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Tuesday, April 28, 2009
Monday, April 27, 2009
Salazar e Nun'Álvares Pereira
"Sobretudo esse Condestável D. Nuno, depois frei Nuno de Santa Maria, guerreiro e monge, chefe de exércitos e edificador de conventos, vencedor de castelhanos e distribuindo em maus anos seus bens pelos mesmos que derrotara em baralhas para não mandarem na sua terra, erguido por sua valentia no altar da Pátria como a igreja o havia de erguer pelas suas virtudes nos altares da fé, cheio de honras e riquezas e enterrado em vida no Convento do Carmo, na dura estamenha de frade, quando depois de Ceuta lhe pareceu já não ser necessária a espada para defesa da Pátria, mas disposto de novo a tomar as armas, se el-rei de Castela alguma vez tentasse invadir Portugal."
Obrigado Manuel!
Sunday, April 26, 2009
Caminhando rumo à democracia?
Leiam lá esta notícia e vão ver se não estranham
Otelo diz que Largo de Salazar «é didáctico»
Querem ver que ficou democrata?
Otelo diz que Largo de Salazar «é didáctico»
Querem ver que ficou democrata?
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25 de Abril,
Museu Salazar,
Otelo Saraiva de Carvalho,
Salazar
Saturday, April 25, 2009
O Que é sempre Portugal
Por vontade de Deus, sou português. Nasci em Portugal, e as vicissitudes da vida não me obrigaram nunca, até hoje, a sair deste lugar, na ponta ocidental da Europa, na qual Espanha se encosta e põem debaixo do braço, enquanto o outro lado se banha no Atlântico.
Nasci na década de 80. Não conheci por isso, aquele que era o Portugal do passado. Ou melhor, conheci-o e visitei-o através daqueles que nele viveram. A minha família não era toda monárquica ou salazarista. E os que os eram nunca o foram de forma ideológica porque nunca tinha sequer pensado no que isso era. Porque nunca se dedicaram a reflexões políticas. Eram, como a maioria das pessoas de hoje, alguém que vivia no seu tempo, com as suas preocupações, e que esperava vê-las resolvidas. O que herdei não foi por isso, o fruto de uma educação propagandística ou ideológica. Antes pelo contrário. Foi o testemunho concreto, de pessoas concretas, que viveram num tempos distintos e os comparavam, contando-me o que viveram, quando confrontadas com as minhas questões acerca da história que me ensinavam na escola.
Não acho que o dia de hoje, seja comemorativo. Nunca o achei. Fui educado assim, e o tempo e o estudo permitiram-me fortalecer essa convicção.
Não se julgue que não gosto do Portugal de hoje. Não é verdade. Sou, como gosto de o afirmar, um nacionalista, um patriota.
Amo Portugal porque ele é a minha história e o meu eu. Ele é a minha terra, e do meu passado, e do passado dos meus. Aqui trabalharam e, com ou sem consciência, ajudaram a construir e a manter. Sou parte dele, com as suas tradições, hábitos e defeitos. As suas paisagens e os seus poetas e escritores.
Acredito que assim o é, pois que creio que Portugal é e será sempre, o conjunto do que foi; o conjunto da sua história, da totalidade dos valores e acontecimentos que, como dizia Prezollini, recordamos e esquecemos. Do país que, como lembrava Eduardo Freitas da Costa, se fundou na expansão e se realizou nos descobrimentos, sob a matriz cristã.
Amo por isso Portugal, e não sou como aqueles que acham que Portugal hoje mais valia não existir, que devia fundir-se ou desfazer-se; numa palavra, desaparecer, como defendiam alguns no século XIX.
Mas entristeço-me por vezes com o que lhe acontece ou lhe tentam fazer. O dia de hoje é celebrado na ignorância.
Não me acreditem porque sim. Ou não me façam ignorante porque não. Não vos apelo à crença. Apelo à razão.
Como vêem não estou do lado da maioria. Mas sei que o bem e o certo não são definidos por maior número. Pela política é fácil assim se fazer crer, pois que se vai a pouco e pouco, omitindo palavras e acontecimentos que invocam valores ou a falta deles, pois como escreveu um dia Adriano Moreira, “o silêncio é, no processo político, uma fonte documental tão importante como o discurso. Aquilo que se esconde está em luta com aquilo que se ostenta”. E à força de não os falarem, tornam-nos inexistentes; e promovendo valores opostos, tornam-nos únicos.
Porque me mantenho crente? Porque no fundo sou um Sebastianista, que acredita que por mais cerrado que seja o nevoeiro caído sobre Portugal, sempre se chegará a bom porto, sempre se acabará por aceitar aquilo que Eduardo Freitas da Costa chamou de Projecto Nacional, e que mais não é que o desejo uno que todos, sem excepção, querem ver realizado em Portugal, sabendo que isso também se encontra na dependência da adesão de cada um, último passo da liberdade individual.
Nasci na década de 80. Não conheci por isso, aquele que era o Portugal do passado. Ou melhor, conheci-o e visitei-o através daqueles que nele viveram. A minha família não era toda monárquica ou salazarista. E os que os eram nunca o foram de forma ideológica porque nunca tinha sequer pensado no que isso era. Porque nunca se dedicaram a reflexões políticas. Eram, como a maioria das pessoas de hoje, alguém que vivia no seu tempo, com as suas preocupações, e que esperava vê-las resolvidas. O que herdei não foi por isso, o fruto de uma educação propagandística ou ideológica. Antes pelo contrário. Foi o testemunho concreto, de pessoas concretas, que viveram num tempos distintos e os comparavam, contando-me o que viveram, quando confrontadas com as minhas questões acerca da história que me ensinavam na escola.
Não acho que o dia de hoje, seja comemorativo. Nunca o achei. Fui educado assim, e o tempo e o estudo permitiram-me fortalecer essa convicção.
Não se julgue que não gosto do Portugal de hoje. Não é verdade. Sou, como gosto de o afirmar, um nacionalista, um patriota.
Amo Portugal porque ele é a minha história e o meu eu. Ele é a minha terra, e do meu passado, e do passado dos meus. Aqui trabalharam e, com ou sem consciência, ajudaram a construir e a manter. Sou parte dele, com as suas tradições, hábitos e defeitos. As suas paisagens e os seus poetas e escritores.
Acredito que assim o é, pois que creio que Portugal é e será sempre, o conjunto do que foi; o conjunto da sua história, da totalidade dos valores e acontecimentos que, como dizia Prezollini, recordamos e esquecemos. Do país que, como lembrava Eduardo Freitas da Costa, se fundou na expansão e se realizou nos descobrimentos, sob a matriz cristã.
Amo por isso Portugal, e não sou como aqueles que acham que Portugal hoje mais valia não existir, que devia fundir-se ou desfazer-se; numa palavra, desaparecer, como defendiam alguns no século XIX.
Mas entristeço-me por vezes com o que lhe acontece ou lhe tentam fazer. O dia de hoje é celebrado na ignorância.
Não me acreditem porque sim. Ou não me façam ignorante porque não. Não vos apelo à crença. Apelo à razão.
Como vêem não estou do lado da maioria. Mas sei que o bem e o certo não são definidos por maior número. Pela política é fácil assim se fazer crer, pois que se vai a pouco e pouco, omitindo palavras e acontecimentos que invocam valores ou a falta deles, pois como escreveu um dia Adriano Moreira, “o silêncio é, no processo político, uma fonte documental tão importante como o discurso. Aquilo que se esconde está em luta com aquilo que se ostenta”. E à força de não os falarem, tornam-nos inexistentes; e promovendo valores opostos, tornam-nos únicos.
Porque me mantenho crente? Porque no fundo sou um Sebastianista, que acredita que por mais cerrado que seja o nevoeiro caído sobre Portugal, sempre se chegará a bom porto, sempre se acabará por aceitar aquilo que Eduardo Freitas da Costa chamou de Projecto Nacional, e que mais não é que o desejo uno que todos, sem excepção, querem ver realizado em Portugal, sabendo que isso também se encontra na dependência da adesão de cada um, último passo da liberdade individual.
Tuesday, January 20, 2009
Prof. Costa Leite Lumbrales e a Universidade
"Nesta Universidade se formou(Salazar), nesta escola deu as suas aulas, dela saiu para realizar uma grande obra nacional que é o desenvolvimento lógico da sua actividade de intelectual. O seu espírito traduz também o espírito desta escola, velha mas cheia de mocidade, da mocidade que lhe emprestais e daquela com que procura sempre desempenhar a sua missão, servir os mais altos ideais, contribuir para o engrandecimento da Nação. Tem sido essa sempre a missão da Universidade de Coimbra, a sua tradição: ser alheia a lutas que dividam mas não aos movimentos que interessam à vida e ao engrandecimento da Nação. Não é política a Universidade; a sua missão é procurar a verdade, alheia a partidos, a sectarismos e a paixões. Mas porque é portuguesa e sempre tem servido a Nação, nunca foi surda ao apelo que esta lhe fizesse para a servir e engrandecer...
