Dano Irreparável
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Sobre este e-book
Existe um aplicativo para smartphone capaz de derrubar um jato comercial. E está à venda pelo lance mais alto. A advogada Sasha McCandless está se aproximando da recompensa: após oito anos de longas horas de trabalho, está prestes a se tornar sócia de um conceituado escritório de advocacia. Tudo o que precisa fazer é abaixar a cabeça e aumentar o número de horas trabalhadas. Então, um avião operado por seu cliente bate na encosta de uma montanha, matando todos a bordo. Ela se prepara para os inevitáveis processos civis. Mas, enquanto Sasha investiga o caso, descobre que o acidente não foi acidental. Ela junta forças com um agente federal aéreo e eles se apressam para evitar outro acidente. Pessoas que conhecem bem o assunto começam a aparecer mortas. E Sasha é a próxima da lista. Ela vai precisar contar, em igual medida, com seu conhecimento jurídico e com o treinamento de Krav Maga para parar um louco e se salvar.
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Dano Irreparável - Melissa F. Miller
1
Em algum lugar, sobrevoando Blacksburg, Virgínia
Ohomem idoso conferiu o novo relógio de ouro que havia recebido em agradecimento pelos seus cinquenta anos de serviço na cidade de Pittsburgh. Ele levantou o painel da janela e encostou a cabeça na janela oval da lateral do avião. Sentiu o vidro frio sobre a pele, fina como uma folha de papel. Em algum lugar do lado de fora, na escuridão, as montanhas Blue Ridge da Virgínia se erguiam da superfície da terra. Ele forçou a visão, mas não conseguiu vê-las.
Puxou o painel para baixo de novo, mais bruscamente do que pretendia, e olhou para os companheiros de assento. Eles não reagiram ao barulho. Ao lado dele, estava sentada uma jovem magra, em idade universitária, que se espremia no assento do meio; estava com os fones enfiados nos ouvidos e olhos fechados, perdida na música. Ao lado dela encontrava-se um empresário, que aparentava ter um cargo não superior a gerente de nível médio, a julgar pelo terno amassado e pela pasta surrada. Como um bom viajante de negócios, ele aproveitava o voo para colocar o sono em dia. Sua cabeça pendia para trás no encosto do assento e a perna balançava no corredor.
O homem tossiu na mão fechada e se lembrou da última vez que havia voado. Já fazia quase dez anos. A filha mais nova e o marido dela, o esforçado ator, haviam levado os dois — ele e a esposa — para Los Angeles, para assistir ao nascimento do primeiro filho deles, seu quarto neto, mas a primeira menina. Maya havia entrado no mundo gritando e, pelo menos com base nas ligações semanais que ele fazia para a mãe dela, parecia que nunca havia parado de gritar. Com esse pensamento, ele riu sozinho e imediatamente sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Piscou e torceu a fina aliança de ouro no dedo anelar. Sua mente se voltou para sua Rosa. Cinquenta e dois anos juntos.
Ele tossiu de novo e tirou um lenço do bolso para limpar a boca. Depois de dobrar o pano branco mais uma vez em um quadrado cuidadoso, ele checou o relógio de novo, atrapalhou-se com o smartphone no colo, olhou-o para confirmar se as coordenadas estavam corretas e apertou ENVIAR. Então Angelo Calvaruso recostou-se, fechou os olhos e relaxou — relaxou completamente — pela primeira vez em semanas.
Dois minutos depois, o voo Hemisphere Air número 1667, um Boeing 737 que havia partido do Aeroporto Nacional de Washington a caminho do Aeroporto Internacional de Dallas/Fort Worth, bateu na encosta de uma montanha a toda velocidade e explodiu em uma onda incandescente de metal e carne em chamas.
Escritórios da Prescott & Talbott
Pittsburgh, Pensilvânia
Sasha McCandless soprou o resíduo de sombra do espelho minúsculo da paleta de maquiagem que mantinha na gaveta superior esquerda de sua mesa e verificou seu reflexo. A gaveta era sua casa, longe de casa. Continha uma escova e pasta de dente para viagem, uma lata de balas de menta, uma caixa fechada de preservativos, maquiagem, um par de lentes de contato sobressalente, um par de óculos e uma escova de cabelos. Sorriu para si mesma e abriu a gaveta de novo, rasgou a caixa e colocou um preservativo em sua bolsa de miçangas.
