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Sociedade de Angústia
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Sociedade de Angústia
E-book130 páginas1 hora

Sociedade de Angústia

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Sobre este e-book

A sociedade de angústia é tratada a partir de uma reflexão sobre valores e comportamentos como liberdade, felicidade, narcisismo, consumismo, segurança, objetivando compreender os sintomas presentes na pós-modernidade. A sociedade pós-moderna se inscreve historicamente sem destino coletivo, dado o descrédito das grandes narrativas passadas com suas ideologias de resultados trágicos e contraditórios, seja a forjada pelo Iluminismo revolucionário francês, cuja bandeira era a de uma felicidade sustentada em liberdade, igualdade e fraternidade, vinculada ao progresso da razão, seja a narrativa marxista com promessa de uma igualdade verdadeira, mas não real. A emergência do mundo forjado por adventos da tecnologia e da ciência tem criado expectativas de maior segurança e proteção como tentativas de garantir aqueles valores e a contenção de crimes, porém forçando maior controle social. Entretanto, resta no indivíduo a sensação de incompletude, revelada na angústia de uma satisfação irrealizável. Aqueles sintomas absorvem esse afeto responsável pela repressão e recalcamento, produzindo insegurança, vazio, medo em relação ao outro, à vida, dificultando o estabelecimento de laços sociais.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de set. de 2024
ISBN9786527031604
Sociedade de Angústia

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    Sociedade de Angústia - Monica Paraguassu Correia da Silva

    PRIMEIRAS CONSIDERAÇÕES

    Angústia e liberdade estão no centro dos principais problemas da pós-modernidade. A partir da IIGM, um enquadramento do humanismo jurídico em nível internacional, que vinha sendo construído, vem dando sinais de crise, a começar pela relativização da democracia pela dificuldade de realização de valores como liberdade e segurança. O objetivo deste trabalho é o de fazer uma reflexão sobre a relação entre angústia e liberdade, a partir de uma perspectiva teórica por meio de ideias de territórios como filosofia, direito, psicologia social, criminologia e psicanálise, tomando valores do humanismo jurídico como a liberdade, a felicidade e a segurança na pós-modernidade. As liberdades individuais como a liberdade de expressão são sinônimo de dignidade humana.

    A compreensão do movimento pós-modernista nas artes pode servir de parâmetro para decifrar essa crise e sua complexidade com derivações sobre os afetos dos indivíduos. Tal movimento, é forjado a partir de referências de estilos do passado, mormente o clássico, porém com desenvoltura irônica, uma espécie de parodia, sem a harmonia dos modelos antigos, valendo-se da fantasia de cores, de associações variadas, da ausência da busca de coerência formal ou funcional, de excessos inevitáveis e da descontextualização para a ressignificação (Ferrari, 2000). Para Vargas Lhosa (2013, p17) a pós-modernidade destruiu o mito de que as humanidades humanizam, isto porque em seu diagnóstico a promessa de progresso não é sinônimo de paz, liberdade e igualdade.

    À medida que emerge a complexidade da sociedade pós-moderna, com avanços tecnológicos e científicos, produziu-se uma propaganda da socialização que oferece possibilidades e expectativas de maior proteção, segurança e certezas para atender à ansiedade ou angústia (sinônimos aqui), representando uma eterna busca de satisfação do sujeito. A condição pós-moderna, em livro publicado em 1979 por Jean-François Lyotard, refere-se a um jogo da linguagem produzido no campo da pesquisa científica, que obtém financiamento seja por parte do Estado seja por parte da empresa, onde o que está em questão não é a verdade, mas o desempenho, revelando que no discurso dos financiadores de hoje, a única disputa confiável é o poder. Não se compram cientistas, técnicos e aparelhos para saber a verdade, mas para aumentar o poder (1986, p83). Infere-se que, o financiamento da pesquisa não tem por objetivo a legitimação idealista ou humanista considerada pelo cientificismo do século XIX, mas representa o controle das ideias na experiência do social, por meio de organizações não governamentais, movimentos sociais e outros think tanks gestados pelas oligarquias econômicas internacionais por suas fundações.

    A reflexão sobre a questão do processo de produção de sintoma na pós-modernidade tem dimensão mais estendida para além da relação entre sintoma e sujeito, pois precisa entrar no campo da relação entre do sintoma do sujeito social. A psicanálise pretende lidar com o problema estrutural do sujeito, o que lhe seria mais singular, porém sem fechar o indivíduo em uma identidade, mas sim considerando laços sociais.

    A angústia ou ansiedade é termo constante de texto sobre neurose de angústia de Sigmund Freud de 1895 (sinônimo da palavra alemã angst, traduzida para o inglês como medo, temor, susto, pavor, alarme, sobressalto, 1979, p59). Além disso, foi tratada por Freud em texto datado de 1916, assim como em outros intitulados de Inibições, sintomas e ansiedade de 1926 e Ansiedade e vida instintual de 1933. Em 1930 tratou sobre O mal-estar na civilização. Jacques Lacan, por sua vez, possui o seminário de número 10 dedicado à angústia, publicado em 1962.