Foi moda em tempos dizer que a missão do intelectual é um devaneio do espírito, uma ânsia vaga de construir sistemas e agitar ideias, um desprendimento do mundo exterior — não só nas comodidades que oferece, mas nas realidades que parece impor. Que a verdade está dentro de cada um, ou melhor, que é cada um que cria a sua verdade, alheia aos outros, alheia ao mundo, porque o mundo é ele.
A Universidade trabalha sem cansaço para encontrar a verdade, para ensinar os homens a procurá-la e servi-la. Por isso serviu sempre a Nação como realidade indiscutível, sem dobrar a verdade aos interesses da política e sem se recusar em nome da ciência a servir a Nação. Uma e outra têm o seu lugar numa mesma escala de valores, uma e outra vivem da Verdade, e para servi-la.
Há sempre porém, quem repita a pergunta de Pilatos; mas certo é que a Verdade se revela a quem tem fé e quer conhecê-la, e quando o orgulho dos homens os leva a desprezá-la, ela mostra bem duramente, como nos nossos dias, que não consente a vida aos que pensam ter dentro de si a sua essência."
João Pinto da Costa Leite (Lumbrales), Uma importante data comemorativa (Conf. do Prof. JPCLL sob o título: Salazar, professor e homem de Estado, lida no dia 27 de Abril de 1938, na Sala dos Capelos da Univ. de Coimbra), in Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra vol.15, ano 1938-39, p.397-398
Tuesday, January 13, 2009
As palavras de Afonso Queiró
Palavras proferidas pelo Director da Faculdade de Direito, Doutor Afonso Rodrigues Queiró, no funeral do Doutor António de Oliveira Salazar, em 27 de Julho de 1970.
SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA
SENHOR PRESIDENTE DO CONSELHO
SENHORES VICE-PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA NACIONAL E PRESIDENTE DA CÂMARA CORPORATIVA
SENHORES MINISTROS, SECRETÁRIOS E SUBSECRETÁRIOS DE ESTADO
SENHORA VICE-REITORA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
MINHAS SENHORAS E MEUS SENHORES
Não sei desde quando vem sendo praxe académica usarem os decanos das Faculdades de Coimbra da palavra na circunstância do enterramento dos seus professores, para exaltarem a sua personalidade e celebrarem seus merecimentos e suas obras; sei apenas que ora me apetece infringi-la, a essa praxe, tanto excede os meus dotes desempenhar-me adequadamente da obrigação de o fazer em relação à figura insigne de professor que foi o Doutor António de Oliveira Salazar.
Creio, aliás, que, em alturas como esta, se deveriam omitir palavras profanas, que mais nos fazem reparar nas coisas precárias e caducas da existência terrena dos homens do que meditar nas eternas e transcendentes para que o supremo transç da morte inevitavelmente aponta.
Sem timbre na minha voz nem vigor no meu verbo que me elevem à altura do encargo de traçar aqui o perfil do Homem, em toda a sua grandeza, direi simplesmente, em dois apontamentos, muito breves, do professor — um professor que parecia, em Coimbra, pela austeridade da vida, pela simplicidade quase monacal dos hábitos, pela autoridade moral, pela plena dedicação e amor às tarefas do espírito, pelo equilíbrio do pensamento e da acção, pela dignidade do porte, pela seriedade em tudo posta, um clérigo-doutor que, tendo vivido e ensinado séculos antes no Studiutn Generale, miraculosamente houvesse transposto os sucessivos tempos secularizantes para, em pleno século XX, servir de paradigma a universitários, de exemplo a estudantes e de modelo a todos.
Ora sucedeu que esse professor o foi de um feixe de disciplinas que imediata ou indirectamente tinham que ver com os problemas mais candentes da existência colectiva do nosso País nos anos vinte e seguintes, quais eram principalmente, como toda a gente sabe, o da situação caótica das suas finanças, o da carência de um mínimo de infraestruturas, o do atraso da sua economia e o da desordem política e social; e que o seu ensino delas — designadamente da Ciência das Finanças, da Economia Política e da Economia Social — não fora teórico e conceptualista, racionalista e livresco: fora vivo e aderente às realidades nacionais, constantemente por ele invocadas para desmentir ou confirmar teses e doutrinas.
Quer dizer: a Escola preparou o estadista em que, passada uma década, pouco mais ou menos, sobre o início da sua docência, veio a transformar-se o professor. As soluções que, primeiro na pasta das Finanças e depois na chefia do Governo, fez consagrar nas leis e na diuturna acção política e administrativa, tinha-as ele perfilhado já nas suas aulas desde que em Coimbra sucedera a Marnoco e Sousa no ensino das disciplinas econó-mico-sociais da Licenciatura em Direito.
De tal modo os cursos de Oliveira Salazar haviam sido já, em si, um projecto de acção política, Logos e Praxis entrelaçados e conviventes, de acordo com a ideia de que «a ciência é uma forma de actuar», que mal daria por que ele passara da cátedra de Coimbra para a cadeira curul do Terreiro do Paço quem pudesse figurar-se a ouvi-lo, sem estar ao corrente desse facto, a fazer certas das suas lições universitárias ou a ler os preâmbulos e exposições de motivos de algumas das suas grandes reformas legislativas ou o texto de determinados discursos seus, sobre temas politico-sociais.
É que, na verdade, Oliveira Salazar, uma vez no Governo, continuou igual a si próprio: perante o grande auditório do País, continuou a ser o professor que fora, ante os seus alunos, atentos e maravilhados, nas aulas.
Aliás, não foram apenas a dignidade da palavra e a objectividade imperturbável e intransigente das ideias que fizeram compreender e sentir a toda a gente que o professor universitário se transferira, sem se transmudar, de Coimbra para Lisboa.
Levou também consigo, para o aplicar e fazer observar no governo e na administração pública, sem desfalecimentos, todo o cabedal daqueles princípios deontológicos que, ele e outros grandes Mestres da Faculdade de Direito, seus contemporâneos, tinham definitivamente firmado e feito triunfar no seio dela, reagindo, obstinada a quase heroicamente, contra as expressões mais degradantes da corrupção que havia penetrado na própria Universidade, a partir da sociedade política da época da baixo liberalismo.
Mais do que professor, entendido como especialista ou bom conhecedor de certa ou certas matérias, o Doutor Oliveira Salazar foi, porém, um filósofo das coisas sociais e políticas — e foi como tal que ele veio a ser governante excepcionalíssimo. Não é o professor de Finanças, de Economia e de Direito Fiscal que marcou uma época na vida política da Nação, por grandes e benéficas que tenham sido, e foram-no, realmente, no consenso geral, as consequências da sua acção na governação do País, à frente do departamento da Fazenda. Marcou uma época na nossa História, de preferência, o filósofo que se encobria na figura do professor universitário — bastando que o Destino lhe proporcionasse a ocasião, para o poder revelar, à frente do Executivo. Platão disse, no diálogo da República, que seria bom qde os filósofos se tornassem reis ou que os reis e os príncipes se tornassem filósofos. Verificou-se com Salazar, no nosso País, durante dezenas de anos, este voto. Salazar foi filósofo, porque o ornou a sabedoria, a coragem, a temperança e o espírito de justiça — virtudes cardiais do homem de Estado, como nesse diálogo se defende; foi-o, ainda, na medida em que desprezou a opinião e pôs toda a sua fé no saber e na ciência — e foi filósofo, finalmente, enquanto soube elevar-se à altura da expressão teorética das suas próprias ideias e conceitos sobre o Estado e a governação.
Eis, Senhoras e Senhores, uma das facetas do Homem que vamos deixar aqui, para sempre — a única, repito, que julguei ser do meu dever, na qualidade em que vos falo, pôr muito concisamente em destaque. Esse Homem não morreu. Vive, e viverá, porque subiu e passou definitivamente a pertencer ao mundo imperecível do Espírito.
Disse.
(Publicado no Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, vol.46, 1970, pág. 220 e ss)
Sunday, November 23, 2008
Exmos Senhores, Comunico-lhes o seguinte
Gosto muito de livrarias. E será também por isso que muito me agrada passear pelo Chiado.
Ontem, antes de ir para o Teatro Nacional de São Carlos, onde está em cena o Quebra Nozes, decidi visitar a Sá da Costa, que pensava já ser outra coisa qualquer. Para minha alegria, informou-me um dos empregados que estavam no balcão, que ainda se mantém o mesmo nome, e que estão apenas em remodelação.
As ultimas vezes que lá havia ido, as salas do fundo estão sem acesso. Não foi o caso de ontem. Pude então viajar por todos aqueles salões literários. Foi uma maravilha, embora se tenha perdido uma das coisas que mais me agradava naquela livraria, e que me parece, lhe concedia um ar idílico: já não há montanhas de livros desarrumadas onde me perdia durante horas em busca de uma pérola perdida.
Já não há mesas desarrumadas, mas as pérolas mantém-se.