Despiu o cardigã de caxemira cinza que havia usado sobre o vestido tubinho preto durante todo o dia e tentou tirar os scarpins com um chute. Vasculhou o aparador atrás de sua mesa até encontrar as sandálias sob uma pilha de rascunhos de relatórios descartados, destinados ao triturador. Ela empurrou os papéis para o lado e apanhou as sandálias. Estava lutando com a minúscula alça vermelha em seu scarpin esquerdo quando ouviu o sinal de um e-mail entrando em sua caixa de mensagens.
— Não, não, não — gemeu, enquanto se endireitava lentamente. Não tinha um encontro adequado por semanas. Torceu para que o e-mail não revelasse nenhum pedido emergencial, nenhum cliente reclamando, nenhuma chamada de última hora para substituir um depoimento em Omaha, ou Detroit, ou Nova Orleans.
Precisava de um bife, uma garrafa de vinho tinto caro e luz de velas. Não precisava de mais uma noite de comida chinesa morna em sua mesa.
Quase com medo de olhar, ela clicou no ícone de envelope e exalou, sorrindo. Era apenas um alerta de notícias do Google sobre um cliente. Ela havia configurado alertas de notícias sobre todos os clientes para os quais trabalhava. Os sócios sempre ficavam impressionados quando ela sabia o que estava acontecendo com seus clientes antes deles. Isso os assustava também um pouco.
A Hemisphere Air era o maior cliente de Peterson. Ela abriu o e-mail para ver quais eram as notícias. Talvez uma fusão? Era uma das companhias aéreas mais fortes e estivera procurando eliminar um concorrente menor, especialmente depois que Sasha e Peterson se livraram daquela pequena confusão antitruste.
Os olhos verdes de Sasha se arregalaram e, em seguida, desceram, percorrendo o e-mail. O voo 1667, com três quartos da capacidade, a viagem de Washington para Dallas, acabara de cair na Virgínia, matando todas as 156 pessoas a bordo.
Ela tirou os sapatos de festa e pegou o telefone para arruinar a noite de seu encontro. Então, discou o número do celular de Peterson para arruinar a dele.
O telefone residencial de Noah Peterson tocou quase no mesmo momento em que seu celular começou a tocar alguma peça irreconhecível de música clássica de domínio público. Ambos estavam pousados sobre a mesa de cabeceira. Noah não levantou a cabeça da revista.
Laura esperou um minuto para ver se ele se mexia. Ele não se mexeu, então ela suspirou fundo, colocou um marcador em seu romance e estendeu a mão para sacudir o braço dele. Noah havia desenvolvido o hábito de cochilar enquanto lia na cama. Laura não fazia ideia de como ele achava aquela posição confortável o suficiente para dormir, e não entendia por que ele andava tão cansado ultimamente. Ele sempre ficava longas horas no escritório, mas o ritmo parecia afetá-lo cada vez mais.
— Noah, telefone. Telefones, na verdade. — Ela sacudiu o antebraço dele com mais força.
Noah se assustou e empurrou de volta à posição os óculos de leitura que haviam escorregado pelo nariz. Pegou o celular e passou o telefone da casa para que Laura cuidasse dele. Apertando os olhos para a tela, ele reconheceu o número do escritório de Sasha McCandless.
— Mac, mais devagar — disse ele, ouvindo a torrente de palavras que jorrava de sua associada sênior. Então, ele se sentou em silêncio, ouvindo, com os ombros caídos sob o peso do que Sasha estava dizendo.
Laura puxou sua manga, cobrindo o bocal com a mão e sussurrou:
— É Bob Metz.
Noah acenou com a cabeça. Metz era o conselheiro geral da Hemisphere Air.
— Mac, Metz está na minha linha fixa. Fique onde está. Faça um café. Eu a vejo em breve. — Ele fechou o telefone.
Laura entregou-lhe o telefone fixo e ele seguiu para o seu closet para se vestir, enquanto acalmava o homem perturbado do outro lado da linha.
Uma luz quente e suave descia das arandelas de bronze em cada lado da cabeceira da cama, banhando Laura com um brilho romântico. Ela havia pagado uma quantia principesca por aquela iluminação atraente, que raramente era usada para o propósito pretendido. Em retrospectiva, uma luz para leitura teria sido mais útil. Ela se espalhou para tomar o centro da cama king-size, com seus lençóis de alta qualidade e cobertores de caxemira; parecia que teria o luxo só para ela naquela noite. De novo. Ela abriu o livro no local marcado para retomar a leitura.
