Cocande,[1][2] Cocanda ou Kokand (em usbeque: Qo‘qon, Қўқон, قوقان; em persa: خوقند; romaniz.: Xuqand; em quirguiz: Кокон; romaniz.: Kokon; em tajique: Хӯқанд; romaniz.: Xökand[nt 1] é uma cidade do leste do Usbequistão, situada na província de Fergana e na região sudoeste da parte usbeque do vale de Fergana, cerca de 30 km em linha reta a norte da fronteira com o Tajiquistão. Tem 40 km² de área e em 2020 tinha 254 700 habitantes.

Bandeira do Uzbequistão Cocande

Concanda • Qo‘qon • Kokand • Khoqand

 
  Cidade  
Palácio de Cudaiar Cã
Palácio de Cudaiar Cã
Palácio de Cudaiar Cã
Localização
Cocande está localizado em: Uzbequistão
Cocande
Localização de Cocande no Usbequistão
Coordenadas 40° 31′ 43″ N, 70° 56′ 33″ L
País Uzbequistão
Província Fergana
Características geográficas
Área total 40 km²
População total (2020) 254 700 hab.
Densidade 6 367,5 hab./km²
150700
Cocande é um dos pontos da Rota da Seda

Situa-se 90 km a oeste de Fergana, 130 km a oeste-sudoeste de Andijã, 240 km a sudeste de Tasquente e 160 km a leste-nordeste de Khujand, no Tajiquistão (distâncias por estrada). Está localizada na Rota da Seda e no cruzamento das duas rotas de comércio principais do vale de Fergana, uma que vai para noroeste, através das montanhas, em direção a Tasquente, e outra para oeste, passando por Khujand, pelo que é o principal polo de transportes do vale.[carece de fontes?] O seu nome deriva do clã Cocã, pertencente à tribo usbeque Kongrat.[3]

História

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As primeiras menções históricas à região da cidade são de diplomatas chineses.[carece de fontes?] No século II, o viajante chinês Chzhan Tszjan relatou que no local existia uma cidade grande e desenvolvida.[4] Em 138 a.C. as tribos locais ficaram vassalas ou foram conquistadas pela Dinastia Han durante o reinado dom imperador Wu para lutarem contra os hunos. No século VIII, o Califado Omíada conquistou a região à Dinastia Tang.[carece de fontes?]

A cidade existe pelo menos desde o século X, quando se chamava Cavacande (Khavakand),[carece de fontes?] Hukand ou Havokand[5] e era um entreposto na Rota da Seda que é mencionado em relatos dos viajantes que percorriam as rotas de caravanas entre a Ásia Central, Ásia Meridional e a Ásia Oriental.[carece de fontes?] Entre os séculos X e XII, vários historiadores e geógrafos árabes e persas, como Alistacri, ibne Cave Cala, Mocadaci e outros, mencionaram a cidade.[4] No século XIII foi destruída pelos mongóis, durante o reinado de Gêngis Cã, que nela teve das suas residências. Tamerlão (r. 1370–1405), o fundador do Império Timúrida, fez a festa de casamento de um dos seus netos em Cavavande, na qual estiveram presentes cerca de quinhentos embaixadores de povos dos domínios timúridas. Entre 1571 e 1626 pertenceu ao Canato de Bucara.[carece de fontes?]

Cerca de 1700-1710, o emir Xaruque Begue, provavelmente um usbeque manguita da tribo Mingue (ou Miñ),[nt 2] declarou-se independente de Bucara. A cidade atual foi fundada em 1732 como uma fortaleza por Raim, filho de Xaruque, que fundou uma vila batizada em sua homenagem, Kala-i Rahim-biy no local onde existiam quatro antigos fortes, conhecidos conjuntamente como Iski-Kurgan. Em 1740, a cidade tornou-se a capital do estado fundado por Xaruque,[nt 3] que passou a ser conhecido como Canato de Cocande. Graças a este estatuto e ao afluxo de gente da tribo do , Cocande desenvolveu-se e tornou-se um importante centro religioso islâmico, onde houve mais 300 mesquitas. O poderoso Canato de Cocande chegou a dominar todo o vale de Fergana e chegou a controlar quase todo o território do que é hoje o Usbequistão, estendendo-se para ocidente até Qyzylorda (atualmente no Cazaquistão) e para nordeste até Bisqueque (atualmente capital do Quirguistão).[carece de fontes?]

Na época do Grande Jogo, no século XIX, a influência sobre o Canato de Cocande foi disputada entre os impérios britânico e russo. Acabaria por ser conquistado pelos russos em 1876, com a tomada da cidade de Cocande pelo então coronel Skobeliev. Cocande foi depois integrada no oblast de Fergana do Turquestão Russo, cujo primeiro governador foi o general Konstantin von Kaufman.[carece de fontes?]

