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I V A N T E I X E I R A
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IVAN TEIXEIRA
doutor em Literatura
Brasileira pela USP,
professor da ECA-USP,
autor de Mecenato
Pombalino e Poesia
Neoclssica (a sair pela
Edusp) e organizador
de uma edio
atualizada e anotada
da Arte Potica de
Francisco Jos Freire,
a partir do texto de
1759 (a sair pela Ateli
Editorial).
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O CONCEITO ENGENHOSO
EM GUIMARES ROSA
A partir da experincia do presente autor com esses tratadistas, talvez fosse
demonstrvel a hiptese de que Guimares
Rosa est para Leito Ferreira, assim como
Joo Cabral est para Gracin. Como os
artistas, os retores tinham tambm suas
preferncias de estilo e matria. No se trata de retomar aqui a inoperante separao
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REITERAES CUMULATIVAS
EM HAROLDO DE CAMPOS
Depois de Cabral a procura da agudeza
persistiu na literatura brasileira, dominando completamente o horizonte da Poesia
Concreta, cujo programa talvez pudesse ser
sintetizado pela frmula: muita agudeza e
pouco discurso. De modo geral, pode-se
afirmar que a agudeza fugiu da frase para
se abrigar na palavra. Na fase ortodoxa do
movimento, o tropo converteu-se em trocadilho, em trocadilho expansivo, na medida em que seus efeitos se alargaram pela
pgina, em projees tipogrficas e mudana de cores. O vocbulo dentro do vocbulo, slabas semelhantes em vocbulos
diferentes, imitao da geometria das coisas mediante a exploso tipogrfica dos
vocbulos enfim, trata-se da retomada de
um aspecto importante e pouco estudado
da poesia seiscentista, aspecto que hoje
praticamente s se conhece mediante a
censura neoclssica, sobretudo em Lus
Antnio Verney e Francisco Jos Freire.
Evidentemente, o tropo permaneceu na
Poesia Concreta, mas explorado isolada-
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O poeta
Ezra Pound;
abaixo, Henri
Gaudier-Brzeska,
Marble Cat
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acaso e das transgresses. Tudo em Galxias aponta para possibilidades imprevistas, mediante o domnio de um estranho
arsenal de procedimentos, manipulados
com invulgar percepo da corporeidade
dos vocbulos. A agudeza aplica-se sobretudo ao aspecto significante das palavras,
pois se tratava de sugerir e investigar significaes no codificadas. Nesse sentido, o
poeta rompeu com a noo consagrada de
copia rerum, isto , com o conjunto de argumentos retricos ou casos poticos armazenados pela tradio. Dos topoi ou lugares consagrados, aproveita apenas mnimas sugestes, melhor entendidas como
estmulos ou motivos para a experincia da
inveno (escolha da matria) em estado
de virgindade. Em outros termos, o poeta
pretende reinaugurar o ato de criao, estabelecendo um horizonte composto apenas
de possibilidades, jamais de certezas. Enfim, essa a verdadeira potica de Haroldo
de Campos, constantemente angustiado
entre as infinitas hipteses do acaso, sem
jamais apostar no consenso. Atrado pelas
experincias rosianas e joycianas (o Joyce
de Finnegans Wake), Haroldo de Campos
parece no ter se preocupado com significados fora do texto, pois partiu da idia de
que a semntica literria resulta do poeta e
seu convvio com as palavras, em constantes fuses, refuses e transgresses.
As Galxias compem-se de fragmentos em longos versos sem nenhuma espcie
de pontuao. O poeta concebeu os fragmentos para serem lidos em qualquer ordem, exceto quanto aos de abertura e fechamento, que funcionam como um tnue
limite extrema liberdade dos fragmentos
internos. Os seiscentistas chamavam luz
agudeza. Por essa perspectiva, os textos
deste livro talvez pudessem ser entendidos
como um agrupamento de pontos luminosos, que resultam numa enorme reunio de
tropos e figuras, mutuamente atrados pela
corporeidade dos vocbulos que os compem. Essa idia talvez funcione como uma
possvel explicao do ttulo, que alude a
um conglomerado reiterante de imprevisibilidades lingsticas, rutilando na profuso de cores, sons, registros, idiomas,
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PARNTESE HISTRICO
Na poca do voto indireto, Mrio
Chamie fez escolhas polticas que o tornaram bastante esquecido, o que compreensvel mas no razovel. Houve ainda a polmica com os concretos, que deve ter auxiliado o relativo ostracismo do poeta. Em
alguns setores, como se ele no existisse.
