Stuart Hall
Stuart Hall
Stuart Hall
STUART HALL
Eliane Abel de Oliveira
Curitiba
Abril/2009
1 INTRODUÇÃO
O presente ensaio tem a intenção de relacionar as questões de
identidade cultural apontadas por Stuart Hall com as questões de identidade
cultural de professores de escolas públicas. Para isso buscou nos livros “A
identidade cultural da pós- modernidade” e “Da Diáspora: Identidades e
mediações culturais” de Stuart Hall; “Identidade e diferença” de Tomaz Tadeu
da Silva e nos artigos “Os professores e a fabricação de identidades” de Martin
Law e “Uma escola com muitas culturas: Educação e identidade, um desafio
global” de Moacir Gadotti um embasamento teórico a respeito do assunto.
Nos anos 1950, após ter trabalhado na Universities and Left Review, Hall
juntou-se a E. P. Thompson, Raymond Williams e outros para fundar a revista
New Left Review. Sua carreira deslanchou após co-autorar com Paddy
Whannel “The popular arts” em 1964. O convite feito por Richard Hoggart para
que Hall entrasse no Birmingham Center for Cultural Studies foi um resultado
direto dessa publicação.
Em 1951 Hall mudou-se para Bristol, aonde viveu antes de ir para
Oxford. Estudou como bolsista na Universidade de Oxford, onde obteve o seu
mestrado. Trabalhou na Universidade de Birmingham e entre 1979 e 1997, Hall
foi professor na Open University.
Em 1968 Hall tornou-se o diretor dessa unidade situada na Universidade
de Birmingham. Ele escreveu muitos artigos influentes nos anos que seguiram,
incluindo: Situating Marx: Evaluations and Departures (1972), Encoding and
Decoding in the Television Discourse (1973). Ele contribuiu também para o livro
Policing the Crisis (1978).
Após ser nomeado professor de Sociologia na Open University em 1979,
Hall publicou uma série de livros influentes, incluindo: The Hard Road to
Renewal (1988), Resistance Through Rituals (1989), The Formation of
Modernity (1992), Questions of Cultural Identity
O trabalho de Hall é centrado principalmente nas questões de
hegemonia e de estudos culturais. Hall concebe o uso da linguagem como
determinado por uma moldura de poderes, instituições, política e economia.
Essa visão apresenta as pessoas como “produtores” e “consumidores” de
cultura ao mesmo tempo.
Seus trabalhos – como os estudos sobre preconceito racial e mídia –
são considerados muito influentes e fundadores dos contemporâneos estudos
culturais como no livro “A identidade cultural da pós modernidade”, em que Hall
busca avaliar se estaria havendo uma crise de identidade cultural, o que
consiste tal crise e quais as consequências da mesma no mundo pós moderno.
3 CONCEPÇÕES DE IDENTIDADE
Para o estudo das identidades, Hall aponta 3 concepções muito
diferentes de identidades:
a) Sujeito do Iluminismo: esta concepção está baseada no sujeito como
sendo totalmente centrado, cujo centro consiste num centro interior que
surge no nascimento e se desenvolve ao longo de sua vida, porém sua
essência permanece a mesma. O sujeito do Iluminismo era descrito
como masculino.
b) Sujeito Sociológico: com a crescente complexidade do mundo moderno,
cresce também a consciência de que o núcleo interior do sujeito não é
autônomo e auto-suficiente, mas formado pela interação com outras
pessoas, mediando seus valores, sentidos e símbolos. Nesta
concepção, já aparece a noção masculino e feminino. Nesta concepção
a identidade é formada pela interação entre o eu e a sociedade onde o
eu é modificado a partir dos mundos culturais exteriores.
c) Sujeito pós-moderno: com o processo de mudança dos mundos
culturais, surge o sujeito pós-moderno conceituado como não tendo uma
identidade fixa. Sua identidade é transformada continuamente em
relação aos sistemas culturais que nos rodeiam.
