Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $9.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Divã ocidento-oriental
Divã ocidento-oriental
Divã ocidento-oriental
E-book591 páginas5 horas

Divã ocidento-oriental

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

O Divã ocidento-oriental é o resultado do movimento de Goethe em direção ao Oriente, "de onde há milênios têm chegado a nós tantas coisas grandiosas, boas e belas". Este desejo teve sua gênese no encontro do poeta alemão com o Diwan — "coletânea", "ciclo" — do persa Hafez. Reunindo mais de 500 gazéis (poemas curtos e líricos, de temática mística ou amorosa), o Diwan de Hafez circulava pelo Oriente desde o século XIV.

Quando a primeira tradução integral deste conjunto chega a Goethe, ele é arrebatado por sua leitura e tomado de uma necessidade de responder produtivamente à "poderosa aparição" de Hafez, a quem Goethe passou a considerar um "gêmeo". O alemão, então com 64 anos, decide renovar-se como criador e empreender sua viagem literária rumo ao Oriente. Por meio de leituras, pesquisas e traduções, o poeta se transplanta ao antigo mundo das Mil e uma noites, às civilizações dos livros sagrados e suas tradições poéticas. O Divã ocidento-oriental é o relato dessa imersão.

Esta tradução é a primeira vez em que a íntegra da poesia (aqui em versão bilíngue) e da prosa que compõem o Divã ocidento-oriental aparecem conjuntamente em português. O trabalho foi objeto de doutorado do tradutor e pesquisador Daniel Martineschen. O tradutor também assina um posfácio que conta mais sobre a escrita do Divã por Goethe, a história das traduções da obra, e a história da presente tradução.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de set. de 2020
ISBN9786586068139
Divã ocidento-oriental

Relacionado a Divã ocidento-oriental

Ebooks relacionados

Poesia para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Divã ocidento-oriental

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Divã ocidento-oriental - J. W. Goethe

    DIVÃ OCIDENTO·ORIENTAL

    JOHANN WOLFGANG VON GOETHE

    DIVÃ OCIDENTO-ORIENTAL

    TRADUÇÃO E POSFÁCIO

    DANIEL MARTINESCHEN

    Título original: West-östlicher Divan

    © Editora Estação Liberdade, 2020, para esta tradução

    PREPARAÇÃO Editora Estação Liberdade

    REVISÃO Huendel Viana

    SUPERVISÃO EDITORIAL Letícia Howes

    PROJETO GRÁFICO E COMPOSIÇÃO Mika Matsuzake

    IMAGEM DA CAPA Sultão Muhammad (c. 1531-33): Alegoria da embriaguez do mundo e do além, folha do Diwan de Hafez Propriedade conjunta do Metropolitan Museum of Art e da Galeria Arthur M Sackler, Universidade de Harvard; doação do sr. e da sra. Stuart Cary Welch Jr., 1988.

    DIREÇÃO EDITORIAL Angel Bojadsen

    CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

    SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

    G546d

    Goethe, Johann Wolfgang Von, 1749-1832

    Divã ocidento-oriental / West-östlicher divan / Johann Wolfgang Von Goethe ; tradução e posfácio Daniel Martineschen. - 1 ed. - São Paulo : Estação Liberdade, 2020 448 p. ; 23 cm.

    Tradução de: West-östlicher divan

    Inclui bibliografia

    ISBN 978-65-86068-13-9

    1. Poesia alemã 2. Poesia alemã - História e crítica. I. Martineschen, Daniel. II. Título

    Vanessa Mafra Xavier Salgado - Bibliotecária - CRB-7/6644

    09/12/2019   12/12/2019

    Todos os direitos reservados à Editora Estação Liberdade. Nenhuma parte da obra pode ser reproduzida, adaptada, multiplicada ou divulgada de nenhuma forma (em particular por meios de reprografia ou processos digitais) sem autorização expressa da editora, e em virtude da legislação em vigor.

    Esta publicação segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, Decreto no 6.583, de 29 de setembro de 2008.

    EDITORA ESTAÇÃO LIBERDADE LTDA.

