Reprograme: Branding, comunicação e cultura
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Reprograme - André Stolarski
Ímã Editorial | Livros de Criação
www.imaeditorial.com
A maior parte do conteúdo desse livro foi publicado originalmente sob diferentes licenças Creative Commons.
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© Copyright 2012 American Association of Museums, www.aam-us.org.
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Reforming the museum: Root and branch
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How a Museum Re-Branded Itself to Boost Visitors by 600% (Case Study)
© 2002 - 2012 Nancy E. Schwartz.
Publisher – GettingAttention.org / President – Nancy Schwartz & Company
Todos os direitos reservados.
Este livro é dedicado aos Beastie Boys, Neil DeGrasse Tyson
e Marcia Bibiani.
Tradução: Julia Nemirovsky
Revisão: Itala Maduell
Design: Rara Dias
Capa: Rara Dias e Paula Delecave
Foto da capa: Oliver Neiva
Editor: Julio Silveira
NOTA IMPORTANTE
Reprograme está disponível para traduções em outros idiomas para atingir um público maior em versões digitais. Entre em contato com o organizador para mais informações.
ISBN 978-85-64528-48-2
Este livro foi gentilmente viabilizado por financiamento coletivo através do site Catarse com o apoio de:
Adriana Costa, Adriana Scorzelli Rattes, Ana Paula Gaspar, Fabiano Maciel, Gabriela Dias, Ilana Strozemberg, Jorane Castro, Mariana Varzea, Rara Dias, Silvio de Angelis Jr e Tecnopop.
Alejandro Tapia, Alice Chaves, Ana Carla Fonseca Cainha, Ana Cristina Gonzales Alves, Ana Cunha, Ana Elisa Carvalho Price, Ana Kemper, André Stolarski, André Noboru, Andréia Menezes, Bárbara Emanuel, Carlos Eduardo Pinto Ramos Junior, Claudia Tebyriçá, Coral Michelin, Débora Monnerat, Diana Dobranszky, Enrique Pessoa, Fernanda Assunção, Fernanda Martins, Francisco Linhares Frederico Coelho, Gabriel Patrocinio, Gabriela Moulin, João Bonelli, João Doria, João Vergara, Juliana Fernandes Silveira, Julio Silveira, Laura Taves, Lica Cecato, Luiz Augusto Pereira Fernandes, Luiz Camillo Osorio, Marcelo Pereira, Márcia Regina Guimarães, Marcus Vinicius Faustini, Maria Tornaghi, Marta Porto, Mercedes Lachmann, Nádia Almeida, Nathalie Larcier, Oona Castro, Paula Delecave, Paula Oliveira Camargo, Paulo Roberto Pereira Pinto, Raphael Neto, Renata Lanari, Ricardo Moras, Roberta Alencastro, Rodrigo Letier, Sarah Stutz, Simone Castro de Oliveira, Thaís Martino, Thiago Lacaz, Victor Barreto, Vinícius Rennó e Wilson Ricardo Baroncelli.
Claudia Bolshaw, Fernando Resende, Guilherme Kato, Hiro Kozaka, Rodrigo Melo e Viktor Chagas.
A todos vocês, muito obrigado.
E obrigado também a Bruno Porto, Jim Richardson, John Strand, Julia Hoffman, Kim Mitchell, Lori Phillips, Nina Simon, Olivier Neiva e Samuel Bausson e todos que apoiaram este projeto com palavras de incentivo, correções ou promoção através das mídias sociais.
Este livro não é um SPAM. É um convite de Luis Marcelo Mendes para você e para todos os pensadores de museus que queiram fazer parte do projeto Reprograme: comunicação, branding e cultura numa nova era de museus.
Resultado de uma importante reflexão sobre como a gestão da comunicação, o posicionamento da marca e as estratégias de relacionamento com o público têm um papel fundamental para o recondicionamento do museu ao seu lugar de centralidade no desenvolvimento cultural de um país.
Partindo da ideia de que os museus não são ilhas e sim plataformas, o autor reúne uma série de artigos publicados em blogs e ações de ativismo cultural na rede, que refletem sobre a comunicação como um processo privilegiado de mediação entre a cultura museológica e os seus públicos. E vai mais além, ao apontar como as estratégias de relacionamentos foram decisivas para reverter dificuldades financeiras que prejudicavam os museus em suas finalidades de pesquisa e formação cultural, colocando-os à margem da vida contemporânea.
A gestão da comunicação e da cultura no universo do museu é apresentada neste livro em toda sua complexidade. A partir das experiências criteriosamente selecionadas, vamos compreendendo como a apropriação da ferramenta comunicativa nos processos de administração museológica contribuem para a legitimação do museu enquanto um espaço de identidade cultural voltado para diversos públicos. Ou seja, é justamente na maneira como é comunicada a mediação do objeto cultural que se dá a potencialização da capacidade de fruição, interação e a apreensão repertório cultural do museu. Sobretudo em tempos globalizados, quando as identidades culturais são permanentemente reformuladas, produzidas e representadas nas redes sociais, o museu é desafiado a reprogramar a sua linearidade histórica, como condição de possibilidade para se tornar espaço de memória e identidade.
