P-020 - Ameaça A Vênus - Kurt Mahr
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AMEAA A VNUS
Autor KURT MAHR
Digitalizao VITRIO
Reviso ARLINDO_SAN
Perry Rhodan e Reginald Bell, os expoentes mximos de uma humanidade que avana impetuosamente, foram as nicas pessoas submetidas a um tratamento realizado no planeta Peregrino, que por um espao de sessenta e dois anos interrompe qualquer processo de envelhecimento. Com isso um velho sonho dos homens encontrou sua realizao nesses dois terrqueos: o sonho da imortalidade. Mas tudo tem seu preo. E esse preo tem de ser pago no momento em que a Stardust-III volta a penetrar no sistema solar terreno.
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Perry Rhodan Chefe supremo da Terceira Potncia. Reginald Bell Amigo ntimo e confidente de Perry Rhodan. Coronel Freyt Privado de toda iniciativa por um bloqueio hipntico. General Tomisenkow Que recebeu ordem de conquistar um planeta. Major Deringhouse Que constatou o fato de que as armas automticas de origem terrena podem representar um perigo real para os produtos da supertcnica arcnida. Tako Kakuta O nico que pode vencer o bloqueio do crebro positrnico. Crest Que sofreu uma decepo cruel em suas esperanas exageradas.
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Com ele e ao redor dele, a sala de comando redonda da gigantesca nave passou a ser. Os quadros de comando e de controle, as telas, as poltronas, os instrumentos de medio emergiram do cinza sem contornos, resultante da transio, e recuperaram as formas usuais. Perry Rhodan foi o primeiro a superar o choque da transio. Seu crebro voltou a funcionar praticamente no mesmo instante que o rel do dispositivo positrnico: avaliou a situao e fez com que os olhos absorvessem o quadro exibido pelas telas. Reginald Bell, que naquele vo desempenhava as funes de primeiro-oficial e copiloto, estava cado sobre o painel coberto de instrumentos. Levantou-se com um gemido e, com uma expresso de espanto, lanou os olhos arregalados em torno de si. Onde... o que...? Ah, sim! sempre a mesma coisa. Durante a transio a atividade neurnica do organismo humano era reduzida a um mnimo. O fim da transio representava para o indivduo a mesma coisa que o despertar de um sono leve ou de um ligeiro desmaio. A posio! ordenou Rhodan com a voz spera. Verificar dados. Fornecer a trajetria de um vo normal. Bell comeou a se mover. Os comandos de Rhodan tambm sobressaltaram os outros tripulantes que, profundamente reclinados em suas poltronas, ou seguros s bordas das mesas, ainda estavam empenhados em superar o choque do hiper-salto. A atividade voltou a tomar conta da central de comando. Os comunicados foram rpidos e precisos. Posio: R = 6:10l2 m. Pi = 8120. Teta = 113. Ouviu-se o tilintar caracterstico do registrador positrnico que, no carto introduzido no aparelho, lanou um ponto vermelho que designava a posio da nave. Diferena dos dados: R = -108 m. Pi = +11. Teta = nenhuma diferena. Um sorriso apressado passou pelo rosto de Rhodan. Mais exato no possvel resmungou Reginald Bell. Solicitaram-se os dados da trajetria para o prosseguimento do vo anunciou um dos oficiais-navegadores, e acrescentou, em tom menos rgido: A esto!... *** A Stardust-III se encontrava a seis bilhes de quilmetros do Sol e se deslocava em linha reta em direo ao sistema, ligeiramente inclinada em relao trajetria dos planetas. Sara do hiperespao com uma velocidade correspondente a setenta e cinco por cento da velocidade da luz; por ordem de Rhodan a velocidade foi aumentada para noventa e cinco por cento. A Terra se encontrava do lado oposto do sistema. Segundo os clculos de trajetria, a nave passaria pelo Sol a uma distncia de menos de quarenta bilhes de quilmetros. Vnus e Marte se encontravam em oposio a esse lado do Sol. A transio decorrera perfeitamente, com um erro muito inferior ao esperado.
Ningum se deu ao trabalho de verificar se a oposio entre Marte e Vnus se harmonizava com a data registrada no calendrio de bordo, existente acima do assento do piloto. *** Chamado para a central de Gobi! O oficial de comunicaes ligou o hiper-comunicador e regulou a energia de emisso na potncia necessria para fazer a mensagem atingir a Terra. Quero falar com o coronel Freyt completou Rhodan. Observou o jovem oficial que manipulava o aparelho complicado. Todos esto cansados, pensou. Est na hora de descansarmos. Essa histria do Peregrino foi mais do que os rapazes podem agentar. Vez por outra olhava para a grande escotilha de entrada. Reginald Bell surpreendeu um de seus olhares e um sorriso amargo se esboou em seu rosto. No querem aparecer, no ? Rhodan sacudiu a cabea. Ainda bem. Por mais que me esforce, sempre tenho a impresso de ter feito um papel feio com os arcnidas. Bell fez um gesto de desprezo. A culpa no sua. Foi ele quem decidiu que nem Thora nem Crest, nem qualquer outro arcnida, jamais poder ser submetido ao tratamento com o fisiotron. Ele... Que nada! interrompeu Rhodan em tom exaltado. sempre ele. Quase chegamos a acreditar que ele Deus, no ? No mesmo instante ouviu-se a voz rouca e carregada de pnico do jovem oficial de informaes. A Terra no responde! De um instante para outro Rhodan se esqueceu daquilo que ainda h pouco o deixara nervoso. Deu dois ou trs passos e se colocou ao lado do hipercomunicador, examinando os controles do mesmo. Est tudo em ordem disse o oficial se nisso que est pensando. O instrumento funciona, e pelo eco pode ver que a mensagem est chegando ao destino. Alguma coisa aconteceu na Terra. Rhodan percebeu. Deixe por minha conta! gritou para o oficial de comunicaes. O jovem oficial se levantou do assento. Rhodan sentou diante do aparelho. Seus dedos ligeiros passaram pelo teclado e introduziram a mensagem automtica no aparelho. Viu o ponto verde na lmina do oscilador e esperou. Nada. A Terra continuava muda. Outro chamado. Mais uma vez a tecla de chamada automtica foi comprimida vigorosamente. O ponto vermelho. E logo surgiu a luminosidade tremeluzente na tela. Viu-se o rosto do coronel Freyt, de incio desconfiado, mas logo com os olhos brilhantes e a boca sorridente, quando reconheceu seu interlocutor. Ora, chefe! voc mesmo?
Rhodan no estava disposto a enfrentar uma cena de boas-vindas. O que houve? Apresente um relato em condies e diga por que tivemos de chamar trs vezes antes que voc respondesse. O rosto de Freyt enrijeceu. O sorriso desapareceu. Mas os olhos ainda brilhavam. o coronel Freyt de Galxia relatou. Pronto para receber a mensagem. No respondi aos primeiros dois chamados porque pensava que se tratasse de uma armadilha. Uma armadilha?! Sim. Pensei que algum quisesse descobrir nossa posio. Recebi instrues para ter cautela no uso do hipercomunicador. Rhodan confirmou com um aceno de cabea. Sei. Mas voc bem poderia imaginar que voltaramos a chamar mais ou menos a esta hora, no ? No, no poderia. No estava em condies de adivinhar que voc teria tantas dificuldades com sua viagem de regresso. Isso seria... Que dificuldades? gritou Rhodan. Foi a viagem de regresso mais tranqila que j tive. Freyt no se perturbava com muita facilidade. Para evitar mal-entendidos, talvez tivesse sido conveniente que, depois de sua ltima mensagem, houvesse me informado sobre sua nova posio, desde que as condies permitissem, naturalmente. Rhodan enrugou a testa. Oua, Freyt, quantas mensagens tenho de lhe enviar num ms para que esteja informado sobre minha situao? Acredito... Num ms? interrompeu Freyt aos gritos. Afinal, sua ltima mensagem foi recebida h muito mais de um ms! Rhodan se sobressaltou. Hoje no faz um ms e alguns dias da ltima mensagem?! Percebia-se que Freyt comeava a duvidar da sanidade mental de Rhodan. Este percebeu os olhos semicerrados de seu interlocutor e comeou a compreender que, no entretempo, havia acontecido alguma coisa de que ainda no sabia. Hoje disse Freyt, esforando-se para conservar a calma faz quatro anos e meio! A palestra foi conduzida em tom elevado, de modo que alguns dos oficiais que se encontravam nas proximidades conseguiram acompanh-la. Rhodan sentiu o silncio angustiante que de repente se espalhou pelo recinto. Teve algumas idias bastante aventurosas enquanto encarava o rosto de Freyt e esperava que os homens que se encontravam atrs dele se acalmassem. Muito bem disse depois de algum tempo. Sua voz parecia to indiferente que qualquer um se indagaria se um salto de quatro anos e meio no significava nada para ele. Parece que, por algum motivo, deixamos alguns anos de fora. Como que as coisas tm sido para voc nesse meio tempo? Freyt respirou aliviado. Receara complicaes. Mal respondeu segundo a verdade dos fatos. A Terra est convencida de que no pode contar mais com voc. O Bloco Oriental calcula que isso representa uma chance para ele, enquanto a Federao Asitica e a OTAN continuam a se esforar para formar um verdadeiro governo mundial. No Bloco Oriental houve uma reviravolta. Tudo indica que mais cedo ou mais tarde acabar havendo uma terceira guerra mundial. At
agora no fiz qualquer esforo para interferir na situao, porque... Rhodan interrompeu-o com um gesto. Est bem, Freyt. Pousaremos no mximo dentro de uma hora, e ento veremos o resto. Interrompeu a comunicao e girou a poltrona de tal forma que olhou para Bell. Este parecia desorientado. Onde estivemos todo este tempo? perguntou. Rhodan deu de ombros. Teremos de quebrar a cabea sobre isso... mais tarde. Talvez no planeta Peregrino o fluxo do tempo seja diferente. O que importa no momento que, segundo parece, na Terra muitas coisas no so como deviam ser. *** Alguns minutos depois, a Stardust-III passou pela rbita de Marte. O planeta se encontrava a cerca de vinte milhes de quilmetros de distncia. A nave disps-se a cruzar a rbita da Terra apenas a rbita, pois a prpria Terra se encontrava alm do Sol quando Rhodan recebeu um chamado do setor de vigilncia. A voz que transmitiu a mensagem parecia espantada. Localizamos uma poro de matria. Qual a posio? O interlocutor de Rhodan forneceu os dados. Em relao a ns acrescentou isso fica alm de Vnus. Prossiga nas observaes! ordenou Rhodan. Avise assim que obtiver dados mais precisos. Desligou o aparelho e fixou a tela que se encontrava sua frente. Uma localizao de matria junto a Vnus. No havia nada que fosse mais precioso para a Terceira Potncia, nada de que Rhodan precisasse tanto como da base em Vnus com suas poderosas armas defensivas e o gigantesco crebro positrnico. Ser que dessa localizao se devia concluir que algum se preparava para pousar em Vnus? Um sorriso amargo se esboou no rosto de Rhodan. Acreditara que poderia regressar ao lar em triunfo. Batera um inimigo poderosssimo, os tpsidas, encontrara o segredo da vida eterna, adquirira conhecimentos que nem sequer estavam ao alcance de Crest e Thora, os dois arcnidas, e obtivera a garantia do ser do planeta Peregrino de que Humanidade seria concedido o domnio da galxia. Eram motivos mais que suficientes para transformar a viagem de regresso numa marcha triunfal. O homem do posto de observao voltou a chamar, esbaforido: Novos resultados: o que temos pela frente so pelo menos quatrocentos objetos. Trata-se de naves espaciais ou coisa parecida. So bem pequenas. O volume de cada objeto no ultrapassa trinta mil metros cbicos. Aproximam-se de Vnus. Tudo indica que pretendem pousar l. Rhodan se sobressaltou. Vamos mudar de rota, meus amigos! disse em tom spero. Voaremos em direo a Vnus. Neste instante a nave entra em estado de rigorosa prontido.
Sem olhar, abaixou a chave de alarma. O uivo das sereias encheu os longos corredores e as salas da gigantesca nave. A Stardust-III havia retornado ao seu sistema planetrio. A primeira coisa que teria de fazer era abrir os tampos dos compartimentos em que se encontravam as peas de artilharia e mostrar ao inimigo que tipo de adversrio teria que enfrentar. *** O coronel Freyt no sabia de nada. Rhodan o informou sobre a mudana de rota, no mesmo instante em que a Stardust-III entrou em sua nova trajetria. No parecia muito satisfeito; mas sabia que Vnus era importante. Na central de Gobi no havia sido observada qualquer movimentao no espao. Ningum saberia dizer quem estava fazendo das suas na rea de Vnus. Rhodan era o nico que tinha suas suposies. Por enquanto as mesmas ainda lhe pareciam um tanto temerrias; mas no havia outras. Freyt no teria deixado de detectar uma frota de quatrocentas naves que penetrasse no sistema solar terreno, vinda do hiperespao. Dali se conclua que a mesma no vinha do hiperespao. O coronel Freyt recebeu instrues para se manter na expectativa. *** O general Tomisenkow observou os trabalhos de montagem de sua barraca. Usava roupa leve, de acordo com as condies climticas daquele mundo. Trajava calas curtas e camisa bem aberta no peito. As ombreiras com as platinas haviam escorregado para a frente e balanavam por cima da clavcula. Tomisenkow tirou o bon e enxugou o suor da testa. Depois olhou para seu ajudante. Que tempo horrvel, no ? O ajudante se apressou em assegurar que o tempo realmente estava horrvel. Vinha de Sebastopol, onde o tempo no vero no era muito diferente daquele lugar. Mas o general Tomisenkow passara a maior parte de sua vida em Ochotsk, e naquele lugar as pessoas sentiam frio at no vero. No convinha contrariar o general Tomisenkow, fosse no que fosse. No demoraremos em nos livrar disto prosseguiu Tomisenkow. A no precisaremos mais enxugar o suor a cada trinta segundos. Nesse instante, um homem com uma folha de papel na mo saiu correndo por entre as barracas que estavam sendo montadas. Uma mensagem! gritou de longe. Uma mensagem para o general. Tomisenkow se virou. Passe para c resmungou. Num instante passou os olhos pelas poucas palavras da mensagem. O ordenana viu que seu rosto ficava vermelho. Por que ficam correndo de um lado para outro com este papel? gritou para seu ordenana. Por que no atiram? O ordenana ficou em posio de sentido. Vamos, corra! gritou Tomisenkow.
Diga-lhes que derrubem aquele objeto. O ordenana saiu correndo. Tomisenkow pegou seu ajudante pelo brao e arrastouo consigo. Localizaram alguma coisa explicou. No incio pensaram que se tratasse de um corpo celeste, por causa do tamanho. Acontece que seus movimentos esto sendo dirigidos. Agora querem que eu lhes diga o que devem fazer. Lanou um olhar matreiro para seu ajudante. Sabe o que ? perguntou. No, general. Pois eu lhe digo. Andaram falando muito naquele major americano, o tal Perry Rhodan. Est lembrado? E tambm naquela nave gigantesca em que anda passeando pelo espao. Acho que ficou sabendo de nossa misso em Vnus mais cedo do que espervamos, e agora quer estragar nossa festa. O ajudante ficou plido. Perry Rhodan? Tomisenkow confirmou com um vigoroso aceno de cabea. Provavelmente. Sempre desejei um encontro com ele. Parece que chegou a hora. Naquele instante o solo comeou a ressoar. Longe dali, no meio da selva, oito foguetes defensivos se puseram a caminho, subindo com um uivo ao cu encoberto de Vnus. Tomisenkow riu. Ficar admirado com a recepo calorosa que lhe estamos preparando. *** Pouso dentro de quatro minutos. Verificar os envoltrios protetores. Em ordem! Rhodan olhou em torno. Na sala de comando s havia quatro homens, alm dele mesmo e do primeiro-oficial Reginald Bell. Os outros tinham retornado s suas posies junto tripulao, nos postos de observao e de combate. O cu nublado de Vnus se estendeu nas telas. Escureceu. Mas os aparelhos infravermelhos e de microondas captaram a superfcie daquele planeta quente coberto de selvas. Surgiu o delta de um rio, que parecia se aproximar vertiginosamente do observador. Percebeu-se o litoral, uma clareira na selva. Localizao! Foguetes de combate! Um raio ofuscante surgiu nas telas. Era branco-azulado e doa nos olhos surpresos. Mas no se ouviu o menor rudo. Imperturbvel, a gigantesca nave prosseguia na sua rota. Bell anunciou com a voz indiferente. Explosivo nuclear, detonador de fisso. Potncia de um megaton de TNT. Virou-se e indagou perplexo: O que ser isso? Rhodan sorriu, divertido. Outro raio passou pela tela de imagem. O que poder ser isso, que dispara foguetes antiquados com um poder explosivo desses contra uma nave espacial? Deixou a resposta por conta de Bell. Chamou o encarregado do posto de observao e soube que as trajetrias dos foguetes haviam sido fixadas at o ponto de origem.
Vinham do continente polar norte, de um ponto situado pouco alm do litoral. Os postos de combate esperaram em vo pela ordem de abrir fogo. Rhodan decidiu outra coisa. Assumiu a direo da Stardust-III e desceu quase ao nvel do mar. Depois deslocoua em alta velocidade em direo ao litoral do continente norte. Perry Rhodan observou a superfcie imvel do oceano e viu a luminosidade azulada que envolvia as capas protetoras da nave, j que a Stardust-III desenvolvia velocidade tamanha que o impacto das capas protetoras ionizava as molculas do ar e fazia com que brilhassem. Na luz turva do meio-dia de Vnus via-se o trao escuro da costa longa e pouco recortada. Atrs dela comeava a selva. *** Tomisenkow praguejou. Dispare outra salva! gritou para o oficial de armas. Seja qual for a capa protetora, basta bombarde-la o suficiente para faz-la ceder. Acontece que Tomisenkow no tinha a menor idia sobre o que seria uma sobrecarga para as capas protetoras da Stardust-III. Os cem foguetes nucleares de que dispunha nada representavam; nem mesmo mil. O oficial de armas ps-se em movimento. Atravs do pequeno transmissor porttil deu ordens lacnicas ao pessoal que equipava as rampas de foguetes. Foi quando os homens encarregados do radar anunciaram outra surpresa. O inimigo vem em nossa direo. A velocidade de cerca de quinze quilmetros por segundo... A nave enorme! A bola chamejante foi crescendo. No momento em que acreditava que dentro de um instante se encontraria por cima do acampamento, Tomisenkow percebeu como tinha subestimado seu tamanho. Continuou a crescer por mais trs ou quatro segundos. Depois se encontrava diante do acampamento como se fosse uma montanha que cuspia fogo, passou por cima e... Ento veio o fim do mundo. Os tmpanos de Tomisenkow deixaram de funcionar quando foram atingidos pelo rudo ensurdecedor do primeiro choque. No viu mais nada, porque os relmpagos o cegaram. Mas sentiu nitidamente que uma fora irresistvel fez com que perdesse o apoio dos ps, ergueu-o e atirou-o para longe. Sentiu uma chicotada no rosto quando foi arrastado por entre os fios de um telefone de campanha, e pouco depois o impacto doloroso sobre uma aresta dura. A pancada expeliu o ar dos seus pulmes. Fez um esforo desesperado para se erguer sobre os joelhos. Depois perdeu a conscincia. Quando recuperou os sentidos, no tinha a menor idia sobre o tempo que se passara. Seu relgio de pulso havia desaparecido. Levantou-se. Apesar da dor aguda que sentia no peito, respirou profunda, mas cautelosamente, e lanou os olhos em torno. O que viu ultrapassou seus piores temores. O acampamento no existia mais. A selva estava modificada. Uma faixa de vrios quilmetros de largura se abria em meio a ela. Comeava ao sul, passava pelo lugar em que fora montado o acampamento, pelas posies de embasamento dos foguetes e pelo campo de pouso da frota espacial e prosseguia em direo ao norte.
