Representações Sociais em Narrativas de Vida
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Representações Sociais em Narrativas de Vida - Raquel Garcia Braga de Lima
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Em memória da minha avó Olga, a minha mãe Celina, irmão Getulio Jr. e marido Elcio Jr., meus eternos amores e grandes incentivadores.
(Raquel Braga)
AGRADECIMENTOS
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes), pela bolsa de fomento à pesquisa. Ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estácio de Sá. À Rita Lima, pela orientação, pelas trocas de ideias e por abraçar comigo mais este projeto. À Inês Bragança, pela leitura comprometida que resultou em observações relevantes ao estudo. Às amigas Ângela, Carol, Célia Márcia, Jaci, Joice, Luciana, Marci, Marseille, Socorro, Valéria, Vanessa e às meninas da infância. Às narradoras, por gentilmente me confiarem suas histórias de vida. À chefia e aos colegas da Gerência da qual faço parte, por todo apoio. À minha mãe, incansável incentivadora, carinhosa, paciente, exemplar, sábia, prudente, plácida, cujo motor de permanente cuidado comigo envolve a força para prosseguir nos estudos sempre tão valiosos para ela e para mim. Ela vê neles uma beleza que não se mensura, e eu somente aprendo com os exemplos dessa orientação materna transposta em gestos naturalmente fortes e ternos, acompanhando-me, ainda hoje, nessa nova jornada que chega ao fim no todo da trajetória até aqui. Mãe, minha gratidão, meu amor e minha devoção. Ao meu irmão Getúlio Junior, a quem tenho o privilégio de ter sempre ao alcance da minha voz: pelo amor paciente, pela mentoria, inspiração, dedicação, disponibilidade, cumplicidade e por sempre acreditar que, como ele, posso trilhar o caminho do saber. A beleza do mundo acadêmico se revelou por seu intermédio. A você, além do amor e admiração, minha gratidão! Concluímos esta etapa! Ao meu marido, Elcio Junior, pela parceria, compreensão, paciência e por compartilhar desta obra e por não medir esforços para que fosse possível. A atenção e o tempo requeridos por este trabalho foram carinhosamente entendidos por um matrimônio de respeito, moderação e amor. Aos meus amados tios, Antônio, Marcos e Jorge, que celebram cada novo projeto e realização que se concretizam em minha caminhada. Meus três mosqueteiros, muito obrigada! A Deus, pela vida, pelo entendimento acerca do que é vida, pela sabedoria que, na minha parca finitude posso acessar; pela inteligência, em seus múltiplos espectros; pela bravura, perseverança, amor, paciência; todos recebidos e praticados enquanto virtudes doadas e renovadas em mais este desafio para concluir essa etapa, envolvendo-me com laços fraternais e amizades que me ajudaram a compor as prioridades, ser resistente às vicissitudes e que, a despeito da importância do projeto, presenteou-me com o maior bem que pôde me dar na execução desta pequena obra: minha família.
Raquel Braga
Censurar a ciência não é dispensar sua existência ou
sua importância, mas questionar sua posição.
Braga-Jr.
APRESENTAÇÃO
Representações sociais em narrativas de vida reúne duas abordagens teórico-metodológicas que oferecem subsídios à reflexão a respeito das questões humanas, no interesse de se compreender os discursos que coordenam as práticas educativas de dois grupos de profissionais que atuam na educação infantil. Nesse caminho, é possível verificar que estes, no cotidiano, distanciam-se do que é estudado nos cursos de formação. Para essa análise, esta obra apresenta a noção de representações sociais, desenvolvida por Moscovici, que estuda o processo de apropriação de um conhecimento, como ele é partilhado em um grupo em que ele está enraizado.
Nesse horizonte de preocupações, sob a luz das narrativas (auto)biográficas, examinar a complexidade das práticas pedagógicas das profissionais de educação, ouvindo suas histórias de vida e analisando-as em um processo de revisitação às suas memórias em dialogicidade com nossas lembranças enquanto pesquisadoras permite-nos compreender o quanto a formação de profissionais precisa dialogar com histórias e crenças que as pessoas têm a respeito de si, do outro, dos objetos distintos em um processo de construção de identidade de sujeitos, dos grupos, das tensões que envolvem o campo de estudo e as pessoas que nele atuam. Desse modo, o texto foi estruturado em sete capítulos.