Tirando partido da instabilidade que se seguiu à Revolução Russa de 1917, separatistas locais formaram um estado provisório antibolchevique independente, a Autonomia de Cocande, também conhecida como Governo Provisório do Turquestão Autónomo, que durou 72 dias e tinha capital em Cocande. Os separatistas tentaram, sem grande sucesso, ter a colaboração do general do Exército Branco Alexander Dutov, um dos líderes da contrarrevolução dos cossacos, da Autonomia de Alash e do emir deposto de Bucara.[6]

Na noite de 6 para 7 de fevereiro de 1918 a cidade foi cercada pelo Exército Vermelho e por tropas da Federação Revolucionária Armênia. Seguiram-se violentos combates de rua, que depois se alargaram às áreas vizinhas com a participação de rebeldes basmachi e que prosseguiram até à década de 1930. Cocande foi integrada na República Socialista Soviética Autónoma do Turquestão e em 1924, quando esta foi dissolvido, passou a pertencer à República Socialista Soviética Usbeque, que durou até à independência do Usbequistão na sequência da dissolução da União Soviética em 1991.[carece de fontes?]

Principais monumentos

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O centro histórico de Cocande é candidato a Património Mundial desde 2008. Dos diversos monumentos que fazem parte do sítio candidato destacam-se a Urda ("fortaleza" ou "cidadela", residência dos cãs de Cocande, conhecida como Palácio de Cudaiar Cã (Khudoyorkhan; Khudayar; ou Xudoyor), as madraças Norbutabiy, Kamol Kozi (ou Kamol Qozi ou Kamol-Kazy) e Miyon Khazrat, as Mesquitas Djami, Gishtlik e de Mulkabad, os mausoléus Dahman-Shakhon e de Madari, Dasturkhonchi, Sohibzod Kazrat, Zingbardor, algumas casas residenciais como as de Ayubbay, de Alimjan-khoji, de Qozi (juiz) Abdurakhman e Qazi Saidkhan, bem como alguns edifícios da parte europeia e mais moderna, como o Banco Russo-Ásia, as casas de Vadyaev, Potelyahov, dos irmãos Simhaev e dos irmãos Mandalak, entre outros.[4] A cidade tem sete museus.[7]

O Palácio de Cudaiar Cã (em usbeque: Xudoyorxon oʻrdasi), também conhecido como Fortaleza de Cudaiar Cã,[8] é uma das principais atrações turísticas de Cocande. Foi construído entre 1860 e 1874 pelo último de Cocande, Maomé Cudaiar Muhammad Khudayar Khan, que reinou entre 1845 e 1875 com interrupções. Quando a sua construção ficou concluída era um dos maiores e mais opulentos palácios da Ásia Central. Ocupava mais de 16 000 m² no centro da cidade e tinha sete pátios e 113 divisões. Após o bombardeamento de que foi alvo pelas tropas russas só ficaram de pé dois pátios e 19 divisões. Além do palácio, Cudaiar Cã construiu várias mesquitas e madraças.[carece de fontes?] O Museu da História de Cocande, inaugurado em 1925, funciona no palácio.[7]

 
Soldados do Cã de Cocande em frente da porta do palácio real em 1865–1872
 
Porta da Madraça Norbutabiy

O complexo de Dahman-Shakhon é um conjunto monumental situado na parte antiga da cidade, do qual fazem parte a necrópole de Dakhma-i-Shakhon, a Mesquita e Madraça Norbutabiy e o Mausoléu de Madari Cã. O Dakhma-i-Shakhon (ou Khazira Dahman-Shahon) propriamente dito é um mausoléu dos cãs de Cocande e dos seus familiares, construído pelo cã Maomé Omar, que também lá está sepultado. As portas da entrada têm inscrições em árabe com passagens do Alcorão e de poemas da autoria de Maomé Omar. Durante muito tempo esteve ao abandono e foi delapidado, mas foi restaurado em 1971 por artesãos locais.[9]

O Mausoléu de Madari Cã (ou Khazira Modarikhan) é um conjunto religioso construído em 1825 para a mãe do cã Modari (ou Madali), Mohlaroyim, mais conhecida pelo seu pseudónimo literário Nodira, esposa de Maomé Omar, e regente de facto durante a juventude de Madari, que foi executada por enforcamento pelo emir de Bucara Nasrallah Cã. Junto ao mausoléu da governante poetisa há um monumento em mármore e bronze.[10]

A Madraça Miyon Khazrat (ou Miyen-Hazrat) data do século XVIII. Tem três pátios, dois no eixo leste-oeste e um no eixo norte-sul, os quais estão rodeados de hujras (celas de habitação de estudantes). A entrada é no lado ocidental do pátio sul, constituída por um portal-cúpula darvazahana com portas de madeira esculpida. Na parte sul há uma mesquita de planta quadrada com um pequeno minarete no canto sudeste. O poeta usbeque Muqimiy (Muhammad Aminxoʻja, 1850–1903) estudou nessa madraça.[4]

A Madraça Miyon Khazrat deve o seu nome ao seu fundador (também conhecido como Mien Akhad), um nativo de Pexauar (atualmente no Paquistão) que se instalou em Cocande e se notabilizou como teólogo. Na madraça funciona o Museu Mukimi, um museu literário dedicado ao poeta Aminkhuja Mukimi, que durante muitos anos viveu e foi professor na madraça. Além da sua hujra (quarto) e de objetos relacionados com o poeta, o museu tem exposição diversas peças representativas do ambiente literário de Cocande na segunda metade do século XIX.[11]

