segunda-feira, 30 de junho de 2008

Vantagens do .pdf

Li no jornal de ontem [29 de Junho], na crónica do provedor, Paulo Fonseca dizer: "Como assinante do jornal por via electrónica, penso ter direito aos mesmos conteúdos de quem compra um jornal na rua ou o assina em papel. A questão é esta: o PÚBLICO entende disponibilizar os conteúdos do caderno principal e do P2 de uma forma diferente do que faz com os suplementos Fugas, Ípsilon e Pública. Ou seja, para os dois primeiros temos uma versão igual ao jornal e para os suplementos uma versão apenas em texto, mal apresentada e sem ter nada a ver com o jornal."

Eu sou assinante do PUBLICO em .pdf. Ora, quando ponderei qual das assinaturas deveria subscrever, uma coisa que reparei, e pesou na minha decisão, foi a menção que os suplementos não teriam o look and feel da edição em papel. Logo, não concordo com Paulo Fonseca se ele pretende dizer que foi (ou está a ser) enganado, pois tem os mesmos conteúdos, não tem é o mesmo aspecto, mas foi avisado sobre isso. Se Paulo Fonseca dá importância ao aspecto, pois assine em formato .pdf.

Porém, concordo com ele quando diz: "Além disso, o que no meu entender é mais grave, nem todas as semanas os suplementos, pelo menos o Ípsilon, têm todos os conteúdos." Eu também me queixo do mesmo: hoje, 30.JUN.08, a capa do PÚBLICO faz menção, no canto inferior direito, a um suplemento não periódico, "Inovação e Ensino Superior". Onde está essa publicação na minha assinatura? Tenho que a ir buscar à banca? A publicidade não menciona qualquer valor a pagar por esse suplemento, o que me leva a uma dificuldade acrescida: não sendo eu um cliente regular (e supondo que sobra um suplemento ao final do dia), por que motivo o vendedor (qualquer um) irá fornecê-lo à minha pessoa? Se for a pagar, talvez algum comprador do jornal não queira esse gasto extra, e aí já terei alguma facilidade em obter a publicação. Mas se eu assino em .pdf por que razão sou obrigado a deslocar-me à banca? Isto vale também para a coleção do Sinatra, do Blueberry e outras: em teoria, tenho de comprar o jornal para ter acesso àquelas publicações.

Fora isso, são só elogios: o formato .pdf permite guardar o jornal no computador, copiar alguns textos para o word, partilhá-lo, tal e qual como faria com o jornal em papel. Ainda hoje tenho a edição em papel de O Inimigo Público onde Pinto da Costa é satirizado na altura em que foi presente a tribunal e pagou uma caução de 125000,00 euros para se manter em liberdade; a ideia de fazer uma edição Lisboa e outra edição Porto, lado a lado, foi genial. Guardei-a, como faço com o .pdf, posso copiar algumas das piadas, posso emprestá-lo para exibir essa genialidade, tudo possivel em .pdf e em papel.

Se por acaso estão a pensar em mudar para outro formato de leitura, não o façam: eu não assino o Expresso porque só posso ler no ecrã, não posso guardar nem copiar. A mesma coisa vale para a Exame Informática, preciso de um leitor próprio para a ler e eu não gosto disso. Penso que o .pdf é uma mais valia. Eu até arranjei um Splitter Merger em http://www.getpdf.com/split-merge-pdf.html de maneira a poder ter recortes tal e qual como teria em papel. É com este programa que eu separo o P2 de alguns suplementos que vêm agarrados como, por exemplo, "Museu do Oriente", "Exponor News" e "Natal 2007".

Nelson Vladimiro, Lisboa

Estoi ou Estói?

"Palácio de Estói passa a pousada" é o título de uma curta notícia inserta no topo da pág. 43 do PÚBLICO de 29 de Junho. Moro em Faro e desde que me conheço que leio e escrevo a palavra "Estoi" sem acentuação da segunda sílaba, isto é, como na pronúncia das palavras "boi", "loi-ça" e muitas outras.

Consultando o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado (Editorial Confluência, 2º volume E - M, p. 597), diz-nos: "Estoi, top. Faro; em Penafiel há Vila Estoi. Desconheço a origem deste nome, mas creio tratar-se de palavra com origem pré-romana."

José Luz Santos

O inferno está cheio de boas intenções

Face ao conteúdo de uma observação de um tal Howard Kurz no P2 de ontem, 29 de Junho, págs. 8/9, em que de forma ligeira e leviana classifica Theodore Kaczynski como um serial killer, não mencionando nunca tudo o que envolveu a publicação do Manifesto do Unabomber, editado em Portugal, nem o seu conteúdo, quero expressar o meu pasmo e exigir, no futuro, um pouco de mais rigor e verdade.

Pinto Ribeiro

NOTA DO PROVEDOR. Um serial killer é sempre um serial killer, independentemente das motivações.

domingo, 29 de junho de 2008

O outro PÚBLICO

Um jornal sem site é como se não existisse. Mas um site não é mero repositório de matéria publicada – tem vida própria

Na primeira quinzena do mês, o provedor recebeu uma revoada de reclamações de leitores do PUBLICO.PT que se sintetizam na exposição de um deles, Ricardo Quintas (R.Q.): “1) fotografias em ‘negativo’ quando são clicadas, tornando impossível a sua visualização; 2) mensagem a dizer ‘edição inexistente’; 3) anúncios de dupla folha que dificultam a ‘navegabilidade’ do site e a visualização das notícias; 4) textos em latim (?) em vez do texto da notícia; 5) textos com tags [marcadores] esquisitos que tornam difícil a respectiva leitura, por exemplo: ‘...pobreza \u2013 as mais relevantes desde a criação do rendimento mínimo garantido em 1996 \u2013, insistem na denúncia de aumento da pobreza entre nós, que nenhum indício confirma, antes pelo contrário. Se existe uma verdadeira expressão de \u201Cinimizade política\u201D(...)’; 6) notícias só visíveis com a opção ‘Utilize o clip para poder visualizar a notícia’, mas que depois têm um tamanho de font [tipo de letra] impossível de ler”.

A possível erupção do latim (língua morta sem aparente motivo para ressuscitar em meio tecnológico tão avançado) intrigou sobremaneira o provedor. Porém, uma reclamação idêntica de outro leitor, José Luís Ferreira (J.L.F.), fez luz sobre a questão: “O título da entrevista de Ana Gerschenfeld a Marilyn vos Savant [9 de Junho] era seguido do seguinte destaque: ‘Lor sum ad te modo od tat ex et, velenis odolore diat, venisim endiam dunt lore tat essequat nonse essequisis ectet er sit niat’ (interessantíssimo texto não sei se em latim da Baixa Idade Média de Xabregas, se em minderico, mirandês..., quiçá em esperanto...)”. Não sendo versado em dialectos perdidos, o provedor atreve-se a dizer que se trata antes do resultado de uma teclagem aleatória no computador por um técnico informático, com vista à sua substituição pelo verdadeiro destaque, o que não se chegou a operar.

O provedor recebeu do director do PÚBLICO a explicação de que o jornal mudara de plataforma informática no início do Junho, pelo que se deveria tratar de questões da aclimatação (que não afectam só os seres vivos). “Os problemas que identificámos tinham a ver com isso e têm vindo a ser progressivamente resolvidos, conforme se vão detectando bugs [anomalias informáticas]”, concluía José Manuel Fernandes.

A verdade é que esse tipo de críticas diminuiu drasticamente nos últimos dias, pelo que o provedor presume que tudo regressou à normalidade. Mas as reclamações sublinham o impacte actual do site do PÚBLICO, de que cada vez mais gente depende para se informar, sem ler a edição em papel.

Hoje, na verdade, um meio de informação sem página na internet é como se não existisse. É um dado de civilização: o crescimento exponencial do consumo de informação na rede obrigou os media tradicionais não só a criarem sites próprios mas também a investirem cada vez mais no seu desenvolvimento, já que não podem ser considerados meros repositórios de matérias publicadas noutros suportes, mas órgãos de informação com autonomia própria, linguagem diferenciada e conteúdos específicos.

Pelos padrões nacionais, o site do PÚBLICO apresenta um interessante nível evolutivo, traduzido num crescente número de contactos diários, mas há muitos leitores, que fazem comparações com sites de jornais estrangeiros sem se levantarem da cadeira, a exigirem sempre mais e melhor.

É o caso de João Florêncio, que escreve de Londres: “Como português residente no estrangeiro, tenho por hábito consultar o PUBLICO.PT diariamente. Ora o que me espanta é a pobre qualidade editorial das notícias apresentadas no site. Tendo eu sido leitor regular da versão impressa do vosso jornal enquanto vivia em Portugal, surpreende-me muito pela negativa a distância abissal que separa o jornal propriamente dito e as ‘notícias’ disponibilizadas online para leitura gratuita, frequentemente pobres na linguagem utilizada, bastantes vezes parciais e por vezes desactualizadas. (...) Gostaria de vos deixar um exemplo de jornalismo online de qualidade: www.guardian.co.uk [site do diário britânico The Guardian]”. Também R.Q. é severo no julgamento e exigente no modelo: “Nunca vi um site de notícias tão mal feito como o vosso. É pena. Vejam por exemplo o site da revista The Economist. É simples e confortável de ler”.

Independentemente da acusação de parcialidade que o leitor não comprova (e o provedor não detecta), e mesmo descontando os exageros de muitos dos que se habituaram a reclamar através da web, estes sinais de desapontamento e exigências de melhoria deveriam ser tidos em consideração pelos responsáveis do PÚBLICO. Claro que os cânones apontados (a que se podem juntar muitos outros) resultam de um grande investimento que não caberá na dimensão deste jornal, mas não é um facto que o PÚBLICO sempre fez gala de se equiparar ao que de melhor se produz no jornalismo internacional?

A frustração cresce entre assinantes do PUBLICO.PT, com acesso a matérias que outros não podem ler. É o caso de Paulo Fonseca: “Como assinante do jornal por via electrónica, penso ter direito aos mesmos conteúdos de quem compra um jornal na rua ou o assina em papel. A questão é esta: o PÚBLICO entende disponibilizar os conteúdos do caderno principal e do P2 de uma forma diferente do que faz com os suplementos Fugas, Ípsilon e Pública. Ou seja, para os dois primeiros temos uma versão igual ao jornal e para os suplementos uma versão apenas em texto, mal apresentada e sem ter nada a ver com o jornal. Além disso, o que no meu entender é mais grave, nem todas as semanas os suplementos, pelo menos o Ípsilon, tem todos os conteúdos. Já por mais de uma vez reparei que as críticas dos discos não constam em algumas edições, por exemplo a de hoje [2 de Maio]. Isto é enganar as pessoas que assinam por um ano o jornal. Será que o PÚBLICO disse em algum sítio que quem assina o jornal pela internet (e já o faço há um bom par de anos) não tem direito a determinada informação, ou essa informação não é disponibilizada da mesma forma que o restante jornal?”

J.L.F., que diz comprar a edição impressa e ao mesmo tempo assinar a online (50 euros/ano), faz as contas de quem apenas subscreve o PUBLICO.PT: “Em lugar, neste momento, de pagar por semana 4x0,90 + 3x1,40 = 7,80 euros, paga 8,78 euros [por um] serviço – recordo – que, apesar de com maior qualidade, noutros media (a generalidade deles) é gratuito”.

Inevitavelmente, sob a emoção do protesto, surge até a ocasional ameaça de não renovar a assinatura do PUBLICO.PT ou a pergunta sobre se é possível a sua suspensão imediata, com reembolso do remanescente.

O provedor dá ainda conta de queixas sobre algumas funcionalidades do site, sobre gralhas nas notícias online, sobre o automatismo na forma como se promove textos (por exemplo, retirar as palavras iniciais para chamada, como aconteceu com uma crónica de Vasco Pulido Valente assim destacada: “Com o risco de repetir Constança Cunha e Sá, insisto no tema”), sobre a ausência de constante actualização (enquanto é noite e madrugada em Lisboa) ou sobre insuficiências do motor de busca.

Recomendação do provedor. Tendo em conta o actual papel da informação online e a sua previsível evolução, e tanto mais que o PÚBLICO já possui liderança neste segmento, o reforço da aposta do jornal no sector deverá acolher com especial atenção o ponto de vista dos utilizadores.


CAIXA:

A espuma dos dias

Que se passa com este jornal? Uma notícia é publicada duas vezes na mesma edição (31 de Maio), nas págs. 10 e 40, respectivamente com os títulos “MTD quer ‘dar voz’ aos desempregados” e “Desempregados têm movimento associativo”; o mesmo acontece com a crónica “A minha TV”, de Jorge Mourinha, saída com o mesmo título e o mesmo texto em dois dias seguidos, 17 e 18 de Junho; num artigo sobre os 113 anos dos corn flakes – flocos de milho – (págs. 2/3 do P2 de 31 de Maio), fala-se sempre em trigo e “flocos de trigo”; na secção “Pessoas” de 10 de Junho, diz-se que Joan Collins acaba de participar “num jantar de beneficência organizado pela mulher do ex-Presidente da União Soviética, Raisa Gorbachov”, falecida há nove anos (o jantar foi iniciativa da Fundação Raisa Gorbachov); escreve-se, na pág. 9 de 17 de Junho, que o realizador Manoel de Oliveira será homenageado na "Cimeira Ibérica, na Cidade do México, entre 1 e 5 de Outubro", quando se trata do I Congresso da Cultura Ibero-americana; não chegam ao fim o obituário de Albert Cossery publicado nas págs. 10/11 do P2 da passada sexta-feira (terminando em “Sigamos, por isso, o princípio do prazer de Cossery. Leiamos os seus”), uma notícia sobre Tom Cruise em “Pessoas” de 18 de Junho (“... o de um dos filmes de”), duas crónicas de Desidério Murcho (de 17 de Junho – “... nos dicionários de língua inglesa: abro um, e os” – e de 24 de Junho – faltando pelo menos um ponto final em "... é como fazer uma lei que oferece chocolates”) e a crónica de Paulo Varela Gomes de 18 de Junho (“O problema maior destes missionários obcecados, os do ‘Ocidente’ e os do ‘Oriente’, não”).

