Teorias e Procedimentos do Magnetismo
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Teorias e Procedimentos do Magnetismo - Hector Durville
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
D965t
Durville, H. (Hector), 1849-1923.
Teorias e procedimentos do magnetismo / Hector Durville; [tradução Albertina Escudeiro Sêco]. - 1.ed. — Rio de Janeiro: CELD, 2016.
444p.; il. 21cm
Inclui bibliografia
eISBN: 978-85-7297-585-8
Tradução de: Théories et procédés du magnétisme
1. Cura pelo magnetismo. I. Título
11-7445.
CDD 615.845
CDU 615.85
TEORIAS E PROCEDIMENTOS DO MAGNETISMO
Hector Durville
Título original: Théories et Procédés du Magnetisme
Tradução do Original Francês:
Albertina Escudeiro Sêco
1ª Edição: setembro de 2016;
1ª tiragem, do 1º milheiro ao 3º milheiro.
Capa, diagramação:
Luiz P. de Almeida Júnior
Revisão Técnico-científica:
Mário Coelho
Revisão:
Albertina Escudeiro Sêco, Barbara Santos e Teresa Cunha
Arte-final:
Roberto Ratti
Produção de ebook:
S2 Books
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Remessa via Correios e transportadora.
Todo produto desta edição é destinado à manutenção das obras sociais do Centro Espírita Léon Denis.
A Altivo Carissimi Pamphiro, ex toto corde,
a homenagem, o carinho e a eterna gratidão da tradutora.
Sumário
Capa
Ficha catalográfica
Folha de rosto
Créditos
Dedicatória
Prefácio
Introdução
Ação da mão
Definição do magnetismo; etimologia da palavra
Toda pessoa pode magnetizar
Quais são aqueles que magnetizam melhor?
Teorias e Procedimentos
Mesmer
Teoria
Princípios gerais
Fisiologia
Procedimentos
Le baquet (a selha)
Seus tratamentos
As crises
Resumo
O marquês de Puységur
Teoria
Procedimentos
Meios auxiliares
As crises; sonambulismo
Resumo
Deleuze
Princípios gerais
Procedimentos
As crises
Sonambulismo
Meios auxiliares
Do fluido
Terapêutica
Resumo
Du Potet
Teoria
O fluido e a alma
Propriedades físicas do magnetismo humano
Procedimentos
As crises
Sonambulismo
Terapêutica
Resumo
Lafontaine
Teoria
Experiências
Procedimentos
Sonambulismo
Terapêutica
Resumo
Teoria da Escola Prática de Magnetismo
Física geral
Teoria da emissão e da ondulação
Transformação das forças
O movimento
O movimento dá nascimento aos agentes da natureza
Os raios N
Os raios V ou raios magnéticos
Magnetismo involuntário
A arte de magnetizar
O tom do movimento
A vontade
Duas palavras a respeito do magnetizador
As leis físicas do magnetismo
Polaridade do corpo humano
Os polos de mesmo nome se repelem; os polos de nomes contrários se atraem
O magnetismo não é o fluido nervoso
Procedimentos do Magnetismo
Os passes
Passes longitudinais; a prática
Passes transversais
A imposição
Imposição palmar
Imposição digital
Imposição circular
Imposição perfurante
A aplicação
A prática
L’effleurage
A prática
As fricções
Fricção lenta
Fricção circular
As insuflações
Insuflação quente
Insuflação fria
O olhar
Magnetização intermediária
Magnetismo humano
Magnetismo do ímã
Da calma e da excitação
Para acalmar
Para excitar
A ligação
Sonambulismo
Do Diagnóstico
Sensações do magnetizador e do doente
Os centros nervosos
Localizações cerebrais
Para fazer um diagnóstico completo
Terapêutica
Indicações gerais
Nas doenças agudas
Nas doenças crônicas
As Crises
As crises perante os magnetizadores
Crises sintomáticas
Crises habituais
Crises críticas
As crises de retorno
Teoria das crises
Dificuldades
Doenças que se curam sem crises
Das Sessões
Duração das sessões
Sessões em comum
O local das sessões
Hora das sessões
Um tratamento de longa duração deve ser interrompido
Preço das sessões
Hipnotismo
Da Sugestão
A sugestão em terapêutica
A sugestão em experimentação
Como empregar a sugestão
Automagnetização e Autossugestão
Automagnetização
Autossugestão
Considerações Finais
Aos profissionais
De onde nos vem o agente magnético?