E apesar de esta estar lá num canto cheio de pó e solitário, não deixei que desta me fugisse e me escapasse de novo. Era o último. Mas agora é meu!
Ecce Opus.
Ontem, antes de ir para o Teatro Nacional de São Carlos, onde está em cena o Quebra Nozes, decidi visitar a Sá da Costa, que pensava já ser outra coisa qualquer. Para minha alegria, informou-me um dos empregados que estavam no balcão, que ainda se mantém o mesmo nome, e que estão apenas em remodelação.
As ultimas vezes que lá havia ido, as salas do fundo estão sem acesso. Não foi o caso de ontem. Pude então viajar por todos aqueles salões literários. Foi uma maravilha, embora se tenha perdido uma das coisas que mais me agradava naquela livraria, e que me parece, lhe concedia um ar idílico: já não há montanhas de livros desarrumadas onde me perdia durante horas em busca de uma pérola perdida.
Já não há mesas desarrumadas, mas as pérolas mantém-se.
E apesar de esta estar lá num canto cheio de pó e solitário, não deixei que desta me fugisse e me escapasse de novo. Era o último. Mas agora é meu!
Ecce Opus.
Sunday, November 02, 2008
Alguns Motivos pelo Museu, na senda d' "A História de um Museu"
(ou seja na senda disto)
"Salazar deixou atrás de si uma herança que pode ser contestada mas não ignorada"Gonçalo Sampaio e Mello
"António de Oliveira Salazar é, queiramos ou não, seja-se a favor ou contra, admires-se ou execre-se, uma figura incontornável da nossa vida colectiva recente"António José Ferreira
"P. S. Desculpe-me o leitor mas não resisto a uma comparação entre fatos ocorridos sob o "opressivo regime salazarista" e o dito "das mais amplas liberdades".
A Faculdade de Direito de Lisboa, a cujo corpo docente pertenci durante 41 anos, foi fundada por Afonso Costa, o estadista que nos primeiros anos da República em Portugal concitou contra ele, pêlos seus actos e atitudes, ferocíssimos ódios dos adversários e até de correligionários. Durante muitos anos não se podia falar no seu nome diante de um católico sem ouvir a mais crua manifestação de repugnância e reprovação: ele era a própria encarnação de Belzebu...
Quando a Faculdade foi instalada no magnífico edifício construído pelo governo de Salazar, a congregação dos professores resolveu pedir ao Ministério da Educação Nacional que mandasse pintar os retratos dos antigos directores para figurarem numa galeria de honra. O Ministro deferiu e os retratos começaram a ser executados; mas o de Afonso Costa, que tinha sido o primeiro Director, não aparecia. Soube-se então que havia no Ministério quem fizesse obstrução a que tal personagem aparecesse homenageado num edifício público.
Em reunião do Conselho da Faculdade insurgi-me contra o fato. Defendi a tese de que naquela escola só interessava saber quem a serviu, quem a ela se dedicara e lhe prestara serviços, independentemente do juízo pessoal ou público acerca das opiniões e dos actos políticos de cada um. E propus que, para evitar quaisquer dificuldades oficiais, o retraio de Afonso Costa fosse mandado executar e pago pêlos professores que tinham estudado e ensinavam na escola por ele criada. Aprovada a proposta, com voto contrário de apenas três professores que logo se recusaram a contribuir, foi o retraio encomendado a um pintor que se sabia ser grande admirador de Afonso Costa e pago por nós. O retraio, inaugurado no melhor lugar da imponente sala do Conselho da Faculdade, foi visto, daí por diante, por ministros e autoridades oficiais sem qualquer reparo.
Raia a aurora das mais amplas liberdades em 25 de Abril de 1974. Na primeira reunião após o acontecimento o Conselho da Faculdade aprova, por unanimidade(1), uma moção em que, recordando os serviços prestados durante tantos anos à escola pelo professor que acabava de ser deposto da presidência do Conselho de Ministros, faz votos por que ainda um dia o veja de novo restituído à Cátedra que honrou: e esse voto foi bastante para que todos quantos nele participaram se vissem privados dos seus lugares, afastados do ensino, "saneados" como se dizia, sem forma de processo.
Aí está como em Portugal num lado se põe o ramo e noutro se vende o vinho.
______________________________
(l) Na ausência do Dr. Diogo Freitas do Amaral. Este meu antigo assistente e dedicado colaborador tem declarado repetidas vezes que se estivesse presente seria incapaz de votar o que se votou..." Marcello Caetano
"Salazar deixou atrás de si uma herança que pode ser contestada mas não ignorada"Gonçalo Sampaio e Mello
"António de Oliveira Salazar é, queiramos ou não, seja-se a favor ou contra, admires-se ou execre-se, uma figura incontornável da nossa vida colectiva recente"António José Ferreira
"P. S. Desculpe-me o leitor mas não resisto a uma comparação entre fatos ocorridos sob o "opressivo regime salazarista" e o dito "das mais amplas liberdades".
A Faculdade de Direito de Lisboa, a cujo corpo docente pertenci durante 41 anos, foi fundada por Afonso Costa, o estadista que nos primeiros anos da República em Portugal concitou contra ele, pêlos seus actos e atitudes, ferocíssimos ódios dos adversários e até de correligionários. Durante muitos anos não se podia falar no seu nome diante de um católico sem ouvir a mais crua manifestação de repugnância e reprovação: ele era a própria encarnação de Belzebu...
Quando a Faculdade foi instalada no magnífico edifício construído pelo governo de Salazar, a congregação dos professores resolveu pedir ao Ministério da Educação Nacional que mandasse pintar os retratos dos antigos directores para figurarem numa galeria de honra. O Ministro deferiu e os retratos começaram a ser executados; mas o de Afonso Costa, que tinha sido o primeiro Director, não aparecia. Soube-se então que havia no Ministério quem fizesse obstrução a que tal personagem aparecesse homenageado num edifício público.
Em reunião do Conselho da Faculdade insurgi-me contra o fato. Defendi a tese de que naquela escola só interessava saber quem a serviu, quem a ela se dedicara e lhe prestara serviços, independentemente do juízo pessoal ou público acerca das opiniões e dos actos políticos de cada um. E propus que, para evitar quaisquer dificuldades oficiais, o retraio de Afonso Costa fosse mandado executar e pago pêlos professores que tinham estudado e ensinavam na escola por ele criada. Aprovada a proposta, com voto contrário de apenas três professores que logo se recusaram a contribuir, foi o retraio encomendado a um pintor que se sabia ser grande admirador de Afonso Costa e pago por nós. O retraio, inaugurado no melhor lugar da imponente sala do Conselho da Faculdade, foi visto, daí por diante, por ministros e autoridades oficiais sem qualquer reparo.
Raia a aurora das mais amplas liberdades em 25 de Abril de 1974. Na primeira reunião após o acontecimento o Conselho da Faculdade aprova, por unanimidade(1), uma moção em que, recordando os serviços prestados durante tantos anos à escola pelo professor que acabava de ser deposto da presidência do Conselho de Ministros, faz votos por que ainda um dia o veja de novo restituído à Cátedra que honrou: e esse voto foi bastante para que todos quantos nele participaram se vissem privados dos seus lugares, afastados do ensino, "saneados" como se dizia, sem forma de processo.
Aí está como em Portugal num lado se põe o ramo e noutro se vende o vinho.
______________________________
(l) Na ausência do Dr. Diogo Freitas do Amaral. Este meu antigo assistente e dedicado colaborador tem declarado repetidas vezes que se estivesse presente seria incapaz de votar o que se votou..." Marcello Caetano
A História de um Museu
A Revista Pública que acompanha o Jornal Público de hoje dedica algumas das suas páginas ao tema - que pensava já esquecido - do Museu Salazar.
(Clicar nas Imagens para aumentar)
Citando aqui apenas uma das algumas frases do chefe de gabinete do presidente da Câmara de Santa Comba Dão, não deixo de elogiar o seu discurso por o considerar realista.
Verdadeiramente acho que o que a URAP (União dos Resistentes Anti-Fascistas Portugueses) é por si só um direito mal concedido. Não que não tivessem o direito a formar-se ou que não tenham o seu direito a manifestar-se. Mas os direitos são fonte de liberdade. Não são fonte de fim de liberdade. São contra o museu? Muito Bem - não o visitem.
Porque quer queiram quer não, a história já foi feita, independentemente do que dela se diga. Não se apaga. Hoje apenas a tentamos guarda-la, escrevê-la para memória futura. Não vale a pena fingir que não existiu. E hoje sobre ela recaiem divergentes julgamentos.
Mas começo a pensar porque não criar a URACP (União dos Resistentes Anti-Comunismo Portugueses) para que, ambos, possam passar o tempo a fazer frente e lutar contra as iniciativas e projectos de um e outro - e reparem aqui ninguém luta contra obras, luta contra iniciativas e projectos. Projectos esses que se baseiam numa realidade que é a seguinte: 95% da população da vila é pelo Museu; há milhares de pessoas visitam Santa Comba Dão para ver a casa onde nasceu, o túmulo, os locais que Salazar frequentava, e ainda a estátua, que destruida no 25 de Abril, muitos supõem que ainda exista, e desiludidos ficam ao tomar conhecimento da realidade.