De todos estes lapsos, o PÚBLICO só corrigiu (na edição de ontem) o do artigo sobre Cossery. Em relação ao resto, os leitores, alguns dos quais detectaram as falhas, ficaram em branco. Ironiza Luís Filipe Lopes sobre um dos casos: “Gostaria de ter lido a conclusão do raciocínio de Desidério Murcho, mas, enfim, talvez esteja a pedir de mais. Não está provado que os artigos tenham que terminar por um ponto final...”

Não são só os textos que não têm fim (o que torna a sua leitura exasperante), é também este problema, para o qual o provedor já uma vez alertou, que parece fácil de evitar, mas cuja solução o jornal ainda não encontrou.

Desde 3 de Junho, duas edições após o provedor ter criticado referências erradas nas previsões para os dias seguintes da página meteorológica, os mapas com essas previsões deixaram de conter a indicação dos dias. Assim, de facto, evita-se qualquer erro, mas não parece que os leitores fiquem mais bem servidos.

Publicada em 29 de Junho de 2008

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Novas do Brasil

Tomei conhecimento da grave ofensa à liberdade de imprensa perpetrada contra a escritora Maria Teresa Horta (ver última crónica do provedor).

Sei que "O Inimigo Público" é uma seção de HUMOR, e que até uma ministra já ali apareceu caracterizada como pirata, sei que o humor às vezes não poupa ninguém. Mas acho grave atribuir a alguém palavras que não disse (entre aspas), sobretudo quando deste modo se induz o público leitor, através do deboche e do escárnio, a uma visão conservadora, neste caso de desprezo pela vida de lutas contra o machismo da escritora Maria Teresa Horta e de tantas feministas. Se hoje as mulheres já não estão sob as botas dos homens em Portugal, muito se deveria agradecer àquelas que, num passado não muito distante, não se curvaram numa sociedade então governada pelo machismo e pelo totalitarismo.

Sou escritor e professor de Literatura Portuguesa na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Acompanho muito de perto a literatura e a vida cultural portuguesa. Como divulgador da cultura portuguesa fora de Portugal, pelo amor que tenho por Portugal, não posso me calar diante de um acto que condeno. Lembro aqui o Garrett, diante da lei das rolhas: lavro o meu protesto, para que ao menos o meu nome não passe à posteridade com a mancha de covardia ou de conivência em semelhante atentado.

Prof. Dr. Sérgio Nazar David
Universidade do Estado do Rio de Janeiro

terça-feira, 24 de junho de 2008

A culpa é do Google

Uma das intervenientes citadas na última crónica do provedor reage às considerações que aí envolvem o seu nome e o de Maria Teresa Horta:

É claro que não sou leitora de "O Inimigo Público" ou do PÚBLICO! Na realidade, encontrei o texto que me indignou ao digitar o nome de Maria Teresa Horta, que de fato me interessa como estudiosa e pesquisadora de Literatura Portuguesa, no Google.

Também é claro que me apercebi de que só poderia tratar-se de uma “gracinha”, muito sem graça por sinal, de algum engraçadinho. Mas como nem todo mundo é português, nem todo mundo sabe português ou saberia reconhecer tratar-se de um tablóide, poder-se-ia, isso sim, ler como sendo de Maria Teresa Horta as palavras que ali são explicitamente atribuídas a ela.

Quanto a pertencer à “claque paulista de Maria Teresa Horta”, penso que, em matéria de companhia, estou em óptima, tanto em relação às mulheres que se manifestaram como, principalmente, pela motivação: Maria Teresa Horta é uma das mais respeitadas e consideradas escritoras e poetisas portuguesas no Brasil! Nem os nossos mais escrachados tablóides fariam uma coisa dessas com nossas escritoras e poetisas brasileiras.

Professora Doutora Marlise Vaz Bridi
Professora de Literatura Portuguesa da Universidade de São Paulo
e da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Brasil


NOTA DO PROVEDOR. Ao que parece, Marlise Vaz Bridi não protesta tanto contra "O Inimigo Público" mas mais contra o Google. Quanto ao resto, anota-se o facto de ela ser totalmente imune à ironia.

ACTUALIZAÇÂO
Novo comentário de Marlise Vaz Bridi:

É interessante como o comentário aposto aos meus pelo senhor provedor (será que deveria colocar maiúsculas?) coloca a nu uma questão de fundo. O senhor provedor, que parecia manter-se no papel que exerce no jornal a que, em Portugal, é dado o nome de Provedor de Leitor, de repente (não mais que de repente, como diria o Poeta), deixa cair a máscara e mostra o que já estava claro. Acho mesmo que se está a perder um talento: o jornal faria bem em convidar a sua figura para integrar o grupinho dos inimigos do PÚBLICO, onde sarcasmos, ironias e escracho são a nota.

Repare, senhor provedor, que, nas duas oportunidades em que lhe enviei palavras, o essencial era o que dizia da importância da obra de Maria Teresa Horta entre nós e que isto, em minha opinião, deveria ser levado em consideração por portugueses, ou melhor, por aqueles portugueses que não o fazem. Entretanto, não foi sequer considerado em seus comentários tão pertinentes.

Por último, talvez fosse o caso de o famoso escritor português escrever um volume em sua série cujo título seja Senhor Provedor, que tal? Pensando bem, não sugeriria tal coisa a um escritor.

Marlise Vaz Bridi

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Caça-gralhas (VI)

Acabei de ler no PÚBLICO de hoje (23 de Junho), na notícia com o título "Morreu Albert Cossery, o Voltaire do Nilo" (pág. 17), o seguinte: "(...) ironizava este velho dandy que costumava-se passear-se pelo Quartier Latin (...)". COSTUMAVA-SE PASSEAR-SE? De facto, a minha indignação, direi mesmo a minha revolta para com os, digamos assim, "jornalistas" e os, digamos assim, "revisores" (ou copy-desks, como agora se diz) não tem limites. Ainda por cima, esta é uma notícia não assinada, vem apenas "AFP e PÚBLICO". Ou seja, o imbecil ignorante que virou do avesso, ou traduziu mal, um telex da AFP não soube (ou não quis), redigi-lo em português decente. Por isso, não há mais paciência, de facto. Um dia deixo de ler o PÚBLICO de vez. Nos outros jornais também se escreve mal, mas, ao menos, não têm a soberba ou a presunção de quererem ser BEM escritos...

Já agora, a propósito: no meu mail anterior para o provedor, chamava a atenção para o facto de, nesse dia, na última página, um texto muito negativo sobre o seleccionador francês Raymond Domenech ter tido a seta para cima, quando devia estar para baixo. Ora, nos dias seguintes não vi uma nota "O PÚBLICO errou" a reconhecer o erro e a repor a verdade. São estas pequenas coisas e a sua repetição sistemática que me exasperam no PÚBLICO. É isto um jornal "de referência"? Vou ali e já venho...

José Oliveira, Cruz Quebrada

Seta confusa

Seria possível esclarecer-me se foi intencional ou se se tratou de um lapso a inclusão de um seta para cima na coluna "Sobe e desce" (última página do PÚBLICO de 18 de Junho), na opinião negativa respeitante ao seleccionador francês Raymond Domenech. É que não faz sentido um texto tão negativo (assinado por J.J.M.) ter uma seta para cima. Só pode ter sido um lapso. ou desleixo.

José Oliveira, Cruz Quebrada

RESPOSTA DO PROVEDOR. Tem havido diversas correcções a erros na colocação das setas adequadas nesta secção. O provedor presume estar-se perante mais um caso desses. Aguardemos que o jornal faça a devido correcção. Em todo o caso, o provedor enviou esta reclamação ao autor dos textos.

Sentido de humor

Surpreendeu-me deveras ter lido na página do Provedor do Leitor que a escritora Maria Teresa Horta pertence ao grupo dos humanos que não têm sentido de humor. Custa-me a aceitar que ela leve a sério "O Inimigo Público" e me tenha dado a impressão de se achar insusceptível de sátira ou de caricatura. Será blasfémia satirizar a queima de sutiãs e os implantes de silicone? Ocorreram-me logo as reacções fundamentalistas à caricatura que António fez do Papa com um preservativo no nariz ou, mais recentemente, às de Maomé. Felizmente pude serenar nesse mesmo dia com o programa dos Contemporâneos na RTP-1, onde um actor anão participava numa cena que satirizava a sua característica, contribuindo para um momento de bom humor.

M. Gaspar Martins, Porto

sábado, 21 de junho de 2008

As “tropelias” de “O Inimigo Público”

Um suplemento humorístico é jornalismo? Existem limites para a sátira? A queixa de uma conhecida escritora tem a virtude de suscitar as questões

O provedor recebeu da escritora Maria Teresa Horta uma carta no mínimo curiosa. Figura pública ao longo de décadas, destacada activista pela emancipação feminina, corajosa co-autora de um livro (Novas Cartas Portuguesas) que, ainda no tempo da ditadura, ousou questionar a opressiva situação da mulher em Portugal – pelo que, com as outras autoras («As Três Marias»), foi então levada à barra do tribunal –, Maria Teresa Horta sentiu-se ofendida por algumas frases ficcionadas que “O Inimigo Público”, suplemento humorístico deste jornal, na edição de 6 de Junho, colocou na sua boca, sob o título “Feministas modernas vão queimar implantes de silicone na Gulbenkian”.

“A minha dignidade é gravemente posta em causa”, considera. “Vivemos em liberdade, não em licenciosidade. O legítimo exercício do direito de cada um finda onde começa a violação dos direitos do outro”. No essencial, Maria Teresa Horta dá conhecimento de outra carta que a propósito escreveu à direcção do PÚBLICO para publicação ao abrigo do direito legal de resposta, “na estrita defesa do meu bom nome, imagem e palavra (...), enquanto cidadã, feminista e escritora, que esse jornal, grosseiramente, entendeu ofender”.

Nela, a escritora limita-se a pedir a “urgente rectificação deste abuso”: “A propósito da próxima reunião do Congresso Feminista 2008, organizado pela União das Mulheres Alternativa e Resposta na Fundação Calouste Gulbenkian, [“O Inimigo Público”] atribui-me afirmações, entre aspas, que eu jamais proferi”. Solicita ainda “um pedido de desculpas, o que não prejudicará o meu direito a processar judicialmente o PÚBLICO pelos danos morais causados”.

Na carta ao provedor, Maria Teresa Horta acrescenta uma justificação: “Como jornalista que também sou, conheço bem o Código Deontológico que rege a profissão e que sempre respeitei. O que me leva a perguntar se, para a direcção do PÚBLICO, a ética profissional não conta. A pergunta faz todo o sentido, atendendo a que essa direcção aceita a publicação de um caderno, parte integrante do jornal por que é responsável, onde se cometem tropelias como esta de que fui vítima”.

Quase em simultâneo, o provedor descobriu um forte núcleo de admiradoras de Maria Teresa Horta entre o corpo docente de São Paulo, Brasil, que são também leitoras de “O Inimigo Público”. Escreve com efeito Carmem Sílvia de Almeida, professora da rede pública em São Paulo: “Li 'O Inimigo Público' (...) e fiquei estupefacta com as palavras que puseram na boca de Maria Teresa Horta, figura pública irrepreensível, referência na literatura e na defesa dos direitos das mulheres”. Acrescenta Marlise Vaz Bridi, professora de Literatura Portuguesa da Universidade de São Paulo e da Universidade Presbiteriana Mackenzie: “É absolutamente inadmissível o que este anónimo [a nota do IP está assinada] inimigo público atribui a Maria Teresa Horta!” E remata Ana Maria Domingues de Oliveira, professora de Literatura Portuguesa da Universidade Estadual Paulista: “Considero de extremo mau gosto a nota - inverídica, bem o sei - publicada em “O Inimigo Público” (...) envolvendo o nome de Maria Teresa Horta, numa clara tentativa de desqualificá-la e de desqualificar também o movimento feminista”.

O que o provedor acha curioso é Maria Teresa Horta levar a sério as palavras que lhe atribuem, ignorando que todas as declarações imputadas por “O Inimigo Público” a figuras públicas não passam de mera efabulação. É a regra do jogo deste suplemento, que nada tem de jornalismo mas sim de entretenimento (como muitos outros conteúdos dos media), pelo que não se coloca aqui uma questão de deontologia jornalística. Ao fim de 246 números (quase cinco anos de publicação), será suposto que os leitores do PÚBLICO conheçam a regra, maxime alguém como Maria Teresa Horta, veterana na área da comunicação social e da intervenção no espaço público.

É certo que Maria Teresa Horta reconhece na sua carta o carácter sarcástico do IP, ao admitir tratar-se da “recuperação por um órgão de comunicação de massas da vetusta tradição oral de escárnio e mal-dizer”, mas logo retoma a circunspecção para opinar que isso “não exime (bem pelo contrário) a direcção desse jornal do cumprimento dos princípios que a Lei de Imprensa de um país democrático do século XXI prevê”. Também as suas apoiantes de além-Atlântico enveredam pelo mesmo raciocínio: “A matéria é satírica, mas (...) envolver dessa maneira um nome de repercussão internacional é, no mínimo, deselegante e desrespeitoso” (Carmem Sílvia de Almeida); “Não creio que textos desse quilate, ainda que satíricos, possam contribuir para ampliar as discussões acerca da condição da mulher (...); em lugar disso, notas assim fomentam, através da perversa caricatura que traçam com as palavras, a intolerância e o preconceito" (Ana Maria Domingues de Oliveira).

Apesar do carácter do suplemento, as contestárias partem assim do princípio de que os seus textos são passíveis de correcções, como se notícias fossem: “Sugiro uma retractação no mesmo diário onde as falsas ideias atribuídas à escritora foram veiculadas” (Carmem Sílvia de Almeida); “Envolver seu nome numa notícia falsa é tratar com leviandade uma mulher que engrandece o nome de Portugal” (Ana Maria Domingues de Oliveira).