Glossário
Prefácio
É sabido que o professor Hippolyte-Léon-Denizard Rivail estudou o magnetismo por mais de 30 anos, antes de estudar os fenômenos espíritas e depois codificá-los, já com o pseudônimo de Allan Kardec. Podemos afirmar que, em se tratando de magnetização, tudo o que existe em Doutrina Espírita tem origem na ciência do magnetismo. O que tão magistralmente Allan Kardec discorreu sobre fluidos, no capítulo XIV de A Gênese , o médico belga Jan-Baptist van Helmont, bem como Paracelso, já estudavam 200 anos antes; van Helmont inclusive dizia que os espíritos eram ministros do magnetismo
, coisa que mais tarde veríamos no item 176 de O Livro dos Médiuns , quando os espíritos dizem quase o mesmo a Allan Kardec ao afirmarem: Os que magnetizam para o bem são auxiliados por bons espíritos
. O próprio barão du Potet, grande estudioso do magnetismo, que antes combatia a existência dos espíritos e a sua capacidade de comunicabilidade, termina por se convencer da realidade dos mesmos e confessa numa das correspondências que trocou com Alphonse Cahagne: Tratais, com uma antecipação de 20 anos, destas questões. A humanidade não está ainda preparada para compreendê-las
. (Vide o livro Metapsíquica Humana , capítulo I, de Ernesto Bozzano, edições FEB.)
Na questão 555 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec faz um comentário precioso sobre o magnetismo: O Espiritismo e o magnetismo nos dão a chave de uma imensidade de fenômenos sobre os quais a ignorância teceu um sem-número de fábulas, em que os fatos se apresentam exagerados pela imaginação. O conhecimento lúcido dessas duas ciências que, a bem dizer, formam uma única, mostrando a realidade das coisas e suas verdadeiras causas, constitui o melhor preservativo contra as ideias supersticiosas, porque revela o que é possível e o que é impossível, o que está nas Leis da Natureza e o que não passa de ridícula crendice
.
Faltam obras, nos dias atuais, que relatem os estudos acerca do magnetismo como as que existiam no final do século 19. Temos no Brasil uma obra contemporânea, editada pela FEB, que é O Magnetismo Espiritual, de Michaellus, e mais recentemente foi lançado o livro Mesmer, a ciência negada e os textos escondidos, de Paulo Henrique de Figueiredo, pela Editora Lachâtre, que nos dá uma visão da vida de Mesmer e sua doutrina acerca do magnetismo.
E por que nosso interesse por obras desse tipo? Muitos dos conceitos que se usam nos passes dentro das casas espíritas foram baseados nos princípios do magnetismo mas, com o decorrer do tempo, passaram a ser executados sem que se tenha mais ciência do mecanismo dos mesmos, a ponto de muitas pessoas não saberem por que se dão os passes desta ou daquela maneira. Lembremos que passe é movimento, diferente da imposição de mãos.
O Centro Espírita Léon Denis, desde os seus primórdios, caminha labutando em três frentes principais de atividades que são: a divulgação doutrinária espírita, as reuniões de cura (os chamados passes de cura, onde busca-se amparar os enfermos do corpo e da alma) e a assistência social.
Os espíritos diretores dos trabalhos espirituais do CELD sempre demonstraram muito conhecimento dessas técnicas de cura, e o próprio fundador desta Casa Espírita, Altivo Carissimi Pamphiro, era um grande conhecedor da matéria. Publicar Teorias e Procedimentos do Magnetismo, de Hector Durville, era um sonho dele.
Tive a tarefa de examinar criteriosamente este livro, retirando capítulos que já estavam obsoletos — eram explicações fisiopatológicas do século 19 — buscando adequar a linguagem científica de alguns termos, procurando retirar os excessos, de modo que não ficasse um livro enfadonho de se ler.
Conheceremos aqui a maneira como cada um dos magnetizadores via o magnetismo, desde Mesmer, passando por Deleuze, barão du Potet, Charles Lafontaine, marquês de Puységur e outros.
Parabenizamos aqui a tradutora Albertina Escudeiro Sêco, pela persistência em traduzir esta obra, mesmo quando tudo indicava a sua não publicação, e agradecemos ao amigo Alexandre Lobato, dedicado estudioso do magnetismo, por ter-nos dado preciosas dicas após ter lido os originais.
Permita Deus que este livro seja mais uma fonte de estudos que nos faça compreender os mecanismos dos passes que damos nas casas espíritas, bem como entender os passes que os espíritos dão no mundo espiritual e que vemos relatados nas obras mediúnicas, principalmente as do espírito André Luiz.