Era uma reta perfeita, que parecia ter sido traada por um gigantesco rolo compressor. Tomisenkow constatou, admirado, que havia situaes em que era perigoso ceder aos sentimentos. Movimentou seu corpo de touro e ps-se a examinar as pessoas que com ele se encontravam na pequena clareira quando o desastre desabou sobre todos. O oficial de armas estava morto. Mas no ajudante surgiram sinais de vida, depois que Tomisenkow o sacudira bastante. Aps algum tempo abriu os olhos e encarou o general, todo perplexo. Levante! gritou Tomisenkow. Entendia perfeitamente suas prprias palavras; mas o ajudante sacudiu a cabea, confuso, e passou as mos pelas orelhas. Tomisenkow sabia o que fazer numa situao dessas. Comprimiu a testa contra a do ajudante e repetiu a ordem: Levante! Conseguiu o efeito desejado. Os sons foram transmitidos atravs da vibrao dos ossos do crnio. O ajudante entendeu e se levantou de um pulo. Tomisenkow fez um movimento amplo do brao em direo ao acampamento. Depois saiu andando. O ajudante seguiu na direo oposta. A procura pelos sobreviventes teve incio. O general Tomisenkow trouxera dez mil homens para Vnus. Era uma diviso de elite. Ainda encontraram oito mil. Destes, seis mil estavam gravemente feridos, e os restantes mais ou menos machucados. Todos tinham perdido a audio. Quando tinham algo a dizer, comunicavam-se por escrito ou comprimiam as testas uma contra a outra. Das quinhentas naves com que a diviso pousara s oitenta continuavam de p. O resto fora derrubado pelo torvelinho; algumas chegaram mesmo a ser arrastada e atiradas em meio selva mais ao norte. O rastro da tempestade tinha uns dez quilmetros de largura. No centro, havia uma faixa queimada de pouco menos de um quilmetro de largura. A terra derretida irradiava um calor insuportvel. No momento, Tomisenkow no poderia atravessar essa faixa para entrar em contato com os homens que se encontravam do lado oposto. O que foi isso? Era esta a nica pergunta formulada naquelas horas. O nico que tinha uma idia clara da situao era Tomisenkow. Tinha coisa mais importante a fazer do que informar seus homens de como subestimara o poderio de Rhodan. O acampamento ou melhor, o que ainda sobrava dele teria de ser transferido. Era de recear que Rhodan voltasse, e Tomisenkow ainda no estava convencido de que teria de capitular. As selvas de Vnus eram muito extensas. Nelas poderiam ser escondidas centenas de divises, de tal forma que nenhum inimigo conseguiria encontr-las. Tomisenkow deu prova de seu talento de organizador. Muito embora perto de seis mil de seus homens estivessem to gravemente feridos que no conseguiam se deslocar por suas prprias foras, e embora se tivesse de consumir o triplo do tempo usual para fazer com que os ouvidos ensurdecidos entendessem qualquer comando, o incio da transferncia no demorou mais de duas horas a partir da catstrofe. As naves que ainda se encontravam intactas transportaram a maior parte dos homens gravemente feridos. O resto foi carregado pela selva sobre macas grosseiras Para os homens que se encontravam alm da faixa de terra incandescente foram
deixadas indicaes sobre o lugar ao qual teriam de se dirigir. O destino de Tomisenkow era uma cordilheira situada ao noroeste. No distava mais de duzentos quilmetros do acampamento; mas, face aos meios primitivos de locomoo de que dispunham, Tomisenkow calculou que levariam pelo menos uma semana do tempo terreno para atingi-la. Foi o ltimo a abandonar o acampamento, juntamente com o ajudante e alguns oficiais de elevada patente. A evacuao decorrera sem incidentes e no demorara mais que dez horas. Nesse meio tempo os tmpanos haviam recuperado parte de sua capacidade, e os homens podiam conversar, embora aos gritos. A curiosidade e a insegurana dos homens crescera tanto que Tomisenkow julgou prefervel romper seu silncio e informar os oficiais sobre o que realmente havia acontecido. Suponho que todos tenham notado aquela esfera gritou. No existe a menor dvida de que era a nave espacial que Rhodan usa em suas grandes viagens. Mas tinha pelo menos um quilmetro de altura! objetou algum. Tomisenkow balanou a cabea. Mais ou menos. O que nos atingiu no foi nenhuma arma especial. O posto de radar informou no ltimo instante que a nave se deslocava a uma velocidade de cerca de 15 km/s. Isso quase cinco quilmetros mais que a velocidade de um meteorito que penetra na atmosfera terrestre, vindo do espao csmico. O ar no tem tempo de se desviar de um objeto desses. comprimido. E a compresso to intensa que faz com que as molculas emitam radiaes ou sejam mesmo ionizadas. Ao mesmo tempo a compresso do ar produz uma elevao instantnea e considervel da temperatura. Fez um gesto vago em direo faixa de terra incinerada e continuou a gritar: Vejam! Uma pergunta permanece em aberto: Como que Rhodan consegue que o ar se torne incandescente, e sua nave no? No posso fornecer qualquer informao exata a este respeito. Sabemos que a nave est provida de campos energticos protetores de elevada potncia. Provavelmente os mesmos esto em condies de absorver os efeitos nocivos de um vo desse tipo. Fez uma pausa, aguardando perguntas. No houve nenhuma. Devemos nos apressar sugeriu Tomisenkow. Rhodan no se far esperar por muito tempo. Sabe perfeitamente quanto tem a perder em Vnus. Vamos lhe preparar uma recepo bem calorosa! *** A uma velocidade de 15 km/s o olho humano no tem capacidade de perceber e fixar detalhes. Rhodan no tinha a menor idia sobre o lugar e o momento em que a Stardust-III passara por cima do acampamento inimigo. Mas os instrumentos automticos haviam tirado fotografias, e no haveria nenhuma dificuldade em obter todos os dados interessantes a partir das mesmas. A bordo da nave ainda se procurava adivinhar quem teria sido o inimigo que conseguira pousar em Vnus, to perto da base preciosa que se encontrava naquele planeta. A nica pessoa que poderia dar informaes a este respeito permanecia num mutismo total. Aos poucos foi desacelerando a imensa nave, e numa curva suave dirigiua para o complexo montanhoso sob cujas encostas rochosas se situava a base.
Mas subitamente a Stardust-III foi detida a cerca de quinhentos quilmetros da mesma. O efeito foi violento, mas no representou qualquer perigo para a nave. Os neutralizadores gravitacionais absorveram o choque produzido pela frenagem. Dentro de poucos segundos a nave se imobilizou pouco acima da selva mida. Um tanto cansado, Rhodan se reclinou na poltrona. O nervosismo se espalhou em torno dele. Reginald Bell corria de um instrumento para outro, o telegrafista fez tentativas frenticas para transmitir o sinal codificado em hiperondas ao grande crebro positrnico situado no interior da fortaleza, e o terceiro-oficial indagou junto ao centro de comando tcnico se toda a aparelhagem estava em ordem. Nenhuma dessas providncias produziu o menor resultado. Finalmente Rhodan deu o comando: Descer! Vamos pousar! Bell olhou-o perplexo. O que houve? Por que no podemos entrar? Porque fomos cautelosos demais respondeu Rhodan com a voz cansada. No momento se limitou a essa resposta. Observou atentamente como a Stardust-III descia em direo ao solo. A floresta densa, de cerca de quarenta metros de altura, desmoronou como se fosse de capim, sob o peso da nave de oitocentos metros de altura. Os suportes hidrulicos foram escamoteados e afundaram vrios metros no solo macio da selva. Uma luz vermelha se acendeu no painel, e um zumbido tranqilizador anunciou: Pousamos! Rhodan se levantou e foi at o telecomunicador de bordo. Peo aos senhores oficiais que compaream sala de comando. Tenho uma declarao a fazer. A ordem foi cumprida imediatamente. De um minuto para outro a sala de comando se encheu. A Stardust-III tinha uma tripulao de quinhentos homens, e menos de quarenta destes eram oficiais. Alm disso, havia vrios mutantes que, segundo o regulamento da Terceira Potncia, ocupavam a posio de oficiais. A declarao de Rhodan, de que a Stardust-III retornara ao sistema natal quatro anos e meio depois do tempo calculado, provocou um espanto considervel. Mas Rhodan se limitou a transmitir a informao relativa ao fato; no forneceu qualquer comentrio, muito menos uma explicao. Ainda relatou o que soubera do coronel Freyt sobre a evoluo dos acontecimentos polticos na Terra. Quando retornarmos Terra disse veremos um quadro diferente daquele que temos na lembrana. Ao que parece quatro anos e meio foram suficientes para afastar ao menos parte da Humanidade do caminho certo. Teremos de tomar providncias para que essa srie de equvocos no produza danos ao nosso planeta. Mas, antes disso, temos de enfrentar outro problema. Todos os nossos planos, na parte em que dizem respeito Humanidade e ao seu desenvolvimento no quadro galctico, dependem em boa parte da nossa capacidade de em qualquer tempo, hoje ou dentro de algumas dezenas de milhares de anos, reencontrarmos o planeta Peregrino. Com base no trecho da rbita de que dispomos, o grande crebro positrnico instalado em nossa base em Vnus pode calcular a rbita de Peregrino at os tempos mais longnquos. Por isso uma das nossas tarefas preferenciais consistiria em introduzir no dispositivo positrnico os dados sobre o trecho conhecido da rbita de Peregrino, e isso com a maior urgncia, j que a cada minuto que passa o clculo se torna mais difcil. E essa tarefa se tornou ainda mais premente, j que um inimigo que aparentemente sabe o
que quer vem realizando esforos para se apoderar das instalaes existentes em nossa base de Vnus. Fez uma pausa e lanou os olhos para diante de si, como se tivesse de refletir cuidadosamente sobre as palavras que iria proferir. A base positrnica foi regulada de maneira a no produzir dano a qualquer ser humano. Quando efetuei essa regulagem contei com a possibilidade de que num vo a Vnus pudesse acontecer alguma coisa a um de ns que o impedisse de transmitir o sinal convencionado em cdigo. Com a regulagem anterior o crebro positrnico teria partido automaticamente ao ataque. Isso tinha de ser impedido. Para ser franco, nunca contei com a possibilidade de que algum ser humano fosse pousar em Vnus contra nossa vontade. Mas tudo indica que foi precisamente o que aconteceu. No h dvida de que os numerosos pontos que se deslocavam a pequena velocidade, localizados pelos instrumentos de vigilncia nas proximidades da base de Vnus, no so outra coisa seno naves espaciais de propulso nuclear, construdas na Terra, fora do territrio da Terceira Potncia. Os foguetes com que fomos atacados tambm indicam que os invasores provm da Terra. Por fim, o simples fato de que o crebro positrnico no impediu o pouso constitui a melhor prova de minha suposio. Face ao relato do coronel Freyt, no h como duvidarmos de que uma poderosa frota espacial do Bloco Oriental pousou em Vnus para se apoderar da base. O crebro positrnico ainda fez outra coisa. O bombardeio da Stardust-III com foguetes nucleares foi um acontecimento que na memria do crebro est armazenado sob a classificao de fato extraordinrio e inquietante. Transmiti ordens expressas ao crebro para que nessa hiptese toda a rea da base seja fechada hermeticamente, de tal forma que ningum possa penetrar na mesma. Reconheo, cavalheiros, que efetuei essa regulagem num acesso de cautela excessiva. Mas peo-lhes que considerem que um caso como o presente no poderia ter sido previsto pela fantasia mais extravagante. O fato que nem mesmo ns podemos romper o campo protetor da base. Devemos nos empenhar em reduzir o invasor impotncia o quanto antes e convencer o crebro positrnico de que no existe mais qualquer perigo em Vnus. Lanou um olhar penetrante para os oficiais. Quanto antes, o que acabo de dizer. No difcil compreender que daqui a umas trs semanas da contagem de tempo terrena ser impossvel at mesmo para o grande crebro positrnico calcular toda a rbita do planeta Peregrino com base no trecho conhecido. Peo-lhes que esclaream os suboficiais e a tripulao sobre a nova situao e aguardem minhas instrues. Obrigado, cavalheiros. A Stardust-III encontrava-se diante de um problema difcil, mas no insolvel. Na sala de comando s permaneceram Rhodan, Bell e os dois oficiais que ocupavam seus lugares nos postos de telegrafia e de direo. Bell sacudiu a cabea. Para falar com franqueza disse, contrariado j no entendo mais nada. Voc acha que foi acertado confessar um erro seu perante os subordinados? Estavam sentados diante do quadro de pilotagem. O posto de telegrafia e de direo se encontravam a uma distncia suficiente para que pudessem conversar vontade. Rhodan riu. Por que no? Cometi um erro, no cometi? No diria que foi um erro. Todo mundo teria chamado voc de idiota se, naquele tempo, tivesse manifestado a idia de tomar providncias para impedir que o Bloco
Oriental pousasse em Vnus com uma frota de invaso. Acontece que fizeram isso mesmo. Foi um erro meu. Deveria ter considerado todas as possibilidades. Bell estendeu as mos, com a palma para cima. Est bem. Mas h outra coisa que no entendo. O que ? Freyt devia estar informado sobre os acontecimentos que se verificaram na Terra. Por que no fez nada? Rhodan contorceu o rosto. Tambm foi minha culpa respondeu. Freyt est sujeito a um bloqueio hipntico. No est em condies de exercer qualquer influncia sobre a poltica do Ocidente. Apliquei esse bloqueio nele porque no tinha certeza de que no acabaria acalentando certas ambies. Poderia dispor irrestritamente do potencial tcnico da Terceira Potncia. Era bem possvel que casse em tentao. por isso que est sujeito ao bloqueio. E por isso que no podia fazer nada quando houve uma reviravolta no Bloco Oriental e este se desviou do bom caminho. Reginald Bell acenou com a cabea. Pois bem disse depois de algum tempo. Naquela poca ningum contaria com a possibilidade de que s depois de quatro anos e meio voltssemos a aparecer, no ? Se no fosse assim, voc teria agido de outra forma. Rhodan acompanhou as riscas de soalho com a ponta da bota. No procure desculpar meu procedimento recomendou a Bell. Cometi um erro ao tomar todas as decises de acordo com minha cabea e a capacidade restrita de raciocnio de que disponho. No futuro terei de conversar com maior freqncia com nosso grande crebro positrnico. Suas previses so mais objetivas que as minhas. Bell lhe lanou um olhar srio. E a frota de invaso? Por que no a eliminamos pura e simplesmente? Rhodan respondeu em tom hesitante: Em primeiro lugar repugna ao meu gnio eliminar algum pura e simplesmente, e depois isso no ser possvel. Se o chefe da frota tiver alguma inteligncia, ter abandonado imediatamente o lugar em que se encontrava. E nesta selva teremos dificuldade at mesmo em localiz-lo. Bell se sobressaltou. Alm disso deve ter espalhado seus homens a tal ponto que um bombardeio concentrado no nos adiantar mais nada. Voc no acha? Rhodan acenou com a cabea; estava muito srio. Bell refletiu por algum tempo. Quer dizer que teremos de travar uma pequena guerra na selva? Rhodan sorriu. Se for pequena disse com a voz baixa poderemos nos dar por satisfeitos.
