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Pesquisa em educação: Olhares múltiplos
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E-book354 páginas3 horas

Pesquisa em educação: Olhares múltiplos

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Sobre este e-book

Traçar um panorama conciso e atualizado acerca das pesquisas que vêm sendo desenvolvidas na área de Educação em seus múltiplos olhares, enfoques epistemológicos e contextos, na época atual, é um dos objetivos deste livro, que em dois eixos – Educação, Linguagens e Culturas e Educação e Práticas Docentes – abriga trabalhos relacionados às diferentes possibilidades de atuação de pesquisadores dentro do campo da educação e do ensino. A obra é voltada para investigadores iniciantes, bem como para aqueles que já desempenham atividades de pesquisa em suas instâncias profissionais e acadêmicas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de ago. de 2016
ISBN9788546200740
Pesquisa em educação: Olhares múltiplos

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    Pesquisa em educação - Raphael Alves Feitosa

    (UFC)

    EIXO 1: Educação, Linguagem e Cultura

    Capítulo 1: Governo e educação em tempos de "valores perdidos¹"

    Marlécio Maknamara

    Marlucy Alves Paraíso

    1. Entrando no salão do forró eletrônico

    Forró eletrônico. Uma trilha sonora adequada para trocar umbigadas (A vez..., 1998). Que forró seria esse? O que está mais na moda atualmente (Titular..., 2005). Um subgênero musical, uma fuleiragem music (Ruim..., 2008). Um fenômeno de popularidade (O que..., 2009). E seu ritmo? Um ritmo safado (Ritmo..., 1998). Ritmo sensual e espasmódico (The..., 2006). Faz as pessoas dançarem como se estivessem numa rave (Forró..., 2004). Que dizer de suas bandas? Seus nomes remeteriam ao anárquico do anárquico (Quando..., 2002). Seriam bandas que exploram um duplo sentido pornográfico e vulgar (O Trio..., 2008). Como são suas músicas, letras e danças? Elas cantam uma linguagem bem acessível (Forró..., 2005) e são para pular até o fim da festa (Chupa..., 2008). Seriam músicas de gosto duvidoso (Festejos..., 2005). Tratar-se-ia da música dos valores perdidos (A música..., 2008). Essa turma avilta as mulheres e a dignidade humana (Um negócio..., 2008). Um desrespeito à memória de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro... (Para..., 2008).

    O texto aqui em tela incide sobre um estilo de forró que emergiu no cenário da música nacional em meados da década de 1990 e que, atualmente, é responsável por grande parte do sucesso deste gênero musical que desponta como o preferido de um quarto da juventude brasileira. Enquanto bandas de forró eletrônico patrocinam times de futebol em estados nordestinos, escolas de dança e academias tiram proveito das criações de suas músicas. Tais músicas já fazem sucesso não apenas em todo o Brasil, mas também no exterior, sendo que a movimentação em torno delas gera milhares de postos de trabalho. Em contrapartida, intérpretes desse estilo participam de espetáculos cênicos, de ensaios de moda, emplacam hits em festas tradicionais, arrancam elogios de autoridades de outros gêneros musicais e são ídolos de outros ídolos nacionais (Maknamara; Paraíso, 2011).

    Além de o forró eletrônico transitar entre todos esses espaços sociais, ele também está nas escolas brasileiras. Afinal, por um lado, diferentes políticas curriculares (Brasil, 2008, 1997) têm prescrito o trabalho com música como linguagem artística e, por outro lado, a música se faz presente como recurso didático, como tema de estudo ou como simples atividade recreativa em diversos componentes e práticas dos currículos escolares (Campos, 2004; Loureiro, 2003a, 2003b; Garbin, 1999; Nogueira, 1998). O forró eletrônico está presente em escolas também porque, como mostra Loureiro (2003a, p. 13), é comum ouvir música na entrada e na saída do período escolar, no recreio e ainda, de forma bastante acentuada, nos momentos de festividades.