Mário Coelho
O Magnetismo no Egito
Um dos Grandes Chefes Divinos projeta, na nuca de um faraó, o fluido Sa, que proporciona Vida, Saúde, Força. (Templo de Karnak.) [1]
Introdução
Ação da mão • Definição do magnetismo; etimologia da palavra • Toda pessoa pode magnetizar • Quais são aqueles que magnetizam melhor?
Ação da mão
A mão é entre nós o órgão de precisão por excelência. É, também, o principal órgão que nos serve para levar aos nossos semelhantes a força magnética da qual somos dotados; por essa razão é que sua ação é indicada em quase todas as práticas mágicas ou consideradas como tais, tanto para fazer o mal quanto para realizar o bem; observamos esse fato, principalmente, na arte misteriosa de curar empregada pelos iniciados da Antiguidade.
Desde a imposição das mãos, utilizada pelos egípcios, pelo Cristo e pelos apóstolos, para realizar as curas ditas miraculosas que a tradição nos fez conhecer, até os toques e as fricções dos tocadores e curadores profanos, sempre é a mão que age. Alguns autores têm-lhe mesmo atribuído propriedades especiais, medicinais entre outras. Assim, na Ilíada, Homero [2] nos diz que certos homens têm a mão medicinal, que, entre eles, esse órgão possui a propriedade de curar as doenças.
Na História Raciocinada do Magnetismo e do Psiquismo Prático, demonstramos, por numerosas citações muitas vezes acompanhadas de figuras, que a mão foi empregada em todos os tempos para a cura das doenças. Para não fazer repetições, remeto o leitor a essa obra pelo grande número de exemplos, deles analisando, aqui, apenas dois da Antiguidade e um da Idade Média, que são indispensáveis à teoria.
1. Um papiro descoberto nas ruínas de Tebas contém estas palavras: "Coloca a mão sobre o doente para acalmar a dor e diz a dor que pare".
2. No sétimo livro da sua História Natural, Plínio [3] nos diz que "Havia em Hellespont, [4] uma espécie de homens chamados ‘ophiogènes’, que tinham o dom de curar, pelo tato, as mordidas das serpentes e de fazer sair todo o veneno do corpo, nele aplicando somente a mão".
Plínio fala longamente dos processos que, por toda a evidência, são processos magnéticos. Ele dá, mesmo, uma explicação teórica que é, se não a primeira, pelo menos a melhor que nos chegou da Antiguidade. "Alguns homens, disse ele, têm uma virtude medicinal em certas partes do corpo, como a que diziam possuir o dedo polegar do rei Pirro." [5]
Ele reconhece que esta virtude é devida a uma certa força que emana do corpo e que a intenção pode lhe dar uma ação curativa mais considerável.
3. Em sua obra Da Natureza (I.6), Avicena [6] admite a ação que um indivíduo pode exercer sobre um outro. Ele atribui à alma um poder considerável que pode não somente agir sobre seu próprio corpo, como, também, sobre outros corpos. Ela pode atrair os corpos distantes, fasciná-los, exercer sobre eles uma ação equilibrante ou desequilibrante; em uma palavra, produzir, em certos casos, a saúde e a doença.
As definições de Plínio e de Avicena, ainda que bem sucintas, não são menos importantes para a teoria do magnetismo, porque elas formam a base sobre a qual se apoiam todas as explicações que se deram depois.
Definição do magnetismo; etimologia da palavra
Todos os corpos da Natureza e, mais particularmente, os corpos animados, agem continuamente uns sobre os outros e essa perpétua reciprocidade de ação constitui o magnetismo. Pode-se, então, defini-lo como a ação recíproca que os corpos exercem ou podem exercer uns sobre os outros.
As línguas antigas não possuem um termo que tenha um sentido preciso para exprimir o que os magnetizadores entendem por essa palavra que, até o fim da Idade Média, só era empregada para designar o conjunto das propriedades dos ímãs.
A palavra ímã (em francês: aimant) parece ter analogia com a palavra amar (em francês: aimer), por causa da relação que existe entre o poder de atração física inerente à natureza da primeira (ímã) e a ideia de simpatia ou atração moral ligada à segunda (amor). É isso, sem dúvida, o que pensam os chineses que designam o ímã sob o nome de tsu-chy, quer dizer, o que ama.
Os gregos, que descobriram a pedra de ímã nas cercanias da cidade de Magnésia, na Ásia Menor, deram-lhe o nome do lugar de origem magnes que em latim tornou-se magneticus. Quase todos os etimologistas estão de acordo em relacionar à raiz magnes a origem da nossa palavra magnetismo.