2
Bethesda, Maryland
Jerry Irwin estava sentado em seu escritório escuro, sendo a única luz o brilho do monitor do seu computador. Ele digitou uma mensagem rápida: Demonstração concluída com sucesso, como temos certeza de que você soube. Segunda demonstração ocorrerá na sexta-feira. As partes interessadas devem apresentar propostas confidenciais até meia-noite de sexta-feira.
Irwin leu duas vezes para ter certeza de que tinha o tom certo: sucinto e confiante, mas não impetuoso ou arrogante. Satisfeito, ele executou o programa sigiloso e o enviou para uma lista selecionada.
Ele desligou o computador e se levantou da cadeira ergonômica da escrivaninha, assobiando de modo desafinado. Não seria apropriado comemorar até que os lances estivessem prontos e o vencedor tivesse pago, mas achou que um copo de um bom uísque caía bem.
3
Escritórios da Prescott & Talbott
23h50
Enquanto Peterson saía de sua casa em estilo colonial em Sewickley, Sasha preparava um bule de café forte; havia reunido uma equipe de associados juniores exaustos, retirados de várias revisões de documentos que estavam sendo feitas tarde da noite, e distribuído cópias dos relatórios básicos da mídia sobre o acidente e uma página sobre a cultura corporativa e filosofia de litígio da Hemisphere Air.
Os colaboradores reunidos estavam cansados, mas animados. A promessa de ação os energizou. Haviam passado longas semanas, senão meses, de doze a quinze horas por dia revisando milhares e milhares de documentos eletrônicos em busca de privilégios e receptividade para uso em casos dos quais nunca chegariam perto. Cada um se sentou à mesa reluzente da sala de conferências, rezando para que aquele horrível acidente de avião fosse sua passagem para fora do inferno da revisão de documentos.
Peterson entrou na sala. Apesar do fato — ou talvez por causa dele — de ser quase meia-noite e seu maior cliente estar em crise, Peterson parecia renovado e imperturbável. Usava calças cáqui sem vincos e uma camisa de golfe rosa.
Sasha entregou-lhe uma caneca de café e um conjunto de apostilas.
Ele se inclinou e disse:
— Esse é o pessoal efetivo da Prescott, certo?
Ela fez um sinal de concordância com a cabeça. A Prescott & Talbott havia lidado com os tempos difíceis da economia criando um sistema de castas de advogados. Os advogados contratados — considerados inadequados para um emprego de verdade com base no desempenho acadêmico ou posição social — foram recrutados para rever a maior parte dos documentos e recebiam uma remuneração ultrajante por hora por seus esforços. Não apenas perdiam o prestígio da parceria, mas os salários que recebiam não faziam diferença alguma nas dezenas (ou, mais provavelmente, centenas) de milhares de dólares em empréstimos para faculdades de direito que haviam acumulado.
Os profissionais contratados eram supervisionados pelos advogados da equipe — considerados aptos para receber um salário e benefícios diretamente da Prescott & Talbott, mas ainda não bons o suficiente para serem os verdadeiros advogados da Prescott. Os advogados da equipe faziam o trabalho básico e eram proibidos de assinar documentos com papel timbrado da empresa; eram designados como advogados da equipe
no site da empresa e nos cartões de visita, e não tinham ilusões sobre a natureza insignificante de sua posição.
Os advogados da equipe, por sua vez, eram supervisionados por associados juniores — os homens e mulheres de olhos brilhantes que observavam Peterson de seus assentos ao redor da mesa. Foram os primeiros lugares nas classes de suas escolas de Direito; editores de periódicos; a prole das famílias tradicionalmente ricas que jogava golfe, nadava ou orava com os sócios da Prescott & Talbott, ou alguma combinação dos três.
Supondo que não seriam mastigados e depois cuspidos para fora da empresa, aqueles associados juniores um dia alcançariam o nível de Sasha. Como associada há oito anos, ela trabalhava diretamente com clientes, defendia em tribunais e argumentava, e era a principal responsável por redigir relatórios e conduzir casos pequenos. Em um caso importante, como seria o acidente, ela lidaria com a supervisão diária da equipe do caso e trabalharia com Peterson na estratégia.
E, desde que Sasha não se queimasse na empresa, ela logo alcançaria o nível de sócia nos lucros. Na primavera, os sócios de capital da Prescott & Talbott realizariam uma votação e quase certamente lhe ofereceriam a sociedade nos lucros. O que significava que ela havia alcançado o topo de um mastro muito alto e untado. Apenas um punhado das dezenas de jovens advogados ansiosos que começavam a trabalhar todo mês de setembro na Prescott conseguiriam chegar tão longe. Essa era a boa notícia. A má notícia era que toda a conquista que ela realizasse a colocaria bem na base de um mastro ainda mais alto e oleoso: aquele que estava entre ela e a sociedade de capital.