Solicitado pelo provedor a pronunciar-se, o director do PÚBLICO, José Manuel Fernandes, anuncia que, após consulta jurídica, o jornal decidiu recusar a Maria Teresa Horta o exercício do direito de resposta. E enumera as razões:

“a) “O Inimigo Público” é um suplemento humorístico cujo conceito é o de editar notícias imaginárias (...). O seu lema, inscrito na primeira página, é ‘Se não aconteceu podia ter acontecido’.

b) Este conceito cria um paradoxo: não se supõe que em “O Inimigo Público” se editem notícias verdadeiras, como um ‘direito de resposta’ (...).

c) O carácter humorístico de “O Inimigo Público” criou, no início, alguns incómodos, até porque houve quem visse as suas peças como verdadeiras e não como sátiras. (...) Até ao momento (...) apenas se editou um ‘direito de resposta’, tendo-se confirmado que a fórmula não funcionava bem.

d) Sem discutir a capacidade que cada um tem para que se brinque, com maior ou menor gosto, com ele, o que habitualmente sugerimos é que os que se sentirem lesados se exprimam no espaço das Cartas ao Director.

e) Os termos em que Maria Teresa Horta colocou a questão (...) não deixam margem de manobra para uma solução desse tipo, pelo que, para não incumprir os prazos da lei, se optou por formalmente negar o direito de resposta, ganhando-se assim tempo para, com mais alguma serenidade, se tentar chegar a uma solução razoável que não impeça o direito de Maria Teresa Horta protestar (...).

f) Até ao momento não recebemos qualquer sinal de que o tema pudesse ser tratado com serenidade; pelo contrário, apesar de termos tentado algumas vias informais de mediação.

g) Sobre as ‘tropelias’ de “O Inimigo Público”, apenas posso referir que o humor em Portugal, mesmo em “O Inimigo Público”, é muito menos cortante do que o praticado noutros países. Talvez porque nem todos sabem rir-se de si mesmos.

h) “O Inimigo Público” já se meteu muitas vezes comigo. Ao princípio ainda vinham mostrar-me, mas eu disse-lhes que não era preciso. Prefiro ocupar-me das notícias que realmente aconteceram.”

Ficará desapontado o leitor que veio até este ponto da crónica à espera que o provedor reproduza o conteúdo da nota de “O Inimigo Público” sobre Maria Teresa Horta, pois não o fará. Não porque o considere ofensivo para a escritora. O IP apenas faz uma caricatura da sua militância feminista no tom habitual, pelo exagero e o excesso (no estilo do título citado), não vislumbrando o provedor razões para a indignação da visada ou da sua claque paulista. A sátira pressupõe distanciamento, tolerância, poder de encaixe e um sorriso... mesmo que amarelo. Não que a levem demasiado a peito, como aqui sucedeu.

A única coisa a poder eventualmente apontar-se ao texto de “O Inimigo Público” é o gosto – e é por isso que o provedor não o transcreve. Mas gostos, como se sabe, não se discutem – pelo menos nesta página. De qualquer modo, quem o desejar poderá ler a nota entre os anexos a esta crónica no blogue do provedor, onde estão também na íntegra as cartas citadas.

Com ou sem direito de resposta, será porém bom, como princípio, que o PÚBLICO encontre uma fórmula que permita a Maria Teresa Horta expressar o seu protesto.

CAIXA:

“Desafios” para o “Policiário”

Ainda a propósito de entretenimento, duas das habituais secções dominicais do P2, “Policiário” e “Desafios”, não saíram há uma semana, tendo surgido inopinadamente na segunda-feira. A alteração, sem aviso ou explicação, suscitou coléricos protestos de leitores, sobretudo fiéis acompanhantes do “Policiário”: “Enorme falta de consideração (...). Privaram-se desse texto os policiaristas que (muitos por revolta!) não adquiriram a edição de segunda-feira! (Gustavo Barosa); “Se eu compro este jornal ao domingo e não outro é por causa dessa secção. Se estas situações perdurarem, sem dúvida que deixarei de ser leitor” (Hugo Marques); “Estou certamente entre os muitos que (...) se sentiram defraudados (...). Deverá ser salvaguardado o devido respeito pelas legítimas expectativas que o ‘Policiário’ desperta” (José Gigante); “Não se compreende (...) o porquê da não existência de uma nota a explicar a razão [do adiamento], e já agora com um pedido de desculpas aos leitores” (Eduardo Oliveira). E também entre os apaixonados de “Desafios”: “O respeito pelos leitores é muito mais importante que as gralhas de História ou Geografia (...). Deveria ser um princípio inviolável num jornal dito de referência” (José Carlos Silva).

A explicação da editora do P2 Isabel Salema, que reconhece razão nos protestos: "As secções não saíram porque excepcionalmente o P2 de domingo só teve 20 páginas, e devia ter havido uma nota de esclarecimento com a indicação de que seriam publicadas no dia seguinte. A direcção tinha-me dado essa indicação e o esquecimento foi meu”. O director corrobora: “A razão de ser da medida (...) derivou da necessidade de equilibrar a informação importante entre os dois cadernos do jornal, sendo que fazer um P2 com mais de 20 página (24, mais exactamente) implicaria, devido a constrangimentos das máquinas (...), acrescentar mais quatro páginas ao outro caderno, o que não se justificava nem era possível. (...) Pedi que se incluísse uma nota aos leitores, [que] não saiu por lapso, como Isabel Salema já assumiu”.

O provedor compreende a frustração dos reclamantes e julga assinalar, não só no adiamento como na falta de aviso, manifesto desinteresse, ou mesmo menosprezo, pelos anseios dos leitores, que devem ser fim último da existência do PÚBLICO.

Publicada em 22 de Junho de 2008

DOCUMENTAÇÃO COMPLEMENTAR

Nota da pág. 9 de "O Inimigo Público" de 6 de Junho:

FEMINISTAS MODERNAS VÃO QUEIMAR IMPLANTES DE SILICONE NA GULBENKIAN

De 26 a 28 de Junho vai realizar-se um Congresso Feminista na Fundação Calouste Gulbenkian, organizado pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), cujas organizadoras prometem não queimar soutiens, para contrariar o estereótipo. “Nõs somos mulheres modernas. Vamos destruir o novo símbolo da sujeição da mulher à vontade masculina: os implantes de silicone. Mas, como eles são resistentes ao calor, vamos explodir duas tetas falsas, como os taliban fizeram aos dois budas de Bamyan”, explicou Maria Teresa Horta, uma das feministas envolvidas no congresso. “E aconselhamos vivamente todas as mulheres a verem o filme O Sexo e a Cidade e a não comerem pipocas no cinema, mas testículos de porco salteados, como forma de mostrar o desprezo pela pseudo-superioridade masculina”, concluiu. VE [Vítor Elias]

Carta de Maria Teresa Horta:

Para seu conhecimento, envio em anexo a carta registada e com aviso de recepção que, em segunda via, remeti ao director do jornal PÚBLICO com data de 16 p. p., reclamando a rectificação de um texto sobre o Congresso Feminista 2008 publicado no inserto "O Inimigo Público" de 6 do corrente, em que a minha dignidade é gravemente posta em causa ao serem-me atribuidas, entre aspas, afirmações que nunca proferi.

A recuperação por um orgão de comunicação de massas da vetusta tradição oral de escárnio e mal-dizer não exime (bem pelo contrário) a direcção desse jornal do cumprimento dos princípios que a Lei de Imprensa de um país democrático do século XXI prevê. Vivemos em liberdade, não em licenciosidade. O legítimo exercício do direito de cada um finda onde começa a violação dos direitos do outro. É este um dos bons princípios por que sempre me bati e por que continuarei a bater-me. E que neste caso carece de defesa por ter sido ofendido.

Acresce que, como jornalista que também sou, conheço bem o Código Deontológico que rege a profissão e que sempre respeitei. O que me leva a perguntar se, para a direcção do PÚBLICO, a ética profissional não conta. A pergunta faz todo o sentido, atendendo a que essa direcção aceita a publicação de um caderno, parte integrante do jornal por que é responsável, onde se cometem tropelias como esta de que fui vítima.

Enquanto aguardo que o PÚBLICO divulgue, nos termos do artº. 26º da Lei de Imprensa de 13 de Janeiro de 1999 - isto é, "na mesma secção, com o mesmo relevo e apresentação do escrito que provocou a rectificação", a carta em que exerço este meu direito, deixo à sua ponderação as questões que expus acima, na estrita defesa do meu bom nome, imagem e palavra (artº. 3º da Lei de Imprensa), enquanto cidadã, feminista e escritora, que esse jornal, grosseiramente, entendeu ofender. Dada a seriedade do que está em causa, gostaria de conhecer a sua opinião sobre o assunto, certamente com interesse para os leitores de que é provedor.

Maria Teresa Horta

Anexo à carta anterior:

Dr. José Manuel Fernandes
Director do PÚBLICO

O jornal que dirige, num texto publicado no inserto «O Inimigo Público» da edição do dia 6 p. p. a propósito da próxima reunião do Congresso Feminista 2008, organizado pela União das Mulheres Alternativa e Resposta na Fundação Calouste Gulbenkian, atribui-me afirmações, entre aspas, que eu jamais proferi. Porque o meu direito ao bom nome, à imagem e à palavra enquanto cidadã, feminista e escritora é desse modo grosseiramente ofendido (vd. artº. 3º da Lei de Imprensa, de 13 de Janeiro de 1999), venho reclamar a urgente rectificação desse abuso nos termos previstos no artº. 26º, nº 3 do mesmo diploma, acompanhada de um pedido de desculpas, o que não prejudicará o meu direito a processar judicialmente o PÚBLICO pelos danos morais causados.

Maria Teresa Horta

P.S – O presente texto substitui e anula o que lhe enviei com data de 11 do corrente, também por carta registada e com aviso de recepção, que fica consequentemente sem efeito.

Carta de Ana Maria Domingues de Oliveira:

Considero de extremo mau gosto a nota - inverídica, bem o sei - publicada em "O Inimigo Público" do dia 6 deste mês envolvendo o nome de Maria Teresa Horta, numa clara tentativa de desqualificá-la e de desqualificar também o movimento feminista.

Não creio que textos desse quilate, ainda que satíricos, possam contribuir para ampliar as discussões acerca da condição da mulher na sociedade, portuguesa ou não. Em lugar disso, notas assim fomentam, através da perversa caricatura que traçam com as palavras, a intolerância e o preconceito.

Maria Teresa Horta é nome de referência na literatura de língua portuguesa, fazendo chegar para além das fronteiras de Portugal a ressonância de suas obras em prosa e em poesia. Além disso, por sua firmeza de posições políticas, sempre foi uma bússola para homens e mulheres de seu tempo, constantemente reafirmando a importância de relações menos hierarquizadas, tanto no âmbito da sociedade como um todo quanto especificamente nas relações entre homens e mulheres.

Envolver seu nome numa notícia falsa é tratar com leviandade uma mulher que engrandece o nome de Portugal.

Eu, como mulher brasileira, professora de literatura portuguesa, só posso lamentar o ocorrido e esperar uma postura mais digna por parte dos jornalistas que trabalham no PÚBLICO.

Dra. Ana Maria Domingues de Oliveira
Professora de Literatura Portuguesa
Universidade Estadual Paulista - Brasil


Carta de Marlise Vaz Bridi:

É absolutamente inadmissível o que este anónimo inimigo público atribui a Maria Teresa Horta!

No último ano, o Brasil teve, em duas oportunidades diversas, a possibilidade de ver Maria Teresa Horta representar, com muita dignidade e, sobretudo, com brilhantismo, seus pares - poetas e escritores portugueses - no Encontro de Professores Brasileiros de Literatura Portuguesa, na USP-2007, e no Congresso Internacional de Lusofonia, na PUC-SP-2008.

É muito gritante a miopia de certas pessoas e grupos. Não me canso de lembrar que, por puro preconceito, muitos críticos contemporâneos de Machado de Assis deixaram de ver sua importância, para nós, hoje, mais que evidente.

Quando o futuro olhar para os nossos tempos e constatar o quanto de intolerância neles havia, quem sobreviverá? O anónimo inimigo dos portugueses?

Sobreviverá, com sua obra e seu lugar na História, Maria Teresa Horta. Entretanto, os portugueses e as portuguesas de valor não deveriam esperar o futuro.

Professora Doutora Marlise Vaz Bridi
Professora de Literatura Portuguesa da Universidade de São Paulo
e da Universidade Presbiteriana Mackenzie - Brasil


Carta de Carmem Sílvia de Almeida:

Li "O Inimigo Público" do dia 06/06 publicado por esse jornal e fiquei estupefacta com as palavras que puseram na boca de Maria Teresa Horta, figura pública irrepreensível, referência na literatura e na defesa dos direitos das mulheres.
Entendo que a matéria é satírica, mas penso que envolver dessa maneira um nome de repercussão internacional é, no mínimo, deselegante e desrespeitoso.

Como admiradora da obra e das posições de Maria Teresa Horta, lamento o ocorrido e sugiro uma retractação no mesmo diário onde as falsas ideias atribuídas à escritora foram veiculadas.

No meu entender isso seria o mínimo que poderiam fazer para reparar tão grande injustiça para com uma mulher que leva o nome de Portugal para além de suas fronteiras.

Carmem Sílvia de Almeida
Professora da rede pública
São Paulo - Brasil


Explicações do director do PÚBLICO:

Depois de consultado o nosso advogado, Francisco Teixeira da Mota, decidimos recusar o pedido de direito de resposta com base nas seguintes razões:

a) “O Inimigo Público” é um suplemento humorístico cujo conceito é o de editar notícias imaginárias, “notícias” que não foram notícia, mas que podiam ter sido. O seu lema, inscrito na primeira página, é “Se não aconteceu podia ter acontecido”.

b) Este conceito cria um paradoxo: não se supõe que em “O Inimigo Público” se editem notícias verdadeiras, como um “direito de resposta”. Contudo a lei obriga a que esses textos sejam editados no mesmo local onde saíram as peças que suscitaram o referido “direito de resposta”.

c) O carácter humorístico de “O Inimigo Público” criou, no início, alguns incómodos, até porque houve quem visse as suas peças como verdadeiras e não como sátiras. Houve até um pequeno incidente com a Câmara do Porto que foi sanado com facilidade. De tal forma que, apesar de o suplemento estar quase a completar cinco anos, até ao momento, e depois de um processo pouco agradável, apenas se editou um “direito de resposta”, tendo-se confirmado que essa fórmula não funcionava bem.

d) Sem discutir a capacidade que cada um tem para que se brinque, como maior ou menor gosto, com ele, o que habitualmente sugerimos é que os que se sentirem lesados se exprimam no espaço das Cartas ao Director.

e) Os termos em que Maria Teresa Horta colocou a questão, nos mails e na carta que enviou, não deixaram margem da manobra para uma solução desse tipo, pelo que, para não incumprir os prazos da lei, se optou por formalmente negar o direito de resposta, ganhando-se assim tempo para, com mais alguma serenidade, se tentar chegar a uma solução razoável que não impedisse o direito de Maria Teresa Horta protestar, mas fazendo-o num espaço do jornal que não aquele onde se escreve sobre “o que não aconteceu mas podia ter acontecido”.

f) Até ao momento não recebemos qualquer sinal de que o tema pudesse ser tratado com serenidade; pelo contrário, apesar de termos tentado algumas vias informais de mediação.

g) Sobre as “tropelias” de “O Inimigo Público” apenas posso referir que o humor em Portugal, mesmo no "Inimigo", é muito menos cortante do que o praticado noutros países. Talvez porque nem todos sabem rir-se de si mesmos.

h) O "Inimigo" já se meteu muitas vezes comigo, ao princípio ainda vinham mostrar-me, mas eu disse-lhes que não era preciso. Prefiro ocupar-me das notícias que realmente aconteceram.