    Rua Dona Elisa, 116 – Barra Funda – 01155-030

    São Paulo – SP – Tel : (11) 3660 3180

    www.estacaoliberdade.com.br

    SUMÁRIO

    LIVRO DO CANTOR

    Hégira

    Porta-sortes

    Livre-senso

    Talismãs

    Quatro graças

    Confissão

    Elementos

    Criado e animado

    Cisão

    Aparição

    Amável

    Passado no presente

    Poesia e forma

    Atrevimento

    Curto e grosso

    Toda-vida

    Anelo abençoado

    LIVRO DE HAFEZ

    Apelido

    Acusação

    Fátua

    O alemão agradece

    Fátua

    Ilimitado

    Imitação

    Claro enigma

    Aceno

    LIVRO DO AMOR

    Modelos

    Livro de leitura

    Avisado

    Imerso

    Pensativo

    Mau consolo

    Satisfeito

    Saudação

    Entrega

    Inevitável

    Secreto

    Secretíssimo

    LIVRO DAS CONTEMPLAÇÕES

    Cinco coisas

    Cinco outras

    Ao Xá Shuja e seus iguais

    A mais alta graça

    Ferdusi

    Jalal al-Din Rumi

    Zuleica

    LIVRO DO MAU HUMOR

    Paz de espírito do viandante

    LIVRO DOS PROVÉRBIOS

    LIVRO DE TIMUR

    O Inverno e Timur

    A Zuleica

    LIVRO DE ZULEICA

    Convite

    Hatem

    Zuleica

    Zuleica

    Hatem

    Ginkgo biloba

    Zuleica

    Imagem sublime

    Ressonância

    Zuleica

    Reencontro

    Noite de lua cheia

    Criptografia

    Reflexão

    Zuleica

    LIVRO DA TAVERNA

    Ao garçom

    Ao escanção

    O escanção fala

    Escanção

    Escanção

    Escanção

    Poeta

    Noite de verão

    LIVRO DAS PARÁBOLAS

    É bom

    LIVRO DO PARSE

    Legado da antiga crença persa

    LIVRO DO PARAÍSO

    Homens autorizados

    Mulheres escolhidas

    Animais favorecidos

    Superior e supremo

    Os sete adormecidos

    Boa noite!

    NOTAS E ENSAIOS PARA MELHOR COMPREENSÃO DO DIVÃ OCIDENTO-ORIENTAL

    Introdução

    Hebreus

    Árabes

    Transição

    Antigos persas

    O Regimento

    História

    Maomé

    Califas

    Comentário para prosseguimento

    Mahmud de Gázni

    Reis poetas

    Tradições

    Ferdusi (morto em 1030)

    Anvari (morto em 1152)

    Nezami (morto em 1180)

    Jalal al-Din Rumi (morto em 1262)

    Saadi (morto em 1291 com 102 anos)

    Hafez (morto em 1389)

    Jami (morto em 1494, aos 82 anos de idade)

    Visão geral

    Considerações gerais

    Considerações mais gerais

    Novas, novíssimas

    Dúvidas

    Despotismo

    Objeção

    Adendo

    Compensação

    Inserção

    Elementos fundamentais da poesia oriental

    Transição de tropos para símiles

    Alerta

    Comparação

    Preservação

    Gêneros poéticos

    Formas naturais da poesia

    Adendo

    Bibliomancia

    Troca de flores e signos

    Cifra

    Divã futuro

    Do Antigo Testamento

    Israel no deserto

    Outros auxílios

    Peregrinações e cruzadas

    Marco Polo

    Jehan de Mandeville

    Pietro della Valle

    Perdão

    Olearius

    Tavernier e Chardin

    Novos e mais novos viajantes

    Professores: antecessores e contemporâneos

    Von Diez

    Von Hammer

    Traduções

    Fecho final!

    Revisão

    POSFÁCIO

    Introdução

    História do Divã

    Estrutura do Divã

    Traduções do Divã

    O Divã no Brasil

    Sobre esta tradução

    Leituras aprofundadas e referências

    OBRAS DE GOETHE

    MOGANNI NAMEH

    Zwanzig Jahre ließ ich gehn

    Und genoß, was mir beschieden;

    Eine Reihe völlig schön

    Wie die Zeit der Barmekiden.

    LIVRO DO CANTOR

    Vinte anos fiz fluir

    De uma vida bem vivida;

    Maravilhas a fruir

    Como o tempo Barmecida.

    Hegire

    Nord und West und Süd zersplittern,

    Throne bersten, Reiche zittern,

    Flüchte du, im reinen Osten

    Patriarchenluft zu kosten,

    Unter Lieben, Trinken, Singen

    Soll dich Chisers Quell verjüngen.

    Dort, im Reinen und im Rechten,

    Will ich menschlichen Geschlechten

    In des Ursprungs Tiefe dringen,

    Wo sie noch von Gott empfingen

    Himmelslehr’ in Erdesprachen

    Und sich nicht den Kopf zerbrachen.

    Wo sie Väter hoch verehrten,

    Jeden fremden Dienst verwehrten;

    Will mich freun der Jugendschranke:

    Glaube weit, eng der Gedanke,

    Wie das Wort so wichtig dort war,

    Weil es ein gesprochen Wort war.

