral
desde o instante em que, mantendo-se a luta com os mesmos processos, o
cavalo comea ele prprio a combinar os meios de se subtrair ao suplcio que
lhe imposto, quando se quer assim forar os meios que no se flexibilizaram
primeiramente.
A chegados, as coisas s podem piorar. O cavaleiro, cedo desgostado com a
impotncia dos seus esforos, atribuir ao cavalo a responsabilidade da sua
prpria ignorncia; ele difamar com o nome de pileca um cavalo que possua
talvez brilhantes recursos, e do qual, com mais discernimento e cincia, ele teria
podido fazer uma montada cujo carcter seria to dcil e submisso como seriam
graciosos e agradveis os seus andamentos. Eu tenho notado frequentemente
que os cavalos reputados indomveis so queles que desenvolvem mais
energia e vigor, quando se soube remediar as deficincias fsicas que
paralisavam o seu desenvolvimento. Quanto aos que, apesar da sua m
conformao, se acabam por submeter a uma espcie de obedincia, preciso
agradecer smente suavidade da sua natureza; se eles querem restringir-se
apenas a exerccios dos mais simples, e com a condio de no exigir muito
mais, porque eles encontrariam bem depressa a energia prpria para resistir a
pretenses mais elevadas. O cavaleiro poder portanto faz-los andar nos
diferentes andamentos; mas que descosido, que rigidez, que desgracioso nos
seus movimentos, e a que ridculo, tais corcis, metem o desgraado que eles
sacodem e arrastam assim sua vontade, sem se deixarem conduzir por ele!
Este estado de coisas perfeitamente natural, uma vez que no se destruram
as causas primeiras que o produzem: a m repartio do peso e das foras e a
rigidez que ela origina em seguida.
-24Mas, ir-me-o objectar, visto que reconhece que essas dificuldades tm a ver
com a conformao do cavalo, como possvel remedi-las?
No tem com certeza a pretenso de mudar a estrutura do animal e corrigir a
natureza? No, sem dvida; mas concordando totalmente ser impossvel dar
mais amplitude a um peito estreito, de alongar um pescoo demasiado curto,
abaixar uma garupa elevada, encurtar e alargar rins longos, fracos e estreitos,
no deixo, no entanto, de continuar a sustentar que se eu destruo as diversas
contraces ocasionados por esses defeitos fsicos, se flexibilizo os msculos,
se me torno senhor das foras ao ponto de poder dispor delas minha vontade,
ser-me- fcil prevenir as resistncias, dar mais elasticidade s partes fracas,
moderar as que so demasiado vigorosas, e compensar assim os maus efeitos
de uma natureza imperfeita, estabelecendo, no equilbrio do cavalo, uma
correcta repartio do peso e das foras.
Tais resultados, no temo diz-lo, foram e continuam a ser interditos em
definitivo s antigas escolas. Mas se a cincia dos que persistem nos velhos
erros vem sempre mostrar a sua impotncia com um grande nmero de cavalos
defeituosos, encontram-se cavalos que, pela perfeio da sua organizao e a
facilidade da educao que da resulta, contribuem poderosamente para
perpetuar as rotinas impotentes, to funestas para os progressos da equitao.
Um cavalo bem constitudo quele de que todas as partes, correctamente
harmonizadas, conduzem ao equilbrio perfeito do conjunto. Seria to difcil a tal
individuo sair desse equilbrio natural, para tomar uma m posio e defenderse, quanto penoso de inicio, para o cavalo mal conformado, adquirir essa
correcta repartio do peso e das foras sem a qual no se pode esperar
nenhuma regularidade de movimentos.
na educao destes ltimos animais smente que residem as verdadeiras
dificuldades da equitao. Com os primeiros, o ensino deve ser, por assim dizer,
instantneo, visto que, com todos os meios no seu lugar, bastar p-los a
funcionar; com o meu mtodo esse resultado obtm-se sempre.
-25Os antigos princpios, entretanto, exigem dois ou trs anos para a chegar; e
quando s apalpadelas e incertezas, o cavaleiro dotado de alguma inteligncia e
de alguma prtica acaba por habituar o cavalo a obedecer aos estmulos que lhe
so comunicados, ele cr ter ultrapassado as dificuldades, e atribui ao seu saber
fazer um resultado que a aplicao de bons princpios, teria conseguido em
alguns dias. Depois, como o animal continua a exibir em todos os seus
movimentos a graa e a ligeireza inerentes sua bela conformao, o cavaleiro
no tem escrpulos em se atribuir o mrito, mostrando-se ento to presunoso
quanto injusto, quando quer tornar o cavalo mal constitudo responsvel pela
ineficcia dos seus esforos. Uma vez admitidas estas verdades:
Que a educao do cavalo consiste no domnio completo das suas foras e na
correcta repartio do seu peso;
Que no se pode dispor das foras sem anular todas as resistncias,
E que as resistncias tm a sua origem nas contraces ocasionadas pelas
deficincias fsicas, bastar ento descobrir as partes onde se operam essas
contraces, a fim de tentar combat-las e faz-las desaparecer por meio de um
equilbrio conveniente do peso e das foras.
Longas e conscienciosas observaes demonstraram-me que, seja qual for o
defeito de conformao que se oponha no cavalo correcta repartio das
foras, sempre na maxila que se produz o efeito mais imediato. No h falsos
movimentos nem resistncias que no sejam precedidos pela contraco desta
parte do animal; e como o pescoo est intimamente ligado maxila, a rigidez
de uma, comunica-se imediatamente outra. Estes dois pontos so o
arcobotante sobre o qual o cavalo se apoia para anular todos os esforos do
cavaleiro. Percebe-se facilmente o obstculo imenso que eles devem
apresentar, porque sendo a cabea e o pescoo as suas principais alavancas
com que se coloca e dirige o animal, torna-se impossvel obter seja o que for
dele
enquanto
no
se
seja
inteiramente
senhor
destes
primeiros
-27IV
TRABALHO A P
MOBILIZAO DO CAVALO, POR INTERMDIO DAS FORAS INSTINCTIVAS
PARA OBTER EQUILBRIO DO PESO.
EMPREGO DA CHIBATA PARA ENSINAR O CAVALO A APROXIMAR-SE, A TORN-LO DCIL AO
MONTAR, ETC.
-30-
V
DA FLEXIBILIZAO
Os novos princpios do meu mtodo s podem ser praticados por homens
versados na arte da equitao, e que juntem uma posio segura a uma
grande experincia da equitao para compreenderem tudo o que diz respeito
ao seu mecanismo. No voltarei, portanto, aos procedimentos elementares;
ao instrutor que compete ajuizar se o seu aluno possui um grau conveniente
de solidez, se ele est suficientemente em ligao com o seu cavalo; porque,
ao mesmo tempo que uma boa posio produz esta identificao, ela
favorece o jogo fcil e regular das extremidades do cavaleiro.
O meu objectivo, aqui, tratar principalmente da educao do cavalo; mas
esta educao est demasiado intimamente ligada do cavaleiro para que seja
possvel fazer progredir uma sem a outra. Explicando os procedimentos que
devero levar perfeio no cavalo, eu ensinarei necessariamente ao cavaleiro
a aplic-los ele prprio; ele s ter que professar amanh o que eu lhe
demonstro hoje.
Conhecemos agora quais so as partes do cavalo que mais se contraem para
as resistncias e sentimos a necessidade de as flexibilizar. Procuramos ns,
desde logo, atac-las, exercit-las todas em conjunto, para as submeter de uma
assentada? No, sem dvida, isso seria voltar aos antigos erros, e ns estamos
convencidos da sua ineficcia. O animal dotado de uma potncia muscular
infinitamente superior nossa; as suas foras instintivas podendo alm disso
ajudarem-se umas as outras, ns seremos inevitavelmente vencidos se ns as
provocarmos todas ao mesmo tempo. Visto que as contraces residem em
partes separadas, saibamos aproveitar esta diviso para as combater
sucessivamente, a exemplo desses generais hbeis que destroem, porque as
separam, foras a que em conjunto no teriam podido resistir.
De resto, quaisquer que sejam a idade, as disposies e a estrutura do
cavalo, os maus procedimentos, no comeo, sero sempre os mesmos.
Os resultados que sero mais ou menos rpidos e fceis conforme o grau de
-31perfeio da sua natureza e a influncia das mos s quais ele tenha podido
estar sujeito anteriormente.
A flexibilizao, que, num cavalo bem constitudo, no ter outro fim se no o de
preparar as suas foras para ceder aos nossos meios de aco, dever alm
disso restabelecer a calma e a confiana, se se trata de um cavalo mal
ensinado, e fazer desaparecer, se a conformao defeituosa, as contraces,
causa das resistncias e de oposio a um equilbrio perfeito. As dificuldades a
ultrapassar dependem desta complicao de obstculos, que desaparecero
todos bem depressa, mediante um pouco de perseverana da nossa parte. Na
progresso que iremos seguir para submeter flexibilizao as diversas partes
do animal, comearemos naturalmente pelas mais importantes, isto a maxila e
o pescoo.
A cabea e o pescoo do cavalo so ao mesmo tempo o leme do animal e a
bssola do cavaleiro. Por elas ele dirige o animal; por elas tambm ele pode
avaliar a regularidade, a correco do seu movimento; no h equilbrio, no h
ligeireza, se a cabea e o pescoo no so suaves, maleveis e graciosos.
Nenhuma elegncia, nenhuma facilidade no conjunto, se estas duas partes,
enrijecerem. Precedendo o corpo em todos os suas impulses, elas devem
preparar antecipadamente, indicar pela sua atitude as posies a tomar, os
movimentos a executar. Nenhum domnio permitido ao cavaleiro enquanto elas
estiverem contradas e rebeldes; uma vez que elas estejam flexveis e
manejveis, dispe do animal sua vontade. Se a cabea e o pescoo no so
os primeiros a iniciar as mudanas de direco, se, nas marchas circulares, elas
no se mantm inclinadas sobre a linha curva, a fim de sobrecarregar mais ou
menos as extremidades conforme o movimento, se para recuar elas no se
recolhem sobre elas prprias, e se a sua ligeireza no est sempre relacionada
com os diferentes andamentos que se quiserem tomar, o cavalo livre de
executar ou no esses movimentos, uma vez que ele continuar senhor do
emprego das suas foras.
-32-
VI
DA BOCA DO CAVALO E DO FREIO
J tratei este assunto longamente que baste no meu Dicionrio racional de
Equitao; mas como eu desenvolvo aqui uma exposio completa do meu
mtodo, eu creio ser necessrio a voltar em algumas palavras.
Eu ainda me pergunto como se poude atribuir durante tanto tempo simples
diferena de conformao das barras essas disposies opostas dos cavalos
que os tornam to ligeiros ou to pesados na mo. Como que se poude
acreditar que, porque o cavalo tem uma ou duas camadas de carne a mais ou a
menos entre o freio e o osso do maxilar inferior, ele ceda mais ligeira impulso
da mo, ou tome o freio nos dentes, apesar dos esforos dos mais vigorosos
braos? no entanto apoiando-se neste erro inconcebvel que se meteram a
forjar freios de formas bizarras e to variadas, verdadeiros instrumentos de
suplcio, cujo efeito s podia aumentar os inconvenientes que se procurava
remediar. Se se tivesse querido analisar a origem das resistncias, ter-se-ia
reconhecido bem depressa que a rigidez da maxila, no provem da diferena de
conformao das barras, mas sim do mau equilbrio do cavalo. pois em vo
que ns nos penduramos nas rdeas e que ns colocamos na boca do cavalo
um instrumento mais ou menos mortfero; ele continuar insensvel aos nossos
esforos enquanto no lhe tivermos dado essa ligeireza que, s ela, pode metlo em condies de ceder.
Eu estabeleo portanto o princpio de que no existe qualquer diferena de
sensibilidade na boca dos cavalos; que todos apresentam a mesma ligeireza na
posio de ramener e as mesmas resistncias medida que se afastam desta
posio importante. H cavalos pesados na mo, mas essa resistncia provem
do comprimento ou da fraqueza dos rins, da garupa estreita, das ancas curtas,
das coxas delgadas, dos curvilhes direitos, ou enfim (ponto importante) duma
garupa demasiado alta ou demasiado baixa relativamente ao garrote; tais so as
verdadeiras causas das resistncias; o aperto da maxila, a contraco do
pescoo, no mais que os efeitos.