O primeiro capítulo discorre sobre as motivações para a escrita do texto. O segundo capítulo está organizado de modo que permaneça uma inquietação desde o início, a respeito das concepções de criança, infância e das práticas, com ênfase na legislação como primeiro marco divisor e definidor da EI no contexto educacional brasileiro, conciliando a LDB com a Constituição. No terceiro capítulo, o objeto pontuado é identificado juntamente às práticas e às identidades dos profissionais na dicotomia binominal do cuidar-educar, decorrente de uma imprecisão. Estão presentes as questões do assistencialismo, das práticas pedagógicas, crenças e representações a respeito delas, deflagrando um problema de conformidade entre a regulamentação das atribuições e as práticas efetivas.
No quarto capítulo o problema é enfrentado quando os modelos teóricos são elencados e depois o resgate da gênese das representações sociais. Também foi feita a conjugação da autobiografia e TRS, destacando a noção de experiência e memória no estudo das representações sociais, considerando a presença desses elementos nas narrativas de vida. No quinto capítulo, foi apresentada a pesquisa de campo: percurso, histórico, contexto, a entrada da pesquisa no campo, o contato com as narradoras, a apresentação delas, a caracterização profissional, a entrevista/conversa e os caminhos percorridos. Nas narrativas de vida ficam evidenciadas as construções dissonantes a respeito da natureza do trabalho das narradoras.
No sexto capítulo, as análises apresentadas reuniram as inquietações de ordem prática, teórica, normativa, psicossocial e sobretudo pedagógica e convergiram para a representação de que há uma interpretação imprecisa do trabalho na EI. Por se caracterizar como um estudo que pesquisa as representações sociais, cabe a investigação do modelo figurativo. A entrevista/conversa, associada às metáforas estabelecidas e suas respectivas explicações, ofereceu parâmetros para a formulação de uma hipótese interpretativa dos modelos figurativos da representação social dos dois grupos entrevistados. O último capítulo apresenta algumas reflexões após a pesquisa documental, o diálogo entre as teorias e pesquisa em campo identificando que o estudo permitiu aprofundar o olhar psicossocial para as práticas educativas. Evidenciou-se que as crenças norteiam as práticas nos grupos. Apesar de reconhecerem a indissociabilidade do cuidar-educar, há a fragmentação do trabalho, e assim agentes cuidam e professores educam.
Esperamos que os conceitos e teorias abordadas no texto, bem como a proposição de aproximação entre elas e do diálogo entre teoria e prática, sejam tão enriquecedores e prazerosos no exercício de pesquisa quanto foi para nós.
Raquel Braga
Rita Lima
PREFÁCIO
Não gosto de palavra acostumada. [...]
Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria.
Não preciso do fim para chegar.
(Manoel de Barros)¹
Com alegria e honra, recebi o convite para escrever o prefácio do livro Representações sociais em narrativas de vida. Fui logo remetida a uma das minhas caixinhas de memórias, daquelas que guardo com maior afeto, que ensinam o lembrar... As primeiras experiências como professora da pós-graduação, o encontro-amizade com Rita, a pesquisa que realizamos juntas, escutando narrativas de professoras(es) e, recentemente, conhecer Raquel Lima e seu trabalho.
Por tudo isso, retomo, com felicidade, o texto deste livro e (re)encontro uma palavra-pesquisa não acostumada
por ousar viver o arriscado círculo virtuoso entre narrativa e escuta; sim, esse movimento pode ser muito perigoso
, pois podemos, ao fazer pesquisa, nos (trans)formar em partilha com as narradoras e narradores.
Raquel e Rita tratam de um campo problemático, fértil e caro – o trabalho na creche desenvolvido por professoras e agentes, as tensões entre o educar e o cuidar na educação infantil. Trabalho docente, infância, educação infantil abordados, no texto, com palavras científicas e poéticas.