    Nesse processo, promessas construídas como verdades científicas vem dando lugar, na pós-modernidade, a explicações geradas em conceitos como o de uma cultura narcísica de Christophe Lasch, de uma sociedade de consumo de Jean Baudrillard, de uma sociedade solitária de David Riesmann, de uma sociedade do vazio de Gilles Lipoveski, ou de uma sociedade líquida de Zigmunt Bauman. A sociedade pós-moderna, de um lado, promove a propaganda formadora de consentimento, que atropela o sujeito com linguagem do mercado, de outro, apresenta um sujeito com queixas vagas, com sintomas difusos, como a sensação de vazio, de impotência, de frustração por não conseguir ver efetivadas aquelas promessas de proteção, segurança e certeza no acesso a oportunidades, bens e serviços, que alimentam a ansiedade e angústia, reverberando, por exemplo, em transtornos propriamente ditos de ansiedade, alimentar, toxicomania e problemas sociais do âmbito da segurança pública.

    A psicanálise se voltou a trabalhar, quando da fundação de seus pilares, com sintomas explícitos em termos de caráter simbólico, cuja representação permitia uma interpretação sobre o mundo em que se vivia. É o caso dos sintomas histéricos que expressavam de forma explícita no corpo a repressão imposta pelo padrão de moralidade, que provocava ansiedade ou angústia. Freud havia elaborado uma teoria sobre esse afeto considerando como resultante da repressão à libido construída naquele contexto histórico.

    No processo histórico de estudo pela medicina, a histeria foi estudada como angústia no campo da teoria uterina, passando pelos estudos sobre a teoria cerebral até chegar à teoria da mente como aportada pela psicanálise, percurso no qual estava a questão de genital para Charcot, focando na relação físico-mental ou só de causa física por parte de Breuer, até chegar ao campo da causa psíquica vinculada à repressão da sexualidade no entendimento de Freud, condição que lhe permitiu que chegasse às base da psicanálise. Neste ponto, a histeria se dessexualiza no momento em que Freud, elaborando o texto Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, em 1905. De tal forma, ficou marcada pelas diferentes formas como se manifesta, bem como sintomas variados, numerosos e confusos.

    A partir da metade do século XX, houve mudanças em relação à compreensão sobre os sintomas que foram destacados ao tempo dos estudos de Freud, posto que os diagnósticos das origens da psicanálise não se ajustavam a sintomas com queixas vagas e difusas, na contemporaneidade. Inferência possível, considerando em cotejo, então, o contexto social, de padrões morais rígidos e repressores, da época de Freud, em que os indivíduos apresentavam sintomas como histeria e neuroses obsessivas, com o contexto atual, outras neuroses têm tido a atenção dos estudos, dentre os quais está o narcisismo, em meio a sintomas vagos, vinculados a um mal de viver, a sensação de vazio, insegurança.

    Há congruência entre os pensamentos existencialista e psicanálise, tal como se compreende em Kierkegaard, Freud e Lacan. O conceito de angústia foi o livro de Soren Kierkegaard publicado em 1844, autor reconhecido como o pai do existencialismo, afeto tomado como um sofrimento humano em razão da responsabilidade da escolha individual pela liberdade de ser, que em Freud pode ser identificada ao mal-estar na cultura, à condição de desamparo e em Lacan à repetição da presença de um não saber, de uma falta ausente devoradora. O desespero, o medo e a angústia são condição humana de ser. Na busca de felicidade no processo de identificação pela via da socialização para individuação há um hiato, a angústia, que é tratada pela tentativa de preenchimento de um vazio para o qual, paradoxalmente, se pretende criar alguma forma de contorno para ser tamponado por meio de mercado, consumo, ideologia, religião, sexualidade, violência, que terminam sendo tratados como mercadoria disposta em gondola de supermercado.

    A existência humana é marcada por restrições à liberdade, que se traduzem em angústia, na busca de realização de promessa de felicidade. Sendo essa busca um dos direitos humanos, que são frutos de convenções jurídicas, postos, então, pela civilização e mais, enfaticamente, difundidos pelo ocidente, serve a dar contornos assecuratórios, coletivos, ao mesmo tempo em que fragiliza desejos individuais.

    Assim, a distribuição dos assuntos orienta-se pela seguinte composição. A primeira parte foi intitulada por Angústia, narcisismo e liberdade, composta por duas subpartes - 1.1 – Angústia na pós-modernidade: Prometeu e a angústia da busca de ser livre; A fragilizado do fogo sagrado; Sociedade, angústia e fantasia por repressão; Angústia na busca da alma. 1.2 – Angústia narcísica na horizontalidade: Narcisismo e individuação; Dinâmicas da socialização; Narcisismos na horizontalidade e a verticalidade; Cultura do narcisismo e angústia; Angústia, neurose, psicose. A segunda parte compõe-se de Angústia e busca por felicidade, com as seguintes subpartes - 2.1 – Angústia e sujeição: Sujeição do indivíduo e clivagem acrásica; Institucionalização social e dependência; Pedagogia para o mal-estar na civilização. 2.2 – Busca da felicidade na pós-modernidade: Angústia: desejo do desejo do Outro; Bússola para limitar o gozo

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