A Autorrealização Ii
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A Autorrealização Ii - Sérgio B. De Vecchi "aka Satyaraja Das"
VOLUME II
Temas Principais: Autorrealização,
meditação, auto-conhecimento, filosofia,
religiosidade, yoga-raja, advaita vedanta.
ISBN: 978-65-01-14718-5
SUMÁRIO
4 INTRODUÇÃO
15 O ATMA BODHA
90 CONTEMPLANDO O UPADEŚA-SĀRA
DE SRI RAMANA MAHARISHI
98 UPADEŚA SĀRA
122 ULLADU NARPADU
(40 VERSOS SOBRE A REALIDADE
POR SRI RAMANA MAHARISHI)
OS TRÊS PORQUINHOS
169
Introdução
तपोभ िः क्षीणपापानाां शान्तानाां वीतरागिणाम् ।
मुमुक्षूणामपेक्ष्योऽयमात्मबोधो ववधीयते ॥ १॥
tapobhiḥ kṣīṇa-pāpānāṃ – para aqueles que se purificaram através de austeridades;, śāntānāṃ vīta-rāgiṇām – que são contemplativos, livres de desejos; mumukṣūṇām apekṣyo 'yam
– e que estão em busca da autorrealização; vidhīyate Atma Bodha – foi composto o atma bodha. (1) O Atma bodha foi composto para os buscadores que se encontram no estado contemplativo, já livres de desejos e que estão em busca da autorrealização.
ॐ
Prólogo
É muito importante que o leitor lusófono, com pouca prática e conhecimento em advaita vedanta, compreenda alguns aspectos de traduções.
A maior parte dos textos foi traduzida de versões em inglês, quando nos deparamos com os originais em sânscrito, notamos 4
que os tradutores para a língua inglesa apresentam dificuldades em pontos específicos.
Um deles é a tradução da palavra self. Em inglês essa palavra é um substantivo. Que quer dizer ser.
Todavia quando usado em inglês na forma de Self com S maiúsculo, ela pode denotar o
Eu.
Mas essa não é uma expressão correta, o substantivo self em inglês quando usado para indicar uma pessoa usa um prefixo nominal como myself, yourself, himself, etc.
O pronome pessoal eu
em inglês está sempre na forma de "I"
maiúsculo, e então como diferenciar o eu
que denota o ego com o Eu que denota o Absoluto? Por esse motivo, em inglês usa-se self e Self para fazer essa diferença. Usa-se um substantivo no lugar de um pronome.
Não necessitamos desse recurso em português por isso escrevemos e ensinamos eu
para explicitar o ego e Eu para explicitar o Brahman, o Supremo.
Em sânscrito não existem letras maiúsculas no alfabeto devanagari. A palavra अहां, aham, eu
em sânscrito é um pronome pessoal. ब्रह्म, Brahman, ou o Absoluto, o Supremo, é sempre denotado como pronome. O Brahman, o Absoluto, é um termo pronominal e que dizer aforismaticamente eu sou Brahman
é uma afirmação pleonástica. O pleonasmo é um recurso de linguagem usado para salientar algo já sabido. O
aforisma pleonástico, realça que Eu sou o Absoluto, o Eu.
( aham brahma asmi)
5
O pronome तत ्, tat, em sânscrito significa Aquilo. Em inglês that derivou do sânscrito tat praticamente inalterado. Já em outras línguas indo-européias como o português, isso não ocorreu. Tat em sânscrito é usado apenas para indicar o Eu supremo, isso já não ocorre no inglês onde that pode ser qualquer coisa. Em português tat é traduzido como o pronome Aquilo, com o A
maiúsculo para indicar supremacia. Nessas obras em português Aquilo
é um indicativo de tat, o brahman, o Eu Supremo, atma, paramatma.
A expressão sânscrita atma-vichara que dizer literalmente indagar sobre o pronome primordial, o Eu, o atma. Bhagavan Sri Ramana Maharishi escreveu em tâmil alguns versos sobre como indagar sobre o Eu. No tâmil a palavra atma tem o mesmo sentido de atma no sânscrito, o pronome pessoal primordial, a origem de tudo o que se pode pensar ou falar. Mas atma também indica em tâmil localização.
O título tâmil Nan Yar traduzido para o inglês como Who am I?
quer indicar simultaneamente quem sou eu
e onde eu estou.
No português a tradução do tâmil seria melhor compreendida, pois o verso inglês "to be em português denota simultaneamente ser, estar, permanecer e ficar. Poderíamos dizer
quem está como o Eu?,
quem permanece como o Eu?"
quem fica como o Eu?
e quem sou Eu?
Ao se por em prática os ensinamentos de Bhagavan meditando em quem sou Eu?
a mente dualista entende que se procura por outro Eu e o progresso na disciplina de encontrar o Ser não-dual, fica como que travado. Por isso é melhor meditar quem está ou quem permanece como o Eu?
Indagando assim, 6
imediatamente se localiza o Eu como algo exclusivo. Nada ou ninguém mais pode estar ou permanecer como o Eu a não ser você mesmo. Meditando assim, rapidamente o Eu se revela a você como a única realidade plausível: Como a única substância não dual ( advaia vastu) sempre presente.
