Bateson - Mente e Natureza: A Unidade Necessária
Bateson - Mente e Natureza: A Unidade Necessária
Bateson - Mente e Natureza: A Unidade Necessária
Gregory Bateson
'tE/iTE ElY4TUI<eZA
T radu~ao
de Claudia Gerpe
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81 .
IlNIIl"I1.l'
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C N'T\\~\.
Para
Nora
Vanni
Gregory
Emily Elizabeth
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
1986
ISBN - 85-265-0031-7
CLASSIF,
'5Jjol-..-...
I AUTOR ....03..d9.
v.
EX.
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Todos os direitos desta tradu,10 reservados ~ :
LlVRARIA FRANCISCO ALVES EDITORA S.A.
Rua Sete de Setembro, 177 - Centro
20050 - Rio de Janei ro - RJ
Nao e permitida a venda em Portugal.
SUMA.R10
Agradecimentos
I. Introdul'ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
II
31
75
99
139
153
195
211
221
Gloss:lrio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..
231
AGRADEClMENTOS
)
,
o trabalho e as ideias que deram origem a este livro estiro distribuidos em varios anos e minha divida volta atras para incluir tudo que
foi reconhecido no pre facio do meu livro anterior, Steps to an Ecology
of Mind Tentei, entretanto, escrever para ser compreendido por aqueles Que ~o leram Steps e assim assumirei 3Qui apenas dividas contraidas a partir da publicaciio de Steps.
Mesmo assiro, foram muitos os favores recentes. Como se fosse
em ordem cronol6Rica, devo agradeeer primeiro a solidariedade da University of California em Santa Cruz e especialmente a meus amigos do
Kresge College : Mary Diaz, Robert Edgar, Carter Wilson , Carol Proudfoot e ao secretariado.
A seguir devo agradeeer Ii Lindisfarne Association, onde fui doutor residente por seis meses do periodo da elabora9irO deste livro. Bill
Irwin Thompson, Michael Katz, Nina Hagen e Chris e Diane Bamford
foram anfltrioes que combinaram generosidade com miolos. Sem eles
este livro nao existiria.
Semelbantemente, nos ultimos estagios da redacao do Iivro e
acompanhando serios problemas clinicos, 0 Esalen Institute tomou-me
como h6spede, tornando poss;vel combinar a reda9a:o com a convalescen9a. Devo agradecer a Janet Lederman, Julian Silverman, Michael Murphy, Richard Price e muitos outros. Tanto em Esalen COmo em Lindisfame, minha divida e realmente com toda a comunidade.
No inicio de 1978 fui submetido a uma seria cirurgia e fui advertido que poderia ter pouco tempo de vida. Nessa emergencia, Stewart
Brand e a Point Foundation, vieram em meu auxI1io. Stewart tornau
po ssi~1 que minha filha Mary Catherine, que estava em Teerl!', viesse a
Calif!,>mia passar urn mes comigo para trabalbar no manuscrito . Seu empregador do Ira, a Reza Shah Kabir Univemty, generosarnente deu-Ihe
uma lieen9a profissional. Os primeiros cinco capitulos do Iivro devem
muito Ii sua critica elucidativa e ao seu trabalbo simples e arduo.
Agrade~o tarnbem a Stewart pela publica<;a:o de partes do manuscrito
em Co-evolution Quarterly e por permitir sua reimpressao aqu i.
1 - INTRODUt;:AO
,~
I
Plotina, 0 Platonico, prova por intermedio dOl flore, e/olhol que parlindo do Deus Supremo, cuja bele::a e invu(vcl e inexprim(vel. a
Providencia atinge as coisa.J aqui embaixo. Elc lalienta que ell3eS
objctos fracas e mor:tais 000 poderiam ler dotado, de urna beleza
tao imaculada e fifo primorosamentc elaborada, se
brolalsem
do Divindade que permeia inCC$$(Ultemente lodfu as COW" com
beleza invi${vcl e imuttivel.
nao
sua
.;
Uma grande parte deste capitulo roi proferida como urna paiestra na ~thedra1
of Saint John the Divine em Nova York em 17 de novembro de 1977 .
Uma frase predileta de Lorde Macaulay. If dele 0 merito de "Todo colegial sa-be quem aprisionou Montezuma e quem estrangulou Atahualpa."
11
guem dar uma explica~o razoavel para conceitos como entropia, sacramento , sintaxe, numera , quantidade, padrao. rela~o linear, nome ,
classe, relevancia, energia, redundancia, for~a , probabilidade, partes,
tod\>, informa~ao, tautologia, homologia, missa (newtoniana ou cristiI),'
explica9iio, descri~o,-reJUa de dimeD.oes, tipo 16gico, metafora, topologia, e assim por diante. 0 Que sao borboletas? 0 que sao estrelas-domar? 0 que sao a beleza e a feiura?
Pareceu-me que a descricao de algumas dessas ideias elementares
poderia ser intitulada, com urn pouco de ironia, "Every Schoolboy
Knows".
Entretanto, aO trabalhar em Lindisfame ness~s dois manuscritos,
adicionando algumas vezes alguma coisa a urn e algumas vezes ao outro,
os dois gradualmente tornaram-se urn so, e 0 produto dessa jun9[0 foi
o que penso ser urna visao plat6nica. 1 Pareceu-me que em "Schoolboy"
eu estava assentando ideias muito elementares sobre epistemologio (ver
Glossario), isto e, sobre como n6s podemos conhecer qualquer coisa.
No pronome nos, inclul, naturalmente, a estrela-do-mar e as florestas de
sequoias, 0 ovo segrnentado e 0 senado dos Estados Unidos.
No "qualquer coisa" que essas criaturas conhecem diferentemente
inclu! "como evoluir para uma simetria de cinco dir~Oes", "como sobreviver a urn incendio oa floresta," "como crescer e ainda manter a
mesma fonna" , ' "como aprender", "como redigir urna constitui~lIo" ,
"como inventar e dirigir urn c~o", "como contar ate sete'\ e assirn
por diante. Criaturas maravilhosas com conhecimentos e habilidades
quase miraculosos.
Acima de tudo, inclui "como evoluir", pois pareceu-me que tanto a evolu~lio como 0 aprendizado devem ..e ajustar as mesmas regularidades fonnais denominadas leis. Eu estava, como podem ver, come~an-
13
12
totahnente materialistas tendo como lim do urn universo vivo que era
generalizado (em vez de unico) e espiritual (em vez de materialista).
Pareee existir algo como urna lei de Gresham de evolu~o cultural, segundo a qual as ideias muito simplificadas sem~re prevaleeerao
sobre as sofisticadas, e 0 maligno sempre prevalecera sobr. 0 belo .
.
Entretanto, 0 belo subsiste.
Come-rou a pareeer como se a materia organizada - e olIo sel
nada sobre materia nao-organizada, se e que existe alguma - mesmo
em simples conjuntos de rela90es tais como as existentes em urna maquina a vapor com urn regulador, fosse sabia e sofisticada em compara9ao com a fIgura do espirito humano como era correntemente retratada pelo materialismo ortodoxo e por grande parte da rehgillO ortodoxa.
do demonio, que defenderia a utilidade da guerra atomica e dos pesticidas. Naqueles dias (e mesmo hoje?), acreditavase que a ciencia era "livre de valores" e nao dirigida par uem~iles".
Eu estava preparado para isso. Tinha duas sacolas de papel, e abri
a primeira, tirando de dentro deJa urn caraoguejo recem-cozido , que coloquei sabre a mesa. Desafiei entao a classe mais ou menos como se segue: "Quero que voces elaborem argumentos que me convencerao de que
este objeto e 0 remanescente de uma coisa viva . Voces. poderao imaginar. se assim 0 desejarem. que sao marcianos e que em Marte voces est4"o familiarizados com coisas vivas, estando oa verdade voces mesmos
vivos. Entretanto, naturalmente , voces jamais viram caranguejos au lagostas. Alguns objetos como este, muilos deles fragroenUrios, chegaram
possivelmente em urn meteoro. Voces dever[o examina-los e chegar a
conclusiIo de que sao remanescentes de coisas vivas. Como voces poderiam chegar a essa conclusa.o?"
Naturalmente, a questao colocada para os psiquiatras foi a mesma
questiio que coloquei para 05 artistas: existe uma especie biol6gica de
entropia?
Ambas as quest(les diziam respeito 4 n09ao bgsica de urna linha
divis6ria entre 0 mundo dos viventes (de onde sa:o extra(das separaftJes
e a diferenfa pode ser uma causa) e 0 mundo das nao.viventes bolas
de bilhar e da, gall!xias (on de for9as e impactos sao as "causas" dos
evenlos). Esses sao os dois mundos que lung (acompanhando os gn6sticos) chama de creatura (0 vivente)epleroma (ona:o-vivente).' Eu estava perguntando: Qual 6 a diferen9a entre 0 mundo f(sico de pleroma,
onde for~as e impactos fomecem base suficiente de explica,ao, e 0
de creatura, onde nada pode serentendido ate quediferenfas e distinfoes
.ejam invoeadas?
Sempre coloquei em minha vida as descriyOes de varas, pedras,
bolas de bilhar, e galgxias em uma caixa, 0 pleroma, e deixei-as em paz.
Na oulTa caixa coloquei as coisas vivas: caranguejos, pessoas, problemas
de beleza e problemas de diferen,a. 0 contel1do da segunda caixa 6 0
assunto desle livro .
Eu estava me queixando reeentemente sobre as deficiencias da
educa,ao oeidental em uma carta dirigida a meus colegas da University
of California, e a seguinte frase insinuou-se em minha reda,ao:
Watkins, 1967).
15
"Quebre 0 padriIo que liga os iiens do aprendizado e voce necessariamente destroi toda a qua/idade. ..
Oferel'o a vocts a frase padrao que /iga como urn sinOnimo,
outro tltuIo"poss(vel para este livro.
o padrao que /iga. Por que as escolas nao ensinam quase nada sobre 0 padTao que liga? Ser~ porque os professores sabem que levam con
sigo 0 beijo da morte que tomar~ sem gral'a tudo que tocar, e assun
estao sabiamenle nao desejosos de tocar ou ensmar qualquer cOlsa de
real importncia? Ou ser~ que carregam 0 beijo da morte porque nao
ousam ensinar alguma coisa de real importncia? 0 que h~ de errado
com eles?
Que padrao relaciona 0 caranguejo A lagosta, a orquidea A prj.
mula e todos os quatro a mim? E eu a voce? E n6s seis ameba em uma
dile~lIo e ao esquizofrenico retraido em outra?
Quero contar-lhe por que tenho sido urn bi610go durante loda
minha vida 0 que venho 'tentando estudar. Que .pensamentos posso
compartilh';' com reial'aO A totalidade do mundo biol6gico em que vivemos e temos nosso ser? Como ~ tudo isso agrupado?
o que vai ser dito agora ~ dificil, parece ser bastante vazio,. e ~
de profunda importncia para mim e para voct . Nesta conJuntura hist6rica, acredito que seja inclusive importante para a sobrevivencia de toda
a biosfera, a qual, voce sabe, esta ameatrada.
Qua ~ 0 padrao que liga todas as criaturas vivas?
Deixe.me voltar para meu caranguejo e minha t~nna de beatniks.
Eu estava sendo muito afortunado por estar ensinando pessoas que nao
eram cientistas e a tenMncia de suas mentes era aU anticienHfica. Des
treinados com~ eram, suas prefer"ncias eram est~ticas. Eu definiria
aquela palavra, no momento, dizendo que eles nao eram como Peter
Bly,personagem a respeito de quem Wordsworth cantou 0 segumle:
bora eu soubesse que nlo era assim): Como voce estd re/acionado a
esta criatura? Que padrao liga voce a ela?
I.
que a outra, mas ambas as palOs silo [ormadas das mesmas partes."
All! Que declaral'ao bela e nobre; como 0 orador polidamenle
arremessou na lata de lixo a iMia de que 0 tamanho pudesse ser de pri.
m~ria ou profunda importncia e foi buscar 0 padriIo que /iga. Ele des
cartou urna assimetria em tamanho em favor de urna simetria mais pro
funda em relal'15es fonnais.
Realmente as duas patas caracterizam-ae (palavra feia) por possul
rem rel[JflJes similares entre as partes. Nunca quantidades, sempre con
tomos, formas e relal'15e,. Isso era, na verdade, uma coisa que caracte
rizava 0 caranguejo como urn membra de creatura, uma toisa viva.
Mais tarde afigurou-ae que nlto somenle as duas patas sao fonna
das no mesmo "plano b~ico" (isto t!, sobre grupos correspondentes
entre partes correspondentes), mas que essas relal'Oes entre partes cor
respondenles se estendem aM a ~rie das pernas que andam. Poderlamos
reconhecer em cada perna pedayos que correspondam a pedal'OS nas
patas.
Em seus pr6prios corpos, naturalmen te, a mesma coisa everdadeira. 0 n11mero no anlebral'o corresponde ao femur na coxa, e 0 r~dio.
c"bilo corresponde ~ tfbia'peronio; os ossos do corpo no pulso corres17
No caso seriado e fici! imaginar que cada segmento anterior possa dar inform~io sabre 0 segmento seguinte que esta ,se desen~olven~o irnediatamente
atras dele. Tal inform~io poderia detenmnar a o,nen:aerao. ,0 tamanho, e
mesmo a forma do novo segmento. Aflnal, 0 antenor e tambem antecedenIe em tempo e poderia ser 0 quase lopc~ ante~dent~ ou ~o<!el~ para seu sucess~r. A rel~ao entre anterior e postcnor sena en.t.a~ ~Slmetrlca ,e ~omple
mentar . . concebivcl e ate prov3.vei que a reJa(Jao slmetrica entre dUClto e esquerdo seja duplamente assimetrica, isto e, que cada urn tenha ~1~~1 con~o
Ie complernentar sobre 0 desenvolvimento do outro. 0 par constituma, en tao,
urn circuito de con trole recfproco. E espantoso que nao tenhamos quase conhecimento algum sobre 0 vasto sistema de comunica~io Que deve certamente
existir para controlar 0 crescimento e a diferencia~ao.
18
19
Eu disse, "Mas
que eisso?"
. "Bern, eu sei que n:fo ~ 0 ollio de urn gato. Suponho que seja
urn tJpo de pedra."
dourada).
o que
vern
a tona
.
Dessa maneira, a concha univalve carrega 0 procronismo da lesrna - sua lembrant;:a de como, em seu proprio passado, foi sucessivamente solucionado urn problema formal na forrna9lfOdo padr:fo (ver 0 Glos.
smo~. Ela, tambem, proclama sua afIlia9i!0 a esse padr:fo de padroes
que bgam.
. rodos os exemplos que fomeci ate agora - os pad rOes que ttm
assocla9 lfo com 0 padrlfo que liga, a anatomia do caranguejo e da lagos.
ta, a concha, 0 homem e 0 cavalo _ foram superficial mente es~ticos.
Os exemplos foram formas rigidas, resultantes de a1tera90es regulares,
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homem desejava saber sobre a mente, nao na natureza, mas ern seu gran
de computador p.articular. Ele perguntou ~ m~quina (sem ddvida em seu
mellior Fortran):.' "Vore computa que voce a1gum dia pensarn como urn
ser hurnano?" 0 computador come90u entifo a trabalhar para analisar
seus pr6prios Mbitos computacionais. Finalmente, a maquina imprimiu
sua resposta nurna follia de papel , como tais m~quinas fazem. 0 homem
correu para obter a resposta e encontrou, caprichosamente datilografa
das, as palavras:
A seguir, pertinencia entre pessoas no sentido de que todos pensam em termos de histO~as. (Certamente a computador estava certo.
As pessoas realmente pen'sam assim.)
Agora quero mostrar-lhe que seja qual for 0 significado da palavra histOria na histOria que !hes contel , a fato de pensar em termos de
histOnas nmo ISola os seres humanos como alguma coisa separada das
estrelas e an~monas-do-mar, dos coqueiros e das prfmulas. Na verdade,
se a mundo ~ ligado, se estou fundamentalmente correto no que estou
dizendo, entia 0 "pensar em tennos de hist6rias" dever~ ser repartido
par toda mente ou mentes, sejam as nossas ou aquelas das florestas de
sequOias e das anemonas-do-mar.
o contexto e a pertinencia devem ser caracterfsticos nao somente
de todos as assim chamados comportamentos (aquelas histOrias que sa-o
proJetadas em "a9[0"), mas tamb~m de todas as histOrias intemas as
sequ~ncias da forma,a-o da anemona-do-mar. Sua embriologia deve'ser
de alguma manelra felta do mesmo material das histOrias . E antes dissO,novamente, a processo evolutivo atrav~s de milho.s de gera,o.s por
melO do qual a anemona-do-mar, como v~ e como eu, veio a existir
-:- esse processo , tamb~m, deve ser feito do mesmo material das histOnas. Deve haver pertinencia em cada degrau da mogenia e entre os degraus.
----.:... Prospera afirma, "Somas a material sabre a qual sa-a feitos as so~
nhos", e certamente ele est! quase correto. Entretanto, algumas vezes
eu penso que as sonhos &[0 somente fragroentos daquele material. E
como se a matenal do qual ~omos feitos fosse totalmente transparente \ ,'\
e ,P0r esse motIVQ ImperceptIvel, e como se os unicos indfcios que puc...
dessemos perceber fossem rachaduras e planas de fratura naquela matriz
,
transparente. Sonhos, percep,o.s e histOrias sa-a, talvez, rachaduras
\ :
e ",:egularldades na matriz uniforme e intemporal. Teria sido isso q;Je l
t
Plotmo ~UIS dizer com "beleza invisfvel e imut~vel que penetra em to- \.
das as cOlSas?"
"t
22
,~
23
"
24
Tudo isso e - ou deveria seT familiar. 0 proximo passo, entretanto , talvez seja novo .
Existe uma confusao paralela no ensino de I(nguas que nunea foi
corrigido_ Lingiiistas profissionais hoje em dia podem saber 0 que ~ 0
qu~, mas as crian,as no coJegio ainda aprendem tolices:Ensinam a elas
que urn "substantivo" c! 0 ''nome de uma pessoa, lugar, ou caisa", que
urn "verba" ~ "palavr3 de attao", e assim por diante. Quer dizcr, eles
5[0 ensinados em uma tenra idade que a maneira de se dermir urna coisa
e pelo 0 que ela supostamente e em si mesma, e nao atravos de sua rela930 com outras coisas.
Quase todos podemos nos lembrar de term os aprendido que urn
substantivo e "0 nome de uma pessoa, lugar, Oll coisa". E podemos lembrar 0 completo aborreeimento de analisar ora,Des. Hoje, tudo isso deveria ser mudado. As crian,as poderiam aprender que urn substantivo ~
urn. palavra que tern uma determinada rela,lfo com urn predicado. Urn
verba tern uma certa relayao com urn nome, seu sujeito, e assim por
diante. A rela,lio poderia ser usada como base para defini,ao, e qualquer cri"",a poderia entao ver que existe a!goma coisa errada com a
frase "ie e urn verbo".
~ Lembro.me do t~dio de analisar frases e a aborrecimento posterior, em Cambridge, ao aprender anatomia comparada. Os dois assuntos,
como eram ensinados, eram tortuosamente irreais. Podertamos ter
aprendido algoma coisa sobre 0 padrlfo que liga: que toda comunica,lfo
necessita de urn contexto, que sem contexto nao ha significado, e que
contextos fornecem significado porque existe classifica,ao de contextos. 0 professor poderia ter argumentado que crescimento e diferencia,ao devem ser controlados pela comunica,lfo. As formas dos animais e
plantas sao transforma,6es de mensagens . A lfngoa 0 em si uma forma
de comunica,ao . A estrutura da entrada deve de algoma maneira ser
relletida como estrutura na sa(da. A anatomia deve conter urn an.nogo
gramatical porque toda anatomia e uma transforrna,ao de material de
mensagem que deve sec contextualmente form ada: FinalmenteJormarcfo contextual e somente outro termo para gramdtica.
Assim voltamos aos padrOCs de liga,ao c ~ proposi,ao mais abstrata, mais gera! (e mais vazia) de que, realmente, existe urn padrao de padr!)es de liga,a-o.
25
Este livro foi baseado n> opiniao de que somos partes de urn
mundo vivo. Coloquei como epigrafe encabe9"lldo este capitulo urna
passagem de Santo Agostinho na qnal a epistemologia do santo ~ clara.
mente declarada. Hoje tal declara,ao lembra nostalgia. A maioria de n6s
perdeu aquele senso de unidade da biosfera e da hurnanidade que nos
uniria e tranq uilizaria com urna afirma,ifo de beleza. Quase todos n6s
nao acreditarnos hoje que sejam quais forem os altos e baixos do deta
Ihe de nossa limitada experi~ncia , 0 todo maior ~ basicamente belo.
Perdemos a es~ncia do Cristianismo. Perdemos Shiva, 0 dan,a.
rino do Hindu{smo, cuja dan,a no nivel trivial ~ ao mesmo tempo cria
9ao e destruiyao, mas que nO todo e bela. Perdemos ~braxas, 0 terrfvel
e maravilhoso deus tanto do dia como da noite no Gnosticismo. Perde
mos 0 totemlsmo, 0 senti do do paralelismo entre a organiza,ao do ho
mem e a organiza,A"o dos animais e das plantas . Perdemos al~ 0 Deus
Agonizan Ie.
Estarnos come,ando a brincar com iMias sobre ecologia, e embo
ra imediatamente vulgarizemos essas idOias no com~rcio ou na politi.
ca , ain.da existe pelo menos urn impulso no cora,ao hurnano no sen Ii
do de unir e dessa forma san tificar 0 complelo mundo natural a que
pertencemos.
Observem , entretanto, que existiIam no mundo , e ainda existem,
imlmeras epistemologias diferentes e meSIlla contrastantes que se asse
melharam ao enfatizar e ultimar a unidade, e que tambem, embora isso
seja menos garantido, enfalizararn a noy[o de que a unidade final t!
esretica. A uniformidade desses pont os de vista fornece a esperan,a de
que talvez a grande autoridade da ciencia quantitativa possa ser insufi.
ciente para negar uma beleza unificante fmal.
Eu me prendo a pressuposi,a'o de que nossa perda do sentido da
unidade estetica tenha sido, simplesmente, urn engano epistemol6gico.
Acredito que eSSe engano possa ser mais serio do que todas as insanida
des secundarias que caracterizarn as antigas epistemologias que estavarn
de acordo com rela,ifo Aunidade fundamental.
Uma parte da hist6ria de nossa perda do sentido da unidade
foi elegantemente narrada no Great Chain of Being, de Lovejoy,' que
registra a hisl6ria desde a filosofia grega cla'ssica ale Kan t e os prim6r.
26
!i.
J..
Lamarck. Philowphie zool~gique (1809), t:raduzj~o como [Zoological
P1ulosophy: An Exposition w ith Regard to the Nat ural History of Anjmals
tradutor Hugh Elliot ] (Nova York & Londres: Hafner Press, 1963).
'
27
28
29
I~
n-
33
2, 4, 6, 8, 10, 12
x,w, p, n
.1
34
35
Esse principio que Alfred Korzybski tornou famoso impressiona em mUI'tos mvelS.
. . EI enos Iembra que quando pensamos em cocos
ou pareos nao existem cocos ou pareos em nossa cerebra. Em uma maneira mais abstrata, a deciara,ifo de Korzybski aftrma que em todo pen.
Samento, percepyao ou comunica,[o sabre percep,ao, ha uma transfar.
ma,ifo, uma codi/ica,ao, entre a relatorio e a coisa relatada, 0 Ding an
siCh. Acuna de tudo, a rela~ao entre 0 relatorio e a misteriosa coisa rela.
tada tende a ter a natureza de uma classijica,ao, uma atribui,30 da
COlsa a uma c1asse. A denomina,30 e sempre c1assificadora e a demarca.
~ao e essencialmente a mesma coisa que a denomina~ao. '
Korzybski estava, de urn modo geral, falando como urn fil6sofo,
tentru:do persuadtr as pessoas a disciplinarem suas maneiras de pensa!.
Ele ,nao podena veneer, entretanto. Quando aplicamos sua maxima a
histona natural do processo mental, a assunto nao e tao simples. A dis.
tu;t9 30 e~tre 0 nome e a COlsa deslgnada ou 0 mapa e 0 territorio talvez
";Ja realiz~da somente pelo hemisferio dominante do cere bro. 0 hem is
feno strnbohco c afettvo, normalmente do lado direito, e pravavelmcnte
36
37
Essa generalizal'[o pareee ser verdadeira para tudo 0 que aconteco entre a minha al'[o eventualmente consciente de dirigir urn 6rg[0
sensorial na direl'[o de a1guma fonte de informal'[o e minha al'ao COllSciente de extrair informa9[o de uma iruagem que "Eu" pare90 ver,
ouvir, sentir, provar ou cheirar. Mesmo a dar e certamente uma imagcm
produzida.