Peterson concordou, inclinando a cabeça, fazendo com que ela soubesse que ele apreciava seu julgamento. Sasha sentiu um pequeno arrepio de satisfação por tê-lo agradado e, em seguida, uma pontada igualmente pequena de repugnância por se preocupar em agradá-lo. Ela ignorou ambas as emoções e se serviu de outra xícara de café.
Peterson puxou a cadeira que estivera vazia na cabeceira e olhou ao redor da mesa. Encontrou cada par de olhos e sustentou o olhar por um momento para deixar que assimilassem a seriedade dos eventos da noite.
— Para aqueles de vocês que não me conhecem, sou Noah Peterson, o sócio-gerente do complexo departamento de litígios. Para quem não conhece a Hemisphere Air, ela é um dos clientes mais antigos da Prescott e, em cada ano, um de nossos maiores clientes em termos de horas faturadas e receitas arrecadadas. A Hemisphere Air é uma orgulhosa instituição de Pittsburgh e espera que a ajudemos a superar essa terrível tragédia.
Sasha ergueu os olhos do bloco de notas para se certificar de que todos estavam concordando nos momentos certos. Estavam.
Ela voltou a redigir uma lista de tarefas principais e fazer atribuições provisórias. A questão imediata era encontrar o melhor assistente jurídico disponível e colocá-lo no caso. Um excelente assistente jurídico era mais valioso do que todos os talentos caros e não testados sentados ao redor da mesa.
Ela ergueu os olhos de novo quando ouviu seu nome.
— Sasha McCandless comandará a equipe. Sasha conhece bem este cliente e suas necessidades. Se tiverem dúvidas ou preocupações, encaminhem-nas para Sasha. — E não para mim, seus peões, o que não foi dito, mas que não era necessário dizer.
Oito pares de olhos deixaram Peterson e se voltaram para Sasha. Ela largou a caneta.
— Faremos uma reunião às oito e meia, em todas as manhãs, para uma rápida atualização da situação e para entregar as atribuições prioritárias do dia. A partir de agora, vocês trabalham exclusivamente para a Hemisphere Air. Se precisarem de mim para interferir com alguém e tirá-los de outros assuntos, digam-me agora; do contrário, espero que se liberem totalmente de outros trabalhos até o final do dia de amanhã.
Sasha esperou um pouco para ver se alguém tinha problemas a respeito. Ninguém tinha. Naquele ponto de suas carreiras, eles mastigariam os braços para sair da armadilha da revisão de documentos.
Dificilmente poderiam imaginar que, como novíssimos advogados, iriam passar seus dias, noites e fins de semana olhando para telas de computador, lendo um e-mail fútil após o outro — peneirando as piadas encaminhadas, anúncios de spam de Viagra e detalhes mundanos do novo benefício de transporte de um cliente, em um esforço para encontrar evidências de negociação com informações privilegiadas, uma conspiração antitruste ou aconselhamento jurídico em relação a alguma ação da empresa. Sasha sentiu pena deles. Pelo menos, na época em que estivera se matando na análise de documentos, ela precisou viajar para locais exóticos como Duluth e remexer em caixas de papel amarelado em depósitos sem aquecimento, em vez de ser submetida à coleção de pornografia de algum estranho na Internet.
Ela continuou:
— Vamos ter que começar a nos apressar. Nossa suposição de trabalho é que o primeiro grupo de requerentes se apresentará amanhã. Quem quer que se apresente primeiro tem uma boa chance de ser nomeado advogado da classe e, se isso acabar com um monte de casos consolidados, advogado coordenador do LMD.
Ela encontrou alguns olhares inexpressivos.
— LMD, litígio multidistrital? – alertou ela.
Era criminosa a maneira como as empresas do tipo da Prescott exigiam as mentes jurídicas mais brilhantes, para depois as impedir de realmente exercer a advocacia durante os primeiros anos de suas carreiras.
Assim que eles começaram a concordar, balançando afirmativamente a cabeça mais uma vez, ela continuou:
— Vamos precisar de alguém para fazer uma análise de conflito de leis, na hipótese remota de o primeiro caso ser apresentado na Virgínia, o local do acidente; porém, é seguro supor que estaremos no tribunal federal aqui, no distrito ocidental da Pensilvânia.