A convocação de Luis Marcelo Mendes à reprogramação de pensamentos e de práticas de gestão na área museológica não poderia ter vindo em momento mais interessante, quando o Brasil ocupa seu lugar de potência mundial e vê surgir novos museus em suas capitais. Esses museus nascem não somente do desejo de criar um diálogo entre as tradições e territórios multiculturais brasileiros. São fruto de uma vontade legítima de inserir o Brasil nas estruturas econômicas do mundo globalizado, que orgulhosamente transformaram seus museus em símbolos de pujança arquitetônica, tecnológica e cultural.
Inspirados pela provocação de Robert Jones de pensar o museu não como uma catedral e sim como um bazar de trocas, vamos percorrendo as narrativas bem-sucedidas de museus que ousaram repensar sua vocação, criar e motivar equipes multidisciplinares, questionar seus acervos e ouvir seu público, como passos fundamentais para ocupar ou retomar um espaço diferenciado em sua cidade ou país.
Não há dúvidas que os museus estão mudando e não poderia ser diferente, pois o mundo está mudando. O que está em jogo, e este livro expõe isso de maneira contundente, é a forma como o museu se comunica e se relaciona com o seu futuro. Escolhas serão necessárias e uma participação decisória, não meramente contemplativa do público será crucial nesta jornada, se os museus quiserem ultrapassar verdadeiramente as suas barreiras insulares e se tornar plataformas culturalmente sustentáveis.
A participação começa comigo
, diz Nina Simon, na voz de Luis Marcelo Mendes, coordenador deste projeto inovador que já nasce de forma colaborativa, gratuita e acessível em todas as linguagens digitais. Com DNA negociador próprio dos mineiros e formado jornalista com tempero carioca, Mendes reúne neste livro as mais interessantes discussões e experiências em andamento nos últimos anos nos museus do mundo. Um convite aos museólogos e aos profissionais que pensam e desejam o futuro dos museus, para reprogramarem sua formação e refletirem a comunicação como uma causa que traz uma nova razão para o museu existir no nosso mundo.
Em abril de 2012, a banda alemã de música eletrônica Kraftwerk realizou um projeto de residência inédito no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). Kraftwerk-Retrospective 1 2 3 4 5 6 7 8 envolveu a execução integral, em ordem cronológica, dos oito sofisticados álbuns da banda no átrio do museu, com projeções 3D especialmente adaptadas para esse projeto pelo estúdio Kling Klang, em Düsseldorf, na Alemanha. As apresentações eram limitadas a uma audiência de 450 pessoas, mas também transmitidas simultaneamente para o Domo do PS1, espaço do MoMA na região do Queens – com entrada gratuita.
O evento capturou a atenção de pessoas ligadas à arte em todo o mundo. Um dia depois do lançamento, a notícia já contava mais de 4 milhões de citações no Google, sendo replicada por diversos sites, blogs e mídias sociais. Os ingressos, disponibilizados para venda online a US$ 25 cada, evaporaram em apenas duas horas.
Mais que uma sequência de shows de sucesso, esse evento teve um tremendo impacto simbólico. As apresentações não estavam acontecendo no Rock in Rio ou em outro festival de música, mas no principal museu da mesma cidade de Nova York onde o Kraftwerk influenciou o hip hop no começo dos anos 80 e teria grande impacto na cultura visual e musical contemporânea assim como no trabalho de um expressivo número de artistas, videoartistas, designers.
Ver a chancela de um museu gerar o mesmo tipo de interesse mediático para a programação que até então somente era obtido por artistas como Madonna ou Lady Gaga, é um dado novo nesse jogo.
Experimentos com um museu de arte
Mudando a lente de Nova York para a cidade de Denver, no Colorado, encontramos um museu que está realizando uma pequena mas poderosa revolução, com sua abordagem única de humor espirituoso, presente em todos os seus pontos de contato com seus públicos, seja na prática curatorial ou educacional.
Adam Lerner é o animador-chefe (chief animator) e diretor do Museu de Arte Contemporânea de Denver, uma instituição que vem surpreendendo o segmento desde 2009. É, por exemplo, o museu que se propõe a oferecer um desconto de cinco centavos nos ingressos para todos os físicos e metafísicos. O que promove coquetéis nas sextas-feiras de verão ou degustação de waffes durante os debates presidenciais.
Apesar do ótimo conjunto da obra, o que fez o MCA Denver realmente despontar no radar foi a criação da série Mixed Taste: Tag-Team Lectures on Unrelated Topics (Gostos Misturados: Palestras sobre assuntos não relacionados), uma das mais inovadoras programações em museus da atualidade.