Sem duvida as homens, burros e cachorros est!o todos conscientes de ouvirem e mesmo de prestarem atenl'ao na direl'ao de on de vern 0
sam. No que diz respeito a visao, qualquer caisa que se maya na periferia do meu campo de visiio chamara "atenl'ao" (seja la 0 que isso
quer dizer) de modo que movo meus olhos e mesmo minha cabel'a para
abserva-la. Isso e com freqtiencia urn ato conscientc, mas algumas vezes
quase completamente automatieo, de tal forma que pa." a desapercebido. Frequentemente estou eonsciente do ato de virar minha cabel'a, mas
alhelO a visao periferica que fez com que eu me virasse. A retina periferiea recebe muitas informal'Oes que permanecem fora da consciencia - possiveimente, mas nao com certeza, em forma de imagens.
Os processos de percepc;ao sao inacesslveis; somente os produtos
sao conscientc~/e , naturalmente, sao os produtos que sa-o necessarios. Os
dois fatos genericos - primeiro, que estou inconsciente do processo de
form"l'ao das imagens que vejo conscientemente e, segundo, que nesses
processos lIleonscientes utilizo uma ampla gama de pressuposil'1les que
se to~nam con~truida~ na imagem acabaaa sao, ~ra mim, 0 come'Yo
.9~ eplStemologJa emplfie'!,....
Naluralmente, todos sabemos que as imagens que ''vemos'' Silo
Teahnente fabricadas pelo cerebro ou peIal11Cri'te. Sabeflsso no sentido
intelectual e, entretanto, muito diferente do que assumir que c rcalmen-
-=
38
i
I
I
Mais precisamente, eu deveria tel escrito: "A primeira dessas chaves e 0 con
trade em tamanho... "
Obscrvci que. nao somcnte os processes de perce~ao visual sao inaccssiveis .
como tambem que c imposslvel construir em palavras qualquer descri~ao accitavel doquedeveocorrer na mais simples a~50 de .ver. Para
aquilo que nao consciente. a linguagem nao forn ecc qualqucr melO de expressao.
a conscicncia,
39
tras.
A segunda chave era 0 contraste na luminosidade. Para demonstrar iSso, os baloes permaneciam do mesma tamanho, e, naturalmente.
na~ se moviam realrnente. A ilumjIla~ao era a unica caisa que mudav3,
ora focalizando urn balao, ora au tro. Essa ilumina~ao alternativa, como
ocorreu com
aproximando e recuando na medida em que a luz caia sabre urn au sobre 0 outro.
A seqti~ncia das experiencias mostrou entaD que essas duas chaves, tamanho e luminosidade, poderiam ser jogadas uma contra a outra
para fornecer uma contradiy[o. 0 bal[o que encolhia passou a receber
sempre mais luz. Essa experiencia combinada introduziu a ideia de que
algumas chaves s30 dominantes em relayao a outras.
A sequencia total de chaves demonstradas naquele dia inclulram
tamanho, luminosidade, superposiyao, paralaxe binoeular e paralaxe
cdada por movimentos da cabeya. 0 mais fortemente dominante desses todos era a paralaxe por movimentayl!o da cabep.
Apos observar vinte ou trinta dessas demonstrayoes resolvi descansae urn poueo e fui sentar-me em uma das espreguiyadeiras. A cadeira desabou. Ao ouvir 0 barulho Ames veio ver se tudo estava bern. Ele
ficou entao comigo e demonstrou as duas expericncias que descreverei
a seguir.
A primeira lidava com paralaxe (ver 0 Glossario). Havia dois objetos .sobre uma mesa de aproximadamente cinco pes de comprimento:
um mayo de cigarros marca Lucky Strike apoiado num pedayo pequeno;
pontudo de metal, ficando algumas polegadas acima da superficie da
mesa, e uma caixa de f6sforos de papel, elevada da mcsma maneira,
colocada no final da mesa.
Ames pediume que ficasse em pe no inicio da mesa e descre
vesse 0 que via; quer dizer, a 10calizayITo dos dois objetos e 0 tamanho
que pareciam ter. (Ames sempre solicitava as pessoas, em suas experiencias, que observassem a verdade antes de serem submetidas as ilu~0
Ames mostroume entao que havia uma tabua de madeira com urn
buraco plano e redondo coloeada verticaimente na beirada da mesa do
40
42
da vara encostada no papel do Iado esquerdo, e golpeie tao forte quando puder."
Golpeei forte. 0 final da minha vara moveu-se cerca de uma polegada e atmgiu a parte de tnls da sala e nao podia ir mais Ionge. Ames
dlsse, "Tente novamente"
'
, Tentei talvez cinqiienta vezes, e meu bra~o comeyou a doer. Naturalmente, eu sabia qual a corre,ao que deveria fazer no meu movimento: eu tinha que puxar a vara para dentro no momento em que
golpeava, para evitar a pare de trazeira. 0 que eu iiz, entretanto, era
di~igido pela minha irnagem. Eu. estava tentando puxar contra meu pr6pno movunento espontaneo. (Suponho que se tivesse fechado meus
olhos eu teria feito melhor, mas nao tentei isso.)
Nunca consegui atingir 0 segundo pedal'o de papeI, maS curiosamente, minha atu3c;ao melhorou. Consegui, pelo menDS, mover minha
varavanas polegadas antes de atingir a parede de tras.A medida que eu
pratzcava e melhorava minha a,tio, a imagem que eu formava se alterava
fornecendo-me urna impressao mais trapezoidal da forma da sal ..
Ames contou-me depois que, reaIinente. com mais pnitica, as
pessoas aprendiam a golpear a segunda folha de papel com facilidade e,
ao mesmo tempo, a ver a sala em sua forma trapezoidal.
A sala trapezoidal era a ultima na seqilencia de experiencias, e
Ames sugeriu entlo que fOssemos alm09ar. Fui lavar-me no banheiro
do apartamento, abri a torneira marcada "F" e obtive-urnjato de agua
quente misturada com vapor.
.
Saimos para procurar urn reslaurante. Minha fe em minha forma,ao de imagens estava tao abalada que eu mal podia atravessar a rna.
Nao eslava seguro de que os carros que vinham estavam realmente onde
pareciam estar.
Resumindo, nao existe vontade livre con Ira os comandos imedialos das imagens que a percep,lo apresenta ao "olho da mente". Atraves
de pratica laboriosa e au tocorre,il'o, entretanto, e parcialmente possivel alterar essas irnagens. (Tais mudan,as em calibragem serao ulteriormente discutidas no Capitulo 7.)
.
Apesar dessa bela experimenta,ao, 0 mecanismo da forma,lio de
unagens permanece quase lotalmenle misterioso. Como e feito, nlio
sabemos - nem mesmo com que finalidade .
E muito faci! dizer que apresentar as imagens a consciencia sem .
gastar 0 processo psicol6gico na perceNi!'o de sua elabora,[o constitui
uma especie de sentido de adapta,ao. Nao existe, entretanto, qualquer
43
utiliza9~0
e,
,
44
John Stroud,
comunica~io
pessoal.
r----i
\H
0
Figura J
"
4S
/
/
/
/
0
Figura 2
lares.
.
Essa visao esta errada, niIa samente em detalhe, mas em principio.
E mesmo possivel definir gran des classes de fenomenos onde a previsao
e a contrale sao simplesmente impossiveis par rOlOes bastante basicas
mas bern compreensiveis. Talvez 0 exemplo mais familiar dessa cia sse
de fenfunena seja a que bra de qualquer superficie de material homage.
n."a, tal como a vidro. 0 mavimenta browniana (ver Glassaria) de moleculas nos liquidos e gases e similarrnente imprevisivel.
47
mais precisa-
48
quando. Assim sen do, nao podemos dizer a que lemperatura a fcrvura
tera inicio.
Se a experiencia e executada de maneira critica - quer dizer, se a
agua estiver bern limpa e 0 bequer bern liso - haverA algum superaquecuncnto. No final a agua fcrvera. No final, semilfe haverA urna diferenfa
que podera servir como nucleo para a mudan,a. No fmal, 0 Jiquido superaquecido "encontrara" esle ponto <liferenciado e fervera explosivamenle por alguns momenlos ate que a lemperatura seja reduzida ao
ponto normal de ebuli,[o apropriado a pressa:o barometrica circunja-
cente.
o congelamenlo de urn Jiquido e similar, assim como 0 ea dcsorganiza,ao dos cristais numa solu,lfo supersaturada. Urn nucleo - quer
dizcr, urn ponto diferenciado, que no caso de uma solu,[o supersatucada pade, mcluslve, sec urn cristal microsc6piCo - e necessaria para
quc 0 processo tenha inicio.
. Observaremos mais adiante nesle livro que existe urn profundo
ablsmo entre aflrTlla,Oes sobre urn individuo idcntit1cado e aflrTll"9 Oes
sobre uma ciasse de mdlViduos. Tais declara,Oes sao de lipo /ogico dife~ente: e. a prev~sao de u"!~ para a oulIa e sempre ineerl . A aflrTll"9[o
'0 hqUldo esl. fervendo e de urn tipo logico <liferente da declara,[o
"Aquela moMcula sera a primeira a subir."
Esle assunto tern urn numero de varias classes de importancia para
a Icoria da hisl6ria, para a mosofla por Iras da teoria evolucionAri., e
dc maneira geral, para a nossa compreensao do mundo em que vivemos.
Na leoria da hist6ria, a filosofia marxiSI' de acordo com Tolstoi
insisle em que os grandes homens que formar~m os nucleos historico;
para profundas mudan,as sociais ou inven,oes, sao, num certo sentido,
melcvanles para as modit1c"9oes que desencadearam. Eles argumenlam,
por excmplo, que em 1859, 0 mundo ocidenlal estava pronlo e maduro
(talvez maduro demais) para criar e receber a leoria da evolu,ao que podcria refletir e justificar a etica da Revolu,[o Industrial. Desse ponto de
vista 0 propriO Charles Darwin seria considerado COmo n[o imporlanle.
Se ele n[o tivesse elaborado sua leoria, outra pessoa teria apresentado
~a leoria similar denlro dos cinco anos seguinles. Realmenle, 0 paralelismo entre a teoria de Alfred Russel Wallace e aquela de Darwin pode.
na parecer a primeira vista comprovar essa opiniao. s
s
VaJe a ~ena contar a historia. Wallace era Urn jovcm naturalista que, em
1856 (tres aoos antes da publica~ao do Orixcns de Darwin), "teve urn ataque
49
de malaria nas florcstas chuvosas do Temado na indonesia, ataque esse acompanhado de deliria e seguido por urna expericncia pSicodelica na qual cle descobriu 0 princ{pio da se1eya'o natural. Ele descreveu 0 ocorrido numa tonga
carta dirigida a Darwin. Nessa carta ele explicou sua descoberta nas seguintes
palavras: "A ~~o desse principio e exatamente como aqucJa do regulador
centrifugo da maquina a vapor, que verifiea e cerrige quaisquer iJ'regularidades mesmo antes delas se tornarem evidentcs; e similarmente nenhuma defitieneia desequilibrada no reino animal podera jamais tomar uma visivel magnitude pois eIa se Caria sentir no primciro passe, tornando a existencia diffell e Cazendo com que a extin~ao certamente tivessc lugar." (Reimpresso em
Darwin, a Norton Critical Edition, ed. Philip Appleman, W.W. N0I!0n, 1970).
Observem a utjliza~"o da met3fora ffsica, inapropriada ao fenomeno relativo a eriatura que csta sendo diseutido. Reahnente, podeni ser argumentado que essa eompara~ao total entre assuntos bio16gieos soeiais. por urn lado, e processos fisicos, por outro, e uma utilizayio monstruosa da met3fora inapropriada.
50
"
sao inata para confundir tipos Iogicos. (Esse assunto e as confusOes correspondentes de evolucionistas ortodoxos serao eliscutidos no Capitulo 6.)
Seja como for, nos processos estocasticos (ver Glossario) sejarn de
evolul'~o ou de pensarnento, 0 novo s6 pode ser extraido do acaSQ,_E
l!-ara tirar 0 novo do !caso, se e quando ocorre ele se mostrar, e neeeS::s-ario
certo tipa d~uinaria -seletiv3 para explicar a persistencia
da nova ideia. Deve ser obtida algilma coisacomo seleflio natural em
toda sua banalldade e tautologia. Para persislir, 0 novo deve ser de urn
tipo tal que resista mais que as alternalivas. 0 que dura mais entre as
ondulal'0es do acaso devera durar mais do que as ondulal'0es que n~o
durarn tanto. Resumidamente essa e a teoria da evolul'iio natural.
A vis[o marxista da hist6ria - que em sua fonna mais crua argu.
mentaria que se Darwin nao tivesse escrito A origem do.s especies, autra
pessoa teria produzido urn livro similar nos cinco anos seguintes - e
urn esforl'o infeliz de aplicar a teoria que encararia 0 processo social
Como convergente a eventos que envolvem seres humanos individuais.
Esse erro e, novarnente, de represental'ao Iogica.
urn
,
Lucrecios. On the Nature of the Universe, traduzido por Ronald E. Lathan
(Baltimore: Penguin Books),
52
d. 0 principio de que 'nlio poderao ser criados nenhum novo padrao ou ordem sem informa~tio.
Pode ser dito de todas essas e de outras declaral'5es negativas similares que elas sao mais regras de expectaliva do que leis da natureza.
Elas sao quase tao completarnenle verdadeiras que todas as exce,oes
sao de extrema interesse.
o que e especialmente interessante esta oculto nas relal'lles entre
essas negal'0es profundas. Por exemplo, sabemos hoje que entre a conservay30 da energia e a conserv3yio da materia, existe uma ponte por
meio da qual cada uma dessas negal'6es e negada em si propria pelo inteream bio da materia com a energia e, presumivelmente, da energia COm
a materia.
Na presente ligal'ao, entretanto, e a ultima das afrrm3l'6es da
serie que apresenta 0 maior interesse, a proposiyao 'de quefas esferas da
comunical'ao, organiz3l'ii"O, pensarnento, aprendizado, e evolul'ao, "nada
yin! de nada" sem in/ormafao.
Essa lei difere das leis de conserva,ao da massa e da energia no
sentido de que niio con tern clausula para negar a destruil'ao e perda de
inforrn3l'ao, padrao, ou entropia negativa. 0 que ocorre e que 0 padrIo
elou a inforrnal'ifo sao facilmente absorvidos pelo acaso. As mensagens
e diretrizes para ordenac;ao existem somente, por assim dizeT, na areia
e estao eseritas na superficie das "guas. Praticarnente qualquer elistUrbin, mesmo 0 mero movimento browniano, as destruirao. A informac;i!o
pode ser esquecida ou borrada e os livros de cOdigo podem ser perdidos.
As mensagens cessarn de ser mensagens quando ninguem pode Ielas. Sem uma pedra de Roseta nao saberiarnos nada do que estava
escrito nos hier6glifos "egipcios. Eles seriam apenas ornamentos graciosos em pedra au papiro. Toda regularidade para ser significativa - mesma
para ser reconhecida com padrao - deve ter regularidades complementares, talvez habilidades, e essas habilidades sao tao imperceptiveis quanto
os proprios padr6es. Elas tamoom sao escritas na areia ou na superficie
das ondas.
A genese da habilidade para reagir a mensagem e 0 3/1verso, "
outro lado do processo da evolu,ao. E, sua co-evolu~iio (ver Glossario).
Paradoxalmente, a profunda verdade parcial que "nada surgi'" do
53
nada", no munde da informa,lio e da ofganiza,ifo, encontra uma interessante contradiyao na circunstancia que Q.zero, a ausencia completa
de qualquer evento indicador, pode ser uma mensagem. 0 carrapato sobe numa Orvore e fica esperando num galho externo. Se sente 0 cheiro
de suar, ele se atira. caindo talvez sobre urn mamlfero. Entretanto, se
nao senfe 0 cheiro de suor apos algumas semanas, ele desce e procura
outra arvore para subir.
A carta que voce nlfo escreve, a desculpa que voce nlio pede, a
comida que voce nao caloca para 0 gata - todas essas podem sec mensagens suficientes e eficazes porque 0 zero num contexto, pode ser significativa; e e quem recebe a mensagem que cria 0 contexto. A habilidade
de quem .reccbe e esse poder de criar 0 contexto; e adquirir 0 que e sua
metade da co-evalu,l!o acim. mencionada. Ele ou ela devem ad-quirir
aquela habilidade atraves do aprendizado ou de uma mu ta,ao bern sucedida, quer dizer, de urn ataque bern sucedido na acasa. Quem recebe
deve estar, num certo sentido, preparado para a chegada da descoberta
apropriada.
Assim, 0 inverso da proposi9[O "nada surgira do nada" sem informa,ao e passivel de ser imaginada COm 0 processo estocastico. A pres
teza pode servir para selecionar componentes do acaso que desse modo
se tornarn infonna~ao nova. Urn suprimento de eventos ocasionais, entretanto, deve estar sempre disponivel, para que possa gerar novas
inform"l'0es.
Essa circunstancia divide todo 0 campo da arganiz"l'lio, evolu,IIO,
matura,lio e aprendizado, em duas esferas separadas, das quais uma e
a esfera da epigenese, ou embriologia, e a outra, a esfera da evalu,aa e
do aprendizado.
Epigenese e a palavra preferida par C.H. Waddingtan' para seu
campo central de interesse, cujo antigo nome era embri%gia. Ela enfatiza 0 fato de que todo Fasso embrial6gico e urn ato de vir a ser (genese
grega) que deve ser edificado sobre (grego epi) a status quo ante. Caracteristicamente, Waddington desdenhava a tearia da informa,ao tradicio.
naI, que nao tinha lugar. da forma que eIe encarava a coisa, para a "nova" informa,aa que ele sentia ser gerada em cada estagio da epigenese.
Realmente. de acordo com a teoria convencional, n~o ha nova informaC;ao nesse caso.
Teoricamente, a epigenese deveria lembrar 0 desenvolvimento
de uma complexa tautolagia (ver Glossario) em Hue nada e acrescentado
depois que as axiomas e defini,oes sao estabelecidos. 0 teorema de
Pitagoras esta implicito (quer dizer ja esta inserido) nos axiomas, defi-
ni,Oes, e pastulados de Euclides. Tudo que e requerido e seu desdobramento e, para seres humanos, algum conhecimento da ordem dos
passos a serem dad os. Essa ultima especie de informac;a:o s6 se tamara
necessaria quando a tautologia de Euclides for modOlada em palavras e
simbolos arranjados seqUencialmente no papel au no tempo. Na tautolagia ideal nlio existe tempo, nem desdobramento, nem argumento. 0
que esta imp]{cito esta la, mas, naturalmente, naa localizado no espa,o.
Cantrastando com epigenese e tautologia, que constituem os
mundos da reprodu,ao, existe todo 0 mundo da ,criatividade, da arte,
do aprendizado e da evolu,ao, nos quals os proces~as de mudan,a
se alimentam do acaso. A essencia da epigenese e a repeli,aa previs!vel;
a essencia do aprendizado e da evolu,ao e a explara,aa e a mudan,a.
Na transmissao da cultura humana, as pessoas sempre tentam cepetir, transmitir para a gera,ao seguinte as habilidades e valores das pais;
a tentativa, entretanto, sempre e inevitavelmente fracassa porque a
transmissao fUIlciona em relac;a'o ao aprendizado, na:o em relac;ao ao
DNA. 0 processo da transmissao da cultura e uma especie de hibridisrno ou mistura das duas esferas. Esse processo cleve tentar utilizar 0
fenomeno do aprendizado com a finalidade de copiar: pois 0 que os pais
tern foi aprendido par eles. Se a prole miraculosamente tivesse 0 DNA
que !he daria as habilidades dos pais, essas habilidades seriam di/erentes
e taJvez inviaveis.
E interessante que entre os dois mundos esta 0 fenomeno cultural
da explica,ao - a demarca,ao sobre a tautologia, de sequencias nao familiares de eventos.
Finalmente, sera observado que os mundos da epigenese e da evo-
1:1
Utilizo a frase demarcar sobre, pelas seguintes razoes: Toda descrir;ao, explica9ao, ou reprcsenta9ao e, em certo sentido, necessariamentc, urna demarca930 de derivativos do fenomeno a set descrito sobre a\guma superficie, matriz
.I
54
55
"
Essa diferenl'a e basica para quOlquer tipo de teorizal'ao nas ciencias do comportamento, para qualquer tipo de imagina,ao sobre 0 que
ocone entre organism OS ou dentro dos organisrnos como parte de seus
processos de pensamento.
Numeros sao 0 resultado de contagem. Quantidades sao 0 produto de medil'ao. Isso significa que podemos conceber os numeros como
senda exatos pais existe uma descontinuiclade entre cada numero intei~
ro e a seguinte. Entre dais e tres, existe urn pula. No caso da quantidade, nao existe tal pulo; e COmo falta a salta no mundo da quantidade,
e impossivel que qualquer quantidade seja exata. Voces padem ter exatamente tres tomates. Voces nunca podem ter tres gali5es de agua.
A quantidade e sempre aproximada.
Mesmo quando a numero e a quantidade sao claramente discriminados, existe urn outro conceito que deve ser aceito e diferen~ado
no mlmero e na quantidade. N[o existe para esse m.itro conceito, creio,
palavra em ingl~s, de forma que temos que nos contentar com a lembran,a de que existe urn subconjunto de padroes cujos membros sao
nonnalmente cham ados "mimeros". Nem todos os mimeros s[o resultados de contagens. Na verdade, s[o os numeros menores e conseqiien-
56
58
S9
r-,.
I (j
60
11'
61
Para transportar esses pensamentos para 0 mundo mais com pIexo das coisas vivas, podemos oferecer uma fabula :
62
..,
p, U, Posif sempre afirmou que houve uma epoca, quando esse maravilhoso animal ainda era um potro~ _que ele conseguia ticar doe pe em
suas quatro patas. Deve ter side uma maravilhosa visao! Entretanto,
quando 0 cavalo foi mostrado aopubuco e registrado com todos os instrumentos de comunica~ao da civiliza~ao modema, 0 cavalo naa fiqava
em pC. Em uma palavra, elc era pelado demoi.J. Pesava, naturalrnente, oito vezes mais do que urn Clydesdale comum.
Quando mostrava 0 animal a pessoascomuns enos espetaculos pu bucos, 0 Dr, Posif sempre insistia em desligar as mangueiras que eram
continuamente necessarias para manter 0 cavalo numa temperatura
normal para urn mamlfero. Ficavamos sempre apreensivos, entretanto, que as partes mais internas com~assem a cozinhar. Afinal de
contas, a pele e a gordura dermica do pobre animal eram duas vezes
mais espessas do que 0 normal, e sua area de superficie somente quatro vexes a de urn cavalo comum, de forma que nlo esfriava adequadamente.
Todas as manhas 0 cavalo tinha que ser levantado em suas patas com
o auxilio de urn pequeno guindaste c pendurado em uma especie de
caixa sobre rodas, dentro da qual ele era suspendido sobre molas
ajustadas para tirar mctade do peso de suas pcrnas.
63
o Dr. Posif costumava afirmar que 0 animal era extremamente inte-ligente. Ele tinha. naturalmente, oito vezes 0 cerebro (ern peso) de
qualquer outro cavalo , mas nunca pude observar que estivesse preacupado com quaisquer problemas mais complexos do que os que
interessam os outros cavalos. Thlha muito pouco tempo livre, estava
sempre ofegante, em parte para se manter fresco e em parte para
oxigenar seu corpo oito vezes grande. Armal de contas, sua traqutHa
tinha apcnas quatro vezcs a area normal de s~ao transversal.
e Seu caule tenninal; quando cIa completa sua fun~ao. a planta morre.
Sua morte e nonnaJ para sua fonna de vida.
.Entre alguns animais superiores, 0 crescimento e control ado. A
---'-
,I
13. A LOGICA
. EFEITO
Ii
-- J
Utilizamos as mesmas palavras para falar sobre sequencias logicas e sobre seqiiencias de causa e cfcito. Dizemos, "Se as definir;Oes e
postulados de Euclides. forem aceitos, entao dois triangulos que tenham tres lados de urn iguais a tres lados do Qutro, sao iguais entre si."
Dizemo~ tambe~, "Se a temperatura cai abaixo de oOe, entao a agua
comefa a se transformar em gelo."
o se .. entao da logica no siloglsmo e, entretanto, muito diferente do se. .. entao da causa e efeito.
Num computador que trabalhe atraves de causa e efeito, COm urn
trans~stor acionando outro, a_s sequencias de causa e efeito sao utilizadas para simular a 16gica. Ha trinta an os a1ras costumavamos perguntar:
Urn "omputador pode simular todos os processos da logica? A respos
ta era Simi mas a pergunta estava certamente errada. Deveriamos ter
perguntado: A logica pode simular todas as sequencias de causa e efeito? A resposta teria sido nao.
