quarta-feira, novembro 26, 2008

Hoje Não Estou Aqui

Respondi finalmente a dois desafios que me haviam sido colocados.
Ao Manuel Azinhal, mestre das Direitas blogosféricas e um dos verdadeiros inspiradores desta página, tive a honra e o prazer de dar estas respostas. São curtas e imerecedoras dos elogios que o Manuel lhes exagera, talvez pelo gozo de ver sincero discípulo permanecer na ortodoxia. "A Reacção é a Vida" é um título muito bom.

Por outro lado e de forma não menos gentil, teve o Rui Albuquerque a liberalidade de me convidar para mostrar, em sua casa, o erro do liberalismo. Como peregrino em terra profana, tentei escrever com sinceridade e não ser brando com o erro, sabendo que se fosse para escrever chavões sobre a sacrossanta liberdade o Rui não mo teria pedido a mim. Espero que seja de utilidade para um regresso do debate liberal às suas verdadeiras dimensões e para o fim da superficialidade que vai grassando em tudo o que é "Neo".

É altura de discutir...

terça-feira, novembro 18, 2008

Um Crime de Ódio

Ao passar pela Praça de Espanha, avistei um cartaz que ostentava "O Governo protege os banqueiros. E quem protege as pessoas?". Uma frase muito elucidativa e que traz, juntamente com a desumanização dos banqueiros (o que se diria de uma frase semelhante que substituisse os "banqueiros" por os "judeus", "imigrantes" ou "homossexuais"), o velho discurso do ódio genocida que é timbre da extrema-esquerda à campanha política portuguesa.
É bastante claro que a utilização de uma oposição "pessoas-banqueiros" prefigura uma acção de intenções discriminatórias gravosas. É por isso imperativo exigir a retirada deste cartaz que possui matéria que viola todas as directivas europeias e leis portuguesas sobre não-discriminação.
Aguardamos a acção do vereador Sá Fernandes.

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segunda-feira, novembro 17, 2008

Chão de Beaconsfield















Quando Burke morreu, pediu para ser enterrado sem sepultura marcada, para que as forças revolucionárias que tomassem Inglaterra não a destruissem. Pena que não tivesse tido as mesma preocupação quanto aos seus escritos e houvesse esclarecido de forma inequívoca tudo aquilo que escreveu (o que gastaria uma outra vida).
Há por aí um conjunto de salteadores que se têm alimentado da obra de Burke para se inserirem em determinados grupos políticos e que o têm mutilado mais do que toda a jacobinaria e esquerdalho juntos. É um grupo de cavalheiros que conhece de Burke meia-dúzia de escritos da procedimentalidade política, por interposta pessoa (chegando a confundir Burke com Oakeshott) e através de citações que servem para todas as ocasiões.
A verdade é que o Burke de que falam é um Burke que nunca existiu. Falam deste como um conservador, um opositor ou um retardador da mudança. De Burke, que foi um defensor de reformas drásticas como o fim da pena de morte para os homossexuais, o fim da escravatura, a atribuição de direitos (não em sentido moderno) às populações e autoridades tradicionais do Império, a liberalização do comércio irlandês, o fim das leis contra as minorias religiosas, poder-se-á dizer tudo menos isso.
Dizer que Burke era mero apologista das tradições da sua comunidade cria um problema insolúvel. Que tradição é essa que é superior às concepções da sociedade e de que forma pode tal concepção gerar uma hierarquia de valores que permita contrapôr o ontem ao hoje?
Se Burke tivesse sido um convencionalista, um discípulo de Hume, nunca poderia ter proposto posições como as que acima são descritas. E se fosse um contratualista liberal (lockeano ou hobbesiano) não poderia ter defendido que a acção da Companhia das Índias Orientais, apesar de contractualizada pela vontade dos príncipes e administradores, poderia ser considerada criminosa pelos tribunais e pelo Parlamento, com base em princípios de Justiça não escrita e que perduram eternamente.
Sobre isto, apenas o silêncio ou a imputação a Burke de uma concepção de “razão de Estado” a que Burke dedicou um combate de doze anos (os argumentos de Jorge III para a usurpação dos direitos do Parlamento).
Fosse Burke um gradualista, um moderado, um defensor de prudência maquiavélica, e nunca teria escrito que o massacre da nobreza moderada e orleanista seria um castigo divino pela sua traição.
Burke deve ser dos autores mais falados e menos lidos do nosso tempo.

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quarta-feira, novembro 12, 2008

Preocupações Para Hoje

“A Letra Mata, mas o Espírito Vivifica” (2 Cor 3, 6)

Alguns leitores têm expressado o desejo de que eu lhes dê uma ideia do que seria uma posição política aceitável nos dias de hoje. Sabendo-me militante contra todas as formas políticas existentes em Portugal, questionam-me sobre se existe algo que me faria defender uma qualquer força política.

Começo por dizer que a única razão por que não apoio nenhum partido se deve apenas à falta de mérito de qualquer deles. Ser contra os partidos como princípio é um erro. É um pouco como ser contra uma linguagem ou um material de construção, esquecendo que cada um deles será aquilo que deles se fizer. Se é evidente que algumas línguagens são mais evoluídas e que alguns materiais de construção são mais propícios a construções sólidas, aquele que se recusa a falar porque o código não é perfeito, ou aquele que não constroi porque só aceita a perfeição do mármore, peca por omissão.