    Logo, não é difícil constatar a presença do forró eletrônico na vida estudantil de muitos/as brasileiros e brasileiras. Acessando o site do YouTube, por exemplo, é possível encontrar diferentes vídeos retratando o forró na escola. Neles, há meninas fazendo apresentação de um grupo de forró denominado As taradinhas (cujas músicas e coreografia, de autoria delas mesmas, são apresentadas em uma festa de despedida na escola) (As taradinhas..., 2008); meninos adaptam ao forró uma música de pop-rock (Forró..., 2008); jovens se amontoam no pátio de uma escola pública paulistana para ver uma apresentação ao ritmo do forró eletrônico e, em meio a danças e gritos frenéticos, cantam em uníssono: na sua boca eu viro fruta/chupa que é de uva... (Forró..., 2008).

    Em atenção a toda essa febre musical que se faz presente dentro e fora da escola, a seguir explicita-se a noção foucaultiana de governo visando a enfatizar o quanto o forró eletrônico pode interessar à educação pelas suas estratégias na condução de condutas e produção de subjetividades. O objetivo, portanto, é discutir o conceito de governo para potencializar conexões entre o forró eletrônico e o campo educacional. Metodologicamente, para a consecução deste ensaio, recorreu-se a obras de Michel Foucault e de seus comentadores que tratam da referida temática e de conceitos a ela correlatos, no sentido de aproximar tal discussão conceitual ao campo da educação por meio do forró eletrônico. O resultado desta empreitada está apresentado neste capítulo, o qual se divide em três partes seguintes a esta introdução: em Ocupando posições ao ritmo do governo, apresenta-se brevemente a noção foucaultiana de governo a partir da qual o forró eletrônico é significado como envolvido na produção de subjetividades. Na seção Finalizando a dança conclui-se o texto destacando possíveis justificativas para que tal estilo musical venha a ser tomado como objeto também do campo educacional. Por fim, em Referências são apresentados os textos utilizados no estudo aqui em tela.

    2. Ocupando posições ao ritmo do governo

    Compreender as problematizações foucaultianas acerca do termo governo requer, antes, um olhar mais atento à própria noção de poder na obra de Michel Foucault. Este filósofo francês não problematiza o poder em termos da aparelhagem do Estado ou em termos jurídicos (como uma questão de soberania ou de constituição). O que interessa a Foucault (2007a, p. 6) é questionar o poder em termos de como ele se exerce concretamente e em detalhe, com sua especificidade, suas técnicas e suas táticas. Para esse tipo de questionamento é necessário pensar o poder em termos de relações de força, pois o que dá condições ao seu exercício é o suporte móvel das correlações de força que, devido a sua desigualdade, induzem continuamente estados de poder (Idem, 2001, p. 89). Tais estados de poder não são rígidos, estáveis e localizáveis em um ponto, mas difusos, uma vez que o poder constitui uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social (Idem, 2007a, p. 8).

    Fluidez, mobilidade, capilaridade e produtividade são, portanto, aspectos fundamentais do poder na acepção foucaultiana e particularmente importantes à problematização aqui proposta. No entanto, há outra dimensão intimamente associada ao poder e que interessa aos propósitos de tal problematização: o saber. É nesse sentido que Paraíso (2007, p. 55) destaca o fato de sempre ter havido, nas produções de Foucault, uma preocupação com o binômio poder-saber. Isso porque, segundo Foucault (2003), em todo processo de conhecimento e produção de saberes há uma relação de hostilidade, dominação e poder com relação ao objeto em questão. Assim, o saber é um conhecimento oriundo daquilo que o poder olha com seus próprios olhos, daquilo que é próprio ao poder em se exercitar com uns de um lado e outros do outro (Foucault, 2007b, p. 75). Valendo-se das afirmações foucaultianas acerca do poder-saber, Silva (2002, p. 120) ressalta que não existe poder que não se valha do saber, principalmente de um saber que se expressa como conhecimento das populações e dos indivíduos submetidos ao poder. Em decorrência de tais articulações entre poder e saber, Foucault (2003, p. 8) afirma que

    as práticas sociais podem chegar a engendrar domínios de saber que não somente fazem aparecer novos objetos, novos conceitos, novas técnicas, mas também fazem nascer formas totalmente novas de sujeitos.