A Madraça Norbutabiy (ou Norbut-biy), atualmente chamada Madraça Mir, é a maior escola religiosa islâmica da cidade. Foi construída entre 1796 e 1799. Esteve encerrada durante o período soviético mas reabriu depois da independência e no início da década de 2010 tinha 80 estudantes. A Mesquita Norbutabiy, adjacente à madraça homónima e da mesma época, foi a única instituição religiosa de Cocande que funcionou durante a era soviética; foi fechada pelos bolcheviques mas foi reaberta por Estaline para ganhar o apoio dos muçulmanos para a guerra.[12] O cã Narbuta (ou Norboʻta) era muito religioso e durante o seu reinado de 37 anos foram construídas 120 mesquitas em Cocande.[9]

A Mesquita Djami e o seu minarete foram construídos entre 1800 e 1812 ou entre 1814 e 1817, por ordem do cã Maomé Omar. É uma mesquita congregacional que mede 97,5 por 25,5 metros e é suportada por 98 colunas, 88 no exterior e 10 no interior, muitas delas feitas com ulmeiros vindos da Índia. Tem ao centro um minarete com 22 metros de altura que em tempos foi a torre de relógio da cidade.[13] A Mesquita Gishtlik (ou Gʻishtli), a Mesquita Mulkabad e a Madraça Amin Beg foram concluídas em 1913.[4]

A Casa-Museu Khamza (ou Hamza) é dedicado ao escritor, poeta, dramaturgo e herói da União Soviética Khamza Khakimzade Niazi (1889–1929), considerado o fundador da literatura soviética usbeque e da pai da poesia usbeque moderna. Foi fundado em 1959 na casa onde nasceu e cresceu o poeta, uma casa tradicional usbeque, com divisões separadas para homens e mulheres, o que permite ao visitante ter uma ideia do quotidiano duma família abastada usbeque desse tempo. Além dos objetos ligados à memória do escritor, conserva-se também o gabinete do seu pai, um médico famoso na cidade, e uma coleção de instrumentos musicais usbeques.[14]

  1. Outros nomes e grafias com que a cidade é ou foi referida são: Havokand, Hukand, Kakan, Khavakand (Cavacande), Khavakend, Khokand, Khokend, Khoqand, Kokan, Kokande, Kukand, Qoqon e Xuqand.
  2. Os mingues (ming, miñ ou minglar) eram um ramo da tribo dos manguitas (manghud ou manghit), a que também pertencia a dinastia reinante em Bucara a partir de meados do século XVIII, quando tomaram o poder no Canato de Bucara e fundaram o Emirado de Bucara. Não têm qualquer relação com a Dinastia Ming da China.
  3. Segundo outras fontes, foi Xaruque quem instalou a capital do seu canato em Cocande e mandou construir a sua fortaleza.

Referências

  1. Alves, Manuel (1942), Brasil e as nações do mundo: história, grandeza e população comparadas com o Brasil, Rio de Janeiro, p. 78 
  2. Vasconcellos-Abreu, Guilherme de (1892), Passos dos Lusíadas estudados à luz da mitologia e do orientalismo: memória apresentada à X Sessão do Congresso internacional dos orientalistas, Lisboa: Imprensa nacional, p. 4 
  3. Географические названия мира: Топонимический словарь [Os nomes geográficos do mundo: Dicionário toponímico] (em russo), Ast. Pospelov E.M., 2001 
  4. a b c d e Centro histórico de Qoqon. UNESCO World Heritage Centre - World Heritage List (whc.unesco.org). Em inglês ; em francês ; em espanhol. Páginas visitadas em 28-9-2020.
  5. Hays, Jeff. «Fergana Valley Region of Uzbekistan» (em inglês). FactsandDetails.com. Consultado em 28 de setembro de 2020 
  6. Khalid, Adeeb (2000), The Politics of Muslim Cultural Reform, Jadidism in Central Asia (em inglês), Oxford University Press 
  7. a b «Kokand Regional Studies Museum» (em inglês). www.people-travels.com. Consultado em 30 de setembro de 2020 
  8. «Khudayar-Khan Fortress in Kokand» (em inglês). www.people-travels.com. Consultado em 30 de setembro de 2020 
  9. a b «Architectural complex Dahman-Shakhon, Kokand» (em inglês). www.orexca.com. Consultado em 28 de setembro de 2020 
  10. «Mausoleum Madari Khan, Kokand» (em inglês). www.advantour.com. Consultado em 28 de setembro de 2020 
  11. «Mukimi museum in Kokand» (em inglês). www.people-travels.com. Consultado em 30 de setembro de 2020 
  12. «Narbutabey Medressa» (em inglês). uzbek-travel.com. Consultado em 28 de setembro de 2020 
  13. «Djami Mosque and Minaret, Kokand» (em inglês). www.orexca.com. Consultado em 28 de setembro de 2020 
  14. «Khamza Museum, Kokand» (em inglês). www.advantour.com. Consultado em 30 de setembro de 2020 
 
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