Quem o diz não sou eu. É Miguel Cunha, no artigo que aqui vos deixo.
"A todos os que me criticam, eu só lanço um desafio: venham para cá criar empregos"Miguel Cunha
(Clicar nas Imagens para aumentar)
Citando aqui apenas uma das algumas frases do chefe de gabinete do presidente da Câmara de Santa Comba Dão, não deixo de elogiar o seu discurso por o considerar realista.
Verdadeiramente acho que o que a URAP (União dos Resistentes Anti-Fascistas Portugueses) é por si só um direito mal concedido. Não que não tivessem o direito a formar-se ou que não tenham o seu direito a manifestar-se. Mas os direitos são fonte de liberdade. Não são fonte de fim de liberdade. São contra o museu? Muito Bem - não o visitem.
Porque quer queiram quer não, a história já foi feita, independentemente do que dela se diga. Não se apaga. Hoje apenas a tentamos guarda-la, escrevê-la para memória futura. Não vale a pena fingir que não existiu. E hoje sobre ela recaiem divergentes julgamentos.
Mas começo a pensar porque não criar a URACP (União dos Resistentes Anti-Comunismo Portugueses) para que, ambos, possam passar o tempo a fazer frente e lutar contra as iniciativas e projectos de um e outro - e reparem aqui ninguém luta contra obras, luta contra iniciativas e projectos. Projectos esses que se baseiam numa realidade que é a seguinte: 95% da população da vila é pelo Museu; há milhares de pessoas visitam Santa Comba Dão para ver a casa onde nasceu, o túmulo, os locais que Salazar frequentava, e ainda a estátua, que destruida no 25 de Abril, muitos supõem que ainda exista, e desiludidos ficam ao tomar conhecimento da realidade.
Quem o diz não sou eu. É Miguel Cunha, no artigo que aqui vos deixo.
Tuesday, October 28, 2008
O abandono de Salazar
Ao Prof. Gonçalo Sampaio e Mello
(este é o retrato que causou esta notícia)
Postei aqui, um dia, parte de um dos mais belos - e consequentemente um dos meus preferidos - artigos que li sobre Salazar.
Hoje publico a continuação.
O texto é maravilhoso, uma obra de arte. Não lhe fico indiferente.
Primeiramente pelo autor, um dos meus Mestres, a quem, como ensinou e escreveu o Professor Pedro Soares Martinez, devem ser prestadas as devidas homenagens assinalando a divida de gratidão, como discípulo que beneficiou dos seus ensinamentos.
E depois porque o texto está escrito de uma forma magnifica.
Trata-se de um juízo histórico muito real, muito racional, mas ao mesmo tempo muito humano.
O texto (que encontrei num jornal comemorativo do centenário do nascimento de Salazar - tem portanto 20 anos!), não traiu as minhas expectativas. Pelo contrário, o Mestre, como que justificando a razão de ter ocupado esse seu lugar, cumpriu e fez aquilo que dele se esperava: surpreendeu.
Resta-me deixa-lo para que também vós o possais apreciar.
(Aqui fica a continuação do texto antes aqui publicado)
Quer isto dizer que renegava a sua obra? Não. Mas contemplando-se a si mesmo, olhando em redor, conhecendo a terra e o meio sobre que governara durante 40 anos, Salazar havia previsto o seu fim e a sentença da História. E tinha razão.
Ter razão é, no juízo mais simples que se conhece, ver as coisas não como parecem, mas como elas são na realidade
Penetrá-las fundamente ab imo pectore. Salazar teve, pois, razão ao prever, por gestos, palavras e atitudes, o seu abandono e fê-lo como Chateaubriand, para além-túmulo.
Mas ocorre perguntar agora: teria previsto o grau, a latitude desse abandono?
É sabido que nas épocas de ruptura da História de Portugal, muitos são os que desertam do lugar onde se encontram e passam para o campo dos vencedores. Em regra, a grande maioria adapta-se ao novo tempo e dos homens públicos, como do povo, parece precária a lealdade. Mas é certo também que os chefes, em Portugal, mesmo depois de cair, sempre tiveram partidários. Poucos, talvez — mas ilustres. (...)
Mas, é lícito sabê-lo: e Salazar? Quem são, quais são os partidários de Salazar?
Tendo orientado os destinos da nação por quatro décadas, entre 19(28) e 1968, reunido à sua volta figuras eminentes da política, da economia, da ciência, da sociedade, da cultura, conseguindo obter, enquanto vivo, o apoio de grande parte do País, lutando galhardamente até ao fim por uma obra colectiva que o transcendia, recusando para Portugal, o papel de mordomo de interesses estrangeiros — Salazar deixou atrás de si uma herança que pode ser contestada mas não ignorada. Uma herança política, doutrinária e moral.
Mas se existe herança — onde estarão os herdeiros?
Difícil é dizê-lo.
O tempo próximo diluiu a memória das coisas, um véu cobriu a vida pública e entre os amigos, os companheiros, os correligionários, os seguidores, os aduladores, os muitos que andaram pêlos labirintos do Estado Novo, ninguém aparece, com efeito a reclamá-la.
Homens que exerceram funções de governo, que ocuparam cargos de responsabilidade, que serviram na administração pública, no Exército, na diplomacia, na magistratura, no parlamento, na câmara corporativa — desapareceram: calando uns, traindo outros, dissimulando quase todos, numa deserção dir-se-ia que completa, num oportunismo político generalizado. Um houve que guardou silêncio prudente, à espera de ganhar trinta dinheiros: outro negou o que afirmava, passando a afirmar o que negava; outro ainda, político até à medula, correu a louvar os poderosos ou a inscrever-se num partido qualquer, desde que viável; e apareceu até quem, senhor de boa memória, quisesse reviver a fábula de Pedro sobre o burro que, um dia, vendo o leão, rei dos animais, já moribundo, — por ele passou ostensivamente e lhe deu um coice.
De súbito, havia-se feito para surpresa geral, uma descoberta: ninguém tinha afinidade política ou espiritual com Salazar, ninguém tinha «mentalidade de herdeiro», e portanto a herança estava jacente. Bem puderam a calúnia, a má-fé e a vesga paixão ideológica deformar à vontade episódios, ideias e figuras, que, em verdade, ninguém contestou fosse o que fosse ou mandou ad rem quem o fazia. Importava era perder os anéis, para conservar os dedos.
Mas, perguntar-se-á: não houve excepções à regra? Não houve quem tivesse ficado no seu posto?
Com obra notória, de vulto, houve uma, com efeito: a de Franco Nogueira — homem que não era, aliás, nem nunca fora, do regime, tendo apenas servido o País, patrioticamente, numa conjuntura internacional extremamente desfavorável. E outras haveria, por certo. Mas quantas? Quais?
Salazar, escrevendo além-túmulo, tinha razão. Neste reino de vira-casacas e novos-ricos da soberania que é o Portugal de hoje, o que mais importa é ainda meditar na atitude de Pedro e na paixão de Cristo. Elas permitem, entre outras coisas, recordar a cada homem uma grande verdade: que ele não passa de uma hora na história e tudo é efémero sobre a terra. Que, portanto, de pouco lhe vale ser trânsfuga. Salazar estava certo. Velhas mas proféticas palavras.
Gonçalo Sampaio e Mello
in Dossier Semanário, 27 de Abril de 1989
(este é o retrato que causou esta notícia)
Postei aqui, um dia, parte de um dos mais belos - e consequentemente um dos meus preferidos - artigos que li sobre Salazar.
Hoje publico a continuação.
O texto é maravilhoso, uma obra de arte. Não lhe fico indiferente.
Primeiramente pelo autor, um dos meus Mestres, a quem, como ensinou e escreveu o Professor Pedro Soares Martinez, devem ser prestadas as devidas homenagens assinalando a divida de gratidão, como discípulo que beneficiou dos seus ensinamentos.
E depois porque o texto está escrito de uma forma magnifica.
Trata-se de um juízo histórico muito real, muito racional, mas ao mesmo tempo muito humano.
O texto (que encontrei num jornal comemorativo do centenário do nascimento de Salazar - tem portanto 20 anos!), não traiu as minhas expectativas. Pelo contrário, o Mestre, como que justificando a razão de ter ocupado esse seu lugar, cumpriu e fez aquilo que dele se esperava: surpreendeu.
Resta-me deixa-lo para que também vós o possais apreciar.
(Aqui fica a continuação do texto antes aqui publicado)
Quer isto dizer que renegava a sua obra? Não. Mas contemplando-se a si mesmo, olhando em redor, conhecendo a terra e o meio sobre que governara durante 40 anos, Salazar havia previsto o seu fim e a sentença da História. E tinha razão.
