Encontrar sentido na vida: Propostas filosóficas
De Renold Blank
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Encontrar sentido na vida - Renold Blank
Propostas das quais algumas, talvez, serão aceitas
Nos capítulos a seguir, o leitor é convidado a começar uma caminhada. Nela dará os primeiros passos em busca de respostas a uma das indagações mais fascinantes, mas também mais incômodas da condição humana:
⇒ Qual é o sentido da vida?
⇒ Será que o ser humano é o resultado de acasos, ou será que atrás dos acasos se esconde um último sentido?
⇒ Qual o caminho para achar sentido, diante das contradições insolúveis da existência?
⇒ Como achar o próprio sentido diante da aparente absurdidade da morte?
A partir dessas indagações, o texto convida a descobrir algumas das tentativas da Filosofia para resolver o enigma da condição humana, escondido atrás dessas questões.
Enigma de um mundo no qual o homem pode se perder.
Enigma da pessoa que busca felicidade, e cujas aspirações, constantemente, são ameaçadas por um destino incompreensível.
Enigma do ser humano, que, apesar das imposições desse destino, quer controlar os fatos, construir a sua vida e alcançar a felicidade.
É na tensão entre essa aspiração e os fatos reais que se desenvolve a vida. E é em cima dessa tensão que a reflexão filosófica começa a buscar caminhos para possíveis respostas.
Algumas delas, o presente livro quer apresentar. Elas, em nada, são receitas prontas. Elas, muito mais, devem ser compreendidas como impulsos para as próprias reflexões e para as subseqüentes indagações que surgem como conseqüência de toda reflexão filosófica.
Neste sentido, o autor tem a esperança de que, depois da leitura deste livro, os seus leitores possam dizer do texto o mesmo que o grande poeta Berthold Brecht pediu que se falasse dele:
"Ele formulou propostas;
e algumas delas, nós aceitamos".
Assim, nós dois ficaríamos honrados.
CONTINUAR A PENSAR
1. Elabore uma descrição daquilo que aqui está sendo chamado a tensão entre as aspirações humanas
e os fatos reais da vida.
2. Por que o presente livro quer apresentar propostas
e não soluções?
3. Qual é a diferença entre apresentar propostas
e apresentar soluções
?
4. Em que sentido propostas podem contribuir mais para a solução de problemas do que respostas prontas?
Enigma e mistério da pessoa humana
Imagine que fosse possível conversar com o famoso filósofo Aristóteles, do século 4 a.C. Você o questionaria sobre o que é o homem e qual é o sentido da sua vida.
Aristóteles, provavelmente, teria estranhado muito esse interesse específico. Para a época do grande filósofo da Antiguidade, o mundo se apresentava como sistema fechado de coisas, e o homem existia como uma entre outras dessas coisas. Dentro desse mundo de objetos, cada indivíduo tinha o seu lugar; e este era seu sentido: ocupar o seu lugar já respondia à indagação pelo sentido.
01_aristoteles.jpgO homem era visto como elemento dentro de um cosmo fechado. Elemento importante, é verdade; elemento especial, talvez, mas não deixava de ser um elemento. Era esse ser um elemento dentro de um todo que garantia o sentido de sua existência.
Tal segurança, porém, desapareceu à medida que, mais tarde, um movimento chamado gnose começou a questionar esse modo de ver o homem e o mundo. Depois da gnose, o cosmo não mais se apresentava como sistema de um mundo equilibrado em si. A cosmovisão (ou seja, o modo de ver o mundo) da gnose é dualista. Ela compreende o cosmo a partir de princípios opostos que se mantêm numa tensão insuperável:
O reino da luz se choca com o reino das trevas.
O bem se encontra numa luta constante contra o mal.
O próprio homem se apresenta como campo de batalha entre dois princípios: o espiritual e o material; a alma e o corpo.
Nessa visão conflitiva, se perde a segurança equilibrada da filosofia aristotélica.
O homem perde o seu lugar no mundo. Ele se torna enigma e problema para si mesmo.
Essa problematização se mantém por muitos séculos.
O grande filósofo Agostinho, do século 4. d.C., finalmente combate a cosmovisão gnóstica. Mas também ele compreende o ser humano como incapaz de entender por si mesmo a ordem do cosmo. Só com a graça divina o ser humano poderia compreender o cosmo.
Por isso, para Agostinho, o ser humano só pode buscar responder à pergunta pelo sentido com a ajuda da fé. É só na luz dela que o enigma humano pode ser compreendido. Visto por si mesmo, este permanece um grande e profundo mistério
, diante do qual, Agostinho mantém uma atitude de surpresa e de espanto:
quid ergo sum, Deus meus, quae natura mea?
o que eu sou, meu Deus; qual é a minha natureza?
Com Agostinho, a reflexão filosófica descobre o ser humano como problema. Tal perspectiva problemática permanece até a elaboração dos grandes sistemas filosófico-teológicos da Idade Média. É só neles que se consegue ver o ser humano outra vez assim, como ele aparece no pensamento de Aristóteles: um ser situado dentro de um universo definido e marcado pelas convicções da religião cristã. Assim, se alcança um certo equilíbrio entre o ser humano e o mundo.
02_agostinho.jpgSanto Agostinho,
painel de Michael Pacher (1430-1498),
Munique, Alte Pinakothek.
Mas tal equilíbrio logo se quebra novamente, e a pergunta por aquilo que é o ser humano volta com muita força a partir das turbulências da Renascença (século 16).
A partir dela, a questão antropológica continua sendo problemática. Ela permanece assim até hoje. Toda a Filosofia do século 20 se apresenta predominada por ela. E as reflexões do século 21, com a ajuda das assim chamadas neurociências, e de muitas outras disciplinas, continuam a questionar o ser humano a partir de enfoques novos. Quem é esse SER HUMANO? Ele se apresenta enraizado num mundo material, social e histórico, mas a interação entre esse mundo e a