Mas a prpria poesia est cheia de poltica.
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PERSPECTIVAS
Entre os autores mais jovens, a agudeza
converteu-se numa espcie de musa inacessvel, embora cobiada. O sumio da
agudeza talvez se deva crena na brevidade excessiva dos poemas, em que palavras
se sobrepem a palavras ou em que os espaos brancos se alternam com palavras,
como se nisso consistisse a hiptese de
experincias convincentes. Em certo sentido, o medo de escrever tomou conta dos
poetas, no obstante persista a busca da agudeza, da inteligncia imprevista e do procedimento engenhoso, sem o que os
seiscentistas prescreviam a morte da poesia. Se possvel observar um determinado
medo de escrever na poesia brasileira mais
recente, no se pode dizer que haja muita
coragem em escrever curto, com poucas
palavras e nenhuma generosidade expressiva ou experimental. Repetem-se os esquemas, sem muitas variaes; parece haver uma potica tcita, que inclui a retomada de algumas formas fixas, mas no pressupe o contato visceral com o idioma. H
inmeras excees (veja-se o caso das clssicas contribuies de Rgis Bonvicino e
Fernando Paixo), mas existe tambm uma
norma, implicitamente assumida. Num
outro extremo, valorizam-se atitudes su-
postamente sutis no trato com a poesia visual, algumas vezes com meras deformaes grficas de computador. Ainda a,
muitas vezes a musa se cala diante de invocaes surdas deusa distante. Em crtica de
poesia, a generalizao inoperante, mas
ajuda a enfrentar o problema da quantidade.
Por outro lado e apesar das limitaes, ultimamente os poetas tm dado o exemplo da
luta contra o silncio. H inmeras tentativas. Todos escrevem, muitos publicam. E
os crticos? Com raras excees, todos se
calam, preferindo o terreno seguro dos autores consagrados, em estudos prestigiosos e
sem risco. Todavia, preciso falar dos novos, dos novssimos. A coragem est com
eles, como sempre esteve com os artistas,
jamais com os crticos e professores, sempre espera de algo indiscutvel sobre que
falar. E as editoras? Rarssimas as que se
aventuram. Por isso, a exemplo do que acontece com a Editora 34 e com a Sette Letras,
deve-se destacar o recente trabalho delineado pela Ateli Editorial (Heitor Ferraz, Resumo do Dia; Jos De Paula Ramos, Sondas; Cac de Souza, Um Canto; Camilo
Guimares, Lembranas de Esquecer).
Dentro do limitado convvio do presente autor com os novos autores, no h como
omitir certas preferncias, ainda que sumrias, como simples indicador de preocupaes para uma futura tentativa de avaliao. Na poesia visual, Florivaldo Menezes
parece demonstrar agudeza singular, sobretudo em seu consagrado O Lago dos Signos, exposto na Primeira Mostra Internacional de Poesia Visual de So Paulo (Centro Cultural So Paulo, 1988), organizada
pelo poeta e terico Philadelpho Menezes
(autor do admirvel Clichet's). Trata-se
de um ready-made impresso em forma de
carto-postal. Isso confere ao trabalho uma
atraente dimenso pop, que intensifica seu
despojamento e singeleza, na medida em
que favorece a percepo clara de sua concepo engenhosa. Aludindo a Tchaikovsky, o texto (com signos no-verbais)
simula um discurso ambguo em que cisnes se transformam em notas musicais (ou
vice-versa), numa suave navegao por supostas pautas musicais que se convertem
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Florivaldo
Menezes, O Lago
dos Signos. No
verso, o
comentrio
do autor: "Um
ready-made
visumelopaico.
A msica
romntica 'O
Lago dos Cisnes',
de Tchaikovsky,
vista, aqui, por
superposio da
nvoa do papel
vegetal [...]
Signos largados
i-chingando a
Natureza: Vida
breve, arte semibreve!"
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BIBLIOGRAFIA
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FREIRE, Francisco Jos. Arte Potica ou Regras da Verdadeira Poesia. Lisboa, Oficina Patriarcal de
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KENNER, Hugh. The Pound Era. Berkeley and Los Angeles, University of California Press, 1971.
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TINDALL, W. Y. James Joyce: His Way of Interpreting the Modern World. New York and London,
Charles Scribners Sons, 1950.
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