    Will mich unter Hirten mischen,

    An Oasen mich erfrischen,

    Wenn mit Karawanen wandle,

    Schal, Kaffee und Moschus handle;

    Jeden Pfad will ich betreten

    Von der Wüste zu den Städten.

    Bösen Felsweg auf und nieder

    Trösten, Hafis, deine Lieder,

    Wenn der Führer mit Entzücken

    Von des Maultiers hohem Rücken

    Singt, die Sterne zu erwecken

    Und die Räuber zu erschrecken.

    Will in Bädern und in Schenken,

    Heil’ger Hafis, dein gedenken,

    Wenn den Schleier Liebchen lüftet,

    Schüttelnd Ambralocken düftet.

    Ja, des Dichters Liebeflüstern

    Mache selbst die Huris lüstern.

    Wolltet ihr ihm dies beneiden

    Oder etwa gar verleiden,

    Wisset nur, daß Dichterworte

    Um des Paradieses Pforte

    Immer leise klopfend schweben,

    Sich erbittend ew’ges Leben.

    Hégira

    Norte e oeste e sul se espalham,

    tronos racham, reinos falham,

    Vai-te à terra oriental,

    sorve o ar patriarcal;

    Pois no amar, beber, cantar

    Vai Chadir te remoçar.

    Onde tudo é justo e puro

    gerações, com muito apuro,

    buscarei na funda origem,

    de onde ouviam — sem vertigem —

    na sua língua o tom de Deus,

    sem partir os crânios seus.

    Onde os pais ainda honravam,

    e maus cultos rejeitavam;

    vou gozar do desatino,

    com fé ampla e pouco tino,

    já que o forte era a palavra,

    pois falada era a palavra.

    Aos pastores vou mesclar-me,

    num oásis saciar-me,

    trago em caravana e a pé

    xale, almíscar e café;

    Quero andar pelas picadas

    do deserto até as muradas.

    Nos rochedos, pela trilha,

    com sua mula vai o guia;

    às estrelas canta alto —

    medo assoma os maus de assalto.

    Ó Hafez! sem teus poemas

    esta terra tem problemas.

    Pelas termas e tavernas

    tuas honras canto eternas:

    meu benzinho sopra o véu,

    cachos de âmbar solta ao léu.

    Sim, o poeta, sussurrando,

    deixa as huris se corando.

    Saibam todos que o invejam

    ou que seu caminho pejam

    que os poemas sempre pedem

    baixinho à porta do Éden

    uma dádiva singela:

    uma vida eterna e bela.

    Segenspfänder

    Talisman in Karneol,

    Gläub’gen bringt er Glück und Wohl;

    Steht er gar auf Onyx Grunde,

    Küß ihn mit geweihtem Munde!

    Alles Übel treibt er fort,

    Schützet dich und schützt den Ort:

    Wenn das eingegrabne Wort

    Allahs Namen rein verkündet,

    Dich zu Lieb’ und Tat entzündet.

    Und besonders werden Frauen

    Sich am Talisman erbauen.

    Amulette sind dergleichen

    Auf Papier geschriebne Zeichen;

    Doch man ist nicht im Gedränge

    Wie auf edlen Steines Enge,

    Und vergönnt ist frommen Seelen,

    Längre Verse hier zu wählen.

    Männer hängen die Papiere

    Gläubig um, als Skapuliere.

    Die Inschrift aber hat nichts hinter sich,

    Sie ist sie selbst und muß dir alles sagen,

    Was hinterdrein mit redlichem Behagen

    Du gerne sagst: Ich sag’ es! Ich!

    Doch Abraxas bring ich selten!

    Hier soll meist das Fratzenhafte,

    Das ein düstrer Wahnsinn schaffte,

    Für das Allerhöchste gelten.

    Sag ich euch absurde Dinge,

    Denkt, daß ich Abraxas bringe.

    Ein Siegelring ist schwer zu zeichnen,

    Den höchsten Sinn im engsten Raum;

    Doch weißt du hier ein Echtes anzueignen,

    Gegraben steht das Wort, du denkst es kaum.

    Porta-sortes

    Talismã em cornalina

    traz ao crente sorte à sina;

    quando em ônix lavrado,

    dá-lhe um beijo consagrado!

    Ele afasta todo mal,

    cobre a ti e ao teu local:

    se, encravada como tal,

    a palavra amar a Alá,

    e ao amor te incitar.

    E as mulheres, sobretudo,

    tiram dele seu estudo.

    Amuletos são tais quais;

    mas são de papel: sinais,

    sem limite de tamanho —

    que na pedra é tacanho —,

    e as almas pias colhem

    versos longos quantos podem.