2
A franqueza que Rhodan demonstrou perante seus subordinados produziu um efeito que era exatamente o oposto do que Reginald Bell previra. Era a primeira vez em toda a histria da Terceira Potncia que Rhodan tinha motivo para confessar um erro, porque era a primeira vez que cometia um. Seus subordinados os oficiais, suboficiais e tripulantes que at ento o veneravam graas ao seu saber superior e sua capacidade extraordinria, agora sentiam que precisava deles, porque, apesar de seus dotes geniais, era um homem como qualquer outro. Pela primeira vez a venerao, que sempre sabia guardar distncia, era acompanhada de um forte sentimento de comunho. Qualquer ordem que Rhodan desse para preparar a ao contra a frota invasora era executada depressa, mas cuidadosamente. Tudo engrenava exatamente. Duas horas aps o pouso, as fotografias tiradas durante o vo pelos instrumentos automticos de observao haviam sido interpretadas a tal ponto que Rhodan podia preparar seus planos tticos. Dali a mais duas horas soubera atravs de sondas de espionagem de que forma o general Tomisenkow reagira ao golpe, e sete horas aps o pouso uma fora expedicionria com o efetivo inicial de cinqenta homens, totalmente armado e equipado, estava pronta a sair pelas comportas. O prprio Rhodan assumiu o comando. Mas antes teve uma palestra com Thora e Crest, os dois arcnidas. *** A finalidade que levara os dois arcnidas a penetrar nessa rea da galxia a bordo de um cruzador espacial um dos ltimos que a raa arcnida, decadente, conseguira pr a caminho fora a procura do mundo da vida eterna, isto , de um mundo cujos habitantes conheciam o segredo da conservao das clulas. O cruzador pousara na lua terrestre em virtude de avarias, justamente no tempo em que o primeiro foguete guiado por homens se punha a caminho da Lua. O encontro era inevitvel, e a constelao das circunstncias fez com que os tripulantes da velha Stardust, Rhodan, Bell e o Dr. Manoli, se ligassem a Crest e Thora, sobreviventes da nave arcnida, para a vida e a morte. Na Terra impediram, atravs do poderio proporcionado pelos recursos arcnidas, a irrupo da terceira guerra mundial, e se constituram em Terceira Potncia no deserto de Gobi. Do ponto de vista de Rhodan, a ligao de incio se inspirara unicamente na finalidade que tinha em vista. Seus objetivos eram muito elevados: a unio da Humanidade e a consolidao da posio da Terra no seio da galxia. Os arcnidas com sua tcnica superior apareceram em boa hora. Tambm da parte de Crest e de Thora no princpio a perspectiva de uma vantagem pesava mais que qualquer simpatia. Rhodan era um homem ativo. Depois de ter absorvido o saber arcnida atravs de um processo de treinamento hipntico, estaria em condies de montar uma indstria capaz de construir uma nave de grande alcance do tipo arcnida. Com uma nave dessas, Crest e Thora poderiam prosseguir na sua viagem em busca do mundo da vida eterna ou retornar a rcon, seu mundo natal. Houve complicaes. Inteligncias estranhas atacaram a Terra. A Terceira Potncia
conseguiu repeli-las. A Terceira Potncia ainda travou uma guerra no sistema Vega, e a Stardust-III, uma nave inimiga apresada, empreendeu uma viagem longa e arriscada procura do mundo em cuja busca Thora e Crest partiram h anos de rcon. Peregrino era este o nome do planeta da vida eterna. Um mundo artificial, que seu construtor forara a descrever uma rbita extravagante em torno de trinta sistemas solares. Rhodan soube do segredo, e soube ao mesmo tempo que, no relgio do Universo, havia soado a hora final para os arcnidas. Para eles no haveria qualquer renovao celular. A vida eterna lhes foi negada. Crest e Thora haviam colocado Rhodan na pista do segredo e agora, que o haviam descoberto juntos, a revelao lhes foi recusada. Rhodan obteve a soluo Rhodan, o herdeiro do imprio galtico. *** Crest estava s, no seu camarote. Reclinara-se profundamente na macia poltrona articulada e fitava o teto. No se mexeu quando Rhodan entrou. Rhodan parou perto dele. No sei disse em voz baixa e cautelosa depois de algum tempo se vale a pena se entregar exclusivamente melancolia. Falava no idioma arcnida. Crest deixou passar algum tempo; depois virou a cabea e lanou um olhar srio para Rhodan. O senhor no imagina respondeu o que esta derrota representa para mim e para todos os arcnidas. Para alcanarmos a perfeio final s nos faltava o segredo da vida eterna, nada mais. um golpe duro ouvir que o grau mais elevado da evoluo nos foi recusado. Rhodan refletiu no que devia dizer. Sentou perto de Crest. Sairei da nave disse em tom srio. Algum se instalou em Vnus e vem nos causando dificuldades. Crest ergueu as sobrancelhas brancas e espessas. De resto no deu mostras de qualquer surpresa ou nervosismo. No sei quanto tempo demoraremos l fora prosseguiu Rhodan. Por isso quero lhe pedir um favor. Crest conseguiu esboar um sorriso dbil. Tem certeza de que ainda conseguirei levantar desta cadeira e vencer minha depresso? perguntou. Rhodan fez que sim. Tenho certeza absoluta. Cuide de Thora, sim? Tambm foi afetada por essa histria do planeta Peregrino; alm disso, muito impetuosa. Crest ainda estava sorrindo. claro que cuidarei asseverou. Desde a decolagem no a vejo mais, mas irei v-la imediatamente. Levantou-se. Faa um bom trabalho! disse, dirigindo-se a Rhodan. E volte so e salvo. Rhodan respondeu com um aceno de cabea. Dois minutos depois se encontrava na comporta sul e transmitia as ltimas
instrues aos seus homens. O corpo expedicionrio de cinqenta homens estava subdividido em quatro grupos. Rhodan confiou o comando dos grupos aos experimentados majores Deringhouse e Nyssen, e ao tenente Tanner. Cada homem envergava um traje transportador arcnida. Tratava-se de um aparelho de mltiplas aplicaes, dotado de um gerador de fora gravitacional para a produo de gravidade artificial. Com isso, podia transportar seu portador pelo ar. Alm disso, um minsculo dispositivo eletromagntico produzia um campo de deflexo, que conferia qualidades quase hidromecnicas ao meio circundante, em relao propagao de emanaes luminosas, de forma que as ondas luminosas contornavam o campo em forma de linhas de fluxo, tornando invisvel o traje e o homem que o envergasse. Cada grupo dispunha de trs cmbios. Tratava-se do veculo ultra verstil dos arcnidas, que se deslocava com igual facilidade em trs elementos. Os homens estavam equipados com o armamento usual. S os oficiais portavam pequenos projetores mentais. O inimigo encontra-se em marcha explicou Rhodan. Creio que conheo seu objetivo; mas, para termos certeza, devemos manter contato ininterrupto com a nave. O que temos pela frente nada menos que uma guerra na selva ao estilo antigo. Quem quer que detenha o comando do outro lado h de saber que os recursos de que dispomos so superiores aos seus, e planejar sua ao de acordo com esse fato. Distribuir seus homens por uma rea bastante ampla e travar uma guerra de guerrilhas, o que nos impedir tirarmos proveito de nossa superioridade. Apesar de tudo isso, temos de chegar quanto antes a uma soluo final. No temos tempo a perder. Portanto, faam um trabalho bem feito. *** O general Tomisenkow logo constatou que subestimara grandemente as dificuldades da marcha. Chanicadse, um jovem tenente armnio, marchara durante duas horas diante dele, cuidando para que os galhos, que a selva j voltara a estender por cima da trilha aberta pelo destacamento de vanguarda, no fustigassem o rosto do general com demasiada violncia. No incio da terceira hora, quando Chanicadse se dispunha a remover uma trepadeira, um verme branco, da grossura de uma cocha humana, surgiu da esquerda com uma agilidade incrvel, envolveu o corpo do tenente, e desapareceu com ele na selva. Antes que Tomisenkow, seu ajudante e os dois oficiais que o acompanhavam se dessem conta do que estava acontecendo, o gigantesco verme j havia desenrolado uns vinte metros de sua repugnante extenso. Sobre o resto, que media outros vinte metros, dirigiram que nem um bando de loucos os disparos de suas pistolas automticas; mas aquela criatura de Vnus pouco se incomodou com as balas. Chanicadse continuava desaparecido. Tomisenkow proibiu a perseguio do verme. No queria perder mais gente naquela selva impenetrvel. Meia hora depois ouviram um rudo rtmico e retumbante vindo do oeste. O ajudante acreditava que se tratasse de um terremoto. Uma hora depois viram o que era ou melhor, estavam em condies de realizar uma reconstituio aproximada do quadro. Um animal de dimenses fenomenais cruzara a trilha, colocando uma das pernas exatamente sobre a mesma. A marca do p era
redonda, e tinha o dimetro de cinco metros. No centro da mesma viam-se alguns restos de uniforme, e o solo estava ensopado de sangue. Nem havia possibilidade de verificar quantos dos homens de Tomisenkow haviam perecido. Dali a dois quilmetros a trilha descreveu uma curva acentuada em direo ao sul e conduzia a um lago estreito e comprido, rodeado pela selva. Um dos dois oficiais no quis percorrer o caminho longo em torno do lago. Entrou na gua, andou um pedao e ps-se a nadar. Depois de ter vencido cerca de trs quartos da distncia, teve que se desviar de um objeto estranho; parecia um tapete brilhante e colorido, pousado tranqilamente na superfcie da gua. O oficial passou a grande distncia. Mas subitamente o tapete ps-se em movimento e seguiu-o. De incio o nadador no percebeu nada. S teve a ateno despertada quando Tomisenkow, o ajudante e o outro oficial o preveniram aos gritos. Com amplas braadas procurou alcanar a margem oposta. Mas, no lugar exato em que seus ps alcanaram o fundo do lago, foi alcanado pelo tapete. A gua comeou a fervilhar, e o homem mergulhou aos gritos. O tapete passou por uma estranha transformao. Subitamente no era mais colorido, nem se estendia sobre a gua; tornouse cinzento e assumiu o formato de uma massa compacta e disforme, cujas foras evidentemente eram muito superiores s de sua vtima. Com uma rapidez incrvel aquela massa atingiu a zona de gua profunda. Mergulhou. O homem do grupo de Tomisenkow nunca mais foi visto. *** Do outro lado da faixa de terra derretida e calcinada, que a Stardust-III parecia ter traado a rgua em meio selva, alguns homens da diviso de defesa de foguetes do general Tomisenkow conseguiram ficar vivos. De incio, o destacamento espacial de desembarque contara com mais de duzentos homens. Agora sobravam vinte e oito. Das dez rampas de lanamento apenas duas continuavam de p. O suprimento de foguetes nucleares se reduzira de cem para cinco. O major Lysenkow assumiu o comando dos vinte e oito sobreviventes. Era um homem relativamente jovem, que punha todo seu empenho em mostrar aos homens que mantinha o domnio perfeito da situao. Tambm a leste da faixa devastada, a nave em sua rpida passagem afetara os tmpanos dos homens. Lysenkow teve de se comunicar por escrito com seus homens; no lhe ocorreu a idia brilhante de Tomisenkow. Depois de algumas horas, quando acreditava estar em condies de manejar um dos transmissores portteis, procurou entrar em contato com o general. At ento os vinte e oito homens s estavam ocupados em tratar das feridas, apurar a radiatividade da faixa derretida e, de tempos em tempos, medir a temperatura do solo na mesma. Tomisenkow no respondeu, e nenhuma outra pessoa acusou o recebimento do chamado. Lysenkow se sentiu terrivelmente perturbado. Levou bastante tempo at que lhe ocorreu que provavelmente Tomisenkow teria abandonado o acampamento, deixando no local alguma indicao sobre seu paradeiro atual. Lysenkow no gostou da idia de aguardar at que a faixa calcinada esfriasse a ponto de no representar qualquer perigo. Eram cento e oitenta horas, tempo local; dentro de dez ou doze horas ficaria escuro.
Lysenkow participara do bombardeio infrutfero da nave inimiga; por isso estaria em condies de imaginar mais ou menos o que tinha acontecido, mesmo que no soubesse explicar certos detalhes. Mas calculava que dentro de algum tempo o inimigo voltaria a atacar e mandou preparar as rampas de disparo que ainda restavam. Depois, ficaram espera. *** O major Deringhouse recebera instrues para verificar de ambos os lados da faixa calcinada, para apurar se ainda havia restos das tropas inimigas escondidos na rea em que antes se encontrava o acampamento. Deringhouse se afastara do destacamento com dois dos seus cmbios; passando rente copa das rvores, avanou na direo sul. Encontrou a parte oeste do acampamento vazia e abandonada, com exceo dos cadveres de alguns homens vitimados pelo furaco. Passou pela faixa devastada a cerca de quinhentos metros de altitude. Ao pr do sol os dois veculos pousaram junto a uma das rampas de foguete escondidas na folhagem, que o furaco derrubara. Deringhouse examinou a rampa; a nica coisa interessante que encontrou foi uma inscrio em letras cirlicas existente no quadro de comando eletrnico, que provava se tratar de uma expedio do Bloco Oriental. O que ainda dava que pensar era o fato de que a rampa se porventura no tivesse sido atirada para aquele local em virtude do deslocamento do ar se encontrava em meio folhagem, com um campo de tiro mnimo. Poderia haver mais uma dzia dessas posies de disparo; mas sem encostar o nariz nelas no seria possvel descobri-las. Deringhouse dispunha de um nico mutante em seu grupo. Era Son Okura. O japons franzino com os grandes culos de aro de tartaruga possua uma faculdade estranha. Seus olhos sabiam captar uma faixa muito mais ampla do espectro eletromagntico que os de um homem comum. Son Okura via o infravermelho com suas ondas longas, da mesma forma que o azul radiante do cu terreno. Estava em condies de captar at mesmo certa faixa de luz ultravioleta. Naquele instante era da maior importncia para Deringhouse, porque este, apesar da escurido que irrompia, no quis assumir o risco de usar os holofotes de luz infravermelha, que poderiam ser detectados pelos instrumentos do inimigo. Mas, como o calor do dia se mantivesse, mido e opressivo, sob a cobertura espessa das folhas, os olhos de Okura mantinham toda sua eficincia. Para ele, de noite a floresta continuava to iluminada como uma paisagem coberta pelos raios do sol. Outro auxiliar de Deringhouse consistia nos pequenos localizadores de microondas, que todo cmbio conduzia a bordo. Um dos homens estava pesquisando os arredores do local de pouso. Pequeninos pontos verdes comeavam a emitir uma dbil luminosidade sempre que o feixe de ondas atingia a massa metlica de outras rampas de lanamento. Outro homem anotava os resultados num mapa provisrio. Enquanto Deringhouse ainda aguardava o resultado, o homem que manejava o dosmetro anunciou um nvel anormal de radiatividade. Deringhouse pegou um pequeno contador e, acompanhado de dois homens, saiu em busca da fonte de radiaes. Um dos dois homens era Son Okura. Aproximaram-se da faixa de terra calcinada. Subitamente Okura parou e ergueu a mo. Deringhouse permaneceu imvel. O
rudo produzido por uma srie de pisadas e estalos se aproximou da esquerda. Deringhouse viu uma sombra comprida e achatada, que atravessou a folhagem a uns vinte metros de distncia. Desapareceu na direo norte. Ao que parecia no percebera o grupo dos trs homens que se mantinham numa expectativa ansiosa, ou no se interessava pelo mesmo. Prosseguiram em sua marcha. Para vencer obstculos maiores, valiam-se dos geradores antigravitacionais de seus trajes. Finalmente chegaram a um ponto em que o contador acusava uma emanao to elevada que Deringhouse achou prefervel no prosseguir. A uns cem metros de distancia, na faixa da selva que o furaco escaldante da Stardust-III reduzira a cinzas, Okura pde distinguir um conjunto de objetos de cor escura; provavelmente tratava-se dos remanescentes de um edifcio. No havia a menor dvida de que as radiaes provinham dali. Deringhouse estava praticamente convencido de que os homens do Bloco Oriental haviam armazenado parte de seu armamento nuclear naquele edifcio, e que esse armamento fora atingido pela tempestade de fogo. Disps-se a regressar. Mas nesse instante Okura, num gesto de advertncia, colocou a mo sobre seu brao. Psiu!... Aguaram os ouvidos. Ouviram sons martelantes, vindos do sudoeste, trazidos pelo vento causado pelo calor da faixa de terra queimada. Deringhouse no sabia que rudo era esse, mas Okura logo descobriu. um faco! cochichou. Algum se aproxima. Eu o vejo. Deringhouse resolveu esperar. As pancadas chicoteantes cessaram assim que o desconhecido atingiu a faixa devastada, passando a se mover em terreno desimpedido. Nem Deringhouse nem o cabo que o acompanhava distinguiam qualquer coisa; mas o japons via o homem com toda nitidez. Est de uniforme cochichou. Traz uma carabina automtica na mo esquerda e um pequeno aparelho na direita. Dali a um minuto acrescentou: Vem exatamente em nossa direo. Vamos procurar uma cobertura. Agacharam-se atrs do toco de uma gigantesca rvore que o furaco carregara. Deringhouse preparou seu radiador de impulsos energticos. Pouco depois viu o vulto desconhecido emergir da escurido. Ouviu-o murmurar. Parou a uns cinco metros de seu esconderijo. Continuava a segurar a carabina descuidadamente na mo esquerda. Mas colocara a caixinha bem diante dos olhos; Deringhouse viu uma luz dbil, que na sua opinio provinha de uma escala luminosa. Era um dosmetro. Os homens do Bloco Oriental vigiavam o foco do perigo radiativo. Deringhouse no teve muito tempo para refletir sobre a ttica que devia empregar. Se atirasse com o radiador de impulsos, mataria o homem. Acontece que pretendia saber alguma coisa por seu intermdio. Ergueu-se cautelosamente. O desconhecido se encontrava quase de costas. As longas pernas de Deringhouse venceram a distncia em dois ou trs saltos rpidos. Antes que o homem compreendesse o que estava acontecendo, foi golpeado na cabea com a coronha da arma de Deringhouse. Dobrou os joelhos e caiu molemente ao solo. Venham! chamou Deringhouse a meia voz. Agarrei-o.
*** O major Lysenkow fez tudo para que seus homens no percebessem nada, mas j no conseguia esconder a verdade de si mesmo: se a incerteza durasse mais algumas horas, sofreria um colapso. Tinha diante de si, sobre o solo batido diante da cabana de folhas primitiva que sobrara do furaco, um mapa provisrio da rea em que pousara a expedio do general Tomisenkow. Guiando-se pelas estimativas realizadas juntamente com seus homens desenhara no mapa a faixa atingida pelo furaco, a faixa de terra calcinada e o ponto em que a radiatividade atingia um nvel perigoso, em cujo centro se encontravam os foguetes derretidos. Quis o acaso que justamente nesse ponto a faixa aquecida fosse mais estreita. Dentro de trs horas, o mais tardar, Lysenkow assumiria o risco de fazer com que seus homens transpusessem a faixa nesse ponto, em passo acelerado; numa situao dessas no importava quantos homens resistissem a um empreendimento desses. O que interessava a Lysenkow era que ele mesmo, o chefe do grupo, fosse bastante rpido para atingir o lado oposto so e salvo. Mas havia a mancha contaminada. Se o nvel de radiatividade no baixasse com suficiente rapidez, teriam de esperar at que a faixa de terra queimada esfriasse o bastante em outro ponto, onde a largura era maior. que nem mesmo o major Lysenkow estava livre dos efeitos das emanaes radiativas. Enviara um homem ao local para medir as radiaes. Olhou para o relgio. Por que o sujeito estaria demorando tanto? Lysenkow se levantou e saiu da cabana. Seguiu na direo em que o homem se afastara. Passando entre as trepadeiras que lhe barravam o caminho, aguou o ouvido. Percebeu o som de passos. Parou. A folhagem se movimentou diante dele e uma sombra emergiu da mesma. Por que demorou tanto? chiou Lysenkow. O homem parou; no respondeu. Aproxime-se! ordenou Lysenkow. O homem deu alguns passos em sua direo. Por que demorou tanto? repetiu Lysenkow. Responda. No momento em que comeou a suspeitar, porque o homem que tinha diante de si era mais baixo que aquele que enviara ao local, j era tarde. Com um salto de felino, Son Okura se grudou na garganta do major. Lysenkow no teve a menor chance. Uma pancada vigorosa com a coronha do radiador de impulsos energticos ps fim luta antes que a mesma tivesse comeado. Okura deu um assobio estridente. Trinta segundos depois Deringhouse e o cabo se encontravam ao seu lado. O japons apontou para o corpo imobilizado de Lysenkow. Parece que o chefe cochichou. Deringhouse confirmou com um aceno de cabea. Vamos amarr-lo e amorda-lo ordenou laconicamente. O cabo recorreu a algumas trepadeiras e ao seu leno para cumprir essa incumbncia.
Prosseguir! ordenou Deringhouse. Deixem o homem aqui. Son Okura seguiu frente. Andando pelo caminho que Lysenkow abrira em meio vegetao, encontraram a cabana. Num raio de cinqenta metros Okura notou mais trs cabanas, de maiores propores, espalhadas sob as rvores. Pelos clculos de Deringhouse deviam ser uns trinta homens que viviam ali. Convocou o resto de seus homens e lhes explicou a posio exata do objetivo. A fonte de radiatividade constitua um excelente ponto de referncia. Oito minutos depois, os cmbios pousaram. Atrs da cabana de Lysenkow, ao sudoeste, havia uma faixa de mata livre de vegetao rasteira. Desceram ali sem provocar o menor rudo. Deringhouse transmitiu instrues lacnicas. Quando terminou, viu uma sombra que se aproximava da cabana, vinda do leste. Admirado, Deringhouse se ergueu por completo. Kto tam? perguntou a sombra. Aquelas palavras de uma lngua estrangeira provocaram a reao instantnea de Deringhouse. Antes que a sentinela soubesse se a suspeita que o trouxera at ali era justificada ou no, Deringhouse atirou. O efeito do choque trmico do radiador de impulsos energticos foi to fulminante que a vtima nem teve tempo para gritar. O resto foi fcil. Diante de cada cabana havia uma sentinela. Todos foram dominados prontamente e com um mnimo de rudo. As dificuldades causadas pelos soldados que dormiam no interior das cabanas foram ainda menores. Dentro de quinze minutos a ao estava concluda. Deringhouse capturara mais vinte e sete prisioneiros. Um deles lhe havia revelado que daquele lado da faixa de terra calcinada no havia outros homens do bloco Oriental. Mandou dois dos seus homens trazerem o prisioneiro capturado em primeiro lugar, atravs do qual souberam a situao daquela posio provisria. Quando uma tormenta desabou sobre a selva, Deringhouse prosseguiu no interrogatrio. Mas s dali a uma hora, quando a tormenta j estava amainando, apurou a importncia de sua presa. Depois que o furaco causado pela Stardust-III destrura a maior parte do arsenal nuclear da expedio do Bloco Oriental, e uma vez capturados pelos homens de Deringhouse os cincos foguetes nucleares remanescentes, a mesma j no dispunha de qualquer arma nuclear cujo poder explosivo fosse superior a um quiloton de TNT. Restavam as armas defensivas das naves espaciais, das quais Tomisenkow no meio tempo Deringhouse apurara o nome provavelmente teria salvo algumas. O perigo maior havia sido eliminado. Deringhouse imediatamente transmitiu o respectivo relatrio a Rhodan, atravs do hipertransmissor.
