O Tempo De Deus

O Tempo de Deus

Para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito de baixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, tempo de se abraçar e tempo de se conter, tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de jogar fora, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de lutar e tempo de viver em paz. (Eclesiastes 3:1-8[1])

INTRODUÇÃO

Sem ir muito além na História, pensando apenas em alguns poucos acontecimentos do século XX em diante, assim como as revoluções industrial e tecnológica e a conseqüente voracidade do consumo, percebemos que o tempo tem cada vez mais valor para o ser humano, um valor difícil de se mensurar por seu caráter subjetivo e relativo, mas, certamente muito elevado. Um comercial na TV, por exemplo, de trinta segundos, dependendo do canal, dia e horário, pode custar milhões. Um tempo de qualidade com seu filho ou cônjuge pode ser ainda mais valioso e raro. A CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) foi importante instrumento para regular (ou criar) relações trabalhistas, inclusive sobre a jornada de trabalho (tempo diário, semanal, mensal de trabalho), que até hoje é objeto de reivindicações (redução de jornada), para que os trabalhadores tenham mais tempo para realizar outras atividades e descansar.

O tempo pode assumir muitos significados e variantes históricas e culturais; para nosso intento vamos nos focar, sobretudo, no sentido apresentado pela origem da palavra tempo no contexto da passagem considerada, que remete ao termo hebraico òú = et, o qual, nos’ apresenta uma concepção mais relacionada à tempo certo ou determinado, ou ainda, ‘tempo apropriado ou satisfatório’ para determinada atividade na vida (Vine et al, 2013[2]). Tal alusão nos permite concluir que, no contexto bíblico, há momentos específicos para vivermos de forma específica, segundo o plano de Deus, independente de nossas vontades pessoais, centradas em nossos objetivos. Se não entendermos muito bem os momentos, a hora certa de cada acontecimento em nossas vidas, corremos o risco de perder tempo com coisas fúteis e cansativas, que podem nos desviar do rumo certo. Precisamos aprender a ter domínio sobre nossas vontades egoístas e discernimento, para entendermos o melhor momento para empreender ou abdicar de cada propósito.

*Cada ser possui, a seu modo, noções de tempo, consciente ou inconscientemente, que estimulam ou determinam importantes decisões em suas vidas. Quando longe da instrução de Deus, temos dificuldade em entender verdadeiramente o significado do tempo, como Ele deseja; somos, por exemplo, constantemente, impelidos à pressa, a fazer tudo rápido, sem tempo a perder, ou à covardia e ao comodismo, a dar um tempo, postergando o que deveria ser prioritário, sem enxergar o tempo certo para cada propósito (Ec 3:1). Às vezes, gastamos mais tempo com determinadas coisas, do que com o que é necessário para alcançarmos, na ocasião certa, grandes objetivos. Ao mesmo tempo, conquistas que nos parecem de extrema importância podem passar a ser pequenas, quando, depois de um tempo – muitas vezes a duras penas – chegamos a um maior entendimento sobre questões realmente importantes; ou seja, não tem a ver, apenas, com o tempo, mas com a forma como ordenamos nossas decisões e preferências, baseados na ansiedade em alcançar determinados resultados (objetivos específicos; status; condição sócio-econômica; etc); ou ao comodismo do deixar rolar.

Mas, graças a Deus, temos a sua palavra para encontrarmos valiosas e infinitas respostas para estas questões, que podem nos transformar à medida que decidimos percorrer o caminho que nos é proposto (Mateus 13:23).

Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal. (Mateus 6:34[3])

Temos a tendência de fazer muitos planos futuros sem nos preocuparmos tanto com o presente. Freqüentemente, damos mais atenção ao que é preciso fazer para alcançar objetivos mais distantes e não nos atentamos a atitudes que devem ser tomadas para solucionarmos questões eminentes. Na escritura acima (e em todo o trecho: Mateus 6:25-34), Jesus alerta para qual deve ser a forma de encarar a vida, com o que devemos nos preocupar, o que é mais importante. Não há preocupação que deva ser maior do que a de buscar o Reino de Deus e a sua justiça; o resto (alimento, vestuário, moradia, anseios egoístas, etc.), necessário para a vida nesse mundo, vai ser providenciado por Deus, se estivermos correndo atrás do que é essencial para o homem (Ec 12:13); além disso, a escritura revela que não devemos ter preocupações, em demasia, com o trivial ou com o supérfluo, e nem com objetivos distantes, que tiram a nossa atenção da vida que acontece a cada dia.

Por outro lado, o mundo diz que existem muitas coisas essenciais para o homem, não apenas o necessário para a sua sobrevivência, mas àquilo que traz conforto e satisfação (consumismo). Como pode alguém viver sem uma TV, um computador, um smartphone ou um carro? E não pode ser qualquer TV, mas tem que ser uma smartv, 3D de 70 polegadas, ultra HD, etc; da mesma forma não posso ter apenas um celular, isso é coisa do passado! Preciso de um smartphone 4G com n funcionalidades. O homem estabelece para si, ou deixa que a sociedade estabeleça para ele, padrões que devem ser alcançados, estilos de vida que devem ser conquistados para que ele se sinta realizado. Quando não consegue satisfazer tais desejos, ele pode sofrer a tal ponto de desenvolver stress; depressão e outras patologias do tipo; ainda que consiga sucesso, experimenta o vazio da satisfação estritamente mundana; superficial, efêmera e circunstancial. E isso não é de agora, do mundo super tecnológico, mas já pode ser visto na Bíblia (inclusive na escritura acima):

Tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens. Eles fazem seus filactérios bem largos e as franjas de suas vestes bem longas; gostam do lugar de honra nos banquetes e dos assentos mais importantes nas sinagogas, de serem saudados nas praças e de serem chamados mestres (Mateus 23:5-7[4])

É certo que os desejos de hoje ficaram mais sofisticados e ilimitados (virtuais), há uma incrível variedade de opções de consumo, mas o coração do homem sempre foi ávido por ter e poder, desde a primeira vez que se afastou de Deus para assumir o comando da sua vida, quando se deixou levar pelo conselho satânico no jardim do Éden (Gênesis 3:1-6).

Minha proposta, aqui, é refletir mais profundamente sobre aspectos abordados na escritura de Ec 3:1-8, com o objetivo de compreendermos melhor o plano Divino, e empreendermos grandes e possíveis mudanças em nossas vidas, para que possamos viver com menos ansiedade e mais efetividade, como seres completos, buscando canalizar corretamente nossas vontades e esforços em direção à plena satisfação eterna.

Por que gastar dinheiro naquilo que não é pão, e o seu trabalho árduo naquilo que não satisfaz? Escutem, escutem-me, e comam o que é bom, e a alma de vocês se deliciará com a mais fina refeição. Dêem-me ouvidos e venham a mim; ouçam-me, para que sua alma viva. Farei uma aliança eterna com vocês, minha fidelidade prometida a Davi. (Isaias 55:2-3[5])

CAPÍTULO 1 - Tempo de nascer e tempo de morrer

Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade. (Jo 4:24[6])

O tempo de nascer é um começo, uma nova fase; sugere um acontecimento específico, claro, que acontece em um abrir e fechar de olhos. Pode até ser precedido por uma gestação, uma preparação, mas representa uma mudança de rumo, de visão,