    Tais papéis-penduricalhos

    São pro crente escapulários.

    Mas nada atrás da inscrição se escondeu,

    pois se sustenta por si e diz tudo,

    ao que tu, em afã honesto e puro,

    diz com gosto: Eu digo! Eu!

    Só que o abraxas eu evito!

    Aqui cria o grotesco

    a loucura pelo avesso,

    e se sagra no infinito.

    Se eu falar muita besteira,

    trago abraxas na algibeira.

    Já um sinete é complicado:

    em pouco espaço muito é dito.

    Se tu entendes bem o que é honrado,

    após gravado, mal pensas no escrito.

    Freisinn

    Laßt mich nur auf meinem Sattel gelten!

    Bleibt in euren Hütten, euren Zelten!

    Und ich reite froh in alle Ferne,

    Über meiner Mütze nur die Sterne.

    Er hat euch die Gestirne gesetzt

    Als Leiter zu Land und See,

    Damit ihr euch daran ergetzt,

    Stets blickend in die Höh.

    Livre-senso

    Me deixe estar sobre a minha sela!

    Fiquem nas suas tendas, suas celas!

    E eu vou trotar ao longe, ao léu,

    apenas estrelas sobre o chapéu.

    Ele pôs constelações,

    como guia em terra e mares,

    para que, em exultações,

    vocês ergam seus olhares.

    Talismane

    Gottes ist der Orient!

    Gottes ist der Okzident!

    Nord- und südliches Gelände

    Ruht im Frieden seiner Hände.

    Er, der einzige Gerechte,

    Will für jedermann das Rechte.

    Sei, von seinen hundert Namen,

    Dieser hochgelobet! Amen.

    Mich verwirren will das Irren;

    Doch du weißt mich zu entwirren.

    Wenn ich handle, wenn ich dichte,

    Gieb du meinem Weg die Richte.

    Ob ich Ird’sches denk und sinne,

    Das gereicht zu höherem Gewinne.

    Mit dem Staube nicht der Geist zerstoben,

    Dringet, in sich selbst gedrängt, nach oben.

    Im Atemholen sind zweierlei Gnaden:

    Die Luft einziehen, sich ihrer entladen;

    Jenes bedrängt, dieses erfrischt;

    So wunderbar ist das Leben gemischt.

    Du danke Gott, wenn er dich preßt,

    Und dank’ ihm, wenn er dich wieder entläßt.

    Talismãs

    É de Deus o Oriente,

    é de Deus o Ocidente!

    Norte ou sul, todo torrão

    jaz na paz da Sua mão.

    Ele, o único que é Justo,

    quer a todos só o justo.

    De seus nomes, muitos, cem,

    que louvemos este! Amém.

    O errado me confunde,

    mas só tu me desconfundes.

    Quando ajo ou poeto,

    tu me dás caminho reto.

    Quando penso no mundano,

    realizo um alto plano.

    A mente não dispersa pelo pó

    se ergue à escuta por si só.

    Existem duas graças no respirar:

    sorver o ar, dele se liberar.

    Um refresca, o outro oprime:

    a vida é assim, mista e sublime.

    Graça a Deus, se ele te aperta;

    dá graça a Ele se te liberta.

    Vier Gnaden

    Daß Araber an ihrem Teil

    Die Weite froh durchziehen,

    Hat Allah zu gemeinem Heil

    Der Gnaden vier verliehen.

    Den Turban erst, der besser schmückt

    Als alle Kaiserkronen;

    Ein Zelt, das man vom Orte rückt,

    Um überall zu wohnen;

    Ein Schwert, das tüchtiger beschützt

    Als Fels und hohe Mauern;

    Ein Liedchen, das gefällt und nützt,

    Worauf die Mädchen lauern.

    Und Blumen sing’ ich ungestört

    Von ihrem Schal herunter,

    Sie weiß recht wohl, was ihr gehört,

    Und bleibt mir hold und munter.

    Und Blum’ und Früchte weiß ich euch

    Gar zierlich aufzutischen,

    Wollt ihr Moralien zugleich,

    So geb’ ich von den frischen.

    Quatro graças

    Aos árabes, de sua parte,

    pra singrar a amplitude,

    Alá por bem comum reparte

    quatro graças em virtude.

    Primeiro o turbante: graça tal

    nem mesmo os reis têm tanto.

    A tenda se ergue do local

    pra morar em qualquer canto.

    A espada, muito mais valente

    que pedras e amurada.

    A canção, que à moça atente

    dá saber e lhe agrada.

    E canto flores sem pudor

    das que caem do xale dela;

    ela bem sabe o seu valor,

    tão doce e assim tão bela.