4 MODERNIDADE TARDIA
Hall utiliza o termo “modernidade tardia” para se referenciar ao período
pós anos 60. Para ele, este é um marco na mudança estrutural da sociedade e,
por conseguinte, uma mudança na identidade cultural das sociedades. Para
isso aponta cinco grandes avanços ou descentramentos na teoria social:
O primeiro avanço foi o pensamento marxista: nos escritos de Karl Marx
encontramos afirmações que nos levam a interpretar que “os indivíduos não
poderiam de nenhuma forma ser os autores ou os agentes da história, uma vez
que eles podiam agir apenas com base em condições históricas criadas por
outros e sob as quais eles nasceram, utilizando os recursos materiais e de
cultura que lhes foram fornecidos por gerações anteriores” (Hall, 2002: 34-5).
O segundo grande avanço foi a descoberta do inconsciente por Freud,
onde ele afirma que a identidade é formada ao longo do tempo através de
processos inconscientes e não é algo inato. Para Freud a identidade é sempre
incompleta e por isso está sempre em processo, sendo formada
constantemente. O termo mais correto seria identificação ao invés de
identidade, pois é um processo em andamento.
O terceiro descentramento é associado ao trabalho de Ferdinand de
Saussure. Para este autor, nós não somos autores de nossas afirmações uma
vez que a língua é um sistema social e não um sistema individual. Para
Saussure, a língua pré-existe a nós.
O quarto descentramento ocorre no trabalho do filósofo e historiador
Michel Foucault. Em seus estudos, Foucault produziu uma espécie de
genealogia do sujeito moderno, atribuindo ao poder disciplinar uma identidade
cultural onde o sujeito torna-se dócil e maleável. O filósofo também aponta um
paradoxo: “quanto mais coletiva e organizada a natureza das instituições da
modernidade tardia, maior o isolamento, a vigilância e a individualização do
sujeito individual” (Hall, 2002: 43).
O quinto grande avanço está no impacto do feminismo que surge tanto
como uma crítica teórica como um movimento social. O movimento feminista
trouxe à luz da sociedade o que é conhecido como política da identidade, ou
seja, uma identidade para cada movimento.
7 O GLOBAL E O LOCAL
O processo de globalização difundiu o consumismo contribuindo para o
que Hall denomina supermercado cultural e formando uma homogeneização
cultural. O que nos leva a refletir: as identidades culturais estão sendo
homogeneizadas? Responder afirmativamente esta pergunta nos leva a um
resultado simplista e unilateral.
Em relação a este assunto, Hall (2002: 77-8) aponta para três contra-
tendências principais:
a) Juntamente com o impacto global um novo interesse pelo local: é
improvável que a globalização acabe com o local, o mais correto é
afirmar que a partir dela, se construam novas identidades globais e
novas identidades locais;
b) A globalização é desigualmente distribuída ao redor do mundo: a
chamada geometria do poder;
c) Para se criticar a homogeneização cultural deve-se saber o que é
afetado por ela: apesar de se chamar globalização ainda há uma
diferença entre as relações de poder oriental e ocidental, podendo-se
inclusive afirmar que a globalização é essencialmente um fenômeno
ocidental.
8 CONCLUSÃO
Conhecer os estudos de Stuart Hall faz-se necessário para quem se
aventure a estudar o campo dos estudos culturais. Por sua experiência tanto
acadêmica quanto de vida, a contribuição do autor para os estudos neste
campo, imprime sua marca nos campos teórico e político. Hall se mostra
relevante a partir de seu engajamento com a sociedade contemporânea
promovendo debates como a globalização, o multiculturalismo, a participação
negra e sua inserção na sociedade.
9 REFERÊNCIAS
GADOTTI, Moacir. Uma escola com muitas culturas: Educação e identidade,
um desafio global. In: Revista FAEEBA, Salvador, n. 4, p. 15-21, jul./dez. 1995.