Geografia da Roménia

A Roménia (português europeu) ou Romênia (português brasileiro) é um país da Europa de Leste situada no centro-leste do continente europeu, na parte nordeste das Bálcãs, à beira do mar Negro. Com 237 500 km² de área, é o 12.º maior país da Europa. Ocupa a maior parte da bacia inferior do Danúbio e das regiões montanhosas da bacia média do mesmo rio. O país estende-se pelos dois lados das montanhas dos Cárpatos, que formam a barreira natural entre as duas bacias do Danúbio.

Geografia da Roménia
Geografia da Roménia
Mapa da Roménia
Localização
Continente Europa
Região Europa de Leste
Coordenadas 46° N 25° E
Área
Posição 79.º maior
Total 237 500 km²
Terra 97%
Água 3%
Fronteiras
Total 3 195 km
Países vizinhos Hungria, Ucrânia, Moldávia, Bulgária e Sérvia
Linha costeira 245 km
Reivindicações marítimas
Mar territorial 12 milhas
Zona contígua 24 milhas
Zona econômica exclusiva 200  milhas
Altitudes extremas
Ponto mais alto Monte Moldoveanu (2 544 m)
Ponto mais baixo costa do mar Negro (0 m)
 
Maior rio Danúbio (1 075 m)
Clima temperado e continental
Recursos naturais petróleo, madeira, gás natural, carvão, ferro, sal, terra arável, energia hidroelétrica
Uso do solo
Terra arável 41%
Cultivos permanentes 3%
Terra irrigada 31 020 km² (em 1993)
 
Perigos naturais sismos e deslizamentos de terra
Problemas ecológicos erosão e degradação do solo, poluição atmosférica no sul, poluição da água, especialmente nas zonas húmidas do delta do Danúbio
Mapa físico da Roménia com as regiões hitóricas assinaladas

A Roménia fica sensivelmente a meia distância entre o equador e o polo Norte e é equidistante das extremidades longitudinais da Europa: a costa atlântica ibérica a ocidente e os montes Urais a oriente. Tem 3 195 km de fronteira e confina a leste com a Moldávia (681 km de fronteira) e a Ucrânia (649 km), a sul com a Bulgária (631 km), a Sérvia (546 km) e Hungria (448 km) a oeste. A sudeste é limitada por 245 km de costa do mar Negro.

As principais cidades são a capital, Bucareste, Brașov, Timișoara, Cluj-Napoca, Constança, Craiova, e Iași (Jassy).

Regiões históricas

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Tradicionalmente a Roménia está dividida em várias regiões históricas que atualmente não têm significado administrativo:

  • Dobruja — É a região mais oriental, que se estende desde o curso setentrional do Danúbio até às margens do mar Negro.
  • Moldávia (não confundir com o país homónimo) — Estende-se desde os Cárpatos Orientais até ao rio Prut, na fronteira com a Moldávia (país) e com a Ucrânia.
  • Valáquia — Vai desde os Alpes da Transilvânia (Cárpatos meridionais) até à fronteira da Bulgária. É dividida pelo rio Olt na Olténia a ocidente e na Munténia a oriente. O Danúbio forma uma fronteira natural entre a Munténia e Dobruja.
  • Transilvânia — É a região central-ocidental do país. É delimitada a noroeste pelo arco dos Cárpatos, que a separa da região de Maramureș; a oeste pela região de Crișana, partilhada com a Hungria; a sudoeste pela região de Banato, partilhada com a Sérvia e com a Hungria. É nestas áreas a oeste dos Cárpatos que é mais elevada a concentração das maiores minorias étnicas do país (húngaros, saxões e sérvios).

As fronteiras exteriores da Roménia são o resultado de eventos históricos relativamente recentes. Quando estalou a Primeira Guerra Mundial, o território nacional incluía apenas as províncias da Valáquia, Moldávia e Dobruja. Esta área, conhecida como Regat ou Reino Antigo, tornou-se um país independente com a desintegração parcial do Império Otomano em meados do século XIX. No fim da Primeira Guerra Mundial, foram anexadas a Transilvânia e o Banato. Parte desse território foi perdido durante a Segunda Guerra Mundial, mas foi depois foi devolvido mediante negociações. Apesar dessa anexação ter reunido cerca de 85% da população falante de romeno da Europa de Leste numa nação, em contrapartida deixou um número considerável de húngaros étnicos sob administração romena. Ocasionalmente afloram disputas entre a Hungria e a Roménia sobre esse território, pois ambos os países o consideram parte do seu património nacional. Algo semelhante se passa sobre a validade da antiga fronteira romeno-soviética. A Bucovina e a Bessarábia foram províncias da Roménia onde uma parte significativa da população fala romeno, mas passaram a fazer parte da União Soviética depois da Segunda Guerra Mundial e na atualidade continuam a fazer parte da Ucrânia e da Moldávia. Não obstante essas disputas, desde 1989 que a Roménia não faz reclamações territoriais de forma oficial.