    E flor e fruta sei servir

    a vocês, mui graciosas;

    se morais querem ouvir,

    dou-lhes logo das viçosas.

    Geständniss

    Was ist schwer zu verbergen? Das Feuer!

    Denn bei Tage verrät’s der Rauch,

    Bei Nacht die Flamme, das Ungeheuer.

    Ferner ist schwer zu verbergen auch

    Die Liebe; noch so stille gehegt,

    Sie doch gar leicht aus den Augen schlägt.

    Am schwersten zu bergen ist ein Gedicht;

    Man stellt es untern Scheffel nicht.

    Hat es der Dichter frisch gesungen,

    So ist er ganz davon durchdrungen.

    Hat er es zierlich nett geschrieben,

    Will er, die ganze Welt soll’s lieben.

    Er liest es jedem froh und laut,

    Ob es uns quält, ob es erbaut.

    Confissão

    O que é ruim de esconder? O fogo!

    Se ao dia a fumaça o trai

    à noite a chama o monstro, o ogro.

    Difícil de esconder ainda mais,

    O amor: guardado em cura calma,

    pula ágil pra fora da alma.

    O pior mesmo é esconder um poema:

    pois cobri-lo dá o maior problema.

    Se o poeta o recém-cantou,

    de poesia se encharcou;

    se o poeta o escreveu com classe,

    quer que todo o mundo o abrace.

    A todos lê, alegre e forte.

    Azar de nós — ou será sorte?

    Elemente

    Aus wie vielen Elementen

    Soll ein echtes Lied sich nähren,

    Daß es Laien gern empfinden,

    Meister es mit Freuden hören?

    Liebe sei vor allen Dingen

    Unser Thema, wenn wir singen;

    Kann sie gar das Lied durchdringen,

    Wird’s um desto besser klingen.

    Dann muß Klang der Gläser tönen

    Und Rubin des Weins erglänzen:

    Denn für Liebende, für Trinker

    Winkt man mit den schönsten Kränzen.

    Waffenklang wird auch gefodert,

    Daß auch die Trommete schmettre;

    Daß, wenn Glück zu Flammen lodert,

    Sich im Sieg der Held vergöttre.

    Dann zuletzt ist unerläßlich,

    Daß der Dichter manches hasse;

    Was unleidlich ist und häßlich,

    Nicht wie Schönes leben lasse.

    Weiß der Sänger, dieser Viere

    Urgewalt’gen Stoff zu mischen,

    Hafis gleich wird er die Völker

    Ewig freuen und erfrischen.

    Elementos

    E de quantos elementos

    deve o canto se nutrir,

    para aos leigos sentimentos

    e aos mestres divertir?

    Sobretudo seja o amor

    tema de todo cantor.

    Tem o canto um esplendor,

    e vai soar muito melhor.

    Que as taças alto soem,

    brilhe o rubro vinho nelas:

    aos amantes e aos ébrios

    só se ofertem láureas belas.

    Soem armas! Já é hora.

    Que o trompete toe alto!

    Quando a sorte chama: agora!

    seja o herói um deus no alto.

    E por fim é indispensável

    que o poeta odeie tudo

    que há de feio e insuportável

    e o expulse deste mundo.

    Dome bem nosso cantor

    tal quarteto tão potente,

    vai cantar como Hafez,

    despertando a toda a gente.

    Erschaffen und beleben

    Hans Adam war ein Erdenkloß,

    Den Gott zum Menschen machte,

    Doch bracht er aus der Mutter Schoß

    Noch vieles Ungeschlachte.

    Die Elohim zur Nas’ hinein

    Den besten Geist ihm bliesen,

    Nun schien er schon was mehr zu sein,

    Denn er fing an zu niesen.

    Doch mit Gebein und Glied und Kopf

    Blieb er ein halber Klumpen,

    Bis endlich Noah für den Tropf

    Das Wahre fand, den Humpen.

    Der Klumpe fühlt sogleich den Schwung,

    Sobald er sich benetzet,

    So wie der Teig durch Säuerung

    Sich in Bewegung setzet.

    So, Hafis, mag dein holder Sang,

    Dein heiliges Exempel,

    Uns führen, bei der Gläser Klang,

    Zu unsres Schöpfers Tempel.

    Criado e animado

    Seu Adão, bolo de lama,

    Deus fez homem formoso;

    do ventre da mãe derrama

    seu aspecto horroroso.

    Elohim no seu nariz

    sopraram um bom espírito.

    Já se achou muito feliz

    e logo deu um espirro.

    Ossos, membros, cuca ao topo:

    nunca foi um bolo inteiro,

    até Noé achar o copo

    que pra gota é o verdadeiro.

