Cemitério dos Pretos Novos
O Cemitério dos Pretos Novos, também conhecido como Memorial dos Pretos Novos, é um sítio arqueológico e centro cultural situado no bairro da Gamboa, na Zona Central da cidade do Rio de Janeiro. Localiza-se nos números 32, 34 e 36 da Rua Pedro Ernesto, em um casarão do século XVIII. O centro funciona sobre o local onde funcionou, entre 1769 e 1830, um antigo cemitério de escravos. É administrado pelo Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos.
Cemitério dos Pretos Novos | |
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Interior do centro cultural. Ao centro, a pirâmide de vidro, construída em 2012, que dá destaque a alguns dos restos arqueológicos achados no local. | |
Informações gerais | |
Tipo | Sítio arqueológico e Centro cultural |
Inauguração | 1996 (28 anos) |
Website | pretosnovos.com.br |
Geografia | |
País | Brasil |
Cidade | Rio de Janeiro, RJ |
Coordenadas | 22° 53′ 45″ S, 43° 11′ 34″ O |
Localização em mapa dinâmico |
Atualmente, o casarão funciona como centro cultural, cuja finalidade é resgatar a história da cultura africana na cidade através da divulgação cultural e artística. No local, são oferecidos cursos e oficinas.[1] Na Galeria Pretos Novos, são apresentadas exposições temporárias de arte contemporânea de temática africana. Já a Biblioteca Pretos Novos, inaugurada em novembro de 2012, conta com cerca de 600 títulos dedicados à cultura, à história e às artes afro-brasileiras e indígenas.[2]
O centro recebeu esse nome por homenagear os Pretos Novos. Pretos Novos era o nome dado aos escravos recém-chegados ao Rio de Janeiro pelo Cais do Valongo e que eram negociados no mercado de vendas de escravizados.[3]
História
editarO denominado Cemitério dos Pretos Novos funcionou, entre 1769 e 1830, em um dos barracões do antigo mercado negreiro, localizado no Valongo, faixa do litoral carioca que ia da Prainha à Gamboa. O barracão era situado na Rua do Cemitério, atual Rua Pedro Ernesto.[4] O cemitério foi criado por ordem de Luís Melo Silva Mascarenhas, o marquês do Lavradio, então vice-rei do Brasil, por conta da transferência do porto de desembarque dos escravos do cais da Praça XV para o Valongo, local na época fora dos limites urbanos.[5]
No mercado negreiro do Valongo, eram "depositados" todos os escravos que chegavam nas longas viagens dos navios negreiros, denominados como Pretos Novos. Nessas viagens, praticamente todo o negro que chegava na então colônia portuguesa encontrava-se muito debilitado. Uma porcentagem significativa destes cativos imigrantes africanos não resistia às condições desumanas da travessia do Atlântico ou do mercado de escravos e eram enterrados dentro de barracões ou nos arredores do mercado. Calcula-se que foram enterrados, no Cemitério dos Pretos Novos, pelo menos entre 20.000 e 30.000 escravos.[4] Tal espaço de enterro de escravos substituiu o Largo de Santa Rita, situado em frente à Igreja de Santa Rita de Cássia, no Centro, que era o local onde, anteriormente, eram feitos os enterros. Nos seus últimos seis anos de funcionamento, segundo pesquisa feita nos arquivos da igreja, a média de enterros no Cemitério dos Pretos Novos foi superior a mil enterros por ano.[5]
Em 1830, o mercado foi fechado, em parte pelo inconveniente das atividades e pelo mau cheiro, que eram objeto de reclamações por parte dos moradores locais, e também como uma forma de as autoridades locais mostrarem, aos ingleses, que estavam respeitando o tratado de extinção do tráfico imposto pela Inglaterra e assinado em 1827. Na realidade, porém, a atividade só mudou de endereço.[6]
O achado arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos ocorreu no dia 8 de janeiro de 1996.[3] Os proprietários da sede do instituto resolveram reformar o imóvel do qual são donos e, ao ser feita a sondagem o solo para as obras, foram encontrados fragmentos de ossos humanos misturados a vestígios de cerâmica, vidro, ferro e outros materiais. A descoberta foi comunicada aos órgãos responsáveis, que enviaram ao local equipes de profissionais que confirmaram a existência de um sítio arqueológico de grande importância histórica.[7]
Em 2012, a fim de proteger os achados arqueológicos do local, foram instaladas pirâmides de vidro sobre as duas aberturas que deixam visíveis as ossadas dos escravos ali enterrados.[8] Cinco anos depois, em 2017, o primeiro esqueleto inteiro foi encontrado no local. As escavações, que duraram cerca de sete meses, ocorreram em uma área de 2 m² de um dos poços de observação do cemitério. A ossada é de uma mulher, batizada de Josefina Bakhita, que morreu com aproximadamente 20 anos no início do século XIX.[9]
Acervo
editarForam encontrados mais de 5 mil fragmentos arqueológicos no local. Os ossos não cremados encontrados no local permitiram identificar 28 corpos, a maioria deles correspondentes a indivíduos do sexo masculino com idades entre 18 e 25 anos. Painéis, fotos, ossadas, arcadas dentárias, artefatos do cotidiano e fragmentos diversos fazem parte dos objetos expostos no memorial.[7]
Dentre os artefatos encontrados, há pontas de lança, argolas, colares, contas de vidro, artefatos de barro (como cachimbos), porcelanas, conchas e vestígios de fogueira. Tais artefatos evidenciam não apenas restos de origem africana, mas também de origem europeia e indígena.[2]
Ver também
editarReferências
- ↑ «Cemitério dos Pretos Novos». Porto Maravilha. Consultado em 19 de novembro de 2017
- ↑ a b «Memorial dos Pretos Novos». Museus do Rio. Consultado em 15 de novembro de 2017
- ↑ a b «Rio de Janeiro: Curso conta a história do Cemitério dos Pretos Novos». Por dentro da África. 9 de abril de 2017. Consultado em 2 de setembro de 2017
- ↑ a b Azevedo, Ana (19 de novembro de 2011). «Um drama sob o chão da cidade». O Globo. Consultado em 15 de novembro de 2017
- ↑ a b «Cemitério dos Pretos Novos». Ciência Hoje. 20 de abril de 2012. Consultado em 19 de novembro de 2017
- ↑ Pereira, Júlio (2007). À flor da terra: o cemitério dos pretos novos no Rio de Janeiro (PDF). Rio de Janeiro: Garamond. ISBN 978-85-7617-123-2
- ↑ a b «INSTITUTO PRETOS NOVOS (E MEMORIAL PRETOS NOVOS)». Guia Cultural do Centro Histórico do Rio de Janeiro. Consultado em 2 de setembro de 2017
- ↑ «Em memória dos Pretos Novos». Porto Maravilha. 9 de junho de 2012. Consultado em 19 de novembro de 2017
- ↑ Nitahara, Akemi (5 de julho de 2017). «Encontrado primeiro esqueleto completo no Cemitério dos Pretos Novos, no Rio». Agência Brasil. Consultado em 18 de novembro de 2017