Ter razão é, no juízo mais simples que se conhece, ver as coisas não como parecem, mas como elas são na realidade
Penetrá-las fundamente ab imo pectore. Salazar teve, pois, razão ao prever, por gestos, palavras e atitudes, o seu abandono e fê-lo como Chateaubriand, para além-túmulo.
Mas ocorre perguntar agora: teria previsto o grau, a latitude desse abandono?
É sabido que nas épocas de ruptura da História de Portugal, muitos são os que desertam do lugar onde se encontram e passam para o campo dos vencedores. Em regra, a grande maioria adapta-se ao novo tempo e dos homens públicos, como do povo, parece precária a lealdade. Mas é certo também que os chefes, em Portugal, mesmo depois de cair, sempre tiveram partidários. Poucos, talvez — mas ilustres. (...)
Mas, é lícito sabê-lo: e Salazar? Quem são, quais são os partidários de Salazar?
Tendo orientado os destinos da nação por quatro décadas, entre 19(28) e 1968, reunido à sua volta figuras eminentes da política, da economia, da ciência, da sociedade, da cultura, conseguindo obter, enquanto vivo, o apoio de grande parte do País, lutando galhardamente até ao fim por uma obra colectiva que o transcendia, recusando para Portugal, o papel de mordomo de interesses estrangeiros — Salazar deixou atrás de si uma herança que pode ser contestada mas não ignorada. Uma herança política, doutrinária e moral.
Mas se existe herança — onde estarão os herdeiros?
Difícil é dizê-lo.
O tempo próximo diluiu a memória das coisas, um véu cobriu a vida pública e entre os amigos, os companheiros, os correligionários, os seguidores, os aduladores, os muitos que andaram pêlos labirintos do Estado Novo, ninguém aparece, com efeito a reclamá-la.
Homens que exerceram funções de governo, que ocuparam cargos de responsabilidade, que serviram na administração pública, no Exército, na diplomacia, na magistratura, no parlamento, na câmara corporativa — desapareceram: calando uns, traindo outros, dissimulando quase todos, numa deserção dir-se-ia que completa, num oportunismo político generalizado. Um houve que guardou silêncio prudente, à espera de ganhar trinta dinheiros: outro negou o que afirmava, passando a afirmar o que negava; outro ainda, político até à medula, correu a louvar os poderosos ou a inscrever-se num partido qualquer, desde que viável; e apareceu até quem, senhor de boa memória, quisesse reviver a fábula de Pedro sobre o burro que, um dia, vendo o leão, rei dos animais, já moribundo, — por ele passou ostensivamente e lhe deu um coice.
De súbito, havia-se feito para surpresa geral, uma descoberta: ninguém tinha afinidade política ou espiritual com Salazar, ninguém tinha «mentalidade de herdeiro», e portanto a herança estava jacente. Bem puderam a calúnia, a má-fé e a vesga paixão ideológica deformar à vontade episódios, ideias e figuras, que, em verdade, ninguém contestou fosse o que fosse ou mandou ad rem quem o fazia. Importava era perder os anéis, para conservar os dedos.
Mas, perguntar-se-á: não houve excepções à regra? Não houve quem tivesse ficado no seu posto?
Com obra notória, de vulto, houve uma, com efeito: a de Franco Nogueira — homem que não era, aliás, nem nunca fora, do regime, tendo apenas servido o País, patrioticamente, numa conjuntura internacional extremamente desfavorável. E outras haveria, por certo. Mas quantas? Quais?
Salazar, escrevendo além-túmulo, tinha razão. Neste reino de vira-casacas e novos-ricos da soberania que é o Portugal de hoje, o que mais importa é ainda meditar na atitude de Pedro e na paixão de Cristo. Elas permitem, entre outras coisas, recordar a cada homem uma grande verdade: que ele não passa de uma hora na história e tudo é efémero sobre a terra. Que, portanto, de pouco lhe vale ser trânsfuga. Salazar estava certo. Velhas mas proféticas palavras.
Gonçalo Sampaio e Mello
in Dossier Semanário, 27 de Abril de 1989
Friday, September 26, 2008
E já que falámos de Salazar... ou Outra vez Salazar
Eis um dos primeiros testemunhos prestados sobre a pessoa e a obra de Salazar, nas semanas que se seguiram à sua morte, publicado no Diário de Moçambique, da cidade da Beira, em 2 de Agosto. O autor foi o prof. Adriano Moreira.
«De vela ao cadáver de Salazar, fui-me lembrando de muitos acontecimentos relacionados com a vida pública da nossa terra, em que a sua presença foi dominante. E também de alguns relacionados apenas com o seu modo de ser, que marcou o estilo do governo e da administração, e o estilo de uma geração de dirigentes. Dos que o seguiram e dos que o combateram. Todos marcados, na sua intimidade mais funda, pelo homem e pela sua acção.
Recordarei aqui duas imagens persistentes. Numa manhã de domingo, do ano de Angola Mártir, fui visitá-lo ao forte do Estoril. Como cheguei a pé, não tocaram a sineta que habitualmente chamava para abrirem os portões do caminho de acesso dos automóveis. Subi a breve escada que ali existe. Ao fundo do pátio, onde se encontra a capela, as portas desta estavam abertas. De frente para o altar, a sós com Deus, Salazar cuidava da toalha, e das flores e das velas. Pensei que não tinha o direito de surpreender esta intimidade. Regressei vagaroso pelo mesmo caminho. Pedi para tocarem a sineta. Quando voltei a subir a breve escada do pátio, já ele estava sentado na sua velha cadeira, mergulhado nos negócios do Estado. Era a imagem de um homem de fé segura, sabendo que haveria de prestar contas. A brevidade da vida iluminada pelos valores eternos. O poder ao serviço de uma ética que o antecede e transcende.
Acrescento outra imagem desse tempo. Recordo os discursos, as notas, as entrevistas, as declarações, em que sucessivamente definia a doutrina nacional de sempre para a crise da época. Tudo escrito pela sua mão. Mas depois, não obstante a urgência e a autoridade pessoal, tinha a humildade de chamar os colaboradores e, em conjunto, discutir, e emendar. A grandeza natural de quem pode aceitar dos outros, sendo sempre o primeiro.
E assim foi exercendo o seu magistério. Com fé em Deus e recebendo agradecido os ensinamentos do povo. Porque nunca pretendeu sabedoria superior à de entender e executar o projecto nacional. E nunca quis mais do que amar até ao último detalhe a maneira portuguesa de estar no mundo, preservando e acrescentando a herança.
O Ultramar foi a última das suas preocupações maiores. Como se, ao crescer em anos e diminuir em vida, quisesse guardar todas as energias para sublinhar a essência das coisas. Todos os cuidados para a trave mestra. Doendo-se por cada jovem sacrificado. Rezando, e esperando que o sacrifício fosse atendido e recompensado. De joelhos perante Deus e de pé diante dos homens. Humilde com o seu povo, orgulhoso perante o mundo.
Assim viveu, acertando ou com erros, mas sempre autêntico. Com princípios. O único remédio conhecido contra a corrupção do poder. E muito principalmente quando se trata de um poder carismático, como era o seu caso. Um desses homens raros que a fadiga da propaganda não consegue multiplicar. Porque ou as vozes vêm do alto ou não existem. Não há processo de substituir o carisma. Por isso, também, essa luz, que tão raramente se acende, é toda absorvida pelo povo, o único herdeiro. Soma-se ao património geral. Inscreve-se no livro de todos. Pertence à História. Transforma-se em raiz.»
Adriano Moreira
In A Rua, n.º 56, 28.04.1977, pág. 14.
Coisas que Quero Guardar: Futuro Presente
Celebramos a alegria que é a de podermos ler a Futuro Presente.
As férias são para mim momentos importantes de estudo. E a Futuro Presente é uma excelente companhia que une atributos necessários e que facilitam esta minha tarefa: qualidade e quantidade.
Por essa razão, aqui deixo algumas leituras que nos parecem recheadas de interesse e que quero que permaneçam no meu baú, para mais tarde recordar.
“Os Anos de Salazar” de Nuno Rogeiro
SALAZAR GRANDE E PEQUENO 1
SALAZAR EM GRANDE E PEQUENO 2:O QUE É SER GRANDE
SALAZAR EM GRANDE E PEQUENO 3:AS ÉPOCAS DE SALAZAR(I)
SALAZAR EM GRANDE E PEQUENO 4:AS ÉPOCAS DE SALAZAR(II)
SALAZAR EM GRANDE E PEQUENO 5:O HETERÓNIMO DE PESSOA
“Ser Conservador: A Versão Anglo-Saxónica” de Miguel Freitas da Costa
SER CONSERVADOR: A VERSÃO ANGLO-SAXÓNICA - 1
SER CONSERVADOR: A VERSÃO ANGLO-SAXÓNICA - 2
SER CONSERVADOR: A VERSÃO ANGLO-SAXÓNICA - 3
SER CONSERVADOR: A VERSÃO ANGLO-SAXÓNICA - 4
SER CONSERVADOR: A VERSÃO ANGLO-SAXÓNICA - 5
SER CONSERVADOR: A VERSÃO ANGLO-SAXÓNICA - 6
SER CONSERVADOR: A VERSÃO ANGLO-SAXÓNICA - 7
A Transição Jaime Nogueira Pinto
A TRANSIÇÃO(APONTAMENTOS QUASE PESSOAIS)I
A TRANSIÇÃO (II): OS CANDIDATOS
MAIS "MEMÓRIAS DA TRANSIÇÃO" - III: O CLIMA CULTURAL
As férias são para mim momentos importantes de estudo. E a Futuro Presente é uma excelente companhia que une atributos necessários e que facilitam esta minha tarefa: qualidade e quantidade.