    O bolo sente o momento

    tão logo se umedece,

    como a massa, com fermento,

    que se mexe e logo cresce.

    Hafez, que teu beato canto,

    teu santo exemplo,

    faça-nos ver, taças em pranto,

    do Criador o templo.

    Zwiespalt

    Wenn links an Baches Rand

    Cupido flötet,

    Im Felde rechter Hand

    Mavors drommetet,

    Da wird dorthin das Ohr

    Lieblich gezogen,

    Doch um des Liedes Flor

    Durch Lärm betrogen.

    Nun flötets immer voll

    Im Kriegesthunder,

    Ich werde rasend, toll,

    Ist das ein Wunder.

    Fort wächst der Flötenton,

    Schall der Posaunen.

    Ich irre, rase schon,

    Ist das zu staunen!

    Cisão

    Se à esquerda do regato

    Cupido canta à toa,

    e à destra em campo vasto

    Mavorte atroa,

    para lá o seu ouvido

    é docemente puxado,

    mas por ruído o florido

    da canção é perturbado.

    Já soa linda a flauta

    em meio a um traque.

    Se me agito, peralta:

    não é um milagre?

    E sobe o tom da flauta,

    trombeta que soa.

    Erro e saio da pauta:

    mas essa é boa!

    Phänomen

    Wenn zu der Regenwand

    Phöbus sich gattet,

    Gleich steht ein Bogenrand

    Farbig beschattet.

    Im Nebel gleichen Kreis

    Seh ich gezogen,

    Zwar ist der Bogen weiß,

    Doch Himmelsbogen.

    So sollst du, muntrer Greis,

    Dich nicht betrüben,

    Sind gleich die Haare weiß,

    Doch wirst du lieben.

    Aparição

    Se ao muro de chuva

    Febo está unido,

    surge a sombra recurva,

    em sombra colorida.

    Vejo um mesmo arco

    traçado no véu;

    branco é mesmo o arco,

    mas arco de céu.

    Tu, velho querido,

    não deves chorar;

    teu cabelo é embranquecido,

    mas tu vais amar.

    Liebliches

    Was doch Buntes dort verbindet

    Mir den Himmel mit der Höhe?

    Morgennebelung verblindet

    Mir des Blickes scharfe Sehe.

    Sind es Zelte des Wesires,

    Die er lieben Frauen baute?

    Sind es Teppiche des Festes,

    Weil er sich der Liebsten traute?

    Rot und weiß, gemischt, gesprenkelt,

    Wüßt ich schönres nicht zu schauen;

    Doch wie Hafis kommt dein Schiras

    Auf des Nordens trübe Gauen?

    Ja, es sind die bunten Mohne,

    Die sich nachbarlich erstrecken

    Und, dem Kriegesgott zum Hohne,

    Felder streifweis freundlich decken.

    Möge stets so der Gescheute

    Nutzend Blumenzierde pflegen

    Und ein Sonnenschein, wie heute,

    Klären sie auf meinen Wegen!

    Amável

    Onde a cor que me apega

    firmamento com a altura?

    Bruma matutina cega

    no meu olho a vista pura.

    São as tendas do vizir

    que ele fez a suas queridas?

    São tapetes desta festa

    porque se uniu à preferida?

    Rubro e branco, misturados,

    nada vi tão belo assim;

    pode o teu Xiraz, Hafez,

    vir ao norte triste, enfim?

    Sim, é o colorido ópio

    que se estende à vizinhança,

    e, causando em Marte opróbrio,

    cobre os campos com pujança.

    Que o sábio ainda cultive

    flores lindas de uma renda,

    e, como hoje, o sol se altive

    e as clareie em minha senda!

    Im gegenwärtigen Vergangnes

    Ros’ und Lilie morgentaulich

    Blüht im Garten meiner Nähe;

    Hinten an, bebuscht und traulich,

    Steigt der Felsen in die Höhe;

    Und mit hohem Wald umzogen

    Und mit Ritterschloß gekrönet,

    Lenkt sich hin des Gipfels Bogen,

    Bis er sich dem Tal versöhnet.

    Und da duftet’s wie vor alters,

    Da wir noch von Liebe litten

    Und die Saiten meines Psalters

    Mit dem Morgenstrahl sich stritten;

    Wo das Jagdlied aus den Büschen

    Fülle runden Tons enthauchte,

    Anzufeuern, zu erfrischen,

    Wie’s der Busen wollt’ und brauchte.

    Nun die Wälder ewig sprossen,

    So ermutigt euch mit diesen,

    Was ihr sonst für euch genossen.