Tanto Śaṅkaracharya, como Ramana Maharishi, com os títulos Atma Bodha e Nan Yar querem orientar para o mesmo ponto:
esteja sempre como o Eu.
No silêncio da Consciência, onde as palavras se perdem e prevalece a intuição pura, ambos os mestres traduzem esta mensagem a você: Seja o que você é, o Eu.
A sílaba OM ( omkara) é escrita de maneira bem didática para quer meditar: ॐ. Ela é composta por três letras A, O, U e coroada com o M e um pontinho no M. Filosoficamente, as três letras indicam a tríade da criação: o começo, meio e fim, dada a ordem destas letras no alfabeto sânscrito, e o M, que coroa a tríade, indica mente. O ponto indica um local específico: aqui está a entrada e a saída. É a mente quem se ilude com as tríades e ela pode sair ou entrar na ilusão através deste ponto.
Meditando assim, a mente se aquieta e passa a perceber com mais clareza a ilusão do mundo e ser simplesmente o que você é.
Este livro foi compilado com as instruções do Atma-bodha de Śaṅkaracharya. Śaṅkaracharya, Bhagavan Ramana Maharishi, Vashista, Veda Vyasa e praticamente todos instrutores de advaita-vedanta sempre seguem a pedagogia clássica para o ensino da autorrealização revelando as instruções de como superar a ilusão desse mundo ( upasanti prakaranam) e a 7
verdade sobre a criação desse universo e da existência do corpo ( shirshti prakaranam), que são os pilares da autorrealização.
O mundo nada mais é do que a tríade corpo, mente e sentidos.
Nenhuma tríade tem existência real, quer seja a do tempo presente, passado e futuro, quer seja a do espaço como começo, meio e fim, ou seja a do corpo, mente e sentidos. As incontáveis tríades são as amarras que aprisionam a mente e a mantém focada no mundo fenomênico. Todas as tríades são concepções meramente mentais, por isso, são artefatos conceituais puramente ilusórios.
O que de fato é possível se inteligir na condição dualística em que vivemos é a explicação de que o universo, o corpo, a mente e tudo o que aqui existe é um fenômeno meramente ilusório, já que não se fundamenta numa Realidade Absoluta, uma vez que o máximo que podemos inteligir são conceitos de realidades duais e relativas. Os instrumentos interiores, mente, ego, inteligência e sentidos são totalmente vinculados a conceitos de realidades duais e relativas.
As realidades que podemos compreender ficam no espectro da causação da existência, ainda que sutil, e estão sempre sobrepostas a uma relação de causa e efeito. Essa técnica de instrução é o que se chama vivarta-vada, a teoria da ilusão. Este é o limite até onde é possível instruir e até onde se pode compreender instruções com as faculdades interiores (mente, ego, inteligência e memória) que possuímos atualmente. A técnica de vivarta-vada intenciona deixar clara relação causa e efeito como sendo irreal e ilusória. Esta técnica vai até o limite onde as faculdades interiores podem compreender ou inferir.
8
A Realidade Absoluta, por não admitir causação é por isso inexplicável pelo mestre e incompreensível para o discípulo. A Realidade Suprema é ajata-vada, nunca criada ou imaginada, e portanto, inconcebível para a mente e o intelecto. Ela pode apenas ser vivenciada, jamais descrita. Por isso, nenhum mestre pode ensinar ou postular que se entenda a Realidade Suprema, ou a teoria de ajata-vada. A ajata-vada é mencionada como a Realidade Suprema, mas não pode se aprendida ou ensinada.
Ela está além dos equipamentos que dispomos para a compreensão, ou sejam a mente, o intelecto e os sentidos. Ela é inconcebível, não dual, simultaneamente igual e diferente, atemporal estável, infinita e equânime. Este é um local onde as nossas funcionalidades jamais alcançam. Somente o Eu compreende o Eu, somente entidades autorrealizadas e em sua plenitude, alcançam a compreensão de ajata-vada, ou a teoria da não-criação, ou da não-objetivação.
Śaṅkaracharya, Bhagavan Ramana Maharfishi e todos os grandes sábios da antiguidade, do presente e do futuro sempre ensinam vivarta-vada, e deixam implícito a ajata-vada.
Grandes sábios, ou maharishis, vivem na atmosfera de ajata-vada, mas jamais postulam ensinar diretamente esta visão, pois os discípulos nunca a alcançam. Esses sábios são e vivem o Eu, só o Eu compreende o Eu. Esses maharishis não pertencem a esta criação apesar de aparentarem fazer coisas e viver como seres criados.
As instruções sobre a ilusão do mundo ( vivarta-vada) são sempre repetidas ad nauseum, para a fixação dos ensinamentos 9
em uma mente que entende apenas o dualismo e supõe a absoluta realidade desse mundo, procedendo assim por milhões de anos de condicionamento material. Esses são os fundamentos para se completar o processo de reorganização da mente, outro nome para a autorrealização: Ou Atma Bodha.
As instruções do Atma-bodha de Śaṅkaracharya estão aqui enriquecidas com citações do Ribhu Gita de Veda Vyasa.
Upadesa Saram e com o Ulladu Narpadu (40 versos sobre a Realidade) de Sri Ramana Maharishi ilustram e esclarecem muitos pontos que Śaṅkaracharya explica. As três obras em