A cada evento do Mixed Tastes são emparelhados dois tópicos aleatórios, como Wittgenstein e Dança Hula-Hula ou então Piratas e Conceitualismo Russo. Vinte minutos para cada tópico e outros vinte para o debate onde a diversão é garantida e tudo pode acontecer. O objetivo do programa é desativar as tensões prévias envolvendo as discussões em torno do universo da arte e das ideias. Aqui o museu atua como uma força para a criatividade dos artistas e dos públicos atrelados a ele.
Qual é a relação daquilo que o MCA Denver faz com a definição tradicional de museus? Segundo Adam Lerner: Para nós, o museu é um ideal. Fazer piadas em um museu de arte não é uma tentativa de tornar essa arte mais acessível ou mesmo competir com outras formas de entretenimento popular. Não é alterar a natureza básica do museu, mas compreender melhor essa natureza
.
Esses dois casos abordados, MoMA e o MCA Denver, são exemplos entre uma série de instituições que demonstram uma nova atitude: a Reprogramação – um movimento que está diretamente ligado à forma como passaremos a entender a expansão de parâmetros do museu nesse século e seu novo papel na era da informação.
A Reprogramação tem sua base na inversão de foco. O sistema de exercício de autoridade sendo substituído pela busca de um amplo entendimento daquilo que é valor para o público. A colaboração e a troca em lugar da primazia do saber e da posse dos objetos. E até mesmo o questionamento do poder do curador e entusiasmo pelo engajamento participativo e co-curadorias na busca de investigar diversas culturas, diferentes perspectivas, múltiplas vozes.
Esse movimento acompanha as grandes transformações na cultura global e as novas formas de pensar, fazer e distribuir a produção artística. O segmento de música, por exemplo, passou por uma transformação radical no poderoso e lucrativo sistema de distribuição e venda aperfeiçoado ao longo do século XX: do single ao LP, às megastores e a um canal de TV dedicado a exibir o material promocional das gravadoras.
Da mesma forma as novas tecnologias de produção de filmes, mais profissionais e de baixo custo, permitiram não somente a concretização da utopia da câmera na mão e um filme na cabeça, mas que essa produção pudesse chegar instantaneamente a milhões de pessoas. E, finalmente, os editores também tiveram seu poder de controle de acesso posto à prova pelos novos suportes de produção, distribuição e consumo de livros.
Era inevitável que em algum momento os museus tivessem que se repensar nesse novo cenário onde o público não é apenas plateia mas produtor ativo de cultura ao seu modo.
Por isso, os líderes no conceito de Reprogramação dão um salto inspirador no imaginário global da nossa ideia compartilhada de museu, entendendo a importância de fazer aquilo que somente os museus podem fazer.
Reprogramar é uma ação institucional de rever conceitos e passar a entender os públicos não como visitantes sem rosto ou desejos com os quais não há compromisso, mas como clientes. Indivíduos com quem desejamos estabelecer relacionamentos, propor diálogos e ouvir com atenção para prestar o melhor serviço.
E ao mesmo tempo entender que o museu pode ser radical e abraçar as possibilidades de transgressão inseridas nos limites aceitáveis de ação em cada lugar e tempo.
Sétimo museu mais visitado do mundo (mais de 3 milhões de pessoas ao ano), o MoMA possuiu cerca de um milhão de fãs no Facebook e um número semelhante no Twitter, com os quais mantém uma relação frequente e inteligente. Apoiada numa trajetória coerente de aperfeiçoamento da sua marca, que estabeleceu uma forte identidade com a cidade, o museu vem apostando em relacionamento em suas ações de comunicação. Seja na residência da banda alemã ou na performance da artista sérvia Marina Abramovic; na criação de conteúdos expandidos em plataformas móvei; em ações de relacionamento com visitantes e na oferta de serviços de grande qualidade, programação de filmes e um diversificado portfólio de produtos de alta qualidade em sua loja. Reprocessando o que esperamos e acrescentando tudo aquilo que pode ser absolutamente inovador. O mesmo tipo de atitude que pode ser percebido nos brilhantes exemplos da Tate Modern e British Museum (Reino Unido), o SFMOMA, de São Francisco e, principalmente, o Walker Art Center, de Minneapolis (Estados Unidos).
Com uma administração focada em desenvolvimento de público, o Walker Art Center tem se superado na gestão de afetos pela capacidade de propor conversas, ouvir os visitantes, estabelecer relacionamentos e assumir riscos. Um exemplo disso é a realização do primeiro Internet Cat Film Festival em agosto de 2012, uma seleção de 70 filmes de gatos postados em sites como o You Tube e exibidos num megatelão nos jardins do museu para 10 mil pessoas. Como na visão de Adam Lerner, não há intenção de fazer piada, mas discutir um determinado fenômeno cultural e propor um experimento social que discute o próprio conceito de compartilhamento, levando a fruição típica de um ambiente online solitário para a convivência analógica coletiva, em torno de uma coisa divertida. Esse é o entendimento do museu não mais como uma ilha, mas como uma plataforma.
Entre a preocupação e a euforia
Vivemos uma época realmente contraditória e excitante para os mais de 55.000 museus presentes em 202 países em todo o mundo. Ao