Figura 3
Se a
Se 0
Se 0
Se 0
Essa sequencia e perfeitamente satisfatoria desde que seja claramente com preen dido que as conexoes se. .. entao sao causais. Entretanto 0 mau jogo de palavras que transportaria os ses e ent50s para 0 mundo da logica causar. estrago:
66
67
. ~
Se
contato e interrompido.
Se p, entao n50 P.
68
69
e se tornam "reais" atraves de suas rela~Oes internas e de seu comportamento no reIacionamento com outras coisas e com 0 orador.
E necessario ser bastante claro a respeito da verdade universal
que nao importa 0 que as "coisas" possam ser no seu mundo pleromatico e de coisas, elas so podem penetrar no mundo da comunica~ao e significa~a:o atraves de seus nomes, suas qualidades e seus atributos (isto e, atraves de relatos de suas rela,Oes e inter390es internas e extemas)_
Em outras partes deste livro, a palavra estavel e tambem, necessariamente, a palavra mudan,a se tornarao muito importantes_ Dessa forma, e aconselhavel examinar essas palavras agora na fase introdut6ria
de nossa tarefa_ Que armadilhas essas palavras contem ou escondem?
Estavel e normalmente utilizado como urn adjetivo aplicado a
uma coisa. Um composto quimico, uma casa, um sistema economico,
ou urn governo slio descritos como estaveis. Se nos aprofundannos nesse assunto, nos sera dito que 0 objeto estavel e inalteravel sob 0 impacto ou pressao de uma detenninada variavel externa ou intema, ou,
talvez, que ele resiste apassagem do tempo.
Se come~armos a investigar 0 que esta por tras dessa utiliza~ao
de estabilidade, encontraremos Uma larga amplitude de mec.nismos.
No nivel mais simples, temos mera durez. fisic. ou viscosidade, qualidades descritivas de rela~Oes de impacto entre 0 objeto estavel e algum
outro. Em niveis mais complexos, toda a massa de processos que se
encaixam no que chamamos vida pode ser envolvida na manuten~ao
de nosso objeto num estado de mudan,a que poss. manter algumas
constantes necessarias, como a temperatura do corpo, a circula~1[o do
sangue, glicose no sangue, ou mesmo a pr6pria vida.
o acrobata quando esta na corda mantem sua estabilidade atraves de uma continua corre~ao de seu desequilfbrio.
Esses exemplos mais complexos sugerem que quando utilizamos
70
l..
73
o Capitula 2, "Every Schallbay Knaws , , ," fez uma introdude algumas ideias basicas sabre a munda , propasi~lles au fatas elementares, cam as quais tada epistemalagia au tada epistemalagista se~aa
Neste capitula, facaliza generaliza~oes que sa:a bern mais camplexas na sentida de que a pergunta que fa~a tama a farma imediata, exaterica: "Qual a recompensa au aumento de conhecimento que se segue a
combinariio de infarma~aa de duas au mais fantes?"
o leitar podera tamar a presente capitula e 0 Capitula 5 "Versoes Multiplas de Relacionamento" como apenas mais dais ltens que 0
calegial deveria saber. De fata , na processa de elabara9ifo'da livro, a
melhar ter duas descri~(les da que uma" cobriu ariginaJrnentitula
te tada esse material, Entretanta, cam a continua9iio da escrita experimental do livro que durau mais de tres anas, esse titula englabou uma
gama consideravel de se~Oes, c tornou-se evidente que a combina<r3'o
de varias tipas de informa~i!o definiu uma aproxima9ifo muito grande
com a que chama (no Capitulo 1) "0 padrao que liga" _Facetas particulares do grande padrao chamaram minha aten~ao 'atraves de modos
especificos nos quais duas ou mais partes de informa~:ro podiarn ser
combinadas,
No presente capitulo, facalizarei as variedades de combina~Oes
que pareceriam fornecer 30 organismo observador as infonna90es sobre 0 mundo em volta dele ou sobre ele como parte daquele mundo
"e
75
I. 0 CASO DA DIFERENt;:A
76
77
Figura 4
o que e mais importante e que e criada informa9[0 sobre profundidade. Em linguagem mals formal , a diferenfa entre a informa9ao fornecida por uma retina e aquela fornecida pela outra e ela propria uma informa9ao de tipo 16gico diferente. Parlindo dessa nova especie de informayao, a pessoa que ve adiciona uma dimensiio adicional ao ato de ver.
Na Figura 4, deixemos A representar a classe au conjunto de
componentes do agregado de informa9ao obtido de Urna primeira fonte (por exemplo, 0 olho direito), e deixemos B representar a classe de
componentes de informa9ao de uma segunda fonte (por exemplo, 0
olho esquerdo). AB ent[o representani a classe de componentes obtidos por informa9ao de ambos os olhos. AB devera ou conter membros
au ser vazio.
Se existern membros reais de AB. ent~o a informa9ao da segunda fonte impes uma subclassifica9iiO sobre A que era anteriormente
impossivel (isto e, forneceu . em combina9ao com A. urn tipo logico
de informa9ao que a primeira fonte era incapaz de fornecer sozinha).
Prosseguiremos agora com a pesquisa de outros casos sob esse
titulo geral e procuraremos especificamente em cada caso a genese
da informa9[0 de urn tipo logico novo dentro da justaposi9liO de
descri90es multiplas. Deve ser esperada, em principio , profundidade
adicional num sentido metaforico, sempre que a informa9ao das duas
descri90es for diferentemente coletada ou diferentemente codificada.
78
tretanto, muitos objetos que pulavam (asteroides) no campo das fotografias, e Tombaugh teve que encontrar urn que saltasse menos do que
os Qutros.
Apos centenas de comparal'oes, Tombaugh viu Plutiio pular.
Macbeth esta prestes a assassinar Duncan, e com horror, it sua
al'ao, ele vislumbra urn punhal (Ato II , cena J).
4. 0 CASO DA ADI!;AO DE SlNAPSE
E urn punlial 0
AdiftlO de sinapse e 0 termo tecnico empregado em neurofisiologia para aqueles momentos em que um neurdnio C e disparado somente
por urna combinal'ao dos neuronios A e B. A sozinho e insuficiente para
acionar C, assim como tambem 0 e B sozinho; entre tanto, se os neuronios A e B disparam juntos dentro de urn limitado perfodo de microssegundos, C ~ atingido (ver Figura 5). Observem que 0 tempo conven.
cional para esse fenomeno, adlfao, sugeriria urn adicionamento de informal'ao de uma fonte infomlal'ao de outra. 0 que acontece rea!-
mente
na~
~00-;:;:!
o que essa classifica~ao causa a informa~ao que 0 neuronia A sozinho poderia fomecer e uma segrnental'iio ou subclassifical'ao dos dis
paros de A em duas classes, a saber, os disPilros de A acompanhados de
B e os disparos de A que nao sao acompanhados de B. Correspond entemente, os disparos do neuronio B tambem sao subdivididos em dois
grupos, os acompanhados de A e os nao acompanhados de A.
80
81
X A
AI
A2
B
AB
IV
s2
BlAB
Figura 6
Mostre!hes que:
82
83
84
liB
Adicionemos as duas figuras:
o.
~e
~~
1+3
1+3+5 = 9
Quer dizer, 4 + 5 = 9.
Assirn por diante. A representa,ao visual toma bastante foci! combinar
Q'i
carao.
86
Acredito que isso tenha si40 demonstrado pela prill1cira ~cz pOT C. P. Martin
em seu livro Psychology. Evolution and Sex, 1956. Samuel Butler (em More
Notebooks of Samuel Butler, editado por Festing Jones) fez uma aflTma~ao
similar ao discutir a partenogenese. Ete argumenla que a partenogencse
est<!. para a reprodu9ao sexual assim comO os sonhos estio para 0 pensamento. 0 pensamento firmado e tcstado seb'llndo 0 modelo da realidadc exlerna, mas os sonhos correm livrementc. Dc modo similar, podemos enearar a
partenogenese como ocorrendo livremente, enquante a forma9ao des zigo
tos eestabilizada pcla compara9ao mutua dos gametas .
87
esse feixe sao recebidos, num "ouvido" no qual uma frequencia mais
baixa, mals ainda inaudivel esta sendo gerada. As batidas resultantes sao
entao transmitidas ao ouvido humano.
o assunto torna-se mais complexo quando os padrOes ritmicos em
vez de serem limitados as simples dimensoes do tempo, ComO e 0 caso
da frequencia, existem em duas ou mais dimensoes. Em tais casas, 0 resultado da combina9ao de dois padroes pode ser surpreendente.
Tres principios sa:o ilustrados por esses fenomenos moire: Primeiro, quaisquer dois padroes, se apropriadamente combinados, podem gerar urn terceiro. Segundo, qualsquer dois desses tres padroes poderlio
servir como base para a descri'.rao do terceiro. Terceiro, toda a problematica de defmir qual. 0 significado da palavra padrifo pode ser aproximada atraves desses fen6menos. Sera que carregamos realmente conosco
(como 0 sonar da pessoa cega) exemplos de varios tipos de regularidades com os quais podemos tesiar as informal'lles (noticias de diferen9as
habituais) que vern de fora? Sera que utilizamos, por exemplo, nossos
h:ibitos do que e denominado "depenMncia" para testar as caracteristicas das outras pessoas?
Sera que os animais (e mesmo as plantas) tern caracteristicas tais,
. que nurn dado nicho existe uma verifica9ao desse nicho atraves de algo
como 0 fen6meno moire?
Surgem outras perguntas com rela9~0 a natureza da experiencia
estetica. A poesia. a dan'.r3, a musica e outros fenomenos ritmicos sao
certamente bastante arcalcos e provaveimente mals antigos do que a
prosa. Alem disso, e uma caracteristica dos comportamentos e das perceProes arcaicos que 0 ritmo seja continuamente modulado; quer dizer,
a poesia ou a musica contero materiais que poderiam ser processados
atraves da compararifo superposta por qualquer organismo recipiente
com alguns segundos de memoria.
Sera possivel que esse fenomeno artistico, poetico e musical
de ambito mundial esteja de alguma maneira relacionado COm 0 moire?
Em caso afrrmativo, 'a mente individual esta enta~ certamente profundamente organizada em maneiras que uma considera~ao do fenorneno
moire nos auxiliara a compreender. Nos termos da defini9~0 de "explica~oes" proposta na se~ao 9, diremos que a matern:Hica formal ou a
"16gica" de mofr6 podera fomeeer uma tautologia apropriada sobre a
qual esses fenomenos est';ticos poderno ser delineados.
pares a1eat6rios de gametas assegura que a reuniao dos genes da populaI"fo participante sera homogenea no sentido de estar bern misturada.
Ao mesma tempo, assegura que cada combina~~o genetica viavel sera
criada nessa reuniao. Isso quer dizer. que cada gene viavel testado em
conjun9110 com tantas outras constela90es de outros genes quanto possivel dentro dos limites da popula9ao participante.
Podemos observl.lf, como de costume, no panorama da evolu~[o,
que 0 simples processo e bifrontal , funcionando nas duas dire90es. No
presente caso, a fusio dos gametas aD mesmo tempo que coloca urn limite no desvio individual, assegura a recombina9ao multipla do tecido
gen'tico.
88
I..
89
1 .1
90
lados, axiomas, e teoremas, n[o e naturahnente sustentado que qualquer dos axiomas au teoremas seja em qualquer sentido "verdadeiro"
independentemente ou verdadeiro no mundo exterior.
Na verdade, Von Neumann, em seu famoso livro.4 assinala expressamente a diferenca entre seu mundo tautol6gico e 0 mundo mais complexo das relal'oes humanas. 0 que e sustentado e apenas que se os
axiomas sao tais e tais e as postulados tais e tais, ent[o os teoremas
serao assim assim. Em outras palavras tudo 0 que a tautologia fornece
sao figaroes entre proposiroes. 0 criador da tautologia aposta sua reo
puta,iio na validade dessas liga,oes.
A tautologia nao contem qualquer informa,ao, e a expliea\'iio (0
delineamento da deseri,ao sobre a tautologia) contem somente a in
formay3o que estava presente na descrityao. 0 "delineamento" afmna
implicitamente que os elos que man tern a tautologia unida correspon
dem as rela,oes obtidas na descri,lio. A deseri,ao, por outro lado, con
tom informa,lio mas nlio contem 16gica ou explica,ao. Por alguma ra
zao, os seres humanos valorizam enormemente essa combinayao de rnaneiras de organizar informa,lio ou material.
Para itustrar COmO a descri\'iiO, a tautologia e a expliea,ao se en
caixam, desejo citar uma tarcfa que ja dei varias vezes a diferentes
classes. Estou reeonhecido ao astronomo Jeff Scargle pelo fomeeimento
deste problema, mas sou responsavel pela solu,ao. 0 problema 0:
Urn homem esta fazendo a barba com sua navalha na mao direita.
Ete olha no seu espetho e no espetho ele vo sua irnagem fazendo
a barba COm a mao esquerda. Ele diz, "Oh. Houve uma reversao
da direita com a esquerda. Por que nao ha reversao do topo com
a base?"
Von Neumann, J., e Morgenstern, 0., The Theory of Games and t:canomic
Behavior (Princeton: Princeton University Press, 1944).
91
Q decone de P." Partindo dai voce podeni construir qualquer complexidade que desejar. Voce estara, entretanto, ainda, dentro do dominio da
condilYao se fornecida na~ pelos dados, mas por voce. Isso euma tautologia.
Ora, uma explicayao e uma ordena~ao das partes de uma descrilYao sobre uma tautoiogia, e uma explica~ao torna-se aceitavel ate 0
ponto em que se quer e se e capaz de aceitar os elos da tautologia. Se
os elos sao "evidentes por si rnesmo" (isto e, parecem incontestaveis a
voce proprio), entao a explica9ao construida sobre aquela tautologia e
satisfatoria para voce. Isso c tudo. E sempre uma quest[o de historia
natural, uma questao da fe, da imagina9[0, da confian,a, da rigidez,
e assim por diante do organismo, quer dizer, de voce ou de mirn.
92
93
- . ~~~IjJlJ~ti:;,rJ,1'
'FILIOTEC'","
Ct~~TR:."l,
tao
94
cia.
Uma resposta melhor a pergunta do doutor envolveria, nlo so.
mente 0 6pio, mas urn relacionamento entre 0 6pio e as pessoas. Em
outras palavras, a explica9i!0 dormitiva efetivarnente falsifica os fatos
verdadeiros do caso, mas 0 que e importante, creio eu, e que as expli.
ca90es dormitivas ainda permltern a abdu,t1"o. Ap6s enunciar uma gene.
ralidade de que 0 6pio conUm um principio dormitivo, e entlIo possi.
vel u tillzar esse tipo de expresslIo para um grande numero de outros
fenOmenos. Podemos diz~r , por exemplo, que a adrenalina conUm urn
principio estimulante e que a reserpina cont~rn urn principia tranqililizanteo Isso nos dani instrumentos , embora inacurada e epistemologica.
mente inaceitaveis, com os quaIs poderemos ten tar arrebatar urn
grande mlmero de fenomenos que parecem ser formaimente compar~.
veis. Eles s!fo , realmente, formaimente compar~veis ate 0 ponto em que
invocar um principio dentro de urn componente e de fato 0 erro que e
cometido em cada urn desses casos.
Permanece 0 fato de que no tocante a hist6ria natural - e estamos
ta-o interessados em hist6ria natural quando em estrita epistemologia _ a
abdu9[0 e um grande conforto para as pessoas, e a explica9ao fonnal
6 frequentemente enfadonha. "0 homem pensa em dois tipos de lingua.
gens: uma, a linguagem natural, partilhada com os animais; a outra, a
linguagem convencional (a J6gica) apreciada samente peJo homem. ns
Este capitulo examinou vwas maneiras pelas quais a combin39lfo
de informa9[0 de diferentes tipos ou de diferentes fontes resulta em
aigo mais do que a adi9!fO. 0 agregado e maior do que a soma de suas
partes porque a combin39lro das partes nlIo e uma simples adi9[0 mas
e da natureza da mulpplica9lfo ou do fracionamento, ou da cria9lfO
de urn produto Ibgico: urn momenUneo vislumbre de esclarecimento.
Para completar este capitulo e antes de tentar sequer elaborar
Uma list a dos criterios de sistemas mentais devemos observar brevemente essa estrutura de wna rnaneira nluito mais pessoal e universal.
Tenho coerentemente mantido minha linguagem em urn estilo
"intelectual" ou "objetivo" , e esse estilo t5 conveniente para muitas
95
96
percep~a:o
97
99
.....
I
leriais.
jam "mentes" no sentido que dOll a eSSe terma, porque acredita que 0
100
101
PHILOSOPHIE
ZOOLOGIQUE,
OlJ
PARTES DA MENTE E
ACIONADA POR DlFEREN(:A
EXPOSITION
Des Considerations relatives It l'histoire natnrel1e
des Animaux; ilia diversit. de leur orgaDisatioll
et des' facultes qu'i1s ell obti.nnent; aux cause.
physiques qui maintiennent en eux la vie et
donnent lieu aux mouvemens qu'ils executent;
enti. , it celles qui produisent, les unes Ie sentiJDeDt. et I.s autresl'intelligence de cenx qui ell
IOnt dones;
PAR
J.-B.-P.-A. LAMARCK,
TOM,E PREMIER.
A PARIS,
nENTU, I.ibraire, rue du Pont de Lodi, N0, 3;
Che. L'AUTEUR, aul\lwcum d'Hi,!o;r. NalurcUe (Jardin
cleo Planlc. J.
M:nccc. IX.
102
\03
mumente ser capazes de dizer que a "causa" de urn evento e uma for-;a
ou impacto exercido sobre alguma parte do sistema material por uma
outra parte . Uma parte age sobre outra parte. No mundo das ideiao, entretanto, f! necessaria uma relarfio. seja entre duas partes ou entre wna
parte no tempo 1 e a mesrna parte no tempo 2, para ativar urn terceiro
componente que poderemos chamar de receptor. Aquilo a que 0 recep
tor (isto 0, urn Orgao sensorial terminal) reage 0 urna diferenra o!:l mu-
danr a.
'.
ta do meu dedo e a superf(cie do quadro-negro. Meu dedo desliza suavemente sobre a superficie uniforme at~ que encontro a borda do ponto
branco . Ness'e momento no tempo hli uma descontinuidade, urn inter.
valo; e logo apos ocone urn intervalo contrario ~ medida que meu dedo
deixa 0 ponto para tr~s.
Esse exemplo, que ,, 'tipieo de toda experiencia sensorial,mostra
como nosso sistema sensorial - e certamente as sistemas sensoriais de
todas as outras criaturas (mesmo os das plantas?) e os sistemas mentais
por tr~s dos senlidos (isto '" aquelas partes dos sistemas mentais que
estao dentIo das criaturas) - podem operar somente com eventos, que
podemos chamar de mudanrds.
o inalter~vel e imperceptivel a n[o ser que estejamos querendo
nos mover em rela~ao a ele.
~ verdade que no caso da visao acreditamos ver 0 inalter~vel.
Vemos 0 que parece 0 estacion~rio, desapercebido quadro-negro, e
nao somente 0 contomo do ponto. A verdade, entretanto, " que fazemas continuarnente com 0 olho 0 que eu estava fazendo com a ponta
do l1!.eu dedo. A pupila tern urn tremor contfnuo chamado micronis. tagmo. A pupila vibra alguns segundos de arco e assim faz com que a
imagem Otica na retina se mova em rela~lo aos bas~s e cones que slro
os 6rgaos sensitivos terminais_ Esses 6rg[00 est[o dessa forma em cont(nua recep~:ro de eventos que correspondem a contomos no mundo vis{vel. Sacamos distin~~s; quer dizer, n6s as arranearnos. Aquelas distin~~es que n[o slro retiradas nifo existem. Fiearn perdidas para sempre
com 0 som da queda da ~rvore que 0 Bispo Berkeley n[o ouviu? Elas
silo parte do "corporal" de William Blake: "Ninguem sabe seu Domic(lio: ele est~ na Fal;lcia, e sua Existencia" urn Embuste.,,3
2
verdades. Estritamente falando, cada palavra no livro deveria estar entre aspas,
assim: "cogito" "ergo" "sum po.
\3
Catdlogo para
lugar~
"Homens espertos
105
, "'
urn momenta marcado para ser 0 momenta em que a sapo deveria saltar, ele nunc. pular~ . Ele se deixar~ cozinhar . Estar~ a esp~cie humana
alterando seu pr6prio meio com urna poluil'~o vagarosamente crescen.
te e apodrecendo sua mente com urna religiao e urna educal'ao que deterioram vagarosamente numa tal panela?
~ Estou preocupado no momento, porem, somente em entender
como a mente e 0 processo mental devem necessariamente trabalhar.
Quais sao sUas lintitaI'Des?"hecisamente porque a mente s6 pade rece.
ber infarma911es de diferenl'3, existe uma dificuldade em diferenl'ar urna
muaanfa vagaroia e urn estad~xiste necessariamente wn limite de
declive abaixo do qual a inclin3l'lfo n[o pade ser percebida ..
do
se
as
106
107
108
ENERGLACOLATERAL
109
apropriada do que todas as formas metaf6ricas que atribuem importncia d energia contida no evento do est(mulo. A fisica das bolas de bilhar
propl\e que quando a bola A atinge a bola B, A fornece energia a B, que
reage utilizando essa energia que A lhe deu. [sso e a velha sintaxe e e
profundamente, completamente sem senti do. Nila existe, naturalmente, entre as bolas de bilhar, qualquer "impacto" , "fomecimento",
"Tea~lo" ou '~ll tiliza~~o". Essas palavras surgem do htthito de personi.
na maioria das annas simples existe somente urna seqUtSncia linear de dependencias energeticas. 0 gatilho libera urn pino ou rnartelo cujo rnovimento,
quando se inicia, energizado por urna mola. 0 rnartelo atinge urna capsula de
percusslo que e energizada atraves de energia qu1inica para fornecer urna rea910 exotennica intensa, que acende 0 suprirnento principal de explosiv~ no
cartucho. Em arrnas de fogo .fem repetittilo, 0 atirador devera restaurar a cadeia energetica, colocando urn novo cartucho com nou capsula de percusslo. Nos sistemas biol6gicos, 0 fmal da seqilencia lineal estabelece condi9~es
p~a uma repeti910 fu tura.
110
CADE[AS DE DETERMINA<;:AO
CIRCULARES
(OU MAIS COMPLEXAS)
III
tante diferentes, dos p6Ios aos tr6picos. Se a simples tautologia da teoria da sele9ifo natural ror estabelecida como "as Proposi90es descritivas
que permanecem verdadeiras por mais tempo permanecem verdadeiras
mais longamente que aquelas que se tomam na:o verdadeiras mais cedo', entao 0 granito ~ uma entidade mais afortunada do que qualquer
escie de organismo.
Porem a maneira da rocha permanecer no jogo ~ diferente da maneira das coisas vivas. A rocha, podemos dizer, resiste ~ mudan9a: ela
ficalg , inalterada. As coisas vivas escapam Amudan9a ou atravts da corre9i!"0 da mudan9a ou pela mudan93 de si mesmo para fazer face A altera9i!"0 ou pela incOIpOra9ifo de cont{nuas mudan9as em seu pr6prio seL
A "estabilidade" poder~ ser atingida ou atrav~s da rigidez ou pela repeti9i!"0 continuada de alguns ciclos de mudan93s menores, cujo ciclo
retomar~ a urn starus quo ante ap6s cada perturb39lio . A natureza evita (temporariamente) 0 'l.ue parece ser urna altera9:ro irrevers{vel pela
aceit~9ao de uma mudan~a etemera. " 0 bambu se inetina ante 0 vento", diz uma me~fora japonesa; e a pr6pria morte ~ evitada por urna
r~pida mudan~a de sujeito individual para c1asse. A nature za, para personificar 0 sistema, permite ao velho arauto da morte (tambem personificado) ter suas vitimas individuais enquanto ela os substitui por
aquela entidade mais abstrata, a classe ou grupo taxonOmico, que para
conseguir matar a morte precisaria trabalhar mais depressa do que 0 sistema reprodutivo das criaturas . Finalmente, se a morte tivesse sua vit6ria sobre as escies, a Natureza diria, "E exatamente 0 que eu precisava para meu ecossistema."
Tudo isso se toma pass{vel pela combin39ifo desses crit~rios de
processo mental que j~ foram mencionados com esse quarto crit~rio,
de quela organiza9ifo das cpisas vivas depende de cadeias de determina910 circulares e mais complexas. Todos os crittrios fundamentais estao
combinados para alcan,ar sucesso nesse modo de sobrevivencia que caracteriza a vida.
A iMia de que a causalidade circular ~ de grande importancia foi
generalizada pela primeira vez no final da Segunda Guerra Mundial por
Norbert Wiener e talvez por outros engenheiros que estiveram trabalhando com a matem~tica dos sistemas nifo viventes (isto~ , das m~qui
nas). Esse assunto pode ser melhor compreendido atrav~ de urn diagrarna mecilnico altamente simplificado (Figura 8).