José Manuel Fernandes

Protestos contra o adiamento das secções "Policiário" e "Desafios" de 15 para 16 de Junho:

Foi com profundo desagrado que dei pela falta da secção "Policiário" na edição deste domingo do PÚBLICO. Não se tratando da primeira vez que isto ocorre, a verdade é que nos últimos dez anos, em que sempre comprei o PÚBLICO de domingo para poder acompanhar esta secção, tenho notado que estas ocorrências parecem estar a dar-se com
crescente frequência, no que me parece ser um desrespeito para todos aqueles que, como eu, dão primazia a este jornal por ser o único a apresentar uma secção com estas características.

Foi-me entretanto indicado que a referida secção terá saído na segunda-feira, o que, no meu entender, apenas vem agravar a falta de respeito, pois não só defraudaram as minhas expectativas na compra do jornal de domingo como a "enfiaram" sem qualquer aviso numa edição na qual não deveria sair.

Não querendo pôr em questão a qualidade jornalística dos conteúdos do PÚBLICO, a verdade é que, se eu compro este jornal ao domingo e não outro, é por causa dessa secção. Se estas situações perdurarem, sem dúvida que deixarei de ser leitor deste jornal.

Hugo Marques

Venho por este meio expor o seguinte:

Na passada segunda-feira, 16/06/2008, enviei ao director do vosso jornal, por correio electrónico, a seguinte reclamação:

Ex.mo Senhor Director do Jornal Público

Sou um leitor relativamente assíduo do vosso jornal e, ao domingo, nunca deixo de o comprar, especificamente para acompanhar a secção "Policiário", já que sempre fui um apaixonado pela literatura policial, e, através desta vossa página, vou tendo a oportunidade de participar directamente nos torneios que o responsável pela mesma, Luís Pessoa, tão bem organiza em torno desta temática. Assim foi ontem, 15 de Junho, e qual não foi o meu espanto quando, ao folhear o caderno P2, dei pela ausência da página dedicada a esta secção. Estou certamente entre os muitos que, como eu, se sentiram defraudados após terem adquirido o jornal, e mais indignado fiquei ao verificar que o caderno P2 hvia sido impresso com apenas 20 páginas em lugar das habituais 24.

Será que a redacção do PÚBLICO não se apercebe da originalidade de uma secção interactiva deste tipo (ausente dos restantes jornais diários) e do interesse que ela desperta num número muito significativo de leitores?

Seria de todo desejável que fosse dada uma explicação sobre o assunto. Creio que temos o direito de o exigir!

Com os melhores cumprimentos
José Gigante


Hoje, terça-feira, tomei conhecimento, através de uma pessoa amiga, de que a secção "Policiário" havia sido inserida na edição de segunda-feira (o que parece inexplicável, face ao reduzido número de páginas constantes do caderno P2 de domingo). Tentei ainda adquirir o jornal de segunda-feira, mas tal não foi possível, uma vez que os exemplares sobrantes já haviam sido retirados das bancas à hora a que tomei conhecimento do caso.

Assim, vi-me privado da leitura da rubrica que semanalmente me leva a não falhar a aquisição do jornal aos domingos.

Uma vez que não recebi ainda qualquer resposta do director à reclamação enviada, penso que V. Ex.ª deveria tomar conhecimento da mesma para que possa tomar as providências necessárias para o esclarecimento da situação e para que situações análogas não se voltem a repetir.

Independentemente da importância e interesse que a vossa direcção possa atribuir a esta secção, deverá ser salvaguardado o devido respeito pelas legítimas expectativas que o "Policiário" desperta em todos quantos o consideram entre as suas leituras de eleição e nos que participam activamente nos exercícios de reflexão crítica e interpretativa que regularmente promove. E a salvaguarda de tal respeito deveria certamente ter passado por um aviso no jornal de domingo, justificando a supressão da “página” e informando sobre a publicação da secção na segunda-feira subsequente.

Espero que V. Exª comente esta situação quando for oportuno, se possível nas próprias colunas do jornal de que (ainda…) sou habitual leitor.

José Gigante
Arquitecto / Professor Universitário

Ocasionalmente, a secção "Policiário" no P2 aos domingos não é publicada, sem qualquer aviso nem indicação no jornal do facto para isso não acontecer.

Dado que esta é uma secção semanal com milhares de pessoas a participar nas suas actividades, não se compreende o porquê destas irregularidades pontuais, e quando ocorrem, se for por necessidade absoluta, o porquê da não existência de uma nota a explicar a respectiva razão, e já agora com um pedido de desculpas aos leitores.

Agradeço um pouco mais de atenção a estas mexidas nas secções regulares, pois acreditem que têm um volume relevante em termos dos compradores do jornal ao domingo.

Eduardo Oliveira

Sou um leitor compulsivo do PÚBLICO (concedo ao melhor jornal português o perdão pelo crescimento exponencial de gralhas ortográficas, gramaticais, históricas, geográficas...). Contudo, não posso deixar de reclamar veementemente do seguinte: na edição do PÚBLICO de 15/07/2008, domingo, não foi publicada a habitual rubrica do professor José Paulo Viana "Desafios". Até aqui, tudo bem. Sou professor de Matemática e confesso que a primeira coisa que faço quando compro o PÚBLICO ao domingo é consultar, no P2, a referida rubrica. Acabo de verificar na internet que a rubrica foi publicada na edição do jornal do dia 16/07/2008. Pergunto: não teria sido mais correcto da parte do jornal a publicação dos "Desafios" no próximo domingo, não apanhando de surpresa os leitores fiéis ao professor José Paulo Viana?

O respeito pelos leitores é muito mais importante que as gralhas de História ou Geografia que se comete na feitura de um jornal. As gralhas são inevitáveis, diga-se o que se disser. O respeito pelos leitores, esse sim, deveria ser um princípio inviolável num jornal dito de referência. Não concorda comigo?

José Carlos Silva, Póvoa de Varzim

Explicação da editora do P2 Isabel Salema:

Os leitores têm toda a razão. A secção não saiu porque excepcionalmente o P2 de domingo só teve 20 páginas, e devia ter havido uma nota de esclarecimento com a indicação de que seria publicada no dia seguinte. A direcção tinha-me dado essa indicação e o esquecimento foi meu.

Isabel Salema

Explicação do director do PÚBLICO:

Confirmo a informação da Isabel Salema. A razão de ser da medida (publicar um P2 com apenas 20 páginas) derivou da necessidade de equilibrar a informação importante entre os dois cadernos do jornal, sendo que fazer um P2 com mais de 20 página (24, mais exactamente) implicaria, devido a constrangimentos das máquinas em que o jornal é impresso, acrescentar mais quatro páginas ao outro caderno, o que não se justificava nem era possível. Tudo isto por os saltos das duas máquinas em que somos impressos são de oito em oito páginas.

Feita a opção, na véspera, pedi para que se incluísse uma nota aos leitores avisando que ambas as secções seriam editadas segunda-feira, como sucedeu. Essa nota não saiu por lapso, como a Isabel Salema já assumiu.

José Manuel Fernandes

terça-feira, 17 de junho de 2008

Amy Winehouse ainda mexe

A propósito ainda da cobertura do concerto de Amy Winehouse pelo PÚBLICO, que motivou uma crónica do provedor e réplicas do jornalista:

AS COISAS DO JORNALISMO
(Porque elas, às vezes, divertem-nos a valer!)

ROCK IN RIO – Lisboa, 30 de Maio de 2008
P2- Público de 1 de Junho
Artigos de um senhor chamado Vítor Belanciano em que relata o primeiro dia do Rock in Rio e se dedica sobretudo ao fenómeno Winehouse.

Depois da leitura destes artigos concluí, a propósito deste senhor, o seguinte:

A- Habilitações:
1- Alta formação musical.
2- Pós-graduação em leituras a propósito do fenómeno Amy Winehouse e assistência a concertos da mesma.
3- Mestrado em psicopatologias com origem no sucesso imediato de carreiras extremamente mediáticas.
4- Doutoramento em análise comportamental (em palco) de artistas sob efeito do álcool, de narcóticos, de psicotrópicos, de substâncias ilícitas, de drogas duras ou leves, de químicos e cogumelos…, e de tudo isto, misturado e servido num copo alto em forma de cocktail.
5- Investigação contínua sobre os efeitos alucinogénios de alguns cogumelos. Efeitos estes que provocam o encontro com fantasmas e uma dedicação especial, no seu trabalho, à magia em geral.

B- Experiência de estrada.
1- Já viu Amy Winehouse ao vivo, muito, mas muito antes do Rock in Rio. Teria ela uns 17 anos… e variadíssimas vezes.
2- Esteve no Rock in Rio e sentiu a energia do público, misturou-se com a populaça.
3- Esteve no Rock in Rio e, misturado com a populaça, ouviu, e deu-nos a conhecer, os comentários sobre Amy e a sua estada em palco.
4- Já conhece Amy tão bem e tem um domínio tão completo e aprofundado da língua inglesa que, misturado com a populaça, ali bem no meio, conseguiu perceber todas as coisas que a menina tentou dizer. Relacionado com os pontos 3 e 4 das Habilitações, estas tentativas de falar são para este senhor “uma tentativa de interagir com o público”. Sim, porque quem é o cantor ou artista que não tenta interagir com o público, sobretudo quando dá espectáculos ao vivo?

C- Os gostos e os ódios do Vítor:
1- Gosta de espectáculos de Dança Contemporânea/ballet ou de Teatro de vanguarda, cuja ocupação da sala não ultrapasse 1/3 da sua capacidade.
2- Odeia os espectáculos do Filipe La Féria, além disso, nunca viu nenhum nem sabe que existem~.
3- Adora a diferença, o difícil, o não amado em qualquer forma de arte.
4- Odeia centros comerciais.
5- Gosta de escrever e de fantasiar; cria metáforas que não explana.
6- Odeia brasileiros que se mexem muito, dançam, gritam, abanam as ancas e batem o pé no chão.
7- Adriana Calcanhoto ou Chico, ainda vá, agora aqueles popularuchos é que não.
8- Gosta do pessoal de Chelas, tipo Sam the Kid, intuindo, nós daqui, que tem uma propensão para aceitar, apreciar, manifestar-se a favor, dar graxa, lamber as botas das minorias étnicas, o que o torna politicamente correcto.
9- Tem pena que não haja mais momentos que atribuam sentido às coisas da música. Expressão brilhante e de grande valor semântico.
10- Gostou verdadeiramente de Sofia e dos Cool Hipnoise. Gosta do alternativo, no fundo. E a Sofia? Chegou a vê-la ou contaram-lhe da sua subida ao palco? Era gira?

D- Alguns comentários aos seus comentários.

Amy, a acossada?
Perseguida, por quem? Atormentada, por quem?
Eu sei que vivemos um tempo vazio de heróis, despido de ícones, mas pretender fazer desta menina um deles é ridículo.
Ela persegue-se si própria e atormenta-se a si própria.
Onde está o seu exemplo de irreverência? Nas letras que canta? Isso não basta, sobretudo quando aparece em palco sem condições para lá estar.
Ou será que a sua irreverência está no facto de aparecer naquele estado em palco? Para isso, bastava escolher um entre as dezenas de arrumadores que pairam por Lisboa, na condição de tropeçar, de cambalear, levar as mãos entrapadas, um lenço a passar constantemente pelo nariz (não imaginamos porquê…).
A miséria humana grassa com tanta insistência por esse mundo fora, por que razão ainda vêm as Amys e os media transformarem-nas em heroínas?
Tem uma voz magnífica, é verdade.

Personalidade Complexa?
O que tem de complexo um rapariga de 24 anos a quem a fama imediata deu a volta à cabeça, a quem os media perseguem, que resolve depender de álcool e das drogas; que gosta de ser presa, de transgredir?
O que tem isto a ver com personalidade complexa?
O que fez ela até agora para acharmos sequer que ela tem personalidade?
Tem uma voz magnífica, é verdade.

Todos projectamos fantasias nela?
Figura… para a qual todos projectam os seus fantasmas?
Através dela, virando o espelho percebemos quais são os nossos demónios e fantasmas?
Há que ter dó!
Projectamos as nossas fantasias ou os nossos fantasmas? É que fantasia tem, na sua essência, uma conotação positiva e fantasma, antes pelo contrário.
Percebemos quais são os nossos demónios e fantasmas, sim. Os meus são o desejo de nunca ver filho meu, sobrinho meu ou filho de amigos em tal estado deprimente. Aliás, de não ver nenhum jovem adulto de 24 anos a fazer tal figura.
Tem uma voz magnífica, é verdade.

Quem já a viu ao vivo anteriormente, como nós, sabe que é sempre desajeitada… como se nesse gesto se pudesse esconder dos olhares da multidão.
Desde já, parabenizo, felicito o autor pelo domínio literário e pela magnifica comparação que faz no final deste período.
Não, nunca a tinha visto ao vivo, mas a escolha do adjectivo "desajeitada", transmite uma falsa ideia: todos os seus movimentos e não movimentos eram somente sinal de que se encontrava sob o efeito do álcool e de drogas. Não tem rigorosamente nada a ver com ser-se desajeitado, nem com o facto de se querer esconder da multidão. São reacções normais de quem está a caminho de perder alguma dignidade que ainda lhe reste.
Tem uma voz magnífica, é verdade.

NOTA: Na semana seguinte, no Provedor do Leitor, apareceram comentários relativos ao artigo deste senhor. Sem grande jeito, tentou desculpar-se e fazer-se entender. Entendi uma coisa: é que mais de metade do que disse ter vivido, ouvido e visto foi inventado. Assim, contrariamente ao que deu a entender - afinal ele não é jornalista, é romancista - não esteve perto de ninguém, não ouviu ninguém, não esteve no meio da populaça.