Em física, a palavra ímã permaneceu como o termo genérico que designa toda substância que possui a propriedade natural ou adquirida de atrair o ferro e de tomar a direção do meridiano, enquanto que a palavra magnetismo designa, mais particularmente, o conjunto das propriedades dos ímãs.
Sempre se observou no corpo humano certas propriedades que estão em analogia com as do ímã; e, no século 16, deu-se, igualmente, ao conjunto dessas propriedades, o nome de magnetismo. É o magnetismo animal de Mesmer, [7] o magnetismo vital ou magnetismo humano dos magnetizadores contemporâneos.
Como o demonstrei em meu livro Física Magnética, observam-se no ímã duas forças distintas que se podem dissociar e estudar separadamente:
1ª) O agente estudado em Física sob o nome de magnetismo;
2ª) Um agente fisiológico, vital, tendo as maiores analogias com o magnetismo humano.
O magnetismo do ímã e do corpo humano existe em todos os animais, nas plantas e em grande número dos corpos inanimados. Ele é gerado pela eletricidade, calor, movimento, atrito, som, e decomposições químicas. Ele se encontra no magnetismo terrestre, na luz e até nos odores.
Em todos os corpos ou agentes da Natureza, o agente magnético está sujeito às mesmas leis, mas suas propriedades vitais são ainda mais intensas quando ele emana de um corpo animado melhor organizado. No corpo humano, ele participa até das qualidades físicas e morais dos indivíduos.
A ciência oficial que admite, enfim, a realidade dos efeitos do magnetismo, nega, ainda, a existência do agente magnético como força física. Ela quer substituir a palavra magnetismo por hipnotismo, do grego hipnos, que significa sono. Essa palavra, além de insuficiente para explicar os efeitos observados, é imprópria porquanto não é necessário dormir para experimentar todos os benefícios do magnetismo.
Quando um físico fala do magnetismo, todos sabem que se trata da ação dinâmica que os ímãs exercem entre eles. Na boca de um magnetizador, a mesma palavra significa a ação que um indivíduo exerce ou pode exercer sobre seu semelhante. O termo é, pois, insuficiente para exprimir o pensamento do magnetizador e o do físico. Como ele indica duas ordens de fenômenos diferentes, parece necessário juntar a um deles o qualificativo que lhe é próprio. É por essa razão que designei o magnetismo dos diferentes corpos ou agentes da Natureza sob o nome de magnetismo fisiológico, pois ele se faz sentir no organismo sem patentear sua ação pela agulha magnética.
Segundo a fonte da qual ele emana, o magnetismo fisiológico divide-se em: magnetismo humano, zoomagnetismo ou magnetismo dos animais, magnetismo dos vegetais, do ímã, da eletricidade, da luz, do calor, do som, do movimento, do atrito, das decomposições químicas, etc.
Muitos magnetizadores entusiastas têm afirmado que o magnetismo é o próprio princípio da vida que existe em nós. A vida é o modo de atividade da matéria. É um atributo dinâmico da substância organizada, atributo que desaparece quando as condições de meio e de constituição da substância são modificadas além de certos limites. Ora, o magnetismo é o regulador, o grande modificador, o princípio equilibrante por excelência. Com ele, a vida que se extingue em um corpo enfraquecido por uma longa série de sofrimentos, renasce, como se uma nova vida se transfundisse nele. O meio no qual a vida não era possível, porque não possuía mais as qualidades necessárias ao funcionamento do organismo, recupera essas qualidades e o equilíbrio se restabelece. Em todos os casos, é evidente que com a ajuda do magnetismo, aplicado segundo as regras da sua técnica, pode-se aumentar ou diminuir a atividade orgânica e restabelecer em nós o equilíbrio das forças, que é o que constitui a saúde, com a condição, porém, de que os órgãos essenciais à vida não sejam muito profundamente alterados.
Sem que seja necessário pôr em ação a imaginação do doente pela afirmação ou pela sugestão, como o fazem os hipnotizadores, o magnetismo fisiológico faz sentir sua ação benéfica sobre todos os temperamentos, sem distinção de idade e de sexo.
O conjunto dessas propriedades vitais ou equilibrantes constitui a medicina magnética que é, por excelência, a medicina da família. É a medicina do pobre como a do rico; cada um pode empregá-la, sem nenhuma despesa, em si mesmo e nos seus, visto que as forças da Natureza pertencem a todos. As regras da sua aplicação são simples e estão ao alcance de todas as inteligências. Com alguns conhecimentos fáceis de adquirir, toda pessoa cuja saúde está mais ou menos equilibrada pode curar ou aliviar o sofrimento do seu semelhante, sem recorrer aos venenos da medicina clássica que tantas vezes fazem mal, mesmo curando. Na grande maioria dos casos, o homem pode ser o médico de sua mulher, e esta a médica de seu marido e de seus filhos.