3
A tempestade, que Deringhouse e seus homens enfrentaram sem maiores problemas, trouxe uma situao bastante difcil para o general Tomisenkow, seu ajudante e os outros membros da coluna que comandava. Depois da aventura pavorosa junto ao lago, Tomisenkow tambm perdera o terceiro dentre seus acompanhantes. Quinze minutos depois, quando o mesmo se esforava para afastar um cip grosso e resistente, percebeu tarde demais que se havia metido com uma cobra. Esta, que era do tamanho de uma jibia, fugiu pelo ombro do jovem oficial que a atacara a golpes de faco e desapareceu em meio vegetao. Parecia que tudo tinha terminado bem; fora s o susto, que atingira Tomisenkow e seu ajudante quase com a mesma intensidade que ao jovem oficial. Mas, alguns minutos depois, o jovem subitamente caiu ao cho. Tomisenkow procurou lhe prestar auxlio. O pescoo, que era a nica parte do corpo tocada pela cobra, estava to inchado que era da mesma grossura da cabea. O homem morreu dentro de poucos instantes. O ajudante tirou o faco das mos do morto e foi abrindo caminho. Em uma hora no avanaram mais que mil e quinhentos ou dois mil metros. Ao pr do sol perceberam que a trilha aberta por um dos grupos que ia frente comeava a se abrir; parecia mais recente. Realmente, dali a quarenta e cinco minutos alcanaram um grupo de cinco homens levemente feridos, que carregavam as macas em que iam dois feridos graves. Quase no mesmo instante, o ajudante, que carregava o rdio pendurado ao pescoo, recebeu a mensagem expedida por um dos grupos que iam mais frente. O grupo havia encontrado um local adequado para montar acampamento, numa rea de terreno aberto. Muito embora os cinco homens com ferimentos leves a que se haviam reunido minutos antes bem merecessem que algum lhes prestasse auxlio, carregando as pesadas macas ao menos por alguns metros, Tomisenkow no hesitou em seguir frente com seu ajudante, para chegar ao local do acampamento antes que ficasse completamente escuro. Abriremos um bom caminho para vocs prometeu Tomisenkow para consolar os homens. Pouco depois do pr do sol chegaram ao p do plat de pedra de onde fora expedida a mensagem do grupo de vanguarda. Quinze minutos depois, Tomisenkow e seu ajudante chegaram ao acampamento levantado nesse meio tempo. Ficava numa clareira circular com cerca de trinta metros de dimetro, situada em meio vegetao rasteira. Nas proximidades havia uma nascente que despejava sua gua num ribeiro, por cima de uma pedra ligeiramente inclinada. Era uma gua fresca e boa de beber; mas logo se percebia seu elevado teor de ferro. Havia possibilidade de cuidar dos homens que haviam sofrido ferimentos graves, cujas condies gerais tinham piorado bastante face s condies adversas em que eram transportados e ao calor mido reinante em Vnus. Foi quando desabou a tempestade. Quando Tomisenkow decolou com sua frota expedicionria, foi informado de que, face reduzida velocidade com que Vnus executava seu movimento de rotao, a
diferena entre a temperatura diurna e noturna devia ser considervel, o que provavelmente ocasionaria fenmenos atmosfricos anormais ao nascer e ao pr do sol. Acontece que Tomisenkow no sabia muito bem o que seriam esses fenmenos atmosfricos anormais, motivo por que decidiu aguardar os acontecimentos. Se tivesse sido avisado de que o alvorecer e o anoitecer traziam consigo furaces de intensidade extraordinria, teria tomado suas providncias. Como de nada desconfiasse, o rugido surdo que se aproximava do leste, de incio, s causou um ligeiro susto a ele e a seu ajudante. Ambos procuraram disfarar o susto. Quando perceberam que o rugido representava um perigo real j era tarde. O furaco atingiu o acampamento com a intensidade de uma gigantesca punhalada. Pela segunda vez no mesmo dia Tomisenkow se sentiu agarrado por uma mo de ferro e arrastado para a frente. Caiu dentro de alguma coisa que devia ter uma forte semelhana com as urtigas terrenas. De um instante para outro sentiu um ardor insuportvel no rosto e nas mos. Teve vontade de gritar; mas, como era um homem duro, mesmo para consigo mesmo, deixou de faz-lo. A tempestade prosseguiu no seu rugido, agitou a vegetao e lhe tornou impossvel a respirao enquanto virasse o rosto na direo de onde soprava o vento. Voltou-se para o outro lado e comprimiu o corpo contra o solo pedregoso. Ficou deitado por alguns minutos, que lhe pareceram horas. Seus olhos, ofuscados pelas lmpadas de pilha do acampamento, se acostumaram escurido. Viu alguma coisa que se aproximava sob a vegetao. Eram formigas, ou alguma coisa que se parecia com formigas, uma massa cintilante, coberta por crneas. Cada animal media uns cinco centmetros. Centenas delas se deslocavam em sua direo, rentes ao cho. Imobilizado pelo susto, permaneceu deitado at que a primeira atingisse o ponto em que se encontrava sua mo estendida. O animal percebeu que havia algo de estranho, levantou a cabea e cravou as tenazes na mo. Tomisenkow soltou um grito de dor, encolheu a mo e sacudiu-a at se livrar da formiga. Na mo havia uma pequena mancha vermelha. O incidente parecia ter despertado a ateno das formigas. Numa velocidade maior que antes, precipitaram-se em sua direo. Sacudido de pnico, o general se ergueu de um salto. Esquecera a tempestade. Esta agarrou-o com uma fora irresistvel, levantou-o por cima das moitas e tangeu-o como se fosse uma folha. Bem ao oeste, largou-o no cho. Com o impacto perdeu os sentidos. *** Rhodan passou a hora da tempestade crepuscular em plena segurana, no cho da selva. Desde a primeira expedio a Vnus ficou sabendo que a parede formada pela mata constitua a melhor proteo contra a fora do furaco. A selva era to densa, e as plantas que a compunham to flexveis que no acampamento de Rhodan a tempestade s era sentida como um rudo perturbador. O acampamento se situava ao p de uma singular encosta de pedra, que se erguia suavemente em direo ao sul e estava coberta somente de pequenos arbustos. Rhodan pretendia prosseguir assim que amainasse a tempestade, a fim de se lanar quanto antes ao ataque do primeiro grupo inimigo. Mas nem desconfiava de que Tomisenkow, cujo nome ficara conhecendo atravs do relato de Deringhouse, naquele mesmo instante se encontrava a apenas dois quilmetros de distncia, pouco alm da elevao de cento e cinqenta metros de altura, que a encosta de pedra formava em meio
planura da selva. A bordo da Stardust-III tudo ia bem. *** Por mais que a tempestade tivesse fustigado o acampamento e os homens, assim que tudo terminou, ainda havia bastante disciplina para que os homens compreendessem que antes de mais nada deveriam procurar o general Tomisenkow. A nica coisa que o ajudante sabia era que Tomisenkow fora arrastado pelo vento na direo oeste. Equipados com lanternas de pilha, os homens penetraram na rea coberta de arbustos. Encontraram-se com uma trilha de gigantescas formigas marrom-claras e tiveram inteligncia suficiente para contorn-las a grande distncia. Depois de uma hora de buscas encontraram Tomisenkow. Estava recuperando a conscincia e gemia. A costela, trincada pelo furaco que a Stardust-III desencadeara, fora fraturada totalmente na queda. Tomisenkow foi carregado por um trecho. Quando recuperou os sentidos por inteiro, achou que essa forma de locomoo no correspondia sua elevada dignidade e passou a se arrastar sobre as prprias pernas, sempre resmungando. O balano levantado por dois homens ilesos que haviam permanecido no acampamento era assustador. Inicialmente o grupo era composto de trinta homens, doze deles ligeiramente feridos e dezoito com leses graves. Destes ltimos, seis haviam morrido e oito no foram encontrados. Entre os feridos leves havia dois mortos e quatro desaparecidos. As cabanas tiveram de ser levantadas de novo. Tomisenkow mandou que seu ajudante entrasse em contato pelo rdio com a nave espacial pousada nas montanhas. Depois de algumas tentativas inteis o ajudante conseguiu estabelecer contato. Tomisenkow deu ordem para que uma das naves voltasse a decolar e viesse busc-lo. Nada restava do desejo de fornecer um exemplo brilhante aos subordinados. Os componentes da expedio espacial haviam sido preparados para as condies especiais reinantes nas selvas do planeta Vnus. Por isso no gastaram mais de quinze minutos em levantar uma cabana relativamente confortvel, e outros quinze minutos para fechar a entrada com uma cortina de trepadeiras praticamente opaca, da qual Tomisenkow fazia questo. Sabia perfeitamente que vrias horas seriam necessrias para colocar um foguete pousado em condies de decolar, e que ele mesmo disporia de pelo menos oito horas para tratar suas feridas e descansar. Deitou confortavelmente no leito de folhas e ps-se a discutir com seu ajudante as perspectivas que a situao abria para o futuro. A dor provocada pela costela fraturada era suportvel e, passado o susto das ltimas horas, a confiana comeou a voltar ao esprito de Tomisenkow. O ajudante se mostrava menos confiante. Sou de opinio que nos encontramos numa posio perdida disse com toda franqueza. A tempestade provou que nosso preparo insuficiente at mesmo para enfrentar os fenmenos naturais deste planeta. Acontece que, alm da natureza de Vnus, ainda teremos de lutar contra um inimigo superior em foras. Como poderemos resistir a isso? Tomisenkow se zangou. No culpe o Ministrio da Fora Espacial pela presena de Rhodan. Todo mundo
estava convencido de que ele se encontrava em algum ponto bem afastado do espao. Ningum poderia prever que iria retornar justamente neste instante. O ajudante deu de ombros. No cometeria a imprudncia de continuar a contrariar seu superior. O que acha principiou Tomisenkow depois de algum tempo. Mas nesse instante alguma coisa mexeu na cortina de trepadeiras. Quem ? perguntou Tomisenkow em tom spero. Ouviu-se um rudo borbulhante, vindo do lado de fora. Veja o que . ordenou Tomisenkow. O ajudante se levantou, afastou a cortina e se defrontou com dois olhos vermelhos e chamejantes de tamanho descomunal, que se encontravam bem diante de seu rosto. Recuou com um grito estridente; mas quem se encontrava do lado de fora fosse l quem fosse no quis saber de brincadeira. Tomisenkow, cuja ateno fora despertada pelo incidente, viu uma pata com vrios dedos sair da cortina e segurar o ajudante pela gola do uniforme. Este foi arrastado aos gritos; a cortina foi arrancada. L fora, viu-se uma sombra disforme e oscilante, e dois crculos chamejantes do tamanho de uma palma de mo danavam pelo ar. Os gritos do homem surpreendido de maneira to apavorante cessaram. Tomisenkow, que estava enrijecido de susto, ouviu sons tateantes, que se afastavam rapidamente, e logo a seguir uma estranha batida. S ento recuperou as faculdades. Sem se preocupar com as dores que sentia na costela, saltou do leito e ps-se a gritar: Alarma! Socorro! Logo foi ouvido. Mas algum tempo se passou at que os homens pudessem deduzir de seu relato confuso o que realmente havia acontecido. Os trs holofotes de pilha de que o grupo dispunha foram montados e os feixes de luz iluminaram toda a rea do acampamento. Nem o ajudante, nem o ser misterioso que o vitimara foi encontrado. A frente da cabana de Tomisenkow o cho era duro. No havia rastros. Tomisenkow mandou dobrar as sentinelas. Ainda estava transmitindo instrues aos homens, quando um grito selvagem soou nos fundos do acampamento. Um dos holofotes girou rapidamente e abrangeu, do lado direito, junto ltima cabana, ainda no concluda, um quadro horripilante. Um animal que se movia sobre duas pernas e, primeira vista, parecia ser da metade do tamanho de uma casa se aproximara de um dos feridos em estado grave, agarrara-o com o bico longo e pontudo e, sem dvida, estava prestes a se afastar com a presa quando foi surpreendido pela luz ofuscante do holofote. Fechou os grandes olhos vermelhos encravados na cabea semelhante de um pssaro e ficou na expectativa. O ferido continuava a gritar. O que esto esperando? berrou Tomisenkow. Atirem logo! Atirem. Com essa ordem os homens puseram-se em movimento. Ouviu-se o estrondo de uma confuso de tiros: as pancadas duras e matraqueantes das carabinas automticas e o estouro metlico das pistolas. luz dos holofotes via-se que grande nmero de tiros acertou o alvo. A pele do animal, que tinha a configurao do couro, se abriu sob os impactos, e um tipo de sangue porejou pelas feridas. O ferido silenciou de repente. O animal j no parecia ter interesse nele. Deixou-o cair e saiu correndo. Enquanto corria, as pernas pareciam crescer em comprimento. Pela segunda vez, Tomisenkow ouviu o rudo rpido e tateante, sempre que as patas tocavam o cho.
O estranho animal havia percorrido uns cem metros, a uma velocidade cada vez maior. Subitamente dois retalhos de pele desdobraram-se nas suas costas e se abriram em asas de uma envergadura inacreditvel. A velocidade da corrida foi suficiente para erguer o animal no ar de um instante para outro. Produziu alguns sons repulsivos produzidos pelas batidas das asas e saiu voando to rapidamente que a luz dos holofotes no pde segui-lo. Por algum tempo Tomisenkow e os membros do grupo mal ousavam respirar, de to assustados que estavam. Depois de uns dois ou trs minutos algum disse com a voz quase devota: Um lagarto voador! O encanto estava rompido. Examinaram o ferido. Estava morto. Tomisenkow no se atrevia a voltar cabana. Mandou suspender a construo das mesmas e determinou aos homens que dormissem ao ar livre. Mais da metade dos membros dos grupos foram destacados para servir de sentinelas. Assim mesmo Tomisenkow praguejou contra a tcnica e os pilotos dos foguetes, que levavam tanto tempo para vir busc-lo. *** Rhodan dormira duas horas. Isso bastava para que se sentisse perfeitamente descansado. Desenvolveu, com base nos novos dados fornecidos pelo sistema de localizao da Stardust-III uma rota de marcha provisria que, pelos seus clculos, devia lev-lo a pelo menos dois grupos inimigos. Ainda estava ocupado em interpretar os dados, quando um dos homens do sistema de localizao se fez ouvir: A vem alguma coisa. do tamanho de um avio, mas no faz o menor rudo. Rhodan deu alguns passos e se colocou junto ao pequeno aparelho de localizao. Surpreso, observou a larga mancha verde, que lentamente foi rastejando da borda para o centro da tela. A velocidade de cerca de oitenta quilmetros por hora completou o homem. A mancha ainda se encontrava a certa distncia do centro da tela, quando subitamente alterou sua rota. Est descendo disse o homem surpreso. Rhodan recebeu a informao com os olhos semicerrados. Procurou descobrir que objeto seria este; mas a imagem projetada na tela de microondas praticamente no permitia qualquer concluso alm do tamanho. Com a modificao da altitude a mancha verde se aproximara bastante do centro da tela. Antes que o alcanasse, parou subitamente. O que ser isso? Rhodan compreendeu. Um animal provocara o reflexo. Era um animal grande, com asas, talvez um lagarto voador. Descera sobre as rvores nas proximidades do lugar em que se encontravam. A mancha verde encontrava-se exatamente sobre a linha sinuosa que marcava a altura da mata. No se preocupe disse Rhodan ao vigilante. Foi apenas um animal. Provavelmente um... Estacou.
Ouviu alguma coisa? perguntou. Tambm tive a impresso... respondeu o vigilante. Prenderam a respirao e aguaram o ouvido, bastante tensos. Depois de algum tempo voltaram a ouvir o rudo. Era um grito, um grito que exprimia o grau mais elevado de pavor. Um grito humano. A reao de Rhodan foi instantnea. Verifique a direo! gritou para o vigilante. Logo desapareceu na escurido. Dentro de poucos segundos estava pronto para decolar num cmbio, juntamente com cinco de seus homens. Colocou o veculo pouco acima da cabea do vigilantelocalizador e mandou que este lhe indicasse a direo exata. Depois rompeu a folhagem das copas das rvores e ps-se a procurar. O cmbio dispunha de um localizador prprio. Na tela do oscilgrafo o animal estranho e imenso se destacava nitidamente sob a forma de um ponto reluzente contra o fundo representado pela mata. Mantenham as armas prontas para disparar disse Rhodan, enquanto deu uma brusca acelerada no cmbio. Abram os olhos. Um homem est em perigo. A distncia que separava o animal do acampamento no era superior a duzentos metros. O cmbio se aproximou a trinta metros; os homens j haviam enquadrado seguramente o alvo. Rhodan ligou o holofote de luz infravermelha e olhou atravs do filtro. Viu o gigantesco animal na copa de uma rvore gigantesca. Por um instante se assustou com o vulto horrvel envolvido por uma pele nua. Era um lagarto voador, no havia a menor dvida, muito embora se parecesse bastante com um pssaro. Ao que parecia o raio infravermelho inquietava o animal. A cabea se levantou e Rhodan pde distinguir o bico longo e pontudo, de mais de dois metros de comprimento. Acionar o raio neutrnico ordenou Rhodan, sem tirar os olhos do filtro. Um centsimo. A ordem foi executada imediatamente. A graduao mais fraca do radiador neutrnico mal foi suficiente para fazer o animal sentir que alguma coisa no estava em ordem. Abriu as asas e, com algumas batidas surdas transmitidas pelo microfone externo, elevou-se alguns metros acima da copa da rvore. No se via mais nada do homem que gritara ainda h pouco. Um dcimo ordenou Rhodan. A intensidade do raio neutrnico foi aumentada. O animal soltou um grito agudo e procurou fugir. Acionar o radiador de impulsos! gritou Rhodan. A terrvel arma alcanou o animal em meio ao vo e fez com que se precipitasse na selva. Rhodan voltou a acelerar. A folhagem da gigantesca rvore foi bastante densa para sustentar o veculo. Rhodan desceu e recomendou aos homens que tivessem cautela ao sarem. Alm da pequena comporta de ar foram recebidas pelo cheiro nauseante do animal queimado. Equilibravam-se sobre os galhos da grossura de um brao humano, que as garras do lagarto haviam limpado de toda folhagem. Com o auxlio de um holofote manual, encontraram o corpo amolecido daquele que pouco antes gritara por socorro. Estava deitado num entroncamento de galhos.
Rhodan examinou o homem antes que fosse carregado ao cmbio. Seu uniforme estava rasgado, e sangrava por vrias feridas. Rhodan espalhou sobre as mesmas um remdio destinado a estancar o sangue, pertencente farmcia arcnida da Stardust-III. No conhecia o homem. Mas, pelo uniforme, concluiu que pertencia ao Bloco Oriental. Se permanecesse vivo poderia fornecer indicaes importantes. Levaram-no com todo cuidado ao cmbio e retornaram ao acampamento. Sob a influncia dos medicamentos de que Rhodan podia dispor l, o homem logo recuperou a conscincia. Ao despertar no sentiu dores; Rhodan cuidara disso. Olhou em torno, um tanto admirado, apoiou-se sobre os cotovelos e levantou-se. Onde estou? perguntou em russo. No o entendo respondeu Rhodan. O senhor fala ingls? O homem fez que sim. O senhor... Rhodan? perguntou em tom hesitante. Rhodan confirmou com um aceno de cabea. Quem o senhor? Talvez o homem no tivesse a inteno e dar uma resposta verdica a Rhodan. Mesmo que este o tivesse libertado das garras do lagarto, ainda continuava a ser seu inimigo. Mas o olhar de Rhodan, a fora imensa daquela vontade e as energias vitais irradiadas por um homem dotado de imortalidade relativa representavam uma sugesto irresistvel que reforou a pergunta. Ao homem no restou outra alternativa seno dizer a verdade. Meu nome Trewuchin. Sou ajudante do general Tomisenkow. Satisfeito, Rhodan acenou com a cabea. Formulou outras perguntas. Embora Trewuchin antes estivesse decidido da enganar Rhodan na medida do possvel, respondeu sem hesitao e conforme a verdade. *** Tomisenkow no conseguiu conciliar o sono. A costela doa, e os acontecimentos do dia que passara representavam uma carga excessiva at mesmo para um homem enrijecido como o general. Sempre que conseguia mergulhar numa espcie de torpor, lagartos voadores que cuspiam fogo exibiam seus olhos vermelhos e queriam agarr-lo, fazendo-o despertar com um grito de pavor reprimido. Deitou sobre o lado direito do corpo e olhou para a orla da moita de arbustos que, numa linha negra, se destacava de forma estranha contra o cu cinzento. A atmosfera densa e o sol muito prximo, curou sua mente cansada. Em Vnus a claridade nunca completa, porque o ar muito denso, nem a escurido total, porque a atmosfera um timo condutor da luz. Um holofote iniciou o trabalho, cansado, descrevendo um crculo lento. O crculo comeou ao norte, girou para o leste e para o sul. Tomisenkow cerrou os olhos para no ser ofuscado quando o feixe de luz atingisse os arbustos. Pretendia fechar os olhos; mas no o fez. Viu alguma coisa. Os arbustos se moviam, e alguma coisa larga e desajeitada saiu por entre os mesmos. S Tomisenkow o vira luz do holofote. De incio pensara que fosse um animal; mas logo ouviu o zumbido fraco e agudo de uma mquina.
