Federação do Guanais
A Federação do Guanais (também chamada Revolta do Guanais ou Revolução Federalista[1]) foi uma revolução nativista ocorrida na Bahia, no ano de 1832, nas vilas de São Félix e Cachoeira, com pequena recidiva em 1833, constituindo-se um dos germes que provocaram a revolta maior de 1837, conhecida por Sabinada.[2]
Raízes do Movimento
editarExistia na Bahia um sólido desejo autonomista e republicano, presentes ainda no século XVIII, com a Conjuração Baiana. A partir deste movimento inicial, o ideário voltou a eclodir em revoltas e serviu de mote para congregar o povo da Bahia na luta pela Independência que, no Estado, iniciou-se antes mesmo da proclamação oficial, em 1822, e terminando somente a 2 de julho de 1823.[2]
A situação do Brasil, após a sua emancipação, continuava indefinida, com várias correntes de ideais almejando maiores transformações, agravadas sobretudo pela solução encontrada com a abdicação de D. Pedro I em favor de seu filho, ainda menor.[3]
No Recôncavo Baiano fervilhavam os conciliábulos, as associações de cunho secreto projetavam levantes e revoltas, que a Corte combatia através da promoção de eventuais líderes a postos no interior remoto. Em Salvador o nativismo provocara agitações em 1831 nos meses de abril, maio, agosto e outubro com a ideia de deportação dos portugueses e evidenciando o espírito federalista.[4]
Durante a Regência Trina Permanente, vários movimentos revoltosos e revolucionários ocorreram (Classificados, na historiografia, sob o título genérico de “movimentos nativistas”), e um deles veio finalmente a eclodir na Bahia, em 1832.
Uma breve República
editarA partir da Vila de São Félix, no Recôncavo Baiano, Bernardo Miguel Guanais Mineiro chefiou um violento movimento federalista que, em fevereiro de 1832, chegou a estabelecer um governo provisório.[2]
Nove anos depois da Guerra de Independência da Bahia, as ideias republicanas e emancipacionistas que motivaram o povo baiano à luta fizeram os revolucionários acreditarem que era a hora de mudar o regime, então conturbado pela indefinição de como seria o Governo, ausente o Imperador.[2]
Apesar do apoio que receberam por parte dos proprietários, ainda tomados pelo forte sentimento federalista, suas forças não puderam fazer frente à resistência do poder constituído.
A reação do governo foi capitaneada pelo Visconde de Pirajá. Após três dias de lutas, os revoltosos se rendem e seu chefe, Guanais Mineiro, é mandado preso para o Forte do Mar – verdadeiro bastião de forma circular erguido numa ilha artificial para a defesa do porto de Salvador.[4]
Em 26 de abril de 1833, Guanais Mineiro consegue sublevar a fortificação onde estava confinado e, dali, bombardeia Salvador[2] Erguem uma bandeira de três palas: branca, azul e branca e exigem, sem sucesso, a negociação.[5]
Este último levante foi o “canto do cisne” do chefe revolucionário Guanais Mineiro que, dali, foi mandado para o sertão baiano onde, longe das inflamações da capital, encerrou seus dias, deixando grande descendência.
O sentimento republicano
editarApesar do fracasso desta iniciativa, os ideais republicanos continuariam vivos no povo baiano. Eclodiu, novamente, com a Sabinada e veio a ganhar corpo no final do 2º Reinado, sob os auspícios de líderes baianos como Rui Barbosa, Cezar Zama e muitos outros, até eclodir finalmente na Proclamação de 1889.[2]
Cronologia
editarAs principais datas dos eventos protagonizados por Guanais Mineiro:[6]
- 28 de outubro de 1831, no Campo Grande;
- 24 de fevereiro de 1832, na Vila de Cachoeira;
- Março de 1832, em Cachoeira e São Félix;
- 26 e 27 de abril de 1833, no Forte do Mar, em Salvador.
Ver também
editarReferências
- ↑ No primeiro caso, vide Aquino, pág. 481; no segundo, Dias Tavares, pág. 261.
- ↑ a b c d e f Luís Henrique Dias Tavares (2006). História da Bahia. [S.l.]: Edufba/Edusp 10ª ed. pp. 261–267. ISBN 85-232-0239-0
- ↑ Joaquim Silva. J. B. Damasco Penna (1967). História do Brasil. [S.l.]: Companhia Editora Nacional. 227 páginas
- ↑ a b A. Souto Maior (1968). História do Brasil. [S.l.]: Companhia Editora Nacional. 290 páginas
- ↑ Rubim Santos Leão de Aquino (1999). Sociedade brasileira: uma história. [S.l.]: Editora Record. pp. 480 e seg. ISBN 850105674X, 9788501056740
- ↑ Hernâni Donato (1996). Dicionário das batalhas brasileiras. Volume 17 de Biblioteca "Estudos brasileiros" 2 ed. [S.l.]: IBRASA. p. 112. ISBN 9788534800341 ISBN 8534800340. Consultado em 1 de março de 2011