Quando esta verdade for bem compreendida, a intervenção de mãos estranhas só será necessária nos casos muito raros ou quando a propagação do mal for tão rápida quanto inesperada. As doenças que se consideram como incuráveis acabarão por desaparecer e não se verá mais a metade da humanidade carregar uma vida enfraquecida sem que o magnetismo possa aliviar-lhe o fardo.
Toda pessoa pode magnetizar
Como acabei de dizer, toda pessoa pode magnetizar os doentes e curá-los, ou, pelo menos, aliviá-los com certa rapidez.
Assim enunciada, esta afirmação é da mais rigorosa exatidão. Ela apresenta, porém, exceções para algumas doenças, mas essas exceções só são aparentes, porque uma doença que não foi minorada por uma pessoa, certamente o será por outra.
O magnetizador profissional [8] percebe que curou alguns doentes muito melhor do que outros afetados com a mesma doença. Existem mesmo aqueles diante dos quais ele fica quase incapaz. Isso não quer dizer que o magnetismo não tenha um meio de agir sobre estes últimos; longe disso, porque um outro profissional, frequentemente menos hábil, os curará facilmente. Eu mesmo, em minha longa prática, principalmente na Clínica da Escola, [9] tenho, às vezes, tratado de doentes com muito pouco sucesso durante vários meses; depois, tendo-os confiado a alunos evidentemente menos habilitados do que eu, estes os curaram rapidamente.
Observa-se também, embora muito raramente, que alguns principiantes enfraquecem um doente em lugar de curá-lo. Mesmer afirma que certas pessoas exercem mesmo uma ação oposta àquela do maior número das outras, o que significa que, em lugar de curar, elas seriam nocivas. Estas pessoas são raras e, além disso, nada prova que certos doentes não se consideraram muito bem com a ação exercida por elas. Existe nesses casos, pelo menos na maior parte das vezes, uma questão de temperamento, pode-se dizer de afinidade, em virtude da qual a relação só se estabelece imperfeitamente ou até não se estabelece de modo algum.
Entretanto, deve-se admitir que alguns raros indivíduos exercem em torno deles uma ação maléfica. Citarei somente um exemplo: um indivíduo, tendo todas as aparências de uma saúde física e moral excelente, se casou. Ao fim de algum tempo, que não passou de 18 meses a dois anos, sua esposa se desequilibrou, debilitou-se e morreu de uma afecção mal caracterizada. O viúvo, que não gostava de solidão, casou-se novamente, e mais ou menos ao fim do mesmo tempo, uma nova viuvez ocorreu — que seria seguida na mesma proporção de outros casamentos que ele faria. O autor inconsciente desses homicídios era dotado de um tipo de propriedade perniciosa que provavelmente teria sobre ele uma ação fatal se ele não a exercesse ao seu redor, sobre uma série mais ou menos longa de inocentes vítimas. [10]
Esses indivíduos são muito raros; porém, deles se encontra um número suficiente, principalmente no campo, para que ninguém possa duvidar da sua existência. Eu só encontrei um deles, que pude estudar à vontade durante algumas semanas, para perceber experimentalmente a realidade dessa propriedade verdadeiramente antimagnética.
Há alguns indícios que permitem ao magnetizador experiente reconhecer antecipadamente se conseguirá curar o doente que se apresenta a ele. O mais importante é a impressão que ele tem ao conversar com o doente.
Isso se explica facilmente. Estando diante de uma pessoa qualquer, quase sempre se experimenta simpatia ou antipatia por essa pessoa, porque ela nos é agradável ou desagradável, em uma palavra, ela nos agrada ou desagrada. Se o magnetizador experimentar pelo doente o primeiro sentimento, a simpatia, irá magnetizá-lo rapidamente, e agirá com tanta eficácia quanto maior for a simpatia que nutrir por ele; mas se sentir uma forte antipatia, os resultados serão pouco importantes, se não forem completamente nulos.
Ao lado dessa impressão, há ainda essa voz da consciência que se chama intuição, mas nem todas as pessoas são favorecidas por ela, e mesmo para aquelas que a possuem, nem sempre a intuição fala. As que a têm em um fraco grau podem ainda confundi-la com o vivo desejo que sentem de ir em ajuda do doente. Em todos os casos, eu aconselho essencialmente a que se confie, de uma forma bem ampla, nisso que vulgarmente se chama a primeira impressão e que se manifesta quase sempre ao primeiro contato.