Perry Rhodan! A idia provocou o impacto de um choque eltrico. Rhodan descobrira a posio do acampamento e iria atacar. Nem concluiu seus pensamentos. Levantou-se, devagar e gemendo baixinho, para no chamar a ateno dos outros. A rea dos arbustos no ficava a mais de cem metros. Rhodan usaria de cautela ao se aproximar do acampamento, e at l... Seria intil tentar organizar a resistncia com o punhado de homens sonolentos e de moral abalada. Se Rhodan atacasse o acampamento, estaria preparado. Naquela situao s uma coisa importava: que ele, Tomisenkow, no casse nas mos do inimigo. Penetrou no mato de arbustos na direo noroeste, rastejou por uns cinqenta metros e ficou aguardando. Levou algum tempo para examinar a deciso tomada s pressas e nada de errado viu na mesma. De nada teria adiantado despertar os homens que se encontravam no acampamento e procurar resistir a Rhodan. Mas, ao sair furtivamente e sozinho, teria uma chance de escapar na confuso do combate que devia comear a qualquer momento. Depois de ter esperado uns cinco minutos sem ouvir nada, comeou a ficar nervoso. Pelos seus clculos Rhodan j deveria ter iniciado o ataque. Outros cinco minutos se passaram e Tomisenkow se sentiu dominado pela curiosidade. Rastejou cautelosamente em direo ao acampamento. Quando se encontrava a quinze metros da clareira, ouviu vozes. Mais trs metros, e conseguiu distinguir as palavras. Algum falava em ingls. Por um instante ficou imobilizado de susto, ao ouvir a voz de Rhodan: Deve estar escondido nestas moitas. No pode ter ido longe. Procurem-no; tenham cuidado. Tomisenkow ouviu o estalo de galhos que se quebravam. O rudo reanimou-o. Voltou a fugir na direo noroeste o mais rpido que pde. No se sentiu nada bem ao correr a toda pressa pelo matagal escuro. Mas no perdeu tempo em refletir para onde a fuga o levaria. A direo geral era correta, e talvez conseguisse chamar a ateno dos tripulantes do foguete. O que mais o perturbava era que, segundo tudo indicava, Rhodan tomara o acampamento em silncio e sem qualquer luta. Depois de algum tempo no saberia dizer h quanto tempo j vinha percorrendo o matagal de arbustos o terreno, que at ento subia suavemente em direo ao norte, tornou-se plano para depois descer, num declive tambm suave, na mesma direo. A vegetao de arbustos foi se tornando cada vez mais densa e vez ou outra surgiam rvores, das quais Tomisenkow se desviava. Toda vez que fazia uma pausa para descansar ouvia seus perseguidores, que falavam e faziam farfalhar os arbustos. No era de admirar. Se dispusessem de lmpadas, mesmo que estas no fossem muito boas, o rastro teria de lhes revelar o caminho. Dali em diante se esforou para usar um pouco mais de agilidade, no quebrando tantos galhos e evitando deixar marcas no solo. Esse esforo devia ter consumido toda sua ateno, pois apesar do tamanho descomunal s percebeu aquilo que dele se aproximava quando, por um triz, iria esbarrar no peito largo e peludo e o hlito ftido e chiante atingiu seu rosto, vindo de cima. Tomisenkow reagiu de forma instintiva, e foi o que o salvou. No sabia que animal
era este em cujas garras quase chegara a se atirar espontaneamente. Pelo que podia ver no escuro parecia um urso, mas tinha pelo menos o triplo do tamanho do maior dos ursos que Tomisenkow j havia visto. De qualquer maneira Tomisenkow, muito assustado, deu um salto para o lado, escapando assim primeira patada. Ao primeiro salto se seguiu um segundo, que, no momento o colocou fora do alcance das patas do animal exaltado. Saiu tropeando, sem prestar ateno direo em que se deslocava. Atrs de si ouviu o rudo de patas e de galhos que quebravam. Lanou um olhar rpido por cima do ombro e viu a massa escura e cambaleante que vinha atrs dele. Provavelmente estaria perdido, se o acaso no o tivesse protegido de forma to estranha. Ao se levantar depois de um grande salto por cima de uma rvore tombada, o cho cedeu sob seus ps. Soltou um grito abafado e abriu os braos, procura de apoio. Mas ao que parecia aquele buraco traioeiro tinha um dimetro maior que a envergadura de seus braos. Praticamente sem a menor resistncia caiu vertiginosamente para dentro de um poo onde a escurido era ainda maior que na selva noturna. Aos arranhes e pancadas a viagem para o fundo prosseguiu ao menos por uns cinco ou seis metros. Depois o poo descreveu uma curva. Uma viagem infernal levou Tomisenkow a um recinto cuja forma era regular, semelhante de um funil, conforme constatou logo depois. Aguou o ouvido e percebeu um rugido profundo. Torres de terra caram pelo poo. Depois houve alguns segundos de silncio. Logo depois ouviu passos retumbantes que se afastavam l em cima. Tomisenkow respirou aliviado. Fosse qual fosse o lugar em que acabara de aterrisar, se salvara das garras do urso. Arriscou-se a acender um fsforo e observou o lugar em que se encontrava. Era um verdadeiro milagre que se encontrasse so e salvo depois da queda. O funil tinha cerca de quatro metros de altura, e o buraco pelo qual viera ficava mais de trs metros acima da ponta do funil. Havia outros buracos, indicando que vrios poos desembocavam ali. Infelizmente a parede era to ngreme e lisa que Tomisenkow no poderia subir por ela para alcanar a borda de um dos buracos. Tirou o grande canivete que trazia consigo e ps-se a trabalhar a parede revestida de uma massa vtrea. O trabalho progredia bem. Embora no fosse fcil, Tomisenkow tinha esperana de, nas prximas cinco horas, cavar os degraus que lhe fossem necessrios para atingir um dos buracos. O que importava por enquanto era que Rhodan e seus homens no o encontrassem. Quanto a isso, se julgava em segurana l embaixo. S depois de algum tempo comeou a refletir sobre a finalidade daquele funil e de suas diversas entradas. Notara que, at a altura de cerca de cinqenta centmetros, a ponta do funil estava cheia de certo tipo de lixo; talvez fosse a poeira que penetrava pelos buracos, fechados apenas por uma fina camada de terra. Acontece que aquilo que Tomisenkow sentia sob os ps eram objetos slidos. Acendeu outro fsforo e examinou o material sobre o qual se apoiavam seus ps. Pegou ao acaso um objeto duro e examinou-o. Era um pedao de osso; no havia a menor dvida. Tomisenkow teve uma sensao desagradvel. Como teria aquele osso vindo parar no buraco em que se encontrava?
O formato do funil era to regular que no poderia ter sido escavado pela eroso provocada pela gua da chuva. Ainda havia o revestimento vtreo da parede. E os buracos no solo, to bem disfarados. Era uma armadilha! Uma armadilha pertencente a qualquer fera do planeta Vnus. De tempos em tempos viria para verificar o que havia capturado e devorava-o. Tomisenkow ps-se a cavar o revestimento vtreo numa rapidez desesperada. *** Perry Rhodan valera-se do projetor mental para atacar o acampamento, cuja localizao lhe fora revelada pelo ajudante de Tomisenkow. Poucos segundos depois da fuga de Tomisenkow, o projetor cobriu toda a rea do acampamento, impondo a vontade de Rhodan aos que ali se encontravam. No se opuseram quando lhes tiraram as armas e amarraram os braos. Ningum ofereceu resistncia. S quando se encontravam em segurana Rhodan suspendeu a influncia hipnotizante. Os prisioneiros puseram-se a praguejar. Rhodan deixou-os vontade. Escolheu um deles e interrogou-o sobre o general Tomisenkow que, segundo tudo indicava, no se encontrava entre as pessoas aprisionadas. O homem estivera de sentinela prximo ao lugar em que Tomisenkow havia desaparecido no matagal. Disps-se prontamente a prestar um relato fiel, j que Rhodan reforara sua pergunta com toda a fora sugestiva do projetor mental. Aps isso Rhodan ordenou a sada de um grupo de busca, o mesmo do qual Tomisenkow havia fugido. Depois de uma hora o grupo retornou sem ter conseguido nada. Encontrara a pista do gigantesco animal, que encobria a de Tomisenkow. Era tudo. Ningum sabia dizer onde se encontrava o general. O xito inicial de Rhodan foi seguido de outro. Cerca de duas horas aps o ataque ao acampamento, um foguete grosseiro desceu cuspindo fogo e, depois de executar algumas manobras complicadas, pousou a uns quinhentos metros do acampamento. O piloto foi aprisionado, e tambm o resto da tripulao. O piloto revelou que, naquela altura, a diviso s dispunha de um total de oitenta naves espaciais. A resposta de Rhodan foi lacnica: Agora s restam setenta e nove.
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Para Rhodan, Tomisenkow estava desaparecido. Estava convencido que sua fuga desesperada lhe causara a prpria morte. Nenhum homem isolado que dispusesse apenas do armamento do Bloco Oriental, totalmente inadequado para as condies reinantes em Vnus, conseguiria se manter vivo na selva por mais de meio dia de Vnus. O prximo objetivo de Rhodan era o acampamento da diviso espacial, situado na parte noroeste do complexo montanhoso. Pelo que ouvira dos prisioneiros, o trabalho no seria fcil. Muito embora no conhecesse as caractersticas do local, Tomisenkow dera ordem para que os remanescentes de sua diviso se distribussem por uma rea extensa. Se ainda considerasse o terreno difcil, Rhodan poderia ter certeza de que teria de travar uma verdadeira guerra de guerrilhas. Seria intil atacar o acampamento nas montanhas com o armamento da Stardust-III. As armas de bordo haviam sido concebidas para alvos compactos, e Rhodan teria de calcinar toda a zona montanhosa para ter certeza de que a expedio do Bloco Oriental havia sido destruda. No pretendia fazer nada disso. Suas armas leves tambm eram muito superiores s de que dispunham os membros da expedio. Se agisse com alguma cautela poderia atingir seu objetivo sem sofrer perdas e sem recorrer s armas da Stardust-III, que provocariam alteraes na superfcie de Vnus. Ainda era de se considerar que nesse meio tempo o objetivo de Rhodan se modificara. J no estava interessado em destruir a expedio do Bloco Oriental. Antes pelo contrrio, gostaria que o maior nmero possvel de membros da diviso espacial sobrevivesse s lutas que se aproximavam. Pretendia destruir suas naves espaciais e lhes tirar as armas com que poderiam causar estragos em Vnus. Poderiam conservar o resto, inclusive a vida. Rhodan imaginava perfeitamente o que seria feito dos remanescentes da diviso depois disso. *** Tomisenkow desenvolveu uma atividade to furiosa que s ouviu o rudo rastejante quando quase j era tarde demais. Imobilizado pelo susto, entreparou, aguou o ouvido, percebeu o rastejar que se aproximava cada vez mais, e finalmente ouviu um zumbido no ar. No imaginava o que poderia ser aquilo. A escurido era total, e no se atrevia a acender uma luz. Mas aquela coisa monstruosa espalhou um mau cheiro que quase o levou a vomitar. Ouviu outro zumbido e sentiu uma forte pancada no ombro. Quase chegou a cair. Apesar do pnico que se apossou dele, percebeu que aquilo que o havia atingido no ombro era mole e tinha a grossura de um robusto brao de homem. Ao menos era o que conclua com base na sensao provocada pela pancada. Tomisenkow se encolheu o mais que pde. O medo projetou luzes coloridas e danantes diante de seus olhos e cobriu-lhe a testa de suor. Sentiu um chiado no ouvido.
Mas tirou a pistola, reuniu a coragem que lhe restava e esperou. Ao que tudo indicava a coisa que acabara de ouvir havia penetrado por um dos poos. Mas o fato de que no despencara como ele, mas movia-se tranqilamente, indicava que no era uma das vtimas da armadilha, mas provavelmente o possuidor da mesma. Naquele momento parecia bastante irritado. Alguma coisa tateou na escurido, acima da cabea de Tomisenkow, e logo o brao mole e vigoroso voltou a descer. Desta vez se moveu com segurana. Envolveu o ombro de Tomisenkow e passou por baixo de seus braos. Este se controlou e esperou. S comeou a disparar quando o brao flcido e gosmento comeou a levant-lo. Os tiros de pistola encheram o recinto subterrneo com um ribombar ensurdecedor. Quase inconsciente, Tomisenkow percebeu que a sensibilidade acstica dos ouvidos diminua, e eles se encheram de uma msica aguda. Os tiros provocaram nele uma espcie de embriaguez. Continuou a comprimir o gatilho da arma automtica, at que a pancada seca do percussor indicou que o pente de balas estava vazio. O brao que enlaara Tomisenkow comeou a tremer. Este percebeu que a fora do mesmo diminua, e subitamente caiu ao solo. O brao soltara-o. Por cima dele, o animal, ferido pelos tiros de pistola, provocava um barulho infernal em meio escurido. Com um movimento suave, Tomisenkow enfiou outro pente de balas na pistola e esperou. Calculava que o animal, ferido pelos tiros, se poria em fuga ou morreria. Por isso levou um susto quase mortal quando voltou a ouvir o zumbido que j conhecia e, pelo que se deduzia do deslocamento de ar, o brao tentacular passara rente ao seu rosto. Com a queda, Tomisenkow encontrava-se em posio diferente. O animal teria que procur-lo de novo. A resistncia de seus nervos estava chegando ao fim. No quis esperar para ver se o animal conseguiria encontr-lo de novo; apontou a pistola na direo de que viera o rudo e apertou o gatilho. Quando o pente estava vazio, seu corpo emborcou para o frente e o rosto caiu em meio ao lixo fedorento acumulado na ponta do funil. As foras o haviam abandonado por completo. Tentou em vo levantar o corpo com o auxlio dos braos, mas os msculos j no suportavam o peso. Com um choro desesperado voltou a cair para a frente. S depois disso se deu conta de que acima dele tudo estava em silncio. Aguou o ouvido. Tinha a impresso de que percebia um rudo rastejante bem ao longe, mas era s. A idia de que talvez tivesse posto o animal em fuga lhe deu novo nimo. Conseguiu pr-se de p e, depois de ter esperado cinco minutos, durante os quais no ouvira nada, voltou a riscar um fsforo. O funil estava vazio, tal qual ele o vira meia hora atrs. No havia o menor vestgio dos acontecimentos que se desenrolaram no meio tempo, com exceo dos buracos que os tiros de pistola abriram na parede. Tomisenkow estacou. Percebiam-se nitidamente duas sries de pontos de impacto. Era bvio que a primeira provinha do primeiro pente de balas que disparara, e a outra do segundo. As duas sries ficavam direita e esquerda de um dos buracos, aproximadamente a igual distncia do mesmo. Conclua-se que fizera pontaria em direo ao buraco onde supunha que o animal estivesse, mas s atingira a parede, uma vez direita, outra vez
esquerda do alvo. Cada pente continha cinqenta balas. Segundo um clculo ligeiro de Tomisenkow, cada srie de impacto era formado por uns cinqenta furos. Conclua-se que nenhum dos tiros havia atingido o alvo. Por que teria fugido o animal? Tomisenkow achou a pergunta muito interessante; mas o que importava no momento era sair daquele buraco. Num trabalho febril voltou a escavar degraus na parede. Dentro de pouco tempo pde subir ao buraco pelo qual cara no interior do funil. Ainda esperava encontrar algumas dificuldades no interior do poo que, de forma to surpreendente, o conduzira ao interior do planeta Vnus. Mas constatou que parte da cobertura superior do mesmo consistia em cips. Com a queda de Tomisenkow estes foram arrastados para o interior do poo e esperavam que ele os usasse como uma corda de escalada. Experimentou sua firmeza, julgou-a satisfatria e ps-se a subir. Prosseguindo sem pausa, conseguiu pr-se em cho firme. Uma vez l em cima, ficou deitado por algum tempo de bruos e respirou profundamente. Depois se levantou e disps-se a prosseguir em sua caminhada, na direo primitiva. No se ouvia mais nada dos perseguidores que Rhodan mandara no seu encalo. s vezes ouviam-se rudos estranhos e pavorosos; mas Tomisenkow era de opinio que, de animais estranhos e pavorosos, no eram de se esperar rudos de outra espcie. Por enquanto deu-se por satisfeito com o fato de que no estava sendo atacado nem perseguido. No entanto, se interessou em saber em que direo seguira o animal em cuja armadilha cara. No estava disposto a realizar uma fuga apressada e cair novamente em suas garras. Acendeu um fsforo e lanou os olhos em torno. A luminosidade do fsforo no alcanava muito longe; mas logo encontrou o que estava procurando. No era o rastro do animal, mas o prprio animal. Oferecia uma viso estranha. Tomisenkow ofereceu outro e mais outro fsforo e deixou que lhe queimassem os dedos para no perder nada do quadro. O animal estava morto; no havia a menor dvida. Se o nariz de Tomisenkow no tivesse sido irritado pela fumaa dos tiros, provavelmente j teria sentido o mau cheiro. Era um animal sem esqueleto, conforme j supusera, uma espcie de plipo terrestre. O tronco, que devia ter um metro e meio de altura, estendia em todas as direes tentculos de mais de trs metros. Um deles fora o suposto brao que erguera Tomisenkow. Tomisenkow refletiu sobre o que poderia ter causado a morte do animal. Finalmente teve uma idia que de incio lhe pareceu um tanto ousada. Os tiros que disparara produziram trs efeitos distintos: primeiro as balas, depois a fumaa e finalmente o barulho. As balas no haviam acertado o alvo. Conclua-se que a morte do animal fora causada por um dos outros efeitos o barulho ou o cheiro. As probabilidades a favor de uma ou outra das alternativas eram idnticas, e Tomisenkow no se decidiu por nenhuma delas. Introduziu outro pente de balas na pistola e ps-se a andar. O fato de ter se livrado do plipo reforou-o na convico de que conseguiria resistir tambm aos outros perigos da selva.