Por essa razão, aqui deixo algumas leituras que nos parecem recheadas de interesse e que quero que permaneçam no meu baú, para mais tarde recordar.
“Os Anos de Salazar” de Nuno Rogeiro
SALAZAR GRANDE E PEQUENO 1
SALAZAR EM GRANDE E PEQUENO 2:O QUE É SER GRANDE
SALAZAR EM GRANDE E PEQUENO 3:AS ÉPOCAS DE SALAZAR(I)
SALAZAR EM GRANDE E PEQUENO 4:AS ÉPOCAS DE SALAZAR(II)
SALAZAR EM GRANDE E PEQUENO 5:O HETERÓNIMO DE PESSOA
“Ser Conservador: A Versão Anglo-Saxónica” de Miguel Freitas da Costa
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A Transição Jaime Nogueira Pinto
A TRANSIÇÃO(APONTAMENTOS QUASE PESSOAIS)I
A TRANSIÇÃO (II): OS CANDIDATOS
MAIS "MEMÓRIAS DA TRANSIÇÃO" - III: O CLIMA CULTURAL
"O Que é a Verdade?"
Iniciei hoje a leitura de um novo livro, de edição recente. O autor é um dos maiores juristas portugueses da actualidade: o Professor Doutor Paulo Otero, Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. E o tema é Salazar.
A Obra intitula-se Os Últimos Meses de Salazar - Agosto de 1968 a Julho de 1970 e é editada pela Almedina.
Tem como objectivo desbravar um período pouco discutido da vida de Salazar: os dois últimos anos de vida, em que sofre um acidente, fica incapacitado de governar, e vive os seus últimos dias em São Bento sobre uma farsa que foi montada à sua volta.
O livro, diz-nos o seu autor, não é uma obra como aquelas a que nos acostumamos a ler sobre Salazar. Aqui encontraremos uma homem, fraco, dependente e doente e não o político forte e autoritário. Talvez, arrisco a dizê-lo, um retrato humano, no sentido em que vemos realmente um homem, que do tudo passou ao nada. É o momento, é a situação, é a sequência de acontecimentos que levaram Fernando Dacosta a exclamar um dia, como nos conta na sua obra As Máscaras de Salazar, que até ao momento em que o Presidente do Conselho caiu da cadeira, ele considerava-o verdadeiramente um ser imortal e sem fragilidades.
Reforço esta minha ideia com uma outra diferente que nos é dada pelo próprio autor, que escreve logo no início: Trata-se de "uma reflexão sobre as relações entre a amizade e o poder: quem já teve o poder e deixou de o possuir, sem esperança de o recuperar, só então sabe quem são os seus amigos."
Outro ponto a ter em conta, e que o autor não prescinde de afirmar em Nota Prévia, é o facto de que para se compreender o 25 de Abril, ou antes, para o justificar-mos - não para o legitimar-mos, mas para o entendermos e para, nas próprias palavras do autor, compreendermos "as raízes do 25 de Abril" - é importante estudar-se este período de tempo, em que vemos um Américo Thomas publicamente oculto mas politicamente demasiado interventivo, e um Marcello Caetano que se foi "queimando" num jogo político que afirmava não ser seu forte, em grande parte por culpa de Américo Thomaz.
O autor diz-nos que Marcello Caetano "instrumentalizou Salazar" apesar de muito o respeitar, mas ao longo da leitura (e eu ainda não terminei) parece que poderemos dizer que ele próprio foi instrumentalizado por Américo Thomaz.
Por outro lado um livro revela-se cheio de interesse pelo debate que nele reside. O livro é da autoria de um professor, e como tal, ela é construída de forma didáctica. Perante cada questão colocada, o autor revela-nos as várias posições dos diversos autores e os argumentos que usam para sustentarem as suas teses, sendo que só no final de cada problema colocado encontraremos a opinião do autor; e também por nos tentar transmitir um pouco do que ocorreria na cabeça de Salazar vendo o que sucedia diante de si: a sua incapacidade e a sua sucessão, o seu "sequestro" em São Bento e o "novo mundo" que lá foi montado, como nos conta Paulo Otero.
Enfim, parece um leitura deveras interessante.
A Obra intitula-se Os Últimos Meses de Salazar - Agosto de 1968 a Julho de 1970 e é editada pela Almedina.
Tem como objectivo desbravar um período pouco discutido da vida de Salazar: os dois últimos anos de vida, em que sofre um acidente, fica incapacitado de governar, e vive os seus últimos dias em São Bento sobre uma farsa que foi montada à sua volta.
O livro, diz-nos o seu autor, não é uma obra como aquelas a que nos acostumamos a ler sobre Salazar. Aqui encontraremos uma homem, fraco, dependente e doente e não o político forte e autoritário. Talvez, arrisco a dizê-lo, um retrato humano, no sentido em que vemos realmente um homem, que do tudo passou ao nada. É o momento, é a situação, é a sequência de acontecimentos que levaram Fernando Dacosta a exclamar um dia, como nos conta na sua obra As Máscaras de Salazar, que até ao momento em que o Presidente do Conselho caiu da cadeira, ele considerava-o verdadeiramente um ser imortal e sem fragilidades.
Reforço esta minha ideia com uma outra diferente que nos é dada pelo próprio autor, que escreve logo no início: Trata-se de "uma reflexão sobre as relações entre a amizade e o poder: quem já teve o poder e deixou de o possuir, sem esperança de o recuperar, só então sabe quem são os seus amigos."
Outro ponto a ter em conta, e que o autor não prescinde de afirmar em Nota Prévia, é o facto de que para se compreender o 25 de Abril, ou antes, para o justificar-mos - não para o legitimar-mos, mas para o entendermos e para, nas próprias palavras do autor, compreendermos "as raízes do 25 de Abril" - é importante estudar-se este período de tempo, em que vemos um Américo Thomas publicamente oculto mas politicamente demasiado interventivo, e um Marcello Caetano que se foi "queimando" num jogo político que afirmava não ser seu forte, em grande parte por culpa de Américo Thomaz.
O autor diz-nos que Marcello Caetano "instrumentalizou Salazar" apesar de muito o respeitar, mas ao longo da leitura (e eu ainda não terminei) parece que poderemos dizer que ele próprio foi instrumentalizado por Américo Thomaz.
Por outro lado um livro revela-se cheio de interesse pelo debate que nele reside. O livro é da autoria de um professor, e como tal, ela é construída de forma didáctica. Perante cada questão colocada, o autor revela-nos as várias posições dos diversos autores e os argumentos que usam para sustentarem as suas teses, sendo que só no final de cada problema colocado encontraremos a opinião do autor; e também por nos tentar transmitir um pouco do que ocorreria na cabeça de Salazar vendo o que sucedia diante de si: a sua incapacidade e a sua sucessão, o seu "sequestro" em São Bento e o "novo mundo" que lá foi montado, como nos conta Paulo Otero.
Enfim, parece um leitura deveras interessante.
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Wednesday, May 28, 2008
Feira do Livro: 1ª Volta
Sendo longa a minha ausência nestas lides, e devendo algo aos leitores que, mesmo perante uma ausência de escrita, por aqui passam, cabe-me em jeito de redenção, informá-los das minhas compras de ontem à tarde. O local foi a Feira do Livro. O tempo foram aquelas duas horas em que a chuva não me enfrentou nem levou a melhor- sim porque mal começou a chover, corri para casa. Vi meia dúzia de barracas. Muito ainda ficou por ver. Esta prometida uma segunda volta.
Aqui ficam:
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Monday, April 28, 2008
A Alegria de haver Afinidades
Sem me surpreender, pois sabia que não se iria esquecer, também não deixo de postar hoje sobre a efeméride do dia. Não em jeito de culto saudosista, mas parece-me sempre irónico acabar de postar sobre o 25 de Abril e agora postar sobre Salazar, em mais um aniversário do seu nascimento.
Frases retiradas, claro está, do maior museu temático do país.
(em jeito de homenagem)
«Ensinai aos vossos filhos o trabalho, ensinai às vossas filhas a modéstia, ensinai a todos a virtude da economia. E se não poderdes fazer deles santos, fazei ao menos deles cristãos»
«…as liberdades interessam na medida em que podem ser exercidas, e não na medida em que são promulgadas»
Frases retiradas, claro está, do maior museu temático do país.