    Läßt in andern sich genießen.

    Niemand wird uns dann beschreien,

    Daß wirs uns alleine gönnen;

    Nun in allen Lebensreihen

    Müsset ihr genießen können.

    Und mit diesem Lied und Wendung

    Sind wir wieder bei Hafisen,

    Denn es ziemt des Tags Vollendung

    Mit Genießern zu genießen.

    Passado no presente

    Rosa e lírio, orvalhados,

    o jardim vizinho enfeitam;

    escondidos, confiados

    os rochedos se alteiam.

    E com alta mata em volta

    e um castelo lá em cima,

    o arco no topo se solta,

    e com o vale se combina.

    Aí recende a tempos velhos,

    quando amores nos doíam,

    e as cordas dos saltérios

    enfrentar o sol sabiam.

    Sopra o hino da caçada

    tons redondos do arbusto

    pra aguilhada remoçada,

    como quer e pede o busto.

    A floresta sempre cresceu:

    conformem-se com isso.

    O que sempre lhes apeteceu

    agrada agora com novo viço.

    Ninguém vai nos reprovar

    que sozinhos desfrutemos,

    todos devem desfrutar

    tudo aquilo que vivemos.

    Com este canto e esta guinada

    a Hafez retornaremos,

    pois pro bem desta jornada

    com cultores cultuaremos.

    Lied und Gebilde

    Mag der Grieche seinen Ton

    Zu Gestalten drücken,

    An der eignen Hände Sohn

    Steigern sein Entzücken;

    Aber uns ist wonnereich.

    In den Euphrat greifen

    Und im flüßgen Element

    Hin und wider schweifen.

    Löscht ich so der Seele Brand,

    Lied es wird erschallen;

    Schöpft des Dichters reine Hand,

    Wasser wird sich ballen.

    Poesia e forma

    Pode o argivo com sua argila

    formas espremer,

    sua própria mão destila

    o que eleva o seu prazer;

    mas nos é auspicioso

    o Eufrates adentrar,

    e no líquido elemento

    passear pra lá e pra cá.

    Quando a chama da alma esfria,

    canção que se alteia;

    pura mão do poeta cria,

    água se boleia.

    Dreistigkeit

    Worauf kommt es überall an.

    Daß der Mensch gesundet?

    Jeder höret gern den Schall an,

    Der zum Ton sich rundet.

    Alles weg! was deinen Lauf stört!

    Nur kein düster Streben!

    Eh er singt und eh er aufhört

    Muß der Dichter leben.

    Und so mag des Lebens Erzklang

    Durch die Seele dröhnen!

    Fühlt der Dichter sich das Herz bang,

    Wird sich selbst versöhnen.

    Atrevimento

    Donde vem que em todo lado

    O Homem a si se cura?

    Todos ouçam de bom grado

    O som que em tom se apura.

    Manda embora o que te estrova!

    Só evita o mau querer!

    Seja quieto, seja em trova,

    O poeta há de viver.

    Que da vida o tom primário

    Vibre nesta alma!

    Mal sente o mau presságio,

    e o peito se acalma.

    Derb und tüchtig

    Dichten ist ein Übermut,

    Niemand schelte mich!

    Habt getrost ein warmes Blut,

    Froh und frei wie ich.

    Sollte jeder Stunde Pein

    Bitter schmecken mir,

    Würd’ ich auch bescheiden sein,

    Und noch mehr als ihr.

    Denn Bescheidenheit ist fein,

    Wenn das Mädchen blüht,

    Sie will zart geworben sein

    Die den Rohen flieht.

    Auch ist gut Bescheidenheit,

    Spricht ein weiser Mann,

    Der von Zeit und Ewigkeit

    Mich belehren kann.

    Dichten ist ein Übermut!

    Treib’ es gern allein.

    Freund und Frauen, frisch von Blut,

    Kommt nur auch herein!

    Mönchlein ohne Kapp’ und Kutt’

    Schwatz nicht auf mich ein!

    Zwar du machest mich kaputt,

    Nicht bescheiden! Nein.

    Deiner Phrasen leeres Was

    Treibet mich davon,

    Abgeschliffen hab ich das

    An den Sohlen schon.

    Wenn des Dichters Mühle geht,

    Halte sie nicht ein:

    Denn wer einmal uns versteht

    Wird uns auch verzeihn.

    Curto e grosso

    Poesia é petulância,

    ninguém me reprima!

    Sangue quente e confiança

    leva todos para cima.

    Se a dor de toda hora

    amarga me souber,

    eu seria modesto, ora,

    e maior do que eu puder.

    Pois o bom é ser contido

    quando a moça enflora,

    ela quer um bom partido:

    que o bruto vá embora.