E quanto à Sofia?
E o que foi feito da Sofia?
Sofia, se me estiveres a ouvir, sentir, o que seja, entra em contacto…

E em 2010, ansiosa, espero por mais um Rock in Rio, desejando que o Vítor não romanceie, não ficcione e se limite a dar informações válidas e verdadeiras, sem exagerar nas opiniões.
E já agora, o que é que ele escreve? Crónicas? Críticas? Artigos? Noticias? Reportagens? É só para saber se tem direito a opinar tanto…

See you in 2010!

Paula Coimbra Gaspar

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Aqui não se vendem imóveis

Venho apreciando o seu trabalho, embora não tenha esteranças quanto a resultados. Refiro-me em especial ao tema central da sua intervenção de hoje, 15 de Junho. E, neste sentido, permita-me que chame a sua atenção para um erro em que o sr. tem insistido: "havia-se baralhado as datas", não - haviam-se baralhado as datas; em Angola não "se promete eleições" - em Angola até se prometem eleições. Ou será que estão certos os cartazes por este país espalhados dizendo "vende-se imóveis"?

José Monteiro

RESPOSTA DO PROVEDOR. Agradeço a sua mensagem, mas permita-me responder dizendo que considero correctas as minhas formulações verbais, nos casos que indica. Embora não haja total unanimidade entre filólogos quando a essa matéria, julgo que a maioria se inclinará para a conjugação usada, uma vez que, recorrendo a um dos exemplos que cita, alguém vende os imóveis, eles não se vendem a si próprios. A este propósito, solicito-lhe que verifique aqui.

Réplica do leitor:

Há 50 anos que aprendo (e ensino, embora não seja professor) que prédios são vendidos e eleições são prometidas. Donde, e só, vendem-se imóveis e prometem-se eleições. Culpa, naturalmente, dos muitos professores (12 ou mais) que nunca me deixaram exprimir de outra forma. Culpa, também, creio, dos muitos autores que li (leio), de Camões a Saramago, onde (livros deles) não recordo, não admito recordar, ter lido algo como vende-se imóveis. Não me ensinaram, também, os meus professores, que, em gramática, havia formas mais correctas e formas menos correctas de escrever (ou dizer) a mesma coisa. Entre parêntesis, diria eu, neste caso, a existirem aquelas opções, sempre se deveria adoptar a forma mais correcta. E que, ainda por aquele caminho, sempre se poderia vir a considerar aceitavelmente correcto dizer que Joaquim Vieira foi um dos provedores do PÚBLICO que mais se preocupou com ...(mais lá para diante poderia acabar a frase). Os jornalistas do jornal estariam de acordo com o singular...

Pela minha parte repudio o "preocupou" tanto quanto repudio o "vende-se imóveis". Mas parece-me "lógico" que o actual Ministério da Educação aceite aquelas alternativas (fomas gramaticais mais correctas e menos correctas) e muitas outras, para que os chumbos nos exames melhorem estatisticamente. Se não podes ou não queres vencê-los, aos problemas, faz equipa com eles.

De resto, e saindo do tema gramatical, assim parece estar a fazer o PÚBLICO. Agora o jornal nunca mais comete o erro, que vinha repetindo, de não acertar com os dias da previsão meteorológica. Não criando uma forma de garantir a certeza dos dias... acaba-se com a nomeação deles... Ainda bem que o Provedor alertou... Se as previsões estiverem erradas, a culpa é do Instituto Meteorológico ou do São Pedro: nunca erro do PÚBLICO.

José Monteiro

domingo, 15 de junho de 2008

A luta continua

A secção “O PÚBLICO errou” omite muitos lapsos que aí deveriam figurar, a bem do rigor preconizado pelo jornal

Como o provedor já declarou, um dos seus alvos é a disconcordância entre sujeito e predicado quando o primeiro é o pronome relativo “que”, vinculando o verbo que se lhe segue. O exemplo clássico que usou foi extraído de Os Lusíadas, onde Camões escreveu “Era este Catual um dos que estavam corruptos” e não – como muitos suporiam – “Era este Catual um dos que estava corrupto”. Chamemos-lhe pois a “praga de Catual”, que hoje alastra por todo o português escrito e falado, apesar de aquela personagem, pouco recomendável embora aos olhos do bardo, estar ilibada de qualquer responsabilidade histórica no assunto.

A melhor forma de a combater é a denúncia das frases incorrectas, que o provedor vai anotando ao ritmo da leitura, diária mas genérica, do PÚBLICO. São casos como estes: “Uma das personagens que mais me persegue desde a infância” (P2, 08 de Junho, pág. 12); “Uma das partes da América que se foi mais abaixo com a Grande Depressão” (P2, 28 de Maio, pág. 5); “Matar animais pequenos era um[a] das brincadeiras que mais gozo lhe dava” (P2, 27 de Maio, pág. 12); «Um dos investigadores que tem trabalhado na edição crítica da obra do poeta» (26 de Maio, pág. 6); “Tarantino é daqueles que quando descobre um cineasta através de um filme precisa de ‘ver todos os filmes desse cineasta, de acentada’” (P2, 26 de Maio, pág. 4 – também com erro em “acentada”, que é “assentada”); “Um dos falsos trailers que acompanhou a sessão dupla” (mesmo artigo); “Foi um dos golos que mais gozo me deu marcar” (“Pública”, 25 de Maio, pág. 46); e “Um dos vários livros que preserva frases dessa época” (P2, 10 de Maio, pág. 5).

Nesta luta, o provedor tem contado com a atenta observação dos leitores, que por vezes lhe enviam o seu próprio registo de anomalias. Como o tradutor Francisco Agarez (FA): “Estou solidário consigo ‘na sua permanente luta contra a praga da discordância verbal em frases contendo como sujeito o pronome relativo que”. Peço-lhe que não esmoreça nessa luta, embora receie que o assaltem com frequência sentimentos de desânimo, tão frequentes e desenfreados são os ataques dessa praga no PÚBLICO. (...) [A 23 de Maio], na secção de recensões de livros do ‘Ípsilon’, vamos encontrar a praga à solta no artigo de Mário Santos [MS] sobre o livro de Julio Cortázar O Jogo do Mundo [pág. 52]. A meio do primeiro parágrafo, lê-se: ‘... nem é só um dos livros que, entre Pedro Páramo (...) e Cem Anos de Solidão (...), ajudou decisivamente...’; e (...) mais adiante: ‘...um dos romances que mais experimentou e que conseguiu...’ Percebe-se assim melhor o critério de um recenseador de livros que considera ‘pormenores que não desluzem uma tradução competente’ estas três pérolas de sintaxe: ‘um corredor onde haviam muitas portas’, ‘duas linhas de baldes afim de completar’ e ‘tratam-se de títulos de revistas’. Cinco estrelas para MS (tantas quantas ele atribui ao livro recenseado)!”

À ironia responde MS no mesmo tom (o que o provedor enaltece): “1) No melhor pano cai a nódoa, valha-me a auto-ironia! 2) Ler e recensear a mata-cavalos, o ritmo que nos é imposto (sendo a tarefa mediocremente remunerada, aliás), tem alguns inconvenientes. Eu mal tempo tenho para ler, quanto mais para rever o que escrevo. 3) Se houvesse a ‘jusante’ uma revisão competente, pelo menos... 4) Eventuais atenuantes não invalidam o erro. Tem o sr. tradutor FA razão. Errei clamorosamente. Resta-me seguir o alto exemplo do sr. primeiro-ministro José Sócrates. Peço desculpa aos portugueses leitores e prometo não voltar a prevaricar”.

Entre aspectos preocupantes que MS suscita mas estão fora da alçada do provedor (a “tarefa mediocremente remunerada”, por exemplo), um deles já aqui foi sublinhado: a questão da revisão – fulcral num diário de referência fazendo gala no rigor do seu jornalismo e na correcção dos seus erros –, que o provedor não sabe se é incompetente ou inexistente.

Muitas outras falhas de concordância entre sujeito e predicado, em circunstâncias diferentes, deveriam também ser prevenidas ao nível da revisão. Como exemplos recentes (alguns detectados por leitores), o provedor anota os seguintes: ”A redução das portagens de mercadorias vão vigorar apenas durante meio ano e são apenas aplicadas aos utilizadores da Via Verde e do Via Card" (destaque de artigo, 13 de Junho, pág. 4); “Os países onde a imprensa é mais livre, mais madura e apresenta maior diversidade e capacidade de investigação não conta com nada disto” (3 de Junho, pág. 43); “A conjuntura política e a crise que já está a desenhar-se e que parece inevitável vai exigir uma conjugação de esforços” (P2, 31 de Maio, pág. 3); “CRISE ACABOU: remessa de (2) emigrantes superam verbas do QREN” (título de primeira página do ‘Inimigo Público’, 30 de Maio); “Mexer nos impostos sobre gasolina nunca impediriam a sua contínua subida” (30 de Maio, pág. 51); “Investir na casa e nos apetrechos que lhe permitem melhorar a sua condição física justificam-se” (Pública, 25 de Maio, pág. 45); "O aumento anormal dos preços no consumo estão a levar muitos portugueses a optar pelos supermercados mais baratos" (25 de Maio, pág. 1); “Quebra dos níveis de confiança na indústria, construção e comércio a retalho contribuíram para este abrandamento” (entrada de artigo, 24 de Maio, pág. 40); “A táctica de Uribe em organizar fugas para a imprensa (...) não tinham conseguido que Caracas e Quito cortassem relações com as FARC” (17 de Maio, pág. 18); “O reverso da medalha, da moeda boa ou má, só deverá ser mostrada quando receber os partidos” (14 de Abril, pág. 11); “Nem o facto de ter sido condenado em Fevereiro a uma pena de prisão suspensa (...), pela prática de dois crimes de peculato e um de falsificação de documentos (...), o inibiram” (9 de Abril, pág. 9); “É um título cujos custos de edição ‘(...) é muito acessível’” (4 de Abril, pág. 10).

Já agora, é importante que se esclareça a discordância existente no título a quatro colunas “Ricardo e Quim, os ‘yes man’ de Scolari”, inserido na pág. 33 da edição de 27 de Abril. Sendo que o plural da palavra inglesa man (homem) é men, a formulação correcta seria “Ricardo e Quim, os ‘yes men’ de Scolari”.

O que, tudo somado, torna pertinente a sugestão de FA em post scriptum ao seu protesto: “Seria descabido que o PÚBLICO passasse a inserir (semanalmente?) uma coluna do tipo ‘O PÚBLICO errou’ dedicada exclusivamente aos pontapés na gramática?”

Por falar disso, o provedor acharia interessante incluir também nessa secção os pontapés na ortografia. Que dizer, na realidade, da inopinada aparição da letra h em circunstâncias tão estranhas como “O meu interesse pela selecção Portuguesa não se compara há minha paixão pelo FCPorto” (P2, 9 de Junho, pág. 2) ou “No PSD houve-se uma multidão” (P2, 6 de Abril, pág. 3)?

Recomendação do provedor. Independentemente das chamadas de atenção para o rigor, habituais nesta coluna, e tendo em conta que nenhum destes erros foi corrigido, sublinha-se que pelo menos os lapsos com números aqui mencionados (e outros que venham a ocorrer) deveriam ser rectificados em “O PÚBLICO errou”.

CAIXA

Uma relação difícil

Quem faz o PÚBLICO tem por vezes dificuldade com números, e em particular com datas. Esta semana registou-se até um engano no cabeçalho da edição em papel de quarta-feira, 11 de Junho, que vinha datada como “Ter 11 Jun”. Houve logo quem alertasse o provedor. “Bem pode o Presidente da República pedir aos Portugueses para serem exigentes e rigorosos consigo próprios”, comentou a leitora Arie Somsen. “No PÚBLICO não se liga muito”. A data da edição, a primeira coisa que aparece ao cimo da primeira página do PÚBLICO, é entendida como marca sagrada em cada periódico e mais lida do que se pensa.

“Toda a gente sabe perfeitamente que Jerusalém-Leste foi ocupada em 1867”, escrevia-se a 5 deste mês na pág. 21. O provedor não sabia, pensava que fora em 1967.

“A selecção de râguebi da África do Sul (...) pediu aos seus compatriotas que ‘redescubram a espírito da reconciliação’ que se verificou em 1974, depois de terminado o período do apartheid”, dizia-se por outro lado na pág. 17 em 24 de Maio. Também aqui se antecipou a História: o apartheid só terminou duas décadas mais tarde (em 1974 Nelson Mandela ainda teria mais 16 anos de prisão).

“O escritor italiano Curzio Malaparte (...) chamava-se no dia em que nasceu, a 9 de Junho de 1957, Kurt Erich Suckert”, dizia-se na 2ª pág. do P2 de 9 de Junho, acrescentando-se: “Mas em 1925 passou a usar um pseudónimo: Curzio Malaparte”. Não se explicava como é que Malaparte mudara de nome 32 anos antes de nascer, porque na verdade havia-se baralhado as datas do seu nascimento (9 de Junho de 1898) e da sua morte (19 de Julho de 1957). Vários leitores reagiram indignados. Judite Castro foi branda: “Só chamo a atenção, não comento”. Mas João Vasconcelos Costa abriu as hostilidades: “Coisas destas não se podem desculpar como pequenos erros naturais. Trata-se de grosseira negligência profissional, com que cada vez mais frequentemente o jornal brinda os seus leitores”. E Artur Lopes Cardoso, que diz aguardar “explicação científica para tanta actividade intelectual antes do nascimento”, rematou: “E é isto um jornal de referência? Tenham dó! Um pouco de cuidado na edição nunca fez mal a ninguém”.

“É muito provável que o Presidente da República marque eleições conjuntas para o Parlamento e para as câmaras mais cedo do que se pensava: talvez Junho ou Julho de 2909”, aparecia escrito na crónica de Vasco Pulido Valente (VPV) em 30 de Março. Como não estamos em Angola (onde aliás até se promete eleições para breve), é muito provável que seja ainda um pouco mais cedo.

E era também VPV que escrevia a 1 deste mês, a propósito das últimas eleições presidenciais: “Na euforia da época, quase ninguém notou que, na segunda volta, o dr. Cavaco pouco excedeu os 50 por cento”. Na euforia do fecho da edição, ninguém notou que, nas presidenciais de 2006, não houve segunda volta.