(em jeito de homenagem)
Monday, April 21, 2008
Centenário do Professor Paulo Cunha
Celebra-se este ano os 100 anos do nascimento do Prof. Dr. Paulo Cunha, advogado, professor Catedrático de Ciências Jurídicas, procurador da Câmara Corporativa na secção da Justiça, Ministro dos Negócios Estrangeiros, Embaixador, autor de diversos livros e opúsculos sobre assuntos jurídicos, volumes de lições universitárias e artigos publicados em revista de Direito.
Foi o único que obteve a classificação de «muito bom» na prova escrita do concurso para o cargo de Professor Extraordinário da Faculdade de Direito de Lisboa, sendo só igualado em 1956 pelo Prof. Dr. Pedro Soares Martinez.
É engraçado vê-lo hoje ser recordado por alunos seus, como é o caso do Prof. Dr. António Menezes Cordeiro, também Catedrático e outro génio do Direito, nas vésperas da comemoração do seu centésimo aniversário.
Lembre-se que o Prof. Paulo Cunha nasceu em Setembro de 1908, pelo que no mesmo mês do corrente ano devem ser publicados os respectivos estudos comemorativos que ainda se encontram em preparação. Para já ficamos com o capítulo da autoria do Prof. Dr. Menezes Cordeiro, intitulado Da Confirmação no Direito Civil.
Uma obra de grande interesse para qualquer jurista.
Foi o único que obteve a classificação de «muito bom» na prova escrita do concurso para o cargo de Professor Extraordinário da Faculdade de Direito de Lisboa, sendo só igualado em 1956 pelo Prof. Dr. Pedro Soares Martinez.
É engraçado vê-lo hoje ser recordado por alunos seus, como é o caso do Prof. Dr. António Menezes Cordeiro, também Catedrático e outro génio do Direito, nas vésperas da comemoração do seu centésimo aniversário.
Lembre-se que o Prof. Paulo Cunha nasceu em Setembro de 1908, pelo que no mesmo mês do corrente ano devem ser publicados os respectivos estudos comemorativos que ainda se encontram em preparação. Para já ficamos com o capítulo da autoria do Prof. Dr. Menezes Cordeiro, intitulado Da Confirmação no Direito Civil.
Uma obra de grande interesse para qualquer jurista.
Friday, April 11, 2008
Salazar - O Outro Retrato
A afabilidade em privado foi a característica e Salazar mais realçada na sessão de apresentação do livro "os meus 35 anos com Salazar", um relato de Maria da Conceição de Melo Rita - em livro escrito pelo jornalista Joaquim Vieira - que apresenta o ditador na sua intimidade.
"Salazar era um homem bom", foi assim que José Hermano Saraiva, historiador e ministro da Educação do Estado Novo, definiu o homem que durante mais de 30 anos governou Portugal.
Para o historiador, "a História é feita de patranhas e mentiras", e aquilo que sobreviveu até hoje foi uma imagem implacável de Salazar, o que no seu entender, não é verdade, acrescentando que "à medida que o tempo passar o nome de Salazar será cada vez maior".
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Thursday, February 21, 2008
SALAZAR, O ABANDONO
«Hão-de dizer muito mal de mim. É por isso que eu dou importância à publicação dos livros brancos: explicarão como se defenderam os direitos portugueses, e o cuidado e o pormenor com que isso se fez.»
Por entre o rol dos discursos de Salazar, existe uma página particularmente significativa no que se refere à sua capacidade de prever o futuro. Foi escrita em 1958, quando já trinta anos tinham corrido sobre o momento em que tomara conta da pasta das Finanças para não mais deixar o governo do País. Mas poderia tê-lo sido hoje, tão actual e lúcida se revela no julgamento dos homens e no abandono a que a história o havia de condenar post mortem.
Refiro-me ao seu discurso de 1 de Julho de 1958.
Como é sabido, Salazar nunca improvisou o pensamento ou a palavra.
Meditava, concebia, compunha em silêncio, e lia depois em público o que havia elaborado na intimidade do seu gabinete. De onde o rigor terminológico e doutrinário das suas intervenções, e também da peça que nos importa reter aqui.
Naquele texto, após aludir ao problema da longevidade dos governantes e considerar que a questão se colocava em Portugal relativamente a si próprio, o então Chefe do Govemo rematava com duas importantes passagens do Novo Testamento, ambas extraídas da paixão de Cristo: o abandono do Mestre e a traição de S. Pedro. “Muito desejara eu que todos os que são guindados às culminâncias das honrarias e do poder e o julgam sua pertença e direito, ou alguma vez gozaram dos favores da multidão, meditassem um pouco a paixão de Cristo como é descrita em qualquer dos Evangelhos. Há sobretudo dois pontos dignos de reparo.” O primeiro – escreve – é o que se refere à apoteose, ao verdadeiro triunfo popular de Cristo aquando da sua entrada em Jerusalém, no domingo de Ramos, e à sua desgraça escassos dias depois, entregue que foi a uma morte desonrosa na cruz. “Em quatro dias – anota Salazar -, que tantos são os que vão de domingo a quinta-feira, secaram as flores, murcharam as palmas e os louros, calaram-se os hossanas e os vivas e até as gentes miraculadas não consta que tornassem a aparecer.”
O segundo passo digno de registo diz respeito a S. Pedro, caput dos Apóstolos, clara “emanação da natureza”, homem “aberto, simples, leal, firme na amizade como uma rocha”, sobre quem o Mestre quis edificar a sua igreja. Suspeito na noite mesma da detenção do Senhor de fazer parte da sua gente, havia de negar três vezes que o conhecia, num gesto que ficou para sempre como “o protótipo da traição, a traição pura”.
E Salazar prossegue: “Ainda se pode admitir que a amizade houvesse diminuído, que a fé se entibiasse, que o futuro se deparasse incerto quanto à aceitação da nova doutrina. Mas o conhecimento pessoal do Mestre, esse era um facto incontroverso.” E por isso Cristo há-de ter sentido uma “tristeza infinita”, a tristeza que inunda “uma alma acusada sem provas e condenada inocente.”
Temos aqui, por conseguinte, num único fragmento de texto, duas faces da mesma moeda: o abandono e a traição.
Duas fortes, irredutíveis realidades. Qual o significado delas? Qual a oportunidade do seu emprego naquela conjuntura?
Pode afirmar-se, sem margem para erro, que o tema da deslealdade humana vinha ocupando o espírito de Salazar desde há muito. Revela-o, quanto à inconstância das multidões, uma entrevista concedida a António Ferro em plena época carismática, na qual, respondendo a uma pergunta do jornalista sobre porque é que não era mais acessível à multidões que o vitoriavam, Salazar afirmava não poder adular o povo sem ir contra a sua consciência e que o Estado Novo, sendo embora um regime popular, não era todavia um governo de massas.
Revela-o de igual modo uma frase dita a Christine Garnier acerca da volubilidade da opinião pública: “Os que desejam aplaudir-me hoje hesitariam em desviar-se de mim se outra paixão se apoderasse deles?”
Político hábil, bom conhecedor da natureza humana, educado à sombra dos moralistas de outrora – um António Vieira, um Heitor Pinto, um Manuel Bernardes –, Salazar sabia que, valendo as coisas na proporção do que custam e exigindo os grandes ideais grandes renúncias, a lealdade era na vida planta frágil. Lealdade a tudo quanto fosse relevante: um princípio, uma crença, uma instituição, uma pessoa. Lealdade, em última análise, à própria consciência subjectiva, que consiste em descer o indivíduo ao fundo de si mesmo para ouvir a sua voz interior e ordenar-se por ela.
Sabia, por isso, que são muito mais abundantes no mundo os homens de meios que os homens de princípios, os homens de interesses que os homens de ideais, os homens de ocasiões que os homens de convicções.
A grande maioria dos cidadãos serve, com efeito, o poder onde quer que ele esteja, e os poderosos onde quer que os encontre.
Até o próprio S. Pedro.
A atitude de Pedro ilustra uma constante da conduta humana, que é a fuga nos momentos de risco. Se o apóstolo veio a arrepender-se depois e a arrostar pela vida fora com as maiores provações, aquilo que o distingue do ser mediano não é a queda in se, a traição, a infidelidade, mas justamente o contrário – o arrependimento, a contrição.
Ora, a exemplo de todos os bons governantes, Salazar não ignorava esta lei da vida. Sendo os homens como são, sabia que tão logo abandonasse o governo, mediante renúncia, incapacidade ou morte política, alguns dos amigos da véspera, dos colaboradores, dos seguidores, dos aduladores, agindo com reserva mental, ficariam dispostos a colaborar com o novo Príncipe.