Chama a atenção a profundidade do estudo do ponto de vista teórico e metodológico, os autores estudados, o cuidado no desenvolvimento de cada etapa, com destaque para a compreensão das fontes narrativas em diálogo com as questões de estudo e, especialmente, a contribuição no caminho que vamos trilhando na aproximação entre a Teoria das Representações Sociais e a abordagem narrativa (auto)biográfica; o estudo que entrelaça memória e noção de experiência é precioso.
Sobre o trabalho com a abordagem narrativa (auto)biográfica, seguem algumas notas...
A leitura indica que, para além da construção do conhecimento, agora socializado de forma ampla, as autoras viveram a tessitura da pesquisa como uma experiência formativa, em um transbordamento da pesquisa para uma pesquisa-formação que envolveu também as narradoras e, nesse sentido, não precisaram do fim para chegar
, foram chegando ao longo do caminho. As entrevistas também não se contiveram nos limites do roteiro, ultrapassaram o acostumado
e se abriram à conversa, ao diálogo.
A dimensão (auto)biográfica tem visibilidade nas narrativas de vida das professoras e agentes, constituindo um rico material e contribuição para pensar as trajetórias de vida, formação e profissão.
Fica, assim, meu convite à leitura.
Inês Ferreira de Souza Bragança
Campinas, 11 de janeiro de 2020.
Professora da Faculdade de Educação da
Universidade Estadual de Campinas (FE/Unicamp)
LISTA DE SIGLAS
Sumário
1
COMO TUDO COMEÇOU... 19
2
o luGar da educação infantil 25
2.1 Avanços e retrocessos 25
2.2 O divisor de águas 27
2.3 O campo de tensões no Rio de Janeiro 30
3
A DIMENSÃO DO CUIDAR-EDUCAR 41
3.1 Identidades e práticas nas representações sociais 41
3.2 As representações sociais do cuidar-educar na Educação Infantil 44
4
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E abordagem narrativa (auto)biográfica EM DIÁLOGO 47
4.1 Abordagens distintas de uma mesma teoria e o início da TRS 47
4.2 As narrativas de vida na abordagem narrativa (auto)biográfica 55
4.3 Narrativas de vida: memória e noção de experiência nas representações e abordagem narrativa (auto)biográfica 58
5
As histÓrias de vida em NARRATIVAS 65
5.1 O local das narrativas 65
5.2 As historiadoras 68
5.2.1 Narrativas sobre as histórias de vida das Agentes de Educação Infantil 69
5.2.2 Narrativas sobre as histórias de vida das Professoras de Educação Infantil 70
5.3 As histórias de vida em narrativas 71
5.4 As narrativas sobre as trajetórias de vida 76
5.4.1 As histórias de vida das Agentes de Educação Infantil 76
5.4.2 As histórias de vida das Professoras de Educação Infantil 93
6
OS Pontos de tensão revelados nas NARRATIVAS 113
6.1 Narrativas de vida e análise temática 113
6.1.1 Narrativas de vida das Agentes de Educação Infantil e análise temática 114
6.1.2 Narrativas de vida das Professoras de Educação Infantil e análise temática 125
6.2 A indução de metáforas 132
6.2.1 As Agentes de Educação Infantil e suas metáforas sobre trabalho 133
6.2.2 As Agentes de Educação Infantil e suas metáforas sobre crianças 134
6.2.3 As Professoras de Educação Infantil e suas metáforas sobre trabalho 136
6.2.4 As Professoras de Educação Infantil e suas metáforas sobre crianças 138
6.4 O modelo figurativo das representações sociais 139
6.4.1 Agentes de Educação Infantil: uma hipótese interpretativa do modelo figurativo da representação social do grupo 142
6.4.2 Professoras de Educação Infantil: uma hipótese interpretativa do modelo figurativo da representação social do grupo 143
Como terminará... 147
Referências 153
ÍNDICE REMISSIVO 165
1
COMO TUDO COMEÇOU...
Esta obra aborda tensões no campo da Educação Infantil (EI) com base em representações de professores e de agentes de Educação Infantil, a respeito do trabalho que exercem na área, mais precisamente, no município do Rio de Janeiro, e as tensões que emanam da relação entre esses dois grupos de profissionais. É oportuno esclarecer que há orientações, tanto no âmbito da legislação federal - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil - (DCNEI) (BRASIL, 2010) quanto municipal -Orientações Curriculares para a Educação Infantil -