11 2
REGULADOR
?o~)
VOLA NTE
'\.
,/
ENTRADA
~DEENERGIA
COMBUST[VEL
CILINDRO
Figura 8
Imagine uma m'quina na quai distinguimos, digamos, quatro
partes, que livremente denominei '~olanten, "regulador", "combus.
ttvel" e "cilindro". Adicionalmente, a m'quina es~ ligada ao mundo
nenhum engenheiro aprovaria, a saber, quanta mais os bracros divergirem, maior quantidade de combustIve!. Equipada dessa maneira, a m~.
quina se descontrolaria, operando cada vez mais depressa, at6 que ou
alguma parte se quebrasse ou talvez 0 duto de combustivel n~o pudesse
fomece-lo em urn ritmo mais acelerado.
o sistema, entretanto, poderia ser igualmente arranjado com urna
ou mais relayOes inversas nas jun,Oes das setas. Esse 6 0 modo usual de
estabelecer reguladores, e 0 nome regulador 6 aplicado Aquela parte
que fomece a primeira metade de tal rela,mo. Neste easo, quanta rnais
os brayos divergirem, menor ser~ 0 suprimento de combustlve!'
Com rela,!o A histOria, sistemas com ganhos positiv~s, diversa
mente chamados de c(rculos escalares ou viciosos, eram M muito tempo
familiares. Em meu proprio traballio com a tribo Iatmul no rio Sepik, na
Nova GUine, eu havia descoberto que varias relacroes en tre grupos e en'tre
VlIrios tipos de parentes eram caracterizadas por !rocas de comporta.
mento de tal forma que quanto mais A apresentava urn dado comporta.
mento, mais prov4veI se tomava que B tamb6m 0 apresentasse. Cbamei
a essas trocas de trocas simetricas. Inversamente, havia tamMm trocas
estilizadas nas quais 0 comportamento de B era diferente, por6m com
plementar liquele de A. Em qualquer dos casos, as rela,il'es estavam po.
tencialmente sujeitas Aescala~~, .que denominei esquimognese.
Observei naquela oc!'-li~ que tanto a esquimogt!nese sim6trica
como a complementar poderram concebivelmente levar Adesregulagem e
ao colapso do sistema. Havia urn ganho positivo em cada troca e urn suo
ficiente fornecimento de energia do metabolismo das pessoas envolvi
das para destruir 0 sistema em ralva, ganAncia ou vergonha. 11 necessllrio
muito pouca energia (MY') para capacitar urn ser hurnano para destruir
outros ou a integra,!o de urna sociedade.
Em outras palavras, na Meada de trinta eu j4 estava familiar com
a id6ia de "desregulagem" e j~ estava envolvido em classificar tal feno
meno e mesmo em especular sobre poss{veis combina,il'eS de diferentes
tipos de desregulagem. Nessa ocasi[o, entretanto, eu n[o tinha a menor
id6ia de que poderiam existir circuitos de eausalidade que conteriam urn
ou mais elos negativos e que poderiam, conseqiientemente, ser autocor
retivos. Nero eu via, naturalrnente, que sistemas desregulados, como 0
crescimento da popula,ilo, poderiam conter as sementes de sua autocorre,ilo sob a forma de epidemias, guerras e program as de govemo.
Muitos sistemas autocorretivos ja eram tambem conhecidos.
Quer dizer, eram conhecidos casos individuais, mas 0 princ(pio perma.
necia desconhecido. De fato, a repetida descoberta de exemplos por
114
Rosenblueth, A., N. Wiener . e J. BigelOW, "Behavior, Purpose and Teleology." Philosophy of Science 10 (1943): 18-24.
115
'"
qUinas se descontrolaram, maximizando exponencialmente suas velocidades ate quebrarem ou diminuindo a velocidade at6 pararem. Outras
ascilavam e pareciam incapazes de estabelecer qualquer m6dia. Ou
tras "":' piar ainda ":"" tiveram sequencias de comportamento em que a amplitude de suas oscila90es tamMm oscilava ou se tornava maior e maior.
Maxwell exarninou 0 problema. Ele fonnulou equa96es fonnais
para as rel"90es entre as vari1veis em cada passo sucessivo em volta do
circuito. Ele verificou, como 00 engenheiros haviarn verificado, que
combinar esse grupo de equa9/les nao resolveria 0 problema. Finalmen
te, ele descobriu que as engenheiros estavarn errados em levar 0 tempo
em considera,[o. Todo sistema dado continha rela,/les no tempo, quer
dizer, estava caracterizado por constantes de tempo detenninadas pelo
todo fomecido. Essas constantes nao eram detenninadas pelas equa
yOes de relacionamento entre as partes sucessivas, port!m eram proprie.
dades emergentes do sistema.
Imagine-se por urn momenta que a maquina esteja trabalhando sua
vemente e encontre uma carga. Ela devera iniciar uma sub ida au cooduzir algum utensllio. Imediatamente, a velocidade angular do volan.
te diminuir1. Isso far1 com que 0 regulador gire menos depressa. Os
bra,os do regulador ~om contrapeso cairao, reduzindo 0 angulo entre
as brayos e a haste. A medida que esse angula decresce, mais combustivel sera. injetado no cilindro, e a maquina se moved mais depressa, mudando a velocidade angular do volante nurn sentido contrmo ao da mu
dan,a que a carga havia induzido.
Por6m se a altera9ao corretiva corrigir1 precisamente as mudan,as
que a carga induziu 6 urna questll'o com certo grau de dificuldade. Afl.
nal de contas, todo 0 p.rocesso tern lugar no tempo. Em determinado
tempo, I, a carga foi encontrada. A altera,ao na velocidade do volante
se seguiu ao tempo 1. As mudan,as no rel!U!ador se seguiram mais tar.
de ainda. Finalmente a mensagem corretiva alcan~ou 0 volante em urn
certo tempo 2, posterior ao tempo 1. Entretanto, 0 valor da corre~[o
foi detenninado pelo valor do desvio no tempo 1. No tempo 2, 0 desvio
jHer1 mudado.
Observe-se que nesse ponto oCOrreu UlJl fenorneno muitointeressante dentro da nossa descri~ll'o dos eventos. Quando estivemos falando
como se estivessemos denteo do circuito, observamos mudan9as no
comportarnento das partes cujas magnitudes e cronometragens eram de.
tenninadas por for<;os e impactos entre os componente~ separados do
circuito. Passo a passo em volta do circuito, minha linguagem tinha a
forma geral: uma altera9ll'0 em A detennina uma alteracao em B, e as
sim por diante. Porem quando a descri~ao atinge 0 local onde (arbitra.
riamente) corne90u, ocorre urna mudan9a repentina nessa sintaxe. A
descri~ao deve agora comparar alteracll'O com altera~ll'O e utUizar 0 resul.
tado dessa compara,ao para calcular 0 prOximo passo . .
Em outras palavras, uma mudan~a sutil oconeu no sUleito da exposi,1!o, que, com 0 jargll'o da Ultima se~ll'o (crit6rio 6) deste cap(tuJo,
chamaremos uma altera,ifo na representa9ll'0 IOgica. E a diferen9a entre
falar em uma ]jnguagem que urn f(sico poderia utUizar para descrever
como uma vari1vel atua sobre outra, e falar em outra linguagem sobre
o circuito como urn todo que reduz ou aumenta a diferen9a. Quando
dizemos que 0 sistema apresenta urn "estado constante" (isto e, Que
apesar da varia~ifo, ret6m urn valor m6dio), estamos nos referindo ao
circuito como urn todo, e nll'o as varia,<les dentro dele. Similannente a
pergunta que os engenheiros trouxeram para Clark Maxwell era sobre 0
circuito como urn todo: como podemos planej1.10 para atingir urn esta
do constante? Eles esperavam que a resposta seria em tennos das rela
~Oes entre as vari:iveis individuais. 0 que era necesscirio e que foi suprido por Maxwell era uma resposta baseada nas constantes de tempo do
circuito total. Essa era a ponte entre os dois niveis da exposi9[O .
As entidades e as vari:iveis que preenchem 0 est~gio em urn detenninado n(vel de exposicao desaparecem do cen1rio no nNel mail;
alto ou mais baixo que se seguir. Isso poder~ ser convenientemente
ilustrado ao considerarmos a referencia da palavra interruptor que os
engenheiros as vezes chamam de cancela ou reIe. 0 que vai atrav6s 6
energizado de uma fonte que 6 diferente da fonte de enerJtia que abre
a cancela.
A prirneira vista, urn "interruptor" f! urn pequeno dispositivo na
parede que liga ou desliga a luz; OU, com roais pedantisrno, observamos
que a luz 6 Jigada ou desJigada por mUo humanas "utUizando" 0 inter
rupter, e assim por diante.
Nao observamos que 0 conceito "interruptor" 6 de urn tipo bas
tante diferente dos conceitos de "pedra". "mesa". e similares. Urn exame mais detalhado mostrar~ que 0 interruptor. considerado como uma
parte de urn circuito el6trico, nao existe quando est~ na posi,30 Jiga.
do. Do ponto de vista do circuito, ele nao 6 diferente do fio condutor
que leva a ele e do fio que sai dele. Ele 6 meramente "condutor adicio
nal". Inversamente , mas similannente, quando 0 interruptor est~ desligado, ele nll'o existe do ponto de vista do circuito. Ele nll'o 6 nada, urna
lacuna entre dois condutores que s6 existem como condutores quando
o interruptor est1Jigado.
117
116
Em outras palavras. 0 interruptor nao existe a nao ser nos momentos de sua mudanrya de estado, e conceito "interruptor" tern
assim uma rel.,ao especial com 0 tempo. Ele est~ rel.cion.do com a
n~ao "mudanca" e nao com a noc;ao "objeto".
Os orgaos sensoriais COmo ja observamos somente admitem infonnayoes de diferenrya e sao de fato nonnalmente acionados Somente por uma mudan,a, isto ~, por eventos ou por aquelas diferenl'as no
mundo da percepl'ao que podem Ser transformadas em eventos pela
mOviment"l'Co do 6rgao sensorial. Em outras palavras, as 6rgaos sensoriais tenninais Slo ancUogos a interruptores. Eles devem ser "ligados"
num unico momento por wn imp acto extemo. Esse tlnico momento f5 a
pradul'ao de urn unico impulso no nervo aferente. 0 limite (isto e, a quantidade requerida do evento para acionar 0 interruptor)~, naturalmente,
outro assunto e poded ser alterado par v~rias circunstllnCias fisiol6gi_
cas, inclusive pelo estado nos 6rgaos terminais vizinhos.
A verdade ~ que cada circuito de causaIidade no to do d. biologia,
em nossa fisioiogia, em nosso pensamento, em nossos processos neurais.
em nossa homeostase. e nos sistemas ecol6gicos e cuJturais dos quais
somas partes - cada urn desses circuitos cOlltem ou propoe aqueles
paradoxos e confusoos que acompanham enos e distorl'Oes na represen_
lal'aO 16gica. Esse assunto, estreitamente ligado tanto ao assunto dos circuitos como 0 d. codifical'lfo (criUrio 5), ser~ considerado com maior
amplitude n. discusslfo do crit~rio 6.
EFEITOS DA DIFERENCA
DEVEM SER ENCARADOS COMO
TRANSFORMACOES (/STO E, VERSOES
CODIFICADAS) DA
DIFERENCA QUE
OS PRECEDERAM.
118
119
-r
,,'
I,
contra a questlio de se
i'l
e de
fato bidimen-
dizado da linguagem . Imagine uma situ39ao em que uma pessoa que fale
determinada l(ngua tenha que ensinar essa lfngua para urn outro indivf
duo em circunstncias em que a comunicac;a"'o ostensiva esteja estrita.
C RIHRIO 6. A DESCRI<;AO E
A CLASSIFlCA<;AO DESSES
PROCESSOS DE
TRANSI;ORMA<;AO
REVELAM UMA HIERARQUIA
DE TIPOS LOGICOS
INERENTES AOS
FENOMENOS.
desconhecida a esse ultimo pelo telefone, e que eles nao tenham outra
identific~veis.
Esta se9!0 deve realizar duas tarefas: primeiro, fazer com que 0
lei tor compreenda 0 que se quer dizer com tipos 16gicos e ideias relacio.
nadas, que, de diversas maneiras, tern fascinado
cadencia, a estrutura seqtiencial_ e similares estarao p~esentes na sequencia de SOnS enviados pelo telefone e poderao concebivelmente ser "apontados" e consequentemente ensinados a B.
A cornunica~ao ostensiva f! talvez similarmente necessciria no
nos 3.000 anos. Em segundo lugar, persuadir 0 leitor de que 0 que estou
falando e urn. caracterfstica do processo mental e ~ inclusive uma carac.
terfstica neeessma. Nenhurna dessas duas tarefas e completamente sim.
pies, mas William Blake comentou, "A verdade nunca pode ser contada
a codificac;a:o parte-para-todo. Por exemplo, vejo uma sequ6ia se elevando 0 solo, e sei, partindo dessa percepc;ao: que sob 0 soio nesse ponto encontrarei raizes, ou escuto 0 inicio de uma frase e sei de imedia
to, partindo dessa estrutura gramaticaf, 0 resto da se nten~a e poderei
ate conhecer muitas das palavras e iMias contidas nela. Vivemos nurna
122
123
i"
t>
125
nao,
enta~
sim."'Y'l
127
tro do cacborro. 0 effO do te6rico es~ nesse pulo no tipo 16gico. Posso,
nwn certa sentido, vela cachorro discriminar, mas nl0 possa de fanna
alguma ver sua " discrimina,iio". Existe urn saito aqui do particular para
o geral, de membro para classe. Parece-me que urna forma melhor de
dizelo dependeria da pergunta: "0 que foi que 0 cacboffo aprendeu em
sell treinamento que a torna incapaz de aceilar a derrota no final?" E a
resposta a essa . pergunta seria: 0 cao aprendeu que esse e urn contexto
para discriminQftlo. Quer dizer, que ele "deveria" procurar por dais
estfmulos e "deveria" procurar pela possibilidade de atuar sobre Ui!la
diferen93 entre eles. Para 0 cachorro, essa e: a "tarefa" Que foi estabelecida - 0 contexto no qual 0 sucesso sera recompensado. 9
Obviamente, urn contexto onde nao h~ uma diferen,a percepU.
vel entre os dois estfmulos nao ~ urn contexto para discrimina,[o.
Tenho certeza de que 0 experimentador poderia induzir a neurose pela
utiliza,!fO repetida de urn tlnico objeto e atirando uma moeda para deci
dir se esse tlnico objeto deveria ser interpretado como urn X ou como
wn Y. Em outras palavras, uma resposta apropriada para 0 cachorro se
ria pegai' urna moeda, atir~.la, e utilizar a queda da moeda para decidir
sua a,lo. Desafortunadamente, 0 cachoffo n!fo tern UJll bolso para car
regar moedas e foi muito cuidadosamente treinado no que agora tor
nouse uma mentira ; quer dizer, 0 cao foi treinado para contar com urn
contexto para discriminal'ao. ille foi ensin~do a f1i1'o discriminar entre
duas classes de contextos. Ele es~ naquele est~gio do qual 0 experimen
tador corne,ou: incapaz de distinguir contextos.
Do ponto de vista do cachorro (consciente au inconscientemen
tel, aprender urn contexto e diferente' de aprender o. que fazer quando
X t apresentado e 0 que fazer quando Y t apresentado. Existe urn saito
descontinuo de urn tipo de aprendizado para a outro.
o leitor poder~ estar interessado, de passagem, em conhecer al.
guns dos dados de apoio que favoreceriam a interpreta,:ro que estou
ofereeendo.
Primeiramente, 0 c~o n:Io mostrou urn comportamento psic6tico
ou neur6tico no infcio da experiencia quando ele nllo sabia como discri
minar, nlo discriminava , e fazia erros frequentes. Isso n:Io "acabou com
sua discrimina~:to" porque ele nllo tinha nenhuma, assim como no final
a discrimina,ao nao poderia "acabar" porque a discrimina,ao nao esta
va de fato sendo solicitada.
9
Em segundo lugar, urn eaehorro ingenuo a quem fossem ofereeisitua~(!es em que X algwnas vezes sigrtificasse que ele tinha que apresentar 0 comportamento A e que em outras vezes sigriificfl:sse que tinha que moslrar B, se poria a adivinhar. N!o foi ensinado ao
cachorro ingenuo a n1"o adivinhar; quer dizer. nao foi ensinado a ele que
os contextos da vida s!o lais que adivinhar nao ~ apropriado. , Tal ca~
chorro come~aria a reflelir as frequencias aproximadas da resposla.
apropriada. Quer dizer, se 0 objeto de es({mulo em 30 par cenlo dos
casos significasse A e em 70 por cenlo significasse B, enlll'o 0 c[o come.
,aria a apresenlar A em 30 por cenlo dos cas os e B em 70 por cenlo. (Ele
nfo faria 0 que faria urn bomjogador, a saber,apresentar Bern todos os
casos.)
Em lerceiro lugar, se os animais forem levados para fora do labo
rat6rio, e se os refon;os e estimulos forem administrados a distancia sob a forma , por exemplo, de choques el~tricos Iransmitidos por longos
fios rebaixados por eslacas (Iomados emprestados de Hollywood) - eles
n[o apresenlar[o sintomas. Os choques, afinal de contas, sao somente
da grandeza da dor que qualquer animal poderia experimentar ao passar
atraves de urn canteiro de roseira-brava; eles nao se tornam coercivos
nlo ser no conlexlo do laborat6rio, no qual outros delalhes do labora.
t6rio (seu cheiro, a plataforma experimenlal na qual 0 animal ~ apoia.
do, e assim por dianle) se Iransformam em eSI{mulos auxiliares que in.
dicam para 0 animal que esse ~ um contexlo no qual ele deve conti.
nuar a estai "certo". E certamente verdade que 0 animal aprende sobre
a natureza da experiencia do laborat6rio, e 0 mesmo pade ser dito a
respeita do aluno graduada.!O abjelo da experiencia, seja humano au
animal, esta na presen~a de uma barragem de marcadores de contexto.
Urn indicadar canveniente de representa,[a 16gica ~ 0 sislema de
refor~o aa qual urn delenninada item da nassa descri~[o de comporta.
menlo reagira. AI'Des simples aparentemenle reagem aa reforl'o aplicado
de acordo com as regras de condicionamento atuante. Por!rn asmaneiras de organizar al'<les simples, que em nassa descril'lo de comporta.
mento poderlamos chamar "adivinha'.rlIo", "discrimina'.rlIo", "brincadeira", "explora~!o", "depend~ncia''', "crime", e similares, sao de tipos
16gicos diferenles e n[o obedecem ds regras de reforl'o simples. Nunca
poderia ser oferecido ao cachorra de Pavlov urn refor~o afirmativa pela
percepl'lo da mudanl'a de contexla porque 0 aprendizado contrario que
o precedeu foi muito profundo e eficienle.
das repetidas
130
zado de urn tipo 16gico mais elevado do que 0 habitual , e por sugestlfo
minha a sequencia foi repetida experimentalmente com urn novo animal e foi cuidadosamente registrada.' 0 A programa,lfo do aprendizado
para 0 treinamento experimental foi cuidadosamente planejado : 0 animal passaria por uma serie de se,oes de aprendizado, cada uma com a
duralf30 de dez a vinte minutos. 0 animal nlIo seria nunca recompensado por urn comportamento pelo qual livesse sido recompensado na se, lIo anterior.
Devemos esclarecer aqui mais dois pontos da sequencia experimental:
Primeiro , foi necessario (no julgamento do treinador) quebrar
muitas vezes as regras da experiencia. A sensa~lIo de estar errado era
tlfo perturbadora para 0 golfinho, que, para preservar 0 relacionamento
entre ele e 0 treinador (isto e, 0 contexto do contexto do contexto),
foi necessario dar muitas recompensas a que 0 golfmho n~o tinha direito.
Em segundo lugar, cada uma das primeiras quatorze se,oes foram caracterizadas por muitas repeti,Oes tolas de qualquer comportamento que tivesse sido refor,ado na se,lIo anterior. No intervalo en. tre a decima quarta e a decima quinta se,lIo 0 golfmho parecia estar
muito excitado; e quando ele veio para a decima quinta sey~o. apresentou urn desempenho elaborado que incluia oito tipos de comportamenta insignes dos quais quatro eram novos e nunea haviam sido observados anteriormente nessa especie de animal. Do ponto de vista do animal, existe urn salto, uma descontinuidade entre as tipos 16gicos.
Em todos esses casos, 0 passo de urn tipo logico para 0 seguinte
mais acima e urn passo de uma informayao sobre urn evento para uma
informa,ll'o sobre uma classe de eventos, ou da considera,:ro de classe
para a consideral'll'o de classe de classes. Notavelmente, no caso do
golfmho, foi impossivel para ele aprender a partir de urna unica experieneia, au de sucesso au de fracasso, que 0 contexto era urn de exihi~ao de urn novo comportamento. /A li,[o sobre contexto s6 pode ser
aprendida atraves da informal'[o comparativa sobre uma amostra de
contextos qu e diferem entre Si t nos quais 0 comportamento do animal
10
132
133
gia n~o escapou , em milhares de anos, de ser wn erro crasso na represent3\'~o logica.
Seja como for , existe uma profunda diferen~a fentreuma seria
tentativa de alterar 0 estado .caracteroI6gic,,", de urn organismo e a ten
taliva de modificar as a,Oes especificas desse organismo. A ultima e
relativamente facil; a primeira profunqamente di.(iciLA mudan,a paradigmatica e tao dificH quanto - alias da mesma natureza que - a mudan,a na epistemologia. (para urn estudo elaborado do que parece ser
necessario para realizar rnudan~as caracterol6gicas nas pessoas crimin~
sas, citamos urn livro recente, Sane Asylum, de Charles Hampden-Turl
nere. I) Pareceria ser quase uma exigencia inicial desse profundo treinamento que 0 ato especifico pelo qual 0 convicto estivesse sento punido
na cadeia niio fosse 0 foco principal do treinamento.
Urn terceiro conceito de classe que e freqiienternente mal interpretado pela atribuil'~oerrada da represental'~o logicae 0 " desempenho".
AS <literentes a,oes que constituem desempenho nurna dada sequencIa,
poder[o, naturalrnente , ocorrer nas mesmas pessoas ou animais ern
outros tipos de sequencia. 0 que e caractetislico de "desempenho"
e que isso e urn nome para contextos nos quais as a~Oes que os constituem tern uma especie diferente de relevancia e de organiza,[o que teriam tido num nlio-desempenho. Pode ate ser que a essencia do desempenho esteja numa nega,[o parcial dos significados que as a,(les
teriam lido em outras situa,Oes. Foi partindo de urna verific"l'[O de
que os mamiferos reconhecem 0 desempenho, que h3 vinte anos adiantei-me para urna verifica,ao de que os animais (no caso, lontras do rio)
classificam seus tipos de interclimbio e est:fo conseqilentemente sujeitos
aos tipos de patologia gerados no cachorro de Pavlov que e punido por
urna falha no reconhecimento de uma mudan,a de contexto ou no criminoso que e castigadd por atos especificos quando ele ou ela deveriam estar sofrendo por modos particulares de organizar a a,[o. Partindo da observa,liO de desempenho naS lontras do rio, continuei a estudar
c1assifica,Oes similares do comportamento nos seres humanos, chegando fmaimente a n09[o de que determinados sintomas da patologia humana denominada esquizofrenia eram , de fato , tambem os resultados
de danifica,Oes da representa,lio logica, que chamavamos de dilemas.
Nesta se\'lio, abordei 0 assunto da hierarquia no fenomeno men-
11
134
tal sob 0 aspecto da codific"l"o. A hierarquia, entretanto, poderia igualmente ter sido demonstrada pelo criterio 4 , que lida com cadeias circulares de determina,lio. A rela\'liO entre as caractetishcas de urn componente e as caracteristicas do sistema como urn todo quando ele da a
volta sobre si mesmo, e iguaimente urn assunto de organizal'lio hierarquica.
Desejo sugerir aqui que 0 longo nallloco da histori a da civilizal'ao
com a no,'o de cauSa circular pareceria ser moldado pela fascinal'l!o
parcial e pelo terror parcial associado com a questao da represental'lio
logica. Foi observado no Capitulo 2 (sel'lio 13) que a logica e urn modelo pobre de causa e efeito ..,sugiro que e a tentativa de lidar com a
vida em termos 16gicos e a natureza compulsiva dessa tentativa que produzem em n6s a propens[o para 0 terror quando e mesmo suspeitado
que tal abordagem logica possa desmoronar.
No Capitulo 2 .mostrei que 0 simples circuito de uma campainha,
se detalhado em urn mapa logico ou modelo, apresentara contradil'ao:
se 0 circuito da campainha estiver [echado, entao a armadura sera atraida pelo eletromagneto. Se a armadura se mover, atraida pelo eletromagneto, a atral'ao cessa, e a armadura n[o e ent[o atraida. Esse cicio
de relal'oes se... entao no mundo da causa e desteuidor de qualquer
cicio de relal'oes se. . . entao no mundo da logica, a nao ser que 0 tempo
seja introduzido na logica. A euptura e formalmente similar ao paradoxo
de Epimenides.