A decisão de falar ou construir não é porém um imperativo. Há momentos em que qualquer homem demonstra mais dignidade ao não se envolver com qualquer proposta. É o caso do actual panorama partidário português, onde, para além de um eco ridículo (nenhum partido conhece uma linguagem que não seja a dos direitos, da responsabilidade estatal no bem-estar material dos cidadãos, da palavra Justiça encarada como resultado das vontades da massa), não há qualquer solução para as questões mais básicas da convivência humana.

Ao não serem definidos os princípios comunitários vivemos a pior das ditaduras. É só escolher... A eficácia, o poder, a propriedade, os portugueses, os trabalhadores... há um ditador para cada paladar, mas não existe ninguém que afirme a existência de um critério superior para que se escolha uma coisa em detrimento de outra. E sobre isto, qualquer dos partidos e propostas políticas de hoje, é estranhamente omisso. O que equivale a dizer que são sintomas e não causa ou cura, aceitando como dado a ideia do Estado como mero instrumento de obtenção de bens para a clientela da sua devoção.

O que hoje é preciso que se diga é que o elemento essencial de uma comunidade é, e sempre foi, o laço que está além de si próprio. Dessa relação com a Verdade surge toda a sua capacidade de viver de uma forma que não permite a arbitrariedade da relação política que ocorre sob o vácuo da suposta neutralidade moderna. Desse vácuo nasce a total incapacidade de compreender os princípios de qualquer coisa que seja justa em si e que se possa defender na ordem política como elemento de validade superior à dialética e às interacções entre os vários concorrentes pelo Poder.

Nasce desta incapacidade de relação com a Verdade, também, a incompreensão das nossas instituições civis, que são e serão sempre um reflexo dessa relação com a Verdade. Transformando ou matando a Verdade, ficam as palavras e mudam-se os sentidos, de forma a que o amor que a sociedade passa a defender se confunda com o ódio. De forma a que qualquer obrigação não seja mais do que um reflexo da vontade, a Palavra é destruída e com esta vem a destruição das esferas autonomizadas da família e da vida local.

Só existe um desígnio, uma coisa a ser feita: restaurar a primazia da Experiência Cristã.
O resto é pouco, ou quase nada.

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quinta-feira, novembro 06, 2008

O Fim da Democracia no Velório da República

















"Democracy in classical thought was never an “ideal” or best form of rule. In fact, it was a deviant form, not the worst, but still a reflection of a disorder in the souls of the citizens who placed the liberty to do what they wanted as the end of their regime. Moreover, it was from democracy that the worst forms of tyranny were likely to arise. This likelihood was not accidental. It existed because the smooth young tyrant would come forth from democracy’s undisciplined ranks to lead those who had no real internal principles of order in their souls except what they wanted. They tyrant would offer them what they wanted. Soon, on gaining power, he would tell them what they wanted, whether they wanted it or not."

James V. Schall

Podem os leitores achar que fui acometido por loucura obamista ou que estarei a exagerar, mas a noite de ontem foi o culminar de uma revolução. Ontem caíram os últimos resquícios da América e do seu carácter excepcional e ninguém se levantou pelos princípios americanos ou para defender a América dos seus inimigos permanentes. Se é verdade que os princípios americanos estiveram sempre debaixo de fogo (por serem insuficientes), foi constante a dicotomia entre alguma ortodoxia constitucionalista e uma posição oposta à soberania da constituição e dos seus princípios originários. Ontem, porém, ninguém levantou a voz contra Obama e a sua concepção de justiça igualitária, a sua visão da política como forma de acabar com as desigualdades, a sua visão de uma presidência omnipotente, o desejo que lhe pulsa no peito de apenas aceitar como lícitas as posições religiosas subservientes ao Estado.
Como lembra o MCB, a América de Obama é o oposto da América de Tocqueville. É a América da religião da igualdade, da democratização mundial multilateralista (que só se opõe no modo e não nas finalidades a Bush, como já havia feito a Europa), das políticas de discriminação positiva aplicadas pelos Estados que subordinam o público ao privado, das distribuições centrais de recursos, das instituições sociais de que o Estado dispõe segundo a sua vontade, das formas de aborto que se aproximam do infanticídio (“partial birth abortion”). Hipnotizados pelos media, que levam o slogan ao limite, muitos dos que são contra esta América obamista, unem-se na festa pela maturidade de uma democracia que elege uma membro de uma minoria para Presidente, como se o tom de pele do candidato fosse relevante para o que quer que seja e se a minoria mais importante dos nossos dias não fosse constituída pelos que não afinam pelas “internacionais” que povoam as várias propostas de governo global. A eleição de um dos candidatos independentes que não se encontram enleados na teia de poder global que vai sendo urdida, é que seria uma eleição de um membro minoritário da sociedade. Obama é apenas uma parte visível dessa imensa máquina maioritária. Esta cosmética racial, fora de moda há muitos anos, engana apenas quem quer ser enganado ou enganar os outros.
Parece-me que depois da demonstração do socialismo internacional no apoio à Nova América, nenhum candidato poderá voltar a defender o retrocesso neste estado-de-coisas. A verdadeira marca do demagogo e do povo sem virtude.

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segunda-feira, novembro 03, 2008

Grato

Ainda não tive ocasião de agradecer ao Nuno Castelo Branco a simpática menção nos prémios da blogosfera. Faço-o agora, com infeliz atraso.

First Principles

Em 2004 como em 2008

"The Only Vote Worth Casting in November", por Alasdair MacIntyre.