Simplesmente, observa-se aqui um fenómeno curioso: à medida que ele próprio se ia pombalizando (no dito de espírito de Afonso Lopes Vieira), à medida que o poder, pela passagem do tempo, se lhe ia convertendo numa segunda natureza, mais a questão da deslealdade humana parecia cativá-lo. É o que induzem os factos, independentemente do juízo que deles se faça.
Senão vejamos.
Em 1958 aborda e espiritualiza o tema no citado discurso de 1 de Julho.
Na década de 60 várias vezes o retoma. Assim, a Pedro Theotonio Pereira afirma que não vai deixar memórias mas que as escrevesse ele e contasse a verdade, relatando o que tinha visto e ouvido.
A Franco Nogueira comenta, num prognóstico claro: “Cheguei ao fim. Os que vierem depois, vão fazer diferente ou vão fazer o contrário e contra mim.”
Significativo é também o episódio da inauguração da ponte sobre o Tejo, ocorrido em 1966. Salazar efectua uma visita prévia à ponte com Arantes e Oliveira e vê o seu nome implantado em letras de bronze nos respectivos padrões. Pergunta ao ministro: “As letras estão fundidas no bronze ou simplesmente aparafusadas?”. Porquê? “É que se estão fundidas no bloco de bronze vão dar muito mais trabalho a arrancar.” E, na sequência, explica aos presentes: a ponte ficou com o nome Salazar por insistência do Presidente da República mas isso “é um erro”: “os nomes de políticos só devem ser dados a monumentos e obras públicas cem ou duzentos anos depois da sua morte. Salvo os casos de Chefes do Estado, sobretudo se estes forem reis, porque então se está a consagrar um símbolo da Nação.” Após o que vaticina, apontando com o indicador: “O meu nome ainda há-de ser retirado da ponte. Por causa do que agora se fez, os senhores vão ter problemas.”
Gonçalo Sampaio e Mello
Jurista
Excerto do Texto Públicado na Revista Magazine Grande Informação
(Mas que belo texto Senhor Professor!)
Thursday, January 24, 2008
E que me dizem a isto?
O que têm a dizer disto?
Ainda seremos nós os vândalos fascistas que defendem a opressão dos pacíficos comunistas que sempre lutaram pela liberdade?
Mas que bela liberdade....
E que civismo!
Que diz a URAP disto?
Para quem defendia que, com a construção do museu, haveria quem fosse peregrinar até Santa Comba Dão para prestar homenagem a Salazar, deve talvez cuidar que se pode trata do contrário...
Sobre o Tema:
No Reverentia, Salazar era Judeu, pelo Prof.HNO
N' O Pasquim, E Hoje, Não Somos Todos Salazaristas?, pelo Corcunda, com base na notícia publicada no SOL
Sunday, January 20, 2008
Salazar - O Outro Retrato
O Texto é dedicado a Leovigildo Queimado Franco de Sousa, na época, Ministro da Agricultura, e antepassado da actriz portuguesa Barbara Norton de Matos.
O Texto é fundado nas queixas dos agricultores.
Parece que até o Salazar achou engraçado...
Ao Exmo. Senhor Ministro da Agricultura
Exposição
Porque julgamos digna de registo
a nossa exposição, senhor Ministro,
erguemos até vós, humildemente,
uma toada uníssona e plangente
em que evitámos o menor deslize
e em que damos razão da nossa crise.
Senhor: Em vão, esta província inteira,
desmoita, lavra, atalha a sementeira,
suando até à fralda da camisa.
Mas Falta a matéria orgânica precisa
na terra, que é delgada e sempre fraca!
- A matéria, em questão, chama-se caca.
Precisamos de merda, senhor Soisa!…
E nunca precisámos de outra coisa.
Se os membros desse ilustre ministério
querem tomar o nosso caso a sério,
se é nobre o sentimento que os anima,
mandem cagar-nos toda a gente em cima
dos maninhos torrões de cada herdade.
E mijem-nos, também, por caridade!
O senhor Oliveira Salazar
quando tiver vontade de cagar
venha até nós!
Solícito, calado,
busque um terreno que estiver lavrado,
deite as calças abaixo com sossego,
ajeite o cú bem apontado ao rego,
e… como Presidente do Conselho,
queira espremer-se até ficar vermelho!
A Nação confiou-lhe os seus destinos?…
Então, comprima, aperte os intestinos;
E se lhe escapar um traque, não se importe,
… quem sabe se o cheirá-lo nos dá sorte?
Quantos porão as suas esperanças
n’um traque do Ministro das Finanças?…
E quem vier aflito, sem recursos,
Já não distingue os traques dos discursos.
Não precisa falar! Tenha a certeza
que a nossa maior fonte de riqueza,
desde as grandes herdades às courelas,
provém da merda que juntarmos n’elas.
Precisamos de merda, senhor Soisa!…
E nunca precisámos de outra coisa.
Adubos de potassa?… Cal?… Azote?…
Tragam-nos merda pura, do bispote!
E todos os penicos portugueses
durante, pelo menos uns seis meses,
sobre o montado, sobre a terra campa,
continuamente nos despejem trampa!
Terras alentejanas, terras nuas;
desespero de arados e charruas,
quem as compra ou arrenda ou quem as herda
sente a paixão nostálgica da merda…
Precisamos de merda, senhor Soisa!…
E nunca precisámos de outra coisa.
Ah!… Merda grossa e fina! Merda boa
das inúteis retretes de Lisboa!…
Como é triste saber que todos vós
Andais cagando sem pensar em nós!
Se querem fomentar a agricultura
mandem vir muita gente com soltura.
Nós daremos o trigo em larga escala,
pois até nos faz conta a merda rala.
Venham todas as merdas à vontade,
não faremos questão da qualidade.
Formas normais ou formas esquisitas!
E, desde o cagalhão às caganitas,
desde a pequena poia à grande bosta,
de tudo o que vier, a gente gosta.
Precisamos de merda, senhor Soisa!…
E nunca precisámos de outra coisa.
João Vasconcelos e Sá
Carnaval de 1934
O Texto é fundado nas queixas dos agricultores.
Parece que até o Salazar achou engraçado...
Ao Exmo. Senhor Ministro da Agricultura
Exposição
Porque julgamos digna de registo
a nossa exposição, senhor Ministro,
erguemos até vós, humildemente,
uma toada uníssona e plangente
em que evitámos o menor deslize
e em que damos razão da nossa crise.
Senhor: Em vão, esta província inteira,
desmoita, lavra, atalha a sementeira,
suando até à fralda da camisa.
Mas Falta a matéria orgânica precisa
na terra, que é delgada e sempre fraca!
- A matéria, em questão, chama-se caca.
Precisamos de merda, senhor Soisa!…
E nunca precisámos de outra coisa.
Se os membros desse ilustre ministério
querem tomar o nosso caso a sério,
se é nobre o sentimento que os anima,
mandem cagar-nos toda a gente em cima
dos maninhos torrões de cada herdade.
E mijem-nos, também, por caridade!
O senhor Oliveira Salazar
quando tiver vontade de cagar
venha até nós!
Solícito, calado,
busque um terreno que estiver lavrado,
deite as calças abaixo com sossego,
ajeite o cú bem apontado ao rego,
e… como Presidente do Conselho,
queira espremer-se até ficar vermelho!
A Nação confiou-lhe os seus destinos?…
Então, comprima, aperte os intestinos;
E se lhe escapar um traque, não se importe,
… quem sabe se o cheirá-lo nos dá sorte?
Quantos porão as suas esperanças
n’um traque do Ministro das Finanças?…
E quem vier aflito, sem recursos,
Já não distingue os traques dos discursos.
Não precisa falar! Tenha a certeza
que a nossa maior fonte de riqueza,
desde as grandes herdades às courelas,
provém da merda que juntarmos n’elas.
Precisamos de merda, senhor Soisa!…
E nunca precisámos de outra coisa.
Adubos de potassa?… Cal?… Azote?…
Tragam-nos merda pura, do bispote!
E todos os penicos portugueses
durante, pelo menos uns seis meses,
sobre o montado, sobre a terra campa,
continuamente nos despejem trampa!
Terras alentejanas, terras nuas;
desespero de arados e charruas,
quem as compra ou arrenda ou quem as herda
sente a paixão nostálgica da merda…
Precisamos de merda, senhor Soisa!…
E nunca precisámos de outra coisa.
Ah!… Merda grossa e fina! Merda boa
das inúteis retretes de Lisboa!…
Como é triste saber que todos vós
Andais cagando sem pensar em nós!
Se querem fomentar a agricultura
mandem vir muita gente com soltura.
Nós daremos o trigo em larga escala,
pois até nos faz conta a merda rala.
Venham todas as merdas à vontade,
não faremos questão da qualidade.
Formas normais ou formas esquisitas!
E, desde o cagalhão às caganitas,
desde a pequena poia à grande bosta,
de tudo o que vier, a gente gosta.
Precisamos de merda, senhor Soisa!…
E nunca precisámos de outra coisa.
João Vasconcelos e Sá
Carnaval de 1934
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