NOs, humanos, parecemos desejar que nossa l6gica seja absoluta.
Parecemos agir baseados na suposil'ao de que assim e e entramos em panico quando e apresentada a menor insinua\'lio de que nao e assim ou
de que podera no ser assim.
13. como se a estreita coerencia do cerebro l6gico, mesmo em pessoas que notoriamente pensam de uma forma muito confusa, ainda
devesse ser sacrossanta. Quando e mostrado que 0 cerebro n[o e tao
coerente, os individuos au culturas lan~arn-se precipitadamente, como
o porco de Gadarene, em complexidades de supernaturalismo. De forma a escapar dos milMes de mortes metaf6ricas representadas nurn
universo de cireulos de causalidade , estamos ansiosos por negar a simples realidade da morte comum e por construir fantasias de urn mundo
posterior e mesmo de reenearnal'io.
Na verdade, uma fissura na aparente coere'ncia do noSSO processo
16gieo mental pareceria ser urn tipo de morte. Encontrei essa profunda
nol'ao repetidamente ao lidar com esquilOfronicos, e a nOl'ao pode ser
considerada basica para a teoria do dilema que eu e meus colegas de
135
Palo Alto apresentamos hoi cerca de vinte anos I ' Estou sugerindo
aqui que a insinua9ao de morte esta presente em todo circuito biol6gico_
Para concluir este capitulo, mencionarei algumas das potencialidades de mentes que apresentarn esses seis criterios. Primeirarnente,
existem duas caracteristieas da mente que podem ser mencionadas juntas, ambas as quais se tornam possiveis atraves dos crite~ios que citei.
Essas duas caracteristicas estreitamente relacionadas sao a autonomia e
a marte.
A autonomia -literalmente controle do ego, do grego autos (ego)
e nomos (uma loi) - 6 fornecida pela estrutura recursiva do sistema. Se
uma simples maquina com urn regulador pade controlar ou ser centrolada por sj pr6pria
e assunto
pletos de informa9ao e de efeito acrescentados ao topo do circuito sImples. Qual sera 0 contelido do material de sinaliza9[0 levado por esses
circuitos completos? A resposta, naturalmente, e que esses circuitos
levarao mensagens sobre 0 comportamento de todo 0 sistema. Em certo sentido, 0 circuito simples original ja continha tal informa9ao (''Esta
indo dpido demais"; ' Hesta indo devagar demais''), mas 0 nive} seguinte levara urn. inform"9ao como u a corre9ao de 'esta indo rapido demais' nlo e suficienternente rapida", ou "a corre~lo de 'esta indo
depressa demais' e excessiva. Quer dizer, as mensagens se tornarn
mensagens sobre 0 n{vel mais baixo anterior. ~ urn passo muito pequeno da{ ate a autonomia.
Corn rela9[0 it morte, a possibilidade da mesma resulta ern
primeiro lugar do criterio 1, que a entidade pode ser formada por mliltiplas _partes. Na morte, essas partes sao separadas ou espalhadas ao
acaso: Ela surge, lambem, entretanto, do criterio 4. A morte significa
a fragmenta9ao dos circuitos e, com isso, a destrui9ao da autonornia.
Em adi9:1"O a essas duas caracter{sticas bastante profundas, 0 tipo
de sistema que chamo de mente e capaz de prop6sito e de escolha atraos de suas possibilidades autocorretivas. Ele e capaz tanto de ficar ern
H
J
12
Tive bastante sorte nessa epoca em obter urna copia da narrativa de John
Perceval sabre sua psicose por volta de 1830. Esse livro agora disponivel
sob 0 titulo Perceval's Narrative e mostra como 0 mundo esquizofrenico
esta totalmente estruturacio em term as de dilema. (John Perceval, Perceval's
Narrative: A patient's account of his psychosis, 1830-32, Gregory Bateson,
ed. Stanford. Calif.: Stanford University Press. 1961 .)
136
137
il.
v-
tro" daquela linha ou fronteira estoll "eu" e "do lade de fora" esta
meio ambiente ou urna outra pessoa?" Com que direito fazemos essas
distin,oes?
139
to de dupla descri,iio.
140
",
,'
para a paranoia.
141
142
1. "CONHE!;A A SI PROPRIO"
143
falsas.
capi~
com suas pernas dianteiras, dos cotovelos ate as patas, pressionadas con-
tra 0 cMo. Seus ollios olliarn para cima, movendose em suas 6rbitas
sem qualquer movimento da cabel'a. Essa postura e familiar a qualquer
pessoa que jli tenha brincado com urn cachorro. A existencia de tal
144
queuma.
seIe~ao natu~al.
Se definirmos jogo como 0 estabelecimento e a explora~o do relacionamento. entao sauda~ao e ritual sao a afinna9ao do reiacionamento. Porem obvia-
145
da miilha presen~a na agua. Assim eu me sentei, com as bra~os cruzados, nos degraus que desciam para a 'agua, 0 golfinho aproximou-se e parou do meu lado, a cerca de duas polegadas de mim. De vez em quando
havia urn contato fisico acidental entre n6s devido aos movimentos da
agua. Esses contatas aparentemente n~o tinham qualquer interesse para
o animal. Ap6s talvez dais minutos, ele se moveu e nadou vagarosamente a minha volta; e alguns moment os /nais tarde senti a1guma coisa me
empurrando em baixo do meu bra90 direito. Era 0 bico do golfinho, e
eu estava me defrontando com urn problema : como nao dar chaves ao
animal a respeito de Como lidar comigo. Minha estrategia planejada era
impossive!.
Relaxei meu bra~o direi to e deixei que ele colocasse seu hieo embaixo dele. Em segundos eu tinha urn golfinho inteiro debaixo do meu
bra90. Ele ent~o curvou-se na minha frente para uma posi9~0 na qual
estava se sentando no meu colo. Partindo dessa posi~ao , seguimos
alguns minutos nadando e brincando juntos.
No dia seguinte segui a mesm. sequencia maS nao esperei 0 pedodo de minutos enquanto ele estava do !neu lado. Golpeei suas costas com minha ma:o. Ele imediatamente me corrigiu, nadando uma
curta distancia e entao Jnvolvendo-me e dando-me uma leve pancada
com 0 lobo de sua cauda, urn ato que sem duvida!he pareceu ser genti!.
Depois disso foi para 0 final do tanque e permaneceu I~. '
Novamente, essas sao seqii6'ncias evoluciomirias, e e importante
ver claramente 0 que evolui. Para descrever 0 jogo cruzado das especies
de cachorro-e-gibao ou homem-e-golfmho como urna evolu9iio de itens
ge comportamento seria incorreto porque n~o foram gerados novas
itens de comportamento. Na verdade , nlio ha evolu9ao de novos contextos de ,,[0 para cada criatura sucessivamente. 0 cachorro e ainda urn
cachorro inalterado; 0 giblro e ainda Urn gibiro ; 0 golfmho"golfmho; 0
homem, homem. Cad a urn retem seu pr6prio "carater" - sua pr6pria
organiz3y'30 do universe percebido - e ainda assim, alguma coisa nitidamente aconteceu . Foram gerados ou descobertos padroes de intera y'3o,
e esses padro.s durar.m, pelo menos pOl pouco tempo. Em outr.s pal.vras, houve uma sele9lio natural de pad rOes de intera, lio. Determinados
padrOes sobreviveram mais tempo do que outros.
,
Houve uma evolu,iro de ajustamento. Com uma a1tera,ao minima
no cao au no giba-o, 0 sistema cachorro-gibao tornou-se mais simples intemamente maio integrado e consistente .
Existe entiro urna entidade maior, chamemo-Ia de A rnais B, e essa
entidade maior. esta atingindo no jogo urn processo cujo nome adequa146
Podemos supor, enta~ , que 0 jogo nao esta sujeito as regras usuais de
refor,o. Realmente , qualquer pessoa que alguma vez tenha tentado fazer com que urn gropo de crian,as parasse de brincar sabe 0 que se sente quando os esfor,os simplesmente sao incluidos no contexto do jogo.
Assim sendo, para encontrar outros casos sob a mesma regra Cou
parte de urna teoria), procuramos integra90es de comportamento que
a) nao definam as a9tles que sejam seu conteudo; e b) n[o obed09am
~s regras usuais de refor,o.
Dois casos nos vern de irnediato amente; "'exploragao" e "crime".
Vale tarnbem a pena pensar a respeito de "Comportamento do tipo
A" (que os doutores psicossomaticos encaram comO parcialmente
etio16gico para hipertensao essencial), "paranoia", "esquizofrenia",
e assim por diante .
Exarninemos a "explora9ao" para verlficar se e urn contexto para,
ou urn produto de , a1gum tipo de dupla descri,iro.
Em primeiro lugar, a explora,i!o Ce 0 crime , 0 jogo, e todas as
Qutras paJavras dessa classe) e urna descri,lI'o primaria, verbal ou nao
verbal, do eu: "eu exploro". 0 que e explorado, entretanto, na:o e
merarnente "meu mundo exterior", ou "0 mundo exterior como
eu 0 vivo."
Em segundo lugar, a explora9[0 e autocomprobatilria, quer 0
resultado seja agradavel ou desagradavel para 0 explorador. Se voce
tentar ensinar urn rata a nao explorar fazendo com que ele coloque seu
nmz em caixas que contenham dispositivos e"'tricos que deem choque,
isso nao dar~ resultado , pois 0 rato continuara a faze-Io , como vimos no
capitulo anterior, presumivelmente pela necessidade de saber quais as
caixas que sao seguras e quais as que nao sio. Nesse sentido, a exploraya-o e sempre urn sucesso.
147
eu.
Tal mudan~a do "eu" e comumente descrita como uma "vitoria", e palavras lineares tais como Hdisciplina" e "autocontrole" sAo
empregadas. Naturalmente esses s[o meros supernaturalismos - e talvez
urn pouco t6xicos nisso. 0 que OCOrre 0 bern mais similar a uma incor.
pora,~o ou casamento de ideias sobre 0 mundo com idoias sobre 0 eu.
1sso traz
a baUa
tropologistas: 0 totemismo.
linhagens ancestrais. Tais representayoes de status familiar numa hierarquia mitologica freqiientemente engrandece o proprio ou sua deseen
Mncia, as custas de outras linhagens. A medida que esse componente
mais orgulhoso do totemismo aumenta, a visao mais ampla do relacio
namento com 0 mundo natural provaveimente sera esquecida ou reduzi
da a urn mero jogo de palavras. Minha propria familia tern urn eimo,
concedido no "culo dezoito. De modo similar, a familia da mae do
meu
pai~
e urn
2. TOTEMISMO
sistema social
tanto mais apropriada como mais saudavel do que a analogia, que nos
o familiar, que equipararia as pessoas e a sociedade a maquinas do so.
culo dezenove.
148
Nota do tradutor. No dialeto escoces a palavra aikin teria a mesma pronuncia da palavra acorn que significa bolota. que 0 Cruto do carvalho.
149
3. ABDUI;AO
abstra~o.
e inca-
paz de desenhar a figura hurnana. Suas tentativas e resultados sao completarnente infrutiferos. 0 que 0 totemismo ensina sobre 0 eu e pro
fundamente nao visual.
A empatia de Lorenz com os animais the d. uma vantagem qua
se injusta sabre outros lQoiogistas. Ele pade, e certamente 0 faz, de-
-r
ISO
turais nas quais 0 totemismo est" baseado, poderei encarar esses dois
bos regidos pelas mesmas regras. Em cada caso , e assumido que deter
minadas caracteristicas formais de urn componente serlIo espelhadas
no outro.
A expressiio frequentemente utilizada por Mr. Herbert Spencer, Sobrevivencia dos mais Aptos, e mais precisa, e algumas veze.s iguolmente conveniente.
- CHARLES DARW~N, On th.B Origin of Species, 5. edi~ao
e outro
- EDWARD FITZGERALD,
The Ruhaiyat of Ornor Khayyam
Este livro pressupOe que tanto alter39io genetica como 0 processo chamado de aprendizado (inclusive as mudan,as somaticas induzidas
pelo h8bito e pelo meio) sejam processos estocasticos. Existe em cada
caso, acredito, um fluxo de eventos que e aleatorio em deterrninados
aspectos e existe tambem em cada caso, um processo seletivo 0[0 aleat6rio que faz com que alguns dos componentes aleat6rios "sobrevivam"
mais tempo do que outros. Sem 0 aleatorio, nilo pode haver coisas
novas.
Eu assumo que a prodUli[6 de formas mutantes na evolu~ao seja
aieatoria dentro de quaiquer grupo de alternativas que 0 status quo
ante permita ou, se a muta9ao e .ordenada, que os criterios dessa ordena,ilo sejam irrelevantes para as pressl:les do organismo. De acordo com
a teoria genetica ortodoxa molecular, suponho que 0 meio protoplasmatico do DNA n[o possa conduzir altera,tles no DNA que seriam importantes para 0 ajuste do organismo ao meio ou para a redUli[O da
pressllo interna. Muitos fatores - tanto fisicos como quimicos - 'podem
alterar a freqiiencia da muta,l!o, mas eu assumo que as muta9c5es assirn
geradas nllo ~stejam apareJhadas para as pressaes especificas que estavam atuando na gera,a:o matriz quando a muta,l!o foi realizada. Assu
mirei inclusive que as muta~1!es produzidas por urn mutageno sejam
irrelevantes para a pressao fisiologica gerada dentro da celula pelo pr6.
prio mutageno.
152
153
uma sele,ao entre elas que seja determinada por alguma coisa como
o refor,o.
Tanto para as muta,Oes como para 0 aprendizado, e sempre ne
cessario lembrar as patologias potenciais da representa,ao logica. 0 que
pode ter urn valor de sobrevivencia para 0 individuo podera ser mortal
para a popula,ao ou para a sociedade. 0 que 0 born para urn curto pe.
dodo (a cura sintomatica) podenl se tomar urn hibito ou ser fatal por
urn longo periodo.
Foi Alfred Russel Wallace que observou em 1866 que 0 principio
da sele,ao natural 0 como 0 da maquina a vapor com urn regulador.
Assurnirei que e reaImente assim e que tanto 0 processo do aprendizado
natural como 0 processo da mudan,a da popula,ao pela sele,ao natural
podem apresentar as .patologias de todos os circuitos cibemoticos;
oscila~ao
Encaramos,
enta~,
excessiya e descontrole .
L OS ERROS LAMARCKIANOS
Uma parte bastante grande do que pode ser dito sobre 0 entrela
9amento da evolu,ao e da altera,ao somatica e dedutiva. Ao nivel da
teoria Com que nos defrontamos aqui, nao existem dados de observa~ao, e a experimenta~ao ainda n[o teve inicio. 1550 , entretanto, n!o e
154
licado de Lamarck.
ISS
marck fosse a regra, ou mesmo comum, todo 0 sistema de encadeamento dos proeessos estocasticos pararia.
Ofere90 esta critica aqui nfo somente nurna tentativa (provavelmente [Uti!) de matar urn cavalo nunca realmente morto mas tambt!m
-"
ra para se apoiar - e a maioria dos bi61ogos que seguiram Weissmann tenderam a tornar " argumento dedutivo pela suposi9fo de que nIlo Ita maneira imaginavel pela qual a comuniea910 poderia ocorrer enlre 0 biceps
e 0 futuro gameta.
Essa suposi910, entretanto, nfo pareee Mo segura hQje como 0 foi
ha vinte anos alra.. Se 0 RNA pode conduzir vestigio. de DNA para
outras partes da celula e possivelmente para outra. partes do corpo, entfo e imaginlivel que vestigios das altera9i5es quimicas do bieeps possam ser levados ao idioplasma.
c. A ultima, e, para mim, a (mica critica convincente, e uma redutio ad absurdum, uma afirmal'ao de que se a hereditariedade de La-
o seguinte dia]ogo :
OJ
ridas''?
I."
LAMARCKIANO; Que urna altera930 no corpo induzida pelo meio sera transmitida prole.
BIOLOGO : Espere urn instante, uma "altera9fo" sera transmitida? 0
que exatamente sera transmitido da gera\l[o paterna para a prole?
Uma "altera9ao" e algum tipo de abstra910, suponho.
LAMARCKIANO; Urn efeito do meio, por exemplo, "0 as almofadas
nupciajs do sapo macho midwife. 2
BIOLOGO; Eu ain9Ji nao entendo. Voce certamente nao quer dizer que
o meio produziu as almofadas.
LAMARCKIANO;Niio, eertamente nlo. 0 sapo as fez.
BIOLOGO: Ah, assirn 0 sapo sabia num certo sentido ou tinha a "potencialidade" para produzir almofadas nupciais?
LAMARCKIANO; AJguma coisa desse tipo, sirn . 0 sapo podia fabricar
almofadas nupciais quando for9ado a reproduzir na agua.
BIOWGO; Ah, ele podia se adaptar. Isso esta correto? Se ele reproduzia na terra, da maneira normal para sua especie de sapo, ele nlo
enta~
ele .produ-
A maior parte das especies de sapos acasalam-se na agua, e durante os perfodos de acasalamento, 0 macho envolve a femea com seus br~Qs em urna
detenninada posi~o nas suas costas. Talvez ''porque '' eIa seja escorregadli;
ele desenvolve asperas almofadas pretas no dorso de suas mios nessa epoca.
Contrariamente, 0 sapo midwife se acasala na terra e na:o tern tais almofadas nupciais. Nos anos antes da Primeira Grande Guerra, Paul Kammerer, umi
cientista austriaco, sustehtou haver demonstrado a famosa hereditariedade de
caracteres adquiridos ao fo ryar sapos midwife a se acasalarem na agua.
Nessas circunstancias, 0 macho desenvolveil almofadas nupciais.-Af"mnou-se
que os descendentes do macho desenvolveram tais aImofadas. mesmo na
terra.
156
157
o ponto crucial desse argumento e a representa9ao logica da mensagem genetica que supostamente e transmitida. Nao basta dizer vagamente que as aImofadas nupciais sao transmitidas, e nao faz sentido aflrmar que a potencialidade de desenvolver aImofadas nupciais e tranmitida porque essa potencialidade era caracteristica do sapo genitor antes
do inieio da experiencia.'
Naturalmente, nao e negado que os animais nurna extensao menor
do que as plantas, neste mundo, apresentam frequentemenk a aparencia que esperariamos que tivessem num mundo em que a evolul'ao tivesse seguido os caminhos da hereditariedade de Lamarck.
Veremos que essa apareneia e inevitavel dado que ta) as populayoes selvagens usualmente (talvez sempre) sao caracterizadas por gru- pos heterogeneos de genes (misturados e diferentes), (b) os animais in..
dividuais sao capazes de altera911es somaticas que sejam de certa ma3
Arthur Koestler, no The Case of the Midwife Toad (Nova York: Vintage
Books, 1973), registra que pelo menos urn sapo selvagcm dessa especie [oi
enc'ontrado com ahnofadas nupciais. Assim sendo, 0 equiparnento genetico
necessario esta disponlvel. 0 valor comprobatorio da experiencia esta seriamente reduzido por essa descoberta.
158
'1
{
2. usa E DESUSO
Este antigo par de conceitos, que costurnava ser 0 centro das discussOes sobre evolu9ao, pratieamente desapareeeu da argumental'ao, talvez porque neSsa eonexao seja especialmente necessaria manter a represental'ao logica livre dos varios componentes de qualquer hipotese.
N[o e particu1armente misterioso que os efeitos do usa possam
contribuir de a1guma maneira para a evolul'ao. Ninguem pode negar
159
ra a pena sacrificar alguma reversibilidade da forma a economizar flexibilidade (isto e, guardar 0 arquejo e a taquicardia para alguma ocasiao nao de montanhas altas em que urn esforyo extra possa ser necessario).
0 que ocorrera e chamado de aciimata,iio. 0 cora~fo do homem passarll por mudan~as, seu 'sangue passarll a conter mais hemoglobina, sua caixa ton1cica e seus habitos respiratorios se modificar[o,
e assirn por diante. EsSas mudan~as serfo muito menos reversiveis do
que 0 arquejo, e se 0 homem descer para urna visita ~ plan!cie; provaveImente sentira algum deseonforto.
Nos termos do jargao deste livro, existe uma hierarquia de ajustamento somatico que lida com as solicita~iles particulares e imediatas
no n!vel superficial (omais concreto) e com os ajustamentos mais gerais
nos niveis mais profundos (mais abstratosYA questao e exatamente paralela II hierarquia do aprendizado na qual 0 proto-aprendizado lida
com 0 fato ou al'ao estreitos e 0 deutero-aprendizado lida com contextos e classes de contextos.
interessante observar que a aclimata~no econcluida por muitas
mudan~as em diversas frentes(mllsculo do coray!fo, hemoglobina, muscuIatura do peito, e assim por diante, eJ;lquanto que as medidas de emergencia tern a tendencia de serem ad hoc e especificas,
o que OCOrre na aclimata~ao e que 0 organismo adquire flexibilidade superficial ao pre~o de urna rigidez mais profunda. 0 homem agora pode utilizar 0 arquejo e a taquicardia como medidas de emergencia
se ele encontrar urn urso, mas se sentira desconfortavel se for visitar
seus antigos amigos que residem no nivel do mar.
Vale a pena detalhar mals esse assunto em termos mals formals :
considere todas as proposi~Oes que possam ser solicitadas para deserever
urn orB.,anismQ .. PQderaQ existir milMes deIas, mas elas estarao unidas
em loops e circuitos de interdependencia. Inclusive, toda proposi~[o
deseritiva sera, em determinado grau, normativa para aquele organismo ;
quer dizer, existirao niveis maximos e minimos alem dos quais a variavel deserita sera toxica. A~ucar demals ou de menos no sangue matara,
e e assim para todas as varillveis biologicas. Existe 0 que pode ser denominado urn metavalor anexado a cada variavel; quer dizer, c! born para
a criatura que a variavel fornecida esteja no meio de sua amplitude, e
n[o no maximo ou no minimo. Como as variaveis est[o interli.,gadas em
loops e em circuitos, ocorre que qualquer variavel que esteja em seu
maximo ou minimo dever:! comprimir parcialmente todas as outras
variaveis no meSlllO loop,
161
"Mas entao, papai, por que asgirafas tem pesco,os tao langos?"
"Sim. E dessa maneira para que elas possam comer as palmeiras, meu filho, porque...
re;
~q;
Cj:.>.
163
teria normabnente urn valur de sobrevivencia, mas era mais dificil ver
como uma duplic"9ao genetica de efeitos de desuso poderia ser compensadora. Entretanto, se a representa9ilo 16gica d. mensagem genetica
idealizada for escarnoteada, sera obtida uma hipotese que utiliza urn
linico modele para cobrir os efeitos tanto do uso como do desuso. 0
antigo misterio que girava em torno d. cegueira dos anirnais das cavernas e do femur de oito on9as da baleia azul de oitenta tonelad.s n[o
e mais completamente misterioso. Temos apenas que supor que a manuten9ao de qualquer orgao residual, digamos urn femur de dez libras num. baleia de oitenta toneladas, sempre pressionar" uma ou mais variaveis somaticas a urn limite de tolerancia mais alto au mais baixo para constatar que uma mudan~a nos limites de tole ran cia sera aceitavel.
Entretanto, do ponto de vista deste livro, essa so1u9[0 para os
problemas de uso e desuso, que sao confusos sob outros aspectos, euma
ilustra9[0 importante d. rela9ao entre a altera9ao genetica e a sOITultica,
e, a1em disso, da re1a9[0 entre a representa9ao 16gica mais alta e mais
baixa no vasto processo mental denominado evalu9aa.
164
leia, e, sem duvida, atingido por duzias de diferentes genes que atuam
juntos nesse sentido, mas que tern individualmente, talvez', outras manifesta,5es bern diferentes em outras partes do organismo.
3. ASSIMlLA(:AO GENE:rICA
o que foi dito na se,ao 2 e exemplifjcado em quase todos os pontos pelo seu amigo Conrad Waddington em suas famosas experiencias
que demonstram 0 que ele denominou assimila,iio genetica. A .mais
~amatica delas comeyou com a produl'irO de copias fenotipicas dos
efeitos de urn gene denominado bitbrax nas mOScas das frutas. Todos
o~ membros ordinarios da vasta ordem dos dfpteros, com exce9ao das
moseas sem asas, tern 0 segundo par de asas ieduzido a duas pequenas
hastes Com protuberancias no fmal que se sup5em serem 6rg1os de equilibrio. Sob a al'1o do gene bitorax, os rudimentos no terceiro segmento
do torax transformam~e em asas quase perfeitas, dando como resultado urna mosea de quatro asas.