Joe Donaldson tinha uma pergunta.
— Como pode ter tanta certeza? Só porque a Hemisphere Air está sediada aqui? Por que os requerentes iriam enfrentar a Hemisphere Air onde ela tem vantagem no tribunal de casa?
— Esse é um ponto válido, Joe. Olhe pela janela atrás de você.
Joe e os outros quatro advogados ao lado dele na mesa giraram suas cadeiras para olhar para onde ela apontou. As três pessoas sentadas do outro lado da mesa se levantaram um pouco de suas cadeiras e esticaram o pescoço para que pudessem ver também. Apenas Peterson não se mexeu. Ele apenas sorriu.
— Está vendo o Edifício Frick? – Era um prédio de pedra atarracado, perdido em um mar de arranha-céus de vidro. – O prédio inteiro está no escuro, certo? Exceto por uma fileira de cinco janelas, quatro andares acima.
As cabeças dos advogados juniores balançaram, concordando. Eles se viraram para encará-la.
— Aqueles são os escritórios de Mickey Collins. Mickey é um dos advogados de requerentes mais bem-sucedidos da cidade. O Aston Martin estacionado sob a luz de segurança no estacionamento ao lado é dele. Trabalho aqui há oito anos e posso contar quantas vezes o vi na vaga depois das dezoito horas. Ele está lá, trabalhando ao telefone, tentando encontrar a viúva de alguém naquele voo, para que possa ir ao tribunal logo pela manhã e protocolar uma ação como representante nomeado da classe. Podem contar com isso.
Joe olhou para baixo, envergonhado.
— Ei, foi uma boa pergunta, Joe. – Sasha valorizava alguém que falava em um grupo. – Por que você não trabalha para reunir informações básicas sobre os juízes do distrito ocidental, que são os candidatos mais prováveis a serem designados para o próximo caso de LMD registrado aqui?
— Vou reunir. – Joe se endireitou.
— Ótimo. Alguém quer ser voluntário para a análise de conflito de leis?
Kaitlyn Hart ergueu a caneta.
— Farei isso.
— Excelente. – Sasha se virou para Peterson. – Você vai se encontrar com Metz amanhã, Noah?
— Sim. Ele virá para um almoço de reunião. Vamos nos reunir no escritório. A imprensa estará em todos os seus escritórios amanhã.
— Muito bem. Isso significa que vou precisar de ambos os memorandos até o meio da manhã, para que possa revisá-los antes que Noah e eu nos encontremos com o advogado interno.
Joe e Kaitlyn assentiram, enquanto rabiscavam em seus blocos de notas.
— O resto de vocês receberá suas atribuições na reunião da manhã.
Sasha sentiu um pouco de culpa, já que os demais foram retirados de suas tarefas noturnas de revisão de documentos apenas para que se apressassem e esperassem, mas isso era apenas um fato da vida de uma grande empresa. Poderia ser irritantemente ineficiente.
— Alguma outra pergunta?
Ninguém falou. Algumas pessoas balançaram a cabeça.
Era quase uma da manhã. Hora de liberar as pessoas.
— Então terminamos. Vejo vocês pela manhã.
4
Arredores de Blacksburg, Virgínia
Enquanto um fraco sol de outono se erguia sobre as montanhas, a equipe de recuperação vasculhava o que restou do voo 1667. Ainda era apenas outubro, mas uma forte geada cobria o solo.
Os homens e mulheres que haviam começado como equipe de resgate na noite anterior estavam gelados e exaustos. Assim que levaram as fortes luzes de trabalho e viram o local do acidente, souberam que não haveria resgate, e a adrenalina que os havia impulsionado para que levantassem de suas camas quentes desapareceu.
Agora — sob a supervisão de um grupo de funcionários taciturnos e silenciosos do TSA e do NTSB ¹ — os bombeiros voluntários, paramédicos e policiais locais trabalhavam ombro a ombro, ensacando e catalogando partes de corpos carbonizados, anéis retorcidos de metal, fragmentos de telefones celulares e laptops, e sobras de maletas de rodinhas.
Marty Kowalski avistou um pedaço de tecido de bolinhas e se curvou, com os joelhos estalando, para inspecioná-lo. Era mais ou menos do tamanho de uma folha de papel solto e sua cor já havia sido em tom creme, salpicado alegremente com círculos em rosa claro, tons de café e azuis suaves. De alguma forma, aquilo lhe parecia familiar, mas Marty não conseguia descobrir o motivo.