-33No admito, por conseguinte, mais que uma s espcie de freio, e eis a forma
e as dimenses que lhe dou para o tornar to simples quanto suave:
Caimbas direitas com 16 centmetros de comprimento, a partir do bocado;
permetro do bocado, 6 cm; a passagem de lngua cerca de 4 centmetros de
largura na parte inferior, e 2 centmetros na parte superior. Bem entendido que
smente a largura deve variar conforme a boca do cavalo.
Eu afirmo que um tal freio bastar para submeter mais passiva obedincia
de todos os cavalos que para isso tenham sido preparados pela flexibilizao; e
no tenho necessidade de acrescentar que, uma vez que nego a utilidade dos
freios duros, eu rejeito, pela mesma razo, todos os meios fora dos recursos do
cavaleiro, tais como martingalas, piles, etc. (1)
-34-
VII
FLEXIBILIZAO DA MAXILA E DO PESCOO
As flexes da maxila, assim como as duas flexes do pescoo, que se
seguem, executam-se em estao com o cavaleiro apeado. O cavalo
apresentar-se- aparelhado e com as rdeas sobre o pescoo. O cavaleiro
comea por verificar se a embocadura, est bem ajustada e se a barbela est de
modo a que se possa facilmente introduzir um dedo entre esta e a barba
(queixo). Depois encarando o cavalo com afabilidade, coloca-se ao lado do
pescoo perto da cabea, direito e bem colocado, os ps um pouco afastados de
modo a assegurar a sua base e estar pronto a lutar com vantagem no caso de
ser necessrio lutar contra todas as resistncias.
-35-
Fig.1
-36-
Fig. 2 e 3
-37Segunda flexo
A segunda flexo executa-se tomando as duas rdeas de freio com a mo
direita e as duas rdeas de brido com a esquerda. Procedendo como para a
primeira flexo, e se esta foi bem-feita, obtm-se quase instantaneamente a
mobilidade da maxila. Em alguns cavalos, o maxilar inferior destaca-se
momentaneamente para voltar a fechar-se com ruido. Esta espcie de tique
nervoso, de ranger de dentes, deve ser combatido com cuidado, porque ele
acaba por aumentar a resistncia e opor-se ligeireza (Fig.2 e 3).
Terceira flexo
O cavaleiro agarra, por exemplo, a rdea direita do brido com a mo
esquerda e a rdea esquerda com a mo direita a 17 centmetros, depois cruza
as duas rdeas debaixo do queixo de modo a exercer uma forte presso na zona
de aco da barbela (barba). Se a resistncia se mantiver, o cavaleiro f-la-
cessar rapidamente com vibraes dos pulsos (Fig.4) (1).
Percebe-se facilmente a importncia de estas flexes da maxila. O seu
resultado preparar o cavalo para ceder s mais ligeiras presses do brido e
do freio, flexibilizar directamente os msculos que unem a cabea ao pescoo.
Devendo a cabea preceder e determinar as diversas atitudes do pescoo
indispensvel que este esteja sempre sujeito primeira. O que no aconteceria,
se no imperfeitamente, com a flexibilizao, apenas, do pescoo, porque seria
ento isto que determinaria a obedincia da cabea arrastando-a no seu
movimento. A oposio das mos empregar-se- sem interrupo, cessando,
apenas, aps perfeita obedincia do cavalo, a no ser que haja acuamento; a
oposio diminuir ou aumentar na justa medida da resistncia de modo a
domin-la, mas tambm sem for-la demasiado. O cavalo, que resistir de
incio, acabar por considerar a mo do cavaleiro como um regulador irresistvel
de modo que ele se habituar a obedecer de tal maneira que rapidamente
obteremos por uma simples presso de rdea o que, de incio, exigia uma fora
grande.
(1) As vibraes das mos devem ser usadas em todas as flexes.
-38-
Fig. 4
-39FLEXIBILIZAO DO PESCOO
Primeira flexo lateral.
Segunda flexo
1 O cavaleiro agarra a rdea direita de brido passando-a sobre o pescoo e
apoiando-a no garrote, para estabelecer um ponto intermdio entre a fora por si
empregue e a resistncia que o cavalo apresentar; a rdea esquerda
agarrada com a mo esquerda a trinta e trs centmetros do freio. Assim que o
cavalo procurar evitar a tenso constante da rdea direita inclinando a sua
cabea direita, o cavaleiro deixar escapar a rdea esquerda, para no fazer
qualquer oposio flexo do pescoo.
N.T. 1. Obliqua porque est fora do alinhamento das espduas.
2. Vr Mise en main.
-40-
Fig. 5 e 6
-41Esta rdea esquerda deve suster-se por uma sucesso de pequenas tenses
espontneas, cada vez que o cavalo procure escapar-se, deslocando a garupa,
ao efeito da rdea direita (Fig.7).
2 Assim que a cabea e o pescoo tenham completamente cedido direita, o
cavaleiro dar uma tenso igual s duas rdeas para colocar a cabea
verticalmente. A elasticidade e a ligeireza seguiro em consequncia desta
posio, e assim que o cavalo mostrar a ausncia de qualquer rigidez pela
aco de mascar o freio, o cavaleiro far cessar a tenso das rdeas tomando
cuidado para que a cabea no aproveite esse momento de abandono para se
deslocar bruscamente. Nesse caso, bastar para a conter, uma aco ligeira da
rdea direita. Depois de ter mantido o cavalo, alguns segundos, nesta atitude,
retoma-se a posio, sustendo um pouco a rdea esquerda. O importante que
o cavalo em todos os movimentos, no aja por iniciativa prpria (Fig.8).
A flexo do pescoo esquerda executar-se- segundo os mesmos princpios
e pelos meios inversos. O cavaleiro poder repetir com as rdeas do freio o que
fez, de incio, com as rdeas do brido; no entanto o brido dever sempre ser
empregue em primeiro lugar, sendo o seu efeito menos poderoso e mais direto.
Se as flexes a p foram bem-feitas sem nada deixar a desejar, as flexes
montado, obter-se-o facilmente. Estes primeiros exerccios so de uma grande
importncia, e o tempo que se lhes consagra abrevia consideravelmente a
durao das lies seguintes. O cavaleiro deve escrupulosamente preocupar-se
com fazer flectir a maxila antes da flexo do pescoo, de maneira que este
sustente a cabea e a siga sem nunca se antecipar. Em princpio, no h
resistncia do pescoo com uma maxila mobilizada e macia. Dar-se-, quase
sempre, o oposto quando a flexo do pescoo precede a da maxila. Os dentes
mantm-se cerrados ou s se abrem de uma forma incorrecta.
A resistncia relaciona-se directamente com o mutismo do cavalo (1).
(1) Esta palavra que, sob o ponto de vista tcnico, no lhe falta cachet deve-se a um
cuyer que aproveitou perfeitamente algumas lies que lhe dei. M. Cinizelli, depois de
ter recebido as felicitaes do rei da Sardenha, foi, um dia, convidado a visitar o picadeiro
real. Ele formulou a sua opinio sobre os trabalhos executados diante dele, assim:
muito bom, mas os vossos cavalos so mudos. Esta palavra, na boca do cuyer aludia
pura e simplesmente a imobilidade da maxila dos cavalos.
-42-
Fig. 7 e 8
-43Nas flexes directas ou nas laterais, o cavalo apresenta ainda uma resistncia
difcil de anular, se no se lhe conhece a causa. fazendo foras que o cavalo
recomea as lutas, que o cavaleiro s anula depois de muitos esforos e no
perfeitamente. Entendo por fazer foras a contraco da maxila inferior de um
lado ou de outro.
Exemplo: se se leva a cabea do cavalo para a direita a maxila inferior vai mais
para a direita do que a maxila superior. Torna-se, portanto, necessrio tornar a
traz-la para a esquerda para obter a sua verdadeira mobilidade e uma completa
ligeireza. Estes exerccios e os seguintes so fceis de executar se o cavaleiro
pe escrupulosamente em prtica os meios que indico e se segue inteiramente a
gradao que assegura o sucesso.
Flexo directa ou ramener.
Alternar-se-o as flexes laterais com a flexo directa ou colocao em mo1.
Para l dos meios indicados para as flexes da maxila, a flexo directa obter-se ainda com a rdea direita do brido apoiada sobre o pescoo e agarrada pela
mo direita. Com a mo esquerda agarra-se a rdea esquerda a trs
centmetros da boca. As duas rdeas sero puxadas gradualmente, e a sua
aco levar o cavalo a ceder completamente da maxila e do pescoo (Fig.9).
Se o pescoo fletir antes da maxila necessrio opor uma fora espontnea
da mo para impedir esta flexo defeituosa e prematura. Alguns dias deste
exerccio asseguraro a ligeireza da maxila e do pescoo.
indispensvel que o cavaleiro se aperceba da disposio do peso e das
foras da sua montada; porque a sua m repartio retardar o progresso da
sua educao. Suponhamos por conseguinte que, com o cavalo em estao, o
seu peso esteja transportado sobre o antemo. Nesse caso as resistncias
seriam enormes e quase inultrapassveis, se, antes de tudo, no se forasse o
peso a deslocar-se para o postmo por uma presso constante do freio, o que
se far sem procurar obter qualquer flexo. Por este movimento, o peso
harmoniza-se de tal maneira com as foras que se obtm imediatamente toda a
ligeireza desejvel.
1. Mise en main.
-44-
Fig. 9
-46-
VIII
EFEITOS DA MO (RDEAS).
Pusemos como regra invarivel que, assim que subtemos o cavalo, pelas
primeiras vezes, aco do freio, necessrio usarmos uma embocadura de
freio e brido. Acrescente-se que se dever recorrer aos efeitos deste ltimo nos
comeos da educao do cavalo, porque a sua potncia, menor que a do freio,
tem uma aco mais directa para fazer ceder o pescoo direita e esquerda.
Com efeito, para a colocao, o brido representa apenas uma alavanca do 3
tipo, enquanto o freio com caimbas e barbela uma alavanca do 2 tipo. Para a
colocao e movimentos retrgrados do corpo, a potncia do freio superior
do brido; mas para as primeiras deslocaes da cabea do cavalo e para
reprimir as resistncias laterais, o uso do brido dar resultados mais imediatos,
porque, composto de duas peas, tem um efeito local que age sobre um dos
lados da boca do cavalo. Os mesmos efeitos, s com as rdeas de freio, no
podem agir nem to directamente nem to isoladamente sobre cada uma das
barras; porque a pea nica que compe o freio age necessariamente sobre
toda a maxila e torna, por isso mesmo, a inteno do cavaleiro menos clara
inteligncia do cavalo. Da hesitao e lentido de um lado, impacincia e clera
do outro, e frequentemente lutas lamentveis que nem sempre terminam com
vantagem para o cavaleiro.
Eu sei que em rigor um cavaleiro pode no usar o brido, como pode tambm
usar apenas este para ensinar um cavalo, mas isso no mais que a excepo
que confirma a regra. Portanto, para comear, utilizam-se as rdeas de brido,
uma em cada mo; as rdeas de freio, reunidas na mo esquerda na sua
posio normal, estaro ligeiramente bambas. A rdea esquerda de brido
presa entre o polegar e o indicador; a rdea direita, fica entre o polegar e os trs
primeiros dedos, passar sobre o mindinho da mo direita. Estas disposies
facilitaro o emprego do brido para as flexes do pescoo.
-47Se, nas flexes, o cavalo sair da colocao passam-se as rdeas de brido para
a mo direita para que a mo esquerda, por uma tenso igual das duas rdeas
de freio, exera uma presso que destrua a resistncia e coloque a cabea na
posio vertical. Esta atitude tornar o cavalo mais submisso aos efeitos das
rdeas de brido. Esta primeira flexo exercer-se-, primeiro parado, depois ao
passo. Este trabalho, feito convenientemente a p, tornar-se- fcil a cavalo.
Todo o exerccio obtido primitivamente com as rdeas de brido, ser praticado
a seguir com as rdeas de freio, para levar a cabea do cavalo direita,
esquerda ou posio vertical, e obter a colocao na mo. A execuo das
flexes laterais com as rdeas de freio demonstrar um progresso, dado que ela
se obter com a ajuda dos meios menos diretos.
intil fazer notar que antes de passar de uma flexo lateral a outra,
necessrio aproveitar o momento em que a cabea se encontra no
prolongamento da linha das espduas e da garupa, para colocar o cavalo na
mo, por uma tenso igual das duas rdeas de freio. Esta observao aplica-se
igualmente a todas as flexes executadas nos diferentes andamentos.
