Santo André da Borda do Campo

vila extinta do século XVI no Brasil

Santo André da Borda do Campo de Piratininga foi a primeira povoação europeia na América Portuguesa a se distanciar do litoral, situada em local indeterminado entre os campos do planalto de Piratininga e a mata da serra de Paranapiacaba, na Capitania de São Vicente, zona que hoje ocupam os municípios de São Caetano do Sul, Santo André e São Bernardo do Campo[1].

Ruínas de Santo André da Borda do Campo, aquarela de Miguelzinho Dutra (1850)

A povoação foi fundada por João Ramalho, por sugestão do Padre Leonardo Nunes, possivelmente em 1550.[2] Elevada a categoria de vila por Tomé de Sousa em 1553, e sempre sob pressão dos ataques dos nativos, a população e o predicamento de vila, isto é, de município, transferiu-se para o povoado jesuítico de São Paulo de Piratininga, onde está hoje o Pátio do Colégio, em 1560, a pedido de Manuel da Nóbrega e por ordem do governador-geral Mem de Sá.

História

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Fundação

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João Ramalho e Filho, óleo sobre tela de José Wasth Rodrigues (1934)

Depois de fundadas as vilas de São Vicente e do porto de Santos, "João Ramalho, homem nobre de espírito guerreiro e valor intrépido”, já com filhos casados, foi ter com Martim Afonso de Sousa quando este chegou a S. Vicente. Este lhe concedeu uma sesmaria, em 1531, na ilha de Guaíbe (na baía de Sepetiba, na atual Mangaratiba). Este Ramalho pois, com o concurso de alguns europeus da vila de S. Vicente, fundou uma nova povoação de serra acima na saída do mato chamado Borda do Campo, com vocação de Santo André.[3]

Mas o povoamento não teve paz e sofria constantes ataques dos índios Tamoios, que habitavam as margens do rio Paraíba do Sul, "e foram os desta nação os mais valorosos que teve o sertão da serra de Paranapiacaba e os da costa do mar até Cabo Frio. Por estes insultos fortificaram os portugueses a sua povoação de Santo André com uma trincheira, dentro da qual construíram quatro baluartes em que cavalgaram artilharia, cuja obra toda foi à custa do dito João Ramalho, que desta povoação foi alcaide-mor e guarda-mor do campo. Em 8 de abril de 1553 foi aclamada em vila em nome do donatário Martim Afonso de Sousa, e provisão do seu capitão-mor governador e ouvidor Antônio de Oliveira, que se achou presente neste ato com Brás Cubas; provedor da fazenda real.[3]

Crise e abandono

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Em 1560, Mem de Sá, governador geral do Estado do Brasil, depois de triunfar contra os franceses de Villegaignon e os Tamoios, destruindo a fortaleza na enseada do Rio de Janeiro, se recolheu à vila de S. Vicente em junho de 1560. Então, o padre superior do colégio dos jesuítas, Manuel da Nóbrega, "pediu ao governador general que fizesse transmigrar aos moradores da vila de Santo André para São Paulo de Piratininga, onde os jesuítas residiam conservando a boa paz e amizade com o rei Teviriçá ( Tibiriçá - cacique de Inhapuambuçu) que já se achava convertido e havia tomado na sagrada fonte os mesmos nomes do donatário da capitania de S. Vicente, chamando-se por isto Martim Afonso Teviriçá: assim se executou, e ficou Piratininga denominando-se vila de S. Paulo de Piratininga da Capitania de São Vicente”.[4]

Até hoje não se sabe exatamente onde foi instalado esse primeiro povoamento. Supõe-se que fosse em algum ponto do território das atuais cidades de São Bernardo do Campo ou Santo André, com Atílio Pessotti indicando as “imediações do quilômetro 18” da Via Anchieta, em São Bernardo do Campo,[5] mas existem diversas hipóteses divergentes.[6]

Após o abandono

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Sesmaria e fazendas

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Em 1561, Amador de Medeiros obteve a concessão de uma sesmaria partindo do rio “Tamandatiiba” (Ribeirão dos Meninos), nas imediações do Caminho do Mar, e com limites de terras na região do Ipiranga e Jabaquara. Estas terras correspondem a parte da extinta vila de Santo André da Borda do Campo.[7] A 24 de abril de 1637, Miguel Aires Maldonado, genro de Amador de Medeiros, doou ao Mosteiro de São Bento a sesmaria que herdou do sogro, pedindo, em troca, uma missa anual por alma dos sogros, doadores e descendentes.[8]

Os monges beneditinos criariam duas fazendas na região, a fazenda São Bernardo e a fazenda São Caetano, que dariam origem às atuais cidades da região do Grande ABC.[9][10]

Cidades modernas

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Apesar de as atuais cidades de Santo André e São Bernardo do Campo não terem sua origem na antiga vila, ambas consideram que seu ano de fundação é 1553, uma vez que recobrem a região onde possivelmente se localizava a vila. O povoamento que deu origem às atuais cidades do Grande ABC começou a se desenvolver após o término da chamada guerra dos índios, no século XVI, e consolidou-se no século XVIII quando surgiram e foram recenseados em 1765, os bairros de Caaguaçu (atual Santo André), São Bernardo e São Caetano do Tijucuçu (atual São Caetano do Sul).

O atual município de Santo André teve origem na estação da São Paulo Railway, no século XIX, que tomou o nome de São Bernardo porque se situava no antigo bairro de São Bernardo, nome mais tarde mudado para Santo André, quando a localidade se separou administrativamente do município de São Bernardo, criado em 1889, pouco antes da proclamação da República. O de São Bernardo tomou esse nome da Fazenda de São Bernardo, dos Monges de São Bento, que no século XVIII ali construíram uma capela dedicada a esse santo.

Referências

  1. USP Notícias. «Cidades do ABC comemoram 450 anos, mas história dá outra interpretação dos fatos». 2002-04-08. Consultado em 11 de junho de 2020 
  2. De acordo com http://www.arquiamigos.org.br/info/info14/img/100anos%20AHMWL-01-05.pdf, página 1, acesso em 9 de janeiro de 2012.
  3. a b Taques, Pedro (2004). História da Capitania de São Vicente. Brasília: Editora do Senado Federal. p. 75 
  4. Taques, Pedro. História da Capitania de São Vicente. Brasília: Edições do Senado Federal, 2004. Página 70. Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/sf000043.pdf, visitado em 24 de outubro de 2011.
  5. Pessotti, Atíllio (2007). Vila de São Bernardo. São Bernardo do Campo: Secretaria de Educação e Cultura. p. 185 
  6. Cardoso, Victor José Mendes. «Santo André, a vila perdida na Borda do Campo» (PDF). UNESP: 6-7. Consultado em 5 de maio de 2024 
  7. Almeida, Celso (2000). «São Bernardo: raízes e evolução. O vulto histórico de Tomás Inocêncio Lustosa». Raízes. Ano XI, número 22 
  8. Weneck, Francisco (1956). «Miguel Aires Maldonado na História Fluminense». Revista genealógica latina, Volumes 8-11 
  9. «Palestra e celebração resgata legado dos beneditinos no tricentenário da primeira capela de São Caetano  - Diocese de Santo André». Diocese de Santo André. 12 de dezembro de 2017 
  10. «1717, o elo histórico de duas cidades-irmãs - Diário do Grande ABC». Jornal Diário do Grande ABC 

Ver também

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Ligações externas

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