Essa modifica,lfo muito profunda do fenotipo , que revive uma
mOrfolOgia bastante antiga e que esta agora inibida, tambem poderia
ser produzida por urna altera,lIo somatica. Quando as crisaIidas foram
intoxicadas com eter etilico na dosagem apropriada, as moscas adultas,
ao eclodirem, possufam a aparencia "bitonicica", Quer dizer, a caracteristica "bitoracica" era conhecida como urn produto da gemHica e
tambem como 0 produto de urn violento disturbio da epigenese.
Waddington realizou suas experiencias em grandes populal'5es
de moseas colocadas em grandes gaiolas. Em cada gera,iro, ele sujei-
166
167
as
Outro aspecto da comunicaya:o entre os genes e 0 desenvolvimento do fen6tipo 0 revelado quando perguntamos sobre 0 controle gene.
tico da altera,ao somatica.
Existe, certamente, sempre urna contribui,i!o genetica para todos
os eventos somaticos. Eu 0 demonstraria assim: se urn homem se bronzeia no sol, podemos dizer que isso foi uma altera9ilo somatica induzi.
da pela exposi,a:o aluz com 0 comprimento de onda apropriado e assUn
por diante. Se posteriormente nos 0 protegemas do sol, 0 bronzeado
que reeebeu desapareeen', e se ele for louro, ele ten. de volta sua apa.
rencia rosada. Com woa posterior exposi(:i!o ao sol, ele novamente se
bronzean', e assUn por diante. 0 homem muda sua cor quando exposto
ao sol, mas sua habilidade em mudar dessa maneira na:o e afetada pela
prote,ao do sol - pelo menos assUn acredito.
168
169
ser protegida da intrus[o de novas informa~Oes. A maneira de faur isso e como sempre foi feito. 0 desenvolvimento do feto devera seguir os.
axiomas e os poslulados estabelecidos no DNA qu em outro lugar. Na linguagem do Capitulo 2, a evoluy~o e 0 aprendizado sa:o necessariamente
divergentes e imprevisiveis, m-as a epigenese deve~a ser convergente.
Ocorre ent[o . que no campo da epigenese os casos nos quais uma
nova informa~[o e necessaria serllo raros e evidentes. Inversamente,
existir[o casos; embora patol6gicos, nos quais a falta ou perda de informay[o resultara em grandes distoryoes de desenvolvimento. Nesse contexto, os fen6menos de simetria e assimetria se transformam num rico
campo de caya para a procura de exemplos. As ideias a esse respeito que
devem guiar 0 primitivo embrilio s[o ambas simples e formais, de maneira que sua presenya ou ausencia e inconfundivel.
Os exemplos mais conhecidos vern do estudo experimental sobre
a embriologia dos wloios, e discutirei aqui alguns dos fenomenos relacionados com a simetria no ovo do sapo. 0 que e sabido sobre 0 sapo e
provavelmente verdadeiro para todos os vertebrados.
Parece que sem inform"yao do mundo exterior, 0 ovo n[o fertUizado do sapo nao con tern a informayao necessaria (iSIO e, a diferenra necessaria) para atingir a simetria bilateral. 0 ovo tern dois polos
difereneiados: 0 polo animal, onde 0 protoplasma ,tem preponderiincia
sobre a gema, e 0 polo vegetal, onde a gema e preponderante. Nao existe, entretanto, diferenciay[o alguma entre os meridianos ou linbas de
longitude. 0 ovo e, nesse sentido, radialmente simetrico.
.
Sem duvida a diferenciay[o dos polos animal e vegetal foi determinada pela posi,[o do ovo no tecido folicuiar ou pelo plano da ultima
divisa:o celular na produ~ao dos gametas; esse plano, por sua vez, foi
provavelrnente determinado pel> posi,ao da celula-mile no folfculo:
Isso~
r' -:)1
,I.
171
temente do meridiano que seja marcado pelo espermatozoide que peneIrar. Oeorre entao que cada meridiano, lnd.ependentemente de onde eSteja delineado, devera ser assimetrico no mesmo sentido.
Essa exigencia e satisfeita muito simplesmente por urn tipo de
espiral de relafoes n{fo quantitativas ou vetorillis. Tal espiral cortani
cada meridiano obliquamente para fazer em cada meridiano a mesma
diferen9a entre leste e oeste.
Um problema similar surge na diferencial'i'o de membros bilaterais. Meu bra90 direito e urn objeto assimetrico e urna imagem de espellio formal do meu bra90 esquerdo. Existem entretanto no mundo raros
individuos monstruosos que tern urn par de bra90s ou urn bra90 bifurcado em urn lado do corpo. Em tais casos, 0 par sera urn sistema bilateralmente simetrico. Urn componente sera urn bra90 direito e 0 outro urn
esquerdo, e os dois estar[o localizados como se estivessem nurna imagem de espellio.4 Esta generaliza9[0 foi enunciada pela primeira vez
Sirnplifiquei a regra de certa maneira para esta apresenta~ao. Para uma expo-sic;ao mais detalhada vej a Steps to an Ecology of Mind no ensino intitulado
.. A Re-examination of Bateson's Rule. ..
172
por meu pai na decada de 1890 e foi denominada durante muito tempo regra de Bateson. Ee foi capaz de mostrar 0 funcionamento dessa
regra em quase todos os mos de animais atravos de uma pesquisa em todos os museus e em muitas cole<;Oes de primatas na Europa e na Amorica. Especialmente, ele reuniu cerca de cern casos de tal aberra91!onas
pern_as de besouros.
Reexaminei essa historia e canclui, baseado em seus dados originais, que ele estava errado em perguntar: 0 que deterrninou essa simetria adicional? Ele deveria ter indagada: a que determinau a perda da
assimetria?
Propus a hip6tese de que as formas monstruasas seriam produzidas pela perda ou pelo esquecimento da informa9iio. Ser bilateralmente simotrieo requer mais informa9iio do que a simetria bilateral. A
assimetria de urn membro lateral, como urna m[a, exige orienta91o
apropriada em tres dire90es. A dire9[0 no sentida das costas da mlo
deve ser diferente da dire9!a no sentido da palma; a dire9[0 no sentida do polegar tem que ser diferente da dire9[0 no se.:tldo do deda minima, e a dire9[a no sentida da catavelo deve Ser diferente da dire9[0
no sentido dos dedos. Essas tres dire9<les devem ser colocadas juntas
apropriadamente para formar uma m-:Iodireita e n[o uma ma:o esquerda.
Se urna dir09iio for invertida. como quando a m[o e relletida nurn espellio, a resultado sera uma imagem invertida (ver Capitulo 3, se9~a 9).
Entretanto se urna das tres diferencia9<les for perdida ou esquecida, 0
membra sera capaz somente de atingir a simetria bilateral.
Nesse casa, 0 postulada ''nada vira do nada" se torna um pouco
mais elaborado: a simetria bilateral vir. d. assimetria quando urna discrimina9iia far perdida.
6. HOMOLOGIA
Neste ponto, deixarei os problemas de genetica individual, altera9iia somatica e aprendizado, e os carninhos imediatas da evolu9iio para
obseTVar os resultadas da evolu9[0 na escala maior. Perguntarei 0 que
podemos deduzir dos processas fundamentais encarando-os sob 0 ponto
de vista mais amplo da mogenia .
173
A anatomia comparativa tern uma longa historia. Pelo menos durante sessenta anos, a partir da publical'ao de A origem dus especies
ate a decada de 1920, 0 foco da anatomia comparativa estava no rela
cionamento, em detrimento do processo. Para a teoria de Darwin 0 fato
de que arvores mogenicas poderiam ser construidas era tido como
evidencia. 0 registro de fosseis era inevitavelmente muito incompleto,
e na falta de tal eviMncia direta de descendencia, os anatomistas mostravam urn apetite insaciavel por exemplos da classe de semelhanl'as
denominada hom%girJ. A homologia "provava" 0 reladonamento,
e 0 reladonamento era evolul'~o.
Naturalmente, as pessoas haviam observado as semelhanl'as
formals entre ascoisas vivas pelo menos desde a evolul'ao da linguagem,
que c1assificava minha "mao" com a sua "ma:o" e minha "cabe~a" com
a "cabe~a" de urn peixe. Entretanto a consciencia da minha necessidade de explicar tais semelhanl'as formals veio muito mals tarde. Mesmo
hoje, a maioria das pessoas n3'o fica surpresa com, e nao ve qualquer
problema em, a semelhanl'a entre suas duas miios. Eles nao voem ou
sentem qualquer necessidade de urna teoria da evolul'iio. Para os antigos
pensadores e mesmo para as pessoas da Renascenl'a, a semelhanl'a for
mal entre as criaturas ilustrava 0 encadeamento dentro da Grande Ca
deia da Existencia, e essas conex!)es eram elos 16gicos e nao geneal6
gicos.
Seja como for, a conelusao que saltou da semelhanya formal para
o reladonamento escondia um determinado nlimero de hipoteses inter
mitentes.
Admitamos a semelhanl'a formal em mil hares de casos - homem e
cavalo, lagosta e caranguejo - e assumarnos que nesses casas as seme
lhanl'as formals nao Sao meramente eviMncia para, mas decididamente
o resu/tado do relacionarnento evolucionario. Podemos continuar entao
e considerar se a natureza das semelhanl'as nesses casos traz a1gurn escla
recimento ao processo evoluciomirio.
Indagarnos: 0 que e que as homologias nos dizem sobre 0 processo
da evoluyao? 0 que encontrarnos, quando compararnos nossa descriyao
de lagosta com nossa descriyao de caranguejo, e que alguns componentes da descriyOes permanecem inalterados e que outros diferem de uma
descriyao para outra. Consequentemente, nosso primeiro passo sera certamente obter a forma de distinguir entre diferentes tipos de mudanya.
Algumas a1tera y!)es serao eofalizadas como mais faceis e mais provaveis;
outras serao mals dificeis e dessa forma mais improvaveis. Nurn mundo
assim, as variaveis que mud am vagarosamente ficarao para tras e poder:Io
174
conceito de Baer dos "estagios correspondentes" foi posteriormente elaborado por Ernst Haeckel, contemporiineo de Darwin, dentro
da teoria da recapitulal'ao e da bastante discutida afirmay[o de que "a ontogenia reproduz a filogenia". Desde enfflo, muitas frases variadas sobre
o assunto foram propostu. A aflfma9ao de que as larvas ou embriOes
de urna dada espede comumente lembrarn as larvas de urna especie cor..relata mals de perto do que os adultos lembram os adultos da espede
'correlata, e urna aftrmayao mals cautelosa. Entretanto, mesmo essa declarayao bastante cuidadosa est. danificada por excey!)es evidentes."
Entretanto, apesar das excey!)es, eu me inclino para 0 ponto de
vista de que a generalizayao de von Baer fornece uma chave importante
I.
'lot
"
Par exemplo, entre as criaturas marftimas vermiculares do rnais antigo ente-ropneuste, especies diferentes do que costumava seI encarado como urn uni
co gene Ba/anog/ossus, tern urna embriologia completamente difeIente. B. kovalevskii tern larvas com aberturas de guelras e notocordio, enquanto que
outras especies tern larvas como as dos equinodennos.
175
para 0 processo evoluciomirio. Certa ou errada, essa generaliza-;:a:o coloca perguntas importantes sobre a sobrevivencia, na:o de organismos ,
mas de tra~os: existe qualquer fator comurn mais alto partilhado pelas
variaveis que se tornam estaveis e conseqiientemente foram utilizadas
pelos zo61ogos em sua procura da homologia? A lei dos estagios correspondentes tern uma vantagem sobre as outras declara-;:oes no sentido de
que von Baer nao estava s-e apoderando de mores ft.logenicas, e mesmo
a curta af1fl11~ao que citei tern pontos especiais que passariam desapercebidos a urn detetive mogenetico. verdade que as variaveis embriomcas sao mais duniveis do que as variaveis adultas?
Von Baer estava preocupado com vertebrados mais elevados: Iagartas, passaros, e mamiferos, criaturas cuja embriologia esta acolchoada e protegida au par uma casca de avo cheia de alimentos ou por urn
utero. Com as laIVas de insetos, por exemplo, a demonstrayao de von
Baer simplesmente nao funcionaria. Qualquer entomologista poderia
olhar para uma exposi9[0 nao classificada de larvas de besouros e dizer
imediatamente a que familia cada larva pertence. A diversidade das larvas e tao surpreendente quanto a diversidade dos adultos.
A lei 40s es!agios correspondentes e aparentemente verdadeira
nao somente para todos os embriOes dos vertebrados mas tambem para
membros sucessivos nos primeiros estagios de seu desenvolvimento. A
chamada homologia seriada compartilha com a homologia filogenica a
generaliz~[o de que, no todo, as semelhan~as precedem as diferen~as.
A pata completamente desenvolvida de uma Iagosta difere mtidamente
dos acess6rios para a caminhar nos outros quatro segmentos toracicos,
mas todos as acess6rios toracicos pareciam iguais nos estagios primitives.
Talvez isso seja ate onde podemos ir com a generaliza9ao de von
Baer: af1fl11ar que, em geral, a semelhan~a e mIlis antiga (tanto mage.
neticamente como ontogeneticamente) do que a diferen~a. Para alguns
bioI6gicos, isso podeni parecer uma banalidade, como se fosse dito que
em qualquer sistema de ramifica~oes, dois pontos pr6ximos ao ponto
da ramifica~[o parecerao mais urn com 0 outro do que dais pontos
distantes desse local. Essa aparente banalidade, porem, nlio seria verda
deira para elementos na tabela periodica e nao seria tambOm necessa
riamente verdadeira nurn mundo biologico produzido por uma cria
~o especial. Nossa banalidade e, de fato, eviMncia para a hipotese de
que os organismos devem ser relacionados como pontos ou posi,Ces
em urn more ramificada.
A generaliza9lio de que a semelhan,a e mais antiga do que a di
176
177
As descobertas mais claras que tern importancia para e.te aosunto sao, acredito, as elegantes demon.tra,5es do z06logo D'Arcy Wentworth Thompson nos prim6rdios de.te ,",culo_ Ele mo.trou que em
muitos casas, talvez em todos as casos que testoll, duas formas de animais contrastantes porem relacionadas ter~o isso em comum: que se
urna forma for desenhada (digamo., de perfIl) em .imple. coordenadas ortogonais cartesianas (por exemplo, em papel quadriculado), entifo com a apropriada inclina,ifo ou di.tor,ao, as mesmas coordenada.
acamadarao a outra forma. Todos os pantos do perfil da segunda farIna cairao sabre pontos similarmente denominado. na. coordenadas
inclinadas. (Ver Figura 9).
o que e significativo nas descoberta. de D'Arcy Thompson e
que em qualquer caso dado, a distor,aa e inesperadamente simples
e e consistente durante todo 0 desenho do animal. A inclina,ao das
coordenadas e tal que poderia sor descrita por uma simples transforma,a:o matematica.
Essa .implicidade e consistencia deve certamente significar que
as difere11fas entre as fenotipos, que 0 metodo de D'Arcy Thompson
expoe, sil:o representadas por bastante poucas diferen,as de genotipos
(ista e, por bern paucas genes).
Alem dissa, baseado na consistencia da distor,lI:o em todo C)
carpo do animal, pareceria que os genes em questa'o sao pleiotropic os
(isto e, afetarn muitas, talvez todas, as partes do fenotipo) em aspectos
que sao, nesse sentido particular, haImoniosos em todas as partes do
corpo:
interpretar essas descobertas mals profundamente nll:o e inteiramente simples, e 0 proprio D'Arcy Thompson n!l:o ajuda muito. Ele esta
exultante pelo fato de que a matematica mostrou-se capaz de descrever
alguns tipos de mudan,a.
Nessa conexao, e interessante observar a controversia atual entre
os partidarios da teoria "sintetica" na evolu,lI:o (os atuais darwinianos
ortodoxos) ~ seus inimigos, os "tipologistas". Ernst Mayr, por exemplo,
ridiculariza a cegueira . dos tipologistas: "A historia mostra que 0 tip'"
10gista nao lem e nao pode ter qualquer aprecia\'!l:O da oole,lo natural.'" Desafortunadamente, ele nao menciona suas fontes para sua tipo-
logia de seus colegas. Sera ele modesto demais para se atribuir 0 credito? Ou sera, oeste caso, que e preciso uma para conhecer urn?
Nlfo somos nos todos tipologistas por baixo da pele?
De qualquer modo, existem sem duvida moitas maneiras de se
olhar para formas animais. Como .stamos empenhados num estudo platonico do paralelismo entre 0 pensamento criativo e 0 vasto processo
mental denominado evo/uriio biol6gica, vale a pena indagar em cada
exemplo: ~ estti a maneira de olhar para 0 fenomeno de a1guma forma
representado ou equiparado dentro do sistema organizacional dos pro-
- ~
.... 11"
(iz)
Cb?
'"
'bo
r--.
1/
V
itbt~"
,Figura 9
Couraras de vtirios caranguejos.
178
179
que detenninarn 0 fen6tipo tern 0 tipo de sintaxe (na falta de uma palavra melhor) que separaria 0 pensamento "tipoI6gico" do "sintetico',?
Podemos reconhecer, entre as pr6prias mensagens que criam e modelam
as formas animais, algumas mensagens mais tipol6gicas e algumas mais
sintoticas?
- Quando a questao e colocada dessa maneira, parece que Mayr esta
profundamente certa ao propor sua tipologia_ Os antigos desenhos de
0' Arcy Thompson precisamente separam dois tipos de comunica,ao
dentro do organismo em sL Os desenhos mostram que os animais tern
duas especies de caracteristicas: (a) Eles tern padroes quase-topol6gicos
relativamente estaveis, que compreensivelmente levaram os cientistas a
7. ADAPTAyAO E HABITO
enganadores.
Se passamos a encarar a produs:ao de partes especiais de adapta,ao - a garra do carallgnejo, a m~o e 0 olho do homem, e assim por diante - como fundamental em rela,[o amassa de problemas que 0 evolucionista deve solucionar, distorcemos e limitamos nossa vis~o da evolu-
,ao como urn todo. 0 que parece haver ocorrido, talvez como urn resultado das tolas batalhas entre os primeiros evolucionistas e a Igreja,
o que fora do vasto fluxo heraclitiano do processo evolucionano alguns redemoinhos e aguas paradas da corrente foram escolhidos para
obter aten,lfo especial. Como resultado, os dois grandes processos estocasticos foram parcialmente ignorados. Mesmo os bi610gos profissionais
n!l'o viram que nurna visao mais ampl. a evolu,ao e tao livre de valores
e tll'o bela quanta a dan,a de Shlva, onde tudo que diz respeito abeleu e a feiura, a cria\'!l'o e a destrui,ao, e representado ou comprimido
dentro de urn caminho simetrico complexo.
Ao colocar os tennos adapta,iia e htibito lado a lado no titulo
desta se,ao, tentei corrigir essa visao sentimental, ou pelo menos otimista em demasia, da evolu,ao como urn todo. fls casos fascinantes de
adapta,ao que fazem a natureza parecer t!l'o esperta, tll'o engenhosa,
podem tamoein ser passos iniciais na dir"l'[O da patologia e da superes.pecializa,!I'o. Ainda assim 0 dificil olhar para a garra do carangu~o ou,
para a retina humana como passos iniciais na dire\'!l'o da patologia.
Parece que devemos perguntar: 0 que caracteriza as adapta,Qes
que se_ tornam desastrosas, e como diferem daquelas que parecem ser
benignas e que, como a garra do carangnejo, permanecem benignas atraves 1las idades geologicas?
A pergunta e premente e relevante para os dilemas contemponineos da nossa propria civiliza,lio. Nos d,ias de Darwin, toda inven,ao parecia benigna, mas isso nao ocorre hoje. Os olhos sofisticados do secu10 vinte olharao cada inven,ao de soslaio e duvidarao que os cegos
processos estocasticos sempre trabaiham juntos para 0 bern.
Precisamos desesperadamente de uma ciencia que analise todo
esse assunto de adapta\'lio-ilabito em todas os niveis. A ecologia e talvez 0 inicio de tal ciencia! embora os ecologistas ainda estejam longe
de nos dizer comO sair fora da corrida atomica armamentista.
Em principio, nem a altera,ao genetica aleat6ria acompanilada
pela sele,ao natural, nem os processos aleat6rios de tentativa-e-erro no
pensamento acompanhados pelo refor,o seletivo, trabalhar[o necessa181
180
182
passivo, pode estar claro que nenhuma preferencia'defmitiva e necessaria para a orienta~ao do sistema total. N6s vivemos, entretanto, em uma
regiao limitada do universo, e cada um de noS existe num tempo limitado. Para nos, a divergencia e real e e um. fonte potencial de desordem
ou de inova~ao.
Susp,eito mesmo, algumas vezes, que nos, embora confinados na
ilusao, fazemos 0 traballio do taoista de escollier e preferir enquanto ele
descansa. (Lembro-n>e do poet. mitologico que tambem era um daqueles que se recusam a combater em caso de guerra por motivos religiosos
ou escrupulos morais. Ele afirrnou, "Eu sou a civiliza~iio pela qual os
outros jovens estao lutando." Estaria ele talvez certo em algum sefltido?)
Seja como for , parece que existimos num limit.da biosfera cuj.
maior inclin.~oo e determin.da por dois processos estocasticos interliVet W. Ross Ashby, Introduction to Cybernetics. New York and London:
John Wiley and Sons, Inc., 1956).
-
183
gados. Urn tal sistema n[o pode permanecer sem altera930 por muito
tempo. A taxa de mudanya, entretanto, esta limitada por tres fatores:
a. A barreira de Weissmann entre a mudanya somatica e a genetica, discutida na se930 I deste capitulo, assegura que os ajustamentos
sornaticos nao se tamarao irreversiveis repentinamente.
b. Em cada gerayao, a reproduyao sexual fornece urna garantia
de que 0 esquema do DNA do novo nao entrara afrontosamente em
conflito com 0 esquema do antigo, uma forma de seleyao natural que
opera no nivel do DNA sem levar em considerayao 0 que 0 novo esquema possa significar para 0 fen6tipo.
c. A epigenese opera como urn sistema convergente e conservador; 0 embri[o que esta se desenvolvendo e, dentro dele mesmo, urn
contexto de seleyao que favorece 0 conservadorismo.
Foi . Alfred Russel Wallace quem viu claramente que a seleyao
natural e urn processo conservador. Seu modelo quase-cibernetico, em
sua carta Dnde explicava sua ideia a Darwin, ja [oi mencionado em Dutro
alcan~ar
qualquer magni-
tude vis(vei, pais eia se Caria sentiI logo no primeiro passo, tornando a
exisrencia dificil e fazendo com que a extinrrao se seguisse quase certamente. 10
lOVer A1fred Russel Wallace, " On the Tendency of Varieties do Depart Indefinitely from the Original Type" , Linnaean Society Papers (London, 18S8).
Reimpresso em P. Appleman, ed., Darwin, A Norton Critical Edition (New
York:W. W. Norton, 19 70), p. 97.
184
11
Esta s~io a mais dificil e talvez a mais importante parte do Iivro. 0 leitor
leigo e especialmente 0 leltor que necessite ver a utilidade de todo pensamento
talvez encontre auxilia no Apendice I, que reproduz urn memoranda dirigido ao s membros do conselho da Universidade da California.
18S
yo
186
As caractefisticas adquiridas particulares produzidas em respostas a alguma dada mudan9a no meio ambiente podem ser previstas.
Se 0 fornecimento de alimentos for reduzido, 0 organismo provavelmente perdenj peso principaJrnente pela metaboliza9[0 de sua propria
gordura. 0 uso e desuso ocasionara mudan9as no desenvolvimento ou
no sUbdesenvolvimento de orgaos especificos, e assim por diante. Similarmente, dentro do meio ambiente, a previsao de uma mudan9a especifica e freqiientemente possivel: urna mUdan9a do clima para mais
frio previsivelmente reduzira a bi~massa local e conseqiientemente
reduzira 0 suprimento de alimentos para muitas especies de organismos.
--!untos, entre tanto, Q fen6tipo e 0 organismo geram uma imprevisibi.
lidade. 12 Nem 0 organismo nem 0 meio ambiente contem informa,[o
sobre 0 que 0 outro fara a seguir;Nesse subsistema, entre tanto, urn
componente seletivo ja esta presente ate onde as altera,oes somaticas
evocadas pelo Mbito e pelo meio ambiente (incluindo 0 proprio habito) sao adaptativas. (0 htibito e 0 nome da grande classe de mudan,as
induzidas pelo meio ambiente e pela experiencia que n[o s[o adaptativas e n[o concedem valor de sobrevivencia.)
- Entre eles, 0 meio ambiente e a fisiologia propO'em alter.,oes so-maticas que poderlio ou nilo serem viaveis, e e 0 estado geral do organismo determinado pela genetica que determin viabilidade. Como argumentei na se,ao 4, os limites do que podera ser alcan,ado pela altera9iio
somatica ou pelo aprendizado estao sempre basicamente fIXados pela
genetica.