O trabalho do postmo, ou iniciao das piruetas invertidas, praticar-se- pela
tenso maior da rdea oposta ao lado para onde se desloca a garupa. Se ela se
desloca para a esquerda, agarra-se a rdea direita com mais energia (e vice
versa), a fim de dominar as resistncias que os movimentos novos para o
cavalo, devem fazer aparecer. Assim que o cavalo obedea perna, cessa a
aco isolada da rdea de brido ou de freio; porque sendo este meio apenas o
corretivo das resistncias deve ser abandonado assim que no tenha objectivo.
As rdeas tornam-se ento inteis como fora de oposio e servem apenas
para manter a atitude mais conveniente para que o cavalo permanea bem
colocado e gracioso nos seus movimentos.
Para as piruetas directas, direita, por exemplo, afasta-se a rdea direita de
brido, compensando a sua aco com a esquerda. A rdea direita desloca o
antemo, a outra fixar a garupa de modo a que ela sirva de centro de rotao.
A mo do freio, deve cessar todos os movimentos, para habituar o cavalo a
obedecer sua nica aco.
-50-
IX
EFEITO DAS PERNAS
Se eu perguntasse a qualquer cavaleiro que fosse, quais os meios para mudar
de direco, ele responder-me-ia seguramente: Se quiser voltar direita, leve a
mo para a direita e faa sentir a perna do mesmo lado.
, com efeito, o princpio que todos os tratados de equitao, at ao meu,
preconizam o nico eficaz para este movimento. Mas com tantos erros
considerados como princpios, eu quis assegurar-me da exatido deste ltimo.
Ento, para voltar a direita, por exemplo, levei a mo para a direita e fiz sentir
a perna do mesmo lado.
Alguma ligeireza que o meu cavalo tivesse na linha direita e se bem que eu
tivesse feito sentir a perna indicada, eu sentia frequentemente uma resistncia
da qual, durante muito tempo, procurei a causa e os meios de a destruir.
A experiencia demonstrou-me que frequentemente, em resultado da aco da
perna direita, a garupa deslocando-se esquerda, impede pela sua mobilidade,
que o peso se fixe sobre o ponto de apoio necessrio converso e origina
irregularidade e incerteza no movimento.
A represso de esta resistncia exige naturalmente, disse-o para comigo, o
emprego da perna esquerda. Adotei portanto este meio como correctivo. De
incio deu-me resultados surpreendentes, mas a persistncia no seu emprego
tornou-se na fonte de uma outra resistncia.
A garupa, levada demasiado direita pela presso da perna esquerda, vai, por
assim dizer, escorar-se contra a espdua direita e paralisa os seus movimentos.
Depois de minuciosas observaes, conclui ento que o emprego exclusivo de
uma ou outra perna no pode ser prescrito como o princpio absoluto nas
mudanas de direco visto que, destinado a prevenir, provoca, ao contrrio,
resistncias.
posio
do
pescoo
tornar-se-ia
forada
provocaria
um
-52-
X
EFEITO DE MO E DE PERNAS
Consagrmos um captulo especial s funes particulares da mo e das
pernas; vamos, agora, combinar a aco de estes poderes de tal sorte que eles
forneam ao cavaleiro os recursos que ele deve retirar do seu emprego
judicioso.
Em princpio, as pernas do cavaleiro do ao cavalo a impulso necessria
aos movimentos. Mas ela, primitivamente, apenas um meio de causar
movimento que, para obter um bom resultado, precisa de um moderador e de
um regulador.
Este duplo papel cabe mo.
Assim que, obedecendo presso das pernas, o cavalo se mobiliza, a mo,
sbia intrprete da vontade do cavaleiro, dispe o animal no sentido apropriado
ao movimento que deve ser executado, e a sua aco, metodicamente regulada,
faz compreender ao servidor as intenes do mestre. O cavalo, bem colocado
pela mo, executar facilmente o movimento indicado. E digo mais: ele executlo- necessariamente, porque a disposio das diversas partes do seu corpo no
lhe permitiria outra coisa.
O cuyer deve portanto ter por objectivo dominar as foras do cavalo;
necessrio que disponha delas absolutamente. A combinao inteligente da
aco da mo e das pernas produzir este resultado.
PRINCPIO ESSENCIAL. Em geral a aco das pernas deve preceder a da mo
para determinar todos os andamentos, assim como para obter o efeito de
conjunto, o rassembler, as paragens e o recuar, etc., etc.
Com efeito, se se pe o cavalo para diante, preciso que de incio as pernas
determinem a sua aco e que, da impulso obtida, a mo aproveite todas as
foras de que necessite para dirigir a massa no sentido apropriado ao
movimento. Se, pelo contrrio, a aco da mo precedesse a das pernas, o
cavalo, faltando-lhe a impulso
-54Quer isto dizer, entretanto, que eu quero prometer a todos os adeptos do meu
mtodo os resultados que muitos dos meus alunos obtiveram? No, eis porqu.
Seja qual for a clareza de uma teoria e a exatido dos seus princpios, o
professor no pode dar a todos essa centelha de fogo sagrado que revela a
aptido e vocao e leva ao sucesso.
Se as ideias tericas explicadas e motivadas no encontram como que um
eco no espirito do aluno, se a sua inteligncia no atingida como por um
choque elctrico, pela veracidade do princpio, porque falta a inspirao. Os
esforos do professor lutaro penosamente contra a inaptido.
Comparando as foras do homem e as do cavalo, espanta-nos que a nossa
fraqueza proporcional tenha empreendido o domnio de uma potncia to
superior; e, entretanto, com a simples presso das nossas pernas e das nossas
mos ns lhe impnhamos a nossa vontade.
Submetido s nossas leis, o nosso soberbo antagonista precipita-se como
uma avalanche; as suas foras, ampliadas pela impulso, imprimem ao seu
corpo uma rapidez vertiginosa; a sua impetuosidade parece indomvel. Um
gesto do cavaleiro, e a massa impetuosa torna-se uma esttua, o cavalo est
imvel.
Dei os meios de obter estes imensos resultados. O meu mtodo pe de tal
maneira o cavalo na dependncia do cavaleiro, que, pela combinao dos
efeitos de pernas e mo, os nossos menores movimentos chegam para dirigir
nossa vontade os meios deste potente animal; mas eu no posso dizer precisa e
claramente ao aluno o grau de fora impulsiva ou repressiva que ele deve
empregar. apreciao exacta do emprego das foras combinadas que se
chama inteligncia equestre. Esta qualidade inata no verdadeiro cuyer, ela
-lhe indispensvel.
Uma longa prtica, dando experincia, pode, verdade, combater felizmente
a inaptido. Mas se, nesse caso, os progressos so lentos, deve-se atribui-lo a
ineficcia dos princpios?
- 55-
XI
FLEXIBILIZAO A CAVALO, ANTE-MO E POSTMO
FLEXO DIRECTA DA CABEA E DO PESCOO, OU RAMENER
1 O cavaleiro servir-se- de incio das rdeas de brido, que reunir na mo
esquerda e agarrar como as do freio. Ele apoiar a mo direita de champ (1)
sobre as rdeas frente da mo esquerda, a fim de dar a esta uma maior
potncia, aumentando a presso do brido. Assim que o cavalo ceder, basta
levantar a mo direita para diminuir a tenso das rdeas e recompensar o
animal. Logo que o cavalo obedea a aco do brido, ele ceder bem mais
prontamente do freio, cujo efeito mais potente; resta dizer que o freio dever
por conseguinte ser empregado com mais cuidado que o brido. (Figura 10).
2 O cavalo ter completamente cedido aco da mo, assim que o maxilar
for mvel. O cavaleiro deve ter o cuidado de no se deixar enganar pelas
simulaes do cavalo, simulaes essas que consistem em executar um quarto
ou um tero de cedncia, a que se seguem balbuciamentos. Deve-se de incio,
habituar o cavalo a suportar as pernas para impedir quaisquer movimentos
retrgrados do seu corpo, movimentos que lhe permitiriam evitar os efeitos da
mo ou fariam aparecer pontos de apoio ou arcobotantes que lhe aumentariam
os meios de resistncia (especar-se). (Figura 11).
Esta flexo muito importante. Assim que ela se executa com facilidade e
prontido, basta um ligeiro apoio da mo para colocar e manter a cabea na boa
posio. O domnio de esta parte do animal tornar-se-, desde logo, to fcil
como natural, porque o pusemos em condies de compreender todas as
indicaes da mo e de lhes obedecer imediatamente sem esforo. Quanto s
funes das pernas, elas consistem em impedir um movimento retrgrado do
corpo.
(1) N.T. de chapa; espalmada.
-56-
Fig. 10 e 11
-58-
Fig. 12 e 13
- 59-
XII
MOBILIZAO DA GARUPA
O cavaleiro, para dirigir o cavalo, age directamente sobre duas das suas
partes: o antemo e o postmo. Para esse efeito emprega dois agentes: as
pernas que do impulso pela garupa; as mos, que dirigem e modificam essa
impulso pela cabea e pescoo. Uma perfeita relao de foras deve, ento,
existir sempre entre estes dois poderes; mas a mesma harmonia no menos
necessria entre as partes do animal que esses mesmos poderes pretendem
controlar. Ter-nos-emos esforado em vo para tornar a cabea e o pescoo,
flexveis, ligeiros, obedientes ao contacto dos ferros, os resultados sero
incompletos, o conjunto e o equilbrio imperfeitos, enquanto a garupa se
conservar pesada, contrada, rebelde ao agente directo que a deve governar.
Eu acabo de explicar por quais processos simples e fceis se dar ao antemo
as qualidades indispensveis para obter uma boa posio; falta-me dizer como
flexibilizar igualmente o postmo para completar a flexibilizao do cavalo e
juntar ao conjunto a harmonia no desenvolvimento de toda a sua elasticidade. As
resistncias do pescoo e as da garupa apoiam-se mutuamente, o que vai tornar
o nosso trabalho mais fcil, porque anulmos j as primeiras.
1 O cavaleiro agarra as rdeas do freio na mo esquerda e as do brido,
cruzadas uma sobre a outra na mo direita com as unhas para baixo; comea
por colocar a cabea do cavalo em boa posio por um ligeiro apoio do freio;
depois, se quiser executar o movimento para a direita, coloca a perna esquerda
atrs da cilha e fixa-a junto ao flanco do animal at que a garupa ceda sua
presso. O cavaleiro far sentir a rdea do brido do mesmo lado que a perna
com um efeito proporcional resistncia que lhe ser oposta. De estas duas
foras imprimidas assim pela rdea esquerda e pela perna do mesmo lado, a
primeira destina-se a combater as resistncias, e a segunda a determinar o
movimento. De incio contentar-se- com fazer executar garupa um ou dois
passos de lado smente. (Figura 14).
-61-
Fig. 14 e 15
-63Ao princpio, esta perna dever estar colocada o mais atrs possvel, e no
estabelecer contacto, a menos que as ancas venham contra ela. Assim que a
garupa esteja imvel, a perna oposta torna-se intil. Uma progresso bem
conduzida dar prontos resultados; contentar-nos-emos pois, no comeo, com
alguns passos bem executados para o parar por um efeito de conjunto e depois
dar imediatamente ao cavalo a sua liberdade de aco, o que pressupe cinco
ou seis tempos de paragem durante a rotao completa das espduas em volta
da garupa. Se este trabalho executado com lentido e cautela, se a ligeireza
est presente em todos os movimentos, eu garanto resultados surpreendentes.
Os meus alunos entregues a eles mesmos, ou as pessoas que praticam com a
ajuda smente do livro, sujeitam-se muitas vezes a desaires ou a atrasos na
educao dos seus cavalos; isso advm de se passar demasiado depressa de
um exerccio a outro. Ir lentamente para chegar depressa, eis o grande preceito,
e, se ele posto em prtica com inteligncia, dar resultados infalveis.
Vou explicar como se estabelecer o perfeito acordo do mecanismo por meio
dos efeitos de conjunto.