Topografia

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A paisagem natural da Roménia divide-se praticamente em partes iguais em montanhas (31%), planícies (33%) e colinas (36%). Estas várias formas de relevo estão espalhadas de forma bastante simétrica desde as montanhas dos Cárpatos, que atingem altitudes de mais de 2 500 m, até ao delta do Danúbio, cuja altitude média é de apenas alguns metros acima do nível do mar.

O arco dos Cárpatos estende-se por mais de mil quilómetros pelo centro do país, cobrindo cerca de 71 000 km². Estas montanhas são de baixa e média altitude e a largura da cordilheira não ultrapassa os 100 km. A cordilheira é profundamente fragmentada por vales longitudinais e transversais e é atravessada por vários grandes rios. Estas características e a existência de muitos passos de montanha, a altitudes que chegam aos 2 256 m, fazem com que os Cárpatos sejam uma barreira que coloca menos entraves aos movimentos do que outras cordilheiras europeias. Outra característica distintiva é a existência de muitas plataformas erodidas que formam planaltos a altitudes relativamente elevadas. Há povoações permanentes a mais de 1 200 m.

Os Cárpatos têm três subcordilheiras principais: os Cárpatos orientais, os Cárpatos meridionais, também chamados Alpes da Transilvânia, e os Cárpatos ocidentais. Cada uma destas cordilheiras tem características importantes que as distinguem.

Os Cárpatos orientais são compostos por três linhas de cumeadas paralelas na direção noroeste-sudeste. A cumeada mais ocidental é uma cordilheira de vulcões extintos com muitos cones e crateras preservadas. A cordilheira tem muitas depressões extensas; é na maior delas que se situa a cidade de Brașov. Nessas depressões situam-se centros indutriais e de mineração importantes, bem como áreas agrícolas. Os Cárpatos orientais estão cobertos por florestas; é ali que se encontram 32% das florestas do país. Também contêm depósitos importantes de minério, incluindo ouro e prata, e as suas nascentes de águas minerais alimentam numerosas estâncias de saúde.

 
O lago Capra, nos montes Făgăraș, a subcordilheira dos Cárpatos meridionais onde se situam as duas montanhas mais altas da Roménia

Nos Cárpatos meridionais encontram-se as montanhas mais altas — os montes Moldoveanu (2 544 m) e Negoiu (2 535 m) — e mais de 150 Lago glaciais. Têm também extensas áreas de pastagens e alguns bosques, mas menos depressões extensas e menos recursos subterrâneos. Nas altitudes mais elevadas, o vento e a chuva transformou as rochas em espetaculares figuras, como a Esfinge e a Babele ("A Velha"), ambas nos montes Bucegi. A região era cruzada por uma antiga rede de estradas trans-carpatianas e ainda há vestígios da antiga estrada romana. Numerosos passos e os vales dos rios Olt, Jiu e Danúbio possibilitam rotas para estradas e linhas férreas através das montanhas.

Os Cárpatos ocidentais são a cordilheira mais baixa das três e estão fragmentados por muitas depressões estruturais profundas. Historicamente funcionaram como "portões", pois o seu cruzamento não apresenta dificuldades mas também são facilmente defendidas. A mais famosa dessas depressões é a das Portas de Ferro, no vale do Danúbio. Os Cárpatos ocidentais são a região dos Cárpatos mais densamente povoada e é na sua parte mais a norte, nos montes Apuseni, que se encontram as povoações a maior altitude.

O grande arco dos Cárpatos cerca as planícies onduladas e colinas do planalto da Transilvânia, o maior do país, situado no centro da Roménia. Esta importante região agrícola também contém extensos depósitos de gás metano e de sal. A sul e a leste dos Cárpatos, os Sub-Cárpatos formam uma franja de terreno ondulante com altitudes entre os 396 e os 1 006 metros. No lado ocidental encontram-se os montes Ocidentais, ligeiramente mais baixos. A simetria do relevo da Roménia tem continuidade com o planalto Geta, a sul dos Sub-Cárpatos, o planalto Moldavo a leste, entre os Sub-Cárpatos e o rio Prut, e o planalto de Dobruja, a sudeste, entre o Danúbio e o mar Negro. Os Sub-Cárpatos e as áreas de planalto apresentam boas condições para o povoamento humano e são áreas importantes de cultivo de fruta, viticultura e outras atividades agrícolas. Também contêm extensos depósitos de lenhite e de gás natural.

Para lá dos contrafortes e dos planaltos dos Cárpatos, estendem-se planícies para sul e para oeste. Nas partes meridionais do país, a planície do Baixo Danúbio é dividida pelo rio Olt — a leste deste rio encontra-se a planície Valáquia; a oeste situa-se a planície Olteniana (ou planície Ocidental). Estas planícies são ricas em chernossolos e constituem a região agrícola mais importante do país. A irrigação é muito usada e os pântanos das várzeas do Danúbio foram drenados e dotados de valas para obter mais terrenos cultiváveis.

