Gota A Gota
De Davi Roballo
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Gota A Gota - Davi Roballo
Gota a Gota
Davi Roballo
Independente
PREFÁCIO
Bem-vindos à jornada singular que é Gota a Gota
, uma obra que transcende a mera narrativa para se tornar um espelho da alma humana. Cada página deste livro é um convite para mergulhar mais profundamente nas águas às vezes turbulentas, às vezes serenas, da existência humana. Com uma linguagem que oscila entre a poesia lírica e a prosa contemplativa, este livro não apenas narra histórias; ele revela verdades.
O autor desta obra compõe com a delicadeza de um artesão que entende o poder transformador das palavras. Gota a Gota
é uma coletânea de ensaios e reflexões que abordam temas tão diversos quanto o amor, a perda, a resiliência e a redenção. Cada capítulo, meticulosamente esculpido, convida o leitor a uma introspecção profunda, um diálogo silencioso com suas próprias experiências e emoções.
Este livro é uma celebração da complexidade da vida, reconhecendo que, como gotas de água formam o oceano, assim também nossos pensamentos, ações e interações moldam o tecido de nossa existência. O título Gota a Gota
simboliza a paciência e a persistência necessárias para enfrentar e entender os ciclos da vida, sugerindo que cada momento, por mais fugaz que pareça, carrega consigo a essência do infinito.
Para aqueles que se aventurarem pelas páginas deste livro, preparem-se para uma experiência transformadora. Gota a Gota
não é apenas para ser lido; é para ser sentido, vivenciado e refletido. É um convite para pausar, respirar e permitir que cada palavra destile sua sabedoria, sua poesia, na alma.
Assim, enquanto o mundo continua a girar em seu ritmo frenético, este livro oferece um porto seguro, um momento de calma e profundidade. Que cada leitor encontre em Gota a Gota
um caminho para a compreensão mais profunda não apenas do mundo ao seu redor, mas, mais importante, de si mesmo.
Embarque nesta viagem, e permita que cada gota
desta obra enriqueça sua jornada, transforme seu entendimento e fortaleça seu espírito. Aqui, nas páginas deste livro, você está convidado a redescobrir a beleza e a complexidade de ser verdadeiramente humano.
Heitor Sou-Maior
ENTRE O TER E O SER
Possuo tanta coisa que esqueço tanta coisa que possuo, no fim de tudo só tenho a mim mesmo. Tenha, possua, obtenha! Implora meu impreenchível vazio ao lado de meu ego que a tudo conduz. Desapegue, esvazie-se, se jogue, ter e saber são armadilhas instaladas no olho do outro para aprisionar o que há de livre em ti. Assim diz a criança que luta para desenhar e colorir seu mundo inocente e puro dentro de mim.
Em um recôndito da alma, há uma voz que fala, quase inaudível, sobre as ruínas do ser inundadas pelos mares do ter. As ondas tumultuadas batem contra a praia de posses esquecidas, cada uma carregando o peso de mil outras não lembradas. Possuo tanto,
diz ao vento, que esqueço o tanto que possuo.
E nesse esquecimento, perco-me.
Na solidão das minhas salas repletas, o eco do vazio ressoa mais alto do que o clamor dos objetos. Eles gritam por atenção, mas não por necessidade. No fim de tudo, só tenho a mim mesmo,
essa é a lição gravada no osso, a sabedoria escrita nas paredes do meu coração isolado. A solidão não é um estado, mas uma jornada — um caminho estreito cortado através do campo implacável das minhas escolhas.
Cada passo adiante é um passo afastado do que fui ensinado a valorizar. Aprender a ser é desaprender a ter. O desapego não é um ato, mas um processo contínuo, uma libertação gradual das correntes que prendem não apenas as mãos, mas também a mente. As armadilhas instaladas no olho do outro
são reflexos de uma felicidade condicionada, uma ilusão de contentamento que nunca foi minha para começar.
Olho para dentro, onde a criança pura — minha essência mais autêntica — brinca descalça, ignorante das marcas do tempo e da expectativa. Ela conhece o segredo que o mundo adulto esqueceu: que ser é suficiente. Sua sabedoria, imaculada pela experiência, fala da renovação, da esperança, e da promessa de novas possibilidades que brotam não do que acumulo, mas do que descubro dentro de mim.
A verdadeira liberdade surge quando escolho explorar esse interior não mapeado, onde as verdadeiras riquezas residem. Não as que posso tocar com as mãos, mas as que posso sentir com a alma. É um desafio monumental — despir-se das imagens impostas, desfazer-se dos papéis desgastados, e encarar o mundo não como ele espera que eu seja, mas como eu verdadeiramente sou.
A batalha entre o ego materialista e a criança interna é o drama eterno da condição humana. Encontrar o equilíbrio, onde posso existir entre o ter e o ser sem ser consumido por nenhum, é a grande arte da vida. É uma arte que se refina não através da acumulação, mas através da rendição — uma rendição ao ser que sempre fui, antes de o mundo me dizer quem deveria ser.
O SILÊNCIO E O SER
Evitamos o silêncio porque nele estão todas as respostas, principalmente aquelas que não desejamos saber.
No recesso mais profundo da mente, onde o silêncio se estende como um oceano impenetrável, escondem-se verdades que tremem ao mero pensamento de serem descobertas. Aqui, no coração do silêncio, o ser se encontra nu, confrontado com o vazio que tanto teme, mas também profundamente anseia entender. É neste espaço esquecido, longe do clamor incessante do dia a dia, que a verdade sobre nós mesmos se esgueira silenciosamente para dentro da consciência.