    Modéstia é bom também,

    diz um homem sábio,

    que do tempo e do além

    faz-me muito hábil.

    Poesia é petulância!

    Faço bem sozinho.

    Amigo, amada, sangue e ânsia,

    entrem, rapidinho!

    Monge sem manto e capuz,

    não me amoles, não!

    Por ti cansado me pus,

    mas modesto? Não!

    Do vazio das tuas frases

    fujo apressado,

    já gastei as tuas crases

    bem no meu solado.

    Gira o poeta a sua moenda,

    nunca vai parar.

    Pois quem quer que nos entenda

    vai nos perdoar.

    Alleben

    Staub ist eins der Elemente,

    Das du gar geschickt bezwingest,

    Hafis, wenn zu Liebchens Ehren

    Du ein zierlich Liedchen singest.

    Denn der Staub auf ihrer Schwelle

    Ist dem Teppich vorzuziehen,

    Dessen goldgewirkte Blumen

    Mahmuds Günstlinge beknieen.

    Treibt der Wind von ihrer Pforte

    Wolken Staubs behend vorüber,

    Mehr als Moschus sind die Düfte

    Und als Rosenöl dir lieber.

    Staub, den hab ich längst entbehret

    In dem stets umhüllten Norden,

    Aber in dem heißen Süden

    Ist er mir genugsam worden.

    Doch schon längst daß liebe Pforten

    Mir auf ihren Angeln schwiegen!

    Heile mich, Gewitterregen,

    Laß mich daß es grunelt riechen!

    Wenn jetzt alle Donner rollen

    Und der ganze Himmel leuchtet,

    Wird der wilde Staub des Windes

    Nach dem Boden hingefeuchtet.

    Und sogleich entspringt ein Leben,

    Schwillt ein heilig heimlich Wirken,

    Und es grunelt und es grünet

    In den irdischen Bezirken.

    Toda-vida

    Pó é um dos elementos

    que tu moves muito hábil,

    ó Hafez, quando em honra do amado

    lindo canto sai-te ao lábio.

    Pois no umbral da casa dela

    o pó afasta até o tapete,

    em cujas flores tão douradas

    curvam os bons de Mahamede.

    Leva o vento do portão

    pó em nuvens graciosas,

    mais que almíscar o preferes,

    inda mais que óleo de rosas.

    Pó: suportei-o há muito tempo

    lá no norte, sempre oculto,

    mas foi só no quente sul

    que cresceu pra mim seu vulto.

    Mas há tempo a dobradiça

    dos portões vem me embalando!

    Que me salve a tempestade,

    que eu cheire o verdejando!

    Quando o céu se ilumina

    com muito raio e trovão

    o agreste pó dos ventos

    é regado até o chão.

    E assim surge uma vida,

    poder sobe, oculto e santo,

    e viceja, verdejante,

    esta terra em todo canto.

    Selige Sehnsucht

    Sagt es niemand, nur den Weisen,

    Weil die Menge gleich verhöhnet,

    Das Lebend’ge will ich preisen,

    Das nach Flammentod sich sehnet.

    In der Liebesnächte Kühlung,

    Die dich zeugte, wo du zeugtest,

    Überfällt dich fremde Fühlung

    Wenn die stille Kerze leuchtet.

    Nicht mehr bleibest du umfangen

    In der Finsternis Beschattung,

    Und dich reißet neu Verlangen

    Auf zu höherer Begattung.

    Keine Ferne macht dich schwierig,

    Kommst geflogen und gebannt,

    Und zuletzt, des Lichts begierig,

    Bist du Schmetterling verbrannt.

    Und solang du das nicht hast,

    Dieses: Stirb und werde!

    Bist du nur ein trüber Gast

    Auf der dunklen Erde.

    Tut ein Schilf sich doch hervor,

    Welten zu versüßen!

    Möge meinem Schreibe-Rohr

    Liebliches entfließen!

    Anelo abençoado

    Conta só a quem é sábio,

    pois a plebe zomba logo:

    louvarei o vivo, lábil,

    que deseja o fim no fogo.

    Na fresca noite de amor,

    que te gerou e onde geraste,

    cai-te estranho dissabor

    quando, calma, a vela gaste.

    Nunca mais quedas envolto

    pela sombra desta treva;

    há um anseio em ti, revolto,

    por um coito que se enleva.

    Não te impedem as distâncias,

    vens voando e encantada;

    pela luz tens muitas ânsias.

    Mariposa: és chamuscada.

    Se isto não te habita,

    isto: morre e te transforma!

    Não passas de visita

    Na terra sem forma.

    Como o caldo vem da

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1