Para obter melhores resultados, é importante observar a oposição dos sexos. Assim como o demonstrei no meu Física Magnética, no capítulo que trata de magnetismo humano, o homem cura mais facilmente a mulher, e esta cura melhor um homem que uma mulher, porque a atração que se exerce de um sexo ao outro é maior, mais viva, mais natural. É em virtude dessa lei da Natureza que o homem pode e deve ser o verdadeiro médico de sua mulher, e esta a melhor médica de seu marido, com a condição, bem entendido, de que eles sejam unidos por uma profunda simpatia. [11]
A simpatia dá, naturalmente, nascimento ao amor que deverá unir todos os humanos nos seus laços de solidariedade; e este amor exaltado pode fazer prodígios. O amor da mãe pelo filho, que ela aperta contra o seio, frequentemente o preserva das doenças e sempre o alivia quando ele sofre. Veremos mais adiante a narração de alguns exemplos de curas consideradas como absolutamente impossíveis, visto que a morte já havia feito a sua obra; e essas curas, verdadeiras ressurreições, só podem ser devidas ao amor exaltado do curador.
Como a fé que remove montanhas
, está fora de dúvida que o amor do curador pelo doente põe em jogo forças desconhecidas que vêm se juntar às forças definidas do organismo, e que o moribundo pode, às vezes, ser chamado à vida. Em todos os casos, que o magnetizador fique ciente de que obterá tanto mais curas quanto maior for a confiança em seu poder e mais sincero for o seu amor por seu doente. No momento em que ele houver adquirido os conhecimentos técnicos que lhe são necessários, se ele puder reunir essas duas forças em um mesmo feixe, constatará realmente que os milagres operados por Jesus e pelos apóstolos são ainda possíveis.
Quais são aqueles que magnetizam melhor?
No estado atual dos nossos conhecimentos, é impossível responder a essa pergunta de uma forma precisa caso não se tenha visto o magnetizador no trabalho. É na base da parede que se vê o pedreiro,
diz o provérbio. Na ação é que se constata, de uma forma natural, o poder curador em um alto grau entre alguns indivíduos, enquanto que entre o maior número de outros, ele é mais limitado, embora suficiente para ser muito útil aos doentes, principalmente na família. Com a antiga teoria da emissão, dizia-se que os primeiros possuem "o fluido curador". Atualmente não se utiliza mais essa expressão, ainda que não haja outra melhor para substituí-la.
• Por que certas pessoas curam mais facilmente que outras?
Aqui ainda não se pode responder nada com precisão. Em certos meios, diz-se que é um dom. Tudo o que posso dizer é que esse poder resulta de disposições particulares, como todos os gêneros de aptidões.
Para dar a saúde, o magnetizador deve estar bem de saúde. Evidentemente, esta condição é muito importante; mas não é completamente indispensável. Com efeito, veem-se indivíduos grandes e robustos, cuja saúde é muito bem equilibrada, que obtêm poucos resultados, enquanto que há magnetizadores insignificantes, de fraca compleição, cuja saúde certamente não é perfeita, e que curam muito bem.
• Como se pode perceber se alguém possui o poder curador em um alto grau?
Do mesmo modo que na pergunta anterior, para que se possa julgar, só experimentando. Aliás, muitos curadores excelentes ignoram durante um tempo, mais ou menos longo, que possuem esse poder; é a oportunidade de empregá-lo que lhes permite compreender que são dotados desse poder. Eu mesmo, ignorei durante 27 anos que podia me tornar um magnetizador passável. Eis o resumo, inédito, do primeiro resultado que obtive. Corria o ano de 1878, eu acabara de retomar a publicação do Jornal do Magnetismo que o barão du Potet havia abandonado após haver publicado 20 volumes. Tenho a declarar que, sob todos os pontos de vista, meus conhecimentos eram muito limitados. Eu me interessava muito pelas experiências de magnetismo e seguia assiduamente as sessões espíritas.
Eu não deixava de ir, semanalmente, à casa de um barbeiro do bairro de Halles onde se viam frequentemente fenômenos estranhos. A principal médium era a mulher do barbeiro. Uma tarde, estávamos lá uns 20 frequentadores quando o barbeiro veio nos dizer que sua mulher estava de cama, sofrendo de uma terrível enxaqueca, e que não havendo outro médium ele receava que a sessão não pudesse se realizar.