*** Nesse meio tempo Rhodan obtivera informaes precisas sobre as intenes, a fora e as relaes pessoais da expedio do Bloco Oriental. Sabia que originariamente a expedio era formada por quinhentas naves. O comando cabia ao general Tomisenkow. Era assessorado por dois majores, cinco coronis e grande nmero de oficiais de menor graduao. Dos dois majores s um sobrevivera. Era Lemonovitch. Os prisioneiros de Rhodan tinham certeza de que Lemonovitch assumiria em definitivo o comando dos remanescentes da expedio, assim que soubesse que no devia contar com o aparecimento de Tomisenkow. O objetivo da expedio era evidente. Ao retornar de sua primeira grande expedio a Vnus, Rhodan no ocultara o fato de que ali realizara descobertas importantes descobertas que o tornariam independente da boa ou m vontade dos blocos de potncias terrenas. O Bloco Oriental tambm no dispunha de dados mais exatos. Mas o novo governo do mesmo decidira se apossar dessas descobertas de qualquer maneira, mesmo sem conhecer sua natureza. Por isso a diviso de Tomisenkow decolou em direo a Vnus depois de ter sido submetida a um treinamento intensivo, e ali pousara com quinhentas naves, segundo as previses. Ainda mais notvel que a falta de escrpulos do governo do Bloco Oriental foi o trabalho tcnico levado a efeito. As naves da diviso espacial dispunham de mecanismos de propulso nuclear do tipo daqueles com que estava equipada a Stardust em seu primeiro vo Lua. No momento da decolagem, Vnus se encontrava no ponto mais afastado da Terra. A viagem durara quatro semanas, e a frota conseguiu realiz-la sem qualquer perda. Com esse tipo de gente poderamos conquistar o Universo, se no aparecesse sempre algum idiota que os pe no caminho errado disse Rhodan em tom amargo. Prosseguindo na execuo de seu plano, decolou do acampamento conquistado em direo ao noroeste, onde pretendia atacar os remanescentes da expedio em seu novo esconderijo. Nesse meio tempo, Deringhouse voltara a se reunir ao pequeno grupo. Conduzira Lysenkow e seus homens Stardust-III, e fizera com que principalmente Lysenkow fosse interrogado sob constrio hipntica. Suas declaraes foram cotejadas com as de Trewuchin, ajudante de Tomisenkow. Coincidiam. Pela meia-noite de Vnus o grupo de Rhodan atingiu o p da cordilheira em que os remanescentes da diviso espacial se ocultavam com suas naves. Alm das escassas indicaes sobre a direo do vo, fornecidas pelo setor de localizao da Stardust-III, Rhodan no dispunha de dados sobre a rea em que deveria procur-los. Mas, como soubesse que o novo esconderijo abrangia uma rea de dez mil quilmetros quadrados, sups que, de tempos em tempos, os homens do Bloco Oriental se comunicariam pelo rdio. Mandou que o grupo assumisse suas posies num ponto elevado e instruiu os operadores de rdio para que procurassem captar as mensagens expedidas pela expedio e localizassem os emissores por meio do gonimetro. Dentro de umas oitenta horas j havia registrado cinqenta pontos em seu mapa. Cada um deles correspondia posio de um emissor inimigo. Os pontos se estendiam em trs filas, por vezes em quatro, sobre a rea central da zona montanhosa. Rhodan no pde extrair qualquer detalhe do mapa levantado por
ocasio do primeiro vo sobre Vnus. Mas estava convencido de que, em todo lugar em que havia registrado um ponto, ficava um vale. As naves no teriam pousado em encostas onde seriam facilmente visveis, muito menos em plats. Pelas oitenta e cinco horas da manh, quando a noite j ia chegando ao fim, Rhodan ps-se a caminho com os membros de seu grupo. Da Stardust-III, Bell transmitira a informao de que tudo estava em ordem. Mas observou que, segundo os dados fornecidos pelo dispositivo positrnico da nave, no deveria retardar muito sua entrada no forte de Vnus, pois do contrrio o grande dispositivo positrnico da fortaleza no mais estaria em condies de, com base no trecho conhecido, calcular toda a rbita do planeta Peregrino. O grupo de cmbios voou prximo s encostas, na direo noroeste. Deslocava-se a uma altitude mdia de quatro mil metros acima da plancie. Mesmo nessa altitude os flancos da montanha estavam cobertos com uma selva to densa como na plancie. Quatro mil metros no representavam uma diferena de altitude muito significativa para o clima quente e mido reinante em Vnus. A projeo do terreno sobre as telas localizadoras forneceu um quadro bizarro. A montanha era uma formao jovem. As rochas eram ngremes, arestosas e, na expresso de Deringhouse, livres de qualquer compromisso. Pelas oitenta e oito horas passaram altura do primeiro ponto registrado no mapa de Rhodan. Este no pretendia atacar a posio mais prxima. Preferia vir do norte, para lanar confuso nas posies inimigas. Dentro de uma hora atingiram o centro da fileira de pontos. Rhodan tomou o rumo do sul e se dirigiu a um ponto que, segundo as medies realizadas pelo telegrafista, apresentava uma potncia emissora maior que os demais. O primeiro alvorecer do novo dia surgia no horizonte quando o cmbio de Rhodan passou cautelosamente por cima do cume pontudo da montanha que limitava um vale que, em linha quase vertical, descia profundamente por entre as montanhas. A diferena de altitude entre o cume da montanha e o fundo do vale era superior a dois mil metros. Todas as encostas eram verticais, embora entrecortadas, e o dimetro do vale era de cerca de oito quilmetros. Os cmbios foram descendo rentes encosta. No fundo do vale o mundo ainda no percebera o irromper do novo dia. Era escuro; se os radares inimigos no estivessem dirigidos exatamente sobre a encosta vertical, no perceberiam nada do ataque iminente. Por enquanto Rhodan s conseguia perceber a nave nas telas dos localizadores. Os holofotes de luz infravermelha no revelavam nada, e Son Okura, j em companhia de Rhodan, tambm no pde distinguir o objeto. Ao que tudo indicava a nave se encontrava num lugar cercado de rvores muito altas. Com o crescimento incrivelmente vigoroso que se verificava em Vnus, a clareira aberta durante o pouso j devia ter sido fechada. Rhodan pousou junto ao paredo de rocha. Deixou quatro homens junto aos cmbios, para servirem de sentinelas. Com os outros avanou pela selva em direo nave, cuja posio era indicada com elevado grau de preciso pelo reflexo do aparelho localizador. Deslocaram-se pelo cho da selva. Rhodan achou que seria muito arriscado recorrer aos trajes transportadores. Levaram duas horas para atingir a rea em que supunham que estivesse o objetivo. Nesse meio tempo clareara tambm no fundo do vale. Son Okura j no era o nico que conseguia ver alguma coisa. Subitamente se depararam com a nave espacial.
Afundara alguns metros no cho macio da selva e se encontrava em posio ligeiramente inclinada. Mas no havia dvida de que estava em boas condies, e para um piloto hbil a inclinao no representaria maior problema durante a decolagem. A nave descansava sobre os suportes de popa. Entre dois dos suportes, os contornos da escotilha de uma comporta desenhavam-se sobre o metal. Rhodan deu ordem para que os homens parassem. Abriremos a escotilha a maarico sugeriu. No deve demorar mais de um minuto; terminaremos antes que l dentro desconfiem de qualquer coisa. Cada nave destas tem uma espcie de depsito, onde so alojados vinte homens durante o vo, e, na ponta, a sala do piloto. No sei quantos homens se encontram nesta nave, mas de qualquer maneira deveremos encontrar alguns tanto no depsito como na sala do piloto. Fiquem de olhos abertos. No queremos torcer-lhes o pescoo, mas se houver qualquer resistncia, atirem imediatamente. Entendido? Tudo h de dar certo! *** O major Lemonovitch pousara sua nave na extremidade noroeste da cordilheira. Uma segunda nave pousara pouco depois da sua no mesmo vale. Face mensagem de Tomisenkow, Lemonovitch deu ordem para que uma das naves pousadas no setor sudeste decolasse e fosse buscar o general. A nave no deu mais sinal de vida, e j fazia cem horas que decolara. Lemonovitch estava convencido de que cara ou fora derrubada pelo inimigo. Fazia aproximadamente o mesmo tempo que no tinha qualquer contato com o general Tomisenkow e seu ajudante. Procurara localizar o general pelo rdio e, de algumas horas para c, acreditava que fora vitimado pelas condies reinantes em Vnus, tal qual o piloto e seu foguete. Esclarecera a tropa de que provavelmente o general Tomisenkow estaria morto, ou teria cado em mos do inimigo, e que ele mesmo, Lemonovitch, como oficial de patente mais elevada, assumiria o comando da diviso. Parecia tudo muito simples; mas Lemonovitch ficou quebrando a cabea sobre o que deveria fazer. Ao que tudo indicava o esconderijo era seguro. Aquilo que receara no incio, que o inimigo atacasse toda a zona montanhosa com suas armas superiores e a transformasse num pantanal incandescente e radiativo, no se realizara. No sabia dizer por que Rhodan no adotara esse procedimento, mas o mesmo lhe convinha sobremaneira. Todavia, a misso da diviso espacial no consistia em ficar parado nos esconderijos at que as naves se deteriorassem ou os homens envelhecessem. Alguma coisa tinha de ser feita. O dia foi amanhecendo, e Lemonovitch, sorvendo seu caf preto que para os demais membros da diviso fora submetido a um racionamento extremamente rigoroso matutava sobre seu problema, quando houve uma ocorrncia que de golpe o livrou de todas as dores de cabea. Algum abriu com uma forte pancada a escotilha que separava a sala do piloto do depsito situado abaixo da mesma e enfiou a cabea. Lemonovitch esteve a ponto de repreender o homem. Mas este ps-se a falar, extremamente exaltado: H um comunicado, major, um comunicado! A C-145 foi atacada pelo inimigo. S a sala do piloto ainda resiste com cinco tripulantes. Esto pedindo socorro. Rhodan participa pessoalmente do ataque. Por alguns segundos Lemonovitch ficou imobilizado pelo susto. Compreendeu em
primeiro lugar o perigo que ameaava a C-145, e logo aps a chance que se lhe oferecia. Levantou-se de um salto, comprimiu o boto que acionava as sereias de alarma e gritou para o ordenana: Diga ao oficial de armas que se apresente imediatamente com seus homens. A escotilha foi fechada com um forte rudo. Lemonovitch se inclinou sobre uma grande folha de papel coberta por uma rede de coordenadas. A posio das naves estava registrada com a preciso de um minuto de coordenada, a configurao das montanhas apenas constava com certa aproximao. Quando o oficial de armas e seus trs homens precipitaram-se atravs da escotilha, Lemonovitch j sabia como devia ser orientado o tiro. Pegou o oficial pelo ombro e arrastou-o para junto do mapa. Aqui! disse ofegante. Esta a C-145. H poucos minutos foi atacada por Rhodan e seus homens. Dirija uma salva de ao menos cinco foguetes contra a mesma. Nunca mais teremos uma chance destas. E atire bem para o alto. No quero que os projteis sejam interceptados por alguma montanha. Entendido? O oficial fez que sim e transmitiu a um de seus homens as coordenadas constantes do mapa. Trs oficiais subalternos comearam a apontar as peas de artilharia. Subitamente o homem que havia recebido a ordem de Lemonovitch estacou: Major, ser que Rhodan j se apoderou da C-145? indagou. Todos os nossos homens esto mortos? Lemonovitch se limitou a gritar: Podemos agarrar Rhodan, e vamos agarr-lo! O jovem oficial de armas deu de ombros. Pronto para disparar anunciou um de seus subordinados. E o oficial ordenou, lanando um olhar para Lemonovitch: Fogo! *** Os quarenta homens que se encontravam no compartimento de depsito se entregaram imediatamente. Mas no foi possvel evitar todo e qualquer rudo, e os cinco homens que se encontravam na sala do piloto desconfiaram. A escotilha foi trancada, e mesmo a fora unida dos quatro projetores mentais levou algum tempo para transpor o macio anteparo metlico e vencer a resistncia da tripulao da sala do piloto. A escotilha foi aberta, e Rhodan entrou com uma pressa estranha. Os cinco homens se agruparam em torno da escotilha e pelos seus rostos se concluiria que h muito tempo se preparavam para receber a visita de Rhodan. Este fez sinal para que o japons se aproximasse. Son Okura subiu pela escotilha com a agilidade de um esquilo. Pergunte se enviaram uma mensagem pelo rdio ordenou Rhodan. Okura formulou a pergunta em russo. Rhodan viu que um dos homens respondeu com um aceno de cabea. O homem disse algumas palavras, que Okura traduziu: Informou o major Lemonovitch de que a nave estava sendo atacada, e de que o senhor se encontrava entre os atacantes. Rhodan virou-se apressadamente e gritou pela escotilha: A nave ser evacuada imediatamente. Existe um perigo gravssimo. Houve muita confuso. S os homens de Rhodan sabia que este aludia a um perigo realmente gravssimo quando usava essa expresso. Apesar da influncia hipntica a que
se achavam submetidos, os prisioneiros no se deram muita pressa em executar a ordem de evacuao. Os homens de Rhodan tiveram que tang-los com suas armas. Aos cmbios gritou Rhodan atrs deles. Depois disso fez os cinco tripulantes da sala do piloto sarem pela escotilha e descerem a escada. Ele mesmo e Okura puseram-se no fim da fila. Okura estava curioso para conhecer o motivo de tanta pressa, mas nem sequer teve tempo para perguntar. Uma vez fora da nave, Rhodan indicou aos prisioneiros a direo em que deviam correr. Son Okura traduziu: O caminho este. Corram como o diabo, se quiserem continuar vivos. Rhodan e o japons valeram-se dos trajes transportadores arcnidas e voaram a toda velocidade acima da folhagem das rvores. Satisfeito, Rhodan constatou que seus homens iam uns duzentos metros sua frente. Tinha certeza de que, uma vez livres da influncia do projetor mental, no teriam coisa mais urgente a fazer seno se reagrupar na tentativa de um contra-ataque. O importante era que tinha chamado sua ateno para o perigo. Quando Rhodan e Okura alcanaram o local do pouso, os cmbios estavam prontos para decolar. Levantaram vo imediatamente e foram subindo junto encosta ngreme. Finalmente Rhodan teve tempo para esclarecer seus homens sobre o perigo que os ameaava. Lemonovitch, que o comandante atual da expedio, est informado sobre nosso ataque disse pelo telecomunicador. At sabe que eu participei dele. de esperar que, sem considerao por sua gente, procure destruir nosso grupo. Conforme sabemos, as naves do Bloco Oriental dispem... olhem, a vem. Os cmbios haviam vencido aproximadamente metade da encosta quando, l embaixo, sucederam-se quatro exploses ofuscantes. Quem prestasse ateno perceberia que duas delas ocorreram exatamente sobre o local em que se encontrava pousada a nave, enquanto as outras detonaram mais ao sul. Dentro de uma frao de segundo, uma enorme onda de compresso atingiu os cmbios. Ao mesmo tempo o ribombar tremendo das exploses envolveu os veculos e provocou um forte zumbido no ouvido dos homens. Os cmbios dispunham de um dispositivo automtico de compensao. Mantiveram o equilbrio e, alm disso, o deslocamento de ar provocado pela exploso levou-os para o alto com uma velocidade maior do que seria conseguido com a potncia dos motores. Depois de terem passado pelo cume da montanha e pousado do lado oposto, encontravam-se em segurana. Rhodan espiou para o interior do vale. Sabia que com isso se expunha pessoalmente, pois o nvel de radiatividade desprendida at mesmo por um foguete de tamanho mdio era considervel, e o traje arcnida, que era um excelente meio de transporte, oferecia uma proteo reduzida contra a mesma. No viu nenhum sinal dos homens que tangera para fora da nave. Contara com um nico foguete. Mas j que Lemonovitch no quis assumir nenhum risco, disparando quatro foguetes de vez, achou duvidoso que qualquer dos tripulantes da C-145 ainda estivesse vivo. Apesar disso entrou em contacto com a Stardust-III, e instruiu Bell para que enviasse quanto antes um cmbio cujos tripulantes deviam ser protegidos contra radiaes, para empreender a busca de eventuais sobreviventes. Enquanto isso, um dos subordinados do tenente Tanner constatou que, no flanco norte da montanha que fechava o vale pelo oeste, explodira um quinto foguete, que abrira
uma cratera de dimenses apreciveis. Poucos minutos depois, os cinqenta homens da expedio de Rhodan puseram-se a caminho, tanto para abandonarem a rea submetida a uma radiatividade mais intensa como para, quanto antes, acrescentarem outra ao primeira. Rhodan no se iludiu: dali em diante as dificuldades seriam bem maiores. Lemonovitch estava prevenido. Se no estivesse plenamente convencido de que Rhodan fora vitimado pelos foguetes, avisaria seus homens. Por enquanto o que mais importava a Rhodan era a constatao de que a expedio do Bloco Oriental fora desfalcada de mais uma nave. Ainda sobravam setenta e oito. *** Pelas cento e dez horas, tempo local, o general Tomisenkow chegou a um lugar da selva em que acreditava reconhecer uma trilha aberta por seus homens. No tinha certeza absoluta. O crescimento vegetal extremamente rpido de Vnus faria desaparecer dentro de uma hora qualquer trilha que fosse aberta. Mas na antiga trilha predominariam os brotos recentes. Tomisenkow examinou o local e concluiu que tivera razo. Seus homens haviam passado por ali; se seguisse a trilha, dentro de pouco tempo se uniria a eles. As horas passadas pela contagem de tempo terreno seriam dias produziram uma modificao profunda em Tomisenkow. Matara a tiros dois monstros em forma de urso que queriam devor-lo, esmagara uma cobra com a mo, e matara quinze outras tambm a tiro. Escapara a um daqueles plipos, cujos mtodos de caa no ficavam restritos s armadilhas, mas compreendiam a perseguio em terreno aberto; imitando os macacos, deslocou-se pelos galhos com rapidez maior que o animal de corpo flcido. No fim de seu passeio areo ficara preso numa teia de aranha cujos fios tinham a grossura de um dedo humano. Vira a horrvel aranha, de tamanho superior ao de um homem, bem perto de si; balanando-se fortemente e de maneira ritmada, conseguiu romper a rede. Gastara duas horas para se libertar dos fios pegajosos a ponto de poder se locomover livremente. Nessas duas horas estivera praticamente indefeso. s cento e quinze horas fez uma longa pausa. Consumiu os alimentos colhidos no caminho e se deitou para dormir num entroncamento de galhos, bem no alto, na copa de uma rvore. Descobrira que a vida na selva se desenvolve em quatro degraus distintos. O primeiro era o das armadilhas dos plipos e dos animais revestidos de crneas que, como os enormes vermes, com eles viviam em simbiose. Esse degrau ficava em mdia cinco metros abaixo do solo. O segundo degrau era o nvel do solo, com seus animais perigosos, entre os quais se destacavam os surios, com os quais Tomisenkow ainda no se defrontara diretamente, e os monstros em forma de urso que, conforme Tomisenkow descobrira, tambm pertenciam classe dos surios, sendo apenas de uma outra espcie. O terceiro degrau situava-se na altura das copas das rvores, na galeria inferior de galhos, a uns dez metros acima do nvel do solo. Era o reino das aranhas, muito mais numerosas do que Tomisenkow supusera de incio. Isso acontecia porque sabiam esconder suas teias com muita astcia. Quem no desconfiasse de sua presena nunca as encontraria. O ltimo degrau, situado entre uns vinte e quarenta metros acima do nvel do solo,
correspondia parte superior das copas das rvores, cuja populao era bastante restrita. Havia pequenos lagartos voadores, cujo tamanho variava entre o de um pardal e o de um pombo, e outros seres estranhos, tambm inofensivos, que para Tomisenkow representavam um degrau intermedirio entre os lagartos e a classe mais baixa de animais de sangue quente. Ali podia se deitar para dormir sem ser devorado imediatamente, e Tomisenkow aproveitou a vantagem. No incio se aborreceu com o fato de que um lagarto voador curioso, que pousara em seu rosto, despertou-o de um sono profundo. Mas acabou se conformando com o fato de que o lugar mais agradvel de Vnus era muito pior que o cho duro da tundra siberiana. Outra zona a ser evitada era o limite superior da folhagem. que acima das rvores mais altas comeava um setor que poderia ser designado como o quinto degrau. Era a regio dos grandes lagartos voadores, pelos quais Trewuchin, seu ajudante, havia sido vitimado. Mas quem se mantivesse escondido na folhagem no tinha por que tem-los. Perto do meio-dia, Tomisenkow voltou a pr-se a caminho. Cinco horas de sono foram suficientes para restituir-lhe as foras. A mata fumegava sob os raios do sol, e a temperatura na superfcie do solo aproximava-se da marca dos cinqenta graus. Mas tambm a esse calor Tomisenkow j se acostumara. Manteve-se na trilha aberta por seus homens, afastando com os braos os galhos e as trepadeiras finas que cresceram nesse meio tempo. Dali a duas horas, percebeu que o terreno entrava em aclive. Poucos minutos depois o caminho se tornou bastante ngreme, e o suor comeou a porejar na testa de Tomisenkow. Num lugar em que havia uma pequena abertura na folhagem viu os cumes das montanhas, quase na vertical acima de sua cabea. Atingira a cordilheira! Conseguira! Tinha certeza de que encontraria ainda nesse dia algum dos seus homens. A trilha, que at ento cortara a selva em linha reta, comeou a descrever curvas. Grandes blocos de pedra estavam espalhados pela mata, e s vezes a subida era to ngreme que Tomisenkow teve que se deslocar de quatro. No teve mais sossego. Avanava rapidamente sem pensar em outra coisa alm do caminho e da esperana feroz de encontrar seus homens alm da primeira curva. No foi na primeira curva, nem na segunda. Mas, depois de ter marchado quase dez horas depois do ltimo descanso, viu-se num desfiladeiro estreito que representava a entrada de um imenso vale, que se estendia entre as montanhas na direo quase exata do norte. Espantado, Tomisenkow constatou que praticamente no havia qualquer vegetao no fundo do vale. Era o primeiro trecho de solo nu que descobria em Vnus. Talvez os vapores vulcnicos fossem responsveis pelo fenmeno. Tomisenkow viu a neblina passar diante das encostas. As imensas montanhas que fechavam o vale retinham a luz, j por si bastante turva. Tomisenkow no enxergava a mais de cem metros. Mas, como seus homens deviam ter penetrado no vale, no hesitou em proceder da mesma maneira. Depois de percorrer algumas centenas de metros fora da selva, a atmosfera comeou a se modificar. Sentiu o cheiro do enxofre e de outras coisas desagradveis. Parou por um instante e aspirou o ar. Ao que parecia no havia qualquer perigo. Teve uma ligeira tosse, era tudo. Depois de ter prosseguido por meia hora, ficou perguntando a si mesmo qual seria o comprimento daquele vale. Subitamente algum o chamou da escurido reinante entre as
rochas cadas. Eram palavras russas. Mas fazia tanto tempo que Tomisenkow no ouvira qualquer voz humana, que at sua lngua materna o assustou. Reagindo com a rapidez que aprendera na selva, deixou-se cair para a frente e procurou abrigo numa fenda na rocha. Sou Tomisenkow! respondeu. Quem est chamando? Um riso de deboche soou entre as rochas. Conte isso a outro! Tomisenkow est morto. Furioso, Tomisenkow se levantou de um salto. Pois olhe, seu idiota! gritou. Sou Tomisenkow ou no sou? A sentinela no se perturbou. Largue a arma; depois darei uma olhada em voc. Tomisenkow obedeceu. Est bem; j vou. O homem saiu de seu esconderijo, com a pistola automtica engatilhada. Parou a dois metros de Tomisenkow. Ficou intrigado com o cabelo branco do mesmo, e a barba crescida no meio tempo. Alm disso, o general no tivera oportunidade ou interesse em se lavar. Cada centmetro quadrado de sua pele estava oculto sob uma grossa camada de sujeira. Apesar disso a sentinela o reconheceu. o general! disse perplexo. Vejam s! Voltou-se e sua mo apontou para um ponto situado no fundo do vale. Por ali est a C-103. a ltima nave de que dispomos. O susto de Tomisenkow foi tamanho que por algum tempo no conseguiu dizer uma palavra. No bem isto retificou a sentinela. Temos mais algumas; mas esto deitadas de nariz, ou os tanques esto vazios, ou o reator queimou, e no sei mais o qu. De qualquer maneira, a C-103 a nica que est em condies de voar. Durante sua marcha Tomisenkow no se entregara a muitas iluses; mas o que acabara de ouvir ultrapassou seus piores temores. Levou algum tempo para se recuperar do choque. Leve-me para junto dos meus homens ordenou sentinela.