As terras mais baixas da Roménia encontram-se na extremidade norte da região de Dobruja, no delta do Danúbio. O delta é uma área pantanosa de marismas, ilhas flutuantes de canas e bancos de areia, onde o Danúbio termina o seu percurso de quase 3 000 km e se divide em três braços esfiapados antes de desaguar no mar Negro. O delta fornece grande parte da produção romena de peixe e as suas canas são usadas para fabricar celulose. A região, classificada como Património Mundial pela UNESCO, é também uma reserva natural de espécies raras de plantas e animais, nomeadamente de aves migratórias.

 
Mapa das classificações de Köppen-Geiger presentes na Roménia[1]
 
Temperatura e precepitação médias em Bucareste

O clima na maior parte da Roménia é do tipo continental temperado sem estação seca e com verões quentes(classificação de Köppen-Geiger Dfb). Na faixa junto ao Danúbio na parte sudoeste e sul-sudoeste do país, o clima é de tipo continental húmido (Dfa), o mesmo acontecendo na parte sudeste relativamente afastada do mar Negro. Na costa, o clima é do tipo oceânico temperado (Cfa). Nas áreas mais altas das montanhas,no interior, há regiões com clima alpino (ET). As características continentais são menos pronunciadas nas regiões orientais. A sul, os invernos são mais amenos do que a norte e há chuvas mais intensas do que no resto do país, especialmente no outono. A sudeste, as chuvas torrenciais são menos frequentes. Na parte norte do país (Maramureș e Bucovina), o clima é mais frio e húmido, com invernos bastante frios.[1][2]

A temperatura média anual é 11 °C no sul e centro sul e 8 °C no nordeste. Em Bucareste situada, na parte sul-sudeste, a temperatura varia entre uma mínima média de -5 °C em janeiro e média máxima de 29 °C em julho e agosto, com médias de -3 °C em janeiro e 23 °C em julho e agosto. A precipitação diminui nos sentidos de oeste para leste e das montanhas para as planícies. A precipitação média anual em algumas regiões montanhosas é superior a 1 000 mm. A precipitação média anual é 635 mm na Transilvânia central, 521 mm em Iaşi (Moldávia) e apenas 381 mm em Constança, na costa do mar Negro. A precipitação só ultrapassa os 750 mm nas zonas montanhosas mais altas da parte ocidental do país, em grande parte na forma de neve. No delta do Danúbio, a precipitação é baixa — média anual é cerca de 370 mm; em Bucareste é 530 mm.

Os verões são geralmente bastante quentes — nas áreas mais baixas do país, como Bucareste, não é raro a temperatura ultrapassar os 35 °C — mas à medida que a altitude aumenta, tanto as temperaturas máximas como as mínimas descem consideravelmente. Os invernos são bastante frios — as temperaturas máximas médias não ultrapassam os 3 °C e -15 °C no cimo das montanhas mais altas, onde há algumas áreas de pergelissolo. O recorde de temperatura mínima é -38,5 °C, registado perto de Brașov in 1942. O recorde de temperatura máxima é 44,5 °C, registado em Râmnicelu, distrito de Brăila, em 1951.[3]

Hidrografia

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O Danúbio nos Portões de Ferro. A Roménia fica à direita e a Sérvia à esquerda.

Depois de entrar no país, na sua parte sudoeste, em Bazias, o Danúbio percorre 1 075 km (quase 40& da sua extensão total) através de território romeno, formando a fronteira meridional com a Sérvia e a Bulgária. Praticamente todos os rios romenos são afluentes do Danúbio, seja diretamente ou indiretamente e quando o Danúbio desagua no mar Negro, quase 40% do caudal é proveniente de rios romenos. Os rios mais importantes são o Mureș, o Olt, o Prut, o Siret, o Ialomiţa, o Someș e Argeș. A maior parte dos rios romenos correm para leste, oeste e sul a partir da coroa central dos Cárpatos. São alimentado por chuva e fusão de neve, o que causa grandes variações de caudal e ocasionalmente cheias catastróficas. A água dos rios da parte oriental do país alimentam os rios Siret e Prut. Na parte sul, os rios desaguam diretamente no Danúbio e na parte ocidental as águas alimentam o rio Tisza, na Hungria, que por sua vez é afluente do Danúbio.

O Danúbio é, de longe, o rio mais importante da Roménia, não só para o transporte, mas também para a produção de energia hidroelétrica. Uma das maiores centrais hidroelétricas da Europa situa-se nos Portões de Ferro, onde o Danúbio sai das gargantas dos Cárpatos. O rio é uma rota importante de transporte, tanto nacional como internacional. É navegável por navios fluviais em todo o curso em território romeno e por navios marítimos até ao porto de Brăila. Um dos problemas do uso do Danúbio para transportes no interior é ser distante da maior parte dos principais centros industriais, além de que bancos pantanosos impedem a navegação em certas áreas.

Notas e referências

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  1. a b Administrația Națională de Meteorologie (2008), Clima României (em romeno), Bucareste: Academiei Române 
  2. «Clima României» (em romeno). Consultado em 17 de março de 2018 
  3. «Climatic Records in Romania» (em inglês). Administrația Națională de Meteorologie. www.meteoromania.ro. Arquivado do original em 6 de setembro de 2009