Em surna, a combina,[o do fenatipo e do meio ambiente constitui assim 0 componente aleatorio do sistema estocastico que propoe a
mudan,a; 0 estado genetico dispO'e, permitindo algumas altera90es e
proibindo outras. Os lamarckianos desejam que a altera,lfo somatica
mude para controlai: a genetica, mas na verdade, 0 caso e 0 oposto. ~ a
genetica que limita as altera90es somaticas, tornando algumas possiveis e algumas impossiveis.
Alem disso, como 0 que contem potenciais para a mudan9a, 0
genoma do organismo individual e 0 que os engenheiros de compu tador denominariam urn banco, fornecendo armazenamento de caminhos
di5poniveis alternativos de adapta,lro_ A maioria dessas alternativas per-
..'
12
187.
9a formal nas rel"90es intemas entre as partes (isto Ii, homologia) sera
evidente em qualquer lugar. AdicionaImente, e possivel predizer qual
sera a mais favorecida pela sele910 interna entre as varias especi~s do
homologia; e a resposta e primeiro a citol6gica, 0 mais surpreendente
conjunto de semelhan9as que Jiga todo 0 mundo dos organismos celulares. Para onde quer que olhemos, encontramos form~ comparl1veis e
processos dentro das celulas. A dan9a dos cromossomos, as mitoc6ndrias
Darwin, como
e outras organelas citoplasmaticas, e a estrutura uniforme ultramicroscOpica dos flagelos ondo quer qUe ocorram, ou naS plantas au nos animais - todas essas muito profundas semelhan9as formais s~o 0 resultado
da sel~9ifo intema que insiste no conservadorismo nesse n{vel elementar.
Conclusao semelhante surge quando inaagamos a respeito do destino de mudan9as que sobreviveram aos primeiros testes citol6gicos. A
mudan9a que tern impacto inicial na vida do embriao deve perturbar
E dificil ou impassivel estabelecer-se qualquer quantidade estimativa da distribui~o de homologias atraves da hist6ria das criaturas. Determinar-se que a homologia e mais freqiiente em estagios muito primitivo. da produ~o de gametas, fertiliza~o, etc. e fazer-se uma afirma~o
quantitativa que identifique graus de homologia, colocando-se urn valor
em tais caracterfsticas tais como 0 n? de cromossomos, 0 modelo mit6-
se que
188
tieo, a simetria bilateral, os membros de cinco dedas, os sistemas nervosos centrais dorsais, etc... Tal avalia9ao sed muito artificial num mundo em que (conforme diz 0 capitulo 2) a quantidade nunca determina 0
modelo. Mas a suspeita ainda persiste. Os unieos modelos formais compartilhados por todos os organismos celulares - semelhantes as plantas
e animais - estao ao nivel celular.
- Podemos tirar uma conclusao interessante dessas linhas de pensamento: '!P6s toda a controversia e ceticismo, a teoria da rec:y>itulacao e
defensavel. Existe uma razao a priori para esperar que os embriOes se
parecerao mai. de perto nurn padrao formal com os embri~es de formas
ancestrais do que os padr15es formais de adultos se assemelharao aqueles
dos ancestrais adultos. Isso esta bern distante do que Haeckel e Herbert
Spencer sonhavam em sua n09ao de que a embriologia teria que seguir
os passos da mogenia. A frase seguinte e mais negativa: 0 desvio do inicio do caminho e mais dificil (menos provavel) do que os desvio de estagios posteriores.
Se, como engenheiros evolucionarios, enfrentassemos a tarefa de
189
190
sistema nervoso central e 0 DNA sao digitais em alto grau (talvez total
mente), mas 0 restante da fisiologia e anal6gico.' 3
Assim, ao comparar as altera,Oes geneticas aleatorias do primeiro
sistema estocastico com as mudan~as somaticas responsivas do segundo,
deparamo-nos novamente com a generaliza~ao enfatizada no Capitulo
2: a quantidade nao detennina 0 padriio. As alteral'5es geneticas podem
ser altamente abstratas, operando em muitas remol'0es da sua expressilo
fenotipica definitiva, e, sem diivida, elas poderao ser quantitativas ou
qualitativas em sua expressao final.,As somaticas, e"ntretanto, sao muito
mais diretas e sao, acredito. exclusivamente quantitativas/ As proposi,5es descritivas que contribuem COm padreses partilhados (isto e, a homologia) para a descril'lio das especies nunca sao, ate onde conhe9D,
perturbadas pelas al tera,6es somaticas que 0 habito e 0 meio am bien
te possam induzir.
Em outras palavras, 0 contraste que D'Arcy Thompson demonstrou (ver Figura 9) pareceria ter raizes nesse (isto 0, a partir do) contraste entre as dois grandes sistemas estocasticos.
'
13
."
]ql
vae-erro do progresso mental - pode alcan9ar 0 novo somente av enturando-se em caminhos aleatoriamente apresentados, alguns dos quais
quando s[o experimentados sao de certa maneira selecionados para al~ma
Se garantirmos que
mundo opera,
que OCOrre e
que algum tipo de c.?ns~stencia ou ~oerencia - rigorosa ou imaginaria seja a primeira exigencia do pensador sobre as n~oes que ocorre:m na
existe urn filtro similar que, como a epigenese dentro do organismo in:
192
tambOm 0 mundo em volta do organismo, encontraremos 0 que e;fualogo ao processo de evolu~ao no qual a experiencia cria 0 relacionamento entre a criatura e 0 meio ambiente que denominamos adaptariio,
atraves da imposil'ao do habito e do soma.
Cada a93.0 da criatura viva envolve alguma ten,tativ~-e-erro, e
para que qualquer tentativa seja nova, ela deve ser aleatoria em certo
grau. Mesmo que a nova a~ao seja somente urn membro de uma classe
de a90es bern exploradas, ela dever' ainda, pela sua propria novidade,
tornar-se em certa medida uma confirm~ao ou exploral"o da proposiyao "esta e a maneira de faze-Io".
No aprendizado, entre tanto, como na alterayao somatica, exis
separei para fms de analise. Que rela~ao formal existe entre os dois?
Como vejo a coisa, a raiz do assunto se encontra no contraste
entre
digital e
nome e
Denominar. entretanto, e em si rnesmo urn processo e urn processo que ocorre nlIo somente na nossa analise, mas profundamente
e significatiVamente dentro dos sistemas que tentamos analisar:Seja
qual for a codific~lIO e a rela,ao meciinica entre 0 DNA e 0 fenotipo,
o DNA e ainda de algum mod~m corpo de injun90es que demanda .:..
e nesse sentido denomina~ as rela90es que se tomarao aparentes no
fenotipo.
Quando admitimos denominar como urn fenomeno que ocorre
e organiza 0 fenomeno que estudamos, tomamos conhecimento, ipso
facto. que nesses fenomenos esperarnos ter hierarquias de representay30
logica.
lsso e ate onde podemos i~ com Russell e com os Principia. Nilo
estamos agora, entre tanto, no mundo abstrato da logica ou da matematica de Russell e nil"o podemos aceitar uma hierarquia vazia de nomes
ou classes. Para 0 matematico, esta muito bern falar de nomes de nomes
de nomes ou de classes de classes de classes. Para 0 cientista, porem,
esse mundo vazio e insuficiente. Estamos tentando lidar com uma interliga,ao ou intera,ao de passos digitais (isto e, denominativos) e analogicos. 0 processo de denominar Ii em si denomindvel, e esse fato nos
for,a a substituir urn revezamento pela simples escada de tipos logicos
que os Principia teriam proposto.
Em outras patavras, para recombinar os dois sistemas estocasticos nos quais dividi tanto a evolu,il"o como 0 processo mental para fms
de analise, terei que encarar os dois como alternativos. 0 que nos Principia aparece como uma escada feita de degraus que s.iio todos iguais
(nomes de nomes de nomes e assim por diante) transformar-se-a num
revezamento de dois tipos de passos.(Para ir do nome para 0 nome do
nome temos que passar pelo processo de denominar 0 nome / Devera
sempre existir urn processo generativo pelo qual as classes s.iio criadas
antes que possam ser denominadas.
Este assunto bastante amplo e complexo sera 0 objeto do Capitulo 7. .
194
Show me.
No Capitulo 3, a lei tor foi convidado a contemplar urna quantidade variada de casos que ilustraram 0 chavlfo de que duas descri90es
s.iio methores do que uma Aquela serie de casos terminou com minha
deicri,30 do que encaro comO uma explicapio. Afirmei que pelo menos
urn tipo de explic39'O consiste em suplementar a descri,ao de urn' processo ou conjunto de fenOmenos com uma tautologia abstrata sobre a
qual poderia ser demarcada a descri9il"0. Poderao existir outros tipos
de explica9ao, ou pode tam bern ser 0 caso de que toda explic39ao no
final se resuma em alguma coisa como a minha defmiylIo.
Certamente e 0 caso de que 0 cerebra nao contem outros objetos materiais alem de seus proprios canais e interruptores e seus prO.
prios suprimentos metabolicos e que todos esses instrumentos materiais
nunca entram nas narrativas da mente. 0 pensamento podera ser sobre
porcos ou cocos, mas nao hA porcos ou cocos no cerebra; e na mente:::
nao ha neuronios, somente ideias sobre porcos e cocos. Existe. sernpre,
conseqiientemente, uma certa complementaridade:> entre a mente e os
assuntos de sua compu ta,ao. 0 processo de ' codific39ao ou representa,ao que substitui a ideia de porcos ou cocos pelas coisas ja e urn passo, mesmo urn vasto pulo, na representa,a:o logica. 0 nome nlio e a coisa denominada, e a ideia de porco nlio e 0 porco.
Mesmo se pensannos em sistemas de circuitos maiores que se estendam alem dos limites da pele e chamarmos esses sistemas de menie,
incluindo dentro da mente 0 homem, seu machado, a Orvore que ele
195
esta abatendo, e 0 corte no lado da arvore/ meSIllO se tudo isso for visto como urn unico sistema de circuitos que correspondam ao criterio
de menie oferecido no Capitulo 4; mesmo assim, nao ha more, nem homem, nem machado na mente. Todos esses "objetos" sao somente represenlados na mente maior sob a forma de imagens e informal'oes deles mesmos. Podemos dizer que eles se propoem a si mesmos ou que
prop5em suas proprias caracteristicas.
Em qualquer caso, parece-me ser profundamenle verdadeiro que
alguma coisa como a relal'ao que sugeri entre a tautologia e os assuntos
a serem explicados pre domina no decorrer de lodo 0 campo de nossa
investigal'iio. 0 primeiro passo que parle de porcos e cocos para 0 mundo de versiles codificadas mergulha 0 pensador num universo abslralo,
e, acredilo, laulologico. Esla muilo bern defmir a explical'iio como "colocando a taulologia e a descril'iio lado a lado" . Isso e somenle 0 come1'0 do assunlo e reslringiria a explicayao aespecie humana. Cerlamenle
os cachorros e gatos, poderiamos dizer, aceitam as coisas como sao, sem
todo esse raciocinio; mas nao e assim. 0 impulso do meu argumento
que 0 proprio processo de percepyao e um alo de represental"o logica.
Cada imagem e.wn complexo de codificay5es e demarcay5es de varios
iiiveis. Certarnente os cachorros e gatos tern suas imagens visuais.
Quando olham para voce, seguramenle eles veem "voce". Quando uma
pulga morde. 0 cach~rro com certeza tern uma irnagem de wna "comichao", localizada "ali".
Ainda falta, naturalmenle, aplicar eSSa generalizayao ao campo da
evolul"o biologica. Antes de tenlar essa larefa, enlretanlo, e necessario
expandir as ideias sobre 0 relacionamento entre a fonna e 0 processo,
tratando a nOl'iio de fonna como an:iloga ao que tem sido chamado de
tautologia e,processo como an:ilogo ao agregado de fenomenos a serem
explicados. A forma eslii para 0 processo assim como a laulologia eSI.
para a descril'ao.
Esta dicolomia, que prevalece em nossas proprias mentes cientifi.
cas quando olhamos para "fora" em urn mundo de fenomenos. e caracterislica lamoom das relal'Oes entre os proprios fenomenos que procura'mos analisar. A dicotomia existe em am bos os lados da cerca enlre nos
e nossos objetos de exposil'ao. As coisas em si proprias (0 Dinge an
sich), que sao inacessiveis a invesliga,ao direta, lem relal'0es entre elas
que sao comparaveis aquelas rela,oes que prevalecem entre elas enos.
Elas, tambem (mesmo as que eSlao vivas), podem nao ler experiencia
mutua direta - urn assunto de significado rnuito grande e urn primeiro
postulado necessario para qualquer entendimenlo do mundo vivo. 0
que e crucial e a pressuposi,~o de que as ideias (num senlido basfanfe amplo da palavra) tem um poder de conviCY30 e reiiIfdade. Elas
sao 0 que podemos sabev. e nao podemos saber mais nada. As regularidades au "leis" que unetn as idtHas - eis os "fatos". Isso e 0 mais proximo que podemos chegar da verdade final.
Como um primeiro passo na direl'ao de tomar essa lese inleligivel, descreverei 0 processo de minha propria an:ilise de uma cultura da
Nova Guine.'
o trabalho que elaborei no campo foi moldado num grau elevado
pela chegada na Nova Guine de um manuscrito de Ruth Benedict denominado Patterns of Culture e pela colabora9~0 no campo com Margaret
Mead e Reo Fortune. As conclus5es leoricas de Margaret sobre seu Irabalho de campo foram publicadas como Sex and Temperament in Three
Primitive Societies. 3 0 leitar que estiver interessada em examinar a hist6ria das ideias teoricas com maiores detalhes devera estudar 0 meu
Noven, 0 Sex and Temperament de Mead, e, naluralmente, 0 rudimen4
tar Patterns. of Culture de Benedict.
Benedici tentou construir uma tipologia de culturas utilizando
termos como Apolbnieo, Dionisico. e paranoide. Em Sex and Temperament e em Naven, a enfase e desviada da caracteriza<rao de configural'5es culturais para uma tentativa de caracterizar pessoas, os membras
das culturas que haviamos estudado. Ainda empregamos lermos relacionados com os que Benedict havia ulilizado. Realmenle, sua tipologias
foram lomadas emprestadas da linguagem da descri,ao de pessoas. Dediquei urn capitulo inteiro de Noven a uma tenlaliva de usar a antiga classificayao de Kretschmer de pessoas em temperamentos "cicloHmicos" e
"esquizotfmicos". S Tratei essa tip alogia como urn mapa abstrato sabre
,
3
196
Ver Gregory Bateson, NiIllen , 1936. Reimpressao. Stanford, California: Stanford University Press, 1958.
Esses termos quase obsoletos foram derivados do contraste entre 0 maniacqdepressivo e a psicose esquizofreIl:.ica. CicloUmico denotava 0 temperamento
daqueles que, de acordo com Kre1Schmer" eram propensos a psicoses man(a-
197
CCKlepressivas. enquanto Que uquizotfmico denotava 0 temperamento de esquizofrenicos potenciais. Ver 0 Phy8ique and Characfer de Kretschmer. tradu~io ingIesa de 1925. e 0 meu Naven, 1936. Capitulo 12.
198
para perguntar 0 que poderia ser gerado peIa interay30 entre os pracessos denominados. 0 que aconteceria quando a rivalidade simetrica
, (que geraria par si mesma uma esquismogenese simetrica de competi 9lia
excessiva) fosse misturada com ulna dependencia-sustento comPlmnentar?
Certamente, havia interayoes faseinantes entre os processos den(}minados. Ocone que os temas simetricos e complementares de interayao se anulam mutuamente (isto e, tern efeitos mutuamente opostos
no relacionamento), de maneira 'lue quando a esqui.~mo$enese_ coml'le
men tar (por exemplo, dominayii(}-submissao) for deseonfortavelmente
longe, urn pouco de competi~ao aliviara a tensao; inversamente, quando
a competiyiio tiver ido Ionge demais, urn pouco de dependenCia sera
urn conforto.
Mais tarde, sob <i titulo de end-linkage" investiguei algumas das
possiveis permuta~oes de temas combinados complementares. Revelouse que uma diferenlia nas prernissas, quase, na coreografia, entre as culturas de ciasse media inglesas e americanas,. esta relacionada ao fato de
que a observ~ao e preponderantemente uma fun~ao filial na lnglatena
(isto e, esta ligada a dependencia e ii submissao) e preponderantemente
urna funyi!o paterna na America (isto e, esta ligada ao sustento e ~ d()min~ifo).
. lsso ja foi examinado em outro lugar. 0 que e importante no presente contexto e observar que meus processos de investiga~i[o foram
pontuados por urn revezamento entre a classific~1io e a deseriyiio do
processo. Eu havia prosseguido, sem planejamento conscien te, em
u,ma esealada altemativa partindo da descri~ao para. 0 vocabulmo da
tipologia. Porem essa represent~i[o de pessoas me levou de volta a
inn estudo dos processos pelos quais as pessoas se tornaram assim.
Esses processos foram entao denominados por mim, e classificados por
sua vez em tipos de tipos de processa. 0 passo seguinte foi da represent.yao do processo para 0 estudo das intera~oes entre os processos ciassificados. Essa subida em ziguezague entre. a tipologia de urn lado e 0
estudo do processo do outro e delineada na Figura 10.
Mostrarei agora que as relayoes implicitas ou inerentes aos eventos da historia pessoal que acabei de contar (isto e, a seqiiencia em zi-
199
guezague de passos da fonna para 0 processo e de volta afonna) fornecern urn modelo muito poderoso para a demarca~ao de muitos fenamenos, alguns dos quals ja foram mencion.dos.
FORMA
PROCESSO
Interal'ao
entre temas
Tipos de temas
de in teral'ao
"" ""
.................
Intera~oes que
" detenninam
a tipologia
Tipologia dos
sex os ~ ....
........
........
............ _Deseril'ao
de al'oes
Figura 10
Informarei que esse modele nao esta limitado a uma narrativa pessoal de como uma parte particular da teoria veio a ser construida, mas
que ele reaparece sempre que 0 processo mental como defmido no Capitulo 4 predomina na organiz"l'ao do fenomeno. Em outras palavras,
quando tiramos a no.;ao da .represental'lIo 16gica do campo da 16gica
abstrata e come, amos a demarcar eventos biol6gicos reais sobie as
hierarquias desse modelo, encontraremos imediatarnente 0 fato de que
no mundo dos sistemas mentais e biologics, a hierarquia nao e somente uma lista de classes, classes de classes, e classes de classes de classes
200
\-
201
agregado de informayao e trazido atraves dos argaos sensoriais; que baseada nessa informayao, a computa,iio e completada; e que baseada
no resultado (aproximado) dessa computa,iio, a arma e disparada. Nao
ha possibilidade de corre,iio de erro no ato simples. Para alean,ar qualquer melhoramento, a corre9ao devera ser realizada baseada numa ampia classe de a90es. 0 homem que desejar adquirir destreza COm uma
espingarda de c~a ou na arte de atirar com pistolas coloeadas debaixo
Cia mesa devera praticar sua arte repetidamente, alirando em pratos
ou em algum alvo simulado. Atraves de longa pratica, ele devera ajustar
a disposiriio de seus flelVOS e musculos de fanna que no evento critico
ele apresentara "automaticamente" uma atua~ao excelente. Esse genero de metodos Mittelstaedt denomina calibragem.
Pareee que, nesses casas, a "calibragem" esta relacionada com 0
feedback assim como urn tipo lagico mais elevado estil relacionado
com urn mais baixo. Essa reia9[o esta indicada pelo fato de que a autocorre9ao na utilizayao da espingarda de caya e necessariamente possivel somente baseada em informal'iio obtida da pratica (isto e, de uma
classe de a90es passadas, j a completadas).
E verdade, naturaimente, que a destreza na utiliza,ao do rifle
podera ser aurnentada pela pratica. Os componentes da al'iio que sao
assim melhorados sao comuns ao uso tanto do rifle como da espingarda de cal'a. Com a pratica, 0 atirador apeifeil'oara sua postura, aprendera a apertar 0 gatilho sem perturbar sua mira, aprendera a sincronizar
seu momenta de atirar com 0 momento de corrigir sua mira de maneira
a nio corrigi'.la em demasia, e 3SSim por diante. Esses cgmponentes do
tiro com rifle dependem para seu aperfei,oamento da pratica e da calibragem do nervo, do museulo, e da respiral'ao, cuja informayao sera
fomecida por uma classe de a9fies ja completadas.
No que diz respeito a pontaria, entretanto, 0 contraste da repre")
sentayao logica decorre do contraste entre 0 simples exemplo e a classe de exemplos. Parece tambem que 0 que Mittelstaedt de nomina calibragem e urn caso do que eu chamo de forma ou c1assificafiio e que seu
feedback e comparavel ao meu processo.
A questao abvia seguinte diz respeito arela,ao entre as tres dicotomias: forma-processo, calibragem-feedback, e tipo -16gico mais elevado-rnais baixo. SerlIo sinbnimos? Demonstrarei que forma-processo e calibragem-feedback silo realmente mutuamente sinonimos mas.
que a rel"ao entre tipo lbgico mais elev.do e mais baixo e mais complexa. Do que ja foi dUo, esta claro que tanto a estrutura pode deter-
202
.I
203
FEEDBACK
CAUBRAGEM
Status
pessoal, etc.
Genetica e
",... treinamento da
, . ' pessua
Limite
pessoal
.
B zas
k" "
,," "
k ,,"
,,"
,,"
"Frio demais" au
...... ' "Quente aemais"
Temperaturas
oscilantes
Figura 11
Nlveis de controle da temperatura da casa.
As setas assinalam a dire,ao do controle.
exercfcios ao ar livre, 0 que alterara sua calibragem. Alem disso:o que
faz com que 0 homem se dedique a urn treinamento especial' ou a uma
expOsi,ao ao frio podenl ser uma mudan,a de status. Ele podeni se
transfonnar num monge au num soldado e assim se tom3r calibrado a
urn determinado status social.
Em outras palavras, os feedbacks e as calibragens se revezam nurna sequencia hienirquica. Observe que com cada revezamento completo
(da calibragem para a calibragem ou do feedback para 0 feedback) a ,
esfera da pertinencia que estamos analisando aumentou. Na extremida204
T::
,-
de mais simples, mais baixa da escada em ziguezague, a esfera de pertinencia era urna fomalha, L1GADO ou DESLIGADO; no hivel seguinte,
era a temperatura de uma casa oscilando dentro de certos limites. No
estiigio seguinte, a temperatura poderia ser alterada dentro de urna esfera de pertinencia que agora inclui a casa mais 0 habitante por um tempo
muito mais longo, durante 0 qual 0 homem participou de viirias alividades ex temas.
A esfera de pertinencia aumenta com cada ziguezague da eseada.
Em outras palavras, existe uma mudanl'a na representa,ao logica da
informa,ao obtida pelo orgao sensorial em cada nive!.
Consideremos outro exemplo: urn motorista de urn automovel
viaja a 70 milhas por hora e couseqiientemente pOe de prontidao 0 6rgao sensorial (urn radar, talvez) de urn policial rodoviario. 0 bias ou 0
limite do policial presereve que ele reagira a qualquer diferenl'a maior
do que 10 milhas por hora acima ou abaixo do limite de velocidade.
o bias do policial foi estabelecido pelo chefe de policia local,
que atuou autocorretivamente baseado em ordens (isto e, calibragem)
recebidas da capital do estado.
A capital do estado atuou autoconetivamente com 0 legislador
lapoiando-se em seus eleitores. 0 eleitores, por sua vez, estabeleceram
uma calibragem dentro da legislatura a favor da politica democratica ou
,republicana.
Observamos novamente uma escalada de revezamento da calibragem e do feedback para esferas de pertinencia cada vez maiores e para
informa,Oes cada vez mais abstratas e decisOes mais amplas.
Observe-se que dentro do sistema da policia e do cumprimento da
lei, e realmente em todas as hierarquias, e bastante indesejavel que exista 0 contato dire to entre nlveis que nao sao consecutivos. Nao e born
para a organizayao como urn todoy ler um canal de comunica,[o entre 0
motorista do velculo e 0 chefe de polfcia do estado. Tal comunical'ao e
ruim para 0 moral da forI' a policial. Tambem nao e desejavel que 0 policial tenhi aeesso direto alegislatura, a que abalaria a autoridade do chefe de polfcia.
o salto de dois ou mais passos para baixo na hierarquia e da mesma forma indesejavel. 0 policial nao deveria ter controle direto sobre 0
aeelerador ou sobre 0 sistema de freio do autom6vel.
o efeito de tais saltos de niveis, para cima au para baixo, eque a in~
form"l'ao que e apropriada como base de decisao em um nivel sera utilizada como base de decisao em outro nlvel, uma variedade comum de
eno na representa,ao logica.
205
atirar. Toda a opera,ao deve ser aperfei(:oada, e consequentemente tada a operayao e 0 objeto da informa,ilo.
No ato seguinte de atirar, 0 atirador devera computar sua ayao
_
base ado na posi,ao do novo alva acrescido da infonnayao sobre 0 que
ele fez na rodada anterior do circuito cibernetico rnais a informayao
sobre 0 resultado dessas aviles.