Um frequentador exclamou: Mas nós temos aqui um magnetizador que por certo concorda voluntariamente em curar a médium
. O barbeiro nos disse que ia perguntar à sua mulher se ela consentia nisso, e voltou, logo a seguir, declarando que a doente estava encantada com essa proposta, e que eu devia ir até ela.
Eu estava muito embaraçado, pois jamais havia magnetizado um doente, não sabia como proceder. Para não ser ridículo, não recusei essa prova. Seguindo o barbeiro até um compartimento vizinho, eis-me perto da doente. Não sabendo o que fazer, eu a tomei pelas mãos, olhando-a. Ao fim de alguns instantes ela fechou os olhos e não tardou em exclamar: Mas... eu estou muito melhor! e logo vou ser curada
. Levantando suas pálpebras, constatei, para meu grande espanto, que ela se encontrava em estado sonambúlico. Eu não me sentia tranquilo, havia apenas um quarto de hora que eu estava lá, quando a doente nos disse: Muito bem, acabou, estou curada, o senhor pode me acordar
. Cada vez mais emocionado, eu lhe perguntei o que era preciso fazer para isso. Dê-me passes transversais,
disse ela. Eu o fiz, tremendo. A doente acordou rapidamente e manifestou com alegria a sua surpresa. Declarou que ia se levantar e descer para a sessão.
Fui juntar-me aos frequentadores no pequeno salão onde recebi aplausos. A doente não tardou a chegar e a sessão se realizou.
Sob o domínio da emoção que eu experimentava, não dormi durante a noite. Levantei-me bem cedo e fui ver as pessoas que conhecia para lhes contar minha aventura. Eu queria que todas estivessem doentes para ter a oportunidade de curá-las. Encontrei algumas que aliviei de forma bem marcante.
Acabara de achar minha vocação. A partir daquele momento, eu trabalharia sem descanso para adquirir os conhecimentos que me eram indispensáveis, elaborei uma teoria, e minha clientela pouco a pouco se estabeleceu.
Portanto, repito: É na base da parede que se vê o pedreiro
; não há nada como experimentar em casos bem simples para se perceber o que se é capaz de obter.
Teorias e Procedimentos
MESMER
Teoria Princípios gerais Fisiologia Procedimentos Le baquet [12] Seus tratamentos As crises Resumo
Franz Anton Mesmer nasceu no ano de 1733, em Weiller-em-Souabe, Alemanha, e morreu não longe de lá, em Mersbourg, perto do lago Constance, em 1815. Doutorou-se em Medicina na Universidade de Viena, em 1766, após haver sustentado uma tese tratando da Influência dos Planetas sobre o Corpo Humano na qual ele estabeleceu a existência de um fluido sutil que penetra todos os corpos e preenche o Universo. Mesmer estendia o princípio da atração newtoniana [13] aos corpos animados, afirmando que ela se produzia sobre o sistema nervoso dos seres vivos por intermédio desse fluido sutil que ele logo designou sob o nome de fluido universal.
Aplicou o ímã na terapêutica [14] e, em razão dos efeitos que se produzem entre os ímãs (magnes), ele deu a essa propriedade do corpo o nome de Magnetismo Animal.
Por esse magnetismo, ele explica a causa dos sangramentos periódicos da mulher [15] e quase todas as revoluções e crises observadas pelos médicos de todos os tempos no decorrer das doenças. Seu sistema, portanto, está baseado sobre as propriedades da matéria e dos corpos organizados tais como: a gravitação, a coesão, a elasticidade, os efeitos do ímã, a irritabilidade.
Inicialmente praticou em Viena, porém, censurado pelo cardeal, que achava sua doutrina muito materialista, repreendido pela Faculdade de Medicina e desprezado por todos os médicos, deixou Viena e foi para Paris onde adquiriu rapidamente uma rica clientela. Deslon, médico regente da Faculdade de Medicina e primeiro médico do conde de Astois, irmão do rei, tornou-se um de seus alunos mais assíduos. Sob os pedidos insistentes dele, e mesmo com a sua colaboração, Mesmer publicou a Primeira Memória sobre a Descoberta do Magnetismo Animal com um resumo da sua doutrina em 27 proposições. Embora essas proposições sejam muito úteis à teoria, não as publicando aqui, eu envio o leitor para a História Raciocinada do Magnetismo.
Deslon se propunha a comunicar essa Memória à faculdade da qual esperava uma acolhida favorável. A Memória foi entregue, mas as proposições de Mesmer foram rejeitadas e Deslon foi até riscado da lista dos médicos regentes (1780). Esse foi o começo da terrível luta que Mesmer sustentou contra a comunidade de sábios, luta que reflete todo o ódio e a opinião preconcebida que os sábios e principalmente os médicos são capazes de empregar, mesmo contra um dos seus, se ele não segue os usos comuns da rotina oficial.
