Ermesinda de Carcassona
Ermesinda de Carcassona (Carcassona, c. 972 — Sant Quirze de Besora, 1 de março de 1058) foi condessa consorte de Barcelona, e por duas vezes regente do condado, a primeira vez pelo seu filho Berengário Raimundo I (1017-1021), e a segunda pelo seu neto Raimundo Berengário I (1035-1039). Segundo o historiador Martin Aurell, que lhe dedicou diversos trabalhos, esta mulher foi «sem dúvida a personagem política mais importante do século XI catalão».[1]
Ermesinda de Carcassona | |
---|---|
Reprodução da escultura gótica de Ermesinda de Carcassona, de Guillem Morell (1385). | |
Condessa de Barcelona | |
Reinado | 993 - 1023 1035 - 1039 |
Nascimento | c. 972 |
Carcassona | |
Morte | 1 de março de 1058 (86 anos) |
Sant Quirze de Besora, Catalunha | |
Sepultado em | Catedral de Girona, Espanha |
Cônjuge | Raimundo Borel I de Barcelona |
Pai | Rogério I de Carcassona |
Mãe | Adelaide de Ruergue |
Biografia
editarEra casada desde 991[2][n. 1] com o conde de Barcelona Raimundo Borel, com o qual governou até ele morrer em 1017; o seu falecido marido deu-lhe em testamento o condomínio dos três condados (Barcelona, Girona e Osona) para toda a vida, de modo que ela governou só como regente durante a minoria de idade do seu filho (1017-1021), e depois co-governou como co-proprietária. Contudo, bem cedo surgiram diferenças entre mãe e filho, que não se resolveram até dividirem o domínio: para o seu filho Berengário Raimundo foram os condados de Barcelona e Osona, e para Ermesinda o condado de Girona. Porém, Berengário Raimundo morreu prematuramente em 1035, deixando o domínio aos seus descendentes, momento em que Ermesinda fez uso mais outra vez do seu condomínio para assumir a regência (1035-1039), e depois co-governar com o seu neto.
Neste contexto, marcado pelo enfraquecimento da autoridade condal de Barcelona, teve de se enfrentar à revolta dos barões e senhores feudais que, com epicentro no Penedès e encabeçados por Mir Geribert, desafiaram a potestas condal e a sua política de manter a paz com os sarracenos, em troca pelo cobro de parias. Ermesinda apoiou o seu neto Raimundo Berengário I na sufocação da revolta nobiliária, e conseguiram-no, mas não por retornarem a ordem vigente na época de Raimundo Borel, e sim por aceitarem as novas práticas feudais, as convenientiae.
Durante o cogoverno surgiram novas dissensões, que se agravaram quando seu neto, Raimundo Berengário I, repudiou a política matrimonial desenhada pela sua avó, e casou-se com Almodis de la Marche. Então Ermesinda pressionou as hierarquias eclesiásticas para excomungarem seu neto, o que foi obtido em 1055. A excomunhão enfraqueceu ainda mais a autoridade dos condes de Barcelona e voltou a instigar a revolta nobiliária.
Finalmente em 1057, ela vendeu o seu domínio sobre os condados ao seu neto e retirou-se ao castelo de Sant Quirze de Besora, onde morreu no dia 1 de março de 1058. Foi inumada num sarcófago de pedra situado na galilé exterior da Catedral de Girona.
Em 1385 o rei Pedro o Cerimonioso ordenou que o sarcófago fosse deslocado ao interior da nave e recoberto com um novo sepulcro gótico. Em 1982, o sepulcro gótico foi aberto e se descobriu que a única decoração exterior do sarcófago românico eram dezessete listras de cor vermelha e dourada, considerada como um possível antecedente pré-heráldico do sinal dos Quatre Pals.
Ermesinda realizou importantes doações às dioceses e igrejas dos seus domínios, e foi uma das mulheres com mais autoridade dentro da política do século XI. Governou por cerca de sessenta e seis anos[3] e morreu por volta dos oitenta e cinco, sendo assim uma das mulheres com mais poder político na História da Catalunha. A sua vida exemplifica a evolução da condição da mulher aristocrática na antiga Gótia: passou de ter uma posição privilegiada a perder poder[4] no momento em que as Leges Gothorum se viram relegadas pelas convenientiae feudais que os magnates faziam entre eles à margem das leis, e como estes - mediante a violência e a guerra - questionavam a potestas condal como garante da ordem pública. Este fato conduziu à nova ordem feudal, que dominou durante os dos séculos seguintes.
Ancestrais
editar
Precedido por Raimundo Borel I de Barcelona |
Condessa de Barcelona 993 - 1023 |
Sucedido por Berengário Raimundo |
Precedido por Berengário Raimundo |
Condessa de Barcelona 1035 - 1039 |
Sucedido por Raimundo Berengário I |
Notas
editar- ↑ Não se conservam documentos do seu matrimónio, porém se documenta por vez primeira ao lado do seu marido numa doação ao mosteiro de Santa Cecília de Montserrat realizada em 991 (ver: Gil 2004, pp. 39 e 84)
Referências
- ↑ Aurell, Martin (1991). «Jalons pour une enquête sur les stratégies matrimoniales des comtes catalans (IXe-XIe s.)». Symposium internacional sobre els origens de Catalunya (Segles VIII-XI). 1. 316 páginas.
- ↑ Albertí, p. 17
- ↑ «Laia Marull encarnarà a TV-3 Ermessenda de Carcassona» Marisa de Dios, El Periódico, 30 de abril de 2010
- ↑ Bastons, Teia. «Ermessenda de Carcassona» no jornal El Punt, 22 de outubro de 2009
Bibliografia
editar- Albertí i Casas, Elisenda (2007). Dames, Reines, abadesses, 18 personalitats femenines a la Catalunya medieval. [S.l.]: Albertí Editor. Arquivado do original em 8 de novembro de 2014
- Gil i Roman, Xavier (2004). Diplomatario de Ermesèn, condesa de Barcelona, Girona y Osona (c.991 - 1 de marzo de 1058) (em espanhol). [S.l.: s.n.] ISBN 84-688-6665-2