5
Rhodan agiu rapidamente e com uma preciso absoluta. O ataque C-145 ficou sendo um caso isolado. Dali em diante Rhodan colocou seus homens em ao em vrios pontos ao mesmo tempo e lhes ordenou que no assumissem qualquer risco. Utilizando o dispositivo defletor dos trajes transportadores, se aproximavam de forma invisvel das naves inimigas. Colocavam sob os suportes uma carga de explosivo suficiente para derrubar a nave, abriam os tanques a tiro, fazendo com que o precioso hidrognio lquido se exalasse em poucos segundos ou danificavam os reatores de tal forma que ficavam inutilizados para sempre. Todas essas aes foram executadas praticamente sem incidentes. Pelo meio-dia o inimigo s dispunha de trs naves, que Rhodan poupara para o caminho de volta. s cento e vinte e cinco horas, duas delas haviam sido destrudas, e Rhodan disps-se a atacar a ltima, a C-103, com maior dose de cautela, j que, do contingente de cerca de cinco mil homens com que a expedio do Bloco Oriental ainda contava, mais de dois mil se encontravam no esconderijo da C-103. *** O motivo era convincente. Depois da evacuao do primeiro acampamento, a maior parte dos sobreviventes teve que se privar de qualquer conforto e empreender a marcha pela selva. Ao chegar cordilheira, a coluna encontrou em primeiro lugar a nave C-103, que pousara mais ao leste. Como os homens no tivessem a inteno de acrescentar outros quilmetros aos at ento percorridos para encontrar o esconderijo de outra nave, a maioria ficou junto C-103. S alguns homens mais corajosos e apenas levemente feridos prosseguiram na marcha e se abrigaram junto a uma das outras naves. Os dois mil e duzentos homens que o general Tomisenkow encontrou no acampamento da C-103 contavam que o prximo alvo dos ataques de Rhodan seria aquela nave. primeira vista, Tomisenkow percebeu que teria de jogar tudo numa cartada e psse a preparar a recepo de Rhodan. Soube que poucos dos grupos atacados por Rhodan ainda mantinham contato radiofnico. A opinio generalizada era a de que, nos outros pontos, ningum mais estava vivo. Mas Tomisenkow retificou essa opinio pronta e radicalmente. Sempre que Rhodan inutiliza uma nave, derrubando-a, as instalaes de rdio so destrudas explicou. Assim que nossos homens tenham reparado os aparelhos, voltaremos a ter notcias deles. As informaes recebidas das naves cujas instalaes radiofnicas no haviam sido destrudas pareciam um tanto confusas a Tomisenkow. Em todas elas se dizia que, apesar da vigilncia intensa da rea que cercava a nave, a aproximao do inimigo no foi notada. O que isso? resmungou Tomisenkow. Ele no pode se tornar invisvel. Mas no estava muito convencido do que estava afirmando. Para Tomisenkow era ainda mais estranho o fato de que, em todas as aes de
Rhodan sobre as quais recebera relatos radiofnicos, nenhuma pessoa sofrer o menor dano. Sem dvida a coisa seria diferente no caso das naves tombadas. Teria havido mortos e feridos. De qualquer maneira, dos relatos chegados C-103 se deduzia que Rhodan se esforava para derramar a menor quantidade possvel de sangue. Por qu? De inicio Tomisenkow mandou retirar da nave duas bases de lanamento de foguetes e empilhar uma reserva de munies em redor das mesmas. Se, apesar de tudo, Rhodan conseguisse derrubar a nave, no ficaria indefeso. Os foguetes traziam um ncleo explosivo do tipo Baby, com uma carga de plutnio que, por si, estava abaixo do limite crtico. Ela s se tornava crtica por meio de um refletor de paredes grossas que funcionava com base no oxido de berlio. O detonador funcionava segundo o princpio da imploso. Os foguetes, com os respectivos detonadores, no eram muito maiores que a granada de um projtil de canho. Alm disso, Tomisenkow postou seus homens em vrias fileiras atravs dos blocos de rocha que, de ambos os lados, margeavam as encostas do vale. Um grupo de tcnicos de comunicao instalou uma linha telefnica provisria de ambos os lados da entrada do vale, para que a sentinela pudesse avisar Tomisenkow assim que Rhodan se aproximasse. Tomisenkow ordenou, ainda, a suspenso de todas as comunicaes pelo rdio. No havia dvida de que Rhodan s conseguira descobrir os esconderijos com tamanha rapidez porque os telegrafistas das naves lhe facilitaram a localizao goniomtrica. O general rugiu de raiva ao saber que ningum se lembrara de suspender em tempo as comunicaes pelo rdio. A ltima instruo que transmitiu antes do ataque foi dirigida aos mil e quinhentos homens que no receberam qualquer incumbncia especfica. Receberam ordem para se comportar como quem se sente em segurana. Tomisenkow tinha certeza de que Rhodan observaria o acampamento por algum tempo antes de iniciar o ataque. Depois disso Tomisenkow ficou espera. *** Rhodan veio do norte. Pelas cento e quarenta horas os cmbios sobrevoaram a entrada do vale e pousaram junto borda oeste, uns mil metros acima do fundo. O acampamento foi observado por algum tempo. Parece que est tudo em ordem disse o major Deringhouse. Rhodan olhou pelo binculo. Alguns prisioneiros afirmaram que nesse acampamento se encontram dois mil e duzentos homens disse em tom pensativo. L embaixo vejo uns mil e quinhentos. Onde esto os outros? Deringhouse deu de ombros. No fao a menor idia. Talvez estejam caando. Rhodan riu. Setecentos homens? No, alguma coisa no est em ordem. Sabem que ns atacaremos e esto preparados. Deringhouse voltou a pegar o binculo e olhou para o vale. Mas, como Tomisenkow tivesse escondido seus homens muito bem, no pde ver nada. O major Nyssen e o tenente Tanner sugeriram que se desistisse do procedimento habitual, destruindo a nave e o acampamento por meio de uma bomba nuclear. Rhodan rejeitou a proposta.
No posso dispensar nenhum homem em Vnus respondeu. Decidiu voar para dentro do acampamento em companhia de Tanner e Deringhouse. Enquanto isso, Nyssen assumiria o comando dos cmbios. Rhodan e seus acompanhantes tornaram-se invisveis por meio dos defletores. O nico objeto visvel era a carga explosiva, do tamanho de um melo, que Tanner carregava consigo e pretendia colocar por baixo de um dos suportes da C-103. Mas s parte do melo ficava fora do campo de deflexo. A grande desvantagem dos campos defletores consistia no fato de que um homem envolto pelo mesmo no podia ver outro que se encontrasse nas mesmas condies; neste ponto era tal qual um estranho. Para no perderem o contato, Rhodan e seus homens tiveram de voar de mos dadas. *** O tenente Jossip ocupava seu posto na ltima fileira, junto encosta oeste. Ali estava h algumas horas e j comeara a praguejar contra o mundo em geral e contra o general Tomisenkow em particular, porque proibira fumar. O que Jossip mais precisava era de um cigarro, mas no podia... Alguma coisa atingiu-o no ombro e caiu ao solo com um baque. Era uma pedra, uma pedra bem achatada. Jossip se virou e procurou descobrir de onde viera a pedra. Evidentemente de cima. s vezes alguma pedra se desprendia do paredo. A posio no era isenta de perigo. Mesmo que Rhodan no atacasse, a gente poderia esticar as botas. Jossip voltou posio anterior e, por falta do que fazer, olhou por cima da mira de sua pistola automtica. Dali poderia acertar... Jossip cerrou os olhos e bateu com a palma da mo na testa. Mas a coisa continuava ali. Era uma semi-esfera de uns quinze centmetros de dimetro, de cor cinza-escura. O objeto flutuava no ar, um metro ou pouco mais acima da superfcie da rocha achatada, atrs da qual Rhodan estava deitado. Danava para cima e para baixo e foi se afastando lentamente. Jossip levantou a arma e fez pontaria. No mesmo instante algum bateu no seu ombro. No que pretende atirar? Jossip se virou sobressaltado. Deixe de tolices! chiou algum. Era o capito Ljubol, que se encontrava atrs dele. A mo trmula de Jossip apontou na direo do objeto voador. Olhe, ali est... gaguejou. Parou espantado. A semi-esfera havia desaparecido. Mas a curiosidade de Ljubol fora aguada. Jossip contou sua histria. Ljubol torceu o rosto e disse: D-me um gole daquilo que voc andou bebendo e ficarei bem quietinho. *** O tenente Tanner procurou avaliar a melhor posio para provocar a queda da nave. Decidiu-se pelo suporte voltado para o interior do vale e ali colocou seu melo, sem que
ningum desconfiasse. A exploso arrancaria o suporte e faria a nave tombar para o lado em que se encontrava o mesmo. A proa bateria perto do lugar em que estavam sentados alguns dos homens aos quais Tomisenkow ordenara que fizessem de conta que no temiam qualquer perigo, e lhes meteria um tremendo susto. Pronto? perguntou Rhodan com a voz baixa. Sim respondeu Tanner. Tenha cuidado; vamos regressar ordenou Rhodan. Voltaram pelo mesmo caminho. Mas, antes de chegar primeira linha de soldados, Rhodan deu ordem para acionar os neutralizadores gravitacionais para voarem acima das fileiras, em vez de passarem andando. Foi quando aconteceu o desastre. Tanner estava de p sobre uma rocha inclinada; quando se disps a acionar o neutralizador, escorregou. No teve tempo para regular o desempenho do mesmo de tal forma que o traje o conduzisse para cima. Praguejando, caiu sobre a rocha e rolou para baixo. Com um baque, mas invisvel, aterrizou no cho mole do vale. Sua praga foi ouvida e a sentinela viu a impresso que o corpo de Tanner deixara no cho macio. O homem no perdeu tempo em descobrir o que havia acontecido ou indagar se uma coisa dessas era possvel: atirou. Gritou para os que se encontravam nas proximidades e apontou para a impresso deixada pelo corpo de Tanner. Dentro de poucos segundos o fogo de pelo menos vinte pistolas automticas se concentrou sobre o tenente. Era bem verdade que o traje transportador de Tanner dispunha de um anteparo energtico que absorvia os projteis e os fazia cair ao cho. Mas fora concebido de forma a permitir que seu portador resistisse inclume ao fogo de uma ou duas armas. Para resistir a centenas de impactos produzidos pelas balas expelidas por vinte pistolas automticas teria de recorrer a uma suplementao de energia, e esta foi extrada do gerador do dispositivo de neutralizao gravitacional e do defletor. Com isso Tanner ficou privado da possibilidade de se locomover, e seu defletor falhou: tornou-se visvel. Alm disso, o impacto dos projteis sobre o envoltrio energtico causou uma srie de sacudidelas desagradveis, que o impediam at mesmo de sair correndo. Procurou cobertura s pressas e respondeu ao fogo com seu radiador de impulsos. Seguindo a ordem de Rhodan, de, na medida do possvel, poupar vidas humanas, traou uma barreira incandescente sobre a barreira de rocha atrs da qual se abrigara a primeira linha de atiradores, obrigando os homens a encolherem a cabea e se afastarem apressadamente da rea atingida pelo calor escaldante. Mas Tanner no alcanou um xito completo porque fora observado por grupos mais distantes, que contra ele dirigiram seu fogo. Agente firme! gritou Rhodan de algum lugar. Tanner resmungou sua concordncia. Tinha certeza de que Rhodan e Deringhouse no o abandonariam. Sua situao no era das mais brilhantes. Era verdade que estava a salvo de ferimentos; mas o fogo concentrado ininterrupto impediu o funcionamento do neutralizador e do defletor. Estava preso ao lugar, e todo mundo podia v-lo. ***
O general Tomisenkow logo compreendeu a situao. No gastou um segundo para rever sua opinio de que o inimigo no poderia se tornar invisvel. Numa pressa extrema convocou os homens das posies mais afastadas e lanou-os em combate no lugar em que Tanner lutava desesperadamente pela invisibilidade e pela liberdade de movimentos. Nesse instante, Deringhouse, com um ligeiro impulso transmitido pelo rdio, provocou o melo alojado sob o suporte da nave. Tanner, que se encontrava a menos de cem metros de distncia, foi erguido no ar e atirado para o lado. De sua nova posio viu a proa da nave se inclinar e desaparecer numa imensa nuvem de p. Poucos instantes depois o solo comeou a danar sob o impacto do colosso metlico. O fogo cessou por alguns segundos. O defletor de Tanner voltou a funcionar, e ao mesmo tempo a trao leve do campo neutralizador da gravidade se fez sentir. Mas, naquele instante, o major Nyssen j cometera seu erro funesto. Sem ter a viso da luta que se desenrolava rio fundo do vale, ficou convicto de que por algum motivo inexplicvel Rhodan e seus homens corriam perigo. Por isso ordenou o ataque geral. Todos os cmbios, com exceo de um, que permaneceria no cume da montanha para servir de posto de observao, desceram pela encosta. Os cmbios provocaram um susto tremendo entre as ltimas linhas de atiradores dos homens do Bloco Oriental. Os veculos pousaram praticamente sem rudo; ouviram-se vozes exaltadas, mas no se via nada. Poucos segundos depois a rocha comeou a entrar em incandescncia e a ferver bem diante do nariz dos homens. Os homens de Tomisenkow no tiveram outra alternativa seno a fuga. Saram dos abrigos aos montes e correram para o centro do vale. Tomisenkow logo reconheceu a situao e percebeu que contra um inimigo desses era quase indefeso. Quase! Ainda havia uma possibilidade. Fez sinal a trs dos seus oficiais para que se aproximassem e transmitiu-lhes algumas instrues apressadas. Os oficiais se puseram a caminho, de incio em direo sada norte do vale. *** Rhodan ordenou a retirada. No mesmo instante o inimigo, que assumira novas posies no centro do vale, comeou a dirigir o fogo de suas armas contra os cmbios. Como estes dispusessem de campos protetores, nem mesmo as granadas de fuzil, que funcionavam como foguetes em miniatura, podiam lhe causar qualquer dano. Mas os homens de Rhodan se tornaram visveis assim que penetraram na chuva de granadas que desabava em redor dos cmbios, e o fogo das fileiras de atiradores concentrou-se sobre os homens que por alguns instantes podiam ser vistos. Rhodan deu ordem para decolar, pois acreditava que todos j se encontravam em seus lugares. As mquinas se ergueram de um golpe e dispararam para o alto. Todos os cmbios, com exceo de um. Quando comeou a confuso, Tanner se afastou em direo ao norte. No momento em que Rhodan deu ordem de retirada, voou em direo ao cmbio que pousara mais ao norte. Ouviu vozes. A tripulao do cmbio seguia as instrues de Rhodan. Tanner no se deu conta de que, ao contrrio dos outros, este cmbio no estava sendo submetido ao
fogo do inimigo. Mas ouviu que os homens praguejavam enquanto tentavam colocar em funcionamento o gerador. O que houve? perguntou em tom spero. No via ningum, e ningum o via. No quer pegar lamentou-se um dos interlocutores invisveis. Deixe-me ver. Tanner ocupou o assento do piloto. Comprimiu o boto verde que acionava o gerador e aguardou o zumbido que j conhecia. No veio. No h tempo a perder gritou. Procurem se acomodar num dos outros veculos ou subam nos seus trajes. Rpido! Ouviu o rudo de passos que se afastavam. Tanner deixou-se cair de lado, para fora do veculo, e examinou o chassi. primeira vista, notou o buraco oval cortado no lugar exato em que antes ficara o transmissor de impulsos positrnicos, que conduz os comandos emitidos pelo piloto ao mecanismo de propulso. Algum o retirara. Algum que no entendia praticamente nada da estrutura do cmbio, pois do contrrio teria retirado o gerador. De qualquer maneira a falta do transmissor de impulsos bastava para inutilizar o veculo. Nesse instante Tanner foi alvejado. Algum devia ter visto a impresso que suas botas deixaram no cho macio. No era um fogo concentrado. O campo protetor absorvia-o sem necessidade de recorrer energia destinada ao neutralizador e ao defletor. Tanner se levantou e viu, a uns vinte metros de distncia, metade de um brao e uma pistola automtica que saa de detrs de uma rocha. Disparou o radiador de impulsos at que a rocha entrasse em incandescncia e achou que j era tempo de dar o fora. Os cmbios j se encontravam prximos borda do vale. Tanner dependia de seu traje transportador. Deu o empenho mximo ao neutralizador gravitacional, se desprendeu do solo e foi subindo rente encosta. Levou mais tempo que os cmbios para atingir a borda segura. Mas agora, que no deixava qualquer rastro, ningum mais o molestava. No fundo do vale os tiros emudeceram quando os atiradores no tinham mais nada em que atirar. A poeira levantada pela queda da C-103 j desaparecera. Viu-se que a nave se partira no meio. Nunca mais decolaria. Os homens de Rhodan haviam capturado trs prisioneiros e conseguiram lev-los apenas com ferimentos leves atravs do fogo dos prprios companheiros. Rhodan julgava necessrio interrogar esses homens o quanto antes. Era bem verdade que considerava a posio atual muito perigosa; ordenou o regresso imediato Stardust-III. Tanner ofereceu seu relato sobre a maneira pela qual o ltimo cmbio fora impedido de decolar. Rhodan ergueu as sobrancelhas e disse com certo respeito: Parece que l embaixo o comando exercido por um homem bastante inteligente. *** Tomisenkow tomou conhecimento de que, entre seus homens, havia sete mortos e vinte e dois feridos graves.