    A produtividade das articulações entre saber e poder no sentido da constituição de diferentes tipos de sujeitos pode ser vislumbrada por meio da noção foucaultiana de discurso. Em outras palavras, é preciso lembrar que é justamente no discurso que vêm a se articular poder e saber (Foucault, 2001, p. 95). Ao entender que diferentes formas de discursos veiculam formas de sujeição e esquemas de conhecimentos (ibidem, p. 94), Foucault (2003, p. 140) ressalta que a prática do discurso não é dissociável do exercício do poder. Para o filósofo francês, por mais que o discurso seja aparentemente bem pouca coisa, ele está sempre ligado ao desejo e ao poder, sendo aquilo pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar (Idem, 1996, p. 10). Essa vontade de poder presente nos discursos, por sua vez, consiste em uma vontade de verdade². Por verdade Foucault (2007a, p. 13) quer designar o conjunto das regras segundo as quais se distingue o verdadeiro do falso e se atribui ao verdadeiro efeitos específicos de poder. É a partir da ligação indissociável entre discurso e poder-saber que estabelecemos discursos e discutimos, não para chegar à verdade, mas para vencê-la (Idem, 2003, p. 140).

    Por conseguinte, a verdade deve ser entendida como um efeito da articulação poder-saber no discurso (Paraíso, 2007). Como efeito desse tipo de articulação discursiva, a verdade termina por instituir o sujeito. A respeito das conexões entre verdade e produção de sujeitos, Rose (1998, p. 34) explicita suas preocupações acerca das

    novas formas de dizer coisas plausíveis sobre outros seres humanos e sobre nós mesmos, o novo licenciamento daqueles que podem falar a verdade e daqueles que estão sujeitos a ela, as novas formas de pensar o que pode ser feito a eles e a nós.

    Isso porque as verdades que são ditas sobre indivíduos, os saberes que por ela são instituídos e as divisões que ela suscita produzem sujeitos, pois todas as práticas pelas quais o sujeito é definido e transformado são acompanhadas pela formação de certos tipos de conhecimento (Foucault, 1993, p. 205). É nesse sentido que sujeito, para Foucault (1995, p. 235), comporta dois significados: sujeito a alguém pelo controle e dependência, e preso à sua própria identidade por uma consciência ou autoconhecimento. Em ambas as acepções, o que está em jogo é o exercício do poder no sentido de regular a conduta de um indivíduo, seja pelos outros, seja por si mesmo.

    Na teorização de Michel Foucault a respeito do poder, quando se passa a discutir a problemática da regulação das condutas coloca-se em evidência a temática do governo. Governo ganha destaque na obra foucaultiana impulsionado pelas investigações acerca da população como objeto de poder-saber, através da análise de alguns dispositivos de segurança (Idem, 2007c, p. 277). Tais dispositivos, repletos de conselhos e prescrições, emergem como arte de governar especialmente a partir do século XVI, com o advento da formação dos Estados Nacionais e dos movimentos religiosos da Reforma e Contra-Reforma. Assim, simultaneamente a um movimento de concentração estatal e outro de dispersão e dissidência religiosa, impõe-se o problema de como ser governado, por quem, até que ponto, com qual objetivo, com que método etc. (Ibidem, p. 278).