Onde havia visto um tecido assim antes? Seu cérebro cansado vasculhou a memória, mas não encontrou nada. Ele virou o tecido e o material estava grudado; a parte de trás era algum tipo de plástico parcialmente derretido no chão. Quando Marty o puxou, o forro de plástico agitou algo em sua memória, e ele percebeu que estava olhando para o que restava de uma bolsa de fraldas: um padrão pastel alegre, forrado com uma cobertura de plástico protetora.
Uma mãe havia contado cuidadosamente as fraldas de que precisava para o voo, adicionando algumas a mais apenas para se prevenir. Em seguida, havia dobrado uma caixa de lenços umedecidos e um tubo de creme suavizante para fraldas para viagem, enfiado um brinquedo macio ou livro de papelão para manter o bebê entretido no avião e, provavelmente, empurrado um cobertor gasto ou bichinho de pelúcia em cima.
Agora, tudo o que restou foi aquele pedaço rasgado da sacola, e a mãe e o bebê estavam espalhados entre as cinzas que sopravam no campo enfumaçado. O estômago de Marty se contraiu. Ele correu até a linha das árvores, caso precisasse vomitar.
Marty se inclinou, apoiando as mãos enrijecidas nas coxas, logo acima dos joelhos. Forçou o vômito, mas nada saiu, então cuspiu algumas vezes e depois limpou a boca com as costas da mão. Enquanto se endireitava, ele avistou um metal brilhante cintilando nos arbustos. Ele chutou a vegetação para o lado com uma bota de bico de aço e ficou olhando. Uma caixa de aço inoxidável muito amassada, mais ou menos do tamanho de sua caixa de ferramentas de casa, estava jogada de lado. Havia sido pintada com cores brilhantes em tons laranja. As palavras CAIXA PRETA – NÃO ABRA
estavam gravadas em grandes letras pretas.
— Ei! — gritou ele. — Encontrei… encontrei a caixa preta.
De todas as direções, as pessoas começaram a correr até ele.
1 TSA - Administração de Segurança de Transportes; NTSB - Conselho Nacional de Segurança de Transportes (N.T.)
5
Pittsburgh, Pensilvânia
Menos de quatro horas depois de ter ido para a cama, os olhos de Sasha se abriram exatamente cinco minutos antes de seu alarme disparar, como acontecia todas as manhãs. Ela se espreguiçou totalmente, esticando os dedos dos pés e levantando os braços acima da cabeça, as pontas dos dedos batendo na cabeceira da cama. Sentou-se, arqueou as costas, girou o pescoço e desligou o alarme ainda silencioso.
A genialidade de seu apartamento em estilo loft era que o quarto ficava a apenas três degraus acima da cozinha, com seus eletrodomésticos de bronze polido — o novo tipo de aço inoxidável, de acordo com seu corretor. Ela fez uma curta caminhada até a cozinha e já estava com uma enorme caneca de café preto bem quente e forte na mão antes de acordar totalmente.
Sasha aprendera rapidamente que moer os grãos, preparar a água e colocar a cafeteira no timer na noite anterior tornava as manhãs muito mais fáceis. Ela até arrumou a caneca na noite anterior, colocando-a ao lado da máquina, na bancada de vidro reciclado — considerado o novo granito pelo mesmo corretor de imóveis.
Ela havia namorado brevemente um tal de Joel Qualquer Coisa, um purista do café que ficara chocado ao testemunhar essa rotina. Ele lhe dera uma aula sobre os óleos dos grãos e a temperatura da água. No encontro seguinte — e último —, ele a presenteou com uma pequena prensa francesa e sugeriu que ela aprendesse a arte de preparar o café, uma xícara perfeita de cada vez.
Ela jogou a prensa francesa em uma gaveta, onde ainda permanecia em sua caixa. Empurrou Joel para as águas superficiais de um breve namoro de Pittsburgh, não querendo se entregar ao esnobismo dele em relação ao preparo de um café.
O que sacrificava em relação ao sabor do café ao prepará-lo à noite era mais do que compensado pela ingestão imediata de cafeína que a cumprimentava todas as manhãs.
Ela levou o café de volta para o quarto, onde calçou os tênis de corrida. Havia também aprendido que dormir com roupas de ginástica, em vez de pijamas adequados, tornava as manhãs mais fáceis.
Em seguida, foi ao banheiro para lavar o rosto, escovar os dentes e prender o cabelo em um rabo de cavalo baixo. Dirigiu-se ao pequeno vestíbulo, onde vestiu a