- 64-
XIII
EFEITO DE CONJUNTO
Solicitando dentro dos justos limites as foras do postmo e do antemo,
estabelece-se a sua correcta oposio, a harmonia das foras. Reconhecer-se-
a justeza de esta oposio das ajudas sempre que a ligeireza seja obtida sem
qualquer deslocao se trabalhamos parados, e sem aumento e sobretudo sem
diminuio do andamento se trabalhamos em movimento.
essencial, nesse trabalho, harmonizar a aco das pernas e a da mo, para
conservar o cavalo ligeiro. O efeito de conjunto deve sempre preparar cada
exerccio. Com efeito, ele deve preceder qualquer movimento, visto que,
servindo para pr todas as partes do cavalo na mais exacta ordem, segue-se
que a fora de impulso apropriada ao movimento ser, ento ainda mais
facilmente e seguramente transmitida.
No smente os efeitos de conjunto so indispensveis para que estes
movimentos sejam sempre fceis e regulares, mas eles ainda servem para
reprimir qualquer mobilidade das extremidades proveniente ou no da vontade
do cavalo seja em que movimentos for, porque eles facilitam a correcta
repartio do peso e das foras.
A prtica dos efeitos de conjunto ensina ao cavaleiro o acordo das ajudas e
leva-o a falar prontamente inteligncia do cavalo, fazendo-lhe compreender,
por posies exactas, o que pretendemos exigir dele. As caricias da mo e da
voz viro em seguida como efeito moral. Tenhamos o cuidado, todavia, de
recorrermos a elas smente depois das correctas exigncias das ajudas terem
obtido os resultados procurados.
Daquilo que acabo de dizer, compreende-se que enquanto a flexibilizao
geral do cavalo no seja totalmente perfeita, os efeitos de conjunto s podem ser
esboados. Mas facto, que desde o comeo, o cavaleiro deve p-los em
prtica, visto que a sua principal preocupao deve ser procurar estabelecer o
acordo entre a fora que empurra para diante e a que leva para trs, quer o
trabalho se faa parado ou a andar.
-66-
XIV
DO EMPREGO DA ESPORA
-68-
XV
EMPREGO PELO CAVALEIRO DAS FORAS DO
CAVALO PARA OS DIFERENTES ANDAMENTOS.
-69-
XVI
DO PASSO
O andamento do passo o pai de todos os andamentos; por ele que se obter
a cadncia, a regularidade, a extenso dos outros; mas o cavaleiro, para chegar
a esses resultados brilhantes, dever despender tanto do saber como do tacto.
Os exerccios precedentes levaram o cavalo a aceitar os efeitos de conjunto que
teriam sido impossveis antes de ter destrudo as suas resistncias instintivas;
presentemente resta-nos agir sobre as resistncias inertes devidas ao peso do
animal e sobre as foras que no agem sem a ajuda de uma impulso
comunicada.
Antes de pr o cavalo para diante, deve assegurar-se primeiro se ele est
ligeiro, isto , direito de espduas e ancas. Aproximam-se a seguir gradualmente
as pernas para dar ao cavalo a impulso necessria ao movimento. O cavaleiro
lembrar-se- sempre que a mo deve ser para o cavalo uma barreira
intransponvel cada vez que ele quiser sair da posio de ramener. O animal
sentir, sempre que o tentar, uma sensao desagradvel (1).
(1) Vivi em Berlim durante alguns meses, vi pr em prtica a equitao alem em toda a
sua extenso. No tenho a pretenso de me armar em crtico; direi smente que os
princpios professados na Prssia so diametralmente opostos aos meus; assim, vrios
oficiais, que gozam no seu pas duma certa reputao de cavaleiros, diziam-me: Ns
queremos que os nossos cavalos estejam frente da mo; e eu respondia-lhes que eu
quero que eles estejam atrs da mo e frente das pernas; nesta condio smente
que o animal estar sob a inteira dominao do cavaleiro; os seus movimentos tornarse-o graciosos e regulares; ele passar facilmente de um andamento acelerado a um
andamento lento, conservando sempre o seu equilbrio; porque, dizia-lhes eu, que todo
o cavalo que est para l da mo est atrs das pernas, ento escapar-se-vos- por
todas as pontas, o que origina a completa falta de graa e de regularidade nos
movimentos, e se alm disso, a sua conformao viciosa, como podemos remediar
isso? Procedendo da vossa maneira nunca mais obtereis o equilbrio ou a ligeireza.
Todas as teorias postas em prtica antes de mim consistem em dar, com mais ou
menos dificuldade, uma direco s foras instintivas do cavalo, mas no em
harmoniz-las com o peso. Esses resultados no podem ser obtidos sem a aplicao
dos meus princpios; aborrecido para os opositores, mas est l toda a equitao.
-70A aplicao bem entendida do meu mtodo leva assim o cavaleiro a conduzir
constantemente o seu cavalo com as rdeas semi tensas, excepto quando
quiser rectificar um falso movimento ou pretender um novo.
O passo, j o disse, deve preceder os outros andamentos, porque a sua aco
menos considervel do que no trote ou no galope, e consequentemente mais
fcil de regular.
Para que a cadncia e a velocidade do passo se mantenham iguais e
regulares, indispensvel que as foras impulsivas e moderadoras do cavaleiro
sejam, tambm elas, perfeitamente harmonizadas. Eu avalio, por exemplo, que o
cavaleiro para pr o cavalo a passo e mant-lo ligeiro neste andamento, deve
empregar uma fora de quatro quilos, dos quais trs para a impulso e um para
o ramener. Se as pernas exageram o seu efeito sem que as mos aumentem o
seu na mesma proporo, evidente que o excesso de fora comunicada
poder relanar-se sobre o pescoo, contra-lo e consequentemente acabar com
a ligeireza. Se, ao contrrio, a mo que actua com demasiado poder, ela
interfere com a impulso necessria marcha; esta, por isso mesmo, ser
contrariada, abrandada e ao mesmo tempo a posio do cavalo perder a
graciosidade e a sua energia. Com efeito, o que deve pensar o cavalo nestes
dois casos, sem ser que no primeiro ele deve acelerar e no segundo abrandar o
andamento? O cavaleiro v ento que sempre ele o responsvel por o cavalo
compreender mal.
Esta curta explicao chega para demonstrar como importante conservar
sempre um acordo perfeito entre as pernas e as mos. Entende-se que o seu
efeito deve variar conforme a construo do cavalo obrigue a sustent-lo mais
ou menos no antemo ou no postmo, mas a regra manter-se- com propores
diferentes.
Enquanto o cavalo no se mantiver flexvel e ligeiro no seu andamento,
continua-se a exercit-lo na linha direita e termina-se cada lio com alguns
passos de recuar.
-71-
XVII
DO RECUAR
-73-
XVIII
TRABALHO SOBRE AS ANCAS
Poucas pessoas compreendem as dificuldades que este trabalho apresenta;
elas apreciam-no tanto menos quanto mais desconhecem os servios e os
resultados que dele podem obter. Como se acha que no seno um exerccio
de parada, cada um experimenta-o sua maneira sem procurar utiliz-lo, seja
para a educao do cavalo, seja para o prazer do cavaleiro: no entanto o
objectivo que seria necessrio propor-se.
Todo o cavalo marcha, trota e galopa naturalmente, mas a arte aperfeioa os
andamentos e d-lhes a consistncia e a ligeireza que eles so susceptiveis de
adquirir.
O trabalho de duas pistas no sendo natural no cavalo, apresenta, s por isso,
dificuldades bem maiores; ele seria mesmo impossvel de obter regularmente
sem recorrer educao de base; que tem como objectivo colocar o cavalo e
lev-lo a suportar os comeos de rassembler.
Mas tambm, quando se o executa, ele tem por resultado fazer sobressair as
suas formas, e de lhe dar essa ligeireza, essa preciso de movimentos, que lhe
permitem responder s mais imperceptveis aces do cavaleiro.
Eu podia, em rigor, dispensar-me de dizer o que se chama figuras de
picadeiro, se os autores que escreveram sobre esse assunto tivessem dado a
conhecer mais do que a nomenclatura das figuras; mas como eles no indicaram
nem como o cavalo deve estar colocado, nem como proceder para que a
execuo seja regular, eu esforar-me-ei em reparar esse esquecimento: direi
ento que o cavaleiro que faa executar com preciso linhas direitas de duas
pistas obter, sem grandes esforos, linhas circulares, se, todavia, ele exercitou
previamente o seu cavalo nas piruetas inversas ou directas.
-76-
XIX
DO TROTE
O cavaleiro abordar este movimento muito moderadamente de inicio,
seguindo exactamente os mesmos princpios que para o passo. Manter o seu
cavalo perfeitamente ligeiro, sem esquecer que quanto mais vivo for o
andamento, mais propenso tem o cavalo a recair nas suas contraces
naturais. A mo dever portanto redobrar de habilidade, a fim de conservar
sempre a mesma ligeireza, sem prejudicar no entanto a impulso necessria ao
movimento. As pernas secundaro a mo e o cavalo, fechado entre estas duas
barreiras que s faro obstculo s suas ms predisposies, desenvolver
depressa todas as suas belas faculdades e adquirir, com a cadncia do
movimento, a graa e a velocidade.
evidente que o cavalo bem equilibrado deve trotar mais depressa do que o
que no tem essa vantagem.
A condio indispensvel para um bom trotador o equilbrio exacto do corpo,
equilbrio que mantm a regularidade do movimento dos diagonais bipedais. D
uma elevao e uma extenso iguais, com uma ligeireza tal, que o animal pode
executar facilmente todas as mudanas de direco, abrandar, parar, ou
acelerar sem esforos a sua velocidade. A frente no tem ento o ar de trazer a
traseira a reboque; tudo se torna fcil, gracioso para o cavalo, porque as suas
foras, estando bem harmonizadas, permitem ao cavaleiro de as dispor de
maneira que elas se entreajudam constantemente.
Ser-me-ia impossvel citar o nmero de cavalos cujos andamentos tinham sido
de tal modo adulterados, que lhes era impossvel executar um s tempo de trote.
Algumas lies apenas bastaram sempre para repr estes animais em
andamentos regulares. Bastar para habituar o cavalo a trotar bem, exercit-lo
neste andamento smente cinco minutos durante cada lio. Assim que ele tiver
adquirido a facilidade e a ligeireza necessrias, pode-se faz-lo conservar o
andamento praticando descidas de mo.
-78-
XX
DESCIDA DE MO, DESCIDA DE PERNAS, DESCIDA
DE MO E DE PERNAS
tem
uma
importncia
maior;
dever-se-
portanto
pratic-las
frequentemente.
A descida de mo contribui para fazer o cavalo conservar o seu equilbrio sem
o recurso s rdeas.
Praticar-se- a descida de mo como segue:
Depois de ter feito deslizar a mo direita at juno das rdeas, e de se ter
assegurado que esto iguais, largam-se da mo esquerda, e a direita baixa
lentamente at frente do arreio. Para que este exerccio seja correcto,
preciso que ele no altere em nada o andamento nem a posio. Talvez, de
inicio, o cavalo, entregue a ele prprio, no conserve durante mais do que
alguns passos a regularidade do andamento e a posio. Nesse caso, o
cavaleiro far sentir quer as pernas quer a mo, para trazer o cavalo s
primitivas condies.
-80-
XXI
TRABALHO COM CHICOTE DE PICADEIRO
O chicote tem sido usado at agora como meio de correco; eu fiz dele um
meio seguro de acalmar os mais ardentes cavalos; ele tambm muito til para
obter o inicio do rassembler.
Eis como eu o emprego:
Coloquem-se do lado por onde se monta, junto cabea do cavalo; agarrem
as rdeas de brido, o corpo direito, a expresso calma e o olhar benevolente. O
chicote, agarrado na mo direita, levantado lentamente; a fita ser posta
suavemente sobre o dorso do animal. Se, aquando do contacto o cavalo procura
evit-lo por uma aco qualquer, a mo, por um movimento suficientemente vivo
da esquerda para a direita e da direita para a esquerda, impede imediatamente
esse acto de desobedincia. O cavalo tornado calmo e imvel, suportar o
contacto da fita do chicote que desliza sobre o seu dorso at que gradualmente
levada at cauda.
Continua-se este exerccio at que o cavalo no manifeste mais nenhum temor
e permanea completamente calmo
Tal o efeito dos processos aplicados com inteligncia; o cavalo compreendeos, memoriza-os e submete-se lhes sem dificuldade: tambm o emprego do
chicote de picadeiro, de punitivo que era, torna-se no moderador mais eficaz.
ento que chegado o momento de obter ligeiros efeitos de rassembler.