Aqui, a autenticidade não é uma escolha, mas uma imposição. A vida nos ensina que cada um de nós é lançado em sua própria liberdade, responsável por cada ato, cada decisão. No silêncio, essa liberdade ecoa, implacável e clara, revelando que o nada que tememos é o terreno fértil de nosso próprio ser. Não há sombras para se esconder, não há ruídos para distrair. Há apenas o ser, em sua forma mais crua e indomável.
Mas, como resistimos a esse encontro! Com o tempo nos transformamos em mestres na arte da evitação, construindo labirintos mentais de negação e defesa, tudo para não enfrentar as verdades desconfortáveis que o silêncio revela. Desejos reprimidos, medos ocultos, motivações obscuras — esses espectros dançam nas sombras de nossa mente, e somente no silêncio eles são iluminados. A confrontação com nossa sombra, esse aspecto rejeitado de nós mesmos, torna-se inevitável.
A evitação do silêncio, portanto, é mais do que um hábito; é uma necessidade psicológica, uma defesa contra o desmoronamento da autoimagem cuidadosamente construída ao longo dos anos. Admitir a existência de facetas de nós mesmos que contradizem quem acreditamos ser, ou quem desejamos ser, é enfrentar um tipo de morte psíquica — a morte do eu idealizado.
A coragem de mergulhar no silêncio é, então, a coragem de renascer. De confrontar o vazio e encontrar nele não o nada temido, mas a essência pura do ser. É desmontar as histórias, desfiar as narrativas que criamos ao redor de nossa identidade e, pedaço por pedaço, construir algo mais verdadeiro, mais alinhado com o núcleo de nossa existência.
Este silêncio, então, não é um abismo a ser temido, mas um santuário de autoconhecimento. É aqui, neste encontro com o vazio, que podemos finalmente ouvir as respostas que sempre estiveram lá, ciciadas pelo ser, esperando serem ouvidas. E com cada verdade enfrentada, cada sombra integrada, aproximamo-nos mais do que verdadeiramente somos, libertos das ilusões que nos aprisionam.
SOMBRAS DA LIBERDADE
Na vida cotidiana somos os responsáveis por todos nossos atos, bons ou ruins, no entanto, assumimos com certo entusiasmo nossos acertos, por outro lado, atribuímos a responsabilidade de nossos erros a outros.
Na trama intricada de nossas vidas, onde cada escolha pincela a textura de nossa existência, repousa uma verdade incômoda: somos arquitetos de nossos destinos, construtores de nossas ruínas. Com mãos firmes, celebramos cada vitória, erguendo troféus de acertos aos céus, como se fôssemos apenas heróis em nossas histórias, imunes ao trágico e ao erro.
Mas na calada da noite, quando os fantasmas de decisões malogradas cochicham através dos corredores de nossa consciência, apressamo-nos em vestir máscaras de inocência. Atribuímos a outrem os desastres que assinamos em segredo, projetando em telas alheias os borrões de nossa própria criação.
É nesse teatro de sombras que jogamos o jogo da responsabilidade, uma dança delicada entre ser e parecer, entre autenticidade e aparência. De acordo com a filosofia, todos nós desejamos e somos propensos a liberdade, no entanto, ela paira como uma maldição disfarçada de bênção, pois com a liberdade vem o peso esmagador da responsabilidade total — não apenas pelos atos de grandeza, mas também pelos fracassos que nos tornam terrivelmente humanos.
Segundo a psicologia, a projeção, essa astuta defensora da alma, trabalha nas sombras para preservar a imagem que desejamos mostrar ao mundo. Não sou eu, é o outro,
dizemos, afastando de nós a culpa como quem repele uma chaga contagiosa. Esse escudo psicológico, embora nos proteja da dor imediata da autocrítica, nos rouba lentamente a oportunidade de crescimento, de reconhecimento, de reconciliação com nossa inteireza.
Com cada erro atribuído a forças externas, perdemos um fragmento de nossa essência; com cada verdade distorcida, distanciamo-nos um passo da pessoa que poderíamos ser. A autenticidade exige um confronto com o espelho, uma aceitação de todas as faces que compõem nosso ser — as luminosas e as sombrias.
Assumir responsabilidade integral por nossas escolhas é, portanto, um ato de coragem. Requer que mergulhemos nas águas profundas do autoconhecimento, enfrentando a angústia e preço a pagar pela liberdade. Nesse enfrentamento, no entanto, reside a chave para uma existência plena, onde a integridade não é apenas uma palavra, mas o fundamento de uma vida vivida com profundidade e verdade.
O desafio está lançado: abraçar a liberdade não só quando ela nos eleva, mas também quando nos mostra o quão falíveis podemos ser. Só então poderemos aspirar à autenticidade, desvendando as camadas de defesa para revelar o núcleo de nossa verdadeira identidade.
PASSOS DE LIMPEZA INTERIOR
Há pessoas que não sabem, mas se automedicam ao caminhar na chuva, visto que, na chuva se pode caminhar sem deixar pegadas, nela tudo se lava, tudo vai embora de carona nas valas, angústias, tristeza, frustrações...
Nas tardes em que o céu desaba em lágrimas, encontro meu remédio no ritmo cadenciado dos meus passos sob a chuva. As gotas, frias e incessantes, formam uma vidraça translúcida entre mim e o mundo, uma cortina que esconde enquanto revela. Caminho, e cada passo é uma palavra nessa confissão silenciosa ao universo, um diálogo mudo com a essência de meu ser.
Nesta dança solitária pelas calçadas encharcadas, sinto a chuva lavar mais do que a sujeira das ruas — ela limpa a poeira acumulada sobre minha alma. Angústias, tristeza, frustrações
— esses passageiros clandestinos de minha jornada interna se diluem nas águas que correm livres pelas valas, levados para longe de meu coração. A chuva, em sua misericórdia