Publicada em 15 de Junho de 2008

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Inexplicável

No dia 2 de Junho, Cavaco Silva levou um seta na horizontal (nem sobe nem desce) porque, segundo a coluna, "preferiu motivar a pedir a taça" (pág. 44). Em minha opinião, temos aqui o PÚBLICO a enveredar pelo fanatismo futebolístico-selecção-Scolari que envolve Portugal em alturas de europeus e mundiais. Que temos equipa para fazer muito boa figura e, quem sabe, com trabalho, sorte e boa preparação táctica, chegar à final, isso toda a gente sabe. Agora, termos equipa para que seja obrigatório (como o jornal insinua) exigir a Taça, isso já não me parece razoável. E muito menos deve ser o Presidente da República a fazer tal exigência. Já basta o constante apelo da comunicação social para que a Selecção traga a Taça para casa.

A 4 de Junho, José Mourinho é presenteado com um sobe pela coluna do PÚBLICO, após a sua apresentação (falou inclusivamente em italiano) em Milão, para treinar o Inter. No fim dessa coluna, ainda se descreve o triste facto de Mourinho se ter recusado a falar português quando um jornalista do nosso país lhe fez uma pergunta na língua de Camões. Logo de seguida um jornalista britânico questiona Mourinho e este responde no seu inglês pouco ortodoxo. Ou seja, deu-se o caso de um português, fora do seu país e perante um batalhão de jornalistas de todas as nacionalidades, se ter recusado a falar na sua própria língua, optando pelo italiano (compreende-se, pois estava em Itália) e pelo inglês (já não se compreende). De certeza que, se fosse um ministro ou um líder de um partido a adoptarem semelhantes comportamentos, o PÚBLICO não hesitaria em atribuir um desce.

O mais ridículo, quanto a mim, é mesmo o facto de o PÚBLICO, no sobe de Mourinho, ter referido esse triste incidente, atribuir-lhe nota negativa e mesmo assim optar pelo sobe! Já Cavaco, por ter tido uma atitude muito sensata e contrariando todo o entusiasmo e adrenalina que se tem por cá (o que só é contraproducente para a nossa selecção) é presenteado com um nem sobe nem desce. Inexplicável!

Rodrigo de Almada Martins, Porto

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Ainda o caso Amy Winehouse

Nova troca de correspondência, hoje, entre Vítor Belanciano e o provedor, a propósito da última crónica deste e dos seus desenvolvimentos:

Só ontem, tarde, tive oportunidade de ver o seu blogue. Pelo tom, pareceu-me dar o tema por encerrado. Não creio que esteja. A minha questão é simples: depois do que lhe transmiti sobre o processo de elaboração da fotolegenda, ainda acha que o que foi feito é “jornalismo prospectivo?”

Sou, provavelmente, o jornalista e crítico que mais reflectiu sobre o “fenómeno” Amy Winehouse em Portugal. Fi-lo a partir dos mais diversos ângulos. Já tinha visto anteriormente espectáculos seus. Tinha perfeita consciência do grau de imprevisibilidade das suas actuações. Acha que iria arriscar conclusões antecipadas?

O que existiu, sim, foi um processo de elaboração da fotolegenda, que abriu espaço para múltiplas leituras. Em nenhum lugar me parece caber a hipótese de “jornalismo prospectivo”. Parece-me que teria toda a relevância os leitores perceberem que um processo de trabalho, realizado em condições longe das ideais, como já explicitei, concretizado por mais do que uma pessoa, com resultados que podem induzir a várias leituras, não corresponde necessariamente ao caso de um jornalista a querer brincar aos deuses, antecipando-se à realidade.

É isso que está em questão. Não são avaliações de valor que se possam fazer sobre a cantora, o concerto e as reacções do público. Sobre isso escrevi no dia 1 de Junho, de forma que considero ser equilibrada e correcta, explicitando diversos ângulos, sem teses especulativas.

Já agora, permita-me que lhe diga, com o máximo de respeito, enquanto alguém que se interessa pelos assuntos da cultura popular e a sua relação com os media, que o acontecimento tinha imenso material de reflexão.

Deixo apenas duas pistas, muito óbvias, mesmo sabendo que estou a fugir ao assunto: as relações diversas que o público estabelece com uma “celebridade” do tipo da cantora – não é por acaso que o seu disco voltou a subir esta semana ao 2ª lugar do top e a sua biografia se vendeu muito mais depois do concerto, apesar das fragilidades do mesmo – e a relação que suportes (TV, internet e imprensa escrita) com características diferentes, ao nível da velocidade, da proximidade e muitas outras, podem e devem ter, ao nível da abordagem, com um acontecimento deste tipo. Porque, em fundo, é isso que também está aqui em causa.

Mas isso dava uma longa conversa. Deixo-lhe, apenas, a questão que enuncio no final primeiro parágrafo.

Vítor Belanciano

Considero de facto o assunto encerrado. Falo em "jornalismo prospectivo" porque, a meu ver, a fotolegenda criou a ideia de o concerto ter corrido de uma certa forma que não veio a verificar-se. Concluí depois que o Vítor Belanciano não terá sido a única pessoa responsável por isso (talvez nem sequer o máximo responsável, não sei), mas guiei-me pela assinatura existente na legenda. Não ponho em causa o seu conhecimento do percurso de Amy Winehouse, mas apenas um cálculo distorcido do que se passaria na Bela Vista, que não tem nada a ver com o acompanhamento anteriormente feito da carreira da cantora.

Joaquim Vieira

Pensava que eram evidentes, desde a minha primeira resposta, a forma e as condições em que foi produzida a fotolegenda, apesar de ter estranhado que na sua crónica tenha surgido a frase “escreveu o jornalista”.

Evidentemente que a fotolegenda pode ter várias interpretações – tem um título informativo, uma legenda passível de várias leituras e uma foto que algumas pessoas, inclusive, acharam “desadequada” – e revela até alguns sinais contraditórios. Mas é, precisamente, por ser passível de ter várias leituras que nunca poderia ser “jornalismo prospectivo.”

“Jornalismo prospectivo” implica uma ideia clara. Uma intencionalidade precisa. Coisa que, evidentemente, não existe.

Como é que é possível comparar este caso com o “caso” Hugo Chávez?

Vítor Belanciano

terça-feira, 10 de junho de 2008

O portuguesismo de Pepe

Considero indigno que uma publicação com o posicionamento da vossa permita manifestações parciais e politizadas numa crónica desportiva. Bruno Prata utiliza no vosso jornal de hoje [8 de Junho, pág. 3, "Scolari tinha razão e o temor talvez tenha sido exagerado"] um espaço dedicado ao jogo Portugal-Turquia de ontem. Parece que o que se passou dentro do campo não interessa, o importante é utilizar o trampolim para o comentário político.

Então um brasileiro, porque sabe cantar o Hino, é português? E se aprender o "God Save the Queen", passa a ser súbdito de Isabel II? E um brasileiro, por ter êxito e marcar um golo, cala os "estúpidos" que reclamam direito a uma representação digna, interpretada por portugueses? O golo altera alguma coisa?

Penso que a ética jornalística se terá ficado a vestir em casa.

Caso se digne a considerar este escrito, não dê respostas do género "o espaço é da responsabilidade do cronista" ou "respeitamos a independência das ideias", etc. Deve exitir um orientação editorial, e não é o Sr. Prata o responsável por ela. É quem o deixa escrever e, pior de tudo, lhe paga.

Evidentemente, caso volte a ver textos do Sr. Prata no vosso jornal, este será o último que compro, uma vez que não pago para ser insultado.

José Pinheiro

Bruno Prata chama estúpidos a todos os que não concordam com a inclusão do Pepe. Ele pode chamar estúpidos aos amigos no café, nunca aos leitores do jornal. No texto aparece a palavra verborreia, o que é diferente. Em que ficamos?

Vitorino Guerra

NOTA DO PROVEDOR. É de facto verdade que as ideias são livres e que o provedor não se pronuncia sobre o conteúdo dos textos de opinião (salvo em situações extremas de defesa de ideias atentatórias dos direitos humanos, o que não é o caso). O provedor deu porém a Bruno Prata a possibilidade de responder a estas reclamações, tanto mais que havia a necessidade de explicar o facto de aparecer escrito "verborreia dos puristas da nacionalidade" no texto e "estupidez dos puristas da nacionalidade" no destaque. A sua resposta:

"A primeira carta já se encontra (ou pelo menos uma boa parte dela) publicada no espaço do Euro 2004 que o PÚBLICO criou numa zona autónoma dentro do seu site. No mesmo local estão outras mensagens a defender exactamente o contrário. É uma questão de opinião, tão ou mais respeitável do que a minha.

O caso é diferente relativamente à segunda carta. O leitor tem razão. No texto aparece verborreia, enquanto na citação (que devia ser retirada do texto está 'estupidez'. Isso aconteceu porque achei, entretanto, que esta última palavra era excessiva e decidi alterá-la. Mas, por esquecimento, só o fiz no texto. Ainda me lembrei disso a tempo, e, como o texto já estava na revisão, foi o próprio director Manuel Carvalho que pediu para que se fizesse a troca das palavras também na citação. Infelizmente, no entanto, alguma coisa correu mal (estávamos em cima da hora do fecho do jornal...), sendo eu naturalmente o principal responsável.

Sobre a questão da nacionalidade: não é a primeira vez que expresso esta minha opinião, apesar de saber que ela está longe de reunir consenso. No caso concreto do Pepe, estou completamente à vontade para o fazer, porque o conheço bem e sei que não aceitou jogar por Portugal por uma questão de oportunismo. De facto, ele fez questão de representar Portugal quando tinha mais do que qualidade para jogar na selecção brasileira. Ninguém escolhe o local onde nasce, e Pepe, não tenho a menor dúvida, sente-se tão português como qualquer um de nós. As referências que fiz ao facto de ele ter cantado o hino com visível emoção foi apenas uma forma de salientar isso mesmo".

Bruno Prata

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Reacção de um leitor

O leitor que enviou um protesto contra o título de primeira página “Gays: Lisboa já tem um clube privado de sexo”, abordado na última crónica do provedor, responde a este:

1. Agradeço, desde já, a atenção dispensada ao meu “protesto”. Permita-me, no entanto, o desabafo: julgo que fui incompreendido e o srº provedor foi um pouco exagerado e “duro” (sinto-me triste, incomodado) ao acusar-me, assim, de ânimo leve, de homofóbico - isto perante milhares de leitores que no pretérito dia 8 leram o PÚBLICO. E eu, sem possibilidade de esclarecer, pois não acredito muito que publique esta carta (devê-lo-ía fazer), ficando deste modo penalizado, molestado e em desvantagem pela ultima ratio do srº provedor.

Eu não tenho “atitudes homofóbicas ancoradas em preconceitos segregacionistas - só me faltava mais esta!- à moda do século XIX, ignorando que vivemos no século XXI”.
Viver no século XXI não nos vai trazer a felicidade almejada e não vai resolver as questões “fracturantes”. O século XXI vai, isso sim, trazer-nos enormes problemas a vários níveis. Até nos prazeres dissolutos e desregrados que nós tentamos - numa de bom tom - “incorporar” e interiorizar como “normais”.

2. Quanto ao tema do dia 17 de Maio do PÚBLICO que me impeliu a escrever, dei o exemplo de um jovem que, eventualmente, possa pegar no jornal e ler a notícia escarrapachada com grande notoriedade na primeira página. Já sei, já sei que as crianças têm de estar preparadas para tudo neste ensandecido mundo e ao fim e ao cabo compete aos adultos, de forma pedagógica e construtiva, explicar-lhes “as coisas da vida”, inclusive a tolerância. Mas de tolerância em tolerância podemos desembocar na estupidez e na anomia e converter pessoas racionais e pensantes em títeres acéfalos.

Entendamo-nos srº provedor: a questão primordial do meu comentário à notícia do PÚBLICO de 17 de Maio prende-se, tão-só, com o despropósito, com o sensacionalismo do destaque da notícia (e isso é que devia ser referenciado e não “a minha atitude homofóbica” que nunca tive, tenho e terei. Simplesmente não embarco em simplismos, nem sou “obrigado” a concordar com a visão e relação sexual que os gays cultivam como seja uma relação normal, perfeitamente natural). Aliás, nunca pretendi que a notícia fosse cortada, abafada, censurada, ignorada.

E, ao fim e ao cabo, o srº provedor até acha que o meu “protesto” tem razão de ser na questão do sensacionalismo da notícia. Como se depreende - concordará comigo - das suas palavras do último período do texto do passado dia 8 de Junho... Afinal, neste ponto de vista, deu-me razão e devia assinalar isso inequivocamente na “recomendação" final do provedor. No entanto achou mais interessante apelidar-me de homofóbico.

António Cândido Miguéis

P.S. A dado passo da carta que lhe enviei e que reproduziu no dia 8 de Maio, o srº provedor, com a melhor das intenções, “emendou-me” e escreveu “contranatural”. Ora eu, julgo, não escrevi isso mas sim contra natura. Que também pode ser contra naturam. As três expressões estão correctas.

NOTA DO PROVEDOR. Não foi o provedor que alterou "contra natura" para "contranatural", mas sim a revisão do PÚBLICO.

Reacção de Vítor Belanciano

O jornalista Vítor Belanciano, que assinou a notícia sobre o concerto de Amy Winehouse no Rock in Rio Lisboa analisada na última crónica do provedor, enviou a seguinte réplica:

Venho expressar surpresa perante as conclusões por si efectuadas referente à possível discrepância na caracterização do concerto de Amy Winehouse no evento Rock in Rio, entre a fotolegenda de sábado, 31 de Maio, e o texto saído no domingo, 1 de Junho.

Como referi na resposta ao seu mail, a fotolegenda não pretendia – nem podia ser – uma crítica ao espectáculo. Não faço análises a concertos, nem tiro conclusões definitivas, baseado em poucos minutos de observação dos mesmos. Se o fizesse, o título da fotolegenda não seria certamente “Amy Winehouse provoca enchente”, um título meramente informativo.

Afirmar que fiz “jornalismo prospectivo” e que joguei numa espécie de lotaria é totalmente abusivo. Se tivesse lido textos meus sobre concertos a que assisti da cantora ou à antevisão do mesmo, publicada no próprio dia do espectáculo, percebia-o facilmente.