Na terceira rodada do circuito com outro alvo, ele deveria teoricarnente utilizar a informayao sobre a diferenra entre 0 que aconteceu n. prime ira rodada e 0 que aconteceu na segund . Ele poder' USaf
a informac;ao num nivel nao verbal, cinestesico, dizendo para si pro..
priG atraves de imagem muscular, "isso e que e correyao demasiada.'"
o homem do rifle simplesmente circunda seu circuito cibernetico urn determinado n.limero de vezes isoladas; a homem com a anna
de caya tern que acumular SUa habilidade, empacotando suas experiericias sucessivas, como caixas chinesas, cada uma dentro do contexto d"
infonnayao derivado de todas as experiencias previas pertinentes'
Com base nesse modelo, parece que a ideia de "representa,lIo 16gica", quando transplantada dos dom{nios abstratos habitados por f116sofos inatematoIogicos para 0 tumulto dos organism os, toma urn aspecto muito diferente. Em vez de uma hierarquia de classes, encaramos
uma hierarquia de ordens de recursividade.
A pergunta que estou fazendo sobre esses exemplos de calibragem
e feedback . diz respeito a necessidade de diferenciar entre os dois conceilos no mundo real. Nas cadeias mais longas de descriylIo do termost.sto caseiro e do cumprimento da lei, a coisa ocorre de tal maneir.
que os proprios fenomenos con tern (sao caracterizados por) essa dieatomia de organizayao? Ou sera essa dicotomia urn .rtef.to da minha
descriyao? Poderao tais c.deias serem imaginadas sem urn revezamento
inerente de feedback e calibragem? Sera talvez que tal revezamento seja
basico para " maneira pel. qual 0 mundo de ayao adaptaliva e unido?
Deveriam as caracteristicas do processo mental (ver C.pitulo 4) serem
ampIiadas de maneira a incluir termos de calibr.gem e feedback?
Certamente exislirao pessoas que prefeririio acreditar que 0 mundo e prepondetantemente .pontuado peIa calibragem; essas pessoas sao
os tipologistas que, de acordo com Ernst Mayr, nunca poderlIo entender
Eu pessoalmente aprendi a atirar durante a Segunda Grande Guerra, utilizando uma arma automatica do exercito. 0 instrutor fazia com que eu
QCasse de costas para uma grande arvore e a cerca de seis pes da mesma.
Minha mao direita apertava a anna em seu coldre no meu quadril. Eu devia
puIar e me virar enquanto pulava, elevando a arma e atirando antes que meus
pes tocassem 0 elmo. A bala deveria, de preferencia, atingir a irvore, mas .a.
rapidez e a suavidade de toda a operaliao eram mais importantes do que a
precisio.
206
.\
207
209
211
FILHA: Situ, eu sei que voce adora dizer eSSa frase. Mas as verdades
pennanecem verdadeiras para sempre? E essas coisas que voce
chama de verdades sao lodas tautoTogicas?
.
PAl : Espere, espere. Existem ai pelo menos tres perguntas interligadas.
Por favor.
Primeiro, nefo. Nossas opini5es sobre as verdades sAo certamente
passiveis de serem rnodificadas.
SegunJlo, se as verdades que Santo Agostinho chamou de verda.
des-ex ternas Sao verdadeiras para sempie independentemente de
nossas opinio'es, nao posso saber.
..
PlLHA: Mas voce pode saber se e tudo tautologic01
PAl: Nao, naturalmente que nao. Mas ji que a pergunta foi fonnulada,
nao posso evitar ter uma opiniao.
.
PlLHA: Bern, e entao?
PAI:E 0 que?
FILHA: Tautologico?
PAl: Esta bern. Minha opiniiio e de que a Criatura, 0 mundo do processo mental, e tanto taulologico como ecologico. 0 que quero dizer
e que ele e uma laulologia que cura a si mesmo vagarosarnente.
Enlregue a si propria, qualquer grande parte Aa Criatura lendera
a se acomadar na dire~iio da lau lologia, que. dizer, na dire~~o da.
consisMncia interna das ideias e procedimentos. De vez em quan.
do, porem, a consislencia se rOmpe ; a laulologia se parle como a
superficie de urn lago quando nela se alira uma pedra. A taulolDgia entaD, vagarosamente, mas imediatamente, come~a a sarar.
E a cura pode ser implacave!. Especies inteiras podem ser ex lerminadas no processo.
FILHA: Mas, papal, voce poderia compreender a consislencia parlindo
da icteia de que ela sempre com~a a curar.
PAl: Assim, a lautologia nao se parte; ela e somente empurrada para 0
nivel seguinte de abstra~iio, 0 tipo logico seguin Ie. E assim que e.
FILHA: Mas quanlos niveis existem?
PAl: Nao, isso nao posso saber. Nlio posso saber se e basicamenle uma
laulologia nern quanlos niveis Iogicos possui. ESlou dentro dela e
conseqiientemente nao posso conhecer seus limites exteriores _
se e que existem.
212
FILHA: Apenas urn artefato de disseca~[o? Mas para 0 que e a disseca~lio? Todo este livro e uma dissec~ao. Para que .?
PAI~ Sirn, e parcialmente uma dissec~iio e parcialmenle um~ sintese.
E suponho que sob urn microscopio suficientemente grande nenhuma ideia possa estar errada, nenhuma fmalidade possa $Or deslruliva, nenhuma disseca~ao enganadora.
fizer,
que
PAl: Esta bern, digamos que vivemos, como eu disse, numa tautologia
autocurativa Que vern sendo gravemente fragroenlada com relativa
frequencia. Issa e 0 que parece ocorrer na nossa vizinhan y3 de espa.
~o-tempo. Acredito ate que algumarupturado sistema tautologico
ecologico seja - de uma certa maneira - born para ela. Sua capacidade para se curar pode precisar ser exercitada, como diz Tennyson, "para que urn born habito possa corromper 0 mundo.'"
E, naturalmente, a morte tern seu lado positivo. Na:o importa
quao born seja urn homem, ele se torna urn incomodo taxico se
vive muito tempo. 0 quadro-negro, onde s~o acumuladas todas
as informa~Oes, deve Ser apagado, e as belas inscri~Oes que ali
estavam devem sef reduzidas a paeira aleat6ria de giz.
FILHA:Mas...
.
PAl: E assim por diante. Existem subciclos de vida e morte dentro da
ecologia maior e duradoura. Mas 0 que diremos a respeito da morte do sistema mais amplo? Nossa biosfera? Talvez sob os olhos
dos ceus ou de Shiva isso nao tenha importancia. Mas e 0 unico
que conhecemos.
FILHA: Mas seu Iivro e uma parte dele.
PAJ: Naturaimente que e. Mas, sim, eu entendo 0 que vOCe quer dizer,
e seguramente voce esta certa. Nem 0 tervo nem 0 leilo da montanha precisarn de uma desculpa para ser,' e meu livro, tambem,
como parte da biosfera, n~o .precisa de desculpas. Mesmo se eu
estiver completamente errado!
FILHA: Podem o-cervo ou 0 Ieao da montanha estarem errados?
PAl: Qualquer especie pode entrar num beco sem saida evolucionario,
e suponho que seja urn erro de varias classes 0 fato daquela especie ser cumpIice' de sua propria extin~i!o. A especie humana, todos
nos sabemos, podera extinguir a si propria qualquer dia desses.
FILHA: Entao, 0 que? Por que eSCrever 0 Iivro?
PAJ: E existe a1gum orgulho nisso lambem, urn sentimento de que se
estamos todos indo na dir~ao do mar como lemingues, devera
haver pelo menos urn Iemingue tomando notas e dizendo, "Eu
disse isso a voces." Acredilar que eu poderia interromper a corrida para 0 oceano seria ainda mais arrogante do que dizer, "Eu
disse isso a voces. "
214
FILHA: Eu acho que voce esta dizendo tolices, papai. Nao vejo voce
como 0 unico lemingue inteligente que esta tomando notas da
autodestrui~i!o dos outros. Nao parece voce - ai esta. Ninguem
vai comprar urn livro de urn lemingue sarcastico.
PAl: Oh, sim. E agradavel ter urn livro que e vendi do, mas e sempre
urna sulpresa, suponho. De qualquer maneira, nilo e sobre isso
que estamos falando. (E voce flcaria surpresa ao saber quantos livros escritos por lemingues sarcasticos tern alta vendagem.)
FILHA:Entao, 0 que?
PAl: Ap6s promover essas ideias por cinquenta anos, tornouse c1arQ
para mim paulatinamente que a confusao nlio e necessaria. Sem
pre detestei a confuslio e sempre pensei que ela era uma condi~ilo
necessaria para a religiao. Mas parece que nlio e assim.
FILHA: Oh, 0 Iivro e a respeito disso?
PAl: Voce ve, eles pregam afe, e eles pregam a retulncia. Mas eu desejava a clareza. Voce poderia dizer que a fe e a renuncia eram necessarias para manter a procura pela c1areza. Mas tenho tentado evi- '
tar 0 tipo de fo que cobriria os esp~os da clareza.
FILHA: Continue.
PAl: Bern, houve pontos de desvio. Urn deles foi quando veru.quei que
a ideia de Fraser sobre magia estava de cabel'a para baixo ou pelo
avesso. Voce sabe, a visao convencional e que a reIigiao teve sua
evolu,ao a partir da magia, mas penso que foi justamente 0 contrario- que a magia e urn tipo de religi[o degenerada.
FILHA: Entao em que voce nifo acredita?
PAl: Bern, por exemplo, nao acredito que a flnalidade original da danl'a
da chuva fosse fazer chover. Suspeito que exist. urn equfvoco
degenerado de uma necessidade religiosa muito mais profunda: a
afmna~ao de que pertencemos ao que podemos chamar de tautologia ec%gica, as verdades eternas da vida e do meio ambiente.
Existe sempre uma tendencia - 'quase umanecessidade - de vulgarizar a religiao, de transform"la num divertimento, em politica,
em magia, ou em '~poder".
FILHA: E a PES? E a materializ~ao? E as experiencias fora do corpo?
E 0 espiritualismo?
PAl: Todos slio sintomas, ter)lativas erroneas de esforl'os reais de esca
par de uma materialismo grosseiro que se toma intoleravel. Urn
215
PAl: Quero dizer mais ou menos isso: que tanto a "conseiencia" como
a "estetica" (seja 0 que for que essas palavras signifiquem) ou Sao caracteristicas que estao presentes em todas as mentes (como defino neste !ivro), ou elas sao inven<;5es - crial'5es fantasticas tar:
dias de tais mentes. Em quaIquer dos casos, e a defini,ao basica
da mente que tern que acomodar as teorias da est6tica e da consciencia. E sobre essa defmil'iio basica que 0 proximo passo devera
ser demarcado. A terminologia para se !idar com a beleza-femra e
a terminologia para se !idar com a conseiencia tern que ser elaboradas a partir das (ou demarcadas sabre as) ideias do presente Ii
vro ou ideias similares. E simples assim.
FILHA: Simples? .
PAl: Sim, simples. Quero dizer,. a proposi<;lfO de que isso e 0 que deve
ser feito e simples e clara. Nao quero dizer que seja facil de/azer.
PAl: Tern que haver urn motivo pelo qual essas questOes nunca foram
respondidas. Quero dizer, poderi amos tomar isso como nossa primeira pista para a resposta - 0 fato historicD de que tantos homens tern tanto e nao tern conseguido. A resposta deve estar
oculta de alguma maneira. Deve ser assim: que a propria coloca<;ao dessas questaes sempre fornece urna pista falsa que leva 0
indagador a uma busca inu til.
FILHA:Bem?
PAl: Vamos observar as banalidades de "colegial" que juntei neste livro
para ver se alguma ou algumas delas poderiam dar respostas lis
questaes sobre conseiencia ou estetica. Estou certo de que urn.
pessoa ou urn poema ou urn pote ... ou uma paisagem ...
FILHA: Por que voce nao faz uma lista do que voce chama de pontos
de "colegial "? Poderiamos entao tentar examinar a !ista das ideias
de "conscil!ncia" e "beleza".
PAl: Aqui est. uma lista. Primeiro havia os seis criterios de mente
(Cap(tulo 4):
217
.,
p-.-~
Todos esses slio pontos relativamente bem definidos e se sustentam mutuamente bastante bem. Talvez a lista seja redundante
e importante no momenta.
"pensamento e ~ao".
Isso e tudo.
FILHA: Esta bem. Onde voce anexaria, entlio, os fenOmenos da beleza,
da ferura, e da consciencia?
PAl: E nao esqu~a 0 sagrado. Esse e um outro assunto que n!fo foi
abordado neste livro.
.
F1LHA: Por favor, papai. Na:o fa~a jsso. Quando chegamos perto de
fazer urna pergunta, voce foge dela. Parece que sempre hi outra
pergunta. Se ao menos voce pudesse responder uma pergunta. So
urna.
PAl: Nao. Voce nlio compreende. 0 que diz e.e. cummings? "Sempre
a mais bonita resposta a quem faz a pergunta mais diffcil." Alguma coisa assim. Veja bem, nlio estou cada vez formulando uma
nova pergunta. Estou tomando a mesma pergunta cada vez mais
ampla. 0 sagrado , (seja la 0 que isso significa) esta seguramente
218
relacionado (de alguma maneira) ao bela (seja la 0 que isso significa). E se pudessemos dizer como eSllio relacionados, podedamOs talvez dizer 0 que as palavras significam. Cada vez que adi<;ion amos urn peda~o afim a questllo, obtemos mais pistas a respeito do tipo de resposta que podemos esperar.
FILHA: Agora entlio temos seis partes da questlio?
PAl: Seis?
FILHA: Sim. Eram duas no inicio desta conversa. Agora slio seis. Ha
a consciencia, a beleza e 0 sagrado, e entao hi a rela~a:o entre a
consciencia e a beleza, a reia930 entre e beleza e 0 sagrado, e a
rela~ao entre 0 sagrado e a consciencia.
Isso da um total de se~,
,
PAl: Nlio. Sete. Voce se esqueceu do livro. Todos os seus seis formam
juntos uma especie de questao triangular e esse triangulo devera
estar relacionado com 0 que esta neste livro.
FILHA: Tudo bern. Continue. Por favor.
PAl: Acho que gostaria de chamar meu proximo livro de "Onde os
anjos temem caminhar". Todo mundo esta sempre querendo que
envolvera em
221
220
A visao do mundo - a epistemologialatente e parcialmente in consdente - que tais ideias geram em conjunto esta desatuaJizada de !res
maneiras:
a. Pragmaticamente. e claro que essas premissas e seus corohirios
levam a ganancia, ao supercrescimento monstruoso, aguerra,
Ii tirania e Ii poIU~ifO. Nesse sen lido, a falsidade de nossas premissas e demonstrada diariamente, e as estudantes est[o parcialmente cientes disso.
j'IT
meda e Odio.
222
223
Uma espocie de liberdade surge do reconhecimento do que eneeessariamente assim. Ap6s esse reconhecimento, vern urn conhecin;tento de
gomo agir. Voce so pode dirigir uma bicicleta depois que seus reflexos l'arcialmente inconseientes torilam conhecimento das leis de seu equilibrio
mOvel.
Devo agora solicitar que pensem de maneira mais tecnica e mais teo...
rica do que 0 normalmente requerido de conselhos em sua percepyao de
seu proprio lugar na historia. Nao vejo nenhum motivo pelo qual os
membros do conselho de uma universidade deveriam participar de preferencias antiintelectuais da imprensa. Realmente, for,a-los a ter essas
preferencias seria insultante.
Conseqiientemente, proponho-me a analisar 0 desequilibrado processo denominado "obsolescencia" que poderiamos chamar mais precisamente de "progresso 'unilateral". Ii claro que para que a obsolescencia ocarra devera existir, em outras partes do sistema, outras mudan,as comparadas com as quais 0 obsoleto seja de alguma forma retardado ou deixado para t"is. Num-sistema estatico, n[o haveria obsoleseen-
cia!
Parece que existem dais componentes no processo evolucionario,
e que 0 proeesso mental similarmente tem uma dupla estmtura. Deixem-me usar a evolu,ao biologica como uma alegoria ou um modele
para introduzir 0 que desejo dizer mais tarde sobre 0 pensamento, a
mudan,a cultural e a educ"9ao.
A sobrevivencia' depende de dois fenomenos contrastantes ou
processos, duas maneiras de atingir a "9ao adaptativa. A evolu,a-o tem
sempre que, na concepyao de lano, olhar em duas dire,~es: para dentro, na dire,ao das regularidades relativas ao desenvolvimento e afisiologia da criatura viva, e para fora na dire,[o das ex travagancias e solicita,6es do meio ambiente. Esses dois componentes necessilrios da vida
sao contrastantes de dois modos interessantes: 0 desenvolvimento inter
no ~ a embriologta ou "epigenese;"- e conservadora e requer que cada
coisa nova se adapte ou seja campattvel com as regularidades do status
o que
quero dizer com sobrevivencia e a manutenvao de urn estado Constante no deconer de gerac;:5es sucessivas. OUt em tennos negativos, quera me referir aa impedimenta da morte do maior $utema com 0 qual pO,&amO$ nO$
preocupar. A extinc;:io dos dinossauros fai trivial em termos galacticos. mas
isso mo representa conforto para eles. Nao podemos nos preocupar muito
com a sobrevivencia inevitivel 'de sistemis maiores do que nossa propria
ecologia.
224
tomia ou da fisiblogia - ficara claro que urn lade de sse processo de sele
,ao favorecera os novositens que nao perturb em a antiga situal'ao. Esse
0 conservadorismo minima necessario.
Contrastantemente, 0 mundo exterior esta constantemente mudan do e se preparando para receber criaturas que passaram por mudan
,as, quase insistindo em mudan,as. Nao existe animal ou planta que
possa "vir pronto", A organiz~ao interna insiste na compatibilidade
mas nunca 0 suficiente para 0 desenvolvimento da vida e do organismo.
Sempre a propria criatura tem que conseguir mudar seu proprio corpo.
Ela deve adquirir determinaqas caracteristicas somaticas atraves do uso,
do desuso, do habito, da priva,ao" e da alimenta,ao. Essas "caracteris
ticas adquiridas" nao deverao jamais, entretanto, ser transmitidas aprtr
Ie. Elas nao deverao ser diretamente incorporados ao DNA. Em termos
organizacionais, a injun,llo - por exemplo, de fabricar bebes com ombros
fortes que farao com que trabalhem melhor em minas de carvao - deved Ser transmitida atraves de 'canais, e 0 canal, hesse caso, e via sele~[o
externa .dos membras da nova ger",ao que tem (gra,as ao embaralhamento aleatorio dos genes e it cria,ao aleatoria da muta~llo) maior propensao para desenvolver' ombros fortes sob a pressao de ticabalhar em
mmas de carvao.
o corpo individual passa por mudan,as adaptativas quando 0 submetido a press6es externas, mas a sele,ao natural atua sobre 0 grup.o
de genes da popu/arfio. ObserveO), entre tanto, esse principio que os bibTogos freqiientemente nao percebem, de que e uma caractenstica adquirida denominada "trabalhar em minas de carvao" que estabelece 0 contexto para a sel"9[o das altera,6es geneticas chamadas de "propensao
amplificada para desenvolver ombros fortes". As caracteristicas adqui.
ridas nao so tornam sem importancia por nao serem levadase transmiti.
das pelo DNA. Ainda sao os htibitos que estabelecem as condi,5es para
a sele,ao natural.
E notem esse principio inverso de que a aquisi,ao de maus hiibi.
tos, nwn nivel social, certamente condiciona a contexto a uma sele~[o
de propensoes geneticas basicamente letais.
Estamos prantos agora para "bservar a obsolescencia nos processos mentais e C1!lturais.
Se voces desejam atender 0 praeesso mental, observem a evolul'ao
225
/
biologica; e inversamente, se querem compreender a evolu~lIo biol6gica, olbem para 0 pcoeesso menlal_
Chamei aten~ao mais adma para a circunstancia de que a se1.eCllO interna na biologia deve sempre enfatizar a compatibilidllde com 0 passado imediato e que no decorrer de urn longo tempo evolucionano 0 a sele~ao in lerna que determina as "homologias"que costumavam deJiciar
as ger~oes anteriores de biologos_ Ii a sele~ao in terna que 0 conservadora e esse conservadorismo apareee mais fortemente na embriologia e na
p'reserva~[o da forma abstrata.
o proeesso mental familiar atravos do qual urna taulologia' cresee e se diferencia em multiplos teoremas lembra 0 proeesso d. embriologi.
Resumindo, 0 conservadorismo esla baseado na coerencia e na
compatibilidade e esses caminham junll's com 0 que denominei acima
de rigidez do processo mental. E aqui que devemos procurar as raizes
das obsolescencias.
.0 paradoxo ou 0 dilema que nos toma perpleios e desalentados
'!!lando consideramos a hipotese de corrigir ou lutarcontra a obsQleSfOll::
cia 0 simpfesmenle 0 medo de que devamos perder a coerencia, a clareza, eompatibilidade e mesmo a sanidade, se abandonarmo.s 0 obsoleto.
Existe, entretanto, urn outro lado da obsolescencia. Claramente, se
alguma parle de urn sistema cuI turi "fica para lias", deve lI.!lVer um~
outra parte que evoluiu "depressa demais". A obsolescencia e0 contrasie
entre os dois componenles.' Se 0 atraso de uma parle e devido ametade
intema da sele~ao natur!,}, 0 normal entio supor' que as raizes de urn
"progresso" tao rapido - se voce quiser - serao encontradas nos proceS7
sos d. sere~ii'o externa.
Ii, seguramente, esse 0 precisamente 0 caso. ''0 tempo esta desarticulado" porque esses dois componentes da dire~ao do processo evolucionano estlio mutuamente desemparelbados: a imagin~lio passou muito a frente da rigidez e 0 resultado se pareee, para pessoas conservadoras
226
227
\
A regra na evoluyao biologica e clara: Os efeitos imediatos no funcionamento do corpo individual nunca poderao infringir a codifical'ao genetica individual. 0 grupo de genes dapopula~lio est. entretanto sujeito a
mudanl'a baseado numa selel'ao natural que reconhecera diferenl'as,
especialmente diferen9as na habilidade de atingir um funcionamento
mais adaptativo. A barreira que impede a hereditariedade "lamarckiana" pratege precisarnente a sistema de genes de uma mudanya nipida
demais na preseny de exigencias possivelmente c'prichosas do meio
ambiente.
Porern, nao ha uma barreira equivalente nas culturas, sistemas sociais e grandes universiilacfes. TnovayOes tomam-se adotaaas irrevetsiveImente no sistema que pragride, sem serem testadas em sua viabilldade
longo prazo: e mudanl"s necessarias slio evitadas pelo nucleo de individuos conserv.dores que noo tern. menor certeza de que essas mudanI'as especificas sejam as que deveriam ser evitad.s.
o conforto e desconforto individuais tomam-se as unicos criterios
de escolha da mudan9a social, e a contr.ste basico da represental'ao 16gic. entre a membra e a c.tegori. e esquecido .te que novas desconfortos sejam (inevit.velmente) criados pelo novo est.do de coisas. 0 medo
d. morte individual e da dar sugerem que seria "born" elimin.r doenI'a epidemic. e somente .pos 100 anos de medicin. preventiv. descobrimas que. populayao cresceu demais. E .ssim, par diante. A obsolescencia nao dever' ser evitad pen.s pel. aceleral'ao da mudan9a n. estrutur., nem pode ser evitada apenas pelo simples retardamento de altera1'00s funcionais. Est. claro que nem urn total conservadorismo nem
urn. completa ansiedade pela mudanl" sao apropriados. Uma combin.9ao dos dais Mbitos opostos da !)lente talvez fosse melhor do que urn
deles sozinho, m.s sistemas antagonistas estao notoriarnente sujeitos
a urn determinismo irrelevante. A' "for~a" relativa dos adversarios pr~
vavelmente regulamentara a decisao independentemente d. forI" relativa dos seus argumentos.
Nao e tanto 0 "poder" que 'corrompe mas sim 0 milO do "pader".
Fai obselVado acirna que 0 ~'poder", como a "energia", a "tensilo", e
a resto das metaforas quase fisicas devem causar desconfiatwa. e entre
elas, 0 "pader" e uma das mais perigosas. Aquele que ambiciona uma!
abstrayao m(tica deve sempre ser ins.ciavel! Como professores nlio deverjamos divulgar esse mito.
E dificil par. um .dversilrio ver alem d. dicotomia entre ganhar e
perder durante a combate. Ele est. sempre tentado, como um jogador
de x.drez, fazer uma manobra astuciosa para obter uma rapid. vit6-
228
I.
229
GLOSSARIO
tt.
l.
/'
233
232
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A palavra tumbleweed significa, em portugues, vmas especies de plantas sernelhantes ao amarilho. (N. da T.).
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