    O problema do governo, tal como emergiu no período histórico supracitado, diz respeito tanto às preocupações com a sobrevivência política estatal quanto com o direcionamento espiritual dos indivíduos. É dessa forma que governo deve ser entendido no sentido de técnicas e procedimentos destinados a dirigir a conduta (Idem, 1997a, p. 101). A perspectiva foucaultiana do governo, portanto, coloca em evidência as múltiplas estratégias que podem ser mobilizadas quando se trata de conduzir condutas, dos outros e de si mesmo. Nesse sentido, é possível falar de governo dos outros e de autogoverno, exercidos respectivamente por técnicas de dominação e técnicas de si. As técnicas de dominação dizem respeito a práticas institucionalizadas de objetivação de uns sobre outros e supõem uma certa forma de racionalidade que não cessa de perseguir sua obra e reveste formas específicas (Idem, 2006, p. 385), tal como ocorre com a disciplina, por exemplo (Foucault, 1993). Já as técnicas de si, também denominadas tecnologias do eu, correspondem às formas pelas quais os indivíduos vivenciam, compreendem, julgam e conduzem a si mesmos (Rose, 2001a, p. 41) de modo a transformarem-se a eles próprios, a modificarem-se, ou a agirem num certo estado de perfeição, de felicidade, de pureza, de poder sobrenatural (Foucault, 1993, p. 207).

    As técnicas de dominação e as técnicas de si devem ser entendidas, portanto, como os meios ou os instrumentos por meio dos quais o governo é acoplado e os indivíduos são subjetivados tornando-se sujeitos de determinados tipos (Paraíso, 2006, p. 4). Dito de outra forma, as múltiplas subjetividades que emergem dos processos de subjetivação são correlatas a estratégias de governo, articuladas em torno de técnicas de dominação e de técnicas de si. Tais técnicas são aqui definidas como os procedimentos e os exercícios que usamos sobre nós mesmos e que outros usam sobre nós nos processos de subjetivação (Idem, 2007, p. 57). Toda essa teorização em torno de técnicas e tecnologias³ de governo reflete uma atenção à orientação dada por Foucault (1997b, p. 71) ao afirmar que, no intuito de analisarmos proficuamente as relações de poder, é preciso procurar saber como as relações de sujeição podem fabricar sujeitos. Nesse sentido, governar-se, para Foucault (1995, p. 244), é estruturar o eventual campo de ação dos outros, o governo consiste em uma forma de poder que marca o indivíduo em sua conduta, tornando-o sujeito.

    Técnicas de dominação e as técnicas de si fazem parte, assim, do irremediável envolvimento do governo em processos de subjetivação. Segundo Foucault (1993), por meio da interação entre esses dois tipos de técnicas é possível analisar como são produzidas subjetividades. Isso porque a combinação de tais técnicas permite identificar a existência de tecnologias de subjetivação, como

    maquinações, as operações pelas quais somos reunidos, em uma montagem, com instrumentos intelectuais e práticos, componentes, entidades e aparatos particulares, produzindo certas formas de ser-humano (Rose, 2001b, p. 176).

    Assim, a subjetivação consiste em um processo que se dá mediante uma composição e

    recomposição de forças, práticas e relações que tentam transformar — ou operam para transformar — o ser humano em variadas formas de sujeito, em seres capazes de tomar a si próprios como os sujeitos de suas próprias práticas e das práticas de outros sobre eles. (Ibidem, p. 143)

    Os processos de subjetivação convocam indivíduos a assumir determinadas posições e a tornarem-se sujeitos de determinado tipo. Por conseguinte, a subjetividade não deve ser vista como dado primordial ou capacidade latente, uma vez que é preciso analisá-la em seu caráter de permanente produção, em termos daquilo que os humanos são capacitados a fazer por meio das formas pelas quais eles são maquinados ou compostos (Ibidem, p. 166). Compreender a subjetividade como uma produção, segundo Paraíso (2006, p. 4), implica em entender que somos montados por práticas heterogêneas, que somos produzidos de formas muito particulares e específicas. Trata-se de entender que somos constituídos/as pelos diferentes textos a que temos contato, pelas diferentes experiências que vivenciamos. Portanto, atentar às diversificadas subjetividades que têm sido (ou podem ser) produzidas requer, tal como procedido por Foucault (2001) em suas análises acerca da sexualidade, focalizar a produção exuberante dos discursos e nela ver investimentos de poder através de procedimentos discursivos.