Mas no demonstrava muito interesse. Os homens com os quais confabulava eram os especialistas em eletrnica da C-103. Peguem o bloco insistiu Tomisenkow e coloquem-no no mesmo lugar de que foi retirado. No pode ser difcil. Depois coloquem a coisa em funcionamento. Os tcnicos puseram-se a trabalhar. Realmente no houve a menor dificuldade em recolocar o bloco. Como o buraco fosse oval, s havia uma posio de encaixe. Uma vez que a tcnica de transmisso de impulsos dos arcnidas funcionavam sem fios, no havia condutores arrancados dos quais no se soubesse quais os seus correspondentes. Uma vez recolocado e soldado, o bloco estava em condies de funcionar. Os tcnicos no tiveram que fazer outra coisa seno mexer cautelosamente nos diversos comandos e observar a reao da nave. Dentro de uma hora sabiam perfeitamente o que teriam de fazer para movimentar o cmbio, para dirigi-lo direita ou esquerda, para cima ou para baixo. A incumbncia mais importante recebida de Tomisenkow estava cumprida. *** Rhodan realizou o interrogatrio na margem de um pequeno lago situado aproximadamente a meio caminho entre o acampamento da C-103 e o ponto em que se encontrava a Stardust-III. Realizou o interrogatrio pessoalmente e valeu-se do projetor mental para obter a verdade. Quando soube tudo que lhe interessava, se tornou bastante pensativo. Tomisenkow voltou a aparecer disse, dirigindo-se ao major Deringhouse. Ningum tem a menor idia de como conseguiu vencer a distncia entre aquele acampamento e a C-103, mas o fato que voltou. Deringhouse olhou-o perplexo. Qual a distncia? Um momento... Quase duzentos quilmetros, no ? Duzentos quilmetros percorridos a p na selva de Vnus, e isso com uma pistola automtica ou seja l o que ele trazia. E metade do caminho foi percorrida de noite completou Rhodan. Deringhouse respondeu com um aceno de cabea. Este homem de tirar o chapu disse Rhodan, em tom pensativo. O que pretende fazer? perguntou Deringhouse. Rhodan deu de ombros e sorriu. Nada. O inimigo no dispe de qualquer nave com que possa sair de Vnus. Talvez consiga reparar o cmbio; nesse caso no ser mais obrigado a se deslocar a p. O que acha que ser deles? Acredita que esses homens continuaro vivos? perguntou Deringhouse. Rhodan fez que sim. Um deles conseguiu. Para todos em conjunto ser muito mais fcil. *** Logo aps a decolagem, Rhodan transmitiu pelo telecomunicador a ordem para que Tako Kakuta, que se encontrava na Stardust-III, executasse o salto. Dias atrs segundo o tempo terreno quando Rhodan adotou o plano de, na
medida do possvel, poupar a vida de Tomisenkow e seus homens, abandonou automaticamente a outra alternativa, isto , o plano de livrar Vnus dos invasores para convencer o dispositivo positrnico de que no havia mais perigo, fazendo com que abrisse as portas. Tako Kakuta, japons como Son Okura e muitos outros membros do Exrcito de Mutantes, era at ento o nico dentre os homens de Rhodan que possua o dom da teleportao. As energias encerradas no crebro de Tako Kakuta, submetido a um processo de mutao, lhe possibilitavam o transporte por um trecho de at cinqenta mil quilmetros, e isso por um meio que equivalia transio realizada por uma nave espacial. Face a isso, era o nico que poderia estar em condies de penetrar pelas barreiras atrs das quais o crebro positrnico de Vnus se isolava do mundo exterior. Desde o incio Rhodan considerara essa possibilidade. Mas, como a mesma envolvesse certo risco para o japons, teve outra idia. Mas agora, que a sobrevivncia dos homens de Tomisenkow parecia compensar o risco a que iria submeter o mutante, no hesitou em transmitir a este a ordem correspondente, para a qual o mesmo j estava preparado h algum tempo. O campo protetor que o crebro positrnico estendera em torno da fortaleza tinha um raio de quinhentos metros. Mesmo com um traje transportador, Tako levaria algum tempo para penetrar no recinto da fortaleza propriamente dita. *** Pela alegria quase infantil que os homens demonstraram quando a silhueta da Stardust-III se desenhou no horizonte, Rhodan percebeu que, depois dos dias difceis passados no planeta Peregrino e da atuao ininterrupta de Vnus, os mesmos haviam chegado ao limite de suas foras. Os cmbios se deslocaram na formao usual, cerca de dez metros acima da folhagem das rvores. Todos os perigos haviam chegado ao fim, e o conforto da gigantesca nave acenava ao longe. Uma cama macia, um bom caf que no viria dos pacotes de raes arcnidas e, principalmente, tempo para ficar de papo para o ar. No eram motivos mais que suficientes para ficar alegre? Por algum tempo Rhodan acompanhou com um sorriso a palestra excitada que se desenvolvia pelo telecomunicador. Depois pediu silncio. Reginald Bell fizera todos os preparativos para o regresso da pequena expedio. A uma distncia de vinte quilmetros, Rhodan percebeu com o auxlio de um bom binculo que o porto da comporta sul havia sido aberto. Tako Kakuta efetuara o salto. Valendo-se do telecomunicador, que no era afetado pelos campos protetores da fortaleza, avisou que se encontrava a caminho da entrada da base. Executara o salto sem o menor contratempo. Rhodan calculou que mais uma hora se passaria at que Tako obtivesse do crebro positrnico autorizao para desativar o campo protetor. *** Consegui! gritou o capito Ljubol cheio de entusiasmo. Fitou a tela de pontaria do radiador neutrnico e puxou a alavanca que acreditava
ser o gatilho. De incio nada aconteceu, mas dentro de poucos segundos as rvores que apareciam na tela se desfizeram em cinza. O general Tomisenkow resmungou satisfeito. J estava na hora disse. A vm eles. Esforou-se para no olhar a rea da tela que mostrava os arredores do veculo na direo nordeste. O vulto brilhante da gigantesca nave o preocupava e lhe incutia a idia de que aquilo que pretendia fazer talvez fosse to arriscado e irracional que ele e seus homens no conseguiriam sobreviver aos acontecimentos. Depois de pr o cmbio em funcionamento, procuraram encontrar a pista de Rhodan. No encontraram a pista, mas a Stardust-III. No se atreviam a atacar a nave; mas tinham certeza de que nessa rea conseguiriam interceptar Rhodan e seu grupo. De incio s contavam com suas prprias armas, pistolas automticas e lana-granadas. Mas atravs de tentativas ininterruptas, o capito Ljubol descobrira o funcionamento de uma das armas embutidas no veculo. *** Localizao! gritou o homem diante do aparelho de busca de microondas. Mas j era tarde. A estrutura do cmbio emitiu um rudo crepitante. Rhodan logo identificou o rudo: Era produzido pelo impacto de um radiador neutrnico. O veculo e seus ocupantes estariam perdidos, se Rhodan no possusse a faculdade de, na frao de um dcimo de segundo, reagir adequadamente situao mais surpreendente. Atirou-se para a frente e manipulou a direo do veculo por cima do ombro do homem que, imobilizado de pavor, estava sentado diante do volante oval. O cmbio emborcou para a frente e despencou os dez metros que o separavam das folhagens da selva. Os galhos bateram ruidosamente na carroaria, mas quando o veculo se imobilizou estava abrigado dos olhares do inimigo sob uma folhagem de trs metros de espessura. A campainha do monitor de radiaes soou ininterruptamente. A radiatividade induzida pelos nutrons havia atingido o limite da periculosidade. A voz estereotipada de Deringhouse se fez ouvir: Reconheci o inimigo. Vou disparar. O radiador de impulsos do cmbio de Deringhouse foi posto a funcionar. A primeira salva teria transformado o veculo de Tomisenkow numa massa incandescente, se este no tivesse reagido instantaneamente ao fracasso da tentativa de aniquilar o inimigo, colocando o veculo em movimento. O tiro disparado por Deringhouse atingiu o cmbio de Tomisenkow na popa, onde se situavam os principais plos gravitacionais que propagavam o campo neutralizador. O cmbio caiu como uma pedra antes que Tomisenkow pudesse executar qualquer manobra para equilibr-lo. Uma forte pancada se fez ouvir quando o veculo penetrou pela folhagem. A cabea de Tomisenkow bateu com tamanha violncia contra um dos painis que o general imediatamente perdeu a conscincia. Neste meio tempo Rhodan havia empurrado o piloto para fora de seu assento, assumindo pessoalmente a direo. Pelos cantos dos olhos, atravs de uma abertura na folhagem, observou a queda do veculo inimigo e viu outro cmbio que se precipitava
atrs dele. Deringhouse, voc? Sim respondeu Deringhouse. Desta vez o sujeito no escapa! Deixe-o em paz! ordenou Rhodan em tom enrgico. Ele usa nossas prprias armas contra ns! protestou Deringhouse. Assim mesmo deixe-o em paz. Deringhouse fez meia-volta. Os cmbios voltaram a entrar em formao. Rhodan enviou Stardust-III um ligeiro relato do incidente e concluiu: Meu carro precisa de uma descontaminao, e os ocupantes tambm. Preparem tudo. Descontaminao a expresso para a remoo da radiatividade que adere a qualquer corpo. A Stardust-III, o produto refinado de uma tcnica superior, estava preparada para incidentes como o que acabara de se verificar. A campainha do monitor de radiaes deixaria de soar assim que o cmbio fosse colocado sob o chuveiro descontaminador. *** Tako Kakuta, o teleportador japons, tinha uma noo bastante precisa da forma pela qual o crebro positrnico reagiria sua visita no anunciada. Apesar disso no se sentiu muito vontade quando foi avanando pelos corredores amplos e profusamente iluminados em direo sala de comando da gigantesca mquina. Estava sendo observado, no havia a menor dvida. Havia grande nmero de aparelhos de viso e de escuta ocultos nas paredes. Quando tinha percorrido metade do caminho no interior da montanha, o crebro compreendeu qual era o lugar a que se dirigia. Subitamente a parede lateral direita do corredor se abriu e dela saiu grande nmero dos guardas robotizados que h milnios cuidavam da vigilncia e conservao da fortaleza. Tako no resistiu. Os robs conduziram-no pelos corredores e galerias antigravitacionais. Penetraram cada vez mais profundamente na terra, at chegarem ao recinto em que o crebro positrnico inquiria seus prisioneiros pela forma mais detalhada e segura: o interrogatrio hipntico. Sem que pudesse fazer qualquer coisa, a conscincia de Tako se abriu inquirio da mquina, deixando claro que a ltima ordem fornecida por Perry Rhodan no poderia ser cumprida mais, pois do contrrio ele mesmo correria srio perigo. Por ora o crebro positrnico assumiu seu autocomando e fez aquilo que achava mais acertado. Um receptor de telecomunicao da Stardust-III deu sinal e anunciou: Os campos energticos ficaro abertos das cento e setenta e trs horas e zero minutos at as cento e setenta e trs horas e dez minutos. Penetrem nesse intervalo. Rhodan preparou a nave. *** Sentado na parte mais elevada da copa de uma gigantesca rvore, o capito Ljubol observava a Stardust-III. Outro homem estava sentado ao seu lado. O general Tomisenkow, cuja cabea apresentava um enorme galo e zumbia terrivelmente, esperava mais embaixo e, de tempos em tempos, perguntava o que havia
para ver. O quarto homem da equipe, um tcnico em eletrnica, se equilibrava nos destroos da nave, mantidos em posio inclinada por trs galhos fortes, procurando descobrir se os mesmos ainda poderiam servir para alguma coisa. Era bem verdade que a Stardust-III oferecia um quadro impressionante; mas depois de ter esperado meia hora sem que a gigantesca esfera se movesse, Ljubol teve a impresso de que estavam desperdiando seu tempo. O tcnico em eletrnica teve um resultado mais compensador, embora o mesmo levasse Tomisenkow beira do desespero. Conseguiu constatar, fora de qualquer dvida, que as peas mais importantes do cmbio haviam sido danificadas a ponto tal que sem o conhecimento da estranha tecnologia jamais lhe seria possvel voltar a utiliz-lo. Pois retire ao menos o canho com que Ljubol atirou h pouco resmungou Tomisenkow. Isso no adiantaria nada, general respondeu o tcnico. Todos os componentes do veculo, inclusive as armas, so alimentados por um gerador, e justamente este que sofreu as piores avarias. Tomisenkow no acreditou enquanto o tcnico no lhe mostrou as peas do veculo e lhe explicou como estavam danificadas, e como ningum poderia ter a menor idia dos princpios em que se baseava a tecnologia daqueles seres estranhos. S ento Tomisenkow reconheceu que tambm perdera esse round do jogo, um round em que jogara extremamente alto. Compreendeu que, dali em diante, ele e seus homens teriam de viver em paz com aquele mundo. Teriam de encontrar um meio de se adaptar s condies reinantes em Vnus, ou no viveriam sequer o bastante para que uma expedio pudesse vir em seu socorro. Ljubol desa da! gritou Tomisenkow. A ordem foi prontamente executada pelo capito. Estava contente de poder abandonar aquele posto tedioso. Ainda no havia descido dois metros quando a Stardust-III comeou a se mover, deslocando-se numa velocidade considervel em direo a uma cordilheira que se via no horizonte. Mas Ljubol no a via mais. Esse veculo est imprestvel disse Tomisenkow com um gesto de desprezo, depois de ter reunido seus homens no cho da selva. Teremos de caminhar at o acampamento. Ser duro; mas ns havemos de conseguir o que j pude fazer sozinho. Ljubol, pegue a bssola e v na frente. Por enquanto a regra mais importante esta: ficarmos bem juntos e no tocar em nada que no seja necessrio. Vamos! No incio as coisas nem pareciam to ruins. A vegetao era muito densa, e por vezes certos animais que passavam sobre seus ps causavam-lhes calafrios. Mas foram avanando, e no muito devagar. S quando o sol comeou a descer sobre o horizonte se lembraram de que a noite que se aproximava duraria cinco dias da contagem de tempo terrena. Passariam cento e vinte horas na escurido da selva. Continuando a refletir, chegaram concluso de que dali em diante nunca mais seria diferente. No dispunham de naves nas quais pudessem sair daquele planeta. Teriam de viver para sempre em Vnus. Por algumas horas no disseram nada; cada um seguia a trilha de seus pensamentos melanclicos.
Mas logo dois daqueles animais em forma de urso comearam a se ocupar com eles. Ljubol foi o primeiro a not-los, e Tomisenkow deu instrues sobre o comportamento que deveriam adotar. Esconderam-se e, quando aqueles animais dotados de inteligncia medocre puseram-se a procur-los, mataram-nos com granadas disparadas dos fuzis. Prosseguiram em sua marcha. Ainda teriam de lutar vrias vezes antes de chegarem ao acampamento. De repente a coragem voltou, e tambm o orgulho entusistico de poderem mostrar quele mundo que havia chegado algum que era mais poderoso que a selva com seus surios de milhares de toneladas, seus ursos-lagartos e toda a gama de vermes nojentos e rastejantes. Fosse qual fosse o deus em que acreditavam, fosse qual fosse a ideologia implantada em seus crebros, fossem quais fossem as injustias que praticavam entre si, eram homens. Pertenciam raa mais ativa, arrojada e orgulhosa da galxia. E continuariam vivos, no todos, mas um nmero suficiente para que o fio no se rompesse. *** O crebro positrnico interpretou o trecho da rbita de Peregrino e deu a entender que o problema seria solucionado nas prximas duas horas. Mais um dia, e a rbita total do planeta Peregrino no seria mais mistrio. Pela primeira vez desde que o conheciam, os homens notaram a sensao de alvio que se espelhava no rosto de Rhodan. Ele manteve uma palestra com o coronel Freyt, que se encontrava em Galxia, a capital da Terceira Potncia. Freyt se mostrou muito satisfeito quando soube que, dentro de poucas horas, Rhodan e a Stardust-III regressariam Terra. No sei se compreende, mas aos poucos... comeo a no ser entendido por meus homens confessou. Querem que eu faa alguma coisa contra as tendncias expansionistas do Bloco Oriental, mas eu... eu... Rhodan acenou com a cabea. Poremos tudo em ordem. No se preocupe. Mas fique de boca calada; no diga a ningum que estamos para chegar. Entendido? Reginald Bell, que acompanhara a palestra, entendia muito pouco do que estava sendo feito. Enquanto o crebro positrnico estava ocupado no clculo da rbita do planeta Peregrino, Rhodan forneceu a explicao: Quando samos da Terra, no sabia quando regressaramos. Fiz do coronel Freyt o meu representante. Mas ser que o conhecia bastante bem? Quem me garantiria que no se aproveitaria da primeira oportunidade para usar o poderio imenso que tinha ao seu dispor para fazer alguma tolice? Tive que tomar minhas precaues. Freyt ficou submetido a um bloqueio hipntico que o impede de interferir na poltica terrena. Alm disso, deixei mutantes em Galxia, que exerceram certa vigilncia sobre Freyt, cuidando para que no fizesse bobagens. Conforme vemos hoje, a idia do bloqueio hipntico teve sua origem num erro de clculo da minha parte. Em outras palavras, minha opinio sobre o desenvolvimento da poltica terrena foi muito simplista. Acreditei que reinasse uma situao de razovel estabilidade. No calculava com a possibilidade de que algum ainda poderia ter interesse, muito menos que poderia conseguir, pr uma pedra no caminho da unio. Sacudiu os ombros.
Se no fosse assim, as ordens transmitidas a Freyt evidentemente teriam sido outras. Da forma como agora se encontra na base de Gobi, no poderia fazer outra coisa seno se defender de um ataque contra a mesma. At agora no houve nada disso. Mas, quanto ao mais, ficou de mos amarradas. Voc no deve se recriminar por isso disse Bell. Ningum poderia prever que nossa viagem duraria quatro anos e meio. Rhodan sacudiu a cabea. Poderia, sim. Quem se acha investido das minhas responsabilidades deve incluir em seus clculos at mesmo as possibilidades mais remotas. Passou a outro tema. Aqui na fortaleza tivemos de enfrentar o mesmo problema. Fui cauteloso demais, e, alm disso, nunca imaginei a possibilidade de que, em qualquer tempo, outros homens que no ns fossem pousar em Vnus. O crebro reagiu pela forma que eu lhe prescrevi: deixou os homens em paz, eram os homens de Tomisenkow, e, se no tivssemos aparecido em tempo, provavelmente a fortaleza j teria sido ocupada por eles. No momento em que Tomisenkow disparou seus foguetes contra ns, o crebro registrou acontecimentos extraordinrios e inquietantes e se bloqueou tambm contra ns. Modifiquei tudo isso. No futuro, assim que voc, eu ou alguma das outras pessoas que ainda selecionarei irradiar um sinal em cdigo, o crebro positrnico abrir as portas, por mais crtica que seja a situao. Obrigado respondeu Bell. Por qu? indagou Rhodan, perplexo. Pela confiana depositada em mim. Ora, cale a... O crebro positrnico fez soar um sinal. Os clculos sero concludos dentro de cinqenta minutos anunciou uma voz metlica. Bell se levantou. O que faremos agora? Subitamente o rosto de Rhodan assumiu uma expresso dura. Acho que j tivemos muita pacincia disse baixinho, mas com um tom ameaador na voz. Se os homens que habitam a Terra no quiserem se unir, tero de ser obrigados. No podemos operar no universo com a insegurana representada pela desunio terrena s nossas costas. Temos de limpar a mesa. E comearemos com os perturbadores da ordem. s vezes ainda surge um sinal. Mal Rhodan acabou de pronunciar estas palavras, um vulco comeou seu trabalho terrvel no oeste. Sob a presso tremenda desencadeada pelas foras aprisionadas no interior do planeta, uma lava amarela e incandescente subiu numa coluna de centenas de metros e envolveu a paisagem semi-obscurecida numa luz irreal. At parece um smbolo murmurou Bell.
***
A breve permanncia em Peregrino, o planeta da imortalidade, custou a Perry Rhodan e sua equipe quase quatro anos e meio de tempo terreno. Por isso era compreensvel que as potncias da Terra, que j no contavam com seu regresso, iniciassem seu velho jogo. Mas Perry Rhodan estraga a festa. A Guerra Atmica que no Houve, este o ttulo do prximo volume da srie Perry Rhodan.