No dia do concerto foram publicados textos assinados por mim que diziam coisas como: “Da mais polémica figura pop do momento, nunca se sabe o que esperar. É capaz de concertos memoráveis, mas também são inúmeras as histórias de falta de comparência, de abandono a meio ou de grande desencontro entre a cantora e os músicos que estão em palco com ela. Por isso, tudo pode acontecer no Parque da Bela Vista.”

Ou “o seu drama, como tantos outros casos da história da cultura popular, parece ser como encontrar o equilíbrio entre a expressão pessoal e a exposição pública. Até lá vão continuar certamente as especulações, os escândalos quase diários (...)"

Ou ainda: “Os romanos tinham circo, com gladiadores, leões e sangue. Na bancada exultava-se e apostava-se. Nós temos Amy Winehouse. (...) A maior parte esperará apenas que o dinheiro do bilhete tenha sido bem empregue. Mas por alguns deverá perpassar o desejo inconfessável que tropece. Existe até quem faça apostas se virá, até porque é o seu primeiro concerto dos últimos meses, já depois de mais alguns escândalos.”

Parece-lhe que quem escreve isto tem vontade de jogar à lotaria e escrever, antecipadamente, que o concerto foi um êxito?

Dito isto, e como também lhe referi, concordo que a maneira como a fotolegenda está escrita podia ser mais clara. Talvez devesse haver uma menção ao facto de se reportar, apenas, ao início. A mesma resultou, como me foi pedido pelas editorias, de uma comunicação móvel com o editor de fecho, que foi quem redigiu o texto, baseado numa troca de impressões, como também combinado. Não existiu nenhum “envio de informações”, como é sugerido por si.

Mas mesmo assim, nunca é escrito que o concerto foi um êxito, como sugere. Estão lá três ideias: a cantora apareceu, não desiludindo quem por ela esperava; o terceiro tema foi um dos que agarraram o público; e a cantora denotava algum nervosismo, mostrando a fragilidade que revelou, por norma, em mais do que um concerto que presenciei da dita cantora. Foi isto que aconteceu durante os minutos iniciais da sua actuação. Nada disto é uma conclusão ou uma análise sobre a globalidade do concerto.

Citar a Lusa e um texto de um leitor – ambos impressões finais do espectáculo – em contraponto a uma fotolegenda que reporta o início não é compreensível. Se o fizesse em relação ao texto final publicado no dia seguinte, então sim, seria atingível.

Quanto ao acontecimento propriamente dito, depois de finalizado, escrevi o que presenciei e pensava sobre o assunto. Mas esse não era o centro da questão. Como tal, quando lhe respondi, limitei-me a fazer menção ao texto que foi publicado no dia 1 de Junho, onde os acontecimentos relatados pelo leitor são também mencionados, obviamente, por mim.

Por isso, ainda mais estranho se me afigura, que pegue nas considerações do leitor, referentes à globalidade do espectáculo visto através da TV, para demonstrar a sua tese.

As considerações do leitor quando diz que as aclamações do público eram “uma clara tentativa de fazer com que a cantora ‘acordasse’ do estado depressivo em que notoriamente se encontrava” e do provedor quando utiliza expressões como “farrapo humano” ou “se havia alguém ‘agarrado’ era a própria cantora” não as partilho, nem tenho que o fazer. São apenas especulativas.

Também não percebo o “testemunho consensual” das 100 mil pessoas que invoca. Ao contrário do que sugere, notaram-se as reacções mais diversas. A peça da BBC, de 31 de Maio, é apenas um exemplo onde são nítidas diversas reacções: "It took so much time for her to come on - people were getting impatient," agreed Alexandra Marques, 26. "And her voice really wasn't in a good state." Their friend Marta Hugens, 26, was more scathing: "For someone who earns so much money, it shows a lack of respect for the public - although I suppose it was expected she'd make a scene." Other spectators were more accepting. "I think she was how she is normally and that's all," said Anabela Costa, 27.

Como reflecti na peça de 1 de Junho, o que aconteceu foi bem mais contraditório, complexo e, já agora, perturbador. Que tenha existido quem tivesse analisado o que aconteceu de forma, no mínimo, simplista, não me compete a mim ajuizar.

Com tudo isto não estou a “defender” nem a ser “indulgente” com a cantora ou o seu comportamento, como já me foi sugerido, como se não fosse possível relacionarmo-nos com os acontecimentos para além dessa lógica maniqueísta, onde aqueles que não têm uma atitude reflexiva – mas apenas reactiva – nos tendem a colocar.

A mim, compete-me ter distanciamento, um olhar ponderado e analisar a complexidade de relações a que cada acontecimento está ligado. Foi isso que fiz com o concerto do Rock in Rio.

Vítor Belanciano

NOTA DO PROVEDOR. O provedor enviou a Vítor Belenciano a seguinte resposta à sua mensagem: "Ao dizer-se que Amy Winehouse 'não desiludiu quem esteve ontem no parque da Bela Vista' e que 'agarrou o público' está-se não só a transmitir a ideia de que o concerto foi um êxito como a omitir os graves problemas que afectaram a sua actuação. Quanto aos detalhes da produção da legenda, percebo, das suas explicações, que ela foi escrita pelo editor de fecho, mas o facto é que está assinada por si, o que implica uma assunção de responsabilidade própria. Ao falar em consenso entre os presentes, baseio-me nas opiniões entretanto lidas noutros locais, assim como nas reportagens mais desenvolvidas, incluindo a sua, que foram feitas (e nos vídeos no YouTube que acabei por ir procurar, pois não tinha assistido à transmissão do espectáculo). Penso não existirem dúvidas a esse respeito. Eu próprio admito na crónica que, nas condições e no timing existentes, não seria possível dar uma visão global do concerto, pelo que o texto devia ser mais defensivo ou interrogativo, não se criando a ideia daquilo que não foi. Não se esperava uma crítica na fotolegenda, mas sim um relato autêntico do que se passara. Independentemente do que se pensa de Amy Winehouse, quem paga 50 euros por um espectáculo seu esperará pelo menos algum profissionalismo, que nitidamente não existiu - e nesse aspecto acho que o leitor que reclamou tem razão (embora admita que as três canções iniciais não tenham chegado para avaliar - mas deviam pelo menos ter deixado adivinhar). Estou de acordo consigo quanto a dever dizer-se que aquela era a impressão do início do concerto. Mas o jornal quis arriscar transmitindo uma ideia global, e errou".

Como o provedor não procura ficar com a última palavra, aqui fica a tréplica de Vítor Belanciano: "Que o texto deveria ser mais defensivo ou interrogativo, já o expressei, nas duas vezes que me dirigi a si. Mas isso é completamente diferente de, a partir daí, ajuizar que aquilo que foi feito é 'jornalismo prospectivo'. Não foi".

domingo, 8 de junho de 2008

Sexo gay só com membros

A propósito de uma nota do provedor, na sua crónica de hoje, motivada pelo título “Gays: Lisboa já tem um clube privado de sexo”, inserido na primeira página do PÚBLICO de 17 de Maio, o autor da respectiva reportagem, Bruno Horta, faz o seguinte esclarecimento:

"Como autor da reportagem sobre o clube de sexo gay Labyrinto (...), parece-me importante reafirmar que até hoje nunca tinha existido em Lisboa, ou Portugal, qualquer clube de sexo dirigido a homossexuais masculinos.

As pessoas com quem falei enquanto escrevia a reportagem atestam isso mesmo. Algumas delas pertencem a associações de defesa dos direitos dos gays, outras trabalham há muitos anos na noite gay de Lisboa.

O que se conhecia até hoje na capital, e isso vem no texto, eram as saunas e os chamados 'quartos escuros'. Funcionam em bares e discotecas e estão abertos a todas as pessoas (não somente a sócios, como o Labyrinto)".

NOTA DO PROVEDOR. No seu comentário, o provedor referia-se, com efeito, às reportagens já anteriormente publicadas sobre saunas e 'quartos escuros', o que no seu entender desvalorizaria o valor noticioso da fundação de um clube, onde o acesso é, à partida, mais restrito (se bem que, da leitura da reportagem, não pareça existir qualquer limitação para se ser membro). Semanticamente, porém, o jornalista tem razão, já que um local de acesso livre não pode, em rigor, ser designado como um clube.

Nada está escrito

O relato do que se passou num concerto do Rock in Rio Lisboa alerta de novo para os perigos do jornalismo prospectivo

Enorme era a expectativa com o concerto de Amy Winehouse (AW) anunciado para o Rock in Rio Lisboa no passado dia 30 de Maio. Seria, em vários meses, a primeira actuação pública da cantora britânica, conhecida pelas suas extravagâncias pessoais, incluindo o consumo de um substancial cocktail de álcool e drogas que nem sempre lhe permite subir ao palcos ou manter-se neles. Galardoada em Fevereiro com cinco Grammys (prémios internacionais de música), Winehouse era alvo em Lisboa até da curiosidade da imprensa mundial, interessada em verificar se a artista havia ou não superado as suas dependências.

Apesar de a actuação estar prevista para a hora de fecho da edição do PÚBLICO, fizeram bem os seus responsáveis ao darem ainda conta, na primeira página do dia seguinte, da aparição da cantora, com uma fotografia e a respectiva legenda.

AW sempre apareceu – e isso era já notícia –, mas o provedor julga reunir o testemunho mais consensual entre os cerca de 100 mil presentes ao afirmar que em palco não estava uma artista, antes um farrapo humano, incapaz de levar ao público as canções que lhe deram notoriedade.

A legenda, sob o título “Amy Winehouse provoca maior enchente de sempre” e assinada por Vítor Belanciano (VB), era porém, no mínimo, indulgente perante a catástrofe. “Amy Winehouse não desiludiu quem esteve ontem no parque da Bela Vista”, escreveu o jornalista. “Amy apareceu nervosa mas com o look habitual (...). Ao terceiro tema, Me and Mr. Jones, agarrou o público”.

Se havia alguém “agarrado” era a própria cantora, a acreditar aliás no relato difundido no mesmo dia pelo PUBLICO.PT (mas com base na Agência Lusa): “Amy Winehouse (...) pediu desculpa pela fraca voz e admitiu que devia ter cancelado o concerto (...). Ao longo da actuação, a cantora esqueceu-se das letras, improvisou, tentou tocar guitarra, dançou e quase caiu, comeu, bebeu e chorou (...). O público (...) nem sempre reagiu às canções”.

Desde logo, o provedor reparou na discrepância de notícias entre as edições em papel e on-line. Aliás, na cobertura desenvolvida do espectáculo, no PÚBLICO do dia seguinte, VB transmitia já uma impressão algo diferente, concedendo, perante a soma de incidentes ocorridos, que “não foi por isso um bom concerto” – mas por essa altura já a desilusão estava estampada em toda a parte e já a blogosfera criticava a notícia inicial do jornal.

De qualquer modo, o leitor Rodrigo de Almada Martins, que acompanhou o concerto em directo na televisão, escreveu do Porto ao provedor expressando “espanto” e “tristeza” pela primeira notícia: “Apenas um jornalista que nunca tenha ouvido uma actuação (ou mesmo um CD) de AW poderá escrever que ‘Amy não desiludiu (...)’. Totalmente mentira. AW desiludiu e muito todos os seus fãs. (...) Nem respeitou grande parte das letras das canções e muitas vezes ficava prostrada em frente do microfone sem emitir qualquer som. Aquela não é a voz nem a postura de AW, ou pelo menos da AW que ficou conhecida pela sua excelente voz e pelos seus concertos fantásticos. (…) Será que o jornalista confunde os sintomas de nervosismo com os efeitos que a ingestão prolongada de álcool ou de drogas provoca nas pessoas?O jornalista optou por omitir a queda de AW em palco; optou por não referir o facto de a britânica ter pegado numa guitarra e ter começado a tocar quando a guitarra nem sequer estava ligada aos amplificadores; não referiu o facto de toda a sua banda estar notoriamente preocupada com o estado da cantora e desejosa de que tudo aquilo terminasse rápido; não referiu que AW afirmou em pleno palco que deveria ter cancelado o concerto porque não tinha voz; não referiu que a cantora começou a chorar a meio do concerto (…); não referiu os seus cortes nos braços e no pescoço; não mencionou os seus constantes tiques... (…) Aquilo que aconteceu, na realidade, foi um péssimo concerto, onde AW não mostrou nenhuma das suas potencialidades como cantora e entertainer e onde demonstrou total falta de respeito e de profissionalismo (porque é isto que está em causa para quem paga 50 euros de entrada) por aqueles que se deslocaram ao Parque da Bela Vista”.

As justificações de VB, por solicitação do provedor:

“Admito que alguns leitores possam ter ficado confusos quanto à possível discrepância na caracterização da atmosfera do concerto entre a fotolegenda de sábado [31 de Maio] e o texto saído no domingo.

Passo a explicar: no sábado, estava combinada uma fotolegenda na primeira página se o concerto ocorresse (…). Os objectivos eram constatar se [AW] viria ou não, dar conta do início do concerto e reportar o que era óbvio naquele dia, que uma multidão se havia deslocado para a ver. Uma abordagem alargada, de teor mais analítico, seria feita no dia seguinte.

Sábado, estava no local, no meio das 100 mil pessoas, numa zona lateral, um pouco mais resguardada, onde fosse possível ouvir o telefone em condições, quando o editor de fecho efectuasse a chamada combinada a partir do jornal, para reportar se a cantora sempre actuava ou não. Quando a ligação foi efectuada, disse que, apesar da espera, [AW] tinha aparecido e, nesse sentido, não havia desiludido o mar de gente que havia aguardado.

O ambiente, ao longo do concerto, mas com incidência no início, foi muito confuso. Verbalizei o que via: em palco AW parecia nervosa, com problemas com o microfone, e, na assistência, as reacções eram contraditórias, do apupo ao aplauso. Aclamação foi o que existiu ao terceiro tema, com parte significativa do público a incitar a cantora”.

Ainda acerca deste terceiro tema, o provedor inquiriu VB sobre uma crítica surgida num blogue segunda a qual, ao contrário do que escreveu o repórter, não se trataria de Me and Mr. Jones (como estaria previsto no programa). VB reconhece-o, sem adiantar qualquer explicação para a troca: “Está, de facto, errado: não foi Me & Mr. Jones, mas sim Tears dry on their own”. E, quanto às aclamações do público, Rodrigo de Almada Martins adianta que se trataria de “uma clara tentativa de fazer com que a cantora ‘acordasse’ do estado depressivo em que notoriamente se encontrava”.