Chega-se a por meio de alguns apelos de lngua e de um movimento do chicote
agitado ao lado da garupa do cavalo. Contentamo-nos com uma ligeira
mobilidade, depois para-se o cavalo com a exclamao moderada de ol! E
afagando-lhe o dorso com o chicote; de modo que este ltimo meio seja mais
tarde o nico usado e que baste um ligeiro contacto do chicote para imobilizar o
animal.
-82-
XXII
DO RASSEMBLER
Direi mais uma vez que antes de iniciar estes efeitos de rassembler
necessrio que o cavalo esteja perfeitamente ligeiro na mo; ento ser fcil
diminuir, sem constrangimento, o andamento dos anteriores e aumentar o dos
posteriores. Os primeiros efeitos de rassembler que levaro os posteriores aos
graus 1, 2, e 3, sero teis aos andamentos de trote cadenciado ou alongado, e
do galope moderado.
tanto
quanto
possvel,
sem
avanar,
ou
avanando
-86-
XXIII
DO GALOPE
Falei longamente do galope no dicionrio; limitar-me-ei aqui a dar alguns
conselhos que podero acelerar a educao do cavalo. Vou supor que o
cavaleiro seguiu a progresso que indiquei, e que o seu cavalo est ligeiro na
mo, direito de espduas e ancas, familiarizado com as pernas, a espora, e
aguentando os dois primeiros graus do rassembler, etc. Evidentemente esse
cavalo est preparado para o galope, e desde que o cavaleiro no cometa erros
graves, bastaro algumas lies para que o cavalo adquira a posio para sair
ao galope na mo esquerda ou na mo direita. Examine-mos os erros que o
cavaleiro pode cometer. Ele quer fazer sair na mo esquerda, suponhamos, e
por negligncia ou falta de tacto ele condiciona-o para sair para a direita:
[necessariamente a sada ter lugar para a direita] primeira falta cometida. Se o
cavaleiro se apercebe, e pra logo o seu cavalo, para lhe dar a correcta posio
que determinar a sada para a mo esquerda, este primeiro erro est reparado.
Mas se o cavaleiro no se apercebe do seu erro antes de algumas passadas de
galope, e s ento pra o seu cavalo, este no poder distinguir se a paragem
ocorreu pelo belo prazer do seu mestre, ou se a represso um pouco tardia do
erro cometido. Compreende-se qual o atraso na educao do cavalo que esta
falta de tacto ou de cincia do cavaleiro causar.
No smente o cavaleiro evitar cometer os erros que acabo de assinalar,
mas, antes de tudo, dedicar-se- a prevenir as falsas sadas, dado que cada
movimento o resultado de uma posio que por sua vez a consequncia de
uma correcta repartio do peso e da fora do animal. Ele dever de incio dar
ao cavalo a posio indispensvel sada na mo esquerda. Seguindo este
princpio, que a base da cincia da equitao, ele obriga o cavalo a fazer bem,
e obtm em algumas lies sadas fceis, regulares, nesta ou naquela mo.
-88-
XXIV
SALTO DE VALA E DE BARREIRA
Todos os cavalos podem saltar, e a aptido proporcional sua energia e s
suas capacidades naturais. Nenhumas combinaes da cincia podem substituir
estas condies primordiais; mas eu afirmo que pela educao bem dirigida
todos os cavalos podem aprender a saltar melhor.
O ponto capital levar o cavalo a experimentar este trabalho de boa vontade.
Se se seguiram pontualmente todos os procedimentos que indiquei para dominar
as foras instintivas do animal e met-lo sob a influncia das nossas, reconhecese a utilidade desta progresso pela facilidade que se ter a fazer o cavalo
transpor os obstculos que se encontrem no caminho. Sobretudo, jamais se
deve recorrer, em caso de luta, a meios violentos, tais como o chicote, nem
procurar excitar o animal com gritos; isso s pode produzir um efeito moral bom
para assustar. Todavia a exclamao: Hop! emitida com tacto no momento em
que o cavalo deve elevar-se, dar-lhe- um encorajamento til. Mas devemos
abster-nos de qualquer grito, se no estamos seguros de os emitir em tempo
oportuno, porque eles seriam um obstculo regularidade do impulso do animal.
Ora, por meio das ajudas que devemos antes de tudo lev-lo a obedecer, pois
s elas podem p-lo em condies de compreender e de executar. Deve-se
portanto lutar com calma, e procurar ultrapassar as foras que o levam recusa,
agindo directamente sobre elas. Para fazer saltar um cavalo, espera-se que ele
responda francamente s pernas e espora, para ter sempre um meio seguro
de domnio.
A barreira fica no cho at que o cavalo a passe sem hesitao; eleva-se
depois alguns centmetros, aumentando progressivamente a altura at ao ponto
que o animal possa transpor sem esforos demasiado violentos. Ultrapassar
este preciso limite, seria arriscar-se a fazer aparecer no cavalo uma averso que
se deve evitar com todo o cuidado. A barreira assim elevada com cautela dever
ser fixada porque o cavalo,
-90Assim que o cavalo estiver habituado a transpor esta nova altura, fao agarrar
gradualmente a barra 6 polegadas mais alto, fazendo-a subir 6 polegadas a cada
salto, e chego, depois de algumas lies dadas com a gradao referida, a fazer
saltar qualquer cavalo, em altura, obstculos que eles no teriam jamais podido
saltar. Este procedimento simples e bem aplicado ser til mesmo para os
cavalos excecionais, tal como os cavalos de steeple-chase, ensinando-lhes a
melhor voltarem para ganharem tempo, e ele tornar as quedas menos
frequentes e menos perigosas.
-91-
XXV
DO PIAFFER
Todos os cavalos podem fazer piaffer regularmente; mas no podem, todos,
ter a mesma elevao, a mesma elegncia. Distingo trs gneros de piaffer : o
piaffer lento, o piaffer precipitado, o piaffer contrariado. O piaffer regular
quando cada diagonal se eleva e retoma o solo em intervalos iguais. O animal
no deve submeter-se mais mo do que s pernas do cavaleiro, a fim de
conservar a preciso do equilbrio equestre. Assim que o cavalo est preparado
pelo rassembler, basta, para obter um esboo de piaffer, comunicar ao
cavalo, com as pernas, uma vibrao, de incio ligeira, mas repetida
frequentemente. Entendo por vibrao uma sobrexcitao de foras, que o
cavaleiro deve sempre regular.
Uma vez obtida a mobilidade dos membros, pode-se comear a regular, a
diminuir a cadncia. Aqui ainda, eu procurarei em vo indicar com a caneta o
grau de delicadeza necessrio nos procedimentos do cavaleiro, visto que os
seus efeitos devem reproduzir-se com uma grande preciso e um a propsito
sem igual. pelo apoio alternado das duas pernas que conseguir prolongar os
balanos do corpo do cavalo, de maneira a mant-lo mais tempo sobre um ou
outo bpede. Ele aproveitar o momento em que o cavalo se preparar para se
apoiar no solo, para fazer sentir a presso da sua perna do mesmo lado e
aumentar a inclinao do animal no mesmo sentido. Se esse momento bem
agarrado, o cavalo balanar-se- lentamente, e a cadncia adquirir essa
elevao to apropriada a fazer notar toda a sua nobreza e toda a sua
majestade. Essas aces das pernas so difceis e exigem uma grande prtica;
mas os seus resultados so demasiado brilhantes para que o cavaleiro no se
esforce para extrair da as vantagens.
O movimento precipitado das pernas do cavaleiro tambm acelera o piaffer.
portanto ele que regula sua vontade a maior ou menor velocidade da
cadncia. O trabalho do piaffer s brilhante e completo quando o cavalo o
executa sem repugnncia, o que sempre acontece quando a harmonia do peso e
das foras, til cadncia, se conservar.
-92-
XXVI
DIVISO DO TRABALHO
Acabei de desenvolver todos os meios a empregar para completar a educao
do cavalo; resta-me dizer como que o cuyer dever dividir o seu tempo para
ligar entre eles os diversos exerccios e para passar do simples ao complexo. 50
dias de trabalho a 2 lies por dia de meia hora, trs quartos de hora no mximo,
chegaro para levar o mais novo cavalo a executar regularmente todos os
exerccios precedentes. Eu prefiro duas curtas lies, uma de manh, outra
tarde; elas so necessrias para obter excelentes resultados. Desencoraja-se
um cavalo jovem mantendo-o demasiado tempo em exerccios que o fatiguem
tanto mais que a sua inteligncia est menos preparada para compreender o
que se exige dele. Eu aconselho a dar duas curtas lies por dia, porque, em
minha opinio, um intervalo de vinte e quatro horas entre cada lio
demasiado longo para que o animal possa recordar-se bem amanh do que
aprendeu na vspera. Estabelecendo a ordem do trabalho tal como se encontra
no quadro anexo seguinte, bem entendido que me baseio em aptides mais
usuais dos cavalos; um cuyer, dotado de algum tacto, compreender bem
depressa as modificaes que dever introduzir na prtica, segundo a natureza
particular do seu aluno. Um tal cavalo, por exemplo, exigir maior ou menor
persistncia nas flexes; esse outro na parte de trs; com o cavalo frio e aptico,
ser necessrio usar a espora antes do tempo que eu preconizei. Tudo isto
questo de inteligncia; seria ofender os meus leitores sup-los incapazes de
suprir os pormenores alis impossveis de precisar. Compreende-se facilmente
que existam cavalos irritveis e mal conformados cujas predisposies
defeituosas foram aumentadas pela influncia de uma m educao inicial. Com
tais elementos, deve-se necessariamente ser mais persistente no trabalho das
flexibilizaes e do passo. Em todo o caso, quaisquer que sejam as
modificaes ligeiras de que necessitam as diferentes disposies dos
indivduos, eu insisto em dizer que no h cavalos cuja educao no possa ser
feita, num ms e meio, dois meses. Esse tempo chegar sempre para dar s
foras do cavalo a aptido necessria execuo de qualquer movimento; a
perfeio da educao depender da finura de tacto do cavaleiro.
-93-
EDUCAAO DO CAVALO
GRADAO DO TRABALHO
-94Primeira Lio a p
TRABALHO VARA
Segunda lio.
Repetio do trabalho anterior. Marchas laterais com a vara.
LIO MONTADO
Flexo directa da cabea, ou ramener primeiro com o brido, depois com o
freio, sem pernas, depois com as pernas. Flexo do pescoo com o brido e
com o freio. Flexes laterais da garupa. Recuar um passo de incio. Andar ao
passo em linhas direitas, para a mo direita e para a mo esquerda com o
brido.
3 dias, 2 aulas por dia de horas.
-95-
Terceira lio
Repetio do trabalho antecedente estando menos tempo em cada exerccio.
Espdua a dentro, a p com vara.
Parado: ramener com a ajuda das pernas. Ao passo, colocao em mo.
Mudanas de mo. Doublers e meias voltas ordinrias. Terminar os Doublers
e as mudanas de mo por dois passos de lado.
Meia pirueta invertida em dois tempos.
Ao trote: ramener. Doubler e mudar de mo. Recuar vrios passos.
6 dias, 2 aulas por dia de horas.
Quarta lio
Repetio dos exerccios anteriores.
Ramener em estao com o apoio da espora redonda ou efeitos de
conjunto.
Voltas e meias voltas ao passo e ao trote. Serpentina. Contra passagens de
mo.
Terminar as mudanas de direco por 4, 5 e 6 passos laterais.
Iniciao da pirueta ordinria.
Descida de mo e de pernas. Trabalho individual 1/4 de flexo do pescoo
em andamento.
6 dias, 2 aulas por dia de horas.
-96-
Quinta lio
Repetio do trabalho anterior.
Ramener completo nos ataques1.
Mudana de mo em duas pistas.
Contra- passagens de mo em duas pistas.
Mudanas de mo invertida.
Piruetas invertidas e ordinrias inteiras.
Cabea ao muro, espdua a dentro, 5 ou 6 passos.
Comeo de piaffer ou rassembler com a vara, ou o chicote, a p,
depois a cavalo.
Sadas a galope para a mo direita e para a mo esquerda, nos dois
ltimos dias.
6 dias, 2 aulas por dia de horas.
Sexta lio
Repetio das lies anteriores exigindo mais preciso e regularidade.
Passos de lado ao trote, trs passos de inicio.