    Dessa maneira, a subjetividade passa a ser vista como constituída por diferentes práticas discursivas às quais os indivíduos se submetem ou estão submetidos. Nessa constituição, os indivíduos ocupam posições específicas de sujeito disponíveis em diferentes discursos (Paraíso, 2007). Tais discursos, dentre várias práticas, localizam os seres humanos em regimes de pessoa⁴ (Rose, 2001a, p. 36), concorrendo para sua subjetivação. É nesse sentido que, como interiorização do lado de fora (Deleuze, 2006), a subjetividade passa a ser vista como dobra. Pensar os processos de subjetivação como dobras, para Domènech, Tirado & Gómez (2001, p. 129), implica em despojar o Sujeito de toda identidade (essencialista) e de toda interioridade (absoluta). Em tais processos de dobramento, a interioridade não é vista como uma essência ou um verdadeiro lado de dentro, mas em termos de uma superfície descontínua, de uma espécie de dobramento, para dentro, da exterioridade (Rose, 2001a, p. 49). A ideia da subjetividade como dobra ilustra como incorporamos as marcas de uma cultura: a dobra somos nós, pondo dentro de nós a exterioridade, agora interioridade (Santos, 1997, p. 85). Pela imagem da dobra vê-se que o lado de dentro, o subjetivo, é, ele próprio, não mais que um momento, ou uma série de momentos, por meio do qual uma ‘profundidade’ foi construída no ser humano (Rose, 2001b, p. 179).

    Portanto, as subjetividades aqui em questão são aquelas resultantes de dobras dos discursos das músicas de forró eletrônico. Analisar a produção de subjetividades por meio das dobras de tais discursos não consiste na demarcação dos limites de um eu enclausurado e interior (Domènech, et al., 2001, p. 122), mas requer pensar a subjetivação em termos da:

    relação entre as tecnologias para o governo da conduta e as técnicas intelectuais, corporais e éticas que estruturam a relação do ser consigo mesmo, em diferentes momentos e locais. (Rose, 2001a, p. 53)

    Assim, se:

    as novas linguagens empregadas na construção, compreensão e avaliação de nós mesmos e dos outros têm transformado as formas pelas quais interagimos com nossos chefes, empregadores, colegas de trabalho, maridos, esposas, amantes, mães, pais, filhos/as e amigos/as. (Idem, 1998, p. 33)

    Cabe analisar como o forró eletrônico se conecta a esse regime de produção de subjetividades, incluindo a constituição dos sujeitos da educação. Mas em que sentido uma discussão sobre governo e produção de subjetividades se aproxima do campo da educação por meio do forró eletrônico?

    3. Finalizando a dança

    Quando se atenta para o fato de que atualmente o governo é exercido nas mais variadas instituições de lazer (Paraíso, 2007, p. 53), a música passa a ser entendida como algo que vai muito além de um mero registro estético. Músicas divertem, alegram ou entristecem pessoas, provocam sentimentos e desejos, inscrevem nos corpos marcas e normas consideradas desejáveis e necessárias. Em uma perspectiva foucaultiana, é precisamente aí que está o poder das músicas de forró eletrônico: entendidas como discursos, tais músicas também são elementos ou blocos táticos no campo das correlações de força (Foucault, 2001, p. 97). Nas suas variadas capacidades de seduzir e interpelar por meio do canto, do movimento e da dança, as músicas de forró eletrônico constituem alvo privilegiado de estratégias de governo, uma vez que, segundo Foucault (2007a, p. 8), o poder só é aceito e se mantém porque produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso. Implicadas em mecanismos de governo, tais músicas produzem subjetividades, afinal aquilo que faz com que um corpo, gestos, discursos e desejos sejam identificados e constituídos enquanto indivíduos é um dos primeiros efeitos de poder (Foucault, 2007d, p.

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