VB conclui:

“Sobre outras considerações, a minha visão sobre o que aconteceu está exposta no artigo de domingo, onde tento ter uma perspectiva ampla sobre o sucedido, sem me cingir a classificações redutoras. (…) Foi um evento – muito mais do que um concerto foi um acontecimento sociológico – que despoletou paixões e que começou a ser lido, antecipadamente, segundo as convicções mais íntimas de cada um, [que] decifrou o que aconteceu à sua maneira. A partir de determinada altura todos os gestos – simbólicos ou reais – passaram a ser alvo de leituras simplificadoras. (…) Na assistência perceberam-se emoções contraditórias, na forma como cada um se relacionou com alguém que já não é apenas uma cantora, mas uma celebridade, que aguardavam com imensa expectativa”.

Nada disto obsta à evidência de que AW defraudou essa expectativa, com uma fracassada tentativa de criar pelo menos um arremedo de actuação musical. Admite-se que, nas condições e no horário em que a notícia foi produzida, VB não pudesse transmitir uma ideia global do espectáculo, duvidando-se sequer, pelo exposto, que tenha deixado concluir o tal terceiro tema antes de enviar as suas informações. Mas os indícios recolhidos não permitiam sugerir que o concerto seria um êxito.

A realidade é imprevisível, e esse é um dos motivos que dão fascínio ao jornalismo. “Nada está escrito [por antecipação]”, dizia Lawrence da Arábia no filme homónimo, após atravessar um deserto em condições que lhe garantiam serem impossíveis para o ser humano. Agora foi ao contrário: apesar de possuir as condições, AW não conseguiu a travessia.

Recomendação do provedor. Tal como quando o PÚBLICO noticiou erradamente a vitória de Hugo Chávez no referendo venezuelano de Dezembro último, volta-se a prevenir para os perigos do jornalismo prospectivo: quando se acerta, ganhou-se a lotaria, mas, quando se falha, é um desastre que arrasta a credibilidade do órgão de informação.


CAIXA:

O lugar do sexo gay

Escreve de Vila Real, António Cândido Miguéis, “como leitor indefectível do PÚBLICO, seguramente o melhor jornal diário português”, acerca do título “Gays: Lisboa já tem um clube privado de sexo”, inserido na primeira página de 17 de Maio:

“Não seria de elementar bom senso – parece que vai rareando – remeter para outra parte do jornal, de forma mais discreta, este título? A esmagadora maioria da população (e dos leitores do PÚBLICO) é, felizmente, heterossexual e não estará disposta a ser ‘agredida’ com esta notícia, que dirá mais respeito aos gays e seus eventuais seguidores e admiradores. Sendo esta orientação sexual atípica, anormal e contra-natura, quer se queira quer não (isto, sem pretender ofender ou estigmatizar quem quer que seja, é uma realidade), porque é que o PÚBLICO lhe deu todo este destaque? Sensacionalismo, exibicionismo, voyeurismo, pretensão de impor a uma clara maioria condutas insalubres de uma minoria que, de facto, tem todo o direito a notícias sobre sexo como muito bem entenda desde que não exiba (e se exiba) essas notícias de forma ridícula e desmesurada?

É bonito uma criança ou um jovem (em crescimento, em maturação biológica, corporal e psíquica) pegar no PÚBLICO e deparar com esta escatológica notícia, verdadeiramente edificante?”

Pensava o provedor, que há anos lê na imprensa relatos sobre clubes de sexo gay em Lisboa, que o leitor iria criticar o título por ser uma não-notícia. Fá-lo afinal numa atitude homofóbica, ancorada em preconceitos segregacionistas à moda do século XIX, ignorando vivermos no século XXI. O que retira todo o fundamento a um protesto que até teria razão de ser na questão do sensacionalismo.

Publicada em 8 de Junho de 2008

DOCUMENTAÇÃO COMPLEMENTAR.

Carta do leitor Rodrigo de Almada Martins:

Venho por este meio expressar o meu espanto e a minha tristeza pela capa do PÚBLICO no dia 31 de Maio de 2008, sábado. Falo mais concretamente do texto (e da foto que o acompanha) sobre a actuação da cantora britânica Amy Winehouse no festival Rock In Rio.

Sendo eu fã da música e da voz desta cantora, sentei-me em frente ao televisor para ver o concerto em directo pela SIC Radical, já que não está nos meus horizontes gastar cerca de 50€ (mais gasolina, portagens, alimentação, etc. - o que provavelmente faria a deslocação a Lisboa, ao Parque da Bela Vista, chegar até cerca de 100€) para assistir ao festival de música mais comercial de sempre em Portugal, travestido de festival amigo do ambiente e protector da paz no mundo.

Mas não é o festival em si que me faz escrever estas linhas.

1 - A verdade é que apenas um jornalista que nunca tenha ouvido uma actuação (ou mesmo um CD) de Amy Winehouse poderá escrever que "Amy não desiludiu quem ontem esteve no parque da Bela Vista". Totalmente mentira. Amy desiludiu e muito todos os seus fãs. Estava completamente sem voz, sob influência de álcool (supomos) e sem a mínima vontade de actuar. O que ainda valeu foi o grande profissionalismo de toda a sua banda, que tudo fez para que não se notasse o triste estado da cantora. Mas a verdade é que Amy nem respeitou grande parte das letras das canções e muitas vezes ficava prostrada em frente do microfone sem emitir qualquer som. Aquela não é a voz nem a postura de Amy Winehouse ou pelo menos da Amy Winehouse que ficou conhecida pela sua excelente voz e pelos seus concertos fantásticos (basta assitir a um DVD que está no mercado Amy Winehouse: I told you I was trouble, para verificar isto mesmo).

2 - Além disso, o jornalista decidiu ser benevolente ao dizer que "Amy apareceu nervosa mas com o look habitual: penteado e vestido muito anos 60". Nervosa? Será que o jornalista confunde os sintomas de nervosismo com os efeitos que a ingestão prolongada de álcool ou de drogas provoca nas pessoas? O jornalista optou por omitir a queda de Amy em palco; optou por não referir o facto de a britânica ter pegado numa guitarra e ter começado a tocar quando a guitarra nem sequer estava ligada aos amplificadores; não referiu o facto de toda a sua banda estar notoriamente preocupada com o estado da cantora e desejosa de que tudo aquilo terminasse rápido; não referiu que Amy afirmou em pleno palco que deveria ter cancelado o concerto porque não tinha voz; não referiu que a cantora começou a chorar a meio do concerto ao falar sobre o seu marido que está detido; não referiu os cortes da cantora nos braços e no pescoço; não mencionou os seus constantes tiques...

3 - Mas o jornalista diz mais: "Ao terceiro tema, Me and Mr. Jones, agarrou o público". Agarrou o público? Antes de mais, temos que verificar que aquele público esteve sempre agarrado. Tirando aqui e ali alguns assobios, a maioria das 100 mil pessoas que lá se deslocaram aplaudiram Amy Winehouse numa clara tentativa de fazer com que a cantora "acordasse" do estado depressivo em que notoriamente se encontrava. É impossível que o público tenha gostado de um concerto que começou com meia hora de atraso e que não durou sequer uma hora, o que para quem paga 50€ deve ser importante.

Para fazer prova do que digo, coloco aqui três vídeos do YouTube acerca do triste concerto de Amy Winehouse no Rock In Rio 2008: nº 1, nº2 e nº 3.

Que as televisões e os patrocinadores, que apostam forte neste tipo de eventos, optem pelo discurso vergonhoso (não escondendo o sorriso amarelo) do tipo "não podemos dizer que é o concerto das nossas vidas, mas também não saímos defraudados. É o estilo dela, faz parte..! Era pior se ela não tivesse vindo, mas afinal veio... e cantou, as pessoas gostaram, foi a maior enchente de sempre num concerto em Portugal... a Amy arrasta multidões sem dúvida", compreende-se, pois estamos a falar de altas quantias monetárias envolvidas.

Mas o caso muda de figura quando é o próprio PÚBLICO (um jornal de referência nacional e que deve analisar os eventos que acontecem em Portugal com o máximo de isenção possível) a noticiar em plena capa que Amy não defraudou as expectativas e que ao terceiro tema agarrou o público, acompanhando com uma foto de dimensões consideráveis. Quando aquilo que aconteceu, na realidade, foi um péssimo concerto, onde Amy não mostrou nenhuma das suas potencialidades como cantora e entertainer e onde demonstrou uma total falta de respeito e de profissionalismo (porque é isto que está em causa para quem paga 50€) por aqueles que se deslocaram ao Parque da Bela Vista.

Suspeito, claro está, que o artigo foi escrito à pressa para aparecer na capa do jornal, pois com certeza o concerto acabou já depois do fecho da edição de sábado. E, talvez por isso, o jornalista não pôde ficar com uma visão geral e abrangente do triste espectáculo protagonizado por Amy Winehouse no Rock In Rio. Mas a verdade é que a capa é enganadora e nada representativa daquilo que se passou no palco, onde Amy deu a impressão de estar completamente "perdida" e sem a mínima vontade de actuar. E isso num jornal como o PÚBLICO não se deve admitir.

Rodrigo de Almada Martins, Porto

Explicações do jornalista Vítor Belanciano:

Admito que alguns leitores possam ter ficado confusos quanto à possível discrepância na caracterização da atmosfera do concerto entre a fotolegenda de sábado e o texto saído no domingo.

Passo a explicar: no sábado, estava combinada uma fotolegenda na primeira página se o concerto ocorresse. Recordo que havia dúvidas que viesse a efectuar-se. Escrevi sobre o assunto no suplemento P2 de sexta-feira.

Os objectivos eram constatar se viria ou não, dar conta do início do concerto e reportar o que era óbvio naquele dia, que uma multidão se havia deslocado para a ver. Uma abordagem alargada, de teor mais analítico, seria feita no dia seguinte.

Sábado, estava no local, no meio das 100 mil pessoas, numa zona lateral, um pouco mais resguardada, onde fosse possível ouvir o telefone em condições, quando o editor de fecho efectuasse a chamada combinada a partir do jornal, para reportar se a cantora sempre actuava ou não.

Quando a ligação foi efectuada disse que, apesar da espera, tinha aparecido e, nesse sentido, não havia desiludido o mar de gente que havia aguardado.

O ambiente, ao longo do concerto, mas com incidência no início, foi muito confuso. Verbalizei o que via: em palco Winehouse parecia nervosa, com problemas com o microfone, e, na assistência, as reacções eram contraditórias, do apupo ao aplauso. Aclamação foi o que existiu ao terceiro tema, com parte significativa do público a incitar a cantora.

Sobre outras considerações, a minha visão sobre o que aconteceu está exposta no artigo de domingo, onde tento ter uma perspectiva ampla sobre o sucedido, sem me cingir a classificações redutoras.

Como expus no texto de domingo, foi um evento – muito mais do que um concerto foi um acontecimento sociológico – que despoletou paixões e que começou a ser lido, antecipadamente, segundo as convicções mais íntimas de cada um.

No local, e obviamente de forma ampliada a partir da proximidade da TV, cada um decifrou o que aconteceu à sua maneira. A partir de determinada altura, todos os gestos – simbólicos ou reais – passaram a ser alvo de leituras simplificadoras.

A minha visão está exposta no texto: o que se passou em palco não gerou um bom concerto. Na assistência perceberam-se emoções contraditórias, na forma como cada um se relacionou com alguém que já não é apenas uma cantora, mas uma celebridade, que aguardavam com imensa expectativa.

Quanto ao terceiro tema do concerto ele está, de facto, errado: não foi Me & Mr Jones, mas sim Tears dry on their own.

Vítor Belanciano

Carta do leitor António Cândido Miguéis:

Como leitor indefectível do PÚBLICO, seguramente o melhor jornal diário português, dirijo-me ao senhor provedor para lhe manifestar o meu desagrado e estupefacção pela sua primeira página do passado dia 17 de Maio (no melhor pano cai a nódoa...).

Na parte superior do jornal, junto ao P vermelho, deparei com um título inusitado: ”Gays: Lisboa já tem um clube privado de sexo”. Eu pergunto: porquê todo este realce, verdadeiramente despropositado, na primeira página do PÚBLICO? Não seria de elementar bom senso - parece que vai rareando - remeter para outra parte do jornal (P2), de forma mais discreta, este título e texto respectivo? A esmagadora maioria da população (e dos leitores do PÚBLICO) é, felizmente, heterossexual e não estará disposta a ser “agredida” com esta notícia que dirá mais respeito aos gays e aos seus eventuais seguidores e admiradores. Sendo esta orientação sexual atípica, anormal e contra-natura, quer se queira quer não (isto, sem pretender ofender ou estigmatizar quem quer que seja, é uma realidade), porque é que o PÚBLICO lhe deu todo este destaque? Sensacionalismo, exibicionismo, voyeurismo, pretensão de impor a uma clara maioria condutas insalubres de uma minoria que, de facto, tem todo o direito a notícias sobre sexo como muito bem entenda desde que não exiba (e se exiba) essas notícias de forma ridícula e desmesurada?

É bonito uma criança ou um jovem (em crescimento, em maturação biológica, corporal e psíquica) pegar no PÚBLICO e deparar com esta escatológica notícia, verdadeiramente edificante?

O que é que o senhor director do PÚBLICO, pessoa judiciosa que eu prezo e admiro - procuro estar sempre atento aos seus editoriais e intervenção nos media, pese embora não concorde com alguns deles, de forma parcial ou totalmente -, tem a dizer sobre isto? Gostaria de ouvir as suas explicações.

Provavelmente no PÚBLICO - como noutros lugares e noutros empregos - existirão algumas pessoas que enveredam por estas orientações sexuais (gays e lésbicas), mas isso será justificativo para o PÚBLICO hiper-realçar na primeira página: “Gays, Lisboa já tem um clube privado de sexo”?

Que me interessa a mim (e seguramente a muitas pessoas) este tipo de notícias? Não existirão revistas da especialidade que dão conta destes “acontecimentos”?

Por estas e por outras é que o artigo de José Pacheco Pereira no PÚBLICO desse mesmo dia, “A cultura da irrelevância está a crescer exponencialmente”, vem mesmo a propósito... Enquanto isso, Sodoma e Gomorra e os políticos vão-se enchendo...

António Cândido Miguéis, Vila Real