Recuar todo o comprimento do picadeiro.
Mudanas de direco a galope. Galope para a direita e para a
esquerda na mesma mo, nos dois ltimos dias.
5 dias, 2 aulas por dia de horas.
(1) O contacto da espora e os ataques como meio de concentrao s se devem praticar com
rosetas redondas ou pouco aguadas; seria perigoso empreg-los no ensino do cavalo da
tropa. O soldado no deve servir-se da espora para mais do que pr o seu cavalo para
diante, quando ele resiste presso das pernas.
-97Stima lio
Repetio dos exerccios anteriores.
Passar do trote ao galope e vice-versa.
Andar a trote e parar.
Paragens ao galope.
Passagens de mo ao galope.
8 dias, 2 aulas por dia de horas.
Oitava lio.
Marcha lateral ao trote e ao galope.
Passagens de mo ao galope na mesma direco.
Passar do galope ordinrio ao galope alongado e vice-versa. Pirueta
ordinria aps a paragem e nova sada ao galope.
Salto da vala e da barreira.
6 dias, 2 aulas por dia de horas.
Para a cavalaria.
Ordem unida.
Habituar os cavalos ao sabre e aos barulhos de guerra.
Trabalho com o sabre.
Repetir os exerccios, com os cavalos carregados e equipados.
7 dias, 2 aulas por dia de horas.
-98-
XXVII
O MEU MTODO NO EXTERIOR
Alguns amadores que s praticaram o meu mtodo superficialmente, se bem
que satisfeitos com os resultados obtidos no picadeiro, ficam surpreendidos de
no continuarem a encontrar na primeira vez no exterior a mesma ligeireza e a
mesma calma. Gritam imediatamente: O mtodo, bom para o picadeiro,
ineficaz quando o cavalo vai para o exterior. Surgem resistncias inesperadas, o
cavalo tem medo, afasta-se dos objectos que encontra, a sua aco mais
considervel e a sua alegria torna-se inquietante para o cavaleiro. De
consequncia em consequncia, eles encontram no mtodo uma lacuna ao
abrigo da qual eles mascaram a sua falta de habilidade ou de sangue frio
equestre.
evidente que no meio de barulhos e objectos novos, com espao na frente,
qualquer cavalo, seja qual for alis a perfeio da sua educao de picadeiro,
ser surpreendido nas primeiras vezes que se monte ao ar livre. Os seus
sentidos, o seu instinto, sobrexcitado por sensaes desconhecidas, sero para
alm disso submetidos aco inebriante do ar livre. As resistncias instintivas,
manifestadas no incio da educao, surgiro parcialmente de novo, assustaro
o cavaleiro pusilnime que, no cavalo que ele supunha submetido, no encontra
mais do que um cavalo caprichoso e sem ligeireza. Mtodo impotente!
Vejamos ento se a crtica fundada; a lgica reduzi-lo- rapidamente ao seu
real valor.
Digamos para comear, que vimos cavalos muito francos de andamentos nas
ruas e nas estradas, tornarem-se muito inquietos ao entrarem num picadeiro e
perderem subitamente a graa e a facilidade dos seus movimentos. Por maioria
de razo, um cavalo, ensinado entre as quatro paredes de um picadeiro, deve
ficar mais ou menos impressionado quando se leva, sem transio, para o meio
de mil objectos desconhecidos. Mas, o que que se est a dizer?
-101-
XXVIII
APLICAO DO MTODO AO TRABALHO DOS
CAVALOS:
PARTISAN, CAPITAINE, NEPTUNE, BURIDAN
-102A mobilidade simples das ancas um dos exerccios que indiquei para a
educao elementar do cavalo. Completar-se- este trabalho multiplicando o
contacto alternativo das pernas, at que se consiga levar facilmente a garupa do
cavalo de uma perna sobre a outra, de maneira que o movimento da direita para
a esquerda e da esquerda para a direita no possa exceder um passo.
Este trabalho apropriado para dar ao cavaleiro uma grande finura de tacto, e
prepara o cavalo para responder s mais ligeiras presses das pernas. Bem
entendido que todas estas figuras de picadeiro no sero regulares se ao
mesmo tempo no forem acompanhadas de ligeireza.
3 Transio instantnea do piaffer lento ao piaffer precipitado, e viceversa
Depois de ter levado o cavalo a desenvolver uma grande mobilidade dos
quatro membros, deve-se regular-lhes o movimento. pela presso lenta e
alternada das suas pernas que o cavaleiro obter o piaffer lento; acelera-o
multiplicando a presso das pernas. Pode-se obter estes dois piaffers de todos
os cavalos.
4 Recuar com uma elevao igual dos membros transversais que se afastam
e se pousam ao mesmo tempo no solo, executando o cavalo o movimento com
tanta franqueza e facilidade como se avanasse e sem ajuda aparente do
cavaleiro.
O recuar no novidade mas o certamente nas condies que acabo de
expor. S com a ajuda de um equilbrio exacto a repartio do peso
perfeitamente regular. Esse movimento torna-se ento to fcil e to gracioso
quanto penoso e desprovido de elegncia quando o transformam em
acuamento.
5 Mobilizao simultnea e no mesmo stio dos dois membros de um diagonal;
o cavalo, depois de ter levantado os dois membros opostos, leva-os para trs
para os trazer de seguida para o lugar que ocupavam, e recomear o mesmo
movimento com a outra diagonal.
-103Assim que o cavalo no apresente mais nenhuma resistncia, ele apercebese das mais ligeiras aces do cavaleiro, destinadas neste caso a deslocar o
mnimo possvel do peso e de foras para conseguir mobilizar as duas
extremidades opostas. Repetindo este exerccio, tornmo-lo, em pouco tempo,
familiar ao cavalo. A destreza do mecanismo favorecer o desenvolvimento da
inteligncia.
6 Trote suspenso; o cavalo, depois de ter levantado as mos, leva-as para
diante mantendo-as por instantes no ar antes de as pr no cho.
Os processos que constituem a base do meu mtodo reproduzem-se em cada
movimento simples, e mais ainda nos mais complicados movimentos. Se o
equilbrio s se obtm pela ligeireza em contrapartida no h ligeireza, sem
equilbrio; pela reunio destas duas condies que o cavalo adquirir a
facilidade de estender o seu trote at aos ltimos limites possveis, e mudar
completamente o seu andamento primitivo.
7 Trote em serpentina, o cavalo voltando direita e esquerda para
regressar cerca do ponto de partida depois de ter feito cinco ou seis passos em
cada direco.
Este movimento no apresentar nenhuma dificuldade, se conservar o
cavalo na mo executando ao passo e ao trote flexes de pescoo. Percebe-se
que um tal trabalho impossvel sem essa condio.
8 Paragem sbita com a ajuda das esporas, estando o cavalo a galope.
Quando o cavalo perfeitamente descontrado, suportar convenientemente os
ataques e rassembler, ele estar preparado para executar o tempo de paragem
nas condies acima descritas. Comea-se a aplic-las no galope curto, para
atingir sucessivamente a maior velocidade. As pernas, precedendo a mo,
concentram as extremidades posteriores do cavalo debaixo do centro do corpo,
depois um rpido efeito da mo, fixando-as nessa posio, pra imediatamente
o impulso. Por este meio, cuida-se da constituio do cavalo, que assim se pode
conservar sempre livre de taras.
membros
sem
que
corpo
avance.
Esse
movimento,
exige
-107-
XXIX
EXPOSIO SUCINTA DO MTODO POR PERGUNTAS
E RESPOSTAS
PERGUNTA. O que entende por fora?
RESPOSTA. a potncia motriz que resulta da contraco muscular.
P. O que entende por foras instintivas?
R. Aquelas que vm do cavalo e de que ele determina o seu emprego.
P. O que entende por foras transmitidas?
R. Aquelas de que o cavaleiro coordena o emprego e que so compreendidas
imediatamente pelo cavalo.
P. O que entende por resistncia?
R. A fora que o cavalo ope procurando estabelecer uma luta que lhe parece
vantajosa.
P. Devemos interessar-nos de incio em anular as foras que o cavalo apresenta
para resistir, antes de exigir o movimento?
R. Sem dvida nenhuma, porque nesse caso a fora do cavaleiro que deve
deslocar o peso da massa encontrando-se anulada por uma resistncia
equivalente, torna-se impossvel qualquer movimento regular.
P. Porque meios se podem combater as resistncias?
R. Pela flexibilizao parcial e metdica da maxila, do pescoo, dos rins e das
ancas, e a justa repartio do peso.
P. Qual a utilidade das flexes da maxila?
regularidade
de
movimentos,
seria
necessrio
alterar
esse
-115-
-116-
-117-
-120Se comete um erro, pode corrigi-lo imediatamente; ele sabe qual a causa, e o
pobre cavalo deixando de estar confundido por estas duas vontades opostas das
pernas e da mo, identifica-se de tal maneira com o pensamento do seu mestre
que depressa essas duas inteligncias no sero mais do que uma, o cavalo
conservando o seu equilbrio perfeito sem a ajuda das pernas nem da mo do
cavaleiro.
O equilbrio do segundo tipo suficiente para os cavalos do exrcito,
entretanto os Srs. capites instrutores podero empregar mais ou menos estes
novos meios para acelerar a instruo dos homens e a educao dos cavalos.
-122Se essa resistncia devida falta de harmonia das foras, agir por vibraes.
Essas meias paragens e essas vibraes sero praticadas com a rdea directa,
rdea direita, se ele quiser voltar para a direita e rdea esquerda, se quiser
voltar para a esquerda; e assim que sentir o seu cavalo ligeiro, voltar direita
por efeito da rdea contrria, rdea esquerda e vice-versa. Como se v, sirvome da rdea directa, no para voltar, mas unicamente para combater as
resistncias e com a rdea contrria que eu ensino o cavalo a voltar. O
cavaleiro pedir apenas um oitavo de converso, parar, combater com estes
novos efeitos de mo (rdea directa) as resistncias que se tiverem manifestado,
e continuar com a rdea contrria. Rapidamente o cavalo poder voltar, sem
sair do seu equilbrio, isto , com a cabea voltada para o lado a que se dirige, a
parte contrria do pescoo conservando-se convexa, e a mobilidade fluida da
maxila permitindo-lhe ceder com a maior facilidade ao efeito da rdea contrria.
Compreende-se o prazer que o cavaleiro sente ao seguir esta gradao, que lhe
d como recompensa o equilbrio perfeito, no lhe deixando mais nada a
desejar. Ele jogar com as rdeas bambas que far ondular da esquerda para a
direita e da direita para a esquerda e o seu cavalo voltar para qualquer
direco, conservando essa harmonia constante do peso e da fora, o que
constitui o equilbrio do primeiro tipo. O cavaleiro deve compreender agora a
importncia de estes novos meios equestres, visto que pode determinar
imediatamente a causa das resistncias do cavalo, e remedi-las em seguida.
Ele no pode continuar a iludir-se e a imputar ao animal os erros prprios.
Nenhum erro ser possvel.
Que se compare um tal cavalo gracioso, ligeiro, rpido nos seus movimentos,
com esses pobres cavalos que se fazem voltar com a rdea contrria,
verdade, mas com o pescoo rgido, a cabea mal colocada, a maxila fechada,
etc., resultado infalvel do seu mau equilbrio. Se fosse o nico inconveniente,
poder-se-ia dizer: Que me importa a posio dos cavalos da cavalaria, contanto
que eles voltem voz de comando? Eu respondo: Tomem cuidado! No vm
que se esses cavalos estivessem menos torcidos, que se o seu equilbrio fosse
menos mau, eles voltariam mais facilmente, quer dizer mais rapidamente? O que
digo das mudanas de direco aplica-se melhor ainda ao trabalho individual, s
voltas, meias-voltas, numa palavra, a tudo o que diz respeito equitao militar.
-124-
-125Se bem que certas pessoas, pouco versadas no estudo dos meus princpios,
critiquem a posio elevada que eu fao tomar ao pescoo e cabea do
cavalo, eu digo, que indispensvel dar-lhes toda a elevao de que so
capazes, agindo com os punhos de baixo para cima. preciso no se assustar
com a posio horizontal que a cabea forosamente toma. ento que
necessrio descontrair a maxila, cuja mobilidade elstica permite ao cavalo, por
si mesmo, entrar em ramener. Este meio, na aparncia indirecto, o nico que
d a graciosidade e uma ligeireza constante em todos os movimentos do cavalo.