Teoria
A teoria de Mesmer é bastante complicada. Nela se encontram boas ideias, excelentes explicações, apoiadas em hipóteses audaciosas, mas que não têm nada de inacreditável. Os princípios gerais da sua doutrina são muito extensos e repousam exclusivamente sobre as propriedades da matéria. Sua fisiologia é razoável, ainda que rudimentar, e os procedimentos que ele emprega merecem ser apreciados mais do que têm sido, mesmo pelos magnetizadores que o admiram.
De acordo com sua Segunda Memória e principalmente com os Aforismos [16] do Sr. Mesmer ditados à Assembleia de seus alunos, e publicados em 1783, por Caullet de Vaumorel, médico da casa do Monsieur [17], irmão do rei, eu descrevo as partes essenciais que todo praticante do magnetismo deve conhecer. Para ser mais completo, relato adiante, textualmente, alguns desses aforismos, fazendo-os preceder do número de ordem que eles têm naquela obra.
Princípios gerais
O Universo não sofre nenhum vazio e a matéria é divisível ao infinito. Sendo o estado de fluidez da matéria um estado relativo entre o movimento e o repouso, é evidente que após se terem esgotado, pela imaginação, todos os níveis de fluidez possíveis, seremos forçados a parar no último grau de subdivisão; e este último grau é o fluido que preenche todos os interstícios [18] de todos os corpos. Na citação seguinte, ele faz compreender bem a sua ideia.
A areia, por exemplo,
diz ele, tem um grau de fluidez; a forma de seus grãos cria necessariamente os interstícios que podem ser ocupados pela água; os interstícios da água o serão pelo ar; os do ar pelo que se denomina éter, os do éter, enfim, serão ocupados por uma substância ainda mais fluida, da qual não sabemos até o momento fixar a denominação. É difícil determinar onde essa divisibilidade termina. Entretanto, é de uma dessas categorias da matéria, a mais dividida pelo movimento interno, que eu quero falar aqui.
(Memória, ano VIII, p. 20.)
Eis aí a definição do seu fluido universal. Ele admite, pois, que esse não é o éter tal como os físicos o concebiam na sua época [19], mas um estado da matéria, um fluido mais leve, mais sutil ainda. Como ele penetra todos os fluidos, assim como todos os sólidos contidos no espaço, por intermédio dele o Universo inteiro está reduzido a uma só massa.
Esse fluido não tem, por si mesmo, nenhuma propriedade: não é nem elástico nem pesado; mas é capaz de determinar as propriedades em todas as ordens da matéria que se encontre mais composta que ele próprio; e, para fazer compreender esta ação, Mesmer cita ainda um exemplo: Com respeito às propriedades que o fluido determina nos corpos orgânicos, ele é o que o ar é para o som e a harmonia, ou o éter para a luz, ou, finalmente, a água para o moinho; isto quer dizer que ele recebe as impressões, as modificações do movimento, que ele as transmite, que as transfere, que as aplica e as introduz nos corpos organizados; e os efeitos assim produzidos não são mais que o resultado combinado do movimento e da organização dos corpos
. (Op. cit., p. 23.)
Portanto, por toda parte há somente matéria e movimen-to. Vejamos alguns aforismos que vão nos esclarecer mais a esse respeito:
27. Se a matéria troca de lugar e ocupa sucessi-vamente diferentes pontos, essa mudança ou esse ato da matéria é o que nós chamamos movimento.
28. O movimento modifica a matéria.
29. O primeiro movimento é um efeito imediato da criação, e esse movimento dado à matéria é a única causa de todas as diferentes combinações e de todas as formas que existem.
30. Esse movimento primitivo é universal e constantemente mantido pelas partes mais sutis da maté-ria, que nós chamamos fluido.
31. Em todos os movimentos da matéria fluida, consideramos três coisas: a direção, a velocidade e o tom.
32. O tom é o gênero ou o modo de movimento que têm as partes mantidas nesse estado.
42. Todas as propriedades, sejam dos corpos organizados, sejam dos corpos inorganizados, dependem da maneira pela qual suas partes são combinadas e do movimento dessas partes entre elas.
43. Se uma quantidade de fluido é posta em movimento em uma mesma direção, isto se chama cor-rente.
Fisiologia
A fisiologia de Mesmer merece apenas esse nome, visto que, tratando somente das funções gerais do organismo, ele só considera essas funções