Este novo axioma estava de tal modo em oposio com o que eu tinha
professado e praticado, eu mesmo, toda a vida, que apesar dos resultados
maravilhosos que obtinha, quis ter uma prova retumbante da sua virtude.
Antes portanto de entregar esta edio publicidade, reuni cinco cavaleiros
hbeis, com cuja lealdade e discrio eu podia contar, e fiz-lhes experimentar os
meus novos meios. O sucesso coroou a minha expectativa. Pude convencer-me
que no era a minha grande experincia com os meus mtodos que fazia
atribuir-lhe mais qualidade do que ele na realidade tinha. Cada um destes
senhores enviou-me ento uma memria descritiva sobre a aplicao que eles
faziam sob a minha orientao, e eu pedi ao Sr. baro Faverot de Kerbrech a
permisso de reproduzir o seu trabalho, que pode servir de complemento e de
desenvolvimento s minhas inovaes.
Ei-lo:
preciso no confundir na obra equestre do Sr. Baucher os PRINCPIOS,
que so imutveis, com os MEIOS, que so perfectveis e por consequncia
podem variar.
Entre os PRINCPIOS que constituem a base imutvel do mtodo deve
citar-se em primeiro lugar a obrigao constante de procurar ou manter no
cavalo montado o EQUILBRIO, isto , esse estado fsico resultante do ensino e
com o qual pode obedecer instantaneamente vontade do cavaleiro seja ela
qual for.
-127O equilbrio que o Sr. Baucher chamou do primeiro tipo existe quando as
transposies de peso so igualmente fceis em todos os sentidos. Pode
comparar-se esse estado do animal ao equilbrio indiferente dos corpos
inanimados. Da mesma forma que uma esfera colocada sobre um plano
horizontal obedece mais pequena impulso, tambm, no cavalo montado que
possua o equilbrio do primeiro tipo, o peso cede mais ligeira presso, seja
qual for o lado de que ela lhe seja comunicada, e a obedincia s ajudas a
consequncia.
Quanto aos MEIOS ensinados pelo mestre, eles podem ser divididos em dois
grupos constituindo cada um uma maneira distinta. Na primeira, o Sr. Baucher
age sobre as foras do cavalo, quer dizer sobre as molas animadas que
sustentam e fazem mover a massa, o peso da mquina. Ele consegue facilitar o
deslocamento desse peso, equilibrar, diminuindo a base de sustentao,
aproximando mais ou menos, conforme a necessidade, as extremidades
inferiores do cavalo.
Compreende-se que, muitas vezes, necessrio recorrermos a meios
poderosos para forar o animal, sobretudo no incio do ensino, a conservar essa
disposio artificial dos seus membros. Da a necessidade do emprego
frequente da espora.
Nesta primeira maneira, tendo o Sr. Baucher constantemente em vista agir
sobre as foras do animal, tornar-se o seu mestre absoluto, procura desde o
inicio impor a essas foras barreiras que as cerquem por todos os lados e que
elas no possam jamais franquear.
Uma vez obtida essa dominao, o ensino est praticamente terminado.
Trata-se apenas de dar a essas mesmas foras a direco que aprouver ao
cavaleiro comunicar-lhe dentro desta espcie de lao de ferro formado pelo freio
e pelas esporas. Enfim, basta apertar esse lao para reduzir o animal
imobilidade, visto que no se permite ento a aco de nenhuma das molas da
mquina.
FAVEROT DE KERBRECH
As quatro outras memrias tratavam do mesmo assunto. No podendo referilas todas e a fim de evitar repeties, limito-me a citar aqui textualmente a parte
didctica da do Sr. d Estienne, que, ao expor os novos meios, f-lo algumas
vezes de formas um pouco diferentes que contribuem ainda para fazer
compreender o seu valor.
-132-
-133-
Em resumo:
1 Sada com rdea ou perna opostas;
2 Sada com rdea ou perna directas;
3 Passagem de mo com rdea ou perna opostas;
4 Passagem de mo com rdea ou perna directas;
Aqui termina a primeira parte do ensino que d j o equilbrio do segundo tipo.
Quando o cavalo chegar a este grau de instruo, pedem-se-lhe sadas ao
galope com as mos, sem nenhum emprego das pernas. Para este efeito impese-lhe tantas meias paragens quantas as necessrias. Se ele abranda, o que
indica que a mo interferiu sobre o movimento, preciso cessar o efeito das
mos, pr o cavalo para diante com as pernas, e equilibr-lo de novo ao passo,
antes de tentar p-lo a galope de novo. Chega-se assim muito rapidamente a
galopar para a direita com a rdea direita, para a esquerda com a rdea
esquerda. Alternar as rdeas com muita frequncia.
Seguem-se as passagens de mo com a mo smente. Antes de executar a
meia paragem por meio da qual a obtemos, preciso sentir a boca. Se essa
meia paragem no for suficiente, necessrio executarmos duas, trs, dez, uma
seguida da outra, at que a passagem de mo se realize e ceder assim que isso
acontea. Compreende-se quanto esta maneira de fazer admirvel para
chegar a uma execuo perfeita. Com efeito, uma vez a impulso dada, qual
pode ser o papel das pernas? Elas s servem para atravessar o cavalo e trazer
mais o peso para a frente, acrscimo de peso que a mo deve destruir. Ao
contrrio, servindo-se s da mo, muda-se a posio, e a passagem de mo fazse naturalmente. Se h abrandamento no movimento servimo-nos das pernas ou
da espora para acelerar; depois voltamos meia paragem sem pernas para a
passagem de mo. preciso neste movimento, como no precedente, alternar o
emprego das rdeas.
-135-
PROGRESSO DO ENSINO
Trabalho vara
A P.
Fazer vir o cavalo ao homem.
Fazer recuar o cavalo, o pescoo elevado, o cavaleiro agarrando em cada
mo uma rdea de brido, os braos levantados em toda a sua extenso (Ver
Fig.16). O cavaleiro comear a combater as resistncias do peso e da fora por
meias paragens sucessivas e vibraes repetidas. Esta posio elevada do
pescoo, obtida por uma fora de baixo para cima, previne o acuamento
trazendo para trs o peso dentro das possibilidades do movimento retrgrado.
No se far recuar o cavalo mais de um passo, conservando-o to direito
quanto possvel de espduas e de garupa. Compreende-se que o mnimo desvio
da garupa seria um obstculo a essa correcta transposio do peso: igualmente
deve ter-se o maior cuidado de no recomear um segundo passo para trs sem
ter recolocado o cavalo perfeitamente direito, a fim de evitar as resistncias que
o impedem de compreender as intenes do cavaleiro. Este trabalho de recuar
feito passo a passo, cada passo seguido de um momento de paragem que
permite fazer cessar qualquer contraco muscular para alm da necessria
estao, ser alternado com o de duas pistas direita e esquerda, com as
piruetas invertidas e directas, tendo o cuidado de no pedir mais que um passo
ao cavalo e par-lo logo que ele o tenha executado. O essencial, que as partes
que devem estar momentaneamente imobilizadas, no se movam (piruetas) e
que a translao de peso se faa segundo as leis do equilbrio e da harmonia do
movimento. (Recuar e trabalho sobre as ancas.)
-136-
Fig. 16
A CAVALO
PARADO
-139Para parar o seu cavalo, o cavaleiro servir-se- de incio dos efeitos de conjunto
(oposio gradual das pernas e da mo); mas depressa a mo chegar para
parar o cavalo direito de espduas e de garupa.
Uma vez que a aco combinada das pernas e da mo imobiliza o cavalo,
compreende-se por isso mesmo que logo que se trate de movimento, no se
devem empregar os mesmos meios.
A seguir, o cavaleiro mete o seu cavalo ao trote, e pra-o depois de algumas
passadas, seguindo a mesma gradao do que ao passo; quer dizer que lhe
dar a posio ou a ligeireza (mobilidade da maxila) antes de partir ao trote;
durante essas passadas ao trote, combater as mnimas resistncias servindose dos novos efeitos de mo e parando o seu cavalo, pedir-lhe- de novo a
mobilidade da maxila, mantendo-o alguns instantes calmo e imvel. Continua
durante alguns minutos o trabalho ao trote, sobre as linhas direitas e os crculos,
seguindo a mesma gradao que ao passo, isto , fazendo sempre suceder o
repouso ao trabalho, mais ou menos na mesma medida.
Em seguida o cavaleiro tenta, parado, algumas aparncias de mobilidade das
extremidades, para preparar o comeo do rassembler e termina a lio com
algumas sadas ao galope, para uma e outra mo, seguindo sempre a mesma
gradao do que ao passo e ao trote.
O cavaleiro ter o cuidado de usar o manejamento das rdeas, tal como o
indiquei no captulo sobre os novos efeitos de mo, isto , alternar o uso das
rdeas de brido e de freio, para habituar o cavalo a conservar POR ELE
PROPRIO, o seu equilbrio e a sua boa posio.
Aqui pe-se uma observao muito importante.
Servindo-se, ao galope da rdea directa, rdea direita se o cavalo galopa para
a direita, e rdea esquerda se o cavalo galopa para a esquerda, para anular as
resistncias, por meias paragens ou vibraes, o cavaleiro obtm logo uma
grande ligeireza, conserva o seu cavalo direito, e torna as sadas ao galope e
por consequncia as passagens de mo muito fceis.
-140Todo este trabalho deve fazer-se sem fadiga nenhuma para o cavalo, e desde
o incio os esforos do cavaleiro devem tender para obter o equilbrio perfeito ou
a ligeireza constante; igualmente deve pedir ao cavalo a mobilidade macia da
maxila antes de o pr em movimento: tem ento a certeza que a mquina est
preparada para funcionar. Percebem-se os progressos extremamente rpidos
que esta gradao trar na educao do cavalo.
O professor inicia desde os primeiros passos o seu aluno em todas as
dificuldades da estrada que ele deve percorrer, dando-lhe os meios para as
vencer, e corrigindo imediatamente as mnimas faltas que o cavalo possa
cometer por ignorncia. Desta forma, no se tero passado dois meses desta
educao racional sem que o cavaleiro inteligente beneficie dum resultado que
no teria obtido, se no tivesse dado ao seu cavalo o equilbrio do primeiro tipo
ou essa ligeireza perfeita e constante que permite ao animal executar com a
maior facilidade todos os movimentos pedidos, sem sombra de uma resistncia,
porque ele compreende imediatamente os mnimos efeitos da mo ou das
pernas do cavaleiro. O mestre comanda e o servidor obedece.
Quando um cavalo, pela aplicao de todos os princpios ensinados nesta
ultima edio, foi levado ao equilbrio do primeiro tipo, tendo desaparecido todas
as resistncias, devem apenas ser usados os meios suaves. A mo actuar com
uma fora lenta, delicada e finamente graduada.
Tenho dito o que acredito ser a verdade equestre. Penso ser til aos cavaleiros
inteligentes e srios, recomendando-lhe seguir a progresso que acabo de
indicar.
Permito-me dar-lhes um conselho de amigo, e ouso dizer, de um velho amigo,
dizendo-lhe: rejeitai os meus princpios se eles no vos convierem; mas se
reconheceis neles a verdade em equitao, aceitai-os por inteiro, no os
mutileis, e lembrai-vos que o autor que estudou durante quarenta anos, conhece
suficientemente a obra de toda a sua vida para apreciar a importncia de todas
as suas partes.
-142-
CONCLUSO
Perde-se o gosto pela equitao, todos o reconhecem, e cada um d a sua
opinio. Uns atribuem a decadncia da arte ao entusiasmo da juventude pelas
corridas; eles vm no turf uma sucursal da Bolsa, e lamentam que o Governo
favorea este arrebatamento, em vez de deixar indstria privada o cuidado de
pagar os seus passatempos. Eles dizem que os apostadores nos cavalos de
corrida no tm o direito de reclamar dos lucros governamentais, mais do que os
apostadores no lcool, na colza ou na beterraba. Outros pensam que o ensino
rotineiro dos picadeiros est ultrapassado, e que na nossa poca do vapor, da
eletricidade, em que tudo se aperfeioa, a equitao deve seguir tambm a lei
do progresso. Eu partilho desta maneira de ver, e ponho como testemunho os
trabalhos de toda a minha vida.
Que me seja permitido relembrar as inovaes que introduzi na cincia e na
arte da equitao:
Os exerccios de ginstica para dar em algumas semanas uma posio firme,
graciosa, slida, a quem quer que nunca tivesse montado um cavalo.
Os meios para descontrair a maxila, o pescoo, os rins e a garupa de todos
os cavalos;
Para torn-los todos leves na mo, nos trs andamentos.
Para dar a todos um passo regular;
Um trote unido, extendido ou cadenciado;
Um recuar to fcil como a marcha para diante.
Um galope fcil.
Passagens de mo ao primeiro toque, a dois tempos e a tempo.
O rassembler em qualquer grau.
(1) Fui tambm o primeiro a ter a ideia de fazer executar, mesmo pelas senhoras, as
grandes dificuldades da equitao; o pblico foi disso testemunha. Toda a gente pde
admirar as Senhoras Caroline Loyau, Pauline Cuzent, Mathilde e Maria dEmbrun.
-146-
NOVO
TRABALHO RACIONAL
COM O SERRILHO
Ainda um novo progresso que eu devo prtica e que me apresso a levar ao
conhecimento do pblico. De um instrumento usado at agora como um meio
coercivo, como uma espcie de coleira de foras, eu consegui transform-lo num
poderoso instrumento de educao. Quero falar do serrilho. Sirvo-me dele para
desenvolver o sentimento equestre do aluno.
Para esse efeito, fao meter um serrilho no cavalo montado e fao o aluno
seguir toda a progresso, comeando pelo trabalho parado, ao passo, ao trote,
ao galope e de duas pistas. O meu objectivo fazer SENTIR ao aluno os erros
que cometeu ou comete. Explico-me. Agarro a guia horizontalmente, a 1 metro
de distncia, e eu digo ao aluno para elevar os punhos para descontrair os
msculos do pescoo; ao mesmo tempo, fao uma oposio de traco. Duas
causas podem fazer o cavalo refluir o peso para trs: as ms contraces do
pescoo, ou um efeito errado da mo do cavaleiro. Tenho o cuidado, por uma
traco horizontal, de impedir o acuamento do cavalo, e fao observar ao aluno
que ele deveria ter, no primeiro caso, agido por presso das pernas sem mo;
no segundo, que houve excesso de mo.- Eu preveni o efeito de acuamento pela
traco horizontal da guia, portanto impedi o cavalo de perceber o erro cometido
pelo cavaleiro, ao qual, entretanto, pude fazer-lho notar, sem inconveniente para
a educao do cavalo. -De tempos a tempos, eu deixo o erro produzir as suas
consequncias inevitveis, a perda de ligeireza, a modificao do equilbrio,
numa palavra, o acuamento. Digo ao aluno para no actuar nem com as pernas,
nem com a mo, e para se contentar com sentir o que se vai passar debaixo
dele. Estabeleo o equilbrio por uma traco horizontal do serrilho e reparo o
erro cometido pelo aluno.
Os professores, os oficiais da cavalaria, compreendero pelo que foi dito que
importncia pode ter este novo trabalho com o serrilho, para ajudar o progresso
do cavaleiro e acelerar a educao do cavalo.
-147 Disse o que preciso fazer, mas s sob a direco de um hbil professor
ensinado na minha escola que o aluno poder aprender a servir-se com
preciso do serrilho, como eu entendo. Fao repetir o mesmo trabalho no
crculo (o professor agarra a guia a 2 ou 3 metros de distncia), ao passo, ao
trote, ao galope, recomendando ao aluno de no procurar seno uma coisa, a
ligeireza. Ora, os nossos leitores devem saber agora que a ligeireza supe o
equilbrio do peso dado pela harmonia das foras. E para tudo dizer em
poucas palavras, diga-se: HARMONIA DAS FORAS produzida, com a ajuda
do serrilho, pelo relaxamento dos msculos do pescoo, EQUILBRIO DO
PESO, CONCENTRAAO DA FORA HARMONIZADA. A est toda a
equitao, e tudo o que se pudesse dizer para alm disso assemelhar-se-ia a
esses troncos flutuantes de que falava o fabulista.
-148-
EXAME RETROSPECTIVO
A verdade no saiu repentinamente do meu crebro, e foram-me necessrios
quarenta anos de trabalho, de procuras e de meditaes para aperfeioar o
mtodo tal como ele hoje. Eu tinha estudado todos os autores que escreveram
sobre equitao, e tinha retirado das minhas leituras a convico de que a
cincia equestre no existia, estava para nascer. Como toda a gente, estava
imbudo dos preconceitos que a ignorncia tradicional tinha feito aceitar como
verdades. Acreditava nas barras duras, na influncia da sua espessura sobre a
sensibilidade da boca do cavalo, entregava-me a uma imensidade de
experincias para descobrir um freio suficientemente potente para combater
essa pretensa insensibilidade das barras.
Estava no Havre, e regressava, num dia da feira de cavalos, com um cavalo
por quem tinha dado 300 francos. O meu exame rpido tinha avaliado o conjunto
do animal; de regresso ao picadeiro, examinei atentamente a boca do meu
cavalo, e reconheci com tristeza que a espessura das barras explicava a enorme
resistncia que ele opunha aco do freio. Apliquei-lhe freios cada vez mais
poderosos, e a boca continuava insensvel. Podia ser de outra maneira,
atendendo sua conformao?
Um dia, estou a lembrar-me, montava Bienfaisant (Benfeitor),a quem eu assim
chamava dado o seu bom carcter, e tinha parado no picadeiro. Reflectia, e
enquanto o meu espirito trabalhava, a minha mo tinha-se mantido fixa. De
repente senti Bienfaisant ligeiro; Bienfaisant tinha cedido, Bienfaisant deixou de
resistir! O que que se passou ento? Como no h efeito sem causa reconheci
que a fixidez da minha mo tinha determinado a cedncia do cavalo, e obtive
assim a prova de que a boca no tinha nada a ver com as resistncias, mas sim
que elas provinham das contraces do pescoo, porque eu no tinha
modificado as condies anatmicas das barras, no tinha diminudo a sua
espessura. Tal foi o incio do mtodo. Bienfaisant tinha-me ensinado que no h
bocas duras, barras insensveis.
-150Eu disse que as ms contraces dos msculos do pescoo faziam sentir o seu
efeito sobre a boca e que era preciso destrui-las, a fim de disciplinar,
harmonizando-as, essas cordas to delicadas.
Foi o que me deu a ideia das flexes do pescoo, que eu fiz a p, a
cavalo, ao passo e ao trote. Eu obtive efeitos de ligeireza, movimentos mais
fceis; mas que longe estava eu deste equilbrio, desta ligeireza que obtenho
actualmente, em algumas horas, com no importa qual cavalo! Se eu conseguia
obter com as esporas pontiagudas, o ramener, o rassembler, o piaffer e
todas as figuras novas que eu fiz produzir aos meus cavalos, de que montava
uma vintena em pblico, eu no podia deixar de notar que o resultado no era o
mesmo com todos os meus alunos, muitos dos quais criavam defesas nos seus
cavalos. Era preciso evitar esse inconveniente, e fui ver se tratando os flancos
com a mesma doura que eu punha nas minhas ligaes com a boca, eu no
chegaria ao mesmo resultado. Experimentei esporas com rosetas redondas, que
adotei definitivamente depois de ter constatado os excelentes resultados. Era um
novo progresso. Completei-o introduzindo o trabalho a p. Ensinando o cavalo a
vir ao homem ao contacto com a vara, eu dei ao cavaleiro a primeira sensao
de domnio e estabeleci relaes mais directas entre o senhor e o servidor. Mais
tarde, completei o trabalho apeado com as flexes de garupa, de espduas e o
recuar. O progresso chama o progresso. Consegui substituir o meu freio por um
ainda mais suave, de ramos mais curtos, e desprovido de barbela, e como este
novo freio permitia novos efeitos da mo, eu prescrevi a aco isolada das
pernas e da mo. Disse as razes que me tinham feito introduzir este novo
preceito. Eu tinha sido testemunha de tantas decepes suportadas pelos
cavaleiros cuja tcnica deixava a desejar, que julgo ter-lhes prestado um grande
servio recomendando-lhes a minha nova regra: Mo sem pernas, pernas sem
mo. Com efeito, excepo dos meus alunos de elite, quase todos se serviam
das suas pernas para emendar os erros da mo, e vice-versa. Pensar-se- que
a aco isolada da mo e das pernas devia prevenir esta contradio das ajudas
e acelerar a educao do cavalo. Mas eu queria obter mais ainda, e dar a
generalidade dos cavaleiros os meios adequados a equilibrar facilmente os seus
cavalos. ao que eu felizmente cheguei pelo emprego do brido como nica
embocadura.
-152-
CAVALARIA
O mtodo pertence actualmente sobretudo cavalaria; compete-me conservlo, desenvolv-lo, ajustando-o a todas as suas necessidades. Nos civis,
excepo de algumas brilhantes individualidades, que resultado pode ter a
cincia equestre? Na cavalaria, pelo contrrio, o cavalo a vossa ferramenta, o
vosso companheiro de glria. Procurem portanto os meios de aumentar o vosso
domnio sobre o cavalo, a fim de falar mais facilmente sua inteligncia. No
esqueam que os cavaleiros estrangeiros j se aproveitaram do mtodo, e no
esperem at que estas ideias novas vos cheguem mais tarde de fora, porque o
vosso patriotismo sofreria por receber do estrangeiro o que um dos vossos
compatriotas confia cavalaria francesa com tanta alegria!
Pudessem as minhas ltimas inovaes tornar a tarefa mais fcil e contribuir
para os progressos da nossa bela cavalaria! o voto de um cidado, amigo do
seu pas, cujos estudos no tm outro objectivo seno o progresso da equitao.
-153-
Prefcio .................................................................................................................. 1
Ultimas inovaes .................................................................................................. 2
Do cavalo em liberdade .......................................................................................... 3
Da sensibilidade .................................................................................................... 4
Da boca do cavalo.................................................................................................. 4
O professor ............................................................................................................ 5
Resumo dos relatrios oficiais em favor do Mtodo ............................................... 6
Cap. I
Novos meios de obter uma boa posio do cavaleiro .......................................... 10
Cap. II
O equilbrio do cavalo ........................................................................................... 17
Cap. III
Do emprego racional das foras do cavalo .......................................................... 20
Cap. IV
Trabalho a p ...............................................................................................................................27
Cap. V
Da flexibilizao ................................................................................................... 30
Cap. VI
Da boca do cavalo e do freio ................................................................................ 32
Cap. VII
Flexibilizao da maxila e do pescoo ................................................................. 34
Cap. VIII
Efeitos da mo (rdeas) ....................................................................................... 46
Cap. IX
Efeito das pernas ................................................................................................. 50
-154Cap. X
Efeito de mo e de pernas .......................................................................................................52
Cap. XI
Flexibilizao a cavalo, antemo e postmo ........................................................ 55
Cap. XII
Mobilizao da garupa ......................................................................................... 59
Cap. XIII
Efeito de conjunto .......................................................................................................................64
Cap. XIV
Do emprego da espora ......................................................................................... 66
Cap. XV
Emprego pelo cavaleiro das foras do cavalo
para os diferentes andamentos ........................................................................... 68
Cap. XVI
Do passo .......................................................................................................................................69
Cap. XVII
Do recuar. ......................................................................................................... 71
Cap. XVIII
Trabalho sobre as ancas ...................................................................................... 73
Cap. XIX
Do trote .. ..............................................................................................................................76
Cap. XX
Descida de mo, de pernas, de mo e de pernas ................................................ 78
Cap. XXI
Descida de mo, de pernas, de mo e de pernas ................................................ 80
Cap. XXII
Do Rassembler .................................................................................................. 82
Cap. XXIII
Do galope.. ........................................................................................................... 86
-155-
Cap. XXIV
Salto de vala e da barreira ................................................................................... 88
Cap. XXV
Do Piaffer . ........................................................................................................... 91
Cap. XXVI
Diviso do trabalho ............................................................................................... 92
Educao do cavalo, gradao do trabalho ......................................................... 93
Cap. XXVII
O meu Mtodo no exterior .................................................................................... 98
Cap. XXVIII
Aplicao do Mtodo ao trabalho dos cavalos: Partisan,
Capitaine, Neptune, Buridan .............................................................................. 101
Cap. XXIX
Exposio sucinta do Mtodo por perguntas e respostas .................................. 107
PARIS